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Nomes de Marca Uma Classificacao
Nomes de Marca Uma Classificacao
Resumo
Abstract
This article proposes a model to classify brand names, based on the bibliographical analysis
of three authors: Per Mollerup, Norberto Chaves and Adrian Room. The intention is to aid
the understanding of research methodological process and the development of projects for
brand, companies, organizations and product names – process known as Naming.
Introdução
O processo de desenvolvimento de nomes de marcas é conhecido dentro do Branding1
como Naming e vem sendo executado por empresas de design, comunicação e consultorias
especializadas com o intuito de criar nomes significativos para empresas e produtos. Envolve
equipes interdisciplinares que buscam desenvolver nomes com personalidade, de fácil
memorização e que sejam passíveis de registro legal.
É notório que cada vez mais os designers - principalmente aqueles que lidam com as
áreas de Identidade Corporativa e embalagem - são confrontados com a necessidade de
inclusão de projetos de Naming em seus portfolios de serviços. Entender como outros nomes
foram desenvolvidos, através do estabelecimento de uma taxonomia, pode facilitar a
construção de métodos de pesquisa e desenvolvimento de nomes de marca por designers.
Para Mollerup (1998: 111-121), os nomes de marcas são divididos em seis classes:
Próprios, Descritivos, Metafóricos, Encontrados, Artificiais e Abreviações. Norberto Chaves
(1990: 43) classifica os nomes de marca em cinco categorias: Descritivos, Simbólicos,
Patronímicos, Toponímicos e Contrações. Já Adrian Room (1987: 14-17) utiliza sete
categorias para classificar nomes de marca: nomes baseados em nome de pessoa, nomes
baseados em nome de lugar, nomes cientificamente inventados, nomes de status, nomes de
associação positiva, nomes artificiais e nomes descritivos.
1 Branding é um sistema de ações interdisciplinares que visa o estabelecimento de imagens, percepções e associações pelas
quais públicos de interesse se relacionam com uma marca. Em suma, é construir e administrar a identidade de uma marca
através de todos os pontos de contato experienciados por seus públicos.
2 Segundo o dicionário Houaiss On-line: o estudo linguístico dos nomes próprios; onomástico, onomatologia (compreende
Nomes patronímicos
A terminologia “patronímico” utilizada por Chaves faz alusão aos nomes de marca
baseados em nomes de pessoas, seja do fundador, inventor ou dono da patente, do lojista ou
de alguma outra pessoa associada com o produto. Mollerup chama essa categoria de “nomes
próprios” e Adrian Room de “nomes baseados em um nome de pessoa”.
O uso de nomes patronímicos para nomear marcas foi uma prática fortemente
empregada durante o século XIX e parte do século XX. Nomes como COLGATE (William
Colgate - 1804), PROCTER&GAMBLE (William Procter e James Gamble - 1837), C&A (os
irmãos Clemens e August Brenninkmeyer - 1841), NESTLÉ (Henri Nestlé – 1866), PHILIPS
(Gerard Philips – 1891), GILLETTE (King Camp Gillette – 1901), HARLEY DAVIDSON
(William Harley e Arthur Davidson-1901), FORD (Henry Ford – 1903), DISNEY (Walt
Disney –1920), FERRARI (Enzo Ferrari – 1929) e LACOSTE (René Lacoste – 1933) são
alguns exemplos de marcas ainda atuantes no mercado, que levam os nomes de seus
fundadores.
Wheeler (2003:41) descreve que, embora esta classificação de nome possa ser de fácil
registro em boa parte dos casos, exige, por outro lado, um maior esforço no processo de
comunicação e, consequentemente, maior investimento financeiro na construção das
associações da marca, por não descrever diretamente a natureza do negócio. Outro ponto
importante é que esse tipo de nome é intrinsecamente ligado a uma pessoa ou família e esta
relação pode transferir tanto aspectos positivos como negativos de personalidade.
Fig. 01 Exemplos de marcas patronímicas usadas em licenciamento – marcas do jogador de basquete norte-
americano Michael Jordan e da apresentadora de TV, Xuxa Meneghel.
3Segundo o Dicionário de Termos de Marketing, é a autorização para uso de determinado personagem, com exclusividade.
Diz-se também da empresa que dá autorização à outra para produzir os mesmos tipos de produtos em outro local ou país.
Em português usa-se a tradução Licenciamento.
A particularidade neste tipo de caso é que o nome da marca funciona como elemento
de transferência direta de aspectos de personalidade do personagem para o produto. Não que
isso não acontecesse de alguma forma no passado, mas o que os antigos empreendedores do
século XIX e XX buscavam era preencher de orgulho e responsabilidade a marca registrada,
uma forma de dizer: “Nós garantimos este produto. Nós temos orgulho deste produto”.
(Mollerup, 1998: 112). Já na prática do licenciamento, esta forma de “garantia” para o
consumidor é geralmente responsabilidade de terceiros - os detentores da licença de uso e os
donos das marcas apenas ficam responsáveis pelo gerenciamento de sua própria imagem.
Nomes descritivos
Os três autores usam a mesma denominação para os nomes de marca de natureza
descritiva. Diferentemente dos nomes próprios, os nomes descritivos descrevem a natureza do
negócio ou do produto de forma direta. Chaves (1990: 43) afirma que “é a enunciação
sintética dos atributos da identidade da instituição”.
O caso da empresa americana de encomendas FEDEX (Fig. 02) é notório quanto a esse
aspecto. A empresa foi fundada em 1973 com o nome descritivo FEDERAL EXPRESS
(Correio Expresso Federal) e naquele ano lançou o modelo de correio aéreo expresso
entregando 186 encomendas todas as noites para vinte e cinco cidades dos Estados Unidos. A
mudança de nome foi ocasionada pelo crescimento global da empresa: a identidade original
com o nome FEDERAL EXPRESS era de difícil pronúncia em países de língua não inglesa e
dificultava a expansão (Wheeler, 2003:140). A solução de alteração do nome veio a partir de
um grande projeto de reformulação da identidade, coordenado pela consultoria de marca
americana Landor Associates, entre os anos de 1997 e 2000. A Landor aproveitou o fato de
que várias pessoas já chamavam a empresa popularmente pelo acrônimo4 FEDEX e resolveu
propor a efetivação deste nome para a marca. O termo é tão expressivo que é comum nos
Estados Unidos o emprego da expressão “Did You FedEx it?” para confirmar se uma pessoa
já enviou uma encomenda.
4 Segundo o dicionário Houaiss On-line: diz-se de ou palavra formada pela inicial ou por mais de uma letra de cada um dos
segmentos sucessivos de uma locução, ou pela maioria destas partes (Sudam = Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia); acrossílabo.
Fig. 02 Imagens das aplicações das identidades visuais da empresa FEDEX – a primeira foto mostra a aplicação
do nome original e a segunda (e atual) a aplicação do novo nome da empresa.
Nomes toponímicos
Chaves (1990:42) propõe o termo “toponímico” para referir-se a todos os nomes de
marca que remetem ao lugar de origem ou de atuação inicial da instituição. Room (1987:14)
os denomina de “nomes baseados em um nome de lugar”, quase sempre aquele do lugar
original onde o produto foi inventado, vendido ou desenvolvido. Mollerup não faz qualquer
menção específica a este tipo de nomes.
Atualmente, é comum que cidades e países utilizem seus nomes como marca para
explorar potencialidades econômicas por meio de sua imagem. Essas marcas são usadas em
programas de promoção, divulgação e apoio à comercialização de produtos, serviços e
destinos turísticos e têm a função de ser um forte elemento de identidade. Esses programas
são chamados de Place Branding ou Country Branding.
Dois exemplos recentes desse tipo de abordagem são os casos dos programas Marca
Brasil e Estrada Real (Fig. 03), lançados respectivamente pelo Ministério do Turismo do
Governo Brasileiro e Governo Estadual de Minas Gerais para divulgar o turismo, produtos e
belezas naturais.
Fig. 03 Marca Brasil e Marca do Instituto Estrada Real – exemplos de nomes toponímicos e Place Branding
Graham e Peroff (1987: 35) alertam para algumas situações em que essa classe de
nomes deva ser evitada, particularmente aqueles que têm associação, direta ou indireta, com
um produto exclusivo, por exemplo, “Detroit” para carros e “Aspen” para equipamentos de
esqui. Para eles, o uso deste artifício dificultaria o registro legal de marca.
Nomes metafóricos
Para Mollerup (1998:114), “nomes metafóricos” revelam a natureza dos negócios
indiretamente. Referem-se a seu objeto através de uma qualidade comum, que provoca
associações. Essa categoria é chamada por Chaves (1990:42) de “nomes simbólicos”, para
quem são aqueles que fazem alusão à empresa por meio de uma imagem literária. Já na
classificação de Room (1987:14), a que mais se assemelha é a categoria “nomes de boa
associação”, que são baseados em uma história verdadeira ou objetiva da origem.
O nome da QUAKER, famosa marca de aveia fundada em 1877, foi tirado de uma
enciclopédia por um dos fundadores da empresa, Henry Seymour. Faz referência a uma seita
protestante do mesmo nome originada na Inglaterra no século XVII e muito difundida nos
EUA, que cultivava pureza, honestidade, força e coragem. A adoção do nome QUAKER
trazia essas associações positivas para a farinha de aveia (Room, 1982: 97 e 143).
Nomes encontrados
Para Mollerup (1998:115) um “nome encontrado” é uma palavra já conhecida, que não
possui uma relação natural com o que a companhia ou produto representa. Adrian Room e
Norberto Chaves não fazem referência a esta categoria. Esses nomes não trazem de imediato
qualquer significado para a marca e dependem de grandes investimentos em comunicação
para serem associados aos seus produtos ou empresas.
O nome da empresa de telefonia móvel franco-britânica ORANGE (Fig. 05), que atua
na Europa, iniciou uma forte tendência na área de telefonia móvel ao uso de nomes
encontrados. O conceito deste nome surgiu da parceria entre a consultoria de marca, Wolff
Olins, e da agência de propaganda WCRS, ambas sediadas em Londres, na Inglaterra. Graças
a um grande esforço de comunicação da marca, grande parte das pessoas na Europa já associa
o nome à empresa e não mais somente à fruta e à cor de mesmo nome (Pringle e Gordon,
2001: 77-80).
diferentemente da ORANGE, o significado das palavras foi utilizado de alguma forma nos
programas de comunicação das identidades destas marcas. A OI, por exemplo, associa a
simplicidade da expressão que é utilizada como saudação em toda a sua comunicação.
Nomes artificiais
O termo “nomes artificiais”, utilizado tanto por Room quanto por Mollerup, engloba os
neologismos, oriundos de palavras completamente novas que geralmente não fazem parte do
léxico - podem ser onomatopéias, pedaços de palavras ou junção destas.
Abreviações
Para Mollerup (1998:117), quando nomes de empresas se tornam muito longos e
dificultam a comunicação da marca, sempre há a opção de introduzir abreviações. Elas
ocorrem em uma suspensão5, em que a última parte de uma palavra ou nome é retirada, ou
podem ocorrer em uma contração, em que a primeira e a última parte são mantidas, enquanto
alguma parte do meio é retirada: jr., por exemplo, é uma contração de júnior. Chaves
(1990:42) denomina esses nomes de “contrações”, que são construções de nomes artificiais
mediante o uso de iniciais e fragmentos de palavras.
Abreviações de iniciais
Segundo Mollerup (1998:118), algumas abreviações de iniciais não são amigáveis e
aparentam ser burocráticas. Outras geram dificuldade para memorização; existem as que
parecem fornecer mais anonimato que identidade e, algumas vezes, a mesma abreviação é
usada para mais de uma organização. Grandes companhias como a IBM (International
Business Machines Corporation) e GM (General Motors) não se tornaram grandes por causa
de suas abreviações de iniciais. Elas se permitiram abreviar seus nomes porque já eram
grandes. As abreviações de iniciais são subdivididas em acrônimos e não acrônimos.
nessa abordagem, tais como BBC, CNT, SBT, CNN e MTV. As marcas IBM, YPF
(Yaciementos Petrolíferos Argentinos) e GM também fazem parte desta categoria.
Nomes de Status
Essa categoria é utilizada por Room (1987:14) para designar nomes que, através de
sua sonoridade e significado, remetem a condições de status, como: CROWN PIANOS
(Pianos da coroa), DIAMANTE NEGRO, MINISTER, CONSUL etc.
Entretanto, essa categoria também pode ser considerada metafórica, porque trabalha
por associação, ligada diretamente ou ao significado da palavra ou ao universo simbólico
remetido pelo país de origem da língua. Diversas vezes o uso de empréstimos linguísticos de
outras línguas, chamados de estrangeirismos, é a forma para buscar referências culturais de
“qualidade” ou de “status” compreendidos por membros de uma determinada comunidade
linguística.
A designer Evelyn Grumach (2004: entrevista gravada) acredita que existe uma forte
tendência no mercado brasileiro à adoção de palavras estrangeiras, principalmente de origem
inglesa, em busca de referências de status. Ela cita exemplos de projetos que coordenou como
o da loja de roupas femininas OH BOY e dos restaurantes Delight e The bakers, do Rio de
Janeiro. Ela diz que é bastante comum no setor do comércio a necessidade de se estar na
“média”, “de serem confundidos entre si”, por receio de adotarem uma estratégia errada, e
critica essa posição dizendo que poderia ser um forte diferencial de marca a utilização de
expressões em português.
Conclusões
O design exerce uma ação direta na construção de significados. O nome de uma marca é
um dos elementos de expressão mais importantes para a construção de sua identidade. Mesmo
que a atividade do Naming faça parte de portfolios de serviços de alguns escritórios de design
brasileiros, muitos profissionais aprenderam a lidar com o processo através de “erros” e
“acertos” durante sua atuação no mercado, pois são poucos os cursos e pesquisas
desenvolvidos nesta área no Brasil.
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