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MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA

Relatório de Estágio na Unidade de


Neuropsicologia
Alcino José Matias Duarte

M
2019
Relatório de Estágio na Unidade de
Neuropsicologia

Autor: Alcino José Matias Duarte


alcinoduarte@gmail.com
Mestrado Integrado em Medicina
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto

Orientação: Professora Doutrora Sara Marta Pereira dos Santos


Cavaco
Neuropsicóloga
Unidade de Neuropsicologia, Centro Hospitalar Universitário do Porto

Porto, maio de 2019


Autor: Alcino José Matias Duarte

Orientação: Sara Marta Pereira dos Santos Cavaco

Porto, maio de 2019


Resumo
Dentro de várias hipóteses nesta unidade curricular, optei por um estágio na área da
Neuropsicologia, na Unidade de Neuropsicologia, que está integrada no Serviço de Neurologia do
Centro Hospitalar Universitário do Porto, uma vez que durante a formação médica fui adquirindo
um gosto especial pelo estudo das áreas relacionadas com as Neurociências.
A Neuropsicologia está no interface da Psicologia e da Neurologia e estuda as relações
entre o cérebro e o comportamento humano. Dedica-se a investigar como diferentes lesões
causam défices em diversas áreas da cognição e do comportamento humano, ou seja, estuda
as funções mentais superiores. A avaliação neuropsicológica pode ajudar ao diagnóstico médico e
oferecer orientações terapêuticas, importantes para algumas decisões clinicas e cirúrgicas.
Pela sua importância para a prática médica na área das Neurociências, procurei nesta
aprendizagem alcançar os seguintes objetivos: conhecer a organização da Unidade de
Neuropsicologia e sua área de intervenção; adquirir bases aprofundadas para o estudo e
compreensão das relações entre cérebro e comportamento humano; adquirir conhecimentos de
síndromes neuropsicológicas e de procedimentos de avaliação neuropsicológica; melhorar
conhecimentos e competências de consulta, pela observação da avaliação neuropsicológica, para
perceber em que circunstâncias deve ser solicitada, pode ser desnecessária ou mesmo evitada;
promover a capacidade de problematizar e procurar soluções conceptuais e metodológicas para
uma melhor compreensão da relação entre funcionamento cerebral e funções cognitivas.
Durante o estágio, de modo a concretizar os objetivos propostos, pude observar
avaliações neuropsicológicas em contexto de consulta. Para além disso, participei nas reuniões de
grupo da Unidade com análise e discussão de casos, assim como, planeei e apresentei para
discussão três artigos em áreas relevantes para a Neuropsicologia.
Por fim, posso concluir que, como futuro médico, a minha aprendizagem na Unidade de
Neuropsicologia veio reforçar a importância da avaliação neuropsicológica na consulta de
demências, doenças do movimento, epilepsia, entre outras, auxiliando de forma inequívoca a
avaliação médica e a decisão terapêutica. Contudo, pude também verificar que nalgumas
situações o seu pedido pode ser desnecessário ou até mesmo deve ser evitado.

Palavras-chave: Neuropsicologia, Comportamento, Funções Superiores, Cognição

i
Abstract
Among the available options of the curricular unit, I decided to undergo an internship in
the Neuropsychology field, at the Neuropsychology Unit, which is integrated in the Neurology
Service of the Centro Hospitalar Universitário do Porto. During my medical training I have
developed a particular interest for the study of Neuroscience-related areas.
Neuropsychology is at the interface of psychology and neurology, and it tries to
understand the relationship between the brain and the human behavior. It focuses on the study
of how different lesions can cause deficits in several areas of cognition and behavior, i.e. it
analyses higher mental functions. Neuropsychological assessment might be helpful for medical
diagnosis and provides therapeutic guidelines, essential for some clinical and surgical decisions.
Given its importance for medical practice in the Neurosciences’ area, I sought to
accomplish in this learning experience the following objectives: to get a better understanding of
the organization of the Neuropsychology Unit and its intervention area; to learn the fundamentals
for studying and understanding the relationships between brain and human behavior; to acquire
knowledge about neuropsychological syndromes and neuropsychological assessment procedures;
to expand my knowledge and medical consultation skills, by observing neuropsychological
assessments, in order to perceive in what circumstances it should be requested, unnecessary or
even avoided; to develop my ability to problematize and seek conceptual and methodological
solutions for a better understanding of the relationship between brain functioning and cognitive
functions.
During the internship and in order to accomplish the proposed goals, I was able to
observe neuropsychological assessments in the context of outpatient consultation. Moreover, I
participated in the regular group meetings of the Unit, where analysis and discussion of several
clinical cases were made, and I planned and presented for discussion three research articles
comprising relevant themes for Neuropsychology.
At last, I can conclude that, as a future medical doctor, the knowledge that I achieved in
the Neuropsychology Unit reinforced the importance of the neuropsychological assessment in
medical consultation of dementia, movement disorders, epilepsies, among others, unequivocally
facilitating medical evaluation and therapeutic decisions. Nevertheless, I could also verify that in
some particular situations, its request might be unnecessary or even avoided.

Key-words: Neuropsychology, Behavior, Higher Functions, Cognition

ii
Agradecimentos
Faz precisamente 30 anos que iniciei este caminho, começava então os meus estudos.
Não teria sido possível percorrê-lo sem a ajuda da minha família, dos meus amigos e colegas de
trabalho. Assim sendo, quero expressar o meu profundo agradecimento.

À Professora Sara Cavaco, nunca me vou esquecer do apoio, ajuda, dedicação, empenho e
confiança que me deu sempre, desde o primeiro momento em que lhe propus este momento de
aprendizagem, tão importante para mim, nesta fase da minha vida académica, profissional e
pessoal.

À Dr.ª Alexandra e à Dr.ª Eduarda pela ajuda e disponibilidade, possibilitando a minha


presença nas suas consultas, sendo fundamental para a minha aprendizagem e para que este
trabalho tivesse “rosto”.

Um beijinho de gratidão à Sofia Campos, uma amiga de curso, que guardo para a vida,
tantas coisas em comum, trabalho e família, mas acreditamos e conseguimos. Os sonhos são para
se concretizarem.

À minha irmã Carla e ao Paulo, por respeitarem, apoiarem e aplaudirem sempre os meus
desafios. Sabem ambos que não podia deixar a Medicina fora do livro da minha vida. Conhecem
bem um dos inspiradores disso mesmo.

Obrigado Ana e Humberto, amigos de sempre e para sempre, pela compreensão, pelas
vezes que não pude estar presente…. “hoje não posso porque estou a estudar”… Obrigado por
toda a ajuda, por estarem sempre presentes nos momentos bons e menos bons…Obrigado pela
minha querida afilhada, a Rita.

Aos meus sogros por todo o apoio com o Dinis, por toda a consideração que sempre
demonstraram comigo.

À minha cunhada Isabel, por quem tenho um carinho muito especial, obrigado por fazeres
ciência de forma exemplar, continua sempre com essa vontade de partilhar e de ensinar. És de
facto magnífica.

Aos meus pais, pelos princípios e valores que me transmitiram e por me terem ensinado o
sentido do rigor e determinação na hora de decidir e agir. Para ti minha santa mãe, a quem
agradeço numa dissertação pela 3ª vez, OBRIGADO por me ensinares a procurar o sim, o eu
consigo, o vou à luta. BEM HAJAS.

À minha querida esposa Vera por continuar a ser o meu braço direito, sempre, há 20 anos.
Conhecemo-nos a lutar pela medicina, como tal, serás a pessoa que melhor entende a minha
felicidade neste momento. Obrigado por toda a compreensão durante os últimos 6 anos, foste
única e não tenho palavras para descrever o quanto te admiro como Mãe. Sim temos o Dinis, e o
Duarte, que já me ouve e sente, são as grandes bênçãos que nos foram concedidas….Fiz e vou
continuar este caminho por vocês.

“….O que fomos um para o outro ainda o somos….” e seremos. TIAGO, como não tenho
palavras capazes de explicar o que significas para mim, prefiro reservar-me ao que sinto. DEDICO-
TE estes 6 anos de formação médica, fazendo-te apenas um pedido: …. Continua comigo e a
iluminar o meu caminho. Irei cumprir o que te PROMETI.

iii
Lista de Abreviaturas
Avaliação Neuropsicológica (AN)
Centro Hospitalar Universitário do Porto-Hospital de Santo António (CHUP)
Deep Brain Stimulation of the Subthalamic Nucleus (STN-DBS)
Doença de Huntington (DH)
Doença de Parkinson (DP)
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS)
Sleep Behavior Disorder (RBD)

iv
Índice

Resumo ............................................................................................................................................ i
Abstract .......................................................................................................................................... ii
Agradecimentos............................................................................................................................. iii
Lista de Abreviaturas ..................................................................................................................... iv
1.Introdução ...................................................................................................................................1
1.1.Neuropsicologia-Definições e Objeto de Estudo .................................................................1
1.2. A Avaliação Neuropsicológica .............................................................................................2
1.3. Validade da Avaliação Neuropsicológica ............................................................................3
2.O Estágio ......................................................................................................................................4
2.1.Descrição da Unidade de Neuropsicologia do Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar
do Porto. ....................................................................................................................................4
2.1.1. Área Geográfica .............................................................................................................4
2.1.2. Atividade Clinica ............................................................................................................5
2.1.3. Atividade Formativa ......................................................................................................7
2.1.4. Atividade Científica .......................................................................................................7
2.2. Áreas de Aprendizagem ......................................................................................................7
2.2.1. Avaliações/Reavaliações Neuropsicológicas (45h) ........................................................8
2.2.2. Reuniões de Unidade/Discussão de Casos Clínicos (36h) ............................................10
2.2.2.1. Descrição de Casos Clínicos ...................................................................................10
2.3.Apresentação de Artigos (1h) ............................................................................................18
3.Conclusão ..................................................................................................................................19
4.Anexos .......................................................................................................................................20
Anexo I- Calendário e Carga horária do Estágio (81 horas)......................................................20
Anexo II- Encontram-se em formato PDF as apresentações efetuadas na Unidade de
Neuropsicologia .......................................................................................................................21
5.Bibliografia.................................................................................................................................22

v
1.Introdução
O relatório aqui exposto pretende contemplar o que foi a vivência e a aprendizagem que
decorreu do estágio englobado no 6º ano, profissionalizante, do Mestrado Integrado em Medicina
do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar. Optei por um estágio na área da
Neuropsicologia, na Unidade de Neuropsicologia que integra o Serviço de Neurologia do
Departamento de Neurociências do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP). Quando
iniciei o curso de Medicina já tinha um crescente interesse por uma das suas áreas, a Neurologia,
e durante os cinco anos do curso, fui adquirindo um gosto especial pelo estudo nas unidades
curriculares relacionadas com as Neurociências. Como tal, esta opção permitiu personalizar um
pouco o meu trajeto académico, bem como melhorar competências e conhecimentos nesta área
de maior interesse pessoal. O estágio contou com a orientação e supervisão da Professora
Doutora Sara Cavaco e decorreu entre Novembro e Março de 2019 (Anexo I), tendo uma duração
de cerca de 80 horas de trabalho no local.
Durante o estágio procurei alcançar os seguintes objetivos: conhecer a organização da
Unidade de Neuropsicologia e sua área de intervenção; adquirir bases aprofundadas para o
estudo e compreensão das relações entre cérebro e comportamento humano; adquirir
conhecimentos de síndromes neuropsicológicas e de procedimentos de avaliação
neuropsicológica; melhorar conhecimentos e competências de consulta relevantes para a prática
clinica através da observação da avaliação neuropsicológica; promover a capacidade de
problematizar e procurar soluções conceptuais e metodológicas para uma melhor compreensão
da relação entre funcionamento cerebral e funções cognitivas.
O presente trabalho engloba uma revisão sobre a área da Neuropsicologia, da Avaliação
Neuropsicológica (AN), e um breve enquadramento contextual sobre a Unidade de
Neuropsicologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto. Prossegue com a descrição e análise
das principais atividades desenvolvidas, onde se enquadram as consultas presenciadas, as
reuniões de serviço e a apresentação de casos clínicos, assim como, a referência à apresentação
de temas relevantes e atuais da Neuropsicologia. Termina com uma consideração final onde é
feita uma reflexão sobre o desenvolvimento de competências e o seu contributo para a minha
valorização pessoal e profissional.
Ao longo do estágio fui, ainda, desenvolvendo uma pesquisa bibliográfica, sobre as
temáticas em questão, que serviu de suporte científico ao presente relatório.

1.1.Neuropsicologia-Definições e Objeto de Estudo


A Neuropsicologia está no interface da Psicologia e da Neurologia e estuda as relações
entre o cérebro e o comportamento humano.1 Apresenta caráter interdisciplinar, em que o seu

1
objeto de estudo depende da relação estabelecida entre a estrutura e funcionamento cerebral,
processos mentais e comportamento.2,3
Assim sendo, caracteriza-se como uma ciência que estuda a expressão comportamental,
emocional e social de disfunção cerebral, os défices em funções superiores, as inter-relações
entre cérebro e comportamento e entre cérebro e funções cognitivas.1

1.2. A Avaliação Neuropsicológica


A AN define-se como uma aplicação dos conhecimentos da Neuropsicologia no sentido de
avaliar e intervir no comportamento humano, relacionando-o com o funcionamento do Sistema
Nervoso Central normal ou deficitário. A AN permite uma análise sistemática dos distúrbios de
comportamento e da cognição decorrentes de alterações à atividade cerebral normal, causadas
por doença, lesão, disfunção ou modificações experimentais.1 Esta avaliação tem como objetivos:
auxiliar no diagnóstico clinico do doente; verificar a existência de alterações cognitivas; perceber
a etiologia e o prognóstico de cada caso; determinar a magnitude das sequelas de eventuais
lesões; e fornecer informação importante para algumas decisões clínicas e cirúrgicas.3 A título de
exemplo, AN é considerada “obrigatória” em grande parte dos casos de cirurgia da epilepsia e em
todos os candidatos a tratamento cirúrgico da doença de Parkinson. A AN permite também dar
indicações sobre a capacidade funcional do indivíduo no quotidiano e oferecer orientações de
prevenção e de adaptação do meio às limitações do indivíduo.
A AN compreende uma análise quantitativa e qualitativa do funcionamento
neuropsicológico do indivíduo. Apresenta-se como um processo complexo, que envolve a
realização de entrevistas semi-estruturadas e a aplicação de questionários para recolha da
anamnese com o indivíduo e/ou o seu acompanhante), a observação do comportamento do
indivíduo em contexto clínico e a administração de instrumentos de avaliação formal do
funcionamento neuropsicológico para identificação de funções neurocognitivas preservadas e
deficitárias.1
Um conceito de grande importância numa AN é o padrão de comparação normativa
(dados normativos). A constatação de um défice pressupõe declínio relativamente ao nível de
funcionamento anterior ou diferença entre as respostas dadas pela pessoa avaliada com as do
grupo normativo, ou seja, conjunto de pessoas saudáveis com características demográficas (idade,
sexo e escolaridade) e culturais semelhantes. Para identificação de défice é habitualmente
considerado um desempenho ≤-1 ou ≤-1,5 desvios padrão abaixo do normal esperado para as
características demográficas do indivíduo. Sendo possível haver variabilidade do funcionamento
cognitivo com a idade, o sexo e a escolaridade, é muito importante ter dados normativos
adequados para a população abrangente. Na Unidade de Neuropsicologia do CHUP foi realizado

2
um trabalho extenso de recolha de dados normativos para uma série de testes neuropsicológicos.
A aferição nacional da DRS-2 (Dementia Rating Scale-2), do AVLT (Auditory Verbal Learning Test),
do TMT (Trail Making Test) e das fluências verbais foi realizada nesta Unidade seguindo os
procedimentos de co-normalização, de normalização com base em regressões e de aplicação de
uma métrica comum. Estes procedimentos facilitam a comparação entre domínios cognitivos e
permitem uma maior precisão na interpretação dos resultados psicométricos.
É ainda de realçar, que os procedimentos usados na AN apresentam limitações e alguns
vieses, como em qualquer modalidade de exame. Questões relacionadas com o estado geral de
saúde do indivíduo aquando da avaliação são das primeiras a ser consideradas. Variáveis como
cansaço, jejum prolongado, sonolência, falta de atenção e compreensão da tarefa a realizar, falta
de empatia com o examinador, má cooperação, estados de ansiedade e depressão, medicação,
cirurgias recentes ou outras intervenções médicas, e a própria familiarização do doente com os
testes efetuados, podem afetar o resultado de uma AN.4 Se o doente se encontrar internado, o
médico ao fazer o seu pedido, deve ter em consideração o grau de vigília do doente, o seu nível
de colaboração habitual, a capacidade de comunicar e as condições físicas para a avaliação no
internamento (ex: privacidade, nível de ruído, medidas de isolamento para prevenção de infeção).
A AN de um doente internado é muitas vezes um desafio ou por vezes é mesmo inviável.
Assim sendo, para a prática médica, essencialmente na área das Neurociências, é
importante que se perceba como se realiza uma AN, em que situações clinicas esta é importante
ou até obrigatória, em que situações deve ser pedida uma reavaliação e quando esta deve ser
ponderada, podendo mesmo ser desnecessária ou evitada.

1.3. Validade da Avaliação Neuropsicológica


A veracidade dos sintomas e o empenhamento do indivíduo na realização dos testes
neuropsicológicos assume um papel de extrema importância na AN.5-7 A avaliação da validade dos
sintomas e do desempenho do indivíduo na realização dos testes neuropsicológicos é
especialmente importante quando existem potenciais benefícios (exemplo: indemnizações,
reformas) relacionados com a identificação de défice. Vários tipos de sintomas podem ser
simulados, como por exemplo: dor, desorientação, depressão, baixa concentração, mudanças na
personalidade e problemas de memória.8 A validade dos resultados dos testes psicométricos do
funcionamento cognitivo depende de variáveis de esforço, nomeadamente, cooperação,
empenhamento e motivação. Existem diversos métodos para despistar a simulação de sintomas e
o empenhamento subótimo. No entanto, o nível de precisão de cada um destes métodos é
relativamente reduzido, tendo habitualmente elevada especificidade mas baixa sensibilidade,
sendo necessário utilizar diversos métodos para aumentar a sensibilidade.9, 10

3
2.O Estágio

2.1.Descrição da Unidade de Neuropsicologia do Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar do


Porto.
Do Departamento de Neurociências do CHUP dirigido pelo Professor Doutor José Barros,
fazem parte os Serviços de Neurologia (que integra a Unidade de AVC Dr. Castro Lopes e a
Unidade de Neuropsicologia), Neurocirurgia, Neurofisiologia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia,
Psiquiatria e Psicologia da Saúde (que integra a Unidade de Psiquiatria de Ligação),
Neurorradiologia, a Unidade Corino de Andrade, a Unidade de Epilepsia, e a Unidade de
Neuropatologia.
Relativamente à Unidade de Neuropsicologia, esta está atualmente integrada no Serviço
de Neurologia, dirigido pelo Professor Doutor Manuel Correia.
A Unidade de Neuropsicologia colabora ativamente com as restantes Neurociências,
contribuindo de forma importante para o diagnóstico e decisão terapêutica nas áreas da
Neurologia e Neurocirurgia. A perspetiva multidisciplinar foi um dos aspetos com o qual mais me
identifiquei.

Unidade de Neuropsicologia: Recursos Humanos e Sua Constituição


A Unidade é composta por seis (6) neuropsicólogas. Tive a oportunidade de trabalhar e
contatar com todos os elementos: Professora Doutora Sara Cavaco, responsável da Unidade,
sendo a supervisora e orientadora do estágio, Dra. Alexandra Gonçalves, Dra. Cláudia Pinto, Dra.
Eduarda Almeida, Dra. Filomena Gomes e a Dra. Inês Moreira responsável pela AN em idade
pediátrica.
Contactei ainda com a Dra. Inês Ferreira, também neuropsicóloga, que se encontrava com
uma bolsa de investigação a realizar um estudo na área da neuroimunologia, nomeadamente, na
aplicação de um protocolo de reabilitação cognitiva em doentes com esclerose múltipla.

2.1.1. Área Geográfica


A área de referenciação primária é constituída pelas freguesias centrais, ribeirinhas e
marítimas do concelho do Porto (Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau, Vitória,
Lordelo do Ouro, Massarelos, Aldoar, Foz do Douro, Nevogilde e Ramalde) e do concelho de
Gondomar, correspondendo a cerca de 375 mil habitantes.
É ainda uma referenciação secundária dos distritos de Bragança, Vila Real e da região
Entre Douro e Vouga.

4
2.1.2. Atividade Clinica
As áreas de atividade clínica oferecidas pela Unidade de Neuropsicologia produzem,
essencialmente, exames complementares de diagnóstico e abrangem as seguintes vertentes:
avaliações primárias e reavaliações neuropsicológicas, normalmente solicitadas por um médico da
área das Neurociências, em que as principais patologias são as demências, as doenças do
movimento, a epilepsia, os tumores cerebrais, os acidentes vasculares cerebrais e, mais em
contexto de investigação, patologias na área da Neuroimunologia.
O número de avaliações realizadas pela Unidade de Neuropsicologia tem aumentado
progressivamente desde a sua criação em 2009. O número de avaliações realizadas no período
entre 2014 e 30 de abril de 2019 encontra-se representado no Gráfico 1.

Atividade Clínica
800
673
700
600 551
Nº de Avaliações

513
500 452 465

400
300 255 Nºde avaliações
200
100
0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 *
Ano

Gráfico 1- Atividade Clinica da Unidade de Neuropsicologia.


*Dados referentes ao período de 1 de Janeiro a 30 de Abril de 2019

5
No Gráfico 2 encontram-se representadas, em percentagem, os tipos de avaliações
realizadas durante o ano de 2018.

Percentagem de Avaliações Neurológicas por


Áreas de Intervenção observadas no ano de 2018

26% 30%

4%
4%
15% 21%

Demência Tumores cerebrais, AVC e outros


Doenças do Movimento Pediatria
Epilepsia Reavaliações *

Gráfico 2-Percentagem de Avaliações Neuropsicológicas por áreas de intervenção realizadas


durante o ano de 2018.

*Das Reavaliações efetuadas: 45,8 % foram Demências, 15,4 % Doenças do Movimento, 5,7 % Epilepsia,
25,7% Tumores cerebrais, AVC e outras, 7,4% Pediatria.

6
2.1.3. Atividade Formativa
A Unidade de Neuropsicologia contribui para a formação pré e pós-graduada.
Na formação pré-graduada, colabora com a formação universitária de alunos do Mestrado
Integrado em Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade
do Porto e com a formação universitária de alunos de mestrado na área da Neuropsicologia de
outras Universidades.
Quanto à formação pós-graduada, recebe estágios clínicos de diferentes especialidades
médicas (nomeadamente Neurologia e Psiquiatria) e da área da Psicologia.

2.1.4. Atividade Científica


A Unidade de Neuropsicologia tem um papel ativo em estudos nacionais e internacionais,
epidemiológicos e clínicos cooperando regularmente com instituições de investigação (ICBAS,
Unidade Corino de Andrade, Unidade Multidisciplinar de Investigação Biomédica). Existe também
a colaboração com os Mestrados de Oncologia e de Medicina Legal e com o Programa Doutoral de
Neurociências da Universidade do Porto. A Unidade de Neuropsicologia colabora atualmente em
diversos projetos de tese de doutoramento em Ciências Médicas, em Neurociências e em
Investigação Clínica e Serviços de Saúde da Universidade do Porto.

2.2. Áreas de Aprendizagem


Este módulo do desenvolvimento do estágio encontra-se organizado nas diferentes áreas
de aprendizagem: observação de avaliações/reavaliações neuropsicológicas e participação em
reuniões de Unidade. Nas reuniões de Unidade engloba a participação na discussão de casos
(descrição de três casos clínicos neste relatório) e a apresentação de artigos/temas.
Em todas as componentes fui estimulado a desenvolver e sedimentar um raciocínio clínico
lógico, de forma a melhor compreender a relação entre os processos mentais e o funcionamento
cerebral, assim como, observar e avaliar os défices em funções superiores produzidos por
alterações cerebrais.
Pude constatar que em Neurociências a construção de um diagnóstico definitivo de forma
inteligente assenta na neuroanatomia, na fisiopatologia da doença e nos conceitos de diagnóstico
sindromático, topográfico e etiológico. Em muitos casos clínicos, o resultado da AN pode ser
fundamental.

7
2.2.1. Avaliações/Reavaliações Neuropsicológicas (45h)
As AN em que estive presente decorreram durante as tardes de quinta-feira e tinham a
duração média de 3 horas. Acompanhei a Dra. Alexandra Gonçalves ou a Dra. Eduarda Almeida,
que de uma forma profissional sempre se mostraram disponíveis para responder às minhas
questões e transmitirem a sua experiência e conhecimento.
Pude constatar que as condições onde decorriam as AN em ambulatório eram adequadas,
tendo a oportunidade de estar em vários gabinetes de consulta e, todos tinham condições de
insonorização adequada, importante para a confidencialidade da AN. Assim como, as condições
físicas de luminosidade, temperatura, conforto e espaço das salas de consulta permitiram
assegurar a qualidade da aplicação dos procedimentos psicométricos. Estavam sempre também
disponíveis os instrumentos de avaliação necessários para a AN, sem haver necessidade do
avaliador sair do gabinete. Foi sempre explicado ao doente que poderia fazer uma pausa durante
a AN, se acusasse algum cansaço ou fadiga, ou até mesmo para se alimentar. Foi sempre pedida a
autorização do doente para a presença, durante a AN, de um elemento a realizar estágio na
Unidade.
Ao longo do período dedicado às avaliações/reavaliações, tive a oportunidade de observar
16 casos clínicos, sendo 13 do sexo feminino com idades entre os 32 e 75 anos e escolaridade
entre os 4 e 15 anos e 3 do sexo masculino, com idades entre os 54 e 67 anos e escolaridade entre
os 4 e 6 anos, dos quais 13 eram reavaliações e 3 eram primeiras avaliações (Tabela I).

8
Tabela I- Avaliações/Reavaliações observadas durante o estágio

Sexo Idade Escolaridade Motivo do Pedido da AN Avaliações


(Anos) (Anos) Neuropsicológicas
Realizadas
40 15 Défice de Ornitina Transcarbamilase (Doença do ciclo 1ª Avaliação
de ureia), transplantada após várias descompensações
por encefalopatia hiperamoniémica, refere queixas
mnésicas.
36 6 Epilepsia por esclerose mesial, candidata cirúrgica. 1ª Reavaliação
Reavaliação
56 12 Sjogren e Lúpus, com queixas cognitivas desde há 5 1ª Reavaliação
anos. Reavaliação
32 12 Lesões cerebrais inflamatórias/desmielinizantes 1ª Reavaliação
tumefativas com microhemorragias (frontal direita e
parietal esquerda) sem etiologia definida.
Reavaliação
48 9 Epilepsia temporal direita não lesional, aguarda 1ª Reavaliação
cirurgia não invasiva, fez WADA que contraindica a
remoção de estruturas mesiais direitas. Reavaliação
67 6 Hemorragia por malformação arteriovenosa há 6 anos, 1ª Avaliação
desde então alteração da atenção e personalidade,
sequelas de lesão? Demência Frontotemporal?
55 6 Doença de Parkinson, 1ª Avaliação
indicação para Deep Brain Stimulation of the
Subthalamic Nucleus?
55 4 Queixas mnésicas e executivas, antecedentes de 1ª Reavaliação
neoplasia pulmonar com realização de quimioterapia,
défice cognitivo ligeiro em múltiplos domínios.
Reavaliação
66 4 Doença de Parkinson com 13 anos de evolução, 1ª Reavaliação
indicação para Estimulação Cerebral Profunda do
Núcleo Subtalâmico?
65 4 Doença de Huntington, avaliar capacidade de 6ª Reavaliação
condução.
Reavaliação
54 4 Doença hepática crónica por infeção HBV, 1ª Reavaliação
transplantado há 6 meses, apresenta queixas mnésicas,
tremor de repouso e postural, ligeira disartria.
Reavaliação
75 4 Nevralgia do trigémio e alucinações visuais. Queixas 1ª Reavaliação
mnésicas.
Reavaliação
72 4 Queixas mnésicas em evolução. 1ª Reavaliação
Défice Cognitivo Ligeiro-Doença de Alzheimer?
Reavaliação
48 11 Nevrite ótica e parkinsonismo com resposta a L-Dopa. 1ª Reavaliação
Mutação do gene NOTCH 3.
Reavaliação

67 4 Queixas mnésicas com agravamento, Défice Cognitivo 1ª Reavaliação


Ligeiro.
Reavaliação
53 14 Artrite reumatoide, Défice Cognitivo Ligeiro, suspeita 2ª Reavaliação
de toxicidade do Etanercept.
Reavaliação

Nota: Os Casos Clínicos estão apresentados segundo a ordem cronológica da AN observada.

9
2.2.2. Reuniões de Unidade/Discussão de Casos Clínicos (36h)
As reuniões da Unidade fazem parte da rotina semanal da equipa e são realizadas nas
manhãs de quinta-feira. Por norma e para o bom funcionamento da Unidade todos os elementos
que constituem a Unidade estão presentes. Estas reuniões são moderadas pela Professora
Doutora Sara Cavaco.
Inicialmente há espaço para discussão e resolução de assuntos que dizem respeito ao
normal funcionamento da Unidade. Posteriormente, cada elemento apresenta um caso que
considera relevante ser discutido (AN realizada habitualmente na semana anterior). Na
apresentação de cada caso, é lido o relatório que inclui: identificação (Nome, Sexo, Idade,
Escolaridade, Lateralidade, Referenciação, Data da AN e Pedido), entrevista (breve descrição da
anamnese recolhida com o doente e acompanhante), validade da avaliação e conclusões (tendo
em conta a anamnese e os resultados psicométricos). Após a apresentação é feita uma discussão
em equipa, no sentido de melhorar de forma global a AN, especialmente no que diz respeito às
conclusões.
É também no decorrer destas reuniões que são apresentados por um membro da
Unidade, ou elementos que estejam a realizar investigação ou estágio na mesma, temas
inovadores e pertinentes para a área da Neuropsicologia, assim como, para as Neurociências. No
meu caso, tive a oportunidade de apresentar três temas, onde me foi dada a opção de escolha,
tendo em consideração as temáticas que me despertassem maior interesse e motivação de
pesquisa e estudo.

2.2.2.1. Descrição de Casos Clínicos


Neste item destaco três casos clínicos que despertaram especial interesse durante o
estágio na Unidade.

Dois dos casos escolhidos dizem respeito a patologias em que é fundamental a AN para a
orientação clínica e terapêutica, na área da Neurologia e da Neurocirurgia. O terceiro caso, foi
escolhido, pela importância que a Neuropsicologia tem na avaliação de capacidades para o
desempenho de certas atividades diárias, nomeadamente na capacidade de condução num
doente com patologia neurológica. Para além disso, neste caso foi também evidente, a
importância da validade da AN.

10
Caso Clinico 01
Identificação: A, sexo feminino, 55 anos de idade, 6 anos de escolaridade, com dominância direita.
Motivo de Pedido: Doença de Parkinson, indicação para Deep Brain Stimulation of the
Subthalamic Nucleus (STN-DBS)?
Número de Avaliações Neuropsicológicas realizadas: 1 (uma)

Entrevista:
A doente habita sozinha e está reformada por invalidez há mais de 20 anos. Refere ideação
suicida (sem planos) e distúrbio do sono (fala), indicativo de Sleep Behavior Disorder (RBD). Nega
dificuldades cognitivas, alucinações visuais e sintomas de apatia.

Validade da AN:
A doente apresentou-se confortável com a situação da avaliação e disposta a completar os
procedimentos psicométricos. As capacidades de linguagem da doente foram funcionais durante
a entrevista e para os objetivos da avaliação psicométrica. Durante a avaliação foi observado
aparente período em OFF (perto da hora da sua toma de medicação habitual). A doente foi em
geral cooperante e aparentou empenhamento satisfatório durante toda a avaliação. Acredita-se
que os resultados psicométricos desta avaliação refletem o atual nível de funcionamento
cognitivo da doente. No entanto, não foi possível recolher com uma terceira pessoa informação
sobre o dia-a-dia da doente.

Conclusões da AN:
A doente apresentou em geral funcionamento cognitivo ligeiramente abaixo do esperado para as
suas características demográficas. Foram registadas dificuldades de desempenho em medidas de
atenção, destreza manual bilateral e funções executivas (incluindo flexibilidade de raciocínio,
controlo inibitório e alternância entre sequências). Foram também detetadas ligeiras dificuldades
e/ou inconsistências de desempenho em medidas de linguagem (incluindo repetição de frases e
compreensão de ordens simples), perceção visuoespacial e visuoconstrução (cópia de desenho
com defeito no planeamento e com perseverações). As capacidades de memória verbal e visual
aparentam estar relativamente preservadas. Foram registados sintomas de ansiedade em níveis
considerados patológicos numa escala de auto-relato. Não foi detetada sintomatologia apática
relevante. Foram negadas alucinações. Foram também negadas alterações funcionais, no entanto,
esta informação não pôde ser confirmada com uma terceira pessoa. Apesar de possíveis
oscilações ON-OFF durante a avaliação, o perfil neuropsicológico é sugestivo de Défice Cognitivo

11
Ligeiro múltiplos domínios não mnésico. Considera-se que estas ligeiras alterações cognitivas não
contraindicam tratamento com STN-DBS. Recomenda-se avaliação pela psiquiatria.

A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa progressiva que se


caracteriza pela perda celular na substancia nigra pars compacta, afetando a via dopaminérgica
nigroestriatal.11 O seu diagnóstico realiza-se pela existência de sinais e sintomas como:
bradicinesia, rigidez, tremor de repouso e instabilidade postural. Esta caracteriza-se, também,
pela ausência de características atípicas, por uma evolução lenta e progressiva, e pela sua
resposta à terapêutica farmacológica.12 A hiposmia, disfunções autonómicas, declínio cognitivo,
mudanças de humor e alterações do sono, podem estar presentes na DP.11
A levodopa sendo um precursor da dopamina endógena, é atualmente o fármaco mais
usado, sendo altamente eficaz numa primeira fase. No entanto, a longo prazo acaba por
desenvolver efeitos adversos, nomeadamente discinesias e flutuações motoras entre estados
“on” e “off”, que frequentemente são refratárias ao tratamento médico. Estas complicações são
encontradas em cerca de um terço dos doentes após dois anos de tratamento.13 Para além disso,
é importante referir que a levodopa é apenas parcialmente eficaz ou mal tolerada numa
percentagem considerável de doentes.14
Apesar de não ser capaz de impedir a progressão da doença, o desenvolvimento da
Subthalamic Deep Brain Stimulation (STN-DBS) nos últimos anos torna-a uma alternativa
promissora e válida relativamente ao tratamento farmacológico da DP. No entanto, é necessário o
cumprimento de certos critérios de inclusão para a sua realização: idade <70 anos, funcionamento
cognitivo e mental relativamente preservado, responsivos a levodopa e outra medicação
antiparkinsónica, mas com flutuações motoras, discinesia ou tremor refratário ao tratamento.15
A utilidade da Deep Brain Stimulation na abordagem dos sintomas motores da DP já foi
demonstrada por diversos estudos, sendo que a STN-DBS é a mais bem estuda.16,17 Esta atua
sobre os sintomas motores da DP que respondem à levodopa, nomeadamente sobre a
bradicinesia, a rigidez e o tremor.18,19
Apesar da eficácia comprovada, a STN-DBS acarreta também efeitos secundários,
principalmente ao nível da cognição e do humor, sendo frequentemente associada a alterações
da fluência verbal e a sintomas de abulia e apatia.20,21
Tendo em consideração a pesquisa realizada, entende-se a importância do pedido da
realização de uma AN, considerada obrigatória em doentes candidatos a STN-DBS. Sendo as
alterações cognitivas das principais complicações da técnica cirúrgica e uma contraindicação para
a mesma, foi fundamental perceber neste caso clínico que a presença de ligeiras alterações
cognitivas (comuns na DP) pode não ser impeditiva de STN-DBS. Permitiu perceber a importância

12
da depressão major, da apatia e das alucinações visuais como contraindicações para a STN-DBS.
Apesar da presença de possível RBD, considerou-se que este sintoma não seria contraindicação
para STN-DBS.

Caso Clínico 02
Identificação: B, sexo feminino, 36 anos de idade, 6 anos de escolaridade, com dominância direita,
Motivo de Pedido: Epilepsia, com esclerose mesial, candidata cirúrgica. Reavaliação
Número de Avaliações Neuropsicológicas realizadas: 2 (duas)

Entrevista:
A doente habita com marido e filha. Não exerce qualquer atividade profissional. Refere sintomas
de depressão, ansiedade e apatia. Nega queixas cognitivas e alterações funcionais.

Validade da AN:
A doente apresentou-se confortável com a situação de avaliação e disposta a completar os
procedimentos psicométricos. As capacidades de linguagem da doente foram funcionais durante
a entrevista e para os objetivos da avaliação psicométrica. A doente foi em geral cooperante.
Foram identificadas inconsistências de desempenho que poderão corresponder a falhas de
atenção durante a avaliação. Foi possível recolher com uma terceira pessoa informação sobre o
dia a dia da doente (marido).

Conclusões da AN:
A doente apresentou em geral funcionamento cognitivo abaixo do esperado para as suas
características demográficas. Foram registadas dificuldades de desempenho em medidas de
atenção/memória de trabalho (mais acentuadas para informação visual), velocidade psicomotora
(incluindo destreza manual bilateral, pior à esquerda), perceção visuoespacial, visuoconstrução
(com falhas de precisão na cópia da figura complexa), reconhecimento e nomeação de caras
famosas e funções executivas (incluindo flexibilidade de raciocínio, controlo inibitório e
alternância entre sequências). O funcionamento mnésico para informação visual encontra-se nos
limites mínimos normais para as suas características demográficas. Não foram registados défices
seguros em medidas de nomeação por confronto visual, repetição de frases ou aprendizagem e
memória para informação verbal (apesar do numero elevado de intrusões). Não foram registados
índices elevados de ansiedade ou depressão numa escala de autorrelato. Num inventário
neuropsiquiátrico preenchido pelo marido foram negadas alterações. No entanto, em entrevista

13
foi referido um processo de luto complicado (morte de dois familiares). Comparando com a
avaliação anterior (há 7 anos), verificam-se algumas variações negativas em medidas de atenção,
perceção visuo-espacial e funções executivas. Contudo, em geral assume-se uma estabilização do
quadro neuropsicológico. O perfil neuropsicológico aponta para uma disfunção de predomínio do
hemisfério não dominante. Recomenda-se acompanhamento psicológico/psiquiátrico.

A epilepsia por esclerose mesial temporal é a síndrome epiléptica mais frequentemente


abordada por cirurgia nos adultos. Os doentes apresentam tipicamente convulsões focalizadas,
também conhecidas como crises parciais complexas, com ou sem aura ou convulsões tónico-
clónicas. A característica patológica mais comum associada à epilepsia do lobo temporal é a
esclerose hipocampal (esclerose mesial temporal), que é caracterizada por perda neuronal focal
selecionada e gliose no hipocampo, afetando predominantemente CA1, CA3 (Cornu Ammonis1 e
3) e a camada de células granulares dentadas. A esclerose hipocampal é o diagnóstico
histopatológico mais comum encontrado no momento da cirurgia de epilepsia em adultos e é
responsável por aproximadamente 45% de todas as ressecções. 22 O procedimento cirúrgico mais
comum para a epilepsia por esclerose mesial temporal é a ressecção do pólo temporal anterior,
do hipocampo e de parte da amígdala.23
Como complicações cirúrgicas estão descritas, as sequelas cognitivas, em que
aproximadamente um terço dos doentes tem perda mnésica. Os doentes podem também ficar
com alterações do campo visual, doenças psiquiátricas como a depressão e certos défices
neurológicos, como a afasia, paralisias de nervos cranianos ou hemiparesia.24-28
Antes da decisão cirúrgica, uma avaliação abrangente é essencial em doentes com
epilepsia resistente ao tratamento farmacológico. A história e o exame neurológico são
fundamentais para confirmar o diagnóstico e caracterizar a semiologia da convulsão e a
localização clínica. Para além disso, devem ser realizados testes neuropsicológicos para avaliar a
presença de défices de aprendizagem e memória verbal e não verbal, lateralizar ou localizar
alterações funcionais que possam ajudar a identificar a região de início da crise e estabelecer qual
o funcionamento cognitivo antes da cirurgia.
Neste caso clinico, foi solicitada uma reavaliação neuropsicológica, no sentido de
perceber se o défice mnésico era consistente com a esclerose mesial unilateral conhecida. Sinais
neuropsicológicos de disfunção temporal mesial bilateral são contraindicação para
hipocampectomia.

14
Caso Clinico 03
Identificação: C, sexo masculino, 66 anos de idade, 4 anos de escolaridade, com dominância
direita.
Motivo de Pedido: Doença de Huntington, avaliar a capacidade de condução. Reavaliação
Número de Avaliações Neuropsicológicas realizadas: 7 (sete)

Entrevista:
O doente habita com esposa e dois filhos. Refere ligeiras dificuldades de memória, de atenção, e
de linguagem. Nega sintomas psicopatológicos e alterações do comportamento.

Validade da AN:
O doente apresentou-se confortável com a situação de avaliação e, apesar de manifestar alguma
tendência para desistir, mostrou-se em geral disposto em completar os procedimentos
psicométricos. As capacidades de linguagem do doente foram minimamente funcionais durante a
entrevista e para os objetivos da avaliação psicométrica. No entanto, as instruções tiveram que
ser por vezes repetidas e simplificadas. O doente foi em geral cooperante e aparentou
empenhamento satisfatório durante toda a avaliação. As múltiplas avaliações anteriores (seis
avaliações entre 2010 e 2017) poderão ter criado um efeito de prática na realização dos testes,
este efeito pode levar à subestimação da gravidade dos défices cognitivos reais. Foi possível
recolher com uma terceira pessoa informação sobre o dia a dia do doente.

Conclusões da AN:
O doente apresentou em geral funcionamento abaixo do esperado para as suas características
demográficas. Foram registadas dificuldades significativas em múltiplos domínios,
nomeadamente, atenção, velocidade psicomotora (incluindo a destreza manual bilateral),
perceção visuoespacial, visuoconstrução (incluindo cópia de figuras simples, cópia da figura
complexa com distorções e erros de precisão, com omissões e com perseverações), linguagem
(incluindo compreensão oral de ordens simples e complexas, nomeação por confronto visual
visual, repetição de frases e fluência verbal) e funções executivas (incluindo flexibilidade de
raciocínio e presença de erros perseverativos em sequências grafomotoras). As capacidades de
memória verbal e visual aparentam estar relativamente menos afetadas. Não foram registados
índices elevados de ansiedade ou depressão numa escala de autorrelato. Num inventário
neuropsiquiátrico preenchido pela esposa foram referidos sintomas moderados de apatia e de
perturbação do apetite/alimentação. Foram referidas algumas alterações funcionais em contexto
de baixa exigência funcional. O perfil neuropsicológico é sugestivo de processo demencial em

15
estadio ligeiro, com predomínio de défices não mnésicos. Em comparação com as avaliações
anteriores (2010 a 2017), verifica-se declínio cognitivo progressivo significativo, em particular em
funções cognitivas não mnésicas. Considera-se que o doente não reúne as capacidades cognitivas
mínimas necessárias para a condução de veículos motorizados em segurança.

A doença de Huntington (DH) é uma patologia neurodegenerativa progressiva hereditária


caracterizada por movimentos coreiformes, demência e alterações psiquiátricas. É causada por
uma mutação autossómica dominante numa das duas cópias de um gene denominado
huntingtina. Este gene fornece a informação genética para uma proteína também denominada
"proteína huntingtina". A expansão da repetição do tripleto CAG (Citosina-Adenina-Guanina)
nesse gene resulta numa forma mutante da proteína, que vai gradualmente destruindo as células
do tecido cerebral, com atrofia do caudado e do putamen. No entanto, a fisiopatologia da perda
neuronal ainda não é completamente compreendida. Como não há cura conhecida, o tratamento
é sintomático e permanece de suporte.29
Clinicamente, os sintomas da DH começam insidiosamente com anormalidades de
movimento e/ou com características psiquiátricas e cognitivas. O curso da doença é lento e
progressivo com deterioração nas funções cognitivas e motoras. A coreia é uma característica
importante da DH e o sintoma definidor no momento do diagnóstico. A coreia é caracterizada por
movimentos breves, abruptos, involuntários e não estereotipados envolvendo a face, o tronco e
os membros.30 Relativamente aos sintomas psiquiátricos, os doentes podem apresentar
irritabilidade, depressão e/ou dificuldade no relacionamento social, vários anos antes do início da
coreia. A depressão, paranóia, delírios e alucinações podem desenvolver-se em qualquer
momento da doença, estando esta associada a um risco aumentado de suicídio. 31 Ao nível das
funções cognitivas, o seu declínio é inevitável na DH. A característica cognitiva dominante da DH é
a disfunção executiva, com capacidade diminuída de tomar decisões e realizar tarefas. Os doentes
geralmente não têm uma perceção dos seus défices cognitivos e podem não ter consciência das
suas dificuldades motoras e alterações psiquiátricas relacionadas com a própria doença. Apesar
da evidência de anormalidades cognitivas no início da DH, a perda de memória é geralmente um
achado tardio.32 Quanto à demência da DH, assim como outras demências não-Alzheimer, tem
sido descrita na literatura como subcortical, onde destacam as vias frontoestriatais como
facilitadoras da velocidade e eficiência do pensamento. Para estes doentes as tarefas de destreza
manual são particularmente difíceis, assim como a fluência de palavras, a perceção visuoespacial,
a visuoconstrução e o sequenciamento de imagens.33,34
A realização de uma AN nestes doentes é fundamental em múltiplos aspetos. Neste caso
clinico, procurou avaliar as capacidades cognitivas para o exercício da condução de veículos

16
motorizados. À semelhança do que refere a literatura, este doente ao longo das sucessivas
avaliações, tem revelado um declínio cognitivo progressivo significativo, encontrando-se
atualmente no espectro da demência em estado ligeiro. Este padrão de evolução está dentro dos
parâmetros de progressão da própria doença. O doente apresentou desempenho deficitário
nalguns testes da AN que têm boa validade ecológica relativamente à capacidade de condução

(ex: TMT e SDMT). Considerou-se por isso que o doente não reúne as capacidades cognitivas
mínimas necessárias para a condução.

17
2.3.Apresentação de Artigos (1h)
Durante o estágio na Unidade, tive a oportunidade de fazer três apresentações (Anexo II)
de artigos científicos com os seguintes objetivos: adquirir conhecimentos de síndromes
neuropsicológicas e patologias neuropsiquiátricas; pesquisar sobre as mais recentes vertentes de
estudo sobre a fisiopatologia de doenças neurológicas, assim como, procurar soluções
conceptuais e metodológicas para uma melhor compreensão da relação entre funcionamento
cerebral e funções cognitivas.
Os títulos dos artigos apresentados foram os seguintes:
1-Psychiatric disorders in C9orf72 kindreds Study of 1,414 family members
Devenney EM, Ahmed RM, Halliday G, Piguet O, Kiernan MC, Hodges JR. Neurology. 2018
Oct 16;91(16):e1498-e1507.
Motivo da pesquisa: A mutação C9ORF72 é a primeira mutação encontrada, associada ao
desenvolvimento da demência frontotemporal e da esclerose lateral amiotrófica. Apesar disso,
surgem evidências que também esteja relacionada com o aparecimento de doenças psiquiátricas.

2-Refining the psychiatric syndrome of anti-N-methyl-d-aspartate receptor encephalitis


Warren N, Siskind D, O'Gorman C. Acta Psychiatr Scand. 2018 Nov;138(5):401-408.
Motivo da pesquisa: A encefalite provocada pelo recetor anti-N-metil-D-aspartato pode
ter uma apresentação psiquiátrica. Existem algumas características específicas que podem ajudar
a diferenciar esse distúrbio de uma doença psiquiátrica primária.

3- Serum NFL discriminates Parkinson disease from atypical parkinsonisms


Marques TM, van Rumund A, Oeckl P, Kuiperij HB, Esselink RAJ, Bloem BR, Otto
M, Verbeek MM. Neurology. 2019 Mar 26;92(13):e1479-e1486.
Motivo da pesquisa: A doença de Parkinson é difícil de diferenciar das várias formas de
parkinsonismo atípico, como a atrofia múltissistémica, a paralisia supranuclear progressiva ou a
síndrome corticobasal, especialmente nos estágios iniciais da doença. Vários estudos têm sido
desenvolvidos no sentido de auxiliar um diagnóstico precoce.

18
3.Conclusão
Hipócrates escreveu que “é mais importante saber que tipo de pessoa tem uma doença
do que tipo de doença tem uma pessoa”.35 Foi com base nesta visão holística do doente, que
encarei esta unidade curricular, como uma oportunidade única de observar através de uma
vertente prática, a avaliação, o acompanhamento e a respetiva decisão terapêutica de um doente
com patologia neurológica ou neuropsiquiátrica, numa perspetiva multidisciplinar. Na Unidade de
Neuropsicologia, muito por se tratar de uma área interdisciplinar de conhecimento e atuação, que
integra a Psicologia, a Neurologia, a Psiquiatria e outras áreas da Medicina, encontrei
precisamente essa perspetiva de interpretar o doente. Como futuro médico, e pelo especial gosto
que possuo pelas Neurociências, esta experiencia foi fundamental. A minha aprendizagem com a
observação de AN, veio reforçar a sua importância no estudo e avaliação de demências, doenças
do movimento, epilepsias entre outras síndromes neurológicas, auxiliando de forma inequívoca a
avaliação médica. Esta pode ser imprescindível quer na perceção da natureza dos sintomas,
etiologia e prognóstico de determinada doença, mas também na orientação terapêutica da
mesma. Tal como era meu objetivo, com esta aprendizagem, pude adquirir conhecimentos de
síndromes neuropsicológicas e de procedimentos de avaliação neuropsicológica, assim como,
melhorar conhecimentos e competências de consulta.
No que diz respeito à apresentação e discussão de casos clínicos na Unidade, para além
de ajudar a melhorar os meus conhecimentos sobre síndromes neurológicas e neuropsiquiátricas,
possibilitou-me também adquirir mais bases para o estudo e compreensão das relações entre
cérebro e comportamento humano.
Relativamente às apresentações de artigos realizadas, estas ajudaram-me sem dúvida a
perceber a importância de saber comunicar e inovar. Para além disso, fomentaram a pesquisa
sobre as mais recentes vertentes de estudo sobre a fisiopatologia de doenças neurológicas, assim
como, o estudo das metodologias de investigação utilizadas em áreas de compreensão da relação
entre funcionamento cerebral e funções cognitivas.
Por fim, foi com grande expectativa que vivi este estágio clínico na Unidade de
Neuropsicologia e de facto esta expectativa foi correspondida. Fomentou claramente a minha
vontade de aprender e sinto que atingi os objetivos a que me propus no início do estágio, tendo-
me sido possível crescer em termos de competências clínicas, mas também relacionais e
comunicacionais. A aquisição de competências, a consolidação de conhecimentos, o crescimento
profissional e pessoal foram sem dúvida fundamentais para o que será a minha prática clínica
futura.
A área das Neurociências é para mim agora, mais do que nunca, uma área fascinante onde
me revejo profissionalmente e com a qual tenho a certeza que me identifico.

19
4.Anexos

Anexo I- Calendário e Carga horária do Estágio (81 horas)


Novembro 5ª Feira dia 15 5ª Feira dia 22 5ª Feira dia 29

Manhã 9h-13h 9h-13h 9h-13h

Tarde 14h-17h 14h-17h

Dezembro 5ª Feira dia 13 5ª Feira dia 20 4ª Feira dia 26

Manhã 9h-13h 9-13h* 9h-13h

Tarde 14h-17h 14h-17h

Janeiro 5ª Feira dia 3 5ª Feira dia 10 5ª Feira dia 17 5ª Feira dia 24 5ª Feira dia 31

Manhã 9h-13h 9-13h*

Tarde 14h-17h 14h-17h 14-17h 14-17h 14-17h

Fevereiro 5ª Feira dia 7 5ª Feira dia 14 5ª Feira dia 21

Manhã 9-13h

Tarde 14h-17h 14h-17h 14h-17h

Março 5ª Feira dia 7 5ª Feira dia 21 5ª Feira dia 28

Manhã *

Tarde 14h-17h 14h-17h 14-17h

*Data da apresentação dos artigos na Unidade de Neuropsicologia.

20
Anexo II- Encontram-se em formato PDF as apresentações efetuadas na Unidade de
Neuropsicologia

APRESENTAÇÃO 1-Psychiatric disorders in C9orf72 kindreds Study of 1,414 family members


Devenney EM, Ahmed RM, Halliday G, Piguet O, Kiernan MC, Hodges JR.
Neurology. 2018 Oct 16;91(16):e1498-e1507.

APRESENTAÇÃO 2-Refining the psychiatric syndrome of anti-N-methyl-d-aspartate receptor


encephalitis
Warren N, Siskind D, O'Gorman C. Acta Psychiatr Scand. 2018 Nov;138(5):401-408.

APRESENTAÇÃO 3- Serum NFL discriminates Parkinson disease from atypical parkinsonisms


Marques TM, van Rumund A, Oeckl P, Kuiperij HB, Esselink RAJ, Bloem BR, Otto
M, Verbeek MM. Neurology. 2019 Mar 26;92(13):e1479-e1486.

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