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Interpretacao 7 Eu e Os Outros Sem Resposta
Interpretacao 7 Eu e Os Outros Sem Resposta
Eu e os outros
ESTUDO DO TEXTO
Aprendizado
— A arte é um longo aprendizado, e a vida dos grandes escritores está cheia de lutas e de
sacrifícios.
Padre Ângelo olhou um instante pelo vitrô que dava para a rua; depois voltou-se de novo para
a classe e olhou para ele:
— Meu filho, Deus te deu uma vocação; cultive-a com carinho. Um grande futuro te espera.
O resto da aula ele mal vira — nada mais tinha importância, nada mais existia a não ser aquele
mundo dentro dele, aquela coisa maior que tudo lá fora.
Agora ia pela rua, a caminho de casa. Quando chegou no Jardim, teve uma vontade doida de sair
correndo, gritando e saltando sob as árvores.
Tirou a redação da pasta e olhou mais uma vez: no canto da página, em cima, um dez grande,
escrito com tinta vermelha, seguido de um ponto de exclamação. E seus pais, quando ele mostrasse
e contasse?
Não podia mais, e já ia correr, quando foi olhar para trás e viu Jordão e Grilo: Jordão fez-
lhe um sinal para esperar. Ele ficou parado, olhando para os dois, que vinham contra o fundo
da tarde que morria: Jordão gordo e gingando, e Grilo comprido e curvo. Alguma coisa ia enco-
lhendo dentro dele.
— Como é, escritor?... — Jordão abraçou-o.
Ele procurou sorrir. Grilo vinha meio atrás, sem falar nada.
— Fiquei contente pra burro: tenho um colega gênio... Cadê a redação?
— Está aqui na pasta.
— Deixa eu ver.
— Amanhã te mostro; estou com pressa agora, mamãe
pediu para eu chegar mais cedo hoje — ele mentiu.
— Num instantinho eu leio.
— Amanhã eu levo no colégio.
Vinha trazendo a pasta dependurada pela mão;
passou-a para debaixo do braço e ficou segu-
rando com força. Sentia seu coração bater
contra ela.
Jordão tirava uma pedrinha do sapato,
apoiado em Grilo.
— Enchem o saco essas pedrinhas.
Recomeçaram a andar.
— Você não foi na festa ontem — disse
Jordão. — Foi bacana, dançamos e bebemos
pra burro. Por que você não foi?...
— Não deu.
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Editora Ática
1. O texto retrata um problema que é
comum entre crianças, adolescentes e Quem é Luiz Vilela?
jovens. Qual é esse problema?
Luiz Vilela nasceu em
Ituiutaba, Minas Gerais, em 1942.
2. Eduardo estava muito feliz porque algo Começou a escrever aos 13 anos.
especial tinha acontecido a ele. Formou-se em Filosofia, em Belo
a) O que o deixara feliz? Horizonte, e foi jornalista em São
Paulo.
b) Identifique no texto uma frase que Estreou na literatura aos
demonstre o estado emocional de 24 anos, com o livro de con-
Eduardo depois de receber a notícia tos Tremor de terra, e com ele
do padre Ângelo. ganhou o maior prêmio literário do país, o Prêmio
Nacional de Ficção.
3. Num texto narrativo, um fato geral- Publicou até agora doze livros, entre romances,
mente é consequência de outro. Apesar novelas e contos, sendo o mais recente A cabeça (contos).
disso, às vezes encontramos “pistas Luiz Vilela já foi adaptado para o cinema, o teatro e
textuais” que prenunciam o que ainda a televisão, e traduzido para várias línguas.
vai acontecer. Identifique, no sétimo Depois de morar também nos Estados Unidos e na
parágrafo, uma pista dos problemas Espanha, ele mora hoje, novamente, em sua cidade natal.
que Eduardo enfrentaria mais adiante.
4. Jordão e Grilo aproximaram-se de Eduardo porque, segundo eles, queriam ler a redação. Ao ler
o texto, você acreditou nessa explicação dos dois? Caso não, levante hipóteses: Por que, então,
eles insistiram tanto em ler o texto de Eduardo?
A LINGUAGEM DO TEXTO
Com a palavra, o autor
1. No trecho “— Meu filho, Deus te deu uma Veja alguns trechos de uma entrevista
vocação; cultive-a com carinho.”: dada pelo escritor Luiz Vilela:
a) O pronome a evita a repetição de uma • “As pessoas pensam que para ser escritor
expressão empregada anteriormente. basta ser alfabetizado. Não é assim. É necessá-
Qual é essa expressão? rio todo um aprendizado. É preciso ler muito
b) Tomando como exemplo a frase e escrever muito. E ter talento, é claro, pois
acima, indique o pronome que pode sem talento qualquer esforço será inútil”.
substituir adequadamente as palavras • “Uma obra de ficção é feita com elementos
destacadas: reais e elementos imaginários. Ou seja: coi-
sas que de fato existiram e coisas que nunca
Você não tem com quem deixar existiram, a não ser na cabeça do autor”.
seu irmão menor? Deixe- comigo. • “É preciso estar atento a tudo, ter olhos e
Você tem gibis antigos do ouvidos para tudo. Aliás, o escritor é exa-
Português: Linguagens — William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães
Super-Homem? Traga- para eu ver. tamente isso: alguém que não perde nada,
As crianças estão com fome. alguém que tudo observa, tudo registra e
Leve- até a lanchonete para tomar tudo guarda em sua memória”.
um suco. (In: Contos da infância e da adolescência, cit., p. 4.)
2. Neste trecho:
3. No trecho “não tem nada de mais a mãe da gente ajudar”, observe o modo como a expressão de
mais está grafada.
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4. Na frase “Tadinho [...], olha como ele está... Você acreditou mesmo que eu queria ler sua redação,
benzinho?...”, dita por Jordão, o que os diminutivos tadinho e benzinho expressam?
Trocando ideias
Reprodução
com a que Eduardo viveu, isto é, já foi ofen-
dido, caçoado ou pressionado por colegas?
Se sim, conte para os colegas como foi essa
experiência.