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estudos semióticos
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Resumo: Este artigo se dedica a revisar o desenvolvimento do conceito de polifonia, posição de distanciamento
máximo entre autor e personagens em um infindável diálogo, a partir da análise de algumas obras pertencentes
à ficção dostoieviskiana, feita por Bakhtin no livro Problemas da poética de Dostoiévski, no qual Dostoiévski
é definido como o criador do romance polifônico. O dialogismo, essência da teoria bakhtiniana do discurso,
reitera a presença do sujeito na comunicação, que não é vista apenas como uma simples transmissão de
informação, mas como uma interação verbal ou não verbal. Os sujeitos se constituem na e pela interação.
O discurso, construído a partir do discurso do outro, nunca está concluso. Então, todo texto é composto de
várias vozes que, na polifonia, têm de ser equipolentes. Segundo Bakhtin, a polifonia é parte essencial de toda
enunciação, já que em um mesmo texto ocorrem diferentes vozes que se expressam, e que todo discurso é
formado por diversos discursos. Só compreendemos enunciados quando reagimos às palavras que despertam
em nós ressonâncias ideológicas e/ou concernentes à nossa vida. A realidade do signo é objetiva e passível de
um estudo metodologicamente unitário. Bakhtin chama esse estudo do discurso bivocal, que inevitavelmente
surge sob as condições de comunicação dialógica e ultrapassa os limites da linguística, de metalinguística.
nosso mundo foi uma lição de afirmação democrática sobre as outras. E uma das características do conceito
e antiautoritária, partida de alguém que era vítima da de dialogismo de Bakhtin é conceber a unidade do
violência stalinista. mundo como polifônica, na qual a recuperação do co-
Fiorin (2006, p. 20) concorda com a concepção bakh- letivo se faz via linguagem, sendo a presença do outro
tiniana de que “não são as unidades da língua que constante. A linguagem, na concepção bakhtiniana,
são dialógicas, mas os enunciados”. O autor (2006, é uma realidade intersubjetiva e essencialmente dia-
p. 22) também diz que as unidades da língua não lógica, em que o indivíduo é sempre atravessado pela
são dirigidas a ninguém; só os enunciados têm desti- coletividade.
natário. De acordo com Bakhtin (1999, p. 131-132), Bakhtin (2008, p. 308) definiu Dostoiévski como o
para compreendermos a enunciação de outrem, deve- criador do chamado “romance polifônico”, entendido
mos orientar-nos em direção a ela e encontrar o lugar como um texto em que diversas vozes ideológicas con-
adequado dela no contexto correspondente. traditórias coexistem em pé de igualdade com o próprio
narrador. É um tipo de romance que se contrapõe ao
A cada palavra da enunciação que estamos romance monológico. Entretanto, Rechdan (2003, p.
em processo de compreender, fazemos cor- 46) adverte que dialogismo não deve ser confundido
responder uma série de palavras nossas, for- com polifonia, pois o dialogismo é o princípio dialó-
mando uma réplica. Quanto mais numerosas gico constitutivo da linguagem, enquanto a polifonia
e substanciais forem, mais profunda e real se caracteriza por vozes polêmicas em um discurso.
é a nossa compreensão (Bakhtin, 1999, p. Podemos concluir que, nos gêneros polifônicos, há
132). vozes tão polêmicas quanto as dos personagens dos
romances de Dostoiévski, os quais funcionam como
Só podemos compreender enunciados quando reagi-
seres autônomos, com visão de mundo, voz e posição
mos às palavras que despertam em nós ressonâncias
própria. Ao contrário, como na monodinia musical,
ideológicas e/ou concernentes à nossa vida. Compre-
nos gêneros que tendem à monologia, uma voz domina
ender é opor à palavra do locutor uma contrapalavra.
as outras vozes, que se subordinam: “o monologismo,
“O ser, refletido no signo, não apenas nele se reflete,
tal qual o capitalismo, reduz o indivíduo à situação de
mas também se refrata. O que determina essa refração
objeto” (Venturelli, 2006)3 .
do ser no signo ideológico? O confronto de interesses
Este artigo se propõe a revisar, a partir da análise
sociais nos limites de uma só e mesma comunidade
do discurso de Dostoiévski em algumas de suas obras
semiótica [...]” (Bakhtin, 1999, p. 46).
feita por Bakhtin no livro Problemas da poética de Dos-
No ano de 1929, Bakhtin escreveu Problemas das
toiévski, no qual o romancista é definido como o criador
obras criativas de Dostoiévski, reeditado em 1963 sob o
do romance polifônico, o desenvolvimento do conceito
título de Problemas da poética de Dostoiévski. Nesse li-
de polifonia, “posição de distanciamento máxima” (Be-
vro, Bakhtin (2008, p. 4) defende que “Dostoiévski não
zerra, 2008b, p. IX) entre autor e personagens em um
cria escravos mudos (como Zeus), mas pessoas livres,
infindável diálogo. Para tanto, revisamos também os
capazes de colocar-se lado a lado com seu criador, de
conceitos de dialogismo — que, para Bezerra (2008b,
discordar dele e até rebelar-se contra ele”.
p. IX) “constitui o fundamento maior de Problemas da
Os textos que inspiraram as reflexões bakhtinianas
poética de Dostoiévski” — e metalinguística — perspec-
acerca da polifonia são os do seu conterrâneo Fió-
tiva que, conforme Bezerra (2008b, p. XV), estuda as
dor Dostoiévski, considerado hoje um dos maiores e
relações dialógicas pertencentes ao campo do discurso,
mais inovadores romancistas da literatura mundial de
de natureza dialógica, e que, portanto, não podem ser
todos os tempos2 . “Aquelas profundidades da alma
estudadas em uma perspectiva rigorosamente linguís-
humana, cuja representação Dostoiévski considerava
tica.
tarefa fundamental de seu realismo no sentido su-
premo, revelam-se apenas no apelo tenso” (Bakhtin,
2008, p. 292).
1. Dialogismo
Conforme Scorsolini-Comin et al. (2008, p. 6), Bakh- Segundo Scorsolini-Comin et al. (2008, p. 6), o con-
tin emprega a palavra polifonia para descrever o fato ceito de dialogismo de Bakhtin entende a palavra como
de que o discurso resulta de uma trama de diferentes possuindo um constante movimento; entende o su-
vozes, sem que nunca exista a dominação de uma voz jeito não apenas sendo influenciado pelo meio, mas
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O escritor russo Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881) é considerado um dos maiores romancistas de todos os tempos. Ele foi
chamado por muitos como o fundador da corrente literária existencialista principalmente pelo romance Notas do subterrâneo, também
traduzido no Brasil por Memórias do subsolo, descrito por alguns críticos como a melhor proposta para existencialismo já escrita. Dostoiévski
explora em sua obra a autodestruição e a humilhação inerentes ao ser humano, além de analisar patologias que podem levar ao suicídio, à
loucura, ou mesmo ao homicídio. O modernismo literário, os estudos linguísticos, a teologia e a psicologia foram especialmente influenci-
ados por suas ideias. Fonte: Wikipédia. [on-line] Disponível em: h http://pt.wikipedia.org/wiki/Fi%C3%B3dor_Dostoi%C3%A9vski i.
Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Acesso em: 12 de novembro de 2009.
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também agindo sobre o ambiente, transformando-o. com a sua. Um autor está sempre na relação dialógica
O dialogismo acontece dentro de qualquer produção com os outros e, na polifonia, sua voz é chamada à
cultural, verbal ou não verbal, elitista ou popular. interação com as outras tantas vozes da sociedade em
Brait (apud Rechdan, 2003, p. 47) lembra que, para que se insere. Em Dostoiévski, os heróis estão abertos
precisar teoricamente o conceito bakhtiniano de dialo- uns aos outros, a monologia é destruída e forma-se um
gismo, deve-se entender o princípio da heterogeneidade novo gênero novelístico, percebido por Bakhtin através
ou a ideia de que a linguagem é heterogênea, isto é, de de sua original teoria do discurso, em que o significado
que o discurso é construído a partir do discurso do ou- só pode nascer do diálogo. Segundo Bezerra (2008b, p.
tro, que é o “já dito” sobre o qual qualquer discurso se X), em Problemas da poética de Dostoiévski, Bakhtin
constrói. O sujeito de Bakhtin, construído pelo outro, parte da hipótese segundo a qual as personagens de
é também um sujeito construído na linguagem, que Dostoiévski revelam tamanha independência interior
tem um projeto de fala que não depende só de sua in- em relação ao autor, participante e organizador do
tenção, mas depende do outro: primeiro é o outro com diálogo, que “permite-lhes até rebelar-se contra seu
quem fala; depois o outro ideológico, tecido por outros criador”.
discursos do contexto; ao mesmo tempo, o sujeito é
corpo, são as outras vozes que o constituem. Não há 2. Dostoiévski, “o sujeito do
sujeito anterior à enunciação ou à escritura. O sujeito
de Bakhtin se constitui na e pela interação e reproduz
apelo”
na sua fala e na sua prática o seu contexto imediato e Conforme Bakhtin (2008, p. 292), a autoconsciência
social. Mas “não se pode dizer que haja dois tipos de do herói em Dostoiévski é totalmente dialogada, es-
dialogismo: entre enunciados e entre o locutor e seu tando sempre voltada para fora, dirigindo-se a si, a
interlocutor. Na verdade, o interlocutor é sempre uma um outro, e a um terceiro. Fora do que ele chama
resposta, um enunciado e, por isso, todo dialogismo de “apelo vivo para si mesma e para os outros”, a au-
são relações entre enunciados” (Fiorin, 2006, p. 32). toconsciência não existe nem para si mesma. Não é
De acordo com Fiorin (2006, p. 19), “dialogismo são possível dominar e entender o homem interior através
as relações de sentido que se estabelecem entre dois de uma análise neutra indiferente, assim como não é
enunciados”, entendendo que há dois conceitos para o possível dominá-lo fundindo-se com ele ou penetrando
termo. No primeiro conceito, chamado de constitutivo em seu íntimo. Somente através da comunicação com
— que “não se mostra no fio do discurso” (Fiorin, 2006, ele, por via dialógica, podemos forçá-lo a revelar-se
p. 32) —, “dialogismo é o modo de funcionamento da a si mesmo. “Representar o homem interior como o
linguagem”, pois todo enunciado constitui-se a par- entendia Dostoiévski só é possível representando a
tir de outro enunciado e tem pelo menos duas vozes, comunicação dele com outro. Somente na comunica-
diz Fiorin (2006, p. 24). No segundo, chamado de ção, na interação do homem com o homem revela-se
composicional — que se mostra —, há a “incorporação o homem no homem para outros ou para si mesmo”
pelo enunciador da(s) voz(es) do outro no enunciado” Bakhtin (2008, p. 292).
(Fiorin, 2006, p. 32). Neste último, que é uma forma Sendo assim, Bakhtin (2008, p. 292) enfatiza que
particular de composição do discurso, podemos inserir no centro do mundo artístico de Dostoiévski deve estar
o discurso do outro citando abertamente o discurso situado o diálogo, o diálogo não como um meio, mas
alheio ou através do discurso bivocal, “internamente como um fim. No mundo de Dostoiévski, o diálogo é a
dialogizado, em que não há separação muito nítida do própria ação, lembra Faraco (2005, p. 48). Segundo
enunciado citante e do citado” (Fiorin, 2006, p. 33). Bakhtin (2008, p. 293), no romance de Dostoiévski, o
Rechdan (2003, p. 46) escreve que o diálogo, tanto homem não apenas se revela exteriormente como se
no exterior, na relação com o outro, como no interior torna, pela primeira vez, aquilo que é, não só para os
da consciência, ou escrito, realiza-se na linguagem. O outros, mas também para si mesmo. “Ser significa
diálogo refere-se a qualquer forma de discurso, desde comunicar-se pelo diálogo. Quando termina o diálogo,
relações dialógicas do cotidiano até textos literários. tudo termina. Daí o diálogo, em essência, não poder
Bakhtin considera o diálogo como as relações que nem dever terminar” (Bakhtin, 2008, p. 293). No ro-
ocorrem entre interlocutores, em uma ação histórica mance, isso significa uma inconclusibilidade eterna
socialmente compartilhada que, embora exista em um do diálogo. A obra de Dostoiévski nunca está acabada,
tempo e local específicos, é sempre mutável devido às está sempre na disputa de um diálogo e aberta à intera-
variações do contexto. ção. “Tudo é meio, o diálogo é o fim. Uma só voz nada
De acordo com Venturelli (2006)4 , um autor, ao termina e nada resolve. Duas vozes são o mínimo de
escrever, não está sozinho, mas inserido numa série, vida, o mínimo de existência” (Bakhtin, 2008, p. 293).
criando uma teia entre seu trabalho e os que o precede- Bakhtin (2008, p. 293) chama de “infinitude poten-
ram e os que o sucederam, sintetizando muitas vozes cial do diálogo” o diálogo do enredo que tende para o
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Vera Lúcia Pires; Fátima Andréia Tamanini-Adames
fim como o próprio evento do enredo do qual o diálogo é, qual um médico, ele “auscultava” as vozes dominantes
no fundo, um momento. O diálogo em Dostoiévski inde- da época em que vivia, fossem elas vozes oficiais ou
pende interiormente da inter-relação entre os falantes vozes ainda fracas, em termos de “ideias latentes ainda
no enredo, embora, evidentemente, seja preparado não auscultadas por ninguém”. Dostoiévski, de acordo
pelo enredo. O núcleo do diálogo está sempre fora do com Bakhtin (2008, p. 100), sentia que as ideias de
enredo, mas a envoltura do diálogo sempre está nas seu tempo começavam a amadurecer como “embriões
profundezas do enredo. de futuras concepções do mundo”.
Segundo Bakhtin (2008, p. 293), “o esquema básico Segundo Faraco (2005, p. 46), Bakhtin argumenta
do diálogo em Dostoiévski é muito simples: a contra- que Dostoiévski foi um grande inovador na arte do
posição do homem ao homem enquanto contraposição romance, porque encontrou meios de construir a ima-
do eu ao outro”. Para exemplificar, o autor cita o herói gem artística da inconclusibilidade humana, mudando
do livro Memórias do subsolo, o qual pensava em sua radicalmente a posição do autor-criador. Faraco (2005,
mocidade: “eu sou um, eles são todos.” Para esse p. 47) lembra que, para Bakhtin, Dostoiévski criou o
herói, o mundo se desintegra em dois campos: em um autor-criador que reserva para si apenas “o mínimo in-
estou eu, no outro estão eles; cada pessoa existe antes dispensável do excedente que é necessário à condução
de tudo como um outro, e essa definição do homem da narrativa, deslocando todo o demais para o campo
determina imediatamente a atitude daquele em face de visão e conhecimento do próprio herói”.
deste. O “homem do subsolo” reduz todas as pessoas
Bakhtin mostra que o novo enfoque do ho-
a um denominador comum, que é o outro. De acordo
mem em Dostoiévski representa uma pro-
com Bezerra (2005, p. 194), isto é um novo enfoque
funda revolução do conceito de realismo no
do homem — o enfoque dialógico —; uma nova posição
tocante à construção da personagem, na me-
que transforma o objeto, ou melhor, o homem reifi-
dida em que o homem-personagem é visto
cado, em outro sujeito, em outro eu que se autorrevela
em seu movimento interior, vinculado ao mo-
livremente.
vimento da história social e cultural de sua
A vida no enredo, na qual existem amigos, época e nela enraizado mas não estagnado,
irmãos, pais, esposas, rivais, mulheres ama- razão pela qual não é mero objeto do discurso
das, etc. e na qual ele poderia ser irmão, do autor (Bezerra, 2005, p. 199).
filho ou marido é por ele vivida apenas em
O romance polifônico de Dostoiévski não se resolve,
sonho. Em sua vida real não existem essas
não há síntese, não atinge uma apoteose. As cons-
categorias humanas reais. Por isso os diálo-
ciências do autor e das personagens são infinitas e
gos interiores e exteriores nessa obra são tão
inconclusas. Mas, justamente por isto, alguns críticos
abstratos e tão precisos [...] (Bakhtin, 2008,
acusaram o escritor de ser prolixo e escrever mal, des-
p. 294).
taca Venturelli (2006)5 . E foi desse limbo que Bakhtin
Para Bakhtin (2008, p. 294), em Memórias do sub- o resgatou. A crítica da época viu como “mau acaba-
solo, a infinitude do diálogo exterior se manifesta da mento” seus romances que nunca terminarem com
mesma maneira que a infinitude do diálogo interior. um final em que tudo fica resolvido. Dostoiévski, pelo
O outro real só pode entrar no mundo do herói como contrário, deixa as vozes pulularem no seu texto, e é
o outro com o qual ele já vem travando sua polêmica aí que entra Bakhtin com sua percepção de linguagem
interior. Qualquer voz real do outro funde-se inevita- de que a obra dostoievskiana é polifônica.
velmente com a voz do outro que já soa aos ouvidos As várias vozes que Dostoiévski deixa soltas em con-
do “homem do subsolo”. E a palavra real do outro é, fronto têm o mesmo peso e valor, e a voz do narrador
da mesma forma, levada para o que Bakhtin chama aparece como mais uma entre tantas, tratando-se de
de perpetuum móbile, tal qual todas as réplicas an- uma “posição de distanciamento máxima, que permite
tecipáveis do outro. A voz humana real e a réplica ao autor assumir o grau extremo de objetividade em
antecipável do outro não podem dar por acabado o relação ao universo representado e às criaturas que
interminável diálogo interior do personagem, destaca o povoam” (Bezerra, 2008b, p. IX). A voz do narrador
Bakhtin (2008, p. 295). Então, só resta ao “homem do não coloca as outras sob seu comando, mas requisita
subsolo” permanecer em sua irremediável oposição ao a voz do leitor para o diálogo e para entrar no entre-
outro. A essência da ciência do diálogo em Dostoiévski vero dos vários planos ideológicos que são chamados
está na inter-relação do diálogo interior e do exterior. para o romance, que é comparado a uma arena, com
Bakhtin (2008, p. 100) destaca que Dostoiévski ti- todos os pontos de vista em disputa e em igualdade de
nha o dom de “auscultar” o diálogo de sua época como condição.
um grande diálogo, de captar não só as vozes isoladas O que a ortodoxia viu como rusticidade, Bakhtin
de seu tempo, mas a interação dialógica entre elas. Tal viu como romance polifônico, em que não há escravos
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do narrador, mas gente livre para contradizer o pró- um herói, de dois heróis entre os quais cada um está
prio criador. As relações que Bakhtin mantém com ligado às réplicas opostas do diálogo interior do outro
Dostoiévski alcançaram uma intimidade como a que é o conjunto típico em Dostoiévski” (Bakhtin, 2008,
existe entre duplos, principalmente porque Bakhtin p. 298). Mas Bakhtin (2008, p. 298) destaca que
dedicou sua vida meditando sobre o papel do outro em para a correta compreensão da ideia de Dostoiévski
relação ao eu, acredita Venturelli (2006)6 . “O homem deve-se levar em conta a sua apreciação do papel do
em Dostoiévski é o sujeito do apelo. Não se pode falar outro enquanto “outro”, pois é fazendo a mesma pa-
sobre ele, pode-se apenas dirigir-se a ele” (Bakhtin, lavra passar por diferentes vozes que se opõem umas
2008, p. 292). De acordo com Fiorin (2006, p. 17), às outras que ele obtém os principais efeitos artísticos.
para Bakhtin, “viver é agir em relação ao que não é Segundo Fiorin (2006, p. 58), “o mundo interior é
o eu, isto é, o outro”. “Quem diz um, deve dizer dois: a dialogização da heterogeneidade de vozes sociais”,
ele é atraído pela necessidade imanente de uma série” então os sujeitos constroem enunciados ideológicos,
(Bakhtin, 2009, p. 53). pois são uma resposta ativa às vozes interiorizadas.
Venturelli (2006)7 , parafraseando Bakhtin (2008),
3. No mínimo dois heróis salienta que Dostoiévski consegue levar cada herói a
Bezerra (2008b, p. XVIII) escreve que “a fonte do dialo- falar com voz própria, sem interferência do narrador,
gismo bakhtiniano é a obra de Dostoiévski, na qual o criando o romance polifônico, com múltiplos pontos
diálogo entre as personagens é uma luta entre pontos de vista e diversas vozes de igual valor na tessitura da
de vista e juízos de valor” externados por suas vozes. obra. Ele adverte, entretanto, que isso não quer dizer
“Por trás do enunciado existe o falante, o sujeito dotado que Dostoiévski não tenha um ponto de vista pessoal,
de consciência” (Bezerra, 2008b, p. XVII). Para Bezerra apenas que este é mais um entre a trama tensa de
(2008b, p. XXII), a consciência é produto da interação outras visões expostas numa obra. Sendo assim, as
e do convívio de muitas consciências que, “na ótica do opiniões do autor/narrador não podem ser separadas
dialogismo”, participam desse convívio, respeitando os da teoria bakhtiniana que diz que nunca o sujeito está
valores dos outros que igualmente respeitam os seus. livre para impor sua intenção no discurso, devendo
A reiteração da presença do sujeito, conforme Bezerra mediá-la através das intenções dos outros. O ponto
(2008b, p. XVIII), perpassa toda a reflexão em torno de vista de alguém emerge através da interação de
do dialogismo em Problemas da poética de Dostoiévski. suas palavras e as do outro na interação dialógica e
inacabada. Entrar em diálogo com o outro é obrigató-
“A ligação profunda e essencial ou a coincidência
rio. Bakhtin, valorizando o dialogismo, mostra como a
parcial entre as palavras do outro em um herói e o dis-
autoconsciência do eu funciona na interação humana.
curso interior e secreto do outro herói são momentos
obrigatórios em todos os diálogos importantes de Dos-
toiévski”, escreve Bakhtin (2008, p. 296). De acordo O sujeito do romance de Dostoiévski não pode
com Bakhtin (2008, p. 295), “Dostoiévski sempre intro- ser reduzido a este ou àquele tema, nem a
duz dois heróis de maneira a que cada um deles esteja uma determinada vida, porque este sujeito é
intimamente ligado à voz interior do outro, embora ele o eu dos outros, não como objeto, mas como
nunca mais venha a ser a personificação direta dela”. outro sujeito, segundo a ótica de Bakhtin. Há
No melhor Dostoiévski, muda o valor artístico-formal o intercâmbio de significados de vida híbridos.
da autoconsciência, pois seu herói mantém um núcleo Os personagens não são unidades biografi-
inacabado e irresoluto que resiste ao seu acabamento camente completas. São autoconsciências
estético, acrescenta Faraco (2005, p. 46). abertas em relação a outras consciências Ven-
“A autoconsciência do herói em Dostoiévski é total- turelli (2006)8
mente dialogada [...] ela vai se revelando no fundo
da consciência socialmente alheia do outro sobre ele”
Faraco (2005, p. 47-48). O herói percebe a si mesmo
4. Polifonia
através da mediação da consciência dos outros heróis. De acordo com Faraco (2005, p. 48), Bakhtin deu o
Para Bakhtin, as consciências do autor e dos heróis experimental e fatídico nome de polifonia a essa inova-
em Dostoiévski são infinitas e inconclusas. ção na relação autor/herói em Dostoiévski. Esse seria
Bakhtin (2008, p. 298) defende que nos diálogos de um dos temas mais difíceis de seu pensamento. En-
Dostoiévski não se chocam duas vozes monológicas tretanto, Bakhtin nunca voltou, salvo em observações
integrais, mas duas vozes que ele chama de fracio- esparsas em seus apontamentos, a essa discussão. Fa-
nadas: réplicas abertas de um herói correspondem a raco (2005, p. 49) acredita que “o termo polifonia vale
réplicas veladas de outro herói. “A contraposição, a hoje mais pela sedução derivada de livres associações
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Vera Lúcia Pires; Fátima Andréia Tamanini-Adames
do que como categoria coerente de um certo arcabouço Todo signo está sujeito aos critérios de avali-
teórico”. Nesse sentido, afirma Bakhtin: ação ideológica [...]. O domínio do ideológico
coincide com o domínio dos signos: são mu-
Em toda parte é o cruzamento, a consonância tuamente correspondentes. Ali onde o signo
ou a dissonância de réplicas do diálogo aberto se encontra, encontra-se também o ideoló-
com as réplicas do diálogo interior dos heróis. gico. Tudo o que é ideológico possui um valor
Em toda parte um determinado conjunto de semiótico. [...] É seu caráter semiótico que
ideias, pensamentos e palavras passa por vá- coloca todos os fenômenos ideológicos sob
rias vozes imiscíveis, soando em cada uma a mesma definição geral (Bakhtin, 1999, p.
de modo diferente (2008, p. 308). 32-33).
Segundo Bakhtin (2008, p. 308), Dostoiévski, no ro- A autoconsciência do herói é um dado incisivo na re-
mance Os demônios, expõe claramente “as funções no presentação de sua imagem no plano polifônico, acres-
diálogo do outro enquanto tal, desprovido de qualquer centa Venturelli (2006)9 . O autor chama de “coperni-
concretização social e vitalmente pragmática”. Outro cana” a guinada de Dostoiévski com sua obra polifô-
personagem, “um desconhecido, um homem a quem nica, pois, para Bakhtin, os meios de comunicação
jamais houvesse visto”, desempenha as suas funções difundem uma visão monológica de sociedade, com
no diálogo fora do enredo como um “homem no ho- algumas vozes se sobressaindo a outras. Na polifo-
mem”, representando todos os outros para o eu. Como nia, ao contrário, as múltiplas vozes são equipolentes,
resultado desse status do outro, a comunicação se “imagine-se o romance como um grande coral de vozes
firma no lado oposto de todas as formas sociais reais e díspares e o narrador como um regente destas vozes,
concretas, tais como as familiares, as de camada, as de dando o mesmo espaço e o mesmo valor a todas, uma
classe, ou as fabular-vitais. Para o autor, nos diálogos interação sempre em aberto, na imagem didática de
confessionais, a voz do outro real está em posição aná- Paulo Bezerra” (Venturelli, 2006)10 .
loga, fora do enredo. Esses diálogos “são preparados (Bezerra, 2005, p. 194) destaca que o dialogismo
pelo enredo, mas seus pontos culminantes — auge contrapõe-se ao tratamento reificante do homem. No
dos diálogos — colocam-se acima do sujeito no campo dialogismo, a imagem do homem é construída dentro
abstrato da relação pura do homem com o homem”. da comunicação interativa na qual o ser humano se re-
Assim, Dostoiévski cria esse novo gênero denominado conhece através do outro e na imagem que o outro faz
por Bakhtin de polifônico, que apresenta vários pon- dele. Dostoiévski procura conhecer o homem em sua
tos de vista e várias vozes, cada qual recebendo do verdadeira essência como um outro eu único e inaca-
narrador o que lhe é devido. bável; não se propõe conhecer a si mesmo, propõe-se
Bakhtin, primeiro estudioso a elaborar os conceitos conhecer o outro, o eu estranho. Então, para Dos-
de polifonia e heterogeneidade, defendeu a ideia de toiévski, só se pode compreender o próprio eu — o eu
que todo texto é um objeto heterogêneo, de que todo para mim — juntamente com o outro, com o outro eu
texto é constituído por várias vozes, é a reconfiguração e com o reconhecimento do meu eu pelo outro — o eu
de outros textos que lhe dão origem, dialogando com para o outro. O eu assim nunca será um eu sozinho,
ele, retomando-o. Os sujeitos se constituem como tais pois só pode ter vida real em um mundo povoado por
nas ações interativas, sua consciência se forma no múltiplos sujeitos independentes e isônomos.
processo de interiorização de discursos preexistentes,
materializados nos diferentes gêneros discursivos, atu- O autor do romance polifônico não define
alizados nas contínuas e permanentes interlocuções as personagens e suas consciências à reve-
de que vão participando. lia das próprias personagens, mas deixa que
Para Bakhtin (1999, p. 31-38), a comunicação é elas mesmas se definam no diálogo com ou-
uma interação de consciências individuais com outras tros sujeitos-consciências, pois as sente a
consciências individuais, num processo que ganha em seu lado e à sua frente como “consciências
complexidade quando o conteúdo e a forma dessa co- equipolentes dos outros, tão infinitas e incon-
municação são observados como signos que, por sua clusíveis” como a dele, autor (Bezerra, 2005,
vez, também possuem forma e conteúdo ideológicos p. 195).
em constante interação a partir de esferas e de campos
específicos, evidentes em múltiplos discursos. Então, “O que caracteriza a polifonia é a posição do autor
a realidade fundamental da linguagem é a atividade como regente do grande coro de vozes que participam
sociossemiótica que se dá entre indivíduos nas rela- do processo dialógico” (Bezerra, 2005, p. 194). Mas
ções sociais historicamente situadas. A consciência é esse autor é ativo na medida em que rege vozes que ele
ideológica, dialógica e semiotizada. cria ou recria, entretanto, deixando que se manifestem
9
Entrevista retirada da Internet e sem numeração de páginas.
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Entrevista retirada da Internet e sem numeração de páginas.
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estudos semióticos, vol. 6, no 2
com autonomia. Conforme Bezerra (2005, p. 199), de Dostoiévski é o próprio discurso, o discurso plenis-
Bakhtin não reserva uma função secundária ao autor significativo. “As obras de Dostoiévski são o discurso
no processo polifônico, o qual não renuncia ao seu sobre o discurso, voltado para o discurso” (Bakhtin,
ponto de vista, nem se limita a montar pontos de vista 2008, p. 309).
alheios, mas ele enfatiza a relação de reciprocidade Bakhtin (2008, p. 207) não analisa o discurso em
inteiramente nova e especial entre a verdade do sujeito Dostoiévski linguisticamente no sentido rigoroso do
e a verdade do outro. O ativismo do autor tem um termo, pois acredita que “as relações dialógicas, em-
caráter dialógico especial, e está diretamente vinculado bora pertençam ao campo do discurso, não pertencem
à consciência ativa e isônoma do outro. É um ativismo a um campo puramente linguístico de seu estudo”
que estabelece uma relação dialógica entre a consciên- (Bakhtin, 2008, p. 208). Entretanto, para Bakhtin
cia criadora e a consciência recriada, participando do (2008, p. 207), as pesquisas metalinguísticas “não po-
diálogo com direito à interlocução com outras vozes, dem ignorar a linguística e devem aplicar seus resulta-
inclusive com a voz do autor, mas suas peculiaridades dos”; linguística e metalinguística devem se completar
de falante. “Trata-se de uma mudança radical da po- mutuamente sem se fundir.
sição do autor em relação às pessoas representadas, Grillo (2006, p. 123) diz que Bakhtin apresenta tanto
que de pessoas coisificadas se transformam em indi- a linguística quanto a metalinguística como estudando,
vidualidades” Bezerra (2005, p. 194). Então, em um sob diferentes ângulos, o mesmo fenômeno, isto é, o
mesmo espaço do romance, há a convivência e a inte- discurso. “A epistemologia de uma metalinguística
ração de uma multiplicidade de vozes plenivalentes e funda-se sobre três aspectos: a complementaridade
consciências independentes, imiscíveis e equipolentes. em relação à linguística de sua época, a delimitação
Na polifonia, estas vozes e consciências “não são objeto de um objeto de pesquisa e a proposição de um campo
do discurso do autor, são sujeitos de seus próprios de fenômenos a estudar” (Grillo, 2006, p. 122).
discursos”, possuem independência na estrutura da
obra, combinam-se com a palavra do autor e com as [...] Metalinguística, aqui interpretada como
vozes de outras personagens, de acordo com Bezerra teoria/análise dialógica do discurso, faz parte
(2005, p. 195). das estratégias utilizadas por Bakhtin para,
Conforme Grillo (2005, p. 1164), as noções de dialo- a partir da minuciosa leitura e análise do
gismo e de polifonia estão entre as principais contribui- conjunto da obra de Dostoiévski, configurar
ções dos trabalhos de Bakhtin e de seus parceiros, mas o gênero polifônico, e apresentar o conceito
não se pode esquecer que a relação de contradição é de polifonia. E não o contrário (Brait, 2006,
um dos aspectos constitutivos da polifonia em Bakhtin: p. 14).
“não basta que haja diversas vozes, antes é preciso que
elas se constituam, por meio do diálogo, em pontos Segundo Fiorin (2006, p. 115), o romance é um
de vista contraditórios” (Grillo, 2005, p. 1165). “Se a gênero literário plurilinguístico, pluriestilístico e plu-
sociedade é dividida em grupos sociais, com interesses rivocal. Para Fiorin (2006, p. 90), a palavra que é
divergentes, então os enunciados são sempre o espaço representada, e não a que representa, é sempre bi-
de luta entre vozes sociais, o que significa que são ine- vocal. Acosta-Pereira (2008, p. 12) escreve que “o
vitavelmente o lugar da contradição. [...] O contrato se discurso bivocal é introduzido pelo autor sob o ângulo
faz com uma das vozes de uma polêmica” (Fiorin, 2006, da comunicação dialógica, isto é, sob o plano do dis-
p. 25). Essas vozes de grupos sociais com interesses curso”. O discurso bivocal orienta-se simultaneamente
divergentes e manifestas nos enunciados podem ser para o objeto do discurso e para o discurso do outro,
percebidas através de uma análise metalinguística. numa dupla orientação do discurso que materializa-se
na forma de enunciados.
5. Metalinguística e análise Para Brait (2006, p. 13), é justamente essa bivo-
calidade de diálogo, situado no objeto e na maneira
dialógica do discurso
de enfrentá-lo, que caracteriza a novidade da meta-
De acordo com Bakhtin (2008, p. 309), o diálogo ex- linguística e de suas consequências para os estudos
terior expresso é inseparável do diálogo interior e, em da linguagem. Segundo Brait (2006, p. 24), “Bakhtin
certo sentido, nele se baseia; e ambos são igualmente não tinha um conceito ad hoc de polifonia para testar
inseparáveis do grande diálogo do romance no seu todo, nos escritos de Dostoievski.” O conceito é formulado a
que os engloba. Bakhtin chama esse tipo de estudo de partir dos textos de Dostoiévski e esta é uma da carac-
metalinguístico, o qual é o estudo das múltiplas varie- terística fundamental da teoria/análise dialógica do
dades do chamado discurso bivocal e sua influência discurso: “não aplicar conceitos a fim de compreender
em diversos aspectos da construção do discurso. Na um discurso, mas deixar que os discursos revelem sua
obra de Dostoiévski, o discurso bivocal encontra maté- forma de produzir sentido, a partir do ponto de vista
ria abundante: o objeto fundamental da representação dialógico, num embate”.
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Vera Lúcia Pires; Fátima Andréia Tamanini-Adames
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estudos semióticos, vol. 6, no 2
outro eu com direitos iguais no diálogo interativo com as vozes seriam equipolentes, nenhuma voz social se
os demais falantes. imporia como a palavra última e definitiva” (Fiorin,
As vozes são assimiladas de diferentes maneiras no 2006, p. 83). Aqui, acreditamos em um Bakhtin pen-
processo de construção da consciência, de acordo com sador maior que, conforme Schnaiderman (2005, p.
Fiorin (2006, p. 56). Há vozes que são incorporadas 17), antecipou questões filosóficas contemporâneas,
como a voz de autoridade e que se adere de modo particularmente as de Sartre11 e Heidegger12 , e que
incondicional e, por isso, é centrípeta, impermeável, soube identificar a submissão de sujeitos cujas vo-
resistente a impregnar-se de outras vozes. Mas, outras zes representam um mero papel de acompanhamento.
vozes são assimiladas como posições de sentido inter- Acreditamos em um Bakhtin que reivindicou indiví-
namente persuasivas e vistas como uma entre outras; duos ou “heróis” que, tais quais os personagens de
por isso, são centrifugas e permeáveis à impregnação Dostoiévski, são dotados de vozes resistentes a vozes
por outras vozes, estando sempre abertas à mudança. centrípetas que procuram se impor como autoras de
sentido. Para Bezerra (2008a, p. 317), uma voz solitá-
Sendo a consciência sociossemiótica, ou seja, ria se torna instável, o autor (Bezerra, 2008b, p. XXII)
formada de discursos sociais, o que significa lembra que no dialogismo, o culto do individualismo é
que seu conteúdo é sígnico, cada indivíduo visto como uma tragédia, pois “viver é comunicar-se
tem uma história particular de constituição pelo diálogo”. Então, mesmo que não existam normas
de seu mundo interior, pois ele é resultante morais válidas em si como normas morais, entende-
do embate e das interrelações desses dois mos aqui com Bakhtin (2009, p. 24) que “existe um
tipos de vozes. Quanto mais a consciência sujeito moral com uma determinada estrutura (não
for formada de vozes de autoridade, mais ela uma estrutura física ou psicológica, é claro), e é nele
será monológica, ptolomaica. Quanto mais que nós temos que nos apoiar”. Sujeitos livres, com
for constituída de vozes internamente persu- consciências ideologicamente distintas e com vozes
asivas, mais será dialógica, galileana (Fiorin, internamente persuasivas, “com iguais direitos como
2006, p. 56). personas, respeitando os valores dos outros que igual-
mente respeitam os seus” (Bezerra, 2008b, p. XXII);
A “dificuldade de leitura da obra bakhtiniana fez esses são os sujeitos que cremos existir em um mundo
aparecer diversos Bakhtins” (Fiorin, 2006, p. 15): um polifônico.
que criticou a psicanálise — dizendo que “a consciência
é muito mais terrível que quaisquer complexos incons-
Referências
cientes” (Bezerra, 2008a, p. XXI) —, o estruturalismo e
o formalismo, e que “mostrou que todas as explicações
totalizantes eram monológicas” (Fiorin, 2006, p. 15);
Acosta-Pereira, Rodrigo
um interacionista que tratou das relações do eu com o
2008. Gêneros do discurso - experiências psi-
outro, “entre posições sociais” (Idem, p. 15); um que
cossociais tipificadas. Letra Magna, Ano 4, Nú-
“não aderiu propriamente ao marxismo” (Idem, p. 15);
mero 9, Santa Cruz do Sul, jul./dez. Disponível
um linguista que “não produziu uma teoria acabada da
em: h www.letramagna.com i. Acesso em: 5 out. 2009.
linguagem”; um teórico da literatura que não ofereceu
uma “teoria literária completa” (Idem, p. 16).
Bakhtin, Mikhail
[...] em Bakhtin coexistem um homem religi- 1999. Marxismo e filosofia da linguagem: proble-
oso e um marxista, dialogando entre si. É o mas fundamentais do método sociológico na ciência
dialogismo aparecendo soberano na própria da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara
vida de quem teorizou sobre ele. Não cabe, Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec.
pois, levantar dúvidas desse tipo sobre um
pensador que concebe tudo em confronto, em Bakhtin, Mikhail
diálogo, e para quem o importante é, sobre- 2008. Problemas da poética de Dostoiévski. Tra-
tudo, a manifestações das diferentes vozes dução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense
(Schnaiderman, 2005, p. 17). Universitária.
74
Vera Lúcia Pires; Fátima Andréia Tamanini-Adames
75
Dados para indexação em língua estrangeira
issn 1980-4016
Abstract: In Problems of Dostoevsky’s Poetics, Bakhtin defines Dostoevsky as the creator of the polyphonic
novel. We intend to review in this paper the development of the concept of polyphony, defined as the position of
maximum distance between the author and the characters in a never-ending dialogue. Dialogism, essence of the
Bakhtinian discourse theory, reiterates the subject’s presence in the communication, which is not seen merely
as the transmission of information, but as verbal or non-verbal interaction. Individuals are built from interaction
and through interaction. Discourses built from other discourses are never concluded and, therefore, texts have
many voices. These voices must be equipollent in polyphony. According to Bakhtin, polyphony is an essential part
of all enunciations, since different voices are expressed in a same text, and every discourse is built by several
discourses. We only understand enunciations when we react to words that awaken in us ideological and/or
individual echoes. The reality of signs is objective and it can be studied. Bakhtin calls this study metalinguistics,
which is the study of bivocal discourse that inevitably arises under the conditions of dialogical communication and
goes beyond linguistic study.
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GH UDPRV GD OLQJtVWLFD 3RGHUVHLD GL]HU TXH D $' GH ´SULPHLUD
JHUDomRµSDTXHODGRVÀQVGRVDQRVHLQtFLRGDGpFDGDGH
SURFXUDYD HYLGHQFLDU DV SDUWLFXODULGDGHV GH IRUPDo}HV GLVFXUVLYDV R
GLVFXUVR FRPXQLVWD VRFLDOLVWD HWF FRQVLGHUDGRV FRPR HVSDoRV TXDVH
DXWRVXÀFLHQWHV DSUHHQGLGRV D SDUWLU GH VHX YRFDEXOiULR ´$ $' GH
VHJXQGDJHUDomROLJDGDjVWHRULDVHQXQFLDWLYDVSRGHVHUOLGDFRPRXPD
UHDomRVLVWHPiWLFDFRQWUDDTXHODTXHDSUHFHGHXµS
$3HUVSHFWLYDWHyULFRIUDQFHVD
(VWXGDPDSULRULFRUSXV´HVFULWRVµGLVFXUVRVTXH
DSUHVHQWDPXPLQWHUHVVHKLVWyULFR
UHÁHWHPVREUHDLQVFULomRHDSDUWLFLSDomRGR6XMHLWR
QRVHXGLVFXUVR
ID]HP XVR GDV WHRULDV GD HQXQFLDomR OLQJtVWLFD
'LVFLSOLQDUXP6FLHQWLD6pULH$UWHV/HWUDVH&RPXQLFDomR6DQWD0DULDYQS
SULQFLSDOPHQWHDWUDYpVGHDXWRUHVFRPR%HQYHQLVWH
RX&XOLROL
SULYLOHJLDPRSDSHOGRLQWHUGLVFXUVR
,17(57(;78$/,'$'((32/,)21,$
,QWHUWH[WXDOLGDGHGHÀQLo}HV
HPSUHJDGR SDUD GHVLJQDU XP FRQMXQWR GH WH[WRV OLJDGRV SRU UHODo}HV
LQWHUWH[WXDLV GLUHPRV SRU H[HPSOR TXH D OLWHUDWXUD GD 3OpLDGH H D
OLWHUDWXUD DQWLJD IRUPDP XP LQWHUWH[WRµ 0$,1*8(1(8$8 S
(P0DLQJXHQHDXSDSXG0$,1*8(1(8$8S
pIHLWDXPDGLVWLQomRHQWUHLQWHUWH[WXDOLGDGHHLQWHUWH[WR
RLQWHUWH[WRpRFRQMXQWRGRVIUDJPHQWRVFLWDGRVQXP
GHWHUPLQDGRFRUSXVHQTXDQWRTXHDLQWHUWH[WXDOLGDGH
pRVLVWHPDGHUHJUDVLPSOtFLWDVTXHVXEPHWHPHVVH
LQWHUWH[WRRPRGRGHFLWDomRTXHpMXOJDGROHJtWLPR
QDIRUPDomRGLVFXUVLYDGDTXDOGHSHQGHHVVHFRUSXV
$VVLPDLQWHUWH[WXDOLGDGHGRGLVFXUVRFLHQWtÀFRQmR
pDPHVPDGRGLVFXUVRWHROyJLFRXPDHRXWUDYDULDP
GHXPDpSRFDDXPDRXWUD3RGHPRVGLVWLQJXLUXPD
LQWHUWH[WXDOLGDGHLQWHUQDHQWUHXPGLVFXUVRHDTXHOHV
GRPHVPRFDPSRGLVFXUVLYRHXPDLQWHUWH[WXDOLGDGH
H[WHUQD FRP RV GLVFXUVRV GH FDPSRV GLVFXUVLYRV
GLVWLQWRVSRUH[HPSORHQWUHXPGLVFXUVRWHROyJLFRH
XPGLVFXUVRFLHQWtÀFR
´2WH[WRUHGLVWULEXLDOtQJXD8PDGDVYLDVGHVVDUHFRQVWUXomRp
DGHSHUPXWDUWH[WRVIUDJPHQWRVGHWH[WRVTXHH[LVWLUDPRXH[LVWHPDR
UHGRUGRWH[WRFRQVLGHUDGRHSRUÀPGHQWURGHOHPHVPRWRGRWH[WRpXP
LQWHUWH[WRRXWURVWH[WRVHVWmRSUHVHQWHVQHOHHPQtYHLVYDULiYHLVVREIRUPDV
PDLVRXPHQRVUHFRQKHFtYHLVµ%$57+(6DSXG.2&+S
,VVRVLJQLÀFDTXHWRGRWH[WRpXPREMHWRKHWHURJrQHRTXHUHYHODDV
UHODo}HVSURIXQGDVGHVHXLQWHULRUFRPVHXH[WHULRUHYLGHQWHPHQWHID]HP
SDUWHGHVVHH[WHULRURXWURVWH[WRVTXHOKHGmRRULJHPTXHRFRQGLFLRQDP
FRPRVTXDLVGLDORJDDRVTXDLVDOXGHRXVHRS}H
&RQIRUPHSRVWXOD.RFKS
7LSRVGH,QWHUWH[WXDOLGDGH
G&RPLQWHUWH[WRDOKHLRFRPLQWHUWH[WRSUySULRRXFRPLQWHUWH[WR
DWULEXtGR D XP HQXQFLDGRU JHQpULFR $OJXQV DXWRUHV UHVHUYDP D
GHQRPLQDomRGHLQWHUWH[WXDOLGDGHDSHQDVSDUDRSULPHLURFDVRXWLOL]DQGR
SDUD R VHJXQGR R UyWXOR GH LQWUD ² RX DXWRWH[WXDOLGDGH 3RU VHX WXUQR
DWULEXHPVHDXPHQXQFLDGRUJHQpULFRHQXQFLDo}HVTXHWrPSRURULJHP
XPHQXQFLDGRULQGHWHUPLQDGRDVTXDLVID]HPSDUWHGRUHSHUWyULRGHXPD
FRPXQLGDGHFRPRpRFDVRGRVSURYpUELRVHGLWRVSRSXODUHV$RXVDUVH
XPSURYpUELRSURGX]VHXPD´HQXQFLDomRHFRµGHXPQ~PHURLOLPLWDGR
GHHQXQFLDo}HVDQWHULRUHVGRPHVPRSURYpUELRFXMDYHUGDGHpJDUDQWLGD
SHORHQXQFLDGRUJHQpULFRUHSUHVHQWDQWHGDRSLQLmRJHUDOGD´YR[SRSXOLµ
GRVDEHUFRPXPGDFROHWLYLGDGHS
3ROLIRQLD
2FRQFHLWRGHSROLIRQLDIRLLQWURGX]LGRQDVFLrQFLDVGDOLQJXDJHP
SRU %DKNWLQ HP SDUD FDUDFWHUL]DU R URPDQFH GH 'RVWRLpYVNL
3DUD %DKNWLQ p R GLDORJLVPR TXH FRQVWLWXL D OLQJXDJHP SRLV D SDODYUD
R SURGXWR GD UHODomR HQWUH IDODQWH H RXYLQWH HPLVVRU H UHFHSWRU &DGD
SDODYUDH[SUHVVDR¶XP·HPUHODomRFRPRRXWUR$IRUPDYHUEDOGHFDGD
XP DFRQWHFH D SDUWLU GR SRQWR GH YLVWD GD FRPXQLGDGH D TXDO SHUWHQFH
2(XVHFRQVWUyLFRQVWLWXLQGRR(XGR2XWURVHQGRSRUHVWHFRQVWLWXtGR
%$.+7,1
3DUD0DLQJXHQHDXDSROLIRQLDp´YiULDV¶YR]HV·VHH[SULPHP
VHPTXHQHQKXPDVHMDGRPLQDQWHµS0DLVDPSODPHQWHR
DXWRUGL]TXHDSUREOHPiWLFDSROLI{QLFDSRGHVHULQWHJUDGDDIHQ{PHQRV
GH RUGHP WH[WXDO FRPR R SDVWLFKH D SDUyGLD R SURYpUELR ´4XDQGR
HQXQFLDPRV XP SURYpUELR GDPRV QD YHUGDGH VHX HQXQFLDGR FRPR
DVVHJXUDGR SRU XPD RXWUD LQVWkQFLD D ´6DEHGRULD GDV QDo}HVµ TXH
WUD]HPRVjFHQDQDSDODYUDHGDTXDOSDUWLFLSDPRVLQGLUHWDPHQWHHQTXDQWR
PHPEURVGDFRPXQLGDGHOLQJtVWLFDµ0$,1*8(1($8S
.RFK S QRV DÀUPD TXH 'XFURW WURX[H
RWHUPRSDUDDSUDJPiWLFDOLQJtVWLFDGHVLJQDQGRGHQWURGHXPDYLVmR
HQXQFLDWLYD GR VHQWLGR DV GLYHUVDV SHUVSHFWLYDV SRQWRV GH YLVWD RX
SRVLo}HVTXHSRGHPVHUUHSUHVHQWDGDVQRVHQXQFLDGRV3DUDHOHRVHQWLGR
GHXPHQXQFLDGRSRGHVHUGHÀQLGRFRPRXPDUHSUHVHQWDomRWHDWUDOGH
VXDHQXQFLDomR1HVVHkPELWRPRYHPVHDVSHUVRQDJHQV²TXHVHULDPDV
ÀJXUDVGRGLVFXUVR²SRGHQGRVHUUHSUHVHQWDGDVHPGLYHUVRVQtYHLV
DORFXWRU²´UHVSRQViYHOµSHORHQXQFLDGR'XFURWGLVWLQJXHDLQGD
HQWUHORFXWRUHQTXDQWRWDO²/²HORFXWRUHQTXDQWRSHVVRD²²²
EHQXQFLDGRUHV²HQFHQDo}HVGHSRQWRVGHYLVWDGHSHUVSHFWLYDV
'LVFLSOLQDUXP6FLHQWLD6pULH$UWHV/HWUDVH&RPXQLFDomR6DQWD0DULDYQS
GLIHUHQWHVQRLQWHULRUGRHQXQFLDGR
0DLQJXHQHDXSEDVHLDVHHP'XFURWSDUD
ID]HUXPDGLVWLQomRHQWUHVXMHLWRIDODQWHORFXWRUHHQXQFLDGRU
UHSUHVHQWDWLYLGDGH GR SHUVRQDJHP GLDQWH GR DXWRU HP XPD ÀFomR ´2V
´HQXQFLDGRUHVµVmRVHUHVFXMDVYR]HVHVWmRSUHVHQWHVQDHQXQFLDomRVHP
TXH VH OKHV SRVVD HQWUHWDQWR DWULEXLU SDODYUDV SUHFLVDV HIHWLYDPHQWH
HOHVQmRIDODPPDVDHQXQFLDomRSHUPLWHH[SUHVVDUVHXSRQWRGHYLVWDµ
0$,1*8(1($8 S 2X VHMD R ORFXWRU SRGH S{U HP VHX
SUySULRHQXQFLDGRSRVLo}HVGLIHUHQFLDGDVGDVXD
$LQGD VREUH LVVR 5RXOHW HW DO DSXG 0DLQJXHQHDX
S´ID]XPDGLVWLQomR~WLOHQWUHDGLDIDQLDUHWRPDGDQRVGLVFXUVR
GRORFXWRUGHSURSRVLo}HVHIHWLYDVRXYLUWXDLVGHVHXFRHQXQFLDGRUHD
SROLIRQLDSURSULDPHQWHGLWDFLWDomRGHSURSRVLo}HVGHRXWURVHQXQFLDGRUHV
GHWHUFHLURVµ
7LSRVGHSROLIRQLDSDUD'XFURW
$63(&7260(72'2/Ð*,&26
3DUDDUHDOL]DomRGRREMHWLYRSURSRVWRSRUHVWHWUDEDOKRDDQiOLVH
GHWH[WRVHPTXHIRUDPHQFRQWUDGRVFDVRVGHSROLIRQLDHLQWHUWH[WXDOLGDGH
GHXVHjOX]GDWHRULDSURSRVWDSRU.RFKTXHWUDWDVLPXOWDQHDPHQWH
GDVGXDVFRQFHSo}HV
2VWUHFKRVDQDOLVDGRVIRUDPUHWLUDGRVGHSXEOLFDo}HVGRVVHJXLQWHV
YHtFXORV -RUQDO =HUR +RUD GH 3RUWR$OHJUH WH[WRV SXEOLFDGRV QR PrV
GH RXWXEUR GH $%(&+( 7$9$5(6 9(5,66,02
DEH-RUQDO'LiULRGH6DQWD0DULD0$<(5GDFLGDGH
GHPHVPRQRPHWH[WRVSXEOLFDGRVHPMDQHLURGRDQRGH
1mRVHEXVFRXHQWUHWDQWRDDQiOLVHLQWHJUDOGRVWH[WRVHVFROKLGRV
HP DQH[R PDV DSHQDV GDV SDUWHV HP TXH SRU PHLR GH FRQKHFLPHQWR
SUpYLRSRGHVHLGHQWLÀFDUDRFRUUrQFLDGDSROLIRQLDGDLQWHUWH[WXDOLGDGH
RXGHDPEDVDRPHVPRWHPSR$VVLPQDDQiOLVHDORFDUDPVHSULPHLURRV
FDVRVHPTXHVHHQFRQWURXDSHQDVLQWHUWH[WXDOLGDGHDSyVRVFDVRVHPTXH
VHHQFRQWURXDSHQDVSROLIRQLDHSRU~OWLPRRVFDVRVHPTXHDVFRQFHSo}HV
DSDUHFHPVLPXOWDQHDPHQWHRXVHMDQDPHVPDSDVVDJHPGRWH[WR7RGRV
RVFDVRVDSUHVHQWDGRVYrPDFRPSDQKDGRVGDVUHVSHFWLYDVH[SOLFDo}HVH
MXVWLÀFDWLYDVRXVHMDRQGHHVWiDLQWHUWH[WXDOLGDGHRXDSROLIRQLDHSRU
TXHVHHQFDL[DHPXPDHQmRHPRXWUD
'LVFLSOLQDUXP6FLHQWLD6pULH$UWHV/HWUDVH&RPXQLFDomR6DQWD0DULDYQS
,17(57(;78$/,'$'((32/,)21,$1267(;726
1HVWHFDStWXORDSyVWRGDDUHIHUHQFLDomRWHyULFDMiDSUHVHQWDGDIDU
VHi XPD DQiOLVH GH WUHFKRV GH WH[WRV UHWLUDGRV GH MRUQDLV QRV TXDLV VH
SRGHHQFRQWUDURFRUUrQFLDVGHLQWHUWH[WXDOLGDGHHGHSROLIRQLD
5HVVDOWDVH TXH DV DQiOLVHV IRUDP IHLWDV XWLOL]DQGRVH DSHQDV GH
.RFK FRPR UHIHUrQFLD Mi TXH HVWD DXWRUD SURS}H XPD WLSRORJLD
EDVWDQWHGLGiWLFDTXHQmRpSURSRVWDSHORVRXWURVWHyULFRVUHIHUHQFLDGRV
QR GHFRUUHU GHVWD PRQRJUDÀD H HP YLUWXGH WDPEpP GH TXH R DXWRU GR
WUDEDOKR QmR WHP DXWRULGDGH VXÀFLHQWH SDUD GHWHUPLQDU WLSRORJLDV VHP
EDVHDUVHHPDOJXPWHyULFRSURHPLQHQWHQRDVVXQWR
2QGHKiLQWHUWH[WXDOLGDGH
$IUDVHQDIDFKDGDGRDQWLJRWHPSORSRVLWLYLVWDGD$YHQLGD-RmR
3HVVRDHP3RUWR$OHJUHWDOYH]GrDUHVSRVWD´2VYLYRVVmRFDGDYH]YDLV
JRYHUQDGRVSHORVPRUWRVµ
0DUDJDWRVH&KLPDQJRV
eXPFDVRFODURGHLQWHUWH[WXDOLGDGHMiTXHDROHUPRVHVWHWtWXOR
QRV UHPHWHPRV GLUHWDPHQWH j 5HYROXomR )DUURXSLOKD RFRUULGD QR 5LR
*UDQGHGR6XOQRVpFXOR;,;3DUD.RFKSWHUtDPRVQHVWH
WtWXOR XP FDVR GH LQWHUWH[WXDOLGDGH LPSOtFLWD Mi TXH QmR Ki FLWDomR
H[SUHVVD GD IRQWH FDEHQGR DR OHLWRU RX LQWHUORFXWRU UHFXSHUDU HP VXD
PHPyULDRWH[WRSRVWRHRVHXVHQWLGR
$LQGDHP0DUDJDWRVH&KLPDQJRVWHPRV
0DLV XPD YH] WHPRV XP FDVR GH LQWHUWH[WXDOLGDGH LPSOtFLWD Mi
TXHQmRKiFLWDomRGDIRQWHVHQGRQHFHVViULRSRULVVRTXHRLQWHUORFXWRU
UHFXSHUHHPVXDPHPyULDRWH[WRSRVWR7DPEpPKiLQWHUWH[WXDOLGDGHGDV
VHPHOKDQoDV.2&+SSRLVRWH[WRLQFRUSRURXRLQWHUWH[WR
SDUD VHJXLU VHX FXUVR VXD DUJXPHQWDWLYLGDGH D TXDO HVWi DPSDUDGD
QHFHVVLWD GR LQWHUWH[WR 2 WH[WR HP TXHVWmR WUDWD GRV FRQIURQWRV SHORV
TXDLV SDVVRX R 5LR *UDQGH GR 6XO QR FXUVR GH VXD KLVWyULD GR HVStULWR
DYHQWXUHLURHGHVEUDYDGRUHFRPEDWLYRGRSRYRJD~FKRHGDVFRQVWDQWHV
´OXWDVµTXHFRQWLQXDHPSUHHQGHQGRHPEXVFDGD´OX]µHGR´SURJUHVVRµ
$VVLPIRUDPDSUHVHQWDGDVFRPRDUJXPHQWRLQLFLDOWRGDVDVJXHUUDVMi
YLYLGDVSHORVJD~FKRVFRPRREMHWLYRGHUHVSDOGDURWHPDGRWH[WR
1R WH[WR 2XWUDV RQGDV DQH[R ( WHPRV R VHJXLQWH FDVR GH
LQWHUWH[WXDOLGDGH
$SDVVDJHP´FRQWURODURVHXUHEDQKRµQRVUHPHWHDSDVWRUHVTXH
FRQWURODPVXDVRYHOKDVHDLQGDDRFUHGRFDWyOLFRQXPDDOXVmRD-HVXV
&ULVWRTXHVHULDRSDVWRUHDRVÀpLVTXHVHULDPVHXUHEDQKR
$TXLQRYDPHQWHVHJXLQGR.RFKSSRGHPRVHQFRQWUDU
GRLV WLSRV GH LQWHUWH[WXDOLGDGH R SULPHLUR VHULD D LQWHUWH[WXDOLGDGH
LPSOtFLWDMiTXHQmRKiFLWDomRGHIRQWHDOJXPD3RUFRQVHJXLQWHFDEH
DR OHLWRU HVWDEHOHFHU R VHQWLGR GR WH[WR SRU PHLR GH VHX FRQKHFLPHQWR
SUpYLRRVHJXQGRWLSRVHULDDLQWHUWH[WXDOLGDGHGDVGLIHUHQoDVMiTXHR
WH[WRLQFRUSRUDHVVDSDVVDJHPSDUDLURQL]DURDVVXQWRHPTXHVWmRRXVHMD
RIDWRGHDOJXQVUHOLJLRVRVRXSUHJDGRUHVWHQWDUHPVXEYHUWHURVLJQLÀFDGR
GDFDWiVWURIHRPDUHPRWREXVFDQGRDVVLPTXHPDLVSHVVRDVSDVVHPD
FUHUHPVXDVWHRULDVHSUHJDo}HV
2QGHKiSROLIRQLD
$SHVDUGRQRPH&UkQLRH2VVRVHGRVVHXVULWXDLVVHFUHWRVD
VRFLHGDGHQmRpXPDVLQLVWUDLUPDQGDGHVDWkQLFDTXHVHUH~QHSDUDWUDPDU
PDOGDGHV²SHORPHQRVTXHVHVDLED
'LVFLSOLQDUXP6FLHQWLD6pULH$UWHV/HWUDVH&RPXQLFDomR6DQWD0DULDYQS
1RWDPRVDTXLGRLVFDVRVGHSROLIRQLD2SULPHLURDSDUHFHORJRQR
LQtFLR´DSHVDUGHµRTXDOVHUYHSDUDLQWURGX]LUXPDSHUVSHFWLYDGLIHUHQWH
GDTXHWHPRORFXWRUTXDQWRDRDVVXQWRPHVPRTXHHPVXDFRQWLQXDomR
RHQXQFLDGRWHQGHDUHIXWDUDYLVmRGRORFXWRU6HULDRTXHHQFRQWUDPRV
HP .RFK S GHQRPLQDGR FRPR HQXQFLDGRU ( JHQpULFR RX
UHSUHVHQWDQWHGHXPJUXSRDRTXDOVHRS}HRORFXWRU2PHVPRDFRQWHFH
FRP R VHJXQGR FDVR GH SROLIRQLD ´SHOR PHQRV TXH VH VDLEDµ TXDQGR
QRYDPHQWH DSDUHFH XPD RXWUD YLVmR FRPR VH IRVVH XP RXWUR ORFXWRU
IDODQGR
$LQGDHP&UkQLRH2VVRVSRGHPRVYHU
%XVKH.HUU\WrPSDVVDGRHDQWHFHGHQWHVIDPLOLDUHVSDUHFLGRV
PDVGRVGRLVIRL%XVKTXHPGHVFXPSULXDVH[SHFWDWLYDV
$JLWDomRQDSODWpLD2TXHWHULDKDYLGR"4XDOHUDRSUREOHPD"
.RFK S WUD] TXH ´HP HQXQFLDGRV QRV TXDLV RFRUUH R
XVR¶PHWDIyULFR·GRIXWXURGRSUHWpULWRFXMDUHVSRQVDELOLGDGHQmRVH
DVVXPHµWHPRVXPFDVRGHSROLIRQLDFRPDUJXPHQWDomRSRUDXWRULGDGH
'LVFLSOLQDUXP6FLHQWLD6pULH$UWHV/HWUDVH&RPXQLFDomR6DQWD0DULDYQS
TXDQGR D YR] GH XP HQXQFLDGRU p HQFHQDGD H D SDUWLU GHOD R ORFXWRU
VHLGHQWLÀFD(P´RTXHWHULDKDYLGR"µWHPRVXPDRXWUDYR]RXVHMDR
ORFXWRUHQFHQDSRUPHLRGDSHUJXQWDDYR]GHXPRXWURHQXQFLDGRUTXH
QRFDVRVHULDDSODWpLDFRPDTXDOVHLGHQWLÀFD
(P$YLGDGHQRVVRVPRUWRVDQH[R&HQFRQWUDPRVRVVHJXLQWHV
FDVRVGHSROLIRQLD6mRRVH[HPSORVH
$SyV DQRV GH GLWDGXUD PLOLWDU HOH VHULD R SULPHLUR FLYLO D
JRYHUQDUR%UDVLOHURPSHURDXWRULWDULVPR
&RPR QR H[HPSOR R XVR GR IXWXUR GR SUHWpULWR XVDGR FRP
IUHTrQFLDQDOLQJXDJHPMRUQDOtVWLFDLQWURGX]XPDYR]SDUDDUJXPHQWDU
XPSRQWRGHYLVWDYR]FRPDTXDORORFXWRUVHLGHQWLÀFDVHPDVVXPLU
FRQWXGRRTXHHODVXJHUH
$VXDPRUWHS{VDEDL[RWXGRRTXHIRUDSHQVDGRSDUDDWUDQVLomR
GHPRFUiWLFDPDVDFHLWDPRVDIDQWDVLDTXHGL]LDRRSRVWR
2RSHUDGRUDUJXPHQWDWLYRPDVQHVWHFDVRSHUPLWHXPDSHUVSHFWLYD
TXH QmR p D GR ORFXWRU RX DSHQDV GR ORFXWRU R TXH SRGH WDPEpP VHU
FRPSURYDGR SHOD VHJXQGD SHVVRD GR SOXUDO HP ´DFHLWDPRVµ RX VHMD
Ki YiULRV ORFXWRUHVHQXQFLDGRUHV FRP RV TXDLV R SULPHLUR ORFXWRU VH
LGHQWLÀFDYiULDVYR]HVSURIHULQGRRPHVPRHQXQFLDGR
%UL]RODIRLR~QLFRSROtWLFREUDVLOHLURFRPXPUHIHUHQFLDOSDUD
D DomR ² R ´WUDEDOKLVPRµ GH 9DUJDV WUDQVIRUPDQGRVH HP ´VRFLDOLVPR
PRUHQRµ
3DUHFHTXHMiVHIDORXGHWXGRPDVDDWHQomRGDPtGLDDLQGD
GDUiPXLWRHVSDoRSDUDRPDUHPRWRTXHWLURXDYLGDGHPDLVGHPLO
SHVVRDVQDÉVLDQHVVHÀQDOGHDQR
(P ´SDUHFH TXH Mi VH IDORX GH WXGRµ HQFRQWUDPRV XP FDVR GH
SROLIRQLD Mi TXH HP ´HQXQFLDGRV LQWURGX]LGRV SHODV H[SUHVV}HV SDUHFH
TXH VHJXQGR ; HWFµ .2&+ S R ORFXWRU HQFDGHLD XP
SRVLFLRQDPHQWRSHVVRDORXGHXPRXWURORFXWRUTXHDTXLRFRUUHTXDQGRp
LQWURGX]LGRR´PDVµ(VVHRXWURORFXWRUTXHDSDUHFHFRPR´PDVµYHLRQmR
SDUDUHIRUoDUDSRVLomRGRSULPHLURORFXWRUPDVSDUDUHIXWiODWHQGrQFLD
GRVHQXQFLDGRVLQWURGX]LGRVSRUFRQHWLYRVDGYHUVDWLYRV
2QGHKiSROLIRQLDHLQWHUWH[WXDOLGDGH
'HFHUWDIRUPDHOHLQDXJXURXRTXHD-RUQDGDGH3DVVR)XQGR
YLULDDVHUGHSRLVXPVKRZGHOLWHUDWXUD)RLVXDSULPHLUDHVWUHOD
1HVWDSDVVDJHPGRWH[WRRWUHFKR´GHFHUWDIRUPDµIXQFLRQDFRPR
SROLIRQLD DR WUD]HU VHJXQGR .RFK S D DUJXPHQWDomR SRU
DXWRULGDGH TXH DFRQWHFH ´TXDQGR VH HQFHQD D YR] GH XP HQXQFLDGRU D
SDUWLU GD TXDO R ORFXWRU LGHQWLÀFDQGRVH FRP HOH DUJXPHQWDµ 7UDWDVH
GH XP HQXQFLDGR FRQFOXVLYR QR TXDO R ORFXWRU XWLOL]D D SHUVSHFWLYD GD
FRPXQLGDGHHGRVYDORUHVQHODHVWDEHOHFLGRVSDUDHQWmRSURVVHJXLUFRP
VXDFRQFOXVmR
$LQWHUWH[WXDOLGDGHSRUVXDYH]RFRUUHHP´VKRZGHOLWHUDWXUDµH
´SULPHLUDHVWUHODµWHUPRVPXLWRXWLOL]DGRVQRTXHVHUHIHUHDDFRQWHFLPHQWRV
GH PXLWD UHSHUFXVVmR MXQWR D XP JUDQGH S~EOLFR GRV TXDLV SDUWLFLSDP
SHVVRDVUHQRPDGDVFHOHEULGDGHV
(P$YLGDGHQRVVRVPRUWRVDQH[R&WHPRVRH[HPSOR
'HV~ELWRQRVWRUQDPRVyUImRVGHXPSDLTXHQmRFKHJDPRVD
FRQKHFHU
4XHYHQFHGRUHYHQFLGRVHMDPUHVSHLWDGRVSRLVDH[SHULrQFLD
QRVHQVLQDTXHRPXQGRGiPXLWDVYROWDVHPXGDPUDSLGDPHQWHRVSDSpLV
TXHGHVHPSHQKDPRVHPQRVVDVYLGDV
$TXLPDLVXPDYH]WHPRVDSUHVHQoDGRHQXQFLDGRUJHQpULFRRX
LQGHWHUPLQDGR TXH UHSUHVHQWD HP VXD HQXQFLDomR D VDEHGRULD GH XP
SRYRDFUHQoDGHXPDFRPXQLGDGH&RPXPHQWHIDODQGRRTXHRH[HPSOR
VLJQLÀFDHPQRVVRFRWLGLDQRpTXH´RPXQGRGiYROWDVµ´KRMHYRFr
HVWiQRWRSRDPDQKmSRGHHVWDUQRIXQGRGRSRoRµ´DTXLVHID]DTXLVH
SDJDµHWFVDEHGRULDSRSXODUQDTXDOUHVLGHPVLPXOWDQHDPHQWHSROLIRQLD
HLQWHUWH[WXDOLGDGH
2SUy[LPRWUHFKRIRLUHWLUDGRGH2XWUDVRQGDVDQH[R(
´GRMHLWRTXHDVFRLVDVHVWmRVySRGHVHUFDVWLJRGH'HXVµ
&216,'(5$d¯(6),1$,6
(PDOJXQVFDVRVKiFODUDGLYLVmRHQWUHRTXHpDLQWHUWH[WXDOLGDGH
HRTXHpDSROLIRQLDHPRXWURVQmR$RTXHSDUHFHQHVVHVFDVRVHPTXH
QmRWHPRVFHUWH]DHQWUHXPDHRXWUDDWHRULDQRVGL]TXHSRGHVHUWDQWR
XPDRXRXWUDRXPHOKRUDLQGDDVGXDV1HVWHHVWXGRIRLRTXHRFRUUHX
QRLWHPHPTXHIRUDPDYDOLDGRVRVFDVRVQRVTXDLVKiDRPHVPRWHPSR
SROLIRQLD H LQWHUWH[WXDOLGDGH RX VHMD DTXHOHV TXH VmR FRQVWUXtGRV FRP
EDVHQDVDEHGRULDGHXPDFROHWLYLGDGH
.RFKSQRVGL]TXH´RFRQFHLWRGHSROLIRQLDpPDLV
DPSORTXHRGHLQWHUWH[WXDOLGDGHµ1DDQiOLVHIHLWDQHVWHWUDEDOKRRTXH
ÀFRXFODURpTXHDSROLIRQLDDOpPGHVHUPDLVDPSODSRLVFRPRVHYLX
LQFRUSRUDDLQWHUWH[WXDOLGDGHQRPRPHQWRHPTXHWUD]RWH[WRGHXPRXWUR
HQXQFLDGRU p PDLV UHFRUUHQWH WDOYH] SHOD PDLRU OLEHUGDGH TXH Gi DR
ORFXWRUGHH[SUHVVDUWXGRRTXHSHQVDVHPQRHQWDQWRUHVSRQVDELOL]DUVH
FODUDPHQWHSHORTXHGL]RXHVFUHYHVHQHFHVViULR
7DOYH] HP HVWXGRV IXWXURV DOJR YHQKD D HVFODUHFHU H GHOLPLWDU
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