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RESUMO
Este trabalho tem como principal objetivo, abordar as imagens produzidas no entorno
do balé romântico francês, Giselle. Este balé que é considerado a obra prima do balé
romântico do século XIX, foi inspirado em um texto do escritor alemão Henri Heinrich,
que contava a lenda das Willis. Foi transformado em balé pelo poeta e crítico Théophile
Gautier em 1841, e foi apresentada pela primeira vez nos palcos da Académie Royale
de la Musique et de la Danse, atual Ópera Garnier. Para este trabalho, foram recolhidas
cerca de dezenove imagens dispostas online, via arquivo da Biblioteca Nacional Francesa,
Gallica. Estas imagens remetem ao período de estreia do balé, o ano de 1841. O período
romântico foi extremamente frutífero para o balé, inúmeras obras foram criadas e apre-
sentadas para o público, todavia dentre todas, Giselle conseguiu se elevar ao patamar
de um clássico, ocupando um importante lugar na História do balé.
Palavras-chave: História da Dança, História do Ballet, Giselle, História da Arte, França XIX.
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Temas da Diversidade: Experiências e Práticas de Pesquisa - Volume 2
INTRODUÇÃO
O termo balé designa um estilo de dança que se originou nas cortes italianas do século
XV, neste momento denominado Balé de Corte. Chegou à França com a influência da rainha
Catarina de Médici, que neste momento foi sua maior incentivadora. Neste país foi onde o
balé rapidamente se desenvolveu e foi estruturada, o motivo principal é o interesse de Luís
XIV pelas artes e pela dança, este rei fundou uma academia, Académie Royale de la Danse
(1661) e posteriormente renomeada de Académie Royale de Musique (1672) exclusiva para
a prática e para o ensino da mesma. Se atualmente o balé é um tipo de dança influente
a nível mundial que possui uma forma altamente técnica e um vocabulário próprio, o qual
ainda utiliza o francês como língua oficial, é devido à forte organização que ele obteve ao
longo da História.
Em meados do século XIX surge em concordância com o espírito da época o movimento
romântico, que foi de grande valia para o balé, pois sob sua influência são criados grandes
repertórios que ainda hoje possuem graça e excelência. A Ópera foi entregue aos gnomos,
as odinas, as salamandras, aos elfos, aos espíritos e as ninfas das águas, aos peris e toda
população estranha e misteriosa que se presta tão bem ás fantasias do balé.1 O período
romântico talvez seja um dos mais conhecidos pelas pessoas não especializadas em dança,
através das numerosas litografias da época que imortalizaram balés e bailarinas.2
OBJETIVO
MÉTODOS
1 BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. 2°Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p.204.
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2 FARO, Antonio José. Pequena História da dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. p.58.
RESULTADOS
DISCUSSÃO
Há 180 anos, em 28 de junho de 1841, ocorria a estreia da obra clássica do balé ro-
mântico francês, Giselle. Ao falar da dança no século XIX, temos uma série de questões que
nos é relevante. O balé adere ao movimento romântico em 1831, ao fazer isto consegue se
desvincular da ópera e criar um estilo próprio. Apesar da entrada tardia no movimento, o balé
romântico consegue grande êxito em suas apresentações. Os enredos levados aos palcos
tratavam questões sobre os amores impossíveis, a dualidade entre o mortal e o imortal e
as dificuldades dos amores entre estes seres. Entre comédias e tragédias desenvolve-se o
romantismo no balé. “O balé transformou-se em poderosa fonte de inspiração e ilusão, e o
desenvolvimento simultâneo de todos os seus componentes – conteúdo dramático, música,
cenários, figurinos, novas formas ou estilos de dança e coreografia – fez dele uma expressão
real do ideal romântico.”3
Esta inspiração pode ser encontrada em diferentes âmbitos das artes, e alguns des-
tes reflexos podem ser encontrados no arquivo online Gallica, onde encontramos o total
de dezenove imagens produzidas no que remete ao primeiro ano de Giselle no palco da
Ópera, estas imagens estão divididas no site em: dois cadernos de imagens somando o
total de dez imagens, cinco sendo capa de arquivos de texto e as demais estão arquivadas
de forma individualizada. Estas imagens podem ser divididas em dois grandes grupos:
Litografias e Croquis de figurinos. O primeiro grupo que será abordado é o de Croquis, este
é constituído por sete imagens, todas desenhadas pelo figurinista da Ópera, Paul Lormier.
Estas imagens foram confeccionadas em papel, e o desenho foi feito em lápis e aquarela,
algumas folhas possuem inscrições em caneta. Um dos principais nomes no que se refe-
ria a costumes, Lormier buscava trazer em seus figurinos, algo autêntico a história que se
passava o enredo apresentado e roupas em que os bailarinos pudessem elaborar passos
virtuosos com facilidade.
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3 FARO, Antonio José. Pequena História da dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. p.65.
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fora traduzida para camponesa para não prejudicar a fluidez do texto.
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sanne) e suas amigas serem camponesa vindimeiras (vendangeuse).
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ofuscantes nos dedos, as Wilis dançam ao luar como elfos.”6 , texto este que fora publicado
na França e serviu de inspiração para Gautier, sendo o ápice da história, era importante
adaptar com a maior verossimilhança possível. A descrição das Willis que é habitualmente
apresentada nos libretos das apresentações, Lormier teve que adaptar estes trajes e criar
algo condizente com a história e com os palcos, criando um modelo que posteriormente foi
amplamente reproduzido em diversas companhias de balé. Este pequeno caderno de de-
senhos desempenha uma importante função, além de trazer consigo os primeiros figurinos
criados para este balé, podemos conferir a genialidade do artista ao criar cada traje.
Giselle estreou nos palcos da Ópera em 28 de junho de 1841, levando ao palco uma
história assinada por Theóphile Gautier, poeta e crítico de arte, e Jules-Henri Vernoy de
Saint Georges, um dos mais prolíferos libretistas do século XIX. Com coreografias de Jean
Coralli, coreógrafo da casa, e hoje se tem conhecimento que Jules Perrot também partici-
pou da criação da coreografia, sobretudo das partes que foram interpretadas pela estrela
recém-contratada da Ópera, Carlota Grissi, então sua esposa. A inspiração para o enredo
adveio de um texto do livro De l’Allemagne (1835), de Heinrich Heine, o qual o autor conta a
história das Willis. Todavia a morte da personagem principal adveio do poema Les Fantômes
de Victor Hugo da obra Les Orientales (1829). E assim “as lendas de Heinrich Heine ganha-
ram vida através de Giselle”.7 Eis que este trabalho conjunto de um importante poeta e um
grande libretista gerou o seguinte enredo:
O primeiro ato terreno se encerra de forma drástica, dando espaço para o segundo
ato, etéreo e mágico, que nos traz a lenda alemã.
Segundo Ato – Hilarion está de vigília na tumba de Giselle quando soa meia-
-noite. Esta é a hora da materialização das Wilis, espíritos de jovens que foram
enganadas e morreram antes do dia do casamento. Elas se vigam fazendo
dançar até a morte qualquer homem que encontrem nos arredores do cemi-
tério. Myrtha, sua rainha, aparece e chama as demais Wilis. Neste momento
elas tiram Giselle da sepultura para iniciá-la nos seus ritos. Quando Albrecht
aparece trazendo flores, Giselle surge para ele. Logos as Wilis retornam,
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8 Programa do balé Giselle. Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 2008. p.10.
Todavia uma vez que o balé teve sua estreia, temos outras produções artísticas que
o usaram como base. Temos então a produção de litografias, estas que podemos mapear
sua produção entre os meses de julho e dezembro do ano de 1841. No site Gallica as ima-
gens, não possuem data constando apenas o seu ano de sua produção, mas sabemos que
para a produção litográfica era preciso o contato com a obra em si, logo o balé já estava
nos palcos no período de confecção das imagens, sendo assim, imagens que o público
já conhecia. Através delas o público poderia reconhecer e recontar passagens do enredo
do balé e situar os personagens. Destas litografias encontradas, soma-se o total de treze
imagens, as quais podemos dividir em dois grupos, Apresentação de personagens (cinco
imagens) e Representação de Cenas do Balé (sete imagens, sendo cinco capas de caderno
de imagens ou texto).
Sabemos que a sociedade de meados do século XIX adquiria estas litografias para o
consumo, que se pode dividir em duas formas, a de colecionismo, ou, para decoração de
ambientes, sendo que uma opção não anula a outra. “O período romântico talvez seja um
dos mais conhecidos pelas pessoas não especializadas em dança, através das numerosas
litografias da época que imortalizaram balés e bailarinas.”10 Apesar de ter chegado até nós
apenas estas treze litografias do ano de 1841, podemos entender o seu lugar social e a
importância desta arte. A produção litográfica de balé após sua desvinculação das apresen-
tações de ópera é bem mais simbólica, apenas como uma arte independente e reconhecida
pelo público e por seus pares o balé poderia se tornar uma fonte de inspiração dos litógrafos
e interesse social. “Mas o apogeu dessa tendência se dá com o endeusamento de bailarinas
como Taglioni, Cerrito, Elssler, Grisi ou Graham. Suas litografias, reproduzidas às centenas,
transformaram-se em objetos de decoração nas casas particulares e de negócios da épo-
ca.”11 Cada uma destas bailarinas possuía grande talento, neste momento em que o balé é
escrito para a bailarina, estas conseguiram ser fonte de inspiração de inúmeros balés, logo,
inúmeras litografias suas foram produzidas e circularam em ambientes públicos e privados
da sociedade europeia. “As bailarinas são mostradas quase sempre como seres alados ou
extraterrenos, figuras de lendas e de imaginação, bem de acordo com a época, quando
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11 Ibidem, p.58.
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13 Ibidem, p.81-82.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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14 Parte da coreografia designada para o casal principal, têm sua forma preestabelecida.
FINANCIAMENTO
REFERÊNCIAS
FONTES
1. Programa Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Giselle, 1999.
5. BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. 2°Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
6. FARO, Antonio José. Pequena História da dança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
9. PEREIRA, Roberto. Giselle: O Voo Traduzido - da lenda ao balé. Rio de Janeiro: UniverCidade,
2003
10. RENGEL, Lenira e LANGENDONCK, Rosana. Pequena viagem pelo mundo da dança. São
Paulo: Moderna, 2006.
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