Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE LETRAS
Pós Graduação Lato Sensu
Especialização Gramática e Ensino de Língua Portuguesa – 8ª Edição
Professora Ingrid Nancy Sturm

Sequência Didática
A interação do adolescente com o meio ambiente: o lixo

Ânia Dóris Nunes


Camilla F. Paiva Lara
Cristiana Quadros de Medeiros
Simone Maciel Mendonça

Porto Alegre

2015
Projeto Imagens para ler e escrever
A interação do adolescente com o meio ambiente: o lixo

DURAÇÃO: 13 aulas
GÊNEROS: Textos jornalísticos e fotografia
Alunos do 9º ano de Língua Portuguesa

A presente sequência didática tem como tema central o lixo, que será
trabalhado por meio de textos jornalísticos e fotografia, em 13 aulas destinadas a alunos
do 9º ano de uma escola situada em um bairro periférico da cidade de Porto Alegre. A
escolha do eixo temático norteador A interação do adolescente com o meio ambiente: o
lixo justifica-se, além de esses alunos enfrentarem diariamente problemas relacionados
ao lixo na comunidade onde vivem, também por entendermos que a escola deve
promover discussões e problematizar as consequências geradas pelo acúmulo e descarte
indevido de lixo, principalmente nas grandes cidades, com vistas a buscar
conscientização e, se necessário, mudança de atitude dos alunos perante o meio
ambiente. Além disso, o eixo genérico Carta foi escolhido com o intuito de ampliar a
capacidade de síntese de ideias e de criar oportunidades para que os alunos expressem
sua opinião de forma escrita em sala de aula.
Este projeto visa a desenvolver uma sequência didática em três módulos
principais em que não sejam só discutidos comportamentos com relação aos cuidados
com o lixo e à exploração de formas alternativas de lidar com o problema, mas também
que os alunos sejam estimulados a praticarem a cidadania de forma mais eficaz. No final
deste projeto, será proposta a elaboração de uma carta de solicitação de retirada do lixo
acumulado em locais da comunidade a serem apontados pelos próprios alunos. Essa
carta será encaminhada ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) pelos
canais de contato com os cidadãos disponibilizados pela Prefeitura de Porto Alegre.

MÓDULO 1

Aulas 1 e 2:
Atividade inicial (situa os alunos em relação à problemática e pode-se perceber
os conhecimentos prévios deles com relação ao assunto):
- Apresentar imagens negativas do lixo:
- Discutir oralmente sobre o lixo/ acúmulo de lixo/ problemas relacionados ao
descarte indevido do lixo doméstico/ experiências dos alunos em relação à sua
comunidade;
Perguntas norteadoras da discussão:
• De onde vieram as imagens?
• Qual é o efeito que causam essas imagens?
• Por que as pessoas fotografam essas imagens?
• Você tem contato com imagens como essas na sua comunidade?
A partir dessa discussão inicial, que tem por objetivo ativar o conhecimento
prévio dos alunos, será solicitada a produção inicial, que consiste em requisitar aos
alunos que registrem em fotos o acúmulo de lixo na comunidade deles e escrevam o que
eles acham sobre elas. Além disso, o professor também se proporá a levar fotos para a
sala de aula.

Aulas 3 e 4:
- Ler a notícia com os alunos: “Festas no Gasômetro e Litoral acumularam
toneladas de lixo”, do jornal Diário Gaúcho:
http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/noticia/2015/01/festas-no-gasometro-e-litoral-
acumularam-toneladas-de-lixo-4673307.html

- Explicar aos alunos que o gênero notícia tem como objetivo informar o leitor
sobre um fato específico, de interesse público, de forma clara. Para tanto, informa o que
aconteceu, quando, onde e por que. Perguntas essas que podem compor uma
discussão oral sobre o texto. Talvez alguns alunos tenham participado da festa ou, até
mesmo, conhecem catadores e trabalhadores do DMLU que tenham ajudado na limpeza,
enfim, a discussão pode se estender;
- Solicitar que os alunos colem a notícia no caderno e abaixo descrevam
algumas informações, como o que é manchete, também explicar o que é lide e a função
da foto numa notícia;
- Solicitar que criem manchetes para as fotos que foram vistas no início da
aula.

Aula 5:
- Analisar as fotos trazidas pelos alunos;
- Apresentar as fotos trazidas pelo professor;
- Escutar o que cada aluno escreveu no seu caderno sobre as fotos.

Por morarem, muitas vezes, perto um dos outros, as fotos podem ter vindo
repetidas (e algum aluno pode não ter trazido), por isso, vale eleger uma ou algumas mais
relevantes para a turma e colocar no quadro as perguntas e as respostas a fim de ser
iniciada a produção textual de uma notícia, de forma coletiva. Todos tendo em mente a
foto e as respostas de o que, quando, onde e por que, pode-se começar pela escolha da
manchete. Depois, a elaboração da escrita do lide. Por fim, pode-se escrever um pequeno
texto, baseado nas informações trazidas pelos alunos, noticiando o acúmulo de lixo em
local impróprio. Todos devem participar dando ideias. A notícia deve ser copiada por
todos.

MÓDULO 2

Aulas 6 e 7:

Atividade 1:
- Levar imagens de lixos reciclados sendo usados para vários fins:
- Explicar aos alunos que os objetos jogados no lixo podem ser reciclados ou
reutilizados. No caso, esses objetos viraram brinquedos, acessórios, horta, bolsas, pufe,
enfim, saíram da condição de lixo e tiveram outra utilidade.

Atividade 2:
- Ler a reportagem “Artista brasileiro de destaque no Exterior, Vik Muniz
apresenta sua primeira exposição em Porto Alegre, do jornal Zero Hora:
http://m.zerohora.com.br/287/entretenimento/4504198/artista-brasileiro-de-destaque-no-
exterior-vik-muniz-apresenta-sua-primeira-exposicao-em-porto-alegre
- Explicar que uma reportagem pode ser escrita (como essa), ou aparecer na
televisão ou no rádio. Ela trata de assuntos e acontecimentos de interesse público, como
a notícia, mas com mais profundidade. Em uma boa reportagem, além da fala de
introdução do jornalista, há entrevistas com pessoas envolvidas no acontecimento ou que
possam ter opiniões interessantes sobre ele, para que o leitor/telespectador/ouvinte possa
melhor formar a sua;
- Pedir que os alunos se reúnam em grupos de 4 ou 5 alunos. Solicitar que eles
assistiram a abertura da novela Passione, citada na reportagem, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=AjGZw_DqpQw
- Solicitar que os alunos respondam, em grupos, as seguintes questões:

1. Onde foi publicada esta reportagem? Sobre o que ela trata?


2. O que caracteriza o trabalho de Vik Muniz?
3. Assim como o artista faz obra de arte do lixo, como vimos nas imagens do início
da aula, o lixo pode ser transformado em algo útil para nós e para o nosso dia a
dia. Você já conhecia processos de reciclagem e de reutilização? Cite exemplos.
4. Infelizmente, nem todo o lixo pode ser reciclado ou reutilizado, por isso, deve ser
depositado no lugar adequado para que seja recolhido e levado ao destino certo.
Mas se isso não acontece, o que vocês acham que acontece com o papelzinho
que foi jogado na rua?

Aulas 8 e 9:
- Assistir ao vídeo “Boca de lobo não come lixo”, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Q-49V0zSRE8

- Assistir à reportagem do Fantástico, Rede Globo, sobre lixo e alagamento em


São Paulo, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=upCCVlG8b1w

Atividade 1:
- Em conversa com os alunos, informar que, assim como em São Paulo, Porto
Alegre enfrenta o mesmo tipo de problemas com o descarte indevido de lixo nas ruas e
que, no caso da nossa cidade, as bocas de lobo deságuam nos riachos que levam tudo
para o Guaíba. É importante chamar a atenção dos alunos para as características da
reportagem, que se assemelha as da que foi lida na aula anterior (manchete – mesmo
que falada – fala introdutória do repórter, pessoas dando seus depoimentos, imagens que
comprovam a situação, etc);
- Perguntar se os alunos já passaram por situações parecidas, se eles tinham
consciência que aquele “lixinho” jogado no chão vai parar dentro da boca de lobo, que
acaba dificultando o escoamento da água, que por sua vez vai acumulando e, por fim,
torna-se um alagamento. Alertar que se não houvesse lixo dentro das bocas de lobo, não
haveria tanto acúmulo de lixo nas galerias que conduzem a água para o rio e, assim
sendo, o sistema de escoamento da cidade funcionaria muito melhor;

Atividade 2:

Agora, estando todos mais ciente dos problemas do lixo, a turma elege um dos
lugares apontado pela turma nas primeiras aulas para colher depoimentos de pessoas
que moram vizinhas ao problema. Será questionado sobre o porquê de aquele lixo ter
sido colocado ali, por quem (se são várias pessoas ou uma só). Explicar aos alunos que
será feita uma carta dirigida à Prefeitura para recolher esse lixo e as informações que eles
conseguirem serão escritas na carta para que a Prefeitura, junto ao DMLU, faça um
trabalho de prevenção no local para evitar novo acúmulo de lixo.

MÓDULO 3

Aulas 10 e 11:

- Dividir o quadro em duas partes. Na primeira, escrever as informações


trazidas pelos alunos a respeito do acúmulo de lixo. É importante que as ideias sejam
colocadas em forma de itens para que eles possam utilizá-las dentro da produção textual
que irão elaborar.
- Na segunda parte do quadro, escrever “Qual desses tipos de carta será
mais interessante usar para se escrever à prefeitura sobre o lixão?”. Abaixo,
escrever: carta pessoal, carta de leitor, carta de solicitação, carta de reclamação.

Antes de os alunos responderem, todos devem ler juntos 4 cartolinas coloridas que
contêm as devidas explicações:

Cartolina 1:
Carta pessoal: direcionada a interlocutores com os quais se tem mais intimidade. É
escrita em linguagem mais informal e trata de assuntos ligados às experiências de vida do
autor e do interlocutor, assuntos particulares. No geral, é mandada pelo correio ou
deixada “em mãos”, isto é, entregue pessoalmente ao interlocutor.
Cartolina 2:
Carta de leitor: direcionada aos leitores de um jornal ou revista. É escrita em linguagem
mais formal e traz a opinião de um leitor sobre notícia ou reportagem, assuntos de
interesse comum. É publicada em seção própria para isso e pode ser mandada ao jornal
ou revista pelo correio ou, o que é mais usual, pela internet.

Cartolina 3:
Carta de solicitação: direcionada a pessoas ou a instituições. É escrita em linguagem
mais formal e trata, como o próprio nome diz, de uma solicitação, de um pedido do
remetente, que pode ser de interesse privado ou público. Pode ser mandada pelo correio,
deixada em portarias e recepções, com protocolo, ou, ainda, ser mandada pela internet.

Cartolina 4:
Carta de reclamações: direcionada também a pessoas ou a instituições. Pode ser escrita
em linguagem mais ou menos formal e traz, como o próprio nome diz, uma reclamação,
que pode ser referente a um problema pessoal ou coletivo. Pode ser mandada pelo
correio, deixada em portarias e recepções, com protocolo, ou, ainda, ser mandada pela
internet.

Cabe ao professor ler e explicar cada uma das cartas ao aluno, inclusive dando
exemplos. Deve haver uma atenção especial ao vocabulário contido nessas explicações;
é importante deixar bem claro o que cada palavra quer dizer, inclusive, trazer a diferença
entre solicitação e reclamação. Ressaltar que há diferenças entre a carta de solicitação e
a de reclamação que devem ser observadas antes de decidir qual escrever. Na carta de
solicitação, o texto deve ser em tom amistoso e o interlocutor deve ser convencido a
colaborar (aqui entra os argumentos - as ideias - colocadas na primeira parte do quadro).
Já na carta de reclamação, o texto tem um tom de cobrança e o interlocutor precisa ser
convencido de que é o responsável pelo problema e precisa, portanto, resolvê-lo.
- Depois de feita a leitura e as explicações, pedir aos alunos que respondam a
questão colocada no quadro no início da aula.
- Após a escolha do tipo de carta – de solicitação, para a retirada do lixo – será
dito aos alunos que a tarefa deles será elaborar essa carta no caderno (solicitar que
copiem as ideias colocadas na primeira parte do quadro).
Antes de começarem, alguns pontos devem ser esclarecidos e observados
(podem ser colocados no quadro):
Argumentação
Argumentar é mais que dar uma opinião: é justificá-la, sustentá-la, isto é,
defendê-la com argumentos, para tentar convencer o ouvinte ou o leitor. Existem
diferentes argumentos:
• Argumento de autoridade: citação de fala de algum especialista no assunto ou de
dados de pesquisa;
• Argumentos de princípio: citação de valores, direitos, garantidos por lei ou
fortemente aceitos por um grupo social;
• Argumentos com causa e consequência: os argumentos são apresentados como
“efeitos”, isto é, consequência de uma ideia antes apresentada;
• Argumentos por exemplificação: são apresentados fatos que exemplificam, ilustram
a ideia defendida.

Organização da carta de solicitação:

1. Indicação de cidade e data em que está o autor. Função: é aí que se informa em


que cidade estava o autor e quando ele escreveu a carta. Essa informação é bem
importante para documentar quando foi feita a solicitação ou a reclamação;
2. Marcação de quem é o interlocutor. Função: marcar quem é o interlocutor da carta,
a quem ela se dirige;
3. Apresentação da reclamação. É o núcleo da carta, que costuma ser composta por
dois ou três parágrafos;
4. Encerramento. Há várias maneiras de encerrar cartas de reclamação. Além de
marcar o fim do texto, essa parte pode reforçar os efeitos pretendidos.
Exemplos:
Sem mais para o momento.
Atenciosamente,
Obrigado.
Contando com a sua colaboração.
Aguardo providências.

- Solicitar aos alunos que façam no caderno para a próxima aula a carta de
solicitação à Prefeitura para recolher o lixo.
Aula 12 e 13:

Aula na informática.

Solicitar aos alunos que leiam seus textos de acordo com o que foi trabalhado.
Antes de passarem a limpo no campo do site Fala Porto Alegre
(http://www1.portoalegre.rs.gov.br/falaportoalegre/SolicitaCidadao.aspx?codigo=73083), é
importante que verifiquem:
- se está de acordo com a proposta (trata de uma solicitação à Prefeitura para
recolher o lixo acumulado na comunidade);
- se está de acordo com as características estudadas no gênero (há data e
local; há interlocutor definido; traz em seu conteúdo os dados apresentados pela turma);
- construção da coerência e coesão (usa palavras ou expressões que
estabelecem sequência ou sentido entre as partes do texto, tem tom amistoso, usa
adequadamente a pontuação);
- uso das regras e convenções da gramática normativa (há concordância entre
as palavras, a ortografia está correta).

Depois da releitura da carta e de uma possível ajuda do professor, os alunos


irão reescrever a carta. Em seguida, cada aluno chama o professor que irá ler a carta e
orientará a colocação do endereço de site da prefeitura e o envio do arquivo. Além disso,
a versão final das cartas deverá ser entregues ao professor.
Cada aluno receberá um protocolo da solicitação em alguns dias. Cabe ao
professor orientá-los a guardar o protocolo até que o lixo seja removido. Dessa forma, os
alunos aprendem não só conteúdos de escola, mas também a exercerem sua cidadania.

Obs.: Caso o lixo não seja removido dentro do prazo dado pelo órgão, o professor deve
apresentar uma proposta de uma carta de reclamação para um jornal, reclamando do lixo
e da morosidade da Prefeitura.

Seguem dois exemplos de reclamações que geraram alguma resposta:


RESOLVIDO? Sim
Problema: lixão formado na Travessa 25 de Julho, perto do número 146, no Bairro São
José (Morro da Cruz). Cerca de 50m da via estavam tomados pelo lixo.

Solução/prazo: o DMLU prometeu limpar e cumpriu. Uma equipe foi enviada ao local. Os
moradores torcem para que o descarte irregular não continue.

Resolvido? Encaminhado
Problema: lixo e escuridão na Rua Almirante Tamandaré, Bairro Maringá, em Alvorada. A
situação obriga Leonardo José Roxo, 18 anos, e Aline Roxo, 29 anos, a caminharem mais
do que o necessário, pois não podem utilizar a parada de ônibus perto de sua casa.

Solução/prazo: temporariamente, um dos problemas está resolvido. A prefeitura provi-


denciou a limpeza do local. A iluminação ficou na promessa, pois a área não tem postes
de energia. A possibilidade de colocar está sendo avaliada.

AVALIAÇÃO

A avaliação não se dará apenas por meio da carta produzida pelos alunos ao
final da sequencia didática, ela será realizada durante todo o desenvolvimento do projeto,
observando o envolvimento do aluno e a realização das atividades propostas. As
questões pertinentes aos aspectos linguísticos, bem como a discussão de ideias serão
consideradas para a avaliação, ocorrendo de forma contínua.

Você também pode gostar