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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO

PRESIDENTE DO COLENDO SUPERIOR


TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ref. Processo: 0000597-91.2015.8.26.0535

WANDERLEI SOARES DE SOUZA,


brasileiro, casado, atualmente recolhido na Penitenciaria de
Lavinia I, por intermédio de seu advogado que a esta
subscreve, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, promover a presente:
REVISÃO CRIMINAL
com fulcro nos incisos II e III do art. 621, do Código de
Processo Penal, consoante as questões fáticas e jurídicas infra
elencadas:

O Revisionando foi denunciado como


incurso no art. 33, “caput”, e art. 35, “caput”, ambos da Lei
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n. 11.343/06, a pena de 16 (Dezesseis anos) de reclusão e
2.050 dias-multas.
Deste modo, em que pese a tese e o ilibado
saber jurídico do meritíssimo Juiz a quo, impõe se a revisão a
respeitável sentença proferida contra o Revisionando pelas
motivos de fato e de direito a seguir expostas:

I.- DOS FATOS.

O Revisionando foi condenado pela


pratica do crime previsto no artigo 33 “caput” e artigo 35
“caput”, ambos da Lei nº 11.343/06, na forma do artigo 69
do Código Penal.

II.- DO DIREITO.

Em relação os laudos de constatação


carreados aos autos pelas fls. 242/257, notou-se que não estão
especificando os números dos lacres do o qual foi
acondicionado o suposto entorpecente na sua habitualidade
tradição, o que impossibilita de fato, descrever a pessoa
relacionada à droga.

No entendimento do STJ, pertinente a


nulidade absoluta dos laudos, o tornando imprestável para a
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presente constituição de defesa e do crivo do contraditório, na
qual restou na ótica deste causídico, desprezado.

Outrossim em que peço vênia para


reiterar a transcrição, a fim de que NÃO seja conduzido
entendimento de falência jurisprudencial, e assim seja
declarado nulos, todos os atos inerentes ao processo após a
juntada dos laudos, senão vejamos:

“AGRAVO REGIMENTAL.
RECURSO ESPECIAL. PENAL E
PROCESSO PENAL. TRÁFICO ILÍCITO
DE DROGAS. ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. COMPROVAÇÃO DA
MATERIALIDADE DELITIVA.
AUSÊNCIA DO LAUDO
TOXICOLÓGICO DEFINITIVO.
ABSOLVIÇÃO.RESSALVA DO
ENTENDIMENTO DA RELATORA. 1.
Conforme a orientação atual desta Sexta
Turma, a ausência nos autos do laudo
toxicológico definitivo impõe a absolvição
pela prática do crime de tráfico ilícito de
drogas, considerando que não restou
devidamente comprovada a materialidade do
delito. Ressalva do entendimento da Relatora
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no sentido da nulidade do feito. 2. Agravo
regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp:
1448529 RJ 2014/0087841-2, Relator:
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, Data de Julgamento: 14/04/2015,
T6 – SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJe23/04/2015)”

Sendo assim, no caso vertente, conclui-se


que o embrião do presente processo, ora, inquérito policial
constituíram em contraditório com as provas carreadas aos
autos.

II.I- DA AUTORIA DELITIVA.

Os policiais Civis, Claudio, Everton e


Fauzi, testemunhas de acusação foram uníssonos que o
Revisionando não conta nas interceptações telefônicas.

Insta frisar, que nos autos não há provas


de que o Revisionando esteja associado a alguma facção
criminosa a fim da pratica do crime de trafico, o que não se

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vislumbrar arguir prova contundente de que o mesmo esteja
ligado a alguma associação.

A materialidade não possuem


pressuposto fático comprobatório para imputar ao
Revisionando propriedade do material delitivo, ora seja, nada
foi encontrado em seu poder e sim no interior do veiculo em
que era passageiro e se dirigia para a Comarca de Guarulhos
para a fim de comprar leite especial para seu filho, conforme
narrou detalhadamente em audiência de instrução.

Não há como imputar ao Revisionando


incriminação por produtos que tenham sidos localizados em
residência que não lhe pertence, não havendo nos autos provas
de que o Revisionando tinha conhecimento dos materiais, nem
sequer da localização de cuja residência.

A denuncia é categórica em afirmar que


as drogas apreendidas pelos policiais tinham finalidade
mercantil com base nas interceptações telefônicas, da qual o
Revisionando não configura participe em nenhuma das
interceptações.

Nesse sentido uma vez que o artigo 28,


da Lei antidrogas, contém os mesmos verbos do artigo 33, para
que este fosse aplicado no caso em concreto é necessário prova
fática e inequívoca da atividade mercantil.

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Evidente que para o Ministério Publico
entender tratar-se de trafico de entorpecentes,
equivocadamente seu representante entendeu que o artigo 33
da Lei n° 11.343/06 contêm núcleos do tipo que não
demandam provas do intento comercial.

A diferença esta na finalidade mercantil?

Como se observa, tal tese não é suficiente


para satisfazer a pretensão condenatória.

Nobres Julgadores, o fato de o tipo penal


conter núcleos é irrelevante, até porque a denuncia somente e
embasou objetivamente em um deles (transportar), mesmo que
não tinha o Revisionando o conhecimento da droga no interior
do veiculo e indiretamente (manter em deposito) os produtos
localizados na residência de terceiros que sequer o
Revisionando tinha conhecimento do local, bem como dos
produtos localizados no interior da residência.

O ônus da prova do Ministério Público,


em razão do princípio constitucional da presunção de
inocência, é demonstrar a realização de todos os elementos,
subjetivos e objetivos, do tipo, e, nestes autos isto não restou
demonstrado.

Desta forma, não há como se falar que


houve violação às regras inseridas no artigo 33, da Lei n°
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11.343/06, de forma que manter a condenação importará em
lesão direta aos princípios constitucionais.

De acordo com o artigo 13 do Codigo


Penal : O resultado, de que depende a existência do crime,
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa
a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

No caso em testilha o Revisionando não


deu causa ao resultado de que depende a existência do crime.

Nestes termos é que se impõe a revisão da


decisão para absolvição do Revisionando WANDERLEY
SOARES DE SOUZA.

Não há no processo prova inequívoca que


o Revisionando figure como partícipe de associação criminosa,
supondo que ela soubesse do que teria no carro em que estaria,
estaria na qualidade de mula, sendo apenas o transportador,
não sendo portanto partícipe de qualquer associação
criminosa, pois se fosse não estaria fazendo o trabalho sujo.

DA APLICAÇÃO DA CAUSA DE REDUÇÃO DE


PENA:

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Não foi aplicado a causa de diminuição
de pena do § 4º, no teto máximo, ou seja, dois terços, para
assim reduzir a pena, haja vista que, ainda que não tenha bons
antecedentes, o Revisionando não faz parte de organização
criminosa, é trabalhador, Neste sentido:

“CRIME HEDIONDO.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS.
POSSIBILIDADE.
Segundo as regras do art. 44, I, II e III
não constitui a condenação por delito
considerado hediondo, causa impeditiva
da substituição ali regulada. Outras
causas, subjetivas ou objetivas, presentes
no inc. III, podem impedir o uso de tal
regra.” (TJRJ – 7ª Câm. Crim. Apel.
344100. Apte. O Ministério Público e
apdo. Glaucimar da Cunha Antão. Rel.
Des. Alberto Motta Moraes. Provida
por unanimidade na formado voto do
relator. Julg. 4/7/2000. Reg. Fls.20.810
a 20.813. DORJ 31/7/2000).

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A existência de uma lei especial não
impede a substituição da pena, pois o sistema jurídico
compreende normas, princípios, institutos e instituições que,
sob pena de se manter a ineficiência, devem funcionar de
forma harmônica e concatenada, e, neste contexto, a
modificação de fragmentos da parte geral do Código Penal
necessariamente terá que incidir sobre a legislação especial,
neste caso a lei dos crimes hediondos, variando para mais ou
para menos o momento da intervenção penal.

Não constitui impedimento à


substituição da pena o fato do regime ser inicialmente
fechado, pois se trata de institutos e momentos distintos, até
mesmo porque se frustrada a substituição, será convertida em
pena privativa de liberdade a ser cumprida no regime
pertinente.

DA DOSIMETRIA DA PENA.

Na primeira fase da dosimetria o juiz de


piso, convenientemente achou por bem proferir a fixação da
pena no máximo legal, casando estranheza a fixação em 10
anos nesta fase, ademais fundamentou em justificativas
genéricas, individualistas pela sua ótica, senão vejamos:

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“Quanto ao delito de tráfico de entorpecentes,
verificando as diretrizes do art. 59 do Código Penal
c.c. o art. 42 da Lei n. 11.343/06, não obstante a
primariedade dos réus, fixo a pena base no máximo
legal, em 10 anos de reclusão e pagamento de .000
(um mil) dias-multa, considerando a absurda
quantidade e variedade de drogas apreendidas com
os acusados (...)”

Tal alegação não merece sobrepor o fato


em si aderindo a individualização da conduta e a
primariedade do agente.

Corroborando este entendimento nos


ensina o Brilhantissimo Jurista NUCCI no sentido, que o
fator determinante para tal aplicação se dá pela analise do ser
humano, da pessoa do agente que é trazida ao processo, bem
como seu bom senso, senão vejamos:

“Nessa tarefa, o magistrado transcende


as vestes de juiz e deve averiguar quem é o ser
humano em julgamento, valendo-se de sua
habilidade de captação dos informes traídos
pelo processo, além de seu natural bom senso
(NUCCI, Guilherme de Souza, Codigo Penal
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comentado, 13º edição revista, atualizada e
ampliada, São Paulo: Revista dos Tribunais,
2013. Pag.420)”

A decisão prolatada torna-se fundada em


mera conveniência e ótica individual do juízo a quo,
desconsiderando os preceitos contidos no artigo 59 do CP, tão
somente aos preceitos contidos no Art. 29 do mesmo diploma
legal, violando o principio da individualização da pena.

No caso em testilha nenhum fato


impeditivo a concessão da pena no mínimo legal, sendo de fato
conveniente a concessão por medida de inteira justiça.

Em relação ao crime de associação para o


trafico de entorpecentes, novamente sem a devida
fundamentação, decidiu convenientemente por fixar a pena
em 6 (seis) anos, senão vejamos:

“Quanto ao crime de associação para o


tráfico de entorpecentes, verificando as
diretrizes do art. 59 do Código Penal c.c.
o art. 42 da Lei n. 11.343/06, acima
expostas, fixo a pena em 06 anos de
11
reclusão. Arcarão ainda os réus com a
pena pecuniária que ora fixo em 1.050
dias-multa, fixando cada qual em
patamar mínimo.”

Deste modo deixou o juiz a quo de


especificar cada fase da construção da pena consoante a
fundamentação da razão pela a qual tenha fundado, também
não se atendo as circunstancias prevista no Art.59 do CP, na
qual faz jus o Revisionando a pena base no mínimo legal.

O que ambas cominação não ocorreram,


sendo aplicadas por mera conveniência, medida esta que se
impõe a revisão por ser medida de inteira justiça!

DO PEDIDO.

Ante o exposto, requer:

PRELIMINARMENTE.

A) Sejam declarados nulos todos os atos


inerentes ao presente processo, após a juntada dos laudos
definitivos de constatação.
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NO MÉRITO.

A) Seja a ação revista e julgada


improcedente, com a consequente
absolvição do Revisionando;
B) Requer seja o Revisionando
absolvido do crime de tipificado no
artigo 35 da Lei de Drogas por não
haver prova inequívoca que tenha
concorrido para tal crime;
C) Requer que sejam encaminhadas as
mídias digitais para Superior
Instância como prova dos fatos aqui
narrados.
D) Não sendo este o entendimento de
Vossas Excelências, requer seja refeita a
dosimetria da pena pois a pena base foi
majorada sem fundamento legal, bem
como a dosimetria da pena se encontra
fora dos moldes do artigo 59 e seguintes
do Código do Penal.

Pelas razões expostas, requer seja


julgado procedente o pedido contido
nesta ação de revisão criminal, de forma
a absolver o Revisionando,

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desconstituindo assim a condenação já
transitada em julgado.

Requer-se também a expedição do


Alvará de Soltura, para que esta seja
feita de pronto, uma vez que o
Revisionando está privado de sua
liberdade devido a erro como medida de
Justiça!
Termos em que;
Pede deferimento.

São Paulo 22 de março de 2021.

Marcos Jose Leme


OAB/SP 215.865
Segue:
Copia da denuncia;
Copia da sentença;
Copia do acordão.

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