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1. INTRODUÇÃO:
Sem inimigos naturais nas novas áreas onde têm sido introduzidos, os caracóis gigantes
africanos já se encontram disseminados por quase todos os estados brasileiros. Possuindo
hábitos semi-arborícolas, é muito comum encontrá-los repousando durante o dia em troncos
de árvores, em ramos e folhagens, como também em cercas, muros e paredes. Em ambientes
urbanos os caracóis têm causado incômodo ao escalarem paredes de casas e prédios e ao se
movimentarem em grande número dificultando o trânsito de pedestres em calçadas e ruas de
locais altamente infestados. Podem também infligir sérios danos a praças e jardins ao se
alimentarem de flores, folhas e ramos de diversas plantas ornamentais.
Resistentes à seca e ao frio, são capazes de se adaptar a caatingas, florestas e brejos
prejudicando outras espécies de caracóis nativos ao desequilibrar suas relações ecológicas. As
dimensões das conseqüências negativas sobre a biodiversidade das novas áreas para onde o
caracol gigante africano tem sido introduzido são ainda imprecisas e se constituem num
risco invisível que, não obstante sua importância, tem sido pouco divulgado e muito
subestimado.
O caracol gigante africano tem se tornado uma praga agrícola nos diversos países onde
foi introduzido, fato esse que tem originado a proibição de sua entrada por legislação
quarentenária em potências agrícolas como os Estados Unidos, Canadá e Israel.
Ao atingirem plantações, praças e jardins, os caracóis gigantes africanos provocam
severos danos na folhagem, pois possuem um apetite voraz em razão da sua necessidade de
grandes quantidades de cálcio para manter o adequado desenvolvimento das conchas. É
comum deparar-se apenas com os restos da planta destruída, e concluir erroneamente que os
sintomas foram provocados por gafanhotos ou lagartas, visto que os caracóis, quando não
estão escalando alguma planta ou parede, geralmente passam as horas quentes do dia
escondidos em entulhos, lixos, lugares sombrios e úmidos, saindo dos esconderijos apenas no
final da tarde.
Contudo, mesmo quando não encontrado flagrantemente devorando as plantas é fácil
identificar esse agente causal pelas fezes cilíndricas depositadas em forma de pequenos
círculos sobrepostos deixados aderentes às folhas em locais adjacentes aos pontos de ataque.
O caracol gigante africano é capaz de atacar mais de 500 tipos de plantas entre
ornamentais e culturas agrícolas. Essa característica polifágica aumenta sua capacidade de
adaptação a ambientes diversos tornando-se um problema econômico quando os gigantes
africanos atingem plantações, hortas e pomares. Esses ataques em áreas agrícolas repercutem
também socialmente quando pequenos produtores rurais, geralmente carentes de recursos e
assistência técnica, têm suas plantações de culturas de subsistência destruídas pelos caracóis
que possuem predileção por esses tipos de plantas, especialmente pelo feijão.
Em João Pessoa, PB, em sítios, quintais e jardins localizados no bairro do Castelo
Branco, foi verificada a ocorrência do caracol gigante africano escalando coqueiros, mamoeiros
e bananeiras (aparentemente apenas repousando ou se abrigando de predadores durante o
dia) e se alimentando de folhas de alface, pimentão, milho, feijão, quiabo, jerimum, erva-
cidreira e frutos de acerola, além de plantas ornamentais, principalmente helicônias (Figura 2).
Essa susceptibilidade da helicônia é preocupante, pois a mesma representa uma
significativa parcela do mercado de flores tropicais que se encontra em franco
desenvolvimento em todo o Nordeste do Brasil com programas de cultivo estimulados pelo
Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento por ser uma atividade reconhecidamente
rentável e para a qual essa região brasileira apresenta condições climáticas excepcionais.
Portanto, necessário se faz tomar providências quarentenárias para que o caracol gigante
africano não atinja essas áreas de floricultura destinadas à exportação, principalmente nos
estados de Pernambuco e Ceará.
Quando o ataque em helicônias ocorre em plantas desenvolvidas o mesmo é
concentrado na nova folha que se encontra ainda enrolada (Figura 3). O ataque nesse estádio
provoca um sintoma típico. À medida que as folhas se desenrolam e se abrem totalmente
aparecem recortes simétricos semelhantes àqueles feitos artesanalmente em papel dobrado
(Figura 4). Os danos são maiores quando as plantas se encontram ainda com pequeno porte.
Nesse estádio as folhas e os brotos terminais são completamente destruídos até mesmo por
caracóis ainda diminutos prejudicando a formação de novas folhas e, conseqüentemente, o
desenvolvimento da cultura (Figura 5).
1.5. Controle
2. METODOLOGIA:
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A aplicação de cal hidratada (10%) e de cloro de piscina (5% e 10%) provocou a morte
de 95% de caracóis quando esses produtos foram aplicados em grupos de caracóis dispostos
sobre o solo (Tabela 1). Apesar do elevado nível de controle, essa metodologia não deve ser
recomendada por não ser suficiente para eliminar toda a população de caracóis tratada, pois
no caso dessa espécie de praga, a sobrevivência de apenas 2 indivíduos pode em pouco tempo
ocasionar o restabelecimento de sua população em uma determinada área (apesar desses
caracóis serem hermafroditas, isto é, possuírem ambos os sexos, eles precisam copular e
trocar espermatóforos, uma espécie de bolsa que acumula o líquido seminal, contendo
espermatozóides).
Nem mesmo a aplicação de água sanitária e creolina puras, sem diluição em água, foi
suficiente para eliminar em sua totalidade os caracóis tratados, contrariando uma concepção
popular que atribui eficácia plena a esses produtos.
A sobrevivência de alguns caracóis após a aplicação de produtos reconhecidamente
eficientes pode ser atribuída a capacidade que esses moluscos possuem de se retrair
totalmente para o interior da concha (Figura 6), quando ameaçados, impedindo assim, o
contato de substâncias nocivas com seus órgãos vitais.
Com a aplicação dos produtos realizada exclusivamente sobre caracóis durante
atividade de deslocamento, esperava-se a eficiência máxima da maioria dos tratamentos
testados, pois durante a locomoção, uma grande parte do corpo do caracol se encontra
exposta, aumentando não só a área de contato com os produtos testados como também o
efeito residual dos mesmos, ao serem carregados também para o interior da concha durante a
retração dos caracóis em busca de proteção . Entretanto, apenas a cal hidratada (10%) e o
sulfato de cobre (5%) conseguiram eliminar todos os indivíduos submetidos a esses
tratamentos (Tabela 2).
A aplicação de cal pura, sem diluição, não foi suficiente para eliminar em sua totalidade
os caracóis submetidos (por uma semana) a esse tipo de tratamento (Tabela 3). Nesta
mesma tabela verifica-se que num breve período de contato (2-3 segundos necessários para o
escoamento dos produtos através dos furos das garrafas) apenas o sulfato de cobre (5%)
apresentou eficiência máxima no controle do caracol gigante africano.
A tentativa de controlar os caracóis por afogamento em água pura, visto que os
mesmos possuem respiração pulmonar, foi completamente ineficiente. Num período de 5 a
30 minutos, todos os caracóis submetidos à imersão (20 caracóis em água tratada e 20 em
água mineral) foram capazes de sair do interior da concha, de emergir e de sair das garrafas
usadas como unidades experimentais (Tabela 4; Figura 7).
Entretanto, quando cal, sulfato de cobre e sabão em pó foram, separadamente,
adicionados à água usada para a imersão dos caracóis, a mortalidade foi de 100% (Tabela 4;
Figura 8).
4. CONCLUSÕES:
4.1 O caracol gigante africano pode ser facilmente controlado quando submetido à imersão
contínua em soluções aquosas contendo produtos alternativos, sem a necessidade de
utilização de agrotóxicos perigosos. Cal, sabão em pó e sulfato de cobre, quando utilizados
por esse método na concentração de apenas 1% promovem um controle de 100% dos
caracóis tratados.
4.2 A utilização de cal pura, em pó, não foi suficiente para matar 100% dos caracóis tratados
quando a aplicação foi realizada sobre caracóis intactos. Portanto, no caso da opção por esse
tipo de controle (em aterros sanitários, por exemplo), necessário se faz promover o
esmagamento dos caracóis para que a cal possa entrar em contato com seus órgãos vitais.
4.3 O caracol gigante africano é capaz de subir à superfície quando submerso em água pura.
4.4 Entre os tratamentos testados nessa pesquisa, apenas o sulfato de cobre foi capaz de
proporcionar um controle total dos caracóis quando se utilizou uma metodologia de rápido
contato, como no caso de pulverizações. Isso faz desse produto (e de seus correlatos), o mais
indicado para o tratamento de plantas atacadas pelos caracóis gigantes africanos, desde que
sejam tomados os cuidados necessários para, dependendo de sua formulação, neutralizar os
efeitos fitotóxicos do cobre. Essa neutralização pode ser obtida pela adição de cal que, além
de realizar essa função, ainda exercerá um poder sinérgico, por ser também eficiente no
controle desses caracóis.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados. (4a edição). São Paulo: Livraria Roca Ltda,
1984. 1179 p.:il.
SILVA JÚNIOR. C. da; SASSON, S. Biologia. São Paulo: Editora Saraiva, 1999. 672 p.:il.
6. REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
7.1 TABELAS:
Tabela 1. Número médio de caracóis mortos em função dos tratamentos aplicados sobre grupos
dispostos em parcelas no solo.
Tabela 2. Número médio de caracóis mortos em função dos tratamentos aplicados sobre grupos
durante atividade de deslocamento.
___________________________________________________________________________
Média 3,97
Teste F 27,15
CV (%) 16,1
dms (Tukey, p=0,05) 1,49
Na coluna, médias seguidas pela mesma letra, não diferem significativamente entre si, pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Tabela 3. Número médio de caracóis mortos em função dos tratamentos aplicados sobre grupos
dispostos em garrafas plásticas furadas.
Tratamentos Número médio de caracóis mortos % de controle
Média 2,90
Teste F 12,65
CV (%) 33,5
dms (Tukey, p=0,05) 2,28
Na coluna, médias seguidas pela mesma letra, não diferem significativamente entre si, pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade.