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O mistério envolto no fim deste conto torna-o paradoxal o que está explicito no enredo
interno do texto. Ora, o conto de Silmerio Uaquessa, faz um retrato dos golpes virtuais dos
quais estamos quotidianamente expostos como usuários das redes sociais e a internet. Ao
descrever Tinja, um ser variegado de cores, isto é, um vigário que pode assumir perfis falsos,
nomes e vozes diferentes aproveita-se da solidão, ingenuidade e a vulnerabilidade de
Mussanhane, um personagem que pode ser qualquer um, simula uma relação compreensiva e
amorosa reforçada pela comunicação com um suposto tio da Tinja preparando o solo para a
interacção com um suposto irmão aquando da espera da Tinja pela mãe.
não chama, liga para Tinja mas ela não esta mais lá. Cuidado com os vigários, vagabundos,
ladroes e criminosos virtuais, eis a mensagem.
II.
“Os catanas” é o segundo conto do livro escrito por Joyce Joana António Carmona,
maputense, onde Zunguza no ambiente calmo dos bairros periféricos de Maputo, provoca
reboliços, pois era acusado de assaltante o que lhe rende espancamentos bizarros até,
curiosamente, os cães não virem lamberem-lhe as feridas e o sangue mas “puseram suas
caudas entre as patas em sinal de tristeza”.
Os gritos furiosos da população contra Zunguza despoletam acções como queima dos
pneus e, finalmente, é linchado. E, no entanto, o policia Sitoe, preguiçoso, foi incumbido
investigar o caso pelo que inquere precipitadamente a dona Jorgina, mãe de três filhos: Júnior,
Elisa e o mais novo Jorgito. Jorgito diz o policia que o mentor do linchamento era o tio
Zacarias que é imediatamente conduzido a esquadra da qual é lhe feito perguntas arbitrárias,
sofre espancamentos a mando de Sitoe para tirar-lhe a confissão e, consequentemente, é morto
pelos lacaios policiais em circunstancias misteriosas mesmo sendo inocente. Dois dias depois,
Jorgito é interpelado por Sitoe a vender Chamussas, compra-os, exibe-se confirma-o que
Zunguza era realmente o culpado.
De seguida, quase às 21 horas uma moça é interpelada por uma turba de adolescentes
maltrapilhos e exigem que ela pare. Essa moça era amiga de Jorgito e por isso um dos
integrantes da gangue pede aos que a deixem ir, pois a conhecia e a moça retorquiu que
conhecia aquela voz. Contudo, para o bem do grupo a moça é decapitada para fazer
companhia ao Zunguza.
No dia seguinte, Moisés, um carpinteiro que trabalhava nas imediações da estrada, saia
ao trabalho e, de repente, depara-se com o corpo inerte, sem vida, estatelado no chão,
assustado grita e os vizinhos dali, ignorando o instrumento que sempre usara ao trabalho,
catana, consideram-no culpado, põem pneus gasolina, ateiam fogo nele e o lincham.
Novamente, polícia Sitoe é informado pelo Jorgito que o mentor era o tio Jorgito, com
a arbitrariedade que o caracteriza encerra-o nas celas, faz perguntas ilógicas e, infelizmente,
desaparece em circunstâncias desconhecidas sem também apresentarem-se provas contra
Moisés. Portanto, Sitoe condena a morte mais uma vez um inocente enquanto os verdadeiros
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criminosos, Júnior e Jorgito, pululam livres nos bairros sem medo de uma investigação
policial séria. Que belo retrato da nossa realidade!
III.