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Vários historiadores como Oliveira Lima, Morales de Los Rios, Wilson Martins,
Glória Kaiser e outros concordam que foi a chegada de D.João (Século XIX) que
consagrou o Rio de Janeiro como centro político, intelectual e social, galgando o status
verdadeiro de capital, o que antes existia apenas no nome. O príncipe regente também
espalhou seu gosto pessoal pelas representações cênicas: freqüentando seguidamente o
teatro com a família real, induziu a corte a acompanhá-lo e assim, além de a aristocracia
ter acesso a eventos culturais, estabelecia, nesses eventos, um ponto de reunião social.
Em 1816, D. João VI criou a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios que, mais
tarde, deu origem à Academia Imperial das Belas-Artes, instituição que contou em seu
quadro com artistas franceses renomados que aqui chegaram – na chamada Missão
Francesa, contratados por intermédio do marquês de Marialva, embaixador em Paris.
Sucena (1989:41) menciona, por exemplo, Estela Sezefreda, como “uma das
primeiras brasileiras a se dedicar à dança teatral” e que, por volta de 1830, ingressou no
Corpo de Baile constituído para o Imperial Teatro São Pedro de Alcântara. Do mesmo
modo, o ballet La Sylphide, apresentado em Paris em 12 de março de 1832, foi aqui
encenado em setembro de 1848, enquanto Giselle, que tivera sua primeira apresentação
na Ópera de Paris em 28 de julho de 1841, veio a nós em 1849, há poucos anos de
distância de sua estréia mundial, sendo apresentado, inclusive, no espetáculo
comemorativo do aniversário da coroação de D. Pedro II.
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Havia uma preocupação com o refinamento da educação: com Lacombe, por exemplo, veio também o
renomado maestro Marcos Portugal, que futuramente se encarregaria da educação musical dos filhos de D.João VI
(Sucena, 1988: 33).
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Segundo Edgard de Brito CHAVES JR. (1971: 682), quando a bailarina Maria
Olenewa4 voltou para o Brasil - onde já havia estado com a companhia de Leonide
Massine - causou-lhe espanto ver os ballets das óperas encenados no Theatro Municipal,
ainda dançados por bailarinos de fora, fato que motivou sua idéia de criar uma escola no
próprio teatro.
A escola tinha como objetivo preparar bailarinos para aquela que seria a primeira
companhia oficial do país. Em meados de 1936, foi formado o primeiro Corpo de Baile
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Em 1926 a mesma empresa se comprometera a contratar um professor para que fosse criada, no Theatro
Municipal, uma escola: foi chamada a russa Julie Sedowa, mas, após uma única apresentação, a professora decidiu
retornar à Europa (Sucena, 1989: 259).
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Segundo Sucena (1989: 259), há controvérsias em relação a isso: Maria Olenewa também reivindica para si
a autoria do feito.
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A russa Maria Olenewa estreou como bailarina na Companhia de Ópera de Zimina, em Moscou e,
posteriormente, saindo da Rússia durante a revolução de 1917, foi para a França, para a companhia do Théâtre dês
Champs-Elysées. Quando de sua primeira visita ao Brasil, decidiu-se por viver na América do Sul (Caminada, 1999:
356).
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Por problemas de saúde, um ano após a fundação da escola, Olenewa afastou-se da direção por dois anos,
passando o comando ao russo Ricardo Nemanoff, ex-primeiro bailarino da Companhia Anna Pavlova, que dividiu os
compromissos na escola com as irmãs Carbonell – as bailarinas argentinas Loreta, Luiza e Maria, que aqui atuaram no
Theatro Municipal, “reforçando o elenco ainda inexperiente” (Sucena, 1988: 260-261). Após a temporada de 1928, por
inúmeros compromissos, Nemanoff passou a direção a Luiza Carbonell, até o retorno de Olenewa. Em 1942, assumiu
Yuco Lindberg, bailarino e coreógrafo estoniano, que chegou ao Brasil em 1921; inicialmente participou de espetáculos
de revista, só depois integrando o Corpo de Baile do Theatro Municipal. Yuco dirigiu a Escola até 1948; em seguida, em
1949, assumiu Madeleine Rosay, então primeira-bailarina do mesmo teatro, seguida de Américo Pereira, em 1952. De
1953 a 1959, assumiu a direção a professora Magdala da Gama Oliveira, mas Madeleine retornou em 1960,
permanecendo até 1966, quando assumiu Lydia Costallat, até 1983, substituída por Maria Luisa Noronha. Tânia
Granado dirigiu a Escola de 1987 a 1990, e, a partir daí, retornou Maria Luisa Noronha que dirige a instituição até os
dias atuais (Silva Júnior, 2002)
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Estar de posse de um certificado da R.A.D., porém, não equivale a ser formado por
uma escola oficial, gratuita e profissionalizante, onde aqueles que desejam ingressar se
submetem a um rigoroso exame de admissão, diferente dos cursos do Royal que não
exigiam dos interessados exames rigorosos, além de não serem gratuitos. Do espaço
hierarquizado de uma escola como a de Maria Olenewa são excluídos, a priori, os que
não possuem condições físicas essenciais à prática do ballet.
Muito mais teríamos a declarar, muitas são as figuras cuja contribuição foi
determinante ao ensino do ballet entre nós; muitos foram os mestres dedicados, pioneiros
sem os quais nada teríamos construído.
Talvez por existirem tantas razões, como defendido acima por Cecchetti para o
melhor ou pior desempenho como professor, observamos o que, para ele, são as
principais qualificações de um professor experiente: em primeiro lugar, sua escola – “a
alma de seu conhecimento pessoal”. Seguem, sua reputação como professor e sua
distinção como bailarino. Acrescentem-se, ainda, suas qualidades pessoais, consciência,
paciência e capacidade de ser um bom disciplinador; sua habilidade em demonstrar a
prática e expor a teoria; o resultado atingido por seus alunos e, finalmente, o número de
anos que ele leciona.
Finalizando, cabe deixar a mensagem contida na obra The Ballet Technique for the
Male Dancer, do russo Nikolai TARASOV (1985), um dos maiores pedagogos do ballet de
todos os tempos.
Referências Bibliográficas 7
BEAUMONT, Cyril W., IDZIKOWSKI, Stanislas. A manual of The Theory and Practice of Classical
Theatrical Dancing (Méthode Cecchetti). Prefácio de Enrico Cecchetti. New York: Dover
Publications, Inc., 1975.
CHAVES JR., Edgard de Brito. Memórias e Glórias de um teatro – Sessenta Anos de História do
Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Cia Editora Americana, 1971.
DE LOS RIOS FILHO, Adolfo Morales. O Rio de Janeiro Imperial. Prefácio de Alberto da Costa e
Silva. Rio de Janeiro: Topbooks / UniverCidade, 2000.
PARKER, Derek. Royal Academy of Dancing – The First Seventy Five Years. Londres: Battley
Brothers Limited, 1995.
SUCENA, Eduardo. A dança teatral no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura / Funarte,
1989.
TARASOV, Nikolai. Ballet technique for the male Dancer, Garden City, New York: Doubleday &
Company, Inc., 1985.
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Caros alunos,
Foi muito agradável acompanhá-los nos estudos durante essas aulas, especialmente porque
tratamos de um tema ao qual me dedico apaixonadamente.
Ensinar, seja arte ou não, como eu entendo, é dividir com os alunos o processo de
ensino/aprendizagem: é ajudar, orientar, compreender, influenciar sem subjugar, incentivar a relação
afetiva de respeito e confiança mútuos. Encerra a prazerosa responsabilidade de ter vidas, sonhos, ideais
confiados a nós, professores.
São muitos os que se auto-intitulam bailarinos e coreógrafos. Aqueles que estudaram dança por
alguns anos e atuaram em festas de final de ano nas academias crêem-se bailarinos e, posteriormente,
praticam a docência. Esse é um grande perigo quanto à difusão de conceitos equivocados com os quais
convivemos em nosso país. Assim, é pensando na formação dos bailarinos que me preocupo com a dimensão
desta atividade que, além de técnica é, principalmente, humanística.
O Brasil possui bailarinos de alto nível técnico, espalhados aqui e nas melhores companhias
internacionais. É preciso aprimorar cada vez mais o ensino do ballet, cuidando para que ele seja praticado
apenas por quem domina o ofício.
Meu desejo neste curso foi ajudar àqueles que desejam lecionar dança a descobrir o prazer e a
responsabilidade de ser professor de ballet. Creio que o processo de aprimoramento do ensino deva passar
pela auto-reflexão do professor sobre os pontos que, juntos, discutimos ao longo deste curso.
Quero deixar claro que o trabalho técnico não pode sobrepujar a dimensão artística do ballet:
dança é arte e como tal deve ser trabalhada, desenvolvida, observada. É importante que os professores não
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cultivem o hábito de desenvolver “marcas atléticas” em seus alunos em detrimento dos cuidados artísticos
que deverão ser, primordialmente, desenvolvidos. 9
Isto não significa dizer que o virtuosismo deva ser abolido: todos nós gostamos de apreciar um
bailarino com qualidades excepcionais, assombrosa elevação de pernas, giros inumeráveis, etc. Mas isso
não deve ser preseguido a todo custo, como se o ballet se resumisse apenas nisso.
Espero que tenham gostado, desejo sucesso a todos e que sejam felizes nessa difícil mas
gratificante tarefa!
Com carinho,
Vera Aragão