Você está na página 1de 14

O ano da morte de Ricardo Reis

Intertextualidade
2

Intertextualidade

Relação entre textos



Textos em diálogo

«Filmes que retomam filmes, quadros que dialogam com


outros, propagandas que se utilizam do discurso artístico,
poemas escritos com versos alheios, romances que se
apropriam de formas musicais, tudo isso são
textos em diálogo com outros textos:
intertextualidade.»
Ivete Walty, «Intertextualidade»
E-Dicionário de Termos Literários (coord. Carlos Ceia).
3

Intertextualidade

Relação entre textos Intertextualidade em


 O ano da morte de Ricardo Reis
Textos em diálogo

A obra estabelece relações


«As armas e os barões com outros textos
assinalados, perdoadas
 Citação
nos sejam as repetições,
 Fernando Pessoa  Epígrafe
Arma virumque cano.»
 Luís de Camões  Referência
José Saramago,
O ano da morte de Ricardo Reis.  Cesário Verde  Paráfrase
 Paródia

4

Diálogo com Fernando Pessoa


5

Diálogo com Fernando Pessoa

O poeta é integrado
Pessoa oferece a Saramago na ficção
o protagonista do romance «Por enquanto saio,

 O morto Fernando
ainda tenho uns oito
A caracterização do protagonista meses para circular
Pessoa visita Reis
— poeta de «espécie cética» à vontade, explicou
e «espectador do espetáculo Fernando Pessoa […]»
São referidos a obra
do mundo» — baseia-se e o pensamento
nos escritos de Pessoa de Pessoa «[…] Pessoa, profético,
e nas odes do heterónimo sobre o advento do
Quinto Império para
que estamos fadados
... o protagonista não segue Saramago parece querer […]»
rigidamente os princípios demonstrar que é
do Epicurismo e do impossível vivermos como Relação com
Estoicismo espectadores da vida Mensagem
6

Diálogo com Fernando Pessoa Nas epígrafes


• Citação anteposta no início
Sábio é o que se contenta com de um livro ou capítulo
o espetáculo do mundo. • Explicita relações intertextuais
Ricardo Reis com a obra citada

Escolher modos de não agir foi


sempre a atenção e o escrúpulo Pistas de leitura
da minha vida.
Bernardo Soares
«[…] pode dizer-se que
Se me disserem que é absurdo falar a epígrafe esboça pistas
assim de quem nunca existiu, respondo de leitura particularmente
que também não tenho provas de
importantes […]»
que Lisboa tenha alguma vez existido,
Carlos Reis e Ana Cristina Lopes,
ou eu que escrevo, ou qualquer cousa Dicionário de narratologia.
onde quer que seja.
Fernando Pessoa
7

Diálogo com Os Lusíadas


8

Diálogo com Os Lusíadas

Antiepopeia

Obra evocada
Portugal em decadência,
textualmente e/ou
numa época sem brilho
através das estátuas
de Camões e do
Adamastor No presente,
a terra espera
a liberdade
«[Ricardo Reis] atravessou
a praça onde puseram
o poeta, todos os caminhos «Aqui, onde o mar
portugueses vão dar Alusão deturpada se acabou e a terra
a Camões, […] em vida a um verso d’Os Lusíadas espera»
sua braço às armas feito (Canto III)
e mente às musas dada 
[…]» «Onde a terra se acaba
e o mar começa»
9

Diálogo com Os Lusíadas

«Valeu terem-se acendido os candeeiros […] hoje temos de esperar


que venham acendê-los, um a um, […] enfim este fogo de Santelmo
vai deixando pelas rias da cidade sinais de ter passado […]»
O ano da morte de Ricardo Reis

Vi, claramente visto, o lume vivo


Que a marítima gente tem por Santo,
Em tempo de tormenta e vento esquivo,
De tempestade escura e triste pranto.
Não menos foi a todos excessivo
Milagre, e cousa, certo, de alto espanto,
Ver as nuvens, do mar com largo cano,
Sorver as altas águas do Oceano.
Os Lusíadas, Canto V, est. 18
10

Diálogo com Cesário Verde


11

Diálogo com Cesário Verde


Ambiente estagnado e doentio
Habitada por um povo apagado e medíocre
Poeta da cidade de Lisboa, Cidade de contrastes económicos, sociais e históricos
onde sente um «absurdo
desejo de sofrer» Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Deambulações Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
geográficas de Ricardo Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
Reis por Lisboa Cesário Verde,
 «O sentimento dum ocidental».
Incursões sem destino
do eu lírico de «O ar carregado cheira a roupas molhadas,
«O sentimento a bagagens azedas, à serapilheira dos fardos,
dum ocidental» e a melancolia alastra, faz emudecer os viajantes,
não há sombra de alegria neste regresso.»
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis.
12

Diálogo com outros textos


13

Diálogo com outros textos

Hamlet, de Shakespeare

«Vá lá, vá lá, felizmente


que ainda se encontram
exceções nas regularidades
da vida, desde o Hamlet que
nós andávamos a dizer,
O resto é silêncio […]»

O ator americano Edwin Booth


como Hamlet, em 1870.
14

Diálogo com outros textos

Ilíada, de Homero

«Que vale, ao pé disto,


o trabalho do divino ferreiro
Hefestos, que nem ao menos
se lembrou, tendo cinzelado
e repuxado no escudo
de Aquiles o universo inteiro,
não se lembrou de guardar
um pequeno espaço, mínimo,
para desenhar o calcanhar
Pormenor de vaso de 500 a. C. do ilustre guerreiro […]»
representando Aquiles e Pátroclo,
personagens da Ilíada.

Você também pode gostar