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PARTE B

Leia o excerto do poema “O sentimento dum ocidental”.

Nas nossas ruas, ao anoitecer,


Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam um desejo absurdo de sofrer.

5 O céu parece baixo e de neblina,


O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se d’uma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,


10 Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
15 Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,


De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
20 Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
Cesário Verde, Cânticos do Realismo.
O livro de Cesário Verde, Lisboa, INCM, 2015.

4. 
Identifique o espaço retratado e o modo como o sujeito poético o perceciona.

5. 
Caracterize o estado de espírito do sujeito poético relativamente ao espaço onde
se encontra.

PARTE C
6. 
A propósito de Cesário Verde, Ricardo Daunt escreveu:

“Atraído, contudo, como já frisámos, pelo dia a dia, pelo quotidiano, afasta-se de qualquer
intuito de fazer do poema um território filosófico […]. A sua obra atesta a presença de
um sujeito lírico que deambula pelo espaço urbano da civilização industrial, capturando
os variados recortes físicos e os múltiplos estímulos sensoriais da cidade labiríntica”.
Escreva uma breve exposição na qual comprove a veracidade da afirmação no que diz
respeito ao modo como Cesário Verde capta a realidade citadina.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• u
 m desenvolvimento no qual comprove a veracidade da afirmação, explicitando
de que forma Cesário Verde capta a realidade citadina, fundamentando em, pelo
menos, um exemplo pertinente;
Cotações

GRUPO II

 eia o seguinte texto e responda às questões.


L
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

NAVEGAR O MEKONG

“E nestes mesmos nove dias, nós os Portugueses, com licença do Embaixador


fomos ver algumas cousas que a gente da terra nos tinha gabado, de edifícios anti-
gos, templos sumptuosos e ricos, quintais, castellos, e casas que estavam ao longo
deste rio feitas por hum estranho modo de fortaleza e custo grandíssimo…”. Assim
5 descreve Fernão Mendes Pinto a sua passagem por Luang Prabang. Para um viajante
que dedicou duas décadas a percorrer o Oriente e que viu tudo o que um ocidental
nunca vira ou jamais sonhara, a sua descrição entusiasmada revela a riqueza e a
monumentalidade da antiga capital do Laos. […]
Vais precisar de alguns dias para visitar esta joia da Humanidade segundo a
10 UNESCO, portanto não tenhas pressa de continuar a subir o Mekong. Aluga uma bici-
cleta e perde-te no emaranhado de ruelas, reencontra-te no silêncio dos templos, passa
um dia pasmado nas grutas budistas de Pak Ou, que o teu compatriota Mendes Pinto
chamou de Lapa dos Penitentes, e em cada novo crepúsculo muda de esplanada nesta
cidade, que é como a proa de um navio sobre o encontro dos rios Nam Khan e Mekong.
15 Poderás então embarcar-te num “slow boat” para os dois dias de viagem rio acima
até à fronteira da Tailândia, uma das odisseias fluviais mais gratificantes de toda a
Ásia. A embarcação para ao final do primeiro dia na aldeiazinha de Pak Beng, onde
não terás tempo de procurar um hotel: eles encontram-te. No cais, dezenas de jovens
com brochuras de hotéis tentarão convencer-te a segui-los. […]
20 Muito bem, queres continuar ainda um pouco mais. A derradeira possibilidade de
navegares o Mekong é a de embarcares na Tailândia e seguires para a China através do
pedacinho de rio que pertence à Birmânia. Tranquilo, não precisas de nenhum visto
para o país dos generais, nem sequer te dão a possibilidade de desembarcar em territó-
rio birmanês. A embarcação sai três vezes por semana e demora nove horas de viagem
25 non-stop desde Chiang Saen, na Tailândia, até Jĭnghóng, na China – ou, para sermos
mais corretos, no Yunnan, essa província “para lá das nuvens” […]. Chegaste, na minha
opinião, ao lugar mais bonito da China. Agora, desembarca, sacode a humidade, põe a
mochila às costas. Tens a curiosidade em ebulição. Tens Dali, a mais bem preservada
das cidades medievais chinesas. […] Chegarás talvez ao Tibete, ao coração dos Hima-
30 laias, onde o rio é, por fim, apenas, uma memória. Aliás, várias memórias: as tuas.
Gonçalo Cadilhe, Navegar o Mekong, in goncalocadilhe.com/artigos/2011_mekong.pdf [em linha], (adaptado).

1. Ao longo do texto, Gonçalo Cadilhe 5

(A) faz uma exposição pormenorizada sobre as vantagens da navegação no rio


Mekong.
(B) faz uma apreciação crítica positiva sobre as cidades próximas do rio Mekong.
(C) descreve o início da viagem pelo Oriente, realizada por Fernão Mendes Pinto.
(D) relata uma viagem pelo rio Mekong, que o conduziu a locais diversos e fantás-
ticos.

3
Cotações
5 2. O recurso às aspas no primeiro parágrafo corresponde

(A) à transcrição da descrição da antiga capital do Laos pelo olhar de um viajante


português.

(B) ao relato de Fernão Mendes Pinto acerca da sua visita ao Embaixador de Laos.
(C) à citação de um guia turístico que promove viagens no rio Mekong.
(D) à introdução do diálogo entre o autor do texto, Fernão Mendes Pinto, e o leitor.

5 3. Para o autor, a visita proposta à antiga capital do Laos será mais proveitosa,

(A) se alugarem uma bicicleta, que os levará às esplanadas mais escondidas.
(B) se visitarem os templos de Luang Prabang, para reencontrarem os monges
budistas.

(C) se visitarem sem pressa e em deslumbramento os recantos de toda a cidade.


(D) se apreciarem a beleza do pôr do sol à proa de um navio que cruze o Mekong.
5 4. A oração “que dedicou duas décadas a percorrer o Oriente” (l. 6) classifica-se
como oração subordinada

(A) substantiva completiva.


(B) adverbial consecutiva.
(C) adjetiva relativa explicativa.
(D) adjetiva relativa restritiva.

5 5. Em “perde-te no emaranhado de ruelas” (l. 11), o constituinte sublinhado desem-


penha a função sintática de

(A) modificador do nome restritivo.


(B) complemento do nome.
(C) complemento do adjetivo.
(D) complemento oblíquo.

5 6. Os termos sublinhados em “que é como a proa de um navio” (l. 14) exemplificam a
coesão

(A) lexical, através de uma relação de hiponímia/hiperonímia.


(B) lexical, através de uma relação de meronímia/holonímia.
(C) lexical, por substituição, através de uma relação de sinonímia.
(D) gramatical, referencial, pelo uso anafórico de pronomes.

5 7. A frase “Poderás então embarcar-te num ‘slow boat’” (l. 15) ilustra a modalidade

(A) epistémica com valor de probabilidade.


(B) apreciativa.
(C) epistémica com valor de certeza.
(D) deôntica com valor de permissão.

4
Cotações
8. Indique
 o sujeito da frase “No cais, dezenas de jovens com brochuras de hotéis 5
tentarão convencer-te a segui-los.” (ll. 18-19).

9. 
Refira o valor deítico do termo sublinhado em “Agora, desembarca” (l. 27). 5

10. 
Classifique a oração “onde o rio é, por fim, apenas, uma memória” (l. 30). 5

GRUPO III 50
(30+20)

 onçalo Cadilhe é um português que viaja pelo mundo, dando-nos a conhecer magis-
G
tralmente os locais por onde passa.
Num texto de opinião, de 200 a 300 palavras, apresente as vantagens e as desvanta-
gens de viver ou de visitar Portugal.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre
cada um deles com um exemplo significativo.

5
GRUPO I – PARTE C
GRUPO I – PARTE B 6. A afirmação remete para a atitude poética de Cesário
4. O espaço retratado é um espaço citadino, mais concreta- Verde face ao espaço citadino concreto, afastando-se de
mente a cidade de Lisboa, uma vez que se faz referência uma dimensão filosófica.
ao Tejo e também ao bulício, aos edifícios, aos carros de Efetivamente, e de acordo com as palavras de Richard
aluguer e à via-férrea, sendo até comparada à cidade de Daunt, Cesário sente-se atraído pelo quotidiano citadino,
Londres, com a sua “cor monótona e londrina” (v. 8). Este o espaço urbano em que o sujeito lírico deambula, ser-
espaço é negativamente percecionado uma vez que des- vindo-se dos seus órgãos sensoriais para o retratar nos
perta no sujeito poético “um desejo absurdo de sofrer” seus diferentes recortes. E a verdade é que tal pode ser
e, simultaneamente, de evasão pois considera felizes os confirmado em “O sentimento dum ocidental”, onde, nas
que se vão. Para além disto, o “eu”, ao anoitecer, só vê quatro secções que o compõem, é visível a deambulação
soturnidade e melancolia, chegando a comparar os edifí- de um “eu” que, desde o fim da tarde até altas horas da
cios a gaiolas e os “mestres carpinteiros” a “morcegos”. noite. Durante esse período temporal, vai percorrendo as
ruas labirínticas da cidade de Lisboa, retratando-a nega-
5. O sujeito poético sente-se enclausurado, enjoado, per-
tivamente, não só pela poluição aí visível mas também
turbado, desconfortável, com uma sensação de tontura
pelos contrastes sociais espelhados nos diferentes tipos
e uma enorme tendência para a reflexão e a deambula-
humanos que circulam na cidade e que tão bem exempli-
ção como forma de fugir à tristeza e à melancolia que
ficam as desigualdades, as injustiças, que grassam nesse
caracterizam a cidade, espaço que vê como claustro-
espaço claustrofóbico e nauseabundo.
fóbico. No fundo, há uma relação de causa-efeito entre
Em suma, a afirmação destaca de forma exata a atitude
o espaço e os sentimentos disfóricos do sujeito poético:
poética de Cesário Verde face ao espaço citadino.
o negativismo associado à cidade influencia diretamente
165 palavras
o estado de espírito do “eu” que por ele deambula.
GRUPO II
1. (D); 2. (A); 3. (C); 4. (D); 5. (B); 6. (B); 7. (A).
8. “dezenas de jovens com brochuras de hotéis”.
9. Valor temporal.
10. Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.

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