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Considerações sobre as formas do Rito

Romano da Santa Missa


16 de novembro de 2014 Administração Apostólica

Dom Fernando Arêas Rifan


CONSIDERAÇÕES SOBRE AS FORMAS DO RITO
ROMANO DA SANTA MISSA
ADMINISTRAÇÃO APOSTÓLICA PESSOAL
SÃO JOÃO MARIA VIANNEY
Dedico esse trabalho a todos os que,
 “cum Petro et sub Petro”,
amam a Liturgia na sua forma tradicional,
especialmente os sacerdotes e fiéis
da nossa querida Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney
(o autor)
SUMÁRIO
Introdução                                                                              
                                  6
 I Considerações Gerais    
7
1. A importância da Missa na Igreja                            
7
2. Os vários ritos da Santa Missa                                  
8
3.O Rito Romano                                                                  
9
1. A Reforma Litúrgica após o Concílio Vaticano II    
9
2. Duas correntes de interpretação da Missa e do
Concílio               10
3. A paz litúrgica desejada por Bento
XVI                                               11
II  Considerações sobre a forma atual ordinária do Rito
Romano                13
Sua promulgação oficial pela Igreja                                    
13
Essa promulgação foi um ato de poder do primado do
Papa           14
A Igreja tem esse poder sobre a Liturgia                              
14
É matéria que atinge a essência da Igreja Católica              
15
A Sé de Roma é imune de todo erro em matéria de Fé        
15
A Nova Missa não pode, portanto, ser falsa ou heterodoxa
16
A adoção pelo Episcopado mundial                                    
17
Ensino unânime dos teólogos e liturgistas católicos
tradicionais   17
É uma conclusão teológica que se
impõe                                                19
As fontes da Revelação e o Magistério não podem ser
separados      19
O critério de verdade e ortodoxia para o católico:
o Magistério da Igreja                                                          
20
O Magistério da Igreja é vivo e perpétuo                            
22
A assistência divina à Igreja é constante e infalível            
23
Limites à resistência e às críticas                                        
23
A hermenêutica da continuidade do novo Missal                
24
Sobre a perpetuidade da Bula Quo Primum temporede São
Pio V      25
Sobre os freqüentes abusos litúrgicos                                  
26
Resolvendo dificuldades: a) A explicação ortodoxa do
novo Ofertório  27
Resolvendo dificuldades: b) Sobre os diversos modos de
comungar       29
Resolvendo dificuldades: c) A questão do “Mistério
Pascal”          30
Conservação da Missa na forma antiga
por verdadeiros motivos e não por falsas razões                  
31
Posição católica equilibrada na presente crise                    
32
Perigo do cisma na posição extremista   
32
Mas no passado houve afirmações nesse sentido!                
34
A posição clara da nossa Administração Apostólica            
34
Nosso combate contra o modernismo continua                    
36
III Considerações sobre a forma antiga, extraordinária, do
Rito Romano        38
1. Por que então conservar a Missa na forma antiga?  
38
2. A Missa na forma antiga é lícita, aprovada e nunca
ab-rogada     39
3. Incompreensível e equivocada proibição da Missa
na forma antiga         40
4. A adesão à Missa de São Pio V é legítima e digna
de respeito       41
5. Permissão geral oficial do Papa para a Missa de
São Pio V            41
6. Apelo do Papa à generosidade dos Bispos                
42
7. A Missa de São Pio V tem direito de cidadania na
Igreja                  43
8. A Missa de São Pio V é desejada por diversas
classes de pessoas…           44
9. Nem será causa de divisões. É um só rito sob duas
formas legítimas        46
10. Crise na Igreja, crise litúrgica
47
11. A Missa de São Pio V é um refúgio contra os
abusos
que deformam e arruínam a nova Liturgia                          
48
1. Causas dos abusos litúrgicos: a) “criatividade”        
49
2. Causas dos abusos litúrgicos: b) Manipulação e
banalização           50
14.Causas dos abusos litúrgicos: c) inculturação e
secularismo             51
1. Causas dos abusos litúrgicos: d) o celebrante
“protagonista”           52
2. O rito na forma antiga enriquece toda a Igreja e
beneficia até o novo rito                                                      
52
1. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: a)
sacralidade                         54
2. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: b) o
sentido do mistério    54
3. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: c)
reverência e humildade       55
4. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: d) beleza e
profundidade        55
5. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: e) o
silêncio                             56
6. A antiga liturgia, fonte de vocações sacerdotais e
religiosas,
de famílias cristãs e de vida católica                                    
56
1. O Rito de São Pio V se insere nos séculos de Fé da
Igreja                    57
A Missa de São Pio V é fruto de um desenvolvimento
orgânico,
não fabricada artificialmente                                                
58
A Missa de São Pio V feita para preservar a Fé e a sã
doutrina                  59
Implicações doutrinais teológicas e eclesiológicas              
61
O Ofertório da Missa na forma antiga                                  
62
A comunhão na boca                                                            
62
A celebração “versus Orientem” e não “versus populum”  
64
A boa Música Sacra na Liturgia na forma tradicional          
65
A riqueza e o valor do latim na Liturgia                              
66
CONCLUSÃO                                                                      
68 
BIBLIOGRAFIA                                                                  
69
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem modestamente como objetivo
secundar o desejo do Santo Padre, o Papa Bento XVI, na
sua Carta Apostólica Motu ProprioSummorum Pontificum,
ou seja, a paz litúrgica, “a reconciliação interna no seio da
Igreja” [1], através do mútuo entendimento, compreensão
e respeito pelos ritos por ela aprovados.
Embora pareça geralmente que a Reforma Litúrgica, fruto
do Concílio Vaticano II, tenha tido uma aceitação pacífica
e universal na Igreja, não significa que ela não tenha
causado, desde o início, estranheza e polêmica, sem ou
com o devido fundamento teológico e litúrgico.
Na relação entre Missa Antiga e Missa Nova, ou seja,
entre a forma antiga e a nova forma da Missa no Rito
Romano, alguns adotam a hermenêutica da ruptura e da
incompatibilidade radical, como o fazem com o Concílio
Vaticano II com relação aos Concílios anteriores,
considerando-o como um marco zero do começo de uma
nova Igreja. Assim, entre os amigos da Missa na forma
antiga, alguns, infelizmente, consideram a Missa na forma
atual, em si mesma, tal como foi promulgada oficialmente
pela Igreja, como sendo não católica e demolidora da Fé,
característica de outra e nova Igreja. Do outro lado, em
erro oposto, há os que odeiam a Missa na forma antiga,
considerando-a como algo que representa a antiga Fé da
Igreja, uma monstruosidade insuportável, não levando em
conta sua riqueza litúrgica e teológica para toda a Igreja.
O Papa João Paulo II advertia: “A diversidade litúrgica
pode ser fonte de enriquecimento, mas pode também
provocar tensões, incompreensões recíprocas e até mesmo
cismas. Neste campo, é claro que a diversidade não deve
prejudicar a unidade. Esta unidade não pode exprimir-se
senão na fidelidade à fé comum … e à comunhão
hierárquica” ([2]).
É no intuito de esclarecer e acalmar os ânimos, dentro de
uma correta visão teológica e litúrgica, que apresentamos
este trabalho, evidentemente não exaustivo, de
“Considerações sobre as formas do Rito Romano da Santa
Missa” considerações minhas e de muitas outras pessoas
bem mais capacitadas que recolhi, na linha de fidelidade
ao Magistério da Igreja.
A alguns, que estão fora do problema, poderão parecer
estranhas e impertinentes tais considerações. “Onde já se
viu – perguntarão – ter que provar que a Missa que o Papa
celebra é uma missa válida e católica?!” Mas,
infelizmente, há quem não pense assim. “Onde já se viu –
perguntarão outros – ter que provar que a Missa adotada
pela Igreja por vários séculos é uma missa adotável ainda
hoje e que obtém a legítima preferência de muitos
católicos para seu proveito espiritual?!” Infelizmente,
porém, também há quem não pense assim.
Dada a complexidade do assunto, advertimos que o
presente ensaio que apresentamos só poderá ser
compreendido se for lido na sua integridade, inclusive as
notas de rodapé. Qualquer leitura ou citação parcial poderá
falsear o nosso pensamento.
Querendo o bem de todos e, sobretudo, da Santa Igreja,
esperamos que essas considerações possam contribuir para
a unidade e comunhão, bem como para o crescimento
espiritual e fervor de todos.
 Dom Fernando Arêas Rifan
AS FORMAS DO RITO ROMANO DA SANTA MISSA
I
CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. 1.     A importância da Missa na Igreja.
O sacrifício é um ato da virtude da religião pelo qual se
reconhece a suprema soberania de Deus, Criador e Senhor.
É algo que pertence à Lei Natural, inato no coração do
homem. Por isso, todas as religiões, até as falsas, pagãs,
tiveram seus sacrifícios oferecidos à divindade.
No Antigo Testamento, conhecemos os sacrifícios de
Abel, Noé, Abraão, Melquisedec, bem como os
regularizados pela Lei de Moisés. Eram sacrifícios para
reatar e renovar a aliança da humanidade com Deus,
sacrifícios de adoração, ação de graças, satisfação pelos
pecados e pedido de graças e benefícios. Mas todos esses
sacrifícios eram insuficientes no seu objetivo diante de
Deus, dada a condição de humanidade decaída pelo
pecado original. O homem, por si só, não seria capaz de
oferecer um sacrifício digno de Deus, perfeitamente
satisfatório e agradável a ele.
Assim, “por causa de nós homens e por causa de nossa
salvação”, o Verbo de Deus se fez carne, tornou-se um de
nós, e, em nome da humanidade, veio oferecer um
sacrifício digno de Deus. Com sua Paixão e Morte na
Cruz, ele o fez uma vez por todas, definitivamente,
realizando “uma nova e eterna aliança” da humanidade
com Deus.
Esse sacrifício único e definitivo da Cruz, para benefício
de toda a humanidade de todos os tempos e lugares, Jesus
quis que fosse perpetuado na Igreja até o fim dos séculos,
para que a todos fossem aplicados os frutos de sua Paixão.
Por isso, ele instituiu o Sacrifício da Missa, pelo qual se
renova cada vez e se torna presente o seu sacrifício da
Cruz.
Desse modo, a Santa Missa é o sacrifício da Nova Lei ou
Aliança, o centro da Igreja Católica, a razão de ser do
sacerdócio católico e a característica da nossa identidade.
É o que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A
Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois
nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a
seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma
vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele
derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a
Igreja. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto
é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e
Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela
ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também
oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos
defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou
temporais” [3].
O mesmo ensinamento nos traz o Direito Canönico:
“Augustíssimo sacramento é a santíssima Eucaristia, na
qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo
Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O
Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição
do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício
da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã,
por ele é significada e se realiza a unidade do povo de
Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os
outros sacramentos e todas as obras de apostolado da
Igreja se relacionam intimamente com a santíssima
Eucaristia e a ela se ordenam” [4].
Por isso, “é necessário que todos os fiéis tenham por seu
principal dever e suma dignidade participar do santo
sacrifício eucarístico, não com assistência passiva,
negligente e distraída, mas com tal empenho e fervor que
os ponha em contato íntimo com o Sumo
Sacerdote…” [5].
A Santa Missa é o grande mistério da nossa fé, a mais bela
coisa que existe do lado de cá do Paraíso. Pela sua
sublimidade e dignidade, a Eucaristia merece, pois, o
nosso máximo amor, admiração, respeito e veneração.
2. Os vários ritos da Santa Missa.
Jesus instituiu a Eucaristia em meio à ceia pascal judaica,
sua Última Ceia, apenas nos seus elementos essenciais. Os
Apóstolos e seus sucessores, – ou seja, a Igreja – foram
enriquecendo o que Jesus instituiu com várias cerimônias
e ritos.
A partir da primeira comunidade de Jerusalém, outras
foram surgindo, tornando-se comunidades locais de outras
cidades antigas, como Antioquia, conservando a unidade
de fé e moral, segundo as Escrituras e as tradições de
Jerusalém. Essas comunidades se desenvolveram e
adotaram costumes próprios da região, nascendo assim os
diversos ritos Já no século IV, documentos nos revelam a
existência de vários ritos.
Assim, a única Igreja Católica, que comporta a Igreja do
Oriente e do Ocidente, una na sua unidade de culto, tem
um só e mesmo sacrifício da Missa, mas celebrada numa
grande variedade de ritos orientais e latinos, todos eles
sendo expressões diferentes do mesmo culto católico
prestado a Deus. A diversidade litúrgica, quando legítima,
é fonte de enriquecimento e não prejudica a unidade da
Igreja [6]. Pelo contrário,  “as diversas tradições litúrgicas
(ou ritos), legitimamente reconhecidas por significarem e
comunicarem o mesmo mistério de Cristo, manifestam a
catolicidade da Igreja” [7]. “A riqueza insondável do
Mistério de Cristo é tal que nenhuma liturgia é capaz de
esgotar sua expressão. A história do surgimento e do
desenvolvimento desses ritos atesta uma
complementaridade surpreendente” [8]
A Igreja Oriental tem cinco grandes famílias de ritos
litúrgicos: Bizantino, Armênio, Antioqueno, Caldeu e
Alexandrino, com suas dezenas de subdivisões. Bem
conhecidos entre nós são, por exemplo, o rito Maronita, o
rito Melquita e o rito Ucraniano. A Igreja do Ocidente –
Latina – tem também vários ritos, como o Ambrosiano, o
Bracarence, o Mozárabe e, o mais importante deles, o Rito
Romano, o rito usado na Igreja de Roma pelo Santo Padre
o Papa, rito ao qual nós pertencemos.
3. O Rito Romano.
O Rito Romano é antiqüíssimo na Igreja e, segundo atesta
o Papa Paulo VI na sua Constituição Apostólica Missale
Romanum, “conservou sempre a mesma forma que foi
fixada entre os séculos IV e V” [9]. Conservado assim na
Igreja de Roma desde o século IV, passando por diversos
enriquecimentos ao longo dos séculos, teve sua principal
promulgação, em obediência às determinações do Concílio
de Trento, em 1570, pelo Papa São Pio V.
Na sua Instrução Geral sobre o Missal Romano, proêmio,
n. 7, o mesmo Papa Paulo VI recorda que o Missal de São
Pio V, de 1570, era praticamente o mesmo que o de 1474,
que por sua vez reproduz com fidelidade o do tempo do
Papa Inocêncio III (século XIII), sendo que, no início da
sua Constituição Apostólica Missale Romanum, ele lembra
que este Missal procede essencialmente de uma tradição
antiqüíssima, desde os tempos de São Gregório Magno –
século VI [10]. Liturgistas e historiadores abalizados
afirmam que o Cânon Romano, como temos hoje, já
estava constituído basicamente no século IV.
“Após o Concílio de Trento, a irrupção da Reforma
protestante se fez, sobretudo, sob a modalidade de
‘reformas litúrgicas’ (…) tanto que os limites entre o que
era e o que não era ainda católico ficavam freqüentemente
difíceis de definir. Nessa situação de confusão, tornada
possível pela ausência de normas litúrgicas e pelo
pluralismo litúrgico herdado da Idade Média, o Papa
decidiu que o Missale Romanum, o texto litúrgico da
cidade de Roma, por ser verdadeiramente católico, devia
ser introduzido em toda a parte onde não se pudesse apelar
para uma liturgia que remontasse pelo menos a dois
séculos antes. Lá onde isto se verificava, se podia manter a
liturgia precedente, dado que o seu caráter católico podia
ser considerado como certo” [11].
4. A Reforma Litúrgica após o Concílio Vaticano II.
O Missal promulgado pelo Papa São Pio V não ficou
intacto, mas foi se desenvolvendo organicamente,
recebendo modificações feitas pelos Papas posteriores.
Como explicava o então Cardeal Joseph Ratzinger, nosso
Papa atual, “já no ano 1614 havia aparecido, durante o
papado de Urbano VIII, uma nova versão do missal, que
também incluía diferentes melhorias. Quer dizer, tanto
antes como depois de Pio V, cada século foi deixando suas
marcas no missal, que era concebido como um único livro,
submetido, por um lado, a um processo contínuo de
purificação e, por outro, de crescimento. …deve-se dizer
que a liturgia da Igreja (como a própria Igreja) sempre está
viva e por tanto também sempre em processo de
maturação. Nesse processo pode haver mudanças maiores
ou menores. Para a liturgia católica um período de
quatrocentos anos não significaria muito; se remonta
realmente a Cristo e aos apóstolos e desde então esteve
sempre em processo de mudança até chegar a nós. O
missal, como a Igreja mesma, não pode ser
modificado” [12].
Após quatrocentos anos de uso, portanto, era natural que o
Missal promulgado por São Pio V necessitasse de uma
reforma. Nisso praticamente todos na Igreja eram
concordes. Tanto assim que o primeiro documento do
Concílio Vaticano II foi o “Sacrossanctum Concilium”,
sobre a Reforma Litúrgica, que recebeu surpreendente
quase unânime aprovação [13]. Nesse documento, o
Concílio mandava que se fizesse uma reforma na liturgia
romana.
Essa reforma entrou em vigor em 1970, tendo sido o novo
Missal promulgado pela Constituição Apostólica Missale
Romanum do Santo Padre, o Papa Paulo VI, de 3 de abril
de 1969.
Mas essa reforma provocou grande polêmica na Igreja.
Assim como o Concílio Vaticano II, a Reforma Litúrgica
dele provinda ocorreu num período conturbado de grande
crise na Igreja e serviu de ocasião e pretexto para grandes
abusos e erros, cometidos e propagados em seu nome [14].
5. Duas correntes de interpretação da Missa e do
Concílio.
Com relação à nova Missa, assim como ao Concílio
Vaticano II, há duas correntes de interpretação, ou duas
hermenêuticas, como se expressa o Papa Bento XVI: a
hermenêutica da descontinuidade e ruptura e a
hermenêutica da reforma ou renovação na continuidade. A
primeira, a da descontinuidade ou ruptura, é a adotada
pelos radicais, progressistas e tradicionalistas, os primeiros
para adotá-la e os segundos para rejeitá-la. Essa
hermenêutica leva a aceitar uma ruptura entre a Igreja pré-
conciliar e a Igreja pós-conciliar, entre a Missa tradicional
e a nova Missa. A hermenêutica da reforma ou renovação
na continuidade é a adotada pelo Papa Bento XVI [15].
Sobre esse ponto, ouçamos o que disse o então Cardeal
Joseph Ratzinger, nosso Papa atual: “Pessoalmente, eu fui
desde o princípio a favor da liberdade de continuar a usar
o antigo Missal, por um motivo muito simples: começou-
se desde então a falar de uma ruptura com a Igreja pré-
conciliar e da formação de modelos diferentes de igrejas:
uma igreja pré-conciliar ultrapassada e uma igreja nova,
conciliar. É, aliás, agora o slogan dos Lefebristas afirmar
que há duas igrejas, ficando para eles patente a grande
ruptura na existência de dois Missais, que estariam em
ruptura entre eles. Parece-me essencial e fundamental
reconhecer que os dois Missais são Missais da Igreja, e da
Igreja que permanece sempre a mesma. O prefácio do
Missal de Paulo VI diz explicitamente que ele é um Missal
da mesma Igreja, inscrevendo-se na sua continuidade. E
para sublinhar que não há ruptura essencial, que a
continuidade e a identidade da Igreja existem, parece-me
indispensável manter a possibilidade de celebrar segundo
o antigo Missal como sinal da identidade permanente da
Igreja. Para mim a razão fundamental é: o que era até
1969 a liturgia da Igreja, a coisa mais sagrada para todos
nós, não pode se tornar após 1969 – com um positivismo
incrível – a coisa mais inaceitável. Se queremos ter
credibilidade, mesmo com o slogan da modernidade, é
absolutamente necessário reconhecer que o que era
fundamental antes de 1969, permanece assim depois: é
uma mesma sacralidade, uma mesma liturgia” [16].
6. A paz litúrgica desejada por Bento XVI. 
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, na Carta aos Bispos
que acompanha a Carta Apostólica Motu Proprio
Summorum Pontificum, escreveu que deseja a paz litúrgica
na Igreja, por isso estava liberando a celebração da Missa
na forma antiga, para que existisse tranquilamente ao lado
da forma atual: “cheguei assim à razão positiva que me
motivou a atualizar através deste Motu Proprio o de 1988
(Motu Proprio de João Paulo II que permitia a Missa de
São Pio V, pedindo a generosidade dos Bispos). Trata-se
de chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja”.
Essa “reconciliação interna”, querida pelo Papa, requer
que os católicos das duas formas litúrgicas do mesmo Rito
Romano aprendam a se conhecer, a se respeitar e a se
amar como membros da mesma Igreja.
Quando Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o
então Cardeal Ratzinger tranqüilizava os sacerdotes e fiéis
da Missa de São Pio V em peregrinação a Roma: “É
preciso que tais ansiedades e temores cessem enfim [temor
de ver a convergência entre as duas formas litúrgicas
como uma manobra para suprimir a antiga]! Se nas duas
formas de celebração a unidade da fé e a unicidade do
mistério aparecem claramente, isso não pode ser para nós
senão uma razão de nos alegrar-nos e agradecer ao bom
Deus. Na medida em que nós todos cremos, vivemos e
agimos segundo estas motivações, nós poderemos também
persuadir os Bispos de que a presença da antiga liturgia
não perturba e nem quebra a unidade de sua diocese, mas
que ela é antes um dom destinado a construir o Corpo de
Cristo, do qual nós somos   servidores” [17].  E o Papa
Venerável João Paulo II, logo depois, na audiência de 26
de outubro, exortou a “todos os católicos a fazer gestos de
unidade e renovar sua adesão à Igreja, para que a legítima
diversidade e as diferentes sensibilidades, dignas de
respeito, não os separem uns dos outros, mas os
impulsionem a anunciar juntos o Evangelho” [18].
Outrossim, o Santo Padre o Papa Bento XVI, na Carta
Apostólica “motu proprio data” Summorum Pontificum,
declara que “essas duas expressões da ‘Lex Orandi’ da
Igreja não levarão de forma alguma a uma divisão da ‘Lex
credendi’” e que “não é apropriado falar destas duas
versões do Missal Romano como se fossem ‘dois ritos’.
Trata-se, antes, de um duplo uso do único e mesmo
Rito” [19].  E, visando sempre a unidade e a reconciliação
litúrgica, afirma o Papa que “não existe qualquer
contradição entre uma edição e outra do Missale
Romanum. Na história da Liturgia, há crescimento e
progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que, para as
gerações anteriores, era sagrado, permanece sagrado e
grande também para nós, e não pode ser de improviso
totalmente proibido ou mesmo prejudicial” [20].
 II
CONSIDERAÇÕES RELATIVAS À MISSA NA
FORMA ATUAL ORDINÁRIA DO RITO ROMANO
OU MISSA PROMULGADA PELO PAPA PAULO VI.
1. Sua promulgação oficial pela Igreja.
A nova Liturgia da Missa foi promulgada oficial e
solenemente pela Sé de Pedro como uma lei litúrgica
universal da Igreja, na Constituição Apostólica Missale
Romanum do Santo Padre o Papa Paulo VI [21], que se
encerra assim:
“… Por fim, queremos dar força de lei a tudo que até aqui
expusemos sobre o novo Missal Romano. Nosso
predecessor, São Pio V, promulgando a edição-príncipe do
Missal Romano, apresentou-o ao povo cristão como fator
da unidade litúrgica e sinal da pureza do culto da Igreja.
Da mesma forma, nós, no novo Missal, embora deixando
lugar para “legítimas variações e adaptações” (Cf. Conc.
Vaticano II, Const. sobre a Sagrada Liturgia, SC, nnº 38-
40, AAS 56 (1964), p. 110), segundo as normas do
Concílio Vaticano II, esperamos que seja recebido pelos
fiéis como um meio de testemunhar e afirmar a unidade de
todos, pois, entre tamanha diversidade de línguas, uma só
e mesma oração, mais fragrante que o incenso, subirá ao
Pai celeste por nosso Sumo Sacerdote Jesus Cristo, no
Espírito Santo. O que prescrevemos por esta nossa
Constituição entrará em vigor este ano, a partir do dia 30
de novembro, primeiro domingo do Advento. Tudo o que
aqui estabelecemos e ordenamos queremos que seja válido
e eficaz, agora e no futuro, não obstante a qualquer coisa
em contrário nas Constituições e Ordenações Apostólicas
dos nossos predecessores, e outros estatutos, embora
dignos de menção e derrogação especiais. Dado em Roma,
junto de São Pedro, a 3 de abril de 1969, quinta-feira da
Ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo, sexto ano do nosso
pontificado” [22].
Essa lei litúrgica foi reeditada em duas sucessivas edições
pelo Papa Venerável João Paulo II [23]. E, para que não
houvesse qualquer dúvida quanto à sua promulgação
oficial, o Santo Padre o Papa Bento XVI afirmou: “É
preciso antes de mais afirmar que o Missal promulgado
por Paulo VI e reeditado em duas sucessivas edições por
João Paulo II obviamente é e permanece a forma normal –
forma ordinária – da Liturgia Eucarística” da Liturgia
romana da Igreja Católica [24].
Essa promulgação (forma, no sentido filosófico) é a
garantia contra qualquer irregularidade doutrinal que
pudesse ter havido na sua confecção (matéria), embora ela
possa ser melhorada na sua expressão litúrgica. E é a sua
promulgação oficial, e não o modo de sua confecção, que
a torna um documento do Magistério da Igreja [25].
2. Essa promulgação foi um ato de poder do primado
do Papa.
Pelos termos usados pelo Papa Paulo VI na promulgação
do novo Missal, compreende-se perfeitamente tratar-se de
um ato de poder do Sumo Pontífice, como sucessor de São
Pedro e chefe de toda a Igreja, como o havia feito São Pio
V.
O Concílio Vaticano I proclama: “Ensinamos, portanto, e
declaramos que a Igreja Romana, por disposição do
Senhor, tem o primado do poder ordinário sobre todas as
outras Igrejas; e que este poder de jurisdição do Romano
Pontífice, que é verdadeiramente episcopal, é imediato:
portanto, a este poder estão obrigados ao dever de
subordinação hierárquica e verdadeira obediência pastores
e fiéis de qualquer rito e dignidade, seja individualmente
seja coletivamente, não só nas coisas relativas à Fé e à
Moral, mas também nas relativas à disciplina e ao governo
da Igreja dispersa pelo mundo inteiro. De modo que,
guardada esta unidade com o Romano Pontífice, tanto de
comunhão como de profissão da mesma Fé, seja a Igreja
de Cristo um só Rebanho, sob um só Pastor supremo (Jo
10,16). Tal é a doutrina da verdade católica, da qual
ninguém pode desviar-se sem perigo para a sua Fé e sua
salvação” [26].
3. A Igreja tem esse poder sobre a Liturgia. 
A Igreja tem poder de criar e modificar os seus ritos.
Assim, sobre “o poder da Igreja sobre a administração do
sacramento da Eucaristia”, o Concílio de Trento declara
expressamente que “a Igreja sempre teve o poder de, na
administração dos sacramentos, salva a substância deles,
determinar e mudar aquelas coisas que julgar conveniente
à utilidade dos que os recebem ou à veneração dos
mesmos sacramentos, segundo a variedade das coisas,
tempos e lugares” [27].
O Papa Pio XII nos ensina, na sua célebre encíclica sobre
a Sagrada Liturgia: “A hierarquia eclesiástica tem usado
sempre desse seu direito em matéria litúrgica, preparando
e ordenando o culto divino e enriquecendo-o sempre de
novo esplendor e decoro para a glória de Deus e vantagem
dos fiéis. Não duvidou, além disto – salva a substância do
sacrifício eucarístico e dos sacramentos – em mudar aquilo
que não julgava adaptado, em acrescentar o que parecia
contribuir melhor para a glória de Jesus Cristo e da
augusta Trindade, para instrução e estímulo salutar do
povo cristão. A sagrada liturgia, com efeito, consta de
elementos humanos e de elementos divinos. Esses, tendo
sido instituídos pelo divino Redentor, não podem,
evidentemente, ser mudados pelos homens; aqueles, ao
contrário, podem sofrer várias modificações, aprovadas
pela hierarquia sagrada, assistida pelo Espírito Santo,
segundo as exigências dos tempos, das coisas e das almas.
Disso se origina a estupenda variedade dos ritos orientais e
ocidentais…” [28].
Deve-se notar que só a autoridade da Igreja pode declarar
o que é legítimo ou não na celebração dos sacramentos,
especialmente da Santíssima Eucaristia. O Direito
Canônico nos ensina que pertence à autoridade da Igreja
determinar o que é válido e lícito na celebração,
administração e recepção dos Sacramentos, pois eles são
os mesmos para toda a Igreja e pertencem ao depósito
divino  (Cf. C.D.C. cânon 841 [29]).
4. É matéria que atinge a essência da Igreja Católica.
A unidade da Igreja Católica é uma das suas notas
características essenciais, junto com a santidade, a
catolicidade e a apostolicidade. A Igreja, portanto, nunca
pode perder sua unidade [30], sob pena de deixar de
existir. E a unidade da Igreja é tríplice: unidade de
governo – um só governo, o do Romano Pontífice e dos
Bispos em comunhão com ele -, unidade de fé – uma só
doutrina – e unidade de culto prestado a Deus, sobretudo
através dos Sacramentos, especialmente a Santíssima
Eucaristia. A Igreja perderia sua unidade de culto, que lhe
é essencial, se adotasse oficialmente uma Missa falsa ou
ofensiva a Deus, pois esse culto de nada serviria.
Ademais, a Eucaristia é o centro, a característica e a
identidade da Igreja católica. Se a Igreja adotasse uma
Missa ruim, pecaminosa, ofensiva a Deus, estaria
atingindo a sua própria identidade, o que é absurdo pelas
palavras de Nosso Senhor que lhe garantem a
indefectibilidade, pela assistência perene e contínua do
Divino Espírito Santo.
5. A Sé de Roma é imune de todo erro em matéria de
Fé.
É dogma de Fé, definido pelo Concílio Ecumênico
Vaticano I, que “esta Sé de São Pedro permanece imune
de todo erro, segundo a promessa de Nosso Divino
Salvador feita ao Príncipe de Seus Apóstolos: ‘Eu roguei
por ti, para que tua Fé não desfaleça; e tu, uma vez
convertido, confirma teus irmãos’ (Lc 22,32)”. [31] Esse
mesmo Concílio Ecumênico Vaticano I define que “este
carisma da verdade e da fé, que nunca falta, foi
conferido a Pedro e a seus sucessores nesta
cátedra…” [32]
O Catecismo da Igreja Católica ensina que “o grau
supremo da participação na autoridade de Cristo é
assegurado pelo carisma da infalibilidade. Esta tem a
mesma extensão que o depósito da revelação divina;
estende-se ainda a todos os elementos de doutrina,
incluindo a moral, sem os quais as verdades salutares da fé
não podem ser preservadas, expostas ou observadas” [33].
6. A Nova Missa não pode, portanto, ser falsa ou
heterodoxa. 
A promulgação de uma lei litúrgica para toda a Igreja
Latina é, portanto, matéria ligada à Fé e aos Costumes,
matéria grave na qual não é possível a Igreja nos induzir
ao erro, como nos recorda o Papa Pio XII: “A lei da
oração estabeleça a lei da Fé”… “A lei da Fé deve
estabelecer a lei da oração” [34]. Assim sendo, é
impossível que essa liturgia, em si mesma, seja herética,
não católica, ou até menos católica ou ilícita, pecaminosa
ou mesmo prejudicial à Fé. Pode sê-lo por circunstâncias
adjuntas, que infelizmente muitas vezes ocorrem, mas não
em si mesma, tal qual foi promulgada, ou corretamente
celebrada.
Santo Tomás de Aquino ensina: “Se se considera a
Providência divina que dirige sua Igreja pelo Espírito
Santo para que ela não erre, como ele mesmo prometeu
em João 14,26, que o Espírito quando viesse ensinaria
toda a verdade, quer dizer, com relação às coisas
necessárias à salvação; é certo ser impossível que o
julgamento da Igreja universal erre sobre as coisas que
dizem respeito à fé. Donde deve-se estar pela sentença do
Papa, a quem pertence determinar sobre a fé, quando
profere em juízo, do que pela opinião de quaisquer
homens sábios nas Escrituras…” [35].
É proposição censurada pelo Magistério dizer que a Igreja,
regida pelo Espírito de Deus, possa promulgar uma
disciplina perigosa ou prejudicial às almas (Cf. Papa Pio
VI [36], e Papa Gregório XVI [37]). Pelo contrário, como
disse o Papa Pio XII, as leis universais da Igreja são
santíssimas: apesar das falhas dos seus membros, “sem
mancha alguma, brilha a Santa Madre Igreja nos
sacramentos com que gera e sustenta os filhos; na fé que
sempre conservou e conserva incontaminada; nas leis
santíssimas que a todos impõe, nos conselhos evangélicos
que dá; nos dons e graças celestes, pelos quais com
inexaurível fecundidade produz legiões de mártires,
virgens e confessores. Nem é sua culpa se alguns de seus
membros sofrem de chagas ou doenças; por eles ora a
Deus todos os dias: “Perdoai-nos as nossas dívidas” e
incessantemente com fortaleza e ternura materna trabalha
pela sua cura espiritual.” [38].
7. A adoção pelo Episcopado mundial.  
A nova Liturgia foi adotada pelo Episcopado mundial em
comunhão com o Papa por quase quatro décadas, o que é
também um argumento a favor da sua legitimidade [39].
São Roberto Belarmino faz essa consideração: “Se todos
os Bispos errassem, toda a Igreja erraria, pois o povo é
obrigado a seguir os seus Pastores, como disse Jesus em S.
Lucas 10,16: ‘Quem vos ouve, a mim ouve’ e São Mateus
23,3: ‘Fazei tudo quanto vos disserem’” [40]. Na presença
desse fato, lembramo-nos da consideração de Dom
Antônio de Castro Mayer: “Caso toda a hierarquia viesse a
falhar, seria a palavra de Jesus Cristo que teria falhado,
pois o Divino Salvador confiou à hierarquia o governo e a
direção de sua Igreja até o fim dos séculos e, mais, sua
assistência para que ela não falhasse.” [41].
Assim, tendo sido a nova liturgia da Missa adotada por
toda a Igreja hierárquica por quatro décadas, se ela fosse,
por si mesma, atentatória contra a fé, então teríamos um
escurecimento geral das verdades da religião. Ora, “a
proposição que afirma: ‘nestes últimos séculos
desencadeou-se um escurecimento total (sparsam esse
generalem obscurationem) sobre as verdades de maior
gravidade e importância relativas à religião e que são o
fundamento da Fé e da Moral da doutrina de Jesus Cristo’
– é herética” (primeira proposição condenada do Sínodo
jansenista de Pistóia) [42].
8. Ensino unânime dos teólogos e liturgistas.
A unanimidade dos teólogos nos ensina a infalibilidade ou
inerrância da Igreja nas suas leis universais, entre as quais
se situam as leis litúrgicas. E é bom ressaltar que o
consenso moralmente unânime dos teólogos em um ponto
específico de doutrina representa uma opinião certa
(theologice certum) e é um sinal certo da Divina Tradição.
[43]
Eis as considerações de alguns desses teólogos, liturgistas
e canonistas:
A Igreja “deixaria de ser santa”, e, portanto, “deixaria de
ser a verdadeira Igreja de Cristo”, caso “preceituasse a
todos os fiéis, através da sua suprema autoridade, algo
contra a fé e os bons costumes” (Cônego Hervé) [44].
“Os atos da liturgia tem um valor dogmático; são as
expressões do culto de Deus na Igreja. Ora, a manifestação
exterior do culto tem uma relação intima com a fé. Para
ser razoável, o culto não pode deixar de ser conforme à fé”
(Joseph Haegy) [45].
“Os Romanos Pontífices são infalíveis ao fazer leis
universais sobre a disciplina eclesiástica, de modo que
jamais estabeleçam qualquer coisa contra a fé e os bons
costumes, embora não atinjam o supremo grau de
prudência” (Wernz e Vidal, canonistas) [46].
“Esta infalibilidade consiste em que a Igreja num juízo
doutrinal nunca possa estabelecer uma lei universal, que
seja contrária à fé, aos bons costumes e à salvação das
almas…(no entanto) em lugar algum foi prometido à
Igreja um sumo grau de prudência para promulgar as
melhores leis para todos os tempos, lugares e
circunstâncias” (Tanquerey) [47].
“A Igreja é infalível na sua disciplina geral. Pelo termo
disciplina geral entendem-se as leis e as práticas que
pertencem à ordenação externa de toda a Igreja. Isto diz
respeito a elementos tais como o culto externo, como a
liturgia e as rubricas ou a administração dos sacramentos
(…) Se ela fosse capaz de prescrever ou de ordenar ou de
tolerar em sua disciplina alguma coisa contrária à fé e aos
costumes, ou alguma coisa prejudicial à Igreja ou nociva
aos fiéis, ela falharia na sua missão divina, o que seria
impossível” (Hermann) [48].
“A doutrina da indefectibilidade da Igreja é uma
conseqüência da promessa de Nosso Senhor a São Pedro
‘sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela’ (Mt. 16,18)… Alguns
católicos, durante as atuais tribulações,… dizem que a
Missa e os sacramentos foram destruídos pelos mais
recentes ‘ocupantes’ da Sé de Pedro. Se essas pessoas
estão corretas significa que Nosso Senhor Jesus Cristo
abandonou a Sua Igreja… Mas isto é algo que nunca pode
acontecer, pois contradiria a solene promessa de Nosso
Senhor acima citada… É também impossível que Nosso
Senhor pudesse abandonar Sua Igreja, pois isso frustraria
o verdadeiro fim para o qual a Igreja foi fundada, para ser
o instrumento de Deus para a salvação de nossas almas. Se
Nosso Senhor abandonasse Sua Igreja, as palavras “quem
vos ouve a mim ouve” seriam verdadeiras apenas para um
excepcional pequeno grupo que se considera a si mesmo
como o eleito, o que é sempre a mais evidente
característica de uma seita. Nosso Senhor não fundou uma
seita, mas a Igreja que é universal, isto é, Católica” (Prof.
Van der Ploeg, O. P) [49].
9. É uma conclusão teológica que se impõe. 
Pela sua relação com a fé, a infalibilidade das leis
litúrgicas universais da Igreja é uma conclusão teológica
admitida pelo comum e constante sentir dos teólogos
católicos.
Alguns advogam que se deva limitar a submissão dos
católicos ao ensinamento dogmático infalível da Igreja.
Eis o que a isso responde o Papa Beato Pio IX: “Porque
ainda que se tratasse daquela submissão que se deve
prestar mediante um ato de fé divina, não haveria, sem
embargo, que limitá-la às matérias que foram definidas
por decretos expressos dos Concílios ecumênicos ou dos
Romanos Pontífices e desta Sé, mas haveria também
queestender-se às matérias que se ensinam como
divinamente reveladas pelo magistério ordinário da
Igreja inteira espalhada pelo mundo e, portanto, com
universal e comum consentimento são consideradas
pelos teólogos católicos como pertencentes à fé” [50].
E continua o mesmo Papa: “Como se trata daquela
sujeição à qual estão obrigados em consciência todos
aqueles católicos que se dedicam às ciências especulativas,
… não basta aos sábios católicos aceitar e reverenciar
os supracitados dogmas da Igreja, mas que é também
necessário a eles submeter-se às decisões que,
pertencentes à doutrina, são emanadas das Congregações
Pontifícias, bem como àqueles capítulos de doutrina que,
pelo comum e constante sentir dos católicos, são
considerados como verdades e conclusões teológicas, tão
certas que as opiniões contrárias a esses capítulos de
doutrina, ainda que não possam ser chamadas de
heréticas, merecem, sem embargo, alguma censura
teológica” [51].
Como ensinava o então Cardeal Ratzinger, quando
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o dogma
da infalibilidade pontifícia “significa, exatamente, que no
cristianismo, na fé católica em todo caso, há uma última
instância que decide. Significa que o Papa tem autoridade
para decidir, com caráter vinculante, nas questões
essenciais, e que nós, definitivamente, podemos ter a
certeza de que a herança de Cristo foi interpretada
corretamente” [52].
10.  As fontes da Revelação e o Magistério não podem
ser separados. 
Assim como os protestantes, querendo pelo livre-exame
serem eles mesmos os intérpretes da Bíblia, usam a
Sagrada Escritura contra o Magistério da Igreja, outros, até
entre os católicos, pretendem, às vezes, separar a Tradição
do Magistério, fazendo-se eles mesmos árbitros da
Tradição, usando dela para atacar o Magistério.
Mas não se pode usar a Tradição ou a Escritura contra o
Magistério, como nos ensina a Igreja: “Os Apóstolos,
transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os
fiéis a que mantenham as tradições que aprenderam quer
por palavra quer por escrito (cf. 2 Ts 2, 15), e a que lutem
pela fé, recebida uma vez para sempre (cf. Jd 3). Ora estas
tradições, recebidas dos Apóstolos, abrangem tudo quanto
contribui para a santidade de vida do povo de Deus e para
o aumento da fé; assim a Igreja, na sua doutrina, vida e
culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo
que ela própria é e tudo quanto ela crê (Conc. Vat. I,
Const. Dogm. De Fide Catholica cap. 4; Denz. 1800
(3020))… A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura
constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus,
confiado à Igreja; mantendo-se fiel a este depósito, todo o
povo santo, unido aos seus Pastores, persevera
assiduamente na doutrina dos Apóstolos, na união
fraterna, na fração do pão e nas orações (cf. At 2,42) de tal
modo que, conservando, praticando e professando a fé
transmitida, haja singular unidade de espírito entre os
Pastores e os fiéis (cf. Pio XII, Const.
Apost. Munificentissimus Deus, 1 nov. 1950; cf. as
palavras de São Cipriano, Epist. 6,8: ‘A Igreja é o povo
unido ao sacerdote e o rebanho unido ao seu Pastor’).
Todavia, o múnus de interpretar autenticamente a palavra
de Deus escrita ou contida na Tradição (Cf. Conc. Vat. I,
Const. Dogm. De Fide Catholica, cap. 3 de fide – Denz.
1793 (3011)), só foi confiado ao Magistério vivo da Igreja
(cf. Pio XII, Encíclica Humani Generis – Denz. 2314
(3886)), cuja autoridade é exercida em nome de Jesus
Cristo… É claro, portanto, que a Sagrada Tradição, a
Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo o
sapientíssimo plano de Deus, estão de tal maneira ligados
e unidos que uma coisa sem as outras não se mantém, mas
juntas, cada uma a seu modo, sob a ação do Espírito Santo,
colaboram eficazmente para a salvação das almas” [53].
Essa doutrina nos é recordada pelo Catecismo: “O ofício
de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou
transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da
Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo
(Dei Verbum, 10), isto é, foi confiado aos Bispos em
comunhão com o sucessor de Pedro, o Bispo de
Roma” [54].
Essa verdade foi recentemente lembrada pelo Santo Padre,
o Papa Bento XVI: “a unidade é primariamente unidade
de fé, sustentada pelo depósito sagrado. cujo primeiro
guardião e defensor é o Sucessor de Pedro” [55].
11. O critério de verdade e ortodoxia para um católico:
o Magistério da Igreja. 
É o que nos ensina São Pio X: “o primeiro e maior critério
da fé, a regra suprema e inquebrantável da ortodoxia é a
obediência ao magistério sempre vivo e infalível da Igreja,
estabelecido por Cristo columna et firmamentum veritatis,
a coluna e o sustento da verdade.” [56].
E o Papa venerável Pio XII também ensina que “a norma
próxima e universal da verdade” é o “Magistério da
Igreja”, “visto que a ele confiou Nosso Senhor Jesus
Cristo a guarda, a defesa e a interpretação do depósito da
Fé, ou seja, das Sagradas Escrituras e da Tradição
divina” [57]. “Porque para explicar as coisas que estão
contidas no Depósito da Fé, não foi aos julgamentos
privados que o Nosso Salvador as confiou, mas sim ao
Magistério Eclesiástico” [58]. “O encargo de interpretar
autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou transmitida,
foi confiado exclusivamente ao Magistério vivo da Igreja,
ao Papa e aos Bispos em comunhão com ele, cuja
autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo” [59]. “Por
desígnio sapientíssimo de Deus, a Sagrada Tradição, a
Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja são de tal forma
conexos e unidos entre si que um, sem os outros, não pode
subsistir, e que todos juntos, cada um segundo o seu
modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem
eficazmente para a salvação das almas” [60].
Na verdade, “o livre exame, ou seja, a interpretação
privada que cada qual fizesse das fontes da Revelação,
seria a maior fonte de divisões: “quantas cabeças, tantas
sentenças” [61]. Como observava Dom Antônio de Castro
Mayer: “Não compreendemos, portanto, como é possível
formar católicos, ignorando totalmente a fonte mais
próxima da verdade revelada, que é o Magistério vivo. Só
por semelhante atitude se tornam suspeitos os fautores de
um novo cristianismo” [62]; “ninguém tem o direito de
julgar a palavra do Papa e só aceita-la se receber seu
beneplácito” [63].
Santo Tomás de Aquino nos ensina: “O que possui a mais
alta autoridade é o costume da Igreja, que deve ser
preferido a tudo o mais, pois a própria doutrina dos
doutores católicos tira da Igreja a sua autoridade. Por
onde, devemos nos apoiar, antes, na autoridade da Igreja
do que na de Agostinho, de Jerônimo ou de qualquer outro
doutor” [64]. Santo Agostinho chega a dizer: “Eu não
creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade
da Igreja católica” [65].
Por isso, a Igreja ensina que a consciência subjetiva do fiel
ou do teólogo não é critério de verdade porque tal
consciência subjetiva “não constitui uma instância
autônoma e exclusiva para julgar a validade de uma
doutrina… Opor ao Magistério da Igreja um magistério
supremo de consciência é admitir o princípio do livre-
exame, incompatível com a economia da Revelação e da
sua transmissão na Igreja, assim como uma concepção
correta da teologia e da função do próprio teólogo. Os
enunciados da Fé não resultam de uma investigação
puramente individual e de um livre exame da Palavra de
Deus, mas constituem uma herança eclesial. Se alguém se
separa dos Pastores, que velam por manter viva a tradição
apostólica, é a ligação com Cristo que se encontra
irreparavelmente comprometida” [66].
Os argumentos e razões que damos neste trabalho seguem,
sobretudo, a orientação do Magistério vivo da Igreja,
critério de verdade para o católico. Essas razões nos
provam que a Igreja não pode promulgar oficial e
universalmente um rito não católico ou prejudicial às
almas – razões teológicas a priori -, e, realmente, não o
fez – razões litúrgicas a posteriori. E é o mesmo
Magistério da Igreja que nos dá as corretas razões para
conservarmos o Missal de São Pio V.
Logo no início da reforma litúrgica, apareceram
interpretações dadas por modernistas e declarações feitas
por protestantes, indicando um sentido heterodoxo da nova
Liturgia. Essas interpretações impressionaram o mundo
católico e muitos chegaram a pensar ser este o sentido a
ser dado ao novo ritual da Missa. Mas o sentido das ações
e expressões litúrgicas é dado, não por eles ou pela
imaginação das pessoas, mas pelo Magistério da Igreja. E,
graças a Deus, diversas intervenções posteriores do
Magistério corrigiram qualquer ambigüidade que pudesse
existir e deram aos textos e rituais o verdadeiro sentido, o
católico, e não o modernista ou protestante [67]. Ademais,
nos textos oficiais promulgados pelo Magistério estão
expressos os dogmas eucarísticos do sacrifício da Missa,
da transubstanciação, da presença real e substancial e da
distinção entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio
comum dos fiéis.
12. O Magistério da Igreja é vivo e perpétuo.
A promulgação da nova Liturgia é um ato do Magistério
supremo autêntico, fazendo parte do Magistério vivo que
Cristo instituiu, magistério contínuo e perpétuo, feito de
pessoas vivas, que nos guiassem perpetuamente em todos
os momentos, que nos acompanhassem na caminhada, que
interpretassem os princípios perenes e os aplicassem nas
diversas circunstâncias que apareceriam.
Assim nos ensina o Papa Leão XIII: “É, pois, evidente…
que Jesus Cristo instituiu na Igreja um magistério vivo,
autêntico e, além disso, perpétuo, que ele investiu da sua
própria autoridade, revestiu do espírito de verdade,
confirmou por milagres e quis e mui severamente ordenou
que os ensinamentos doutrinais desse magistério fossem
recebidos como os seus próprios” [68].
Isso decorre das verdades de Fé: “Ide e ensinai a todos os
povos…” (Mt 28,20); “Quem vos ouve a mim ouve” (Lc
10,16); “O Espírito da Verdade ficará eternamente
convosco” – “O Espírito Santo vos ensinará todas as
coisas” (Jo 14,16.26).
O Concílio Vaticano I ensina que “São Pedro, até hoje e
sempre, vive, governa e julga, nos seus sucessores” [69]. É
falso, pois, achar que a assistência do Divino Espírito
Santo à Igreja, especialmente à Cátedra de Pedro, possa
ser intermitente, ou seja, estar ausente durante algum
período da história.
13. A assistência divina à Igreja é constante e infalível.
O Divino Espírito Santo, que assiste contínua e
ininterruptamente a Igreja, como Nosso Senhor prometeu
e cumpre, não permite que os Papas inventem doutrinas
novas ou deixem de guardar corretamente o Depósito da
fé, conforme ensina o Concílio Vaticano I: “Porque não
foi prometido o Espírito Santo aos sucessores de Pedro
para que, por Revelação Sua, manifestassem uma nova
doutrina, mas para que, com Sua Assistência, guardassem
santamente e expusessem fielmente a Revelação
transmitida pelos Apóstolos, isto é, o Depósito da Fé. E
certamente sua doutrina apostólica todos os Santos Padres
a abraçaram e os Santos Doutores da reta doutrina a
veneraram e seguiram, sabendo perfeitamente que esta Sé
de São Pedro permanece imune de todo erro, segundo a
promessa de nosso Divino Salvador feita ao Príncipe de
Seus Apóstolos: ‘Roguei por ti, para que tua Fé não
desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos’
(Lc 22,32)” [70].
14. Limites à resistência e às críticas.
Possíveis reservas e críticas feitas a documentos, decretos
e orientações da Igreja têm seus limites, impostos pela
Divina Revelação, pelo próprio Magistério, pela
honestidade, pela submissão devida à Igreja, pela
coerência, pelo equilíbrio e pelo conhecimento teológico e
histórico da liturgia.
Esses limites nos impedem, por exemplo, de dizer que
o Novus Ordo Missae, a Missa promulgada pelo Santo
Padre Paulo VI, seja heterodoxa ou não católica.
Pois, como admitir que o Papa tenha promulgado um novo
Missal, recebido pelos Bispos do mundo inteiro,
doutrinariamente heterodoxo? E mais, após quarenta anos
de adoção desse novo Missal por toda a Igreja hierárquica,
admitir que uma Missa celebrada todos os dias pela quase
totalidade da Igreja latina – Papa, Bispos e padres – seja
má em si mesma e perigosa para a fé, quer dizer, que a
Igreja esteja dando cada dia a seus filhos um veneno como
se fosse um alimento espiritual, não é reconhecer que as
portas do inferno teriam prevalecido contra ela? Não é
negar a assistência prometida por Cristo à sua Igreja? Isso
ultrapassa uma simples discussão doutrinal; isso se torna
uma questão de fé na Igreja.
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, em sua Carta aos
Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum
Pontificum, afirma-o expressamente, como sendo algo
óbvio: “Obviamente, para viver a plena comunhão,
também os sacerdotes das Comunidades que aderem ao
uso antigo, não podem, em linha de princípio, excluir a
celebração segundo os novos livros. De fato, não seria
coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do
rito a exclusão total do mesmo”.
Fica claro, nas palavras do Santo Padre, que se deve
reconhecer o valor e a santidade do novo rito, e, em
conseqüência, não excluí-lo totalmente [71].  Segundo
Bento XVI, portanto, uma participação daqueles que
aderem à Missa na forma antiga em uma Missa num rito
promulgado oficialmente pela hierarquia da Igreja, por ela
determinado como legítimo e por ela adotado, como é a
Missa celebrada no Rito Romano atual, não pode ser
considerada, em si mesma, como sendo algo mau. Nem
isso significa a perda da sua identidade litúrgica, mas sim
uma demonstração de comunhão com os outros Bispos,
sacerdotes e fiéis, apesar da diferença da forma ritual.
Não almejamos aqui fazer a apologia da reforma litúrgica,
mas sim defender a correta doutrina católica sobre o rito
da Missa, o Magistério e a indefectibilidade da Igreja, que
continua perene, mesmo com os atuais desastres a que
possa ter dado azo a reforma litúrgica. O nosso propósito
específico aqui é combater o equívoco doutrinário dos que
consideram a nova Missa, em si mesma, como foi
promulgada oficialmente pela hierarquia da Igreja, como
sendo pecaminosa e, portanto, impossível de ser assistida
sem se cometer pecado, e o conseqüente erro prático dos
que atacam aqueles que, em determinadas circunstâncias,
por dever de ofício ou demonstração de comunhão, dela
participam, como se eles tivessem cometendo uma ofensa
a Deus.
15. A hermenêutica da continuidade do novo Missal.
Hermenêutica significa interpretação. No nosso caso,
modo de considerar o novo rito da Missa. Alguns
consideraram a nova liturgia da Missa como sendo uma
ruptura como o passado doutrinário e litúrgico da Igreja,
representando assim como que uma nova Igreja, uma nova
fé. É o que se chama hermenêutica da ruptura. Outros,
mais corretamente, consideram a nova liturgia como sendo
uma mudança, mas que não pode ser desligada do passado
litúrgico e teológico da Igreja, mas estar em consonância
com ele. É o que se chama hermenêutica da continuidade,
posição de Bento XVI.
Assim ele explicava, quando Cardeal: “Para evitar todo o
mal-entendido, eu quero deixar claro que estou muito
contente com o novo missal, com a ampliação do tesouro
das orações, dos prefácios, com as novas preces do cânon,
pela multiplicação dos formulários da missa para os dias
de semana etc., sem falar da possibilidade de utilizar as
línguas maternas. Mas foi uma infelicidade, a meu ver, ter
ele dado a impressão de que se tratava de um livro novo,
ao invés de apresentá-lo na unidade da história da liturgia.
Por isso, creio que uma nova edição deverá dizer e mostrar
claramente que o missal de Paulo VI não é nada mais do
que uma versão nova do missal no qual haviam já
trabalhado São Pio X, Urbano VIII, São Pio V e seus
predecessores remontando até à Igreja primitiva” [72].
“Não há nenhuma liturgia tridentina e até 1965 ninguém
teria sabido o que significa essa palavra. O Concílio de
Trento não ‘fez’ nenhuma liturgia. E tampouco há nenhum
missal de Pio V no sentido estrito. O missal que apareceu
no ano 1570 por encargo de Pio V só diferia em pequenas
coisas da primeira edição impressa do Missal romano,
aparecida uns cem anos antes. Na reforma de Pio V se
tratava simplesmente de eliminar as impurezas que haviam
sido infiltradas durante a baixa Idade Média e os erros que
se haviam cometido ao copiar e imprimir, voltando a
estabelecer como regra para toda a Igreja o Missal
Romano, que não havia quase sido afetado por essas
transformações. Ao mesmo tempo, se teria que acabar com
as inseguranças que se produziram na confusão das
mudanças litúrgicas do tempo da Reforma Luterana, já
que a diferença entre o católico e o específico da Reforma
se tornara cada vez mais difusa; intentou-se evitar este
problema estabelecendo o uso exclusivo e o caráter
obrigatório do missal ‘typicum’, impresso em Roma.
Também se pode ver que essa era a única intenção no fato
de que não se reformaram os costumes litúrgicos de mais
de duzentos anos de antiguidade. Já no ano 1614 havia
aparecido, durante o papado de Urbano VIII, uma nova
versão do missal, que também incluía diferentes
melhorias. Quer dizer, tanto antes como depois de Pio V,
cada século foi deixando suas marcas no missal, que era
concebido como um único livro, submetido, por um lado,
a um processo contínuo de purificação e, por outro, de
crescimento. Considerando isso, há que se criticar o
empenho em conservar o missal tridentino, porque é algo
irreal, mas também a maneira como o novo missal foi
apresentado [73]. Aos ‘tridentinos’ deve-se dizer que a
liturgia da Igreja (como a própria Igreja) sempre está viva
e por tanto também sempre em processo de maturação.
Nesse processo pode haver mudanças maiores ou menores.
Para a liturgia católica um período de quatrocentos anos
não significaria muito; se remonta realmente a Cristo e aos
apóstolos e desde então esteve sempre em processo de
mudança até chegar a nós. O missal, como a Igreja
mesma, não pode ser modificado” [74].
Negando que exista diferença entre o que se devia crer
antigamente e agora, explicava o mesmo Cardeal
Ratzinger: “O Concílio não inventou nada novo que se
tenha que crer ou que colocar no lugar do antigo. Um
elemento essencial de todas as declarações do Concílio é
que se autodenomina a continuação e aprofundamento dos
Concílios anteriores, em especial o de Trento e o Vaticano
I. Trata-se simplesmente de fazer possível a mesma fé em
diferentes condições e de revitalizá-la. Por isso a reforma
litúrgica procurou tornar mais transparente a expressão da
fé, mas pretende em qualquer caso ser expressão da única
fé e não de uma mudança em seu conteúdo” [75].
16. Sobre a perpetuidade da Bula Quo Primum
tempore de São Pio V.
Em resposta oficial de 11 de junho de 1999, a
Congregação para o Culto Divino à pergunta: “Pode um
Papa fixar um rito para sempre?” Respondeu: “Não.” E
explicou: “Sobre a ‘Ecclesiae potestas circa
dispensationem sacramenti Eucharistiae’ – o poder da
Igreja a respeito da administração do sacramento da
Eucaristia -, o Concílio de Trento declara expressamente:
‘Existe perpetuamente na Igreja este poder para, na
administração  (ministério) dos sacramentos, salva a
substância deles, estatuir e mudar aquelas coisas que
julgar melhor para a utilidade dos que os recebem ou
veneração dos próprios sacramentos, segundo a
variedade das coisas, tempos e lugares” (DS 1728). Do
ponto de vista canônico, deve-se dizer que quando um
Papa escreve ‘perpetuo concedimus’, deve-se sempre
subentender ‘até que seja ordenado de outro modo’. É
próprio da autoridade soberana do Romano Pontífice não
ser limitado nas leis meramente eclesiásticas, muito
menos pelas disposições dos seus Predecessores. Ele é
ligado somente à imutabilidade das leis divina e natural,
além da própria constituição da Igreja”.
As expressões de perpetuidade e proibição de modificação
usadas por São Pio V na Bula Quo primum tempore, pela
qual publicou o Missal, são idênticas às que ele mesmo
usou na bula Quod a nobis, pela qual publicou o Breviário
Romano. No entanto, São Pio X modificou esse breviário
pela Bula Divino afflatu, usando por sua vez as mesmas
expressões solenes consagradas de perpetuidade e de
proibição de modificação, proibição que não atingiu
evidentemente o Papa Pio XII que o modificou pela Carta
Apostólica In cotidianis precibus, bem como o Papa Beato
João XXIII, cujas rubricas ele alterou, ao mesmo tempo
que as do Missal, pela Carta Apostólica Rubricarum
instructum, modificações essas adotadas por todo o mundo
tradicionalista.
17. Sobre os freqüentes e lamentáveis abusos litúrgicos.
Uma das principais causas da ojeriza de muitas pessoas
com relação à Nova Missa são os abusos litúrgicos e
mesmo doutrinais que nela ocorrem, confundindo-se como
o próprio rito da Missa. Quanto a isso, são necessárias as
seguintes considerações.
A respeito de abusos e escândalos na Igreja em geral, nos
ensina o Papa São Pio X: “Como é impossível que os
escândalos cessem no mundo, dado o orgulho da
inteligência ou a corrupção dos corações, vós encontrareis,
e infelizmente com muita freqüência, esse novo tipo de
apóstolos. Necesse est, disse Cristo, ut veniant scandala, e
Deus o permite e o tolera para provar a fidelidade e a
constância dos justos. Mas, diante desses escândalos tão
dolorosos, não enfraqueçais, não vos desencorajeis, mas,
lamentando  esses pobres cegos que, na sua ignorância ou
sua perversidade, e se achando muito sábios, stulti facti
sunt, e, rezando por eles, a fim de que o Senhor os
esclareça e faça voltar ao redil erradamente abandonado,
sêde, vós, fortes e fiéis às vossas promessas…”[76].
Assim escrevia a respeito o Papa Venerável João Paulo II:
“Não é permitido a ninguém, mesmo ao sacerdote, nem a
um grupo qualquer, acrescentar [à liturgia], retirar ou
mudar o que quer que seja, por sua própria conta. A
fidelidade aos ritos e aos textos autênticos da liturgia é
uma exigência da ‘lex orandi’, que deve sempre estar
conforme à ‘lex credendi’. A falta de fidelidade neste
ponto pode até tocar a validade dos sacramentos”.
Adiante, ele deplora novamente que alguns “promoveram
inovações fantasiosas, tomando distância com relação às
normas estabelecidas pela autoridade da Sé Apostólica ou
pelos Bispos, perturbam a unidade da Igreja e a piedade
dos fiéis, ferindo mesmo às vezes os dados da fé…
Constatam-se às vezes omissões ou acréscimos ilícitos,
ritos inventados fora das normas estabelecidas, atitudes ou
cantos que não favorecem a fé ou o sentido do sagrado,
abusos na prática da absolvição coletiva, confusões entre o
sacerdócio ministerial, ligado à Ordenação, e o sacerdócio
comum dos fiéis, que tem seu fundamento no batismo.
Não se pode tolerar que certos padres se arroguem o
direito de compor orações eucarísticas ou de substituir os
textos da Sagrada Escritura por textos profanos. Iniciativas
deste gênero, longe de estarem ligadas à reforma litúrgica
em si mesma, ou aos livros dela oriundos, a contradizem
diretamente, a desfiguram e privam o povo cristão das
riquezas autênticas da liturgia da Igreja” [77].
O mesmo Papa João Paulo II já havia antes escrito:
“Quero pedir perdão – em meu nome e no de todos vós,
veneráveis e queridos irmãos no episcopado – por tudo o
que, por qualquer motivo que seja e por qualquer fraqueza
humana, impaciência, negligência, em virtude também da
aplicação às vezes parcial, unilateral, errônea das
prescrições do concílio Vaticano II, possa ter suscitado
escândalo e mal-estar acerca da interpretação da doutrina e
da veneração devida a este grande Sacramento. E peço ao
Senhor Jesus para que no futuro seja evitado, em nosso
modo de tratar este sagrado Mistério, o que possa, de
alguma maneira, debilitar ou desorientar o sentido de
reverência e de amor dos nossos fiéis” [78].
“Os abusos, os equívocos, os exageros, os erros pastorais
vieram, como sempre acontece, dos filhos da Igreja, não
da própria Igreja”.  “Nos documentos oficiais que vieram
depois do Concílio, mesmo que tenha havido às vezes
alguma suspeita de imprudência pastoral, sobretudo no
excesso de confiança num clero que deles se aproveitou,
não houve, porém, concessão na linha dos princípios: os
abusos foram muitas vezes tolerados na prática, mas
condenados – e isso é o que, no final, conta – a nível
magisterial…” Os fiéis “não ficaram desencorajados ainda
nos momentos e nos anos mais turbulentos, pois
prevaleceu a confiança de que as imprudências pastorais
seriam corrigidas, os anticorpos eclesiais como sempre
reagiriam e o princípio petrino no final prevaleceria” [79].
Falando sobre o desenvolvimento orgânico da liturgia, o
então Cardeal Ratzinger, após ter criticado duramente, por
um lado, os abusos provenientes da reforma litúrgica, diz:
“Por outro lado, há a conservação das formas rituais cuja
grandeza sempre comove, mas que, levada ao extremo,
manifesta um isolamento teimoso e que no final não deixa
senão tristeza. Mas, entre esses dois lados, restam todos os
padres e seus paroquianos que celebram a nova liturgia
com respeito e solenidade, mas eles são questionados pela
contradição entre os dois extremos, e a falta de unidade
interna na Igreja faz finalmente aparecer sua fidelidade,
erradamente para muitos dentre eles, como uma simples
variedade pessoal de neo-conservadorismo. Sendo assim,
um novo impulso espiritual é necessário para que a liturgia
seja de novo para nós uma atividade comunitária da Igreja
e que ela seja tirada da arbitrariedade dos párocos e de
suas equipes litúrgicas” [80].
18. Resolvendo dificuldades: a) A explicação ortodoxa
do novo Ofertório.
Uma das dificuldades com relação à Nova Missa é o novo
rito do Ofertório ou Apresentação dos dons.
O então Cardeal Joseph Ratzinger assim formulava essa
dificuldade: “com a mudança do ofertório, foi destruído o
caráter sacrifical da Missa que, com isso, deixou de ser
católica”.
A essa objeção ele mesmo, em seguida, respondia: “Basta
um ligeiro conhecimento do catecismo mais simples para
saber que a idéia de sacrifício nunca teve lugar no
‘Ofertório’, mas sim na Oração Eucarística, no ‘Canon’;
pois não se trata de que nós oferecemos a Deus isso ou
aquilo; a novidade da Eucaristia é a presença do sacrifício
de Cristo. Por isso o sacrifício tem lugar ali onde se
pronuncia sua Palavra… Ali onde se escuta a voz da
Palavra e, desse modo, nossos dons se convertem em seus,
e através deles se entrega ele mesmo, ali tem lugar o
Sacrifício da Eucaristia. O que nós chamamos ‘ofertório’
tem outro sentido. O termo alemão ‘ofertório’ procede do
latim ‘offerre’ ou, mais provavelmente, de ‘operari’.
‘Offerre’ não significa sacrificar (em latim seria
‘immolare’), mas quer dizer proporcionar, trazer (cf. J.A.
Jugmann, Missarum Solemnia, 60-67). E ‘operari’
significa atuar; mas aqui também pode significar preparar.
Com toda a simplicidade se pensava que esse era o
momento em que o altar tinha que se preparar para a
Eucaristia, e que para eles era preciso ‘operari’, quer dizer,
realizar diversas ações, de modo que as luzes, as
oferendas, o pão e o vinho estivessem convenientemente
dispostos para a Eucaristia. No princípio se tratava, pois
de uma simples preparação externa para o acontecimento
próprio. Mas logo se lhe deu uma interpretação mais
profunda e se imitou o gesto do pai de família judeu, que
elevava o pão diante da face de Deus, para dele recebê-lo
novamente… Até os séculos IX-X estes gestos
preparatórios, que haviam sido tomados de Israel, se
realizavam em silêncio, e então se teve a impressão de que
no cristianismo cada um dos gestos exigia também a
palavra. Assim, por volta do século X se criaram as
orações de apresentação das oferendas da Missa antiga,
que os mais velhos entre nós conhecemos e apreciamos, e
que às vezes misturamos na nova forma da Missa. Eram
belas e profundas orações, mas, no entanto, também temos
que reconhecer que nelas se escondia certa compreensão
da Missa. Essas orações foram progressivamente sendo
formuladas como antecipação do que constituía o
acontecimento próprio do Cânon; e, assim, ambas as
coisas: a preparação e a hora exata do sacrifício se
entrelaçavam nas suas formulações. No entanto, é certo
que o que tem seu sentido correto no mundo da fé e é
perfeitamente compreendido desde o interior dessa fé…
pode conduzir também a erros de compreensão naqueles
que estão em atitude observadora e olhando as coisas de
longe. E que tal seja o caso o mostram bem as reações que
comentamos. Por esse motivo, os autores da reforma
litúrgica quiseram em primeiro lugar retroagir à situação
prévia do século IX e eliminar as palavras do rito de
elevação das oferendas. Foi o Santo Padre, o Papa Paulo
VI, que decidiu com uma grande determinação pessoal
que também aqui as palavras da oração tinham que
permanecer. Ele mesmo tomou parte na confecção das
orações. Em grande parte tomaram sua forma das orações
de mesa de Israel…, que têm em mira a Páscoa israelita,
pois estão pesadas e vividas a partir dela. Isto significa que
são como uma tranqüila antecipação do mistério pascal de
Jesus Cristo, e podemos, indistintamente, considerar seu
caráter de advento e, também, denominá-las pascais.
Lembramo-nos, sobretudo, de que também a Sagrada
Família, Jesus, José e Maria, rezou desta maneira em sua
fuga para o Egito, em um país estrangeiro, e
posteriormente na sua casa de Nazaré; e que também Jesus
orou assim com seus discípulos. Provavelmente também já
então era válida a norma judaica de que ao entardecer a
mãe acendesse as velas e que fosse ela a que presidisse a
oração da família. De modo que nós, agora, nestas bênçãos
estaríamos escutando a voz de Maria e rezando com ela.
Todo mistério de Nazaré, este dirigir-se em caminho desde
o advento até o acontecimento pascal, está aqui presente.
Deste modo chegou à liturgia uma nova riqueza: nós
também nos gestos da preparação começamos em Nazaré
e, partindo dali, chegamos – no centro do Cânon – até o
Gólgota para, finalmente, introduzir-nos, no momento da
comunhão, no próprio acontecimento da ressurreição.
Creio que, se somos capazes de escutar dessa maneira
estas antigas orações agora renovadas, elas chegarão a ser
para nós um tesouro maravilhoso em nossa missão de
incorporação da vida terrena de Jesus, de identificação
com a oração paciente de Israel, e de caminhar unidos de
Nazaré ao Gólgota e ao momento da Ressurreição” [81].
19. Resolvendo dificuldades: b) Sobre os diversos
modos de comungar.
Jesus distribuiu a primeira comunhão aos Apóstolos
durante a sua última Ceia. O modo, porém, de receber a
santa Comunhão variou no decurso da história da Igreja.
O então Cardeal Joseph Ratzinger, falando sobre as
diversas maneiras de comungar, de pé ou de joelhos, na
mão ou na boca, especialmente sobre a objeção que fazem
sobre a adoção da comunhão na mão, infelizmente hoje
comum na nova liturgia da Missa, explicava: “Antes de
tudo quero dizer que ambas as atitudes são possíveis e isso
exige que de todos os sacerdotes que sejam tolerantes e
aceitem a forma que cada um escolha; … sabemos que até
o século IX a comunhão se tomava de pé e na mão.
Obviamente, isto não significa que sempre tenha que ser
assim, pois o que é grande e belo na Igreja é que ela cresce
e amadurece, compreendendo cada vez com maior
profundidade o mistério. Por isso o novo desenvolvimento
(comunhão na boca e de joelhos), que começou depois do
nono século como expressão de respeito, tem sua razão de
ser e seus bons motivos. Mas também temos que dizer, ao
contrário, que é impossível que a Igreja houvesse
celebrado indignamente a Eucaristia por 900 anos. Quando
lemos os textos dos Santos Padres comprovamos a atitude
tão respeitosa com que comungavam. Em Cirilo de
Jerusalém, no século quarto, encontramos um texto
especialmente formoso. Em suas catequeses batismais
indica aos que vão comungar como devem fazê-lo: devem
adiantar-se, formar com suas mãos um trono colocando a
direita sobre a esquerda para que sendo um trono para o
rei representem ao mesmo tempo uma cruz… as mãos do
homem formam a cruz, que se converte em trono, no qual
desce o rei (Catequese mistagógica V 21, ed. A. Piédagrel
– Sources chrétiennes 126, 170 ss. – cf. J.A. Jungmann,
Missarum Solemnia II, 469). Quem pensar nisso terá que
reconhecer que é um erro discutir sobre esta ou aquela
atitude. Nossa discussão tem que se limitar ao que chegou
a fazer a Igreja tanto antes quanto depois do século IX,
quer dizer, ao respeito profundo prestado ao mistério de
Deus ao pôr-se ele em nossas mãos. E não devemos
esquecer o fato de que não só são impuras nossas mãos,
senão que também o são nossa língua e nosso coração, e
com freqüência pecamos mais com nossa língua que com
nossas mãos. A maior ousadia, e ao mesmo tempo a
expressão da bondade misericordiosa de Deus, é que não
só mãos e língua, senão também o nosso próprio coração
pode tocá-lo; que o Senhor entra em nós e vive em nós e
conosco, no centro mais íntimo de nossa vida e quer
transfigurá-la” [82].
Ressaltamos que a nova fórmula de se apresentar a
comunhão aos fiéis, exigindo deles uma profissão de fé na
presença real – “C: O Corpo de Cristo! R: Amém” – não
significa aquela teoria protestante da Presença Real
dependente da fé subjetiva de cada fiel que comunga,
como pensaram alguns, mas foi tirado do antigo uso na
Igreja, como nos atesta Santo Ambrósio de Milão: “Não é
sem razão que dizes: ‘Amém’, confessando em espírito
que recebes o corpo de Cristo. Quando te apresentas, o
sacerdote te diz: ‘Corpo de Cristo’, e tu respondes:
‘Amém’, isto é, ‘é verdadeiro’. O que a língua confessa,
que a convicção o conserve. Para que saibas: este é o
sacramento, cuja figura veio antes (rf. ao maná)” [83].
20. Resolvendo dificuldades: c) A questão do “Mistério
Pascal”.
Mencionando a “estranha oposição entre a Páscoa e o
sacrifício, porque ela representa o princípio arquitetônico
de um livro recentemente publicado pela Fraternidade São
Pio X, pretendendo que existe uma ruptura dogmática
entre a liturgia nova de Paulo VI e a tradição litúrgica
católica precedente”, o então Cardeal Joseph Ratzinger,
nosso Sumo Pontífice atual, assim responde a essa
acusação: “Esta ruptura é vista precisamente no fato de
que se interpreta tudo de agora em diante a partir do
‘mistério pascal’, no lugar do sacrifício redentor de
expiação de Cristo; a categoria do mistério pascal seria a
alma da reforma litúrgica, e é precisamente isto que seria a
prova da ruptura com relação à doutrina clássica da Igreja.
É claro que há autores que dão azo a um tal mal-
entendido. Mas que se trate de um mal-entendido fica
absolutamente evidente para quem o observa de mais
perto. Com efeito, o termo ‘mistério pascal’ conduz
claramente às realidades que aconteceram nos dias que
vão da Quinta-feira feira santa à manhã de Páscoa: a Ceia
como antecipação da Cruz, o drama do Gólgota e a
Ressurreição do Senhor. No termo ‘mistério pascal’, esses
episódios são vistos sinteticamente como um único
acontecimento, unitário, como ‘a obra de Cristo’, – como
nós inicialmente o ouvimos dizer pelo Concílio, – que teve
lugar historicamente, e transcende, ao mesmo tempo, este
preciso instante. Como este acontecimento é,
interiormente, um culto prestado a Deus, pôde se tornar
um culto divino, e assim estar presente a todos os
instantes. A teologia pascal do Novo Testamento… dá
precisamente a entender isso: o episódio aparentemente
profano da crucifixão de Cristo é um sacrifício de
expiação, um ato salvador do amor reconciliador do Deus
feito homem. A teologia da Páscoa é uma teologia da
redenção, uma liturgia do sacrifício expiatório. O pastor se
tornou cordeiro. A visão do cordeiro, que aparece na
história de Isaac, o cordeiro que se esconde entre os
arbustos e resgata o filho se tornou uma verdade: o Senhor
se fez cordeiro: ele se deixa prender e sacrificar, para nos
libertar” [84].
21. Conservação da Missa na forma antiga por
verdadeiros motivos e não por falsas razões. 
Há infelizmente alguns que pensam que o único motivo
para se celebrar ou assistir à Missa na forma antiga seja o
fato de a Nova Missa ser inválida ou heterodoxa e,
portanto, ilícita. Ora, os muitos sérios e graves motivos
que damos abaixo na Parte III são suficientes para a nossa
adesão à forma mais antiga do Rito Romano, como nos
concedeu a Santa Sé, sem necessitar recorrer a esse
argumento que, aliás, seria falso e injusto. E só a verdade e
a justiça devem ser a nossa norma nesta luta. Somente a
verdade nos fará livres (Jo 8,32). Caso contrário
estaríamos açoitando o ar (I Cor 9,26).
Bem acertadamente observou um escritor católico da
atualidade, Dr. Michael Davies, grande defensor da Missa
dita tradicional e de grande renome nos meios
tradicionalistas: “Alegações têm sido feitas dentro do
movimento tradicionalista de que a Nova Missa não foi
apropriadamente promulgada conforme as normas do
Direito Canônico, de que ela não é a Missa oficial da
Igreja Católica, de que assistindo a ela não se cumpre o
preceito dominical, de que ela é ruim, má, ou mesmo
intrinsecamente má. Visto que o Papa Paulo VI era um
verdadeiro papa, e que o Missal de 1970 constitui o que é
conhecido como uma lei disciplinaria universal, tais
alegações são completamente insustentáveis em vista da
doutrina da indefectibilidade da Igreja. Nenhum papa
verdadeiro poderia impor ou mesmo autorizar para o uso
universal um rito litúrgico que fosse em si mesmo
prejudicial aos fiéis. As alegações completamente
insustentáveis a que me referi explicam uma atitude
perturbadora que prevalece em certas secções do
movimento tradicionalista nos quais atacar o Missal de
1970 (de Paulo VI) parece obter prioridade sobre a
conservação do de 1570 (Missal de São Pio V). Não há
nenhuma esperança possível de um reconhecimento do
Vaticano ser estendido a padres que sustentam essas
hipóteses insustentáveis, fato que não parece perturbá-los.
Nem eles parecem se perturbar com o fato de que tais
teorias não são endossadas por nenhum teólogo
qualificado fora do movimento tradicionalista, ou que o
consenso de opinião dentro do movimento as rejeita.
Alguns desses padres não duvidam imaginar que alguém
não pode ser um verdadeiro tradicionalista sem aceitar que
a Nova Missa seja má. A documentação que segue (no seu
livro) seria suficiente para provar que de fato aqueles que
adotam esta posição é que não podem se considerar
católicos tradicionais, pois defender que um rito
sacramental aprovado pelo Romano Pontífice seja mau é
totalmente incompatível com o ensinamento tradicional da
Igreja” [85].
22. Posição católica equilibrada na presente crise. 
Santo Tomás de Aquino, seguindo Aristóteles, nos ensina
que as virtudes morais e intelectuais consistem num meio
termo: “Virtus in medio” [86].
Muitos católicos pensam, equivocadamente, talvez com
medo de caírem no liberalismo ou progressismo, que seja
melhor assumir sempre a posição mais dura e extremista,
suspeitando de tudo e de todos. Nem sempre, porém, a
posição mais dura e radical é a verdadeira, a melhor, a
mais certa e a mais eficaz. Muitas vezes a posição radical
e extremista, que generaliza e nega tudo, é até mais
cômoda do que aquela que faz as devidas distinções. Mas
nem por isso está mais de acordo com a verdade, a justiça
e a honestidade, que devem pautar o nosso pensar, o nosso
proceder e o nosso combate pelo bem, como dissemos
acima. Muitos dos que lutaram pela tradição litúrgica e
doutrinal da Igreja, por não guardarem esses devidos
limites, acabaram caindo no cisma e na heresia. Pensavam
erradamente poder guardar a tradição fora e
independentemente da Igreja hierárquica e até contra ela.
Por considerarem a Nova Missa, em si mesma, como
inválida ou herética, sacrílega, heterodoxa, não católica,
pecaminosa, e, portanto, ilegítima, acabaram realmente
tirando as lógicas conseqüências teológicas dessa posição
e a aplicaram ao Papa e a todo o Episcopado residente no
mundo, isto é, a toda a Igreja docente: ou seja, tiveram que
sustentar que a Igreja oficialmente promulgou, conservou
há décadas e oferece todos os dias a Deus um culto
ilegítimo e pecaminoso. Daí, logicamente, concluíram que
a Igreja hierárquica como ela existe hoje não é mais a
Igreja Católica, pois caiu oficialmente no erro e que ela
apenas subsiste em um pequeno grupo, do qual
evidentemente eles fazem parte. Infelizmente é difícil
convencê-los do erro. Na história da Igreja se constata que
nenhum herege ou cismático em tempo algum achou que
estava enganado. Sempre pensavam que a Igreja é que
estava errada e eles certos. E se vangloriavam de terem
conservado a sã doutrina.
23. Perigo do cisma na posição extremista.
O Papa venerável Pio XII nos adverte: “Em erro perigoso
estão, pois, aqueles que julgam poder unir-se a Cristo,
cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu Vigário
na terra. Suprimida a cabeça visível e rompidos os
vínculos visíveis da unidade, obscurecem e deformam de
tal maneira o corpo místico do Redentor, que não pode ser
visto nem encontrado por quem procura o porto da eterna
salvação”. [87]
Não nos devemos iludir pensando estarmos certos por
conservar coisas boas tradicionais, mas fora da comunhão
com a Igreja hierárquica, lembramos as palavras de Santo
Agostinho: “Ninguém pode encontrar salvação a não ser
na Igreja Católica. Fora da Igreja, pode se ter tudo,
menos a salvação. Pode-se ter honra, pode se ter
sacramentos, pode-se cantar Alleluia, pode-se responder
Amem, pode-se ter fé no nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, e pregar isso também, mas nunca se pode,
exceto na Igreja Católica, encontrar salvação” [88]. 
O Magistério da Igreja nos lembra a necessidade da
comunhão com a hierarquia para que haja legitimidade na
celebração da Santa Missa. O Papa João Paulo II nos
ensina isso na sua encíclica Ecclesia de
Eucharistia: “Somente neste contexto, tem lugar a
celebração legítima da Eucaristia e a autêntica
participação nela”.[89] Santo Inácio de Antioquia diz:
“Que se considere legítima só esta Eucaristia que se faz
sob a presidência do Bispo ou daquele a quem este
encarregou”. [90]
Como bem observa o eminente escritor católico
tradicionalista Michael Davies: “Poderíamos parafrasear o
Papa Paulo VI e lamentar o fato de que a fumaça de
Satanás penetrou no movimento tradicionalista para
estrangular sua defesa da ortodoxia. Quando nos
recordamos de que estamos lidando com um inimigo
sobrenatural de enorme astúcia e inteligência, devemos
supor que ele faria tudo o que estivesse em seu poder para
fragmentar e destruir aqueles grupos que têm sido mais
eficazes na oposição à sua destruição da Igreja. Que meios
mais eficazes poderia ele empregar do que tentar levá-los
a cair no cisma? Fora da Igreja sua defesa da Tradição se
tornaria ineficaz. Uma vez que tais pessoas tenham
abandonado a Igreja, embora como todos os hereges e
cismáticos eles proclamem que eles constituem a
verdadeira Igreja, torna-se claro que só um milagre pode
levá-los à compreensão de sua verdadeira situação. O
orgulho que ocasionou a ruína de Satanás é evidente aqui.
Há muita satisfação ligada a ser um membro do número
dos eleitos, que, como o Padre van der Ploeg recorda, ‘é
sempre a mais evidente característica de uma seita’” [91].
Muito mais do que pertencer a um grupo, pertencemos à
Igreja católica, nossa família. Muitos, pensando em se
preservar, não querem ter contato com os outros católicos.
Mas Santo Tomás de Aquino nos ensina que “são
chamados cismáticos aqueles que se recusam a se
submeter ao Sumo Pontífice e aqueles que se recusam a
viver em comunhão com os membros da Igreja, a ele
sujeitos” [92].
A propósito, recordo um comentário feito pelo então
Cardeal Joseph Ratzinger, falando sobre a eclesialidade,
que não é “uma questão de escolha livre”, “segundo o
critério de subjetividade”. “A Igreja – diz ele – é
construída sobre os Bispos, segundo a sucessão dos
Apóstolos, em forma de Igrejas locais, portanto, com um
critério objetivo. Eu estou nessa Igreja local e eu não
procuro meus amigos, eu encontro meus irmãos e minhas
irmãs; e os irmãos e irmãs eu não os procuro, eu os
encontro. Essa situação de não arbitrariedade da Igreja na
qual eu me encontro, que não é uma igreja de minha
escolha, mas a Igreja que se apresenta a mim, é um
princípio muito importante. Parece-me que as palavras de
Santo Inácio vão muito fortemente nessa linha que o Bispo
é a Igreja; não é minha escolha, como se eu fosse com tal
grupo de amigos ou com tal outro; eu estou na Igreja
comum, com os pobres, com os ricos, com as pessoas
simpáticas e não simpáticas, com os intelectuais e com os
iletrados; eu estou na Igreja que me precede…” [93].
24. Mas no passado houve afirmações nesse sentido!
Muitas vezes, na ânsia de defender coisas corretas e sob
pressão dos ataques dos opositores, mesmo com reta
intenção, podem-se cometer erros e exageros que, após um
período de maior reflexão, devem ser retificados e
corrigidos. São Pio X comentava que no calor da batalha é
difícil medir a precisão e o alcance dos golpes. Daí
acontecerem faltas ou excessos, compreensíveis, mas
incorretos. Erros podem ser compreendidos e explicados,
mas não justificados. Santo Tomás de Aquino nos ensina:
“Não se pode justificar uma ação má, embora feita com
boa intenção” [94].
Por isso não é correto apelar para antigos comportamentos
ou afirmações, pelo fato de algo ter sido dito antes, como
se tais afirmações fossem infalíveis e nunca passíveis de
correção e melhor expressão. É preciso examiná-los e
retificá-los à luz do Magistério perene e vivo da Igreja,
que é o critério de verdade e comportamento para o
católico.
É preciso sempre ajustar a prática com os princípios que
defendemos. Se reconhecemos as autoridades da Igreja é
preciso respeitá-las como tais, sem jamais, ao atacar os
erros, desprestigiá-las. Se houve algum erro ou exagero no
passado quanto a isso, não há nada de mais em se corrigir
o erro. Os princípios, a adesão às verdades da nossa Fé e a
rejeição aos erros condenados pela Igreja continuam os
mesmos. O que é preciso evitar são as generalizações,
ampliações e atribuições indevidas e injustas. A justiça e a
caridade, mesmo no combate, são imprescindíveis. Se
houve alguma falha também nesse ponto, corrigir-se não é
nenhum desdouro. Afinal, errar é humano, perdoar é
divino, corrigir-se é cristão e perseverar no erro é
diabólico.
Assim, jamais se pode usar a adesão à Liturgia dita
tradicional em espírito de contestação à autoridade da
Igreja ou de rompimento de comunhão. Há que se
conservar a adesão à tradição litúrgica sem pecar contra a
sã doutrina do Magistério e sem jamais ofender a
comunhão eclesial. Conservemos a Tradição e a Liturgia
tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério
vivo da Igreja, e não em contraposição a eles.
Relembramos a advertência do Papa João Paulo II: “A
diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento,
mas pode também provocar tensões, incompreensões
recíprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é claro que a
diversidade não deve prejudicar a unidade. Esta unidade
não pode exprimir-se senão na fidelidade à fé comum … e
à comunhão hierárquica” ([95]).
25. A posição clara da nossa Administração
Apostólica. 
O Santo Padre o Papa Bento XVI, na sua Carta aos Bispos
anexa ao Motu Proprio Summorum Pontificum, tranqüiliza
os Bispos dizendo-lhes que com a liberação universal da
Missa dita de São Pio V, que ele faz nesse Motu Proprio,
“não tem fundamento o temor de que seja aqui afetada a
autoridade do Concílio Vaticano II e que uma das suas
decisões essenciais – a reforma litúrgica – seja posta em
dúvida”; ademais, “não me parece realmente fundado o
temor de que uma possibilidade mais ampla do uso do
Missal de 1962 levasse a desordens ou até a divisões nas
comunidades paroquiais” [96].
Nessa mesma carta, o Santo Padre afirma: “Obviamente,
para viver a plena comunhão, também os sacerdotes das
Comunidades que aderem ao uso antigo, não podem, em
linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos
livros. De fato, não seria coerente com o reconhecimento
do valor e da santidade do rito a exclusão total do
mesmo”.
No que nos diz respeito, essa orientação do Santo Padre
deve ser perfeitamente acatada e seguida.
Assim, em carta de 13 de março de 2009, que enviei ao
Santo Padre Bento XVI, em sinal de comunhão,
agradecimento e resposta a essa sua Carta aos Bispos que
acompanha o Motu Próprio Summorum Pontificum,
escrevi:
“… Por causa dos atuais problemas e circunstâncias, por
fidelidade a esse Magistério da Igreja, declaramos
reconhecer o Concílio Vaticano II como um dos Concílios
Ecumênicos da Igreja Católica, aceitando dócil e
sinceramente, com religiosa submissão de espírito [97],
seus ensinamentos [98], tal como no-los transmite a Igreja
como dotados da autoridade do magistério ordinário
supremo e autêntico [99]”.
“Por isso, rejeitamos o chamado “pernicioso espírito do
Concílio”, ou o seu “antiespírito” [100], e toda
hermenêutica da descontinuidade e da ruptura e adotamos,
com Vossa Santidade, a hermenêutica da reforma ou
renovação na continuidade” [101].
“Declaramos, igualmente, o nosso pleno reconhecimento
do Magistério de Vossa Santidade e de todos os seus
antecessores, especialmente dos Papas Beato João XXIII,
Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II” [102].
“Quanto à Liturgia, em nossa Administração Apostólica
Pessoal São João Maria Vianney, por privilégio concedido
por esta Sé Apostólica, nós conservamos com amor de
predileção o rito romano da Missa na sua forma
extraordinária, como uma das riquezas litúrgicas católicas,
pela qual exprimimos o nosso amor pela Santa Igreja e
nossa comunhão com ela”.
“Declaramos, porém, que, como Vossa Santidade nos
ensina, para viver a plena comunhão da Igreja, não
excluímos, em linha de princípio, a celebração segundo os
novos livros litúrgicos promulgados pelo Magistério da
Igreja, pois a exclusão total do novo rito não seria coerente
com o reconhecimento do valor e da santidade dele, que
nós reconhecemos [103]”.
“Reconhecemos, portanto, que o Missal Romano,
estabelecido pelo Sumo Pontífice Paulo VI para a Igreja
universal, foi promulgado pela legítima suma autoridade
da Santa Sé, a quem compete na Igreja o direito da
legislação litúrgica, e que é, por isso mesmo e em si
mesmo, legítimo e católico” [104].
“Evidentemente, rejeitamos todas as “ambigüidades,
liberdades, criatividades, adaptações, reduções e
instrumentalizações” (S.S. João Paulo II, enc. Ecclesia de
Eucharistia, nn 10, 52, 61), enfim, todos os usos abusivos
do Missal promulgado por S. S. Paulo VI, especialmente
os mencionados na Instrução Redemptionis
Sacramentum”.
26. Nosso combate contra o modernismo continua.
Ao reconhecermos a validade e legitimidade da Missa
promulgada pela Hierarquia católica, queremos defender a
Santa Igreja e seu Magistério. E, na linha dessa fidelidade
ao Magistério, não arrefeceu e continua o nosso combate
contra as heresias litúrgicas como a negação da presença
real de Cristo na Eucaristia, a transformação da Missa
numa simples ceia, a negação ou o encobrimento do
caráter sacrifical e propiciatório da Santa Missa, a
confusão entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio
comum dos fiéis, a dessacralização da sagrada Liturgia, a
falta de veneração, de adoração e de modéstia nos trajes
no culto divino, a mundanização da Igreja, etc. E a esses
erros, bem como a todos os erros contra a nossa Fé
católica, nós nos opomos e a eles resistiremos sempre,
venham de onde vierem. A doutrina da resistência
continua a mesma: “Se um anjo do Céu, ou nós mesmos,
vos ensinar um Evangelho diferente daquele que vos
pregamos, seja anátema” (São Paulo aos Gálatas 1,8). Esta
nossa posição doutrinária foi e continua sendo a mesma
que sempre sustentamos.
Queremos colaborar com o Santo Padre, o Papa, e, com
ele e ao seu lado, continuarmos nessa luta por um
revigoramento da vida litúrgica e sacramental da Igreja.
Por todas as razões mencionadas, conclui-se que
a Missa na forma ordinária do Rito Romano, tal como
foi promulgada pela suprema autoridade da Igreja,
celebrada dentro das corretas normas litúrgicas, é
católica, ortodoxa e válida na sua eficácia sacramental
como veículo da Graça Divina, podendo, portanto, ser
participada e celebrada legitimamente. 
III
CONSIDERAÇÕES RELATIVAS À MISSA NA
FORMA ANTIGA OU EXTRAORDINÁRIA DO RITO
ROMANO, MISSA PROMULGADA PELO PAPA SÃO
PIO V E ATUALIZADA, POR ÚLTIMO, PELO PAPA
BEATO JOÃO XXIII.
1. Por que, então, conservar a Missa na forma antiga?  
Tendo ficado bem demonstrado neste trabalho que a
Missa, na forma atual ou ordinária do Rito Romano, é
católica, válida e legítima, alguém poderia perguntar por
que razão, então, conservar ou preferir a Missa na sua
forma antiga.
Por isso, daremos agora as razões pelas quais, apesar
disso, nós amamos, conservamos, preferimos e
defendemos a Missa na forma antiga do Rito Romano. São
Pedro, na sua epístola, nos exorta a estarmos prontos para
dar aos que nos perguntam as razões do nosso
procedimento: “Estai prontos para uma resposta vitoriosa
a todo aquele que vos perguntar acerca da esperança que
vos anima, mas com maneiras suaves e respeitosas,
estando em boa consciência, para naquilo mesmo que vos
caluniam, sejam confundidos os que denigrem o vosso
bom procedimento de cristãos” (1 Pdr 3, 15-16).
Nosso amor preferencial pela Missa na forma
extraordinária do Rito Romano se baseia em razões
eclesiais históricas, teológicas, litúrgicas, espirituais e
estéticas.
Em nossa Administração Apostólica, por faculdade a nós
concedida pela Santa Sé, conservamos o rito da Missa na
sua forma tradicional, isto é, a antiga forma do Rito
Romano, como o fazem igualmente muitas congregações
religiosas, grupos e milhares de fiéis em todo o mundo.
Desse modo, por ser uma das riquezas litúrgicas católicas,
exprimimos através da Missa na sua forma tradicional o
nosso amor pela Santa Igreja e nossa comunhão com ela.
2. A Missa na forma antiga é lícita, aprovada e nunca
ab-rogada. 
Em 7 de julho de 2007, o Santo Padre, o Papa Bento XVI
escreveu ao mundo católico, em forma de “Motu Proprio”,
quer dizer, por própria iniciativa, a Carta
Apostólica  Summorum Pontificum.
Na carta de apresentação aos Bispos, ele declara ser este
documento “fruto de longas reflexões, múltiplas consultas
e de oração” [105]. No texto do Motu Proprio, ele
explicita mais a sua origem, dizendo que ela surge “depois
da consideração por parte de nosso predecessor João Paulo
II, das insistentes petições destes fiéis, depois de haver
escutado aos Padres Cardeais no consistório de 22 de
março de 2006, após haver refletido profundamente sobre
cada um dos aspectos da questão, invocado o Espírito
Santo e contando com a ajuda de Deus”.
Nesse Motu Proprio, o Papa estabelece que “o Missal
Romano promulgado por São Pio V e novamente pelo
beato João XXIII deve ser considerado como expressão
extraordinária da mesma “Lex orandi” (ao lado da
expressão ordinária que é o Missal Romano promulgado
por Paulo VI) e gozar do respeito devido por seu uso
venerável e antigo… Por isso é lícito celebrar o Sacrifício
da Missa segundo a edição típica do Missal Romano
promulgado pelo beato João XXIII em 1962, que não foi
ab-rogado nunca, como forma extraordinária da Liturgia
da Igreja” [106].
Na Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio, ele
afirma que “este Missal (de São Pio V) nunca foi
juridicamente ab-rogado e, conseqüentemente, em
princípio, sempre continuou permitido”.
Sobre a legitimidade da Missa na forma antiga, o Cardeal
Jorge Rafael Medina, ex-prefeito da Congregação para o
Culto Divino, já havia declarado: “Eu estou consciente dos
sentimentos de numerosos católicos pela Santa Missa
celebrada segundo o rito de São Pio V. O Motu Proprio
Ecclesia Dei, publicado pelo Papa João Paulo II,
reconhece o desejo destes tradicionalistas e procura dar-
lhes ocasião de participar da liturgia segundo esse
venerável rito, que foi o rito romano durante séculos. O
Papa encoraja os bispos a serem generosos e abertos a
esses católicos que não deviam ser marginalizados ou
tratados como membros de ‘segunda classe’ pela
comunidade católica. Eu creio pessoalmente que largas
garantias deveriam ser dadas aos católicos tradicionalistas
cujo único desejo é seguir um rito legítimo e aprovado.
Numa época da história onde o ‘pluralismo’ goza do
direito de ‘cidadania’, por que não reconhecer o mesmo
direito àqueles que desejam celebrar a liturgia segundo a
maneira utilizada durante mais de quatro séculos?… Eu
estudei cuidadosamente a questão da abrogação do rito de
São Pio V depois do Concílio Vaticano II. […] Sobre a
base das minhas pesquisas, eu só posso concluir que o rito
de São Pio V nunca foi ab-rogado…” [107].
3. Incompreensível e equivocada proibição da Missa na
forma antiga.
Se, por um lado, nós confessamos que houve exagero nas
críticas feitas ao Novo Ordo da Missa, devemos, por
outro, admitir que isso aconteceu não só por causa do
clima apaixonado e polêmico da época, mas também,
sobretudo, devido ao ostracismo brutal e à perseguição da
qual a antiga liturgia foi vítima.
O então Cardeal Ratzinger escreveu, como citaremos
abaixo, que, quando foi promulgado o novo Ordo, “ficou
consternado com a proibição do antigo missal, pois isso
nunca se tinha visto em toda a história da liturgia…[108].
O decreto de interdição do missal que se tinha
desenvolvido no curso dos séculos, deste o tempo dos
sacramentários da antiga Igreja, significou uma ruptura na
história da liturgia, cujas conseqüências só poderiam ser
trágicas” [109]. E ele acrescentava: “A meu ver, devia-se
deixar seguir o rito antigo com muito mais generosidade
àqueles que o desejam. Não se compreende o que nele
possa ser perigoso ou inaceitável. Uma comunidade põe a
si mesma em xeque quando declara como estritamente
proibido o que até então tinha tido como mais sagrado e o
mais elevado, e quando considera, por assim dizer,
impróprio o desejo dessa coisa… Infelizmente, entre nós,
a tolerância de experiências aventureiras é quase ilimitada;
contudo, a tolerância da liturgia antiga é praticamente
inexistente. Desse modo, está-se certamente no caminho
errado” [110]. E diz mais: “Para a formação da
consciência no domínio da liturgia, é importante também
cessar de banir a forma da liturgia em vigor até 1970.
Quem, atualmente, defende a validade desta liturgia ou
quem a pratica, é tratado como um leproso: é o fim de toda
a tolerância, tal como nunca se conheceu em toda a
história da Igreja. Despreza-se assim todo o passado da
Igreja. Como se poderia ter confiança nela no presente, se
as coisas são assim. Eu confesso também que eu não
compreendo porque muitos de meus confrades bispos se
submetam a esta lei de intolerância, que se opõe, sem
razão válida, às reconciliações necessárias na
Igreja” [111].
A Carta Apostólica Summorum Pontificummodificou
profundamente esse clima geral de perseguição e conflito,
reconhecendo os católicos ligados à antiga forma litúrgica
como membros da Igreja, como todos os outros, afirmando
que o seu desejo da antiga liturgia é perfeitamente normal
e legítimo. Graças a Deus! Oficialmente, nos documentos,
portanto, o clima agora é outro na Igreja. Esperemos que o
seja também na prática.
Essa posição do nosso atual Papa já é antiga. Eis o que ele
dizia quando Cardeal: “A meu ver, se deveria deixar
seguir o rito antigo com muito mais generosidade àqueles
que o desejam. Não se compreende o que nele possa ser
perigoso ou inaceitável. Uma comunidade põe a si mesma
em xeque quando declara como estritamente proibido o
que até então tinha tido como mais sagrado e o mais
elevado, e quando considera, por assim dizer, impróprio o
desejo dessa coisa… Infelizmente, entre nós, a tolerância
de experiências aventureiras é quase ilimitada; contudo, a
tolerância da liturgia antiga é praticamente inexistente.
Desse modo, está-se certamente no caminho
errado” [112].
“Para a formação da consciência no domínio da liturgia, é
importante também cessar de banir a forma da liturgia em
vigor até 1970. Quem, atualmente, defende a validade
desta liturgia ou quem a pratica, é tratado como um
leproso: é o fim de toda a tolerância, tal como nunca se
conheceu em toda a história da Igreja. Despreza-se assim
todo o passado da Igreja. Como se poderia ter confiança
nela no presente, se as coisas são assim. Eu confesso
também que eu não compreendo porque muitos de meus
confrades bispos se submetam a esta lei de intolerância,
que se opõe, sem razão válida, às reconciliações
necessárias na Igreja” [113].
4. A adesão à Missa de São Pio V é legítima e digna de
respeito. 
A Santa Sé reconhece essa adesão como perfeitamente
legítima, como já se expressava o Papa venerável João
Paulo II: “Todavia, é preciso que todos os Pastores e os
demais fiéis tomem nova consciência, não só da
legitimidade mas também da riqueza que representa para a
Igreja a diversidade de carismas e de tradições de
espiritualidade e de apostolado, o que constitui a beleza da
unidade na variedade: daquela “sintonia” que, sob o
impulso de Espírito Santo, a Igreja terrestre eleva ao céu…
A todos estes fiéis católicos, que se sentem vinculados a
algumas precedentes formas litúrgicas e disciplinares da
tradição latina, desejo manifestar também a minha vontade
– à qual peço que se associem a dos Bispos a de todos
aqueles que desempenham na Igreja o ministério pastoral
– de lhes facilitar a comunhão eclesial, mediante as
medidas necessárias para garantir o respeito das suas
justas aspirações… além disso, em toda a parte deverá ser
respeitado o espírito de todos aqueles que se sentem
ligados à tradição litúrgica latina, mediante uma ampla e
generosa aplicação das diretrizes, já há tempos emanadas
pela Sé Apostólica, para o uso do Missal Romano segundo
a edição típica de 1962”  [114].
5. Permissão geral oficial do Papa para a Missa de São
Pio V.
O Santo Padre o Papa Bento XVI, no Motu proprio
Summorum Pontificum, sanciona que, nas Missas
celebradas sem o povo ou para os fiéis que o peçam
voluntariamente, “todo sacerdote católico de rito latino,
tanto secular como religioso, pode utilizar seja o Missal
Romano editado pelo beato Papa João XXIII em 1962,
seja o Missal Romano promulgado pelo Papa Paulo VI em
1970, em qualquer dia, exceto o Tríduo Sacro. Para dita
celebração seguindo um ou outro missal, o sacerdote não
necessita de nenhuma permissão, nem da Sé Apostólica
nem do Ordinário” [115].
“Nas paróquias, onde haja um grupo estável de fiéis
aderentes à precedente tradição litúrgica, o pároco
acolherá de bom grado seu pedido de celebrar a Santa
Missa segundo o rito do Missal Romano editado em 1962.
Deve procurar que o bem destes fiéis se harmonize com a
atenção pastoral ordinária da paróquia, sob a direção do
bispo como estabelece o cân. 392 evitando a discórdia e
favorecendo a unidade de toda a Igreja” [116].
“O pároco permita também aos fiéis e sacerdotes que o
solicitem a celebração nesta forma extraordinária em
circunstâncias particulares, como matrimônios, exéquias
ou celebrações ocasionais, como, por exemplo, as
peregrinações. Nas igrejas que não são paroquiais nem
conventuais, é competência do Reitor conceder a licença
mais acima citada” [117].
“Se um grupo de fiéis leigos… não tenha obtido satisfação
a suas petições por parte do pároco, informe ao bispo
diocesano. Convida-se vivamente ao bispo a satisfazer seu
desejo. Se não pode prover a esta celebração, o assunto se
remeta à Pontifícia Comissão ‘Ecclesia Dei” [118].
“O ordinário do lugar, se o considerar oportuno, pode
erigir uma paróquia pessoal segundo a norma do cânon
518 para as celebrações com a forma antiga do rito
romano, ou nomear um capelão, observadas as normas do
direito” [119].
6. Apelo do Papa à generosidade dos Bispos.
Na mesma Carta aos Bispos que acompanha a Carta
Apostólica Summorum Pontificum, Bento XVI relembra
que “o Papa João Paulo II… através do Motu Proprio
‘Ecclesia Dei’, de 2 de julho de 1988,… fazia apelo, de
forma mais geral, à generosidade dos Bispos para com as
‘justas aspirações’ dos fiéis que requeriam este uso do
Rito Romano”.
De fato, o Papa Venerável João Paulo II, no seu Motu
Próprio Ecclesia Dei Adflicta de 1o de julho de 1988,
falava da legitimidade da Missa tradicional e da riqueza
que isso representa para a Igreja: “Todos os pastores e os
outros fiéis devem também ter uma nova consciência não
somente da legitimidade, mas também da riqueza que
representa para a Igreja a diversidade dos carismas e das
tradições da espiritualidade e do apostolado. Esta
diversidade constitui assim a beleza da unidade na
variedade: tal é a sinfonia que, sob a ação do Espírito
Santo, a Igreja faz subir ao Céu”. E João Paulo II pedia
aos Bispos que, como ele, fossem abertos em conceder aos
fiéis o antigo rito da Missa: “A todos esses fiéis católicos
que se sentem ligados a certas formas litúrgicas e
disciplinares anteriores da tradição latina, eu desejo
também manifestar minha vontade – à qual eu peço que se
associem os bispos e todos os que têm um ministério
pastoral na Igreja – de lhes facilitar a comunhão eclesial
graças a medidas necessárias para garantir o respeito às
suas aspirações”. E insistia nessa generosidade: “Dever-
se-á por toda a parte respeitar as disposições interiores de
todos aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica
latina, e isso por uma aplicação larga e generosa das
diretrizes dadas a seu tempo pela Sé Apostólica para o uso
do Missal Romano segundo a edição típica de
1962” [120].
7. A Missa de São Pio V tem direito de cidadania na
Igreja.
Eis como se expressava o Cardeal Darío Castrillón Hoyos,
quando prefeito da Sagrada Congregação para o Clero e
presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei: “Não se
pode considerar que o rito chamado de São Pio V esteja
extinto, e a autoridade do Santo Padre exprimiu seu
acolhimento benevolente para com os fiéis que, mesmo
reconhecendo a legitimidade do rito romano renovado
segundo as indicações do concílio Vaticano II,
permanecem ligados ao rito precedente e nele encontram
um alimento espiritual sólido no seu caminho de
santificação. Ademais o próprio concílio Vaticano II
declarou que ‘a Santa Madre Igreja tem por iguais em
direito e em dignidade todos os ritos legitimamente
reconhecidos, e ela quer que no futuro eles sejam
conservados e favorecidos de todas as maneiras […]’ (SC,
n. 4). O antigo rito romano conserva pois na Igreja seu
direito de cidadania no seio da multiformidade dos ritos
católicos tanto latinos quanto orientais. O que une a
diversidade desses ritos, é a mesma fé no mistério
eucarístico, cuja profissão sempre assegurou a unidade da
Igreja, santa, católica e apostólica. […] Tudo isso é um
motivo de gratidão especial para com o Santo Padre. Nós
somos reconhecidos de coração pela compreensão
delicada e paternal que ele testemunha para com aqueles
que desejam manter viva, na Igreja, a riqueza que
representa esta venerável forma litúrgica […]” [121].
“Por outra parte, esta celebração deu maior confiança
sobre o fato de que ovenerável Rito de São Pio V se
beneficia, na Igreja católica de Rito Latino, de ‘um direito
de cidadania’, como eu disse na homilia. Este Rito não
está extinto, não há dúvidas nesta matéria. O
acontecimento de Santa Maria Maior contribuiu para
dissipar esta dúvida, onde um tipo de desinformação a
teria alimentado. Eu gostaria de lembrar que Paulo VI
mesmo já havia permitido que padres, em certas situações,
pudessem continuar a celebrar como antes da reforma
litúrgica; em seguida, em 1984, a Congregação para o
Culto Divino, com a carta “Quattuor abhinc annos”,
autorizou sob certas condições a celebração deste Rito e,
finalmente o próprio Soberano Pontífice reinante, em
1988, com o  Motu proprio ‘Ecclesia Dei’, recomendou o
que segue: ‘será preciso respeitar em todos os lugares o
desejo de todos aqueles que se sentem ligados à tradição
litúrgica latina, por uma aplicação larga e generosa das
diretrizes já publicadas desde longo tempo pela Sé
Apostólica, concernentes ao uso do Missal Romano
segundo a edição típica de 1962’, (MP Ecclesia Dei,
02/07/1988, n. 6). Não se pode esquecer também que o
Rito dito de S. Pio V é o Rito ordinário concedido no dia
18 de janeiro de 2002 por decisão da Sua Santidade, à
Administração Apostólica Pessoal S. João Maria Vianney
de Campos (Brasil). Tudo isto faz ver claramente que este
Rito, por concessão do Santo Padre, tem pleno direito de
cidadania na Igreja, sem que isto queira diminuir a
validade do Rito aprovado por Paulo VI e atualmente em
vigor na Igreja latina” [122].
8. A Missa de São Pio V é desejada por diversas classes
de pessoas: idosas e jovens, simples e instruídas,
piedosas, sérias e corretas na sua adesão à Igreja. 
Após falar da renovação e adaptação feita pelo Papa Paulo
VI, seguindo o desejo do Concílio Vaticano II, o Santo
Padre o Papa Bento XVI, na mesma Carta Apostólica
“motu proprio data” Summorum Pontificum, recorda: “Em
algumas regiões, contudo, não poucos fiéis aderiram e
seguem aderindo com muito amor às formas litúrgicas
anteriores, que haviam embebido tão profundamente sua
cultura e seu espírito, que o Sumo Pontífice João Paulo II,
movido pela preocupação pastoral em relação a esses fiéis,
no ano de 1984, com o indulto especial ‘Quatuor abhinc
annos’, emitido pela Congregação para o Culto Divino,
concedeu a faculdade de usar o Missal Romano editado
pelo beato João XXIII no ano de 1962; mais tarde, no ano
de 1988, com a Carta Apostólica ‘Ecclesia Dei’, dada em
forma de Motu Próprio, João Paulo II exortou aos bispos a
utilizar ampla e generosamente esta faculdade em favor de
todos os fiéis que o solicitassem” [123].
E Bento XVI assevera que no começo, quando se
introduziu o novo Missal, “supôs-se, provavelmente, que
se trataria de poucos casos individuais que seriam
resolvidos um a um na sua situação concreta. Bem
depressa, porém, se constatou que não poucos
continuavam fortemente ligados a este uso do Rito
Romano que, desde a infância, se lhes tornara
familiar” [124].
Porque não são apenas pessoas antigas ou idosas que
desejam essa forma da Missa, talvez por saudosismo ou
dificuldade de adaptação à nova liturgia, pois, como
constata o Papa Bento XVI na Carta aos Bispos que
acompanha o Motu ProprioSummorum Pontificum, “logo
a seguir ao Concílio Vaticano II podia-se supor que o
pedido do uso do Missal de 1962 se limitasse á geração
mais idosa que tinha crescido com ele, mas, entretanto, vê-
se claramente que também pessoas jovens descobrem esta
forma litúrgica, sentem-se atraídas por ela e nela
encontram uma forma, que lhes resulta particularmente
apropriada, de encontro com o mistério[125] da
Santíssima Eucaristia”.
E o desejo dessa forma do Rito Romano não veio de
pessoas ignorantes da Liturgia ou sem amor por ela, mas,
pelo contrário, como diz o Papa Bento XVI na Carta aos
Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum
Pontificum, “isto aconteceu, sobretudo, em países onde o
movimento litúrgico tinha dado a muitas pessoas uma
formação litúrgica notável e uma profunda e íntima
familiaridade com a forma anterior da Celebração
Litúrgica”. E, embora tenha havido quem desejasse essa
forma por motivos não corretos, entretanto, como diz o
Papa, “muitas pessoas, que aceitavam claramente o caráter
vinculante do Concílio Vaticano II e que eram fiéis ao
Papa e aos Bispos, desejavam, contudo, reaver também a
forma, que lhes era cara, da sagrada Liturgia” [126].
Realmente esse apego à Missa na forma antiga não é
apenas da parte de pessoas idosas, como observava o
Cardeal Darío Castrillón Hoyos, quando prefeito da
Sagrada Congregação para o Clero e presidente da
Pontifícia Comissão Ecclesia Dei: “É interessante em
seguida ressaltar como se encontram no seio desta
realidade numerosos padres, nascidos depois do Concílio
Ecumênico Vaticano II. Eles manifestam, eu diria, como
uma « simpatia de coração » por uma forma de celebração,
e também de catequese, que segundo sua « percepção »
deixa um grande lugar ao clima de sacralidade e de
espiritualidade que justamente conquista também os
jovens de hoje: não se pode certamente defini-los como «
nostálgicos » ou um vestígio do passado. Eu gostaria
também de lembrar, por outra parte, que este venerável
Rito formou durante séculos numerosos santos, e modelou
o rosto da Igreja que reconhece ainda hoje seus méritos, o
indulto Ecclesia Dei de João Paulo II é a prova disto. Na
Igreja há uma tal variedade de dons postos à disposição
das consciências e sensibilidades diferentes, com suas
especificidades, que encontram seu lugar justamente nesta
riqueza abundante da catolicidade. Não se pode recusar
que no seio de uma tal variedade de dons e sensibilidades
os ditos ‘tradicionalistas’ estejam também presentes; e não
se devem tratá-los como ‘fiéis de segunda categoria’, mas
é preciso proteger seu direito de poder exprimir a fé e a
piedade segundo uma sensibilidade particular, que o Santo
Padre reconhece como totalmente legítimo. Não se trata
portanto de opor duas sensibilidades como se elas fossem
antagonistas: uma que diríamos ‘tradicional’ e outra que
chamaríamos ‘moderna’; trata-se pelo contrário da
liberdade de confessar a mesma fé católica, com
insistências e expressões legitimamente diversas, um
pleno respeito fraterno e recíproco. Eu posso dizer que  o
Santo Padre, já com o indulto Ecclesia Dei e a criação da
Comissão Pontifícia de mesmo nome, quis defender as
aspirações legítimas dos fiéis ligados à Liturgia antiga; é
nesta linha que a Comissão continua a trabalhar. Mais de
quinze anos depois deste Motu proprio – considerando as
numerosas dificuldades que  apareceram entre estes fiéis e
diferentes Bispos que  permanecem perplexos ou que são
muito hesitantes em conceder as permissões necessárias –,
uma  idéia toma sempre mais corpo,  conforme a qual 
tornou-se  necessário tornar efetiva a concessão do
indulto  numa escala mais vasta e  que correspondam
melhor à realidade; ou seja, consideramos que os tempos
estão maduros para uma nova forma  de garantia  jurídica,
clara , deste direito já reconhecida pelo Santo Padre pelo
indulto  de 1988” [127].
Ressaltando a fidelidade à Igreja e o fervor daqueles que
são ligados à antiga liturgia, o mesmo Cardeal Darío
Castrillón Hoyos assim se expressava: “Penso que os
sinais de proximidade que o Santo Padre deu aos fiéis
ligados à Tradição testemunham amplamente o afeto de
Sua Santidade por esta porção do Povo de Deus que não se
pode absolutamente negligenciar nem menos ainda
ignorar; estes fiéis, em plena comunhão com a Sé
Apostólica, se esforçam, mesmo se isto é através de
numerosas dificuldades, por manter vivos o fervor da fé
católica e a devoção, através da expressão de um apego
particular às formas litúrgicas e devocionais da antiga
Tradição, com as quais eles melhor se identificam. Parece-
me, com efeito, que esta adesão destes fiéis ao antigo Rito
vêm exprimir legitimamente um percepção religiosa,
litúrgica e espiritual, particularmente ligada à Tradição
antiga: quando isto é vivido em comunhão com a Igreja, é
um enriquecimento” [128].
Por isso, os fiéis que desejam a Missa na forma tradicional
não podem ser considerados como pessoas com
dificuldade de adaptação ou nostálgicas, conforme
escrevia o mesmo Cardeal Paulo Augustinho Mayer,
quando presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei:
“… Insistir, por conseguinte, sobre o fato de que apenas
‘as aspirações daqueles que têm dificuldades de se
habituar à missa promulgada por Paulo VI’ são
consideradas como ‘legítimas’, e denegrir os outros como
desenvolvendo uma ‘teologia pobre, um interesse pessoal,
uma nostalgia superficial ou qualquer outra aberração’
parece bem longe das benevolentes disposições e da
consideração pastoral do nosso Santo Padre, que escrevia
na sua carta apostólica de 2 de julho de 1988: ‘Dever-se-á
por toda parte respeitar as disposições interiores de todos
aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica latina, e
isso por uma aplicação larga e generosa das diretivas
dadas em seu tempo pela Sé Apostólica para o uso do
Missal Romano segundo a edição típica de 1962’ ( Motu
Proprio Ecclesia Dei6c)” [129].
9. Sua liberação não será causa de divisões. É um só
rito sob duas formas legítimas. 
Como já citamos, o Santo Padre, o Papa Bento XVI,
no  Motu Proprio Summorum Pontificum, declara que
“essas duas expressões da ‘Lex Orandi’ da Igreja não
levarão de forma alguma a uma divisão da ‘Lex credendi’.
E, na Carta aos Bispos que acompanha essa Carta
Apostólica, ensina que “não é apropriado falar destas duas
versões do Missal Romano como se fossem ‘dois ritos’.
Trata-se, antes, de um duplo uso do único e mesmo Rito”.
Ademais, tranqüiliza os Bispos, declarando: “não me
parece realmente fundado o temor de que uma
possibilidade mais ampla do uso do Missal de 1962
levasse a desordens ou até a divisões nas comunidades
paroquiais”.
E o Santo Padre o Papa Bento XVI explica o porquê da
liberação geral da Missa na forma antiga: “cheguei assim à
razão positiva que me motivou a atualizar através deste
Motu Próprio o de 1988 (Motu Próprio de João Paulo II
que permitia a Missa de São Pio V pedindo a generosidade
dos Bispos). Trata-se de chegar a uma reconciliação
interna no seio da Igreja”.
O Papa ainda insiste que “não existe qualquer contradição
entre uma edição e outra do Missale Romanum. Na
história da Liturgia, há crescimento e progresso, mas
nenhuma ruptura. Aquilo que, para as gerações anteriores,
era sagrado, permanece sagrado e grande também para
nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou
mesmo prejudicial” [130].
Na verdade, a Missa celebrada na forma antiga só traria
benefícios pastorais aos fiéis, conforme escrevia aos
Bispos americanos o Cardeal Paulo Augustinho Mayer,
quando presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei:
“… Por isso, excelência, nós desejamos encorajá-lo a
facilitar a celebração justa e digna dos ritos litúrgicos
segundo o Missal romano de 1962, por toda a parte onde
se encontra um autêntico desejo da parte de padres e de
fiéis… Não há razão hoje para que a missa dita ‘tridentina’
não possa ser celebrada em uma igreja paroquial onde sua
celebração seria um autêntico serviço pastoral prestado
aos fiéis que o desejam… Se bem que o Santo Padre tenha
dado a esta comissão Pontifícia a faculdade de conceder o
uso da edição típica de 1962 do Missal Romano a todos
aqueles que fizerem o pedido, informando em seguida ao
Ordinário respectivo, nós preferimos que tais autorizações
sejam dadas pelo próprio Ordinário, a fim de reforçar o
laço de comunhão eclesial entre esses padres e fiéis e o
seu pastor” [131].
10. Crise na Igreja, crise litúrgica.
Ninguém de correta visão pode negar a existência da atual
crise na Igreja, afirmada por vários Papas. E essa crise tem
muito a ver com a Liturgia, especialmente após a reforma
conciliar, que, infelizmente deu azo a muitos abusos
litúrgicos.
O então Cardeal Ratzinger afirmara: “Estou convencido de
que a crise da Igreja na qual hoje nos encontramos
depende em grande parte do desmoronamento da
liturgia” [132].
Ainda quando Cardeal, o nosso atual Papa comentava:
“Depois do Concílio, muitos padres deliberadamente
erigiram a dessacralização como um programa de ação,
argumentando que o novo testamento aboliu o culto do
templo; o véu do templo, que se rasgou de alto a baixo no
momento da morte de Cristo sobre a cruz, seria, para
alguns, o sinal do fim do sagrado. A morte de Jesus, fora
dos muros da cidade, o que significa, no mundo profano, é
hoje a verdadeira religião. A religião, se ela algum dia teve
existência, deve encontrá-la no caráter não sagrado da vida
cotidiana, no amor que se vive. Animados por tais idéias,
eles rejeitaram as vestes sagradas; tanto quanto puderam,
eles despojaram as igrejas dos seus resplendores que
lembram o sagrado; e eles reduziram a liturgia à
linguagem e aos gestos da vida de todos os dias, por meio
de saudações, de sinais de amizade e outros
elementos” [133].
O Papa Paulo VI, que viveu o turbilhão da crise,
intitulava-a como sendo “a fumaça de Satanás no Templo
de Deus” [134].
Em recente entrevista, o Cardeal Virgílio Noé,
cerimoniário da Santa Sé, explicou que, com a expressão
“fumaça de Satanás no templo de Deus”, Paulo VI se
referia aos abusos litúrgicos pós-conciliares: “Aqui, o
Papa Montini por ‘Satanás’ queria classificar todos
aqueles sacerdotes, bispos e cardeais que não rendem culto
ao Senhor ao celebrar mal a Santa Missa, devido a uma
errada interpretação e aplicação do Concílio Vaticano II.
Falou de fumaça de Satanás, porque sustentava que
aqueles sacerdotes que manipulavam a Santa Missa em
nome da criatividade, em realidade estavam possuídos da
vanglória e da soberba do Maligno. Portanto, a fumaça de
Satanás não era outra coisa que a mentalidade que queria
distorcer as regras tradicionais e litúrgicas da cerimônia
Eucarística… Ele condenava o espírito de protagonismo e
delírio de onipotência que se seguiram à liturgia do
Concílio. A Missa é uma cerimônia sagrada, repetia
freqüentemente, tudo deve estar preparado e estudado
adequadamente respeitando os cânones, ninguém é o
‘dominus’ (Senhor) da Missa. Infelizmente, muitos depois
do Vaticano II não o entenderam e Paulo VI considerava o
fenômeno um ataque do demônio” [135].
11. A Missa de São Pio V é um refúgio contra os abusos
que deformam e arruínam a nova Liturgia.
Os abusos – “ambigüidades, liberdades, criatividades,
adaptações, reduções e instrumentalizações”, lamentados
pelo Papa João Paulo II [136] – e que nós também
lamentamos, apareceram, desde o começo, tão
entranhados à nova liturgia da Missa, que,
equivocadamente, foram atribuídos ao próprio rito da
Missa promulgado pela Igreja, provocando assim grande
restrição, aliás, explicável, com relação ao próprio rito
promulgado pela Igreja [137]. Mas há que se reconhecer
que eles infelizmente existiram e existem ainda. E com
eles não concordamos de modo algum.
O Papa Bento XVI, na Carta aos Bispos que acompanha
o Motu Proprio Summorum Pontificum, explica o motivo
que levou os fiéis a desejarem a Missa na forma antiga:
“isto sucedeu, antes de tudo, porque, em muitos lugares, se
celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do
novo Missal, antes se consideravam como que autorizados
ou até obrigados à criatividade, o que levou
freqüentemente a deformações da Liturgia no limite do
suportável. Falo por experiência, porque também eu vivi
aquele período com todas as suas expectativas e
confusões. E vi como foram profundamente feridas, pelas
deformações arbitrárias da Liturgia, pessoas que estavam
totalmente radicadas na fé da Igreja”. Tais motivos,
lamentados pelo Papa, infelizmente, permanecem até hoje.
Na verdade, a Missa na forma extraordinária do Rito
Romano, por sua maior precisão e rigor nas rubricas,
apresenta mais segurança e proteção contra tais abusos
litúrgicos.
Aludindo a essa segurança e proteção contra os abusos,
dizia Dom Thomas Doran, Bispo de Rockford (Illinois,
USA): “Como vós podeis constatar, a Missa codificada
pelo Papa São Pio V estabelece minuciosamente,
exatamente e precisamente os ritos a observar nos
mínimos detalhes. O Concílio de Trento prescrevendo os
ritos não deixou nada ao acaso, pois ele talvez tivesse um
melhor conhecimento da natureza humana do que nós.
[…]” [138].
O Cardeal Eduardo Gagnon, então presidente do Pontifício
Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais,
também constatava: “… não se pode, entretanto, ignorar
que a reforma (litúrgica) deu origem a muitos abusos e
conduziu em certa medida ao desaparecimento do respeito
devido ao sagrado. Esse fato deve ser infelizmente
admitido e desculpa bom número dessas pessoas que se
afastaram de nossa Igreja ou de sua antiga comunidade
paroquial” [139].
Assim, levados pelo legítimo desejo de conservar a
riqueza litúrgica do rito tradicional e chocados, com toda a
razão, em sua fé e piedade com os abusos, sacrilégios e
profanações a que deu azo a reforma litúrgica, os católicos
da linha tradicional, não querendo ver a “liturgia
transformada em show” ([140]) nem querendo
compartilhar com erros e profanações que viam,
apegaram-se legitimamente às formas tradicionais da
liturgia.
Por isso, merecem toda a nossa compreensão, nosso apoio
e nossos louvores todos os que lutam pela preservação da
Liturgia na sua forma tradicional [141].
12. Causas dos abusos litúrgicos: a) “criatividade”.
Já o Papa Paulo VI lamentava, recebendo os membros
do Consilium: “Em matéria litúrgica, as próprias
Conferências Episcopais vão às vezes, por sua própria
conta, além dos justos limites. Acontece igualmente que se
fazem experiências arbitrárias ou que se introduzam ritos
que estão em oposição flagrante com as regras
estabelecidas pela Igreja” [142].
O então Cardeal Ratzinger, quando Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, numa conferência em
Roma por ocasião de uma peregrinação pelo 10º
aniversário do Motu Proprio Ecclesia Dei, afirmava: “O
espaço livre que o novo Ordo Missae dá à criatividade é
frequentemente alargado excessivamente: a diferença
entre a liturgia segundo os novos livros, como ela é
praticada de fato, celebrada em lugares diferentes, é
frequentemente maior do que a que existe entre uma
liturgia antiga e uma liturgia nova, celebradas ambas
conforme os livros litúrgicos prescritos. Um cristão
comum sem formação litúrgica especial quase não
distingue uma missa cantada em latim segundo o antigo
Missal de uma missa cantada em latim segundo o novo
Missal; ao contrário, a diferença entre uma liturgia
celebrada fielmente segundo o Missal de Paulo VI e as
formas e as celebrações concretas em língua vulgar com
todas as liberdades e criatividades possíveis, esta diferença
pode ser enorme!” [143].
E Ratzinger explicava então que a liturgia “não é nada que
novas comissões voltem sempre a inventar. Porque assim
se tornaria uma coisa feita por nós mesmos, quer as
comissões estejam em Roma, quer em Trier, quer em
Paris. Pelo contrário, tem que conservar sempre sua
continuidade e uma última ausência de arbitrariedade, em
que realmente eu me encontro com os séculos e, através
deles, com o que é eterno, e sou elevado para uma
comunidade de celebração que é uma coisa diferente do
que imaginam os comitês ou uma comissão de
festas” [144].
“Dever-se-ia insistir e explicar muito claramente que a
ciência litúrgica não existe para produzir continuamente
modelos novos, como é costume fazer na indústria
automobilística. A liturgia existe para incorporar o homem
às festas e sua celebração, existe para introduzi-lo no
mistério. Temos o exemplo da Igreja oriental e também de
todas as religiões do mundo, onde todos sabem que a
liturgia não existe para inventar novos textos e ritos, mas
que perdura, precisamente, porque não se deixa manipular.
A juventude atual é muito sensível a isso. Os centros em
que a liturgia se celebra com solenidade, de modo
reverente, sem frivolidades, ainda que não se entendam
todas as palavras, gozam de uma grande atração.
Necessitamos de mais centros que sigam essa
linha.” [145].
“Não se pode comparar a liturgia a um mecanismo,
desmontável e reparável à vontade, mas a um organismo
vivo cujas leis internas determinam as modalidades do seu
futuro desenvolvimento… A criatividade não deveria
constituir uma categoria autêntica da liturgia. Essa noção
pertence, ademais, a uma visão marxista do mundo. Num
universo desprovido de sentido e fruto de uma evolução
cega, o homem marxista é capaz de criatividade fazendo
nascer um mundo novo e melhor” [146].
Criticando as atuais manipulações da liturgia, infelizmente
feitas por aqueles que se aproveitam da reforma litúrgica,
dizia ainda o então Cardeal Ratzinger: “A idéia que está na
base dessas reflexões é que a liturgia seja uma celebração
comunitária, um ato durante o qual a comunidade se
constitui em comunidade e se experimenta como tal. Mas,
dessa maneira, a forma e atitude espiritual da liturgia
passam a ser na prática as próprias de uma festa de
vizinhos (festa surpresa). Isso se nota, por exemplo, na
importância cada vez maior das palavras de saudação e
despedida, assim com a procura de elementos que sirvam
de entretenimento. O grau de entretenimento se converte
no fator para medir se a celebração litúrgica foi bem
sucedida, o que a faz depender da ‘criatividade’, quer
dizer, nas invenções do seu organizador” [147].
13. Causas dos abusos litúrgicos: b) Manipulação e
banalização.
Comentava o então Cardeal Ratzinger: “Para a maioria, a
liturgia se apresenta como uma tarefa de criação para a
comunidade correspondente; tarefa que conduz, em
determinados círculos, a elaborar, semana após semana,
‘liturgias’ novas, e isso com um empenho tão admirável
quanto errôneo. Esta ruptura nas convicções litúrgicas
essenciais é o que me parece verdadeiramente nocivo. Os
limites entre liturgia e encontros de amigos, entre liturgia e
reuniões sociais estão caindo de maneira imperceptível; …
[dá o exemplo de algumas invencionices] com as quais
destroem a distância entre o sacerdote e os fiéis, que é um
componente essencial da liturgia; também as saudações,
com freqüência insuportáveis e repletas de banalidades,
que muitas comunidades já esperam como norma de
educação indispensável, têm a ver com esta nova situação.
No tempo que ainda não havia aparecido o novo Missal,
mas já se tinha taxado o antigo de antiquado, se perdeu a
noção de que existe um ‘rito’, quer dizer uma forma
litúrgica determinada, e de que a liturgia só pode ser tal
liturgia, se os fiéis não podem dispor dela livremente.
Inclusive os novos livros oficiais, ainda que em muitos
sentidos são muito bons, deixam entrever uma
planificação muito elaborada dos teólogos acadêmicos,
reforçando assim a opinião de que um livro litúrgico se
‘faz’, como se fazem outros livros” [148].
“A liturgia não é um show, um espetáculo que necessite de
diretores geniais e de atores de talento. A liturgia não vive
de surpresas ‘simpáticas’, de invenções ‘cativantes’, mas
de repetições solenes. Não deve exprimir a atualidade e o
seu efêmero, mas o mistério do Sagrado. Muitos pensaram
e disseram que a liturgia deve ser ‘feita’ por toda a
comunidade para ser realmente sua. É um modo de ver
que levou a avaliar o seu sucesso em termos de eficácia
espetacular, de entretenimento. Desse modo, porém,
terminou por dispersar o propriumlitúrgico, que não deriva
daquilo que nós fazemos, mas do fato de que acontece.
Algo que nós todos juntos não podemos, de modo algum,
fazer. Na liturgia age uma força, um poder que nem
mesmo a Igreja inteira pode atribuir-se: o que nela se
manifesta é o absolutamente Outro que, através da
comunidade (que não é, portanto, dona, mas serva, mero
instrumento), chega até nós. Para o católico, a liturgia é a
Pátria comum, é a fonte mesma da sua identidade.
Também por isso ela deve ser ‘predeterminada’,
‘imperturbável’, porque através do rito se manifesta a
Santidade de Deus. Ao contrário, a revolta contra aquilo
que foi chamado ‘a velha rigidez rubricista’, acusada de
inibir a ‘criatividade’, arrastou também a liturgia ao
vórtice do ‘faça-você-mesmo’, banalizando-a, porque
reduzindo-a à nossa medíocre medida” [149].
14. Causas dos abusos litúrgicos: c) inculturação e
secularismo.
Ratzinger, quando Cardeal Prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, dizia: “em nossa reforma litúrgica há uma
tendência, a meu ver errada, que visa à ‘inculturação’ total
da liturgia ao mundo moderno: fazê-la mais curta, fazer
desaparecer o que se considera incompreensível, traduzi-la
em uma linguagem ainda mais simples, mais vulgar. Desse
modo, a essência da liturgia e a própria celebração ficam
completamente desvirtuadas; porque em liturgia não se
tem que entender as coisas só de forma racional, como se
entende uma conferência, mas de modo mais completo,
participando com todos os sentidos e deixando-se
compenetrar por uma celebração que não foi inventada por
uma comissão, mas que nos chega desde a profundidade
dos séculos e, definitivamente, desde a eternidade” [150].
Ao analisar o aggiornamento querido pelo Concílio
Vaticano II, o então secretário da Congregação para o
Culto Divino e disciplina dos Sacramentos, Dom Albert
Malcom Ranjith Don, falando sobre os desvios na Liturgia
da Igreja, diz que “infelizmente, após o Concílio, certas
mudanças pouco refletidas foram feitas, na rapidez, no
entusiasmo, na rejeição de certos exageros do passado.
Isso levou a uma situação oposta ao que se desejava”. E
ele dá exemplos: “Vê-se que a liturgia tomou direções
errôneas como o abandono do sagrado e da mística, a
confusão entre o sacerdócio comum e o consagrado de
modo especial, ou seja, a confusão dos papeis entre os
leigos e os padres. Há também a visão do conceito de
Eucaristia como um banquete comum, mais do que a
acentuação sobre a memória do sacrifício de Cristo no
Calvário e sobre a eficácia sacramental para a salvação, ou
ainda certas mudanças como ter esvaziado as igrejas na
linha protestante… Essa mudança de mentalidade
enfraqueceu o papel da liturgia ao invés de reforçá-lo…
Isso causou outros resultados negativos para a vida da
Igreja. Assim, para enfrentar o progresso do secularismo
no mundo, não era preciso nos tornar secularizados, mas
que nos aprofundássemos ainda mais, pois o mundo tem
sempre mais necessidade do Espírito, da interioridade…
Vê-se bem, nos jovens de hoje, e inclusive nos jovens
padres, uma nostalgia do passado, uma nostalgia de certos
aspectos perdidos. Há na Europa um despertar muito
positivo” [151].
15. Causas dos abusos litúrgicos: d) protagonismo do
celebrante.
Em certas circunstâncias, “se dá ao sacerdote, à pessoa do
sacerdote, uma importância desmedida, quer dizer, se
espera dele que faça tudo perfeito, que apresente tudo
muito bem, etc. Porque, com essa mentalidade, o centro da
celebração é realmente o sacerdote. Em conseqüência,
cabe perguntar-se ‘por que só algumas pessoas o podem
fazer?’. Quando, ao contrário, o sacerdote sabe
desaparecer pessoalmente e reconhecer-se só como mero
representante e se limita a cumprir com fé o que se lhe
pede, então o que sucede não gira em torno dele, sua
pessoa não é o centro, mas põe-se de lado e aparece algo
maior. Julgo que se deve ver mais o poder e a força da
tradição que não  pode ser manipulada. Sua beleza e sua
grandeza se impõem inclusive a quem não sabe precisar
nem compreender todos os seus detalhes. No centro está
então a Palavra, que é anunciada e explicada” [152].
E Ratzinger já observava: “o sacerdote não é um
‘showman’ ou ‘showmaster’ (apresentador de programa),
que hoje inventa qualquer coisa e a transmite com
habilidade. Pelo contrário, ele pode não ter talento nenhum
como ‘showman’, porque ele está representando algo
completamente diferente e que não depende absolutamente
dele mesmo” [153].
16. O rito na forma antiga enriquece toda a Igreja e
beneficia até o novo rito.
O Santo Padre o Papa Bento XVI, na Carta aos Bispos que
acompanha o Motu Proprio  Summorum Pontificum,
afirma que não existe incompatibilidade, mas que “as duas
formas do uso do Rito Romano podem enriquecer-se
mutuamente” [154]. E diz mais: devido à proximidade
com a Missa no rito de São Pio V, após sua liberação
geral, “na celebração da Missa segundo o Missal de Paulo
VI, poder-se-á manifestar, de maneira mais intensa do que
frequentemente tem acontecido até agora [155], aquela
sacralidade que atrai muitos para o uso antigo”.
Concordando com essas afirmações, assim se exprimiu o
Cardeal Dario Castrillón Hoyos, falando da Missa na
forma antiga: “Não é um dom que se destinaria somente
àqueles denominados ‘tradicionalistas’: não, é um dom
para toda a Igreja católica. E esse dom, livremente
oferecido, o Santo Padre o faz ao interior dessa estrutura
maravilhosa da Igreja, constituída pelas paróquias, padres
e capelães nas capelas onde se celebra a Eucaristia. Pela
vontade do Vigário de Cristo, eles devem aceitar os
requerimentos e pedidos dos fiéis, que desejam esta Missa,
e eles a devem oferecer a eles. E mesmo quando não há
pedido específico, nem requerimento, eles deveriam torná-
la acessível, a fim de que cada um possa ter acesso a esse
tesouro da liturgia antiga da Igreja. Aí está o objetivo
primordial do Motu Próprio: uma riqueza espiritual e
teológica. O Santo Padre quer que esta forma da Missa se
torne normal nas paróquias a fim de que, dessa maneira, as
jovens comunidades possam também se familiarizar com
esse rito” [156].
Falando da importância do rito de São Pio V e
encorajando a sua celebração como um paradigma para
todos os ritos católicos, uma riqueza que, conservada, trará
benefícios até para aqueles que seguem a Missal Romano
atual, assim escrevia o Cardeal Francis George, Arcebispo
de Chicago, USA: “Nós estamos em um momento de uma
importância considerável para a liturgia de 1962 e
também, portanto, para o CIEL (Centro Internacional de
Estudos Litúrgicos) que consagrou tanta energia para
encorajar este rito. O Santo Padre mesmo, há algum
tempo, chamou nossa atenção para a beleza e a
profundidade do missal de São Pio V. Muito recentemente
o Cardeal Darío Castrillón Hoyos, por ocasião do
vigésimo quinto aniversário da eleição do Papa João Paulo
II, e com sua anuência, declarou: ‘Não se pode considerar
que o rito dito de São Pio V esteja extinto. O antigo rito
romano conserva pois na Igreja seu direito de cidadania’.
… a liturgia de 1962 é um rito autorizado da Igreja
Católica e uma fonte preciosa de compreensão litúrgica
para todos os outros ritos. Os estudos apresentados no
colóquio de 2002, no quadro de uma reflexão sobre o
significado do sagrado no culto católico, oferecem um
benefício espiritual para a celebração de todos os ritos da
Igreja católica. Um uso mais expandido do missal romano
de 1962, no quadro que foi autorizado, deve ser mais que a
renovação nostálgica de um rito venerável. Esta liturgia
pertence à Igreja inteira como um veículo do espírito que
deve se irradiar também na celebração da terceira edição
típica do missal romano atual… Meus votos são de que
estejamos talvez na aurora de uma renovação
verdadeiramente frutuosa para a liturgia da Igreja católica,
como o segundo Concílio do Vaticano desejou, uma
renovação que permitirá aos ritos sagrados comunicar a
salvação obtida para todos na Igreja, pela morte e
ressurreição de Cristo” [157].
A Missa de São Pio V é, portanto, um rito que pertence à
Igreja inteira, uma fonte preciosa de compreensão litúrgica
para todos os outros ritos, um veículo do espírito que deve
se irradiar também na Missa de Paulo VI.
17. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: a)
sacralidade.
Sacralidade é o oposto de banalização. Se a Missa é o que
temos de mais santo, mais sagrado, mais semelhante à
Liturgia celeste, seus ritos devem exprimir dignidade,
respeito, adoração, enfim, sacralidade.
Bento XVI, na Carta aos Bispos que acompanha o Motu
Proprio Summorum Pontificum, referindo-se à liberação
geral do uso antigo do Rito Romano, afirma que “faz-nos
bem a todos conservar as riquezas que foram crescendo na
fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar” [158].
E, quando Cardeal, assim confessava: “Se bem que haja
numerosos motivos que possam ter levado um grande
número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional,
o mais importante dentre eles é que eles aí encontram
preservada a dignidade do sagrado” [159].
18. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: b) o
sentido do mistério.
O então Cardeal Ratzinger, narrando os primeiros
contatos, na sua infância, através do seu primeiro missal,
com “o mundo misterioso da liturgia, que se desenrolava
diante de nós e para nós no altar”, ressalta: “Esta
misteriosa trama de textos e de ações havia crescido no
curso dos séculos da fé da Igreja. Levava em si o peso de
toda a história e era muito mais do que um produto da
história humana… Nem tudo era lógico, muitas coisas
eram complicadas e não era sempre fácil se orientar. Mas
exatamente por isso o edifício era maravilhoso e nos
sentíamos em casa” [160].
A Missa na forma antiga do Rito Romano tem uma
nobreza característica, uma antiguidade venerável e
mantém vivo o sentido do mistério, como se expressou o
Cardeal Darío Castrillón Hoyos: “O rito antigo da Missa
serve precisamente a muitas pessoas para manter vivo este
sentido do mistério. O rito sagrado, com o sentido do
mistério, nos ajuda a penetrar com nossos sentidos no
recinto do mistério de Deus. A nobreza de um rito que
acompanha a Igreja durante tantos anos justifica bem o
fato de que um grupo escolhido de fiéis mantenha a
apreciação deste rito, e a Igreja, pela voz do Soberano
Pontífice, o compreendeu assim, quando ela pede que haja
portas abertas à sua celebração… Nós celebramos um belo
rito, rito que foi o de muitos santos, uma bela Missa, que
encheu os arcos de muitas catedrais e que faz ressoar seus
acentos de mistério nas pequenas capelas do mundo
inteiro…” [161].
19. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: c)
reverência e humildade.
O silêncio, as inclinações, as múltiplas genuflexões, a
sobriedade dos gestos, prescritos pelas rubricas do antigo
Missal, e, sobretudo, o texto das orações exalam
reverência e humildade diante de Deus, a quem é
oferecido o Santo Sacrifício da Missa.
É o que constatava o Papa Venerável João Paulo II,
quando propunha a Missa tradicional como modelo de
reverência e humildade para todos os celebrantes do
mundo: “O Povo de Deus tem necessidade de ver nos
padres e nos diáconos um comportamento cheio de
reverência e de dignidade, capaz de ajudá-lo a penetrar as
coisas invisíveis, mesmo com poucas palavras e
explicações. No Missal Romano, dito de São Pio V, …
nós encontramos belíssimas orações com as quais o padre
exprime o mais profundo senso de humildade e de
reverência diante dos santos mistérios: elas revelam a
substância mesma de toda a Liturgia” [162].
Na Missa na forma antiga há muitos momentos em que os
fiéis se ajoelham. O então Cardeal Ratzinger se referia “ao
gesto central da adoração, que hoje em dia corre cada vez
mais o risco de desaparecer: o ajoelhar-se. Sabemos que o
Senhor rezou de joelhos (Lc 22,41), que Estevão (At
7,60), Pedro (At 9,40) e Paulo (At 20,36) rezaram de
joelhos… Esse ajoelhar-se é uma apresentação e aceitação
que imita atitude daquele que, ‘sendo de natureza divina’
‘humilhou-se a si mesmo até a morte’” [163]. “A Liturgia
que não conhecesse mais o ajoelhar-se seria
intrinsecamente doente. É preciso reensinar a ajoelhar-se,
reintroduzir o ajoelhar-se por toda a parte onde isso tiver
desaparecido, a fim de que por nossa oração continuemos
em comunhão com os Apóstolos e os mártires…, em
comunhão com Jesus Cristo” [164].
20. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: d) beleza e
profundidade.
A Missa de São Pio V encanta a todos pela sua beleza
inigualável, proveniente da sua riqueza litúrgica,
profundidade e elevação espiritual de suas orações, que
foram compostas ou usadas por santos de vários séculos, e
pela nobreza e solenidade das suas vestes, rituais e
cerimônias.
Falando sobre essa beleza da liturgia e respondendo às
“acusações de ‘triunfalismo’, em nome das quais se jogou
fora, com excessiva facilidade, muito da antiga solenidade
litúrgica”, o então Cardeal Ratzinger explicava: “Não é
triunfalismo, de forma alguma, a solenidade do culto com
que a Igreja exprime a beleza de Deus, a alegria da fé, a
vitória da verdade e da luz sobre o erro e as trevas. A
riqueza litúrgica não é riqueza de uma casta sacerdotal; é
riqueza de todos, também dos pobres, que, com efeito, a
desejam e não se escandalizam absolutamente com ela.
Toda a história da piedade popular mostra que mesmo os
mais desprovidos sempre estiveram dispostos instintiva e
espontaneamente a privar-se até mesmo do necessário, a
fim de honrar, com a beleza, sem nenhuma avareza, ao seu
Senhor e Deus” [165].
O Cardeal Francis George, acima mencionado, citando o
Papa João Paulo II – afirmou: “O Santo Padre mesmo, há
algum tempo, chamou nossa atenção para a beleza e a
profundidade do missal de São Pio V”.
21. Riquezas da Missa no rito de São Pio V: e) o
silêncio.
Conforme explicava o então Cardeal Ratzinger, o silêncio
na liturgia, uma das características da Missa na forma
antiga, “como um caminho em comum em direção ao
interior, como interiorização da palavra e dos sinais, como
uma liberação dos papéis que escondem o verdadeiro, é
imprescindível para uma ‘participatio actuosa’
(participação ativa, conforme o Vaticano II) verdadeira…
A emoção litúrgica já não pode consistir na ‘variedade’…
mas na consecução de um espaço para encontrar o
verdadeiramente grande e inesgotável, o que não necessita
de variação, porque satisfaz por si mesmo, quer dizer, a
verdade e o amor… E quero acrescentar, ainda que seja
uma opinião contrária à teoria dominante, que em nenhum
caso é uma obrigação ler em voz alta todo o cânon… Só o
valor para voltar a aprender a palavra em silêncio pode
solucionar o problema, diante da presente inundação de
palavras, que no final nos leva a uma verborréia,
precisamente no momento em que há de encontrar com a
‘palavra’ – o Logos – que é, enquanto palavra do amor
crucificado e ressuscitado, a autorização para vida e a
alegria” [166].
22. A antiga liturgia, fonte de vocações sacerdotais e
religiosas, de famílias cristãs e de vida católica.
Ao comentar os efeitos do Motu Proprio Ecclesia Dei de
João Paulo II, que já havia liberado a Missa na forma
antiga, o então Cardeal Joseph Ratzinger fazia essa
constatação: “Eu penso que é antes de tudo uma ocasião
para mostrar nossa gratidão e para render graças. As
diversas comunidades nascidas graças a este texto
pontifício têm dado à Igreja um grande número de
vocações sacerdotais e religiosas, que, zelosas, alegres e
profundamente unidas ao Papa, prestam seu serviço ao
Evangelho nesta época da história que é a nossa. Por elas,
muitos fiéis foram confirmados na alegria de poder viver a
liturgia e no seu amor para com a Igreja, ou talvez, eles
encontraram as duas coisas…” [167].
E sobre os reflexos sobre toda a vida cristã, assim
comentava o Cardeal Darío Castrillón Hoyos, quando
prefeito da Sagrada Congregação para o Clero e presidente
da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei: “Eu não gosto, com
efeito, das concepções que querem reduzir o ‘fenômeno’
tradicionalista somente à celebração do Rito antigo, como
se se tratasse de um apego nostálgico e obstinado ao
passado. Isto não corresponde à realidade que se vive no
interior deste vasto grupo de fiéis. Na realidade, nós
estamos aí freqüentemente na presença de uma visão cristã
da vida de fé e de devoção – partilhada por muitas
famílias, freqüentemente ricas de numerosos filhos – que
possui suas próprias particularidades; esta visão comporta
por exemplo um forte sentido de pertença ao Corpo
Místico, um desejo de manter  com solidez os laços com o
passado – que se quer considerar não em oposição ao
presente, mas na continuidade da Igreja – para conservar
os fortes pontos de ancoragem do cristianismo, um desejo
profundo de espiritualidade e sacralidade, etc.  O amor
pelo Senhor e pela Igreja encontra assim, sua mais alta
expressão  na adesão às antigas formas litúrgicas e
devocionais que acompanharam a Igreja ao longo de toda
a sua história” [168].
Nessa mesma linha de pensamento, o então Cardeal
Joseph Ratzinger dizia: “A Eucaristia é o núcleo central da
nossa vida cultual, mas para que possa servir-lhe de centro
precisa de um conjunto completo, no qual possa viver.
Todas as pesquisas acerca dos efeitos da reforma litúrgica
mostram que certa insistência pastoral somente na Missa
acaba por esvaziá-la, porque é como situá-la no vazio, não
preparada e não seguida, como deve ser, por outros atos
litúrgicos. A Eucaristia pressupõe os outros sacramentos e
os aponta. Mas a Eucaristia pressupõe também a oração
pessoal, a oração em família e a oração comunitária
extralitúrgica. Penso em duas das mais ricas e fecundas
orações do cristianismo, que levam sempre e de novo à
grande corrente eucarística: a Via Sacra e o
Rosário” [169].
23. O Rito de São Pio V se insere nos séculos de Fé da
Igreja.
Falando das origens históricas da Liturgia Romana, o
Santo Padre o Papa Bento XVI, no seu Motu Proprio
Summorum Pontificum, ressalta a figura do Papa São
Gregório Magno, “que fez todo o possível para que aos
novos povos da Europa se transmitisse tanto a fé católica
como os tesouros do culto e da cultura acumulados pelos
romanos nos séculos precedentes. Ordenou que fosse
definida e conservada a forma da sagrada Liturgia, relativa
tanto ao Sacrifício da Missa quanto ao Ofício Divino, no
modo em que se celebrava na Urbe (Roma)… Dessa
forma a Sagrada Liturgia, celebrada segundo o uso
romano, enriqueceu não somente a fé e a piedade, mas
também a cultura de muitas populações. Consta
efetivamente que a liturgia latina da Igreja em suas várias
formas, em todos os séculos da era cristã, impulsionou na
vida espiritual a numerosos santos e fortaleceu a tantos
povos na virtude da religião e fecundou sua
piedade” [170].  E acrescenta: “Muitos outros pontífices
romanos, no transcurso dos séculos, mostraram particular
solicitude para que a sagrada Liturgia manifestasse da
forma mais eficaz esta tarefa: entre eles se destaca São Pio
V, que, sustentado por grande zelo pastoral, após a
exortação do Concílio de Trento, renovou todo o culto da
Igreja, revisou a edição dos livros litúrgicos emendados e
‘renovados segundo a norma dos Padres’ e os deu em uso
à Igreja Latina” [171].
O Papa Paulo VI, na Constituição Apostólica Missale
Romanum, escreveu que o Cânon Romano, usado
exclusivamente na forma antiga do Rito Romano, é
antiqüíssimo na Igreja, riqueza de sua Tradição, e
“conservou sempre a mesma forma que foi fixada entre os
séculos IV e V”.  E, na mesma Constituição, acrescenta:
“na verdade, durante quatro séculos, os sacerdotes do rito
latino o tiveram como norma para a celebração do
sacrifício eucarístico; os santos arautos do Evangelho o
introduziram em quase toda a terra; nele também muitos
santos alimentaram copiosamente a sua piedade para com
Deus, haurindo-a tanto das leituras da Sagrada Escritura
como das suas orações, cuja parte principal fora
organizada por São Gregório Magno” .
24. A Missa de São Pio V é fruto de um
desenvolvimento orgânico, não fabricada
artificialmente.
Ratzinger, quando Cardeal Prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, afirma, sobre a reforma litúrgica, que os
liturgicistas diziam que São Pio V havia feito o mesmo,
impondo um novo missal, quando, na verdade, “tratava-se
de um processo contínuo de crescimento e depuração, sem
ruptura. São Pio V nunca criou um missal. Ele não fez
senão revisar o missal, fase de uma longa evolução” [172].
Em conseqüência, afirmava ele que foi “uma infelicidade,
a meu ver, de ter ele dado a impressão de que se tratava de
um livro novo, ao invés de recolocar o conjunto na
unidade da história litúrgica… Muitas coisas decididas no
Concílio já tinham sido antecipadas entre nós há tempos.
Assim, Pio XII já havia introduzido uma parte da reforma
litúrgica; temos o exemplo na nova configuração da
Vigília Pascal. Entretanto, tenho que concordar que depois
disso muitas coisas se passaram de modo abrupto e que
muitos fiéis não puderam encontrar a unidade interna entre
o que era novo com o que eles conheciam antes. Neste
sentido se foi simplesmente além do estipulado pelo
Concílio. Por exemplo, se havia estabelecido que a língua
do rito latino continuasse sendo o latim, mas que também
se deveria dar lugar de forma adequada às línguas
vernáculas. Hoje, evidentemente, se poderia perguntar se
afinal existe um rito latino. As pessoas quase não têm
consciência de algo semelhante” [173].
Dissertando sobre “liturgia, fruto de um
desenvolvimento”, o então Cardeal Ratzinger lamentava
que “o que se passou depois do Concílio significa um
coisa completamente diferente: no lugar da liturgia fruto
de um desenvolvimento contínuo, colocou-se uma liturgia
fabricada. Saiu-se do processo vivo de crescimento e
progresso para entrar na fabricação. Não se quis continuar
o progresso e a maturação orgânicos de algo vivo através
dos séculos e se os substituiu, a modo da produção técnica,
por uma fabricação, produto banal do momento. … A
reforma litúrgica, na sua realização concreta, afastou-se
sempre mais dessa origem. O resultado não foi uma
reanimação mas uma devastação. De um lado tem-se uma
liturgia degenerada em ‘show’, onde se tenta tornar a
religião interessante com a ajuda de asneiras na moda e de
máximas morais provocantes, com o sucesso momentâneo
no grupo dos fabricantes litúrgicos e uma atitude de
afastamento tanto mais pronunciada entre aqueles que
procuram na liturgia não mais o ‘showmaster’ espiritual,
mas o encontro com o Deus vivo diante do qual todo
‘fazer’ se torna insignificante, sendo que esse encontro é o
único capaz de nos fazer chegar às verdadeiras riquezas do
ser… ” [174].
“A liturgia não nasce por decreto, e uma das falhas da
reforma litúrgica pós-conciliar é, sem nenhuma dúvida,
procurar no zelo dos professores que, de seu escritório,
construíram o que deveria vir de um crescimento
orgânico… É preciso constatar que o novo Missal,
quaisquer que sejam todas as suas vantagens, foi
publicado como uma obra reelaborada por professores e
não como uma etapa no curso de um desenvolvimento
contínuo. Nada de semelhante jamais se produziu dessa
forma, isso é contrário ao caráter próprio da evolução
litúrgica e daí que surgiu a idéia absurda de que o Concílio
de Trento e São Pio V teriam, por seu lado, composto um
Missal há quatrocentos anos. Assim se rebaixou a liturgia
católica à categoria de produto do início da época moderna
e com isso se alterou a visão da liturgia de uma maneira
bastante aterradora. Embora muito poucos dos que hoje
expressam descontentamento entendam desses temas, é
certo que existe um saber instintivo que diz que a liturgia
não pode ser o produto de um decreto eclesial nem da
erudição dos professores, senão que só sendo o fruto da
Igreja viva pôde chegar a ser o que é” [175].
“Como já havia acontecido muitas vezes no passado, era
de todo razoável e plenamente na linha das disposições do
Concílio que se chegasse a uma revisão do missal,
sobretudo em consideração da introdução das línguas
nacionais. Mas naquele momento aconteceu qualquer
coisa a mais: se fez em pedaços o edifício antigo e dali se
construiu um outro, com o material de que era feito o
edifício antigo e utilizando também os projetos anteriores.
Não há nenhuma dúvida de que este novo missal
comportasse em muitas de suas partes autênticas melhoras
e um real enriquecimento, mas o fato de que isso tenha
sido apresentado como um edifício novo, contraposto
àquele que se tinha formado ao longo da história, que se
proibisse esse último e se fizesse de qualquer modo
aparecer a liturgia não mais como um processo vital, mas
como um produto de erudição especialista e de
competência jurídica, trouxe para nós danos extremamente
graves. Neste ponto, de fato, se desenvolveu a impressão
de que a liturgia seja ‘fabricada’, que não seja algo que
existe antes de nós, alguma coisa de ‘transmitido’, mas
que depende das nossas decisões. Segue daí, em
conseqüência, que não se reconheça esta capacidade de
decisão só aos especialistas ou a uma autoridade central,
mas que, definitivamente, qualquer comunidade queira
dar-se uma própria liturgia. Mas quando a liturgia é algo
que qualquer um faz por si, então não existe mais a sua
verdadeira característica: o encontro com o mistério, que
não é um produto, mas a nossa origem e a fonte da nossa
vida” [176].
25. A Missa de São Pio V, feita para preservar a Fé e a
sã doutrina.
Ademais, uma das fortes razões para conservarmos a
Missa na forma antiga é o sintomático ódio que lhe têm os
modernistas, neste ponto, seguidores de Lutero. Eles
odeiam o Concílio de Trento e sua doutrina sobre o
Sacrifício da Missa, tão bem expressa na forma antiga do
Rito Romano. Sinal do alto significado teológico anti-
protestante da Missa na sua forma antiga.
Alusivas a isso, citamos as sérias e impressionantes
palavras do então Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé. Após citar uma
análise de Stephan Orth, que constata que “hoje muitos
católicos ratificam eles mesmos o veredicto e as
conclusões de Martinho Lutero, para quem falar de
sacrifício é ‘o maior e mais espantoso horror’ e uma
‘maldita impiedade’”, comentava o então Cardeal Joseph
Ratzinger: “Um grupo considerável de liturgistas católicos
parece ter praticamente chegado à conclusão de que
Lutero, ao invés de Trento, estava substancialmente certo
no debate do século XVI… Alguém pode observar bem a
mesma posição nas discussões pós-conciliares sobre
sacerdócio. É só neste fundo de desqualificação prática de
Trento, que se pode entender a exasperação da luta contra
a possibilidade de celebrar ainda, depois da reforma
litúrgica, a Missa de acordo com o Missal de1962.. A
possibilidade de tal celebração constitui a mais forte, e por
conseguinte a mais intolerável contradição da opinião
daqueles que acreditam que a fé na Eucaristia formulada
por Trento perdeu seu valor…”.
“A gravidade destas teorias vem do fato que
freqüentemente elas passam imediatamente para a prática.
A tese, segundo a qual é a comunidade que é como tal o
sujeito da Liturgia, serve como uma autorização para
manipular a Liturgia de acordo com o entendimento de
cada um. As pretensas novas descobertas e as formas que
as seguem, são difundidas com uma rapidez surpreendente
e com uma obediência a tais modas que há muito não
existe com relação às normas da autoridade eclesiástica.
Teorias, na área da Liturgia, se transformam hoje muito
rapidamente em prática, e a prática, por sua vez, cria ou
destrói modos de se comportar e pensar… Trento não
cometeu um engano, apoiou-se no fundamento sólido da
Tradição da Igreja. Ele continua a ser um critério
fidedigno” [177].
Ora, o Missal de São Pio V foi um dos principais frutos do
Concílio de Trento, que tanto bem fez à Igreja, em matéria
de Fé e sã doutrina, como proclamou o Papa Paulo VI na
Constituição Apostólica Missale Romanum: “O Missal
Romano que, conforme o decreto do Concílio Tridentino,
foi promulgado em 1570 pelo nosso predecessor São Pio
V, conta-se entre os muitos e admiráveis frutos que aquele
Santo Sínodo difundiu por toda a Igreja de Cristo” [178].
E diz mais: “Nosso predecessor, São Pio V, promulgando
a edição-príncipe do Missal Romano, apresentou-o ao
povo cristão como fator da unidade litúrgica e sinal da
pureza do culto da Igreja” [179]. E esse Missal de São Pio
V acompanhou os santos missionários em suas missões
por toda a terra: “os santos arautos do Evangelho o
introduziram em quase toda a terra” [180].
Na sua Instrução Geral sobre o Missal Romano, proêmio,
n. 7, o Papa Paulo VI dá os motivos pelos quais o Papa
São Pio V fez a codificação da liturgia que leva o seu
nome: “Naqueles tempos, verdadeiramente difíceis, em
que a fé católica corria perigo em relação à índole
sacrifical da Missa, o sacerdócio ministerial e a presença
real e permanente de Cristo sob as espécies eucarísticas,
era necessário que São Pio V conservasse uma tradição
mais recente, injustamente impugnada, introduzindo o
mínimo de modificações nos ritos sagrados”. Em seguida,
nessa mesma Instrução Geral, Paulo VI lembra que o
Missal de São Pio V, de 1570 era praticamente o mesmo
que o de 1474, que por sua vez reproduz com fidelidade o
do tempo do Papa Inocêncio III – século XIII, sendo que,
no início da sua Constituição Apostólica Missale
Romanum, ele lembra que este Missal procede
essencialmente de uma tradição antiqüíssima, desde os
tempos de São Gregório Magno – século VI. Liturgicistas
e historiadores abalizados afirmam que o Cânon Romano,
como temos hoje, já estava constituído basicamente no
século IV. Ora, o Santo Padre Venerável João Paulo II, na
sua encíclica “Ecclesia de Eucharistia” vem exatamente
nos lembrar que esses três dogmas, do caráter sacrifical da
Missa, do Sacerdócio ministerial e da Presença Real, são
os pontos da Fé Católica que mais correm perigo nos
nossos dias, sendo seu obscurecimento uma fonte de
grandes abusos (Ecclesia de Eucharistia, nn. 10,12,15 e
29). Continuam válidos, portanto, os mesmos motivos para
se conservar a Missa codificada por São Pio V, que tão
claramente expressa e reforça esses dogmas eucarísticos,
que corriam perigo no seu tempo e correm perigo hoje em
dia.
26. Implicações doutrinais teológicas e eclesiológicas. 
Aprofundando-se no assunto da reforma litúrgica,
Ratzinger, quando Cardeal Prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé, afirmava: “A crise da liturgia, e, portanto,
também da Igreja, na qual estamos imersos há tempo, se
deve só em pequena medida às diferenças que existem
entre os livros litúrgicos antigos e novos. Torna-se cada
vez mais claro que, no fundo de toda a disputa, existe um
desacordo profundo sobre a essência da celebração
litúrgica, sua origem, seus ministros e sua forma correta.
Trata-se, em suma, da questão da estrutura fundamental da
liturgia; duas concepções fundamentalmente diferentes se
confrontam aqui, mais ou menos conscientemente. A nova
imagem da liturgia se pode resumir com os conceitos
chaves por ela cunhados: criatividade, liberdade,
celebração, comunidade. Segundo essa concepção, o rito,
as exigências cerimoniais, a interioridade, a ordenação
geral da Igreja aparecem como noções negativas que
caracterizam uma etapa da ‘antiga liturgia’ que deve ser
ultrapassada… Antes de tudo, digamos claramente que a
verdadeira oposição não se situa entre livros antigos e
livros novos, mas entre liturgia comum a toda a Igreja e
liturgia autofabricada. O maior obstáculo à assimilação
pacífica das formas litúrgicas renovadas é a impressão que
se poderia ter de que a liturgia é, de agora em diante,
deixada ao espírito de invenção de cada um” [181].
Ainda sobre a falsa concepção da liturgia, infelizmente em
voga em muitos lugares, o então Cardeal Ratzinger
explicava que isso deriva de uma recusa da noção de
pecado e de uma concepção errônea sobre Cristo, como se
o fato de reconhecê-lo como Deus o afastasse de nossa
pobre condição humana. Essa concepção modernista se
traduz em exegese por uma distinção entre o Jesus do
Evangelho, que seria o da fé, e o Jesus real da história. As
conseqüências sobre a liturgia logo aparecem: “É porque
não há naturalmente mais lugar para um Filho de Deus,
que vem ao mundo para nos salvar do pecado e que, para
fazê-lo, morre na cruz. Eis o que explica… a metamorfose
profunda na compreensão do culto e da liturgia, que se
espalhou nesses últimos tempos – depois de ter sido
preparada desde longa data: seu primeiro objeto não é
Deus, nem o Cristo, mas os que celebram o culto. E o
primeiro sentido desse culto não pode evidentemente ser
mais a adoração… Não se trata mais de expiação, de
sacrifício, para o perdão dos pecados… É por isso que
pertence à comunidade criar ela mesma sua liturgia e não
de receber tradições tornadas incompreensíveis; a
comunidade se representa e se celebra ela mesma” [182].
27. O Ofertório da Missa na forma antiga.
O Ofertório da Missa na forma antiga é perfeitamente
ortodoxo e de grande alcance doutrinal, pois, no dizer do
então Cardeal Joseph Ratzinger, “as orações de
apresentação das oferendas da Missa antiga, que os mais
velhos entre nós conhecemos e apreciamos, e que às vezes
misturamos na nova forma da Missa eram belas e
profundas orações…” [183], e continham um alto
significado místico e teológico: não se tratava de oferecer
simplesmente pão e vinho, mas já, antecipadamente, o
sacrifício, pois a hóstia é já chamada de “vítima
imaculada”. Entre os Bizantinos, designa-se a hóstia com
o nome de “Cordeiro”. No rito dominicano, dando a
patena ao celebrante, o diácono lhe diz: “Imola a Deus
este sacrifício de louvor”.
Uma boa explicação nos dá Dom Paulo Tirot, O.S.B.,
monge de Solesmes: “A oração litúrgica da Igreja não
segue nossa lógica cartesiana: ela antecipa, ela lembra, ela
vai, ela vem, com uma liberdade que é a do espírito de
Deus e da poesia. É uma das críticas que se pode fazer à
recente reforma litúrgica, de ter querido ‘racionalizar’ a
oração litúrgica, querendo colocar aí uma ‘ordem’ que não
existe no seu espírito e de tê-la assim despoetizado.
Começa-se a se dar conta disso e a sentir saudade do
lirismo da antiga liturgia… O padre, falando em seu
próprio nome, implora, antes de entrar na grande oração
eucarística e sacrifical, o perdão de suas faltas e insiste
muito oportunamente sobre o caráter sacrifical da oferenda
que ele vai fazer in persona et virtute Christi. Este caráter
é, com efeito, muito discretamente expresso nas orações
consecratórias: este é o meu Corpo entregue por vós, este
é o cálice do meu Sangue que será derramado por
vós. Era, portanto, muito útil que a Igreja, na consciência
maior que ela tomava do aspecto essencialmente sacrifical
da missa, insistisse sobre este caráter nas orações do
ofertório. O Concílio de Trento compreendeu a
oportunidade disso contra a heresia que o negava. É talvez
mais urgente do que nunca sublinhá-lo” [184]. Certamente
por isso que o então Cardeal Ratzinger dizia: “… as
orações de apresentação das oferendas da Missa antiga,
que os mais velhos entre nós conhecemos e apreciamos, e
que às vezes misturamos na nova forma da Missa. Eram
belas e profundas orações…” [185].
28. A comunhão na boca.
Ao invés da comunhão na mão, na Missa na forma
extraordinária do Rito Romano a comunhão é dada na
boca, “por causa do sentido da reverência devida a este
Santíssimo Sacramento e da humildade com a qual ele
deve ser recebido”, conforme nos explica o Papa Paulo VI:
“É verdade que, segundo o antigo costume, os fieis
puderam antigamente receber esse alimento divino na mão
e levá-lo eles mesmos à boca… Entretanto, as prescrições
da Igreja e os textos dos Padres atestam abundantemente o
profundíssimo respeito e as grandíssimas precauções que
cercavam a santa Eucaristia. Assim: ‘Que ninguém…
coma essa carne se antes não a adorou’ (Santo Agostinho);
e a todo aquele que a come é dirigida a advertência:
‘Receba isso, vigiando para nada perder dele’ (São Cirilo
de Jerusalém);: ‘pois é o Corpo de Cristo’ (Santo Hipólito)
… Com o passar do tempo, quando a verdade e a eficácia
do mistério eucarístico, assim como a presença de Cristo
nele, foram perscrutadas com mais profundidade, o
sentido da reverência devida a este Santíssimo Sacramento
e da humildade com a qual ele deve ser recebido exigiram
que fosse introduzido o costume que seja o ministro
mesmo que deponha sobre a língua do comungante uma
parcela do pão consagrado” [186].
Assim, as razões para se dar a comunhão na boca, costume
conservado na Missa na forma antiga, são dadas pelo Papa
Paulo VI: “Levando em conta a situação atual da Igreja no
mundo inteiro, essa maneira de distribuir a santa
comunhão deve ser conservada, não somente porque ela
tem atrás de si uma tradição multissecular, mas sobretudo
porque ela exprime a reverência dos fiéis para com a
Eucaristia. Ademais, esse modo de faze-lo não fere em
nada a dignidade da pessoa daqueles que se aproximam
desse sacramento tão elevado, e é apropriado à preparação
requerida para receber o Corpo do Senhor da maneira mais
frutuosa possível. Essa reverência exprime bem a
comunhão, não ‘de um pão e de uma bebida ordinários’
(São Justino), mas do Corpo e do Sangue do Senhor, em
virtude da qual ‘o povo de Deus participa dos bens do
sacrifício pascal, reatualiza a nova aliança selada uma vez
por todas por Deus com os homens no Sangue de Cristo, e
na fé e na esperança prefigura e antecipa o banquete
escatológico no Reino do Pai’ (Sagr. Congr. Dos Ritos,
Instrução Eucharisticum Mysterium, n.3). Por fim, através
dessa maneira de agir que deve já ser considerada
tradicional, assegura-se mais eficazmente que a santa
comunhão seja administrada com a reverência, o decoro e
a dignidade que lhe são devidos de sorte que seja afastado
todo o perigo de profanação das espécies eucarísticas, nas
quais, ‘de uma maneira única, Cristo total e todo inteiro,
Deus e homem, se encontra presente substancialmente e
de um modo permanente’(Sagr. Congr. Dos Ritos,
Instrução Eucharisticum Mysterium, n. 9); e para que se
conserve com diligência todo o cuidado constantemente
recomendado pela Igreja no que concerne aos fragmentos
do pão consagrado: ‘O que tu deixaste cair, considera que
é como uma parte dos teus membros que foi amputada’
(São Cirilo de Jerusalém)…” [187].
E Paulo VI explica por que motivo não convém mudar
essa forma de dar a comunhão na boca para dá-la na mão:
Com efeito, uma mudança que fosse feita em uma matéria
tão importante, em um modo de agir que se apóia em uma
tradição muito antiga e venerável, não somente diz
respeito à disciplina, mas pode também comportar perigos
que, como se teme, nasceriam eventualmente dessa nova
maneira de distribuir a santa comunhão, quer dizer, uma
menor reverência para com o augusto sacramento do altar;
uma profanação desse sacramento; ou uma alteração da
verdadeira doutrina …” [188].
29. A celebração “versus Orientem” e não “versus
populum”.
A Missa na forma antiga do Rito Romano é normalmente
celebrada “versus Orientem”, voltada simbolicamente para
o Oriente, que simboliza o Senhor, ficando o celebrante e
os fiéis voltados para a mesma direção, o que tem um
significado teológico bem explicado pelo então Cardeal
Joseph Ratzinger: “A orientação da oração comum aos
padres e fiéis – cuja forma simbólica era geralmente em
direção ao Oriente, quer dizer ao sol nascente – era
concebida como um olhar voltado para o Senhor, para o
verdadeiro sol. Há na liturgia uma antecipação do seu
retorno; padres e fiéis vão ao seu encontro. Esta orientação
da oração exprime o caráter teocêntrico da liturgia; ela
obedece à advertência: voltemo-nos para o
Senhor!” [189]. Mas, “depois do Concílio (que, ele
mesmo, não fala da ‘disposição voltada para o povo’), em
toda parte se construíram novos altares; a celebração
orientada versus populum aparece hoje como sendo o
verdadeiro fruto da renovação operada pelo Concílio
Vaticano II. De fato, essa é a conseqüência mais visível de
uma transformação que não significa apenas uma diferente
arrumação exterior do espaço litúrgico, mas implica
também uma nova concepção da essência da liturgia como
refeição comunitária… Escutemos a propósito o que
escreve Louis Bouyer: ‘A idéia que uma celebração
voltada para o povo teria podido ser uma celebração
primitiva, e em particular a da ceia eucarística, não tem
outro fundamento senão uma errônea concepção do que
podia ser uma refeição na antiguidade, cristã ou não. Em
nenhuma refeição do início da era cristã o presidente de
uma assembléia de comensais estava de frente aos outros
participantes. Estes estavam todos sentados, ou reclinados,
no lado oposto de uma mesa em forma de sigma… De
nenhuma parte, portanto, na antiguidade cristã, teria
podido vir a idéia de se colocar em frente para o povo para
presidir uma refeição. O caráter comunitário da refeição
era ressaltado mesmo pela disposição contrária, isto é,
pelo fato de que todos os participantes se encontrassem do
mesmo lado da mesa’… A Eucaristia não pode certamente
ser descrita com precisão com os termos ‘refeição’ ou
‘banquete’. De fato, o Senhor indubitavelmente instituiu a
novidade do culto cristão no âmbito de um banquete
pascal hebraico, mas nos ordenou repetir esta novidade,
não o banquete como tal. Por isso mesmo, a novidade
muito depressa se libertou de seu antigo contesto e
encontrou uma forma que lhe é própria, que tinha sido já
antecipada pelo fato de que a Eucaristia conduz à cruz e,
portanto, à transformação do sacrifício do templo na
liturgia racional. Outra conseqüência é que a liturgia
sinagogal da palavra foi renovada e aprofundada
cristãmente, permeada da memória da morte e ressurreição
de Cristo e, por isso mesmo, ficou fiel ao dever do ‘fazei
isto’… O conhecimento desse estado de coisas ficou
certamente obscurecido no curso da modernidade ou
mesmo perdido, tanto no modo de se construir as igrejas
quanto no de celebrar a liturgia. Só assim se pode explicar
o fato de que a orientação comum do sacerdote e do povo
tenha sido etiquetada como ‘celebração voltada para a
parede’ ou como ‘um mostrar as costas para o povo’,
etiqueta que, entretanto, se espalhou como sendo algo
absurdo e completamente inaceitável. Só assim se pode
explicar que a idéia do banquete… se tornou então
normativa para a celebração litúrgica dos cristãos. Na
verdade assim se introduziu uma clericalização que nunca
tinha acontecido antes. Ora, de fato, o sacerdote – ou, o
‘presidente’, como se prefere chamá-lo – se torna o
verdadeiro e próprio ponto de referência de toda a
celebração. Tudo termina sobre ele. É a ele que é
necessário olhar, é à sua ação que se toma parte, é a ele
que se responde; é a sua criatividade que sustenta o
conjunto da celebração. É ademais compreensível que se
procure depois reduzir esse papel… distribuindo
numerosas atividades e confiando-as ã ‘criatividade’ dos
grupos que preparam a liturgia, os quais querem e devem
antes de tudo ‘levar a si mesmos’. A atenção é sempre
menos voltada para Deus e é sempre mais importante o
que fazem as pessoas que se encontram e que não querem
de fato submeter-se a um ‘esquema predisposto’. O
sacerdote voltado para o povo dá à comunidade o aspecto
de um todo fechado em si mesmo. Ela não está mais – na
sua forma – aberta para frente e para o alto, mas se fecha
sobre si mesma. O ato pelo qual se voltavam todos para o
Oriente não era ‘celebração voltada para a parede’, não
significava que o sacerdote ‘voltava as costas ao povo’:
ele não era pois considerado tão importante. De fato, como
na sinagoga todos olhavam juntos para Jerusalém, assim
aqui se volviam juntos ‘para o Senhor’. Para usar a
expressão de um dos padres da constituição litúrgica do
Concílio Vaticano II, J. A. Jungmann, trata-se antes de
uma mesma orientação do sacerdote e do povo, que
sabiam estar caminhando juntos para o Senhor. Eles não se
fechavam em círculo, não se olhavam reciprocamente,
mas, como povo de Deus a caminho, estão de partida para
o Oriente, para Cristo que avança e que vem ao seu
encontro…   A orientação comum para o Oriente durante o
Cânon continua essencial. Não se trata de um elemento
acidental da liturgia. Não é importante o olhar voltado
para o sacerdote, mas a adoração comum, o andar ao
encontro dAquele que vem. A essência do evento não se
exprime pelo círculo fechado em si mesmo, mas a
pertença comum, que se exprime na direção
comum” [190].
30. A boa Música Sacra na Liturgia na forma
tradicional.
Sobre a Música Sacra no atual período pós-conciliar, o
então Cardeal Ratzinger fazia o seguinte comentário: “Nos
anos transcorridos desde então, se tornou patente um
alarmante e crescente empobrecimento, que surge quando
se fecha a porta na Igreja à ‘beleza sem sentido’ [no sentir
de alguns] e se fica subordinado ao ‘útil’ [o Cardeal havia
falado antes da distinção entre música sacra no sentido
estrito e música de uso]. Mas o estremecimento que
provoca a liturgia pós-conciliar, que perdeu o brilho, ou
simplesmente o aborrecimento que cria com seu interesse
pelo banal ou suas poucas pretensões artísticas, não
esclarecem nosso questionamento… Seja como for, uma
coisa ficou clara depois das experiências dos últimos anos:
a volta do utilitário não fez a liturgia mais aberta, senão
mais pobre. A simplicidade necessária não se pode
conseguir mediante um empobrecimento” [191].
E o então Cardeal Ratzinger insistia: “Liturgia ‘simples’
não significa liturgia verrrrrrrrrrrrrrrrrrrr mísera ou reles:
existe a simplicidade que provém do banal e uma outra
que deriva da riqueza espiritual, cultural e histórica.
Também nisso, deixou-se de lado a grande música da
Igreja em nome da ‘participação ativa’, mas essa
‘participação’ não pode, talvez, significar também o
perceber com o espírito, com os sentidos? Não existe nada
de ‘ativo’ no intuir, no perceber, no comover-se? Não há
aqui um diminuir o homem, reduzindo-o apenas à
expressão oral, exatamente quando sabemos que aquilo
que existe em nós de racionalmente consciente e que
emerge à superfície é apenas a ponta de um iceberg, com
relação ao que é a nossa totalidade? Questionar tudo isso
não significa, evidentemente, opor-se ao esforço para fazer
cantar todo o povo, opor-se à música ‘utilitária’. Significa
opor-se a um exclusivismo (somente tal música), não
justificado nem pelo Concílio nem pelas necessidades
pastorais” [192].
E mais: “A música sacra tem que ser humilde; seu objetivo
não é o aplauso, mas sim a ‘edificação’. O fato de o
intérprete permanecer anônimo na disposição do coro da
casa de Deus, diferentemente de estar na sala de concertos,
corresponde exatamente à natureza da música
sacra” [193]. E ele criticava “esse racionalismo banal da
época pós-conciliar, que só considera digno da liturgia o
que se pode por em prática de modo racional para todo o
mundo, chegando assim a uma proscrição da arte e uma
banalização progressiva da palavra”, acrescentando o
comentário de Santo Tomás: “Ainda que os ouvintes não
entendam o que se canta, entendem sim para que se canta:
para louvar a Deus. E isso basta para despertar os homens
para Deus” (Q. 91 a 2 opp. 5 e ad 5)” [194].
31. A riqueza e o valor do Latim na Liturgia.
Na Missa celebrada na forma antiga do Rito Romano se
conserva predominantemente a língua latina – uma língua
fixa, não uma língua morta – que, no dizer de São Pio X,
“é a língua própria da Igreja Romana” [195]. Segundo o
Papa Pio XI, “a Igreja, que agrupa em seu seio todas as
nações, que está destinada a viver até a consumação dos
séculos… tem necessidade, pela sua própria natureza, de
uma língua universal, definitivamente fixada, que não seja
uma língua vulgar” [196].  Além disso, como ensinava o
Papa Venerável Pio XII, “o uso da Língua Latina é um
claro e nobre sinal de unidade e um eficaz antídoto contra
todas as corruptelas da pura doutrina” [197]. Aliás, o
mesmo ressaltava a Congregação para o Culto Divino: “A
unidade da Igreja é valorizada de uma maneira particular
pelo uso do latim e do canto gregoriano” [198]. E
conservando-se predominantemente o latim na forma
antiga da liturgia, ganha-se muito em matéria de
comunhão eclesial, pois, como dizia o Papa João Paulo I,
“o Latim exprime de maneira palmar e eficaz a unidade e
a universalidade da Igreja” [199].
Na verdade, a forma antiga do Rito Romano segue
exatamente a regra do Papa Beato João XXIII: “Que o
antigo e jamais interrompido uso da Língua Latina seja
mantido, e onde houver caído quase em abandono, seja
absolutamente restabelecido” [200]. – “Ninguém por afã
de novidade escreva contra o uso da Língua Latina… nos
sagrados ritos da Liturgia.” [201]. – “A língua latina, que
com todo o direito podemos chamar católica, pois é
própria da Sé Apostólica, mãe e mestra de todas as Igrejas,
e consagrada pelo uso perene, deve ser mantida como
tesouro de incomparável valor” [202].  E ele dava o
motivo: “É necessário que a Igreja use uma língua não só
universal, mas também imutável. Se, de fato, as verdades
da Igreja Católica fossem confiadas a algumas ou a muitas
línguas modernas, que estão sujeitas a contínua mudança,
e, ainda, nenhuma delas tem sobre as outras maior
autoridade e prestígio, resultaria, sem dúvida alguma que,
devido às suas variações, não seria manifestado a muitos
com suficiente precisão e clareza o sentido de tais
verdades” [203].
E foi isso o que foi preceituado pelo Concílio Ecumênico
Vaticano II: “Seja conservado o uso da Língua Latina nos
Ritos Latinos… Providencie-se que os fiéis possam
juntamente rezar ou cantar em Língua Latina as partes do
Ordinário que lhes competem… A Igreja reconhece como
canto próprio da liturgia romana, o canto gregoriano;
portanto, na ação litúrgica, ocupa o primeiro lugar entre
seus similares” [204].
CONCLUSÃO
Os que procuram com retidão a verdade a encontrarão
certamente. Não se deve ter medo da verdade. A verdade é
o reflexo de Deus. “Conhecereis a verdade e a verdade nos
fará livres” (Jo 8, 32).
Livres de preconceitos, as conclusões do que ficou acima
demonstrado se impõem por si mesmas.
Ficou, pois, claramente demonstrado que a Missa
celebrada na forma ordinária do Rito Romano é
perfeitamente católica e legítima.
Ademais, por tudo o que temos explicado, o legítimo amor
e preferência pela riqueza litúrgica do rito tradicional e,
portanto, pela sua conservação, são baseados em
verdadeiros e sadios motivos, de acordo com a doutrina
católica.
Não é, pois, simplesmente porque somos saudosistas ou
sentimentalmente apegados ao “folclore”, às formas
passadas da Liturgia. Não é por negarmos o poder do Papa
de modificar e promulgar as leis litúrgicas, pois isso seria
contra o dogma do supremo poder do Papa. Mas sim por
sérios motivos teológicos, litúrgicos, históricos, estéticos e
espirituais, legitimamente reconhecidos pela Igreja.
Sendo assim, sem julgar os outros nem nos considerarmos
melhores do que ninguém em nossa família católica, nós
conservamos a Santa Missa na forma antiga tradicional do
Rito Romano, por ser uma das riquezas litúrgicas
católicas, exprimindo, através dela, o nosso amor pela
Santa Igreja e nossa comunhão com ela e contribuindo
modestamente para o enriquecimento e sacralização da
Liturgia.
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[1] Bento XVI, carta aos Bispos que acompanha o Motu
Próprio Summorum Pontificum, 7-7-2007.[2] João Paulo
II, carta apostólica Vigesimus quintus annus, n. 16,
4/12/1988. [3] Catecismo da Igreja Católica (C.I.C.) nn.
1407, 1409 e 1414. [4]Código de Direito Canônico
(C.D.C.), cânon 897[5] Papa Venerável Pio XII, Encíclica
Mediator Dei, n. 73. [6] Cf. C.I.C. nº 1206. [7] C.I.C.  nº
1208. [8] C.I.C. n. 1201. [9] Paulo VI, Constituição
Apostólica Missale Romanum, de 3/4/1969 [10]“… Nele
também muitos santos alimentaram copiosamente a sua
piedade para com Deus, haurindo-a tanto das leituras da
Sagrada Escritura como das suas orações, cuja parte
principal fora organizada por São Gregório Magno”
(Paulo VI, Constituição Apostólica Missale Romanum, de
3/4/1969). [11] Joseph Ratzinger, La mia vita, pag. 11-
112). [12] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, Desclée de
Brouwer, pág. 116 e 117. [13] 2151 votantes, 2147 placet,
4 non placet. [14] Com relação ao período pós Concílio
Vaticano II, o Papa Bento XVI, fazendo uma analogia,
lembrou o comentário de São Basílio que descreveu o que
aconteceu após o Concílio de Nicéia, comparando aquele
período a uma batalha naval na escuridão da tempestade,
onde ‘o grito rouco daqueles que, pela discórdia, se
levantam uns contra os outros, os palavreados
incompreensíveis e o ruído confuso dos clamores
ininterruptos já encheram quase toda a Igreja, falsificando,
por excesso ou por defeito, a reta doutrina da fé…’ (De
Spiritu Sancto, XXX, 77; PG 32, 213 A; Sch 17 bis, pág.
524)” (Bento XVI, discurso à Cúria Romana, 22 de
dezembro de 2005). [15] “Por um lado, existe uma
interpretação que gostaria de definir “hermenêutica da
descontinuidade e da ruptura”; Por outro lado, há a
“hermenêutica da reforma”, da renovação na
continuidade… A hermenêutica da descontinuidade corre
o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-
conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela afirma que os textos
do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira
expressão do espírito do Concílio. À hermenêutica da
descontinuidade opõe-se a hermenêutica da reforma… ‘É
necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser
fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de
modo que corresponda às exigências do nosso tempo. De
fato, uma coisa é o depósito da fé, isto é, as verdades
contidas na nossa veneranda doutrina, e outra coisa é o
modo com o qual elas são enunciadas, conservando nelas,
porém, o mesmo sentido e o mesmo resultado’ (Papa João
XXIII)” (Papa Bento XVI – Discurso à Cúria Romana, 22
de dezembro de 2005).[16]Teologia da Liturgia –
Conferência do Cardeal Joseph Ratzinger nas “Journées
liturgiques de Fontgombault, 22-24 de julho de 2001, na
Abadia Notre-Dame de Fontgombault,
França. [17]Conferência de 24 de outubro de 1998, em
Roma.[18] João Paulo II, Audiência de 26 de outubro de
1998. [19] Bento XVI, carta aos Bispos que acompanha o
Motu Próprio Summorum Pontificum. [20] Idem,
ibidem. [21] Seu título é: ”Constituição Apostólica
Missale Romanum pela qual se promulga o Missal
Romano, restaurado segundo o Decreto do Concílio
Ecumênico Vaticano II, para perpétua
memória”. [22]Tradução da Santa Sé – cf.
http://www.vatican.va/holy  father
/paul_vi/apost _constitutions/documents/hf_pvi_apc_196
90403_missale-romanum_po.html).[23] Cf. Bento XVI,
Carta aos Bispos que acompanha o Motu Proprio
Summorum Pontificum. [24] Idem ibidem. [25] O ato
verdadeiramente do magistério, e que merece a assistência
do Espírito Santo, é o texto em sua plena formulação
objetiva, promulgado pelo Papa, não interessando a
opinião particular que tenham podido sustentar Mons.
Aníbal Bugnini ou os membros do Consilium. Casos
semelhantes já ocorreram na história, quando o redator de
uma encíclica papal emitiu opinião interpretativa da
encíclica que discordava do texto formulado
objetivamente e promulgado pelo Papa, único
evidentemente válido como ato do magistério, não
importando a idéia do redator. O mesmo se aplica ao
Concílio Vaticano II, do qual “o ato verdadeiramente
conciliar, como ato da Igreja, e que merece a assistência
do Espírito Santo, é o texto em sua plena formulação
objetiva, aprovado por ato definitivo da Assembléia
Conciliar e do Soberano Pontífice, não interessando a
opinião particular que tenham podido sustentar certos
Padres conciliares a respeito” (Pe. Julio Meinvielle,
livro De Lamennais a Maritain, apêndice II A declaração
conciliar sobre liberdade religiosa e a doutrina
tradicional, Ediciones Theoria, Buenos Aires,
1967). [26] Constituição Dogmática Pastor Aeternus –
Denzinger-Shönmetzer (D-S 3060). [27]Concílio de
Trento, sessão XXI, cap. 2 (D-S 1728)[28] Pio XII,
Encíclica Mediator Dei, n. 44 e 45.[29] Cânon 841: “Já
que os sacramentos são os mesmos para toda a Igreja e
pertencem ao depósito divino, compete unicamente à
suprema autoridade da Igreja aprovar ou definir os
requisitos para sua validade, e cabe a ela ou a outra
autoridade competente, de acordo com o cân. 838, §§ 3 e
4, determinar o que se refere à sua celebração,
administração e recepção lícita, e à ordem a ser observada
em sua celebração”. [30] C.I.C. nº 820.[31] Concílio
Ecum. Vaticano I, Const, Dog. “Pastor Aeternus”, sobre a
Igreja de Cristo, D-S 3070 e 3071 [32] Idem,
ibidem. [33] C.I.C. n.º 2035. [34] Pio XII,
Encíclica Mediator Dei, n. 43.[35] Quod. IX, q.8, a.1. “Si
vero consideretur Divina Providentia, quae Ecclesiam
suam Spiritu Sancto dirigit ut non erret, sicut ipse
promisit, (Ioann. XIV,26), quod Spiritus adveniens doceret
omnem veritatem, de necessariis scilicet ad salutem;
certum est quod iudicium Ecclesiae universalis errare in
his quae ad fidem pertinent, impossibile est. Unde magis
est standum sententiae Papae, ad quem pertinet
determinare de fide, quam in iudicio profert, quam
quorumlibet sapientum hominum in Scripturis opinioni…”
Corpus Thomisticum Sancti Thomae de Aquino – opera
omnia –  Quodlibet IX, q. 8 co – Versão Leonina –
Fundación Tomás de Aquino – 2000-2009 – Universidad
de Navarra – site:
HTTP://www.corpusthomisticum.org/index.html[36] Papa
Pio VI, Const. Auctorem fidei, condenação dos erros do
Sínodo de Pistóia, jansenista: “A prescrição do Sínodo…
depois de ter dito que ‘em qualquer artigo se é preciso
distinguir o que pertence ao fim ou à essência da religião
daquilo que é próprio da disciplina’, acrescenta que ‘nessa
mesma (disciplina) é preciso distinguir daquilo que é
necessário ou útil que os fiéis guardem no espírito, o que é
inútil ou pesado demais para que a liberdade dos filhos da
nova aliança o suporte, e mais ainda, o que é perigoso ou
nocivo, por induzir à superstição ou ao materialismo; dado
que pela generalidade das palavras abraça e expõe ao
exame acima descrito também a disciplina instituída e
aprovada pela Igreja , como se a Igreja, que é conduzida
pelo Espírito de Deus, pudesse estabelecer uma disciplina
não somente inútil e pesada demais para que a liberdade
cristã a suporte, mas também perigosa, nociva e induzindo
à superstição e ao materialismo;  é falsa, temerária,
escandalosa, perniciosa, ofensiva aos ouvidos pios,
injuriosa para a Igreja e para o Espírito de Deus por quem
ela é conduzida, no mínimo errônea” (Denzinger-
Hünermann, 2678). [37] “Seria verdadeiramente
reprovável e muito alheio à veneração com que devem ser
recebidas as leis da Igreja condenar por um afã
caprichoso de opiniões quaisquer a disciplina por ela
sancionada e que abrange a administração das coisas
sagradas, a norma dos costumes e os direitos da Igreja e
seus ministros, ou censurá-la como oposta a determinados
princípios do direito natural ou apresentá-la como
defeituosa ou imperfeita, e submetida ao poder civil.”
(Gregório XVI, Encíclica Mirari Vos, 9 (1932). [38] (Pio
XII, Encíclica Mystici Corporis, 65). [39] Essa aceitação
da nova liturgia da Missa por toda a Igreja docente (Papa e
todos os Bispos em comunhão com ele) durante 40 anos
fala em favor da sua legitimidade. Existe um paralelo:
Santo Afonso de Ligori afirma que, se um Papa tiver sido
eleito de modo ilegítimo ou por fraude, basta que ele em
seguida seja aceito por toda a Igreja para se tornar
verdadeiro pontífice (Verità della fede, in Opere…, vol.
VIII, p. 720, n. 9). [40]Controversiarum de conciliis, Liber
III qui est de Ecclesia Militante…, cap XIV: Ecclesiam
non posse errare, in Opera omnia, éd. J. Fèvre, Vives,
1870, t. II, p. 351. [41] Dom Antônio de Castro Mayer –
Monitor Campista, 26/1/1986. [42] Const. Auctorem
Fidei, Papa Pio VI, Denz-Sho 2601. [43]Cf. Joaquín
Salaverri, S.J., Sacrae Theologiae Summa, t. I,  De
Ecclesia Christi, Tese XXI (BAC, Madrid). [44] J. M.
Hervé, cônego, “Manuale Theologiae Dogmaticae”, vol. I,
p. 508. [45] Joseph Haegy, C. S. SP., “Manuel de
Liturgie” t. I, p 2..[46] “Ius Canonicum”, tom. II, p. 410;
ver também tom. I, p. 278. Ver tb. Hervé, o.c. pág.
510. [47]Adolphe Tanquerey, P.S.S.,Synopsis Theol.
Dogm. Fundamentalis, n.
932. [48] Hermannm, Institutuiones Theologiae
Dogmaticae Roma, 4 ed., Roma: Della Pace, 1908, vol. 1,
p. 258.[49] John P.M. van der Ploeg, O P., doutor e mestre
em Teologia, doutor em Sagrada Escritura, professor
emérito da Universidade de Nimega, membro da
Academia Real de Ciências da Holanda, no prefácio do
Livro “I am with you allways” (Eu estou convosco
sempre) de Michael Davies, escritor tradicional, presidente
da Una Voce internacional. [50] Pio IX, Ep. Tuas
Libenter(1863), Denz-Sho 2879. [51] Pio IX, Ep. Tuas
Libenter (1863), Denz-Sho 2880. [52] Joseph Ratzinger,
LA SAL DELA TIERRA, quién es y como piensa
Benedicto XVI”, Ediciones Palabra, Madrid, 10ª edição,
pág 195. [53] Concílio Vaticano II, Constituição
Dogmática Dei Verbum, 8 e 10. [54] CIC n.
85. [55] Discurso na Assembléia Plenária da Congregação
para a Doutrina da Fé, em 15 de janeiro de
2010. [56] Alocução “Cum vera soddisfazione”, de
10/5/1909. [57] Encíclica Humani Generis, n.
18. [58] Carta do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston,
Denz-Sho 3866. [59]Conc. Ecum. Vat. II, Const.
Dogmática Dei Verbum, 10 e Catecismo da Igreja
Católica, n. 100[60] Conc. Ecum. Vat. II, Const.
Dogmática Dei Verbum, 10 [61] Cf Leão XIII, Encíclica
Satis Cognitum, 13. [62] Dom Antônio de Castro Mayer,
Carta Pastoral sobre a preservação da Fé e dos bons
costumes, inciso “O Magistério não invalível”, de 2 de
fevereiro de 1967. [63] Dom Antônio de Castro Mayer,
Veritas abril-maio/1980, pág 8. [64] Summa Theologica,
II-II, q. 10, a.12, [65] “Ego vero Evangelio non crederem,
nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas” –
Contra epistulam Manichaei quam vocant fundamenti, 5,6:
PL 42,176 – Apud C.I.C. 119. [66] Congregação para a
Doutrina da Fé, Instrução Donum Veritatissobre a vocação
eclesial do Teólogo, nn 28 e 38, de 24 de maio de 1990,
assinada pelo Cardeal Joseph Ratzinger, aprovada e
mandada publicar pelo Papa João Paulo II. Essa Instrução
(nn. 25 e ss) explica muito claramente as condições de
uma justa crítica do Magistério. Ela supõe, de partida, uma
verdadeira competência da parte da pessoa que manifesta
uma oposição, que deve ser dirigida a Roma sem
publicidade nem polêmica, num espírito de pedido de
explicações e de se submeter antecipadamente às respostas
dadas. [67] Por exemplo a Encíclica Ecclesia de
Eucharistia(17/4/2003), onde o Santo Padre o Papa João
Paulo II, além de ressaltar os dogmas da presença real e do
sacerdócio ministerial distinto do sacerdócio dos fiéis, fala
48 vezes no caráter sacrifical da Santa Missa. O Catecismo
da Igreja Católica (de 1997) ensina com clareza o caráter
sacrifical da Missa (n. 1330, 1365-1367), enfatizando o
seu aspecto propiciatório (n. 1367). Veja-se também a
última precisão doutrinária a respeito da tradução do “pro
multis”, feita pela Congregação para o Culto Divino em
17/10/2006. [68] Encíclica Satis Cognitum,
20. [69] Constituição Dogmática Pastor Aeternus (D-S
3056). [70] Constituição Dogmática Pastor Aeternus (D-S
3070). [71] O Cardeal Castrillón, presidente da Pontifícia
Comissão Ecclesia Dei, lembrou isso no dia 30 de maio de
2008, nos Estados Unidos, no sermão da Missa de
Ordenação de padres da Fraternidade São Pedro: “Irmãos,
mostrai um profundo respeito pela forma ordinária do Rito
Romano concelebrando com vosso Bispo na Missa
Crismal da Quinta-Feira Santa; é conveniente de modo
particular este sinal de comunhão sacerdotal” (La Croix de
2 de junho de 2008). [72] Ratzinger, La Fiesta de la Fe,
Ensayo de Teologia Litúrgica,  Desclée de Brouwer,  p.
118. [73] A forma litúrgica que conservamos em nossa
Administração Apostólica, como nas comunidades em
geral ligadas a essa forma ritual, é a de 1962, como diz o
decreto “Animarum bonum”, de fundação da
Administração Apostólica: “… segundo o rito e a
disciplina litúrgica, conforme as prescrições de São Pio V,
juntamente com as adaptações introduzidas por seus
sucessores até o Bem-aventurado João XXIII”. A liturgia
tradicional não ficou, pois, fixa no Concílio de Trento nem
em São Pio V. [74]Ratzinger, La Fiesta de la Fe, Desclée
de Brouwer, pág. 116 e 117. [75] Idem, ibidem, pág. 113-
114.[76] Alocução “Cum Vera Soddisfazione,
10/5/1909. [77] João Paulo II, Carta Apostólica Vigesimus
quintus annus, de 4/12/1988, n. 10, 11, 23 e
24. [78] Carta Dominicae Cenae, 24/2/1980, n.º
12. [79] Vittorio Messori, no prefácio ao livro “La
Riforma di Benedetto XVI” de Nicola Bux.[80] Joseph
Ratzinger, Préface à «La Reforme liturgique en question »,
de Mgr. Klaus Gamber, Éditions Sainte-Madeleine, 1992,
pag. 6 e 7. [81]Joseph Ratzinger, “La Eucaristía centro de
la vida”, pág. 72-76, Edicep, 2005. [82] Idem, ibidem,
pag. 76 e 77. [83] Ambrósio de Milão, Explicação do
Símbolo, IV Livro, 25, Paulus 1996,
Patrística. [84]Teologia da Liturgia – Conferência do
Cardeal Joseph Ratzinger nas “Journées liturgiques de
Fontgombault, 22-24 de julho de 2001, na Abadia Notre-
Dame de Fontgombault, França. Na audiência de 19 de
novembro de 1969, o Papa Paulo VI afirmara que a
reforma “é um passo avante na linha da sua tradição
autêntica”, insistindo: “Que fique bem entendido que nada
mudou na substância de nossa Missa tradicional… porque
como o novo rito a Missa é e permanece a de sempre”. E
na audiência de 26 de novembro de 1969, ele confirmava:
“Se se examina bem, se verá que a Missa guardou
fundamentalmente sua linha tradicional, não somente no
seu sentido teológico, mas também no seu sentido
espiritual”. [85]Michael Davies, 31 de maio de 1997,
Introdução à segunda edição do seu livro “I am with you
always” (Eu estou convosco sempre), The Newman Press.
Michael Davies (*1936- +2004) foi presidente
internacional da UNA VOCE, movimento em defesa da
Missa Tradicional, existente em mais de 40 países, sendo
seu presidente efetivo de 1995 a 2003 e presidente de
honra de 2003 a 2004. Ele é autor de dezenas de livros em
defesa da Tradição, sobretudo da liturgia
tradicional. [86] Summa Theologica, I-II, q. LXIV.
[87] Encíclica Mystici Corporis, n. 40. [88] “Extra
Ecclesiam catholicam totum potest praeter salutem. Potest
habere honorem, potest habere Sacramenta, potest cantare
Alleluia, potest respondere Amen, potest Evangelium
tenere, potest in nomine Patris et Filii et Spiritus sancti
fidem habere et praedicare: sed nusquam nisi in Ecclesia
catholica salutem poterit invenire” – Sermo ad
Caesariensis Ecclesiae plebem, 6, PL 43. [89] Encíclica
Ecclesia de Eucharistia, n. 35. [90] Smyrn., 8,1. Cf.
também todo o n. 1369 do Catecismo da Igreja Católica.
[91] Michael Davies, introdução à primeira edição do seu
livro citado acima “I am with you allways” – Eu estou
convosco sempre”, 19/7/1986, pag. 13.[92] Summa
Theologica, 2a-2ae, q. 39, art. 1. [93]“Bilan et perspectives
– Conferência do Cardeal Joseph Ratzinger nas “Journées
liturgiques de Fontgombault, 22-24 de julho de 2001, na
Abadia Notre-Dame de Fontgombault, França. [94] Santo
Tomás de Aquino, Decem praec. 6 (apud C.I.C.
1759). [95] João Paulo II, carta apostólica Vigesimus
quintus annus, n. 16, 4/12/1988. [96]Bento XVI, carta aos
Bispos que acompanha o Motu Proprio Summorum
Pontificum. [97] Esta nossa religiosa submissão leva em
conta a qualificação teológica de cada documento, como
foi estatuída pelo próprio Concílio (Notificação dada na
123a Congr. Geral, 16 nov.1964). Cf. Carta da
Congregação para a Doutrina da Fé, de 23 de dezembro de
1982, assinada pelo então Cardeal Joseph
Ratzinger. [98] Ou seja, doutrina “compreendida à luz da
santa Tradição e referida ao perene Magistério da própria
Igreja” (S. S. João Paulo II, Alocução ao Sacro Colégio, 5
nov. 1979).[99] “Dado o caráter pastoral do Concílio, ele
evitou pronunciar de uma maneira extraordinária dogmas
que comportassem a nota da infalibilidade, mas ele dotou
seus ensinamentos da autoridade do magistério ordinário
supremo; esse magistério ordinário e manifestamente
autêntico deve ser acolhido dócil e sinceramente por todos
os fiéis, segundo o espírito do concílio concernente à
natureza e os fins de cada documento” – Paulo VI,
audiência geral de 12 de janeiro de 1966. [100] O
“pernicioso espírito do Concílio”, que, conforme dizia
Bento XVI quando Cardeal, “é o antiespírito, segundo o
qual se deveria começar a história da Igreja a partir do
Vaticano II, visto como uma espécie de ponto zero.
Quantas antigas heresias reapareceram nestes anos
apresentadas como novidade!” (Joseph Ratzinger,
Rapporto sulla Fede, cap. II). [101] “Por um lado, existe
uma interpretação que gostaria de definir “hermenêutica
da descontinuidade e da ruptura”; Por outro lado, há a
“hermenêutica da reforma”, da renovação na
continuidade… A hermenêutica da descontinuidade corre
o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-
conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela afirma que os textos
do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira
expressão do espírito do Concílio. À hermenêutica da
descontinuidade opõe-se a hermenêutica da reforma… ‘É
necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser
fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de
modo que corresponda às exigências do nosso tempo. De
fato, uma coisa é o depósito da fé, isto é, as verdades
contidas na nossa veneranda doutrina, e outra coisa é o
modo com o qual elas são enunciadas, conservando nelas,
porém, o mesmo sentido e o mesmo resultado’ (Papa João
XXIII)” (Papa Bento XVI – Discurso à Cúria Romana, 22
de dezembro de 2005). [102] Cf. Nota da Secretaria de
Estado da Santa Sé, de 4 de fevereiro de
2009. [103] “Obviamente, para viver a plena comunhão,
também os sacerdotes das comunidades que aderem ao uso
antigo não podem, em linha de princípio, excluir a
celebração segundo os novos livros. De fato, não seria
coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do
novo rito a exclusão total do mesmo” (Carta do Papa
Bento XVI aos Bispos apresentando o Motu Próprio
Summorum Pontificum, 7 de julho de 2007). [104] Cf.
Carta da Congregação para a Doutrina da Fé, de 23 de
dezembro de 1982, assinada pelo então Cardeal Joseph
Ratzinger.[105] Bento XVI, carta aos Bispos que
acompanha o Motu Próprio Summorum
Pontificum. [106]Bento XVI, Motu próprio  Summorum
Pontificum,de 7/7/2007. [107] Entrevista à revista
americana Latin Mass , maio de 2003.   [108] Essa mesma
consternação e estupefação com a interdição da Missa de
São Pio V atingiu também muitos padres e fiéis, pelo
mundo afora. [109] Joseph Ratzinger, La mia vita,
Edizioni San Paolo, pág. 111 e112.[110] Cardeal Joseph
Ratzinger, O Sal da Terra, Imago, pág. 141-
142. [111] Ratzinger, Voici quel est notre Dieu. Croire e
vivre aujourd’hui, conversations avec Peter Seewald,
Plon-Mame, 2001, p. 291. [112] Cardeal Joseph Ratzinger,
O Sal da Terra, Imago, pág. 141-
142. [113] Ratzinger, Voici quel est notre Dieu. Croire e
vivre aujourd’hui, conversations avec Peter Seewald,
Plon-Mame, 2001, p. 291. [114] Papa João Paulo II, Carta
Apostólica – Motu próprio – Ecclesia Dei Adflicta,
2/7/1988. [115]Motu Proprio Summorum Pontificum,
artigos 2 e 4. [116]Motu Proprio Summorum Pontificum,
artigo 5, § 1. [117] Idem, ibidem, artigo 5, §§ 3 e
5. [118] Idem, ibidem, art. 7. [119] Idem, ibidem, art.
10. [120] João Paulo II, Motu Próprio Ecclesia Dei
Adflicta de 1o de julho de 1988. [121] Homilia
pronunciada na Missa celebrada no rito de São Pio V, na
Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, no dia 24 de
maio de 2003, em ação de graças pelo 25o aniversário do
pontificado do Papa João Paulo II, na presença de cinco
cardeais e milhares de sacerdotes e fiéis. Esta Missa
começou com a leitura de uma Mensagem do Papa, que
agradecia e se unia a todos os presentes.[122] Cardeal
Castrillón Hoyos, Entrevista à revista americana Latin
Mass, 5 de maio de 2004. [123]Bento XVI, Carta
Apostólica “motu próprio” Summorum Pontificum, de
7/7/2007. [124] Idem, ibidem. [125] Bento XVI está
consciente de que a Missa na forma antiga atrai almas
ávidas de uma liturgia mais “vertical”, quer dizer, mais
fundamentada sobre o aspecto mistérico do culto, e
particularmente os jovens. [126] Carta aos Bispos que
acompanha o Motu Proprio Summorum
Pontificum. [127] Entrevista à revista americana Latin
Mass, 5 de maio de 2004. [128] Idem, ibidem. [129] Carta
ao Sr. Glen Tattersal, presidente da Ecclesia Dei Society
da Austrália, em 11 de maio de 1990. [130] Bento XVI,
carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio
Summorum Pontificum. [131] Carta aos bispos
americanos, 19 de abril de 1991, distribuída na reunião da
Conferência Episcopal dos EEUU. [132]Joseph Ratzinger,
La mia vita, San Paolo, pág. 112 e 113.[133] Conferência
aos Bispos chilenos, Santiago, 13 de julho de
1988 [134] Paulo VI, Alocução de 29 de junho de
1972 [135] Cardeal Virgílio Noé, mestre das celebrações
litúrgicas de Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II –
Entrevista a “Petrus”, quotidiano on-line sobre o
Pontificado de Bento XVI, em 14 de maio de
2008. [136] João Paulo II, Encíclica Ecclesia de
Eucharistia, nn 10, 52, 61[137] Algumas das razões aqui
apresentadas, referindo-se negativamente à nova liturgia,
não se aplicam exatamente ao novo rito da Missa
celebrado tal qual foi promulgado pela Santa Sé e segundo
suas normas litúrgicas, Missas no rito novo celebradas
correta, respeitosa e piedosamente, mas sim às Missas
como são muitas vezes celebradas, onde os abusos
litúrgicos são freqüentes. [138] Homilia de 21 de julho de
1996.[139] “Integrismo e conservatismo” – Entrevista
com o Cardeal Gagnon, “Offerten Zitung – Römisches”,
nov.dez. 1993, p.35. [140] Expressão usada pelo então
Cardeal Ratzinger na Introdução ao livro La Réforme
Liturgique, de Mgr. Klaus Gamber, pag. 6 e 8). [141] A
Missa na forma antiga do Rito Romano ou Missa dita de
São Pio V, chamada pelo Papa Bento XVI de forma
extraordinária do Rito Romano, é às vezes chamada de
Missa Tradicional, embora essa expressão não seja
perfeitamente conveniente, pois leva a entender que ela
seria a única Missa tradicional, com a conseqüente errônea
exclusão dos ritos orientais ou da Missa de Paulo VI,
como se essas não tivessem também direito a serem
chamadas missas tradicionais, como veremos no curso da
argumentação. Quando, portanto, usamos essa expressão,
não é absolutamente com esse significado de
exclusividade. [142] “Quo fit ut in re liturgica vel ipsae
conferentiae Episcopales quandoque proprio marte plus
aequo procedant. Fit etiam, ut experimenta ad arbitrium
saepe habeantur et ritus inducantur, qui normis ab
Ecclesiae statutis aperte repugnant. Nemo est qui non
videat hanc agendi rationem non solum Christi fidelium
conscientiam graviter offendere, sed nocere ipsi ordinatae
renovationis liturgicae executioni, quae prudentiam,
vigilantiam, ac praesertim disciplinam ab omnibus
postulat” Discurso de S.S. Paulo VI na XI Plenária do
Consilium, 14 de outubro de 1968.[143] Conferência
pronunciada em Roma, em 24 de outubro de 1988, na
peregrinação pelo 10º aniversário do Motu Próprio
Ecclesia Dei. [144]Cardeal Joseph Ratzinger, O Sal da
Terra, Imago, pág. 140 [145] Cardeal Joseph Ratzinger, O
Sal da Terra, Imago, pág. 142. [146] Ratzinger, L’Esprit
de la liturgie, p. 133, 135-136. [147] Ratzinger, La Fiesta
de la Fe, ensaio de Teologia Litúrgica, Desclée de
Brouwer, pág. 84 e 85. [148] Ratzinger, La Fiesta de la Fe
pág. 114-115. [149] Ratzinger, Rapporto sulla Fede – A Fé
em crise? O cardeal Ratzinger se interroga – E.P.U.
tradução do Pe. Fernando José Guimarães CSSR, pág. 94-
95. [150]Joseph Ratzinger, LA SAL DELA TIERRA,
quién es y como piensa Benedicto XVI”, Ediciones
Palabra, Madrid, 10ª edição, pág 186; no Brasil, Imago
editora, pág. 140. [151] Entrevistas à agência I. Media, em
22 de junho de 2006, e ao jornal La Croix, em 25 de junho
de 2006 (cf. tb. Artigo “Desvios na Liturgia”, de Dom
Fernando Rifan, Folha da Manhã de
12/7/2006). [152] Joseph Ratzinger, LA SAL DELA
TIERRA, quién es y como piensa Benedicto XVI”,
Ediciones Palabra, Madrid, 10ª edição, pág 187; no Brasil,
Imago editora, pág. 141. [153] Idem, ibidem. [154] Bento
XVI, carta aos Bispos que acompanha o Motu Próprio
Summorum Pontificum. [155] A maneira como o Novo
Ordo, promulgado em 1969, foi aplicado provocou uma
brutal ruptura na prática litúrgica, ruptura simbolizada por
algumas mudanças que modificaram profundamente a
fisionomia da celebração da Missa: mudança na posição
do altar para que o padre ficasse virado para o povo,
desaparecimento total do latim e do canto gregoriano, o
cânon lido em vernáculo e em voz alta, mudanças essas
não necessariamente impostas pelo Novo Ordo, mas quase
que tornadas obrigatórias na prática, com a permissão de
inovações litúrgicas lamentáveis, demonstrando
infelizmente na reforma litúrgica, como ela foi
concretamente aplicada, um espírito de ruptura com o
passado (Cf. Christophe Geffroy, “Benoît XVI et la Paix
Liturgique”, pág. 14). Foi o que constatou o Papa no Motu
Próprio Summorum Pontificum, como citamos acima: “em
muitos lugares, se celebrava não se atendo de maneira fiel
às prescrições do novo Missal, antes se consideravam
como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o
que levou frequentemente a deformações da Liturgia no
limite do suportável”.[156] Entrevista do Cardeal
Castrillón no DVD da Fraternidade São Pedro, editado na
primavera de 2008 sobre a missa na forma
antiga. [157] Prefácio às Atas do Colóquio 2002,
intituladas A Liturgia e o Sagrado, do CIEL, Centro
Internacional de Estudos Litúrgicos. [158] Idem,
ibidem. [159]Cardeal Joseph Ratzinger, conferência aos
Bispos chilenos, Santiago, 13/7/1988. [160] Joseph
Ratzinger, La mia vita, San Paolo, pag. 17. [161]Cardeal
Dario Castrillon, prefeito da Congregação para o Clero, na
homilia durante a Missa de São Pio V por ele celebrada
em Chartres, em 4 de junho de 2001. [162]Mensagem à
Assembléia Plenária da S. Congregação para o Culto
Divino e a Disciplina dos Sacramentos, sobre o tema
“Aprofundar a vida litúrgica entre o povo de Deus”, em
21/9/2001.[163] Idem, ibidem, pág. 101-
102. [164] Ratzinger, L’Esprit de la liturgie, p.
153. [165] Ratzinger, Rapporto sulla Fede – A Fé em
crise? O cardeal Ratzinger se interroga – E.P.U. tradução
do Pe. Fernando José Guimarães CSSR, pág. 97 e 98.
[166] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de Teologia
Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 99-
101. [167] Conferência em Roma, pelos 10 anos do Motu
Proprio, em 24/10/1998 [168] Entrevista à revista
americana Latin Mass, 5 de maio de 2004.[169] Ratzinger,
Rapporto sulla Fede – A Fé em crise? O cardeal Ratzinger
se interroga – E.P.U. tradução do Pe. Fernando José
Guimarães CSSR, pág. 100. [170]Motu próprio 
Summorum Pontificum, de 7/7/2007. [171] Idem,
ibidem. [172]Idem, ibidem, pág. 112 [173] Ratzinger, La
Célébration de la Foi, p. 84, 114-115. [174] Joseph
Ratzinger, Préface à «La Reforme liturgique en question »,
de Mgr. Klaus Gamber, Éditions Sainte-Madeleine, 1992,
pag. 8 e 6. [175] Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de
Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 110 e 117-
118. [176]Joseph Ratzinger, La mia vita, San Paolo, pág.
112.[177] Teologia da Liturgia – Conferência do Cardeal
Joseph Ratzinger nas “Journées liturgiques de
Fontgombault, 22-24 de julho de 2001, na Abadia Notre-
Dame de Fontgombault, França.[178] Constituição
Apostólica Missale Romanum, de 3/4/1969. [179] Idem,
ibidem. [180] Idem, ibidem [181] Ratzinger, La Fiesta de
la Fe, ensaio de Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer,
pág. 83 e 101 nota 9. [182] Ratzinger, Un Chant nouveau
pour le Seigneur. La foi dans le Christ et la liturgie
aujourd’hui. Desclée-Mame, 1995, p. 49. (apud
Christophe Geffroy, “Benoît XVI et la Paix Liturgique”, p.
37-38). [183] Joseph Ratzinger, “La Eucaristía centro de la
vida”, pág. 72-76, Edicep, 2005. [184]Dom Paulo Tirot,
O.S.B., monge de Solesmes, Histoire des prières
d’offertoire dans la liturgie romaine du VIIe au XVIe
siècle, pág. 77-78 – Edizioni Liturgiche-Roma,
1985. [185] Joseph Ratzinger, “La Eucaristía centro de la
vida”, pág. 72-76, Edicep,
2005. [186] Instrução Memoriale Domini, da Congregação
para o Culto Divino, de 29/5/1969, Instrução sobre a
maneira de distribuir a comunhão. “Esta instrução,
redigida por mandato especial do Soberano Pontífice
Paulo VI, foi aprovada por ele mesmo, em virtude de sua
autoridade apostólica, no dia 28 de maio de 1969, e ele
decidiu que ela fosse levada ao conhecimento dos bispos
por intermédio dos presidentes das Conferências
Episcopais. Não obstante todas as disposições
contrárias”. [187] Idem, Ibidem: Instrução Memoriale
Domini, da Congregação para o Culto Divino, de
29/5/1969, Instrução sobre a maneira de distribuir a
comunhão. [188] Idem, Ibidem: Instrução Memoriale
Domini, da Congregação para o Culto Divino, de
29/5/1969, Instrução sobre a maneira de distribuir a
comunhão.[189] Joseph Cardinal Ratzinger, prefácio do
livro “Tournés vers le Seigneur!” de Mgr. Klaus Gamber 
Éditions Sainte-Madeleine. [190]Ratzinger, Introduzione
allo spirito della liturgia, Edizioni San Paolo 2001, p. 73,
74, 76-77. [191]Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de
Teologia Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág.
135. [192]Ratzinger, Rapporto sulla Fede – A Fé em
crise? O cardeal Ratzinger se interroga – E.P.U. tradução
do Pe. Fernando José Guimarães CSSR, pág.
96. [193]Ratzinger, La Fiesta de la Fe, ensaio de Teologia
Litúrgica, Desclée de Brouwer, pág. 162-163. [194]Idem,
ibidem, pág. 162. [195] Papa São Pio X, Inter Pastoralis
Officii, 22/11/1903). [196] Pio XI, Epist. ap. officiorum
omnium. [197] Papa Pio XII – Encíclica Mediator Dei, n.
53. [198] Sagrada Congregação para o Culto Divino,
prefácio do livreto Jubilate Deo. [199] João Paulo I,
Discurso ao Clero Romano. [200] Papa Beato João XXIII
– Const. Apost. Veterum Sapientia, n. 10. [201] Papa
Beato João XXIII – Const. Apost. Veterum Sapientia, n.
11, §2. [202] Idem, ibidem, n. 8. [203]Idem, ibidem., n.
6 [204] Constituição Sacrossanctum Concilium, n. 36 e
54.

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