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Universidade Federal do Pampa - Unipampa 1

Curso de Tecnologia do Agronegócio


Disciplina: Princípios de Instalações e Construções Rurais - Prof. Tarcisio Barcellos Bellinaso
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7 - TRATAMENTO DE ESGOTOS POR SISTEMAS


SIMPLIFICADOS

TANQUES SÉPTICOS ou FOSSAS SÉPTICAS

7.1 - Definição

São unidades cilíndricas ou prismáticas retangulares de fluxo horizontal, para


tratamento de esgotos. Nelas, se processa a separação dos sólidos da água. Os sólidos
mais pesados vão ao fundo constituir o LODO e os mais leves vão a superfície
constituir a ESCUMA ou CROSTA, conforme é apresentado na Figura 1.

Figura 1 - Seção transversal de uma fossa séptica em funcionamento.

Figura 2 - Cortes e vista em planta baixa de uma fossa séptica retangular e cilíndrica.
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As fossas sépticas são unidades simples, sem mecanização alguma, de baixo
custo e destinam-se ao tratamento de esgotos em locais onde não são servidas por
rede pública de coleta (Sistemas Individuais), conforme Figura 3.

Figura 3 - Sistema Individual de coleta de esgotos.

7.2 - Descrição do Processo e Funcionamento

7.2.1 - Fases do funcionamento

Pode-se considerar o funcionamento nas seguintes fases:


1°) Retenção ou Detenção
Quando o esgoto é retido no tanque por um período criteriosamente estabelecido
para a separação entre as fases sólida e líquida. Este período pode variar entre 12 e 24
horas.

2°) Decantação
Simultaneamente à fase anterior, processa a sedimentação de 60 a 70% dos
sólidos em suspensão, formando-se no fundo uma massa semilíquida chamada de
LODO.
Parte dos sólidos, mais leve que a água, como óleos e gorduras junto com gases
é retida na superfície livre (da fossa), e constitui a chamada ESCUMA ou CROSTA.
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3°) Digestão
Tanto o lodo no fundo como a escuma na superfície são atacados por bactérias
anaeróbicas e vão sendo progressivamente decompostos (transformados) em
substâncias mais simples e estáveis.
Esta transformação é chamada de DIGESTÃO e é promovida por bactérias
anaeróbicas.
Esta digestão ou oxidação ocorre em duas fases:
1°) Fase: DIGESTÃO ÁCIDA
Na 1° fase, bactérias anaeróbicas atuam sobre a matéria orgânica complexa
(proteínas, carboidratos, lipídios, etc,...) transformando em ácidos orgânicos (acético,
láctico, fórmico, etc,...) provando um abaixamento no pH e tornando o meio muito
agressivo as próprias bactérias.
As bactérias anaeróbicas que atuam nesta fase são genericamente chamadas de
“bactérias formadoras de ácidos” (Acidogênicas).

2°) Fase: FERMENTAÇÃO METÂNICA


Na 2° fase, os ácidos resultantes da 1° fase são metabolizados por bactérias
também anaeróbicas e transformadas (bioquimicamente) em substâncias bem mais
simples e estáveis como CO2, água, gás metano, gás sulfídrico, etc.
As bactérias que atuam nesta fase são genericamente chamadas de “bactérias
metanogênicas”.
Matéria
Orgânica
Proteínas Digestão Amônia Fermentação CO2, Água,
Carboidratos ⇒ e ⇒ Gás metano,
Lipídios Ácida Ácidos Metânica Gás sulfídrico.
Figura 4 - Esquema da Digestão.
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7.2.2 - Redução do volume

Conforme apresentado na Figura 4, vemos que a digestão ou estabilização


resulta nos produtos citados (CO2, H20, Gás metano, Gás sulfídrico) e isso ocorre
com acentuada redução de volume dos sólidos que foram retidos.

7.3 - Afluentes da fossa séptica

As fossas ou tanques sépticos aplicam-se primordialmente ao tratamento de


esgotos domésticos. Isso significa que elas podem receber os efluentes de:
• Cozinhas;
• Lavanderias domiciliares;
• Lavatórios;
• Vasos sanitários;
• Mictórios;
• Bidês; e;
• Chuveiros.

Os despejos de cozinhas devem passar por caixas de gordura antes de serem


conduzidas às fossas sépticas, conforme apresentado na Figura 6.

Figura 5 - Representação esquemática de um Sistema Individual de Esgoto.


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Figura 6 - Representação esquemática da instalação de uma caixa de gordura em um


Sistema Individual de Esgoto.
Observação:
Águas Servidas: esgotos provenientes de operações de lavagem e limpeza
(Figura 5).
Ex: Esgotos provenientes da pia de cozinha, tanque de lavar roupas, máquina de
lavar roupas (MLR), máquina de lavar louça (MLL).
Águas Imundas (com excrementos): esgotos que contém material fecal (fezes)
(Figura 5).
Ex: Esgotos provenientes dos vasos ou bacias sanitárias (bacia Turca).
Observações:
1. Em alguns municípios, os departamentos de saúde locais admitem que os
efluentes líquidos que saem da fossa séptica sejam conduzidos à rede coletora pluvial
pública, o que dispensa o uso de outros recursos anteriormente apresentados.
2. Um outro aspecto, também bastante discutido, é com relação aos esgotos que
devem ou não ser escoados à fossa séptica. Isto é, apesar da norma admitir, alguns
técnicos defendem a opinião de que somente devem ser conduzidas à fossa séptica as
águas imundas ou com excrementos. As águas servidas, nesse caso, devem ser
desviadas da fossa por uma rede independente, pois os detergentes e sabões contidos
nessas águas eliminam as bactérias que trabalham no processo de digestão que ocorre
no interior das fossas.

7.4 - Restrições ao uso de fossas sépticas


É vetado o encaminhamento ao tanque séptico:
1°) Águas Pluviais;
2°) Despejos capazes de causar interferência negativa em qualquer fase do
processo de tratamento ou a elevação excessiva da vazão do esgoto afluente, como:
• Os provenientes de piscinas; e os;
• De lavagem de reservatórios de água.
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7.5 - Abrangência do projeto

Os sistemas de fossa séptica deve ser projetado de forma completa, incluindo a


disposição final para o efluente líquido e para o lodo.
A Norma Técnica que rege o dimensionamento das fossas sépticas é a NBR
7229/93 e a disposição dos efluentes da fossa séptica é a NBR 13969/97.
O efluente líquido que sai da fossa pode ser encaminhado para disposição:
a) No solo a través de:
• Poço Absorvente ou Sumidouro (Figura 7); e;
• Valas de Infiltração ou Irrigação Sub-Superficial (Figura 8 e 9).

Figura 7 - Poço Absorvente ou Sumidouro.

Figura 8 - Valas de Infiltração ou Irrigação Sub-Superficial.


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Figura 9 - Detalhes de Vala de Infiltração ou Irrigação Sub-Superficial.

b) Em águas superficiais (rios, riacho, arroio, lago, etc).


• Depois de tratamento complementar por meio de Valas de Filtração ou
Trincheiras de Filtração (Figura 10 e 11); e;
• Depois de tratamento complementar por meio de Filtro Anaeróbico, Filtro
Aeróbico, Filtro de Areia e através de Desinfecção (adição de cloro como
forma de desinfecção).
Anaeróbico: onde as bactérias anaeróbicas que decompõem a matéria orgânica,
sobrevivem na ausência do oxigênio.
Aeróbico: as matérias orgânicas nas ETE são decompostas pelas bactérias
aeróbicas que necessitam de oxigênio para sobreviver.

Figura 10 - Valas de Filtração ou Trincheiras Filtrantes.


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Figura 11 - Detalhe das caixas de inspeção das Valas de Filtração.

O lodo digerido deve ser removido, a intervalos de tempo estabelecidos no


projeto, e encaminhados à:
• Estações de Tratamento de Esgotos (Figura 12 e 13); e;
• Digestores de lodo anaeróbios (Figura 14): o lodo e a escuma
provenientes das elevatórias de lodo e escuma são encaminhados a essas unidades.

Figura 13 - ETE - Decantadores


Figura 12 - Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).
Secundários.
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Figura 14 - Digestores de lodo anaeróbicos da ETE de Arrudas.


Belo Horizonte/MG.

A melhor alternativa é contratar firmas especializadas para remoção do lodo.


Estas firmas, em geral encaminham a uma ETE.

7.6 - Dimensionamento

O tanque séptico deve ser projetado de modo que suas dimensões atendam
satisfatoriamente à descarga de esgotos afluente.

7.6.1 - Contribuição de despejos e lodo fresco (C, Lf)

A contribuição dos despejos depende do número de pessoas a serem atendidas.


Nos prédios em que haja ocupantes permanentes e temporários, as vazões totais de
contribuição resulta da soma das vazões correspondentes a cada tipo de ocupação.
A contribuição unitária é dada na Tabela 1 da NBR 7229/1993.
Exemplo:
litros litros
N .C = 5 pessoas.130 = 650 (vazão)
pessoa.dia dia
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l l
N .Lf = 5 pessoas.1 =5 (lodo)
pessoa.dia dia

7.6.2 - Período de detenção ou retenção de despejos (T)

Este parâmetro é calculado de acordo com a Tabela 2 da NBR 7229/1993, e


depende da faixa de contribuição.

7.6.3 - Taxa de acumulação de lodo (K)

O lodo, uma vez dentro do tanque, entra em digestão, e depois de algum tempo
tem seu volume reduzido (considerava-se 50 dias para a digestão completa)
independente da temporada.
Estima-se que o lodo em digestão tenha o seu volume reduzido não totalmente
(1/2 volume inicial) e o lodo antigo, já digerido tenha seu volume bem mais reduzido
(1/4 do volume inicial).
De qualquer forma, deve ser previsto no tanque um espaço para o
armazenamento deste lodo entre duas limpezas, que pode levar 1 ou mais anos.
A taxa de redução deste volume depende também da temperatura ambiente, uma
vez que a atividade das bactérias diminui com a diminuição da temperatura.
Assim, avalia-se o espaço para armazenamento ou acumulação de lodo,
indiretamente através de um período de tempo de acumulação. Este é dado na Tabela
3 em função do intervalo entre limpezas (desejável) e da temperatura ambiente.

7.6.4 - Volume útil do Tanque Séptico (V)

É determinado através da seguinte formulação:


V = 1000 + N (C.T + K.Lf)
1000 - volume mínimo em litros;
V - volume útil, em litros;
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N - número de pessoas ou contribuintes;
C - contribuição de despejos, em litro/pessoa.dia ou litro/unidade.dia (Tabela 1);
T - período de detenção, em dias (Tabela 2);
K - taxa de acumulação de lodo digerido em dias, equivalente ao tempo de
acumulação de lodo fresco (Tabela 3);
Lf - contribuição de lodo fresco, em litro/pessoa.dia ou litro/unidade.dia (Tabela
1).
NC.T - volume destinado ao líquido;
NK.Lf - volume destinado ao armazenamento de lodo.

Nota: Em versões anteriores da norma, K = 100 e o intervalo entre as limpezas


era de aproximadamente 10 meses (300 dias). Não havia a imposição do volume
mínimo de 1000 litros. Atualmente, o cálculo conduz à volumes maiores para a fossa
séptica.

7.6.4.1 - Dimensões internas mínimas

a) Profundidade útil: variável entre os valores mínimos e máximos


recomendados na Tabela abaixo (Tabela 3 da NBR 7229/93) e de acordo com o
volume útil determinado acima.
Profundidade Profundidade
Volume útil
mínima máxima
(m3)
(m) (m)
Até 6,0 1,20 2,20
6,0 a 10,0 1,50 2,50
Maior 10,0 1,80 2,80

b) Tanques cilíndricos: diâmetro interno mínimo: 1,10 metros.


c) Tanques prismáticos: largura interna mínima: 0,80 metros.
c.1) Relação Comprimento : Largura
Mínimo 2:1
Máximo 4:1

Exercício Prático

1) Dimensionar uma fossa séptica do tipo cilíndrica e retangular para 18


contribuintes em um prédio de ocupantes permanentes de residência de padrão
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médio. A temperatura ambiente do mês mais frio é de 12°C e o intervalo entre
limpezas nesta fossa será de 1 ano.
Obs: Apresentar todas as verificações para os dois tipos de fossa.

7.6.4.2 - Número de câmaras

O emprego de câmaras múltiplas em série é especialmente recomendado para


tanques de pequeno e médio volume, servindo até 30 pessoas.
Para observância do melhor desempenho quanto à qualidade dos efluentes,
recomenda-se os seguintes números de câmaras:
a) Tanques Cilíndricos: três câmaras em série (Figura 16).
b) Tanques Prismáticos retangulares: duas câmaras em série (Figura 17).

Figura 15 - Tanque séptico circular Figura 16 - Tanque séptico circular Figura 17 - Tanque séptico
de câmara única. de câmara múltipla prismático de câmara múltipla.

Observação: O tanque séptico de câmara única possui um compartimento


(Figura 15).

7.6.4.3 - Proporção entre câmaras

a) Tanques cilíndricos: 2:1:1 em volume, da entrada para a saída (Figura 16).


b) Tanques prismáticos retangulares: 2:1 em volume, da entrada para a saída
(Figura 17).
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7.6.4.4 - Dispositivos de entrada e saída

Estes dispositivos podem ser constituídos por Tês sanitários ou sépticos e


obedecer às relações de medidas conforme apresentado na Figura 4 da NBR 7229/93.

7.6.4.5 - Abertura de Inspeção

a) Todo tanque deve ter pelo menos uma abertura para inspeção com a menor
dimensão igual ou superior ao diâmetro de 60 cm, que permita acesso direto ao
dispositivo de entrada do esgoto no tanque séptico (Figuras 18/19);
b) O máximo raio de abrangência horizontal admissível para efeito de limpeza é
de 1,50 m, a partir do qual nova abertura deve ser necessária (Figuras 18, 21, 22 e
23);
c) Os tanques prismáticos retangulares de câmaras em série devem ter pelo
menos uma abertura por câmara (Figura 23);
d) Quando os tanques forem executados com lajes removíveis em segmentos,
não é necessário prever aberturas, desde que esses segmentos tenham área menor ou
igual a 0,5 m².

Figura 18 - Tanque prismático de câmara única com única Figura 19 - Tanque circular de câmara única com única
abertura (NBR 7229/93). abertura (NBR 7229/93).
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Figura 20 - Tanque circular de câmaras múltiplas com única Figura 21 - Tanque prismático de câmara única com
abertura (NBR 7229/93). múltipla abertura (NBR 7229/93).

Figura 22 - Tanque circular de câmara única com múltipla Figura 23 - Tanque prismático de câmara múltipla com
abertura (NBR 7229/93). múltipla abertura (NBR 7229/93).

7.6.4.6 - Procedimentos de Limpeza dos Tanques

a) O lodo e a escuma acumulados nos tanques devem ser removidos a intervalos


equivalentes ao período de limpeza de projeto, conforme apresentado na Tabela 3 da
NBR 7229/93;
b) Quando da remoção do lodo digerido: aproximadamente 10% de seu volume
deve ser deixado no interior do tanque;
c) A remoção periódica do lodo e escuma deve ser feita por profissionais
especializados que disponham de equipamentos adequados para garantir o não-
contato direto com o lodo. É obrigatório o uso de botas e luvas de borracha. No caso
de remoção manual, é obrigatório o uso de máscaras de proteção.
d) Antes de qualquer operação que venha a ser realizada no interior de tanques,
as tampas das aberturas de acesso devem ser mantidas abertas por, pelo menos, por 5
minutos para remoção dos gases tóxicos ou explosivos.

7.6.4.7 - Disposição de Lodo e Escuma


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a) O lodo e a escuma removidos do tanque séptico em nenhuma hipótese podem
ser lançados em corpos d’água, cursos d’água (rios, córregos, riachos, arroios, lagos,
lagoa, laguna, barragens, represas, reservatórios, etc) ou em galerias de águas
pluviais;
b) O lançamento do lodo digerido em ETE, ou em pontos determinados da rede
coletora de esgotos, é sujeito a aprovação e regulamentação por parte do órgão
responsável pelo esgotamento sanitário na área considerada;
c) No caso de tanques sépticos para atendimento a comunidades isoladas, deve
ser prevista a implantação de leitos de secagem (Figura 24) projetados de acordo com
a normalização específica.

Figura 24 - Exemplo de leitos de secagem.


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DISPOSIÇÃO DOS EFLUENTES DOS TANQUES SÉPTICAS

7.1 - Introdução

A NBR 13.969/1997 sugere algumas alternativas para disposição do efluente


dos tanques sépticos:
• Valas de infiltração;
• Valas de filtração;
• Filtro anaeróbico;
• Filtro aeróbico;
• Lagoas com plantas aquáticas;
• Sumidouros ou Poço absorvente;
• LAB (Lodo ativado em batelada).
Das alternativas supracitadas, a única que se presta para utilização individual é o
sumidouro, que ocupa uma área relativamente pequena e pode ser instalado dentro do
lote (terreno) e servir a uma fossa.
As demais alternativas se prestam para tratamentos coletivos em condomínios,
bairros, vilas, etc, pois além de ocupar uma área maior, tem operação mais complexa
e exigem técnicos para isso.

7.2 - Disposição local dos efluentes

Se processa através da infiltração no terreno, evapotranspiração ou combinação


dos processos. Ex: Valas de infiltração e Sumidouros.

7.2.1 - Valas de infiltração


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É o processo de tratamento ou disposição final do efluente de tanques sépticos
que consiste na percolação do mesmo no solo, onde ocorre a depuração (tornar puro,
limpar) devido a processos físicos (retenção de sólidos) e bioquímicos (oxidação).
Como utiliza o solo como meio filtrante, seu desempenho depende das características
deste, assim como do seu grau de saturação. Não é recomendado o uso de valas de
infiltração onde o solo é saturado de água.

7.2.1.1 - Fatores determinantes no projeto e uso da vala de infiltração

1°) Características do solo:


Avaliada através da capacidade de percolação, cujo método é descrito no Anexo
A da NBR 13.969/97.
2°) Nível máximo do aqüífero:
O nível máximo do lençol freático deve ser tal que a distância vertical entre a
superfície deste e o fundo da vala de infiltração seja maior ou igual a 1,50m.
3°) Manutenção de condições aeróbias e distância mínima a poço de
captação de água
Devem ser previstos uma distância horizontal mínima em relação a eventuais
poços de captação de água, de modo a garantir 3 dias de percurso do efluente da vala
até alcançar o poço de água.

Figura 1 - Detalhes da vala de infiltração.


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Um critério aproximado para dimensionar um sistema de irrigação sub-
superficial ou vala de infiltração, quando não se dispõe de ensaio de infiltração, é o
de estimar a extensão das linhas em função do número de pessoas usuárias. Nesse
caso, procedemos do seguinte modo:
Com base no tipo de solo do local a ser instalado o sistema, e do número total de
pessoas a utilizarem a habitação considerada, determinamos o comprimento total L
das linhas.
Nesse caso consultaremos a tabela:
Tipo de solo C
1 Argilas compactadas de cor branca 20
2 Argilas de cor vermelha ou marrom, mediamente compactadas 30
3 Argila com areia ou silte 50
4 Areia ou silte com pouca argila ou areia com húmus ou turfa 75
5 Areia selecionada e limpa 90

Com o valor de C, tirado da tabela, podemos calcular L:


300.N
L= (metros )
C
Sendo N o número de pessoas contribuintes.
Exemplo:
Determinar o comprimento das valas de infiltração em uma residência provida
de tanque séptico em uma área rural. O tipo de solo nesta área é do tipo argilas de cor
marrom meramente compactada e para uma residência com 5 contribuintes.

4°) Detalhes de construção:


As tubulações perfuradas como:
• Tubos de PVC rígido corrugado e ranhurado (Figura 2);
• Tubos de PVC rígido corrugado e perfurado (Figura 2);
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• Tubos flexíveis corrugados e perfurados (Figura 3).
Devem ser instaladas de modo a não causar represamento do esgoto no interior
do tubo e da vala.

Figura 2: a) Tubos de PVC rígido corrugado e ranhurado.


Figura 3 - Tubos flexíveis corrugados e perfurados.
b) Tubos de PVC rígido corrugado e perfurado.

Nos locais onde os terrenos têm inclinação acentuada, como encostas de morros,
as valas devem ser instaladas acompanhando as curvas de nível (paralelas às curvas
de nível), de modo a impedir o represamento do esgoto nas extremidades.

7.2.1.2 - Alternância do uso

Para manutenção das condições aeróbias no interior da vala e desobstrução dos


poros do solo, dever ser previstas uso alternativo de valas. Assim o número mínimo
de valas deve ser dois, cada uma correspondendo a 100% da sua capacidade total.
Pode-se optar por três valas, cada uma com capacidade para 50% da vazão. O prazo
máximo de alternância deve ser 6 meses.

7.2.1.3 - Dimensionamento

A vala de infiltração deve ser dimensionada para a mesma vazão adotada para o
dimensionamento do tanque séptico.

Taxa de aplicação
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A área de infiltração deve ser determinada de acordo com a capacidade de


percolação do solo (ação ou processo de um líquido passar através de interstícios -
intervalos ou fendas) determinada em análise de campo. A Tabela A1 da Norma NBR
13969/97 p. 25, fornece a taxa de aplicação em função da capacidade de percolação
do solo.

Área de infiltração = (S1 + S2 + S3).L

Figura 4 - Representação esquemática de uma vala de infiltração para


dimensionamento.

Para efeito de cálculo da área de infiltração devem ser consideradas as


superfícies laterais (S1 e S3) e do fundo (S2), situadas abaixo do tubo de distribuição.

⎛m ⎞
3

⎜ ⎟
= ⎝ ⎠ =m
Q dia
A= 2

Tx ⎛ m ⎞
3

⎜ ⎟
⎝ m .dia ⎠
2

Onde:
A - área total;
Q - vazão ou descarga líquida, em m3/dia;
Tx - taxa de aplicação, em m3/m2.dia.
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O tubo de distribuição da irrigação sub-superficial ou valas de infiltração deve
ter diâmetro 100mm e orifícios laterais de 5mm de diâmetro (Figura 5) e, quando for
tubo ranhurado, a ranhura é de 3mm (Figura 5 e 6). Para distribuição por gravidade
devem ser instalados com declividade de 0,003 m/m.

Figura 5 - Dimensões da
Figura 6 - Exemplo de tubo corrugado ranhurado.
ranhura e orifício dos tubos.

O material de enchimento da vala deve ser brita até n° 4.


À distância em planta, dos eixos das valas paralelas deve ser maior ou igual a
1m, conforme é apresentado na Figura 1, e o comprimento máximo de cada vala igual
a 30m.

7.2.2 - Sumidouro

O sumidouro é a unidade de depuração (ato de limpar, tornar puro) e de


disposição final do efluente de tanque séptico verticalizado em relação à vala de
infiltração. Devido a esta característica, seu emprego é favorável somente nas áreas
onde o lençol freático é profundo, garantindo uma distância mínima de 1,50m entre o
nível do lençol freático e o fundo do sumidouro (Figura 9).
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Figura 7 - Sumidouro cilíndrico sem e com enchimento (Creder, 1991,p. 280).


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7.2.2.1 - Dimensionamento

O critério de dimensionamento do sumidouro é o mesmo das valas de


infiltração. Como o sumidouro é uma unidade verticalizada, freqüentemente atravessa
diversas camadas do solo com diferentes características de percolação. Assim
devemos determinar a taxa média de percolação da seguinte forma:

K H + K H + ... + K H
K = 1 1 2 2 n n

MÉDIO
(H + H + ... + H ) 1 2 n

H∑K
K = i i

∑H
MÉDIO

Onde:
Ki e Hi - são, respectivamente, as taxas e alturas das camadas onde foram
realizados os ensaios.

Figura 8 - Diferentes camadas de solo com diferentes características de percolação,


para dimensionamento de sumidouro.

Tipos de solo
a) Sumidouro em região não arenosa (K > 500 min/m)

Esta é uma região pouco permeável onde à água leva um tempo relativamente
alto para 5 minutos baixar 1cm (5min/cm).

a.1) Área de infiltração


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É a área lateral abaixo da geratriz inferior do tubo de lançamento do efluente,
acrescida da área do fundo.
A = AL + AF = 2πRH + πR2
A = πDH + (πD2)/4
Área Total

⎛m ⎞
3

⎜ ⎟
A=
Q
= ⎝ dia ⎠
=m 2

Tx ⎛ ⎞
3
m
⎜ ⎟
⎝ m .dia ⎠
2

Altura útil
Qualquer, desde que atenda no mínimo 1,50m entre o fundo da fossa séptica e o
nível máximo do lençol freático (Figura 9).

Figura 9 - Distância mínima de 1,50m entre o nível do lençol freático e o fundo do


sumidouro.

Caso haja necessidade de reduzir a altura útil do sumidouro, para fugir do lençol
freático, pode-se reduzir tanto o diâmetro quanto à altura do sumidouro, aumentando,
porém o número de sumidouros conforme é apresentado na Figura 10.
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Figura 10 - Planta baixa referente ao aumento do n° de sumidouros para fugir do


lençol freático (NBR 13969/97 - B.22.b.1)

O menor diâmetro interno do sumidouro é 0,30m. A distância mínima entre as


paredes dos sumidouros múltiplos deve ser 1,50m.

Figura 10 - Nível freático pouco profundo, com vários sumidouros de pequenos


diâmetros (d) e rasos (h).

b) Sumidouro em região arenosa (K < 500 min/m)


Nestas regiões, a água percola (infiltração lenta até o lençol freático) com
rapidez não dando tempo à remoção de nutrientes e patogênicos, facilitando com isso
a contaminação do lençol freático.
Para estas regiões, pode-se optar pela seguinte alternativa:
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• Utilização de uma camada filtrante em volta e embaixo do sumidouro com
espessura maior ou igual a 30cm de um solo com K > 500 min/m. Esta camada não
deve ser feita com o valor de K deste solo.

Exemplo
Dimensionar o sistema tanque séptico e ainda, valas de infiltração e sumidouro
para tratamento do efluente de um restaurante que deve servir 200 refeições por dia.
Adotar taxa de infiltração para t = 6 min/cm. Considerar temperatura de Junho/Julho,
isto é, t ≤ 10°C e intervalos entre limpezas de 1 ano.

7.2.3 - Filtro anaeróbio

O filtro anaeróbio consiste em um reator biológico onde o esgoto é depurado por


meio de microorganismos não aeróbios, dispersos tanto no espaço vazio do reator
quanto nas superfícies do meio filtrante. Este é utilizado mais como retenção dos
sólidos.
Todo processo anaeróbio é bastante afetado pela variação de temperatura do
esgoto: sua aplicação deve ser feita de modo criterioso. O processo é eficiente na
redução de cargas orgânicas elevadas, desde que as outras condições sejam
satisfatórias (temperatura). Os efluentes do filtro anaeróbio podem exalar odores e ter
cor escura.
O filtro anaeróbio deve estar contido em compartimentos (tanques) da seguinte
forma:
• Filtro anaeróbio tipo retangular totalmente enchido de britas (Figura B.2
p. 27 da NBR 13.969/97);
• Filtro anaeróbico tipo circular totalmente enchido de britas (Figura B.3 p.
28 da NBR 13.969/97);
• Filtro anaeróbio tipo circular com entrada única de esgoto e fundo falso
perfurado (Figura B.5 p.29 da NBR 13.969/97);
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• Filtro anaeróbio tipo circular com múltiplas entradas de esgoto e fundo
falso perfurado (Figura B.6 p. 29 da NBR 13.969/97).
O material filtrante deve ter a granulometria o mais uniforme possível, podendo
variar entre 0,04 m a 0,07 m (brita n° 4).
O leito filtrante (h) deve ter altura igual a 1,20 m, que é constante para qualquer
volume obtido no dimensionamento (Figura B.5 p. 29 da NBR 13.969/97).
A profundidade útil do filtro (H) é de 1,80 m para qualquer volume de
dimensionamento (Figura B.5 p. 29 da NBR 13.969/97).
H = h + h1 + h2
Onde:
H - é a altura total interna;
h - é a altura total do leito;
h1 - altura da lâmina livre;
h2 - altura do vão livre.

7.2.3.1 - Dimensionamento

Volume
O dimensionamento do filtro anaeróbio é determinado através da seguinte
formulação:
Vu = 1,6.N.C.T
Vu - volume útil do leito filtrante, em litros;
N - número de pessoas, habitantes ou contribuintes;
C - contribuição diária de despejos, em litro/pessoa.dia ou litro/unidade.dia
(Tabela 3, p. 7 da NBR 13.969/97);
T - tempo de detenção hidráulica de esgotos, em dias (Tabela 4, p. 7 da NBR
13.969/97), equivalente ao período de detenção, em dias (Tabela 2, p.5 da NBR
7229/93).
Nota: O volume útil mínimo do leito filtrante deve ser de 1000 litros.

Exemplo
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Dimensionar um filtro anaeróbio (um decanto-disgestor) de um edifício
comercial de escritórios de 800 pessoas. A temperatura ambiente do mês mais frio é
de 35°C e o intervalo entre as limpezas neste filtro anaeróbio é de 01 ano.

Tabela A.1 pág. 25 da NBR 13.969/97. Utilizada para dimensionamento de valas de


infiltração e sumidouros.
Tabela A.1 - Conversão de valores de taxa de percolação em taxa de aplicação
superficial.
Taxa máxima de Taxa máxima de
Taxa de percolação Taxa de percolação
aplicação diária aplicação diária
min/m min/m
m3/m2.dia m3/m2.dia
40 ou menos 0,20 400 0,065
80 0,14 600 0,053
120 0,12 1200 0,037
160 0,10 1400 0,032
200 0,09 2400 0,024

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