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INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ

LUANA DE OLIVEIRA PINHEIRO


TATIANA PEREIRA DE SOUZA

CORPO, ESPAÇO, ELEMENTOS, MORFOLÓGICOS


A casinha” de Vilanova Artigas

UMUARAMA
2021
INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ

LUANA DE OLIVEIRA PINHEIRO


TATIANA PEREIRA DE SOUZA

CORPO, ESPAÇO, ELEMENTOS, MORFOLÓGICOS


A casinha” de Vilanova Artigas

Trabalho apresentado à disciplina de


arquitetura I ministrada pela professora Juliana
do Curso de a Arquitetura e Urbanismo do
Instituto Federal do Paraná.

UMUARAMA
2021
INTRODUÇÃO

Vilanova Artigas é um arquiteto que possui uma grande relevância na arquitetura


brasileira tendo suas obras estudadas até nos dias atuais. Nesse estudo o foco principal é
fazer um estudo analítico sobre umas das obras iniciais de sua carreira, “A casinha”,
construído em 1942, localizado na cidade de São Paulo, uma casa que de início era destinada
para ser um lugar para ele e sua esposa passarem os finais de semana.
Artigas durante sua carreira arquitetônica passou por três fases sequentemente; a
fase “wrightiana”, a fase “corbusiana” e a fase brutalista paulista, no entanto a obra “Casinha”
foi construída em sua fase wrightiana que como o nome já indica, foi influenciado por casas
norte-americanas do arquiteto Frank Lloyd e se estendeu do ano de 1938 ao ano de 1946.
Por mais que esse projeto tenha sido pequeno e com uma relevância menor em
relação a outras obras de Artigas, teve sua importância pela tipologia da planta e
características (princípios arquitetônicos, materiais utilizados, apresentação da estrutura e
entre outros), como afirma Tagliar, Perrone e Florio (2015),

“[...] no projeto de uma residência o arquiteto pode experimentar e testar


soluções de projeto numa escala menor, entretanto, projetos residenciais não
devem ser considerados algo menor ou com menor valor, pois lá estão
presentes conceitos e ideias importantes, que alicerçam a linguagem do
arquiteto.”

Artigas observou uma liberdade projetual maior, pelo fato de estar fazendo sua própria
casa e dentro das características que tornam essa obra relevante, está a organização
espacial da casa, que chamou muita atenção na época que será melhor abordado ao decorrer
do trabalho. A partir de estudos de artigos científicos será feita uma análise contextual e
gráfica sobre o projeto, a fim de assimilar ambas análises para compressão da organização
espacial da casa.

IDENTIFICAÇÃO DE EVENTUAIS INFLUÊNCIAS FORMAIS OU TIPOLÓGICAS


SOBRE A OBRA, E/OU SUAS ESPECIFICIDADES PRÓPRIAS

A “fase Wrightiana", primeira fase da produção arquitetônica de Artigas, tem


sua maior parte composta por residências unifamiliares. Essa fase define seu período
de aprendizado prático de projetista e construtor. Demarca um período de
experimentação, com espaços livres e fluidos e com generosa iluminação, esta foi a
fase da ampliação da “Casinha” (1942).
Artigas teve diversas influências ao longo de sua trajetória, apesar de sempre
buscar a sua estética própria, ele seguiu passos de arquitetos como Le Corbusier.
Os projetos de Artigas sempre estavam ligados à sua política, como por
exemplo, nas crises políticas no Brasil em 1954-1955, quando expressou a violência
em suas construções propondo soluções radicais. Isso reflete seu brutalismo, e deve
muito ao de Le Corbusier, porém somente em seu plano formal, pois tinham planos
de ação diferentes. Artigas também teve obras inspiradas em obras de Lloyd, que
representavam uma relação com a natureza, adaptação da obra com o terreno,
métodos de balanço. Em a "Casinha", por exemplo, Artigas apresenta características
das casas Usonianas de Lloyd.

“Casinha” - Vilanova Artigas

Fonte: Site Refúgios Urbanos

A Casinha, primeira obra do arquiteto, refletia a simplicidade de uma rotina


familiar organizada em torno da cozinha e do quintal. A obra propõe questionar os
valores padrões estabelecidos pela sociedade paulistana. Uma das questões
principais levantadas por Artigas neste pequeno projeto, sobretudo questões que
dizem respeito às inúmeras rupturas em relação à planta da casa tradicional paulista,
que ainda carregava valores vinculados a uma estrutura colonial-escravocrata.
Os grandes traços mencionados em sua construção é sua planta torcida a 45º
e seu terreno isolado como forma de “libertação do lote” de maneira a desfazer
qualquer tipo de hierarquia entre a fachada principal, frente e fundo que implica
diretamente a propriedade limitadora do espaço e procura afastar a cidade colonial,
sem espaço para elaborar um novo espaço urbano. Essa solução, estreita e
comprida, determina perspectivas no lugar das quatro fachadas, ressaltadas também
pela preocupação no desenho e composição das vistas.
Planta de Situação – Casinha (1942)

Fonte: Site Casas Brasileiras

O fato de o projeto ter sido desenvolvido pautado nas reais necessidades do


jovem casal permite que a casa rompa diversos “protocolos” da época. Além dos
espaços integrados, ela também apresenta espaços abertos, como o dormitório
instalado no mezanino acima do ateliê. A preocupação com as soluções técnicas
também foram uma constante no desenvolvimento do projeto, desde a construção
das paredes laterais, que não ultrapassam a altura de uma porta, até a concentração
das instalações hidráulicas.
Na obra a Casinha estão presentes características wrightianas, como o sentido
de horizontalidade manifesto nos beirais generosos e vazados, e essa horizontalidade
de planos e volumes, parecem aumentar a escala da casa, além disso, as janelas de
canto e a cozinha articulada ao estar/jantar formando um espaço aberto, fluido e
ancorado pelo volume da lareira. Na articulação cozinha/sala, para Artigas (2004,
citado por PEREIRA E FUGIOKA, 2015);

“[...] A convivência da família brasileira era na cozinha. Enquanto, na casa


tradicional paulista, a sala de jantar de dirigiu na direção do ‘living room’, pelo
processo de transformar duas salas em uma, eu fui para a tradição brasileira
de integrar a cozinha à sala. Segui um caminho diverso[...]”

Em um contexto de separação entre áreas nobres e não nobres, traz desta


forma a edícula para junto do corpo da casa, integrando também a cozinha à sala –
sem o uso de portas ou paredes – estruturando toda a circulação a partir de um
volume central, no caso o banheiro e a lareira, funcionando como uma espécie de
pivô, solução que, à margem de questões formais, nos aproxima do esquema das
prairie houses de Wright.
Os dormitórios e o estúdio são definidos por dois meios níveis, integrado tanto
um ao outro por meio de um pé direito duplo quanto a sala. Estratégia importante,
estruturador para plantas utilizado por Artigas eram os espaços e seus usos sem o
apoio das paredes.

Escada de acesso ao ateliê Circulação, ateliê e quarto do casal

Fonte: Site Casas Brasileiras Fonte: Site Casas Brasileiras

Escada de acesso ao quarto casal

Fonte: Site Casas Brasileiras

Dentro das características de obras de Wright, estavam presentes as


estratégias de uso de grandes beirais prolongando o espaço interno, as janelas até a
laje, a preocupação com a textura dos materiais e a planta quadrada.
Após ser estabelecida como um dos polos industriais, a capital paulista
encontra nos Estados Unidos um modelo de processo de americanização, que tem o
cinema como principal propagandista. Através dele, mostra na publicidade o papel da
casa como núcleo gerador do estilo de vida americano. Frank Lloyd Wright
materializa-se para Artigas como referência do estilo de vida, através da democracia
norte-americana.
Os ideais democráticos parecem estar contidos na formulação de uma nova
linguagem para as casas norte-americanas que propõe a obra de Wright. A ideia de
protótipo visionada por Wright busca desenvolver uma tipologia para a casa norte-
americana. Artigas parece segui-lo neste aspecto, por mais que abandone no final
dos anos quarenta a referência formal direta às prairie houses.

VERIFICAÇÃO DO PAPEL DE OUTROS CONDICIONANTES DE PARTIDO SOBRE AS


SOLUÇÕES ARQUITETÔNICAS ADOTADAS

Além da quebra de valores estabelecidos pela sociedade paulista, inspiração direta


das casas norte-americanas projetadas por Frank Lloyd e organização espacial da obra,
como dito anteriormente, Artigas, teve fundamentos de outras soluções arquitetônicas e
partidos, contribuindo conceitualmente ao projeto da casa. Em primeiro momento, citando um
caso análogo, observa-se o tratamento da fachada da casa pois o objetivo era “desfazer
qualquer tipo de hierarquia entre fachada principal, frente e fundo, desaparecendo com isso
uma relação já caduca, herdada do período colonial, entre lote urbano e edifício.” (COTRIM,
2015). Essa ação foi um marco arquitetônico na época pois, fachada, é considerada a relação
do edifício com o entorno (cidade), e nesse momento foi perceptível a relação da casa
independente com seu entorno, ou seja, uma unidade arquitetônica, que segundo Pereira e
Fujioka (2015), o arquiteto tinha a intenção em desconstruir a ideia de hierarquia entre
entradas e fachadas. Assim conclui Medrano e Recamán (2012)

A clareza desse procedimento em relação aos espaços coletivos e à dimensão


urbana não precisa ser sublinhada. Procura-se aqui compreender os efeitos
estéticos dessa operação, suas decorrências em relação ao espaço social e
às contradições formativas locais.

A obra residencial projetada por Artigas, foi uma manifestação do seu posicionamento
com relação à sociedade daquela época. Sendo seus materiais e técnicas representações de
sua arquitetura. A continuidade espacial defendida por Wright em suas obras, tinham a
intenção de proporcionar a liberdade ao indivíduo diante do espaço, Artigas também seguia
esses passos em suas obras com a mesma finalidade, com a responsabilidade e relações
sociais da pessoa dentro do edifício. De acordo com Tagliar, Perrone e Florio, (20015)
Na primeira residência construída para si mesmo, a Casinha (Campo Belo,
1942), o programa é organizado em diferentes níveis, com a presença do
estúdio e planta livre. A casa possui leves referências wrightia mas, como o
telhado com pouca inclinação, pé-direito baixo em alguns ambientes, uso
honesto dos materiais e suas propriedades, janela de canto, proporcionando
continuidade espacial e formal, o grande pergolado e a maneira que articula
os espaços da casa de maneira contínua, com poucas interrupções.

Neste projeto, é nítida a sua busca por organizar o programa através de articulações
que promovam a continuidade dos espaços, e de maneira clara as circulações da casa se
tornam elementos de leitura.
Artigas desenvolveu e amadureceu essas concepções espaciais em seus projetos
residenciais ao longo dos anos. Ele acreditava que as mudanças na sociedade exigiam aos
artistas e arquitetos uma nova postura. A sua proposta de mudança do programa
organizacional, na setorização e circulação e conexão entre os espaços na casa paulistana,
foi marcada como uma das muitas qualidades importantes de sua arquitetura.
Na residência Rio Branco Paranhos (Pacaembu, 1943), foi a obra onde percebe-se
mudanças mais pronunciadas na organização do programa de modo mais orgânico, de dentro
para fora. O terreno em aclive também contribui para uma volumetria dinâmica, diferentes
planos e telhados em várias alturas. Os ambientes são dispostos em torno da circulação
vertical.
REFERÊNCIAS

Artigas, M. A casinha (1942): 28.04.2015 – documentário. Disponível em:


http://vilanovaartigas.com/centenario/por-secao/documentario/artigo/a-casinha-1942.
Acesso em abril. 2021.

CHING, K. D. F. Arquitetura: Forma, espaço e ordem. 1° ed. São Paulo: Martins


Fontes, 2002

COTRIM, M., A casinha de Artigas: reflexos e transitoriedade. Disponível em:


https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.061/449. Acesso em abril. 2021

FOREST, F. D. Aspecto da arquitetura orgânica de Frank Lloyd Wright na


arquitetura paulista: A obra de José Leite de Carvalho e SIlva. Tese (Dissertação
departamento em Arquitetura e Urbanismo) – Área de concentração: Teoria e história
da Arquitetura, da escola de Engenharia de São Carlos da universidade de São Paulo,
São Carlos, 2014. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-16102014-111348/
publico/Tese_pdf.pdf. Acesso em: 05 abr. 2021.

FUJIOKA, Paulo Yassuhide. A residência do arquiteto: uma análise gráfica das


casas de Vilanova Artigas. Risco instituto de arquitetura e urbanismo - iau-usp: São
Paulo, 2015.

GRIFONI, F., Residência e “casinha” Artigas. Disponível em:


https://refugiosurbanos.com.br/casas-predios/residencia-e-casinha-artigas/. Acesso
em abril. 2021
.
MEDRANO, Leandro, RECAMÁN, Luiz. Duas casas de artigas: cidade adjetiva. Pós:
São Paulo, v.21 n.35, 2012.

MELLO, Ana Paula Scabello. O relato de uma experiência didática: um projeto de


ambientação de interiores para a Casinha do arquiteto João Batista Vilanova Artigas.
5% Arquitetura + Arte: São Paulo, 2005. Disponível em:
http://revista5.arquitetonica.com/index.php/magazine-1/arquitetura/o-relato-de-uma-
experiencia-didatica-um-projeto-de-ambientacao-de-interiores-para-a-casinha-do-
arquiteto-joao-batista-vilanova-artigas. Acesso 06 de mar

PÉRPETUO, D., ZIEN, R. V., O processo de projeto e a configuração dos interiores:


Análise crítica da “casinha” de Vilanova Artigas. Mack Pesquisa, São Carlos - SP,
2015. Disponível em:
http://projedata.grupoprojetar.ufrn.br/dspace/bitstream/123456789/1685/1/262.pdf.
Acesso 06 de mar

TAGLIARI Ana, PERRONE Rafael, A.C. Os projetos não construídos de Vilanova


Artigas em São Paulo. Pós: São Paulo, v.21 n.35, 2014.

Disponível em: http://www.casasbrasileiras.arq.br/csaartigas1.html. Acesso em abril.


2021.

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