Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 SM
1 SM
Éverly Pegoraro
Jornalista e professora do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual do Centro-Oeste
(Unicentro) em Guarapuava, Paraná. Mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense
(UFF) e doutoranda em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com
a pesquisa intitulada “No Compasso do Tempo Extraordinário: os Steampunks e as visualidades de uma
nostalgia retrofuturista”. Autora do livro Dizeres em Confronto: a Revolta dos Posseiros de 1957 na imprensa
paranaense (2007).
Resumo
Este artigo apresenta a proposta dos Estudos Visuais e alguns de seus principais pesquisadores.
O campo emergente e polêmico de pesquisa centra suas análises na construção cultural do visual
em artes, mídia e até mesmo na experiência da vida cotidiana. Mesmo com toda a polêmica
entre os adeptos dos Estudos Visuais, o que interessa salientar são as suas propostas. Não se
trata apenas de pesquisa no campo da história das imagens, mas de refletir sobre as formas pelas
quais a Cultura Visual – nos seus mais variados processos e produtos – é elaborada, consumida e
circula para reforçar ou resistir a articulações dos mais variados objetivos: políticos, econômicos,
culturais etc. Pode-se dizer que é uma abordagem influenciada pelos Estudos Culturais, a partir
da relação entre visibilidade e discurso.
Palavras-chave: Estudos Visuais; cultura visual; estudos culturais.
Abstract
This paper presents the proposal of Visual Studies and some of their main researchers. The
controversial and emergent field of research centers its studies on the cultural construction of
visual in Arts, Media and even in the daily experiences. Even with all the controversy among the
adepts of Visual Studies, what it’s important to emphasize are their proposals. They’re not just
researches on the field of History of Images, but studies about the ways which the Visual Culture
– on its various processes and products – are created, consumed and circulate to reinforce or
resist to linkages of the most various objectives: political, economical, cultural etc. We can say
it’s an approach influenced by Cultural Studies, since the relation between visibility and discourse.
Keywords: Visual Studies; visual culture; cultural studies.
Estudos Visuais:
principais autores e questionamentos de um campo emergente
1
Questionnaire on Visual Culture. October, 1996, v. 77, p. 25-70. Responderam ao questionário os seguintes teóricos: Svetlana
Alpers; Emily Apter; Carol Armstrong; Susan Buck-Morss; Tom Conley; Jonathan Crary; Thomas Crow; Tom Gunning; Michael Ann
Holly; Martin Jay; Thomas Dacosta Kaufmann; Silvia Kolbowski; Sylvia Lavin; Stephen Melville; Helen Molesworth; Keith Moxey;
D. N. Rodowick; Geoff Waite; Christopher Wood.
2
O artigo foi originalmente publicado em inglês: MITCHELL,W.J.T. Showing seeing: a critique of visual culture. Journal of Visual
Studies (London), v.1, n.2, p. 165-82, 2002.
3
Nicholas Mirzoeff caracteriza os Estudos Visuais como tática e Mieke Bal como movimento. Cf. Smith (2008, p. 13, nota 10).
4
Versão em espanhol da obra originalmente escrita em inglês. Cf. MITCHELL, W.J.T. Picture Theory. Chicago and London: University
of Chicago Press, 1994.
5
Publicado originalmente em inglês: JAY, Martin. Cultural relativism and the visual turn. Journal of visual culture (London), v. 1, n.
3, 2002, p. 267-79. Traduzido para a revista Aletria por Myriam Ávila, conforme referências.
6
O termo linguistic turn, do filósofo Richard Rorty, ganhou força a partir do final da década de 1950, e pode ser entendido como
o momento em que modelos de textualidade e discursos passaram a ganhar destaque na crítica das artes e das formas culturais.
Cf. KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com imagens: arte e cultura visual. Artcultura – Revista do Instituto de História da
UFU, v. 8, nº 12, Uberlândia, p.97-115, (2006).
espectador pueden ser alternativas a la e cada um dos quais requer sua própria
formas tradicionales de lectura unidas a los conceitualização. Na obra Visual Culture:
procesos de desciframiento, decodificación o
interpretación. (GUASCH, 2003, p. 10) the reader, Stuart Hall e Jessica Evans (1999,
p. 4) minuciam cada um desses elementos,
Neste sentido, diz Guasch, as teorias partindo da reflexão entre “a capacidade
de Mitchell se complementam com as de da imagem de significar e as capacidades
Jonathan Crary, que analisa a transformação subjetivas do sujeito para ‘captar’ e produzir
histórica do conceito de visão (CRARY, significados”.
1990). As novas relações entre um “sujeito Dessa forma, a visualidade refere-se
que observa” (o espectador) e um “objeto ao registro visual no qual a imagem e o
observado” (a imagem visual) levam Mitchell significado visual operam. Os aparatos
a conceber uma teoria da visualidade que são as mídias ou os meios crescentemente
aborda o feito da percepção não apenas do sofisticados e complexos pelos quais as
ponto de vista fisiológico mas também em imagens são produzidas e circulam. As
sua dimensão cultural. instituições referem-se às relações sociais
Uma das afirmações polêmicas da obra organizadas da produção e circulação de
Teoría de la Imagen, considera Mitchell (2009, imagens. Corpos lembram não apenas os
p. 12), é que todos os meios são mistos e sujeitos privilegiados nas imagens, mas a
todas as representações são heterogêneas; presença do observador como o “outro”
não existiriam as artes ‘puramente’ visuais necessário no circuito visual de significado
ou verbais. e cujas condutas as imagens regulam. A
figuralidade indica a posição privilegiada da
Lo que quiera que sea el giro pictorial, imagem em relação a representar ou “figurar”
debe quedar claro que no se trata de una o mundo para nós em forma pictórica (EVANS
vuelta a la mímesis ingenua, a teorías de la
& HALL, 1999, p. 4-5).
representación como copia o correspondencia,
ni de una renovación de la metafísica de la A leitura dos Estudos Visuais de Guasch
‘presencia’ pictórica: se trata más bien de é mais conservadora e estreitamente
un redescubrimiento poslingüístico de la relacionada à História da Arte pela própria
imagen como un complejo juego entre la
visualidad, los aparatos, las instituciones, formação da pesquisadora. Ela é Catedrática
los discursos, los cuerpos y la actividad del de História da Arte da Universidade de
espectador (la visión, la mirada, el vistazo, las Barcelona e crítica de arte. Talvez, por isso,
prácticas de observación, vigilancia y placer
seus comentários sobre as obras de Mirzoeff
visual) puede constituir un problema tan
profundo como las varias formas de lectura e Evans & Hall não sejam tão positivos. Para
(deciframiento, decodificación, interpretación, ela, em ambas as análises, a Cultura Visual é
etc.) y que puede que no sea posible explicar entendida como uma espécie de “caixa de
la experiencia visual, o el ‘alfabetismo visual’,
basándose sólo en un modelo textual.” miscelâneas” na qual questões diversas como
(MITCHELL, 2009, p. 23) de gênero, raça, identidade, sexualidade e até
mesmo pornografia e ideologia convivem
Cada um dos fatores apontados por com questionamentos mais específicos de
Mitchell (visualidade, aparatos, instituições, visualidade. Além disso, critica a postura
corpos e figuralidades) indica um complexo “trans ou pós-disciplinar” de Mirzoeff,
jogo de práticas que torna possível a imagem alegando que a visualidade compreendida
e a sua capacidade de exprimir significado, pelo autor deve ser considerada mais como
uma estratégia derivada de uma ampla Uma das preocupações centrais do novo
liberdade epistêmica do que uma ferramenta campo é justamente pensar nas experiências
metodológica. visuais como evidência de práticas sociais e
não como mera ilustração das mesmas. Da
En este sentido mientras Evans y Hall ponen mesma forma, os objetos dos Estudos Visuais
el acento en las metáforas visuales y las
terminologías del ‘mirar’ y del ‘ver’, las que
não são apenas objetos em si, mas também
derivan de la sociedad del espectáculo y el abrangem maneiras de ser, ver e experienciar
simulacro, de las políticas de la representación, dentro de diferentes formas de subjetividade.
de la mirada masculina, del fetichismo y del
Implica compreender as variadas posições
voyerismo, con un especial hincapié en las
reflexiones sobre la visualidad de Barthes, do sujeito que emergem através de relações
Benjamin, Lacan o Foucault, la propuesta de visuais.
Mirzoeff se sitúa más cerca de los Estudios A cultura visual é a construção visual
Culturales que de los Visuales. (GUASCH,
2003, p. 14) do social (apreende-o como um lugar para
experimentar os mecanismos sociais da
Ao mesmo tempo, porém, Guasch (2003) diferenciação), não unicamente a construção
acredita que esse “passo” de uma história da social do visual (através de imagens,
arte para uma história das imagens, seguindo experiências), é o que acreditam Mitchell
desenvolvimentos teóricos e metodológicos (2003) e Dikovitskaya (2006). A visão é
compartilhados de outras disciplinas, como a uma construção cultural, que é aprendida
literatura, mostra-se como um conhecimento e cultivada, não simplesmente dada pela
comprometido com as atitudes e os valores natureza e que, por conseguinte, tem um
implicados na produção imagética. percurso histórico que precisa ser avaliado.
Para Mirzoeff, vivemos um período de
Experiências visuais como evidências de intervisualidade, no qual há a exibição e
práticas sociais interação simultâneas de uma variedade
de modos de visualidade. Assim, os pontos
Os debates sobre as determinações de intersecção entre visibilidade e poder
culturais da experiência visual, em sentido social se transformam no objeto dos Estudos
mais amplo, despontam em fins da década Visuais. O agente e, ao mesmo tempo,
de 1980, por mais que previsões já existissem receptor dessas interações é o sujeito
com alguns historiadores de arte, críticos social, conceituado como um agente de
culturais e até mesmo críticos literários. visão (independente de sua capacidade
A centralidade epistemológica da cultura biológica de ver) e como efeito de uma série
implica dizer que ela é condição constitutiva de categorias de subjetividade visual. Nas
de práticas sociais, as quais dependem e sociedades capitalistas avançadas por todo
têm relação com diversos significados. Estes o planeta, diz Mirzoeff (2002, p. 10), esses
são entendidos como construção cultural, sujeitos visuais são agora ensinados a ser eles
não como algo pronto ou isolado. Nesse mesmos mídias, atendendo ao novo mantra
processo, subentende-se que há disputas nas da subjetividade: “eu sou visto e eu vejo que
quais operam discursos de qualquer natureza: eu sou visto”.
verbal, escrita ou visual, para a organização As partes constituintes da Cultura Visual
da complexidade social. não estão, portanto, definidas pelo meio,
mas pela interação entre o espectador e o Podríamos, incluso, ir un poco más allá y decir
que ele observa, que Mirzoeff define como que la cultura visual emerge en su forma más
marcada cuando el segundo mandamiento
acontecimento visual. Isso seria o efeito – es decir, la condena de toda práctica de
de uma rede em que sujeitos operam e producción y representación de ídolos – es
que condiciona sua liberdade de ação. Nas interpretada literalmente, de manera que la
mirada es prohibida y la invisibilidad obligada.
palavras desse autor, é uma interação entre
(MITCHELL, 2003, p. 39)
o signo visual, a tecnologia que possibilita e
sustenta tal signo e o espectador (2003, p.34).
Para Rogoff (2002, p. 28), a arena
Quando entramos em contato com aparatos
da cultura visual é composta por, pelo
visuais, meios de comunicação e tecnologia,
menos, três elementos: primeiro, as imagens;
experimentamos um acontecimento visual.
segundo, o aparato visual que é guiado
A ênfase passa a ser do visualizador
por modelos culturais, como narrativas ou
(viewer) e do discurso autorizado, mais que
tecnologias; e terceiro, as subjetividades de
do objeto. Para Irit Rogoff, o que é emergente
identificação, desejo, negação ao que vemos.
no campo é justamente ir além do estudo
das imagens. Em certo nível, analisa-se
A Cultura Visual
a centralidade da visão na produção de
significados, refletindo sobre a forma como
As polêmicas em torno da demarcação
se atribui valores estéticos, estereótipos e
dos limites conceituais de um campo
relações de poder dentro da cultura. Por
tão expansivo têm como consequência
outro lado, se reconhece que, estendendo
divergências na definição de seus objetos de
o campo da visão como uma arena na qual
pesquisa. Vários autores apontaram novos
diferentes significados são constituídos,
métodos para entender e explicar a Cultura
simultaneamente abre-se a possibilidade de
Visual.
análises e interpretações de áudio, do espacial
Norman Bryson, Michael Ann Holly e
e até mesmo das dinâmicas psíquicas do
Keith Moxey editaram dois livros – Visual
espectador. Assim, a Cultura Visual possibilita
Theory: Painting and Interpretation (1991)
a intertextualidade entre imagens, sons e
e Visual Culture: Images and Interpretations
delineações espaciais, que são continuamente
(1994) – com o objetivo de confrontar a
lidas para e através uma das outras (ROGOFF,
História da Arte com as novas estratégias
2002, p. 24).
interpretativas desenvolvidas na Semiótica,
Mitchell aponta um exemplo interessante
na Linguística, na Psicanálise, no Feminismo
que ajuda a comprovar que algo tão amplo
e nas teorias culturais. Na última obra, os
como a “imagem” não esgota todas as
editores explicam que seu trabalho pode ser
possibilidades da visualidade e que o estudo
entendido como uma contribuição a história
do visual é apenas um dos componentes de
das imagens, em vez de história da arte e,
um campo muito mais amplo:
justamente por isso, oferece o prospecto de
um diálogo interdisciplinar. O enfoque recai
Las sociedades que prohíben imágenes
(como la Talibán) poseen, todavía, una cultura sobre o significado cultural das obras, e não
visual extremamente vigilada en la que las em seu sentido estético. Tal posicionamento
prácticas cotidianas de representación humana tem várias implicações para os editores.
(especialmente la de los cuerpos de las mujeres)
se encuentran sujetas a una estricta regulación. Por exemplo, que objetos tradicionalmente
excluídos do rol dos grandes trabalhos, como el sentido que Roland Barthes da al término,
imagens de filmes e televisão, podem receber es un tema decididamente interdisciplinario:
‘Para realizar un trabajo interdisciplinario, no
agora a mesma consideração cuidadosa. basta con escoger un tema y enfocarlo bajo
(BRYSON, HOLLY, MOXEY, 1994, p. xvi-ii). dos o tres perspectivas o ciencias diferentes.
Em 1995, Chris Jenks lançou o livro El estudio interdisciplinario consiste en crear
un nuevo objecto que no pertenece a nadie’.
Visual Culture, em defesa de uma sociologia
(MIRZOEFF, 2003, p. 21)
da cultura visual. Sua reflexão parte da ideia
da visão como uma prática social, como
Contrariamente a Mirzoeff, David
algo construído socialmente ou localizado
Rodowick argumenta que a noção de Cultura
culturalmente, liberando as práticas do ver
Visual precisa ser aplicada historicamente,
de todo ato mimético. O autor acredita ser
não é apenas uma função da cultura do século
crucial que a visão se associe mais com a
20. Ele prefere trabalhar com os diferentes
interpretação que com a mera percepção.
regimes visuais e articuláveis, baseando seu
Contudo, Mirzoeff não compartilha
conceito de Cultura Visual no entendimento
dos conceitos de Bryson, Holly, Moxey e
da teoria de Michel Foucault sob a ótica de
Jenks. Para ele, a Cultura Visual é uma tática
Gilles Deleuze. Foucault revelou não apenas
para estudar a genealogia, a definição e
noções de mudança de subjetividade, mas
as funções da vida cotidiana pós-moderna
também como tais noções de subjetividades
da perspectiva do consumidor, mais que
elas mesmas sobrepuseram diferentes
da do produtor. Assim como o século
estratégias de visualização e expressão, as
19 foi representado através da imprensa
quais Deleuze chamou o visível e o enunciável.
e da novela, a cultura fragmentada que
Deleuze desenvolveu uma periodização
denominamos pós-moderna se entende e
da história do poder – de um soberano, para
se imagina melhor através do visual. Trata-
um disciplinar, que ele chamou de sociedade
se de uma estrutura interpretativa fluida,
do controle. Enquanto cada um destes
centrada na compreensão da resposta dos
períodos é marcado por diferentes estratégias
indivíduos e dos grupos aos meios visuais de
de conhecimento e poder, eles também são
comunicação. Para ele, a cultura visual não
articulados por distintas mobilizações do
depende das imagens em si mesmas, mas da
visível e do enunciável. Para Rodowick, estes
tendência moderna a refletir em imagens ou
conceitos podem ser usados para explicar
visualizar a existência.
mudanças culturais e epistemológicas que
tomam lugar em longos períodos de tempo.
Algunos críticos piensan que la cultura visual
es simplemente ‘la historia de las imágenes’ Assim, a Cultura Visual fala sobre como
manejada con un concepto semiótico de la diferentes noções de poder e conhecimento
representación (BRYSON y otros, 1994, p. xvi). mudam através de diferentes estratégias de
Esta definición crea una materia de estudio tan
extensa que ninguna persona o incluso ningún visualização e expressão, e como elas estão
grupo podría cubrirla por completo. Otros imbricadas umas com as outras em maneiras
consideran que es una forma de crear una complexas e diversificadas, em diferentes
sociología de la cultura visual que establecería
e distintas eras históricas (DIKOVTSKAYA,
una ‘teoría social de lo visual’ (Jenks, 1995,
pág. 1). Este enfoque parece fomentar la idea 2006, p. 64).
de que lo visual ofrece una independencia Rodowick, cujas pesquisas privilegiam o
artificial de los demás sentidos, que apenas cinema, acredita que, dos pontos de vista
tiene relación con la experiencia real. [...] Según
mais conservadores, o cinema nunca poderá
ser considerado arte precisamente porque campo, após estas décadas iniciais de
é um meio híbrido que não se encaixa pesquisas. Para ele, seja discutindo objetos
confortavelmente dentro da história filosófica ou assuntos, mídia ou ambientes, formas
da estética. Estes problemas são exacerbados de ver e práticas de olhar, o visual ou a
pela emergência e proliferação da mídia visualidade, os Estudos Visuais, como um
digital (RODOWICK, 1990; 1996). campo de investigação interdisciplinar, têm
Os Estudos Visuais, na concepção do o potencial de criar novos objetos de estudo.
autor, baseiam-se no reconhecimento A proposta não significa simplesmente
de que as novas mídias demandam a ‘teoria’ ou mesmo ‘teoria visual’ em qualquer
desconstrução dos conceitos de visualidade e sentido convencional, também não ‘aplica’
discursividade, bem com da tradição filosófica simplesmente teoria ou teoria visual a objetos
da qual eles derivam. Ele argumenta que a de estudo. Os Estudos Visuais não são o
presumida noção de visualidade é o produto estudo de imagens baseados na premissa
de uma longa tradição filosófica de divisão casual de que a cultura contemporânea é uma
do discursivo das artes visuais. A sua escolha cultura imagética. Por causa disso, não é uma
pelos Estudos Visuais reside justamente por questão de quais ‘objetos’ são ‘apropriados’
acreditar que é a melhor opção teórico- ou ‘inapropriados’ ao campo, mas de como
metodológica, ao romper rígidas barreiras levar em consideração as particularidades da
impostas pelas disciplinas tradicionais. nossa Cultura Visual, nossas preocupações
Cinema e artes eletrônicas, diz o autor, são e encontros com ela, e os atos que tomam
os produtos de conceitos que não podem e lugar em e através dela (SMITH, 2008, p. 12).
nem devem ser reorganizados pelo viés da Polêmico, controverso, indisciplinar, como
Estética (RODOWICK, 1996). definiu Mitchell em meados da década de
1990. Mesmo com tantas divergências, os
Considerações finais Estudos Visuais já conquistaram um peculiar,
significativo, alternativo e, ao mesmo tempo,
A partir das posições teóricas e conceituais autônomo campo de estudo das experiências
aqui expostas brevemente, é possível visuais, comprovando a importância de
considerar duas perspectivas gerais sobre se analisar as relações entre visualidade,
os Estudos Visuais. Uma restringe seus visibilidade e poder na contemporaneidade.
objetos ao contemporâneo, principalmente
através da imagem virtual e digital. Posição Referências
esta defendida por Nicholas Mirzoeff, por
exemplo. Um segundo ponto de vista, ALPERS, Svetlana. The art of Describing: Dutch Art
in the Seventeenth Century. Chicago: University of
de autores como David Rodowick, W.J.T. Chicago Press, 1983.
Mitchell e Martin Jay, sugere analisar as
BRYSON, Norman; HOLLY, Michael Ann and
experiências visuais em situações, contextos MOXEY, Keith (eds.). Visual Theory: Painting
e períodos históricos diversificados. and Interpretation. Cambridge: Polity Press and
Marquard Smith (2008) reuniu treze Blackwell, 1991.
entrevistas com pesquisadores norte- ______. Visual Culture: Images and Interpretations.
americanos e europeus, objetivando Hannover and London: Wesleyan University Press,
1994.
apresentar uma espécie de balanço do
CRARY, Jonathan. Techniques of the observer MIRZOEFF, Nicholas. The subject of visual culture.
(on vision and modernity in the XIXth century). In: MIRZOEFF, Nicholas (ed.). The Visual Culture.
Cambridge, Massachusetts/Londres: MIT Press, Reader. 2nd ed. London and New York: Routledge,
1990. 2002, p. 3-21.
DIKOVITSKAYA, Margaret. Visual Culture. The ______. Una introducción a la cultura visual.
Study of the Visual after the Cultural Turn. England: Barcelona: Paidós Arte Y Educación, 2003.
MIT Press, 2006. MITCHEL, W. J. T. Interdisciplinarity and Visual
EVANS, Jessica; HALL, Stuart (eds.). Visual Culture: Culture. Art Bulletin. December, 1995, v. LXXVII,
the reader. London: Sage, 1999. nº 4, p. 540-44.
GUASCH, Anna María. Los Estudios Visuales. Un ______. Mostrando el ver: una crítica de la cultura
Estado de la Cuestión. Estudios Visuales, nº 1, visual. En: Estudios Visuales. Murcia: Centro de
noviembre 2003, p. 8-16. Documentación y Estudios Avanzados de Arte
Contemporáneo, Noviembre, 2003, p.17-40.
JAY, Martin. Relativismo cultural e a virada visual. Disponível em <http://www.estudiosvisuales.net/
(Tradução de Myrian Ávila). Aletria – Revista de revista/index.htm>. Acesso em outubro de 2010.
Estudos de Literatura. Volume 10/11, 2003/2004
. Olhar cabisbaixo: trajetos da visão no século ______. Teoría de la imagen. Madrid, España:
XX. Disponível em <http://www.letras.ufmg.br/ Ediciones Akal, 2009.
poslit/08_publicacoes_pgs/publicacao RODOWICK, David. Camera Obscura 24, 1990,
002110.htm>. Acesso em 16 de março de 2011. p. 10-45.
JENKS, Chris (ed.). Visual Culture. London and New ______. Paradoxes of the Visual. October 77,
York: Routledge, 1995. 1996, p. 59-62.
KNAUSS, Paulo. O desafio de fazer História com ROGOFF, Irit. Studying Visual Culture. In:
imagens: arte e cultura visual. Artcultura – Revista MIRZOEFF, Nicholas (ed.). The Visual Culture.
do Instituto de História da UFU, v. 8, nº 12, Reader. 2nd ed. London and New York: Routledge,
Uberlândia, p.97-115, (2006). 2002, p. 24-36.
SMITH, Marquard. Visual Culture Studies. London:
Sage Publications, 2008.