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ADMINISTRAÇÃO DA
IGREJA
E O MINISTÉRIO DA
PALAVRA

WITNESS LEE

1.................     A edificação da igreja 
2. Problemas na administração da igreja e no ministério da palavra 
3. Não fazer uma obra de demolição no serviço da igreja 
4. A importância da edificação revelada em João 14
5...................    A unidade em João 17 
6.     Edificar em amor e conhecer as pessoas 
7. A edificação da igreja requer consagração total 
8. A edificação da igreja requer conhecimento de diferentes questões 
9. O significado da edificação está na edificação da autoridade de Deus sobre 
o homem 
10. A escolha do material para o ministério da palavra 
11. A importância e a comissão do ministério da palavra 
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12. A palavra serve para suprir 

prefácio

Este livro é composto de mensagens proferidas pelo irmão Witness Lee em reuniões
de serviço realizadas em Taipé, capital de Taiwan, em setembro de 1957. São doze
capítulos que abrangem a importância da administração da igreja e do ministério
da palavra, além dos problemas que surgem em ambos, a edificação da igreja e a
prática da restauração da base da igreja. Essas mensagens foram, primeiramente,
traduzidas do original chinês para o inglês e a seguir do inglês para o português.

CAPÍTULO UM
A EDIFICAÇÃO DA IGREJA

Leitura Bíblica: Mt 16: 18; Ef 4: 11, 16; 2:20; 1 Pe 2:5; 1 Co 3:9­10, 14; 14:4­5, 12, 26; Hb 11: 10

A INTENÇÃO DE DEUS É RESTAURAR A EDIFICAÇÃO DA IGREJA
Neste capítulo vamos compartilhar algo com relação à edificação da igreja. Nos últimos dois mil anos
as pessoas não deram a devida atenção a essa questão. Nos últimos séculos Deus já restaurou muitos
itens. Esses itens da restauração deixaram o povo de Deus tão ocupado, que eles não tiveram energia
suficiente para perceber o que ainda faltava na restauração de Deus. A rigor ainda não houve muita
restauração   com   relação   à   edificação.   Somente   em   anos   recentes   é   que   Deus   conduziu   Seu   povo   a
considerar com mais seriedade esse assunto. 

Tivemos   dificuldade   em   encontrar   publicações   cristãs   relacionadas   com   o   tema   da   edificação.


Muitos falam em aperfeiçoamento ou instrução, porém poucos falam da edificação propriamente dita.
Por   essa   razão,   nas   versões   em   inglês   da   Bíblia,   a   palavra   grega   para  edificação  muitas   vezes   é
"edification",   que   tem   o   sentido   meramente   de   "instrução,   aperfeiçoamento   moral   ou   benefício
espiritual" [no sentido de produzir algo construtivo], e não "building­up", que por sua vez tem o sentido de
"construção, edificação" do original grego. Esse também é o caso com as versões em chinês da Bíblia.
Em muitos trechos onde a palavra grega é traduzida pelo termo chinês correspondente a "instrução"
(como   o   principal   sentido   de   "edification"   em   inglês),   deveria   ser   traduzida   por   uma   palavra
correspondente a "edificação" ou "construção" (como o termo inglês "building­up"). 

OS SANTOS SÃO EDIFICADOS COMO CASA ESPIRITUAL
Em grego o verbo edificar possui a mesma raiz que o substantivo casa. Se a palavra utilizada para

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edificar for traduzida por um termo com o sentido de instruir, transmitirá apenas a idéia de educação,
e não de  edificação, construção  ou formação.  Precisamos perceber a diferença entre edificação e
instrução. No passado nos preocupávamos muito com a instrução, mas não com a edificação. Nossa
compreensão acerca da instrução era de experiência individual, pois não tínhamos consciência de sua
relação   com   a   edificação   corporativa.   Entretanto   na   Bíblia   a   edificação   se   refere   não   apenas   a
indivíduos recebendo instrução, mas também a santos sendo edificados juntos, de forma coletiva. Em
outras palavras, segundo as Escrituras a edificação inclui não só o aprendizado pessoal, mas também a
edificação   dos   santos   como   casa   espiritual   (1   Pe   2:5).   A   instrução   é   necessária   para   assuntos
individuais e a edificação é necessária para os aspectos referentes ao Corpo. 

EDIFICAR O CORPO DE CRISTO
Já que as palavras para edificação e casa possuem a mesma raiz em grego, edificar significa construir
os santos como se constrói uma casa. Em termos espirituais significa edificá­los num Corpo (Ef 2:20­22;
4: 12). O corpo humano pode ser comparado a uma casa. Segunda Coríntios 5: 1 se refere a ele como
tabernáculo, devido a ele ser temporário. Esse versículo também indica que o corpo transfigurado que
teremos no futuro é um edifício de Deus, uma habitação eterna nos céus. 

A igreja é a casa de Deus (Ef 2:22) e o Corpo de Cristo (4:12). Apesar de indicarem dois aspectos da
igreja, referem­se  à  mesma coisa, porque o Corpo de Cristo é uma casa espiritual. Primeira Coríntios
6:19 nos ensina que nosso corpo é templo do Espírito Santo. Nosso corpo é um templo, uma edificação.
Quando o Senhor Jesus afirmou: "Destruí este santuário, e em três dias o levantarei" (Jo 2:19), estava
dizendo que, se os judeus destruíssem Seu corpo e o matassem, Ele o reconstruiria em três dias. Isso
mostra que na Bíblia corpo se refere a casa, e casa se refere a templo. A igreja  é a casa de Deus e o
Corpo de Cristo, e esses dois aspectos dizem respeito a uma única coisa. 

Se   a   igreja   fosse   apenas   o   Corpo,   poderíamos   pensar   que   não   existe   necessidade   de   edificação;
entretanto o Corpo é também uma casa. Por isso há a necessidade de se edificar. A Bíblia fala de se
edificar uma casa espiritual (1 Pe 2:5), de se edificar uma habitação de Deus em espírito (Ef 2:22 ­ lit.), e
também da edificação do Corpo de Cristo (4:12). Se não conseguimos apreender o fato de que o Corpo é
uma casa, com certeza questionamos a necessidade de se edificá­lo. 

A EDIFICAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
Que  o  Senhor   conceda  aos  que  servimos   juntos   um   profundo   sentimento  de  Sua   necessidade
quanto a uma restauração prevalecente. Ele necessita de uma restauração com respeito à edificação. A
edificação vai além da instrução. Nossa obra não serve apenas para instruir os santos de modo geral,
porém é para edificar um Corpo, uma casa espiritual. Efésios 4:11­12 declara: "E ele mesmo concedeu
uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com
vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo". As pessoas com seus dons são para a edificação do Corpo de Cristo. 

Em Mateus 16:18 o Senhor declarou: "Edificarei a Minha igreja". Efésios 2:22 afirma que em
Cristo judeus e gentios são juntamente "edificados para habitação de Deus em espírito" (lit.). Primeira
Pedro 2:5 diz que como pedras vivas somos edificados casa espiritual. Primeira Coríntios 3:10 nos diz
que Paulo, como sábio construtor, lançou o fundamento e devemos atentar em como edificamos sobre
ele.   Devemos   edificar   com   ouro,   prata   e  pedras   preciosas   (v.   12).   O   capitulo  catorze   enfatiza   que   é
preciso procurar com zelo os dons para a edificação (vs. 1, 3­5, 12). Isso quer dizer que todos os dons
devem ser utilizados para edificar a igreja. De acordo com os versículos acima, o desejo de Deus nesta
era é edificar a igreja, que é a casa, o Corpo de Cristo. O ser humano habita em seu corpo e também
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numa casa. Ambos são habitação para os seres humanos. Quando alguém parte do mundo, é despido do
corpo. Isso significa que a pessoa deixa o corpo, a morada terrena. A obra de Deus na presente era  é
edificar uma morada para Si. 

A EDIFICAÇÃO DA IGREJA  É A EDIFICACÃO DA NOVA JERUSALÉM 
Hebreus   11:10   diz   que   Abraão   "aguardava   a   cidade   que   tem   fundamentos,   da   qual   Deus   é   o
arquiteto   e   edificador".   A   cidade   que   tem   fundamentos  é  a   Nova   Jerusalém   vindoura.   Ela   é   o
tabernáculo de Deus com os homens (Ap 21:3). Em outras palavras, a Nova Jerusalém é a morada de
Deus. Isso não significa que Ele possua duas edificações nesta era. Ele não possui a igreja na terra como
Sua   edificação   e   a   cidade   santa,   a   Nova   Jerusalém,   nos   céus   como   outra   cidade.   Deus   não   habita
temporariamente na igreja hoje para descartá­la e se mudar para a Nova Jerusalém no futuro. A igreja
e a Nova Jerusalém são uma coisa só. 

Quando edifica a igreja, Deus edifica a Nova Jerusalém. Esses são dois aspectos da mesma obra. A
igreja é o templo de Deus, a casa de Deus, porém na Nova Jerusalém não veremos um templo (v. 22),
porque   o   templo   será   aumentado   para   se   tornar   a   cidade.   A   edificação   do   templo   não   é   uma   obra
distinta e a edificação da cidade, outra. A Nova Jerusalém por vir é a consumação da igreja. O templo é
aumentado para ser uma cidade. 
Nesta era, a única obra de Deus  é a edificação. Embora seja na terra, Sua obra de edificação é
celestial. Embora seja realizada no tempo, ela é eterna. Apesar de Deus edificar a igreja na terra, essa
edificação se dá num ambiente espiritual. Apesar de edificá­la no tempo, essa edificação é eterna. A
Nova Jerusalém é celestial; está repleta de natureza celestial e de sabor celestial. 

O alvo extremo da obra de Deus nesta era é a edificação de uma morada para Si. Em seu estado
inicial essa morada é uma casa, e em seu estado maduro será uma cidade, que será o tabernáculo de
Deus com os homens. No Antigo Testamento o tabernáculo de Deus é Seu templo. No Novo Testamento
a igreja é o tabernáculo e o templo de Deus. A Nova Jerusalém será, portanto, o tabernáculo de Deus
com os homens. Não haverá templo na Nova Jerusalém porque tudo terá atingido a maturidade. A
cidade, assim, é um tabernáculo, bem como um templo, ampliado. 

A OBRA CENTRAL DE DEUS É A EDIFICAÇÃO
A obra central de Deus é a edificação. A edificação não é questão de entender doutrinas, salvar
pecadores ou mesmo instruir os santos. Ainda que o Novo Testamento se refira à instrução dos santos
de   forma   individual,   ele   se   concentra   na   edificação   da   casa   de   Deus.   Muitas   vezes   ficamos
profundamente sensibilizados com relação à salvação dos pecadores e a instrução dos santos, no entanto
falta­nos sensibilidade com relação à edificação da casa de Deus. Isso não quer dizer que não devamos
ocupar­nos com a salvação dos pecadores e a instrução dos santos, porém precisamos entender qual é o
alvo extremo da obra de Deus na presente era. 

Uma vez que Paulo tinha visão clara com respeito à edificação, ele afirmou: "Segundo a graça de
Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém
cada um veja como edifica" (1 Co 3:10). Precisamos ter cuidado com o modo de edificar, o material
utilizado e o resultado da edificação. Que os irmãos percebam que salvar pecadores e instruir os santos
estão relacionados com o alvo central da edificação da casa de Deus. Se prestarmos atenção a essa obra
central, nossa pregação do evangelho com a finalidade de salvar os pecadores será mais eficaz e nossa
atividade de instruir os santos não causará problemas. Por exemplo, nossa falha quanto à edificação da
casa de Deus é o motivo básico por que os irmãos em Taipé parecem não ter a força necessária para
pregar o evangelho. A chave para isso é a edificação da casa de Deus. Se a casa de Deus, o Corpo de
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Cristo,   puder   ser   edificada,   a   salvação   de   pecadores   e   a   instrução   dos   santos   fluirão   de
modo muito fácil. 

A CHAVE PARA A EDIFICAÇÃO DA IGREJA A ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA
E O MINISTÉRIO DA PALAVRA
As duas coisas mais importantes no que concerne  à edificação da igreja, da casa de Deus, são a
administração da igreja e o ministério da palavra. Se a administração de uma igreja for deficiente, não
haverá   muita   edificação   nela.   De   igual   modo,   caso   o   ministério   da   palavra   seja   ineficiente   em
determinada   igreja,   também   não   haverá   muita   edificação   ali.   Utilizamos   a   palavra   instrução   ou
educação por tantos anos, mas agora precisamos usar a palavra edificação. Os santos individualmente
necessitam   receber   instrução;   a   igreja,   por   sua   vez,   enquanto   entidade   corporativa,   como   Corpo   de
Cristo   e   casa   de   Deus,   necessita   ser   edificada.  A   edificação   da   igreja   depende   de   sua
administração e do ministério da palavra. 

Segundo o Novo Testamento,  todo o nosso falar deve ser para a edificação da igreja. Em 1
Coríntios   14:12,   Paulo   afirma:   "Assim,   também   vós,   visto   que   desejais   dons   espirituais,   procurai
progredir, para a edificação da igreja". O versículo 1 diz: "Segui o amor e procurai, com zelo, os dons
espirituais, mas principalmente que profetizeis". O dom mais excelente para a edificação da igreja é o
de profecia, porque profetizar está relacionado com o ministério da palavra. Em 1 e 2 Timóteo, quando a
igreja se encontrava em desolação, houve a necessidade de acrescentar a administração da igreja ao
ministério da palavra. A responsabilidade pela administração da igreja é dos presbíteros. Depois que a
igreja ficou nesse estado lamentável, o apóstolo falou com relação à sua administração nos livros de 1 e
2 Timóteo e de Tito. A administração da igreja se torna crucial quando esta está em situação
desoladora e confusa. 

A administração da igreja e outros temas relacionados com os presbíteros não são tratados no livro
de Romanos. Entretanto 1 e 2 Timóteo falam de maneira clara da administração pelos presbíteros,
porque   naquela  época  a  igreja  se  encontrava   em   estado   deplorável.   Se   conhecermos   o  princípio  da
Bíblia,   compreenderemos   o   que   o   Espírito   Santo   quer   dizer.   No   estágio   inicial   da   igreja,   Deus   a
conduziu e edificou por meio do ministério da palavra. No entanto depois de certo tempo o ministério
da palavra apenas não bastava; houve a necessidade de entrar em cena a administração da igreja. Por
esse  motivo,   em   1  e  2  Timóteo  encontramos   tanto  a  administração   da  igreja  como  o  ministério  da
palavra.   Paulo   diz:   "E   o   que   de   minha   parte   ouviste   através   de   muitas   testemunhas,   isso   mesmo
transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros" (2 Tm 2:2). Aqui vemos o ministério
da palavra e a administração da igreja. 

Depois de algum tempo em que a igreja se encontrava estabelecida, surgiu a necessidade de sua
administração   bem   como   do   ministério   da   palavra.   Ambos   são   necessários   para   a   edificação.   Se   a
administração   de   uma   igreja   e   o   ministério   da   palavra   forem   deficientes,   ela   não   será   edificada.
Quando a administração da igreja e o ministério da palavra são fortes, a igreja pode ser edificada. Que
o Senhor abra nossos olhos quanto ao fato de que a obra central de Deus nesta era é Sua edificação que
Ele   quer   edificar  Sua   casa,   o  Corpo  de  Cristo,   a   igreja.   Já   que   tomamos   parte   em   Sua   edificação,
precisamos entender a administração da igreja e o ministério da palavra. O ministério da palavra está
relacionado com o dom, e a administração da igreja, com o oficio. Ambos destinam­se  à  edificação da
igreja. O que falamos como profetas é para o ministério da palavra e está relacionado com o dom. O
serviço dos presbíteros é para a administração da igreja e está relacionado com o aspecto do oficio. 

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APRENDER OS PRINCÍPIOS PARA ADMINISTRAR A IGREJA E MINISTRAR A PALAVRA

Talvez não tenhamos a habilidade de falar e exercer o ministério da palavra como profetas e nem
todos tenhamos a habilidade de administrar as igrejas como presbíteros. Entretanto deve haver bons
presbíteros e irmãos capazes de ministrar a palavra de maneira eficaz entre nós. Em princípio, quem
participa da obra de Deus deve aprender a administrar a igreja e a exercer o ministério da
palavra.   Embora   as   irmãs,   na   posição   de   ter   a   cabeça   coberta,   não   devam   ser   "presbíteras",   em
princípio devem aprender a administrar como os presbíteros. Todos os que de alguma forma participam
da obra de edificação de Deus, devem aprender a administrar a igreja e a ministrar a palavra. Todos os
que servem devem conhecer esses dois assuntos. Se não os conhecemos, não estamos aptos para a obra
de Deus. A administração da igreja e o ministério da palavra são duas lições que temos de aprender,
porque a edificação da igreja depende deles. 
O   desenvolvimento   da   igreja   requer   em   primeiro   lugar   a   administração   da   igreja   e   depois   o
ministério   da   palavra.   A   seqüência   na   Bíblia,   contudo,   apresenta   esses   dois   assuntos   em   ordem
inversa. Quando a igreja vive em normalidade, a administração da igreja não é tão crucial. Quando,
porém, a igreja entra em degradação e desordem, existe a necessidade da administração da igreja e do
ministério da palavra. Esses dois assuntos andam juntos é difícil dizer o que vem primeiro e o que vem
em seguida. Portanto os irmãos, em especial os que ministram a palavra e servem como presbíteros,
precisam perceber a responsabilidade que têm. As condições da edificação de Deus, isto é,  se uma
igreja   é   forte   ou   fraca,   depende   de   sua   administração   realizada   pelos   presbíteros   e   da
palavra transmitida pelo ministério. Os presbíteros e os que ministram a palavra são obreiros
habilidosos. E são auxiliados por outros que não têm a mesma habilidade. Isso pode ser comparado à
construção de uma casa com operários habilidosos juntamente com outros não tão habilidosos. Sempre
que os obreiros habilidosos estiverem fracos, a administração da igreja e o ministério da palavra ali
serão fracos e os colaboradores não tão habilidosos ficarão confusos e não saberão o que fazer. Mas,
sempre que os obreiros com maior habilidade estiverem fortes ao realizar a obra, para os demais
será fácil colaborar. 

Essa é a condição da igreja local. Quando o ministério da palavra e a administração da igreja
são fortes, os que não têm tanta experiência podem ter uma bela ação coordenada. Entretanto,
quando   a   administração   dos  presbíteros   e   o   ministério   da   palavra   estiverem   enfraquecidos,   a
igreja   ficará   desordenada   mesmo   se   os   santos   estiverem   ocupados   pregando   o   evangelho   e
instruindo os demais com todo o zelo. Nesse caso a edificação não se dará, porque quanto mais
"edificarem", mais desmoronará. A edificação da igreja depende da administração da igreja e do
ministério   da   palavra.   Os   envolvidos   com   a   obra   precisam   conhecer   o   princípio   desses   dois
assuntos. 

A CONDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA E DO MINISTÉRIO DA PALAVRA
DEPENDE DE NOSSA PESSOA
A condição da administração da igreja e do ministério da palavra depende de nós. Nós é que
determinamos a condição dessas duas coisas. A obra central de Deus é a edificação, que depende
por sua vez da administração da igreja e do ministério da palavra. O tipo de pessoa que somos
determina como administramos a igreja e ministramos a palavra.  Esses dois serviços não
podem ser independentes de nossa pessoa. Isso é similar ao fato de que as casas construídas pelos
ocidentais   possuem   aparência   ocidental,   enquanto   as   casas   edificadas   pelos   chineses   possuem
aparência chinesa. Edificamos de acordo com nossa personalidade. Isso é verdade especialmente no

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que   concerne   a   assuntos   espirituais.   Por   esse   motivo   é   inadequado   estudar   apenas   como
administrar a igreja e ministrar a palavra. 

Antes, precisamos entender que o caminho somos nós mesmos.  A forma de administrar a
igreja está relacionada com a pessoa que a administra, e o tipo de pessoa que somos
determina   como   administramos.  É  inadequado   aprender   simplesmente   de   forma   externa;
precisamos lidar com nós mesmos. 

Depois de longo período sem descanso, ganhei da parte de Deus a percepção interior de que Ele
está realizando uma obra de edificação nesta era. Em Manila, capital das Filipinas, liberei mais de
quinze mensagens relacionadas com a edificação. Quando fui a Hong Kong, os irmãos queriam que
os   aperfeiçoasse   em   certos   assuntos.   Destaquei   para   os   que   serviam   que   é   inadequado
simplesmente estar ocupado a fazer algo. Precisamos entender que Deus deseja a edificação. Neste
período   em   Taipé,   pude   perceber   muitas   coisas   concernentes  à  edificação   de   Deus   e   aos   que
servem. Quando visualizo os dois juntos, a edificação de Deus e os que servem, sinto­me muito
triste e sobrecarregado no interior, pois nossa condição está longe da edificação de Deus. 

A EDIFICAÇÃO DE DEUS  OCORRE QUANDO SOMOS DISCIPLINADOS
Deus quer tomar o caminho da edificação, mas o problema que encontra é nossa pessoa.  Nós
somos o problema. Os que administram a igreja e ministram a palavra estão cheios de
problemas. Nosso modo e doutrina não são o problema; antes, o problema são nossas deficiências.
Chegamos a um ponto crítico em nosso serviço. A igreja em Taipé já está aqui há oito anos, de 1949
a   1957.   Se   continuarmos   como   estamos,   nossa   obra   não   produzirá   resultados.   Só   teremos
problemas intermináveis e contínuas perdas; não haverá aumento na bênção. Enquanto os que
servem   continuarem   segundo   a   maneira   tradicional,   nossa   obra   não   terá   futuro.   Pelo   bem   da
edificação  de   Deus   e   pelo   futuro   de   nossa   obra,   que   o   Senhor   tenha   misericórdia   de   nós   para
entendermos que o problema não está em nossa doutrina ou prática, mas em nós mesmos. 

Precisamos considerar a condição de nossa obra e nossa atual situação diante do Senhor. Isso
não significa que devamos ser introspectivos. Precisamos ser iluminados e receber ajuda por meio
dessa comunhão. Precisamos aquietar­nos diante do Senhor e permitir que Ele brilhe em nós, fale
conosco, nos toque e lide conosco. A não ser que passemos pelas mãos do Senhor que podem
lidar conosco, muito de nossa atividade externa será vã e insignificante. 

Se Deus não lidar conosco por completo, Sua edificação não se realizará, independe dos métodos
que  utilizamos.  Para que  a edificação de  Deus  se realize de  forma  adequada, Ele  precisa lidar
profundamente conosco nos aspectos da administração da igreja e do ministério da palavra. Na
administração   da   igreja   os   irmãos   que   servem   como   presbíteros   precisam   ser   disciplinados
pessoalmente. Os  que  falam  em  nome  de  Deus  também  necessitam  de  disciplina  pessoal.  Caso
contrário, nossa administração da igreja e ministrar não resultarão na realidade da edificação. Que
todos   tenhamos   um  coração  temente  ao   Senhor   e   capaz  de  perceber   que   a   edificação   da   igreja
depende da pessoa dos que administram a igreja e dos que ministram a palavra. Se permitirmos
que   Deus   lide   conosco,   nossa   obra   causará   impacto,   mesmo   que   nosso   método   seja
inferior.   Caso   contrário,   nossa   obra   fará   a   edificação   desmoronar   a   despeito   da
metodologia que utilizarmos. 

Atualmente Deus está preocupado com a edificação. A edificação depende da condição de nossa
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pessoa. Que todos nos aquietemos diante do Senhor e Lhe concedamos permissão para brilhar em
nós e falar conosco. 

CAPÍTULO DOIS
PROBLEMAS NA ADMINISTRACÃO DA IGREJA E NO MINISTÉRIO DA
PALAVRA

O PRIMEIRO PROBLEMA: NÃO TER ENCARGO
O maior problema na administração da igreja e no ministério da palavra é não ter encargo ou,
pode­se   dizer,   não   receber   um   encargo   ou   não   dar   a   devida   atenção,   ao   encargo   recebido.  É
possível que os presbíteros administrem a igreja sem ter encargo. Os que ministram a
palavra   também   podem   fazer   isso   sem   encargo.  A   liberação   de   certo   encargo   quando
ministramos a palavra não depende de saber falar bem. Se nosso  único desejo é falar bem para
provocar certas emoções nas pessoas, nosso falar terá sido sem encargo. De modo semelhante, a
habilidade   de   administrar   a   igreja   não   libera   o   encargo.   Não   se   trata   de   nossa   capacidade   de
administrar, porém de nossa administração ser eficaz e poder tocar as pessoas. 

Por exemplo, quando as pessoas vêm à reunião, pode haver a necessidade de se transmitir a
palavra. Precisamos buscar o Senhor com respeito ao que falar e ao resultado de nosso
falar. Não é questão de falar bem ou não, da logística  da apresentação ou de os santos serem
tocados, e sim do que será produzido neles. Se alguns dos presentes ainda não são salvos, devemos
ter o encargo pela condução de sua alma pela graça de Deus, a fim de plantar nela a semente da
salvação ao falar a palavra. Nosso encargo então é a salvação, e não a pregação de uma palavra
dinâmica. Se já são salvos, porém não amam o Senhor como deviam, nosso encargo deve ser levá­
los a amar o Senhor. Se amam o Senhor, mas não estão dispostos a se render a Ele e a receber
Dele disciplina pessoal, nosso encargo deve ser conduzi­los a se render prontamente ao Senhor e
deixar que Ele lide com eles. Isso é o ministério da palavra com encargo. 

Caso   contrário,   a  mensagem  da   reunião  de   domingo   pode  cair   na   situação   dos  ditos   cultos
dominicais.   Toda   semana   alguém   é   designado   para   pregar   uma   mensagem   a   fim   de   dar
continuidade   às   reuniões.   Depois   da   reunião,   todos   vão   para   casa,   almoçam,   descansam   e
retornam à noite para a reunião do partir do pão. Esse é um culto dominical. Nessa situação os
que ministram a palavra precisam ter encargo. Precisamos conhecer a condição dos que vêm

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ouvir a mensagem. Talvez eles mesmos não consigam perceber sua condição, mas nós
precisamos   ter   percepção   total   e   muito   clara   com   relação   à   condição   deles.   Talvez
consigam sentar­se e ouvir tranqüilamente a palavra, semana após semana, mas nós não podemos
falar pacificamente semana após semana. Precisamos receber o encargo a fim de "perturbá­los" e
"incomodá­los"   de   modo   tal   que,   quando   vierem   para   a   reunião   sentindo­se   tranqüilos,   saiam
perturbados internamente. 

Se não nos importamos que nossa pregação não produza nenhum efeito nos que a
ouvem, é porque não temos encargo. Essa situação indica que quem fala e quem ouve estão
numa rotina. Essa  é a condição do cristianismo degradado, onde a congregação ouve de forma
rotineira o pastor, e ele, por sua vez, prega de forma rotineira à congregação ano após ano. Não é
assim que deve ser nossa prática.  O ministério da palavra deve iluminar os que ouvem.
Quando ministramos a palavra a cada domingo, devemos "incomodar" as pessoas a tal ponto que
não tenham mais paz. É isso o que significa ter encargo. 

Se os ouvintes são indiferentes, mesmo que ouçam tranqüilamente, quem ministra a
palavra não deve ficar tranqüilo. Deve, antes, colocar­se diante do Senhor e deixá­Lo tirar­lhe
a paz, a ponto de perder o sono e não comer, até que tenha recebido um encargo do Senhor. Só
então suas mensagens permitirão que o Espírito Santo opere nos ouvintes. Somente esse tipo de
falar é o falar de Deus. Os que ministram a palavra precisam ter encargo; não apenas doutrinas,
arranjo lógico e exemplos. Ministrar a palavra desse modo é inadmissível; é uma ofensa a Deus e
um pecado a Seus olhos. 

Receber o encargo para falar a palavra de Deus no ministério da palavra 
Em   Isaías   13:1,   a   Versão   União   Chinesa  [Chinese  Union   Version]  afirma   que   os   profetas
recebiam inspiração quando falavam em nome de Deus. A palavra hebraica para  inspiração,  no
entanto, significa encargo, [ou peso ­ VRC]. O homem precisa receber um encargo. Não podemos
negligenciar  nossa   responsabilidade   e  pensar  que   Deus   não   nos   deu   encargo.   As  Epístolas   de
Paulo demonstram claramente que ele recebia encargos. Quando alguém na igreja em Corinto
cometeu o pecado da fornicação, Paulo não condenou simplesmente o pecado ou parou de orar por
quem pecou. Ele recebeu de Deus o encargo de assumir a responsabilidade e a comissão em favor
da igreja (1 Co 5:1­13). Paulo não pregou doutrinas em suas epístolas; em vez disso, tinha encargo
de compartilhar certos assuntos de modo que conseguia tocar o sentimento das pessoas.

Existe o perigo de o ministério da palavra na igreja em Taipé tornar­se igual às pregações de
sermões nos cultos dominicais. Quando ministramos a palavra de Deus, nossa atenção deve estar
concentrada  no  falar de  Deus, e  não no tópico  do que iremos  falar. Para  que  Deus  fale,  quem
ministra a palavra precisa receber um encargo. As pessoas podem até reagir de forma negativa ou
ser profundamente tocadas quando ouvirem uma mensagem transmitida com encargo, no entanto
não podem negar que é o falar de Deus. Esse tipo de mensagem pode ajudar as pessoas e resolver
seus problemas. Uma mensagem que soa agradável, mas é desprovida do falar de Deus, não pode
tocar as pessoas nem fazer com que se voltem para seu interior, ou ainda satisfazer os famintos e
sedentos,   pois   não   são   as   palavras  que   Deus   quer   transmitir,   mesmo   que   sejam   extraídas   da
Bíblia. 

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Portanto não devemos falar de modo tão cômodo ou de pouco valor. Não podemos simplesmente
falar porque preparamos uma mensagem.  Quem ministra a palavra deve levar a condição
das pessoas diante de Deus. Ele tem a responsabilidade de conhecer suas necessidades,
estar sensível à condição delas e saber o que Deus quer falar. A ajuda que recebemos num
treinamento não pode substituir o encargo dentro de nós. O perigo é que o encargo tenha sido
substituído de maneira que estamos desprovidos de revelação e encargo espiritual. 

Estar desesperados com a situação das pessoas a fim de pregar a palavra eficaz
Em cada uma das cinqüenta e duas semanas do ano há reunião de pregação de mensagem no
domingo na igreja em Taipé.  Acaso os que ministram a palavra  jejuam e oram antes de
pregá­la? É óbvio que não existe regulamento que exija que façam isso, pois seria inútil. Os irmãos
precisam compreender que conduzir a palavra de Deus equivale a conduzir a alma dos homens. Os
santos vêm às reuniões semana após semana a fim de ouvir­nos, portanto isso precisa pesar sobre
nós. Se passados três meses não houver mudança em sua vida, não devemos ficar tranqüilos. Pode­
se   comparar  essa   situação   com  a  de   um  comerciante  que   não   consegue   dormir   tranqüilamente
quando fica sem fazer negócios por duas semanas e não consegue comer quando não tem lucro por
três meses seguidos. Ele ficará tremendamente aflito e preocupado. 

Muitos que têm negócios vêm até mim. Embora apenas se sentem sem nada dizer, posso sentir
o peso dentro deles e perceber que têm dificuldades nos negócios.  Acaso os que transmitem a
palavra estão aflitos pelas almas que não mudaram depois de três meses? O proprietário
de uma loja que não tem fregueses não conseguiria continuar trabalhando como se tudo estivesse
bem.   Ele   analisaria   a   situação   e   encontraria   uma   forma   de   mudá­la.  Como   podem   os   que
ministram a palavra continuar como sempre quando não obtêm nenhum benefício? Não
podemos pensar que apenas falar do púlpito semana após semana é o suficiente. 

Quando o irmão Nee iniciou sua obra em Foochow [capital da província de Fujian, no sudeste
da China], ele jejuava e orava todos os sábados pela reunião de pregação do evangelho no domingo.
Ele ponderava diante do Senhor o que falar e como falar. Ele considerava sobre que palavra os
pecadores   necessitavam   ouvir.  Como   jejuava   e   orava   com   pesado   encargo,   suas   palavras   eram
sempre muito eficazes e mais tarde foram publicadas na forma de mensagens. Muitos que são
usados pelo Senhor têm encargo em seu ministério da palavra. Quando Peace Wang era jovem,
teve uma obra de avivamento bem­sucedida. Ela sempre se ajoelhava na presença do Senhor e
passava longo tempo a chorar e afligir­se pelos pecadores. Assim, quando se levantava para falar, suas
palavras eram sempre vivas e eficazes. 

Servir com encargo
Temos nosso serviço bem organizado, entretanto nos falta encargo. Ter encargo significa ter um alvo
a   atingir.   Se   ainda   não   atingimos   o   alvo   ou   somos   incapazes   de   produzir   os   resultados   esperados,
devemos   ficar   preocupados.   Se   somos   capazes   de   servir   mesmo   sem   alcançar   nenhum   resultado,   é
porque não temos encargo. Manter essa atitude indica falta de encargo. Nosso ministério da palavra
nunca deve chegar a esse ponto. Por conseguinte os que ministram a palavra precisam ter sério encargo
diante do Senhor, não tendo sossego para descansar ou comer, e até mesmo inquietando os demais para
que também não tenham paz. Pode­se comparar isso à cidade de Jerusalém que não teve paz quando o
Senhor   Jesus   nasceu   (Mt   2:   1­18).  Os   que   falam   pelo   Senhor   precisam   estar   sensíveis   para
inquietar os santos a ponto de que não tenham paz interior. Quando não tiverem paz, nós

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poderemos ter paz. Os santos não podem amar o mundo e amar o Senhor. Não podem ser
mornos. Os que servem o Senhor precisam ter esse tipo de encargo. 

Muitos são empregados de grandes empresas. Trabalham um número certo de horas todos os dias e
simplesmente fazem as tarefas a eles designadas. Não cometem grandes erros e não se importam se a
empresa tem lucro ou não. São empregados sem encargo; servem sem encargo. Se não ganhamos nada
no primeiro dia de nosso negócio próprio, devemos preocupar­nos com nosso sustento. Se os que servem,
seja no serviço de crianças ou de jovens, tiverem essa consciência, serão bem­sucedidos. Reclamar que
fracassamos por ser fracos demonstra falta de encargo. Todos os que servem devem ter encargo a ponto
de se sentir responsáveis caso a obra não seja bem­sucedida. Deve ser como um empresário que pensa
em seu negócio até mesmo enquanto dorme. 

Discernir entre o serviço de responsabilidade e o serviço de encargo
Os presbíteros em todas as igrejas precisam ir à presença do Senhor a fim de receber encargo e ver
se todas as reuniões de casa em sua cidade caminham de modo satisfatório. Precisamos dar atenção
à condição das reuniões.  São elas fortes ou fracas, vivas ou mortas, ricas ou pobres? Não podemos
permanecer inalterados. Talvez os responsáveis pelas reuniões de casa estejam em paz; os presbíteros,
porém,   não   devem   estar   em   paz.   Os   presbíteros   devem   agir   de   forma   coordenada,   juntos,   e   não
individualmente. Devem ter encargo coletivo para causar total transformação na condição das reuniões
de   casa.   Precisam   orar   pelos   santos   até   com   lágrimas   e   buscar   o   Senhor   para   saber   as   palavras
adequadas que deverão dizer. Em seguida devem falar nas reuniões de acordo com seu encargo até que
os santos se inquietem por dentro e não fiquem mais satisfeitos com a atual situação. 
Quando os presbíteros falam dessa forma, não falam de acordo com sua organização, porém segundo
seu encargo. Eles devem ter encargo e não apenas ter responsabilidade. Como presbíteros, não devemos
apenas   compartilhar   e   conversar   sobre   as   condições   das   diferentes   reuniões   de   casa,   visitá­las   e
apresentar relatórios de avaliação na próxima reunião de presbíteros. Não há encargo algum nessa
prática;   isso   será   ineficaz   e   não   trará   nenhum   benefício.   Se   temos   uma   empresa   com   muitos
empregados,  seu ganho anual  não será influenciado por conversas,  relatórios  e avaliações. Isso não
cumpre o encargo. Se temos encargo verdadeiro, iremos estabelecer uma meta de ganho anual,
trabalhar na direção de alcançá­la e ser determinados em atingi­la. 

Tanto   na   administração   da   igreja   como  no   ministério   da   palavra,   os   irmãos  são   louváveis


quanto ao grau de responsabilidade. Entretanto falta­lhes encargo. Sem encargo, toda a nossa
atividade será morta e ineficaz; já com encargo, seremos vivos e prósperos. Esse resultado não
está relacionado com nosso método, mas com nossa pessoa. 

Servir com encargo permitindo que o ego seja negado
As crianças jamais serão bem­sucedidas nos estudos caso estudem somente para as provas. Se
tiverem encargo, seus estudos sofrerão mudança. Um irmão pode dar uma mensagem apenas por
obrigação, porque é sua vez de compartilhar. Contudo dar mensagens não é questão de obrigação,
porém de encargo. Podemos falar por seis meses seguidos, no entanto os que nos ouvem podem
não   receber   nada   e   nossa   fala   terá   sido   em   vão.   Se   temos   encargo,   percebemos   que   nossas
mensagens são ineficazes. Elas devem "incomodar" as pessoas de modo que não tenham paz e
sintam­se estimuladas a amar e servir o Senhor. Nessa situação nosso ser será tocado por Deus.
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Não existe necessidade de nosso ego ser negado se damos mensagens por obrigação. Entretanto,
se damos mensagens a partir de um encargo, nosso ego precisa ser crucificado. 

Trabalhar das nove às seis como empregado é questão de obrigação e não requer qualquer tipo
de ajuste. No entanto trabalharíamos de modo diferente caso tivéssemos nosso próprio negócio.
Nossa preguiça seria eliminada porque teríamos que acordar cedo para o trabalho. A atitude de
um garçom ou de um balconista para com os fregueses talvez não precise de correção. Porém uma
pessoa  que  dirige  o  próprio negócio se adapta para  jamais ofender os  clientes. Em vez de  ser
transformados,   alguns   irmãos   parecem   ter   mais   problemas   ao   servir   por   obrigação   e   não   por
encargo. Se existe encargo, nosso "eu" diminui e  é eliminado. Ele não crescerá porque existem
coisas que nosso encargo não nos permite fazer, e existem áreas que demandarão disciplina antes
de compartilhar nosso encargo. Por esse motivo ter encargo é o que mais nos traz transformação. 
Um jovem que não tem o encargo de cuidar da família pode não se importar com o modo como
vive. Todavia, depois de se casar e ter filhos, saberá o que significa ser diligente e disciplinado.
Um   filho   pode   gastar   o   dinheiro   dos   pais   livremente,   sem   nenhum   domínio   próprio.   Porém,
quando crescer e viver por conta própria, seus gastos serão planejados. Será mais cuidadoso ao
fazer compras. Gastar o dinheiro dos pais é uma coisa; gastar o próprio dinheiro é um encargo.
Parece que os irmãos nas igrejas servem por obrigação, como empregados. Não parecem ter muito
encargo. Um serviço desse tipo é perigoso e nos levará a perder a presença do Senhor. 

Cada um recebe um encargo e serve o Senhor de acordo com o encargo 
Todos os que servem o Senhor precisam receber encargo e ter encargo. Isso se aplica também
às   irmãs,   embora   não   estejam   envolvidas   na   administração   da   igreja   ou   na   pregação   de
mensagens. Se elas compartilham juntas e visitam as pessoas apenas porque é hora de fazer isso,
fazem tudo por obrigação. Elas devem buscar saber o que seu compartilhar e visitas produziram.
Devem conhecer a condição das irmãs sob seus cuidados. Não devem dizer: "Desde que o Senhor
opere nelas, estarão bem. Mas∙ se o Senhor não operar nelas, não há nada que possamos fazer".
Precisamos receber um encargo genuíno. 

Apesar de muitas irmãs terem o desejo de servir o Senhor, poucas se levantaram para servi­
Lo nos últimos tempos. Os irmãos, porém, continuam servindo como sempre. Devemos notar que a
situação das irmãs não está boa e receber o encargo de encoraja­las. Também precisamos analisar
os resultados de nossa pregação do evangelho. Precisamos ponderar por que tantos ainda não estão
salvos, apesar de haver tantos  pecadores. Alguns  devem  levantar­se para receber o encargo de
pregar o evangelho até que alguém seja salvo. Precisamos ter encargo. 

O problema é que gradualmente nos inclinamos para a responsabilidade no serviço, e nos falta
encargo. Como a maioria de nossas orações é sem encargo, as reuniões de oração não produzem
efeitos. Se alguém é salvo quando pregamos o evangelho, agradecemos e louvamos ao Senhor. Mas
se ninguém é salvo, ficamos em paz. Quando pregamos mensagens, ficamos em paz mesmo quando
não produzem nenhum efeito. O mesmo se aplica à administração da igreja e às visitas aos irmãos;
ficamos em paz mesmo que não haja resultado. Visto que essa é nossa condição, nossa oração é por
obrigação,  e  não   que  brota   do  encargo. Se   orarmos  com  encargo,  nossa  reunião  de  oração  será
diferente. Alguns  prantearão com intensidade  e pesar, sentindo que não poderão prosseguir da
mesma maneira. Perceberão que a pregação do evangelho, a administração da igreja e a condição
das reuniões são insatisfatórias. Esse tipo de oração brota de encargo. 

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Alguns   dizem   que   é   fácil   perder   o   encargo   depois   de   certo   tempo.   Todavia   os   que   tiveram
misericórdia recebem encargos de forma contínua.  É  um problema muito sério se nosso encargo
desaparece depois que trabalhamos por algum tempo. No entanto um cristão pode  continuar a
trabalhar por obrigação, mesmo que não tenha encargo, porque sua consciência o incomoda caso ele
pare. Sempre que nosso serviço se torna questão de cumprir obrigação, nosso serviço já
se degradou. O serviço genuíno nunca é questão de obrigação, mas de encargo; o encargo sempre
vai além da obrigação. 

O SEGUNDO PROBLEMA: FALTAR O SENTIMENTO DE COORDENAÇÃO 
Outro   problema   entre   nós   é   que,   apesar   da   capacidade   dos   que   servem,   eles   não   possuem
sentimento de coordenação no espírito ao se reunir para servir. Parece como se cada um pudesse
servir sem os demais. Conseqüentemente poucos dentre nós têm espírito de aprendiz e de alguém
que sabe que necessita de ajuda. Os que de fato possuem espírito de coordenação devem ter um
sentimento claro de que não podem fazer nada sem a ajuda e a coordenação com outros. Nossa
coordenação hoje é apenas formal. Eles realizam sua parte sem a ajuda de ninguém. Pode ser que
não haja discussões entre nós, mas também não existe muita interdependência no espírito. Isso
mostra quanto nosso espírito de serviço é inadequado. 

Essa é a situação dos que trabalham com os jovens e as crianças. A coordenação é formal; todos
fazem   o   que   devem   fazer   quando   é   sua   vez   na   escala.   Isso   é   cooperação,   e   não   coordenação.
Coordenação significa que não podemos fazer nada sem os outros. Existe o sentimento
de que necessitamos dos outros, e os outros, de nós. Os que trabalham com os jovens devem
ser assim; todo o serviço da igreja deve ser dessa forma. É normal que os diáconos e os presbíteros
necessitem uns dos outros, e os santos sintam que sem eles nada podem fazer. 

Hoje temos regras e regulamentos. Os presbíteros fazem as coisas que lhes são pertinentes e os
diáconos fazem o que lhes é pertinente. Todos trabalham segundo a escala. Todavia não temos um
sentimento  profundo  de  que  não  podemos   prosseguir  em  nosso  serviço  sem  os  presbíteros  e   os
diáconos. Alguns não só não sentem a necessidade de presbíteros e diáconos, como até mesmo pensam
que presbíteros e diáconos são desnecessários. Isso é perigoso. 

A maior forma de orgulho
Os que  moram  na  casa dos obreiros  são  brilhantes   e  capazes.  Parecem  ser  independentes  e não
precisar dos outros. Isso é muito perigoso, porque é a maior forma de orgulho que existe. Se quatro
irmãos vivem na casa dos obreiros, devem depender uns dos outros, e essa dependência deve ser notória.
Infelizmente   não   é   essa   a   atmosfera   que   nos   envolve.   Por   exemplo,   se   é   minha   vez   de   pregar   o
evangelho,   ou   faço   tudo   ou   não   faço   nada.   De   uma   perspectiva   humana   isso   pode   ser   considerado
coordenação, no entanto esse tipo de coordenação é segundo as regras e os regulamentos. Não existe a
percepção de que se necessita um do outro em espírito. Alguns podem pensar que a coordenação seja
desnecessária e até perturbadora, e é melhor não haver coordenação. 

Os que não necessitam de coordenação são secos, sem bênçãos e inúteis. O fato de ser inteligentes,
capazes   e   não   necessitar   da   ajuda   uns   dos   outros   é   um   grande   perigo.   Essa   situação   é   triste   e
lamentável. O mais terrível é que essa situação está encoberta, não sendo muito aparente. Ela pode ser
comparada à lepra. Se ela se manifestar, será mais fácil lidar com ela. 

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Isso   revela   que   nos   falta   a   comunhão   do   Corpo.   Quando   nos   encontramos,   raramente   temos
comunhão  plena.   Por  exemplo,  quando   os  santos   de  outra cidade  visitam   Taipei,   nós  nos  reunimos.
Depois   da   reunião,   no   entanto,   todos   seguimos   o   próprio   caminho,   separados,   sem   experimentar
comunhão. Essa não era nossa situação nos primeiros seis anos em Taiwan. Naquele período, sempre
que tínhamos uma conferência, nos reuníamos e tínhamos muita comunhão. Agora todos somos capazes,
brilhantes e muito bem instruídos. Não precisamos mais uns dos outros; não precisamos mais manter
comunhão. Essa é a maior forma de orgulho possível.  É  a coisa mais ofensiva para o Senhor  e Seu
Corpo. Devemos ministrar aos outros com toda humildade e restringir nossa inteligência e habilidade de
coordenação. 

A necessidade de comunhão e de coordenação no Corpo e na vida 
Se   perdermos   o   princípio   da   coordenação   e   da   dependência   no   Corpo,   não   seremos   fortes   na
administração da igreja e no ministério da palavra. Se perdermos esse princípio, deixaremos de ter
muita   bênção.   Nossa   coordenação   não   deve   tornar­se   mecânica,   e   não   devemos   trabalhar   somente
quando é nossa vez na escala.  Devemos ter o sentimento de que nada podemos fazer sem os
outros, de que realmente necessitamos uns dos outros. Se nos reunimos e dividimos o trabalho, e
cada um faz apenas sua obra, nossa situação é similar à divisão de tarefas numa organização pública
ou grande instituição. Essa falta de gosto pela coordenação entre os membros do Corpo precisa ser
eliminada. 

Que significa ver o Corpo? A maior indicação de que conseguimos ver o Corpo é que não
podemos ser independentes. Sentimos necessidade do Corpo, sentimos falta dos irmãos. No
momento, contudo, nossa coordenação pode ser comparada ao trabalho numa organização qualquer.
Parece que nos movemos como máquina e nos falta o sentido da comunhão de vida. 

A falta de coordenação produz o criticismo
Se nos falta coordenação com os outros, sempre criticamos o que eles fazem. Mesmo que não
expressemos nossas críticas, estamos repletos delas e desaprovamos o que realizam. Pessoas assim são
mesquinhas e dignas de pena. Em nosso serviço nunca devemos esperar que os outros sejam como nós
nem   que   sejamos   como   eles.   No   entanto,   por   nos   faltar   coordenação   no   serviço   e   dependência
mútua, quase sempre pisamos uns nos outros. Ou não andamos ou pisamos nos outros quando
resolvemos andar. Ou não trabalhamos ou fazemos o trabalho dos outros. Ou não nos importamos
ou criticamos o trabalho que os outros fazem. Quando determinado assunto está nas mãos de outra
pessoa, não somos capazes de fazer nada. Porém, quando surge uma oportunidade, fazemos à nossa
maneira e descartamos a ajuda dos outros. Apesar de essa situação não ser visível entre nós, ela o
será   no  futuro,   porque  não   estamos   dispostos   a   nos   submeter   uns   aos   outros.   Esse   é   um   jeito
insensato de proceder. 

Não exigir que os outros sejam iguais a nós, mas respeitar o que fazem

Não devemos exigir que os outros sejam iguais a nós em tudo. Não devemos discutir a maneira
como pregam, visitam as pessoas ou vivem. Mesmo que o modo como vivem não nos agrade, não
podemos estabelecer padrões para eles nem estamos qualificados a julgá­los. Apenas o Senhor é o
critério e o Juiz. Precisamos aprender a respeitar o que os outros fazem. Quando falamos em ser
fervorosos, precisamos respeitar o silêncio dos outros; quando falamos em ser tranqüilos e nos unir
ao Senhor, não devemos criticar os que estão ocupados. Se todos forem exatamente como nós,
não existirá o Corpo. Haverá apenas um membro. Isso não é a igreja. Se todos fossem como
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nós,   haveria   apenas   nós   e   não   a   igreja.   A   igreja   é   composta   de   várias   pessoas.   Isso   pode   ser
comparado ao corpo humano  com seus  diferentes  membros. As mãos se parecem mãos, o  pé se
parece o pé, os ouvidos se parecem os ouvidos e os olhos se parecem os olhos. Até mesmo o membro
que aparenta ser o mais impróprio é necessário ao corpo. 

Por isso devemos aprender a não pisar os outros. Quando chega nossa vez de realizar uma
obra, não devemos criticar o que eles fizeram.  É  uma bênção respeitar o trabalho dos outros e
acrescentar o nosso ao deles. Devemos ser positivos ao falar com eles e não negativos. É  falta de
sabedoria   dizer   que   estão   errados.   Enquanto   esses   fatores   negativos   existirem   entre   nós,   a
administração  da   igreja   terá   problemas   e   o  ministério   da   palavra   não   será   fortalecido.   Muitos
santos de vários lugares servem juntos na igreja. Eles têm distintos temperamentos e histórico
familiar, e também histórico espiritual e treinamento variado. Portanto não podemos esperar que
todos sejam como nós. Precisamos aprender a não pisar os outros. Quando damos um passo, não
podemos   pisar   os   outros.  Devemos   evitar   de   modo   especial   pisar   os   outros   quando
ministramos a palavra. 

Por exemplo, ao falar sobre oração, não devemos criticar os que falam em meditação, porque os
santos podem necessitar de ambas. Devemos limitar­nos a falar de forma positiva acerca da oração
sem, no entanto, criticar o que outros falam a  respeito da meditação. Quando servimos juntos,
precisamos evitar por completo criticar os outros no ministério da palavra. Alguns podem falar
sobre oração e outros sobre meditação; alguns podem falar sobre ser fervoroso e outros sobre estar
no Santo dos Santos. Nenhum desses ensinos é herético; são apenas ênfases diferentes. Criticar os
outros   demonstra   como   somos   mesquinhos   e   pode   causar  divisões.   Se   essa   for   nossa   forma   de
trabalhar, não haverá edificação entre nós. Pelo contrário, haverá destruição. 

Devemos   simplesmente   trabalhar   de   forma   positiva   e   aprender   a   receber   ajuda   de   outras


pessoas.  Devemos entender que ninguém pode fazer nossa parte. Nem mesmo o apóstolo
Paulo poderia fazer o que somos capazes de fazer.  Mas também  temos de admitir  que  não
podemos substituir os demais. Cada pessoa tem sua função. Quando ministramos a palavra,
mantemos   comunhão   e   oramos,   não   devemos   criticar   os   outros.  Particularmente   quando
oramos com outras pessoas, devemos evitar orar de maneira contraditória. 

Não insistir na própria maneira
Os   presbíteros   entenderam   que   certa   reunião   devia   estudar   o   Evangelho   de   João.   Um   dos
irmãos  responsáveis  por  aquele   grupo,  no   entanto,  sentiu   que   João   seria  longo   demais   e  quis
estudar 1 Tessalonicenses. Ele pensou que isso ajudaria os que não estavam habituados a ler a
Bíblia.   Como   ele   insistisse,   os   presbíteros   acabaram   concordando,   embora   seu   encargo   por   1
Tessalonicenses   não   fosse   adequado.   Na   verdade   esse   irmão   não   tinha   encargo   legítimo.
Simplesmente   pensou   que   os   santos   teriam   receio   de   um   livro   com   vinte   e   um   capítulos,   e
permitiu   que   sua   opinião   atropelasse   os   sentimentos   dos   demais.   A   não   ser   que   ele   tivesse
realmente   sido   incumbido   de   1   Tessalonicenses,   não   deveria   ter   apresentado   isso   na   reunião.
Nenhum de nós deve fazer coisas das quais não fomos incumbidos nem devemos abandonar coisas
das quais fomos de fato incumbidos; mas precisamos servir de acordo com nosso encargo. Fazer o
contrário viola um princípio espiritual. Esse irmão responsável ainda não aprendera a lição em
assuntos espirituais e agiu de forma inexperiente em seu comportamento. Se nossa comunhão
está   relacionada   com  um   encargo   espiritual,   não   deve   haver   nenhum   problema   em   se   propor
mudança, e não devemos criticar o encargo. No entanto, se tudo o que queremos é mudar a forma
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como os outros fazem as coisas, não devemos levar isso adiante. 

Precisamos respeitar o jeito dos irmãos com quem servimos.
Os presbíteros não irão forçar um grupo a estudar certo livro ou a  falar determinadas coisas,
porém não devemos mudar ao  acaso o que eles nos comissionaram. A  rigor está tudo  bem em
estudar João ou 1 Tessalonicenses, pois não importa de fato qual livro será estudado.  É  possível
ministrar   aos   irmãos   com   1   Tessalonicenses   e   com   o   Evangelho   de   João.   Em   nosso   serviço
devemos sempre evitar mudar a forma dos outros de fazer as coisas. 

Precisamos entender que, quando mudamos a maneira dos outros de realizar as coisas, eles
talvez  não aceitem, porque  entendem  não   ser  apropriado  mudar;  e, caso  aceitem,  não   será   de
forma agradável. Por causa desse tipo de problema, nosso serviço na administração da igreja e no
ministério da palavra não é forte. Até mesmo no mundo, quando as pessoas trabalham juntas, não
é fácil mudar a maneira dos outros de fazer as coisas. Se de fato temos certa habilidade, ela se
manifestará   mesmo   quando   trabalhamos   segundo   o   modo   dos   outros.   Se   temos   conteúdo
espiritual, podemos ministrar aos santos por meio de 1 Tessalonicenses ou do Evangelho de João.
Não   importa   qual   seja   o   livro,   devemos   ser   capazes   de   ministrar   seu   conteúdo
espiritual.   O   que   devemos   recear   é   não   ter   conteúdo   espiritual   para   ministrar;  se   o
temos,   somos   capazes   de   ministrar   e   desenvolver   qualquer   livro   da   Bíblia.   Portanto   mudar   a
forma dos outros de fazer as coisas indica que ainda não aprendemos muitas lições espirituais.
Também indica que ainda somos inexperientes na forma como nos portamos. 

Alguns irmãos levam os santos a servir de forma fervorosa, na esperança de que passem mais
tempo aprendendo a manter comunhão com o Senhor e conhecer o Espírito que habita neles. Não
devemos tentar mudar sua prática. Devemos, sim, elogiá­los, dizendo que é bom amar o Senhor e
ser fervoroso. Contudo nosso elogio não deve ser falso; antes deve ser um suplemento positivo da
obra deles. Precisamos manter sempre uma atitude de respeito, cooperação e coordenação com os
outros. Devemos servir de acordo com nossa porção e honrar a dos outros, porque ambas foram
confiadas pelo Senhor. Todos devem ter a humildade de não considerar sua porção mais elevada
do que a de outrem. Devemos cuidar dos sentimentos dos outros. A não ser que falem heresias e
criem problemas para a obra e a igreja, devemos sempre respeitá­los, ser gentis e prestativos para
com eles e abertos para receber sua ajuda. 

Que   o   Senhor   nos   conceda   graça   para   perceber   que   isso   é   questão   de   vida   e   envolve   ser
quebrantados e humildes. Os que conseguem atingir um objetivo sem forçar os demais a fazer
tudo a seu modo são de fato humildes. Visto que amamos o Senhor, desejamos viver para Ele e
edificar a igreja. Esses objetivos estão certos, porém existem muitas maneiras de alcançá­los. Por
exemplo, pregar o evangelho junto com um irmão é um bom alvo que pode ser realizado de acordo
com sua maneira ou com a nossa. Somos abençoados quando não forçamos os outros a fazer as
coisas de nosso modo. Se temos conteúdo espiritual, podemos ministrar à sua maneira e, se ele
possui conteúdo espiritual, poderá ministrar à nossa. As duas formas são aceitáveis; não existe a
necessidade de se apegar a uma delas. 

Preservar a consciência do Corpo e ser edificados em nosso serviço
Os irmãos precisam aprender a lição de ser quebrantados, amáveis com os outros e respeitar
suas funções. Nosso Senhor é grande e Sua obra possui muitos aspectos. Por isso precisamos ser
fiéis   ao   que   Ele   nos   confiou   e   aprender   a   trabalhar   de   forma   coordenada   com   os   outros,
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respeitando o que fazem. A não ser que falem heresias, não devemos interferir, intervir ou criticar.
Somente assim podemos preservar a consciência do Corpo e gerar edificação entre nós. 

As   sementes   desse   tipo   de   problema   já   foram   plantadas   entre   nós   e   produziram   situações
negativas.   Como   servimos   juntos   ao   Senhor   em   Sua   obra   e   a   compartilhamos,   precisamos
levantar­nos­_e condenar tais situações. Essas questões estão intimamente relacionadas conosco e
irão mostrar quanto já fomos transformados diante do Senhor e que lições de vida já aprendemos.
Se   crescermos  em  vida,  formos   quebrantados  e   aprendermos   algumas   lições,   estaremos   salvos
quanto a todas essas questões. Quando os presbíteros sugeriram estudar o Evangelho de João e o
irmão responsável pela reunião em casa disse que esse livro era grande demais, insistindo que os
presbíteros aceitassem sua maneira de fazer as coisas, o sentimento de coordenação enfraqueceu.
Quando isso ocorre, não podemos esperar que a edificação do Corpo seja forte. 

Caso   esse  irmão   continue   a  se   opor   às   propostas   dos  presbíteros,   os  irmãos   em  sua   reunião
acabarão se levantando para se opor a ele, porque ele deu o exemplo de se opor aos outros e fazer
prevalecer a própria opinião. Caso prossiga em seu modo, como poderá conduzir os demais em seu
grupo de casa a ter um serviço forte em coordenação e boa edificação? Todos precisamos aprender
uma lição importante. Na coordenação do Corpo, todos precisam funcionar e respeitar o
que é feito pelos demais. Não devemos criticar os outros, mas juntar­nos a seus esforços a fim
de que o Corpo de Cristo seja suprido, e não danificado. Desse modo o sentimento de coordenação
será prazeroso e a edificação do Corpo será fortalecida. 

CAPÍTULO TRÊS
NÃO FAZER UMA OBRA DE DEMOLIÇÃO NO SERVIÇO DA IGREJA

A NECESSIDADE DE NOSSO SERVIÇO PRODUZIR A EDIFICAÇÃO
A edificação da igreja é efetivada mediante a administração da igreja e o ministério da palavra,
e ambos dependem da condição de nossa pessoa. Nossa administração da igreja talvez não resulte
em muita edificação.  É  possível também que nosso ministério da palavra não resulte em muita
edificação.   Até   mesmo   o   fato   de   conduzir   pessoas  à  salvação   e   ajudar   os   santos   em   seu
aperfeiçoamento   pode   não   resultar  em  muita  edificação   da  igreja.  Nossa   obra   pode  ser   eficaz,
porém, quanto mais a realizamos, menos elemento de edificação existe. Em outras palavras, a
eficácia   de   nossa   obra   é   inversamente   proporcional  à  edificação   da   igreja.   Ela   corresponde  à
demolição da obra de edificação de Deus, e não à edificação. 

Em circunstâncias normais, quanto mais realizamos a obra mais edificamos. Nossa obra deveria
corresponder à nossa edificação. Por exemplo, quando alguns pregam o evangelho, não só salvam
pecadores como também edificam a igreja; quando instruem os santos, não só os ajudam como
também edificam a igreja. Precisamos atentar para este fato peculiar: podemos fazer uma
obra sem produzir a edificação. Se estivermos na luz, veremos que é possível salvar pecadores
e instruir os santos sem edificar a igreja. Muitas obras no cristianismo na verdade demolem a obra
de edificação de Deus. A mais grave demolição  da edificação de Deus na  igreja não resulta  da
perseguição nem da oposição dos incrédulos. Advém, porém, das muitas obras feitas com zelo no
cristianismo. Essas obras não procedem de más intenções, idéias perversas ou erros; antes, têm o

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bom  propósito  de  salvar  pecadores e  instruir  os  santos,  todavia  não  resultam  na  edificação da
igreja. 

O  ESQUEMA DE SATANÁS  DE REALIZAR UMA OBRA DE DEMOLIÇÃO NO SERVIÇO  DA


IGREJA 
Que significa nossa obra demolir a edificação de Deus? Um bom exemplo disso ocorre quando
determinado irmão, responsável por uma reunião de grupo, altera a proposta dos presbíteros de
estudar um livro específico da Bíblia. Trocar o livro a ser estudado pode ser instrutivo para os que
participam de sua reunião, todavia a forma como ele o fez derruba a edificação divina da igreja.
Não ajudará em nada os santos a conhecer sua carne, lidar com as opiniões próprias ou aprender a
se sujeitar aos outros. Sua forma de agir só irá gerar pessoas cheias de pontos de vista e opiniões,
que gostam de corrigir os demais e não de se sujeitar a eles. Apesar de esse irmão ter boa intenção
e não criticar nem julgar os outros, a destruição causada é séria para a igreja. 

Os presbíteros podem decidir que a igreja toda irá estudar o Evangelho de João, no entanto um
irmão responsável pode concluir que esse livro é muito grande e mudá­lo para 1 Tessalonicenses.
Essa   boa   intenção   demonstra   que   ele   ainda   não   aprendeu   a   lição   de   ser   quebrantado;   não
consegue   deixar  de  lado  suas opiniões  e  também   não sabe submeter­se  aos outros  ao servir a
igreja. A igreja não pode ser edificada se vinte e um dos responsáveis disserem: "Os presbíteros
não estão necessariamente certos na sua maneira de fazer as coisas. Suas decisões nem sempre
são corretas". Caso se adote uma atitude dessas, as coisas sairão de controle. 

Talvez esses irmãos responsáveis não ficassem satisfeitos nem se o apóstolo Paulo fosse um dos
presbíteros. Se os presbíteros  tomam decisões  certas  ou  erradas  não  é problema nosso.  Nossa
necessidade é submeter­nos a eles.  É  difícil acreditar que uma pessoa que não se submete aos
presbíteros gere pessoas quebrantadas, que neguem a si mesmas, coloquem­se sob as mãos de
Deus e se sujeitem aos outros. O melhor que conseguem fazer  é produzir pessoas com pontos de
vista e opiniões próprias, que demolem em vez de edificar a igreja. 

Edificar é colocar uma pedra sobre a outra. Ao contrário disso, a palavra do Senhor em Mateus
24 nos mostra a demolição: "Em verdade vos digo: De modo nenhum ficará aqui pedra sobre pedra
que não seja derrubada" (v. 2). Quando se derruba, nenhuma pedra fica sobre a outra; quando se
edifica, cada pedra está sobre a outra. As pessoas podem elogiar nossa obra, mas precisamos ver
se ela não derruba a igreja. O esquema de Satanás é derrubar. Toda a nossa obra em Taiwan foi
de edificação; entretanto nos  últimos seis meses houve muita demolição. Esse é o esquema do
inimigo, e  muitos  dentre nós  foram usados por ele  para realizar essa obra  de  demolição. Não
queremos fazer esse tipo de obra. Nenhum irmão a faz com má intenção. Contudo, por não ter
aprendido a lição, somos usados por Satanás de forma inconsciente em nosso serviço de derrubar.
Talvez   pensemos   que   estamos   edificando,   no   entanto   nossa   obra  tem   sido   de   demolir   a   igreja.
Satanás derruba por meio de nossa obra. Isso faz com que nosso serviço e o testemunho da igreja
sofram grande prejuízo. 

A DEMOLIÇÃO LEVA À DISSENSÃO  E CAUSA DANOS À AUTORIDADE NA IGREJA
Precisamos consultar nosso coração e considerar se nossa obra nos últimos seis meses nos levou à
unanimidade   ou   à   dissensão.   Estar   em   unanimidade   é   edificar;   estar   em   dissensão   é   demolir   a
edificação.   Os   irmãos   responsáveis   estão   em   dissensão   caso   mudem   a   decisão   dos   presbíteros   sem
perceber que, na verdade, estão demolindo a edificação. Se apenas sete das vinte e oito reuniões de
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grupos nas casas estiverem nessa condição, a igreja em Taipé estará em discórdia e dividida. 

Não   estamos   aqui   para   estabelecer   a   autoridade   dos   presbíteros   como   se   fossem   "papas",   mas
precisamos perguntar­nos se de fato existe autoridade administrativa na igreja. Nas mãos de quem deve
encontrar­se essa autoridade? Se estiver nas mãos dos mil irmãos que se reúnem regularmente, nós nos
tornaremos como a igreja em Laodicéia  (d.  Ap 3:14­22). Se essa autoridade estiver nas mãos de um
"papa", seremos como a Igreja Católica Romana. A administração de uma igreja se encontra nas mãos
dos presbíteros. Eles devem aprender a estar submissos a Deus e temê­Lo. Devem administrar a igreja
em temor e tremor, e aprender a ser fortes. Devem temer cometer erros e ser fracos e indecisos. Caso
uma reunião de grupo precise ser interrompida, os presbíteros devem tomar essa decisão sem hesitar;
caso contrário, os grupos de reuniões nas casas restantes se tornarão como pequenas igrejas locais. 

Caso ninguém numa igreja local tenha sido quebrantado, tema a Deus ou reconheça a autoridade na
igreja   em   seu   ministério,   a   igreja   está   em   discórdia.   Suas   muitas   atividades   resultarão   em   maior
demolição. Seria praticamente melhor ter menos atividades. Se qualquer um dos irmãos responsáveis
na igreja em Taipé tem opinião diferente da decisão dos presbíteros, haverá uma obra de desconstrução
na igreja. Uma situação de dissensão dessas causará a morte. Caso os responsáveis pelos grupos nas
casas   sejam   assim,   os   membros   dos   grupos   irão   também   manifestar   opiniões   opostas.   Esse   tipo   de
tendência pode ser comparado ao corpo quando contrai infecção ­ isso pode matar o próprio corpo. Isso
se trata de dissensão e destruição da edificação. 

Mediante   o   esquema   sutil   de   Satanás,   nosso   esforço   pode   de   fato   ser   uma   obra   de
demolição.  Alguns   fizeram   grande   sacrifício   pelo   Senhor   e   pela   igreja.   Por   um   lado,   não   devemos
vangloriamos   do   sacrifício   que   fizemos;   por   outro,   uma   vez   que   fizemos   um   sacrifício   desses,   não
devemos permitir que o esquema de Satanás entre em nosso meio. Se servirmos em meio à discórdia,
não   teremos   como   prosseguir.  O   esquema   mais   sagaz   de   Satanás   é   realizar   uma   obra   de
dissensão e divisão em nosso meio. 

A obra de Satanás não é levar todos a discutir entre si; antes, é realizar uma obra de demolição por
meio dos bons desejos e boas intenções das pessoas. Esse é o artifício. Aparentemente a sugestão do
irmão responsável de estudar outro livro da Bíblia é para o bem dos santos, quando na verdade não é.
No entanto, se de fato aprendemos a lição, veremos que apesar da organização do serviço na igreja ser
flexível e não rígido, é necessário que exista harmonia e um único mover na igreja. Isso evitará que a
igreja caia nas artimanhas de Satanás. 

A AUTORIDADE DO ESPÍRITO SANTO NA BÍBLIA

Toda igreja, grande ou pequena, precisa honrar a autoridade do Espírito Santo. Por exemplo, apesar
de   milhares   dentre   os  judeus   terem   crido   na   igreja   em   Jerusalém   (At   21:20),   não   houve   uma
assembléia para que se votassem as diferentes questões levantadas no capítulo 15. Em vez disso,
os   apóstolos   e   os   presbíteros   reuniram­se   na   presença   de   Deus   e   depois   que   alguns
compartilharam sua experiência e entendimento, Tiago pôs­se de pé e falou (vs. 6, 22, 13). Essa é
a autoridade do Espírito Santo na Bíblia. 

Depois de se reunir, escreveram uma carta aos crentes gentios (v. 20). Eles não discutiram nem
a igreja organizou uma assembléia para que os crentes expressassem suas opiniões mediante o
voto; em lugar disso, os apóstolos e presbíteros reuniram­se diante de Deus a fim de decidir a
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questão. Uma vez que tomaram uma decisão com relação ao problema da circuncisão, nenhuma
outra opinião foi expressa. 

NÃO PLANTAR A SEMENTE DA MORTE OU DA DISSENSÃO

Os  que aprenderam  a  lição  dirão   amém quando   os  presbíteros  decidirem  que os grupos  de


reuniões devem estudar o Evangelho de João. Os que consideram que esse livro é longo demais
devem receber ajuda dos que aprenderam essa lição a fim de se submeter  à  igreja e respeitar a
autoridade da igreja. Primeiro precisamos ajudar os santos a aceitar o que foi planejado pelos
presbíteros, antes de sugerir que um livro menor seja estudado. Ajudar os santos nesse sentido  é
maravilhoso e contém o elemento de edificar em unanimidade. 

Se, a partir de uma motivação impura, alguém responsável coloca em dúvida a decisão dos
presbíteros e compartilha seus sentimentos com outros responsáveis, o fator causador de morte se
espalhará. Talvez não difame os presbíteros ou se oponha a eles, mas em sua fala pode disseminar
a   idéia   de   que   a   igreja   seja   uma   ditadura.   Isso   causará   dissensão.   A   semente   da   discórdia
plantada nos santos pode crescer e por fim levá­los e uma dissensão com a igreja. Isso é demolir a
obra de Deus. 

Até ao pregar o evangelho e instruir os santos pode existir um fator de demolição. Isso pode ser
comparado a beber uma xícara de chá que contenha a bactéria da tuberculose. Depois de bebê­lo,
contrairemos a doença. É muito grave se um irmão, que não tinha o coração inclinado à dissensão
antes de ser instruído por nós, começar a expressar um elemento de dissensão  em seu serviço
depois de ser instruído por nós. 

A igreja numa cidade estará acabada se os santos divergirem entre si. Precisamos estar alertas
para   esse   grande   perigo.  O   esquema   mais   ardiloso   de   Satanás   é   plantar   a   semente   da
dissensão por meio dos que servem. Quando ele faz isso, a obra do Senhor é rompida e ocorre
a   discórdia   no   serviço   da   igreja.   Uma   pessoa   que   contrai   a   tuberculose   pode   ter   aparência
saudável, contudo em um ano todo o seu ser entrará em colapso. 

A EDIFICAÇÃO DESTINA­8E AO APOIO MÚTUO E A SUPRIR UNS AOS OUTROS

Nosso problema é que nos consideramos muito espertos e capazes, a ponto de não necessitar
uns dos outros; porém estamos sempre pisando os outros. Isso  é indicação de discórdia com um
elemento de demolição. Isso não é edificação. Os que de fato edificam a igreja percebem que não
podem agir de forma independente nem viver à parte dos demais. Sentem que necessitam uns dos
outros. Quando ministra a palavra, esse irmão sabe que necessita dos demais a orar por ele a fim
de lhe fornecer o apoio em seu espírito. Esse espírito parece ter desaparecido de nosso meio. Os
que ministram a palavra não parecem precisar das orações dos outros e os que o escutam não
possuem tal  espírito de apoio; apenas ouvem os que lhes falam e fazem comparações. Tal espírito é
intolerável. 

Quando a semente da discórdia em nosso meio produz frutos, então a igreja, nosso serviço e a obra
entrarão   em   colapso   e   desmoronarão,   mesmo   que   sejamos   muito   espirituais.   Nossos   esforços   não
levaram   as   pessoas   a   estar   em   unanimidade   com   a   igreja.   Em   vez   disso,   parece   que   só   causamos
dissensão. Quanto mais ajudamos as pessoas, mais parecem discordar da igreja e estar dispersas. Há a
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demolição,   e   não   a   edificação.   Em   particular   os   irmãos   que   trabalham   com   os   jovens   não   têm   um
sentimento de dependência uns dos outros. 

Devemos todos ter uma só alma a fim de orar, suprir e apoiar quem libera a mensagem.
Se os que servem o Senhor estiverem sempre em discórdia em vez de estar em unanimidade,
o inimigo, os santos e até as crianças perceberão. 

A EDIFICAÇÃO É A SUBMISSÃO
A verdadeira edificação depende da submissão. Submeter­se é estar sujeito aos outros. Quando
estamos dispostos a nos submeter, temos a edificação. A submissão está fora de questão se apenas uma
pessoa faz a obra. Porém, se trabalhamos juntos, não devemos importar­nos apenas com nossa obra. Por
exemplo, a submissão não é tema para antes do casamento entre um irmão e uma irmã, entretanto
depois de  se  casarem precisam aprender a se submeter. Somente quando há  submissão pode haver
edificação.   Quando   se   casa,   o   propósito   do   casal   é   constituir   família.   A   fundação   dessa   construção
depende da submissão. A ênfase da edificação não está na obediência, mas na submissão. Se a mulher
não se submete ao marido e o marido não se submete à mulher, faltará edificação à família. Precisamos
crer que os presbíteros numa igreja local  não são descuidados nas decisões nem autoritários na atitude.
Embora possam se sentir fracos e inadequados, carregam grande responsabilidade e cuidam da igreja
em   temor   e   tremor.   Se   todos   os   presbíteros   tiverem   essa   atitude   e   espírito,   suas   decisões   serão
merecedoras de nossa submissão. 

APRENDER A LIÇÃO DA EDIFICAÇÃO E DE INTRODUZIR OUTROS NO EDIFÍCIO

Quem   discute   a   respeito   de   que   livro   a   igreja   deve   estudar   e   coloca   em   dúvida   a   decisão   dos
presbíteros a esse respeito não tem espírito ou atitude de submissão.  Sem submissão, não existe
edificação. A edificação da igreja mediante nossa administração e ministério da palavra depende de
nossa pessoa. Se aprendermos a lição, estaremos quebrantados e conheceremos a edificação de Deus, e
os   que   conduzimos   serão   pedras   vivas   edificadas   como   casa   espiritual.   Se   nós   mesmos   não   formos
edificados, não teremos como edificar os outros. A obra de nossas mãos não resultará em edificação.
Quanto   mais   pessoas   salvarmos   pela   pregação   do   evangelho   e   instruirmos,   mais   opiniões   serão
introduzidas na igreja. Apesar de aumentar a quantidade de pedras, não haverá edificação. 

A obra de Satanás é de demolição. Ele tem feito isso por dois mil anos. A maior parte da obra de
evangelização   no   cristianismo   atrai   as   pessoas   para   crer   mediante   ganho   material.   Isso   é   pobre   e
superficial,   e   demonstra   que   se   perdeu   o   poder   do   evangelho.   Quando   uma   igreja   está   cheia   de
dissensão, sua condição será de enfraquecimento. Desde que viemos para Taiwan em 1949, a igreja em
Taipé tem se mantido cheia de frescor, sem nenhum fator causador de dissensão. Satanás agora tenta
realizar uma obra  de  demolição.  Quando estamos  em  unanimidade,  temos  a  autoridade  do Espírito
Santo. 

SER CAUTELOSOS COM AS PALAVRAS PARA EVITAR DISSENSÃO E DEMOLIÇÃO
Alguns   não   são   cautelosos   com   as   palavras   e   de   forma   inconsciente   trazem   dissensão   e
demolição embora não tenham má intenção. Por exemplo, um assunto que foi compartilhado na
reunião dos presbíteros à tarde, pode se espalhar por toda a igreja à noite, misturando­se rumores
aos fatos. Isso demonstra que alguns falam demais e não aprenderam a lição no serviço da igreja.
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Não temos nenhum segredo, entretanto os que já foram transformados não falam de modo frívolo
e leviano. Por exemplo, recentemente enviei cartas convidando alguns irmãos para uma reunião,
mas não contei à minha esposa. No fim ela recebeu a noticia por outra irmã. Se um irmão recebe
uma carta, deve simplesmente vir no dia marcado. Não há a necessidade de contar para outros a
esse respeito. Esse tipo de fala casual é sem sentido e dá espaço para Satanás. 

Não há nada de reservado sobre enviar cartas acerca de uma reunião. Não divulgar a noticia
de que você foi convidado para uma reunião é rejeitar a carne. Eu tinha um sério encargo de
convocar uma reunião, mas não contei a minha esposa. Não consegui falar nem com minha esposa
sobre meu encargo, então por que os irmãos precisariam perguntar a ela a respeito desse assunto?
Uma coisa tão pequena como essa pode trazer dissensão e demolição. Quem aprendeu a lição não
falará   de   maneira   descuidada   em   seu   serviço   e   coordenação.  Embora   falemos   de   vários
assuntos   com   as   pessoas,   precisamos   conhecer   nosso   lugar   ao   falar   de   assuntos
relacionados com o serviço. 

Com o objetivo de ser mais hospitaleiro com o irmão T. Austin­Sparks, procurei alguém que
soubesse preparar comida ocidental. Encontramos um cozinheiro e o pagamos, porém ele fugiu
com o dinheiro. No dia seguinte um irmão escreveu uma  carta oferecendo­se para emprestar seu
cozinheiro. Fiquei surpreso como as noticias se espalharam tão rápido. Quem aprendeu a lição do
serviço jamais falaria de tal assunto. Mesmo que mil cozinheiros fugissem, por que falar a respeito
disso quando o assunto nada tem a ver conosco? Isso não significa que se deva manter segredo
sobre o comportamento do cozinheiro por medo do que os outros possam pensar. A Bíblia registra
que um dos colaboradores de Paulo, Demas, amou o presente século (2 T m 4:10) e Paulo exortou
os irmãos em Éfeso dizendo que quem roubava não roubasse mais (Ef 4:28). Por essa razão, um
cozinheiro fugindo com o dinheiro não é algo tão estranho assim. Mas por que notícias como essa
haveriam de ser espalhadas em menos de dois dias? Isso indica que  precisamos aprender a
lição de não divulgar informações. Espalhar informações desconstrói. 

Um irmão mencionou certa vez que outros lhe perguntaram se ele iria servir em Taichung,
apesar de ele mesmo desconhecer essa informação. Essa divulgação de informação ocorreu entre
os que servem. Não importa se esse irmão iria ou não servir em Taichung, não era necessário
espalhar   a   informação.   Caso   esse   irmão  necessite   ter   comunhão  a   respeito  de   seu   serviço   em
Taichung, ele virá ter comunhão. Não precisamos fazer tantas perguntas. 

Se   quisermos   edificar   a   igreja,   precisamos   deixar   o   Senhor   lidar   conosco   quanto   a   esses
assuntos.  Caso   contrário,   quanto  mais  trabalharmos,  mais  demoliremos  e mais  dissensão  será
produzida. Muitas palavras desnecessárias podem ser espalhadas por intermédio dos que servem.
Precisamos pedir ao Senhor por Sua misericórdia. Os que servem não devem falar de maneira
leviana. Precisamos aprender essa lição. Podemos falar com os irmãos a respeito de muitas coisas,
porém no serviço que prestamos não devemos ser negligentes em falar o que o Senhor não nos
comissionou. Em questões que dizem respeito a nosso serviço, não devemos falar de modo tão fútil.
Alguns dentre os que servem espalharam certa vez a seguinte informação: "Os presbíteros não
conseguem tomar nenhuma decisão acerca de nada. Eles mudam de idéia a toda hora e não nos
informam sobre essas mudanças". Isso demonstra que ainda não aprenderam a se restringir ou a
ser  dirigidos  pelo  Senhor.  Embora  sejam  consagrados  ao  Senhor  em  seu  serviço,  umas poucas
frases podem demolir a obra de um ano inteiro. Eles trabalham com uma mão e demolem com a
outra. Isso não é edificar. Precisamos estar alertas para perceber que a obra em Taipé atualmente

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se encontra em meio à discórdia e caiu no esquema de Satanás. Satanás espalha a dissensão por
meio de nosso serviço. 

Se não resolvermos esses problemas, não teremos edificação. Os problemas na administração da
igreja   e   no   ministério   da   palavra   resultam   do   problema   existente   em   nosso   ser.   Por   favor,
permitam­me   dizer   uma   palavra   dura:   o   espírito   de   insubordinação   opera   em   nosso   meio.
Insubordinação  significa  demolição   e não   edificação.   Ser insubordinado   é  não  edificar,  não ser
edificado e demolir. 

CONCLUSÃO
Para   que   nossa   obra   edifique,   muitos   fatores   negativos   em   nós   precisam   ser   eliminados.
Existem certas coisas que não devemos dizer, certas atitudes que não devemos expressar e certas
ações   que   não   devemos   realizar.   A   fim   de   ser   submissos,   precisamos   restringir­nos   nesses
aspectos. Visto que os que não se restringem não têm consciência dos muitos fatores de dissensão
que operam em seu interior, existe um elemento de dissensão em suas palavras. Não devemos
expor o Senhor à vergonha ou ficar em falta com nossa consagração. Nossa obra precisa edificar, e
não demolir; precisa ser feita em unanimidade, e não em discórdia. 

É difícil estimar quanto quebrantamento e restrição precisamos a fim de que nossa
obra seja em unanimidade e edifique os outros. Embora essa seja uma palavra dura, por
favor, recebam­na com coração humilde e  mansidão. Temos grande responsabilidade diante do
Senhor. Cada um de nós dará conta a Ele diante de Seu tribunal. Se nossa obra ruir, isso impedirá
que   muitos   recebam   graça   e   sejam   instruídos.   Esse   é   um   assunto   muito   sério.   Precisamos
aprender  não  só  a trabalhar,  mas também  a  realizar uma  obra  que  edifique.  Jamais devemos
permitir   que   nossas   palavras,   atitudes,   ações   e   forma   de   nos   expressar   produzam   qualquer
dissensão   ou   resultem   em   demolição   na   igreja.   Não   estamos   aqui   para   edificar   a   autoridade
humana;   antes,   estamos  aqui   para   edificar   a   igreja   de   Deus,   de   modo   que  Sua   autoridade   se
manifeste nela. Portanto existem coisas que não devemos dizer, ações que não devemos
tomar e atitudes que não devemos expressar. Isso requer que aprendamos na presença
do Senhor. 

CAPÍTULO 4
A IMPORTÂNCIA DA EDIFICACÃO REVELADA EM JOÃO 14

Leitura Bíblica: Jo 14

João 14 parece ser de fácil leitura e existem muitos comentários sobre esse capítulo da Bíblia, mas na
verdade é um capítulo de difícil compreensão. Falta  à  maioria das pessoas luz adequada no que diz
respeito   a   ele.   Pela   condução   do   Senhor   e   mediante   nossa   experiência,   estamos   começando   a
compreender seu verdadeiro significado. 

Esse   capítulo   fala   da   edificação   de   Deus   no   universo.   O   ensino   dos   Irmãos   Unidos   resultou   na
conclusão equivocada de que João 14 é um capítulo profético. Eles consideram o que o Senhor diz no
versículo 3, quando se dirige aos discípulos antes de Sua partida do mundo, como uma palavra profética.
Eles entendem que esse versículo significa que o Senhor Jesus iria aos céus a fim de preparar lugar

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para nós, e depois que esse lugar estivesse preparado Ele viria e nos levaria aos céus para estar com
Ele. Desse modo, os Irmãos Unidos decidiram que esse capítulo trata de profecia. No entanto a idéia
contida nesse capítulo é mais significativa, profunda e elevada do que a idéia que eles atribuem a ele.
Eles não perceberam o verdadeiro sentido do versículo 3.
 
A IDÉIA CENTRAL: CRER EM DEUS, CRER TAMBÉM NO SENHOR 
No versículo 1, o Senhor diz: "Não se turbe o vosso coração; crede em Deus, crede também
em Mim". Esse versículo é o tema do capítulo 14. A Versão União Chinesa  [Chinese Union Version]
traduz   esse   versículo   exatamente   como   a   Versão   Restauração   em   português   acima   citada;
entretanto   a   palavra   em   é   na   verdade  para   dentro  de   no   original   grego.  Por   essa   razão,   a
tradução literal poderia ser: "Crede para dentro de Deus, crede também para dentro de
Mim". A preposição grega que significa para dentro de é eis. É a mesma palavra utilizada na frase:
batizados em Cristo Jesus em Romanos 6:3. Essa preposição significa para dentro de. Por exemplo,
se temos uma caixa e enfiamos a mão através de um buraco existente de um lado dela, nossa mão
vai para dentro da caixa. Portanto para dentro de transmite melhor o sentido da palavra em grego. 

A idéia central em João 14 é: "Crede para entrar em Deus, crede para entrar também em
Mim". Como aqueles que crêem no Senhor Jesus, precisamos  crer para dentro  de  Deus  e  crer para
dentro do Senhor. [Isto é, ser introduzido em Deus ao crer e ser introduzido no Senhor ao crer.] Ao
ler a Bíblia, é muito importante captar o tema central. Por exemplo, Gênesis 1 começa com: "No
princípio, criou Deus os céus e a terra"; portanto o tema central de Gênesis 1 é a criação de Deus.
De modo semelhante João 14: 1 diz: "Crede para dentro de Deus, crede também para dentro de Mim".
Nossa necessidade de entrar totalmente em Deus é o tema central. 

A IDA DO SENHOR É SUA VINDA
No versículo 2, o Senhor diz: "Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, Eu
vo­lo teria dito; pois vou preparar vos lugar". O versículo 1 diz: "Crede  para dentro  de Deus". E o
versículo 2  prossegue: "Na casa de Meu Pai". Essa  é uma grande reviravolta. De acordo com o
entendimento comum, a casa do Pai se refere aos céus. Entretanto a Bíblia afirma que a igreja do
Deus vivo é a casa de Deus (l Tm 3: 15). Ela não diz que a casa do Pai é o céu. Que casa do Pai é
essa, e a que se refere a ida do Senhor? A compreensão errônea dos Irmãos Unidos é que a ida do
Senhor foi Sua partida do mundo para ir aos céus. 

Em João 14:3, o Senhor diz: "E se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos receberei
para   Mim   mesmo".   A   Bíblia   União   Chinesa  [Chinese   Union   Bible],  traduz   a   expressão  para  Mim
mesmo por para o lugar onde estou. Por isso as pessoas entendem esse versículo como se dissesse que
o Senhor nos receberá num lugar ­ o lugar onde Ele se encontra. Porém Ele não se refere a um
lugar.  Sua  palavra aqui significa  que  Ele  nos receberá  Nele mesmo, e não  num lugar
físico. 

"Se Eu for [ ... ] virei" está de acordo com o texto original. A ida do Senhor é Sua vinda. Sua ida
a fim de preparar lugar para os discípulos era Sua vinda a eles. 

DEUS VEIO À TERRA POR MEIO DO HOMEM, E O HOMEM FOI UNIDO A DEUS POR MEIO
DO SENHOR

O versículo 3 prossegue: "Para que onde Eu estou estejais vós também". A que se refere esse
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onde? O Senhor não se referia aos céus, porém ao Pai. Ele estaria no Pai, e nós também. O advérbio
onde  não se refere a um lugar; refere­se a estar no Pai e no Senhor. A ida do Senhor mediante a
morte e ressurreição não era para estar nos céus, mas no Pai. Ao ressuscitar Ele entrou no Pai e
também introduziu os discípulos no Pai.  É  esse o significado de  para que onde Eu estou estejais vós
também. 

  No versículo 4, o Senhor continua: "E para onde Eu vou, vós sabeis o caminho". Os discípulos
não eram os únicos a não saber para onde o Senhor ia. Muitos de nós também não sabem. No
entanto   o   ensino  errôneo   do   catolicismo   diz   que   o   Senhor   foi   para   os   céus   a   fim   de   preparar
mansões para nós. Esse não é um conceito bíblico. Portanto não devemos pensar que vamos para
algum tipo de mansão celestial. No versículo 5, Tomé diz para o Senhor: "Senhor, não sabemos
para onde vais; como podemos saber o caminho?". Esse versículo mostra que, de acordo com a
compreensão de Tomé, o Senhor falava a respeito de ir para um lugar. A resposta do Senhor: "Eu
sou o caminho", demonstra, porém, que Ele não se referia a lugar nenhum. O Senhor afirmou: "Eu
sou o caminho, e a realidade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim" (v. 6). Devido à tradução
ninguém vem ao Pai não estar de acordo com o padrão lingüístico chinês, a versão Bíblia União
Chinesa [Chinese Union BibleJ traduz a segunda parte desse versículo como: "Ninguém vem ao lugar
onde o Pai está, a não ser por Mim". Conseqüentemente as pessoas consideram o lugar onde o Pai
está como os céus ou uma mansão celestial. 
A expressão  ao Pai  no versículo 6 se refere  a crer para dentro  de  Deus,  do  Pai.  Esse versículo não se
refere à nossa ida ao céu por meio do Senhor Jesus, mas ao fato de nos unir a Deus e contatá­Lo.
Ninguém pode tocar Deus ou entrar Nele senão por meio do Senhor Jesus. O Senhor Jesus é o
caminho, a realidade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Ele. Por conseguinte nada tem a ver
com a questão de ir para o céu. De acordo com o ensino dos Irmãos Unidos, esse capítulo fala de ir
para o céu; contudo ele fala de se crer para entrar em Deus e não para ir ao céu. Existe um quadro
de   uma   mansão   celestial   com   uma   escada   que   se   refere   a   Cristo.   O   quadro   também   traz   a
seguinte   inscrição:   "Ninguém   vem   ao   Pai   senão   pelo   Senhor".   Isso   implica   em   que   ir   ao   Pai
corresponde   a   ir  à  mansão   celestial.   Esse   entendimento   está   totalmente   errado.   João   14:6
significa que ninguém pode entrar no Pai a não ser por meio de Cristo; ninguém pode contatar
Deus exceto por meio de Cristo. Portanto  para onde Eu vou  significa que por meio de Sua morte e
ressurreição o Senhor entraria no Pai. 

ESTAR EM DEUS SIGNIFICA ESTAR NOS LUGARES CELESTIAIS 
O pensamento humano sempre conflita com o de Deus. Nossa mente sempre considera ir a
algum lugar ­ seja o céu ou o inferno ­ mas a idéia de Deus é de uma pessoa, e não de um lugar.
Nós pensamos sobre céu e terra; Deus pensa sobre Deus e o homem. O conceito central da Bíblia é
a entrada do Senhor Jesus no homem, e não Sua vinda à terra. O fato de o Senhor ter­se tornado
carne e entrado no homem é Sua vinda à terra. De maneira similar, o homem entra em Deus. Ele
não vai ao céu. Se o Senhor Jesus não entrasse no homem, não poderia ter vindo à terra. Para vir
à  terra,   o   Senhor   Jesus   tinha   de   entrar   no   homem.   Em   outras   palavras,   quando   entrou   no
homem,   Ele   veio  à  terra.   De   modo   semelhante,   o   homem   vai   para   o   céu   entrando   em   Deus.
Quando o homem entra em Deus, está no céu. 

Nosso conceito humano se refere a um lugar, enquanto o conceito divino se refere a uma pessoa.
Entrando no homem, Deus pôde vir  à  terra; entrando em Deus, o homem pode entrar no céu. A
terra está relacionada com o homem, e o céu está relacionado com Deus. Se o Deus do céu viesse à

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terra sem entrar no homem, isso não seria Sua vinda à terra. Ele precisava entrar no homem para
que Sua vinda fosse completa. De igual modo sem entrar em Deus o homem não pode ir ao céu.
Para ir ao céu, ele precisa entrar em Deus. Quando entra em Deus, o homem está no céu. Se
entendermos isso, conseguiremos entender a Bíblia. 

Efésios   2:6   diz:   "E,   juntamente   com   ele,   nos   ressuscitou,   e   nos   fez   assentar   nos   lugares
celestiais   em   Cristo   Jesus".   Podemos   estar   assentados   juntamente   com   Cristo   nos   lugares
celestiais porque estamos Nele. Se não estamos em Cristo, estamos na terra e não nos lugares
celestiais.   No   entanto,   por   estar   em   Cristo,   podemos   sentar   com   Ele   nos   lugares   celestiais.
Podemos sentirmos na terra, todavia, uma vez Nele, estamos também nos lugares celestiais. Não
podemos   estar   no   céu   estando   em   nós   mesmos;   antes,   só   estamos   no   céu   estando   em   Cristo.
Precisamos mudar nosso conceito. 

A CASA DE DEUS É O PRÓPRIO DEUS
O protestantismo adotou a noção católica e sempre fala de ir ao céu. Na realidade, estamos no céu;
fomos assentados com Cristo nos lugares celestiais desde o dia em que fomos salvos, porque no dia
em que cremos Nele entramos em Deus. Não existe base nas Escrituras para os ensinos católicos e
protestantes com relação a ir ao céu. Até mesmo  Paulo não está no céu ­ ele está no Paraíso.
Precisamos compreender que se trata de pessoas: Deus e o homem. Não é questão de lugar: o céu.
O ato de Deus entrar no homem é Sua vinda à terra; o ato de o homem entrar em Deus é sua ida
ao céu. Por essa razão o Senhor disse: "E para onde Eu vou, vós sabeis o caminho" (Jo 14:4). Ele
estava, na realidade, dizendo: "Agora Eu vou para o Pai. Do mesmo modo que entrei no homem
pela   encarnação,   vou   para   o   Pai   para   entrar   Nele   pela   morte   e   ressurreição".   Os   discípulos
entenderam que o Senhor se referia a um lugar e disseram: "Não sabemos para onde vais; como
podemos saber  o caminho?" (v. 5). Então o Senhor lhes falou: "Eu sou o caminho [ ... ] ninguém
vem ao Pai senão por Mim" (v. 6). O caminho é o próprio Senhor e o destino é o Pai. Por
conseguinte, não é questão de lugar, mas de ser introduzido no Senhor ao crer, de ser
introduzido em Deus ao crer. 

Mediante a morte e ressurreição, o Senhor Jesus levou o homem a Deus a fim de entrar em
união com Deus. Quando o homem entra em Deus, penetra no âmbito do céu, isto é, no âmbito em
que   Deus   se   encontra.   A   partir   dessa   perspectiva,   trata­se   de   um   lugar.   O   início   do   capítulo
catorze fala de Deus e da casa de Deus. Ele não pode ser separado de Sua casa.  É  necessário
entrar   em   Deus   para   estar   na   casa   de   Deus.   Quem   entra   Nele   entra   em   Sua   casa.   Portanto
ninguém pode entrar na casa de Deus sem estar Nele. É  preciso estar Nele para entrar em Sua
casa. 

Em Sua encarnação o Senhor Jesus veio da parte do Pai e entrou no homem. Contudo, para
retornar ao Pai, precisou passar pela morte e ressurreição. Por meio da morte e ressurreição, o
Senhor voltou ao Pai a partir do homem. Dessa forma o Senhor estaria no Pai. Era para lá que Ele
ia. A vinda do Senhor foi uma questão de entrar no homem, e não de vir à terra. Sua ida foi uma
questão   de   ir   para   o   Pai,   não   de   ir   ao   céu   (v.   28).   O   Senhor   entrou   no   homem   mediante   a
encarnação e entrou no Pai mediante a morte e ressurreição. O Evangelho de João de fato afirma
que o Senhor Jesus ascendeu ao céu. Ele diz: "Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que do céu
desceu: o Filho do Homem, que está no céu" (3:13). Porém não devemos dizer que a ida do Senhor
ao Pai se refere à  Sua ida ao céu. Ele não retornou ao céu. Ele se encontrava na ocasião com os
discípulos, e habita em nós o tempo todo. Uma vez que quer habitar conosco, como poderia deixar­

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nos? Portanto Sua ida  no capítulo catorze não se refere à ida ao céu, e sim à ida ao Pai a partir do
homem. "Crede para dentro de Deus, crede também para dentro de Mim": esse é o tema desse capítulo.
O   próprio   Senhor   é   o   caminho   para   crer   e   entrar   em   Deus.   O   Senhor   entrou   no   Pai   pela   morte   e
ressurreição, e nós entramos no Pai pelo Senhor. 

"Se vós Me tivésseis conhecido, conheceríeis também a Meu Pai. Desde agora O conheceis e O tendes
visto" (v. 7). O Senhor queria que os discípulos soubessem que não se tratava de posição ou lugar, porém
de uma pessoa, isto  é, o Pai. Filipe disse: "Senhor, mostra­nos o Pai, e isso nos basta" (v. 8). Jesus
respondeu: "Há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido, Filipe? Quem Me vê a Mim, vê o
Pai; como dizes tu: Mostra­nos o Pai?" (v. 9). Essas palavras são muito significativas. Esses versículos
não falam de um lugar; falam de uma pessoa. Falam de Deus, e não dos céus. É questão de entrar em
Deus e não de ir ao céu. Esse capítulo não trata do arrebatamento ou da ascensão; trata do Senhor
Jesus introduzindo o homem em Deus mediante Sua morte e ressurreição. "Crede para dentro de Deus,
crede também para dentro de Mim" é o assunto desse capítulo. Essa questão se refere totalmente a uma
pessoa. 

No versículo 10 o Senhor diz: "Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim? As palavras que 
Eu vos digo, não as falo de Mim mesmo; mas o Pai, que permanece em Mim, faz as Suas obras". 
Enquanto o versículo 2 diz: "Na casa de Meu Pai", o versículo 10 afirma: "O Pai, que permanece em 
Mim". Onde o Pai habita? Onde é Sua casa? Seguindo a lógica, moramos em casa. Nossa casa é onde 
habitamos. Muitos cristãos pensam que a casa do Pai é o céu; porém, o versículo 10 declara: "O Pai, que 
permanece em Mim". Isso mostra que quando o Senhor Jesus estava na terra, Ele era a casa do Pai. 
Não podemos dizer que uma pessoa vive em Taipé e sua casa está em Taichung. Uma pessoa vive em 
sua casa. 

A IDA DO SENHOR PARA PREPARAR LUGAR VISA À AMPLIAÇÃO DE CRISTO 

Se o Senhor Jesus é a casa de Deus, como pôde ir preparar lugar para nós? Sua ida para preparar­
nos lugar é Sua ampliação. Primeira Coríntios 6: 19 diz que nosso corpo é santuário do Espírito Santo
que está em nós. Primeira Pedro 2:5 diz que somos edificados casa espiritual. Efésios 2:21­22 diz que
crescemos para santuário ou templo santo no Senhor, para ser habitação de Deus em espírito. Primeira
Timóteo 3: 15 diz que a casa de Deus é a igreja do Deus vivo. Casa e templo nesses versículos referem­se
à morada de Deus. A casa é o templo, e o templo é a morada. A morada de Deus é um mistério no
universo, pois se trata de uma pessoa, e não de um lugar. A morada de Deus é a igreja, composta de
crentes. Eles são a ampliação de Cristo. Compreendendo esse conceito, entenderemos o que Deus faz no
universo. 

Deus habita na igreja, e a igreja é a casa de Deus. Portanto a igreja possui o elemento humano e o
elemento divino juntamente  com o elemento celestial. Deus está na igreja, e o  céu também está na
igreja. Apesar de estar na terra, a igreja  é celestial, porque o céu está nela. Por isso a igreja é uma
mescla de Deus e o homem, e é a união do céu e a terra. Essa é a morada de Deus, a qual é diferente de
Sua morada no céu. A morada de Deus no céu se constitui apenas de céu; não possui o elemento humano
e não está unida à terra. Contudo a igreja, adquirida por Deus para ser Sua morada,  é um mistério,
porque Ele entrou no homem e com ele Se mesclou. Quando Deus vem, o céu vem também e, porque o
homem está aqui, a terra também está aqui.  Isso é Deus mesclado com o homem e a união de céu e
terra. Embora não seja da terra, essa entidade está na terra. Embora esteja na terra, ela é do céu

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e possui o elemento divino. Essa morada, a mescla de Deus com o homem e a união do céu com a
terra,   é   a   eterna   morada   que   Deus   está   edificando.  É  esse   lugar   que  o   Senhor   disse   que   iria
preparar, o qual inclui a igreja e o céu. 

Em João 14: 11­12, o Senhor diz: "Crede­Me que Eu estou no Pai, e o Pai em Mim; se não, crede
ao menos por causa das próprias obras. Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em
Mim, esse também fará as obras que Eu faço, e maiores do que estas fará, porque Eu vou para o
Pai".   Nesses   versículos   o   Senhor   disse   que   iria   ao   Pai,   e   também   no   Pai   introduziria   os   que
cressem Nele.  Aqui temos uma  pessoa  e também  um lugar.  O céu  pode  ser expresso  na terra
porque está em Deus e  é expresso pelo mesclar de Deus com o homem. Isso  é um mistério. O
elemento celestial pode ser expresso na terra mediante a mescla de Deus com o homem. Essa  é a
Nova Jerusalém. 

A   Nova   Jerusalém,   assim   como   a   igreja,   possui   a   mescla   de   Deus   com   o   homem,   e   o   céu
também está mesclado com ela. A igreja se compõe de crentes que estão mesclados com Deus e que
possuem a condição, o elemento, celestial que também está em nós. Desse modo, Deus e o céu são
expressos na terra. Apesar de isso se dar apenas como uma miniatura, ainda assim não podemos
compreendê­la por completo. No novo céu e nova terra vindouros, a  época da maturidade e da
plenitude, Deus estará totalmente mesclado com o homem, e o homem entrará plenamente em
Deus. Deus tomará o homem por Sua morada, e o homem terá Deus como sua habitação. Assim os
elementos divinos e celestiais serão introduzidos no homem e expressos na terra.  É  isso o que o
Senhor Jesus quis dizer ao afirmar que iria preparar­nos lugar. 

A EDIFICAÇÃO COMO O ÚNICO ALVO DE DEUS
Não devemos pensar que depois de Deus ter salvado a todos nós pecadores e terminado  de
construir mansões para nós no céu, Ele virá e nos levará para viver nelas.  Deus tem apenas
uma obra de edificação no universo, na qual os pecadores são salvos para ser materiais de
construção  que  são, então,  mesclados  com  Deus.  O elemento  celestial  também  faz  parte  dessa
mescla. Essa é a edificação de Deus, onde Deus toma o homem como Sua morada e o homem toma
Deus como sua habitação. Essa é uma habitação misteriosa; é "cidade que tem fundamentos, da
qual Deus é o arquiteto e edificador" (Hb 11:10). Em todo o universo Deus só tem essa única obra,
essa única edificação. Nesse edifício Deus está mesclado com o homem, e o céu está unido à terra. 

A Bíblia toda nos mostra a obra de edificação de Deus, cuja conclusão é a manifestação da Nova
Jerusalém.   A   Nova   Jerusalém   é   Deus   no   homem,   isto   é,   Deus   tomando   o   homem   como   Sua
habitação. Também é o homem em Deus, isto é, o homem tomando Deus como sua morada. No
fim,   Deus   e   o   homem,   o   homem   e   Deus   estarão   mesclados.   Deus   introduz   o   céu   na   Nova
Jerusalém;  nela  estão   a   condição  e   o   elemento   celestial.  Além  disso,  a   Nova   Jerusalém  não   é
apenas expressa na terra, mas também unida à terra. Deus e o homem são mesclados; o céu e a
terra   são   unidos.   O   homem   toma   Deus   como   sua   morada,   e   Deus   toma   o   homem   como   Sua
habitação. Essa é a edificação de Deus no universo. Ainda que seja chamada de um lugar porque o
céu está incluído e é expresso na terra, é também uma pessoa porque Deus está no homem. É isto o
que Deus edifica hoje: a cidade que tem fundamentos, cujo arquiteto e edificador  é Deus. Esse
edifício é o lugar que o Senhor está preparando. Por essa razão, Apocalipse 21:2 utiliza a palavra
preparada: "A nova Jerusalém, descendo do céu da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada
para seu noivo" (TB). 

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O alvo da obra de Deus é a edificação: para isso Ele salva os pecadores e instrui os santos. A Nova
Jerusalém é composta de todos os crentes salvos. Conforme Apocalipse 21, a cidade possui um muro e
doze portas. Os nomes das doze tribos dos filhos de Israel estão inscritos nelas, e o muro tem doze
fundamentos com os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (vs. 12­14). Deus não está edificando
uma habitação com o propósito de nos levar para lá quando estiver terminada. Isso não está de acordo
com a revelação da Bíblia. 
Nós somos a casa, a habitação, que Deus edifica. Somos o templo de Deus, Sua morada por meio do
Espírito Santo. Como pedras vivas, somos edificados casa espiritual (1 Pe 2:5). Em sua completação, o
templo   se   ampliará   tornando­se   uma   cidade.   Por   isso   não   existe   nenhum   templo   nessa   cidade   (Ap
21:22). A cidade é a ampliação do templo. 

A obra de Deus é edificar uma habitação para Si no universo. Por esse motivo, ao falar da cidade, o
versículo 3 diz que é o tabernáculo de Deus com os homens, e Ele habitará  (armará tabernáculo,  no
original)   com   eles.   Salvar   os   pecadores   e   instruir   os   santos   não   são   o   alvo   de   Deus.   Ele   salva   os
pecadores   e   instrui   os   santos   para   adquirir   um   edifício   na   terra.   Sua   edificação   é   um   homem
corporativo, não um indivíduo. Essa é Sua morada. 

João 14 mostra o que Deus faz hoje no universo. Salvar pecadores e instruir os santos  é apenas
parte de Sua obra. Ele faz uma obra de edificação e quer preparar uma habitação. Essa habitação é uma
entidade   misteriosa.  É  Deus   mesclando­Se   com   o   homem   e   transformando­o   Nele   mesmo.   Essa
edificação inclui também o elemento celestial, e o céu é unido à terra. É essa obra que Deus realiza hoje.
Se conseguirmos compreender esse ponto  à medida que lermos o Novo Testamento, seremos grande
mente iluminados e entenderemos o significado da Nova Jerusalém e da igreja. Entenderemos também
qual é nosso alvo e propósito na obra do Senhor. Não estamos aqui meramente para salvar pecadores e
instruir os santos. Antes, nosso alvo é o edifício de Deus, Sua habitação na terra. 

Deus realiza uma obra de edificação. O Evangelho de João, Atos dos Apóstolos e as epístolas nos
mostram as pedras a ser utilizadas na edificação de Deus. Atos 4:11 diz que Cristo é a pedra angular;
Efésios 2:22 diz que somos edificados Nele para habitação de Deus. Em 1 Coríntios 3, Paulo diz que
somos o edifício de Deus (v. 9) e que devemos cuidar como edificamos (v. 10). "Se o que alguém edifica
sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra
de  cada  um"   (vs.   12­13a).   Hebreus  11:   10   fala  da  "cidade   que  tem   fundamentos,   da  qual   Deus   é   o
arquiteto  e  edificador".   Deus  está projetando  e construindo  uma  cidade.   Segundo   o versículo  40,  os
santos do Antigo Testamento necessitam dos crentes do Novo Testamento para receber a promessa de
Deus. 

Apesar de Abraão ter sido edificado por Deus, muitos nos tempos do Novo Testamento não o foram.
Em decorrência disso, a cidade ainda não se manifestou. Entretanto se manifestará e estará preparada
e  edificada no  fim  de Apocalipse.  Apocalipse  21:3 diz  de modo claro  que a  Nova  Jerusalém  é  Deus
"armando tabernáculo" com os homens.  Ela é repleta do elemento celeste, mas se expressa na
terra.  É  a  união do céu com a terra,  o homem e  Deus mesclados. Não é uma bênção para crentes
espirituais de forma individual. O templo de Deus se torna uma cidade, a habitação de Deus. É isso o
que Ele quer e está fazendo. Esse é Seu alvo, Sua obra central. 

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CAPÍTULO CINCO
A UNIDADE EM JOÃO 17

Leitura Bíblica: Jo 17
O PROCESSO DA UNIDADE
João 17 é a oração do Senhor na qual Ele pede ao Pai que cumpra tudo o que foi falado nos capítulos
catorze a dezesseis. No capítulo catorze, o Senhor falou acerca do Consolador que estava por vir; no
quinze falou da videira, mostrando que nosso relacionamento com Ele se assemelha à união da videira
com os ramos; e no dezesseis disse que o fator singular e inigualável dessa união é o Espírito Santo. O
Espírito Santo vem não só para nos convencer do pecado a fim de nos unir ao Senhor em amor, mas
também para nos transmitir tudo o que o Pai e o Filho têm. 

João 17:  1 começa com  "Essas  coisas   falou Jesus",  onde  "essas  coisas"  se  refere  ao conteúdo  dos
capítulos catorze a dezesseis. Depois de dizer o que disse nesses capítulos, o Senhor orou ao Pai: "Pai, é
chegada a hora. Glorifica a Teu Filho, para que o Filho Te glorifique a Ti" (v. 1). O Senhor profetizara
que seria glorificado e que o Pai seria glorificado Nele (12:23; 13:31­32). 

Em 12:24 Ele disse que morreria como grão de trigo para que a casca da Sua humanidade se
partisse e a vida divina em Seu interior fosse dispensada a muitas pessoas para ser expressa por
meio delas. Como essa vida divina  é o elemento divino de Deus Pai, o Pai é glorificado no Filho
mediante a glorificação do Filho. 

A frase "vou para Ti" em 17:11, confirma as palavras do Senhor no capítulo catorze, que Ele iria
para o Pai e Sua ida era a Sua vinda. Conseqüentemente a oração do Senhor no capítulo dezessete
revela o significado do que foi dito nos capítulos catorze a dezesseis. O Senhor desejava que todos
os crentes fossem um assim como os três do Deus Triúno ­ o Pai, o Filho e o Espírito Santo ­ são
um. 

João 14:20­24 diz: "Naquele dia, vós conhecereis que Eu estou em Meu Pai, e vós em Mim, e Eu
em vós. Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda, esse é o que Me ama; e aquele que Me
ama será amado por Meu Pai, e Eu o amarei e Me manifestarei a ele. Disse­Lhe Judas, não o
Iscariotes: Que houve, Senhor, que Te hás de manifestar a nós, e não ao mundo? Respondeu­lhe
Jesus:  Se   alguém  Me  ama,  guardará  a  Minha  palavra;  e  Meu  Pai  o   amará,  e  viremos   a  ele  e
faremos com ele morada. Quem não Me ama  não guarda as Minhas palavras; e a palavra que
estais ouvindo não é Minha, mas do Pai que Me enviou". Esses versículos mostram como a unidade
passa a existir. Por Sua morte e ressurreição, Sua ida, o Senhor entrou em Deus e Nele introduziu
também o homem, fazendo de Deus a habitação do homem e do homem a morada de Deus. É assim
que a unidade passou a existir. 

Essa unidade é conseqüência da edificação, o resultado de o Senhor ter ido preparar lugar. A
preparação de um lugar é a edificação; e essa obra de preparação é a obra da edificação, que tem
por resultado a unidade. 

A UNIDADE É MEDIANTE A EDIFICAÇÃO
Numa casa física todos os materiais estão unidos como um só porque foram edificados. Isso

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também se aplica ao edifício espiritual.  Se um irmão não vive a edificação, será difícil ser
um   com   os   irmãos   da   igreja.  Uma   pedra   ou   uma   tábua   precisa   passar   pelo   processo   de
edificação   para   se   tornar   parte   da   casa.   Efésios   4:   11­13   nos   mostra   que   Deus   deu   apóstolos,
profetas, evangelistas e pastores e mestres como dons para o aperfeiçoamento dos santos para a
edificação do Corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao pleno conhecimento do
Filho de Deus. A unidade  é  o resultado da  edificação, e não é  mera questão  de ter os mesmos
pontos de vista e opiniões. A unidade é questão de ser edificado. 

Antes de o Espírito Santo descer no dia de Pentecostes, as cento e vinte pessoas no cenáculo
eram unânimes. Todos perseveravam unânimes em oração (At 1:14). Sua unidade não surgiu de
modo instantâneo. Antes de orar em unanimidade, os discípulos haviam recebido o Espírito Santo
(Jo 20:22). Isso se tornou o fator de sua unidade, capacitando­os a orar com uma só alma. Eles
também estiveram sob a liderança do Senhor Jesus por três anos e meio e por Ele foram ensinados
durante quarenta dias após Sua ressurreição (At 1:3). 

A dimensão da edificação determina a dimensão de nossa unidade. Por exemplo, mesmo que os
irmãos da igreja em Taipé não tenham opiniões a impor nem discutam, não podemos afirmar que
isso seja unidade. A genuína unidade advém de ser edificado. Talvez não haja unidade nem entre
os que servem.  A ausência de contendas não significa necessariamente que somos um.
Uma coisa é não discutir; outra bem diferente é ser um. Para ter unidade, precisamos ser
edificados por Deus. Por esse motivo, não podemos afastar­nos da igreja, não podemos afastar nos
dos irmãos com quem devemos ser edificados. Uma peça de madeira pode ser bom material de
construção,   porém,   se   não   for   edificada   como   parte   da   casa,   será   inútil.   Não   basta   ser   bom
material. Somente quando os materiais são edificados como parte da casa pode existir a genuína
unidade. 

A BÊNÇÃO DE DEUS ESTÁ NA UNIDADE
A bênção de Deus para a igreja está na unidade. O Espírito Santo se move na unidade, o poder
do evangelho se encontra na unidade, a autoridade de Deus reside na unidade, a luz de Deus  é
encontrada   na   unidade   e   o   suprimento   da   vida   divina   também   se   encontra   na   unidade.   No
entanto,   para   haver   unidade,   é   necessário   que   haja   a   edificação.   Sem   a   edificação   não   existe
unidade genuína. Mesmo que exista algum tipo de unidade, ela não durará. Apenas quando somos
edificados   podemos   ter   a   genuína   unidade.   Podemos   servir   juntos   sem   ser   um.   Podemos   não
tentar impor nossas opiniões e ainda assim não ser um. Somente quando somos edificados pode
existir a unidade. Não experimentamos a bênção de Deus de forma abundante nem Sua presença
é evidente entre nós, porque não há edificação o bastante entre nós. Isso é prova tremenda de que
nos falta submissão à autoridade. 

Pode ser que não discutamos nas reuniões, porém não somos unânimes, porque não há muita
edificação entre nós. Quando os irmãos vêm às reuniões, não há nem harmonia nem coordenação
no espírito. Até mesmo os que servem são independentes. Isso demonstra que ainda não fomos
edificados. 

Amamos o Senhor e nos dispomos a buscá­Lo. Mesmo que nos sintamos incomodados quando
faltamos   às   reuniões,   isso   não   mostra   que   fomos   edificados.   Oramos   quando   nos   sentimos
inspirados e guardamos silêncio quando não temos nenhuma   inspiração. Não nos importamos

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com a condição dos irmãos e não nos incomodamos se somos cristãos isolados. Apesar de salvos e
de participar das reuniões, estamos destacados e isolados. Até mesmo os que servem em tempo
integral são assim. Quando vêm a uma reunião, sentem­se isolados e destacados no espírito. Isso
faz com que o espírito da reunião seja fraco. 

Se os que servem estiverem em harmonia, coordenados e com o mesmo sentimento, a
reunião será poderosa, significativa e repleta de bênçãos. Isso prova que a presença de
Deus está na edificação. Portanto a chave para a bênção de Deus e Sua presença está
na edificação entre os que servem. 

Um carro é uma boa ilustração. Quando pisamos no acelerador, o carro se move porque ele foi"
edificado".   Se  tivermos   apenas   peças   separadas   de   carro   muito   bem   pintadas,   o   carro   não   se
moverá, porque as peças separadas não foram montadas, ou "edificadas". Usando a mesma figura,
algumas vezes os que servem numa reunião foram "desmontados". Não estão coordenados, antes
são independentes e cada um faz o que acha que deve. Isso demonstra que os que servem não
foram edificados como um só. Isso dificulta que os santos sob os seus cuidados sejam edificados
também.   O   resultado   é   que   as   orações   e   as   atividades   nas   reuniões   são   independentes,
individualistas, não corporativas e não em unidade. 
Uma pilha de boas auto peças não montadas ou coordenadas é inútil. Sem edificação não há
como o carro se  mover.  Em  1946  trabalhei  em Xangai e  Nanking.  Toda  vez que  voltava  para
Nanking, via clara unanimidade, seja nos cânticos, nas orações ou na mensagem. Na reunião da
mesa do Senhor, todos os santos em Nanking testificavam da mesma coisa. Eram nossa carta de
recomendação. Até mesmo os que só iam às reuniões vez ou outra sentiam­se renovados.

Hoje   sinto   um   espírito   de   independência   em   muitas   reuniões.   Cada   um   age   de   forma


claramente individualista. Funcionamos com base em nossa inspiração do momento. Oramos ou
pedimos   um   hino   quando   estamos   inspirados.   No   entanto   estamos   desconectados   e   desunidos.
Apesar de não brigarmos, não há edificação. Não só não há a edificação orgânica como também há
a demolição. Por exemplo, dois irmãos podem ter boa coordenação juntos, porém quando outros se
juntam  a eles,  tropeçam  em sua  coordenação. Como  estamos  destacados e por isso  nos  falta  a
edificação, não é fácil ver as bênçãos de Deus e Sua presença em nosso meio. 

Não   é   fácil   encontrar   a   presença   de   Deus   na   espiritualidade   individual.   Sua   presença   se


manifesta onde existe unanimidade, onde há harmonia. Por isso o Senhor disse em Mateus 18:
"Em   verdade  ainda  vos   digo   que,   se   dois   dentre   vós   sobre   a   terra   concordarem   a   respeito   de
qualquer   coisa   que   pedirem,   ser­lhes­á   feita   por   Meu   Pai   que   está   nos   céus.   Porque   onde
estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, ali estou no meio deles" (vs. 19­20). 

Sem   unanimidade   em   nosso   meio,   não   podemos   esperar   alguma   bênção,   mesmo   que
trabalhemos   de   forma   diligente   sem   brigas   e   sem   discussões.   Outros   podem   ser   muito   bem­
sucedidos com pouco esforço, mas nós temos pouco sucesso não importa quanto nos esforcemos.
Mesmo que recebamos a bênção de Deus e nossa obra ajude outros a aprender em vida, receber
instrução  espiritual  e amar  o Senhor,  ainda  não conseguiremos  empreender  uma  obra  eterna.
Nossa  obra não  produzirá  edificação. Não  levará  os  santos  a  servir o  Senhor  em amor,  sendo
dependentes uns dos outros e fazendo deles a habitação de Deus. Ele não quer pessoas que sejam
meramente salvas e se tornem espirituais de modo individual. Ele quer a edificação.

Se   formos   apenas   instruídos,   sem   permitir   que  Deus   faça   uma   obra   de   edificação   em   nós,
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administraremos a igreja como presbíteros, porém nossa administração não terá o elemento da
edificação. Sendo colaboradores ou os que ministram a palavra, não teremos como resultado a
edificação. Nossa palavra pode levar outros à salvação e a ser espirituais, mas nada pode produzir
para edificação. Podemos ser capazes de reunir muito material para edificação e trabalhar nele,
porém não será utilizado para a edificação com outros materiais. Podemos conseguir visitar as
pessoas e ajudá­las a ser espirituais, ainda assim não haverá nenhuma edificação. 

Que Deus tenha misericórdia de nós para nos fazer humildes. Não devemos pensar que, por
salvar algumas pessoas para o Senhor, sabemos realizar a obra de Deus. Não é isso o que Ele
quer. Ele quer um edifício. Onde há edificação, existe unidade; onde existe unidade, existe algo
genuíno. É isso o que Deus quer. 

DIFICULDADES E PROBLEMAS  DEVIDOS PRINCIPALMENTE AO INDIVIDUALISMO
Existem alguns assuntos que me fazem sofrer. Depois de ouvir um irmão falar, alguns vieram
a mim e reclamaram que  ele atacou outros em sua fala. Quando os irmãos dão mensagens, o
propósito deles é instruir. Com relação ao conteúdo das mensagens, não creio que digam alguma
heresia. Também não existe a necessidade de atacar outras pessoas enquanto falam. Se somos
movidos por questões emocionais em nossa atividade, não faremos a obra de edificação. Os santos
têm a simplicidade das crianças. Os irmãos devem cooperar com Deus a fim de falar da parte de
Deus, com o propósito de edificação e não de demolição. Os que ministram a palavra não devem
oferecer ajuda com uma das mãos e transmitir germes com a outra. Caso contrário, os santos serão
instruídos e feridos ao mesmo tempo. Isso resultará na demolição do edifício. 

Depois   de   ouvir   uma   mensagem   dada   por   um   jovem,   algumas   pessoas   vieram   a   mim   e   me
inquiriram sobre o que ele falou. Isso indica que há um espinho em sua obra que torna as pessoas
desconfortáveis.   Podemos   entender   que   realizamos   uma   obra,   contudo   não   percebemos   que   há   um
espinho interferindo nela. Esse tipo de obra não é proveitosa. Nossas mensagens não devem atacar as
pessoas;   devem   ser   positivas.   Nossa   fala   deve   transmitir   vida.   Não   deve   levar   as   pessoas   a   fazer
comparações negativas ou a ter um sentimento crítico ou de julgamento. O alvo quando falamos é a
edificação. Portanto não devemos dar a impressão aos santos de que o que falamos é mais elevado do
que   o   que   os   outros   falam.   Em   vez   disso,   os   santos   devem   perceber   que   a   nossa   palavra   está   em
harmonia com a dos demais. Eles não deveriam ficar com a sensação de que um irmão ataca outro
quando   prega.   Embora   falem   de   diferentes   perspectivas,   eles   são   um.   Por   essa   razão,   precisamos
esforçar­nos para falar palavras que edificam.  Isso requer  que estejamos quebrantados  e edificados
juntos. Do contrário, não será possível fazer a obra de Deus. Esse é um assunto solene. 

Embora as igrejas estejam fundamentadas em base adequada, a situação entre elas parece ser a de
governo autônomo. Não devemos ter aromas locais distintos; antes, devemos ter apenas o aroma de
Cristo. Por exemplo, se vamos à cidade de Kaohsiung, devemos ter a sensação de que somos apenas a
igreja em Kaohsiung. Um crente pode estar somente em uma cidade, e deve servir para a edificação ali. 

Isso,   porém,   pode   causar   um   novo   problema,   caso   a   igreja   numa   cidade   não   esteja   disposta   a
manter   comunhão   com   outras.   Quando   várias   cidades   foram   erguidas   pelo   Senhor,   os   irmãos   não
sabiam   administrar   a   igreja   e,   portanto,   dependiam   de   outras   igrejas.   Por   exemplo,   as   igrejas   em
Taiwan e em Kangshan dependiam da igreja em Kaohsiung. Depois de progredir um pouco, passaram a
cuidar   de   si   mesmas   sem   depender   de   Kaohsiung.   Apesar   de   não   brigar,   discutir   ou   entrar   em
contendas com a igreja em Kaohsiung, eles têm um governo autônomo. Os de Kaohsiung podem até

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partir   o   pão   com   eles,   no   entanto   existe   um   sentimento   de   independência.   Não   há   nem   mesmo   a
edificação entre os santos individualmente. A falta de edificação entre as igrejas resulta da falta
de edificação entre os santos. 

Os irmãos responsáveis pela obra com jovens não dependem uns dos outros para ter vida. Isso é
muito decepcionante. Eles são inteligentes e habilidosos e sentem que é mais eficaz trabalhar sozinho.
Esse labor individual, entretanto, não produzirá resultado. Apesar de não brigar ou discutir com os
outros, são incapazes de trabalhar juntos e servir ao Senhor com uma só alma. Portanto, não há bênção.

Não podemos enganar os outros com relação à nossa verdadeira condição. Quando outros tocam em
nosso espírito, conseguem perceber nossa real condição e sabem com certeza se somos ou não honestos.
Os   responsáveis   pela   obra   com   os   jovens   não   possuem   espírito   corporativo.   Podem   até   dizer   que
necessitam uns dos outros e não podem ser independentes; no entanto no coração desejam não ter de
trabalhar com outras pessoas. 
Se queremos ter a bênção do Senhor e Sua presença, e se queremos que os outros sejam aperfeiçoados,
precisamos   aprender   a   ser   edificados   juntos.   Precisamos   fazer   cada   obra   na   posição,   atmosfera   e
espírito   de   ser   edificados.   Somente   assim   nosso   empenho   produzirá   o   resultado   que   Deus   busca   e
abençoa.   Se   de   fato   formos   iluminados   por   Deus   com   essa   verdade,   iremos   prostrar­nos   em   Sua
presença e dizer: "Não posso viver à parte dos outros. Preciso ser edificado independente de quão
espiritual eu sou". 

A EDIFICAÇÃO COMO A SOLUÇÃO DE TODOS OS PROBLEMAS NA IGREJA E COMO A
INTRODUÇÃO DAS BÊNÇÃOS DE DEUS
Paulo foi o maior apóstolo do Senhor. Contudo, ao escrever a Epístola de 1 Coríntios, declarou:
"Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes"
(1:1). A referência de Paulo a Sóstenes demonstra que ele tinha consciência do Corpo e espírito de
coordenação. Tenho dúvidas que muitas pessoas tenham prestado atenção ao nome de Sóstenes. 

O espírito do apóstolo é diferente do nosso. O isolamento entre nós se aprofunda cada vez
mais. Todos são capazes, os mais jovens e os mais velhos, e é como se não houvesse necessidade
de depender uns dos outros. Os mais velhos acham que são mais experientes e sabem tudo sobre
a   administração   da   igreja.   Sentem   que   sabem   ser   presbíteros.   Apesar   de   não   dizer  isso,   é   a
atitude que cultivam no espírito. Podemos ser gentis e chamar isso de espírito de demolição, mas
na verdade trata­se de espírito de rebelião. Quando um irmão fala, alguns podem ser críticos e
dizer no coração: "Já sei isso". Esse tipo de espírito é destrutivo para a obra de Deus. 

Não devemos esperar que nossa obra seja abençoada se estamos isolados e agimos
de   forma   individual.   Não   devemos   esperar   que   uma   obra   realizada   assim   produza
edificação.  Como ministramos a palavra e participamos da  obra  de  Deus  de alguma  forma,
haverá resultados. Até a obra da Igreja Católica produz resultado. Precisamos perguntar­nos, no
entanto, se essa obra produz o que Deus quer. Será que a Igreja Católica pode instruir dois ou
três milhões de pessoas para que vivam unânimes, amem­se mutuamente e tomem posição por
Deus? As pessoas que forem instruídas por ela serão cheias de opinião própria. Deus não pode
edificá­las. Ele não pode obter uma habitação, uma morada, nelas. 

Pela   misericórdia   de   Deus,   que   enxerguemos   a   necessidade   de   ser   edificados   e   assim   nos

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dedicar a uma obra que edifique outros. Quando levamos pessoas à salvação, é preciso que haja
elemento de edificação. Quando as levamos  à  salvação, precisamos não só torná­las espirituais,
como também edificá­las. Depois de conduzi das ao Senhor por nosso intermédio, elas devem não
só   amar   o   Senhor,   mas   também   ser   edificadas   juntamente   com   outras   pessoas.   Seguindo   o
mesmo princípio, os presbíteros não precisam só administrar a igreja, mas também edificá­la.
Assim,   os   irmãos   sob   sua   administração   serão  unânimes   e   dispostos  a   se   submeter  a  outros,
considerando a submissão como sua glória. Essa é a gloriosa obra que precisamos realizar aqui. 

Só capacidade não basta. Se forem comparados aos presbíteros, alguns irmãos mais jovens podem
ser   mais   aptos   em   termos   de   habilidades   pessoais   e   capacidade   intelectual.   Isso,   porém,   não
significa   que   possam   servir   como   presbíteros.  As   qualificações   para   ser   presbítero   não
dependem de habilidades ou de capacidade intelectual, mas de ele ser quebrantado e
submisso. É possível que em nossa obra como presbíteros, acabemos gerando santos inclinados à
dissensão   e  à  rebelião.   Nosso   serviço   pode   levar   as   pessoas  à  salvação   e   fazer   delas   pessoas
espirituais que amem ao Senhor com zelo, porém que não sejam edificadas. Por favor, permitam­
me que lhes diga algo solene: desde o início do ano venho sentindo que Satanás quer que façamos
uma   obra   ao   mesmo   tempo  espiritual   e   cheia   de   zelo,   mas   também   demolidora   e   carente   de
submissão mútua. 

Muitos   jovens   foram   envenenados   quanto   a   esses   aspectos.   Precisamos   proclamar   uma
advertência:   os  que  desejam  servir   ao   Senhor  precisam  tomar   o   caminho   da  edificação.   Se   há
conhecimento,   porém   falta   edificação,   está   aberto   o   caminho   para   a   rebelião.   Se   há
"espiritualidade", porém não há edificação, esse é o caminho de Satanás. Nos dois mil anos de
história da igreja, ninguém foi usado por Deus sem estar disposto a se colocar sob Sua mão e ser
submisso.   Deus   não   quer   realizar   uma   obra  hoje   apenas   de   salvar   pecadores  e   aperfeiçoar   os
santos. Sua obra primordial é edificar uma habitação. 

Jamais devemos pensar que a edificação não é essencial ou que seja facilmente "fabricada".
Deus precisa trabalhar muito a fim de edificar uma pessoa isolada. Ele quer que entremos na
glória. Quer que sejamos edificados juntamente com outros como Sua gloriosa habitação.  Sem
estar   coordenados   e   edificados   com   outros,   não   poderemos   entrar   na   glória.  Se
pudermos viver e trabalhar de forma coordenada, Deus acrescentará outras pessoas que também
sejam aptas a viver e trabalhar desse modo. Se Deus não puder realizar Sua edificação em nós
hoje, Ele o fará mais tarde. Os que entram na glória de Deus precisam ser edificados por Ele. 

Para ser edificados, é crucial ser capazes de nos coordenar com outros. Para estar coordenados,
precisamos ser quebrantados. Talvez nos consideremos pedras excelentes, porém não conseguimos
ser   edificados   juntos.   De   modo   semelhante,   podemos   considerar   alguém   que   é   capaz   de   se
coordenar   com  outros   como   uma   pedra   feia.   Isso   apenas   mostra   que   o   que   de   fato   importa   é
alguém ser capaz de ser edificado junto a outros e não seu grau de "espiritualidade". 

Não é fácil para Deus encontrar um grupo de pessoas dispostas a se sujeitar mutuamente e a
ser edificadas por Ele juntas. Deus quer derramar Sua bênção, contudo não é nada fácil achar
vasos assim. O Senhor afirmou que se dois ou três estiverem reunidos em harmonia, Ele estaria
com eles e as suas orações seriam respondidas (Mt 18:19­20). Em outras palavras, as bênçãos de
Deus estão onde quer que a edificação se manifeste. Se dez por cento dos que servem em Taipé
estiverem unânimes, a bênção de Deus acompanhará seu serviço. Por outro lado, se não existirem

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discussões   em   uma   cidade,   mas   também   não   existir  edificação,  a  bênção   de   Deus  não  se   fará
presente. A bênção de Deus se baseia na unanimidade, na harmonia de espírito uns com os outros,
na verdadeira coordenação entre nós e na unidade genuína. Por exemplo, se cinco irmãos e quatro
irmãs se reúnem, os irmãos devem ser submissos uns para com os outros exatamente como as
irmãs.   Se   um   irmão   escolher   um   hino,   todos   devem   cantar   juntos   com   regozijo.   Esse   tipo   de
condição e de espírito trará a bênção de Deus sobre vocês.

O ORGULHO CONVIDA A DESTRUIÇÃO E A HUMILDADE INTRODUZ A BÊNÇÃO
Há também muito orgulho em nosso meio.  É  doloroso ouvir perguntas como: "Por que ele é
presbítero e eu não? Por que ele lidera a igreja toda e eu apenas um grupo nas casas?". Isso  é
orgulho.   O   orgulho   é   fonte   de   suspeitas   e   nos   leva   a   pensar   que   os   presbíteros   têm   alta
consideração por outros, mas não por nós. Isso é vergonhoso. 

Se essa é nossa condição, poderemos pregar mensagens maravilhosas, no entanto nossa obra
não trará resultados. A questão principal é nossa pessoa, e não a forma como falamos. A
habilidade  de pregar  melhor  do  que  Paulo  não  fará  nossa   obra mais eficaz. Tudo depende  do
estado de nossa pessoa. Uma pessoa orgulhosa irá gerar outros orgulhosos. Produzimos frutos de
acordo com nossa espécie. Colhemos o que plantamos. Quem ministra a palavra com orgulho não
deve esperar colher frutos de humildade. Quem administra a igreja com orgulho não deve esperar
colher uma igreja humilde. Se administramos a igreja de forma orgulhosa, ela pode levantar­se
para nos condenar e até rejeitar. A presença de tal condição em nosso meio nos dá um pesado
encargo.   Precisamos   perceber   o   que   Deus   realiza   no   universo   hoje.   Alguém   pode   dizer
orgulhosamente:   "Vejam!   Todas   essas   pessoas   foram   salvas   por   meu   intermédio".   Podemos   ter
conduzido muitos  à  salvação, mas eles podem estar todos doentes, porque nós estamos doentes.
Desse modo causamos dano à igreja e não temos como evitar que nossa doença se espalhe. Os que
amam o Senhor não elogiarão nossa obra. Se esperamos ser igualmente amados e louvados por
quem ama e louva o Senhor, colheremos o fruto de nosso esforço algum dia. 

Em Mateus 7:22­23, o Senhor disse: "Muitos, naquele dia, Me dirão: Senhor, Senhor! não foi em
Teu nome que profetizamos, e em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos
milagres?   Então   lhes   declararei:   Nunca   vos   conheci.   Apartai­vos   de   Mim,   os   que   praticais   a
iniqüidade". Nesses versículos nunca vos conheci significa nunca os aprovei. O Senhor não aprovava
o que eles faziam. Portanto devemos sempre perguntar­nos se nossa pregação do evangelho e nossa
administração da igreja são ou não para a edificação. 

Talvez pensemos que somos competentes para administrar a igreja, porém depois de três anos a
igreja estará em rebelião. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e percebamos que o espírito de
Babel  é rebelião, e isso  é intolerável. Se pudermos acolher com humildade a Sua misericórdia,
seremos abençoados.  Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos livre do espírito de Babel para
que nos tornemos humildes e submissos. 

A semente do orgulho no interior de todos nós é o maior problema para o Senhor em Sua obra de
edificação.   Ela   é   a   fonte   de   nossa   falta   de   edificação.   Se   queremos   ser   edificados,   precisamos
submeter­nos   aos   outros   e   acolhê­los.   Submissão   requer   humildade   e   acolhimento   requer
mansidão. Quem não é submisso nem acolhedor é orgulhoso, sentindo que pode fazer tudo por si
mesmo. 

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APRENDER NO SERVIÇO ­ SER HUMILDES EM RELAÇÃO A NÓS MESMOS E PUROS EM
RELAÇÃO AOS OUTROS
Não existe  status  no serviço do Senhor. Não devemos esperar que os outros nos exaltem. Um
irmão certa vez disse que, se os que servem ao Senhor fossem respeitados, muitos se levantariam a
fim de servi­Lo. Isso  é errado. Ao contrário, quando os servos do Senhor são desprezados, uma
multidão se ergue para servi­Lo. 

No serviço que prestamos não existe essa coisa de posição ou  status  nem devemos


cobiçar isso. Não devemos esperar obter alta consideração ou mesmo ser apreciados.
Devemos, sim, estar preparados para ser maltratados, sem qualquer demonstração de
apreço por nossos esforços. Nosso galardão não advém de homens. 
Essa,   no   entanto,   não   é   nossa   real   situação.   Antigamente   deixamos   muito   claro   que   nosso
caminho era oposto ao do mundo. Deixamos claro que esse não era o caminho para quem almejava
glória. Não devemos dizer que os que servem ao Senhor devem ser respeitados a fim de atrair
outros   para   o   serviço   do   Senhor.   Um   ambiente   desses   comprova   que   estamos   em   estado   de
degradação. Mesmo que fôssemos respeitados, outros se levantariam continuamente para servir o
Senhor; eles não podem ser impedidos. 

Precisamos   conscientizar­nos   de   que   tudo   pertence   a   Deus   e   Ele   assume   toda   a


responsabilidade.   Ele   nos   conduziu   a   esse   caminho.   Isso   é   obra   Dele.   Não   podemos   estimular
outros a isso nem controlá­los.  É  vergonhoso utilizar recursos financeiros com o fim de manter
outros sob controle ou até controlar servos do Senhor. 

O   Senhor   quer   que   toda   obra   dependa   Dele.   A   forma   como   somos   tratados   pelos   outros   é
secundário e não deve incomodarmos. Os que servem o Senhor precisam estar preparados para
depositar tudo em Suas mãos e viver somente para Ele. Deus é totalmente responsável por nossas
necessidades. Vivemos pela fé, mesmo quando precisamos fazer tendas como Paulo (At 18:3; 20:34).

Precisamos   ser   humildes   e   puros   enquanto   servimos.   Ser   humilde   é   colocar­nos   de   lado   e
submeter­nos ao arranjo de Deus. Ser puro é reconhecer que tudo vem de Deus e não temos outras
motivações nem expectativas. Tomamos esse caminho quer as pessoas nos elogiem ou se oponham
a   nós.   Quando   somos   apreciados,   trilhamos   esse   caminho;   quando   não   somos,   ainda   assim   o
trilhamos. Seguimos por ele caso concordem ou não. Segui­Lo é algo totalmente entre nós e Deus;
nada tem a ver com qualquer outra pessoa ou coisa. Quem serve o Senhor deve ser assim. 

Chegando   ao   fim   de   seu   ministério,   Paulo   disse:   "Todos   os   da   Ásia   me   abandonaram",   e


também: "Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram" (2
Tm 1:15; 4:16). Parece que ele queria dizer que muitos receberam seu ministério, porém nenhum
permaneceu   com  ele  em  sua  primeira defesa.  Não  obstante, o   Senhor   permaneceu   com  ele  e   o
capacitou  de   tal   forma  que   por   meio   dele   "a   pregação  fosse  plenamente   cumprida"  (v.  17).  No
desempenho   de   nosso   serviço   não   devemos   desejar   obter   a   comiseração   dos   outros.
Nosso caminho depende do Senhor. 

Todos os que servem ao Senhor necessitam ser humildes em relação a si e puros em relação aos
outros.   Não   devem   almejar   a   aprovação   dos   irmãos   nem   esperar   posição   elevada,   ótimo
tratamento, elogios ou reações positivas. Precisamos ser puros no alvo de buscar somente a Deus.

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Também precisamos ser humildes e nos submeter aos outros e às nossas circunstâncias. Servimos
ao Senhor e os que O amam. Se Ele pôde até mesmo lavar os pés dos discípulos, a quem não
podemos servir? Se o Senhor pôde ir ao Hades, onde é que não podemos servir? Seja numa cidade
grande   ou   pequena,   seja   como   presbíteros   que   administram   a   igreja   ou   apenas   limpando   os
banheiros, precisamos empenhar­nos no serviço. Somente dessa maneira podemos realizar a obra
de edificação. Esse tipo de serviço produzirá um resultado orgânico de edificação. De outro modo,
nosso serviço irá gerar apenas "gigantes". Por favor, não se esqueçam de que só colhemos o que
plantarmos. 

Satanás realiza uma obra sutil para nos tornar individualistas e para vivermos em desacordo,
apesar de não discutir entre nós. Desse modo, trabalhamos com uma das mãos e demolimos com a
outra. Numa situação dessas é difícil ter a bênção; é difícil nossa obra produzir algum resultado
orgânico. A bênção de Deus está em agirmos de comum acordo e na unidade. A genuína unidade
vem com a edificação. Se estamos edificados, podemos estar com os irmãos de qualquer cidade em
qualquer circunstância. Seja como presbítero ou varrendo o chão, servimos com ações de graça e
louvor. Somos flexíveis em nossa coordenação com os outros. 

Se   aprendermos   essa   lição   diante   de   Deus,   nosso   serviço   como   presbíteros   resultará   na
edificação da igreja e nossa limpeza do salão de reuniões também resultará na edificação da igreja.
Assim, não importa que livro da Bíblia os presbíteros querem que estudemos, seja o Evangelho de
João ou as Epístolas aos Tessalonicenses, não teremos preferências pessoais. Desde que sejamos
edificados,   não   importa   onde   somos   colocados   ou   o   que   nos   pedem   que   façamos,   estamos   na
edificação. Tudo depende de ser ou não edificados pelo Senhor, e não se somos ou não solicitados a
ministrar a palavra. 

Os   que   servem   em  tempo   integral   não  adquirem  seu   sustento   pregando;   antes,   são   os   que
sacrificam seu futuro a fim de servir o Senhor. Que sejamos os que estão no coração do Senhor e
aprendem a receber Seu quebrantamento. Que possamos dizer como a irmã M. E. Barber: "Senhor,
não tenho outro desejo além de Ti". 

O AMOR FRATERNO GENUÍNO É A EDIFICAÇÃO
Outra razão para a falta de edificação entre os que servem é a falta de amor uns pelos outros.
Essa falta de amor mútuo me faz sofrer. Não existe amor genuíno entre nós e na verdade não nos
importamos   muito   uns   com   os   outros.   Parece   que   estamos   satisfeitos   com   o   mero   fato   de   nos
entender   uns   com   os   outros.  É  como   se   fôssemos   meros   colegas.  Sem   o   amor   fraternal,
entretanto, perderemos o nosso testemunho e a bênção do Senhor. 

Deve existir amor extraordinário entre os que servem. Esse é um ponto crucial abordado em
João 13­17. A palavra do Senhor para nós e Sua oração foi que nos amemos uns aos outros (13:34;
15:12, 17). Tal amor uns pelos outros advém de nossa unidade com o Senhor, e não é algo comum.
Significa amar uns aos outros na vida divina e no amor do Senhor (17:26). Somente esse amor pode
edificar­nos juntos. 

CAPÍTULO SEIS
EDIFICAR EM AMOR E CONHECER AS PESSOAS
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João 13:34­35 diz: "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu
vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois Meus discípulos,
se tiverdes amor uns pelos outros". As palavras  saberão que sais Meus discípulos  podem também ser
traduzi das por saberão que sais os que Me seguem. João 17:21 diz: "A fim de que todos sejam um; como
Tu, Pai, estás em Mim, e Eu em Ti, que também estejam eles em Nós, para que o mundo creia que
Tu Me enviaste". O versículo 23 diz: "Eu neles e Tu em Mim, a fim de que sejam aperfeiçoados em
um, para que o mundo conheça que Tu Me enviaste, e os amaste como amaste a Mim". Quando as
pessoas no mundo vêem a unidade dos que servem, podem crer que o Senhor foi de fato enviado
por Deus, que é o Cristo de Deus. Essa unidade é a unidade do Deus Triúno. 

Os   versículos   acima   demonstram   que   a   harmonia   em   amor   é   a   característica   dos   que   são
edificados por Deus. Quando as pessoas entram em contato com essa característica, percebem que
essas pessoas seguem a Cristo. A característica de amar­nos uns aos outros, a harmonia em amor,
leva outros não só a saber que somos seguidores do Senhor, mas também a crer que Ele é o Cristo.
Em   João   14­17,   o   Senhor   falou   de   amar­nos   uns   aos   outros.   Se   estudarmos   esses   capítulos
cuidadosamente, podemos saber o que significa amar uns aos outros. 

AMAR UNS AOS OUTROS

Um crente que não tenha sido edificado pelo Senhor, não terá amor genuíno pelas pessoas. Um
crente novo ama os irmãos. Apesar de esse amor ser do Senhor, está em seu estágio inicial e não
pode durar, porque não é o tipo de amor de que fala o Evangelho de João. Nesse Evangelho o amor
é resultado de permanecer no Senhor, ter comunhão com Ele e ser um com os que Lhe pertencem.
Os que foram edificados por Deus têm esse tipo de amor. 

Paulo é um dos que foram trabalhados pelo Senhor e edificados por Deus. Seu amor por todas
as   igrejas,   irmãos   e   colaboradores   não   procedia   do   afeto   natural,   das   boas   intenções   ou   da
igualdade de temperamento. O amor de Paulo procedia de ele ter sido edificado no Senhor. Esse
amor pode ser visto nas epístolas, em suas palavras, atitudes e ações para com as igrejas, para
com crentes específicos ou para com colaboradores, seja por meio de repreensões ou elogios. Ele
tinha uma inquieta preocupação por todas as igrejas. Se um colaborador, igreja ou santo estivesse
enfraquecido, ele também ficava fraco. Se tropeçassem, ele se entristecia e se indignava com o
causador do tropeço (2 Co 11:28­29). 

APRENDER A SE IMPORTAR COM OS OUTROS
Embora nossa situação seja melhor do que a dos que estão no mundo, falta um sentimento de
amor e de preocupação entre os que servem. Pode haver alguém que goste de determinado irmão e
consiga manter boa coordenação com ele, todavia isso não é amor. O Senhor deseja que amemos
uns aos outros assim como Ele nos ama. Seu amor por nós não se baseia em emoções. Ele não nos
ama porque somos dignos de amor. Não somos amáveis nem tratamos o Senhor de modo que nos
faça merecer Seu amor. Se fizéssemos por merecer Seu amor e O tratássemos bem, poderíamos ser
merecedores de amor, entretanto tal amor poderia ser baseado em emoções. Contudo não existe
nada em nós que mereça ser amado; por esse motivo o amor do Senhor para conosco não se baseia
em nenhuma emoção. Ele nos ama porque necessitamos de Seu amor. 

Deve existir esse tipo de amor entre os que servem e entre os santos. Não devemos amar os
irmãos porque  são amáveis. Não devemos amar um irmão porque ele nos trata bem. Devemos
amar os santos porque são nossos irmãos e porque fomos trabalhados pelo Senhor; porque fomos
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edificados juntos por Deus. 

Não   precisamos   exortar   os   santos   para   que   se   amem   uns   aos   outros.   Porém,   quanto   mais
edificação houver entre nós, mais a característica do amor e da preocupação mútua será expressa.
Então   nossa   administração   da   igreja   e   nosso   ministério  da   palavra   produzirão   resultados.   Os
irmãos   também   passarão   a   amar­se   mutuamente.   Se   os   irmãos   conseguem   amar   os   outros
depende   da   administração   da   igreja   e   da   pessoa   dos   que   ministram   a   palavra.   Pregar   uma
mensagem sobre amar uns aos outros pode não ser algo eficaz, mas nossa administração da igreja
pode  levar  os  irmãos  a   amar  uns  aos  outros.  Às  vezes quanto   mais  falamos  de  amar  uns  aos
outros, menos os santos se amam. 

Em algumas igrejas os que ministram a palavra nunca falam do amor mútuo, mas os santos
amam   uns   aos   outros.   Os   presbíteros   podem   não   conduzir   os   irmãos   a   amar,   porém   sob   sua
administração os irmãos amam uns aos outros de forma espontânea. Isso ocorre quando os que
administram   a   igreja   já    foram   edificados   pelo   Senhor.   Há   algo   neles   que   demonstra   que   se
importam com os outros, amam os outros e cuidam deles. 

Deixe­me dar uma ilustração. Um irmão da casa dos obreiros estava doente há dois dias, no
entanto nenhum dos irmãos foi visitá­lo. Os quatro irmãos que normalmente tomavam o café da
manhã com ele pareciam não perceber que ele estava faltando. Podem ter pensado: "Não sou eu
quem está faltando. Vou tomar o meu café da manhã e então cuidar dos meus assuntos". Pode
alguém assim servir o Senhor?  Quem já foi edificado pelo Senhor precisa aprender a se
importar com os outros.  Se há o amor genuíno, os quatro irmãos logo irão procurar saber da
condição do irmão que falta. Isso é a coisa adequada a se fazer. 

Se descobrimos que as meias de nosso irmão estão rasgadas, devemos procurar saber se ele
possui outro par. Caso não tenha, devemos conseguir outro par para ele, sem que saiba quem foi
que fez isso. É isso que significa amar uns aos outros. Nós nos degradamos se nos falta esse tipo de
amor uns para com os outros. É inútil apenas pregar mensagens apelativas. Se observamos que um
irmão sempre usa a mesma camisa, precisamos descobrir se possui outras.  É  preciso importar­se
desse modo com as pessoas. 

Se não nos importamos dessa maneira, será difícil servir ao Senhor. Podemos ser capazes de
administrar   a   igreja   de   forma   ordeira,   mas   não   haverá   edificação   em   nossa   administração.
Podemos   também   pregar   mensagens,   mas   os   santos   não   serão   edificados.   O   conhecimento   nos
ensoberbece,  mas  o  amor  nos   edifica  (l  Co  8:1).   Isso  não   significa,  porém,  que  devemos   pregar
mensagens sobre amar uns aos outros; antes, que precisamos ser trabalhados e edificados pelo
Senhor. Só assim nos importaremos com os outros e iremos amá­los. 

Quando compramos um par de sapatos, devemos considerar se o irmão que serve conosco possui
outro par. Precisamos ter   essa consideração também ao comprar roupa nova. Lamentavelmente,
essa não é a situação entre nós. Não devemos cuidar apenas de nossa vida; antes, devemos cuidar
também do irmão que se encontra a nosso lado. Isso é muito sério. Certa vez alguém me acusou de
utilizar o dinheiro para controlar outros. Isso  é um insulto para mim e para os outros irmãos. O
Senhor   sabe   que   não   tenho   a   menor   intenção   de   manipular   os   irmãos.   Meu   desejo   é   que   as
necessidades   deles   sejam   preenchidas.  Nenhum   dos   que   estão   a   serviço   deveria   passar
necessidade. 

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Simplesmente dar coisas aos outros não é um indicativo de amor. Pode ser apenas questão de
emoção. Devemos  ter um amor  que se  importa  com os outros e cuida deles. Se um irmão está
doente ou uma irmã tem problema, devemos sentir como se fôssemos os envolvidos. Precisamos
pensar   sempre   nas   necessidades   dos   outros.   Quando   compramos   um   par   de   sapatos,   devemos
pensar   nos   sapatos   de   nosso   irmão;   quando   mandamos   fazer   alguma   peça   de   roupa,   devemos
pensar nas de nosso irmão. Precisamos ter esse tipo de consideração. 
Não   devemos   pensar   que   perdemos   ao   cuidar   dos   que   servem   conosco.   Mesmo   se   tivermos
alguma perda, será glorioso. Quem cuida apenas de si é muito pobre; e a pessoa mais pobre que
existe é quem cuida de si mesmo acima de tudo. Contudo quem aprende a cuidar dos outros é
rico.   Se   cuidarmos   dos   outros   e   levarmos   seus   fardos,   seremos   ricos.   Não   devemos
carregar apenas nosso fardo; precisamos aprender a levar também os dos outros. Pela
misericórdia do Senhor, devíamos ser capazes de testificar que quanto mais levamos os fardos dos
outros, mais o Senhor carrega os nossos e nos fortalece. Não devemos ser como quem serve ao
Senhor sem se importar com os conservos. Se cuidarmos dos que servem conosco, nosso ministério
da palavra e administração da igreja serão capazes de edificar os santos juntos. 

Caso um presbítero deseje que sua administração da igreja traga a edificação, precisa aprender
a   amar   e   a   cuidar   das   pessoas.   Numa   conferência,   havia   uma   gripe   se   espalhando   e   muitos
ficaram doentes. Um dos irmãos encarregado da limpeza estava gripado. Não o vi durante vários
dias. Quando descobri que estava doente, fui visitá­lo. Quando o vi, soube que ninguém cuidara
dele, nem mesmo os que compartilhavam o mesmo quarto com ele. Ele estava de cama com febre e
não tinha nem mesmo um copo de  água. Fiquei muito triste ao ver aquela situação. Se somos
todos desse jeito, não adianta falar ou ouvir nenhuma outra mensagem, porque elas serão inúteis.
Aquele irmão estava prostrado na cama com febre, porém todos lhe foram indiferentes. Se uma
pessoa que é indiferente torna­se presbítero ou ministro da palavra, poderá instruir os santos,
mas não edificá­los. A instrução é para o benefício de um indivíduo; a edificação leva os santos a
ser   edificados   como   um   só.   Deus   não   quer   ganhar   indivíduos;   ao   contrário,   quer   ganhar   um
edifício.   Ele   não   pode   usar   a   obra   que   só   produz   resultados   individuais.   Nossa   obra   precisa
produzir resultado corporativo para que a vontade de Deus se cumpra. 

Pode   ser   que   certo   irmão   não   seja   capaz   de   pregar   mensagens   de   forma   dinâmica,   porém
quando administra a igreja, os santos se mesclam e são edificados. Isso é a igreja. A igreja é uma
entidade corporativa, edificada. A reunião de milhares de pessoas não é a igreja caso vivam de
modo independente uns dos outros e não estejam edificados juntos. Deus não tem nenhum edifício
entre eles. 
Deus precisa do edifício, um edifício corporativo. Quando os irmãos servem e se reúnem em
amor, sua pregação do evangelho será vitoriosa e muitas pessoas serão levadas à salvação. Em
algumas reuniões, porém, falta poder aos irmãos quando pregam o evangelho. Não há a percepção
de   edificação   entre   eles;  só  há   a   sensação   de   desolação   e  dispersão.  Uma  igreja   na   qual   os
irmãos cuidam uns dos outros tem futuro.  Quando nosso cuidado mútuo advém da obra de
edificação do Senhor em nós e não de exortação externa, temos o edifício. Se os que servem não
se   importam   uns   com   os   outros,   não   devemos   esperar   que   nossa   obra   resulte   em
edificação. 

Nosso amor uns pelos outros não é uma reação emocional nem deve ser conseqüência de nos
tratar bem. Quando você não estiver doente e não tiver nenhum problema, posso ficar sem ir a
seus aposentos por dois meses seguidos, porque você não tem nenhuma necessidade. Entretanto,

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quando você estiver enfermo e passando necessidade, com certeza estarei ao seu lado.  Se nos
amamos de forma genuína, importamo­nos uns com os outros a despeito dos problemas.
Existe amor mútuo genuíno quando nos importamos uns com os outros. Isso é resultado de ser
trabalhados pelo Senhor.  Quanto mais alguém é trabalhado pelo Senhor e edificado por
Ele, mais se importa com outros, cuida deles e os ama. 
Coisas   mortas   e   sem   vida   não   requerem   amor.   Numa   casa   não   existe   a   necessidade   de   a
madeira   amar   os   tijolos   ou   de   os   tijolos   amarem   as   telhas,   porque   são   materiais   inertes.   No
entanto  coisas vivas  precisam  amar  umas   às  outras  a fim  de se  manter  unidas.  Em  algumas
cidades, apesar de estar juntos, os irmãos estão em discórdia e lhes falta o amor mútuo. Não há
edificação entre eles. Colegas de quarto que não discutem entre si podem ainda assim estar em
discórdia porque não foram edificados juntos. Essa situação é muito triste. 

É  muito   triste   quando   só   notamos   as   meias   novas   de   um   irmão,   mas   não   quando   estão
rasgadas. A condição normal deveria ser de não reparar quando um irmão adquire meias novas, e
sim suas meias rasgadas. Se é desse modo que agimos, poderemos realizar uma obra sólida. Precisamos
amar os irmãos e cuidar deles, mas esse amor deve basear­se em suas necessidades, não em nossa
emoção. Quando eles têm uma necessidade, nós temos uma necessidade. Devemos aprender a levar seus
fardos (Gl 6:2). Então a administração da igreja e o ministério da palavra trarão muita edificação para a
igreja. 

A edificação da igreja não fácil. Levar pessoas a ser salvas e instruí­las é fácil, no entanto edificar a
igreja não é assim tão fácil. Levar as pessoas à salvação e ao aperfeiçoamento pessoal não requer que
aprendamos lições. Entretanto, para edificar a igreja, edificar um grupo de pessoas juntas, unidas como
um só, temos de assimilar algumas lições. Para que a administração dos presbíteros e o ministério da
palavra contribuam para a edificação da igreja, precisamos prestar atenção aos pontos apresentados
acima. Sem aprender esses pontos, não podemos esperar que nossa administração da igreja e ministério
da palavra edifiquem a igreja. 

Alguns pensam que os presbíteros devem ser humildes e cuidadosos e os que ministram a palavra
devem   ser   cuidadosos   com   as   palavras.   Isso   pode   estar   correto,   porém   ser   humilde,   cuidadoso   e
prudente   não  é  o   mais   importante.   Essas   qualidades   não   levarão   os   irmãos   a   nos   ter   em   alta
consideração,   muito   menos   a   ser   edificados.   Antes,   sua   edificação   depende   dos   pontos   práticos   que
estivemos considerando. Temos de aprender esses pontos e estar equipados com eles. 

APRENDER A CONHECER AS PESSOAS
É  crucial   também   aprender   a   conhecer   as   pessoas  à  medida   que   administramos   a   igreja   e
ministramos a palavra. Precisamos conhecê­las para administrar a igreja e também para ministrar a
palavra. Se não as conhecemos, não podemos edificar a igreja. Pelo contrário, a igreja será levada à
confusão e à demolição. Quem quer edificar a igreja deve conhecer as pessoas. Temos de saber a
condição pessoal dos irmãos. Isso inclui conhecer suas intenções diante de Deus, suas inclinações da
carne e também de seu espírito. Todo habilidoso trabalhador de construção deve ser instruído acerca de
pedras, telhas e madeira. Precisa saber discernir a natureza da madeira, se é leve ou pesada. Caso não
conheça a natureza da madeira e a utilizar de forma indiscriminada, será perigoso morar nas casas que
ele construir. 

Muito do conhecimento que temos das pessoas se dá de acordo com a transformação que
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já   recebemos.   Se   o   Senhor   lidou   conosco   quanto   a   certo   aspecto,   será   mais   fácil   para
conhecer as pessoas naquele aspecto. Se nossas motivações nunca foram trabalhadas pelo Senhor,
será difícil perceber se as motivações dos outros são puras ou não. Caso nossas intenções, motivações e
propósitos já tenham sido trabalhados totalmente pelo Senhor, quando entrarmos em contato com os
outros, conheceremos suas intenções, motivações e pensamentos, e saberemos prontamente qual é a raiz
de seus problemas. Saberemos quando forem puros. Se a nossa carne nunca foi eliminada pelo Senhor e
nunca aprendemos a lição de ser quebrantados, não saberemos discernir quando os outros estiverem na
carne. Portanto nosso conhecimento das pessoas se baseia no conhecimento de nós mesmos.
Quem é sério e correto ao lidar com ele mesmo conhece as pessoas de modo correspondente. 

É  muito   importante   que   os   presbíteros   que   administram   a   igreja   conheçam   as   intenções,   as


motivações e os propósitos dos irmãos. Eles precisam conhecer a condição espiritual dos irmãos e onde
se encontram diante de Deus. Se isso não ocorre, estão sujeitos a cometer muitos erros. Quando alguém
que   é   gentil,   eloqüente,   instruído,   cheio  de  zelo  e  capaz   de  pregar   mensagens  chega  à  igreja,  eles
podem   achar   que   ele   pode   servir   em   coordenação   com   os   demais.   Quando   é   colocado   para
trabalhar, porém, um grupo inteiro de serviço entra em colapso. 

Os que administram a igreja devem evitar a inconstância. Não é adequado que estejam sempre
mudando sua avaliação dos irmãos. Não devem dizer que um irmão é espiritual e mudar de idéia
dois   meses   depois.   Isso   precisa   ser   evitado   na   administração   da   igreja;   e   só   pode   ser   evitado
quando se conhece as pessoas e sempre se aprende a conhecê­las. 

Os   presbíteros   que   já   aprenderam   essa   lição   e   já   foram   trabalhados   pelo   Senhor   terão
conhecimento claro acerca dos outros, sabendo onde se encontram e a condição de seu espírito,
independente de como se comportam. Quando alguém fala, eles sabem se o que diz representa sua
verdadeira  condição  de espírito. Sabem se ele  está  cheio da impureza de seu ego e do homem
natural, porque seu espírito jamais foi libertado de seu ego. 

Você saberá se ele está inclinado a realizar uma obra sozinho, sem a colaboração de ninguém
mais. Um crente pode ter experiência, sabendo comportar­se, mas ainda assim não estar liberto
do ego. Se sua visão e conhecimento forem seculares, não poderá assumir um serviço espiritual.
Se alguém assim se tornar presbítero, demolirá a igreja mesmo que saiba ministrar a palavra.
Qualquer responsabilidade e coordenação do serviço que assuma será uma obra de demolição.
Será o mesmo que instalar uma bomba relógio num edifício: dentro de algum tempo irá explodir e
o prédio inteiro ruirá. Preparar tudo para que ele se torne presbítero resultará em destruição, e
não em edificação.  Em vez de ser algo bom para  a edificação, será como uma bomba relógio.
Quando chegar a hora de perder a calma, toda a situação já estará fora de controle. Ele pode ser
capaz de conquistar as pessoas e ajudá­las mediante sua  humildade, conhecimento, eloqüência e
discurso persuasivo, porém isso tudo terá sido de acordo com a carne. A igreja estará arruinada
em suas mãos. Essa é a situação real em alguns lugares. Cometer um erro em conhecer uma
pessoa   pode   estragar   cinco   anos   de   trabalho   e   esforço.   Alguns   estragos   não   podem   ser
recuperados   em   pouco   tempo.  O   Senhor   pode   requerer   cinco   anos   para   reiniciar   uma
obra. 

Alguns oram segundo a própria direção, e não segundo a direção do Espírito. Outras falam de
acordo  com  a  própria   direção   e  não   segundo  a  direção  do  Espírito.  Não   devemos  encorajá­los
dando­lhes responsabilidade ou encargo para servir. Não podemos proibir as pessoas de falar nas

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reuniões da igreja, mas temos de observá­las e verificar se sua conduta  é apropriada. Se sua
maneira de proceder for inapropriada, devemos exorta­las para que saibam que não encorajamos
nem   aprovamos   sua   maneira.   Isso   tocará   seus   sentimentos.   Não   devemos   excomunga­las   por
falar algo inadequado, todavia, se o fizerem segunda vez, precisamos dizer­lhes que seus modos
não são aprovados. Precisamos fazê­las sentir que sua maneira de se portar não é aprovada. Isso
lhes abrirá caminho para obter a ajuda adequada. 

Quando os presbíteros não possuem esse tipo de discernimento, talvez designem um irmão
mais   velho   que   aparenta   ser   humilde,   instruído   e   experiente,   como   responsável   por   algum
serviço. Mais tarde, quando os problemas surgirem e a igreja tiver sido prejudicada, começarão a
compreender que não deviam conhecer as pessoas segundo a carne. Essa tem sido a situação em
muitos lugares. 

Discernir as motivações humanas
Se nosso juízo sobre as pessoas não for acurado, nossa administração da igreja resultará em
demolição. Falta de conhecimento no que concerne às pessoas só fará com que a igreja sofra perdas,
embora não tenhamos essa intenção. 

Se   queremos   conhecer   as   pessoas,   precisamos   aprender   a   discernir   se   suas   motivações   e


intenções  são  puras  diante   de  Deus.  Se  alguém  não  tem  motivação  pura, não  devemos   dar­lhe
nenhuma   responsabilidade   no   serviço.   Nosso   conhecimento   das   motivações   das   pessoas   está
baseado em como o Senhor lida com nossas motivações.  Se nossas motivações nunca foram
trabalhadas pelo Senhor, não devemos pensar que podemos saber as reais motivações
dos outros. Mas, se nossas motivações já foram trabalhadas e agora são puras, nosso ministério
da palavra não produzirá "efeitos colaterais" nem resultarão em confusão. Antes, seremos singelos
e puros para com Deus. 

Precisamos   lidar   com   nossas   motivações   em   todas   as   coisas,   não   apenas   no   ministério   da
palavra.   Quando   aprendermos   essa   lição,   seremos   capazes   de   discernir   com   facilidade   as
motivações dos que vêm a nós. Depois que nossas motivações forem purificadas, seremos capazes
de discernir com facilidade a motivação daqueles com quem nos reunimos. Talvez não possamos
perceber a pureza em seu coração, mas reconheceremos de imediato a impureza em seu  íntimo.
Conseguiremos   discernir   se   alguém   é   singelo   e   puro   ou   se   é   impuro   quanto   às   motivações.
Poderemos conhecer facilmente uma pessoa. 

Discernir a carne humana
Uma pessoa cuja carne nunca foi eliminada ou que nunca aprendeu lição alguma com relação à
própria   carne   e   suas   inclinações,   não   poderá   trabalhar   coordenadamente   com   os   outros   em
nenhum   serviço.   Podemos   permitir   que   sirva,   porém   não   deveríamos   designá­lo   para   nenhum
serviço. Isso seria um erro. Já que é difícil encontrar alguém cuja carne tenha sido trabalhada por
completo,   não   devemos   designar   ninguém   para   nenhum   serviço   de   maneira   incondicional.   Em
outras palavras, a delegação ou atribuição de uma pessoa a um serviço deve ser de acordo com o
grau com que sua carne já foi trabalhada. Quanto mais sua carne  é trabalhada, mais podemos
designar­lhe   serviço.   Caso   tenha   sido   pouco   trabalhada,   não   devemos   atribuir­lhe   grande
responsabilidade no serviço, pois isso poderá resultar em problemas. 

Vamos supor que um irmão ame o Senhor, seja zeloso e queira servir. Não devemos regozijar­
nos quando ele expressar esse desejo e permitir que participe do serviço. Isso não resultará na
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edificação. Ninguém constrói uma casa desse modo. Um carpinteiro primeiro olha  seu material
para conhecer a natureza, a condição e as dimensões do que utilizará na edificação. Somente então
começa a edificar. Ele precisa primeiro avaliar a condição do material e então designar cada um
segundo   sua   natureza   e   condição.   Apenas   dessa   forma   seu   trabalho   será   apropriado   para   a
construção. 

Entretanto os presbíteros de algumas igrejas não agem assim. Regozijam­se quando descobrem
um irmão que ama o Senhor e logo o tornam responsável por uma reunião de grupo. Porém, como
suas motivações são impuras e seu ego ainda não foi negado, todos os seus "truques" se tornam
aparentes em semanas. Muito embora os santos gostem muito dele, do mesmo modo que os filhos
de Israel gostavam muito de Absalão, a igreja sofrerá considerável estrago. Algumas vezes esses
estragos só conseguem ser recuperados depois de vários anos, e a igreja sofre grande perda. 

Isso afeta a capacidade da igreja de pregar o evangelho com poder, a habilidade dos irmãos se
levantar   e   a   falta   de   vitalidade   nas   reuniões.   Toda   a   igreja   parece   sofrer   de   envenenamento,
passando às pessoas um sentimento de desamparo ou impotência. 

Essa é a conseqüência de os presbíteros não saberem administrar a igreja e não conhecerem as pessoas.
São como um carpinteiro que não conhece seus materiais. Por essa razão é difícil ter a edificação. 

Não é difícil pregar o evangelho e levar as pessoas à salvação, e é fácil ministrar a palavra a fim de
instrui­Ias, porém não é assim tão simples edificá­las juntas.  É  por esse motivo que o apóstolo Paulo
diz: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro
edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica" (1 Co 3:10).  Realmente não é fácil edificar a
igreja. Não podemos simplesmente deixar que os irmãos cresçam por si mesmos. Precisamos
compreender que a igreja necessita ser administrada e grande parte da administração de
que   ela   necessita   depende   de   nossa   habilidade   em   conhecer   as   pessoas   e   discernir   suas
motivações e inclinações da carne. 

Discernir o nível espiritual das pessoas
Discernir o nível espiritual de alguém é conhecer se sua condição espiritual é consistente, robusta,
elevada e pura. Por exemplo, existem alguns cujo coração é puro e cuja carne já foi trabalhada, mas
devido a seu espírito ser muito fraco e não conseguir se elevar, eles não têm condições de realizar nada. 
No que diz respeito a nosso conhecimento das pessoas, precisamos saber suas motivações, condições
da carne e do espírito. É claro, existem outros aspectos que também precisamos saber, mas esses três
são os mais importantes. Designar responsabilidade a uma pessoa para o serviço na igreja de acordo
com certo conhecimento desses três aspectos resultará na edificação apropriada. 

Quem   ministra   a   palavra   e   fala   em   nome   do   Senhor   tem   de   conhecer   as   pessoas   segundo   suas
genuínas   condições   com   o   objetivo   de   que   suas   palavras   provoquem   mudança   nelas.   Se   não   as
conhecemos de acordo com sua condição genuína, não conheceremos suas verdadeiras necessidades. Às
vezes   um   irmão   pode   pregar   uma   mensagem   dirigida   a   uma   pessoa   específica,   porque   se   sente
desconfortável em falar de maneira direta com ela. Isso é pregar uma mensagem a fim de repreender
um irmão em vez de se ministrar a palavra. Quem a ouve sabe que o irmão está sendo repreendido e o
próprio irmão também sabe. Isso não é apropriado. 

Outras vezes, alguém na reunião representa os santos como um todo. Por exemplo, pode haver um

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grupo de irmãos que não conheça a chave para a oração, e um deles pode estar presente na reunião.
Uma   vez   que   já   fomos   trabalhados   pelo   Senhor   nessa   área   de   nossa   vida,   podemos   pregar   uma
mensagem sobre a chave para a oração. Dessa forma ninguém ficará com a sensação de que estamos
falando para ele especificamente. Embora tenhamos clareza de que estamos falando a ele, nossa palavra
tocará a todos porque todos necessitam dela. Se a mensagem for consistente, o irmão estará entre os
primeiros a testificar que foi tocado. Uma mensagem assim advém de conhecer as pessoas. 

Não devemos falar aos filhos de Deus sem conhecê­los, pois isso será vazio e não tocará ninguém. Os
filhos   de   Deus   não   necessitam   desse   tipo   de   mensagem.   Eles   não   serão   beneficiados   por   nossas
mensagens   se   não   os   conhecemos.   Isso   é   um   grande   problema.   Nossas   mensagens   atingirão   o   alvo
quando conhecermos os outros. Se queremos que atinjam o alvo e sejam poderosas, precisamos conhecer
as pessoas. E se queremos conhecê­las, temos de aprender as lições. 

Se nunca fomos trabalhados na questão da oração e não temos a chave para a oração, não seremos
capazes de saber quando outros necessitarem de uma palavra sobre esse tema. A falta de conhecer as
pessoas torna nossas mensagens teóricas e não práticas. Se queremos que sejam práticas, precisamos
conhecer os outros. Isso requer que aprendamos algo todos os dias. 

Os   presbíteros   que   administram   a   igreja   precisam   estudar   continuamente   a   fim   de   discernir   as


condições   em   que   as   pessoas   se   encontram,   conhecê­las   e   discernir­lhes   as   motivações,   a   carne   e   o
espírito. Quem ministra a palavra precisa aprender a ser sensível às necessidades dos outros.
Nenhuma epístola do Novo Testamento foi escrita partindo­se primeiramente de uma revelação de
Deus e em seguida aplicando­a a determinadas necessidades. Pelo contrário, todas elas foram escritas
depois de primeiro ter­se entrado em contato com a necessidade das pessoas e a seguir ter recebido uma
palavra da parte de Deus a fim de satisfazê­la. 

As  epístolas   aos   Coríntios   foram   escritas   desse   modo.   Paulo   foi   capaz   de   lhes   escrever,   porque
percebeu os problemas e conhecia a condição da igreja em Corinto. Isso também se aplica à questão de
pregar mensagens. Sem conhecer ou observar os irmãos, não estamos em condições de lhes falar. Quem
ministra a palavra precisa conhecer a genuína condição dos que ouvem e levar sua condição diante de
Deus.   O   irmão   Nee   pregou   certa   vez   uma   mensagem   dirigida  de   forma  específica  a  um   presbítero.
Quando lhe falamos do problema daquele irmão, o irmão Nee disse­nos que a mensagem inteira do
domingo   foi   dirigida   a   ele.   Se   queremos   que   nossa   administração   da   igreja   seja   para   a   edificação,
precisamos conhecer as pessoas.  As irmãs que visitam outras irmãs e têm comunhão com elas, devem
fazer isso com base em seu conhecimento dos problemas e condições daquelas que visitam. Isso requer
que aprendamos diversas lições de maneira muito séria. 

CAPÍTULO SETE
A EDIFICACÃO DA IGREJA REQUER CONSAGRACÃO TOTAL

Na administração da igreja e no ministério da palavra, precisamos conhecer as pessoas para ter
edificação. Além disso, devemos prestar atenção à consagração. 

CONSAGRAÇÃO INCOMPLETA É FONTE DE PROBLEMAS NO SERVIÇO
Todos   sabem   bastante   sobre   consagração,   mas   poucos   sabem   com   clareza   com   relação  a   como  a
consagração   afeta   nossa   vida.   Os   problemas   que   alguns   dos   que   servem   enfrentam   podem   estar
relacionados   com   a   consagração.   Não   nos   referimos   as   ofertas   materiais.   A   consagração   é   uma
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necessidade   básica   para   que   Deus   realize   uma   obra   de   edificação   na   terra   por   nosso   intermédio.
Entretanto   não   se   trata   de   doutrina   vazia,   e   sim   de   um   assunto   pessoal   e   prático.  As   condições
inadequadas   entre   os   que   servem   indicam   que   sua   consagração   não   foi   total   ou   foi
inconsistente. 

Todos  os  nossos problemas,  dificuldades  e  sofrimentos   relacionam­se  com   a consagração.   Quanto
mais sossego e conforto desejarmos, menos consagrados precisaremos ser. Se não queremos nenhum
sofrimento,   não   há   necessidade  de   nos   consagrar.   Não   devemos   culpar   o   Senhor   por   nos   dar
sofrimentos.   Os   sofrimentos   resultam   de   nossa   consagração.   Alguns   dizem   que   os   nossos
sofrimentos nos são dados pelo Senhor. Na verdade os verdadeiros sofrimentos dos cristãos são
trazidos pelos próprios cristãos sobre si mesmos. Se não queremos nenhum sofrimento, devemos
simplesmente  não   nos   consagrar.   Podemos   ser   zelosos,   pregar   o  evangelho   e   até   ministrar   a
palavra, sem nos consagrar. No cristianismo institucionalizado pode­se ser bem­sucedido sem ter
de sofrer. Os desastres naturais e as calamidades provocadas pelos seres humanos são a porção
de todas as pessoas. Uma pessoa não consagrada, contudo, está isenta de grande quantidade de
sofrimentos. 

É como se os apóstolos na vida da igreja primitiva buscassem sofrimentos. Caso não tivessem
sido   totalmente   íntegros   e   corretos,   e   tivessem   feito   concessões,   não   teriam   tido   tantos
sofrimentos. Se tivessem feito concessões, não teriam sido perseguidos pela religião judaica e pelo
império   romano.   Os   sofrimentos   que   enfrentaram   resultaram   de   sua   consagração.   Geraram
sofrimentos para si mesmos por causa de sua consagração. Os sofrimentos que o apóstolo Paulo
enfrentou   foram   em   conseqüência   de   sua   consagração.   Teria   sido   possível   que   ele   amasse   e
servisse ao Senhor sem passar por nenhum sofrimento caso ele não tivesse sido tão íntegro, e de
forma   tão   radical   e   extrema   em  sua   consagração.   Paulo   disse:   "Agora,   me   regozijo   nos   meus
sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu
corpo, que é a igreja" (Cl 1:24). Paulo se consagrou de boa vontade. Ele declarou: "Meus filhos, por
quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós" (Gl 4:19). A boa vontade de
Paulo advinha de sua consagração. 

SOMOS INCAPAZES DE REALIZAR A OBRA DE EDIFICAÇÃO 
CASO NOSSA CONSAGRAÇÃO SEJA INCONSISTENTE
Ao   contrário   do   que   vimos   nas   Escrituras,   nossa   situação   parece   revelar   que   nossa
consagração   continuamente   se   enfraquece.   Podemos   ser   cristãos   excelentes   e   também   ótimos
pregadores aos olhos do mundo. Porém não conseguimos realizar a genuína obra de edificação da
igreja, porque nossa consagração é inconsistente. Quando nos consagramos totalmente, os santos
algumas vezes não o aprovam. Eles prefeririam que fossemos mais condescendentes em nosso
serviço, isto é, que fôssemos moderados, neutros ou menos radicais no desempenho do serviço. 

Se queremos que os outros nos recebam de braços abertos, precisamos apenas fazer algumas
concessões em nosso serviço ao Senhor. Pelo menos setenta por cento dos santos nos apoiarão se
passarmos  a servir  de forma mais  condescendente.  Contudo,  caso  optemos por ser totalmente
íntegros em nossa consagração, e isso de modo contínuo, os que nos apóiam diminuirão e nossos
sofrimentos aumentarão. 

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Na era apostólica, os apóstolos foram perseguidos onde quer que se encontrassem. Hoje em
dia,   porém,   poucos   pregadores   são   perseguidos.   Isso   não   acontece   porque   vivemos   numa   era
diferente ou porque o mundo é mais favorável para com os cristãos do que antigamente. Antes,
acontece porque a consagração dos  que  servem ao  Senhor não  se  compara  à  dos apóstolos na
igreja primitiva. Os assim chamados servos do Senhor na atualidade perderam a consagração dos
antigos apóstolos. Se todos os que servem se consagrassem como os primeiros apóstolos,
passariam por muitos sofrimentos, apuros e privações. 

Muitos jovens constroem relacionamentos com a perspectiva de se casar e estabelecer família,
o que  é   totalmente  necessário.   Todavia  o  que  temos  observado  nos  leva  a  perguntar  se  esses
relacionamentos fortalecem ou enfraquecem a consagração deles.  Não podemos condenar os
jovens,   no   entanto   devem   considerar   se   sua   consagração   foi   fortalecida   ou
enfraquecida.  É  possível  que  considerem  o  futuro de  seu  serviço,  de  seu  encargo   ou  de  sua
função.   Essas   suas   considerações,   porém,   indicam   fortalecimento   ou   enfraquecimento   de   sua
consagração? 

SOMOS INCAPAZES DE CUIDAR DA CASA DE DEUS E DA NOSSA

Certa   vez   alguns   missionários   ocidentais   me   confrontaram,   dizendo   que   os   irmãos


responsáveis pelas reuniões de grupo deveriam cuidar de forma apropriada da própria casa e não
participar de tantas reuniões. Apesar de estarem bem­intencionados, devemos perguntar: "Qual
casa é mais importante, a de Deus ou a nossa?".  É  uma questão de consagração. Não podemos
dizer amém para a atitude que os missionários ocidentais têm para com a família. Em vez de
sacrificar sua casa em favor da casa de Deus, eles sacrificam a casa de Deus em favor da sua.
Não podemos dizer amém a isso. A família deles pode ser maravilhosa, no entanto qual é o estado
da   igreja   que   dirigem?   Quase   todos   os   santos   que   servem   ao   Senhor   têm   famílias.   Caso
passassem todo o tempo com elas, produzindo famílias que são como jardins de felicidade e filhos
que são como anjinhos, a casa de Deus se desmantelaria. Isso é questão de consagração. 

Se nossa consagração for total, até mesmo nossos filhos poderão se levantar para se opor a nós.
Nenhum dos filhos dos missionários ocidentais se opõe a seus pais, porque os missionários se
preocupam   demais   com   a   família.   Alguns   não   tinham   empregados   em   seu   país,   mas   quando
chegaram  à  China   contrataram   alguém   para   cozinhar,   alguém   para   tomar   conta   dos   filhos,
alguém para lavar e limpar, além de jardineiro, de motorista e até mesmo um guarda. Se de fato
formos consagrados, os primeiros a se opor a nós serão nossos filhos.  Por esse motivo
questiono   a   consagração   dos   missionários   que   falam   de   maneira   irresponsável   e   sarcástica.
Embora   sejam   servos   de   Deus,   não   devemos   aprender   de   seu   estilo   de   vida.  É  inegável   que
devemos fazer o melhor para cuidar da família, mas precisamos também estar seguros quanto à
consagração. 

Certo irmão tem cinco filhos, e a reunião de grupo pela qual é responsável tem mais de cem
santos participando. Caso cuide apenas de sua família, não terá condições de cuidar dos irmãos.
Se ele cuidar apenas dos irmãos, não conseguirá cuidar da família de forma adequada.  É  difícil
saber cuidar da reunião de grupo de forma apropriada e ao mesmo tempo cuidar adequadamente
da família. Cuidar da reunião de grupo requer a pessoa por inteiro. Precisamos considerar sobre
a reunião de grupo até mesmo em nossos sonhos. 
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Se   copiarmos   os   missionários   ocidentais   no   modo   como   cuidam   da   família,   o   resultado   de


nossos esforços para com a igreja  se comparará ao deles. Em certos momentos críticos dizem:
"Irmãos, não posso mais fazer essa obra, porque preciso estar com meus filhos". Nós, por outro
lado, não podemos agir assim, por causa de nossa consagração. Que Deus nos abençoe para que
nossa família receba misericórdia e cuidado! Porém precisamos estar avisados que a conduta de
alguns missionários não é a nossa. Eles não seguem o caminho da consagração.

SOMOS INCAPAZES DE SERVIR AO SENHOR E A MAMOM 
O  irmão   T.   Austin­Sparks   disse   em   certa   ocasião   que   existem   alguns   problemas   com   os
missionários ocidentais no cristianismo institucionalizado. Reconhecemos que viajaram para uma
terra distante por amor a Cristo, contudo isso não quer dizer que todos os missionários que vieram
para a China se sacrificaram e são consagrados. Não tenho nenhuma intenção de condenar seu
estilo de vida, porém precisamos saber que o caminho da consagração tem como resultado muitos
sofrimentos. Antes de nos consagrar, não temos muitos problemas com os estudos, emprego ou
família. Mas depois de consagrados surgem muitos problemas. Antes de nos consagrar podemos ter
sido bons professores, médicos, funcionários públicos, pais ou filhos. Contudo, quanto mais nos
consagramos,   menos   capazes   nos   tornamos   e   mais   problemas   encontramos.   Em   certo   sentido,
quem  mais  incomoda   as  pessoas   é   Jesus;  foi  Ele   quem  levou   inúmeras  pessoas  a   "naufragar".
Muitas   pessoas   talentosas   naufragaram   por   meio   Dele:   muitos   bons   estudantes,   muitos   bons
professores, muitos bons pais e mães foram levados ao naufrágio por Jesus. 

Quando   estive   em  Manila,  nas   Filipinas,   um   grupo   de   jovens   me   pediu   que   falasse   a   eles.
Minha primeira frase foi: "Jesus leva as pessoas ao naufrágio". Os jovens em Manila precisam ser
naufragados  por  Jesus,  e   as  famílias  cristãs dos   chineses  de  além­mar,  residentes  em  Manila,
necessitam ser naufragadas por Jesus. Não pensem que nossa obra no sudeste asiático é bem­
vinda pelas pessoas. Nos últimos poucos anos temos travado a batalha todos os dias. 

Quando   estive   em   Manila   em   1955,   os   irmãos   de   lá   me   respeitavam,   tinham­me   em   alta


consideração e me tratavam bem; por outro lado, porém, eu enfrentava uma batalha junto a eles.
Eu combatia a batalha no que diz respeito ao "céu". Queria erradicar o conceito de "céu" de seu
ser.   Disse­lhes   que,   como   cristãos,   não   devemos   pensar   que   a   vida   cristã   é   questão   de   pedir
bênçãos, longevidade, paz, de temer o Senhor e não pecar. Nem é questão de ir para o céu para
usufruir bênçãos eternas quando morrermos. Esse tipo de evangelho pode parecer muito atraente,
porém diz total respeito a certo conceito religioso que considera Jesus simplesmente uma pessoa
um pouco mais confiável do que um Buda. 

Por essa razão, fui firme em combater a batalha no que diz respeito a ir para o céu. Mostrei­
lhes as palavras do Senhor nos evangelhos: "Se alguém vem a Mim, e não odeia ao próprio pai, e
mãe, e mulher, e filhos, e irmãs, e irmãs, e, ainda, até a sua própria vida da alma, não pode ser
Meu discípulo" (Lc 14:26). Essa palavra categórica tocou o coração dos que amavam o mundo. 

Numa festa de amor compartilhei a respeito de como ler a Bíblia e orar a fim de receber graça e
resposta para as orações, e ser objeto da misericórdia do Senhor. Um irmão, então, perguntou­me
por   que   não   falei   desse   modo   para   todos   os   santos,   e   sim   de   negar   tudo   pelo   Senhor   e   de
consagração. Logo respondi: "Caro irmão, acaso precisa de mim para pregar mensagens que você
mesmo   poderia   pregar?".   Depois   da   refeição   disse   aos   mais   velhos   presentes   que   precisavam

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considerar sua condição. Que  não  deviam apenas  dizer que   os  jovens   amavam o  mundo e   não
tinham   nenhuma   realidade;   antes,   que   precisavam   considerar   a   própria   condição.   Quando   me
encontraram   mais   tarde,   sentiam­se   envergonhados.   Os   que   amam   o   mundo   deviam   se
envergonhar. 

É por isso que todo o que crê em Jesus sofrerá naufrágio. Todos os que crêem de forma genuína
em Jesus serão naufragados por Ele. Não será corrompido por Jesus, mas naufragado por Ele. Se
os jovens quiserem seguir Jesus, enfrentarão problemas na escola. Caso se trate de um médico,
não espere prosperar. A maioria dos que levam uma vida suave e próspera enfrenta problemas
com relação  à  consagração. Uma pessoa capaz de prosperar como médico, ganhar dinheiro como
empresário, ficar famoso como professor universitário, ser reconhecido como o melhor aluno ou ser
excelente   pai  deve   ter   problemas   com  a   consagração.   Uma   pessoa   só   pode   ter  um   Senhor.   Se
estiver ocupada com os estudos, não restará espaço para Jesus, e, se estiver ocupada com Jesus,
não sobrará espaço para os estudos. De maneira similar, se estiver ocupada com os filhos, não terá
espaço para Jesus, e, se estiver ocupada com Jesus, não terá espaço para os filhos. Portanto  é
impossível para uma pessoa servir o Senhor de modo apropriado e também ser bom médico ou bom
pai aos olhos do mundo. 

Não   é   difícil   uma   pessoa   ser   respeitada,   desde   que   não   se   consagre.   No   entanto   isso   não
significa   que   os   que   servem   ao   Senhor   e   pregam   a   palavra   devem   comportar­se   de   forma
inadequada. Precisamos comportar­nos de maneira respeitável e digna do elogio dos homens ao
servir o Senhor e pregar a palavra. Se queremos ser totalmente  íntegros em nossa consagração,
precisamos estar preparados para levar uma vida de sofrimentos. Esse preço foi colocado diante
de nós, e precisamos avaliar o custo. 

Nestes dias, o inimigo não apenas realiza uma obra de dissensão entre nós como também conduz
muitos a enfraquecer a consagração de si mesmos e ser cristãos condescendentes. Não podemos
servir o Senhor e pertencer ao mundo; não conseguiremos ser bem­sucedidos em ambos. Se todos
os que servem cuidassem bem de sua carreira e família, seriam mais bem­sucedidos na carreira e
cuidariam muito melhor da família. Isso pode ser comparado a cuidar de um jardim capinando e
regando todos os dias. Com certeza esse jardim será lindo. Se uma pessoa gerencia um hospital e
trabalha diligentemente todos os dias, esse hospital será sem dúvida um sucesso. 

Isso se assemelha à questão da consagração. Se nos devotamos a cuidar da carreira,
estudos e família, não devemos esperar que a igreja prospere. Em lugar disso, a igreja
ficará desolada e abandonada. Se dermos prioridade a nossa carreira profissional e a
nossa família, e colocarmos o Senhor e a igreja em segundo lugar, a igreja não crescerá.

Reunir­se todos os dias pode fazer­nos sofrer perdas pessoais. Entretanto precisamos
perguntar­nos com relação ao propósito de nossa existência: Estamos aqui por nossa casa ou pela
casa de Deus? Um missionário ocidental em Manila testemunhou que sua filha mais velha e seu
segundo   filho   queriam   ser   pregadores.   Ele   se   regozijava   porque   muitos   de   seus   filhos   eram
pregadores e por sua família ser de missionários. Se vivermos uma vida confortável e fácil e não
pagarmos   o   preço   de   seguir   o   Senhor,   nossos   filhos   irão   querer   seguir­nos.   Pregadores   assim
podem viajar por todo o mundo, podem ter empregados, não sofrem privações. Podem ainda ser
tidos em alta consideração pelos outros. Quantas pessoas têm condições de viver o tipo de vida que
eles  levam?  Se escolhessem   o caminho   de   um  nazireu, seria  muito   improvável que  seus  filhos
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ainda quisessem ser pregadores. 

Visto que os que trabalham na China escolheram o caminho da consagração, nenhum de seus
filhos tem o desejo de servir. Se queremos fazer uma obra de consagração e tomar o caminho
estreito   na   restauração   do   Senhor,   não   devemos   alimentar   a   expectativa   de   que   uma   vida
confortável nos aguarda à frente. Não podemos confiar no caminho tomado pelos missionários do
ocidente. Se o tomarmos, realizaremos uma obra do cristianismo institucionalizado, e não a obra de
edificar a igreja. Quando realizamos a obra de  edificação da igreja, nossa  fama, reputação, família,
energia e homem natural sofrerão naufrágio. Nossa reputação e o que de fato somos naufragarão. 

Quem deseja servir ao Senhor e preservar a respeitabilidade em sua família, carreira e estudos,
tomou   o   caminho   errado.   Para   nós   não   existe   maneira   de   obter   sucesso   em   ambos.  Se   queremos
permitir que o Senhor edifique e obtenha alguma coisa, nossa consagração precisa ser total.
Isso não é apenas questão de seguir os pais ou o marido porque sentimos o desejo de pregar. É questão
de sofrer naufrágio causado por Jesus. Ele fará naufragar nosso tudo. Trata­se de real consagração. 

Entretanto isso não significa que não precisamos estudar, ter profissão ou cuidar da família. Não
devemos abandonar tudo. Devemos e temos de fazer o melhor nos estudos, no cuidado da família e no
trabalho.   No   entanto,   quando   existir   conflito   entre   os   dois,   devemos   perguntar­nos   que   lado   deve
vencer. O Senhor Jesus deve obter a vitória, ou nosso benefício deve sair vitorioso? Devemos perguntar­
nos também que lado tem prioridade em nosso íntimo?  Qual é nossa ocupação principal? Todos
devemos dar uma resposta definitiva diante do Senhor.  Acaso consideramos o Senhor Jesus e
Sua   obra   em   primeiro   lugar   ou   em   segundo?   Se   queremos   fazer   uma   obra   do   cristianismo
institucionalizado, podemos considerar o que nos pertence em primeiro, e o que pertence ao Senhor em
segundo lugar. Se queremos edificar a igreja, precisamos dar prioridade ao Senhor. 

A VERGONHA DE BUSCAR AJUDA DE OUTROS A FIM DE REDUZIR NOSSO SOFRIMENTO

O   caminho   da   consagração   é   um   caminho   de   sofrimento,   de   sacrifício,   no   qual   tudo   o   que   nos


pertence   naufraga.   Alguns   se   consagram   a   fim   de   obter   a   compaixão   dos   outros   e   assim   reduzir   o
próprio sofrimento. Esses crentes perderam sua consagração. É vergonhoso buscar a ajuda de terceiros
com o objetivo de reduzir nosso sofrimento. Os que são de fato consagrados precisam aprender a não
procurar   ajuda   dos   outros.   Preferimos   sofrer   diante   do   Senhor   a   buscar   a   ajuda   de   terceiros,   e
preferimos   passar   fome   por   três   dias   seguidos   a   permitir   que   outras   pessoas   saibam   de   nossa
necessidade. No entanto essa não é nossa realidade atual. Alguns ao sofrer muito pouco já desejam ser
notados pelos outros e receber ajuda deles. Isso é indicativo de que sua consagração já não é tão forte
como no passado. 
O primeiro grupo de servos entre nós não buscava ajuda de terceiros. Até mesmo diziam às pessoas
que não escolheriam o caminho de receber ajuda dos outros. Tinham a capacidade de fazer dinheiro no
mundo, mas por amor ao Senhor não foram ao mundo para obtê­lo. Tais eram a situação e o caráter dos
que serviam logo no início. Infelizmente alguns dentre nós agora receiam não conseguir ajuda. Parece
que vergonha para nós agora é não receber ajuda. Mas é uma glória que os outros não cuidem de nós,
porque servimos ao Senhor em tempo integral. Não é glorioso procurar obter ajuda e compaixão de
outros; ao contrário, é vergonha. 
Nós nos tomaremos deploráveis parasitas se sempre esperarmos a ajuda de terceiros. Em
função  disso, alguns podem repreender­nos, afirmando que somos  os  parasitas da sociedade, já que
dependemos de outros para nosso sustento. Isso indica que nossa consagração não é firme. Contudo não
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quer   dizer   que   os   santos   não   devam   amar   e   cuidar   dos   servos   do   Senhor.   Por   muitos   anos   os
colaboradores mais velhos mantiveram o principio de que não nos agradamos nem nos sentimos gratos
pela   ajuda   que   recebemos   diretamente   dos   outros.   Não   queremos   receber   nenhuma   contribuição
diretamente das mãos dos homens. Os que se sentem responsáveis por nosso cuidado devem ofertar
pela caixa de ofertas. Queremos receber nosso suprimento diretamente das mãos de Deus. 

Uma pessoa perguntou certa ocasião a um irmão, que servia em tempo integral, quanto em
oferta ele recebera naquela semana. Esse tipo de pergunta  é um insulto a quem serve em tempo
integral. Devemos olhar bem nos olhos de quem as faz e dizer­lhe que isso não é da conta dele. Sua
pergunta não reflete amor pelos que servem ao Senhor; ao contrário, são uma ofensa. Uma pessoa
de fato interessada deve contribuir colocando a oferta na caixa apropriada sem perguntar quanto
um servo do Senhor recebe. Essas são perguntas inconvenientes. 

A esposa de um irmão que serve disse certa vez que seu marido recebia apenas uns poucos
dólares por semana. Isso levou outros a sentir que deveriam ajudá­lo a encontrar um emprego. Isso
é vergonhoso. Já que esse casal estava disposto a seguir por esse caminho, não devia reclamar.
Quem serve ao Senhor não deve agir desse modo. 

Os   que   escolhem   seguir   esse   caminho   precisam   saber   que   é   um   caminho   de   sofrimento   e
pobreza. Não devem esperar ter vida próspera. O Senhor nunca disse que os que optarem por esse
caminho terão comida com que se alimentar e boa vida. Em vez disso disse que devemos deixar
tudo   para   segui­Lo.   Devemos   até   mesmo   perder   a   vida.   Esse   é   o   caminho   da   consagração.  É
glorioso quando podemos viver pela fé um ano inteiro, sem que ninguém demonstre preocupação
conosco.   Porém   existem   situações   em   que   os   que   servem   pedem   a   ajuda   dos   outros.   Quando
estamos nessa condição, podemos fazer a obra do cristianismo institucionalizado, mas não a da
edificação   da   igreja.   Quando   edificamos   a   igreja,   nossa   fama,   reputação,   ser   e   família   irão
naufragar. Nossa reputação, o que somos e o que temos precisam ser enterrados. O apóstolo Paulo
sofreu naufrágio pelo Senhor; e o Senhor ganhou seu tudo. O Senhor Jesus pode levar as pessoas
ao naufrágio. Muitas vidas já naufragaram por causa Dele. Isso é questão de consagração, de se
pagar o  preço; isso  é o que significa afirmar: "Preencho o  que resta  das aflições de Cristo, na
minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja" (Cl 1:24). 

O CAMINHO DA CONSAGRAÇÃO É CONSIDERADO ANORMAL
Precisamos considerar a questão da consagração e considerar o preço que precisamos pagar.
Os   que   estão   no   cristianismo   institucionalizado   não   seguem   esse   caminho.   Precisamos   estar
prontos para ser naufragados por Cristo. Não devemos  avaliar as coisas de  acordo com nossos
pensamentos  naturais. Não devemos considerar nossa  profissão, casamento, família  ou  estudos
segundo   o   pensamento   natural.   A   situação   dos   primeiros   apóstolos,   dos   cristãos   que   tomaram
parte na vida da igreja primitiva e dos que seguiram o Senhor através dos séculos sem dúvida não
pode ser considerada normal. Somente podemos ser considerados normais se não nos consagramos
e não trilhamos o caminho da consagração. Todos os caminhos da consagração são com certeza
anormais. Por exemplo, os pais da irmã Dora Yu enviaram­na à Inglaterra para estudar medicina.
Contudo, quando o navio em que ela estava, chegou ao porto de Marselha, na França, ela disse ao
capitão que precisava retomar à China a fim de pregar o evangelho. Isso é anormal. Não podemos
trilhar um caminho normal em nossa vida humana. Se seguirmos por um caminho normal, não
poderemos   trilhar   o   caminho   da   consagração.   Que   todos   vejamos   que   o   caminho   de   servir   ao
Senhor é o caminho da consagração. Não existe nada de normal nesse caminho; ao contrário, tudo

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nele é anormal. 

CAPÍTULO OITO
A EDIFICACÃO DA IGREJA REQUER CONHECIMENTO DE DIFERENTES
QUESTÕES

A IMPORTÂNCIA DE CONHECER DIFERENTES QUESTÕES

Neste capítulo iremos considerar as várias questões que precisamos conhecer. Para a edificação
da  igreja,   precisamos   conhecer  as   pessoas   e   várias  questões.  Se   queremos  apenas  ser   pessoas
zelosas   que   pregam   o   evangelho   a   fim   de   salvar   os   pecadores   e   falam   a   verdade   a   fim   de
aperfeiçoar os santos, não há necessidade de adquirir conhecimento com relação a várias questões.
Entretanto,  se   queremos   edificar   a   igreja,   precisamos   conhecer   as   pessoas   e   várias
questões. Precisamos conhecer os que contatamos e os que desejam servir o Senhor. Devemos
conhecer suas motivações e saber se sua carne já foi crucificada, e também conhecer seu espírito.
Precisamos ainda conhecer  a natureza,  o resultado, o relacionamento e  o impacto causado  por
essas questões. 

Há muitos aspectos das coisas que precisamos conhecer. Por exemplo, um irmão que ama o Senhor
pode dizer que Ele o moveu a ofertar vinte mil dólares à igreja. Por um lado, devemos agradecer ao
Senhor e nos regozijar por esse irmão estar disposto  a ser usado dessa forma pelo Senhor. Por
outro,   precisamos   conscientizar­nos   de   que   essa   questão   não   é   simples.   Precisamos   ter
entendimento   com   relação   à   questão   de   ofertar,   ou   seja,   temos   de   compreender   a   motivação,
natureza,   método   e   propósito   da   oferta   desse   irmão.   Também   devemos   conhecer   os   possíveis
resultados e influência de sua oferta. Se apenas agradecemos ao Senhor e a aceitamos, nossa obra
não terá sido para a edificação da igreja, e sim para sua demolição. 

Precisamos buscar ser iluminados pelo Senhor mediante oração e consideração para examinar a
história   e   os   antecedentes   da   pessoa   que   faz   a   oferta.   Temos   de   levar   em   consideração   sua
reputação   e posição  na  sociedade,  além da  origem  do  dinheiro  que  oferta. Devemos considerar
também suas intenções diante do Senhor e o espírito de sua oferta. Quando os presbíteros recebem
grande soma de dinheiro como oferta para a igreja, devem dedicar tempo para compreender como
esse valor foi obtido. Além disso, precisam considerar seriamente os possíveis efeitos, diretos ou
indiretos, de recebê­la.  Em  outras  palavras, os presbíteros necessitam ter conhecimento  básico
acerca dessa questão especifica. 

Vamos supor que outro irmão diga que deseja ofertar cinqüenta mil dólares para ajudar os irmãos
em necessidade. Apesar de ser bom, isso não é tão simples. Não devemos simplesmente agradecer
ao   Senhor   por   esse  irmão,   pensando   que  essa   é  uma   oferta   que  veio   no   tempo   oportuno   para
ajudar os santos necessitados. Não devemos pensar que, só por distribuir cinqüenta mil dólares
entre os pobres da igreja, ela será edificada. Pelo contrário, precisamos considerar se a oferta não
poderia levar a igreja a desmoronar. Isso pode ser comparado a uma cirurgia que leva a pessoa a
perder a vida em vez de curá­la ou a um alimento que leva a pessoa a ficar doente em vez de nutri­
la. 

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Para edificar a igreja, não podemos ser simplórios a esse  ponto.  Precisamos aprender a ter
total   compreensão   da   situação   que   estamos   enfrentando.   Só   assim   poderemos
determinar o que temos de fazer e como fazê­lo. 

Discernir as questões relaciona­se não apenas com a administração da igreja, como até mesmo
com o ministério da palavra. Podemos pregar mensagens que desencorajem em lugar de encorajar
se nos falta conhecimento de determinado assunto. Por isso, se queremos aprender a edificar a
igreja,   precisamos   aprender   a   discernir   as   situações.   Temos   de   aprender   a   conhecer   todas   as
questões direta ou indiretamente relacionadas com a igreja, desde que sejam algo que possamos
investigar   e   contatar.  Nossa   habilidade   de   administrar   a   igreja   depende   de   nossa
capacidade de conhecer as pessoas e as questões. Nossa habilidade de pregar a palavra e
trabalhar para o Senhor depende de conhecer ou não as pessoas e as questões. Até mesmo nossa
habilidade de visitar e oferecer ajuda às pessoas depende de tais conhecimentos. 

Alguns irmãos responsáveis agem de maneira imprópria na administração da igreja, porque lhes
falta   o   conhecimento   com   respeito   às   várias   questões.   Algumas   mensagens   podem   instruir   os
santos, mas resultar em demolição e não em edificação da igreja. Isso resulta de um conhecimento
inadequado no que diz respeito  às questões. A falta de conhecimento também pode levar­nos a
demolir a igreja enquanto a edificamos. 

CUIDAR DOS SANTOS NECESSITADOS

Dois irmãos do ocidente, um dos quais era médico, estiveram conosco por algum tempo, porém sua
obra   não   nos   trouxe   muitos   benefícios.   Tinham   o   desejo   de   servir   com   os   santos,   no   entanto
sentimos que não obtiveram muito proveito  nem trouxeram muito proveito aos irmãos. A falta de
frutos não se relacionava com a instrução, mas com a edificação da igreja. Com respeito à edificação da
igreja,   sentimos   que  recebê­los  no  serviço  resultaria  em   grande  perda.  Como  servos   do Senhor,  não
devemos fazer fofoca ou ser descuidados nas conversas sobre esse assunto. O fato, no entanto,  é que o
contato com esses dois irmãos deu origem a muitos problemas em vez edificar a igreja. 

Segundo nosso discernimento, problemas poderiam surgir porque não conhecíamos totalmente que tipo
de pessoa eles eram. Não estávamos certos também quanto ao que seriam capazes de fazer ou qual seria
o resultado de sua obra. As pessoas que entraram em contato com eles estavam confusas e incertas. Eles
ajudaram muitos santos com seus conhecimentos médicos, sem nada cobrar e até pagaram despesas
hospitalares para alguns. Entretanto toda a obra que realizaram resultou em demolição da igreja, e não
em edificação. 

Certo dia minha esposa e eu fomos visitar o irmão que era médico. No caminho vimos uma irmã cuja
criança contraíra tuberculose e já fora operada por ele duas vezes. Ela sentia que fora pela misericórdia
de Deus que o irmão cobrara dela apenas a metade das taxas na primeira cirurgia e realizara a segunda
sem cobrar nada. Por um lado, ele era gentil e cuidava dos pobres. Por outro, aqueles de quem  ele
cuidava ficavam agradecidos a ele, mas não obtinham mais de Cristo. Portanto não era para a edificação
da igreja. Além do mais, aqueles a quem ele ajudava não se sentiam dignos; pelo contrário, sentiam­se
inferiores a ele e aos irmãos responsáveis. Por essa razão, o que esse irmão fazia em amor na realidade
trazia demolição para a igreja, e não edificação. 

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Caso tivesse encargo de ajudar os santos materialmente, poderia aceitar os honorários médicos e ser
conduzido pelo Senhor a colocar um valor na caixa de ofertas. Desse modo os irmãos receberiam ajuda
diretamente das mãos de Deus; não se sentiriam aviltados diante dos homens nem pensariam que a
ajuda vinha de homens ou da igreja. Sentiriam apenas que Deus os visitara. Isso os edificaria com um
caráter nobre. 

Se nossa ajuda leva os irmãos a se sentir inferiores ou em débito conosco, demolimos a igreja
em lugar de edificá­la. Nossa ajuda não deve levar os outros a se sentir gratos a nós. Em
outras   palavras,   não   devem   sentir­se   inferiores   a   nós.   Não   devem   sentir­se   como   nossos
beneficiários.   Se   causamos   esses   sentimentos   nas   pessoas,   somos   uma   instituição   de
caridade e não a igreja. Os santos não devem simplesmente sentir­se agradecidos a nós, à
igreja ou aos presbíteros. Precisamos conduzi­los a Cristo. Somente esse resultado produz a
edificação da igreja. 

Se   mantivermos   a   atitude   de   dar   esmolas,   demonstrar   caridade   ou   prestar   assistência   aos   santos
necessitados,   vamos   corromper   a   igreja   do   Senhor.   Embora   a   irmã   cujo   filho   contraíra   tuberculose
estivesse   muito   grata   ao   Senhor   e   O   louvasse   por   isso,   todo   o   seu   ser   estava   corrompido.   Em   seu
aviltamento, ela se tornou dependente dos outros e até mesmo subserviente a eles. Os que recebem
contínua ajuda de terceiros não podem ser edificados no caráter e a igreja, por sua vez, também não
pode ser edificada. Nesse aspecto os dois irmãos ocidentais necessitavam de fato de nossa comunhão.
Contudo não fomos capazes de ajudá­los. Isso prova que não tivemos discernimento no que diz respeito a
essas questões. Além disso, devido a essa falta, nossa obra aqui não pode edificar a igreja. 

Quando cuidamos dos irmãos necessitados, precisamos considerar se nosso cuidado é para a edificação
ou para a demolição deles. Isso depende de nossa habilidade em discernir as questões. 

RECEBER A AJUDA DE DEUS E NÃO DO HOMEM

Não devemos ficar em débito com os outros. Devemos receber nossa ajuda de Deus e não do homem.
Os últimos cem anos de obra cristã aqui não trouxeram edificação para a igreja; antes, trouxeram
danos e causaram demolição na igreja. Os missionários do ocidente precisam aprender a lição de
ajudar as pessoas diante do Senhor sem torná­las seus beneficiários. As pessoas devem sentir que
receberam a ajuda de Deus e não do homem. 

Não é edificante para os irmãos ocidentais produzir nas pessoas o sentimento de ser beneficiários.
Ao fazê­lo, fazem­se superiores aos outros. Isso jamais trará edificação para a igreja. A igreja foi
corrompida. Quando ajudamos em secreto, nossa ajuda de fato beneficia os outros. 

NÃO CONSIDERAR OS OUTROS SUPERIORES E A NÓS MESMOS INFERIORES

Os irmãos do ocidente tinham boas intenções, mas precisavam considerar suas atitudes. Elas eram
impróprias porque não eram construtivas. Muitos dentre os irmãos ficaram associados a eles por
longo   tempo,   porque   consideravam   que   tudo   o   que   vinha   do   ocidente   era   bom   e   útil.   Nunca
pensamos que devíamos tê­los ajudado nesse aspecto, porque nos considerávamos inferiores. Não
devemos ter alta consideração por nós mesmos nem devemos considerar­nos inferiores. Precisamos
sim do suprimento do ocidente em muitas áreas, mas isso não significa que tudo que vem de lá está
certo. Isso depende de nossa habilidade de discernir as coisas. 

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Recebemos   ajuda   dos   irmãos   ocidentais,   mas   eles   também   necessitam   receber   nossa   ajuda.
Devemos ser humildes e receber a ajuda deles, contudo isso não quer dizer que tudo o que possuem
nos é conveniente. Nós os criticamos porque temos a esperança de que todos aprendamos a lição.
Quando os presbíteros decidem estudar certo livro da Bíblia, eles não insistiriam em outro livro se
fossem experientes em questões espirituais e no comportamento. Esses irmãos tinham competência
em sua área médica, porém na administração da igreja e no tocante a questões espirituais, eles
eram como crianças aprendendo a falar.
 
Suprir   as   necessidades   da   igreja   não   depende   de   qual   livro   da   Bíblia   estudamos.
Podemos   suprir   as   necessidades   espirituais   dos   santos   mediante   qualquer   livro   da
Bíblia.  Esses irmãos não eram os responsáveis na igreja, mas deram aos santos uma impressão
negativa. Antes de fornecer suprimento, eles corrigiram outros; antes de exibir suas capacidades,
criticaram outros. Isso indica falta de aprendizado em questões espirituais e falta de habilidade em
lidar com os  outros. Essa  falta prejudica  a obra  de  edificação da  igreja.  Por  isso   precisamos
aprender a conhecer as pessoas e a discernir as questões que se colocam diante de nós. 

Quando  aprendemos  a servir  ao  Senhor, precisamos ser  capazes de  discernir as  situações. Não


devemos pensar que tudo o que vem do ocidente é bom. Já convidamos irmãos do ocidente nutrindo
grande expectativa, contudo o resultado da visita nos deixou apreensivos. De seu lado, sua conduta
foi   inconveniente;   do   nosso,   não   sabíamos   como   nos   expressar.   Tivemos   muitas   "refeições
ocidentais", mas os irmãos do ocidente se recusaram a fazer "refeições chinesas". Isso é orgulho. 

É  necessário  discernir  as  situações  para obter  a   edificação  da  igreja. Se   sempre apreciamos  as


coisas do ocidente e mostramos desprezo pelas do oriente, a igreja jamais será edificada. O Senhor
não é somente Senhor dos judeus; é também Senhor dos gentios. De igual modo, o Senhor  é dos
ocidentais e também dos chineses.

Ele não dá luz e entendimento apenas para o ocidente. Por essa razão, enquanto não devemos ser
orgulhosos, também não devemos sentir­nos inferiores. Devemos estudar se uma situação é certa
ou errada, se  é ou não útil. Não devemos pensar que tudo o que procede do ocidente  é bom e,
portanto,   deve   ser   recebido.   Antes,   devemos   aprender   a   conhecer   as   pessoas   e   a   discernir   as
questões. 

À  medida que edificamos a igreja do Senhor, precisamos aprender a discernir as questões. Não
devemos tratar nada de forma leviana. Devemos considerar e avaliar cuidadosamente as questões
que envolvem a nós e os santos. Precisamos considerar a fonte de cada tópico e suas conseqüências
antes de tomar qualquer decisão. Precisamos aprender essa lição. Todo médico tem de considerar
com   todo   cuidado   a   medicação   que   deverá   ser   receitada   a   um   paciente.   Não   podemos   ser
precipitados e negligentes ou imaturos e imprudentes; antes, temos de ser sempre cuidadosos e
precavidos. Precisamos passar tempo na presença do Senhor a fim de ponderar com todo cuidado
como   lidar   com   os   outros.   Uma   vez   que   estamos   edificando   a   igreja,   precisamos   aprender   a
discernir os fatos. Isso se aplica à administração da igreja, ao ministério da palavra e aos contatos
com os outros. 

COMO CONHECER AS QUESTÕES

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Em nossos contatos com as pessoas precisamos discernir as questões. Apesar de não interferir em
questões que não nos dizem respeito, não devemos negligenciar os assuntos que nos envolvem.
Portanto  precisamos  aprender  a  discernir  os fatos.  No  entanto  nosso  aprendizado deve   ser
gradual, e não apressado. 

Ao aprender a conhecer as situações, diversos pontos requerem nossa atenção. Primeiro, por trás
de cada situação existe uma pessoa. Quando a pessoa está certa, a situação em si quase sempre
está certa. Por esse motivo, devemos sempre saber quem está na origem de cada situação.
Precisamos conhecer o causador, o patrocinador, da situação. Se existir um problema na origem,
haverá problemas ainda que a situação pareça certa.  Precisamos chegar ao fundo de cada
questão. 

Segundo, precisamos conhecer a motivação por trás da questão. Alguém pode doar dez mil
dólares apenas para receber a aprovação dos outros. Outra pode fazer a mesma oferta somente
porque   outros   a   censuraram   por   não   ofertar.   A   motivação   está   errada   nas   duas   situações.
Devemos prestar atenção à motivação dos outros. Isso não quer dizer que tudo o mais está certo
quando a motivação está certa. Precisamos saber também se a natureza está certa. Por exemplo,
um irmão que deseja algo inadequado pode vir a receber ajuda de outro irmão. Embora o irmão
que o ajuda possa ser motivado pelo amor, o objeto de sua ajuda não é apropriado. 

Terceiro, mesmo que a natureza esteja correta, precisamos saber se a maneira de executar
é   certa.   Por   exemplo,   um   irmão   que   queira   fazer   uma   oferta   de   dez   mil   dólares,   pode
simplesmente trazer o dinheiro a nós. Devemos ajudá­la a compreender que essa não é a maneira
certa de se fazer a oferta. Ele deve colocar o dinheiro na caixa de ofertas. Devemos ensinar­ lhe a
orar a fim de conhecer as necessidades da igreja. Então verá que sua oferta não se dirige a um
indivíduo ou propósito único. Podemos ensinar­lhe sobre isso compartilhando com ele. Quando ele
se colocar diante do Senhor, a igreja será edificada. Por um lado, não devemos pensar apenas que
uma oferta de dez mil dólares é algo maravilhoso; por outro, não devemos rejeita­la por acaso.
Temos de aprender a melhor forma de cuidar desse assunto e estar atentos aos resultados. 

Quarto,   precisamos   saber  qual   será   o   resultado   de   cada   situação.   A   forma   como   algo   é
efetuado pode ser boa, mas a conseqüência não. Se o efeito provocado não for bom, não se deve
tocar  mais no assunto. Aqui está um breve  esboço. A  administração da igreja, o ministério da
palavra   e   de   visitação   aos   santos   devem   ser   efetuados   segundo   essas   considerações.   Se
praticarmos isso, será fácil discernir as questões. Quando as discernimos desse modo, edificamos
em vez de danificar a igreja. Portanto precisamos aprender a conhecer a fonte e a natureza das
questões de tal forma que encontremos o modo adequado de lidar com ela para a edificação da
igreja.
 Se existir um problema com quem oferta, devemos ajudá­lo no que tange à sua pessoa. Se ele tem
a   motivação   errada,   devemos   ajudá­lo.   Se   houver   um   problema   com   a   maneira   como   algo   é
efetuado,   com   seu   resultado   ou   efeitos,   não   devemos   ignorar   o   problema   nem   tratá­lo
levianamente, porque pode causar impacto na edificação da igreja. Devemos ajudar o irmão com a
adequação, a ajuda e o ensino necessários. Isso trará edificação para a igreja. 

Se   lidarmos   com   as   questões   com   leviandade   ou   negligência,   perderemos   a   oportunidade   de


edificar   a   igreja.   Precisamos   compreender   toda   questão   que   chega   a   nós   e   aproveitar   a
oportunidade para instruir e ensinar os envolvidos. Isso edificará também a igreja. Se os santos

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puderem receber nossa ajuda quanto  à  questão das ofertas materiais, serão edificados de forma
genuína. Também serão edificados como parte da igreja. 

Em   nossa   obra   e   serviço,   precisamos   conscientizar­nos   que   ser   orgulhoso   não   faz   sentido   e
considerar­nos inferiores é pior ainda. Não há valor algum em pensar que estamos sempre certos;
nem existe valor em pensar que estamos sempre errados. As duas atitudes são erradas e indignas.
Sempre que  nos  defrontamos com  uma  pessoa  ou  questão,  precisamos  aprender  a  conhecer  as
forças e fraquezas da pessoa, bem como a fonte e natureza da questão. Desse modo, saberemos
ajudar a pessoa a ser edificada na igreja; saberemos também lidar com a situação. Isso é edificar. 

ESTAR ALERTAS CONTRA O SENTIMENTO DE SUPERIORIDADE NACIONAL
 E OS HÁBITOS MUNDANOS

A edificação da igreja não depende de reconhecer que o que vem do ocidente é sempre bom. Mesmo
que oitenta por cento das coisas que procedem do ocidente sejam boas, ao menos vinte por cento
das coisas no oriente também são boas. Não devemos pensar que as pessoas do ocidente estão cem
por cento certas. Caso contrário, as igrejas no oriente e no ocidente não serão edificadas juntas. 

Dois dias atrás, um irmão do ocidente disse que vários servos da casa dos obreiros estiveram numa
festa de aniversário com sua família. Ele os convidou para se alegrar com eles no aniversário de
seu   filho.   Não   devemos   trazer   hábitos   do   mundo   para   nosso   meio.  Desde   que   tomamos   o
caminho da restauração do Senhor, não celebramos aniversários nos últimos trinta anos.
Não somos perfeitos, mas alguns missionários do ocidente precisam ser censurados. Eles vieram
ao oriente a fim de fazer a obra do Senhor, no entanto também prejudicam essa obra. Celebrar o
aniversário dos filhos e até mesmo convidar os que servem a participar é uma atitude
carnal que trará danos à obra do Senhor. 

Isso pode encorajar os que vivem na casa dos obreiros a celebrar o aniversário dos filhos. Isso é
intolerável. Permitimos que os irmãos do ocidente nos influenciem em vez de influenciá­los. Os
que laboram pelo Senhor precisam ter muito cuidado. 

Sempre   que   recebemos   um   convite,   temos   de   saber   quem   está   envolvido   e   qual   é   o
propósito da reunião. Pregamos a verdade com relação a não amar o mundo e desejamos que os
outros não amem o mundo. Nos últimos trinta anos nossos colaboradores não celebraram os
aniversários   dos  filhos   ou  mesmo  dos  pais.  Precisamos aprender   essa lição   a  fim de
edificar a igreja. Doutro modo, nosso esforço será como um provérbio chinês que diz que moemos
grãos  de   soja   sem  produzir   nenhum  tufou.  Nossos  esforços   serão   em   vão.  Por  essa   razão,  não
devemos orgulhar­nos ou humilhar­nos em excesso ao conhecer a origem de certa questão. 

Antes   de   convidar   determinado   irmão   do   ocidente   para   falar,   consideramos   o   fato   de   que   ele
agradecera em público aos que lhe enviaram cartões de natal. Apesar de eu ter recebido ajuda
espiritual desse irmão, nesse aspecto ele é que precisava de ajuda. Se o natal é condenado por
Deus,   mesmo   que   as   pessoas   nos   enviem   cartões,   não   devemos   agradecer­lhes.   Esse   exemplo
demonstra que nem tudo o que vem do ocidente está certo. Eles necessitam de nossa ajuda em
muitas questões.  Apesar  de  não  ter  nenhuma  luz  com respeito  à  base  da  igreja,  recusam­se a
receber ajuda quanto a esse assunto. Até mesmo debatem e discutem repetidas vezes sobre a base
da igreja. Isso revela um sentimento de superioridade nacional. Para que as igrejas no oriente e no
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ocidente sejam edificadas juntas, os irmãos do ocidente precisam estar abertos para a questão da
base da igreja. Não ficamos brincando nos últimos trinta anos. Demos a vida para seguir
esse caminho. Não devemos considerar nenhum assunto da igreja de forma superficial.
Devemos   sim   estar   desesperados   com   relação   a   alguns   assuntos   e   deixar   outros   de   lado.
Respeitamos os ministérios espirituais do ocidente, contudo não concordamos em que tudo o que
vem de lá esteja correto. 

As   igrejas   estão   diante   de   nós.   Aceitamos   os  irmãos  do  ocidente  que  estão   conosco   e  devemos
permitir que sirvam ao Senhor. Entretanto precisamos aprender a conhecer as pessoas e a
discernir as questões. Precisamos saber também o que podemos e o que não podemos
aceitar.   Precisamos   discernir   inclusive   as   questões   que   envolvem   um   jovem   ou   uma   jovem.
Devemos encorajar o que é conveniente e restringir o que não é. A mera pregação do evangelho
para a salvação dos pecadores e a instrução dos crentes não podem edificar a genuína igreja do
Senhor. Precisamos conduzir outros a Cristo e ajudá­los a se estabelecer e ser edificados na igreja. 

CAPÍTULO NOVE
O SIGNIFICADO DA EDIFICACÃO ESTÁ NA EDIFICAÇÃO 
DA AUTORIDADE DE DEUS SOBRE O HOMEM

A maior parte das pessoas pensa que a edificação nos capacita a agir em coordenação uns com os outros
de tal modo que não sejamos mais indivíduos separados, porém um Corpo corporativo. O verdadeiro
significado da edificação, porém, é edificar Cristo na pessoa dos crentes.  Quando Cristo já estiver
edificado nos crentes, eles se tornam Seu Corpo. Em Efésios 4:11­12 Paulo diz que Deus concedeu
à igreja diversos dons para a edificação do Corpo de Cristo, a edificação da igreja. Em 1 Coríntios 3 ele
se refere  à edificação do Corpo como a edificação da  habitação de Deus. O Corpo e a habitação são
exatamente  a  mesma  coisa.   Paulo   nos  diz   que  devemos   usar   ouro,   prata   e  pedras   preciosas   para  a
edificação. Se edificarmos com madeira, feno e palha, nossa obra será consumida (vs. 12­15). 

O   versículo   12   do   capítulo   três   nos   mostra   que   o   material   da   edificação   são   ouro,   prata   e   pedras
preciosas. O ouro representa a natureza divina de Deus Pai, a prata representa a redenção de Cristo, o
Filho,   e  as  pedras  preciosas  representam   a  obra  transformadora   do  Espírito.   Isso  nos   ensina  que   o
material a ser usado na edificação é o Deus Triúno ­ o Pai, o Filho e o Espírito. Em outras palavras,
o edifício é construído com a natureza divina do Pai, a redenção do Filho e a obra de transformação
do Espírito. Esse versículo, no entanto, não nos diz o que edificamos. Por exemplo, tijolo,  pedra  ou
madeira dizem respeito ao material usado na construção, mas casa, sala de aula ou auditório referem­se
ao edifício em si. 

De acordo com a Bíblia, existem dois aspectos da edificação de Deus no universo: um se refere a
urna habitação, e o outro, a urna cidade. Tudo o que diz respeito à edificação está relacionado com
a   habitação   ou   com   a   cidade.   Seja   Deus   ou   o   homem   que   constrói,   existem   apenas   esses   dois
aspectos da edificação: a habitação e a cidade. Habitação, templo e palácio referem­se todos à mesma e
única   coisa.   Um   templo   é   urna   habitação,   e   um   palácio   também.  Com   exceção   da   torre   de
Babel,   toda   construção   mencionada   na   Bíblia   se   refere   a   urna   habitação   ou   a   urna
cidade. Hoje Deus edifica urna habitação. A igreja é Sua habitação, Sua casa. Quando esse edifício

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estiver concluído, será urna cidade: a Nova Jerusalém. Conforme Efésios 2:22, Deus edifica urna
habitação, e de acordo com Hebreus 11: 10, Deus edifica urna cidade com fundamentos. 

A EDIFICAÇÃO DO TEMPLO DE DEUS

No Antigo Testamento, o templo santo tipifica a habitação de Deus, e a cidade santa tipifica a Nova
Jerusalém. Quando  o  povo   de  Israel entrou   em   Canaã, de  seu  ponto  de  vista   eles   obtiveram  a
bênção de urna terra de onde manava leite e mel. Já do ponto de vista divino, no entanto, eles
estavam construindo um templo e urna cidade para Deus (1 Rs 8: 12­21). Os israelitas tornaram o
templo santo e a cidade santa, Jerusalém, para ser seu centro. Quando o povo de Israel chegou a
Canaã, seu trabalho era o de edificar o templo e a cidade. Todo o relacionamento de Deus com Seu
povo  no   Antigo  Testamento  estava  relacionado com  o  templo  e  a  cidade.  Por   isso, os  salmistas
falavam com freqüência do templo santo e da cidade santa. Essa é a questão central entre Deus e
Seu povo. 

Satanás, o inimigo de Deus, fez tudo o que estava ao seu alcance para destruir o relacionamento de
Deus com Seu povo. Ele fez isso destruindo o templo santo e a cidade santa. Depois da destruição
do templo e da cidade santa, houve urna restauração entre o povo de Israel. O edifício precisava ser
restaurado.   O   templo   santo   e   a   cidade   santa   necessitavam   ser   edificados.   Isso   mostra   que   a
edificação do Corpo de Cristo é a edificação do templo de Deus por um lado e da cidade de Deus por
outro. Por um lado, o Corpo de Cristo é a casa, a habitação e o templo de Deus; por outro, é a igreja e a
noiva de Cristo. Em Apocalipse 21 encontramos urna cidade ­ a Nova Jerusalém. A cidade santa é a
noiva. Portanto a igreja diz respeito ao templo e à cidade. Edificar a igreja é edificar o templo e a
cidade de Deus. 

A EDIFICAÇÃO DO TEMPLO É A EDIFICAÇÃO DA MESCLA DE DEUS COM O HOMEM

Edificar a igreja, o Corpo de Cristo,  é urna expressão genérica na Bíblia. Urna expressão mais
específica   e   melhor   definida   é   a   edificação   do   templo  e   da   cidade.  A   ênfase  do   templo   está   na
presença de Deus, na mescla de Deus e do homem. Por esse motivo, edificar o templo  é edificar a
mescla de Deus com o homem. Para começar 1 Coríntios 6:19 diz: "Acaso, não sabeis que o vosso
corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós". Somos o santuário ou templo de Deus e o
Espírito de Deus habita em nós. Essa é a mescla de Deus com o homem. O templo diz respeito ao
mesclar de Deus com o homem. Depois que o templo foi construído, a glória do Senhor encheu todo
o templo (1 Rs 8:10­11). Esse templo representa o povo de Israel como habitação de Deus; Deus
habitou entre eles. Na administração da igreja e no ministério da palavra estamos edificando a
igreja.   Estamos   edificando   a   mescla   de   Deus   com   o   homem   nas   pessoas.  O   propósito   da
administração da igreja é produzir a mescla de Deus com o ser humano. O propósito de
nosso ministério da palavra também é produzir tal mescla. Se produzimos a mescla de
Deus com o homem, edificamos o templo. 

Esse princípio pode ser aplicado a muitas situações. Talvez dois irmãos vivam juntos, mas não se
dêem bem. Eles não brigam e são educados, porém não há edificação entre eles. Eu pergunto: "A
presença de Deus está com eles? O templo de Deus está lá?". Se não existe edificação entre eles,
eles não têm a presença de Deus ou o templo de Deus com eles. São pessoas independentes, sendo
que nenhum dos dois se importa com os assuntos do outro. São apenas dois irmãos que servem ao
Senhor juntos e moram na mesma casa. Não têm a presença de Deus, Seu templo. 

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Se já fomos edificados e aprendemos a lição da edificação, perceberemos que falta mescla a esses
irmãos. Os dois têm grande quantidade de ego e, portanto, não há muita mescla com o Senhor. Por
essa razão, nossa tarefa é edificá­los, de modo que Cristo seja mais mesclado com eles. Precisamos
prestar maior atenção a que parte de seu ser não lhes permite ser mesclado a Deus. Caso permitam
que essas partes sejam trabalhadas, serão mesclados com Deus e, assim, o templo de Deus estará
neles. A extensão de nossa união com os outros depende de quanto já fomos mesclados com Deus.
Essa é a edificação e o templo de Deus com Sua presença. 

Sempre   que   prestamos   verdadeira   ajuda   espiritual   às   pessoas,   nós   as   capacitamos   a   ser   mais
mescladas com Deus. Quanto mais estiverem mescladas com Deus, mais estarão unidas a outros
membros do Corpo de Cristo. Aqueles a quem falta o elemento de Deus não podem ser um com
outros crentes. Portanto os irmãos que falam do púlpito devem assegurar­se que suas palavras
resultem em Deus ser mais mesclado com os santos. Se trabalhamos com os jovens, as mensagens
que   pregamos   devem   levá­los   a   ser   mais   mesclados   com   Deus.   Se   nossas   mensagens   não
produzirem esse resultado, nossa obra não será de edificação. Não edificaremos o templo. A obra
que edifica o templo  é a que permite a Deus obter habitação para Si mesmo. Permite que Deus
habite   no   íntimo   do   ser   humano.  Nossa   obra   deve   levar   Deus   a   habitar   ainda   mais   no
homem e ser mesclado com ele. 

A EDIFICAÇÃO DA CIDADE DE DEUS

Há distinção entre o templo e a cidade. O templo enfatiza a habitação, a morada. A cidade está
relacionada com a administração. Portanto o templo diz respeito à Sua presença e a cidade à Sua
autoridade soberana, a Seu poder. Quando a Nova Jerusalém entrar em cena, esses dois aspectos
serão combinados. A Nova Jerusalém é uma cidade, o que é questão de autoridade, e também é o
tabernáculo de Deus com os' homens, que diz respeito ao aspecto de morada. Por isso na Nova
Jerusalém   vemos   tanto   a   presença   de   Deus   como   Sua   autoridade.   Apesar   de   os   dois   aspectos
estarem combinados, a ênfase na cidade está na autoridade. Por isso o centro da Nova Jerusalém é
o trono de Deus e do Cordeiro, que diz respeito ao poder soberano de Deus,  à Sua autoridade (Ap
22:3). 

A EDIFICAÇÃO DA CIDADE É A EDIFICAÇÃO DA AUTORIDADE DE DEUS SOBRE O
HOMEM

Edificar o templo é edificar a habitação de Deus para que Ele tenha base no ser humano, habite
nele   e   esteja   mesclado   com   ele.   Edificar   a   cidade   é   edificar   o   poder   soberano   de   Deus,   Sua
autoridade sobre o homem. Em primeiro lugar precisamos edificar a presença de Deus no homem.
Esse é o passo inicial. A seguir precisamos edificar o poder soberano, a autoridade divina, sobre o
homem. Esse é o passo final. Por essa razão, primeiro temos a igreja, a casa de Deus, Seu templo, e
a seguir temos a manifestação da Nova Jerusalém. Na obra de edificação sempre edificamos em
primeiro   lugar   o   templo   e   a   seguir   a   cidade.  A   presença   de   Deus   vem   antes   de   Sua
autoridade. Primeiro   edificamos   o  mesclar  de  Deus com  o  homem,  depois   edificamos
Sua autoridade sobre o homem. 

Apesar de o templo ser o centro, a proteção se encontra na cidade. Uma pessoa que só
tenha o elemento do templo, e não o da cidade, está sem proteção. Se houver apenas a

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restauração   do   templo,   sem   a   cidade,   o   templo   estará   desprotegido.   Por   essa   razão,
depois   que   o   templo   foi   restaurado   por   Esdras,   Neemias   ainda   precisou   restaurar   a
cidade.   Não   houve   combates   durante   a   restauração   do   templo,   porque   a   questão   da
proteção   não   era   problema;   havia,   porém,   a   ameaça   de   guerra   quando   a   cidade   era
restaurada, porque a cidade estava relacionada com a proteção. 

A   presença   de   Deus   não   implica   na   existência   de   batalhas,   porém   a   autoridade   de   Deus   se


relaciona com o combate. A obra de Satanás nas pessoas é destruir a autoridade de Deus, e não Sua
presença. O propósito primordial de Deus é Sua autoridade, e não Sua presença. A manifestação
extrema na Bíblia é uma cidade com o trono de Deus no centro. Isso significa que o alvo primordial
de Deus é realizar algo onde Ele reine e estabeleça Seu trono. 

Quando estamos mesclados com Deus e temos Sua presença em nós, podemos ser unidos a outras
pessoas como o templo de Deus. Os que estão mesclados com Deus e têm Sua presença interior
podem ser unidos a fim de ser o templo de Deus. Todavia isso não faz de nós a cidade de Deus.
Precisamos ser edificados a ponto de estar sob a autoridade de Deus, tendo Seu poder soberano
sobre nós. Somente então podemos ser unidos a fim de nos tornar uma cidade. Se estamos apenas
mesclados   com   Deus,   Ele   só   pode   ter   uma   habitação.   Para   Ele   reinar   entre   nós,
precisamos ter Sua autoridade sobre nós. 

Assim, o significado da edificação é edificar a presença de Deus nas pessoas e Seu reino sobre elas,
isto é, edificar o mesclar de Deus nelas e Seu domínio sobre elas. Se não existe templo nem cidade
na terra, Deus estará restrito aos céus e só pode reinar nos céus .. Somente quando há um templo
na terra é que Deus pode habitar na terra, e apenas quando existe uma cidade na terra é que Sua
vontade pode ser feita e Seu reino ser exercido aqui. Em outras palavras, quando tivermos sido
edificados   por   Deus   no   nosso   interior   e   assim   tivermos   Sua   presença,   seremos   unidos   aos   que
também foram edificados por Deus e, portanto, também têm Sua presença a fim de nos tornar Seu
templo. Então, quando tivermos a autoridade de Deus e Seu reinar sobre nós, poderemos ser unidos
aos que também estão sob Sua autoridade a fim de nos tornar uma cidade. 

Por essa razão, precisamos permitir que Deus opere em nós para que sejamos edificados. Se existir
qualquer   aspecto   em   que   não   estamos   mesclados   com   Deus,   não   seremos   Seu   templo.   Se   não
permitirmos que Ele reine em nós em certo aspecto, não seremos Sua cidade. Precisamos deixá­Lo
edificar em nós. Depois de edificados, saberemos se o ser interior de alguém com quem entramos
em contato está desolado ou se tem a presença do Senhor. Saberemos também se foi edificado e tem
o templo de Deus nele. Talvez ame o Senhor com sinceridade, mas só identificamos desolação em
seu íntimo. Ele não tem a presença do Senhor quando lida com várias coisas. No máximo conseguimos
perceber que é zeloso, ativo e determinado, no entanto não conseguimos identificar o templo nele. Não
conseguimos entrar em contato com a presença de Deus nele. Portanto, ele não pode servir de forma
coordenada com outros cristãos. 

Para ajudar uma pessoa nessas condições, precisamos fazer a obra de edificação a fim de edificar Deus
em seu intimo. Em outras palavras, necessitamos edificar a presença de Deus em seu intimo para que
ela   tenha,   em   certa  medida,   o   templo,   a   presença  e  o   mesclar   de   Deus.   Nessa  pequena   medida   da
presença e do mesclar de Deus, também somos edificados nela. Com essa pequena medida da presença e
do mesclar de Deus, ela também pode unir­se a nós. Com essa pequena medida da presença e do mesclar
de Deus, ela está edificada e não isolada. Quanto mais trabalharmos nessa pessoa, mais a presença e o

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mesclar de Deus no intimo dela crescerão.  O templo de Deus  nela crescerá e sua união com outros
aumentará. Quanto mais ela for edificada desse modo, mais estará salva de ser independente. Quanto
mais for edificada desse modo, mais estará salva de ser individualista e mais aprenderá a ser unida com
outros a fim de ser edificados juntos. 

Depois que trabalharmos numa pessoa por algum tempo, ela possuirá alguma edificação em si mesma e
por fim terá o templo de Deus em si. Entretanto ela ainda não tem a cidade de Deus; ainda não conhece
a autoridade de Deus, Seu poder soberano. A cidade é totalmente uma questão de autoridade. Quando a
cidade e a torre de Babel foram construídas na terra, o homem subverteu a autoridade de Deus (Gn
11:3­4). Quando edificamos o templo de Deus no intimo de uma pessoa, temos de edificar nela também a
cidade de Deus: Seu poder soberano, Sua autoridade. Então ela aprenderá a ter não apenas a presença
de Deus, como também a estar debaixo de Sua autoridade em tudo.

Que significa estar  sob a autoridade  de  Deus?   Que  é  autoridade?   Precisamos  ver  que  existe não  só
autoridade e ordem na igreja, mas também saber que o universo inteiro é questão de autoridade. Por
exemplo, quando o arcanjo Miguel contendeu com o diabo a respeito do corpo de Moisés, ele não ousou
emitir juízo infamatório contra o diabo. Apenas disse: "O Senhor te repreenda!" (Jd 9). Isso é questão de
autoridade. Em Mateus 8 o centurião disse ao Senhor Jesus: "Pois também eu sou homem sujeito à
autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e
ao meu servo: Faze isto, e ele o faz" (v. 9). Isso também  é  questão de autoridade. O universo todo é
questão de autoridade, de ordem. Há ordem em nossa casa. Ordem envolve autoridade. Isso se aplica
ainda mais à igreja. 

Desde o início de Gênesis o universo está um caos, porque perdeu­se a ordem. No Novo Testamento, a
começar do Evangelho de Mateus, Deus realiza uma obra de restauração. À medida que Ele a realiza,
há cada vez mais ordem. Quando chegamos ao fim de Apocalipse, tudo está em perfeita ordem. Portanto,
quando a cidade se manifestar, tudo estará debaixo de autoridade. A obra de edificação que realizamos
começa com a edificação de Deus sendo mesclado com o homem e culmina na edificação da autoridade de
Deus sobre o homem. Quanto mais uma pessoa é mesclada com Deus e mais autoridade divina tenha
sobre si, mais será unida a outras. Ter apenas boa conduta não é o suficiente na igreja, porque a igreja é
questão de ser edificados sob a autoridade de Deus. 

O TEMPLO E A CIDADE SÃO IGUALMENTE CRUCIAIS

Nossa obra é fazer com que as pessoas saibam o que significa ter o mesclar de Deus e o homem, e o que
significa estar debaixo da autoridade divina. Sem o mesclar e a autoridade de Deus, não pode haver
nenhuma   edificação.   Sem   o   templo,   não   há   habitação;   sem   a   cidade,   não   há   proteção.   Em   outras
palavras,  se conhecemos  a presença de Deus  sem conhecer  Sua autoridade,  não temos  a cidade e  o
templo. A presença de Deus por fim será perdida, porque não há proteção. Temos de ter a presença de
Deus bem como Sua autoridade para ter proteção. 

A  edificação  sempre envolve  combate.   Efésios   2  fala  de  edificação,   e  o capítulo seis  fala  de batalha
espiritual. A batalha está relacionada com a cidade, e não com o templo. A batalha é pela autoridade de
Deus, e não por Sua presença. Quando Neemias retomou a fim de edificar a cidade, encontrou guerra
(Ne 4:7­8). Parece que o inimigo não desejava frustrar a edificação do templo tanto quanto a da cidade.
Isso é porque a cidade envolve a autoridade de Deus. O inimigo sabe muito bem que se não houver
cidade,   o   templo   poderá   ser   facilmente   destruído;   por   isso   seu   combate   visa   o   que   diz   respeito   à
autoridade   e   a   ordem.   Se   não   existir   cidade,   o   templo   não   possui   proteção.  Satanás   sabe   que   a
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presença   de   Deus   pode   ser   facilmente   destruída   quando   não   há   ordem,   quando   não   há
autoridade, na igreja. 

Todo obreiro do Senhor precisa compreender o significado de edificar a igreja. Edificá­la é edificar a
autoridade de Deus nela. Se a igreja numa cidade tiver apenas fervor, cordialidade e amor mútuo, mas
não tiver ordem nem autoridade, essa igreja está errada. Ela não tem proteção. Embora possa estar
muito bem hoje, a falta de proteção pode levá­la ao colapso amanhã. 

Amar uns aos outros não significa necessariamente a presença de Deus, pois isso pode ser do afeto do
homem natural e não ter em si o mesclar de Deus. Mesmo que tenhamos o mesclar de Deus, se não
possuirmos Sua autoridade, não haverá proteção.  É  preciso se estabelecer autoridade na igreja. Uma
igreja estará muito enfraquecida caso os irmãos tenham opiniões divergentes quando surgir alguma
situação.  Em  vez  de haver  edificação  nela,  haverá apenas   uma pilha de  pedras.  Uma igreja  forte  é
repleta da presença de Deus e de Sua autoridade, tendo assim tanto o templo como a cidade. 

É difícil encontrar a autoridade de Deus no cristianismo institucionalizado. A maioria dos grupos está
cheia de opiniões humanas. Eles se exaltam afirmando que são democráticos, no entanto estão repletos
de opiniões humanas e da falta da autoridade de Deus. Essa era a situação da igreja em Laodicéia. Essa
é   a   razão   por   que   diáconos   discutem   com   presbíteros   e   presbíteros   discutem   com   pastores.   Nossa
intenção não é criticar os outros, porém desvendar a verdade de que, se não levarmos a autoridade de
Deus   em   consideração   e   enfatizarmos   a   opinião   dos   homens,   o   resultado   será   uma   interminável
discussão. 

A igreja de Deus é um templo e uma cidade. Na igreja de Deus estão o templo e a cidade ­ a presença de
Deus e Sua autoridade. Precisamos considerar que tipo de obra realizamos. Será que estamos edificando
a igreja ou o cristianismo institucionalizado? Temos de saber primeiro se estamos ou não debaixo da
autoridade de Deus e se mantemos ou não nossa posição na ordem planejada por Ele. Poucas pessoas
entendem que edificar a igreja é edificar a presença e a autoridade de Deus. A partir desse momento,
entretanto, precisamos saber que edificar o Corpo de Cristo é edificar o mesclar de Deus com o homem e
edificar a autoridade de Deus sobre o homem. Precisamos realizar essa obra. 

PERMITIR QUE DEUS SEJA EDIFICADO EM NOSSO ÍNTIMO

Ser edificados em Deus significa permitir que Ele opere em nós e Se mescle conosco em tudo.
Se somos edificados por Deus  e estamos sujeitos a Sua autoridade, podemos então ajudar outros
realizando uma obra de edificação neles. Quando trabalhamos em outras pessoas, primeiramente
acrescentamos Deus a elas para que tenham Sua presença no andar e viver prático. Desse modo
tornam­se o templo de Deus. Precisamos então realizar outra obra nelas, para que conheçam a
autoridade de Deus. Isso corresponde a edificar o muro nelas. Dessa forma terão a presença e a
autoridade de Deus.  Serão   pessoas   edificadas  não  importa  aonde   forem.  Saberão  o  que   é   ter   a
presença de Deus, Seu mesclar, e também conhecerão Sua autoridade e ordem. Elas terão sido
edificadas. 

Alguns   podem   ser   fervorosos,   mas   não   têm  o   templo   de   Deus   ou   Sua   cidade.   Podem   ter   certa
medida   de   Sua   presença,   porém   não   compreendem   Sua   autoridade.   Há   certa   medida   da
restauração de Esdras, no entanto não há nada da restauração de Neemias. Porém há outros que
têm tanto o templo como a cidade. Têm a presença e a autoridade de Deus. Em tudo têm o mesclar
de Deus e estão sob  Sua autoridade. Mantêm a ordem e estão debaixo de autoridade. Também
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reinam, porque têm a autoridade divina. Em outras palavras, possuem a cidade de Deus. Tendo a
cidade de Deus em nós, temos proteção para nossa condição espiritual. 

CONHECER AS ARTIMANHAS DO INIMIGO

O Antigo Testamento diz que a cidade de Davi era sua fortaleza (l Cr 11:5,7). Portanto, quando
Neemias   prosseguiu   com  a   restauração  da   cidade,   os   inimigos   apareceram   (Ne   4:7­8)   e   os   que
edificavam faziam a obra com uma das mãos e seguravam a arma na outra (v. 17). Essa figura é
óbvia. Tipifica que os que edificam a igreja devem trabalhar na obra de edificação e lutar ao mesmo
tempo. A autoridade é proteção para a igreja. 
Precisamos lutar por ela. Para lutar pela autoridade da igreja, devemos aprender a lição. Quando
conduzimos os irmãos a amar o Senhor e viver por Ele, capacitando­os a obter a continua presença
de Deus, não encontramos muita oposição. Todavia,  à medida que conduzimos a igreja a ter
ordem adequada e se submeter à autoridade de Deus, o inimigo ataca. 

O livro de Neemias nos mostra que a primeira artimanha do inimigo não é um ataque frontal. Ele
ataca pelos flancos. Todos os envolvidos na obra de edificação necessitam aprender a combater na
batalha   espiritual.   Precisamos,   em   primeiro   lugar,   saber   lidar   com   as   artimanhas   do   inimigo.
Paulo diz que precisamos ficar firmes contra as ciladas do diabo (Ef 6:11). Não ignoramos seus
ardis. Sempre que edificamos a ordem na igreja, Satanás usa de meios hábeis para destruir nossa
obra.  Ele   fará  uma   bela   proposta   por   meio  de   um   amado  irmão.   Se   a  aceitarmos, a   edificação
inteira será destruída. As ciladas do inimigo podem ser vistas com freqüência na igreja. Ele realiza
uma obra extremamente traiçoeira, que visa danificar a ordem na igreja a fim de demolir os muros
da cidade. 

Na batalha espiritual é mais importante compreender as ciladas ou artimanhas do inimigo do que
empunhar uma espada para lutar com ele. É isso o que Neemias fez. Primeiro ele compreendeu as
artimanhas   do   inimigo.   Então,   quando   o   inimigo   disse:   "Vem,   encontremo­nos",   a   resposta   de
Neemias foi: "De tudo o que dizes coisa nenhuma sucedeu; tu, do teu coração, é que o inventas" (Ne
6:   1­9).   Neemias   conseguiu   enxergar   através   das   artimanhas   do   inimigo.  Portanto,   na   obra   de
edificação   precisamos   conhecer   as   pessoas,   as   questões   e   as   artimanhas   do   inimigo.  Nosso
conhecimento   acerca   das   ciladas   do   inimigo   depende   de   conhecer   as   pessoas   e   as
questões. Se   não   conhecemos  as   pessoas  e  seus   assuntos, o   inimigo   pode  esconder­se
neles.  Caso   Neemias   tivesse  aceitado   as   sugestões   do   inimigo,   teria   caído   vítima   de   suas
armadilhas. Se não conhecemos certa questão ou assunto, não sabemos quais são as ciladas do
inimigo e será fácil cair vítimas de seus estratagemas. O inimigo deseja destruir a autoridade e a
ordem de Deus na igreja. 

Por exemplo, surgiu certa vez um problema com relação ao tamanho que deveria ter o cálice da
mesa   do   Senhor   ­   se  deveria   ser   usado   apenas   um   cálice   grande  ou  vários   cálices   individuais
pequenos. Esse problema é na realidade uma questão de autoridade, e não do tamanho do cálice.
Em   princípio,   os   presbíteros   de   nosso   distrito   ou   de   nossa   igreja   devem   ter   a   autoridade
administrativa para determinar o tamanho do cálice. A autoridade administrativa quanto a esse
problema pertence aos presbíteros, e não aos responsáveis pelas reuniões de grupos. Esse não é
um   assunto   de   menor   importância,   mas   um   princípio   fundamental.   Se   queremos   edificar   e
administrar a igreja, a determinação do tipo de cálice não dependerá de discernir a verdade, mas
da decisão dos presbíteros. Devemos obedecer à autoridade representativa dos presbíteros. 

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Mesmo   que   a  igreja   numa  cidade  utilize   um  cálice   grande,   no   entanto   o  distrito   quer   utilizar
cálices pequenos, a decisão ainda dependerá dos presbíteros.  É  um assunto administrativo. Não
existe necessidade de debate com relação ao tamanho do cálice para a reunião da mesa do Senhor
e   ao   que   utilizar   para   o   batistério  à  parte   da   decisão   dos   presbíteros.   Esse   tipo   de   discussão
somente   leva   ao   caos   e  à  desordem.   Isso   indica   falta   de   conhecimento   quanto  à  questão   da
autoridade. Em outras palavras, não haverá edificação nesse aspecto fundamental. 

A rigor, podemos expressar nossa opinião em qualquer lugar que não seja a igreja. Se
queremos seguir o caminho dos gentios e praticar a democracia, perdemos a presença e
a proteção de Deus. Precisamos conhecer a obra de edificação de Deus e precisamos
conhecer  a  presença  e  a  autoridade   de  Deus.  Em  questões  relativas  à  igreja,  os  que
servem ao Senhor não devem falar livremente. Expressar nossas opiniões faz da igreja
um clube de debates. 

Isso não quer dizer que não devemos expressar nossas considerações, e sim que precisamos estar
conscientes da autoridade de Deus. Um irmão responsável por uma reunião de grupo deve lidar
com os problemas mediante o canal apropriado. Pode compartilhar com os presbíteros e deixá­los a
par de seus sentimentos e percepções. O problema deve ser levado aos presbíteros. Os presbíteros
não devem rejeitar de maneira precipitada a perspectiva compartilhada pelo irmão. Antes, devem
levar   os   sentimentos   do   irmão  à  presença   do   Senhor   e   ver   como   o   Senhor   os   conduz.   Isso   é
apropriado. O irmão responsável deve então seguir a decisão dos presbíteros sem emitir qualquer
juízo   pessoal.   Os   presbíteros   podem   escolher   seguir   o   entendimento   do   irmão.   Podem   vir   a
entender   também   que   toda   a   igreja   deveria   seguir   o   mesmo   caminho.   Essa   é   uma   igreja
apropriada. 

EDIFICAR A AUTORIDADE APROPRIADA NA IGREJA

A igreja deve funcionar desse modo, e a administração de qualquer país também deveria funcionar
assim. Novas medidas a ser tomadas não se originam de brigas. Para que uma nova medida seja
transformada   em   lei,   o   órgão   legislativo   de   um   país   precisa   funcionar   de   forma   apropriada   e
ordenada. Rixas não são eficazes. Precisamos aprender essa lição. Quando um problema se nos
apresenta, não devemos expressar inúmeras opiniões diferentes. Não há necessidade  de iniciar
disputas na igreja. Pelo contrário, devemos edificar a autoridade, o muro, a fim de proteger todos
os santos na igreja. Temos de aprender essa lição se queremos trabalhar com seriedade. A artimanha
de Satanás é causar danos à edificação de Deus. Por essa razão não devemos encorajar um ambiente de
livre   expressão   de   opiniões   pessoais.   Um   ambiente   desses   trará   danos   para   a   igreja.   Não   devemos
encorajar   atividades   carnais   ou   a   expressão   de   opiniões   humanas   na   igreja.   Devemos   receber   o
trabalhar do Senhor e permitir que Ele Se edifique em nós. 

Os que já aprenderam a lição diante do Senhor e foram aperfeiçoados sabem que há ordem na igreja.
Isso não significa que são a autoridade, e sim que mantêm a posição. Caso não tenhamos aprendido a
lição e sido edificados pelo Senhor, nossa obra não será para edificação. Os que forem salvos por meio de
nós não saberão conduzir­se, porque nós não fomos edificados por Deus. Os que instruímos também não
saberão se portar. Não seremos capazes de edificar porque não passamos pelo processo de edificação.
Como conseqüência, o Senhor não terá caminho em nós. 

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O cristianismo atual é caótico. Há muitas oportunidades para os que seguem rumo ao caos. Podem até
mesmo abrir uma congregação como melhor entenderem. No entanto os que desejam fazer a obra de
edificação de Deus necessitam aprender lições muito importantes e enxergar através das artimanhas do
inimigo. Isso não é questão relacionada à verdade. Nossa opinião pode estar certa, ainda assim podemos
não andar conforme a ordem estabelecida, não obedecer à autoridade e não ser trabalhados. Visto que
não aprendemos a lição, não conhecemos a igreja. 

Um  irmão responsável  por uma  reunião  de grupo  não tem  autoridade  para decidir  algo  referente  à
administração da igreja. Se as igrejas em Taiwan utilizam cálices grandes para a mesa do Senhor, é
tolice uma reunião de grupo mudar para cálices pequenos. Isso prova que ainda não aprendemos as
lições   e   ainda   não   conhecemos   a   igreja   e   a   edificação.   Isso   demonstra   que   somos   presunçosos   e
insolentes. Precisamos aprender essa lição solene e então poderemos fazer uma obra igualmente séria.
Essa obra será valiosa porque será a edificação. 

Edificar a autoridade não significa edificar nossa autoridade, e sim edificar a ordem de Deus na igreja.
Quando alguém entrar em contato com essa autoridade, perceberá que essa é de fato a igreja e a ordem
de Deus está presente aqui. Deus terá caminho e nós também. Por séculos muitas pessoas seguiram o
caminho do cristianismo institucionalizado. Esse, porém, não é o caminho de Deus. Que o Senhor nos
conceda   graça   para   que   conheçamos   Sua   edificação   com   relação  à  administração   da   igreja   e   ao
ministério da palavra. 

CAPÍTULO DEZ
A ESCOLHA DO MATERIAL PARA O MINISTÉRIO DA PALAVRA O MINISTÉRIO DA
PALAVRAÉ PARA QUE AS PESSOAS RECEBAM O SUPRIMENTO DE VIDA

Um  ministro  da  palavra  precisa  estar  atento ao material  que   utiliza.  A  escolha   do material  é
importante e envolve muitos detalhes.  Os que ministram a palavra precisam compreender
que o ministério da palavra tem por objetivo dar vida. O exercício do ministério da palavra
deve também apresentar soluções para os problemas das pessoas e gerar nelas um sentimento de
necessidade.   Não   deve   dar­lhes   apenas   material   para   reflexão.  Ao   exercer   o   ministério   da
palavra precisamos suprir as pessoas de vida, solucionar seus problemas e gerar nelas
um   sentimento   de   necessidade.   Precisamos   seguir   esses   princípios   ao   escolher   o
material para o ministério da palavra. 

Mais livros foram produzidos sobre temas relativos ao cristianismo do que sobre qualquer outro
assunto. O número de livros publicados sobre exposição bíblica é especialmente grande. Se algum

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ministro da palavra pensa que não precisa usar material extraído de publicações de terceiros, é
orgulhoso  e tolo.  Um  ministro  da palavra  pode  ser  tentado  também  a  crer   que  precisa  somente de
material   extraído   de   livros   publicados   no   cristianismo.   Um   ministro   que   pensa   assim   perdeu   seu
ministério   da   palavra.   Um   ministro   da   palavra   não   deve   depender   exclusivamente   de   material
encontrado em livros. 

O MATERIAL BÁSICO PARA O MINISTÉRIO DA PALAVRA É COMPOSTO DE LIÇÕES
APRENDIDAS PESSOALMENTE E DE ENCARGOS RECEBIDOS DO SENHOR

O material básico para o ministério da palavra deve ser composto das lições que uma pessoa aprendeu e
dos encargos que recebeu do Senhor. Queremos pregar uma mensagem que esteja baseada numa lição
que   aprendemos   e   num   encargo   recebido.   Podemos   consultar   outras   pessoas   para   conhecer   suas
perspectivas, explicações e ilustrações relativas à lição que aprendemos e ao encargo recebido. Ler livros
de consulta regularmente ajuda a ampliar nosso conhecimento, mas se um ministro da palavra compila
suas mensagens a partir de livros de consulta, sem ter aprendido nenhuma lição ou recebido nenhum
encargo, sua mensagem será degradada e inútil. O ministério da palavra é baseado nas lições que já
aprendemos e nos encargos que já recebemos. Se um ministro da palavra não aprende nenhuma
lição e nunca recebe nenhum encargo da parte do Senhor, não deve falar do púlpito. 

Por   essa   razão,   os   que   ministram   a   palavra   precisam   continuamente   aprender   lições   mediante   o
trabalhar do Senhor nas coisas grandes e pequenas. Precisa também aprender a receber encargos. Deve
receber   um   encargo   de   pregar   o   evangelho   e   dar   determinada   mensagem.   Tem   de   sempre   receber
encargos. Embora os irmãos amem o Senhor com todo o fervor, falta edificação entre nós. Por isso há a
necessidade de receber encargos a fim de conduzi­los a um profundo sentimento de que necessitam de
edificação.   Temos   de   receber   um   encargo   da   parte   do   Senhor   e   liberá­lo   mediante   o   ministério   da
palavra. 

NÃO SER ORGULHOSOS, MAS GUARDAR O CORAÇÃO

Não   devemos   ser   orgulhosos   no   ministério   da   palavra.  É  tolice   sentir   orgulho   à   medida   que   nos
preparamos, pensando que nosso material é melhor do que o dos outros. Mesmo que seja de fato melhor,
ao   consultar   os   outros,   nosso   conhecimento   será   ampliado   e   nossa   percepção   da   palavra   será
aprofundada. Desse modo, à medida que escolhemos material para o ministério da palavra, devemos
verificar e nos certificar de que as lições aprendidas e o encargo recebido são nossa base; por outro lado,
devemos guardar o coração para não sentir orgulho. 

O que uma pessoa fala  é  degradado e pecaminoso caso precise pesquisar livros por não ter nada para
falar. A liberação da palavra não baseada na experiência pessoal ou num encargo recebido do Senhor é
uma ofensa a Deus. Falar com essa negligência é pecado. Toda mensagem precisa estar baseada na
experiência pessoal e liberada a partir de um encargo. Essa é a base fundamental para a liberação da
palavra. Ao liberá­la não devemos orgulhar­nos. Devemos estar abertos para usar livros de consulta e
receber ajuda de outros. Por exemplo, se lemos um livro há muitos anos sobre certo tópico, não fará mal
nenhum lê­lo de novo. Nosso coração e atitude no momento são de consultar outras fontes de material e
receber a ajuda de outras pessoas. Todavia não devemos coletar material de maneira indiscriminada.
Essa é a atitude correta e o coração correto. 

ESCOLHER MATERIAL QUE SEJA VIVO, E NÃO QUE SEJA NOVO E INCOMUM

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Ao nos preparar para ministrar a palavra, devemos procurar material vivo, e não morto. Se quem
ministra   a   palavra   quer   ser   diferente   dos   demais,   será   tentado   a   escolher   material   novo   e
incomum, mas também morto. Por causa disso, suas mensagens serão frívolas e não terão o sabor
da vida. Por isso, ao preparar uma mensagem, precisamos evitar a idéia de ser originais
usando   material   novo   e   incomum.  Em   lugar   disso,   devemos   esforçar­nos   para   liberar
mensagens vivas e cheias do suprimento de vida. Por exemplo, apesar de outros já terem falado
sobre regeneração muitas vezes, devemos continuar a falar desse assunto. Regeneração é um tópico
antigo, sem nada de novo ou incomum, porém, se nosso material for vivo, nossa fala será repleta de
suprimento e sabor. Se nossa única preocupação é contar histórias e negligenciar o suprimento de
vida, somos meros contadores de histórias. Embora os santos possam rir, nossa fala é uma ofensa
ao Senhor. 

EVITAR A EXPOSIÇÃO DAS ESCRITURAS

Quando procuramos material, devemos evitar a exposição das Escrituras. A Bíblia não é um livro
simples. Se falarmos de acordo com ela, não teremos muitos problemas, mas, se a expusermos,
teremos muitos problemas, porque falar de acordo com a Bíblia é diferente de expô­la. Podemos
pregar uma mensagem com base em alguns poucos versículos. Por exemplo, ao citar Hebreus 2:3:
"Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?", a fim de estimular o apreço das
pessoas por sua salvação, falamos de acordo com a Bíblia ou a partir dela. No entanto, quando
tentamos explicar o significado das palavras  salvação  e  negligenciar,  fazemos uma exposição bíblica.
Quem fala do púlpito deve evitar expor as Escrituras. Pode falar de acordo com a Bíblia, porém não
deve expô­la. 

Exposição bíblica é um assunto sério. Por isso devemos evitar material que expõe as Escrituras,
uma vez que esse material não contém muita vida e está sujeito a erros. A rigor, somente os que
possuem o dom de ensino devem fazer exposição das Escrituras, e nem todos o possuem.
As palavras na Bíblia podem ser usadas para transmitir uma mensagem, mas a exposição bíblica
pode causar problemas. Por esse motivo, é melhor evitar livros com exposição bíblica. 

A maioria dos livros que traz exposição bíblica transmite conhecimento, porém não fornece muita
vida.   Além   disso,   existem   muitas   formas   de   expor   a   Bíblia.   O   mesmo   trecho   da   Palavra   com
freqüência  possui  várias interpretações. Quando  era jovem, li  um bom livro  relativo   às  setenta
semanas de Daniel. Depois que terminei a leitura, comecei a falar o que aprendi a outros. Mais
tarde me dei  conta  de  que estava sendo  tolo, e acabei rindo  de mim mesmo  porque há muitas
interpretações acerca das setenta semanas e cada uma com sua lógica. Fazer exposição bíblica é
assunto muito sério. Devemos evitar ao máximo expor a Bíblia. 

Através dos séculos, a maioria dos sermões foi baseada em versículos da Bíblia. Por exemplo, o dr.
John Sung usou o "fluxo de sangue" de Lucas 8:43 para pregar sobre o sangue precioso do Senhor,
sem fazer uma exposição do versículo. Devemos evitar fazer exposição bíblica, a não ser que
precisemos   fundamentar   uma   base   bíblica.   A   exposição   bíblica   deve   servir   para
preencher a necessidade específica de estabelecer base bíblica. Devemos expor a Bíblia nos
limites dessa base concreta. Devemos permanecer nesses limites, caso contrário nossa mensagem
será morta. Temos de nos ater a esse princípio básico de que a  mensagem precisa ser viva. Se

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queremos   que   nossa   mensagem   seja   viva,   não   podemos   falar   apenas   doutrinas   vazias,   não
podemos simplesmente expor a Bíblia. 

Devemos   usar  da   exposição   bíblica   apenas  quando  precisamos  de   base   bíblica   para   transmitir
determinado   conceito   às   pessoas.   Uma   vez   que   tal   necessidade   seja   preenchida,   já   não   há
necessidade de tantas explicações. Além do mais, citar os outros pode causar confusão entre os
santos, por causa dos diferentes pontos de vista das exposições. 
A   primeira   vez   que   li   a   Bíblia,   passei   muito   tempo   lendo   livros   de   consulta   com   respeito   às
profecias na Bíblia. Em Mateus 24:41 o Senhor Jesus disse que "Duas estarão moendo no moinho:
uma será tomada, e deixada a outra". Um competente expositor dentre os Irmãos Unidos disse
certa ocasião que a mulher que seria deixada era a melhor e a seguir forneceu muitas razões para
apoiar sua declaração. Como a melhor poderia ser deixada? Cremos que a que será tomada é a
melhor. Portanto, se não tivermos discernimento, seremos mal conduzidos. 

Existem muitos livros publicados no cristianismo de forma que os ministros da palavra se sentem
muitas vezes tentados a utilizá­los. Apesar da necessidade de consultar vários livros, alguns deles
não  têm conteúdo  preciso. Por  exemplo, Andrew  Murray de  fato  conhecia  o  Senhor no   íntimo,
porém   suas   exposições   nem   sempre   eram   acuradas.   Podemos   confiar   em   suas   experiências
espirituais, mas nem sempre podemos confiar nele no que diz respeito às exposições bíblicas. 

Quando o irmão T. Austin­Sparks esteve em Taiwan, afirmou que a Nova Jerusalém não existe.
Ele ultrapassou sua porção e fez exposição bíblica. Não podemos aceitar essa exposição. Mesmo
tendo em alta consideração o conteúdo espiritual que ele nos ministrou, não podemos concordar
com essa exposição. 
Se  a  Nova   Jerusalém  não   existe,  onde  estarão   os  crentes?  É  por  esse   motivo que  temos tanto
cuidado com relação à exposição bíblica. Em termos gerais, não é difícil escolher material para o
ministério da palavra. No entanto, caso não estejamos totalmente seguros quanto a determinado
material   de   exposição   bíblica,   não   devemos   aceitá­lo.   Também   não   devemos   tentar   expor   as
Escrituras a não ser que seja totalmente necessário. 

Através dos séculos, várias pessoas espirituais fizeram exposição bíblica, contudo foi difícil para
eles não cometer erros. Andrew Murray, o irmão Austin­Sparks e até mesmo a Sra. Jessie Penn
Lewis cometeram graves erros em sua exposição. Os que participaram da vida interior tiveram
boas  experiências  espirituais,  todavia estavam   distantes  no   que   dizia   respeito   à   exposição   das
Escrituras. A irmã Dora Yu era muito espiritual, mas também foi imprecisa na exposição bíblica.
Ela disse que ser salvo não equivale a ser regenerado e os já salvos ainda precisavam arrepender­
se   a   fim   de   ser   regenerados.   Por   esses   motivos,   precisamos   evitar   fazer   exposição   bíblica   na
escolha   do   material.  É  melhor   não   escolher   material   relativo   à   exposição   bíblica   se   não   há
necessidade definida nem estejamos certos quanto a sua precisão. 

NÃO CONVERTER AS MENSAGENS EM MATERIAL DE ENSINO

Essas bases e princípios para a escolha do material têm por objetivo suprir as pessoas de vida,
solucionar seus problemas e gerar um sentimento de necessidade em seu  íntimo. É assim que o
material deve ser escolhido para a reunião dos jovens.  Embora nossas mensagens sejam
educativas, devemos evitar fazer delas um curso de ensino. Por exemplo, a assim chamada
escola dominical se tornou  um curso com cinqüenta e dois temas de estudo. Uma criança pode

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participar   de   todas   essas   aulas   sem   adquirir   muita   coisa   em   seu   interior   com   relação   à
espiritualidade, ao conteúdo do evangelho e à experiência de vida. 

Por exemplo, freqüentei uma escola de ensino fundamental cristã e fui um dos melhores alunos na
escola   dominical.  Até  servi   como  assistente  de  professor na   escola  dominical.  Contudo   não  tive
nenhum proveito com a escola dominical.  É  por esse motivo que digo que devemos abandonar a
palavra  escola  das reuniões das crianças. Não queremos uma escola dominical. Queremos apenas
reuniões   de   crianças.  Não   devemos   transmitir­lhes   o   conceito   de  que   a   reunião   é   um   curso   de
estudo   e   elas   devem,   portanto,   recitar   e   memorizar.  Elas   devem   sentir   que   são   tocadas   e
supridas   interiormente   quando   participam   das   reuniões.  Por   isso,   nossas   reuniões   das
crianças  devem   concentrar­se   em  fazer  das crianças jovens   piedosos   que  vivem na  presença  do
Senhor. Se saírem impressionadas com questões acerca do viver humano, do temor a Deus ou da
salvação, isso lhes será de grande ajuda. 

Numa reunião de crianças em Manila, nas Filipinas, os que serviam queriam contar­lhes a história
de Sansão e Dalila, porque diversos cinemas na cidade exibiam um filme sobre o romance entre
Sansão   e   Dalila.   Esse   é   um   erro   básico   na   escolha   de   material.   Esse   é   um   método   errado   de
escolher. Não devemos falar aleatoriamente  às crianças sobre Samuel hoje, Davi amanhã, Saul
depois de amanhã e a seguir sobre Pedro, fornecendo­lhes esboços para memorizar e em seguida
testando­os sobre a matéria dada. Isso é fútil e está errado. Precisamos tocar seus sentimentos. 

Por exemplo, as reuniões de crianças conduzidas por D. L. Moody se pareciam com uma escola
dominical, porém não eram. Ele se sentia responsável pela alma das pessoas. Certa vez convidou
uma menina para participar de sua escola. A garota prometeu ir, porém não o fez. Vários dias
depois, ele a viu na rua. Assim que ela o viu, entrou numa taverna e se escondeu debaixo de uma
cama. Moody correu atrás dela e a puxou de debaixo da cama. Depois disso, a menininha foi à sua
escola dominical. Se nos sentirmos responsáveis como Moody, seremos bem­sucedidos. Precisamos
atentar para esse assunto. As demais coisas são secundárias. 

Não devemos simplesmente dar aulas como os professores do ensino fundamental, que dividem as
crianças   por   faixas   etárias   e   dirigem   suas   classes.   Não   devemos   dar   aula   às   crianças   e   então
começar a próxima perguntando: "Qual foi a lição da semana passada? Certo, foi sobre Davi. Quem
é Davi?". As crianças então respondem: "Davi foi uma pessoa segundo o coração de Deus". "Davi
reinou   durante   quarenta   anos".   A   seguir   dizemos:   "Muito   bem,   vocês   acertaram".   Se   nossas
reuniões   das   crianças   são   assim,   fazemos   uma   obra   de   morte,   que   deve   ser   interrompida.   As
reuniões de crianças em Taipé ainda têm esse aroma. 

O material que usamos deve ser vivo. Podemos falar às crianças a respeito de amar os irmãos,
do amor de Deus e de como Deus criou os homens com coração amoroso. Não precisamos falar sobre
amor espiritual. Precisamos sim fazê­los perceber que o amor que está neles vem de Deus e eles,
portanto, devem amar seus irmãos. Eles então se sentirão culpados caso não os amem. Na reunião
seguinte podemos falar sobre honrar pai e mãe, pedindo­lhes que obedeçam a seus pais. Essa fala é
viva. Isso não quer dizer que não devemos usar histórias bíblicas. Podemos usar uma história na
Bíblia para ilustrar o amor aos irmãos. Isso não é um curso de estudo, mas uma aplicação viva. 

Isso   também   deve   ser   aplicado   à   obra   com   os   jovens.   Os   que   servem   os   jovens   precisam
compreender   que   não   devemos  depender   das   reuniões   de   instrução.   Se   dependermos   delas,
fracassaremos. De 1946 a 1948 não havia reuniões de jovens em Xangai. Nem mesmo tínhamos
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esse   titulo.   Naquela   época   o   cuidado   com   os   jovens   advinha   de   um   encargo.   Os   santos   os
pastoreavam   individualmente.  É  pena   que   nossas   conferências   universitárias   sejam   dirigidas
como   aulas   ensinando   sobre   certo   assunto.   Todos   os   que   falam   em   nome   do   Senhor   precisam
aprender que nossa fala deve instruir sem que pareça uma aula. Não estamos ministrando aulas.
Isso é morto e não vivifica as pessoas. 

Os que falam devem receber um encargo a fim de laborar nos jovens, um a um. Por meio
da   oração   e   outros   recursos   devemos   pastoreá­los   para   que   o   Senhor   os   ganhe.   Não   devemos
ensinar­lhes sempre o que Adão, Abel, Enoque e Abraão fizeram. Eles podem memorizar tudo isso
numa semana e na seguinte esquecer tudo. Ensinar­lhes desse modo será fútil. Devemos entrar
em contato com seus sentimentos de forma que nunca esquecerão. Exercício intelectual e sabatina
oral não passam de letra morta. Não há necessidade de dar tanta atenção a essas coisas. Além
disso  não   devemos   preocupar­nos   com   quantos   participam.   Em   vez   disso,   devemos
empenhar­nos em aprender lições, ter experiências vivas e receber encargos vivos para
laborar nos jovens. Devemos fazer uma obra de acender neles o fogo que os leve a acendê­lo nos
outros. Somente esse tipo de obra será vivo. 

APRENDER A TOCAR OS OUTROS EM SEU INTERIOR

Seguindo o mesmo principio, ao dar uma mensagem devemos evitar falar de modo cientifico. Por
exemplo,   fracassaremos   se   ensinarmos   às   pessoas   apenas   seguindo   os   principais   tópicos   e
subtópicos de um esboço. Mesmo não sendo ruim ler os pontos principais de um esboço, é mais
importante aprender a tocar os sentimentos das pessoas. Se enfatizarmos de modo excessivo a
necessidade de memorizar um esboço, os santos podem não conseguir se lembrar desses pontos.
Mesmo   que   sejam   capazes   de   se  lembrar  deles,   irão  esquecê­los   caso   não   tenham   entrado  em
contato com algo mais profundo. Os que ministram podem falar muito, mas sua prioridade número
um deve ser dar às pessoas algo vivificante e tocar seu ser interior. Desse modo, mesmo que elas
se esqueçam dos pontos do esboço, algo consistente permanecerá. 

Além do mais, devemos aprender a não trazer nenhum tipo de treinamento para nossas
reuniões.   Os   treinamentos   são   diferentes   em   natureza   das   reuniões   da   igreja.   Não   devemos
tratar os irmãos como se fossem treinandos. Eles podem esquecer­se dos pontos de um esboço e dos
versículos   das   Escrituras,   todavia,   se   forem   tocados   por   algo,   depois   da   reunião   irão   orar,
confessar os pecados e até mesmo pregar o evangelho. Se esse é o caso, a mensagem terá sido viva
e capaz de suprir. A carne de um filé em geral vem presa aos ossos, mas ao servir o filé devemos
dar   a   carne   e   não   os   ossos.   Um   esboço   é   importante   porque   muitos   pontos   podem   tocar   o
sentimento das pessoas. Contudo, ao alimentá­las devemos dar­lhes "carne" e não "ossos", porque
poucos conseguem mastigar ossos. Isso é muito importante. 

Desse   modo,   precisamos   aprender   a   usar   um   material   que   toque   o   sentimento   das
pessoas   para   que   sejam   tacadas   mesmo   que   não   consigam   compreender   toda   a
mensagem. Uma mensagem transmitida dessa forma  é poderosa porque é clara e rica
em   conteúdo,   sem   forçar   habilidades   de   raciocínio   lógico.   Pelo   contrário,   entra   em
contato com os sentimentos profundos no intimo das pessoas. 

Temos um sério encargo com relação ao ministério da palavra. O ministério da palavra é muito
fraco   nas   manhãs   do   domingo,   nas   reuniões   do  meio   da   semana,   nas   reuniões   nas   casas,   nas
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reuniões dos jovens e até mesmo nas reuniões de crianças. Temos problemas com esse ministério.
A palavra é muito fraca, resultando numa situação de fraqueza entre os santos. A principal razão
para   isso   é   que   a   palavra   é   morta.   Quando   a   palavra   é   morta,   o   suprimento   por   inteiro   é
enfraquecido. Por isso todos os responsáveis por ministrar a palavra precisam empenhar­se em
encontrar um meio de a palavra fornecer um suprimento de vida e não ser morta. Isso requer que
não falemos mais como se déssemos aulas, com a rígida utilização de esboços prontos. Nossa vida
espiritual requer ensino, porém não podemos ser rígidos.  Precisamos evitar material que se
assemelhe   ao   de   ensino   nas   escolas.   Não   devemos   dar   aos   irmãos   dever   de   casa.
Devemos,   sim,   tocar   seus   mais   profundos   sentimentos   e   plantar   algo   sólido   em   seu
íntimo. 

Se falhamos em fazer isso no ministério da palavra, é porque não temos a habilidade de ministrar
a palavra. Se a temos, tocamos os sentimentos dos santos e os suprimos de vida, sendo nós gagos
ou eloqüentes, e se eles gostam ou não de nós. 

A IGREJA NECESSITA COM URGÊNCIA REALIZAR A OBRA 
DE EDIFICAÇÃO MEDIANTE O MINISTÉRIO DA PALAVRA

Atingimos o ponto crítico da necessidade urgente de edificação. Se apenas salvarmos pecadores e
os instruirmos, repetiremos a obra do cristianismo nos últimos cem anos. Essa obra não resultou
na edificação ou na habitação de Deus. Quando uma pessoa é edificada em Kaohsiung, ao deixar
essa cidade e ir para Hualien ou Tainan, ainda estará edificada. Mesmo que saia de Kaohsiung,
não  saiu  do   edifício;  ainda   é  parte  da  casa  espiritual.  Essa   casa   não   é limitada  por  tempo ou
espaço. Aonde quer que vá, estará edificada no Corpo de Cristo. Na edificação única de Deus no
universo,   ela   é   uma   pessoa   edificada.  É  diferente   de   outra   pessoa   que   esteja   apenas   salva.  É
diferente de uma pessoa espiritual. Ela é 'edificada. Somente uma pessoa assim pode fazer parte
da habitação de Deus e funcionar como membro do Corpo de Cristo aonde quer que vá. 

Deus necessita de um grupo de pessoas assim na terra hoje. Ele necessita com urgência de uma
obra de edificação. Se queremos participar dessa obra, precisamos da administração da igreja e,
mais   ainda,   do   ministério   da   palavra.   O   ministério   da   palavra   vem   primeiro,   e   depois   a
administração  da   igreja.  Atualmente  nossa  maior  falta   é no  ministério  da  palavra.  Esse   é  um
problema  muito sério. Todas as nossas  reuniões são pobres,  fracas, deficientes, frias, mortas e
superficiais, porque nos falta o ministério da palavra. A administração da igreja é a segunda em
ordem de importância. Portanto os irmãos que sempre falam do púlpito precisam considerar com
seriedade esse assunto e se empenhar por aprender a lição concernente ao ministério da palavra.
Jamais   devemos   depender   da   idade.   Ou   seja,   não   devemos   pensar   que,   porque   já   falamos   há
muitos anos, podemos simplesmente ajeitar uma mensagem extraída de nossas antigas notas e
dos livros de consultas. Uma mensagem dessas não terá valor algum nem causará impacto. Não
tocará os outros e não atingirá o alvo. 

Precisamos aprender a sempre incomodar os irmãos quando ouvirem uma mensagem. Eles devem
ser tocados mesmo que venham a esquecer­se do assunto ou perder o conteúdo. Devem sentir como
se tivessem sido picados por um inseto. Como resultado disso, serão incapazes de descansar após a
reunião, porque algo foi injetado em seu interior. 

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As irmãs também devem ter essa habilidade ao visitar as outras. Perguntar às pessoas se têm lido as
Escrituras ou orado deixa­as embaraçadas. Não devemos ser mortos; precisamos aprender a ser vivos e
também   desenvolver   algumas   habilidades.   Talvez   não   mencionemos   nada   de   espiritual,   porém
inconscientemente   uma   injeção   espiritual   é   aplicada.   Pode   ser   que   falemos   com   as   pessoas   sobre   o
mundo que elas amam, porém ao fim de nossa fala elas são "picadas". Não conseguem descansar e se
sentem incomodadas. Precisamos aprender a fazer isso. 

MINISTÉRIO DA PALAVRA E O SERVIÇO NA IGREJA 
NECESSITAM TER UMA COORDENAÇÃO VIVA

Precisamos compartilhar, mediante oração e consideração, com aqueles com quem servimos, a respeito
do conteúdo de nossa palavra. Quando eu servia no norte da China, entre 1940 e 1943, havia um irmão
cuja   situação   estava   sempre   em   minhas   considerações.   Algumas   vezes   eu   sentia   um   peso  enquanto
falava do púlpito e então dizia que esse irmão necessitava de uma visita. Os irmãos que me ouviam
recebiam um encargo e então o visitavam. Hoje em dia, porém, como todos se esforçam para se destacar
quando falam a fim de se tornar famosos, eles não estão preocupados em receber encargo. Isso não pode
ser considerado serviço. 

É  lamentável que os irmãos do norte da China não tenham saído do continente. As mensagens que
davam   preenchiam   as   necessidades   práticas   e   não   eram   compiladas   com   pressa.   Quando   os   santos
retornavam   de   suas   visitas   aos   irmãos,   apresentavam   um   relatório.   Nas   segundas­feiras   de   manhã
compartilhávamos com respeito às condições dos santos das oito horas da manhã às três da tarde. Às
vezes até mesmo jejuávamos e orávamos por eles. Como conseqüência disso, aprendemos muitas lições. 

Estudávamos como ajudar os que passavam por problemas e como enfrentá­los. Com freqüência, depois
de visitada, uma pessoa era vivificada. Nossa fala e visitas atuavam em harmonia. No entanto essa
harmonia   não   resultava   de   discussões,   mas   era   espontânea.   Isso   é   a   verdadeira   e   prática   ação
coordenada. 

A fala do púlpito era viva e os que vinham às reuniões também eram vivos. Muitos dentre os santos
ficavam atônitos com a maneira como as mensagens satisfaziam sua necessidade especifica. Sempre que
vinham   a   uma  reunião,   seus  problemas   eram   solucionados.   A   palavra   tocava  seus   problemas   e   seu
íntimo; dessa forma, seus problemas encontravam solução e suas necessidades eram satisfeitas. O que
era falado era a palavra viva. Essa foi a situação por quase dois anos, porque os que serviam buscavam
uma   palavra   viva,   e   não   apenas   uma   fala   rotineira.   Não   eram   desorganizados   nem   folgados,   nem
falavam o que bem entendiam. Por isso, onde quer que fossem, sua liderança na igreja era vivificante. 

O melhor período de nossa coordenação no ministério da palavra foi entre 1940 e 1943. A situação atual
não se compara à que tínhamos então. Naquele período, a coordenação entre os que serviam e os que
ministravam   a   palavra   era   viva.   Imprimir   algo   não   era   tão   fácil   quanto   é   hoje   e   não   havia   tanta
organização, porém tudo era vivo. 

CONCLUSÃO

Em resumo, não podemos ser individualistas. Precisamos aprender a depender dos outros, confiando
neles quanto a nossa vida. Precisamos aprender a agir coordenadamente com os outros com relação a
nosso   serviço.   Não   devemos   usar   ordenanças   mortas   ou   falar   mensagens   mortas.   Antes,   devemos
estudar   um   meio   vivificante   e   aprender   as   lições.   Além   disso   devemos   receber  um   encargo   e
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compreender as necessidades das pessoas. Devemos conhecer os vários problemas dos santos, das
crianças, dos jovens e dos idosos. Com base nesse conhecimento, poderemos tocar os idosos, os
jovens e os pais quando falamos. Todos que ouvirem a mensagem serão tocados. A igreja necessita
dessa palavra viva que traga uma situação viva. 

Hoje em dia encontramos morte em todas as nossas reuniões. A reunião das crianças, a reunião
dos jovens e a reunião do domingo são todas conduzidas de acordo com ordenanças mortas. Essas
reuniões são de nossa responsabilidade. Não podemos continuar assim. A obra do Senhor e a igreja
sofrem grande perda e a maior responsabilidade é dos que ministram a palavra. O suprimento no
ministério da palavra é importante para as crianças, os jovens, os pais, os idosos e os santos que
trabalham. 

CAPÍTULO ONZE
A IMPORTÂNCIA E A COMISSÃO DO MINISTÉRIO DA PALAVRA
COM RELAÇÃO À REUNIÃO DE LEITURA BÍBLICA

Algumas cidades vão muito bem com relação à administração da igreja e o ministério da palavra.
De modo geral, contudo, a administração da igreja é mais fraca do que o ministério da palavra em
todas   as   cidades.   Segundo   a   função,   o   ministério   da   palavra   é   mais   importante   do   que   a
administração da igreja.  Por isso existe maior necessidade do ministério da palavra do
que da administração da igreja em todas as cidades. 

As mensagens pregadas no domingo são comuns e genéricas. Como não são vivas, tornaram­se
corriqueiras   e   rotineiras,   e   não   causam   impacto.   Portanto   as   igrejas   devem  prestar   atenção  à
palavra ministrada em todas as reuniões, e não apenas no domingo. A palavra ministrada nas
outras reuniões com freqüência causa impacto definido. Por exemplo, numa cidade a reunião de
leitura bíblica tem sido conduzida de forma bem­sucedida e está cheia da presença do Senhor. 

Ter um responsável pela reunião 

Toda igreja local deve empenhar­se em levar os irmãos a se apaixonar pela leitura da Bíblia,
para que tenham prazer em lê­la. Se possível, a igreja em cada cidade deve esforçar­se por ter uma
reunião na qual os irmãos lêem a Bíblia. A reunião de leitura pública na igreja que citamos acima tem
um responsável. Por um lado, os líderes pedem aos santos que leiam a Palavra; por outro, lá sempre um
responsável pela reunião, a quem é dado ao menos entre vinte a trinta minutos para falar sobre alguns
assuntos relevantes. Em suas reuniões, os irmãos compartilham na primeira metade da reunião e a
seguir a pessoa responsável desenvolve o trecho que leram. Essa é uma característica de suas reuniões. 

Receber o suprimento espiritual 

Outra característica é que no desenvolvimento da palavra entre os irmãos, a ênfase não recai sobre a
lógica ou a exposição bíblica, porém sobre o suprimento espiritual. Apesar de estudar a Palavra, seu
desenvolvimento   não   se   limita   a   simplesmente   lê­la,   mas   a   suprir   vida   com   base   no   entendimento
espiritual   obtido   gradualmente   a   partir   de   um   versículo,   frase   ou   trecho.   Existe   a   tentação   numa
reunião de leitura bíblica de se exigir que todos compreendam e memorizem os pontos­chave de um

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resumo feito a partir do estudo. Não devemos cair nessa tentação, porque isso acaba fazendo de nossas
reuniões uma prática sem vida. 

As reuniões de leitura bíblica, entretanto, caíram de alguma forma nessa tentação. Ao ajudar os irmãos
a ler a Palavra, não levemos explicar como as várias seções são divididas nem levemos compartilhar com
relação ao esboço ou pontos que elaboramos. Antes, devemos compartilhar a luz da vida e o suprimento
espiritual. Um irmão iluminado e firme na Palavra deve fazer uma síntese de vinte a trinta minutos. A
primeira parte da reunião fornece ao Espírito Santo a oportunidade de liberar as riquezas por meio dos
irmãos e dá a estes a chance de praticar. No entanto as reuniões de leitura bíblica não dependem desse
compartilhar. Não importa se esse compartilhar dos irmãos é rico ou pobre, ele não afeta a reunião,
porque a palavra de fechamento suprirá e alimentará a todos. 

Se   dependermos   somente   do   compartilhar   entre   os   irmãos,   as   reuniões   podem   não   ser


consistentes  e o apetite dos santos pela  reunião será perdido. Eles  deixarão de considerar  a
reunião de leitura bíblica como algo importante e a freqüência cairá. Por exemplo, em Taipé o número
de  participantes  nas  reuniões de  leitura  bíblica  decresce gradualmente.  Uma  das  razões   pode  ser   o
compartilhar improdutivo. Não devemos permitir que as pessoas sintam que a reunião de leitura bíblica
é insignificante. Se chegarem à reunião de estômago vazio e voltarem para casa do mesmo jeito, sentirão
como   se   a   reunião   fosse   um   desperdício   de   tempo.   Chegarão   com   grande   expectativa   e   sairão
desapontados. 

Além disso, no compartilhar e na síntese precisamos libertar­nos dos esboços prontos. Quando os irmãos
começam a ler a Bíblia, podemos ajudá­los com um esboço para que entendam como os capítulos estão
subdivididos. Mas, à medida que a reunião prossegue, não devemos concentrar­nos no esboço; caso
contrário, nossa reunião não terá vida. 

Não abranger material em excesso 

Na  reunião  de   leitura  bíblica,   é  melhor   ler   um   capítulo  por   semana.   Não  é   recomendável   abranger
material   demais.   Isso   pode   ser  comparado   à  alimentação.   Se   engolirmos   comida   sem   mastigar,   não
poderemos saboreá­la. Um capítulo por semana pode ser considerado uma leitura muito lenta. Como os
santos se reúnem somente uma vez por semana, algumas igrejas os encorajam a ler um capítulo por
dia em casa. Desse modo podem ler seis capítulos numa única semana. Isso é muito bom. Contudo
não devem abranger todos os seis capítulos quando se reúnem para compartilhar. Em vez disso, é
melhor abordar apenas um. Portanto, seja pregando uma mensagem ou lendo a Palavra juntos,
nunca   devemos   tentar   abranger   material   em   excesso.   Esse   é   um   princípio   muito   importante.
Basta abordar um ponto por reunião. Abordar dois ou mais assuntos pode levar a reunião a perder
o foco e assim ser arruinada. Por isso não é bom abranger material demais. 

Se   lermos   seis   capítulos   da   Bíblia   por   semana,   teremos   lido   mais   de   trezentos   capítulos   em
cinqüenta e duas semanas, porém não conseguiremos nos lembrar de todos. Contudo, se lermos
um capítulo por semana na reunião com entendimento e suprimento, teremos lido cinqüenta e dois
num ano. Como isso será precioso! Ficará bem gravado nos santos e estimulará seu amor pela
leitura da Bíblia, levando­os a lê­Ia por si mesmos. Talvez até leiam seis capítulos por dia! Desse
modo, formarão o hábito pessoal de ler a Bíblia. 

Tornar a palavra saborosa para as pessoas 

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Logo depois de salvo, eu amava a Bíblia e fui aperfeiçoado na leitura bíblica. Devemos extrair o
suprimento de vida da Bíblia a fim de alimentar os irmãos. Dessa forma, eles adquirirão gosto,
desejarão o suprimento e terão prazer na leitura. Terão prazer até mesmo em lê­la sozinhos. 

Se abrangermos seis capítulos na reunião de leitura bíblica toda semana, não haverá desfrute e os
santos   ficarão   desinteressados   e   aborrecidos.  Portanto   não   devemos   ler   capítulos   em
excesso, para que nossa pressa não se transforme em desperdício e acabemos obtendo
exatamente o efeito contrário. É melhor ler apenas um capítulo e extrair as riquezas inerentes
a  esse  trecho da  Palavra  para  alimentar  os  santos.  Assim  eles  sentirão  que  a   Bíblia  é  doce  e
preciosa e irão querer continuar participando das reuniões. Irão até mesmo estudá­la em casa. Por
isso   não   é   aconselhável   ler   muitos   capítulos   da   Bíblia  de   uma   só   vez   nas   reuniões   de   leitura
bíblica. Os santos, porém, devem ler um ou mais capítulos por dia sozinhos. 

Os responsáveis  por  ministrar a palavra precisam estudar como conduzir a  reunião  de leitura


bíblica.   Primeiro,   precisamos   ter   algum   alimento   sólido   e   nutritivo   para   os   irmãos.   A   seguir,
precisamos  tornar   a  reunião  "saborosa"  para  eles.  É  claro   que   não  devemos  usar   de   artifícios,
porém   precisamos   dar­lhes   o   sentimento   de   que   ganharam   algo.   Dessa   maneira,   eles   até
convidarão outros para vir e ouvir a Palavra do Senhor. Portanto a reunião de leitura bíblica e o
ministério da palavra estão intimamente ligados. 

Recentemente, uma igreja iniciou uma reunião com o propósito de buscar as Verdades Cruciais nas
Escrituras Sagradas no domingo à noite. O número de participantes dessa reunião era maior do que
o da de domingo de manhã. Havia entre cento e quarenta a cento e cinqüenta pessoas, apesar de o
salão comportar apenas cerca de cento e trinta. Algumas se sentavam no pátio. Outra igreja ao sul
de Taiwan começou uma reunião de leitura bíblica na qual a freqüência passou de sessenta para
cento e quarenta. Os santos adquiriam um sólido suprimento. Vale a pena estudar juntos. 

O suprimento da palavra tem foco de atenção e é genérico 

Quando os que assumem a liderança na reunião de leitura bíblica percebem algo que é
a necessidade da igreja, devem pensar em como deixar esse ponto gravado nos irmãos.
Não devem tocar de leve nesse aspecto, mas repeti­la de modo enfático até que os santos a absorvam.
No norte da China passei cerca de cinco anos falando  a respeita da cruz. Todas os dias eu "martelava"
no ouvido dos santos esse encargo. Usava toda oportunidade que surgia para falar sobre a cruz. Esse foi
meu modo de falar repetido e continuamente sobre o assunto da cruz com todos os irmãos. Essa é uma
boa prática, mas não devemos executá­la com excessiva rigidez. 

Além   da   mais,   devemos   ter   uma   abordagem   mais   genérica   ao   enfatizar   um   encargo   específico,   de
maneira   que   as   outras   necessidades   também   sejam   supridas.   Uma   igreja   deve   concentrar­se   no
ministério da palavra, mas também cuidar de outros aspectos. Por exemplo, quando eu enfatizava a cruz
no   norte   da   China,   meu   falar   também   abrangia   0utras   necessidades.  Devemos   observar   tudo   e
cuidar   de   todos   os   assuntos   à   medida   que   surgem.  Precisamos   cuidar   dos   presbíteros,   dos
diáconos, dos que visitam e dos que receberam o encargo de pregar a evangelho. Se não cuidarmos de
todas as necessidades, a igreja em nossa cidade pode ser aperfeiçoada quanta a uma questão, porém
estar   em   falta   quanta   a   outras.   Por   exemplo,   se   um   irmão   falar   continuamente   sobre   a   carne,
negligenciando assim outras necessidades, a reunião do partir do pão pode tornar­se árida porque todos

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estão preocupados com a carne. De modo semelhante, a pregação do evangelho se interromperá parque
todas só falarão da carne. Até mesma os serviços da igreja podem tornar­se áridas. Portanto precisamos
cuidar de todas as necessidades. 

SUPRIR A PALAVRA EM REUNIÕES DE MUTUALIDADE

Existe outra necessidade da qual não cuidamos no passado. Devemos agarrar a oportunidade em todas
as reuniões de mutualidade com o fim de suprir os outros da palavra. Isso pode acontecer na reunião de
oração, na reunião do partir do pão e na reunião de comunhão. Em algumas cidades, não há ministração
da palavra nas reuniões de oração. Em vez disso, os santos cantam alguns hinos e oram um pouco.
Depois disso a reunião é encerrada. Essa situação não é normal nem apropriada. 

Alguns dos que vêm à reunião de oração podem ser crentes novos, outros podem não saber orar e outros
ainda podem não estar com disposição para orar. Por isso, sem o ministério da palavra, a reunião será
sem gosta e os santos perderão o desejo de participar dela. Em outras reuniões de oração há falta no
ministério da palavra e falta em se conduzir os santos a orar. A reunião de oração é como um barco sem
leme atirado de um lado para o outro pelo vento. Quando o vento sopra do oriente, a reunião ruma em
direção ao ocidente; quando o vento sopra do acidente, a reunião flutua em direção ao oriente. Esse tipo
de reunião não é atrativo, e depois de ocupar o tempo flutuando aqui e acolá, ela chega ao fim. Reuniões
assim não atraem as pessoas; além disso, é uma ofensa para o Senhor e para os irmãos. 

Portanto em reuniões como o do partir do pão, a de oração e a de comunhão, deve haver
provisão do ministério da palavra. Os que servem não devem dormir tranqüilamente, mas
sempre considerar como estimulá­las. As reuniões devem ser estimuladas pelo ministério da
palavra  e pela condução dos santos a escolher os hinos, a orar, a falar e o dar avisos. O coração dos
irmãos deve ser estimulado e eles devem ser ajudados a abrir a boca um a um para orar na reunião.

Em   específico,  os   que   servem   no   ministério   da   palavra   devem   proferir   algo   em   todas   as
reuniões de oração. Isso, porém, jamais deve ser feito de forma rígida. Uma palavra deve também ser
proferida na reunião do partir do pão, mas não com rigidez. Precisamos ser flexíveis. Algo pode ser dito
antes do partir do pão ou logo em seguida. Pode­se inclusive compartilhar algo mais curto enquanto o
pão e o cálice são passados. Devemos simplesmente seguir o fluir do Espírito.  Os que ministram a
palavra devem estar preparados para proferir algo nas reuniões. 

Com relação à reunião do partir do pão 

Muitos crentes novos não têm muito conhecimento no que concerne  à importância do partir do pão.
Portanto precisamos falar de forma contínua estimulando­os acerca desses assuntos. Porém, esse tipo de
estímulo não deve ser educativo por natureza. Podemos levar uma palavra de instrução nas reuniões de
oração, mas não devemos fazer isso nas reuniões do partir do pão. Essas reuniões diferem quanto ao seu
centro de atenção e importância. Não deve haver nada que seja educativo na reunião do partir
do pão. Qualquer elemento educativo matará a reunião. Se percebermos a necessidade de instrução, ela
deve ser dada depois que o pão já tiver sido partido. Qualquer palavra proferida antes que o pão seja
partido ou enquanto é passado com o cálice não leve ser de caráter instrutivo; caso contrário, matará o
Espírito. Qualquer palavra de caráter educativo, seja para correção, instrução ou explicação, deve ser
dada  depois  da reunião  do  Partir  do  pão.  Mas  devemos  evitar  dar   uma  palavra educativa antes   ou

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durante   o  partir   do   pão,   porque   distrairá   do   Senhor   a   atenção  dos   santos.   Devemos   falar   algo  que
introduza os santos no Senhor, em vez de tirá­los Dele. 

Conduzir as pessoas a apreciar a doçura e a beleza do Senhor 

Quando começamos a nos reunir no norte da China, a palavra era ministrada em todas as reuniões do
partir do pão, sempre para conduzir as pessoas a entrar na doçura, na glória e na beleza do Senhor.
Certa   ocasião,   quando   já   prestes   a   partir   o   pão,   eu   me   levantei   e   compartilhei   uma   breve   palavra
concernente à doçura e ao amor do Senhor para com os que O conhecem e O apreciam. Usei diversos
trechos dos evangelhos a fim de mostrar que o Senhor foi ungido na cabeça (Mt 26:6­7), nos pés (Lc 7:36­
38),  presenteado   com   incenso   aromático   e   mirra   por   ocasião   do   nascimento   (Mt  2:11)  e   ungido   com
especiarias ao ser sepultado ao 19:39­(40). Por isso, da cabeça aos pés e do nascimento à morte, Ele é doce
e amoroso. Essa fala levou os irmãos a conhecer o Senhor de quem se lembravam. 

Em   outra   reunião   do   partir   do   pão,   eu   li   em   Isaías   53:10­11:   "Ele   [   ...   ]   verá   a   sua   posteridade   e
prolongará os seus dias; [ ... ] Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito". A
seguir   continuei   com   um   trecho   de   Salmos   17:15:   "Quando   acordar,   eu   me   satisfarei   com   a   tua
semelhança". Esses dois textos falam de satisfação de dois lados. Com palavras simples então expliquei:
"Nossa reunião aqui é fruto do trabalho do Senhor, e Ele está satisfeito por nos ver aqui. E não somente
isso, quando nos achegamos à Sua mesa, somos como os que foram despertados do seu sono. Ficamos
zonzos   no   mundo,   mas   diante   do   pão   e   do   cálice   somos   despertados.   Somos   despertados   Nele,
contemplamos  Sua  face  e  somos  satisfeitos.   Essa  é   uma  história  de  satisfação  de  dois   lados:   nós   O
satisfazemos e Ele nos satisfaz". A seguir pedi um hino relacionado com esse tema. Tivemos muitas
situações   assim   que   não   eram   de   caráter   educativo,   mas   continham   quantidade   considerável   de
instrução. 

Em outra ocasião fiquei de pé e disse que o Senhor recebera um nome que está acima de todo nome (Fp
2:9). Então falei por quinze minutos com respeito ao nome do Senhor, mostrando aos irmãos que somos
salvos nesse nome, fomos inseridos nesse nome, oramos nesse nome e vencemos Satanás por esse nome.
Essa   palavra   introduziu   os   santos   no   nome   do   Senhor.   Depois   disso   todos   fomos   tocados   enquanto
cantávamos um hino relativo ao nome do Senhor. 

Ainda em outra reunião do partir do pão falei a respeito do pão e do cálice. Foi uma mensagem simples,
mostrando que o pão é  uma  história de vida e o cálice, uma história de bênção. A vida do Senhor,
simbolizada no pão, é para nosso desfrute. Também o próprio Deus e tudo o que Ele é se tornaram nossa
bênção no cálice. Numa mensagem anterior eu concentrara a atenção no cálice e comecei a falar da
importância do cálice de acordo com o Salmo 16:5, que diz: "O Senhor é a porção [ ... do meu cálice". Um
cálice representa a porção que devemos ter. Originalmente nossa porção era o cálice da ira de Deus.
Essa porção é o lago de fogo. Apocalipse 14:10 fala de um grupo de pessoas cuja porção é o lago de fogo e
enxofre. A porção que Deus preparou para eles é o lago de fogo, o cálice de Sua ira. Quando o Senhor foi
para a cruz, tomou o cálice da ira de Deus. Ele disse: "Não hei de beber o cálice que o Pai Me deu?" Mt
18:11). Ele bebeu o cálice da ira por nós. Visto que o fogo da ira de Deus O queimava enquanto Ele
estava na cruz, Ele disse estar com sede. Isso corresponde às palavras do Senhor no Salmo 22:14­15:
"Todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez­se como cera, derreteu­se dentro de mim. [ ...
a língua se me apega ao céu da boca". Essa é a descrição da sede do Senhor. Na cruz Seu sangue foi
derramado, o qual se constitui em nosso cálice de salvação, e esse cálice transborda de bênçãos. 

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À medida que nos lembramos Dele ao ver o cálice, precisamos conscientizar­nos de que por amor de nós
Ele bebeu o cálice da ira, o qual era a nossa porção. Então nos deu o cálice da salvação que transborda
de  bênçãos.   Quando   partimos  o  pão   para  nos   lembrar   do  Senhor,   recebemos   o  cálice  da  bênção.   Se
falarmos sobre  o pão e o cálice na reunião de comunhão  ou de oração, nossa palavra não atrairá a
atenção das pessoas, mas, quando falarmos desses elementos na reunião do partir do pão, nossa fala
será muito atrativa. 

Não devemos falar de forma educativa com relação à pessoa do Senhor Jesus e Sua obra na
reunião do partir do pão; em vez disso, devemos falar de modo simples, com amor. Devemos
falar   como   quem   conta   uma   história   de   amor.   Contamos   como   a   pessoa   que   amamos   é
maravilhosa. Por exemplo, podemos ler um trecho de Cântico dos Cânticos descrevendo­O como "alvo e
rosado, o mais distinguido entre dez mil" (5:10). Podemos dizer em seguida algo que se relacione com
alvo e rosado. Devemos também destacar a beleza do Senhor e quanto Ele é amoroso, para que os outros
tenham Dele um conhecimento verdadeiro e doce. A reunião do partir do pão é para lembrar da obra do
Senhor e glorificar e exaltar Seu nome. Portanto podemos até mesmo dizer algo relacionado com Sua
volta.   Como  a   mesa  do   Senhor   implica  Sua   volta,   essa   palavra   pode  ser   muito   doce.   Toda   vez   que
comemos o pão e bebemos o cálice, anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha (1 Co 11:26). O
Senhor disse que, depois que bebesse o cálice com os discípulos, não beberia dele novamente até o dia em
que o beberia novo no reino de Seu Pai (Mt 26:29). Uma breve palavra pode introduzir os santos na
questão da volta do Senhor. Enquanto O relembram, eles aguardam Seu retorno. Uma palavra dada a
partir de um coração repleto de sentimento pode estimular as pessoas. 

A necessidade do suprimento mediante o ministério da palavra 

Todo crente ama o Senhor. Quando seu amor pelo Senhor é estimulado, ele aguarda com anseio pela
próxima reunião do partir do pão. Se receber um antegozo e suprimento, com certeza irá querer voltar.
Se   todos   fossem   como   o   apóstolo   Paulo,   não   haveria   necessidade   de   lhes   estimular   o   coração.
Todavia muitos santos são crentes novos, que realmente precisam de ajuda e de ser supridos. Se
vierem vez após vez à reunião, porém não souberem cantar hinos e orar como os outros, só poderão
ouvir os demais. Se ouvirem sempre as mesmas melodias, sentirão que falta sabor à reunião e que
ela é longa e entediante. Por vezes a reunião inteira é como uma pessoa idosa descendo as escadas:
leva as pessoas a suar frio e ninguém sabe o que fazer. Reuniões como essas não podem elevar o
espírito das pessoas nem satisfazê­las. Não podem fazê­las desejosas de pagar o preço de voltar. 

Por   isso,   não   podemos   reclamar   de   nenhum   declínio   na   freqüência   das   reuniões.   Os   que   as
conduzem, em particular os que ministram a palavra, têm a maior responsabilidade. Precisamos
ministrar a palavra em todas as reuniões a fim de suprir e dar instruções aos santos.
Por exemplo, depois que os novos crentes no norte da China receberam ajuda com relação aos
assuntos fundamentais por cinco anos, suas orações e louvores na reunião do partir do pão eram
capazes de conferir grande ajuda a outros novos crentes. Eles louvavam o Senhor por Sua doçura e
pelos frutos da Sua obra, declarando que estavam satisfeitos com Ele. Aqueles santos oravam:
"Senhor,   Tu   és   tão   doce.   Da   cabeça   aos   pés   Tu   és   digno   de   ser   ungido   por   nós.   Senhor,   do
nascimento à morte Tu és digno de ser ungido. Senhor, Tu estás satisfeito quando vês o fruto de
Teu trabalho. Hoje estamos assentados em Tua presença e satisfeitos ao olhar para Ti". Muitos se
abriram   quando   ouviram   orações   como   essa.   Em   algumas   orações   há   suprimento   mediante   a
ministração da palavra. Orações repletas de luz podem resultar em suprimento para os outros. 

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Se a reunião do partir do pão não supre as pessoas mediante o ministério da palavra,
ela é muito deficiente. Os novos crentes acharão que a reunião é sem sentido caso não ganhem
muito nem ouçam qualquer palavra com conteúdo espiritual. Não devemos apenas estar firmes na
base apropriada, mas também estar numa condição normal. 

O serviço no ministério da palavra requer que se invista tempo de estudo 

Os   que   ministram   a   palavra   devem   passar   um   tempo   diante   do   Senhor   diariamente


estudando como ministrar a palavra na reunião do partir do pão. Nossa palavra nessas
reuniões   não   é   a   mesma   que   a   palavra   proferida   do   púlpito.   Ela   não   deve   ser   educativa   em
natureza; antes, deve ser proferida com sentimento, levando as pessoas a perceber a beleza do
Senhor, apreciá­Lo, adorá­Lo e ser atraídas a Ele. Nossa fala não deve levá­las a se esquecer do
Senhor. Pelo contrário, deve levá­las a contemplá­Lo e entrar em Sua presença. Devemos falar a
respeito da obra e da pessoa do Senhor, Sua exaltação, Seu nome, Sua glória e Sua segunda vinda.
Podemos   até   dizer   algo   com   relação   a   Seu   poder,   no   entanto   isso   depende   de   como   falamos.
Devemos sempre falar com ternura, mencionando que o amor de Deus  é poderoso e Seu poder se
manifesta em Seu amor. Essa palavra é muito doce. 

Se apenas dissermos que o poder do Senhor  é grande, maior até do que a energia atômica, os
irmãos podem esquecer quanto Ele  é amável. Por isso devemos considerar sobre como falamos.
Podemos dizer: "O poder do Senhor está em Seu amor. As mães amam os filhos, mas nem todas
têm o poder de cuidar deles de forma adequada. Mas o Senhor não é assim. Há poder em Seu amor
e Seu poder se manifesta mediante o amor". Quando falamos dessa forma, os santos percebem que
o Senhor é tão amoroso quanto poderoso. São levados ao Senhor e Sua intimidade. Além disso esse
falar não interromperá o espírito de adoração dos santos. 

Ao falar, precisamos atentar à atmosfera da reunião. Algumas vezes devemos falar logo no
início da reunião ou quando o pão e o cálice são passados.  É  extraordinário e muito significativo
quando nossas palavras seguem o pão à medida que é passado. Quando os irmãos passam o pão,
falamos a respeito do pão; e depois que ele já foi passado, podemos falar com relação ao cálice. Isso
dará   aos   santos   um  doce   sabor.   Eles  nem   sentirão   enquanto  falarmos;   antes,  perceberão   uma
atmosfera que os conduz  à  presença do Senhor. Pode ser que tenham a doce sensação de que o
Senhor derrama Seu sangue na presença deles e o fluir de Seu sangue  é  para que o bebam. O
suprimento fornecido por esse falar é repleto de sabor. Isso nos mostra que falar em nome do
Senhor requer considerável investimento em estudo. 

O MINISTÉRIO DA PALAVRA REQUER TOTAL DEDICAÇÃO

Por essa razão, os que administram a igreja não podem ser simplistas. Devemos dedicar todo o
nosso   ser   ao   que   fazemos.   Isso   pode   ser   comparado   a   um   experiente   engenheiro   que
continuamente considera o projeto de um edifício. Até mesmo quando dorme, ele pensa no projeto.
Portanto não é algo simples desenvolver um projeto. No entanto parece que consideramos nosso
serviço como algo simples. 

Por exemplo, os irmãos responsáveis de modo geral chegam à reunião do partir do pão na hora de
iniciar.  Não  ponderam  sobre  como  conduzir  a  reunião   antes  de  ela  se   iniciar.   Nesse   momento
começam a pensar a respeito da escolha de um hino, e um deles procura um hino, folheando o

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hinário   página   por   página.   Depois   que   o   hino   é   cantado,   segue­se   uma   oração   e   outro   hino   é
cantado. Essa situação dá aos santos a sensação de que os líderes estão matando o tempo. Depois
que   o   pão   e   o   cálice   são   passados,   um   irmão   pode   então   se   levantar   e   dizer   que   tem   algo   a
compartilhar, mas como não investiu tempo para se preparar, ninguém entende o que ele diz. 

Os   responsáveis   pelas   reuniões   não   devem   sentir­se   em   paz   se   os   santos   não   são
supridos na reunião do partir do pão. Nem devem conseguir comer ou dormir. Devem sempre
considerar   sobre   como   melhorar   a   reunião.   Não   devem   conseguir   dormir   tranqüilos.   Essa   é   a
atitude apropriada de parte dos responsáveis pela reunião. 

Alguns reclamam que não há material suficiente para compor uma mensagem. Quando comecei a
servir o Senhor, não havia material algum nem pessoas para me ajudar. Na primeira reunião do
partir do pão, simplesmente partimos o pão. Mas,  à  medida que considerava sobre esse assunto,
senti   que   deveríamos   abandonar   as   rotinas   das   denominações.  Depois   de   considerar   bastante,
recebi entendimento e encontramos um caminho para prosseguir. Passei longo tempo pesquisando,
porque   não   tinha   paz.   Por   exemplo,   eu   pensava:   "A   reunião   de   oração   deve   ser   feita   dessa
maneira? Quando cristãos se reúnem para orar, é assim que devem fazer?" Se pensarmos dessa
forma, creio que o Senhor nos mostrará o que devemos fazer. 

Os irmãos necessitam saber o significado da oração, pelo que orar e como orar numa reunião. Isso
deve se dar segundo a Bíblia. A seguir precisamos encontrar algo para lhes ministrar. Se fizermos
isso, as reuniões de oração irão mudar, e o número dos participantes irá crescer. Os santos terão
prazer  em vir  à  reunião de oração, porque  serão supridos. Esse  assunto  requer  muita  reflexão.
Quanto mais nos empenharmos, mais vivas serão as reuniões de oração. 

COMISSÃO ESPECIAL PARA QUEM SERVE NO MINISTÉRIO DA PALAVRA

Os que servem no ministério da palavra devem estudar como ministrar a palavra na reunião do partir
do pão e na reunião de oração. Devemos ministrá­la na reunião de oração sem nos alongar ou matar o
espírito   de   oração,   e   sem   interromper   a   disposição   para   orar.   Pelo   contrário,   nossa   palavra   deve
fortalecer   e   abrir   o   espírito   de   oração   e   ainda   estimular   os   outros   a   orar.  É  positivo   se   os   que
normalmente não oram queiram orar depois que proferimos a palavra. 

Quando fui a Manila pela primeira vez, os irmãos temiam a reunião de oração e a reunião do partir do
pão,   embora   sejam   as   reuniões   mais   importantes   da   vida   cristã.   Por   esse   motivo,   pedi   aos   irmãos
responsáveis que fizessem uma reunião do partir do pão à noite. Eles achavam que ninguém viria se a
reunião fosse à noite. Empenhei­me para corrigi­los e no fim a reunião do partir do pão teve a melhor
freqüência até então. Atualmente o número de santos que freqüentam a reunião do partir do pão em
Manila é maior do que o dos que freqüentam a reunião do domingo de manhã. Os santos dizem que é
porque são supridos na reunião do partir do pão. 

Infelizmente, não me foi possível trabalhar longo período lá. Por isso, o efeito de meu trabalho não se
compara ao que fizemos no norte da China. Obtivemos sucesso no norte da China porque trabalhamos
por muitos anos e nos concentramos em uma única igreja. Em Manila, porém, havia muitos assuntos
para atender e não seria apropriado assumir uma igreja e fazer a obra eu mesmo. Somente poderia
trabalhar como conselheiro. A despeito desses motivos, ainda houve melhoras. 

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Todos devemos praticar os assuntos já compartilhados. Não vamos dar atenção apenas à palavra a ser
proferida no domingo pela manhã. Temos de nos empenhar em levantar a reunião do partir do
pão e elevar o nível da reunião de oração.  É  preciso haver suprimento da palavra nessas
reuniões. Devemos estudar como suprir uma palavra específica. Precisamos escavar o ouro e encontrar
os tesouros. 

APRENDER A FAZER AJUSTES NA REUNIÃO

Além disso precisamos conduzir os santos a participar nas atividades das reuniões. Isso requer certa
consideração.   Por   exemplo,   quando   se   deve   escolher   um   hino?   Quando   e   como   devem   ser   dados   os
avisos? Quando todos devem levantar­se para cantar e quando devem ajoelhar­se para cantar? Esses
assuntos requerem cuidadosa consideração. Às vezes ajoelhar para cantar poderá levantar a reunião, ou
ficar de pé para cantar pode vivificar o espírito. Esse é um assunto misterioso. 

Não devemos ser legalistas com relação a ficar de pé ou sentado. Por vezes o modo de uma pessoa se
levantar na reunião é monótono. Se a criticarmos, porém, ela talvez não queira levantar­se de novo pelos
próximos   seis   meses.   Não   devemos   ser   rígidos.   Às   vezes   nosso   corpo   precisa   sentar­se,   levantar­se,
andar ou deitar­se. Por isso é preciso que haja alguém que conduza as reuniões de forma apropriada e
faça ajustes. Todavia os que fazem os ajustes não substituem os irmãos; eles os ajudam. O Espírito
Santo sempre se move por meio das pessoas. Se não houver quem faça esses ajustes, talvez seja difícil
elevar o espírito dos irmãos. Se o espírito for ajustado, poderá ser avivado. Por isso temos de aprender a
seguir o espírito. 

Precisamos aprender a ajustar e elevar a reunião de oração e a do partir do pão. Isso se aplica à
reunião de comunhão e também às demais. Somos responsáveis por suprir os irmãos de palavra.
Em   outras   palavras,   sempre   deve   haver   alguém   que   siga   o   Espírito   Santo   para   ajustar   as
reuniões.   Deve   haver   também   breve   ministração   da  palavra   para  ajudar  os   santos.   Depois  de
participar   dessa   reunião,   os   santos   terão   desejo   de   voltar.   Desde   que   queiram   achegar­se   ao
Senhor e sejam capazes de receber suprimento espiritual nas reuniões, desejarão vir. Espero que
os irmãos dêem a devida atenção a esse assunto. 

CAPÍTULO DOZE
A PALAVRA SERVE PARA SUPRIR E A ADMINISTRAÇÃO SERVE PARA EDIFICAR 
AO PREGAR MENSAGENS DEVEMOS CUIDAR DE NECESSIDADES PRÁTICAS, 
E NÃO DE PROFUNDIDADE

No capítulo anterior consideramos a necessidade de estudar o uso do ministério da palavra para
elevar as reuniões da igreja.  É  preciso acrescentar que o ministério da palavra deve ser vivo e
prático; não depende de assuntos elevados nem de conteúdo profundo. Não devemos pensar que
temas como a regeneração e como lidar com o pecado são muito superficiais apenas porque alguém
já falou sobre eles. Esse  é um conceito muito equivocado. O ministério da palavra depende da
necessidade. Se alguém necessita ouvir uma mensagem sobre a regeneração, devemos transmitir
uma mensagem viva a esse respeito. Creio que até o apóstolo Paulo  às vezes gostava de ouvir
outros pregando o evangelho. É provável que fosse suprido quando pregavam o evangelho, porque
suas pregações eram vivas. 

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Alguns consideram difícil pregar uma mensagem na igreja em Taipé, porque os santos já ouviram
boas   e   elevadas   mensagens   nas   conferências.   Pensam   que   se   a   palavra   for   sobre   um   assunto
comum, os santos já a ouviram. Mas, se a palavra for sobre um assunto elevado, os santos não
conseguem   atingir   o   padrão.  Ao   ministrar   a   palavra,   o   conteúdo   não   deve   ser   elevado
demais.  É  errado ir às "alturas" para encontrar um caminho. Não é normal andar em
cima dos telhados. Os que tentam andar em cima de telhados procuram encrenca. Antes,
devemos sempre procurar um caminho claro e desobstruído ao andar, e como não há obstruções
esse caminho pode ser tomado repetidas vezes. Por isso não devemos recear temas antigos, e sim
velhas  formas  de  expressão   e  velhas  maneiras   de   falar  o   assunto.  O tema  pode  ser   o  mesmo,
entretanto precisa de várias maneiras de apresentação para que se torne vivo. Não há benefício
algum no esforço por pregar mensagens elevadas. Devemos crer que entre os ministros levantados
por Deus na igreja, alguns funcionarão para suprir a igreja de coisas novas e originais, e outros
não. 

Os   irmãos   não   necessitam   de   palavras   profundas   para   ser   supridos;   só   precisam   de   palavras
simples.   Pessoas   são   salvas   todos   os   dias   e   devem   aprender   a   se   consagrar.   Os   que   já   se
consagraram, porém, precisam renovar a consagração. Portanto não devemos necessariamente dar
mensagens   elevadas.   Precisamos   esforçar­nos   para   receber   um   encargo   do   Senhor.   Devemos
apegar­nos   a   esse   princípio.   Precisamos   conhecer   a   necessidade   dos   irmãos.   Em   vez   de   nos
preocupar   se   uma   mensagem   é   superficial   ou   profunda,   devemos   ocupar­nos   da   genuína
necessidade da igreja. A mensagem proferida em reuniões regulares é sempre diferente da palavra
proferida nas conferências. As conferências apresentam mensagens em momentos específicos para
semear a necessidade da igreja no íntimo dos santos. Eles precisam digerir essas mensagens. A
palavra no domingo, contudo, é para atender às necessidades gerais dos irmãos. Por isso, não há
necessidade de pensar se uma mensagem é superficial ou profunda nem de se preocupar se já foi
pregada   por   outras   pessoas.  Nossa   única   preocupação   deve   ser   se   ela   supre   as
necessidades dos irmãos. Para que isso ocorra, nossas palavras precisam ser vivas. 

Jamais devemos recear que um tema comum seja muito superficial para os santos. Na realidade,
não   existe   isso.   Até   mesmo   uma   mensagem   "superficial"   pode   ministrar   coisas   profundas   às
pessoas. Em 1942 um irmão que congregava em certa denominação vinha com freqüência a nossas
reuniões com o intuito de ouvir as mensagens de evangelho. Apesar de a pregação do evangelho
ser muito simples, pela qual os incrédulos são salvos, esse irmão acabou se voltando para a base
da  igreja   em  razão  delas.   Os  que   são   responsáveis  pelo   ministério   da  palavra  precisam   sofrer
mudança conceitual. Não devemos considerar se um tema é profundo ou simples, ou se outros já
falaram   a   respeito   dele.   Em   vez   de   nos   preocupar   com   essas   questões,   devemos   receber   um
encargo   para   saber   exatamente   o   que   os   santos   necessitam.   Uma   vez   recebido   esse   encargo,
precisamos estudar para encontrar um modo vivo de apresentá­lo. Isso não significa que nossas
palavras precisam ser cheias de vivacidade, eloqüência ou persuasivas, e sim que devemos falar
palavras  de  vida,  que   toquem,  movam   e   elevem  o   espírito   dos   santos  e   os  convençam   em  seu
espírito, libertando­os assim. É aí que devemos investir nossa energia e esforços. 

Por   isso   precisamos   orar   com   fervor:   "Senhor,   hoje   vou   falar   sobre   regeneração.   Dá­me   uma
palavra  nova  e cheia de  vida". Nosso  falar deve  ser  tal que até  o apóstolo Paulo  diria  que  foi
tocado.   Ela   deve   dar   até   mesmo   aos   crentes   experientes   um   suprimento   novo   e   fresco,   tão
refrescante quanto o orvalho da manhã. Embora a regeneração seja um tema "velho" já fala do
tantas vezes, ainda devemos dar ao espírito das pessoas um novo suprimento desse tema. Isso é a
palavra viva. 
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O MINISTÉRIO DA PALAVRA
TEM UM PONTO PRINCIPAL E SUPRE OS SANTOS

Como responsáveis pelo ministério da palavra nas igrejas, precisamos aprender a ter um ponto
principal e ao mesmo tempo ser capazes de suprir a palavra em todos os aspectos. Ninguém pode
dizer que a única coisa que sabe fazer é pregar o evangelho. Devemos descobrir como conduzir os
responsáveis pelas reuniões nas casas e grupos pequenos. Precisamos buscar ter uma palavra para
eles e uma palavra para suprir todas as necessidades dos santos. 

Estamos centrados no ministério da palavra. Podemos falar sobre Cristo, o Filho de Deus, a cruz,
como lidar com a carne e outros  temas  que suprem os santos. Porém necessitamos  também de
palavras que cuidem dos que servem. Ainda que a palavra numa igreja possa ter Cristo, o Filho de
Deus, a cruz e como lidar com a carne como centro de atenção, existe a necessidade também de se
falar   sobre   outros   aspectos.   Por   exemplo,   se   comermos   filé   de   manhã   e   à   noite,   cedo   ou   tarde
teremos problemas. Assim como os seres humanos necessitam ser nutridos de diferentes elementos,
todos necessitamos de toda sorte de alimento. E não somente isso, como também os chineses do
norte  apreciam  alho,  e  os   ocidentais  gostam  de  café. Alguns  gostam  de   molho  de  soja  e  outros
preferem vinagre nas refeições. Precisamos aprender a suprir as diversas necessidades dos santos;
caso   contrário,   conhecerão   apenas   uma   verdade   e   perderão   o   equilíbrio.   Assim  a   igreja  sofrerá
grande perda. 

Quando os irmãos são fortes num aspecto, mas fracos em outros, é difícil a igreja se desenvolver.
Podemos falar do mesmo  ponto se ministramos a mais de uma igreja. Se eu ficar em Tainan por
dois meses, posso concentrar­me em servir aos santos o assunto de como lidar com a carne. Se
então vou para Taichung pelos dois meses seguintes, posso servir aos santos a mesma coisa. Isso é
aceitável, porque toda igreja necessita aprender a lidar com a carne. No entanto não será aceitável
ficar numa única cidade e falar todos os anos a respeito de lidar com a carne. Isso fará com que a
igreja se torne desequilibrada. 

Portanto os que ministram a palavra precisam aprender a ser versáteis. Isso se compara a um
militar   capaz   de   cuidar   de   questões   financeiras   e   um   financista   capaz   de   cuidar   também   de
assuntos educacionais. Um economista que só se especializa em sua  área e não conhece nada a
respeito de assuntos militares não pode liderar um exército. O general Tseng Kuo­fan era escritor,
mas foi capaz de derrubar o comando rebelde conhecido como Reino Celestial da Paz. Ele combinou
táticas militares com sua experiência política e desse modo obteve sucesso e alcançou a vitória. Por
isso ninguém deve dizer que só pode falar sobre a cruz e se especializar em lidar com a carne. 

Os que enfatizam a questão de lidar com a carne devem aprender a pregar o evangelho e ensinar os
irmãos   a   proceder   nas   reuniões.   Precisamos   ser   multifacetados;   caso   contrário,   a   igreja   ficará
desequilibrada. Uma boa dona de casa sabe preparar vários pratos. Apesar de cenoura fazer muito
bem, ela não serve apenas cenoura todos os dias. De semelhante modo, nós também não devemos
falar sobre como lidar com a carne em todas as reuniões. Devemos falar sobre oração na reunião de
oração,   sobre   adoração   no   partir   do   pão,   sobre   servir   na   reunião   de   comunhão   e   sobre
responsabilidade num grupo pequeno de santos que têm muitos encargos no serviço.  Em todas
essas várias reuniões o ministério da palavra é suplementar. O centro de atenção pode ser
como lidar com a carne e conhecer a Cristo, porém ainda é necessário suprir a palavra em outros
aspectos. 
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A   igreja   não   deve   receber   mensagens   suplementares   sem   que   receba   mensagens   centrais.
Precisamos cuidar de ambas. Esse princípio se aplica à Bíblia. Nenhum de seus livros abrange um
único assunto. Por exemplo, embora Romanos se concentre na justificação pela fé, também traz
uma saudação no início, uma bênção no fim e muitos outros aspectos da verdade, como apresentar
o corpo e acolher os santos. Esses aspectos nada têm a ver com a justificação pela fé, a mensagem
central, mas estão ligados a ela. Efésios é profundo, porém inclui tópicos relacionados com honrar
os pais, submissão ao marido, amor  à  esposa, a não deixar o sol se pôr sobre a ira e não roubar
mais   (6:1;  5:22,  25,  33;  4:26,  28).  Esse  livro  se   concentra   na  igreja   como  o  Corpo  de  Cristo,  a
plenitude Daquele que a tudo enche em todas as coisas (1:23), no entanto há muitos outros temas
suplementares. 

Na igreja edificamos o Corpo de Cristo; por isso nos concentramos em ajudar as pessoas a conhecer
o Cristo todo­inclusivo, a cruz e como lidar com a carne. Porém nossa fala deve suprir também as
várias outras necessidades dos santos.  Às vezes existe a necessidade prática de uma palavra de
consolo ou sobre sofrimento, apesar de não ser tão importante quanto a mensagem central. Por
exemplo, depois de orar na reunião de oração por uma família que passava por provações e alguns
irmãos   desempregados   ou   doentes,   usei   os   dez   minutos   restantes   para   falar   a   respeito   de
sofrimentos   e   provações.   Isso   trouxe   consolo   e   encorajamento   para   os   ouvintes.   Depois
compartilharam   essas   palavras   com   a   família   de   forma  que   a   família   inteira   foi  encorajada   e
fortalecida. 

Isso mostra que o ministério da palavra deve ser vivo e multifacetado. Não devemos pensar jamais
que após pregar uma mensagem no domingo nosso encargo terminou e assim podemos relaxar até
quinta  à  noite quando, então, vamos "para a cruz" mais uma vez ao falar. Isso  é inadmissível.
Precisamos   aprender   a   ser   versáteis   para   atender   a   todas   as   necessidades.   Pode   ser   que   não
tenhamos  considerado  falar  sobre  aflições,  mas,  ao   ouvir   as  orações  dos  irmãos  na   reunião   de
oração e ver as lágrimas derramadas pelo sofrimento e tristeza da família, acabamos percebendo
que existe uma necessidade. Como resultado, depois da reunião de oração devemos levantar­nos e
compartilhar algo segundo nossa inspiração. Essa inspiração resulta do exercício diário. O Espírito
de   Deus   não   se   move   em   pedras;   portanto   versículos   ou   mensagens   relativos   a   sofrimento
precisam fazer parte de nossa constituição. Então, quando sentirmos no espírito que os irmãos
necessitam dessa palavra, seremos capazes de oferecer­lhes consolo, força e instrução em meio aos
sofrimentos. Isso requer muita preparação. 

Ninguém se torna ator, cantor ou músico famoso da noite para o dia. É preciso que se dedique de
todo o seu ser para se tornar famoso ou ter sucesso. Um ator deve estudar como falar e rir. Precisa
aprender a rir para sensibilizar os outros. Então, quando ele rir no palco, a platéia será tocada
pelo mesmo sentimento e rirá junto. Quando chorar no palco, a platéia também se comoverá a
ponto de chorar. No entanto essa habilidade não se adquire num mês. Ele precisa gastar tempo
todos   os   dias   estudando,   praticando   e   aprendendo   com   os   melhores   atores   do   passado   e   do
presente. Ele precisa aprender com eles e acrescentar as próprias idéias a fim de produzir algo
novo. Desse modo poderá criar um estilo próprio exclusivo. 

Não   estou   encorajando   ninguém   a   se   tornar   um   grande   mestre;   antes,   meu   desejo   é   que   nos
empenhemos em fazer nossa obra de maneira respeitável. Jamais devemos pensar que, visto que
nossas verdades são tão valiosas, já temos conteúdo suficiente para as próximas cento e quatro
semanas.  Se  pensarmos desse modo, acabaremos  sendo  desleixados e mecânicos. Em vez disso
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devemos investir tempo todos os dias a considerar e estudar a condição dos irmãos e a
situação da igreja. Não devemos meramente copiar as mensagens que nos foram transmitidas
por terceiros sem estudá­las.  Se nos empenharmos no estudo, vamos exercitar o espírito,
receber encargo e ministrar às pessoas segundo suas necessidades. Quando exercitarmos
o   espírito   numa   reunião   de   casamento,   conheceremos   a   necessidade   do   casal   e   diremos   uma
palavra que a preencha. Numa reunião em memória de alguém, saberemos se a família necessita
de   consolo   ou   encorajamento   e,   assim,   a   supriremos   de   acordo.   Esse   exercício   requer   muito
preparo. 

Nosso ministério da palavra precisa ter um foco central e nós precisamos ser versáteis. Precisamos
aprender a ministrar a palavra para atender a diferentes necessidades. Não devemos considerar
isso algo fácil de fazer. Sempre que ministramos precisamos ter um foco e também estar atentos
às várias necessidades, procurando supri­Ias. De outro modo nosso ministério será desequilibrado
e a igreja enfrentará grandes perdas. Como a maioria dos colaboradores permanece num  único
lugar, cuidando de uma só cidade, o ministério da palavra precisa abranger muitos aspectos, senão
a igreja sofrerá perdas. 

O MODO DE FALAR  NECESSITA SER ADEQUADO E APROPRIADO

Os que transmitem a palavra precisam atentar também para o modo de falar.  Isso diz
respeito à postura e está relacionado com o temperamento. É claro que não damos atenção a coisas
externas,   no   entanto   a   maneira   de   falar   pode   afetar   em   grande   medida   a   palavra   que
transmitimos.  É   possível   que   nossa   postura   reduza   o  peso   da  mensagem.  Por   exemplo,
gesticular demais com as mãos pode causar distrações e, portanto, deve ser corrigido. Podemos
corrigir esse erro praticando nossa fala em frente ao espelho. Então conseguiremos corrigir­nos. 

Um   obreiro   do   Senhor   não   deve   fingir;   porém   todo   obreiro   deve   manter   postura   apropriada.
Postura refere­se  à maneira de falar. A primeira lição que um diplomata deve aprender é com
relação à postura. Ele não pode portar­se como criança num evento importante. Até mesmo um
atleta mantém a postura apropriada. Ele tem um modo próprio de se portar, seja quando anda ou
corre. Quando um atleta se levanta, porta­se de tal forma que os outros o reconhecem como tal. 

Um   obreiro   jamais   deve   fingir,   porém   ser   genuíno.   Não   obstante,   precisamos   portar­nos   de
maneira apropriada. As irmãs devem portar­se de modo apropriado para uma irmã. Esse modo
difere do modo dos irmãos. Os idosos devem ter conduta que lhes seja apropriada. O mesmo se
aplica  aos  mais   novos.   Alguns   presbíteros   são  descuidados   quando   entram  em   contato   com  os
santos; não mantêm a conduta apropriada. Um presbítero não deve conduzir­se como burocrata,
mostrando­se especial e superior aos outros; deve, antes, comportar­se de modo conveniente. Deve
ser sincero, despretensioso e simples, e não presunçoso. Ao mesmo tempo, não deve ser leviano ou
desleixado. As pessoas devem perceber que ele tem peso,  é sério e sua conduta é de presbítero.
Essas qualidades se relacionam com os antecedentes históricos da pessoa, sua disposição natural,
educação, ambiente e família. 

Todo   diplomata   precisa   aprender   três   importantes   lições:   em   primeiro   lugar,   a   conduta
apropriada. A seguir precisa aprimorar sua aptidão com o idioma. Um diplomata precisa ser bom
com as  palavras. Precisa ser capaz de virar qualquer situação a seu favor com poucas palavras.
Somos todos embaixadores do reino de Deus, diplomatas, que interagem com o reino do diabo na

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terra   todos   os  dias. Já  tivemos   a   experiência   de   mudar  os   que   se   opunham  a   nós   com  apenas
algumas  palavras. Eles até  mesmo  receberam o  Senhor depois  de algumas palavras, apesar de
inicialmente   não   terem   nenhum   desejo   com   relação   a   Ele.   Portanto   a   segunda   coisa   que   um
diplomata precisa aprender é falar. 

Em terceiro lugar, um diplomata precisa aprender a ser magnânimo. Uma pessoa magnânima não
deixa   que   os   outros   necessariamente   saibam   quando   ela   está   feliz   ou   triste.   Uma   pessoa
magnânima sempre permite que os outros se retraiam. Por exemplo, quando é ofendido, ele não fica
logo irado. Em vez disso, exerce sua magnanimidade retraindo­se e considerando a situação para
ver se tem base para dar uma resposta clara. Não se zanga logo depois de ofendido nem se dispõe a
fazer coisas para os outros com base em seu estado de humor. Um diplomata magnânimo sempre
consulta muitos especialistas, como conselheiros, supervisores, secretários e consultores a fim de
examinar as vantagens e desvantagens de determinada situação antes de responder. 

Quem não é capaz de aprender essas três questões não pode ser bom diplomata mesmo que tenha
muito   conhecimento.   O   conhecimento   é   secundário   para   ele.   A   questão   mais   importante   é   sua
conduta. A seguir deve possuir habilidade de falar e de ser magnânimo. Quando provocado ele não
perde o controle emocional e quando  é elogiado não se sente obrigado aos outros. Todos os que
servem devem aprender essas três lições. É completamente impróprio perder o controle quando nos
sentimos ofendidos por algum irmão. E também não é apropriado concordar prontamente com o
pedido de um irmão sempre que ele nos for favorável. 

Precisamos   dar   atenção   ao   modo   de   nos   portar   quando   contatamos   os   outros   e   ministramos   a
palavra. Nesses aspectos é muito difícil que outros nos corrijam. É melhor ir diante do espelho,
fazer uma auto­observação e nos corrigir no que for necessário.  Por exemplo, um irmão
franze a testa, com uma sobrancelha erguida bem alta e a outra abaixada, sempre que se levanta
para falar. A seguir balança a cabeça duas vezes antes de pronunciar a primeira frase. Ele já faz
isso há mais de vinte anos e nunca mudou sua postura ao falar. Há outro que sempre fica nervoso e
agitado   ao   receber   estrangeiros.   Apesar   de   afetuosa,   sua   conduta   é   inconveniente.  É  possível
permanecer tranqüilo e agir de forma digna quando cumprimentamos alguém. Se não nos portamos
de modo conveniente, causamos má impressão. 

Além do mais não devemos todos ter a mesma postura quando falamos. Por exemplo, havia um
pregador que usava uma toga e não se movia muito ao falar, no entanto quando abria a boca para
dizer:   "Deus   amou   o   mundo   de   tal   maneira",   era   algo   poderoso   e   comovente.   Outro   pregador
costumava descer correndo da plataforma de onde pregava, atravessar o salão de reuniões e então
voltava para o lugar de onde saíra. Ele chorava e dava risadas, gritava e berrava, ajoelhava­se e
deitava no chão. Às vezes imitava o jeito de andar e falar de algumas mulheres para mostrar como
isso   era   inconveniente.   As   pessoas   de   modo   geral   achavam   difícil   aceitar   o   modo   como   se
comportava, mas depois de ouvir sua mensagem, eram conquistadas e acabavam convencidas de
que seu comportamento estava certo; que não era inconveniente. Portanto todos os que ministram a
palavra têm um jeito próprio de se conduzir. 

A questão da postura é um problema para praticamente todos. Dez anos atrás houve um irmão que
ficava o tempo todo erguendo as calças enquanto falava. Outro irmão não percebia que seu cinto
estava   dobrado   toda   vez   que   terminava   de   falar.   Ainda   outro   gostava   de   segurar   a   gravata
enquanto   falava.   Embora   não   sejam   questões   importantes,   podem   afetar   nossa   pregação   da
palavra.  Um  irmão   que   gosta   de   franzir   as   sobrancelhas   não   deveria   falar  num   casamento  ou
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reunião em memória de alguém. Casamentos são ocasiões de alegria e sua testa franzida não seria
apropriada. Do mesmo modo, as pessoas já estão bem tristes numa reunião em memória de um
ente querido, e não precisam de seu franzir. Na verdade seria inadequado essa pessoa falar em
qualquer ocasião. 

Alguns sempre se portam de maneira apropriada. Numa ocasião de alegria, sua fala é adequada
mesmo   que   não   falem   sobre   felicidade   propriamente   dita.   Quando   falam   numa   reunião   em
memória de alguém, os parentes do falecido são consolados grandemente. Talvez eles não falem
muito, mas sua postura tem grande peso. 

Por certo tempo, eu pensava que o irmão Nee era espiritual demais para prestar atenção a questões
pequenas como a aparência. Certo dia, porém, enquanto me ensinava a compor hinos em chinês
utilizando tipos, ele disse que se imprimíssemos os hinos no sentido horizontal seria menos eficaz
para tocar as pessoas, mas se os imprimíssemos na vertical causaria impacto maior. Nós então
compusemos   um   hino   na   horizontal   e   na   vertical.   Quando   lemos   e   cantamos   o   hino   nos   dois
sentidos, descobrimos que de fato havia diferença.  Como seres humanos somos afetados por
muitas  coisas.   A  habilidade   de   tocar   as   pessoas   é   basicamente   uma   obra   do   Espírito
Santo;   entretanto   certas   coisas   podem   frustrar   essa   obra.  Ler   algo   composto   no   sentido
horizontal pode frustrar essa obra, enquanto ler a mesma coisa na vertical pode contribuir para
ela. De igual forma, a postura  apropriada não só elimina a resistência das pessoas para com o
Espírito Santo, como também colabora em Sua obra. Se for imprópria, nossa postura se tornará
motivo de resistência ao Espírito Santo. Por vezes nossa conduta imprópria pode anular por
completo   o   impacto   de   nossa   fala.  Quando   as   pessoas   não   gostam   de   nossa   atitude,   não
prestam  atenção ao que  dizemos; seu  coração se fecha e elas não conseguem absorver nada da
mensagem. 

Além   disso   os   mais   jovens   jamais   devem   comportar­se   como   idosos.   Devem   ser   espontâneos   e
naturais,   mantendo   uma   conduta   apropriada   e   distinta.   Devemos   ser   loucos   diante   de   Deus   e
sóbrios diante dos homens  (2 Co 5:13). Todavia ser ajuizado diante dos pais  é  diferente  de ser
ajuizado diante dos filhos. Mesmo permanecendo sóbrios nos dois contextos, nosso comportamento
será diferente. Ser sóbrio diante dos pais expressa certo tipo de conduta, porém a conduta diante
dos filhos será diferente. Precisamos estudar esse assunto. 

A ADMINISTRAÇÃO DA IGREJA É PRINCIPALMENTE PARA A EDIFICAÇÃO

Na administração da igreja, há um assunto que tem sido negligenciado por todas as igrejas. Em
nosso entendimento, a administração da igreja está relacionada com assuntos administrativos e
financeiros.   Alguns   podem   até   entender   que   administração   implica   administrar   ou   gerenciar
pessoas. Embora isso não esteja totalmente errado, não é o verdadeiro significado da administração
da igreja. A administração da igreja tem por finalidade principal a edificação dos crentes coletiva e
não individualmente. A administração da igreja  é  principalmente para edificar muitos indivíduos
juntos   como   um   só.  Onde   não   há   administração,   não   há   edificação,   mas   se   existe
administração, existe também a necessidade de se edificar as pessoas juntas, unidas como um só
Corpo. 

Como realizar a administração para que haja a edificação? Os doze presbíteros da igreja em
Taipé podem organizar­se para ter vinte e oito irmãos responsáveis pelas reuniões de grupos. Em

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certa medida, tal organização está centrada na edificação, em especial se houver irmãos que amam
o Senhor e buscam espiritualidade, porém não agem de forma  coordenada entre si. Para haver
coordenação de forma prática, é preciso haver a administração da igreja. No entanto os presbíteros
não devem parar na designação de irmãos responsáveis que se responsabilizem pelas reuniões nas
casas. Essa administração possui, de forma muito clara, a natureza da edificação, mas eles devem
seguir em frente. 

Os presbíteros podem observar que um irmão escolhido para ser responsável por um grupo tem
problemas que precisam ser resolvidos, ou não terá condições de assumir responsabilidades junto
aos outros no futuro. Os presbíteros devem passar algum tempo considerando esse irmão, orando
por ele e compartilhando com ele. Devem continuar em oração e compartilhando até que sejam
capazes de falar com ele com respeito aos problemas. Se ele acolher o compartilhar, os problemas
serão removidos, e não haverá nenhum problema quando se coordenar com outros para a reunião
de grupo. Isso é edificação. 

Isso se compara a construir com pedras. Para que uma pedra fique sobre a outra, a de baixo precisa
ter superfície plana. Qualquer aresta da pedra precisará ser continuamente trabalhada, até que
outra pedra possa ser colocada sobre ela em segurança. Isso demonstra que edificar envolve mais
do   que  colocar   uma   pedra   sobre  outra.   Envolve  também   a   remoção   de   arestas   de  determinada
pedra   para   ela   ser   edificada   sobre  outra.   Esse   é  o   sentido   da   administração.  Quando   os   que
administram a igreja percebem que um irmão que poderia assumir responsabilidades
tem alguma falta, devem preenchê­la por ele.

Isso também se compara a procurar pedras para a edificação de uma casa. Uma pedra adequada
pode ter uma saliência que necessita ser trabalhada, assim poderá ser edificada sobre outras com
segurança. 

Também pode acontecer de um irmão responsável não saber falar muito bem e não estar apto para
ministrar a palavra, no entanto sua administração na reunião ainda ter o gosto da edificação. Ele
observa os irmãos e sabe quando estão prontos para assumir responsabilidades ou necessitam de
treinamento. Por fim os santos em sua reunião serão capazes de assumir responsabilidades. Isso é
edificação e também administração. Portanto os presbíteros devem passar um quarto do tempo de
reunião resolvendo questões administrativas e financeiras e três quartos tratando da condição dos
irmãos. Não devem fazer fofocas sobre pontos fortes e fracos dos santos. Antes, devem estudar os
santos a fim de saber se cumprem suas tarefas ou têm problemas. Um irmão pode parecer muito
útil, no entanto está com problema. De igual modo, outro irmão pode ser capaz de ministrar a
palavra,   porém   não   está   maduro   o   suficiente   para   ser   diácono.   Por   conseguinte   os   presbíteros
devem considerar qual é a melhor maneira de ajudá­los. Um dos presbíteros pode ser incumbido de
passar seis meses com eles para que sejam aperfeiçoados e continuem trabalhando no ministério da
palavra. Esse tipo de administração da igreja tem valor e é importante. A administração não cuida
apenas de questões administrativas e contábeis, mas serve para edificar os crentes. 

Infelizmente   nossa   administração   da   igreja   ainda   está   em   falta.   Quando   um   dos   santos   tem
problema, os presbíteros devem estudar sua situação e cuidar dela de acordo com a edificação. Se o
problema   não   for   cuidado   de   maneira   apropriada,   outros   santos   também   terão   problemas   e   a
edificação será frustrada. 

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Quando eu era responsável numa igreja no norte da China, fizemos muito quanto ao aspecto de
administrar a igreja. Ofertas materiais também estavam a cargo da administração da igreja. Não
dávamos ofertas de maneira indiscriminada. A oferta era feita sob a direção da administração da
igreja,   garantindo   assim   que   o   objeto   da   oferta   seria   de   fato   beneficiado   por   ela.   A   forma   de
conceder ajuda a um irmão necessitado é parte da administração.  É  isso que presbíteros devem
fazer.   Presbíteros   são   pastores,   mestres   e   administradores.   Essas   três   funções   estão   inter­
relacionadas e não devem ser separadas. Alguns são bons em lidar com questões administrativas e
finanças,   e   outros   em   aperfeiçoar   os   santos.   Entretanto   os   presbíteros   não   devem   trabalhar
separados; devem agir de forma coordenada, juntos, como uma só pessoa, para observar todos os
lados   de   cada   situação.  Quando   a   maior   parte   do   tempo   e   da   energia   na   reunião   dos
presbíteros,   que   é   para   a   administração   da   igreja,   é   passado   em   questões
administrativas, a igreja sofre perda, porque as necessidades espirituais dos santos não
são tocadas. Quando a administração da igreja não toca no espírito dos santos, a igreja
perde. 

Três quartos do tempo e da energia da reunião dos presbíteros devem ser gastos no cuidado da
situação espiritual dos santos. Não podemos passar sem o aspecto gerencial da administração da
igreja,   contudo   precisamos   de   mais   prática   sobre   quanto   tempo   dedicar   a   isso.   Administrar  as
necessidades   espirituais   dos   santos   requer   muito   maior   esforço   e   tempo   do   que   o   mero
gerenciamento   de   questões   administrativas   e   contábeis.   Requer   nossa   paciência,   sabedoria,
disposição e energia para fazer tudo em amor e não segundo as afeições naturais. Isso pode ser
comparado à relação entre médico e paciente. O médico prescreve o que o paciente necessita em
amor. Quando o paciente necessita de remédio, ele prescreve remédio, se necessita ser operado, ele
opera. Portanto na administração da igreja os presbíteros devem aprender a ser suaves, duros,
rápidos e devagar. Devem agir com equilíbrio em todas as situações. Não devem lidar com toda
situação  da   mesma   maneira.   Uma   situação   pode   requerer   severidade   e   outra   brandura.  Todas
essas situações requerem aprendizado. 

Levar as pessoas à salvação não requer muito aprendizado. De igual modo, instruí­las também não
requer muito aprendizado. Todavia, se desejamos administrar a igreja e ministrar a palavra
para   edificar   os   filhos   de   Deus,   para   a   manifestação   da   habitação   de   Deus   e   o
funcionamento do Corpo de Cristo, precisamos aprender muitas lições. Sem aprender as
lições, podemos salvar pecadores e aperfeiçoar os santos, mas ser incapazes de edificá­los para que
sejam o Corpo de Cristo, a habitação de Deus. É possível até mesmo que nós próprios não sejamos
edificados. Se  é esse o caso, podemos servir como presbíteros ou no ministério da  palavra, mas
nossa administração da igreja e ministério da palavra só levarão os santos a amar o Senhor com
fervor   e   ser   espirituais   de   forma   individual.   Não   poderá   edificá­los   juntos   para   ser   cheios   da
presença   de   Deus   no   íntimo   e   de   Sua   autoridade   externamente,   de   modo   que   se   tornem   Sua
habitação, o Corpo de Cristo, o desejo divino. Se nos empenharmos em executar a administração da
igreja de forma apropriada, o poder e eficácia de nosso evangelho aumentarão e a eficácia de nossa
instrução aos santos também. 

A IGREJA EDIFICADA APRESSA A VOLTA DO SENHOR

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A bênção de Deus está no Corpo, em Sua morada. Esta é a era da graça. Deus concede graça a
todos os crentes inclusive aos católicos. Ele faz Seu sol nascer sobre maus e bons, e envia chuva
sobre justos e injustos (Mt 5:45); isso é graça. No entanto não podemos afirmar que os crentes que
estão no catolicismo podem satisfazer o desejo e a necessidade do coração de Deus nesta era. Seguindo
o mesmo princípio, podemos salvar muitas pessoas e aperfeiçoá­las para ser espirituais, porém isso não
pode satisfazer o desejo do coração de Deus. O desejo de Seu coração é obter um Corpo edificado na
presente era. É isso o que Ele está realizando. 

Se os escolhidos de Deus ainda não estão edificados, necessitam sê­lo algum dia. Não existem crentes
dispersos no novo céu e nova terra. Antes, todos eles estão edificados juntos como uma cidade, na qual os
fundamentos e os muros são pedras preciosas, e as portas são pérolas. Não devemos esperar pelo futuro
para ser edificados. Talvez não saibamos ser edificados, porém Deus quer que Seus crentes o sejam. Ele
nos diz de forma clara que depois de salvos devemos ser edificados. Somos a casa edificada por Deus (Ef
2:22j 1 Pe 2:5). Deus concede diferentes dons para a edificação do Corpo (Ef 4: 11­12). Se desejamos com
sinceridade os dons, devemos desejar o dom de edificar a igreja. Deus deseja uma morada, um Corpo,
contudo encontrou muitas dificuldades nos últimos dois mil anos. Não é difícil conduzir as pessoas à
salvação nem ajudá­las a ser espirituais. Entretanto é realmente difícil edificar um grupo de pessoas
como um só Corpo espiritual, uma habitação corporativa. Por esse motivo não houve muita edificação na
história da igreja. 

O irmão T. Austin­Sparks perguntou­me certa vez qual era minha percepção acerca da segunda vinda
do   Senhor.   Respondi   que  minha   percepção   interior   era   de   que   a   volta   do   Senhor   ainda   não   estava
próxima. De acordo com Apocalipse 14:15, a seara da terra necessita amadurecer para ser colhida. A
seara madura e sua iminente ceifa se referem à colheita do Senhor de Seus crentes maduros quando de
Sua vinda. No entanto o povo de Deus, Sua seara, não está maduro. Há somente brotos tenros. O Senhor
da seara não pode voltar quando ainda não há nada para colher. 

Esse  assunto  envolve  o arrebatamento  dos  crentes  e  a  maturidade  de  vida.  Se  a  igreja  perseguir  a
edificação com afinco, os crentes amadurecerão mais cedo, e o Senhor da seara poderá retomar para
ceifá­la. Quem cultiva arroz sabe que todos gostam de colher mais cedo se o arroz já está maduro. No
entanto, se os campos ainda estão verdes, não existe como fazer a colheita. 

Há dois mil anos o Senhor disse: "Eis que venho sem demora" (22:7, 12). Ele deseja retornar, contudo a
seara da terra não está madura. Como poderia voltar antes de a seara amadurecer? Apocalipse 14:15
não depende de um cronograma depende de vida. Quanto mais rápido nossa vida amadurecer, mais cedo
Ele virá. Se precisarmos de mais tempo para amadurecer em vida, Ele voltará mais tarde. Do ponto de
vista da maturidade em vida, a igreja está repleta de campos ainda verdes e até mesmo desolados. Visto
que não existe edificação, os que foram iluminados irão chorar sobre a situação de desolação, pois não
conseguirão   regozijar­se.   O   que   nos   faz   ainda   mais   tristes   é   a   condição   da   igreja   com   relação   à
edificação. Choramos dia após dia por esse motivo, porque ninguém fala a respeito da edificação da
igreja e não há muita edificação entre nós. É claro que devemos dar atenção à propagação da obra, mas
devemos dar maior atenção ainda à edificação. De outro modo, o Senhor não terá caminho e nossa obra
não terá caminho. Se não temos caminho, os santos também não têm. 

Chegou a hora em que precisamos com urgência de edificação. Como participamos da obra do Senhor,
em tudo o que fazemos, seja na administração da igreja, no ministério da palavra ou na visitação dos
santos, devemos agarrar­nos ao princípio de que nossa obra deve resultar na edificação dos crentes.

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Devemos ser capazes de edificá­los um a um como parte do Corpo de Cristo, um vaso corporativo de
Deus na terra. Deus 

deseja um vaso corporativo, e não individual. Se nosso desejo é meramente aperfeiçoar as pessoas
visando   sua   espiritualidade   individual,   não   resta   muito   para   aprender.   Porém,   se   desejamos
participar na obra de edificação, há muitas lições para aprender e precisamos ser corrigidos em
muitas áreas. A administração da igreja precisa ser corrigida, o ministério da palavra necessita de
correção   e   a   forma   como   visitamos   as   pessoas   em   suas   necessidades   precisa   ser   corrigida.
Precisamos  aprender  lições  diligentemente.  Não  há   muito  do   elemento   da  edificação   em  nossa
administração da igreja e ministério da palavra. 

A partir de agora, a administração em todas as igrejas deve concentrar­se nas pessoas,
e não em assuntos administrativos. Devemos concentrar­nos em todos os crentes, e não em
indivíduos   específicos,   para   que   se   tornem   um   vaso   corporativo.   Estamos   sendo   edificados   na
coordenação com os outros e aprendendo a administrar e ajudar os outros. Aprenderemos a suprir
a falta de alguns e remover o excesso de outros, ou a acrescentar aos que têm pouca utilidade e
ajudar os que já são úteis a se desenvolver em seu serviço ainda mais. Aprenderemos também a
ajudar  outros  a  agir   de   forma  coordenada   de  modo   que   não   haverá  indivíduos  espirituais  que
exerçam sua função no Corpo de maneira individualista. Em lugar disso, todos os crentes devem
ser unidos como um só a fim de exercer suas funções de forma coordenada uns com os outros.
Fazendo isso, prepararemos um excelente caminho para o retorno do Senhor. 

A OBRA DE EDIFICAÇÃO NECESSITA SER EFETUADA NA BASE APROPRIADA

Para que o Senhor continue a avançar nestes últimos dias, não podemos apenas falar acerca da
base da igreja. Se queremos ter edificação, precisamos estar seguros de ter a base apropriada.
Enquanto   nossa   base  estiver  insegura,  nada   pode  ser  exercitado  na   prática.   Precisamos  ainda
reconhecer o esquema do inimigo. Sem a base apropriada, podemos ser espirituais, mas estamos
em Babilônia. Talvez sejamos tão espirituais quanto Daniel, mas incapazes de edificar o templo
santo. Se desejamos ser edificados juntos a fim de nos tornar o templo santo, a cidade santa, temos
de retornar para Jerusalém. Portanto precisamos ter certeza quanto  à  base; caso contrário, não
saberemos onde devemos construir. Podemos ser espirituais em Babilônia, Arã, Síria ou Samaria,
mas de forma dispersa. Porém o templo de Deus não é construído em Babilônia, Arã, Síria ou
Samaria.   É   construído   em   Jerusalém.   Não   podemos   edificar   de   acordo   com   opiniões   pessoais.
Precisamos retornar à fundação sobre a qual nossos antepassados edificaram o templo: Jerusalém.

Essa questão nada tem a ver com nossa opinião. Tem a ver com a luz concedida aos apóstolos.
Devemos   voltar  à  mesma   base   sobre   a   qual   eles   edificaram   as   igrejas.   Todas   as   coisas   que
concernem à base da igreja devem ser de acordo com a Bíblia. Isso se compara ao batismo. Não se
trata de ser batizados por aspersão ou imersão, mas ao retorno  à  prática do início. No início os
santos eram batizados em água. Eram sepultados com Cristo. De maneira similar, a prática da
mesa do Senhor não é questão de cálice grande ou pequeno, mas de se retornar à prática do início.
O apóstolo  Paulo disse: "Porque  nós,  embora muitos,  somos unicamente  um  pão, um só  corpo;
porque todos participamos do  único pão"  ( 1  Co 10:17). Apesar de muitos, somos um  único pão.
Precisamos retornar à prática inicial. 

No início, havia apenas uma base da igreja: a cidade. Precisamos voltar para a Bíblia. Ela fala da
igreja em Jerusalém (At 8:1; 11:22), da igreja em Antioquia atos 8:1), da igreja em Corinto (1 Co 1:2;
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2  Co  1:1),  da igreja em Éfeso (Ap  2:1).  Isso  mostra a base da igreja. Não podemos seguir outras
propostas.   Precisamos   ter   uma   base   definida,   então   poderemos   trabalhar   sem   reservas   na
edificação da casa de Deus. Poderemos concentrar­nos na obra de edificação. Não podemos falar da
obra de edificação se a base for incerta. Podemos falar da salvação dos pecadores e de assuntos
espirituais, porém não da edificação. 

Precisamos ver os dois lados. Não podemos ter somente a base da igreja. Precisamos ter também a
edificação. Entretanto, se nos faltar a presença do Senhor e Sua autoridade, e nos faltar oração e o
operar da  cruz, teremos  apenas a  base local e nada mais. Precisamos de  realidade espiritual e
também da base e da edificação. Esse é um princípio duplo ao qual precisamos nos agarrar com
firmeza. 

O Senhor nos levantou com um grande propósito. A base da igreja, que assumimos, causa grande
impacto nos filhos de Deus. Não podemos perder o alvo nem esquecer­nos de nosso ministério e
obra   que   realizamos.  Se   permanecermos   fiéis   na   base  a   fim   de   receber   maior   transformação   e
aprender  novas  lições,   confiando   na   graça   do   Senhor   para  trabalhar  na   edificação,  causaremos
grande impacto. Não teremos somente a base, mas também algo sólido e espiritual edificado sobre
ela. O impacto causado por um testemunho desses na igreja de Deus é inestimável e é maior ainda
sobre os filhos de Deus. Cremos que foi para esse fim que o Senhor nos levantou. Portanto, com os
olhos   bem   iluminados   e   o   alvo   bem   definido,   precisamos   enxergar   o   que   o   Senhor   deseja   que
façamos. Precisamos enxergar que, nesta era e no universo, Deus tem a intenção de realizar uma
obra de edificação, e essa obra precisa ser realizada numa base. Temos de permanecer sobre ela e
acompanhar a direção de Deus hoje. 

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