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Novo Módulo de MD 2016 Unidade 1

Matemática Discreta
Tópicos da Linguagem e da Lógica Matemáticas
Texto da Semana 4, Parte 1

Validade

Sumário
1 Introdução 1

2 Validade de argumentos 3

3 Simbolização de argumentos 4
3.1 Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3.2 Exercı́cio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

4 Método das tabelas para validade 7


4.1 Observações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
4.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

1 Introdução
Neste texto, continuamos com as aplicações de simbolizações e tabelas na re-
solução de problemas lógicos que estão associados diretamente com a prática ma-
temática. Vamos iniciar o estudo da validade de argumentos.
A prática Matemática, como a de qualquer ciência, é regida pelo Princı́pio da
Razão Suficiente:
Em ciência, toda afirmação — que não seja considerada suficientemente
clara — deve ser justificada de maneira adequada.
Dependendo do grau de rigor adotado, a noção de justificativa adequada pode
variar mas, na Lógica e na Matemática todas elas possuem um mesmo padrão: a
justificativa de um enunciado se faz por meio de outros enunciados. O que varia é o
nı́vel dos detalhes apresentados na justificativa de um enunicado por meio de outros.
Por exemplo, se afirmamos para uma pessoa que

2 é algébrico (1)

e a pessoa a quem nos dirigimos não considera o enunciado suficientemente claro,


podemos complementar a nossa afirmação com:

2 é algébrico, pois toda raiz de um polinômio
é um número algébrico

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Aqui estamos usando um enunciado

toda raiz de um polinômio é um número algébrico (2)

para “tentar” justificar um outro



2 é algébrico

Mas, será que (2) é realmente suficiente para justificarmos (1)? Se a pessoa ainda
não considera que (1) está justificado, podemos recorrer também ao enunciado

2 é raiz de x2 − 2 (3)

e detalhar a explicação ainda mais um pouco, obtendo:



2 é raiz de x2 − 2.
Toda raiz
√ de um polinômio é um número algébrico.
Logo, 2 é algébrico.
Se isto ainda não for suficiente, podemos recorrer ao enunciado

x2 − 2 é um polinômio (4)

e detalhar ainda mais, obtendo:


x2 − 2 é um polinômio.

2 é raiz de x2 − 2.
Toda raiz
√ de um polinômio é um número algébrico.
Logo, 2 é algébrico.
E assim sucessivamente.
Do ponto de vista da Lógica, temos o enunciado (1) — que queremos justificar
— e os enunciados (2), (3) e (4) — que são usados na justificativa de (1). Neste
caso, dizemos que temos um argumento com premissas (2), (3) e (4) e conclusão (1).
E a questão que se coloca é a de se as premissas do argumento realmente sustentam
a sua conclusão. Em caso afirmativo, dizemos que o argumento é válido.
Observe que neste estudo, a questão não é a de se a conclusão é verdadeira ou
não; e nem a de se as premissas são verdadeiras o não; mas, sim, a de se as premissas
do argumento sustentam a sua conclusão.
Como veremos, quando o argumento só envolve enunciados construı́dos por
aplicação dos conectivos lógicos, podemos utilizar simbolização e tabelas para resol-
ver esta questão. Determinar a validade de argumentos por meio de simbolização
e tabelas é uma das habilidades básicas que todo estudante de Matemática deve
possuir. Por esta razão, você deve estudar os conceitos e resultados apresentados
neste texto com a máxima atenção, até absorver todos estes conteúdos.
Especificamente, neste texto, abordamos as noçẽs de: argumento, (Seção 2) ar-
gumento válido (Seção 2) e argumento inválido (Seção 2). Abordamos um dos prin-
cipais métodos para a determinação da validade e da invalidade de argumentos: o

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Método das Tabelas para Validade (Seção 4). Como todos os métodos que estu-
damos nesta disciplina, o Método das Tabelas para Validade também se apoia na
simbolização dos enunciados que compõem os argumentos (Seção 3).
Depois de estudarmos este texto, vamos ser capazes de: simbolizar um argumento
(Exercı́cios 1, 2, 3 e 4); decidir se um “argumento pequeno” é válido ou não, usando
uma tabela de avaliação (Exercı́cios 2, 3 e 4); e, quando um argumento for inválido,
apresentar uma interpretação na qual suas premissas são V e sua conclusão é F
(Exercı́cios 2, 3 e 4).

2 Validade de argumentos

Um argumento é uma sequência finita de enunciados, em que um é conside-


rado como conclusão e os demais são considerados como premissas.

Exemplo 1 (a) A sequência de enunciados:


João faz faculdade.
João estuda Filosofia.
Logo, João é intelectual.
é um argumento.

(b) A sequência de enunciados


João tem cabeça grande.
Se João tem cabeça grande, então
João é intelectual.
Logo, João é intelectual.
é um argumento. 

As premissas de um argumento são consideradas como garantindo a sua con-


clusão, independentemente dos seus conteúdos e dos seus valores.

Há casos em que isto realmente acontece e há outros em que não.

Um argumento é válido se em qualquer contexto em que as suas premissas


são simultaneamente verdadeiras, a sua conclusão também é verdadeira.
Um argumento é inválido se não é válido, ou seja, se existe ao menos um
contexto no qual as suas premissas são simultaneamente verdadeiras mas a
sua conclusão é falsa.

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Exemplo 2 Como veremos na Seção 4, o argumento do Exemplo 1(a) é inválido e


o agumento do Exemplo 1(b) é válido. 

Surge, então, o Problema da Validade de Argumentos, isto é, o problema de


dado um argumento, classificá-lo como válido ou inválido.
Vamos ver, agora, como o Problema da Validade de Argumentos pode ser resol-
vido com o uso da simbolização e das tabelas de avaliação, quando o argumento só
envolve enunciados construı́dos por aplicação dos conectivos lógicos.

3 Simbolização de argumentos
O primeiro grande passo na determinação da validade de um argumento é a
simbolização das suas premissas e conclusão.
A partir de agora, sempre que for conveniente, vamos separar as premissas da
conclusão de um argumento por meio de um traço horizontal, como .

O processo de simbolização de um argumento:

ϕ1
ϕ2
...
ϕn
,
ϕ
consiste na execução de 3 passos:

(1) Determinar os enunciados componentes que ocorrem nas premissas ϕ1 ,


ϕ2 , . . ., ϕn e na conclusão ϕ.

(2) Definir uma legenda para os enunciados determinados no Passo 1.

(3) Simbolizar as premissas e a conclusão do argumento, usando a legenda


definida no Passo 2.

Exemplo 3 (a) Consideremos o argumento:

2 é par e primo.
2 é primo.
Os enunciados componentes que ocorrem nas premissas e na conclusão do argu-
mento são:
2 é par
2 é primo

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Assim, podemos definir a seguinte legenda para o argumento:


p : 2 é par
q : 2 é primo
De acordo com esta legenda, o argumento pode ser simbolizado como:
p∧q
q

(b) Consideremos o argumento:

Eu estudo ou sou reprovado.


Eu estudo.
Os enunciados componentes que ocorrem nas premissas e na conclusão do argu-
mento são:
eu estudo
eu sou reprovado
Assim, podemos definir a seguinte legenda para o argumento:
e : eu estudo
r : eu sou reprovado
De acordo com esta legenda, o argumento pode ser simbolizado como:
e∨r
e

(c) Consideremos o argumento:

Se 2 é ı́mpar, então 4 é ı́mpar.


2 é ı́mpar.
4 é ı́mpar.
Os enunciados componentes que ocorrem nas premissas e na conclusão do argu-
mento são:
2 é ı́mpar
4 é ı́mpar
Assim, podemos definir a seguinte legenda para o argumento:
d : 2 é ı́mpar
q : 4 é ı́mpar
De acordo com esta legenda, o argumento pode ser simbolizado como:
d→q
d
q

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(d) Consideremos o argumento:

Se Djalma treina, então tem bom rendimento.


Mas ele não treina.
Ele não tem bom rendimento.
Os enunciados componentes que ocorrem nas premissas e na conclusão do argu-
mento são:
Djalma treina
Djalma tem bom rendimento
Assim, podemos definir a seguinte legenda para o argumento:

t : Djalma treina
b : Djalma tem bom rendimento

De acordo com esta legenda, o argumento pode ser simbolizado como:

t→b
¬t
¬b

3.1 Observação
Observação 1 O processo de sı́mbolização de argumentos é o mesmo que já utili-
zamos para sentenças, com uma única diferença de que aqui definimos uma única
legenda para simbolizar todos os enunciados que são premissas e conclusão do argu-
mento.

3.2 Exercı́cio
Exercı́cio 1 Simbolizar os seguintes argumentos:

(i) Se Tiririca é cantor, então Xuxa é cantora.


Xuxa não é cantora.
Logo, Tiririca não é cantor.

(ii) Djalma fala inglês ou não é admitido


na empresa.
Djalma é admitido na empresa.
Portanto, Djalma fala inglês.

(iii) Se Joel não tem 18 anos, então não


tem carteira de motorista.
Joel não tem carteira de motorista.
Assim, podemos concluir que Joel não
tem 18 anos.

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(iv) Se 1 + 1 = 2, então (1 + 1) + 1 = 3.
Se (1 + 1) + 1 = 3, então (1 + 1) + 2 = 4.
Logo, (1 + 1) + 2 = 4.

(v) Se chove, a rua fica molhada.


Se a rua fica molhada, os carros derrapam.
Chove.
Portanto, os carros derrapam.

(vi) Se a é racional, então a é real.


Se a é real, então a é complexo.
a não é racional.
Portanto, a não é complexo.

Antes de ler a resolução, tente resolver o exercı́cio usando os con-


ceitos estudados.

t→x
t : Tiririca é cantor ¬x
Resolução do Exercı́cio 1: (i) Legenda: Simbolização: . (ii)
x : Xuxa é cantora. ¬t
f ∨ ¬a
f : Djalma fala inglês a
Legenda: Simbolização: . (iii) Legenda para os
a : Djalma é admitido na empresa. f
¬d → ¬c
d : Joel tem 18 anos ¬c
componentes: Simbolização: . (iv) Legenda:
c : Joel tem carteira de motorista. ¬d
d→t
d : 1+1=2 t→q c : chove
t : (1 + 1) + 1 = 3 Simbolização: . (v) Legenda: m : a rua fica molhada Sim-
q
q : (1 + 1) + 2 = 4. d : os carros derrapam.
c→m q→r
m→d r→c
c q : a é racional ¬q
bolização: . (vi) Legenda: r : a é real Simbolização: .
d ¬c
c : a é complexo.

4 Método das tabelas para validade


O segundo grande passo na determinação da validade (ou da invalidade) de um
argumento simbolizado é baseado nas seguintes ideias:
ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn
Afirmar que o argumento é válido
ϕ
é o mesmo que afirmar que

em todos os contextos em que as premissas ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn são


simultaneamente V a conclusão ϕ também é V

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como em Lógica trocamos o conceito informal


de contexto por um conceito formal de interpretação, isto

é o mesmo que afirmar que

em todas as interpretações para ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn , ϕ em que as premissas


ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn são simultaneamente V , a conclusão ϕ também é V

é o mesmo que afirmar que

em todas as interpretações para ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn , ϕ em que a conjunção


ϕ1 ∧ ϕ2 ∧ . . . ∧ ϕn é V , a conclusão ϕ também é V

é o mesmo que afirmar que

não existe uma interpretação para ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn , ϕ na qual a conjunção


ϕ1 ∧ ϕ2 ∧ . . . ∧ ϕn é V e a conclusão ϕ é F

é o mesmo que afirmar que

não existe uma interpretação para ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn , ϕ na qual a implicação


(ϕ1 ∧ ϕ2 ∧ . . . ∧ ϕn ) → ϕ é F

é o mesmo que afirmar que

na última coluna da tabela de avaliação da implicação


(ϕ1 ∧ ϕ2 ∧ . . . ∧ ϕn ) → ϕ ocorre somente V .
Em resumo:

ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn
Afirmar que o argumento é válido é o mesmo que afirmar que
ϕ
na última coluna da tabela de avaliação da implicação (ϕ1 ∧ ϕ2 ∧ . . . ∧ ϕn ) → ϕ
ocorre somente V .

As ideias acima fornecem um método para resolvermos o Problema da Validade


de Argumentos formados por enunciados simbolizados que pode ser especificado em
6 passos:

Método das Tabelas para Validade

A validade ou invalidade de um argumento pode ser decidida pela execução


dos seguintes passos que constroem a implicação associada ao argumento e sua
tabela de avaliação:

(1) Simbolizar o argumento, obtendo o argumento simbolizado com premis-


sas ϕ1 , ϕ2 , . . . , ϕn e conclusão ϕ.

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(2) Construir a implicação

(ϕ1 ∧ ϕ2 ∧ . . . ∧ ϕn ) → ϕ,

associada ao argumento.

(3) Listar todas as interpretações de (ϕ1 ∧ ϕ2 ∧ . . . ∧ ϕn ) → ϕ.

(4) Completar a construção da tabela de avaliação de (ϕ1 ∧ϕ2 ∧. . .∧ϕn ) → ϕ.

(5) Verificar se na última coluna da tabela de (ϕ1 ∧ ϕ2 ∧ . . . ∧ ϕn ) → ϕ ocorre


somente V , ou não.

(6) Se a resposta à pergunta anterior for sim, concluir que o argumento é


válido; se a resposta à pergunta anterior for n~
ao, concluir que o argu-
mento é inválido.

Exemplo 4 (a) Consideremos o argumento, do Exemplo 1(a):

João tem cabeça grande.


Se João tem cabeça grande, então João
é intelectual.
João é intelectual.
Uma legenda para este argumento é:

g : João tem cabeça grande


i : João é intelectual

De acordo com esta legenda, o argumento pode ser simbolizado como:

g
g→i
i
Logo, a implicação associada ao argumento é:

ϕ : [g ∧ (g → i)] → i

Construindo a tabela de ϕ, temos:

g i g → i g ∧ (g → i) ϕ
V V V V V
V F F F V
F V V F V
F F V F V

Como na última coluna da tabela só ocorre V , o argumento é válido.

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Neste caso, concluı́mos que as premissas justificam a conclusão, pois a tabela de


avaliação de [g ∧ (g → i)] → i mostra que caso admitamos que João tem cabeça
grande e que se João tem cabeça grande, então João é intelectual, somos obrigados
a aceitar que João é intelectual.

(b) Consideremos o argumento do Exemplo 1(b):

João faz faculdade.


João estuda Filosofia.
João é intelectual.
Uma legenda para este argumento é:

f : João faz faculdade


e : João estuda filosofia
i : João é intelectual

De acordo com esta legenda, o argumento pode ser simbolizado como:

f
e
i
Logo, a implicação associada ao argumento é

ψ : (f ∧ e) → i

Construindo a tabela de avaliação de ψ, temos:

f e i f ∧e ψ
V V V V V
V V F V F
V F V F V
V F F F V
F V V F V
F V F F V
F F V F V
F F F F V

Como na última coluna da tabela de avalição de ψ (na verdade, apenas na segunda


linha) ocorre o valor F , temos que o argumento é inválido.
Neste caso, concluı́mos que as premissas não justificam a conclusão, pois a in-
terpretação f : V , e : V e i : F para ψ mostra que mesmo que admitamos que João
faz faculdade e que João estuda filosofia, não somos obrigados a aceitar que João é
intelectual.

(c) Consideremos o argumento do Exemplo 3(a):

2 é par e primo.
2 é primo.

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Já vimos que o argumento pode simbolizado como:

p∧q
q
Assim, sua implicação associada é

θ : (p ∧ q) → q

Construindo a tabela de avaliação de θ, temos:

p q p∧q θ
V V V V
V F F V
F V F V
F F F V

Como na última coluna da tabela só ocorre V , o argumento é válido.

(d) Consideremos o argumento do Exemplo 3(b):

Eu estudo ou sou reprovado.


Eu estudo.
Já vimos que o argumento pode simbolizado como:

e∨r
e
Assim, sua implicação associada é

α : (e ∨ r) → e

Construindo a tabela de avaliação de θ, temos:

e r e∨r α
V V V V
V F V V
F V V F
F F F V

Como na última coluna da tabela de avalição de θ ocorre o valor F , temos que o


argumento é inválido. Mais especificamente, tomando a interpretação e : F e r : V
temos premissa V e conclusão F .

(e) Consideremos o argumento do Exemplo 3(c):

Se 2 é ı́mpar, então 4 é ı́mpar.


2 é ı́mpar.
4 é ı́mpar.

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Já vimos que o argumento pode simbolizado como:

d→q
d
q
Assim, sua implicação associada é

β : [(d → q) ∧ d] → q

Construindo a tabela de avaliação de β, temos:

d q d → q (d → q) ∧ d β
V V V V V
V F F F V
F V V F V
F F V F V

Como na última coluna da tabela só ocorre V , o argumento é válido.

(f) Consideremos o argumento do Exemplo 3(d):

Se Djalma treina, então tem bom rendimento.


Mas ele não treina.
Ele não tem bom rendimento.
Já vimos que o argumento pode simbolizado como:

t→b
¬t
¬b
Assim, sua implicação associada é

γ : [(t → b) ∧ (¬t)] → ¬b

Construindo a tabela de avaliação de γ, temos:

t b ¬t ¬b t → b (t → b) ∧ ¬t γ
V V F F V F V
V F F V F F V
F V V F V V F
F F V V V V V

Como na última coluna da tabela de avalição de γ ocorre o valor F , temos que o


argumento é inválido. Mais especificamente, tomando a interpretação t : F e b : V
temos premissas V e conclusão F .

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4.1 Observações
Observação 2 Na teoria, o Método das Tabelas para Validade pode ser aplicado a
qualquer argumento que só envolve enunciados construı́dos por aplicação dos conec-
tivos. Porém, na prática — exceto quando somos obrigados ao contrário — procu-
ramos aplicá-lo somente a argumentos pequenos, ou seja, àqueles que envolvem no
máximo duas premissas e uma conclusão, sendo que estas só envolvem três compo-
nentes. Para argumentos maiores, procuramos aplicar outros métodos, inclusive um
que estudaremos mais adiante.

Observação 3 Caso o argumento seja inválido, o Método das Tabelas para Vali-
dade permite que determinemos, a partir da informação dada na tabela, uma inter-
pretação na qual as premissas do argumento são V e a conclusão é F .

Observação 4 Embora na Lı́ngua Portuguesa e na Linguagem Matemática sejam


comum o uso dos termos verdadeiro e válido como sinônimos, em Lógica, eles se
referem a conceitos completamente diferentes (embora relacionados). Assim, por
favor, não confunda:

Enunciados (proposições, sentenças) são verdadeiros ou falsos.

Argumentos são válidos ou inválidos.

Observação 5 A relação entre verdade e validade (vistos como conceitos lógicos)


não é tão direta quanto pode se pensar à primeira vista. De fato, os argumentos
abaixo, tomados da Geografia, mostram que existem:

(1) Argumentos válidos que possuem premissas e conclusão todas V , por exemplo:

O Brasil é um paı́s.
Se o Brasil é um paı́s, então o Brasil tem uma população.
Logo, o Brasil tem uma população.

(2) Argumentos válidos que possuem uma ou mais premissas F e conclusão V ,


por exemplo:

O Brasil é um continente.
Se o Brasil é um continente, então o Brasil tem
uma grande extensão.
Logo, o Brasil tem uma grande extensão.

Observe que a primeira premissa deste argumento válido é F .

(3) Argumentos válidos que possuem premissas e conclusão todas F , por exemplo:

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O Brasil é uma região.


Se o Brasil é uma região, então o Brasil é um estado.
Se o Brasil é um estado, então o Brasil é uma cidade.
Logo, o Brasil é uma cidade.

Mas, não existem exemplos de argumentos válidos que possuem premissas todas
V e conclusão F , pois neste caso, por definição, o argumento é ı́nválido.
Também vimos que, para justificar que um argumento é válido devemos esque-
cer o contexto onde ele é dado e, através da simbolização de suas premissas e con-
clusão, obter uma expressão precisa da sua estrutura lógica.
Por estas razões, é usual dizermos, em Lógica que:

A validade de um argumento não depende nem da veracidade, nem do conteúdo


das suas premissas e conclusão, mas “apenas” da sua estrutura lógica.

4.2 Exercı́cios
Exercı́cio 2 Verificar a validade dos argumentos do Exercı́cio 1, pelo Método das
Tabelas para Validade.

Exercı́cio 3 Verificar a validade dos seguintes argumentos, pelo Método das Tabe-
las para Validade:
(i) 2 é par ou 3 é par.
Se 2 é par, então 4 é par.
3 não é par.
Portanto, 4 é par.

(ii) Se a é real, então: a é irracional ou a é racional.


a não é racional.
Logo, se a é real, então a é irracional.

(iii) Se Djalma vai às compras, então: André fica em casa se,
e somente se, Cláudia fica em casa.
Cláudia fica em casa.
Portanto, Djalma vai às compras ou André fica em casa.

(iv) Maria não faz mestrado se Maria não termina a graduação.


Maria casa ou Maria faz mestrado.
Não é o caso que Maria casa.
Assim, Maria faz mestrado se, e somente se, Maria termina
a graduação e Maria não casa.
Exercı́cio 4 Verificar a validade dos seguintes argumentos, pelo Método das Tabe-
las para Validade. Caso seja necessário, antes de simbolizar o argumento, reescreva-o
de maneira mais adequada.

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(i) O alarme disparou segue de o porteiro ou o segurança está mentindo.


O alarme disparou, se o porteiro não está mentindo.
Logo, se o segurança não está mentindo, o alarme disparou.

(ii) Não é verdade que eu gosto de quiabo e de jiló.


Aliás, também não gosto de agrião.
Não gostaria de jiló, se gostasse de agrião.
Assim, não gosto de agrião e: se gostasse de quiabo, gostaria de jiló.

(iii) Se trabalho, ganho dinheiro e posso me divertir.


Se não trabalho, não ganho dinheiro e não posso me divertir.
Consequentemente, se ganho dinheiro, posso me divertir.

(iv) Se o aluno tem tempo, mas não é estudioso, ele não é aprovado.
Por outro lado: se ele é estudioso, mas não tem tempo, ele é aprovado.
Daı́, o aluno é aprovado se, e somente se, é estudioso.

(v) Se ele é bem formado ou faz boa prova, passa no concurso.


Ele faz boa prova mas não é bem formado.
Logo, ele passa no concurso mesmo sem ser bem formado.

Antes de ler as resoluções, tente resolver os exercı́cios usando os


conceitos estudados

.
Resolução do Exercı́cio 2: Simbolizações na resolução do Exercı́cio 1. (i) Implicação as-
t x ¬t ¬x t → x (t → x) ∧ ¬x ϕ
V V F F V F V
sociada: ϕ : [(t → x) ∧ (¬x)] → ¬t. Tabela: V F F V F F V
F V V F V F V
F F V V V V V.
Válido, pois na última coluna da tabela só ocorre V . (ii) Implicação associada: ϕ : [(f ∨
f a ¬a f ∨ ¬a (f ∨ ¬a) ∧ a ϕ
V V F V V V
¬a) ∧ a] → f . Tabela: V F V V F V Válido, pois na última coluna
F V F F F V
F F V V F V.
da tabela só ocorre V . (iii) Implicação associada: ϕ : [((¬d) → ¬c) ∧ ¬c] → ¬d. Tabela:
d c ¬d ¬c (¬d) → ¬c ((¬d) → ¬c) ∧ ¬c ϕ
V V F F V F V
V F F V V V F Inválido, pois tomando d : V e c : F temos
F V V F F F V
F F V V V V V.
premissas V e conclusão F . (iv) Implicação associada: ϕ : [(d → t) ∧ (t → q)] → q. Ta-

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d t q d → t t → q (d → t) ∧ (t → q) ϕ
V V V V V V V
V V F V F F V
V F V F V F V
bela: V F F F V F V Inválido, pois tomando d : F , t : F
F V V V V V V
F V F V F F V
F F V V V V V
F F F V V V F.
e q : F temos premissas V e conclusão F . (v) Implicação associada: ϕ : [(c → m) ∧ (m →
d) ∧ c] → d. Como o ∧ é associativo, não precisamos escrever parênteses no antece-
ψ1 ψ2
z }| { z }| {
c m d c → m m → d ψ1 ∧ ψ2 ∧ c ϕ
V V V V V V V
V V F V F F V
dente. Tabela: V F V F V F V Válido, pois na última coluna
V F F F V F V
F V V V V F V
F V F V F F V
F F V V V F V
F F F V V F V.
da tabela só ocorre V . (vi) Implicação associada: ϕ : [(q → r) ∧ (r → c) ∧ ¬q] → ¬c. Ta-
ψ1 ψ2 ψ3
z }| { z }| { z}|{
q r c ¬c q → r r → c ¬q ψ1 ∧ ψ2 ∧ ψ3 ϕ
V V V F V V F F V
V V F V V F F F V
V F V F F V F F V
bela: Inválido, pois tomando q : F ,
V F F V F V F F V
F V V F V V V V F
F V F V V F V F V
F F V F V V V V F
F F F V V V V V V.
r : V e c : V temos premissas V e conclusão F . Resolução do Exercı́cio 3: (i) Legenda:
d∨t
d→q
d : 2 é par ¬t
t : 3 é par Simbolização: . Implicação associada: ϕ : [(d ∨ t) ∧ (d → q) ∧ ¬t] → q.
q
q : 4 é par.
ψ1 ψ2 3 ψ
z}|{ z }| { z}|{
d t q d ∨ t d → q ¬t ψ1 ∧ ψ2 ∧ ψ3 ϕ
V V V V V F F V
V V F V F F F V
Tabela: V F V V V V V V Válido, pois na última coluna da
V F F V F V F V
F V V V V F F V
F V F V V F F V
F F V F V V F V
F F F F V V F V.
tabela só ocorre V . (ii) Não estamos assumindo que ser irracional é a negação de ser
r → (i ∨ q)
r : a é real ¬q
racional. Legenda: i : a é irracional Simbolização: . Apresente uma re-
r→i
q : a é racional.
solução alternativa para esta questão, considerando que ser irracional é a negação
d → (a ↔ c)
d : Djalma vai às compras c
de ser racional. (iii) Legenda: a : André fica em casa Simbolização: .
d∨a
c : Cláudia fica em casa.

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Novo Módulo de MD 2016 Unidade 1

¬g → ¬m
c∨m
g : Maria termina a graduação ¬c
(iv) Legenda: m : Maria faz mestrado Simbolização: . Resolução
m ↔ (g ∧ ¬c)
c : Maria casa.
Se (o porteiro está mentindo ou o segurança está mentindo),
então o alarme disparou.
Se [não (o porteiro está mentindo)], então o alarme disparou.
do Exercı́cio 4: (i) Reescrita: .
Se [não (o segurança está mentindo)], então o alarme disparou.
(p ∨ s) → a
p : o porteiro está mentindo ¬p → a
Legenda: s : o segurança está mentindo Simbolização: . Implicação associada:
¬s → a
a : o alarme disparou.
ϕ : {[(p ∨ s) → a] ∧ (¬p → a)} → (¬s → a). Tabela:
ψ1 ψ2
z }| { z }| {
p s a p ∨ s (p ∨ s) → a ¬p ¬p → a ψ1 ∧ ψ2 ¬s ¬s → a ϕ
V V V V V F V V F V V
V V F V F F V F F V V
V F V V V F V V V V V Válido. Na última
V F F V F F V F V F V
F V V V V V V V F V V
F V F V F V F F F V V
F F V F V V V V V V V
F F F F V V F F V F V.
Não (eu gosto de quiabo e eu gosto de jiló).
Não (eu gosto de agrião).
Se eu gosto de agrião, então [não (eu gosto de jiló)].
coluna da tabela só ocorre V . (ii) Reescrita:
[não (eu gosto de agrião)] e [se eu gosto de quiabo,
então eu gosto de jiló].
¬(q ∧ j)
¬a
q : eu gosto de quiabo a → ¬j
Legenda: j : eu gosto de jiló Simbolização: . Implicação associada: ϕ :
¬a ∧ (q → j)
a : eu gosto de agrião.
[¬(q ∧ j) ∧ ¬a ∧ (a → ¬j)] → [¬a ∧ (q → j)]. Tabela:
ψ1 ψ2
z }| { z }| {
q j a q ∧ j ¬(q ∧ j) ¬a ¬j a → ¬j ψ1 ∧ ¬a ∧ ψ2 q → j ¬a ∧ (q → j) ϕ
V V V V F F F F F V F V
V V F V F V F V F V V V
V F V F V F V V F F F V Invá-
V F F F V V V V V F F F
F V V F V F F F F V F V
F V F F V V F V V V V V
F F V F V F V V F F F V
F F F F V V V V V V V V.
lido, pois na interpretação q : V , j : F e a : F , temos premissas V e conclusão F . (iii)
Se eu trabalho, então (eu ganho dinheiro e eu posso me divertir).
Se não (eu trabalho), então [não (eu ganho dinheiro) e não (eu posso me divertir)].
Reescrita: Le-
Se eu ganho dinheiro, então eu posso me divertir.
t → (d ∧ p)
t : eu trabalho ¬t → (¬d ∧ ¬p)
genda: d : eu ganho dinheiro Simbolização: . Implicação associada: ϕ :
d→p
p : eu posso me divertir.
{[t → (d ∧ p)] ∧ [¬t → (¬d ∧ ¬p)] → (d → p). Tabela, onde θ : d → p:

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Novo Módulo de MD 2016 Unidade 1

ψ1 ψ2
z }| { z }| {
t d p d ∧ p t → (d ∧ p) ¬t ¬d ¬p ¬d ∧ ¬p ¬t → (¬d ∧ ¬p) ψ1 ∧ ψ2 θ ϕ
V V V V V F F F F V V V V
V V F F F F F V F V F F V
V F V F F F V F F V F V V
V F F F F F V V V V F V V
F V V V V V F F F F F V V
F V F F V V F V F F F F V
F F V F V V V F F F F V V
F F F F V V V V V V V V V.
Válido, pois na última coluna da tabela só ocorre V . (iv) Reescrita:
Se [(o aluno tem tempo e não (o aluno é estudioso)], então não(o aluno é aprovado).
Se [o aluno é estudioso e não (o aluno tem tempo)], então o aluno é aprovado.
Legenda:
O aluno é aprovado se, e somente se, o aluno é estudioso.
(t ∧ ¬e) → ¬a
t : o aluno tem tempo (e ∧ ¬t) → a
e : o aluno é estudioso Simbolização: . Implicação associada: ϕ : {[(t∧¬e) →
a↔e
a : o aluno é aprovado.
¬a] ∧ [(e ∧ ¬t) → a]} → (a ↔ e). Tabela:
ψ 1 θ 1 ψ 2 θ2
z }| { z }| { z }| { z }| {
t e a ¬e t ∧ ¬e ¬a ψ1 → ¬a ¬t e ∧ ¬t (e ∧ ¬t) → a θ1 ∧ θ2 a ↔ e ϕ
V V V F F F V F F V V V V
V V F F F V V F F V V F F
V F V V V F F F F V F F V
V F F V V V V F F V V V V
F V V F F F V V V V V V V
F V F F F V V V V F F F V
F F V V F F V V F V V F F
F F F V F V V V F V V V V.
Inválido, pois na interpretação t : V , e : V e a : F , temos premissas V e conclusão F . (v) Reescrita:
Se (ele é bem formado ou ele faz boa prova), então
ele passa no concurso).
f : ele é bem formado
Ele faz boa prova e não (ele é bem formado).
Legenda: p : ele faz boa prova
Ele passa no concurso e não (ele é bem formado).
c : ele passa no concurso.
(f ∨ p) → c
p ∧ ¬f
Simbolização: . Implicação associada: ϕ : {[(f ∨ p) → c] ∧ [p ∧ ¬f ]} → (c ∧ ¬f ). Ta-
c ∧ ¬f
ψ1 ψ2
z }| { z }| {
f p c f ∨ p (f ∨ p) → c ¬f p ∧ ¬f ψ1 ∧ ψ2 c ∧ ¬f ϕ
V V V V V F F F F V
V V F V F F F F F V
bela: V F V V V F F F F V Válido, pois na últi-
V F F V F F F F F V
F V V V V V V V V V
F V F V F V V F F V
F F V F V V V F V V
F F F F V V V F F V.
ma coluna da tabela só ocorre V .

c 2016 Márcia Cerioli e Petrucio Viana


Coordenação da Disciplina MD/CEDERJ-UAB
Atualizado em 15 de fevereiro de 2016.

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