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Introdução
É bastante antigo o conceito de juros, tendo sido amplamente divulgado e utilizado ao longo
da História. Esse conceito surgiu naturalmente quando o homem percebeu existir uma estreita
relação entre o dinheiro e o tempo. Processos de acumulação de capital e a desvalorização da
moeda levariam normalmente a ideia de juros, pois se realizavam basicamente devido ao
valor temporal do dinheiro.
.
A atualização e a capitalização
são dois dos mais importantes conceitos da área económica utilizados na avaliação de
imóveis. São também conceitos um pouco incompreendidos e que pretendemos ajudar a
esclarecer, de uma forma muito ligeira, com exemplos práticos.
Como funciona
Suponhamos que vamos fazer um investimento de 10.000€ num depósito bancário com uma
taxa de juro anual de 3% (sonhar é fácil!) e que o banco vai capitalizando os juros devidos na
mesma conta, anualmente, durante cinco anos. Isto significa que no final de cada ano o banco
nos dá os juros referentes a esse ano juntando-os ao montante inicial, de tal forma que o
cálculo dos juros para o ano seguinte se faz com base no montante inicial mais os juros
entretanto vencidos.
No final do segundo ano receberemos 3% sobre 10.300 €, ou seja 309 €. O cálculo é efetuado
multiplicando 10.300€ por 0,03 que é o mesmo que 3%. O investimento total que passa para
o ano seguinte é de 10.000€ + 300€ +309 € = 10.609 €.
(para o leitor menos familiarizado, como treino, fica o desafio de chegar ao quinto ano!)
No final do quinto ano receberemos 3% sobre 11.255 €, ou seja 338 €. Como calculamos?
Multiplicando 11.255 € × 0,03 = 338 €. O nosso investimento de 10.000€, no final do quinto
ano, transforma-se em 11.593 €.
Podemos calcular o valor futuro de qualquer investimento desta forma. Mas em vez de o
fazermos ano a ano, há formasmais práticas de efetuar os cálculos necessários. Por exemplo
através da expressão:
Valor futuro = Valor atual x (1 + taxa de juro de cada período) ^ número de períodos
(^ é o sinal de potência)
Valor atual = Valor futuro / (1 + taxa de juro de cada período) ^ número de períodos
Por exemplo, quando fazemos um investimento imobiliário queremos ter rendas e valorização
de capital. Se o meu imóvel vale hoje 100.000€ quanto valerá daqui a 10 anos, se se valorizar
1% ao ano? Esta é uma das formas de estimarmos o valor terminal (valor residual) de um
imóvel.
Se durante os 10 anos deste investimento receber rendas anuais, qual o valor atual dessas
rendas?
Equivalência de Capitais
Considere que temos a necessidade de substituir um título financeiro ou mais por outros com
vencimento diferente, sem prejuízo para ambas as partes do contrato. Esse problema está
ligado à equivalência de capitais.
Dois ou mais capitais com datas de vencimentos distintas são ditos capitais equivalentes
quando, transportados para uma mesma data, a uma mesma taxa, produzirem valores iguais.
Esta data que é considerada como base para comparação dos capitais é chamada de data focal
ou data de referência.
1o 2o
Conjunto Conjunto
Capit Data de Capit Data de
al Vencimento al Vencimento
C1 n1 C'1 n
'1
C2 n2 C'2 n
'2
...
...
...
...
Cn n3 C'p n
'p
C1 C2 ...
Cn C1 C2 ...
+ + + = +¿ + +
(1+i∗n 1) (1+i∗n 2) (1+i∗nn) (1+i∗n 1) (1+i∗n 2)
Cn
(1+i∗n n)
Exemplo: Um título com valor nominal de $7.200,00 vence 120 em dias. Para uma taxa de
31,2% juros linear de ao ano, calcule o valor deste título:
a) hoje;
Resolução:
Como a taxa de juros é linear, estamos diante do regime de capitalização simples. Além
disso, o problema não especifica o tipo de desconto. Logo, usaremos o desconto racional.
a) Para a data de hoje, estamos deslocando o capital para o passado. Assim, o problema
nos dá o valor nominal e vamos encontrar o valor actual.
Co=? 7.200,00
0 1 2 3 4 5 6 n 𝐶0 = $6.521,74
b) Analogamente, para dois meses antes do vencimento, estamos deslocando o capital
para o passado. Então
Co=? 7.200,00
1 1 2
3 4 5 6 n
Co=? 7.200,00
𝐶5 = $7.387,20
0 1 2 3 4 5 6 n
Exemplo: Uma dívida no valor de vence daqui a seis meses. O devedor pretende resgatar a
dívida pagando hoje, de hoje a dois meses, e o restante um mês após a data de venci- mento.
Sendo o momento deste último pagamento definido como a data focal da operação, e
sabendo-se ainda que é de ao ano a taxa linear de juros adoptada nessa operação, determinar
o valor do último pagamento, se for adoptado o critério do:
a) desconto racional;
b)desconto comercial.
Resolução:
$ 48.000,00
$14.400,00 X
No fluxo acima, a seta para cima representa o conjunto do capital da dívida original e as setas
para baixo representam o conjunto de capitais da nova proposta de pagamento. Para que não
ocorra prejuízo para nenhuma das partes, é necessário que os dois conjuntos sejam
equivalentes. Dois ou mais capitais com vencimentos em datas diferentes são equivalentes,
em uma data focal, quando a soma dos seus valores nessa data é o mesmo valor. No exemplo,
a data focal é n = 7.
FV = PV(1 + drn)
49.392 = 21.804,40 + x
x = $27.587,60#
PV = FV(1 – dcn)
X= $ 27.036,72#
Observação: Na equivalência de capitais a juros simples, o saldo se altera quando a data focal é
modificada. Isso ocorre porque não é aceito o fracionamento dos prazos. Refazendo a letra a) do
exemplo anterior considerando a data focal como n = 0, segue que
48.000 –
4.800 + 14.000 + X
¿¿ ¿¿ ¿¿
48.000 14.000 x
1,174
= 4.800 + 1,058 + 1,203
22.853,35
X= 0,831255
X= $ 27.492,57 #
O empresário propõe trocar esses débitos por dois pagamentos iguais, um para
daqui a 6 meses e outro para daqui a 9 meses. Considerando a taxa de juros
simples de 5% a.m. e a data focal 270º no dia, calcular o valor de cada
pagamento.
Resolução :
Antes
0 4 6 8910 1 n
2
$3.
000,00 $5. 000,
00
$ 12.000,00
Depois
X X
𝑥 = $9.039,43
Fórmulas:
Ex: Uma pessoa deseja substituir um título de valor nominal de 85.000 u.m com vencimento daqui a
2 meses, por outro título, com vencimento para 5 meses. Qual o valor nominal do novo título,
sabendo-se que o banco em questão adopta, nesse tipo de operação, a taxa composta de 9% a.m. e o
critério do desconto racional?
Dados
C= 85.000,00
I= 9% a.m
N= 5-2= 3 meses
M=?
Resolução
M= C*( 1+i)n
M= 85.000* (1+0,09)3
M= 110.077,47
No Regime de Capitalização Composta, a solução do problema não depende da escolha da data focal.
Desconto na Capitalizaçã o Composta
Desconto Racional Composto
Como a base do desconto racional é o valor atual PV, considerando a taxa de desconto d r,
FV = PV(1+dr)n
D = FV – PV
Observação: Fazendo algumas substituições, podemos encontrar fórmulas para encontrar o valor atual
e o valor nominal a partir do desconto.
D + PV = PV(1+dr)n
PV[(1+dr )n - 1] = D
𝑃𝑉 = 𝐷 /(1 + 𝑑𝑟)n - 1
FV = (FV - D)(1+dr)n
FV = FV(1+dr)n -D(1+dr)n
Onde: n= tempo
racional composto que foi calculado com base na taxa de 4% ao mês. Sendo $5.408,00 o
Dados
𝐹𝑉 = $5.408
𝑑𝑟 = 0,04 𝑎𝑜 𝑚ê𝑠
𝑛 = 2 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠
𝑃𝑉 = ?
Resolução
𝐹𝑉 = 𝑃𝑉(1 + 𝑑𝑟 )n
𝑃𝑉 = $5.000,00
PV = FV(1 - dc)n
D = FV - PV
PV = (D + PV)(1+dc)n
𝑃𝑉 = 𝐷 1 + 𝑑𝑐n / 1 − 1 + 𝑑𝑐n
FV - D = FV(1+dc)n
𝐹𝑉 = 𝐷 / 1 − 1 + 𝑑𝑐n
Exemplo: Uma duplicata de valor nominal de $10.000,00 foi resgatada 3 meses antes do seu
vencimento, pelo regime de desconto comercial composto. Tendo sido contratada à 10% taxa de ao
mês, qual é valor atual do título na época do resgate e qual foi o desconto comercial composto
concedido?
Dados
𝐹𝑉 = $10.000
𝑑𝑐 = 0,1 𝑎𝑜 𝑚ê𝑠
𝑛 = 3 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠
𝑃𝑉 = ?
𝐷=?
Resolução
𝑃𝑉 = 𝐹𝑉 1 − 𝑑𝑐n
𝑃𝑉 = 10.000(1 − 0,1)3
𝑃𝑉 = $7.290,00
𝐷 = 𝐹𝑉 − 𝑃𝑉
𝐷 = 10.000 − 7.290
𝐷 = $2.710,00
(1 + dr)n (1 - dc)n = 1
(1 + dr)(1 - dc)
Fatores de Equivalência
Se i é a taxa ao período, n é o número de períodos, definimos o Fator de Acumulação de Capital ou
Fator de P para S, denotado por FAC(i,n) ou FPS(i,n), como:
FAC(i,n)=FPS(i,n)=(1+i)^n
Agora, podemos escrever o montante composto S como o produto do valor Principal P por FAC(i,n):
S=PFAC(i,n)=PFPS(i,n)
Utilidade: O FAC(i,n)=(1+i)n pode ser obtido com uma calculadora simples, dessas que normalmente
não executam potências. Digita-se a taxa i, soma-se 1, aperta-se o sinal × (multiplicação) e a seguir
tecla-se o sinal de igualdade n−1 vezes.
P=S(1+i)^n
n=(log(S)-log(p))/log(1+i)
P=S(1+i)^(-n)
i=((S/P)^(1/n))-1
Uma variante da fórmula de Montante composto é usada na obtenção do Valor Atual P de um capital
futuro conhecido S.
Fatores de desconto
FV A(i,n)=FSP(i,n)= (1+i)\-n
Utilidade: O FVA(i,n)=(1+i)−n pode ser obtido com uma calculadora simples, dessas que
normalmente não executam potências. Digita-se a taxa i, soma-se 1, aperta-se o sinal ×
(multiplicação) e o sinal = (de igualdade) n−1 vezes para obter FAC(i,n) e a seguir teclamos o sinal de
divisão e finalmente o sinal = (igual) para obter o FVA(i,n), que é o inverso do FAC(i,n).
Equações de Equivalência
Uma vez estudado o quadro geral da equivalência de capitais e deduzidos os seis factores da
equivalência, estamos finalmente em condições de estabelecer equivalência permitem
capitalizar ou actualizar um capital único (isto é, é um capital de cada vez) em cada um dos
regimes (juro simples ou juro composto) e, no caso da actualização, segundo cada uma as
abordagens (comercial ou racional). Por outro lado, recorda se que a necessidade de o fazer
advém do valor temporal do dinheiro que obriga a que, e/ou operar sobre capitais, eles
estejam reportados a um mesmo momento.
Assim, dependendo da data focal definida e dos vencimentos originais dos capitais
envolvidos, pode acontecer que, em determinada operação de equivalência, seja
necessário:
Antes de nos referirmos a cada um dos tipos, gostaríamos de acentuar que numa equação
de valor estão sempre presentes a três variáveis fundamentais do cálculo financeiro: capital,
tempo e taxa. Como equação que é, a incógnita pode ser qualquer uma delas – um capital,
um prazo ou uma taxa.
É forçoso que qualquer equação de valor, para estar bem elaborada, apresente todos os
capitais envolvidos reportados a um mesmo momento (a data focal definida para a
operação de equivalência). No fundo, qualquer equação de equivalência deve ser elaborada
respondendo sequencialmente a três questões: o quê, quando, como.
1. O quê?
Entre que capital ou capitais, por um lado ( primeiro membro da equação) e que capital
ou capitais, por outro (segundo membro da equação), se pretende estabelecer a
equivalência?
2. Quando?
Para que data se pretende estabelecer a equivalência (isto é, qual é a data focal da
operação de equivalência) ?
3. Como?
De que forma se pretende estabelecer a equivalência? Através do RJS ou do RJC? No
caso de a equivalência envolver actualização de capitais, esta é feita segundo a Solução
Comercial ou a Solução Racional?
São conhecidos
O valor do capital comum por forma a que haja equivalência entre ele e o conjunto
de capitais a substituir.
Vencimento comum
É a data de vencimento de capital comum.
São conhecidos
A data de vencimento do capital comum por forma a que haja equivalência entre
ele e o conjunto de capitais a substituir.
Vencimento médio
É a data de vencimento do capital comum no caso particular em que o valor deste é igual à
soma pura e simples dos capitais que pretende substituir (no fundo, é um caso particular do
vencimento comum).
Exercícios práticos
Dados
C= 4.500,00
J= 1.440,00
I= 8% a.m.
Formula derivada
n= j/(c*i)
n= 1.440,00 (4.500,00* 0,08)
n= 1.440,00/ 360,00
n= 4 meses
Dados
C= 40.000,00
n= 3 meses
i= 4% a.m.
Dados
Cn= 902.850,00
n= 63 dias= 2,14 (mês)
i= 7% a.m.
4. Calcule os juros produzidos por 100,00 meticais , a taxa de 10% ao mês, apos dois meses.
Dados
Co= 100,00
n= 2 meses
i= 10% a.m
J=C*I*n
J=100*0,10*2= 20,00
Co= 120,00
5. Determine a que taxa anual de juros simples devo aplicar 528.000,00 meticais para obter
como juros de importância de 147.312,00 meticais daqui a 93 dias.
Dados
Co= 528.000,00
J= 147.312,00
n= 93 dias
i=?
Formula de taxa(i)
i=j/ (Co*n)
i= 147.312/ (528.000,00*93)
i= 0,3% (ao dia) ou 9% ao mês
P=20.000,00
I= 0,5% a.m.= 0,005
n= 4 anos = 48 meses ( observe que o tempo e a taxa devem estar no mesmo período)
S=?
Aplicando a formula:
S= 20.000*(1+0,005)48
S= 20.000*(1+0,005)48
S= 20.000*1,2704891611
S= 25.409,78
2. Determinado capital gerou, apos 24 meses, um montante de 15.000,00 meticais. Sabendo que
a taxa de juros e de 2% ao mês , determine o valor desse capital.
Dados
P =?
n= 24 meses
s= 15.000
i= 2% a.m. = 0.02
aplicando a formula
s= P*(1+i)n
15.000=P*(1+0,02)24
15.000=P*(1,02)24
15.000=P* 1,6084372495
P=15.000/1,6084372495
P= 9.325,82
3. Qual o tempo necessário para que um capital, aplicado a uma taxa efetiva de 3% a.m.,
duplique seu valor?
Dados
P=x
S=2*p=2x
I=3%a.m=0,3
n=?
aplicando a fórmula:
2X = X*(1+0.03)n
Note que a incógnita está no expoente da fórmula.
2x
=(1,03)n
x
2=(1,03)n (aplica-se o logaritmo em ambos os lados da igualdade)
log 2=log (1,03)n
log2 = n*log(1,03) (propriedade do logaritmo de uma potencia) com o auxilio de uma
calculadora cientifica, encontramos:
0,3010299957 = n*0.0128372247
0.301029957
n=
0.0128372247
n = 23.45 meses
serão necessários 23,45 meses para que o capital dobre o seu valor
4. Um capital de MZN 5.000,00, aplicado durante um ano e meio, produziu um montante de
11.000,00 meticais. Determine a taxa de juros dessa aplicação.
Dados
P=5.000
n=1,5anos= 18meses
S=11.000
I=?
Aplicando a formula
11.000=5.000*(1+i)18
i = 1,0447767087-1
i = 0,0447767087 ou 0,0448
5. Quanto terei de aplicar hoje num fundo de renda fixa de 1,3% a.m., haja montante de
100.000,00 meticais?
Dados
P=?
S=100.000,00
Aplicando a formula:
S=P*(1+i)n
100.000= P*(1+0,013)120
100.000= P*(1,013)120
100.000=P*4,711220632
P=100.000/4,711220632
P= 21.225,92
Conclusão
Referência bibliográfica
ASSAF NETO, Alexandre. Matemática financeira e suas aplicações. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2000.
BELO, Haroldo da Costa. Matemática financeira. Volume I. Rio de Janeiro:
Fundação CEDERJ, 2008
J. D. V. Sobrinho. Matemática Financeira, 7ª edição. Atlas 2000.
W. F. Mathias, J. M. Gomes. Matemática Financeira, 3ª edição. Atlas 2002.
C. H. R. Boaventura. Matemática Financeira – Uma Abordagem Prática. CTRH,
2005.
Sá, Carlos Alexandre. Matemática Financeira – 1ª, Rio de Janeiro: FGV
Management – Cursos de Educação Continuada. 54p.
Cálculo financeiro : teoria e prática / Rogério Matias. - 6ª ed. - Lisboa : Escolar
Editora, 2018. - XVII, 749 p. : il. ; 24 cm + formulário ([1] f.). - ISBN 978-972-592-
539-3
D. V. Sobrinho. Matemática Financeira, 7ª edição. Atlas 2000.