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F. W. Nietzsche
[tradução: Fabiano Lemos – UERJ]
19.10.61.
Caro amigo.
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Tradução literal dos seguintes versos de “Abendphantasie” de Hölderlin: “Am Abendhimmel blühet ein
Frühling auf;//Unzählig blühn die Rosen, und ruhig scheint/ Die goldne Welt; o dorthin nehmt mich,/
Purpurne Wolken! und mögen droben// In Licht und Luft zerrinnen mir Lieb und Leid! – / Doch, wie
verscheucht von törichter Bitte, flieht / Der Zauber. Dunkel wird's, und einsam / Unter dem Himmel, wie
immer, bin ich. // Komm du nun, sanfter Schlummer! Zu viel begehrt / Das Herz, doch endlich, Jugend,
verglühst du ja! / Du ruhelose, träumerische! / Friedlich und heiter ist dann mein Alter”.
Pude apenas tocar, até aqui, em pouca coisa, mas tenho de deixar a ti, caro
amigo, compor, a partir dos traços indicados, uma imagem do infeliz poeta. Que eu não
contradiga as acusações que tu lhe fazes em função de sua perspectiva religiosa
contraditória, tu tens de atribuir ao meu conhecimento de filosofia demasiadamente
parco, que, em grande medida, necessita de uma consideração mais detida deste
fenômeno. Talvez tu empreendas a tarefa, um dia, de adentrar este ponto mais
detidamente, e, através de seu esclarecimento, jogar alguma luz sobre as causas de sua
ruína espiritual [Geisteszerrüttung], [5] que, é claro, dificilmente tem aqui suas únicas
raízes.
Certamente me perdoas se em meu entusiasmo às vezes empreguei contra ti
palavras duras; apenas desejaria – e considera isto a finalidade de minha carta – que
fosses movido, através delas, a uma aquisição de conhecimento e a uma apreciação livre
de preconceitos desse poeta, que a maioria de seu povo conhece quase que só de nome.
Teu amigo
FWNietzsche’