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A Opinião e as Massas
Tradução
EDUARDO BRANDÃO
Revisão da tradução
PAULO NEVES
Martins Fontes
São Paulo 2005
Título orig in al: L'OPINION ET LA FOULE.
Copyright © 1992, Livraria Martins Fontes Editora Ltda.,
S ã o Paulo, para a presente edição.
I3 edição
agosto de 1992
2- edição
abril de 2005
Tradução
EDUARDO BRANDÃO
Revisão da tradução
Paulo Neves
Acompanhamento editorial
Maria Fernanda Alvares
Revisões gráficas
Solange Martins
Alessandra Miranda de Sá
Diñarte Zorzanelli d a Silva
Produção gráfica
G eraldo Alves
04-6477
índices para catálogo sistemático:
I. Massas : Opinião pública: Controle social 303.38
2. Opinião pública : Controle social 303.38
I. O público e a multidão......................................... 5
II. A opinião e a conversação.................................. 59
A opinião................................................................... 59
A conversação.......................................................... 75
III. As multidões e as seitas criminosas................... 141
IN T R O D U Ç Ã O
GABRIEL TARDE, TEÓRICO DA OPINIÃO
9. Ibid., p. 76.
10. Ibid., p. 84.
XIV A OPINIÃO E AS MASSAS
A opinião planetária
A opinião consumida
41. UEspace public, trad. fr. Marc de Launay, Paris, Payot, 1986 (ed.
original, 1962), p. 246.
42. Cf. a discussão de Bernard Manin em Opinión publique et démo-
cratie, P.U.F., op. cit.
INTRODUÇÃO XXXIII
D o m in iq u e R e y n ié
43. Cf. sua tese, Théorie des opinions, publicada em 1943 (P.U.F.).
PREFÁCIO
G a b r ie l T a rd e
M aio de 1901.
C A PÍT U LO I
O PÚBLICO E A MULTIDÃO
Eis por que é tão difícil fazer uma boa lei sobre a im
prensa. É como se houvessem querido regulamentar a
soberania do Grande Rei ou de Napoleão. Os delitos de
imprensa, os próprios crimes de imprensa, são quase tão
impuníveis como eram os delitos de tribuna na Antigui
dade e os delitos de púlpito na Idade Média.
Se é verdade, como os aduladores das multidões têm
o hábito de repetir, que o papel histórico das individua
lidades está destinado a diminuir cada vez mais e na m e
dida da evolução democrática das sociedades, deveríamos
ficar singularmente surpresos ao ver crescer dia a dia a
importância dos publicistas. Não é negável, porém, que
eles fazem a opinião nas circunstâncias críticas; e, quan
do dois ou três desses grandes chefes de clãs políticos ou
literários resolvem aliar-se em prol de uma mesma cau
sa, por pior que seja, ela está garantida de triunfar. As
sim, coisa curiosa, o último dos agrupamentos sociais a
se formar e o mais em via de desenvolver-se no curso
de nossa civilização democrática, ou seja, o agrupamen
to social em públicos, é aquele que oferece aos caracteres
individuais marcantes as maiores facilidades de se impor
e às opiniões individuais originais as maiores facilidades
de se expandir.
12. Pois há públicos com o assembléias que são tanto mais fáceis
de enganar quanto mais numerosos forem, com o os prestidigitadores
sabem muitíssimo bem.
O PÚBLICO E A MULTIDÃO 49
A opinião
A conversação
5 . 0 costume das visitas e o dos presentes estão ligados entre si; pa
rece provável que a visita era apenas a conseqüência necessária do pre
sente. A visita é, em suma, um a sobrevivência; o presente era sua razão
de ser na origem , e ela sobreviveu a ele. Mas algo disso persiste. N as vi
sitas no interior, quando se vai à casa de anfitriões que têm filhos, ain
da é costum e em muitas regiões levar bombons, guloseimas. Os cum
primentos deviam ser outrora o simples acompanhamento dos presentes,
A OPINIÃO E A CONVERSAÇÃO 81
13. Em seu livro Les Français d'aujourd'hui, que parece criado e tra
zido à luz expressamente para servir de pedra de toque decisiva a suas
idéias gerais, Demolins explica, pela influência da oliveira e do casta
nheiro, o gosto dos meridionais pelas conversações e sua tendência às
hipérboles.
14. Aum enta também, é claro, com o número e a densidade da po
pulação. Conversa-se muito m enos - caeteris paribus [ficando iguais as
demais coisas] no campo do que na cidade; a emigração do cam po para
as cidades favorece portanto a conversação e faz com que ela se trans
forme. Mas, nas cidades pequenas, onde abundam os ociosos e todo o
m undo se conhece, não se conversa mais que nas cidades? N ão, pois fal
tam assuntos. A conversação que ali m erece esse nom e não é mais que
o eco da conversação das grandes cidades.
A OPINIÃO E A CONVERSAÇÃO 93
18. Mal é preciso notar, tanto isso me parece evidente, que a evolu
ção da conversação conforma-se às leis da imitação, especialmente à da
imitação do superior pelo inferior, considerado como tal e considerando-
se ele próprio como tal. Veremos, assim, a confirmação que nosso tema
oferece à idéia sobre a qual insisti várias vezes, de que as capitais, por
tanto as democracias, desempenham o papel das aristocracias antes de
las. Foi durante muito tempo da Corte, elite aristocrática, imitada pelas
mansões das grandes cidades e pelos castelos, depois pelas casas da bur
guesia, que emanaram as novas formas e os novos temas de conversação.
É agora de Paris, im itada pelas grandes, m édias e pequenas cidades,
até as menores aldeias onde são lidos os jornais, sejam parisienses, se
jam o eco telegráfico das informações parisienses, que se difundem por
toda a parte o tom e o conteúdo da conversação do dia. Tem-se a prova
dessa derivação, particularmente pela difusão do sotaque de Paris até
o extremo sul da França. Tanto entre nós com o no estrangeiro, o sota
que da capital difundiu-se nas províncias e jamais o inverso aconteceu,
pelo menos lá onde a capital é realmente considerada com o tal. Se a ca
pital da França fosse Bordéus, toda a França falaria à moda dos gascões.
19. "Precisamos de todo tipo de pessoas para poder falar de todo
tipo de coisas na conversação que, na vossa apreciação e na m inha, é o
maior prazer da vida e quase o único, em minha opinião", escreve Mademoi-
selle de Montpensier a M adame de Motteville.
100 A OPINIÃO E AS MASSAS
26. Nem sem pre foi assim. Quanto mais recuam os no passado,
mais vemos as pessoas, mesmo das classes médias, se encerrarem em
suas preocupações pessoais. Num a de suas cartas a Mademoiselle de
Robinan (1614), Mademoiselle de Scudéry relata com graça uma via
gem que fez de carruagem e a conversação mantida entre seus com pa
nheiros de viagem , a saber, um jovem cobrador de impostos, u m músi
co medíocre, um a burguesa de Rouen que acabava de perder um pro
cesso em Paris, a dona de uma mercearia na rua Saint-Antoine e uma
vendedora de candelabros da rua Michel-le-Comte em Paris, ambas de
sejosas de conhecer "o m ar e o interior", um jovem estudante voltando
de Bourges em férias, um burguês poltrão, um "tipo pretensioso da bai
xa Normandia que dizia mais gracejos picantes do que o abade de
Franquetot quando estes estavam em moda e que, querendo divertir to
dos os outros, era quem mais puxava conversa". Ora, todas essas pes
soas, quando se põem a conversar, falam cada qual de suas ocupações
pessoais ou profissionais. O cobrador de impostos "sem pre insiste no
soldo por libra". O músico só quer cantar. A vendedora de candelabros
pensa em sua loja. "O jovem estudante só fala de noções de direito e de
seu mestre Cujas" a propósito de qualquer assunto. "Se falávamos de
belas mulheres, ele dizia que Cujas tinha um a bela filha." Em suma, ve
mos claramente que esse diálogo não é senão um entrelaçamento de
monólogos e que nele não intervém assuntos gerais capazes de interes
sar a todos os interlocutores ao mesmo tempo, não há "conversação ge
ral". Atualmente, graças aos jornais, esses assuntos gerais existem sem
pre entre os interlocutores mais diferentes pela classe ou pela profissão.
Existem em excesso às vezes. Assim, Mademoiselle de Scudéry consi
dera uma má companhia essa reunião heteroclita de viajantes. Em sua
época, com efeito, para desfrutar o encanto de um a conversação geral de
interesse comum a todos os participantes, era preciso freqüentar um
110 A OPINIÃO E AS MASSAS
dem andas entre patrões e operários. Ele aponta também o pouco dese
jo que sentem os operários, nesses momentos críticos, de ver chegar os
"senhores" políticos. Por quê? Porque eles sabem que, uma vez chega
dos, estes os subjugarão, queiram eles ou não. E um fascínio que eles
temem, mas a que ainda assim se dobram.
AS MULTIDÕES E AS SEITAS CRIMINOSAS 159
10. Às vezes isso é constatado, mas sem razão, porque o fato nem
sempre pode ser judicialmente demonstrado. Em sua obra, muito bem
docum entada aliás e interessantíssima, sobre as Associações profissionais
na Bélgica (Bruxelas, 1891), o sr. Banderelde, grande tribuno do socialis
mo belga, critica uma decisão do tribunal de Hainault, de julho de 1886,
que condenou vários membros do sindicato dos vidreiros de Charleroi
por provocação aos distúrbios causados pela greve dos operários vidrei
ros, em março do mesmo ano. Não havia contra eles, diz-nos Banderelde,
senão "suspeitas insuficientes". Mas, algumas linhas acima, ele mesmo
nos diz que, muito tempo antes da greve, o sindicato dos vidreiros pre
parava-se para a luta: "uma luta terrível, uma luta de morte, escrevia seu
presidente às sociedades da Inglaterra e dos Estados U nidos". Ora, nes
se meio tempo, irrompem os distúrbios de março de 1886; no dia 25, mi
lhares de mineiros entram em greve; no dia seguinte, essa massa enor
me espalha-se pelo país, faz parar as máquinas, saqueia as vidrarias...
destrói o estabelecimento Baudoux; em um a palavra, executa todo o
program a do Sindicato. Eis aí suspeitas graves, quando não suficientes.
AS MULTIDÕES E AS SEITAS CRIMINOSAS 175
16. Depois que essas linhas foram escritas, uma leve melhora pro
duziu-se do ponto de vista criminal.
AS MULTIDÕES E AS SEITAS CRIMINOSAS 185