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Publicado em NOVA ESCOLA 02 de Setembro | 2017

Arte

Grafite é arte ou não é?


novaescola

Objetivo(s)

Discutir as relações entre a arte e o lugar em que é exposta e fazer com que os alunos experimentem ações como
espectadores de arte.

Conteúdo(s)

Arte contemporânea, grafite

Ano(s)

8º, 9º

Tempo estimado

Três aulas de 50 minutos

Material necessário

Cópia dos textos "Grafite e Cia." e "Cidade Muda"; folha de monobloco e caneta ou lápis preto; para o varal ou mural -
barbante e pregador ou papel colorido para o fundo e fita crepe; acesso à rede no laboratório de informática da escola ou
cópia da entrevista dos grafiteiros gêmeos transcrita.

Desenvolvimento

1ª etapa

Para iniciar as atividades, monte um mural ou varal com imagens de grafite - retiradas de revistas, jornais ou da internet - e
peça que os alunos observem os materiais. Peça que pesquisem em casa outras referências e tragam na aula seguinte.

O grafiteiro Titi Freak trabalhando em painel para a mostra De Dentro para Fora / De Fora para Dentro no Masp (Museu de
Arte de São Paulo). Foto: Fernando Moraes

Em seguida, explique à moçada o objetivo da sequência didática: aprofundar o conhecimento da turma sobre o grafite e
discutir as opiniões de cada um em relação ao tema. Diga a eles que, para isto, durante as próximas aulas vão ler textos,
ouvir depoimentos e escrever pequenos textos para poder debater o assunto.

Organize a turma em grupos de quatro alunos e solicite que leiam o texto abaixo, que divulga uma exposição de grafite no
MASP- Museu de Arte de São Paulo. Proponha que a primeira leitura seja silenciosa e realizada individualmente. Em seguida,
peça que façam uma leitura em grupo, procurando um fragmento no texto - pode ser frase - que considerem a mais
importante para compreensão do que é o grafite. Peça que sublinhem o fragmento selecionado. Como o texto é muito
curto, cada grupo pode escolher apenas um fragmento.

Os grupos devem eleger um escriba - que irá registrar todos os argumentos levantados ao longo da aula - e um relator -
responsável por apresentar o ponto de vista do grupo à classe.
Grafite e Cia.

Masp se rende à arte urbana


Fernando Masini

O MASP abriu suas portas à arte que ocupa ruas, vielas e viadutos. A exposição "De dentro para fora/ De fora para dentro"
promove um grupo de artistas acostumado a viver e a trabalhar a margem do mecenato.

Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff, Titi Freak formam o time comandado por Baixo Ribeiro,
um dos curadores da mostra. O destaque são os seis murais inéditos que serão apagados no final da exposição.

Zezão transporta elementos de uma favela e leva seus traços azuis das galerias fluviais. Outras cem obras- entre telas, fotos
e vídeos - compõem a coletiva.

Masp - hall cívico e mezanino - Av. Paulista, 1578, Bela Vista


Tel: 011-32515644. terça, quarta e sexta a domingo, das 11h às 18h e quinta até as 19h. Até 5/2/2009.

texto retirado do Guia da Folha, 20/11/2009

Para socializar as opiniões da turma, solicite que um aluno inicie a leitura do texto em voz alta e que cada grupo sinalize o
trecho que acredita ser o mais importante.

Conforme os fragmentos forem localizados, a leitura deve ser interrompida para que o relator de cada grupo comente o
trecho, tomando como base a discussão anterior. Se mais de um grupo selecionar o mesmo fragmento, peça que ambos
apresentem suas justificativas e procure relacioná-las. Todos podem fazer comentários durante a leitura, de modo
organizado, levantando a mão para pedir a voz. Os fragmentos e registros das discussões podem ser colocados no varal ou
mural para socialização.

2ª etapa

O objetivo da segunda aula é discutir as características do grafite dentro de museus e galerias e nas ruas, fora deles. Para
isso, será utilizado o depoimento da dupla de grafiteiros paulistas "Osgemeos", disponível na internet. Se a escola tiver
laboratório de informática, leve os alunos até lá e apresente o vídeo a eles. Caso não seja possível, transcreva a entrevista e
entregue uma cópia do texto à classe.

Apresente o depoimento à turma - via internet ou por escrito. Em seguida, peça que discutam a declaração abaixo, feita por
Gustavo Pandolfo, um dos gêmeos, em entrevista à revista Carta Capital: "A partir do momento em que tiramos nosso
trabalho das ruas e o levamos ao museu, já não é grafite. É arte contemporânea, tridimensional".

Proponha que a turma reflita sobre o local de realização e exposição do grafite, e elaborem um texto em casa, apontando
pelo menos três diferenças entre expor fora ou dentro de uma instituição cultural.

3ª etapa

No início da aula, peça que os alunos leiam os textos produzidos em casa e os exponham no varal, ou mural. Em seguida,
entregue a eles um texto mais longo, de Marcelo Dantas, que faz referencia à Lei Cidade Limpa - em vigor desde o 1º de
janeiro de 2007.

Cidade Muda

por Marcello Dantas

Depois de mais dois anos em vigor, os paulistanos começam a ver os benefícios da Lei Cidade Limpa. Mas algo além de
publicidade sumiu das ruas. A cidade parece muda. Tenho uma filha de sete anos, em fase de alfabetização. Comecei a me
lembrar do quão importante foi para a minha fixação do alfabeto e o conhecimento de novas palavras a leitura
contextualizada da publicidade urbana.

Eu via imagens e as relacionava com as letras. Da mesma forma, as placas dos carros foram fundamentais no meu exercício
infantil de aprendizado da matemática. Hoje, fico vendo minha filha procurar algo para exercitar seu aprendizado, e a única
coisa que consegue achar é uma placa de "PARE".

Entendo que São Paulo havia se tornado uma cidade sem lei nesse aspecto. Admiro muito a coragem da prefeitura de
enfrentar o enorme lobby por trás da publicidade na maior metrópole do país. E, sim, é verdade que em quase toda cidade
que se preza no mundo existem regras rígidas da ocupação do espaço de poluição visual. Assim deve ser. Mas nem só de
limpeza vive uma cidade.

Não se pode dizer que Nova York, Paris e Londres sejam cidades descontroladamente poluídas visualmente. Sabe-se bem
do poder icônico de esquinas como Times Square, Champs-Elysées e Picadilly Circus. São Paulo, uma metrópole sem
grandes marcos geográficos, como o Rio, por exemplo, pode se dar ao luxo de ser uma cidade sem imagem? Sem marcos?

E a opinião pública? Eu me recordo ainda de quando, ainda bem jovem, como ativista político em Belo Horizonte, eu saía
com os amigos para pichar as propagandas políticas dos candidatos a deputado da ditadura militar. Era uma arena justa:
eles ocupavam o espaço público, e a gente expressava nossa voz sobre o abuso. Assim como se sabe da importância da
mídia exterior de gerar o espírito de uma causa, de mexer com a percepção coletiva de forma diagonal: atingindo do
mendigo ao executivo. É ainda um espaço de consciência de coletividade, que gera a sensação de que algo está
acontecendo na cidade.

Como levantaremos causas comuns daqui para frente? Um desafio que talvez valesse a pena seria liberar uma esquina de
São Paulo para a publicidade desenfreada. E exigir que áreas -hoje entristecidas com suas placas cegas, surdas e mudas-
sejam usadas de forma criativa: para ajudar a alfabetizar, a refletir sobre o próprio espaço público ou para pensar em
campanhas de mobilização da sociedade para causas relevantes.

Existe um impacto subliminar da cidade sem palavras. A verdadeira poluição visual não ocorre na paisagem exterior, mas,
sim, na paisagem interior, no nosso espaço mental. Sinto, hoje, uma maior linearidade de pensamento ao transitar por São
Paulo, uma concentração maior e menos dispersão causada pela publicidade. Um saldo positivo que não parecia óbvio no
primeiro momento da lei.
No entanto, deve haver um ponto de equilíbrio entre a identidade, a criatividade e a limpeza visual de uma cidade muda.
Talvez uma linguagem de sinais.

Marcello Dantas, 41, cria museus e exposições, entre eles o Museu da Língua Portuguesa e a mostra "Bossa na Oca", e é o
colunista convidado desta semana.

Revista da folha- edição 03/05/2009 - SP em cena

Após a leitura do texto, abra um debate para que a turma se posicione em relação à lei e ao impacto dela nas manifestações
artísticas de rua, de modo que uns possam ouvir as opiniões e argumentos dos outros.

Para finalizar, proponha que os alunos escrevam uma carta para a seção da revista reservada às opiniões e respostas dos
leitores em relação ao artigo, e peça que busquem, nas atividades anteriores, argumentos que justifiquem a possibilidade
de manifestação e expressão visual no espaço público.

Finalizado este processo, o material pode ser editado e colocado no varal, ou mural, que será exposto fora da sala de aula
para que os outros alunos da escola tenham acesso. Reserve um espaço para que esses novos expectadores também
possam deixar suas opiniões.

Créditos: Marisa Szpigel Formação: Coordenadora de Arte na Escola da Vila, em São Paulo.

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