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O Novo Metical

DESABAFO DE UM MOÇAMBICANO

Júlio Khosa
O Novo Metical Júlio Khosa

O dia 26 de Novembro, para mim, é uma data inesquecível. Reza a história da moeda moçambicana
que o Metical nasce no dia 16 de Junho de 1980. Nessa data, era antes de eu vir a este mundo. Eu
venho a nascer no dia o8 de Janeiro de 1981, na aldeia de Chimunguane, distrito de Mabalane,
província de Gaza. Todavia, foi aos 26 de Novembro de 2004 que remeto uma proposta intitulada
Planeamento do Novo Sistema do Metical, abreviadamente chamada PNSM, no Banco de
Moçambique, para ser apreciada.

Sou de uma família humilde. Os meus pais António Khosa e Flora Ubisse são camponeses, aliás, a
minha mãe deixa de ser camponesa a partir de 1987 ao separar-se do meu pai e passar a residir na
cidade de Maputo onde a sua base de sustentabilidade passou a ser o negócio de carvão e revenda
de refrescos e água gelada/fresca. Tal como outros meninos da região, cresci levando aquela vida
do campo. Apascentei gado. Ajudei os meus pais na machamba e frequentei os meus estudos
primários naquele ponto do país. Tendo iniciado a escolaridade na 1ª classe em 1988 na Escola
primaria 24 de Julho, na cidade de Maputo. Mais tarde, devido a influência dos hábitos e costumes
lá predominantes, venho abandonar os meus estudos primários para a terra do Rande.

Ainda jovem, aos meus 17 anos, abandonei os estudos primários na 7ª classe, na Escola Primária do
1º e 2º Grau de Ndhangue “A”, optando pela imigração ilegal via Massinguir-Phalaborwa. Lá ia eu
com outros jovens de Mabalane (Domingos Nhlongo, Luís Nhlongo, Derick Nhongo, os três irmãos
da Zona 7 e Ntsevetene da Zona 8) a busca das melhores condições de vida.

Estando na RSA, a vida não era aquilo que eu imaginava quando ainda estava em Moçambique. Foi
muito difícil para mim.

Em Julho do ano 2000, fui repatriado junto com centenas de moçambicanos via Ressano Garcia, a
partir de Lindela. Arrependi-me bastante por ter abandonado a escola.

Mais uma insistência para a África do Sul em Janeiro de 2001 via Ressano Garcia, também,
ilegalmente. Dessa vez, deu para ganhar firmeza de permanecer no meu país de origem,
Moçambique. Sofri bastante! Não fui repatriado. Decidi regressar para Moçambique. Regressei em
Junho de 2001. Aqui, em 2002, retomo os meus estudos na Escola Primária Completa 24 de Julho,
na cidade de Maputo. Tendo passado a 7ª classe, em 2003 ingresso-me na EPC do Alto-Maé, para
fazer 8ª classe no curso nocturno. De salientar que nessa escola, a 8ª classe era ministrada como

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sendo da Escola Secundária da Francisco Manyanga. Portanto, as salas da EPC do Alto-Maé eram
suas anexas.

Foi nesse ano de 2003 que me ocorreu a ideia do Novo Metical. Estudando de noite, de dia eu
trabalhava como barbeiro. Aliás, comecei a barbear em Novembro de 2001. A ideia de eu ser
barbeiro, foi sugerida pelo meu tio materno de nome Júlio N’wanoti Ubisse, o mesmo que estando
na África do Sul, Midrand, Ivory Park, Extation 3, Section 12, Malawu Street, 13814, fez-me lembrar
da ideia de dar continuidade com os estudos. O meu tio tinha e continua tendo uma residência em
Maputo e em Midrand na RSA. Tanto na terra do Rande assim como na terra do Metical, eu vivia
na casa do meu tio. Na residência de Maputo, viviam a minha mãe, os meus irmãos mais novos e
alguns familiares.

Concebi a ideia do Novo Metical em Abril de 2003 e só veio a conseguir propô-la ao Banco de
Moçambique aos 26 de Novembro de 2oo4. Nessa altura eu já andava na 9ª classe e nesse ano não
pude continuar com os meus estudos secundários devido à outras razões de índole familiar.

Considero como fonte de inspiração a minha estadia na República da África do Sul, no intervalo
compreendido de Julho de 1998 a Junho de 2001. O trabalho humilde que exercia na cidade de
Maputo, o de barbeiro, desde Novembro de 2001, contribuiu de certa forma para a concepção da
ideia do Novo Metical que mais tarde veio a ser partilhada com o Banco Central do nosso país. A
barbearia contribuiu à medida que eu entrava em contacto com os estrangeiros de expressão inglesa
que cortavam cabelo na minha barbearia. A curiosidade surge quando eu anunciava o preço de cada
corte que os mesmos pretendiam fazer. Para eles tudo era natural. Para mim, algo parecia não estar
conforme. Somente era natural para eu anunciar o valor do corte de cabelo em Metical com muitos
zeros, ao anuncia-lo em português. Em contrapartida, ao anunciar o mesmo em inglês, percebia
que havia algum exagero! Daí fui pensando… E comecei a simular alguns arranjos no Metical em
comparação com o Rande que durante quase três anos estive usando como moeda de compra e
pagamento na África do Sul. Lembro-me que na altura o corte de cabelo e barba custava
15.000,00Mt. Em português dizia-se “quinze contos” ou Quinze Mil Meticais. Dizer “quinze contos”
parecia suave. Mas ao anunciar o mesmo valor em inglês, parecia um roubo! Fifteen Thousand
Meticals. Esse valor numérico, substituindo a sua referência monetária em Meticais pelo Rande, me
fazia lembrar que com quinze mil rendes era possível, na altura, comprar uma viatura de segunda
mão de marca Toyota Hilux, ou até mesmo Nissan Champ e sobrar alguns trocos. Em Moçambique,

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eu tinha que atender alguém no corte de cabelo e barba cobrando-lhe um valor numericamente
equivalente!

Foi a partir daí que comecei a esboçar aquilo que me ocorria em mente como um sonho. Tudo
aquilo que imaginava transferia para o papel. Usava as técnicas de desenho técnico e artísticos que
aprendi durante os anos de escolaridade. Os meus esboços eram uma simulação para poder explicar
àquele que não podia imaginar aquilo que me fluía em mente.

Os meus primeiros desenhos são datados de 06 de Abril de 2003. No dia 10 de Abril de 2003 tornei
a melhora-los e por fim, em Setembro de 2004 fiz os desenhos definitivos, os quais, combinados
com textos e tabelas, constituindo uma proposta intitulada “Planeamento do Novo Sistema do
Metical (PNSM)” deram entrada no Banco de Moçambique como proposta, aos 26 de Novembro de
2004.

Quando eu fazia aquilo, não era instruído o suficiente para saber como as coisas relacionadas com
o cunho da moeda são feitas. Não entendia nada de numismática nem de economia. Fiz na
qualidade de um amador. Contudo, tinha um desejo, de ver a nossa moeda com poucos zeros, com
o uso de centavos e compatível com outras moedas que nem Rande e Dólar norte-americano. Não
dormia antes de descarregar o que pensava em relação às características de cada nota e moeda
metálica que eu imaginava. Outrossim, o que veio a impulsionar a minha inspiração foi a emissão
e entrada em circulação das notas de 200.00,00Mt, 500.000,00Mt e uma moeda metálica de
10.000,00Mt no dia 01 de Setembro de 2004. Acompanhei a notícia através da Antena Nacional da
Rádio Moçambique, pelas 13 horas do mesmo dia.

Na minha barbearia, eu tinha um rádio que usava para tocar música e escutar noticiários.

No dia 02 de Setembro de 2004, pude testemunhar o verbal pelo escrito através do Jornal Notícias
que até mostrava as imagens dessas notas e moeda.

Visto que o Banco de Moçambique não previa nem revelava a intenção da redução de zeros do
Metical em circulação para dar origem a nova moeda do Metical com poucos zeros, ao invés de
manter a minha ideia na gaveta, ofereci-me a propor voluntariamente aquilo que era a minha visão
sobre a moeda nacional.

A ousadia de seguir em frente resultava do apoio moral de alguns clientes meus da barbearia que
acreditavam que a minha ideia pudesse sortir o efeito desejado. Não só houve apoiantes, também

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houve oponentes, incluindo um dos meus irmãos mais velhos. Ele não acreditava que as autoridades
fossem aceitar por exemplo: substituir o rosto do então presidente da República Joaquim Chissano
pelas imagens de animais e outras atinentes a realidade e cultura moçambicana. Defendia eu a
retirada de imagens dos rostos das figuras do partido no poder alegando que caso entrassem outros
partidos também, haveria necessidade de eles criarem mais notas com muitos zeros para estampar
os rostos dos seus líderes. Igualmente, num período muito curto, acabava-se de produzir e aprovar
um novo hino nacional “Pátria Amada”, para evitar a exaltação do partido no poder num contexto
multipartidário. Considerava eu na altura que a presença dos rostos daqueles políticos nas notas
era como se estivessem a desprezar a existência e os esforços das outras formações políticas.
Portanto, ilustrações que nem de animais não punham em causa a vontade de todos os
moçambicanos.

Depois de ter passado do Ministério de Plano e Finanças em Outubro de 2004, precisamente da


Sala de Tesouro, onde falei com três funcionários públicos, que lá se encontravam no tal dia, os
quais aconselharam-me a ir propor aquilo ao Banco de Moçambique, no dia 25 de Novembro de
2004, passei da recepção do Banco de Moçambique onde, no balcão principal, da entrada da
Avenida 25 de Setembro, falei com a recepcionista de nome Felícia, a qual teve paciência de me
ouvir a explicar passo-a-passo do que se tratava. Assim procedi porque a Felícia além de estranhar
a estava curiosa em saber do que se tratava. Depois de me ouvir, por sua vez a Felícia ligou para a
dona Argentina, secretária do governador do Banco de Moçambique, na altura Adriano Afonso
Maleiane. Foi dona Argentina quem me orientou para submeter a proposta destinando-a ao senhor
governador do Banco de Moçambique.

Como não havia feito nenhuma cópia, tive que regressar para casa (no bairro Malanga, cidade de
Maputo) com o objectivo de fazer uma cópia do documento composto por 16 páginas. Fui fazer as
cópias na AMODEFA onde anteriormente havia feito impressões do mesmo trabalho. Feito isso, no
dia seguinte, 26 de Novembro, já estava em altura de submeter a proposta. Só que havia-me
esquecido de fazer a carta. Fiz um manuscrito ali mesmo na recepção do BM. Contudo, no
documento original (proposta), ficou carimbada a data de recepção da proposta e a acusação com
a assinatura da recepcionista Felícia.

Tendo recebido o documento, a Felícia mandou-me aguardar pela resposta no prazo de 30 dias.
Findo o prazo, no início de 2005, começava o ping-pong de consulta do despacho. Até que no dia
10 de Marco de 2005, um tal de senhor Inácio Mucavel veio ter comigo na recepção para confirmar

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que o documento tinha se perdido antes de chegar nas mãos do senhor governador do Banco de
Moçambique. Ele pediu minha permissão para fazer insistência com mais uma cópia da proposta.
Eu curioso em saber qual seria a reacção do BM, não me recusei da proposta dele. Aceitei. Ele levou
a minha proposta original, a cor, foi no seu local de trabalho, por sinal, no Gabinete do Governador
do Banco (GGB) fazer uma cópia e depois devolveu-me o documento original, inspirando-me
confiança e certeza de que aquela segunda via iria chegar nas mãos do “Boss” dele. De lá para a
frente, fui consultando o despacho até que em Junho de 2005 ele (o senhor Mucavel) me apareça a
dizer verbalmente que os quadros do Banco de Moçambique tinham recebido a minha proposta
mas não chegaram de fazer nada por escrito, e que verbalmente eles louvavam a iniciativa e
agradeciam pela proposta. No tal dia fiquei muito chateado mas nada podia fazer e o senhor Inácio
também nada podia fazer. Saí do Banco de Moçambique para casa muito decepcionado porque eu
esperava receber a resposta por escrito visto que eu também havia apresentado a minha proposta
da mesma forma. Decidi nunca mais pôr os pés naquela instituição.

Em Junho de 2005, na minha barbearia, conversando com um jovem do Bairro Malanga onde eu
vivia e se localizava a minha barbearia, de nome Jordão Ntivane, ele me fala de um concurso público
lançado pela Assembleia da República para a revisão do Emblema e da Bandeira nacionais. Ele havia
acompanhado a minha história do desenho do Metical, que propus ao BM. Sugeria que eu
concorresse. No dia seguinte, fui a AR me inteirar sobre as regras do concurso. Na entrada das
bancadas parlamentares, haviam fixado o jornal notícias que continha as informações do concurso.
De regresso a minha casa, pus-me a esboçar o emblema e a bandeira, incluindo as respectivas
explicações/características. Findo, os esboços, juntei os documentos e fui submeter na Assembleia
da República. Submeti enquanto os cidadãos nos programas radiofónicos se opunham a tal
necessidade da revisão dos referidos símbolos. Não fui classificado como vencedor.

No dia 14 de Outubro de 2005, na barbearia, conversando com um jovem, cliente meu, residente do
bairro Malanga, chamado Jey, ele fala-me de uma publicidade que tinha visto num dos canais
televisivos que na altura não se lembrava do seu nome, que dava a conhecer que o Metical passaria
a ter menos três zeros. Quando ele me falou isso, fique curioso em saber qual era o canal e se havia
um jornal que falava disso. Ele não me sabia responder. Quando eu ia a escola, passei da Versalhes,
onde costumava estar um velho a vender jornais, procurar saber se ali havia um jornal que abordava
sobre o supramencionado assunto ou não. O velho não tardou, indicou-me o jornal. Era o jornal O
País da SOICO. Na altura esse jornal era semanário. No seu suplemento económico podia se ler

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toda a informação que falava da proposta de Lei de criação da taxa de conversão do Metical que
circulava para dar origem à Nova Família do Metical. Nele não se falava muito do Banco de
Moçambique, Falava-se do Ministério de Finanças. Comprei o jornal para ver se ao longo do texto
jornalístico estava lá o meu nome ou não. Quando fui lendo, constatei que nada. Não havia meu
nome. Foi a partir daí que no sábado, na barbearia, conversando com um outro jovem da zona,
chamado Chico, ele sugere-me um jurista conhecido dele, chamado Dr. Atanásio Pedro. O tal
trabalhava na Assembleia da República.

Na segunda-feira, 17 de Outubro de 2005, iniciava mais uma sessão ordinária das actividades da
Assembleia da República, os deputados a entrarem, eu entrava também para pedir falar com o Dr.
Atanásio. Não lhe conhecia nem ele me conhecia. Ligaram para ele a partir da recepção, da entrada
da Avenida 24 de Julho. Ele veio ter comigo. Contei-lhe a minha história. Ele me aconselhou a ir
pedir audiência com o senhor governador do Banco de Moçambique. No mesmo dia ao sair dali, fui
pegar chapa que ia a Baixa da cidade de Maputo na paragem Versalhes. Chegado no Banco Central,
simulei que procurava saber do despacho da minha carta. A Felícia estava lá. Ela que já me apelidava
como sendo “jovem do Metical”, liga para a secretaria do governador, a dona Argentina. E, teve a
resposta de que “ainda não tem despacho”. Nos outros dias antes de desistir da consulta do
despacho, a resposta que Felícia me dava era de que “o teu caso ainda está em estudo, venha daqui
a uma semana”. Por essa razão que eu chamei a esse processo de “início de ping-pong da consulta
do despacho”. Quando ela me disse que ainda não tinha despacho, de uma forma humilde, procurei
saber se era possível me concederem uma audiência com o senhor governador do Banco e ela
procurou certificar de mim se realmente eu queria falar com ele ou não. Tendo confirmado a minha
disposição, ela liga para a dona Argentina, a secretaria do Dr. Maleiane para ver se havia espaço
para isso ou não. A dona Argentina autorizou-lhe para ela me mandar subir. Apanhei o elevador
para o 2º piso. Lá chegado, ela um pouquinho ocupada, aguardei e depois me atendeu com todo o
respeito. Confirmou ter visto a minha proposta mas não sabia se a mesma na altura tivesse despacho
da parte do seu chefe. Foi daí que ela chamou o senhor Inácio Mucavel para lhe perguntar sobre o
assunto, pois, parece-me que ela havia tempo que se tinha ausentado um pouco. O senhor Inácio
confirmou que o senhor governador do Banco de Moçambique havia despachado o assunto para o
DEP (Departamento de Emissão e Sistemas de Pagamento) e que, quem devia cuidar do assunto
era o Dr. Augusto Cândida.

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Tendo se inteirada sobre o assunto, a senhora Argentina, roga-me para ir ter com o Dr. Augusto
Cândida, director do DEP na altura. Tentei insistir em querer falar com o Dr. Adriano Maleiane mas
ela prometeu deixar-me falar com ele caso o Dr. Augusto Cândida não me atendesse. Aceitei. Ela
liga para a dona Inês, secretária do Dr. Augusto Cândida, combinam que ela devia criar condições
para eu puder falar com o seu chefe. Havendo espaço na agenda dele, foi possível me conduzirem
para lá no Rés-do-chão, do lado das Correspondências e Depósitos, onde funcionava o DEP. Eu
diante da cancela, sou recebido por um homem de fato, de cabelos crespos, certificando o meu
nome e me recebendo com carinho e respeito. Era o tal Dr. Augusto Cândida. No gabinete dele, ele
confirma ter recebido a minha carta em forma de uma brochura, e pedia desculpas pela demora
com a resposta. Tentou enrolar-me dizendo que a carta estava pronta só que quem havia arquivado
era um colega dele que estava na Beira em missão de serviço. Pediu-me um pouquinho de paciência
por uma semana e eu mostrava-me inquieto com a demora do despacho e com o que estava a
acontecendo. Comecei a falar daquilo que se falava sobre a redução de zeros do Metical. Ao notar
que eu já sabia do que estava acontecendo, ele assume uma posição alegando que o que se falava
sobre o Metical não tinha nada a ver comigo mas sim, era ideia do Banco de Moçambique.

Eu, ideia do Banco de Moçambique? Ele, sim. A sua ideia apenas foi uma coincidência. O Banco já
tinha pensado a muito tempo. Eu comecei a não gostar do que ele falava. Fiquei irrequieto. Ele
altera o prazo em que ele prometia dar-me a resposta por escrita para dois dias e faz a questão de
me passar um cartão com contacto dele do serviço e o pessoal (telemóvel) escrito a esferográfica.
Prometeu-me que ia cumprir com o prazo. Minutos depois do encontro saio do gabinete dele. Ele
acompanha-me e abre a cancela. Fui para casa com mais uma decepção. Findo o prazo dos tais dois
dias, ligo para ele, não me atende. Insisto, ele atende e diz que “liga-me noutra altura, estou
reunido”. Parece-me que estava no Centro Cultural do Banco de Moçambique, na cidade da Matola.
Ele só veio a ligar para mim na manhã do dia 25 de Outubro para eu ir levantar a carta. Quando fui
levantar a carta na manhã do dia 26 de Outubro, após ler seu conteúdo, não gostei do
posicionamento do Banco de Moçambique. Não me reconhecia como autor da iniciativa. Indignei-
me. Escrevi uma carta sem obedecer nenhuma estrutura formal para o governador do Banco
Central, Adriano Afonso Maleiane. Alegando que o seu colega não me havia tratado como eu
merecia. A carta deu entrada no dia 02 de Novembro de 2005. Por sua vez, o governador, invés de
emitir o despacho para mim, delega o director do DEP para me responder, isto e, despacha a carta
internamente para o Dr. Augusto Cândida, incumbindo-lhe a missão de me responder. Foi a partir

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daí que o director do DEP me liga, para eu ir levantar uma carta. Fui levantar a carta datada de 01
de Dezembro de 2005, que dava por encerado o nosso assunto e devolvia a minha proposta. Quando
lá cheguei por volta das 16 horas, quem me atende é a dona Glória. A dona Inês não estava. Ela
entrega-me a carta e diz que devia assinar o protocolo. Recusei-me, pois, não concordava com o
conteúdo. Saí dali muito chateado. Fui ligar para o Dr. Augusto Cândida e ele marca um encontro
comigo para as 15 horas do dia 02 de Dezembro. Aceitei. Antes da hora marcada eu estava lá. Ele
me recebe e chama o seu colega Dr. Henriques Matsinhe. Reunidos, o Dr. Augusto Cândida, explica
a razão do encontro. Diz que foi iniciativa deles (ele e o Matsinhe). Segundo o governador, o qual
eu confiava nele, devia se dar por encerado o assunto pois eu começava a falar muito lá fora. E, eles,
por saber que eu não entendia nada sobre os procedimentos do Banco de Moçambique, decidiram
esclarecer-me sobre como é que as coisas eram feitas naquela instituição do Estado. Disseram-me
que a ideia do corte de zeros não era a minha iniciativa, o Banco vinha trabalhando no assunto com
vista a dar resposta a demanda da sociedade e dos agentes económicos. Igualmente, no tocante
àquilo que diz respeito ao dinheiro, antes dos cidadãos pensarem, o Banco de Moçambique já
pensou há muito tempo. Pois, é tarefa do Banco Emissor fazer estudos económicos e acompanhar
a economia do país. Mostraram-me alguns documentos que alegavam ser resultado de um concurso
internacional promovido pelo Banco de Moçambique em 2002, para a padronização da nova moeda
denominada Metica e não Metical. Ali tive que aceitar receber a carta que era destinada a mim.
Recusei-me de receber de volta a minha proposta, pois, eu acreditava que iria assinar que recebi
mas o Banco continuaria com outras cópias além de o mesmo ter-se apropriado das minhas ideias.

Depois desse encontro com os dirigentes do Banco de Moçambique, procurei divulgar o sucedido
pela imprensa. A imprensa pública (RM, TVM, Jornal Notícias) recusou-se a falar sobre o assunto,
pois, na Assembleia da República debruçava-se sobre o mesmo assunto. Alguns honestos chegaram
a me sugerir ir ter com os semanários independentes.

Tendo sido aprovada a Lei que que cria a taxa de conversão do Metical da antiga Família para a
Nova Família na AR em Novembro de 2005, no início do ano 2006, o Banco de Moçambique já falava
na imprensa sobre a dupla indicação de preços e das políticas da conversão do Metical antigo para
obter o novo. Fiquei sabendo que o Dr. Henriques Matshine era o presidente da introdução da Nova
Família do Metical. Estranho! Mas era isso que estava acontecendo. Andava nos programas da
televisão com o economista do Banco de Moçambique, Dr. Bento Baloi, para explicar como é que
se devia proceder com a tal conversão do Metical. Eu, acantonado lá no fundo, onde ninguém podia

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me identificar nem suspeitar que tudo começou comigo, só acompanhava através da imprensa e
ninguém se lembrava de mim!

Fala-se dum concurso internacional que investigando a luz da lei de contratação de empresas para
o fornecimento de bens ou serviços (datado de 1989 e 1997 respectivamente) na altura em vigor,
duvida-se muito da sua realização. Não há transparência!

No dia 01 de Julho de 2006 entra em circulação as novas notas e moedas do Novo Metical. Nele
estavam patente os traços da minha proposta. A começar do próprio nome, embora tenham forçado
a alteração para “Família” invés do “Sistema”; o uso de centavos e as imagens por mim propostas lá
estavam; os dizeres do Banco de Moçambique no lugar dos dizeres da República de Moçambique;
o tamanho reduzido das moedas; a qualidade do metal e do papel que posteriormente em 2011 veio
a ser melhorado cumprindo-se o que eu propus.

No dia 10 de Agosto de 2006 o meu primeiro grito é espalhado pelo semanário Zambeze. Tendo
merecido o destaque da semana com o título: “O Autor do MTn diz Burlado pelo Banco”. Lá estava
eu ladeado pelas imagens das notas por mim desenhadas, com um rosto sorridente em como se
nada de errado tivesse acontecido comigo. O autor do Artigo foi o senhor Rui de Carvalho, o qual
mais tarde passou a dirigir o Jornal Público.

Em Outubro de 2007 intento uma acção jurídica contra o Banco de Moçambique, tendo
primeiramente merecido o despacho para a 4ª Secção Criminal com o registo do processo n.°137/07
– R, e que posteriormente, devido à natureza dos factos, foi transferido para a 1ª Secção Comercial
onde teve o registo do processo n.° 38/2007 - P. Na secção comercial a juíza foi a Dra. Matilde de
Almeida Monjane. A procuradora da cidade de Maputo que cuidava do assunto era Dra. Amélia
Machava. Nessa instância, a Sentença foi proferida em 2010, considerando o assunto improcedente,
sendo o Banco de Moçambique favorecido pela Absorção de Instância.

Não me conformando com a Sentença, na altura recorri para o Tribunal Supremo, e lá o juiz era Dr.
Mário Mangaze, o processo estava registado com o n.° 162/10. Com a criação do Tribunal Superior
de Recurso, em 2011 o meu processo desce para a Secção Cível no Palácio da Justiça da Cidade de
Maputo, no 8º andar. Ali, a juíza foi a Dra. Osvalda Joana. O mais incrível, todas essas duas juízas,
no fim dos meus processos foram elevadas de categoria para Juízas Conselheiras do Tribunal
Supremo! Que coincidência!

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Foi esta instância que através do seu Acórdão proferido à páginas 405, conseguiu me esclarecer
sobre o que tinha acontecido com o meu processo. O meu advogado, Dr. José Albano Maiópuè e a
primeira instância, cometeram erros processuais que segundo esta instância de recurso, nas suas
recomendações, eu devia abrir mais um processo a esclarecer alguns pontos que não estavam claros
no processo n.° 327/2011.

No referido processo, o Banco de Moçambique evocou um concurso internacional, no qual em 2002


enviou cartas e os respectivos espécimes para as seguintes empresas: Francois Charles Fiduciere
Obertung, De La Rue, The Royal Mint, Birmingham Mint, SA Minte La Crone, de tal maneira que
pudessem manifestar o seu interesse.

No processo não há transparência sobre como é que o tal concurso foi realizado, a adjudicação dos
vencedores. Como também, o Banco de Moçambique faz menção a uma moeda que não existe,
chamada Metica. Atenção, Metica e não Metical. Trata-se de uma desculpa infundada do Banco de
Moçambique com o intuito de despistar a origem da Nova Família do Metical, a qual, para a sua
origem baseou-se na minha proposta intitulada Planeamento do Novo Sistema do Metical

O tempo foi passando. Temendo perseguição e represálias, acabei desistindo do processo, optando
pelos meus estudos superiores. Nos processos, o Réu era o Estado Moçambicano representado pelo
Banco de Moçambique. Houve um bate-boca entre eu e o Departamento de Assuntos Jurídicos
(DAJ) na altura representado pelo Dr. Teodósio Gama e Dr. Edgar Fortes. Pude notar durante as
conversações que havia uma tendência de ignorara a razão em defesa da imagem da instituição.
Tive algumas correspondências com o Gabinete do Governador do Banco de Moçambique,
assinadas pelo Dr. Augusto Paulino, director daquele gabinete quando o governador era o Dr.
Ernesto Gouveia Gove.

Aqui está uma pequena síntese daquilo que aconteceu no Banco de Moçambique desde 2004 até
2012. Há muito blablá para apurar a veracidade dos factos. Mas a verdade é: rios e rios de dinheiro
suspeito que tenham corrido naquela instância que por sinal nenhuma auditoria possa passar por
lá para estes factos serem confrontados. Para mim, o alegado concurso é uma falácia. Não houve
nenhum concurso internacional. Desafio os investigadores para apurarem a verdade e estou
disposto a colaborar com as informações que tenho da minha parte, não no sentido de invadir a
privacidade ou informação sigilosa daquela instituição bancária. O mal é que não me reconhecem
como Autor da iniciativa do Novo Metical enquanto Eu Sou.

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Aos 08 de Janeiro de 2019, remeti uma carta de pedido de audiência com Sua Excelência senhor
Governador do Banco de Moçambique, Prof. Doutor Rogério Zandamela, a qual eu anexava um
exemplar desta obra enquanto projecto, para uma breve contextualização ao novo governante do
Banco Central.

Aos 21 de Janeiro de 2019, segunda-feira, de manhã, chego no Banco Central. Entro pela porta que
dá acesso a recepção, no novo edifício do BM. Eu havia recebido uma chamada telefónica da Ângela,
do DAJ, Banco de Moçambique, as 16h05 minutos da sexta-feira, 18 de Janeiro. Numa primeira fase
não havia registado o nome da pessoa que tinha ligado para mim. Ia ao encontro dela. Havia me
solicitado para ir receber o despacho da minha carta. Fui pontual. As 09h50 minutos eu estava no
DAJ, a espera de ser atendido. A Ângela, pediu-me para aguardar na sala de reuniões daquele
departamento jurídico do BM. Foi ali onde ela me fez saber do nome dela, ao confirmar que foi ela
que havia ligado para mim, a mando da sua chefe, a directora neste caso, e que ela estava ausente.
Contudo, tinha deixado um recado de que quando eu chegasse ficasse a espera. Até que no
princípio, era para eu ter comparecido no DAJ naquela sexta-feira 18. Por não estar pronto, eu disse
que iria aparecer na segunda-feira 21, data essa que não chegaram de registar a hora em que eu me
iria fazer presente.

Estando na sala de reuniões, aguardei pela directora do DAJ das 09h59 minutos até 11h04 minutos,
hora que a senhora Luísa Navele entrava acompanhado por um senhor um pouco jovem, cujo nome
não registei no momento da minha estadia ali. Parece-me que terei ouvido a Navele mencionando
o nome dele como sendo Eduardo. Era um senhor alto e forte. A Luísa Navele, uma senhorita um
pouco baixinha, formosa, jovial.

A nossa conversa durou aproximadamente 50 minutos. Arredondados por excesso. Pois,


terminamos a nossa conversa as 11h50 minutos.

Durante a nossa conversa, a Luísa parecia ter algum interesse em me fazer esquecer do assunto.
Constatei isso nos dizeres dela: “O dinheiro só nos ajuda a suprir as nossas necessidades mas ele
não é bom. Não nos traz a paz que gostaríamos de ter”. Outrossim, quando me recebeu, ela disse
estar a representar o governador do Banco de Moçambique no contexto de delegação de poderes.
E que, eles quando receberam a minha carta acompanhada de uma cópia desta obra, pensavam que
talvez eu quisesse pedir um apoio do BM para a sua publicação. Ela falou das políticas do Banco de

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O Novo Metical Júlio Khosa

Moçambique enquanto eu falava da trajectória do assunto “Novo Metical” envolvendo-me com a


sua instituição.

Houve muito palavreado mas, no momento em que eu falava da necessidade de eu pedir


autorização do Banco de Moçambique, no sentido de eu obter algumas informações adicionais em
sua posse, que pudessem servir no enriquecimento desta obra, a Luísa, comparou a sua instituição
com o SISE (Serviço de Investigação Secreta do Estado), afirmando que é investigável. E que
ninguém podia ter acesso à informação que pretendia alcançar. Foi nesse contexto que a Luísa
deixou escapar uma verdade acerca do meu assunto com o Banco Central. Ela disse: “O seu caso foi
classificado com Segredo de Estado. Por isso, ninguém mais pode ter acesso a essa informação”. Ela,
também, fez menção à Lei Orgânica do Banco de Moçambique, a qual eu lhe fiz saber que não era
novidade para mim, ja a tinha consultado bastante, quando procurava me informar sobre o BM.
Trata-se da Lei n.° 1/91, de 03 de Janeiro – eu disse a ela.

No fim, ela me considerou muito inteligente e, eu respondia-lhe: Não sei. Mesmo assim, ela não
abria espaço para que o BM me reconhecesse como autor da nova moeda do Metical. Isso porque,
segundo ela “o assunto saiu do controlo interno do próprio Banco de Moçambique para os tribunais.
Logo, o desfecho do assunto só pode ser feito pelo tribunal”. Por enquanto, uma vez que desde 2012
não voltei a intentar outra acção contra o Banco Central, e que naquele recurso foram
salvaguardados os interesses do Estado, ela considerava o caso ganho pelo Estado.

Antes de sairmos a directora do DAJ entregou-me a carta que o Banco de Moçambique através
daquele departamento endereçava para mi. Pode se extrair da carta datada de 18 de Janeiro de 2019,
referência N/N° 08/GAJ/20160018/19 o seguinte teor:

Reportamo-nos à Carta da V. Exa. datada de 08 de Janeiro de 2019, na qual a


V. Exa. solicita audiência com Sua Excelência, o Governador do Banco de
Moçambique, cujo assunto é a obra literária da sua autoria, com o título “O
Novo Metical, Desabafo de Um Moçambicano”, que vem na sequência da
proposta de V. Exa. Intitulada “Planeamento do Novo Sistema do Metical”
submetida ao Banco em 2004, a qual agradecemos e mereceu a devida
atenção.

Em relação a este assunto, cumpre-nos esclarecer que o mesmo já foi objecto


de decisão judicial definitiva tanto do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo,
como do Tribunal Superior de Recurso de Maputo, a favor do Banco de
Moçambique. Havendo uma decisão definitiva sobre o assunto, o Banco de
Moçambique considera o assunto encerado.

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O Novo Metical Júlio Khosa

Por esta razão, lamentamos informar que o banco indefere o seu pedido de
audiência.

Melhores cumprimentos.

Assinada pela directora.

Luísa Navele

Na decisão acima referida pela carta do DAJ, o Tribunal Superior de Recurso não consta que o
assunto foi definitivamente encerado. Mas sim, que eu devia, portanto, reiniciar o processo,
esclarecendo alguns aspectos que eram tidos como “dúbios”, isto é, não claros para o juízes daquela
instancia. E, o Banco de Moçambique, continuava a se beneficiar da “Absorção de Instancia”.

Por ver que eu estava a travar com uma instituição que se confunde com o próprio Estado
Moçambicano, decidi não intentar mais outra acção jurídica contra o banco de Moçambique,
optando pela renegociação com a própria instituição, decisão essa que ficou gorada pelo braço de
ferro perpetuado pelo Banco Central.

Ao longo dessa disputa e na tentativa de negociar com o BM pós decisão do TSR, foi notório e
clarividente que a maior preocupação do Banco de Moçambique é a salvaguarda dos interesses do
Estado em detrimento do reconhecimento dos meus direitos autorais. Tanto no BM assim como
nos tribunais, o maior esforço foi de negar-me a autoria da ideia do Novo Metical, ainda que
soubessem da verdade.

A questão que não quer se calar é:

Se a minha proposta, PNSM, foi apenas uma coincidência com o projecto que o Banco de
Moçambique tinha, por que motivo o meu caso seria arquivado e classificado como Segredo do
Estado?

Segundo a Lei n.° 30/2001, de 15 de Outubro, a que aprova as Normas do Funcionamento dos
Serviços da Administração Pública e revoga o decreto n.° 36/89, de 27 de Novembro, a a) do seu art.
83, define Segredo de Estado como sendo “a informação cuja divulgação, não autorizada,
excepcionalmente graves ao Estado”.

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O Novo Metical Júlio Khosa

Outrossim:

De que maneira o meu caso causaria danos graves ao Estado moçambicano?

Por que motivo o governo moçambicano, representado pelo Banco Central, considera a minha
proposta e não reconhece importância da minha personalidade?

Sendo cidadão de nacionalidade originalmente moçambicana, por que motivo sou negado o
reconhecimento autoral do Novo Metical e os direitos consagrados pela Lei n.° 10/2011, de 13 de Julho,
sobre títulos honoríficos e condecorações?

Qual é a minha culpa nessa história toda, além da contribuição patriótica que dei em prol do bem de
todo o nosso país?

Gostaria de calar definitivamente, não pela minha morte, mas sim, pela concórdia entre eu e o
Estado moçambicano representado pelo Banco de Moçambique ou pelo Governo central para o
desfecho deste assunto. Mas não posso calar enquanto não reconhecer a minha contribuição

Sinto uma dor profunda quando penso e repenso em todas as circunstancias que vivi e que continuo
vivendo, relativamente à minha contribuição para a origem do Novo Metical.

As vezes tem me aparecido ideias negativas de “vingança com recurso a um tratamento


obscurantista que só funcionaria após minha morte, contra todos os que estiveram envolvidos nesta
história e que gozando da prerrogativa do poder que detêm, directa ou indirectamente
contribuíram para a minha desgraça, a favor deles mesmos e do Estado moçambicano”. Esses
pensamentos tipicamente africanos ocorrem em mim porque não tenho poder nesta vida. Mesmo
sabendo que tenho razão, não tenho como contrariar a decisão imposta pelos detentores do poder
nesta vida. Portanto, o recurso a macumba narrada por Mia Couto na sua obra “A varanda do
Frangipane” seria a melhor saída para o bem da minha família. Fantasma! Cobrar, atormentar,
vingar-me de todos os que me negaram a felicidade nesta vida. Isso sim. Esses senhores poderão
me reconhecer, um por um, pois, não terão nenhum poder sobre mim, a não ser obedecer a tudo o
que eu for a mandar para fazer a favor da minha família que neste momento é desprovidos de se
beneficiar das minhas conquistas ainda nesta vida!

DESABAFO DE UM MOÇAMBICANO

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O Novo Metical Júlio Khosa

A religião cristã não sustenta nem é a favor disso. Ensina o bem. Mas, é em nome desse bem que
aqueles que se acham poderosos e gloriosos nesta vida passam por cima de todos aqueles que são
desfavorecidos, submissos e que não fazem parte da nomenclatura da elite governamental.

Se não me reconhecerem! Eu já tenho a lista de todos os que deles tenho que me vingar quando eu
for um morto vingativo, “xipoko”. Que fique registado.

Copyright© 2020 Júlio Khosa

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