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Universidade de São Paulo

Instituto de Geociências
Departamento de Mineralogia e Geotectônica

GMG 332

PETROLOGIA METAMÓRFICA

2002

Notas de Aulas
Versão Preliminar

Prof. Dr. Caetano Juliani


Prof. Dr. Gergely Andres Szabó

Colaboração:
Thatyana Benevides
MSc. Fernando Camargo Freitas
Prof. Dra. Annabel Pérez Aguilar
GMG 332 − PETROLOGIA METAMÓRFICA

APRESENTAÇÃO

Esta primeira versão da apostila é uma integração das notas de aulas do


curso de Petrologia Metamórfica oferecido há alguns anos no IGUSP e, como poderá
ser observado, alguns textos estão melhor desenvolvidos que outros e, faltam tópicos,
principalmente sobre as rochas cataclásticas e carbonáticas puras e impuras.
Acreditamos que muito ainda poderá ser feito em todos os tópicos, mais ainda em
relação aos granulitos, migmatitos, geotermobarometria, texturas e estruturas, o que
deverá ocorrer no futuro, uma vez que os textos estão em elaboração e mudanças
mais ou menos contínuas. Alguns outros textos sobre tópicos específicos do
metamorfismo, como o limite diagênese−metamorfismo, aplicações práticas de
termobarometria, metassomatismo e UHP já se encontram em fase de redação.
Alguns conceitos dos autores são, até certo ponto, propostas novas,
algumas das quais ainda não totalmente consolidadas. Por este motivo, solicitamos a
gentileza da citação da fonte quando do uso deste texto. Contribuições, discussões,
correções e opiniões são muito bem vindas e podem ser encaminhadas a qualquer um
dos autores, mas, preferencialmente ao Prof. Caetano, no endereço eletrônico citado
abaixo.
Por fim, dedicamos este texto a todos aqueles que, por acreditarem no
ensino e na sua qualidade sobretudo, e numa universidade pluralista e não produtivista,
não se conformam e nem se calam nos momentos de defesa da Universidade Pública,
da profissão de geologia e dos colegas, apesar da estrutura, por vezes, autoritária das
universidades e do país. Mas, sobretudo, dedicamos este texto aos alunos do curso de
geologia da USP que desejam ser geólogos e que, por isto, não acreditam nos “cursos
casas bahia”.
Caetano
Gergely
Thatyana
Fernando
Annabel

Contribuições, críticas e correções:


Dr. Caetano Juliani
Departamento de Mineralogia e Geotectônica
Instituto de Geociências
Universidade de São Paulo
Rua do Lago, 562
São Paulo − São Paulo
cjuliani@usp.br

Prof. Dr. Caetano Juliani


Professor Doutor pelo IGUSP, formado pela UNESP em 1980. É
responsável pelo curso GMG 332 − Petrologia Metamórfica desde
1998, no qual iniciou sua participação em 1992. Desenvolve
pesquisas sobre petrologia metamórfica, geotermobarometria,
evolução crustal, vulcanismo, interação fluido-rocha e mineralizações
em projetos em São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Amazônia. Orienta
ainda estudos de petrologia metamórfica nos Andes Centrais da Colômbia.

Prof. Dr. Gergely Andres Julio Szabó


Geólogo, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
UNESP, IGCE-Rio Claro, 1981, Mestre em Mineralogia e Petrologia,
Instituto de Geociências, USP, 1989 e Doutor em Mineralogia e
Petrologia, Instituto de Geociências, USP, 1996. Docente do IGUSP
desde 1983, dedica-se ao ensino de Petrologia Metamórfica há vários
anos. Suas pesquisas estão voltadas para a geologia de terrenos pré-
cambrianos e petrologia das rochas metamórficas, com destaque
para as rochas máficas-ultramáficas de cinturões vulcano-sedimentares tipo
greenstone belt e a gênese de depósitos de talco e serpentinitos.

MSc. Thatyana Benevides


Formada no IGUSP em 2000, Mestranda da Fapesp em estudos
metamórficos e geotermobarométricos no segmento central do Grupo
Dom Silvério, MG, em finalização. Tem iniciado estudos sobre a
termodinâmica da granada para definição de trajetórias metamórficas.
É também monitora voluntária na disciplina GMG 332.

Dr. Fernando Camargo Freitas


Formado pelo IGUSP em 1997, fez seu mestrado sobre a evolução
geotermobarométricas e tectônicas de terrenos granulíticos da região
de Socorro, com modelagem da trajetória P-T-t-d e dos eventos
magmáticos associados a zonas de cisalhamento. Atualmente estuda
a evolução metamórfica e a geotermobarometria da região do
Tapajós, PA, com enfoque para evolução geotectônica. É também
bolsita PAE na disciplina GMG 332.

Dra. Annabel Pérez Aguilar


Formada pelo IGUSP em 1993. Obteve os títulos de Mestre e de
Doutora pelo IGUSP, com especialização no metamorfismo de rochas
hidrotermalizadas. Estuda rochas do Grupo Serra do Itaberaba, com
detalhamento das texturas, estruturas e mineralogia metamórficas,
além de balanços de massa, isótopos estáveis e geotermobarometria.
Atualmente é professora temporária no IGUSP, e atua como Profa
auxiliar na disciplina GMG 332.
SUMÁRIO

A. CONCEITOS BÁSICOS

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1
1 DEFINIÇÃO E ESCOPO .......................................................................................................... 2
2 LIMITES FÍSICOS DO METAMORFISMO ............................................................................... 3
3 FATORES QUE CONDICIONAM O METAMORFISMO .......................................................... 4
3.1 Temperatura (temperature) ................................................................................ 5
3.2 Pressão (pressure) ............................................................................................. 6
3.2.1 Pressão litostática (lithostatic pressure) ...................................................... 6
3.2.2 Pressão dirigida (stress or directed pressure) ............................................ 6
3.2.3 Pressão de fluidos (fluid pressure) .............................................................. 8
3.3 O tempo (time) .................................................................................................. 10
3.4 Taxa de reação (reaction rate) e equilíbrio meta-estável (meta-stable equilibria) 12
3.5 Taxas de nucleação (reaction rate) e de crescimento dos minerais (growth rate)
13
3.6 Composição química da rocha (whole rock chemical composition) ................. 15
3.7 Interação fluido−rocha (fluid-rock interaction) ................................................... 17
4 TRAJETÓRIAS METAMÓRFICAS PRESSÃO−TEMPERATURA−TEMPO−DEFORMAÇÃO
(P-T-t-d) (P-T-t-d metamorphic paths) ....................................................................................... 17
5 REAÇÕES METAMÓRFICAS (metamorphic reactions) ........................................................ 19
5.1 Transformações polimórficas ............................................................................ 19
5.2 Mudança da ordem cristalina ............................................................................ 19
5.3 Miscibilidade e imiscibilidade ............................................................................ 20
5.4 Sólido + sólido sem liberação de gás ............................................................... 20
5.5 Sólido + sólido com liberação de gás ............................................................... 21
5.6 Sólido + fluido com produtos sólidos e liberação de gás .................................. 21
5.7 De devolatização .............................................................................................. 22
5.8 De oxi-redução com liberação de gás .............................................................. 23
6 ESTRUTURAS METAMÓRFICAS (metamorphic structures) ................................................ 23
7 TEXTURAS METAMÓRFICAS (metamorphic textures) ........................................................ 24
8 GRANULAÇÃO DOS MINERAIS METAMÓRFICOS (metamorphic grain-size) .................... 26
9 FORMA DOS CRISTAIS METAMÓRFICOS (metamorphic crystal morphology) .................. 27
10 VARIAÇÃO NA INTENSIDADE DO METAMORFISMO ...................................................... 28
10.1 FÁCIES METAMÓRFICAS ............................................................................................... 29
10.2 GRAU METAMÓRFICO .................................................................................................... 33
10.3 SÉRIES FACIAIS DE METAMORFISMO ......................................................................... 34

B. TIPOS DE METAMORFISMO E AMBIENTES GEOLÓGICOS DE FORMAÇÃO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 36
1 TIPOS DE METAMORFISMO ................................................................................................ 36
1.1 Fator metamórfico predominante ...................................................................... 36
1.1.1 Metamorfismo termal (thermal metamorphism) .........................................36
1.1.2 Metamorfismo dinâmico (dynamic metamorphism) .................................. 36
1.1.3 Metamorfismo dinamotermal (dynamothermal metamorphism) ................ 37
1.2 Ambiente geológico .......................................................................................... 38
1.2.1 De Expressão Local .................................................................................. 38
1.2.2 Regional .................................................................................................... 41
1.2.3 Ambiente tectônico .................................................................................... 45

C. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DAS ROCHAS METAMÓRFICAS

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 47
1 CLASSIFICAÇÃO BASEADA NO PROTOLITO .................................................................... 47
2 CLASSIFICAÇÃO ESTRUTURAL .......................................................................................... 50
3 CLASSIFICAÇÃO MINERALÓGICA ...................................................................................... 52
4 CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA .................................................................................................. 54
5 CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA ............................................................................................... 55
6 NOMENCLATURA DAS ROCHAS METAMÓRFICA ............................................................. 56

D. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE TERMODINÂMICA APLICADA À


GEOTERMOBAROMETRIA

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 59
1 PRINCÍPIOS DE GEOTERMOBAROMETRIA ....................................................................... 59

E. METAPELITOS

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 67
1 SISTEMA QUÍMICO ............................................................................................................... 67
2 DIAGRAMA ABFM ................................................................................................................. 68
3 DIAGRAMA ACF .................................................................................................................... 73
4 DIAGRAMA A’KF ................................................................................................................... 73
5 O SISTEMA KFMASH (K2O–FeO–MgO–Al2O3–SiO2–H2O) ................................................... 75
6 O SISTEMA FMAS (FeO–MgO–Al2O3–SiO2) ......................................................................... 76
7 O SISTEMA KFMAS (FeO–MgO–Al2O3–SiO2) ...................................................................... 78
8 O SISTEMA CKNASH (CaO–K2O–Na2O–Al2O3–SiO2–H2O) ................................................. 79
8.1 Sub-sistema KNASH (K2O–Na2O–Al2O3–SiO2–H2O) ....................................... 81
8.2 Sub-sistema CNASH (CaO–Na2O–Al2O3–SiO2–K2O–H2O) .............................. 83
9 CARACTERIZAÇÃO DAS FÁCIES METAMÓRFICAS EM METAPELITOS ......................... 84
9.1 Pressão Intermediária (Barrowiano) ................................................................. 84
9.1.1 Fácies dos xistos verdes (grau metamórfico baixo) .................................. 84
9.1.2 Fácies anfibolito (grau metamórfico médio) .............................................. 84
9.1.3 Grau metamórfico alto ............................................................................... 85
9.2 Baixa pressão (Abukuma) ................................................................................ 85
10 REAÇÕES METAMÓRFICAS NA PROGRESSÃO DO METAMORFISMO ........................ 85
10.1 Pressões intermediárias ..................................................................................86
10.1.1 Limite diagênese–baixo grau .................................................................. 86
10.1.2 Início do metamorfismo ........................................................................... 86
10.1.3 Zona da clorita ........................................................................................ 86
10.1.4 Zona da biotita ........................................................................................ 87
10.1.5 Zona da granada ..................................................................................... 87
10.1.6 Zona da estaurolita ................................................................................. 87
10.1.7 Zona da cianita ........................................................................................ 88
10.1.8 Zona da sillimanita ................................................................................. 88
10.1.9 Zona do feldspato potássico ................................................................... 88
10.1.10 Zona dos migmatitos ............................................................................. 88
10.1.11 Zona do hiperstênio .............................................................................. 89
10.2 Pressões baixas ............................................................................................. 89
10.2.1 Formação de cordierita ........................................................................... 89
10.2.2 Formação de andalusita .......................................................................... 89
10.3 Pressões altas ( Fácies xisto azul e eclogito) ................................................. 90

F. METAMORFISMO DE ROCHAS BÁSICAS (MÁFICAS)

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 91
1 PROTÓLITOS ........................................................................................................................ 91
1.1 Básico X Máfico: revisão dos conceitos (classificação química X petrográfica) 91
1.1.1 Principais tipos de rochas básicas / máficas ............................................. 91
1.1.2 Características gerais dos protólitos ......................................................... 92
2 REPRESENTAÇÃO DAS PARAGÊNESES / PRINCIPAIS MINERAIS (RELAÇÕES
QUEMOGRÁFICAS) ................................................................................................................. 93
3 MINERALOGIA METAMÓRFICA ........................................................................................... 93
4 MEMBROS FINAIS E SÍTIOS OCUPACIONAIS DOS ANFIBÓLIOS .................................... 95
5 METAMORFISMO .................................................................................................................. 97
5.1 Baixo Grau (Fácies Zeólita e Prehnita–Pumpellyita, ou Fácies Sub–Xisto Verde) 97
5.1.1 Fácies zeólita ................................................................................................................... 97
5.1.2 Fácies prehnita--pumpellyita ..................................................................... 98
5.2 Pressão Intermediária (Fácies Xisto Verde a Anfibolito) .............................. 99
5.2.1 Fácies xisto verde ................................................................................... 102
5.2.2 Fácies anfibolito ...................................................................................... 102
5.3 Metamorfismo de Alta T (Fácies Granulito) .................................................... 104
5.4 Metamorfismo de Alta P: Fácies Xisto Azul e Eclogito ................................... 104
5.4.1 Fácies xisto azul ...................................................................................... 104
5.4.2 Fácies eclogito ........................................................................................ 105

G. METAMORFISMO DE ROCHAS ULTRAMÁFICAS / ULTRABÁSICAS

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 106


1 ORIGEM DAS ROCHAS ULTRAMÁFICAS/ULTRABÁSICAS NA CROSTA DA TERRA .... 106
1.1 Mantélicos ....................................................................................................... 106
1.2 Cumuláticos .................................................................................................... 106
1.3 Vulcânicos ...................................................................................................... 106
2 SISTEMAS QUÍMICOS ........................................................................................................ 108
3 PRINCIPAIS MINERAIS METAMÓRFICOS ........................................................................ 108
3.1 Sistema MSH .................................................................................................. 108
3.2 Sistema CMSH ............................................................................................... 109
3.3 Sistema MASH / CMASH ............................................................................... 109
3.4 Sistema NCMASH .......................................................................................... 109
4 PRINCIPAIS REAÇÕES METAMÓRFICAS ........................................................................ 109
5 PRINCIPAIS DIAGRAMAS PARA REPRESENTAR AS RELAÇÕES DE FASE ................. 109
5.1 Sistema MSH .................................................................................................. 109
5.2 Sistema CMSH ............................................................................................... 110
5.3 Sistemas AMSH e CMASH ............................................................................. 110
5.4 Sistema NCMASH .......................................................................................... 111

H. GRANULITOS

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 121


1 DEFINIÇÃO .......................................................................................................................... 121
2 CONDIÇÕES DE FORMAÇÃO ............................................................................................ 122
3 DISTRIBUIÇÃO NA CROSTA, IDADES E TIPOS DE OCORRÊNCIAS ............................. 122
4 PARAGÊNESES DIAGNÓSTICAS ...................................................................................... 123
5 A PASSAGEM DA FÁCIES ANFIBOLITO PARA GRANULITO ........................................... 123
6 A TRANSIÇÃO ENTRE AS FÁCIES GRANULITO E ECLOGITO ....................................... 124
7 NOMENCLATURA ............................................................................................................... 125
8 TIPOS DE GRANULITOS BÁSICOS ................................................................................... 127
8.1 De baixa pressão (low pressure) .................................................................... 127
8.2 De pressão média (intermediate pressure) ou piroxênio granulitos ............... 127
8.3 De pressão alta (high pressure) ou granada granulito ................................... 127
9 REAÇÕES METAMÓRFICAS .............................................................................................. 127
9.1 Rochas básicas .............................................................................................. 127
9.2 Rochas metapelíticas ........................................................................................ 127
10 SISTEMAS QUÍMICOS .................................................................................................... 128
11 MODELOS GENÉTICOS ................................................................................................... 128

I. MIGMATITOS

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 131


1 DEFINIÇÃO .......................................................................................................................... 131
2 SISTEMA QUÍMICO ............................................................................................................. 132
3 ESTRUTURAS MACROSCÓPICAS .................................................................................... 132
4 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DOS MIGMATITOS ............................................................. 135

J. ESTRUTURAS METAMÓRFICAS

PRINCIPAIS ESTRUTURAS METAMÓRFICAS ..................................................................... 136

K. TEXTURAS METAMÓRFICAS

PRINCIPAIS TEXTURAS METAMÓRFICAS .......................................................................... 149


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 170
Tabela 1. Abreviações dos nomes dos principais minerais metamórficos, modificado de
Kretz (1983) e Spear (1998).

Ab Albita (albite) Acm Acmita (acmite) Act Actinolita (actinolite)


Andesina (andesine) Almandina
Adr Andradita (andradite) Ads Alm
(almandine)
Aln Allanita (allanite) Amp Anfibólio (amphibole) An Anortita (anorthite)
And Andalusita (andalusite) Ank Ankerita (ankerite) Anl Analcima (analcime)
Apatita (apatite) Arsenopirita
Ann Annita (annite) Ap Apy
(arsenopyrite)
Aluminossilicato
Arg Aragonita (aragonite) As Atg Antigorita (antigorite)
(aluminosilicate)
Antofilita Augita (augite)
Ath Aug Brc Brucita (brucite)
(anthophyllite)
Bt Biotita (biotite) Coesita (coesite)
Cae Cal Calcita (calcite)
Clinoanfibólio cálcico Clinoenstatita Clinoferrossilita
Cam Cen Cfs
(Ca-clinoamphibole) (clinoenstatite) (clinoferrosilite)
Clinohumita
Chl Clorita (chlorite) Chu Cld Cloritóide (chloritoid)
(clinohumite)
Clinopiroxênio cálcico Calcopirita
Cpx Cpy Crd Cordierita (cordierite)
(Ca-clinopyroxene) (chalcopirite)
Cro Crossita (crossite) Crm Cromita (cromite) Crn Corindon (corundum)
Cristobalita Crisotila (chrysotile) Cummingtonita
Crs Ctl Cum
(cristobalite) (cummingtonite)
Clinosoizita Diopsídio (diopside)
Czo Di Dia Diásporo (diaspore)
(clinozoisite)
Dolomita (dolomite) Eckermanita
Dmd Diamante (diamond) Dol Eck
(eckermanite)
Ed Edenita (edenite) En Enstatita (enstatite) Ep Epidoto (epidote)
Ferroactinolita Ferroedenita
Fa Fayalita (fayalite) Fac Fed
(ferroactinolite) (ferroedenite)
Forsterita (forsterite) Ferrossilita
Fl Fluorita (fluorite) Fo Fs
(ferrosilite)
Ferrotschermakita Galena (galena)
Fts Ga Ged Gedrita (gedrite)
(ferrotschermakite)
Glaucofânio Grafita (graphite) Grossularita
Gln Gr Grs
(glaucophane) (grossularite)
Grunerita (grunerite) Hornblenda
Grt Granada (garnet) Gru Hbl
(hornblende)
Hedenbergita
Hc Hercinita (hercynite) Hd Hem Hematita (hematite)
(hedenbergite)
Heulandita
Hs Hastingsita (hastingsite) Hul Ill Illita (illite)
(heulandite)
Jadeíta (jadeite) Feldspato potássico
Ilm Ilmentita (ilmenite) Jd Kfs
(K-feldspar)
Kornerupina
Kln Caolinita (kaolinite) Krn Ky Cianita (kyanite)
(kornerupine)
Labradorita Líquido (liquid, Laumontita
Lab Liq Lmt
(labradorite) silicate melt) (laumontite)
Lizardita (lizardite) Microclínio
Lws Lawsonita (lawsonite) Lz Mc
(microcline)
Magnesita (magnesite) Montmorillonita
Mgs Mnt Mnz Monazita (monazite)
(montmorillonite)
Magnesioriebeckita margarita (margarite) Muscovita
Mrb Mrg Ms
(magnesioriebeckite) (muscovite)
Ortoanfibólio
Ntr Natrolita (natrolite) Oam Ol Olivina (olivine)
(orthoamphibole)
Onfacita (omphacite) Ortopiroxênio
Olg Oligoclásio (oligoclase) Omp Opx
(orthopyroxene)
Osumilita (osumilite) Protoenstatita
Or Ortoclásio (orthoclase) Osm Pen
(protoenstatite)
Paragonita
Per Periclásio (periclase) Pg Pgt Pigeonita (pigeonite)
(paragonite)
Flogopita (phlogopite) Plagioclásio
Phe Fengita (phengite) Phl Pl
(plagioclase)
Pumpellyta Pirrotita (pyrrhotite)
Pmp Po Prg Pargasita (pargasite)
(pumpellyite)
Prh Prehnita (prehnite) Prl Pirofilita (pyrophyllite) Prp Piropo (pyrope)
Quartzo (quartz) Riebeckita
Py Pirita (pyrite) Qtz Rbk
(riebeckite)
Rt Rutilo (rutile) Sa Sanidina (sanidine) Scp Escapolita (scapolite)
Sillimanita
Sd Siderita (siderite) Sil Spa Esfalerita (sphalerite)
(sillimanite)
Spl Espinélio (spinel) Spn Titanita (sphene) Spr Safirina (sapphirine)
Espessartita Serpentina
Sps Srp St Estaurolita (staurolite)
(spessartine) (serpentine)
Stishovita (stishovite) Stilpnomelano
Stb Estilbita (stilbite) Sti Stp
(stipnomelane)
Tlc Talco (talc) Tr Termolita (tremolite) Trd Tridimita (tridymite)
Tschermakita Titanita (titanite) Turmalina
Ts Ttn Tur
(tschermakite) (tourmaline)
Ulvoespinélio Vesuvianita
Usp Vsu Wai Wairakita (wairakite)
(ulvospinel) (vesuvianite)
Wollastonita Wustita (wustite)
Wo Wus Zo Zoisita (zoisite)
(wollastonite)
Zrn Zircão (zircon)
A. CONCEITOS BÁSICOS

Caetano Juliani
INTRODUÇÃO

O termo metamorfismo foi originalmente utilizado por James Hutton em


1785, no seu trabalho intitulado Theory of the Earth (Hutton, 1785), ao explicar a
gradativa transformação, em estado sólido, de sedimentos para rochas
recristalizadadas, com mudanças texturais e mineralógicas. Dentre os trabalhos
pioneiros sobre o tema destaca-se também o de Charles Lyell (Lyell, 1830), em sua
obra Principles of Geology, de grande influência na formação dos primeiros geólogos.
A petrologia metamórfica tem como principal objetivo o estudo da evolução
da crosta terrestre, baseada na mineralogia, composição química dos minerais,
seqüência de cristalização, texturas, estruturas e nas relíquias ígneas e sedimentares
das rochas metamórficas.
As rochas metamórficas estão amplamente distribuídas na crosta
continental, compondo, juntamente com as rochas ígneas, cinturões orogenéticos de
idades que variam do Arqueano ao Quaternário. Também estão presentes na crosta
oceânica, nas proximidades de intrusões de rochas ígneas, ao longo de zonas de
cisalhamento, em crateras de impacto de meteoritos, dentre outros ambientes
geológicos. As rochas de cada um destes ambientes tem características mineralógicas,
texturais e estruturais próprias, permitindo a interpretação de sua origem.
O estudo das rochas metamórficas, entretanto, não restringe-se ao campo
acadêmico, pois tem grandes aplicações na prospecção mineral, na identificação de
riscos geológicos causados por atividades sismicas, de estabilidade de talude, de
contaminação e remediação de poluição, especialmente de aquíferos subterrâneos, e
na prospecção de um dos bens minerais mais críticos para sobrevivência da espécie
humana nas próximas décadas, que é a água subterrânea.
Para o estudo de rochas metamórficas são necessários bons conhecimentos
em mapeamento, geologia estrutural nas escalas mega- meso- e microscópicas,
petrologia ígnea, rochas e processos sedimentares, geocronologia, mineralogia macro-
e microscópica e em cristaloquímica. Para análise dos equilíbrios metamórficos através
da geotermobarometria, necessita-se ainda de domínio da termodinâmica e
conhecimentos em computação são muito úteis.
1 DEFINIÇÃO E ESCOPO

O conjunto de fenômenos geológicos que produzem transformações físico-


químicas e rearranjos texturais e estruturais nas rochas sedimentares, ígneas, ou até
mesmo metamórficas, são denominados de processos metamórficos. Estes
processos são provocados principalmente por mudanças significativas na temperatura
e na pressão nas quais as rochas originais (protolitos) foram geradas, e em
deformação, que causam a recristalização dos minerais em estado sólido e o
estabelecimento de novas texturas e estruturas.
Assim, uma rocha sedimentar silto-argilosa, que tem seus minerais estáveis
nas condições físico-químicas da superfície da crosta, ou próximas delas, que
correspondem a temperaturas e pressões baixas e deformações inexistentes ou muito
fracas, ao ser colocada em um ambiente de crustal mais profundo, será gradativamente
aquecida e submetida a pressões mais elevadas e, dependendo do tipo do evento
metamórfico, sofrerá deformações. Nestas condições não mais serão estáveis os
argilo-minerais, que serão recristalizados em minerais estáveis nas novas condições,
como as micas, e os minerais preexistentes e os neoformados poderão ser orientados
preferencialmente segundo as foliações metamórficas, resultando em novas texturas
e estruturas, muitas delas características dos processos metamórficos que as geram,
resultando nas rochas metamórficas.
A rigor os processos intempéricos, diagenéticos e hidrotermais de baixa
temperatura são transformações metamórficas, mas, por definição, estes são excluídos
do campo de estudo das rochas metamórficas. De modo análogo, os processos de
formação de minérios metálicos e não metálicos de baixa e de alta temperatura não
são incluídos no campo de estudo das rochas metamórficas.
O metamorfismo pode ser considerado, em geral, como isoquímico, exceto
para as fases fluidas, ou seja, não devem ocorrer mudanças significativas na
composição química do metamorfito em relação ao protolito. Quando há mudanças
sensíveis na na composição do produto metamórfico, com introdução ou remoção de
compostos químicos distintos da água e de outros fluidos, o processo é chamado de
metassomático.
O metamorfismo pode também ser entendido como um conjunto de
transformações que rearranjam, em escala atômica, os elementos químicos de uma
rocha, resultando em recristalização em estado sólido, em presença de uma fase de
vapor, devido a variações da temperatura, da pressão ou de sua composição química
(Kornprobst, 1996).
2 LIMITES FÍSICOS DO METAMORFISMO

A passagem da diagênese para rochas incipientemente metamorfisadas


ocorre de modo gradual e somente pode ser identificada com base em estudos
microscópicos, de difração de raios X, de reflectância da matéria carbonosa, de
microscopia eletrônica (SEM, HRTEM E AEM) e de microssonda eletrônica. Os
produtos do início do metamorfismo, entretanto, são diferentes para cada tipo de rocha
e ocorrem em temperaturas variando entre 150 e 300 oC. Em algumas rochas, como
em arenitos e calcáreos muito puros, usualmente não são observadas mudanças
texturais ou mineralógicas indicativas do início do metamorfismo, enquanto
intercalações de evaporitos, argilitos, arcóseos, hialoclastitos, tufos e vulcânicas nas
mesmas rochas encontrem metamorfisadas. Consequentemente, em rochas
metamorfisadas em grau muito baixo, comumente há intercalações de rochas não
metamórficas.
A illita detrítica e diagenética dos sedimentos argilosos praticamente não
possui camadas mistas, mas, com o aumento da pressão e da temperatura passa a
haver uma gradativa transformação polimórfica do tipo 1Md para 2M, que
gradativamente organiza-se segundo uma foliação, o que marca a substituição dos
folhelhos e argilitos para filitos (Maxwell & Hower, 1967), definindo uma zona onde o
processo é chamado de anquimetamorfismo (anchimetamorphism). Estas
transformações se completam no início da zona de cristalização da biotita, que marca
nitidamente o início do metamorfismo, o que caracteriza uma região crustal rasa
chamada de epizona. Desta forma, um dos critérios utilizados para definição do início
do metamorfismo é o grau de cristalinidade da illita (Fig. 1).
Em temperaturas muito baixas a matéria orgânica presente nas rochas
sedimentares passa por processos de destilação, em processo denominado
maturação, que resulta sequencialmente na formação de carvão, matéria carbonosa e
grafita. Estas passagens podem ser medidas pela reflectância da matéria orgânica
(rank of coalification), que podem ser correlacionadas com o grau de cristalinidade da
illita e com o início do metamorfismo (Teichmüller, 1987; Kish, 1987).
Assim, o limite entre a diagênese e o metamorfismo é estabelecido pelo
o
quase total desaparecimento dos argilo-minerais, entre 150 e 300 C, que são
transformados em micas, e da matéria orgânica, que é destilada, resultando em
material carbonoso ou grafita, em temperaturas, respectivamente, mais baixas e mais
altas.
Em rochas hidratadas o aumento da temperatura poderá provocar a fusão
total da rocha metamórfica, definindo o limite superior do metamorfismo, que pode
variar de pouco mais de 650 a mais de 1100 oC. Entretanto, usualmente as rochas se
fundem incongruentemente, fazendo com que haja um estágio intermediário entre as
rochas metamórficas e ígneas, representadas pelos migmatitos, que são incluidos no
conjunto das rochas metamórficas.

FIGURA 1. Limites da diagênese, anquizona e epizona, baseado no grau de cristalinidade da


illita, mostrando, à direita os difratrogramas dos picos [001] e [002] que indicam,
respectivamente, o grau de cristalinidade e o conteúdo de Al, ambos função da temperatura de
cristalização (Frizon de la Motte, 1985, em Kornprobst, 1996). À esquerda é mostrado o índice
de cristalinidade (IC), definido pela razão [002]/[001] da illita, segundo (Kubler, 1984).

A fusão parcial das rochas depende, além da temperatura, da pressão de


água no sistema, da pressão total e da composição da rocha (Fig. 2), o que faz com
que rochas graníticas ou leitos com composição próxima à da fusão mínima se fundam
em temperaturas menores que os demais leitos e, muito menores que as composições
básicas. Em geral, temperaturas altas o suficiente para fusão de rochas básicas
raramente ocorrem na crosta.
Em rochas anidras, o metamorfismo pode continuar até níveis de pressão e
de temperatura muito altos, compatíveis com as condições de estabilidade do manto da
terra.
O limite mínimo para a pressão litostática durante o metamorfismo varia de
valores próximos ao da pressão atmosférica até pressões compatíveis com o manto,
em rochas portadoras de diamante. O primeiro caso observa-se exclusivamente em
nas bordas de diques e sob derrames de rochas ígneas. No início do metamorfismo
associado a zonas de subdução, a pressão geralmente situa-se acima de 2,5 − 3,0
kbar.

FIGURA 2. Limites físicos do metamorfismo, onde (L) identifica o campo da diagênese, (G1) a
fusão mínima granítica hidratada, (G2) a fusão mínima granítica anidra, (B1) a fusão de rochas
básicas hidratadas, (B2) a fusão de rochas básicas anidras, (OT1) o início da fusão de olivina
tholeiito hidratado, (OT2) a fusão total de olivina tholeiito, (P), o início da fusão de metapelitos,
(C) o campo de formação de rochas com coesita, (D) o início de formação de microdiamantes e
(EMC) a espessura máxima da crosta. Baseado em Wyllie & Turtle (1961), Yoder & Tilley
(1962), Myashyro (1973) Bucher & Frey (1994) e Spear (1995).
3 FATORES QUE CONDICIONAM O METAMORFISMO

O metamorfismo é causado por agentes externos à rocha, quais sejam:


temperatura, pressão litostática, pressão dirigida, composição dos fluidos
intersticiais, tempo de atuação dos processos, taxa das reações metamórficas e
taxa de nucleação dos minerais. Também fundamental a composição química total
da rocha, pois protolitos de composições diferenciadas, mesmo que levemente, quando
submetidos a idênticas condições de P−T, podem resultar em diferentes tipos de
metamorfitos.
As principais características destes fatores são as seguintes:

3.1 Temperatura (temperature)


A temperatura é o principal agente da transformação metamórfica, bem
evidenciado pelo sugimento sequenciado das isógradas, que correspondem a
superfícies internas à crosta, que ocorrem grosseiramente com linhas na superfície,
onde a temperatura da rocha é aproximadamente a mesma, resultando em um
metamorfismo em uma determinada intensidade, ou seja, do mesmo grau. A
temperatura é expressa em graus Celsius (oC) ou Kelvin (oK), sendo que K= oC +
273,15).
O suprimento de calor nos processos metamórficos é devido ao aumento
gradativo da temperatura com a profundidade, ou seja, ao grau geotérmico, que varia
de < 6 a 60 oC/km, com média ao redor de 30 oC/km (Fig. 2). Em zonas de subdução o
grau geotérmico varia de 5 a cerca de 20 oC/km, em rifts continentais de 20 a 40 oC/km
e em arcos magmáticos de 40 a 60 oC. Nos crátons o grau geotérmico varía de pouco
menos de 10 a cerca de 15 oC/km e em zonas de expansão de assoalho oceânico em
ofiolitos, especialmente nos complexos de diques, o grau geotérmico pode superar 180
o
C/km.
O aquecimento que transforma as rochas é basicamente controlado pela
perda de energia do manto, em taxas que dependem do tipo da crosta, dos
desequilíbrios térmicos no manto, com a formação de plumas, e dos litotipos da crosta
que conduz o calor. Deve-se também à presença de corpos ígneos resfriando-se nas
proximidades das rochas que estão sendo metamorfisadas, ao decaimento radioativo
de elementos químicos e à penetração de fluidos hidrotermais, derivados da
desidratação metamórfica de minerais, de fontes ígneas ou de águas conatas
aquecidas. Com a exumação das rochas metamórficas há redução gradativa da
temperatura, com conseqüentes reequilíbrios metamórficos, em processo
denominado retrometamorfismo ou diaftorese.
A condutividade térmica das rochas é geralmente baixa e varia em função do
tipo e mineralogia da rocha, do processo de transmissão de energia (convectivo ou
advectivo), da presença ou não de fluidos e das estruturas tectônicas. Devido à baixa
conditividade das rochas, são necessários milhões de anos para que grande massas
de rochas possam ser aquecidas e, portanto, metamorfisadas.

3.2 Pressão (pressure)


A pressão é referida nos processos metamórficos em unidades de Pascal
(usualmente em GPa) ou em bars (normalmente em kbar), onde 1 kbar = 0,1 Gpa =
986,92327 atm. Nos processos metamórficos a pressão varia enormemente, conforme
pode ser visto na Fig. 2.
Há três diferentes tipos de pressão que atuam na geração da rochas
metamórficas, quais sejam:

3.2.1 Pressão litostática (lithostatic pressure)


Desde os primórdios do estudo das rochas metamórficas, a temperatura
foi considerada o fator causador do metamormos. Somente a partir de meados do
século XX a pressão passou a ser considerada um fator importante para formação das
rochas metamórficas, tanto da mineralogia como das texturas. Deve-se a Myashiro
(1963), por exemplo, a dedução da forma dos campos de estabilidade dos polimorfos
de Al2SiO5, com os limites definidos por um Y invertido, cuja transformação da
andalusita para cianita é principalmente controlada pelo aumento da pressão total.
A pressão litostática é análoga à pressão hidrostática, ou seja, atua com a
mesma intensidade em todas as direções. O aumento da pressão litostática é
produzido pela carga das rochas superpostas, causada pelo acúmulo de sedimentos e
rochas vulcânicas em bacias sedimentares ou pela superposição de fatias tectônicas
por cavalgamento ou dobramentos recumbentes, em zonas de encurtamento crustal.
Uma vez que há contato direto entre os minerais que compõe as rochas e pela
presença de fluidos nos poros, a variação da pressão pode ser considerada como
geológicamente “instantânea”, ou seja, há um aumento ou redução contínua da
pressão para cada unidade de massa colocada sobre ou removida das camadas
superpostas. A redução da pressão ocorre devido ao soerguimento orogenético ou
epirogenético e por zonas de cavalgamento, processos estes, acompanhados por
intemperismo e erosão, que provocam a exumação da rochas metamórficas e,
principalmente, dos cinturões orogenéticos.
Com o aumento da pressão litostática há um aumento gradativo da
densidade das rochas pela redução dos espaços intersticiais ou pela transformações
dos minerais menos densos em outros mais densos. Na ausência ou na insaturação de
fluido nos poros a carga é transmitida pelo contato entre os grãos da rocha.
Para uma determinada profundidade, a pressão litostática é função da
espessura e da densidade das rochas superpostas e, a título de exemplo, para resultar
em aumento de 1 kbar, são necessários aproximadamente 3,9 km de espessura de
rochas sedimentares ricas em argila, com quartzo subordinado, 3,8 km de rocha
granítica, 3,4 km de basalto, 3,1 km de peridotito e 2,9 km de eclogito.
Rochas metamórficas formadas em profundidades muito altas chegam a
forma coesita, um polimorfo de SiO2 de alta pressão e até mesmo microdiamantes, em
pressões litostáticas superiores a 40 kbar (Fig. 2).

3.2.2 Pressão dirigida (stress or directed pressure)


A pressão dirigida, também denominada tensão dirigida (deviatoric
stress), diferencia-se da pressão litostática por ser vetorial, ou seja, não age com a
mesma intensidade em todas as direções. Por ser de intensidade relativamente bem
menor que a anterior, não é significativa para transformação de fases minerais, mas é
muito importante, por produzir texturas e estruturas metamórficas, como as foliações
(dadas pelo arranjo aproximadamente isorientado dos minerais), pelo dobramento de
superfícies (como o acamamento ou outras foliações metamórficas), pela rotação de
porfiroblastos (cristais relativamente maiores que a matriz), cataclase dos minerais
(quebra e moagem), etc. O conjunto das texturas e sua cronologia relativa são
imprescindíveis ao estudo da evolução do metamorfismo em suas fases progressivas
ou retrógradas.
Devido à distorção e quebra dos retículos cristalinos, a pressão dirigida
favorece muito as reações metamórficas e o reequilíbrio dos minerais nas novas
condições, que, na falta da deformação, podem permanecer meta-estáveis, devido à
lenta cinética química da maioria dos minerais. O estado da pressão dirigida,
juntamente com a velocidade da deformação, é considerada ainda um importante fator
para nucleação ou não e crescimento de minerais metamórficos.
Localmente, e por tempo determinado, pode haver nas rochas uma
“sobrepressão” tectônica, causada por diferenças na pressão dirigida

3.2.3 Pressão de fluidos (fluid pressure)


Normalmente os interstícios entre os minerais das rochas são saturados
em fluidos, que acabam submetidos uma pressão igual à pressão litostática, o que é
chamado de pressão de fluidos. Uma vez que os fluidos podem migrar pelos poros,
fissuras, fraturas e foliações, eles podem ser acrescentados ou removidos da rocha.
O fluido mais abundante é o H2O, mas o CO2 pode ser uma fase
importante em determinados tipos de metamorfismo e, subordinamente podem estar
presentes O2, HF, SO2, HCl, NH4, CH3, etc. Este tipo de pressão é usualmente referida
com Pf e é dada pela somatória da pressão parcial das diferentes fases fluidas
presentes, ou seja, PFftotal = PH2O + PCO2 + PNH4 + PHF, PSO2, PCl, PS2, etc.
Nem sempre a pressão de fluidos é igual à pressão total a qual a rocha
está submetida (Pf = Pt) pois, se houver condutividade hidráulica relativamente alta, os
fluidos podem ser extraídos do sistema, tornando a Pf < Pt, o que provoca fraturamento
dos grãos, uma vez que as tensões serão concentradas em pequenas áreas dos
minerais em contato. As estruturas são fundamentais para retirada de parte dos fluidos,
notadamente as foliações metamórficas, especialmente nos planos axiais das dobras
ou em falhas. Este fenômeno pode ser facilmente constatado pela abundância de veios
de quartzo variavelmente deformados, o que implicando em terem sido depositados
concomitantemente à deformação, e nos diversos tipos de mineralizações associados a
estas estruturas. Camadas permeáveis, como metarenitos podem também ser
importantes condutos de fluidos metamórficos.
Por outro lado, se a permeabilidade for muito baixa, o aquecimento das
rochas pode fazer com, em períodos relativamente curtos, a Pf > Pt, o que também
provoca fraturamento hidráulico das rochas. O alívio repentino da pressão pode, em
determinadas situações, provocar a ebulição dos fluidos, o que normalmente provoca
forte precipitação dos solutos, por vezes mineralizados.
Uma importante conseqüência da variação da pressão parcial de fluidos,
notadamente de água, é a mudança na temperatura de equilíbrio das reações
metamórficas de desidratação, pois, de modo geral, quanto menor for a PH2O, menor
será a temperatura de formação dos produtos das reações. Como corolário, pode-se
concluir que, sendo a PH2O usualmente inferior à Pt e sendo a estabilidade dos minerais
quase sempre estudada em em sistemas com Pt=PH2O, as paragêneses minerais das
rochas metamórficas quase sempre deverão forma-se em temperaturas menores, até
significativamente, que as determinadas experimentalmente. Assim, estudos
metamórficos detalhados, através da geotermobarometria, devem, necessariamente,
incluir a estimativa das pressões parciais e das atividades da da água e do gás
carbônico.
Outras fases gasosas podem ser importantes no metamorfismo, como,
por exemplo, em camadas delgadas de mármores intercaladas em metapelitos e,
especialmente nas suas bordas, onde a PCO2 pode aumentar significativamente com o
inicio da descarbonatização, reduzindo a temperatura das reações de desidratação, até
que todo carbonato seja consumido, o que faz com que aumente novamente a PH2O,
instabilizando produtos metamórficos anteriormente formados.
Outro importante fator que controla o metamorfismo é a fugacidade de
oxigênio, que pode determinar ou não a cristalização de minerais como a granada. A
almandina, por exemplo, torna-se gradativamente instável com o aumento da fO2, o
que faz com que a granada incorpore mais manganês e cálcio, para manter-se estável
na rocha. Em casos extremos, a fO2 pode determinar a formação ou não de minerais
ferro-magnesianos, como a biotita e a estaurolita, bem como de polimorfos de Al2SiO5,
notadamente da cianita, que pode não ser cristalizada após o surgimento da
estaurolita.
Em alguns casos o CO2 é particularmente móvel, mas em outros, como
em xistos grafitosos, a assembléias minerais tamponam o O2. O mesmo pode ser
considerado em relação à presença de enxofre como componente dos fluidos
metamórficos.

3.3 O tempo (time)


O tempo é referido como t e pode ser estabelecido nos estudos
metamórficos de forma absoluta, por geocronologia de minerais de diferentes domínios
microestruturais (Fig. 3), ou relativa, pela seqüência de cristalização, relações de
substituições, associação com foliações, etc (Figs. 4A, 4B e 5).
O tempo em que as rochas são submetidas às novas condições físico-
químicas pode ser fundamental na transformação metamórfica dos minerais, pois,
sendo a cinética das reações muito lenta, é muito freqüente a preservação meta-
estável de determinadas fases minerais fora de seus campos de estabilidade
termodinâmica.
As reações metamórficas geralmente são reações químicas de desidratação
(Fig. 6A) e, comumente, o fluido é retirado do sistema através das estruturas das
rochas, o que faz com que, ao resfriamento, não ocorra, pelo menos totalmente, a
reversão da reação, pela falta de reagentes. Adicionalmente, a velocidade das reações
aumenta exponencialmente com a temperatura (Fig. 6B) e, por estes motivos, as
paragêneses minerais são usualmente indicativas do pico metamórfico, uma vez que,
com a redução das condições metamórficas durante o retrometamorfismo, a cinética
das reações diminui rapidamente, preservando meta-estavelmente os minerais de mais
alta temperatura e, geralmente, pressão.

FIGURA 3. Exemplo de um diagrama com datação de minerais metamórficos feitas de


diferentes domínios microestruturais.
FIGURA 4A. Diagrama de blastese de minerais metamórficos em relação às foliações (S1, S2,
S3...) e de sua relação com a fácies metamórfica (XV = xisto verde, ANF = anfibolito)
progressiva e retrógrada de metapelitos da Formação Morro da Pedra Preta do Grupo Serra do
Itaberaba, SP (Juliani, 1993).
FIGURA 4B. Diagrama de blastese de minerais metamórficos em relação às foliações (S1, S2,
S3...) e de sua relação com a fácies metamórfica (XV = xisto verde, ANF = anfibolito)
progressiva e retrógrada de metabasitos da Formação Morro da Pedra Preta do Grupo Serra
do Itaberaba, SP (Juliani, 1993). As setas indicam as substituições metamórficas.

FIGURA 5. Esquema das trajetória metamórficas definidas pela análise de grades


metamórficas para rochas dos grupos São Roque (A), onde (1) são metapelitos e (2)
metabasitos, e Serra do Itaberaba, no qual (B) indica minerais da S2 (re-metamorfismo
provocado pela evolução do Grupo São Roque) e (C) para S1. (D) indica as condições P–T das
das trajetórias retrometamórficas e as áreas hachuradas a predominância do metamorfismo
dos grupo São Roque e Serra do Itaberaba (Juliani, 1993).
3.4 Taxa de reação (reaction rate) e equilíbrio meta-estável (meta-
stable equlibria)
Uma rocha formada em profundidade possui minerais estáveis em condições
de pressão e de temperatura relativamente elevadas mas, após a exumação, este
minerais permanecem estáveis em condições superficiais, em pressão em temperatura
ambiente. Sob o ponto de vista termodinâmico os minerais deveriam ter sido
transformados em outros minerais, estáveis às novas condições, o que não ocorre em
função das baixíssimas taxas de reação existentes entre minerais em temperaturas
mais baixas, devido às fortes forças de ligação presentes dos minerais. Os minerais
que são mantidos em condições de pressão e de temperatura distintas daquelas nas
quais se formaram são chamados de meta-estáveis.
A taxa de reação aumenta exponencialmente com o aumento da
temperatura (Fig. 6B), o que faz com que grau metamórfico mais alto os minerais
tendam a estar termodinâmicamente mais equilibrados e, também por este motivo, há
sempre a tendência de preservação dos minerais de mais alta temperatura, uma vez
que a velocidade da reação metamórfica torna-se muito menor no retrometamorfismo,
devido à queda da temperatura, além da falta da fase fluida, em especial da água, que
foi extraída do sistema devido ao aumento da temperatura.
A taxa de reação pode ser expressa pela relação de Arrhenius:

Tr = C.e-E/RT

Onde, C é uma constante, E é a energia de ativação, R é a constante dos


gases e T é a temperatura.
O aquecimento das rochas, entretanto, é muito lento, devido à baixa condutividade
térmica, o que implica, necessariamente em períodos relativamente longos para
ganhos significativos de energia pelo sistema (Fig. 6C).
Em grau metamórfico relativamente baixo, mas crescente, determinados
minerais, como a granada, o plagioclásio e anfibólio, podem cristalizar continuamente,
mas a sua composição varia com o aumento da temperatura e, sendo a cinética lenta,
devido à baixas temperaturas do início do metamorfismo, a difusão intracristalina não
se processa completamente, preservando zonamentos composicionais. Mas, se a
rocha é mantida em temperatura aproximadamente constante durante um longo
período, pode ser estabelecido o equilíbrio termodinâmico intracristalino, resultado em
composições químicas relativamente homogêneas em todo cristal.
FIGURA 6. (A) reação metamórfica univariante, com liberação de H2O; (B) taxa de reação
metamórfica em função da temperatura; (C) tempo necessário para aquecimento do sistema
químico.

3.5 Taxas de nucleação (reaction rate) e de crescimento (growth rate) dos


minerais
Nucleação de um cristal é causada por qualquer mudança física e/ou
química e resulta na formação de uma nova partícula de mineral (gérmen de
cristalização), que pode continuar crescendo para formação de um cristal. A tax de
nucleação corresponde à velocidade com que são formados nos novos núcleos de
cristalizaçào em um determaindao sistema, e a de crescimento, à velocidade com que
são acrescentadas novas unidades do composto na superfície do núcleo cristalizado.
Em um determinado sistema químico podem ser formados, por mudanças na pressão
e/ou na temperatura um grande números de núcleos de cristalização, resultando em
minerais de dimensões aproximadamente iguais e de rochas de granulação
relativamente fina, ou apenas relativamente poucos núcleos, o que faz com que os
reagentes migrem dos arredores para os núcleos, resultado em minerais mais grossos
ou porfiroblastos (Fig. 7).
Diferentes reações químicas, que envolvem diferentes reagentes podem
gerar um mesmo mineral em temperaturas e/ou pressão variável, o que pode resultar
em minerais com granulação seriada, pois, novos gérmens de cristalização podem ser
formados em outros locais, mas, continuará havendo crescimento do mineral
cristalizado anteriormente. O mesmo pode ser verificado em rochas bandadas, onde a
cristalização de um determinado mineral se dá, em função de variações na composição
química, em diferentes temperaturas em diferentes leitos, resultando em distribuições
granulométricas modais.

FIGURA 7. Esquema do efeito de migração dos componentes para o sítio de formação dos
porfiroblastos, resultando em volumes da rocha praticamente sem parte dos reagentes
(Yardley, 1994).

A taxa de reação pode ser expressa por:

dN/dt = Acxf(a1, a2, …)e-E/RT

onde A corresponde ao número de pontos de nucleação por volume, a a


freqüência de vibração da coordenada de uma reação, entropia, etc, Cx a
disponibilidade das espécies químicas reagentes, f(a1, a2,..) a concentração de outros
possíveis participantes na limitação da taxa, e e-E/RT é a fração dos reagentes na qual a
barreira de energia tem que ser superada.
A energia de anexação de uma nova camada de átomos na face de um
cristal corresponde à energia liberada por uma unidade do composto adicionado à face
e a espessura da camada de átomos depende do índice (kkl) da substância. Assim,
faces com grande energia de anexação crescem mais rapidamente que as de menor
energia e minerais de maior energia relativa tendem a ser mais idioblásticos que os de
menor energia. Na escala dos gérmens, entretatanto, o tamanho da faces
relativamente aos átomos ou moléculas é muito pequeno, o que faz com que as
repulsões eletrostáticas sejam importantes no início da cristalização, especialmente em
relação a átomos maiores. Como conseqüência, as faces de maior taxa de crescimento
dos cristais são, normalmente, as mesmas nos gérmens e nos cristais e, dependendo
da velocidade do crescimento, podem ser formados cristais esqueléticos, pois o
acréscimo de compostos se dá preferencialmente em determinadas orientações
cristalográficas (Fig. 8).
Normalmente, nem todos gérmens desenvolvem-se, devido a reabsorção
nas fases iniciais de formação, em função das de oscilações nas condições físicas ou
devido às energias de superfície dos gérmens, o que ao final, favorece a formação de
porfiroblastos.

FIGURA 8. Esquema mostrando as as diferentes velocidades de cristalização das faces de um


cristal metamórfico (Bard, 1986).

A dissolução e a precipitação pode ser fortemente condicionada pela


pressão dirigida, pois ela incrementa o potencial químico na face perpendicular à
direção do maior esforço, provocando dissolução, o que faz com que o mineral tenha
uma maior taxa de crescimento no plano perpendicular ao esforço, resultado nas
texturas orientadas das rochas metamórficas e sombras de pressão.

3.6 Composição química da rocha (whole rock chemical composition)


A composição química de uma rocha é expressa usualmente em
porcentagem em peso de óxidos, sendo os principais SiO2, Al2O3, K2O, CaO, Na2O,
MgO, FeO, Fe2O3, TiO2, MnO, P2O5, H2O e CO2. Subordinadamente podem estar
presentes, S, Cl, F, B e Br, especialmente quando do metamorfismo de seqüências
sedimentares marinhas e evaporitos.
É muito óbvio que um calcário sedimentar resultará em uma rocha
metamórfica carbonática (meta-calcário ou mármore) e um arenito puro em uma rocha
quartzosa (metarenito ou quartzito) se o metamorfismo for aproximadamente
isoquímico, ou seja, se o sistema químico for aproximadamente fechado.
Entretanto, a variação composional de alguns elementos químicos dentro de
certos limites podem ser fortemente condicionadas do surgimento ou não de
determinados minerais metamórficos em rochas situadas em idênticas condições de P-
T (Fig. 10). Em metapelitos, por exemplo, poderá ou não ser cristalizada biotita,
cordierita, cloritóide e cianita, em função da fração molar de FeO e MgO (XFeMg) e da
proporção de Al2O3 no sistema químico.

FIGURA 10. Exemplo do controle químico em metapelitos, com bandas com composições x, y
e z indicadas no diagrama AFM. Em (A), a uma dada temperatura, cristaliza-se granada (GT)
apenas no leito com composição x, em paragênese com clorita (CHL) e biotita (BIO). Em (B),
com o aumento da temperatura cristaliza-se granada nos leitos y e z, com maior fração molar
de Mg, enquanto toda clorita é consumida no leito z.

Como conseqüência, diferentes leitos da rocha sedimentar geralmente


produzem diferentes associações de minerais e, mesmo minerais diagnósticos de
determinado grau metamórfico podem estar presentes em uma pequena camada e
ausentes na camada adjacente.
Em diversas regiões tem sido constatado que até mesmo a cristalização da
cianita é controlada pela composição química da rocha, ocorrendo somente onde onde
a razão de F, M e K é adequada (Atherton, 1970).
O metamorfismo é normalmente isoquímico na maioria das rochas e grande
parte dos elementos químicos que as compõem são muito pouco móveis, exceto a fase
fluida, que pode ser incorporada no metamorfismo de rochas anidras como peridotitos
ou komatiitos, ou extraído de rochas muito argilosas.
Entretanto, em determinadas condições, notadamente em zonas de
cisalhamento e em metamorfismo com alta razão fluido/rocha, muitos elementos
podem ser extraídos por lixiviação ou incorporados à rocha. A lixiviação necessita de
grandes volumes de fluidos, não disponível na maioria dos tipos de metamorfismo, mas
este processo pode ser muito importante em alguns outros tipos, como os que ocorrem
em fundo oceânico, onde a disponibilidade de fluidos é muito maior, devido à circulação
das águas oceânicas em células convectivas. Tipicamente, o produto final de tais
alterações são rochas monominerálicas ou quase.
Mesmo que a composição química de um volume maior da rocha permaneça
aproximadamente constante, migrações localizadas de muitos dos elementos químicos
são muito importante na maioria das rochas, podendo ser exemplificado na migração
de ferro e magnésio da matriz da rocha para formação de porfiroblastos.
A incorporação de elementos químicos, como a sílica e potássio, ou de
carbonatos é muito frequente em algumas situações, alterando significativamente a
composição da rocha, em processos chamados de metassomáticos. É o caso da
formação de talco-magnesita xistos a partir de peridotitos, ou de granada-piroxenitos a
partir de calcários. Neste casos, a introdução se dá preferencialmente ao longo de
descontinuidades físicas, como as foliações metamórficas e fraturas, sendo então um
processo relativamente comum em zonas de cisalhamento.

3.7 Interação fluido−rocha (fluid-rock interaction)


Os fluidos intersticiais em profundidade tornam-se aquecidos e encontram-
se sempre em equilíbrio com as fases sólidas. Se o sistema for praticamente fechado,
eles desempenham importante papel na dissolução de transporte iônico entre os
reagentes e produtos, além condicionarem ou não determinadas reações
metamórficas, quando são fases envolvidas nas reações químicas. Assim, a redução
de sua pressão parcial, por extração do sistema ou por incorporação em fases
minerais, ou o aumento da pressão parcial, por introdução ou liberação de reações são
fundamentais no equilíbrio dos minerais. Parte dos fluidos retidos em inclusões de
minerais são também muito utilizados na determinação da temperatura de formação da
rocha.
De modo geral, as reações metamórficas envolvem desidratação de
minerais, implicando que com o aumento do grau, as rochas tendem a ficar cada vez
mais desidratadas ou até mesmo quase anidras.
A contínua permeabilidade de fluidos através das rochas metamórficas pode
controlar efetivamente a cristalização dos minerais e, nas proximidades de intrusões de
rochas ígneas, especialmente de granitos, e ao longo de zonas cisalhamento, a razão
fluido-rocha é alta e vários elementos químicos químicos podem ser lixiviados ou
introduzidos nas rochas durante o metamorfismo.
Este tipo de interação é ainda mais importante em metamorfismo com alta
razão fluido-rocha, como o metamorfismo de fundo oceânico e em algumas zonas de
cisalhamento.

4 TRAJETÓRIAS METAMÓRFICAS PRESSÃO − TEMPERATURA − TEMPO −


DEFORMAÇÃO (P-T-t-d) (P-T-t-d metamorphic paths)

O desencadeamento dos processos metamórficos em cinturões


orogenéticos causa um distúrbio nas isotermas(*), cuja recomposição leva um tempo
variável em função de diversos processos geológicos. A estes processos associam-se
deformações que antecedem, são concomintantes ou posteriores à recomposição das
isotermas, o que faz com que as texturas e estruturas das rochas metamórficas
registrem sequencialmente eventos de aquecimento e resfriamento e de deformação
ou não, o que permite o estabelecimento de uma cronologia relativa de eventos. Como
esta cronologia pode ser correlacionáveis com o aumento e redução da pressão (P) e
da temperatura (T), com as foliações metamórficas (d) seqüenciadas e pelas
substituições e consumo dos minerais, pode-se estabelecer uma cronologia relativa ou
absoluta (t), permitindo a elaboração das trajetórias metamórficas (Fig. 3 e 10).

(*)
Linhas de igual temperatura definidas na superfície ou internamente na crosta. Usualmente o registro
geológico das isotermas corresponde a uma média das variações da temperatura em um determinado
espaço de tempo. O espaçamento das isotermas indica qual foi ou é o gradiente térmico em uma
determinada região da crosta ou seja, ela indica quanto a temperatura muda em relação a uma dada
distância.
FIGURA 10. Diagramas P–T–t–d, com tempo relativo estabelecido pelas sobreposição das
foliações metamórficas, com trajetória com sentido anti-horário registrada nos minerais da S1 e
horária nas S2, S3 e S4. Grupos Serra do Itaberaba e São Roque, noroeste da cidade de São
Paulo (Juliani et al., 2000).

A forma e o sentido horário ou anti-horário da trajetória depende de uma


complexa interação entre a velocidade da subducção, do fluxo geotérmico, dos
litotipos, do tipo predominante da transferência de calor, da colocação de corpos
ígneos, do regime tectônico, dobramentos, falhas de empurrão, empilhamento tectônico
e exumação.
Dois tipos de picos metamórficos (metamorphic peak) podem ser
usualmente reconhecidos: o bárico e o térmico, indicando, respectivamente, o máximo
da pressão e da temperatura alcançados em um determinado evento metamórfico,.
Quando o pico bárico antecede o pico térmico, a trajetória metamórfica tende a ser
horária, e anti-horária no caso inverso. No primeiro caso, o retrometamorfismo inicia
após o pico térmico e no segundo caso, após o pico bárico.
Além da trajetória retrometamórficas definidas por fortes variações conjuntas
nas condições P–T, podem também ocorrer, em função de determinadas condições
geológicas, trajetória de descompressão aproximadamente isotérmica − ITC (near
isothermal decompression) ou resfriamento aproximadamente isobárico − IBC (near
isobaric cooling). A ITC geralmente associa-se com exumação acompanhada por
intrusões de grandes massas ígneas e a IBC por cavalgamentos em velocidades
compatíveis com a taxa de exumação.

5 REAÇÕES METAMÓRFICAS (metamorphic reactions)

As reações metamórficas ocorrem em estado sólido e são responsáveis pela


formação dos minerais metamórficos. As reações metamórficas podem ser deduzidas
em uma lâmina petrográfica através das texturas de substituição, bordas de reação,
etc, que indicam um estágio não completado da reação química. Em geral, a reação
processou-se totalmente rocha, mas a análise das inclusões de minerais e das
paragêneses podem fornecer indícios sobre os reagentes e produtos, permitindo,
muitas vezes, a identificação da reação que formou determinado(s) mineral(is).
Diversos tipo de reações químicas formam os minerais metamórficos,
podendo ser destacadas:

5.1 Transformações polimórficas


São reações que implicam na mudança do sistema cristalino, sem alteração
da composição química, como exemplificado abaixo e na Fig. 11.

Al2SiO5 (cianita) ÍÎ Al2SiO5 (sillimanita) ÍÎ Al2SiO5 (andalusita)


CaCO3 (calcita) ÍÎ CaCO3 (aragonita)
C (grafita)ÍÎ C (diamante)
SiO2 (α-quarzo) ÍÎ SiO2 (β-quartzo) ÍÎ SiO2 (coesita) ÍÎ SiO2 (cristobalita)

5.2 Mudança da ordem cristalina


São reações semelhantes às anteriores, mas sem mudança do sistema
cristalino, como:

KAlSi3O8 (ortoclásio ordenado) ÍÎ KAlSi3O8 (ortoclásio desordenado)


FIGURA 11. Exemplos de reações metamórficas de transformação polimórfica para o SiO2, C,
CaCO3 e Al2SiO5.

5.3 Miscibilidade e imiscibilidade


Estas reações correspondem a misturas e desmisturas de minerais, com a
mudança da temperatura (Fig. 12). Estas transformações, assim como a anterior, é
fortemente acelerada pela deformação.

NaAlSi3O8 (albita) + 2(K,Na)AlSi3O8 (feldspato potássico) ÍÎ KAlSi3O8 (microclínio)

FIGURA 12. Exemplo de reação de imiscibilidade de feldspatos (albita e ortoclásio).


5.4 Sólido + sólido sem liberação de gás
Este tipo de reação tem como produto um ou mais minerais, derivado da
decomposição de um mineral, ou da reação entre dois ou mais minerais, como
exemplicado abaixo e na Fig. 13.

NaAlSi2O6 (jadeíta) + SiO2 (quartzo) ÍÎ NaAlSi3O8 (albita)


NaAlSiO4 (nefelina) + NaAlSi2O6 (jadeíta) ÍÎ NaAlSi3O8 (albita)

FIGURA 13 − Exemplos de reações metamórficas sólido−sólido.

5.5 Sólido + sólido com liberação de gás


São reações entre minerais que têm como produtos novos minerais e uma
fase fluida gasosa (Fig. 14), liberada para o meio, o que, geralmente, aumenta a
pressão parcial do composto no fluido intersticial, como:

(Fe, Mg)Al2SiO5(OH)2 (cloritóide) + SiO2 (quartzo) ÍÎ (Fe, Mg)4Al18Si7,5O48H4


(estaurolita) + (Fe, Mg)3Al2Si3O12 (granada) + H2O
(Fe, Mg)3Al2Si3O12 (granada) + KAl2Si2(SiAl)O10(OH)2 muscovita + (Fe, Mg)4(Fe,
MgAlSi2AlSiO10(OH)8 (clorita) ÍÎ (Fe, Mg)4Al18Si7,5O48H4 (estaurolita) + K(Fe,
Mg)3Si3AlO10(OH)2 (biotita) + SiO2 (quartzo) + H2O
CaCO3 (calcita) + SiO2 (quartzo) ÍÎCaSiO3 (wollastonita) + CO2
Fe3O4 (magnetita) + SiO2 (quartzo) ÍÎ FeSiO4 (fayalita) + O2
5.6 Sólido + fluido com produtos sólidos e liberação de gás
As reacões que evolvem como reagentes ou produtos duas fases gasosas,
como o CO2 e o H2O implicam em curvas divariantes, como indicado na Fig. 15.
Algumas delas são destacadas a seguir.

CaMg(CO3)2 (dolomita) + H2O (água) ÍÎ CaCO3 (calcita) + Mg(OH)2 (brucita) + CO2


(gás carbônico)
CaF2 (fluorita) + SiO2 (quartzo) + H2O (água) (ÍÎ CaSiO3 (wollastonita) + HF (ácido
hidrofluorídrico)

FIGURA 14 − Exemplo de uma reação metamórfica em metapelitos, com liberação de H2O,


dada por: 54 cloritóide + 5O2 = 12 estaurolita + 10 magnetita + 6 quartzo + 48 H2O (Gangully &
Newton, 1968).
FIGURA 15. Exemplo do comportamento tridimensional de reações metamórficas que
envolvem a liberação de duas fases fluidas (H2O e CO2), implicando em variaçòes na
temperatura de uma determinada transformaçào em função da fração molar XH2O–CO2 .

5.7 De devolatização
São reações que implicam na decomposição de minerais com liberação de
gases, muito comuns em rochas carbonáticas, sulfetadas e formações ferríferas, como
visto a seguir. A continuidade da reação depende da pressão parcial no fluido
intersticial do composto que está sendo liberado (Fig. 16).

MgCO3 (magnesita) ÍÎ MgO (periclásio) + CO2


3Fe2O3 (hematita) ÍÎ 2Fe3O4 (magnetita) + ½O2
FeS2 (pirita) ÍÎ FeS (pirrotita) + ½S
Mg(OH)2 (brucita) ÍÎ MgO (periclásio) + H2O
FIGURA 16. Exemplos de reações metamórficas de devolatização brucita = periclásio + H2O.

5.8 De oxi-redução com liberação de gás


São reações metamórficas resultantes de mudanças no estado de oxidação
do sistema (Eh), exemplicadas abaixo e na Fig. 17.
C (grafita) + O2 (oxigênio) ÍÎ CO2 (gás carbônico)
C (grafita) + 2Fe2O3 (hematita) ÍÎ 4FeO (magnetita) + CO2 (gás carbônico)

FIGURA 17 − Exemplos de reações metamórficas de oxi-redução.


6 ESTRUTURAS METAMÓRFICAS (metamorphic structures)

As estruturas das rochas metamórficas são feições geométricas dadas pelo


arranjo de minerais ou planos de descontinuidade física gerados pelos processos
metamórficos, observáveis em amostra de mão ou em escala de afloramentos.
Também são definidas por estruturas ígneas, sedimentares ou metamórficas que,
apesar da recristalização metamórfica, podem ainda ser reconhecidas. Este aspecto é
mais notável em rochas de grau metamórfico mais baixo. Neste caso, adota-se para a
identificação das estruturas o mesmo nome da estrutura original, acrescentando-se o
prefixo blasto. Entretanto, na descrição de um litotipo torna-se, por vezes, pouco prática
a utilização desta regra e, comumente, pode ser mantida a denominação original,
como, por exemplo, “metabasaltos com pillow-lavas” ou metabasaltos com relíquias de
pillow-lavas” ao invés de “metabasaltos com blastopillow-lavas”.
Geralmente o metamorfismo pode imprimir nas rochas as mesmas feições
nas escalas macroscópicas e microscópicas e muitas estruturas são também
identificadas como texturas e vice-versa. Nestes casos, a distinção formal entre as
texturas e as estruturas pode não ser aplicável e nem sempre há necessidade de uma
descrição de ambas.
Existe uma grande quantidade de estruturas metamórficas, especialmente
por causa das estruturas derivadas das rochas ígneas e sedimentares, as principais
delas apresentadas no subítem Estruturas Metamórficas.

7 TEXTURAS METAMÓRFICAS (metamorphic textures)

As texturas são feições observáveis principalmente em lupa ou ao


microscópio e são definidas pelo arranjo entre os minerais metamórficos e pelas suas
relações de contato e de granulação. O estudo detalhado das texturas minerais
fornecem indicações fundamentais para o estabelecimento da evolução metamórfica,
notadamente quando comparadas às estruturas tectônicas, bem como dos processos
envolvidos na formação da rocha e de sua origem.
As texturas das rochas metamórficas são geradas pela recristalização de
minerais e texturas dos protolitos e, sobretudo, pela cristalização e recristalização
metamórfica, ou seja, em estado sólido. Uma vez que os diferentes minerais possuem
diferentes energias livres de Gibson e distintas tensões superficiais, as formas dos
contatos entre eles podem variar enormemente, assim como as suas dimensões
relativas, o que leva à geração de um grande número de textura metamórficas.
Muito freqüentemente estas texturas são polifásicas e, geralmente pode-se
observar trilhas de inclusões internas de outros minerais (Si), que geralmente definem
um foliação metamórfica anterior, ou um estágio inicial da foliação externa (Se), feições
estas muito importantes para a definição de evolução metamórfica das rochas, por
permitirem o estabelecimento de uma cronologia relativa de surgimento de minerais
metamórficos, seja em regimes progressivos, retrógrados ou re-metamorfismo.
As reações metamórficas podem se dar de forma contínua ou descontínua,
ou seja, diferentes reações mais ou menos separadas no espaço P-T podem gerar o
mesmo mineral, muito embora com composições diferenciadas. Se as reações são
contínuas, as chances de nucleação do mineral são menores, e o porfiroblasto apenas
continuará a aumentar suas dimensões, mas, se forem descontínuas, reagentes
distintos podem ser utilizados na formação do mineral, fazendo com que haja
nucleações, que produzem, ao final do processo duas ou mais classes modais de
diâmetro médio dos cristais, que podem, inclusive, serem seriados.
A grande maioria das texturas ígneas e sedimentares podem ser
preservadas, especialmente em rochas de baixo grau metamórfico e pouco
deformadas, sendo identificas como texturas reliquiares e nomeadas pela adição do
prefixo blasto ao nome da textura original.
Segundo Becke (1913), os minerais dos xistos podem ser ordenados,
segundo os protolitos, pela sua tendência de cristalização como minerais idioblásticos
(crystalloblastic strenght), como se segue:

a) Pelitos e psamitos:
(titanita, rutilo) Î (hematita, ilmenita, magnetita) Î (granada, turmalina) Î (estaurolita,
cianita, sillimanita, cloritóide) Î (albita, muscovita, biotita, clorita) Î
(quartzo, cordierita, ortoclásio, microclínio)

b) Calcários, dolomitos e metavulcânicas básicas


(titanita, rutilo, espinélio) Î (pirita, granada, turmalina, espinélio) Î (epidoto, zoisita,
forsterita, augita) Î (hornblenda, dolomita, glaucofânio, albita) Î (muscovita, biotita,
tremolita, clorita, talco) Î (calcita, quartzo, ortoclásio, microclínio)
Harker (1932) acrescentou a esta seqüência, os minerais dos hornfels, quais
sejam:

a) Pelitos e psamitos
(rutilo, espinélio) Î (granada, sillimanita, turmalina) Î (óxidos de ferro, andalusita) Î
(muscovita, biotita, clorita) Î (plagioclásio, quartzo, cordierita) Î
(ortoclásio, microclínio)

b) Calcários, dolomitos e metavulcânicas básicas


(titanita, espinélio, pirita) Î (wollastonita, grossularita, apatita) Î (magnetita, pirrotita,
zoisita, epidoto) Î (forsterita, chondrodita, hiperstênio, diopsídio, siderita, dolomita) Î
(escapolita, albita, muscovita, biotita, flogopita) Î (tremolita, vesuvianita, calcita) Î
(plagioclásio, quartzo, ortoclásio, microclínio)

8 GRANULAÇÃO DOS MINERAIS METAMÓRFICOS (metamorphic grain-size)

Quanto maior a granulação dos minerais de uma rocha metamórfica, na


maioria dos casos, foram maiores as condições de pressão e de temperatura em que
elas se formaram, devido a cristalização acretiva, ou seja, os grãos mais finos são
gradativamente incorporados aos adjacentes.
Um ortoarenito fino (rocha formada praticamente só por quartzo) ao ser
metamorfizado em temperaturas e pressões baixas, gerará uma rocha de granulação
fina, que pode, ainda, preservar as texturas sedimentares. Com o aumento da
temperatura e da pressão, ocorrerá a recristalização dos grãos de quartzo e os grãos
começarão a se juntar formando cristais maiores, causando um aumento da granulação
e a destruição das texturas sedimentares.
Desta forma, a granulação pode também ser um indicatico de grau
metamórfico.
Entretanto, em muitas situações, devido ao excesso de fluidos,
hidrotermalismo, alívio de pressão, etc. a granulação da rocha pode ser muito grossa,
mesmo em grau baixo, o que faz com que este critério tenha que ser utilizado com
muito cuidado.
Internacionalmente tem sido aceita as seguintes faixas granulométricas, em
analogia às faixas granulométricas definidas para as rochas sedimentares, para
descrição das rochas metamórficas:

• < 0,01 mm = ultra fina


• 0,01 a 0,1 mm = muito fina
• 0,1 a 1 mm = fina
• 1 a 4 mm = média
• 4 a 16 mm = grossa
• > 16 mm = muito grossa

9 FORMA DOS CRISTAIS METAMÓRFICOS (metamorphic crystal morphology)


As formas dos minerais metamórficos dependem de um conjunto de
processos que incluem a recristalização e recuperação de minerais pré-existentes,
reequilíbrios químicos em uma mesmo mineral, transformações polimórficas, alterações
na estrutura cristalina, do tipo da deformação e, sobretudo, da neoformação de
minerais em função das mudanças nas condições da pressão, da temperatura e dos
fluido. A cristalização dos minerais depende das taxas de nucleação e cristalização,
das diferenças de energia acumuladas em cristais adjascente, em variações locais de
pressão causada por stress, dos fluidos envovidos, da solubilidade e do espaço
disponível para crescimento.
Os minerais podem adquirir formas características de determinados
processos metamórficos, razão pela qual os hábitos e as formas de cristallização dos
minerais metamórficos devem também ser observados. As principais formas são as
seguintes:

• Idioblásticos (idioblastic): quando predominam hábitos euhedrais.


• Subidioblásticos (subidoblastic ou hypidioblastic): quando os minerais são
subeuhedrais.
• Xenoblásticos (xenoblastic): quando os minerais são anhedrais.

Os contatos entre os grão podem também fornecer indicações sobre a


gênese do mineral e os processos tectônicos envolvidos. Os principais tipos de
contatos são:
• Retos a levemente curvados (linear to curvilinear): são indicativos de
equilíbrio entre os cristais adjacentes e, comumente estão presentes em texturas em
mosaico.
• Interlobado (interlobate): são produzidos pelas diferenças da energia
superfical de grão, o que faz com que a borda o cristal mais energético migre para
dentro do cristal de menor energia, com formas arredondadas a levemente alongadas.
• Interdigitado ou amebóide (interfingered or ameboid): consitui-se em um
estágio mais avançado de migração de bordas que o lobado.
• Serrilhado (serrate): são formados por dissolução e interpenetração dos
cristais, em formas semelhantes o de dentes de serra.
• Suturado (suturated): são semelhantes ao serrilhado, mas com
interpenetração mais cerrada, assemelhando a um cerzido.

10 VARIAÇÃO NA INTENSIDADE DO METAMORFISMO

Quanto maior a temperatura e/ou pressão ou a taxa de deformação em que


uma rocha se forma, maior é considerado o seu grau metamórfico. Isto é identificável
de dois modos:

a) Pelo aparecimento de minerais específicos, que só se cristalizam em


condições físicas mais rigorosas, seja em metamorfismo regional dinamotermal, seja
em metamorfismo de contato.
b) Pelo aumento da granulação da rocha, devido ao processo de
cristalização acretiva dos grãos, como do quartzo em arenitos e calcita em calcários.
De modo geral, quanto maior a granulação dos minerais, maior é o grau metamórfico.
Neste caso há uma tendência de perda gradativa das texturas e estruturas da rocha
original. Este fenômeno é mais evidente nas rochas de metamorfismo de contato e nas
ardósias filitos e xistos do metamorfismo regional dinamotermal pois, em grau mais alto
a altas taxas de deformação podem estirar e posteriormente recristalizar os minerais
em granulação mais fina.
c) Pelo tipo de foliação metamórfica, variando da clivagem ardosiana nas
rochas de mais baixo grau até a foliação granulítica, ou as estruturas migmatíticas nas
de mais alto grau.
d) Pelo grau de moagem em cataclasitos e pela intensidade da moagem, da
foliação e da recristalização em milonitos
10.1 Fácies Metamórficas
A variação do grau do metamorfismo pode ser classificadas segundo dois
sistemas, as fácies metamórficas (Eskola, 1939) ou o grau metamórfico (Winkler,
1977).
O reconhecimento da cristalização de determinados minerais metamórficos
em função da variação da temperatura foi inicialmente feito por G. Barrow, ao estudar
os metapelitos da região do Dalradian, na Scottish Highlands.
Nestes estudos Barrow observou o aumento da granulação dos minerais com o
aumento da pressão e da temperatura e interpretou as seqüências de minerais zonas
de metamorfismo progressivo, caracterizadas pelos seguintes minerais índices:

clorita → biotita → granada → estaurolita → cianita → sillimanita

Na região de Buchan verificou que os minerais seguiam outra seqüência,


caracterizada por:

biotita → cordierita → andalusita → sillimanita

Posteriormente Tilley (1924, 1925), ao confirmar a existência destas zonas


no Dalradian, definiu o termo isógrada como a representação de uma linha de grau
metamórfico constante que limitaria duas zonas metamórficas.
Ao estudar as rochas metamórficas termais da auréola do granito de Orijãrvi
(Finlândia), derivadas de rochas básicas ígneas e vulcanosclásticas Eskola (1914,
1915) verificou haver uma sequência de surgimento de minerais metamórficos em
função da distância do contato com a rocha ígnea e, comparando seus resultados com
os obtidos por Goldschmidt (1911) em uma auréola da região de Oslo (Noruega),
observou que rochas composicionalmente semelhantes das duas localidades geraram
diferentes assembléias de minerais. Eskola atribuiu tais diferenças às variações de
temperatura e de pressão, às quais foram submetidas as rochas das duas localidades,
e cunhou o termo de fácies metamórficas para explicar as assembléias de minerais
encontradas. Assim, o termo fácies metamórfica implica em diferentes paragêneses
para diferentes litotipos submetidos a uma mesma condição de temperaturas e de
pressão.
Este conceito diferiu-se dos anteriores por considerar para definição das
condições de pressão e de temperatura do evento metamórfico as assembléias de
minerais e não apenas um mineral. Assim, diferentes rochas, com diferentes
composições químicas, poderiam ter seu grau metamórfico estimado através de
diversas assembléias, presentes em cada um dos litotipos, como exemplificado na Fig.
18.
Como conseqüência, nos muitos estudos que se seguiram, foi definido um
grande número de fácies metamórficas, o que tem levado muitos pesquisadores a
abandonar o conceito em favor do conceito de grau metamórfico, mas os termos
utilizados para definição das oitos fácies básicas estão fortemente arraigados nos
pesquisadores do mundo todo, sendo muito utilizado. assim como o grau metamórfico.
A aplicação das fácies metamórficas deve levar em consideração o seguinte:

a) Uma vez que as fácies metamórficas foram definidas para rochas básicas
ígneas e vulcanoclásticas metamorfisadas, há diferenças mineralógicas substanciais
com as zonas metamórficas de Barrow, definidas em metapelitos. A relação entre
ambos conceitos pode ser observada na Fig. 19.
Por exemplo, a 550 oC e a 5kbar observa-se:

Metapelitos: cianita + granada + estaurolita + muscovita + quartzo


Metabasitos: hornblenda + epidoto + plagioclásio + granada + clorita
Metarnargas: diopsídio + calcita + tremolita + zoisita

b) Os limites entre diferentes fácies metamórficas representam condições de


P- T onde ocorrem reações químicas maiores nos metabasitos. Em geral os minerais
chaves são adicionados ou parcial ou totalmente removidos da assembléia de minerais
ao cruzar-se estes limites, como, por exemplo:

Fácies xisto verde: clorita + epidoto


Fácies anfibolito: clorita + epidoto + hornblenda
Fácies granulito: anfibólio Î ortopiroxênio

c) Os limites das fácies não são absolutos e sim zonas, pois as reações que
as separam não são univariantes, e sim multivariantes.
d) As fácies dependem não somente da temperatura e da pressão litostática,
mas também da PH20. Em geral quando PH20 < PT as temperaturas dos limites tendem a
ser mais baixas.
e) Em geral as paragêneses definem o pico metamórfico (Tmáx.), mas em
algumas situações, especialmente em regiões metamorfisadas na fácies xisto azul,
pode-se preservar apenas as paragêneses do retrometamorfismo. As texturas de
desequílibrios são muito importantes para definição das trajetórias P–T– t.

FIGURA 18. Esquema da cristalização sequenciada de diferentes minerais em rochas com


composições distintas, que implicam na definição das fácies matamórficas.

FIGURA 19. Esquema da cristalização sequenciada de diferentes minerais em rochas com


composições distintas, que implicam na definição das fácies matamórficas.
FIGURA 20. Distribuição das fácies metamórficas no campo P-T, onde (Z) fácies zeolítica, (PP)
fácies prehnita-pumpellyita, (XV) fácies xisto verde, (EA) fácies epidoto anfibolito. (A) fácies
anfibolito, (G) f;acies granulito, (XA) fácies xisto azul, (E) fácies eclogito, (AE) fácies albita-
epidoto hornfels, (H) fácies hornblenda hornfels, (p) fácies piroxênio hornfels, (S) fácies
sanidina hornfels, (Ad) andalusita, (Ky) cianita e (Sil) sillimanita. As linhas tracejadas separam
os campos das fácies xisto verde e anfibolito, sem a fácies epidoto anfibolito.

As fácies metamórficas atualmente consideradas (Fig. 20) são as seguintes:

a) Fácies zeolítica ou das zeólitas: ocorre em temperaturas muito baixas,


no limite entre a diagênese e o metamorfismo e são caracterizadas pela presença de
zeólitas, tais como analcima, heulandita, etc. em associação com sericita e clorita.
b) Fácies prehnita–pumpellyita: ocorre em temperaturas e pressões aum
pouco e possem, caracteristicamente prehenita-pumpellita em associação com sericita
e clorita
b) Fácies xisto verde são definidas por paragênes estáveis em
temperaturas e pressões baixas, mas maiores dque as da fácies anterior, tipicamente
representadas por associações minerais com sericita, clorita, biotita e granada
almandínica nos metapelitos e actinolita, tremolita, albita, epidoto, clorita ecarbonatos
nos metabasitos.
c) Fácies epidoto anfibolito: esta fácies constitui-se na transição entre as
fácies xisto verde e anfibolito e não é distinguida por muitos autores. É formada por
albita em equilíbrio com actinolita-hornblenda, com clorita e epidoto subordinados,
clinozoisita abundante e, eventualmente, granada.
d) Fácies anfibolito: ocorre em temperaturas médias a altas e pressões
médias, possuindo os metapelitos estaurolita, cianita, sillimanita e feldspato potássico e
oligoclásio−andesina nos metabasitos hornblenda .
e) Fácies granulito: nesta fácies as rochas são formadas em temperaturas
e pressões muito altas, com pouca água, resultando na cristalização de orto- e
clinopiroxênios.
f) Fácies xisto azul: é característica do tipo bárico de alta pressão do
metamorfismo regional dinamotermal de rochas básicas, nas quais tipicamente ocorre
glaucofânio, epidoto e aragonita
g) Fácies eclogito: ocorre em temperaturas e pressões muito alta,
possuindo os metabasitos onfacita e granada piropítica e os metapelitos talco e cianita.

Em rochas de metamorfismo de contato (Fig. 21) podem ser reconhecidas


as seguintes fácies metamórficas:
a) Fácies albita-epídoto hornfels: com paragêneses semelhantes à fácies
xisto verde.
b) Fácies hornblenda hornfels: com paragêneses semelhantes à fácies
anfibolito.
c) Fácies piroxênio hornfels: nesta fácies as rochas são formadas em
temperatura alta, possibilitando a cristalização de piroxênios.
d) Fácies sanidina hornfels: ocorrem em temperaturas ainda mais altas
que a fácies anterior, possibilitando a cristalização de sanidina, e, geralmente, associa-
se a intrusões de rochas básicas ou ultrabásicas.

10.2 Grau Metamórfico


O grau metamórfico utiliza os mesmos minerais na sua subdivisão (Fig. 21),
sendo distinguido o grau incipiente, que correspende as fácies zeolítica e prehenita
pumpelleita, grau fraco (fácies xisto verde), grau médio (fácies anfibolito) e grau
forte, que inclui as fácies granulito e eclogito e os migmatitos. Nesta classificação,
pode ser acrescentado o tipo bárico, como metamorfismo de grau incipiente de pressão
muito alta, para referir-se aos xistos azuis, por exemplo.

FIGURA 21. Distribuição esquematico da variação grau metamórfico no campo P-T, dos
metamorfismo regional dinamotermal e de contato, segundo (Winkler, 1977)

No estudo dos terrenos metamórficos metapelíticos são adotados alguns


minerais para caracterização da variação da intensidade do metamorfismo,
denominados como mineral índice, como, por exemplo, clorita, estaurolita,
hornblenda, etc. As superfícies isotérmicas e/ou isobáricas de surgimento do mineral
índice são denominadas isógrada, como a isógrada da sillimanita ou do ortopiroxênio,
por exemplo, correspondendo, em campo, a uma linha que define o primeiro
surgimento de um determinado mineral índice. A faixa compreendida entre duas
isógradas são chamadas de zona do mineral, que nos metapelitos são as seguintes:
a) zona da zeólita: zona na qual estão presentes apenas minerais do grupo
das zeólitas, além de quartzo e sericita.
b) zona da clorita: tem somente clorita, não existindo biotita ou os demais
minerais.
c) zona da biotita: com clorita e biotita, mas sem os demais minerais
índices.
d) zona da granada almandina: com biotita e granada de ferro.
e) zona da estaurolita: com biotita, granada e estaurolita.
f) zona da cianita: com biotita, granada e cianita, mas sem estaurolita, que
desaparece devido às altas temperaturas.
g) zona da sillimanita: com biotita, granada e sillimanita, mas sem cianita
estável, que transforma-se em sillimanita pelo aumento da temperatura.
h) zona do feldspato potássico ou da segunda isógrada da sillimanita:
após a zonas da sillimanita nos xistos, há decomposição de muscovita + quartzo em
feldspato potássico, Al2SiO5 e H2O, provocando o surgimento das rochas gnáissicas.
i) zona do hiperstênio: em temperaturas ainda mais altas, em rochas
anidras ou com pouca água, cristalizam clino- e ortopiroxênios, gerando as rochas
denominadas de granulitos.
j) zona dos migmatitos: onde a água é relativamente abundante há fusão
parcial dos gnaisses formando as rochas migmatíticas, em regime também
denominado como ultrametamorfismo.

10.3 Séries Faciais de Metamorfismo


Miyashiro (1961) reconheceu em cinturões metamórficos do Japão que a
seqüência de minerais não era a mesma observada nos litotipos da Escócia e,
analisando os dados introduziu o conceito da série facial de metamorfismo, também
conhecido como tipos báricos do metamorfismo, quais sejam:

a) De alta pressão, também chamado Sanbagawa (Miyashiro, 1961),


Franciscano (Turner, 1981) e de xisto azul ou glaucofânio xisto (Harker, 1932), devido à
presença de anfibólios sódicos, como o glaucofânio. Caracteristicamente a pressão é
alta e as temperaturas muito baixas. A progressão do metamorfismo é dada por:

zeólitas → prehnita → pumpellyita → xistos azuis (glaucofânio + lawsonita ou epidoto +


albita-clorita) → eclogito (granada + onfacita)

b) De pressão intermediária, também denominado de Barrowiano (Harker,


1932), ou cianita–sillimanita (Miyashiro, 1961), Canigou (Guitard, 1965) ou Dalradiano,
definido pela cristalização, com o aumento da temperatura de:

xistos verdes (clorita + albita + epidoto + actinolita) → epídoto anfibolito (homblenda +


aIbita-oligoclásio + epidoto + granada) → anfibolito (homblenda + oligoclásió-andesina
+ granada) → granulito (ortopiroxênio + clinopiroxênio + plagioclásio + homblenda +
granada)
c) De baixa pressão, também denominado de Abukuma ou Ryoke–
Abukuma (Miyashiro, 1958), New Hampshire (Turner, 1981), andalusita–sillimanita
(Miyashiro, 1961) Carança ou Lech (Guitard, 1965) ou Buchan (Harker, 1932),
caracterizado pela cristalização sequenciada de:

biotita → cordierita → andaIusita → sillimanita


B. TIPOS DE METAMORFISMO E AMBIENTES GEOLÓGICOS DE FORMAÇÃO

Caetano Juliani

INTRODUÇÃO

Os terrenos metamórficos podem ser classificados com base nos principais


fatores envolvidos na sua formação, na abrangência geográfica onde o processo
metamórfico se manifesta, no contexto orogenético ou no ambiente geotectônico, como
os limites divergentes ou convergentes de placas tectônicas, zonas de cisalhamento,
rifts continentais ou oceânicos, etc, além de agentes externos, como a queda de
meteoritos.
Nenhuma das classificações é mais ou menos importante ou correta. Assim,
o uso de um ou outro tipo de classificação deve ser feito em concordância com os
enfoques dos estudos que estão sendo feitos.

1 TIPOS DE METAMORFISMO

Os principais tipos e classificação do metamorfismo é apresentado a seguir.


Outros tipos estão relacioados no glossário de termos geológicos.

1.1 Fator metamórfico predominante


Esta classificação fundamenta-se na predominância da pressão dirigida, na
temperatura, ou na ação concomitante de ambos fatores e são assim denominados:

1.1.1 Metamorfismo termal (thermal metamorphism)


Como o próprio nome indica, o principal fator envolvido neste tipo de
metamorfismo é a temperatura, sendo muito pouco efetiva a pressão dirigida, o que faz
com que os litotipos tendam a não ser foliados. Caracteristicamente é encontrado nas
proximidades de rochas ígneas intrusivas (Fig. 1).

1.1.2 Metamorfismo dinâmico (dynamic metamorphism), também


denominado metamorfismo de alta tensão (high-strain), metamorfismo de
deslocamento (dislocation metamorphism) e metamorfismo cataclástico (cataclastic
metamorphism)
O processo mais importante no metamorfismo dinâmico é a pressão dirigida,
que usualmente acompanha as zonas de cisalhamento (Fig. 1). O cisalhamento causa
moagem e rolamento dos fragmentos, podendo ocorrer ainda recristalização, quando a
temperatura é relativamente mais alta, e fusão localizada, gerada pelo atrito.

1.1.3 Metamorfismo dinamotermal (dynamothermal metamorphism)


Neste tipo, o metamorfismo é causado pelo aumento concomitante da
temperatura e da pressão, incluindo a litostática e a dirigida (Fig. 2). Este é um dos
tipos mais importantes, e constitui-se no principal gerador das rochas metamórficas
mais comuns, ocorrendo nos limites convergentes de placas tectônicas.

FIGURA 1. Esquema do Grupo Serra do Itaberaba (SP), indicando o metamorfismo termal nas
bordas dos granitos (setas) e dinâmico na zona de cisalhamento (Garda et al., no prelo).

1.2 Ambiente geológico


O critério fundamental é a distribuição geográfica dos eventos metamórficos,
que podem ser relativamente restritos ou locais, ou de abrangência regional,
geralmente ocorrendo em faixas com milhares de quilômetros de comprimento e de
centenas quilômetros de largura, associadas a zonas de subducção.
1.2.1 De Expressão Local
a) Metamorfismo de contato (contact metamorphism)
Este tipo é o principal representante do metamorfismo termal, distribui-se ao
redor de intrusões de rochas ígneas e podem afetar tanto rochas sedimentares e
vulcânicas como metamórficas (Fig. 1 e 3). As rochas metamórficas formam uma
auréola que pode ter milhares de metros de espessura, na qual há um gradativo
aumento do grau em direção ao corpo ígneo, que nem sempre está aflorante. As
dimensões da auréola de contato são função da da diferença da temperatura entre
encaixante e da intrusiva e da massa da intrusão, que quanto maior, mais energia
carrega, possibilitando a ação térmica por mais tempo e por maior distância (Fig. 4 e 5).

FIGURA 2. Esquema de dois limites convergentes de placas tectônicas, com formação de


arcos de ilhas à esquerda e de uma cadeia orogenética à direita, onde desenvolve-se o
metamorfismo dinamo-termal. Nos limites divergentes ocorre o metamorfismo oceânico na
dorsal meso-oceânica e de soterramento no rift continental. na base da crosta continetal ocorre
o metamorfismo geotermal. Modelo de placas tectônicas segundo USGS.

A solidificação da rocha ígnea pode liberar, em função de sua composição,


grande quantidade de fluidos, que podem alterar profundamente a composição química
e isotópica da rochas encaixantes, causando metassomatismo.
Um subtipo do metamorfismo de contato é chamado de pirometamorfismo,
que ocorre nas encaixantes, muito junto à borda da intrusões básicas, ou em xenólitos,
em temperaturas muito maiores que aquelas verificadas na rochas ácidas, gerando
rochas muito finas, quase vítreas, e apresentam espessuras muito pequenas, por
vezes centimétricas.
b) Metamorfismo cataclástico (cataclastic metamorphism), também
denominado de metamorfismo de alta tensão (high strain) ou de metamorfismo de
deslocamento (dislocation metamorphism)
O metamorfismo cataclástico corresponde ao dinâmico, no qual a pressão
dirigida é o principal fator envolvido na sua gênese. Sua ocorrência se dá tipicamente
em zonas de cisalhamento (Fig. 1), onde as rochas são cominuídas (moídas) e,
comumente, recristalizadas. As rochas podem ser foliadas ou não, sendo
genericamente denominadas, respectivamente, de milonitos e cataclasitos. Os
cataclasitos são formados por processos predominatemente rúpteis, em níveis crustais
mais altos, com pouca taxa de fricção e em temperaturas mais baixas, resultado na
ausência ou em baixas taxas de recristalização e, muitas vezes, na formação de
materiais friáveis ou inconsolidados.

FIGURA 3. Auréola de contato (zona hachurada) ao redor do stock granítico de Marysville,


Montana, caracterizando o metamorfismo de distribuição local (Winkler, 1977).
FIGURA 4. Modelo da influência térmica com a distância da intrusão de um corpo de
grandiorito nas rochas encaixantes (Turner, 1981).

FIGURA 5. Modelo de resfriamento de rochas de metamorfismo de contato nas bordas de uma


intrusão de granodiorito (Turner, 1981).

Em rochas anidras e em temperaturas muito baixas e com pressão dirigida


muito alta pode ocorrer fusão localizada dos litotipos, resultando em rochas chamadas
de pseudotaquilitos.
c) De impacto (shock metamorphism)
O metamorfismo de impacto é causado pela queda de grandes meteoritos,
com diversos registros na história da terra, com geração de crateras de impacto (Fig.
6). Neste caso, a pressão torna-se momentâneamente extremamente elevada, gerando
estruturas características, como os shatter cones e polimorfos de SiO2, como a
coesita e a stishovita.

FIGURA 6. Exemplo de cratera de impacto de meteorito, à qual associa-se metamorfismo local


de impacto (foto de Nicholas M. Short).

d) Metamorfismo hidrotermal (hydrothermal metamorphism)


O metamorfismo hidrotermal é provocado pela circulação de fluidos
aquecidos, geralmente oriundos de intrusões de rochas ígneas, que provocam
alterações químicas pela remoção ou introdução de elementos químicos nas rochas,
causando metassomatismo. Pode também ser de caráter regional, como o
metamorfismo oceânico.

e) Autometamorfismo (autometamorphism)
Este tipo de metamorfismo referem-se às transformações que ocorrem
internamente aos corpos de rochas ígneas, causado pelos fluidos liberados pela
cristalização dos minerais e, muitos autores consideram estes processos como
relacionados ao campo de estudo das rochas ígneas e não das metamórficas.
Os fluidos magmáticos no estágio pós-magmático estão ainda em
temperaturas muito altas, inicialmente muito próximas ao do solidus, e são muito
reativos, o que provoca transformações nos minerais ígneos, dentre as quais
predomina a hidratação parcial, gerando estruturas coroníticas, por envolverem os
minerais anidros. É tipo de metamorfismo é mais significatico, pelas composições
mineralógicas, em corpos de rochas básicas e ultrabásicas.

1.2.2 Regional
São também subdivididos em vários subtipos, quais sejam:

a) Regional dinamotermal (regional dynamothermal metamorphism), ou


simplesmente regional (regional metamorphism), também denominado de regional
orogênico (orogenic metamorphism), por associar-se a zonas de colisão de placas
tectônicas, ou seja nos cinturões orogenéticos (Fig. 2). Nestas regiões as rochas
sedimentares e vulcânicas depositadas nas margens continentais ou nas fossas
associadas a arcos de ilhas são metamorfisadas pelo aumento concomitante da
temperatura, da pressão litostática e da pressão dirigida, ou seja, este tipo
correlaciona-se ao metamorfismo dinamotermal. Tipicamente as rochas são foliadas e
as condições variam de ~ 200o C e > 900o C e até mais de 22 kbar, com variação
contínua do grau metamórfico (Fig. 7), que resulta na cristalização sequenciada de
diversos minerais metamórficos.
Dependendo do tipo das crostas e das colisões, este metamorfismo pode ser subdivido
em diferentes regimes báricos (Fig. 8).

FIGURA 7.Mapa das isógradas de metamorfismo regional dinamotermal, segundo Tilley (1925,
em Yardley, 1994)
FIGURA 8. Distribuição no campo P–T dos tipos báricos de metamorfismo (Miyashiro, 1973).

- de baixa pressão, também denominado de Abukuma ou Ryoke-Abukuma


(Miyashiro, 1958), New Hampshire (Turner, 1981), andalusita-sillimanita (Miyashiro,
1961) Carança ou Lech (Guitard, 1965) ou Buchan (Harker, 1932).
- de pressão intermediária, também denominado de Barrowiano (Harker,
1932), ou cianita-sillimanita (Miyashiro, 1961), Canigou (Guitard, 1965) ou Dalradiano.
- de alta pressão, também chamado Sambagawa (Miyashiro, 1961),
Franciscano (Turner, 1981) e de xisto azul ou glaucofânio xisto (Harker, 1932), devido à
presença de anfibólios sódicos, como o glaucofânio. Caracteristicamente a pressão é
alta e as temperaturas muito baixas.

O metamorfismo regional dinamotermal pode afetar rochas metamorfisadas por


soterramento ou oceânicas e os seus produtos podem sofrer re-metamorfismo, como
exemplificado no esquema evolutivo da Fig. 9.

b) Geotermal ou de confinamento (geothermal metamorphism)


O metamorfismo geotermal (Combs, 1961) ocorre na base da crosta, em áreas
tectonicamente estáveis. Nesta situação a pressão litostática é alta, a dirigida é
praticamente ausente e as temperaturas são também elevadas, resultando em rochas
maciças, de granulação geralmente grossa, de alto grau metamórfico.
.
FIGURA 9. Esquema evolutivo da região de Guarulhos (SP), com a formação e metamorfismo
em pressão intermediária do Grupo Serra do Itaberaba no Mesoproterozóico, com a deposição
e metamorfismo em baixa pressão do Grupo São Roque (azul-escuro e amarelo-claro) no
Neoproterozóico. Este evento foi responsável pelo re-metamorfismo das unidades geológicas
mais antigas (Juliani et al., 2000). Notar os estágios de metamorfismo de soterramento,
oceânico, de contato e cataclásticos, onde pode ser observada sobreposição de diversos
eventos metamórficos e o dos litotipos do Grupo Serra do Itaberaba, causado pela orogênese
do Grupo São Roque. Cor rosa = embasamento siálico; GSI: verde = metavulcânicas
oceânicas, amarelo = quartzitos, creme = metapelitos, azul = metassedimentos da bacia de
retro-arco.
c) De soterramento (burial metamorphism)
No metamorfismo de soterramento os processos são análogos aos
anteriores, mas sua ocorrência dá-se em bacias sedimentares profundas, ou seja, sob
condições de temperatura e pressão bem menores que no caso anterior. As atividades
vulcânicas na bacia são geralmente importantes para o aumento do grau geotérmico na
bacia, necessário para ultrapassar as condições diagenéticas. Como a temperatura não
é muito elevada nestes níveis crustais, as rocha tipicamente apresentam paragêneses
minerais ricas em micas e zeólitas, prehnita, pumpellyita, sericita e clorita e ausência
de foliações.

d) Metamorfismo oceânico (ocean-floor metamorphism) ou de cadeia


meso-oceânica
Este tipo relaciona-se à evolução das dorsais meso-oceânicas e é bem
estudado em complexos ofiolíticos. É gerado pelo aquecimento da crosta oceânica,
especialmente nas proximidades da cadeia meso-oceânica (Fig. 10), ou seja, em
limites divergentes de placas tectônicas (Fig. 2 e 11). Nestas regiões há forte
hidratação das rochas básicas em profundidades superiores a 3 km, em temperaturas
geralmente inferiores a 350 – 400 oC. Entretanto, em algumas regiões, como na Zona
de Fraturas Atlantis II (Oceano Índico) tem sido observadas paragêneses indicativas de
temperaturas superiores a 800 oC. As rochas tipicamente não são foliadas, exceto
aquelas situadas nas proximidades de falhas transformantes. Também são verificados
em bacias de retro-arco, como no modelo definido por Garda et al. (2002), para o
Grupo Serra do Itaberaba (Fig. 12).

e) Regional de contato (regional contact metamorphism)


Em regiões orogenéticas pode haver grande número de intrusões de rochas
ígneas ácidas nos arcos magmáticos, o que faz com que uma auréola de contato
sobreponha-se à vizinha, gerando rochas de baixa pressão e alta temperatura em
escala regional.

f) Anquimetamorfismo (anchimetamorphism)
Este termo tem sido pouco usado nos dias de hoje e refere-se a rochas
metamorfisadas no limite com a diagênese, preservando, desta forma, a maioria das
características dos protolitos, sejam ígneos ou sedimentares.
FIGURA 10 − Esquema de formação do metamorfismo oceânico em dorsais meso-oceânicas,
segundo Alexander et al. (1986).

FIGURA 11. Esquema de zona divergente de placas oceânicas, com indicação da circulação
de fluídos que causam o metamorfismo de fundo oceânico (Segundo Press & Siever, 2002)

1.2.3 Ambiente tectônico


Esta classificação é fundamentada no posicionamento dos terrenos
metamórficos relativamente às placas tectônicas, quais sejam:

a) De interior
Refere-se aos tipos de metamorfismo que ocorrem em regiões relativamente
estáveis, plataformais, ou seja, a pressão dirigida tem papel pouco importante nestes
ambiente. Os principais tipos são o metamorfismo geotermal, de soterramento e
contato (ou termal), associado a magmatismo ácido do tipo A, básico-ultrabásico e
alcalino, assim com básico em ilhas oceânicas. Também pode ser regional
dinamotermal de baixo grau e pressão.

FIGURA 12. Esquema de formação de rochas metamorfisadas em fundo oceânico no Grupo


Serra do Itaberaba (SP), segundo Garda et al. (2002).

b) De limites divergentes
Tipicamente é representado pelo metamorfismo oceânico, nas dorsais meso-
oceânicas e de soterramento em rifts continentais. Também ocorre metamorfismo de
contato associado a intrusões de rochas ígneas, predominantemente básicas nas
dorsais meso-oceânicas ou ácidas em rifts continentais.

c) De limites transformantes
São eventos metamórficos associado a zonas de falhas transformantes,
onde ocorre metamorfismo cataclástico e oceânico.

d) De limites convergentes
Este é o principal sítio de ocorrência do metamorfismo dínamotermal ou
regional, bem como cataclástico ou dinâmico, de contato e termal, dentre outros. Este
limites podem ser de crosta oceânica-crosta arco de ilhas, crosta continental−crosta
oceânica ou crosta continental−crostal continental.
C. CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DAS ROCHAS METAMÓRFICAS

Caetano Juliani

INTRODUÇÃO

Devido às complexidades inerentes ao conjunto das rochas metamórficas,


elas podem ser classificadas de diversas formas, de acordo com o grau do
conhecimento, tipo do trabalho, objetivos, etc.
De modo geral, os nomes das rochas metamórficas devem ser baseados em
feições facilmente reconhecíveis, como heranças dos protolitos, composição modal ou
química, estruturas tectônicas e texturas metamórficas, e devem fornecer o máximo
possível de informações a respeitos da rocha.
Na classificação, deve-se buscar sempre a maior precisão possível, mas,
somente com dados de campo as denominações normalmente tendem a ser mais
genéricas. Quando a quantidade das informações aumenta, com dados petrográficos
ou químicos, a classificação torna-se mais precisa. Por exemplo, um determinado
conjunto de rochas pode ser genericamente referido como metassedimentar, mas com
maior detalhe podem ser identificados quartzitos, metarenitos, metapelitos rítmicos,
metapelitos carbonosos, etc. Com maior definição geológica e petrológica poderiam ser
caracterizados ainda metaturbiditos dentre os metapelitos, compostos por clorita-
sericita ardósias rítmicas. De modo análogo, uma rocha básica pode ser identificada
como metadiabásio quando houver estruturas ígneas reliquiares e relações de
discordância indicativas da origem intrusiva rasa. Quando sua origem não pode ser
determinada como intrusiva subvulcânica (diabásio) ou plutônica (gabro), efusiva
(basalto) ou vulcanoclástica (tufo ou brecha vulcânica), usa-se a terminologia mais
genérica, como metabasitos, ou anfibolitos, por exemplo.
A base para a classificação pode ser as estruturas planares presente na
rocha ou não, a origem, o principal fator do metamorfismo ou a mineralogia essencial.
As principais classificações são as seguintes:

1 CLASSIFICAÇÃO BASEADA NO PROTOLITO

É utilizada quando a rocha possue relíquias de texturas e estruturas que


permitam o reconhecimento da rocha original. Neste caso a rocha deve ser identificada
pelo nome do protolito, juntamente com o prefixo meta-, como: metarenito, metapelito,
metaconglomerado, metabasalto, metacalcário, etc.
Adota-se aqui que os metapelitos são rochas que possuem mais de 65% de
micas, cuja composição é completada, predominantemente, por quartzo e/ou feldspato.
Muitos autores (Robertson, 1999) consideram os metapelitos como formados por 40%
ou mais de micas e definem um conjunto intermediário entre os metapelitos e os
metarenitos feldspáticos ou não (com > 80% de quartzo + feldspatos), chamados de
meta-semipelitos.
Entretanto, as rochas sedimentares argilosas são aquelas que têm mais de
75% do volume da rocha de argilo-minerais (Fig. 1) e, considerando as composições
químicas da illita, caolinita, nontronita, montmorilonita, saponita, da muscovita, da
clorita e da biotita, um metapelito de baixo grau metamórfico possuiria pouco mais de
75% de micas em sua composição.
Com o aumento do grau metamórfico há consumo de clorita e biotita,
resultando em acréscimo do teor de quartzo em grau mais alto, razão pela qual adota-
se o limite para definição dos metapelitos um teor de micas superior a 65%. Assim,
rochas de baixo grau podem ser classificadas segundo a Fig. 1, seguindo a
nomenclatura sedimentar, como metapelitos (ou metargilitos) para rochas com mais de
65% de micas e comm texturas sedimentares, além de metagrauvaca, metalito-arenito,
metarenito, metarenito arcoseano, etc. Devido às típicas estruturas rítmicas dos
metapelitos, é muito comum que ocorram rochas que, em média, possuem < 60% de
micas, compostas por leitos com grande volume de micas alternados com outros com
maior volume de quartzo. Nestes casos, quando há predominância de leitos de
metapelito, a rocha pode ser descrita como um “metapelito com intercalações de
metassiltito, ou em mais alto grau, como um “granada-muscovita xisto com
intercalações de mica-quartzo xisto”, por exemplo. Caso predominem os termos
quartzosos a regra é aplicada com destaque para o litotipo predominante.
Em grau mais alto, ao invés do uso do termo semi-pelito, adota-se a
denominação de quartzo (e/ou feldspato) micaxisto, ou de micaxisto feldspático.
Quartzitos e quartzitos feldspáticos, etc, desta forma, restringem-se a rocha com
menos de 15% de micas.
Para rochas sem feldspatos e clastos líticos, utiliza-se a classificação da Fig.
2 e para rochas com fragmentos grossos a da Fig. 3.
Para referências gerais, usa-se o prefixo para- para as rochas
metassedimentares e orto- para meta-ígneas, como, por exemplo, paragnaisse
(derivado de sedimentos argilosos ou arcoseanos) e ortognaisse (derivado de um
granito).
FIGURA 1. Classificação de Pettijohn et al. (1987) para rochas sedimentares clásticas,
na qual baseia-se a nomenclatura das rochas metassedimentares clásticas.

FIGURA 2. Classificação para rochas sedimentares clásticas finas, na qual baseia-se a


nomenclatura das rochas metassedimentares clásticas.
FIGURA 3. Classificação para rochas sedimentares clásticas com fragmentos grossos,
na qual baseia-se a nomenclatura das rochas metassedimentares clásticas.

2 CLASSIFICAÇÃO ESTRUTURAL

É uma das principais classificações de campo e petrográfica e baseia-se nas


estruturas típicas das rochas. Os principais tipos são:

2.1 Ardósias: são rochas metassedimentares clásticas de baixo grau


metamórfico, ou seja, com pouca recristalização ou orientação dos minerais
metamórficos, que não são distinguidos a olho nú. A foliação é a clivagem ardosiana,
definida por planos finamente espaçados, em posição plano-axial ou em leque nas
dobras. A superfície da clivagem é bem plana e, tipicamente fosco.
2.2 Filitos: são rochas metassedimentares finas, com os minerais também
indistinguíveis a olho nú, usualmente com mais de 70% de sericita e/ou clorita. A
superfície da foliação também é plana, mas são um pouco mais irregulares que os
anteriores e a rocha parte-se com mais dificuldade que as ardósias e formam placas
menores. Estas superfícies apresentam brilho sedoso, devido ao aumento das
dimensões e melhor orientação dos minerais micáceos recristalizados.
2.3 Xistos: são rochas micáceas cuja granulação dos minerais varia de
muito fina a muito grossa, e apresentam uma ampla variedade de minerais
metamórficos. As superfícies torna-se cada vez mais rugosas e irregulares com o
aumento da granulação e pela cristalização de porfiroblastos de biotita, granada,
estaurolita, cianita, sillimanita, feldspatos, etc. Esta estrutura pode ser gerada tanto em
metapelitos, nos quais melhor se desenvolve, devido à abundância de minerais
micáceos, mas pode também estar presente em outros litotipos, como metamargas,
maetarenitos, metatufos, etc, sendo definida pelo estiramento dos minerais ou pela
textura nematoblástica.
2.4 Gnaisses: diferentemente das anteriores, esta estrutura é observada em
rochas essencialmente quartzo-felspáticas, com anfibólio e/ou biotita, granada, etc, ou
seja, latu sensu granítica. São características de rochas dos limites superiores do
médio grau, e podem ser derivadas de metassedimentos ou de rochas ígneas,
plutônicas ou vulcânicas. Em metarcóseos e metagrauvacas, que originalmente já são
enriquecidas em feldspatos, ou na matriz de metaconglomerados, esta foliação pode já
estar desenvolvida em rochas de baixo grau metamórfico, mas, devido ao
reconhecimento de relíquias sedimentares, estas rochas não devem ser chamadas de
gnaisse.
2.5 Migmatitos: após o surgimento das rochas gnáissicas, se houver água e
temperatura suficientes, pode haver fusão parcial (anatexia), inicialmente em leitos
com composição química mais próxima daquelas da fusão mínima granítica, resultando
nas estruturas migmatíticas. As porções claras produzidas pela fusão parcial são
denominadas de leucossoma, o resíduo da fusão ou o restito de melanossoma e as
partes originais de mesosoma. Estas estruturas podem também ser devidas à injeção
de de material granítico fundido, sendo possível, nestes casos a separação do
neossoma (o material granítico mais novo) e do paleossoma (o gnaisse mais antigo).
Um aspecto muito comum destas rochas é a gnaissificação de migmatitos, por
deformação, e a remigmatitização, tanto no mesmo evento metamórfico, como por re-
metamorfismo, que tipicamente são observados nos terrenos polimetamórficos.
2.6 Granulitos: são rochas quartzo-felspáticas com foliação semelhantes à
gnáissica, mas tipicamente não apresentam muscovita (a não ser retrometamórfica),
tem feldspatos esverdeados, biotita vermelha (rica em titânio), ortopiroxênio
(ortoferrosilita ou hiperstênio) e clinopiroxênio. A foliação, por ocorrer em temperaturas
ainda mais alta que nos gnaisses, mostra forte estiramento dos minerais,
especialmente do quartzo, que pode ficar completamente lenticularizado e
recristalizado internamente à lente, em arranjos granoblásticos. Em muitos casos os
granulitos são maciços e muito dificilmente estas rochas podem ser identificadas com
segurança em trabalhos de campo, havendo sempre necessidade de confirmação por
petrografia microscópica.
2.7 Hornfels ou cornubianitos: são rochas maciças, com textura
granoblástica, comumente com porfiroblastos radiados, em leque ou em feixes, e com
brilho vítreo. São típicas de metamorfismo de contato.
2.8 Granofels: são rochas maciças, com texturas semelhantes às
anteriores, mas geradas em metamorfismo regional em períodos sem stress, ou por
metamorfismo geotermal. A presença de porfiroblastos não é comum.
2.9 Fels: consituem rochas maciças, de granulação é bastante fina,
comumente sem porfiroblastos.
2.10 Cataclasitos e milonitos: são caracterizados pela moagem dos
minerais pré-existentes e associam-se a zonas de cisalhamento. Os cataclasitos
distinguem-se dos milonitos por não apresentarem foliação evidente.
2.11 Filonitos: são ultramilonitos de granulação muito fina, micáceos, com
os minerais totalmente recristalizados, gerando rochas com aspecto filítico. Podem ser
originadas de metassedimentos ou de rochas granito−gnáissicas, onde a moagem e
recristalização dos feldspatos potássicos gera muscovita e sericita e dos minerais
máficos e plagioclásio, clorita, epidoto e clinozoisita.
2.12 Blastomilonitos: são milonitos que apresentam mais de 90% dos
minerais cataclasados e recristalizados e, tipicamente ocorrem em zonas de
cisalhamento mais profundas, onde a temperatura começa a ter maior influência nos
processos metamórficos.

3 CLASSIFICAÇÃO MINERALÓGICA

Existe uma ampla variedade de rochas classificadas segundo a


predominância de um ou mais minerais, podendo ser destacadas as seguintes:

3.1 Mármore: rocha composta predominantemente por calcita e/ou dolomita,


que, dependendo das proporções, recebem diferentes denominações (Fig. 1).
3.2 Quartzito: formada por mais de 85% de quartzo, intensamente
recristalizada, maciça.
3.3 Serpentinito: compostas por basicamente por serpentina,
frequentemente com restos de olivina e/ou piroxênio, além de talco e carbonatos
magnesianos subordinados. São derivadas de rochas ultramáficas.
3.4 Esteatito: são rochas constituídas predominantemente por talco, com
magnesita e clorita magnesiana subordinados. São também denominadas pedra-
sabão.
FIGURA 4. Classificação das rochas carbonáticas, onde: (D) metadolomito, (CD) mármore
dolo-calcítico, (DC) metacalcário dolomítico; (L) mármore, (ID) metadolomito impuro; (IDC)
mármore dolo-calcítico impuro, (IDL) metacalcário dolomítico e (IL) mármore impuro.

3.5 Anfibolitos: são rochas com mais de 60% do anfibólio hornblenda e


textura granoblástica. Por vezes é utilizado quando outro anfibólio está presente, como
a cummingtonita, antofilita, etc.
3.6 Hornblendito: é um tipo de anfibolito com mais de 80% do anfibólio
hornblenda.
3.7 Tremolitito: indem, com mais de 80% do anfibólio tremolita.
3.8 Eclogito: um tipo de rochas de pressões muito altas, com o piroxênio
onfacita, granada rica em piropo e quartzo subordinado. Tipicamente possui
simplectitos de hornblenda e plagioclásio, e estruturas coroníticas, devido à
descompresão, quando do alçamento crustal.
3.9 Itabirito: rocha com leitos predominantemente de quartzo (antigo chert)
alternados com outros ricos em hematita.
3.10 Gondito: rocha rica em granada de manganês (espessartita) e quartzo,
ou formada por outros minerais manganesíferos, como os anfibólios, piroxênios, etc.
3.11 Turmalinito: são rochas metassedimentares evaporíticas ou exalítica
vulcanogênicas ou sedimentares, apresentando estrutura muito finamente laminada,
com alternância de turmalina (schorlita ou dravita) e quartzo, por vezes com sulfetos
abundantes. São considerados por alguns autores com uma fácies de formações
ferríferas.
3.12 Marundito: Metahidrotermalito ou metabauxito composto basicamene
por margarita, coríndon e rutilo. Pode apresentar cianita e restos de plagioclásio e
turmalina. 3.13 Granulito: rochas de alto grau metamórfico, metassedimentares ou
metaígneas, caracterizadas pela presença de hiperstênio.
3.14 Tactito: rochas carbonáticas ou calciossilicáticas de metamorfismo de
contato, com diopsídio, grossulária e tremolita, comumente com mineralizações de
scheelita, molibdenita, ouro, etc.
3.15 Xisto verde: refere-se a metabasitos ou metatufos foliados, de baixo
grau metamórfico, compostos por actinolita, epidoto-clinozoisita, clorita,
albita/oligoclásio, carbonatos, titanita e um pouco de quartzo.
3.16 Xisto azul: são metabasitos metamorfisados em regimes de alta
pressão e baixa temperatura, foliados e com anfibólios ricos em sódio, como o
glaucofânio e a croissita e a croissita, além de aragonita e, eventualmente, jadeíta.
3.17 Charnockito, charnoenderbito, enderbito: rochas graníticas com
feldspato esverdeado e ferrosilita.

4 CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA

Esta classificação baseia-se na composição quimica da rocha, que pode ser


também deduzida pela sua mineralogia. São geralmente nomeadas com o prefixo
meta- e podem ser subdivididas em:

4.1 Aluminosas: são rochas ricas em minerais aluminosos, como a


muscovita, a biotita, a sillimanita, cianita, coríndon, etc. São derivadas principalmente
dos sedimentos pelíticos, mas podem ser devidas de solos lateríticos, bauxitos e de
argilas de sistemas hidrotermais.
4.2 Silicosas: são rochas constituídas predominantemente por quartzo,
derivadas de arenitos quartzosos, cherts ou de rochas silicificadas em paleossistemas
hidrotermais.
4.3 Ultrabásicas ou magnesianas: são derivadas de rochas ígneas
ultrabásicas, como peridotitos, ou seja, com teores de SiO2 inferiores a 45%.
4.4 Básicas ou ferro-magnesianas: semelhantes às anteriores, mas
derivadas de derivadas basaltos, diabásios, gabros, brechas e tufos básicos, cujos
teores de SiO2 variam entre 45 e 52%. Tipicamente possuem conteúdos elevados de
minerais ferro-magnesianos e plagioclásio, o quartzo e o feldspato potássico são
minerais ausentes ou acessórios.
4.5 Intermediárias: são rochas com minerais ferro-magnesianos ainda em
teores importantes, mas já apresentam quartzo em volumes significativos (SiO2 entre
52 e 65%). Esta denominação é normalmente utilizada quando não mais é possível
distinguir-se a arigem vulcânica ou vulcanoclásticas de rochas ígneas de composição
intermediária, como andesitos, dacitos, tufos dacíticos, etc.
4.6 Ácidas: nestas rochas o quartzo sempre está presente em volumes
superiores a 20%, geralmente ultrapassando 30%. E baixo grau metamórfico,
muscovita e sericita são abundantes, devido à transformação do feldspato potássico e
vidro vulcânico. São derivadas riólitos e seus componentes vulcanoclásticos, ou de
rochas graníticas, apresentando mais de 65% de SiO2. A identificação de relíquias de
texturas típicas, como quartzo bipiramidal geralmente permite sua classificação mais
segura.
4.7 Alcalinas: são rochas metamórficas derivadas de rochas alcalinas,
geralmente presentes como diques metamorfisados, com relíquias anfibólio e piroxênio
sódicos, nefelina, etc, com Al2O3 < (Na2O + K2O).
4.8 Carbonáticas: são rochas constituídas predominantemente por
carbonatos, com micas ou silicatos subordinados, derivadas de sedimentos calcários
calcíticos, dolomíticos, etc.
4.9 Calciossilicáticas: refere-se a rochas sedimentares formadas por
misturas de carbonatos, pelitos e quartzo, como as margas, metamorfisadas
regionalmente ou em contato, bem como para metahidrotermalitos. Esta nomenclatura
é utilizada sem muitos critérios e aplicada a um conjunto muito grande e variado de
litotipos, variando desde um diopsídio quartzito até um tremolitito ou um diopsídio-
flogopita mármore. Rochas comumente possuem diopsídio, epidoto, grossulária,
hornblenda, actinolita, tremolita, titanita, uvarovita, wollastonita, vesuvianita,
plagioclásio cálcico, forsterita, flogopita, biotita e enstatita em proporções muito
variadas, mas perfazendo mais de 50% do volume da rocha. O restante dos minerais
geralmente é composto por carbonatos e quartzo. O termo é útil para descrições em
campo ou para identificação de unidades sedimentares maiores, mas não deve ser
utilizado nas descrições petrográficas.
4.10 Ferríferas: devidadas pelo metamorfismo de sedimentos ferruginosos
sedimentares ou vulcanogênicas, como os itabiritos, explotados como minério de ferro
em Minas Gerais. Os minerais de ferro são normalmente a hematita ou a magnetita,
mas podem ser também silicatos, carbonatos e sulfetos. Genericamene são
denominadas formações ferríferas.
4.11 Manganesíferas: são em sua origem, semelhantes às formações
ferríferas, mas predomina o manganês sobre o ferro. A mineralogia é muito variada
piroxênos, anfibólios, carbonatos e manganesíferos, bem como espessartita e óxidos e
hidróxidos de manganês primários. Genericamente são denominadas formações
manganesíferas.
4.12 Sulfetadas: são rochas sedimentares ou vulcanogênicas produzidas
pelo metamorfismo de depósitos de sulfetos, com pirita, calcopirita, pirrotita,
arsenopirita, etc. Geralmente associam-se a metapelitos grafitosos, formações
ferríferas ou a metacalcários.
4.13 Carbonosas e grafitosas: inclui uma vasta gama de rochas
metassedimentares ricas em carbono de origem orgânica, vulcanogênica ou
metamórfica, como os xistos grafitosos e os grafita mármores.

5 CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA

São termos consgrados que dentificam claramente o tipo do metamorfismo


que gerou as rochas, baseados no fator predominante do metamorfismo, quais sejam:

Metamorfismo regional ou dinamotermal: ardósia, xisto, gnaisse,


migmatito, etc.
Metamorfismo termal ou de contato: hornfels, buchito, etc.
Metamorfismo dinâmico ou cataclástico: cataclasito, milonito, filonito,
pseudotaquilito, etc.
Metassomatismo: serpentinitos, esteatito,escarnito, tactito, plumasito, etc.

6 NOMENCLATURA DAS ROCHAS METAMÓRFICA

Algumas tentativas tem sido feitas pela IUSG, aos moldes do que foi feito
para as rochas ígneas, para o estabelecimento de regras internacionais para
nomenclatura das rochas metamórficas, sem que haja ainda um consenso. Algumas
linhas gerais, entretando, podem ser estabelecidas, apresentadas a seguir.
A construção do nome da rocha metamórfica inicia-se com a definição do
nome raiz, a partir da estrutura tectônica predominante, do processo genético ou do
protolito e, eventualmente, a classificação mineralógica e química.
Como estruturas, destacam-se: ardósia, filito, xisto, gnaisse, migmatitos,
granulito, hornfel, granofels, fels, protocataclasito, cataclasito, ultracataclasito,
protomilonito, milonito, ultramilonito, filonito, blastomilonito.
Como nomes genéticos destacam-se, além de alguns já listados no ítem
anterior, como, hornfels, buchito, escarnito, hälleflinta, charnockito, etc
Como nomes de protolitos podem ser citados, metarenito,
metaconglomerado, metabasalto, etc.
Como nomes mineralógicos destacam-se: mármore, xisto azul, eclogito,
itabirito, etc.
Como nomes químicos, são utilizados também: metabasito,
metaultramáfica, meta-ácida, etc.

Em seguida, a mineralogia, preferencialmente modal, da rocha deve


acrescentado ao nome raiz, segundo a seguinte regra:

Minerais com mais que 5% em volume devem ser acrescentados antes do


nome raiz, sendo que quanto mais próximo, maior o seu volume. Diferentes minerais
são separados por hífens, mas o nome raiz não é separado por hífen.

Por exemplo, um metapelito com estrutura xistosa, com 40% de muscovita,


30% de quartzo, 10% de granada, 16% de biotita e 4% de estaurolita é denominado de:

GRANADA-BIOTITA-MUSCOVITA XISTO

Rochas não micáceas são tembém identicadas deste modo, como um


metabasito de grã média, foliado, com 10% de epidoto, 40% de andesina e 50% de
hornblenda, que seria denominada:

EPIDOTO-ANDESINA-HORNBLENDA XISTO

A não inclusão do quartzo é devida ao fato de ser o quartzo sempre um


mineral em excesso nos metapelitos, não havendo necessidade de destacá-lo no
nome, a não ser quando seu volume é muito maior que o normal, ou seja, quando a
rocha já grada para um semi-pelito ou um metarenito.

Um hornfels com 40% de diopsído, 20% de hornblenda, 20% de quartzo,


15% de granada e 4% de quartzo e 1% de plagioclásio é denominado:

GRANADA-QUARTZO-HORNBLENDA-DIOPSÍDIO HORNFELS
Um mármore com 10% de flogopita e 90% de calcita é denominado:

FLOGOPITA MÁRMORE

Um metabasalto com 40% de plagioclásio, 40% de hornblenda e 10% de


calcita é denominado:

CALCITA METABASALTO

Um metarenito com 80% de quartzo, 12% de sericita e 8% de clorita é


denominado:

CLORITA-SERICITA METARENITO

Um meta-calciarenito com 10% de quartzo, 6% de flogopita e 84% de calcita


é denominado:

FLOGOPITA-QUARTZO META-CALCIARENITO

Diversos qualificadores podem ser acrescentado as rochas, como:


a) Minerais com significado metamórfico (minerais-índice), genético, etc, em
teores menores que 5% modais: granada-muscovita xisto com cianita.
b) Granulação: anfibolito muito grosso, ultra-fino, etc.
c) Textura: granada-cianita gnaisse porfiroblástico, porfiroclástico, etc.
d) Estrutural: gnaisse bandado, laminado, foliado, dobrado, brechado,
hornfélsico, vesicular, etc.
e) Estruturas migmatíticas: migmatito estromatítico, etc.
f) Intensidade do processo: metabasito fortemente foliado, etc.
g) Índice de cor: leucognaisse, melanognaisse, etc, conforme tabela abaixo.

% de máficos Nome
< 1/10 do total Hololeucocrática
1/10 até 1/3 do total Leucocrática
1/3 até 2/3 do total Mesocrática
2/3 até 9/10 do total Melanocrática
> 9/10 do total Utramelanocrática
h) Origem sedimentar ou ígnea: ortognaisse, paranfibolito
i) Mineralógico: xisto feldspático, ardósia carbonática, filito calcítico, metatufo
básico sulfetado, mármore calciossilicático, etc.
j) Cor: metacalcário cinza, filito cinza-azulado, etc. Recomenda-se, neste
caso, o uso da Munsell Chart Color para estas denominações.
k) Caso ocorram estruturas tectônicas superpostas (milonitização,
brechação, cataclase, etc), mas ainda são incipientes, elas podem ser utilizadas na
nomenclatura, como:

GRANADA-BIOTITA-MUSCOVITA XISTO MILONÍTICO

Entretanto, em geral, é preferível a denominação de protomilonito ou de


milonito. Isto é notável quanto à migmatização pois, assim que ela ocorre, a rocha
deixa de ser um gnaisse e passa a ser um migmatito, mesmo que de estágio incipiente.
Quando já existe um qualificador de origem, como um cordierita granito, sua
nomenclatura será:

META-CORDIERITA GRANITO

Sendo a cordierita um produto metamórfico a denominação seria:

CORDIERITA METAGRANITO
D. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE TERMODINÂMICA APLICADA À
GEOTERMOBAROMETRIA

Caetano Juliani
Thatyana Benevides

INTRODUÇÃO

Os estudos de equilíbrios minerais oferecem excelentes condições para


avaliações quantitativas do metamorfismo, mas o modelo termodinâmico é, muitas
vezes, uma idealização do sistema químico das rochas, impondo assim, algumas
dificuldades no uso e extrapolação dos resultados.
Além disto, a quase totalidade de reações químicas utilizadas na petrologia
metamórfica presupõe um sistema químico em estado de equilíbrio, o que raramente
ocorre na natureza, pois se assim o fosse, não ocorreriam as reações químicas tão
freqüentemente identificadas nas rochas.

1 PRINCÍPIOS DE GEOTERMOBAROMETRIA

Uma importante distinção deve ser feita entre o equilíbrio em que nenhum
agente é responsável pela alteração da configuração do sistema e o equilíbrio estático
onde existem agentes responsáveis pela alteração, porém são muito pequenos para
serem detectadas taxas de reação. A quantidade de energia necessária para elevar a
energia do sistema até o ponto em que a reação possa acontecer é chamada de
energia de ativação. Em um sistema químico, a energia de ativação é necessária para
quebra das ligações químicas, especialmente das fases metaestáveis ou instáveis, e é
geralmente motivada pela mobilidade térmica das unidades constituintes da estrutura
mineral.
Em um equilíbrio mineral, a temperatura e a pressão são consideradas
uniformes para um determinado sistema químico e muitos processos geológicos
ocorrem a temperaturas e pressões constantes, sendo assim controlados pelo
equilíbrio químico entre os minerais.
Isto pode ser verificado em equilíbrios microestruturais em seções delgadas,
com tendências de minimização da energia da superfície mineral, pois esta depende do
tamanho, forma e da orientação cristalográfica entre os grãos minerais. A energia de
superfície do grão é reduzida durante os processos de recristalização pelo aumento o
tamanho dos grãos e, eventualmente pela segregação de outras fases minerais,
identificados pelas microtexturas e bordas de equilíbrio. Assim, o contato direto de um
mineral com outro, sem a presença de fases intermediárias, pode ser considerado
como uma indicação de equilíbrio químico.
O alcance de equilíbrio mineral em ambientes geológicos depende das taxas
de reação, que tendem a aumentar com a temperatura. A pressão, por sua vez, pode
aumentar ou diminuir as taxas de reação minerais, mas, se não há fase fluída envolvida
na reação, o seu papel é muito pequeno.
As reações entre fases químicas são dadas pela combinação de reagentes
(A e B) com a formação progressiva de produtos (C e D), segundo:

aA + bB = cC + dD,

onde a, b, c e d são os coeficientes estequiométricos. Neste caso, quando


as taxas de reações progressivas e regressivas são muito diferentes, a reação é
considerada irreversível.
A taxa de reação (r), da esquerda para direita, é igual ao produto de uma
constante Kr pela concentração das substâncias reagentes XB e Xc , onde a taxa da
reação progressiva é dada por:

rp = K r × X bB × X cC

e a taxa de reação regressiva dada por:

rb = K b × X cC × X dD

Em equilíbrio, naturalmente, as taxas de reação são iguais (rp = rb),


implicando que o equilíbrio químico pode ser relacionado às concentrações dos
reagentes e dos produtos com a constante K, chamada de constante de equilíbrio.
O equilíbrio caracterizado pela constante K é dada por:

aCc × aDd
K= a
aA × aBb

onde ai é a atividade do i-ésimo componente no sistema em equilíbrio e a, b,


c e d são coeficientes estequiométricos.
A constante de equilíbrio é adimensional, assim como as atividades
químicas. Para uma solução mineral ideal, a concentração e atividade são iguais e a
fração molar de um componente Xi é sua atividade ai.
A fração molar ( Xi ) é definida por:

Xi = ni/Σn

onde n é a soma de todos os componentes da fase ou elementos em


posições cristaloquímicas definidas.
Em estudos geotermobarométricos a atividade do componente é obtida a
partir da sua composição química e da formulação estequiométrica da reação na rocha
metamórfica. Isto é feito expressando a atividade de um componente em relação ao
potencial químico do componente i e a função logarítmica da atividade ai que
representa um desvio do estado padrão. Isto é definido pela relação:

µi = µo + RT lnai

onde R é a constante universal dos gases e T a temperatura absoluta.


Minerais puros em uma dada temperatura e a 1 bar são considerados em estado
padrão. Para a H2O e CO2 o estado padrão é obtido como um gás ideal com unidade
de fugacidade em 1 bar. Quando um estado padrão é escolhido de tal forma que a
atividade de um mineral puro corresponde à unidade e a atividade de um gás ideal é
igual a sua pressão parcial, as atividades dos componentes de soluções minerais
ideais são iguais a suas concentrações expressas como frações molares do
componente Xi.
Em soluções sólidas minerais as atividades aproximam-se das
concentrações dos componentes, mas o desvio do comportamento ideal define o
coeficiente de atividade γi, como a razão entre a atividade do componente ai e sua
concentração Xi.

ai
γi =
Xi

Considerando-se a atividade de um componente, a relação entre a constante


de equilíbrio e a mudança de entalpia livre padrão ∆H° de uma reação mineral pode ser
expressa pela equação de Van't Hoff:
 δ ln K   ∆H 
0
  =  
2 
 δTP   RT 

A mesma relação quando escrita na forma

 δ ln K   ∆H 0 
 = 
 δ 1   R 
 TP 

indica que a inclinação da reta de lnK por 1/T é igual a - ∆H°/R.

Estas equações indicam que qualquer mudança nas variáveis que


determinam o estado de equilíbrio do sistema pode causar uma inversão do equilíbrio
na direção contrária à da mudança da variável considerada. Se a temperatura aumenta
o equilíbrio de uma reação endotérmica (∆H°> 0) é modificado, aumentando os valores
de K. Para uma reação exotérmica (∆H°< 0) o equilíbrio é modificado reduzindo os
valores de K.
Para uma reação mineral a pressões constantes o calor absorvido pela
reação é igual a mudança de entalpia, ou a soma de entalpias dos produtos da reação
menos a soma das entalpias dos reagentes, ou seja:

∆H = Σ ∆H produtos - Σ ∆H reagentes

Com a introdução do conceito de entropia para os equilíbrio químicos,


conclui-se que as forças responsáveis por reações ocorridas a temperaturas e
pressões constantes é o ∆G, chamado de energia livre de Gibbs e definido, para
pressões e temperaturas constantes, como:

∆G° = ∆H° - T ∆S°

que pode ser obtida pelo cálculo da mudança da entalpia e entropia da


reação. Assim, em condições de equilíbrio, ∆G = 0.
Se ∆G é conhecido como uma função da temperatura a pressões
constantes, a mudança da entalpia ∆H pode ser obtida pela relação:

δG 
 T  = ∆H
δ 1 
 TP 

onde ∆H é a inclinação da reta ∆G/T pela 1/T em pressões constantes. O


valor da entropia é a inclinação da reta ∆G/T em pressões constantes, como indicado
pela relação:

 δ∆G 
  = − ∆S
 δTP 

Para cálculos em petrologia metamórfica, o cálculo de ∆G para uma reação


qualquer envolve dados de ∆H° e ∆S° das fases e fluídos participantes. ∆G a pressões
constantes e a uma temperatura dada é um critério para prever a direção de um
processo espontâneo ou as condições de um equilíbrio mineral estável. Quando a
mudança de entalpia ∆Hr e a mudança de entropia ∆Gr são conhecidas ou podem ser
calculadas, a ∆Gr pode ser obtida por uma reação mineral à temperaturas constantes,
segundo:

∆G = ∆H - T ∆S

Se a reação mineral

A+B=C+D

tem valor negativo (-∆G) a assembléia mineral C + D formar-se-á


espontaneamente a partir dos reagentes A + B.
O processo de recristalização pode ser simplificado por uma mudança da
fase mineral A para o mineral B, e desta forma a transição no estado de energia livre
pode ser dado por:

∆G = GB - GA
que representa a mudança de energia livre nos minerais B e A. Para muitas
fases minerais suas propriedades termodinâmicas foram derivadas de medições diretas
de temperaturas de equilíbrio em várias pressões. A curva de equilíbrio pode ser
ajustada como uma reta que determina as condições de equilíbrio, onde a inclinação da
reação no espaço P-T é dada pela mudança em volume e entropia, segundo:

δP ∆S
=
δT ∆V

A mudança de entalpia, ∆H é relacionada, portanto, à mudança de entropia à


temperaturas de transição T pela equação:

∆H = T ∆S

e, sendo o equilíbrio:

∆G = ∆H - T ∆S = 0

a inclinação da reação de equilíbrio pode ser expressa pela equação de


Clapeyron:

δP ∆H
=
δT T ∆V

Portanto, a mudança na entalpia (∆H) e entropia (∆S) pode ser obtida por
determinação experimental de equilíbrio como uma função da temperatura e pressão.
Por isso, é conveniente utilizar a seguinte relação:

δlnP ∆H
( )
δ 1T
=
R

Quando o lnP é plotado versus 1/T o valor de ∆H pode ser diretamente


obtido da inclinação da reta determinada.
A expressão básica de equilíbrio isobárico é, desta forma, dada por:
∆Gr = ∆Hr –T ∆Sr + RTlnKD

ou:
∆H r  1  ∆Sr
ln K D = − ×  +
R T R

onde ∆Hr e ∆Sr são considerados constantes, oferece uma expressão de equilíbrio na
forma de uma equação de reta:

y = ax + b

onde a inclinação (a) é igual a:

a = -∆Hr/R

e o intercepto em 1/T tem valor:

b = ∆Sr/R

Se há minerais com soluções sólidas a constante de equilíbrio pode ser


expressa pelo coeficiente de distribuição:

K = KD

e a atividade do componente participante por sua fração molar, se uma mistura ideal de
componentes ocorrer.
Quando uma substância absorve calor e nenhuma reação ocorre, haverá
variação apenas da pressão e do volume, a temperatura sobe e a razão do calor
absorvido pelo aumento de temperatura é definido como capacidade calorífica. Esta
razão é igual a derivada parcial da entalpia e é denominada capacidade calorífica (Cp),
definida por:

 δH 
Cp =  
 δTP 

A dependência da entalpia na temperatura para uma substância em


particular pode ser expressa como a integral da equação acima e para situações de
cálculos particulares o valor da entalpia é dado como a quantidade molar e geralmente
em 25 °C.
Medições experimentais precisas da Cp dos minerais são geralmente
extrapolados por expressões empíricas até altas temperaturas e os valores de entalpia
para uma fase mineral podem ser calculados para as temperaturas requeridas. Os
dados são correlacionados a taxas de temperatura por diferentes equações empíricas
seguindo a expressão:

HT - H298 = aT + bT2 + c/T + d

onde a, b, c e d são constantes determinadas experimentalmente para um


dado mineral. Para a capacidade calorífera a equação correspondente é:

Cp = a + 2bT - c/T2

Geralmente, é esperado que o ∆Hr de uma reação tenha em altas


temperaturas um valor maior de ∆Hr do que no estado padrão. Por esta razão a
capacidade calorífera é introduzida para cálculos exatos em altas temperaturas. Muitas
reações minerais em altas temperaturas são mais exotérmicas que a temperaturas
padrão. O valor de ∆H° para um dado mineral em alta temperatura pode ser calculado
pela integral da seguinte expressão:

T
∆H 0T = ∫ C dT + ∆H
0
p 298
298

Para muitos minerais os valores de Cp são determinados experimentalmente


e suas relações com a temperatura são dadas pela função polinomial:

Cp = a + bT + (c/T1/2) - (d/T2) ou

Cp = a + bT - (c/T2)

Assim, de posse dos coeficientes a, b, c, d e a, b, c para os diferentes


minerais e com os modelos de solução sólida, podem ser calculadas as condições P–T
de equílibrio de uma determinada paragênese mineral, seja através dos métodos
tradicionais de cálculos geotermobarométricos, seja através das estimativas baseadas
em bancos de dados internamente consistentes, como o TWQ e o THERMOCALC.
Os geotermômetros são baseados em reações de troca química (exchange
reactions) e os principais deles são: granada−biotita, biotita−muscovita,
biotita−cloritóide, clorita−granada, cordierita−biotita, estaurolita−granada,
granada−ilmenita, granada−muscovita, magnetita−ilmenita, espinélio−cordierita,
granada−clinopiroxênio, granada−clinopiroxênio-hornblenda, granada−hornblenda,
granada−ilmenita, plagioclásio−hornblenda e plagioclásio−granada-anfibólio-quartzo.
Os geobarômetros, em geral, são reações de equilíbrio químico entre vários
minerais (network transfer reactions), sendo os principais:
granada−plagioclásio−biotita−muscovita−Al2SiO5−quartzo, granada−plagioclásio−
Al2SiO5, granada−plagioclásio−mica, granada−rutilo−ilmenita−quartzo, Al-in-hornblenda.
Fengita, anfibólio−clorita−epidoto-plagiclásio, clinopiroxênio−plagioclásio−quartzo,
granada−clinopiroxênio−plagioclásio−quartzo, granada−ortopiroxênio−plagioclásio−
quartzo, granada−hornblenda−plagioclásio−quartzo, granada−plagioclásio−Al2SiO5−
quartzo, granada−plagioclásio−Al2SiO5 e jadeíta−in−clinopiroxênio.
Para maiores detalher, ver disciplina GMG 5862 − Geotermobarometria e
evolução de terrenos metamórficos, sob responsabilidade do Prof. Caetano Juliani.
E. METAPELITOS

Caetano Juliani

INTRODUÇÃO

Os metapelitos constituem o mais importante grupo de rochas para o estudo


da evolução metamórfica, tanto nos trabalhos de campo e petrográficos como em
estudos geotermobarométricos.
Sua importância é devida à sua composição química, que é muito sensível
às alterações da temperatura e da pressão, produzindo minerais em seqüência
progressiva; por registrarem muito bem as foliações metamórficas, permitindo o
estabelecimento da cronologia relativa da cristalização dos minerais metamórficos
relativamente a elas; e por apresentarem larga distribuição nos terrenos metamórficos
regionais.

1 SISTEMA QUÍMICO

Por derivarem de sedimentos predominantemente argilosos, os metapelitos


típicos característicamente possuem teores elevados em Al2O3 e baixos de CaO.
Entretanto, variações composicionais bastante amplas ocorrem para termos
quartzosos, carbonáticos, carbonosos, tufíticos, etc. A composição dos metapelitos,
juntamente com as rochas mais comuns é apresentada nos diagramas da Fig. 1.

FIGURA 1. Representação do campo composicional dos sedimentos argilosos, juntamente com


os protolitos das rochas sedimentares quartzo-feldspáticas e das rochas ígneas, nos diagramas
ACF e A’KF.
Os principais componentes dos metapelitos são o SiO2, Al2O3, MgO, FeO,
K2O e H2O, mas quantidades significativas de Fe2O3, TiO2, MnO, CaO, Na2O, P2O5 e C
podem estar presentes, frequentemente em leitos da mesma amostra. Quando
metapelitos possuem teores relativamente elevados em algum, ou em um grupo
desses elementos químicos eles são normalmente nomeados genericamente como
metapelitos não verdadeiros. Essas rochas não são incomuns e, usualmente, ocorrem
em fácies gradacionais entre o metapelitos verdadeiros e zonas de precipitados
químicos, como em formações ferríferras e/ou manganesíferas, rochas carbonáticas e
em sedimentos com contribuição de materiais vulcânicos, em especial de argilas
vulcânicas. Também ocorrem em zonas hidrotermalizadas.
Originalmente as paragêneses metamórficas dos metapelitos foram plotadas
nos diagramas A’KF e ACF, mas, pelo fato do vértice F representar a somatória de FeO
e MgO, as variações composicionais de minerais como a clorita, a biotita e granada,
cujas XMg são gradativamente alteradas com o aumento ou redução do grau
metamórfico, não podem ser adequadamente representadas.
Assim, Thompson (1957) desenvolveu o diagrama ABFM, descrito a seguir:

2 DIAGRAMA ABFM

O sistema químico dos metapelitos é muito complexo e sua representação é


muito difícil. Por este motivo várias simplificações são feitas, com exclusão dos
conteúdos de SiO2, pois quase todos metapelitos têm quartzo em excesso; H2O, uma
vez que predominam minerais hidratados, o que permite supor que as paragêneses
metamórifcas desenvolveram-se em PH20 = Pt e de Fe2O3, TiO2, MnO, CaO, Na2O e
P2O5, que ocorrem em pequena quantidade. Assim, as paragêneses dos metapelitos
podem ser representadas no tetraedro ABFM (Fig. 2), com os vértices sendo definidos
pelo seguintes óxidos, em proporção molecular:

A = Al2O3
B = K2O
F = FeO
M = MgO
Soma = 100%
FIGURA 2. Diagrama ABFM, de Thompson (1957), para representação das composições dos
minerais e rochas metapelíticas.

Mesmo assim, a representação tridimensional é pouco prática e, desde que


algumas premissas sejam respeitadas, as paragênese podem ser projetadas na face
AFM do diagrama ABFM, desde que:

a) PH2O = Pt

Uma vez que a maioria das reações metamórficas são de desidratação,


pode-se considerar válida esta condição, especialmente em grau baixo, mas PH2O < Pt
é muito comum e freqüente em grau mais alto. Como conseqüência, são exigidas
temperaturas menores que as observadas sob saturação em H2O para que as reações
metamórficas ocorram.

b) Que a rocha possua quartzo em sua composição


Esta situação é normal para a maioria dos metapelitos (~ 90%)
c) Que a rocha possua muscovita em sua composição
Esta condição é também válida para quase todos metapelitos
A projeção na face AFM (Fig. 3) é feita a partir da composição da muscovita,
que pode ser representada como um pequeno volume composicional na aresta AB,
onde a composição K2Al6O20(OH)4 possui um mol de K2O para 3 mol de Al2O3. A partir
deste volume uma linha une a composição da muscovita com a do mineral ou rocha a
ser representada, em direção à face AFM, cuja projeção é definida pela intersecção
com a face, ou for a dela, para composições como a da biotita, até o infinito, com a
composição do feldspato potássico, uma vez que sua composição também plota sobre
a aresta AB.
O cálculo deve ser feito da seguinte maneira:

A = (Al2O3 – 3 K2O) / (Al2O3 – 3 K2O + MgO + FeO)


M = MgO / (FeO + MgO)

Os principais minerais dos metapelitos projetados na face AFM podem ser


vistos na Fig. 4, notando-se que a biotita plota fora da face AFM e o feldspato
potássico, por não possuir Fe e Mg em grandes quantidades, tende a ser projetado no
infinito.
Minerais em paragênese devem estar em equiílibrio químico e suas
composições são unidas por linhas (tie lines) que não se cruzam, como representado
na Fig. 5. Quando há cruzamento das tie lines, pode-se inferir que os pares de
minerais, ou nocaso de minerais zonados, que os pontos analisados dos dois minerais
não encontram-se m equilíbrio termodinâmico. Minerais com ampla variação no
conteúdo de Fe e Mg e, menos intensamente em Al, como a biotita, definem áreas no
diagrama AFM.
As principais paragêneses dos metapelitos de alto e de baixo conteúdo em
alumina pode ser vistas na Fig. 7.
Os pelitos muito comumente gradam para sedimentos carbonáticos,
feldspáticos ou quartzosos, resultando, ao metamorfismo, em minerais como anfibólios,
piroxênios e feldspatos, que não podem ser representados no diagrama ABFM. Muito
embora estes não sejam os chamados metapelitos “verdadeiros”, muitas vezes há
necessidade de representação das suas paragêneses metamórficas, sendo para isto
utilizados os diagramas ACF, que tipicamente é usado para representação de
metabasitos, e do A’KF, para rochas feldspáticas.
FIGURA 3. Projeção das paragêneses dos metapelitos na face AFM.

FIGURA 4. Projeção dos principais minerais dos metapelitos na face AFM.


FIGURA 5. Representação de minerais em paragênese no diagrama AFM.

Exemplos de uso do diagrama AFM podem sem vistos na Fig. 6.

FIGURA 6. Exemplos de representação em diagrama AFM de minerais em paragênese do


metamorfismo progressivo barrowiano (à esquerda) e do re-metamorfismo baixa pressão (à
direita) do Grupo Serra do Itaberaba (Juliani, 1993). As setas no diagrama da direita, segundo
nossa recomendação, indicam as transformações retrometamórficas, como, por exemplo
granada (alm) para biotita (biot) e este para clorita (clor). Minerais adicionais são indicados à
direita do diagrama.
3

FIGURA 7 − Principais paragêneses do metapelitos de alto e de baixo alumínio.

3 DIAGRAMA ACF

O diagrama ACF (Fig. 8) é utilizado para representação da composição


química em proporção molecular de minerais em rochas com saturação em SiO2, ou
seja, somente pode ser utilizado para rochas com quartzo livre. Mais raramente pode
ser utilizado para representação de rochas.
Os vértices do diagrama são dados por:

A = Al2O3 + Fe2O3 - (Na2O + K2O), onde o Fe3+ é adicionado porque,


normalmente, ele pode substituir o Al3+, sem se combinar com o Na+ e K+. Os álcalis
são subtraídos para formação de albita (1 mol de Al2O3 para 1 mol de Na2O) e
feldspato potássico (1:1).

C = CaO - 3,3 P2O5, com a subtração necessária para formação da apatita


F = FeO + MgO + MnO
Outras correções devem ser feitas para rochas que contenham biotita,
muscovita e paragonita.

FIGURA 8. Diagrama ACF, com a representação de alguns minerais de metapelitos.

Exemplos do uso do diagrama ACF são apresentados na Fig. 9.

4 DIAGRAMA A’KF

O diagrama A’KF (Fig. 10 e 11) é utilizado para rochas que contenham Al2O3
SiO2 em excesso e é geralmente utilizado como um complemento do ACF e do AFM,
onde:

A’ = Al2O3 + Fe2O3 - (Na2O + K2O + CaO)


K = K2O
F = FeO + MgO + MnO

A análise qualitativa do metamorfismo é feita por comparação com


diagramas de fases experimentais, deduzidos termodinamicamente ou empíricos, estes
construídos para regiões com estudos geotermobarométricos mais detalhados.
Os principais sistemas e sub-sistemas químicos dos metapelitos com grids
metamórficos bem estabelecidos são os seguintes:

FIGURA 9 − Exemplo de uso do diagrama ACF, com duas paragêneses do metamorfismo


progressivo à esquerda (plagioclásio−hornblenda−diopsídio e
plagioclásio−hornblenda−granada) e do retrometamórfismo do Grupo Serra do Itaberaba à
direita (Juliani, 1993). As setas indicam as transformações retrometamórficas.

5 O SISTEMA KFMASH (K2O-FeO-MgO-Al2O3-SiO2-H2O)


O grid metamórfico KFMASH é apresentado na Fig. 12. Para facilitar os
estudos é subdivido em dois subsistemas o KFASH e o KMASH, representados nas
Figs. 13 e 14. As pricipais reações metamórficas já foram distribuídas.

6 O SISTEMA FMAS (FeO-MgO-Al2O3-SiO2)


Este sistema é adequado para o estudo das relações de fases em em
granulitos de alta temperatura, pois não possui minerais hidratado (Fig. 15).
FIGURA 10. Diagrama A’KF, com a representação de alguns minerais de metapelitos.

FIGURA 11. Exemplo de uso do diagrama A’KF em conjunto com o diagrama ACF para
metapelitos feldspáticos com anfibólio do Grupo Serra do Itaberaba (Juliani, 1993), com
paragêneses do metamorfismo progressivo acima e do retrometamorfismo abaixo. As setas
indicam as transformações retrometamórficas.
FIGURA 12. Diagrama KFMASH com o grid das principais reações metamórficas dos
metapelitos.
FIGURA 13. Diagrama KFASH com o grid das principais reações metamórficas dos
metapelitos.

FIGURA 14. Diagrama KMASH com o grid das principais reações metamórficas dos
metapelitos.
FIGURA 15. Diagrama FMAS com o grid das principais reações metamórficas do granulitos de
alta temperatura.

7 O SISTEMA KFMAS (FeO–MgO–Al2O3–SiO2)

Este sistema é semelhante ao anterior, mas é adequado para o estudo dos


metapelitos em alto grau (Fig. 16).

8 O SISTEMA CKNASH (CaO–K2O–Na2O–Al2O3–SiO2–H2O)

É usado para o estudo da progressão do metamorfismo em metapelitos e


gnaisses quartzo-feldspáticos, até a anatexia, por representar bem o quimismo destes
litotipos e por possuir suas principais reações já estudadas experimentalmente.
Funciona como um sub-conjunto do KFMASH para os metapelitos e as principais
reações podem ser vistas na Fig. 17.
O estudo deste sistema se dá através dos seguintes sub-sistemas:
8.1 Sub-sistema KNASH (K2O–Na2O–Al2O3–SiO2–H2O)
Este sub-sistema representa a composição dos gnaisses graníticos pobres
em cálcio e as principais fases minerais são: quartzo, corindon, diásporo, andalusita,
sillimanita, cianita, caolinita, pirofilita, muscovita, paragonita, albita, feldspato potássico,
jadeita e fusão. Como fase adicionais podem estar presentes: margarita, lawsonita,
zoisita, grossulária, prehnita e wollastonita. Na Fig. 18 são apresentados os grids
petrogenéticos do sub-sistema KNASH e na Fig. 19, o mesmo sistema com excesso de
quartzo.
Destacam-se neste sub-sistema:
a) O equilíbrio dos polimorfos de Al2SiO5
O ponto invariante mais aceito é o de Holdaway (1971), que é coerente com
os dados obtidos por estudos geotermobarométricos de associações naturais e
corresponde a 501 oC e 3,8 kbar.

FIGURA 16 − Diagrama KFMAS com o grid das principais reações metamórficas do granulitos
de alta temperatura.
b) Reações de desidratação
A estabilidade térmica máxima dos minerais é maior que a de qualquer outra
associação e se PH2O < Ptotal, as temperaturas serão sempre menores, para as mesmas
reações.

c) Estabilidade da albita
É dada pela reação:
Albita = jadeita + quartzo

d) Solvus em muscovita-paragonita e feldspatos alcalinos

e) Principais reações
mica branca = cianita + jadeita + H2O
feldspato alcalino = jadeita + quartzo
pirofilita = Al2SiO5 + 3 quartzo + H2O
paragonita + quartzo = Al2SiO5 + albita + H2O
paragonita + quartzo = Al2SiO5 + muscovita + albita + H2O
muscovita + albita + quartzo = feldspato potássico + sillimanita + H2O
albita + feldspato potássico = um feldspato alcalino (homogenização)
albita + feldspato potássico + quartzo + H2O = líquido
albita + quartzo + H2O = líquido
feldspato potássico + quartzo + H2O = líquido
albita + feldspato potássico + muscovita + quartzo = líquido
albita + feldspato potássico + Al2SiO5 + quartzo + H2O = líquido
albita + paragonita + quartzo + H2O = líquido
albita + Al2SiO5 + quartzo + H2O = líquido
muscovita + feldspato potássico + quartzo + H2O = líquido

8.2 Sub-sistema CNASH (CaO-Na2O-Al2O3-SiO2-K2O-H2O)


Representa os metapelitos com contribuições subordinadas de calcários
(Fig. 20), e com excesso de quartzo (Fig. 21).
Principais reações metamórficas são:

margarita + paragonita = cianita + plagioclásio


margarita + quartzo = plagioclásio + Al2SiO5 + H2O
paragonita + quartzo = plagioclásio + Al2SiO5 + H2O
FIGURA 18. Diagrama KNASH com o grid das principais reações metamórficas dos metapelitos
com feldspatos.

FIGURA 19. Representação das reaçõe metamórficas do sub-sistema KNASH supersaturado


em sílica.
Na segunda isógrada da sillimanita ocorrem as seguintes reações:

muscovita + albita + quartzo = feldspato potássico + Al2SiO5 + H2O


muscovita + anortita + quartzo = feldspato potássico + Al2SiO5 + H2O

No ultrametamorfismo, com formação dos migmatitos ocorrem as seguintes


reações:

muscovita + plagioclásio + quartzo + H2O = Al2SiO5 + líquido


feldspato potássico + plagioclásio + quartzo + H2O = Al2SiO5 + líquido

FIGURA 20. Diagrama CASH com o grid das principais reações metamórficas dos metapelitos
com feldspatos.

9 CARACTERIZAÇÃO DAS FÁCIES METAMÓRFICAS EM METAPELITOS

9.1 Pressão Intermediária (Barrowiano)


9.1.1 Fácies dos xistos verdes (grau metamórfico baixo)
a) Zona da clorita: clorita + muscovita fengítica + quartzo + aIbita + calcita +
stilpnomelano + paragonita.
b) Zona da biotita: biotita + clorita + muscovita fengítica + quartzo + aIbita +
caIcita.
c) Zona da granada: granada almandínica + biotita + clorita + muscovita +
quartzo + albita + epídoto + cloritóide.

FIGURA 21. Representação das reações metamórficas do sub-sistema CASH supersaturado


em sílica.

9.1.2 Fácies anfibolito (grau metamórfico médio)


a) Zona da estaurolita: estaurolita + granada + muscovita + quartzo +
plagioclásio (oligoclásio/andesina) + clorita.
b) Zona da cianita: cianita + granada + biotita + muscovita + quartzo +
estaurolita + plagioclásio.
c) Zona da sillimanita: sillimanita + granada + muscovita + quartzo +
estaurolita + oligioclásio + cianita (relíquias).
d) Zona do felspato potássico: ocorre a partir da segunda isógrada da
sillimanita, caracterizada pela reação de muscovita + quartzo ÍÎ feldspato potássico
+ Al2SiO5 + água, onde formam-se os gnaisses.
9.1.3 Grau metamórfico alto
Inclue-se neste conjunto rochas migmatíticas, formadas no limite superior da
fácies anfibolito, em litotipos relativamente hidratados, na seguinte zona:
a) Zona dos migmatitos: onde há fusão parcial das rochas pré-existentes
(devido à presença importante de H2O).
Também podem ser geradas rochas metamórficas em regiões crustais
relativamente desidratadas e ricas em CO2, constituindo as rochas da fácies granulito.
b) Zona do hiperstênio (ferrosilita): caracterizada pelo surgimento do ortopiroxênio em
rochas gnássicas, formando os granulitos, onde a ausência de H2O é significativa.

9.2 Baixa pressão (Abukuma)


a) A cianita não ocorre, mas andalusita pode estar presente.
b) Cordierita é mais comum e forma-se em temperaturas relativamente
baixas.
c) A granada é menos abundante, ou mesmo ausente.
d) A estaurolita normalmente não está presente.
e) Migmatitos são raros e não se desenvolvem sem que seja ultrapassada a
segunda isógrada da sillimanita.

10 REAÇÕES METAMÓRFICAS NA PROGRESSÃO DO METAMORFISMO

Algumas das reações metamórficas que ocorrem nos metapelitos são


listadas a seguir. Comumente são indicados os minerais, mas, de fato, a reação pode
estar ocorrendo com o componente (end-member) do mineral, ou seja, o reagente é o
componente em solução sólida.
Quando as reações são consideradas no sistema pelítico típico, ou seja,
com excesso de quartzo e muscovita, é comum omitir-se dos reagentes e dos
produtos, por conveniência, estes minerais.
O surgimento e o desaparecimento dos principais minerais metamórficos dos
metapelitos, bem como a sua abundância relativa, em função do grau metamórfico
pode ser visto na Fig. 22.

10.1 Pressões intermediárias


10.1.1 Limite diagênese-baixo grau
illita ÍÎ> mica branca (sericita + fengita)
10.1.2 Início do metamorfismo
caolinita + quartzo ÍÎ pirofilita + H2O
caolinita + clorita ÍÎ cloritóide + quartzo + H2O
montmorilonita + quartzo ÍÎ muscovita fengítica + pirofilita + H2O
pirofilita ÍÎ andalusita (ou cianita) + 3 quartzo + H2O
glauconita + quartzo + clorita ÍÎ estilpnomelano + feldspato potássico +
H2O + O2

FIGURA 22. Principais minerais metamórficos e sua abundância relativa no metamorfismo dos
metapelitos.

10.1.3 Zona da clorita


As reações de formação de cloritóide listadas neste ítem podem ocorrer em
todo espectro do grau baixo.

fengita + 26 quartzo ÍÎ clorita + pirofilita + 10 feldspato potássico + H2O


pirofilita + clorita rica em ferro ÍÎ cloritóide + quartzo + H2O
hematita + clorita rica em ferro ÍÎ cloritóide + magnetita + quartzo + H2O
10.1.4 Zona da biotita
pirofilita ÍÎ Al2SiO5 + quartzo + H2O
clorita + pirofilita ÍÎ cloritóide + quartzo + H2O
clorita + muscovita ÍÎ cloritóide + biotita + quartzo + H2O
clorita + fengita ÍÎ clorita rica em Al + biotita + quartzo
clorita + 8 fengita ÍÎ 3 biotita + 5 muscovita + 7 quartzo + H2O
clorita + microclínio ÍÎ biotita + muscovita + H2O
clorita + microclínio + muscovita fengítica ÍÎ biotita + muscovita pouco
fengítico + quartzo + H2O
clorita + feldspato potássico ÍÎ biotita + muscovita + quartzo + H2O
clorita + feldspato potássico ÍÎ biotita + estilpnomelano + quartzo + H2O
6fengita ÍÎ biotita + 3 muscovita + 2 feldspato potássico + 3 quartzo +
H2O
muscovita + stilpnomelano ÍÎ biotita + epídoto
muscovita + stilpnomelano ÍÎ clorita + biotita
estilpnomelano + fengita ÍÎ biotita + clorita + quartzo + H2O
estilpnomelano + fengita + actinolita ÍÎ biotita + clorita + epidoto + H2O
3 dolomita/ankerita + feldspato potássico + H2O ÍÎ biotita + 3 calcita + 7
H2O

10.1.5 Zona da granada


A granada considerada nestas reações é sempre almandínica.

3 clorita ÍÎ 3 granada + 2 magnetita + 12 H2O


clorita + quartzo ÍÎ granada + H2O
clorita + muscovita + quartzo ÍÎ biotita + granada + H2O
clorita + muscovita + epidoto ÍÎ biotita + granada + H2O
clorita + biotita 1 + quartzo ÍÎ biotita 2 granada + + H2O
clorita rica em ferro + muscovita + quartzo ÍÎ biotita + granada + Al2SiO5 +
H2O
clorita + cloritóide + quartzo ÍÎ granada + H2O
clorita 1 + anortita ÍÎ clorita 2 + granada + quartzo + H2O
biotita + muscovita + quartzo ÍÎ granada + feldspato potássico + H2O
biotita + cloritóide ÍÎ granada + muscovita + H2O
biotita + cloritóide + H2O ÍÎ clorita + granada
10.1.6 Zona da estaurolita
cloritóide ÍÎ clorita + granada + estaurolita + H2O
cloritóide + O2 ÍÎ estaurolita + magnetita + quartzo + H2O
cloritóide + Al2SiO5 ÍÎ estaurolita + quartzo + H2O
cloritóide + Al2SiO5 ÍÎ clorita + estaurolita + H2O
cloritóide + quartzo ÍÎ granada + estaurolita + H2O
clorita + granada + muscovita ÍÎ biotita + estaurolita + quartzo + H2O
clorita + muscovita ÍÎ biotita + estaurolita + quartzo + H2O
clorita + quartzo ÍÎ clorita rica em magnésio + estaurolita + H2O
muscovita + magnetita + quartzo + H2O <=> estaurolita + biotita + O2

10.1.7 Zona da cianita


clorita + estaurolita + muscovita ÍÎ biotita + cianita + quartzo + H2O
clorita rica em magnésio + estaurolita + muscovita + quartzo ÍÎ biotita +
cianita + H2O
cloritóide + quartzo ÍÎ granada + cianita + H2O
estaurolita ÍÎ granada + biotita + cianita + H2O
estaurolita + muscovita + quartzo ÍÎ biotita + cianita + H2O
estaurolita + muscovita + quartzo ÍÎ biotita + granada + cianita + H2O
estaurolita + muscovita sódica + quartzo ÍÎ cianita + biotita + granada +
muscovita + albita + H2O
estaurolita + quartzo ÍÎ granada + cianita + cordierita + H2O
estaurolita + quartzo ÍÎ granada + cianita + H2O

10.1.8 Zona da sillimanita


Muitas das reações de formação de cianita pode, em função da pressão,
gerar andalusita e, principalmente, sillimanita.
cianita ÍÎ sillimanita
estaurolita + muscovita + quartzo ÍÎ sillimanita (fibrolita) + biotita + H2O
estaurolita + quartzo ÍÎ granada + sillimanita (fibrolita) + H2O

10.1.9 Zona do feldspato potássico


muscovita + quartzo ÍÎ sillimanita + feldspato potássico + H2O

10.1.10 Zona dos migmatitos


muscovita + quartzo + H2O ÍÎ sillimanita + líquido (fusão)
muscovita + biotita + quartzo + H2O ÍÎ sillimanita + líquido
muscovita + quartzo ÍÎ sillimanita + feldspato potássico + líquido
biotita + sillimanita + quartzo ÍÎ feldspato potássico + cordierita + líquido
biotita + sillimanita + quartzo ÍÎ feldspato potássico + granada + líquido

10.1.11 Zona do hiperstênio


antofilita rica em ferro ÍÎ ferrosilita + quartzo + H2O
annita + quartzo ÍÎ ferrosilita + feldspato potássico + H2O
annita + quartzo ÍÎ ferrosilita + feldspato potássico + granada + H2O
2 granada + 3 quartzo ÍÎ cordierita + 4 ferrosilita
granada + cordierita ÍÎ sillimanita + ferrosilita + quartzo
cordierita ÍÎ sillimanita + ferrosilita + quartzo
granada + quartzo ÍÎ sillimanita + ferrosilita

10.2 Pressões baixas


Em baixas pressões várias das reações que geram cianita podem gerar
andalusita.

10.2.1 Formação de cordierita


clorita + muscovita + quartzo ÍÎ biotita + cordierita + Al2SiO5 + H2O
clorita magnesiana + muscovita ÍÎ cordierita magnesiana + flogopita +
H2O
clorita magnesiana + Al2SiO5 ÍÎ cordierita magnesiana + H2O
biotita + sillimanita ÍÎ granada + cordierita + H2O
granada + Al2SiO5 + quartzo + H2O ÍÎ cordierita
granada + O2 ÍÎ cordierita + magnetita + quartzo
estaurolita + magnetita ÍÎ granada + cordierita + H2O + O2
estaurolita + biotita + quartzo ÍÎ cordierita + feldspato potássico + H2O
espinélio + quartzo ÍÎ cordierita
flogopita + sillimanita ÍÎ cordierita + muscovita
flogopita + sillimanita ÍÎ cordierita + feldspato potássico + H2O

10.2.2 Formação de andalusita


pirofilita ÍÎ andalusita + quartzo + H2O
sillimanita ÍÎ andalusita
cianita ÍÎ andalusita
clorita + muscovita ÍÎ biotita + andalusita + cordierita + H2O
estaurolita + clorita ÍÎ biotita + andalusita + H2O

10.3 Pressões altas ( Fácies xisto azul e eclogito)


sudoíta + quartzo ÍÎ carpholita magnesiana
carpholita magnesiana + quartzo ÍÎ clinocloro + pirofilita + H2O
carpholita ÍÎ cloritóide + quartzo + H2O
carpholita magnesiana ÍÎ clinocloro + cianita + quartzo + H2O
clinocloro + quartzo ÍÎ talco + cianita + H2O
celadonita + carpholita magnesiana ÍÎ clinocloro + feldspato potássico +
quartzo + H2O
celadonita + muscovita ÍÎ clinocloro + feldspato potássico + quartzo +
H2O
celadonita ÍÎ flogopita + feldspato potássico + quartzo + H2O
celadonita + clinocloro ÍÎ flogopita + muscovita + quartzo + H2O
albita ÍÎ jadeíta + quartzo
paragonita ÍÎ jadeíta + cianita + quartzo
F. METAMORFISMO DE ROCHAS BÁSICAS (MÁFICAS)

Gergely Szabó
Caetano Juliani

INTRODUÇÃO

A importância de rochas básicas / máficas no estudo terrenos metamórficos:


- Ampla distribuição, em terrenos com associações litológicas variadas;
- Composição química / mineralógica original relativamente constante;
- Modificações nas paragêneses, ainda que menos sensíveis às variações
nas condições de metamorfismo que dos metapelitos, são adequadas para monitorar a
evolução do grau metamórfico em intervalos mais amplos, porém bem definidos
(considerando-se T e Pt = Pfl como principais fatores do metamorfismo regional)
- Pelas razões acima, serviram de base para a proposta de fácies
metamórficos de Eskola (1915), ainda hoje amplamente utilizada (fácies xisto verde,
fácies anfibolito, fácies eclogito, etc).

1 PROTÓLITOS

1.1 Básico X Máfico: revisão dos conceitos (classificação química X


petrográfica)
1.1.1 Principais tipos de rochas básicas / máficas:
Orto-derivadas: (volumétricamente mais importantes) rochas ígneas
vulcânicas e subvulcânicas / vulcanoclásticas (tufos) associadas, e rochas ígneas
intrusivas (gabróicas e relacionadas); o metamorfismo de rochas s.l. andesíticas
também segue o padrão geral das rochas básicas / máficas.
Para-derivadas: grauvacas de derivação vulcanogênica (área-fonte
vulcânica / vulcanoclástica básica / máfica, ou andesítica), e margas (para-anfibolitos).
Distinção entre os diversos tipos de protólitos: pelo contexto geológico, e
pelas estruturas / texturas herdadas (estruturas almofadadas, texturas blasto-
subofíticas / ofíticas, etc, Fig. 1 e 2). Na ausência de feições diagnósticas, pré-
metamórficas preservadas (rochas pervasivamente reequilibradas / transformadas): a
distinção nem sempre é muito segura (critérios composicionais: incertos para análises
amostra a amostra, algo mais pertinentes para análises de conjuntos cogenéticos de
amostra, i.e., tendências composicionais de suites).
FIGURA 1 −

FIGURA 2 −

1.1.2 Características gerais dos protólitos:


Composições mineralógicas originais anidras (basaltos, gabros: piroxênios +
plagioclásio) para corpos maciços, préviamente não deformados / hidratados;
Composições mineralógicas hidratadas / modificadas (argilo-minerais,
epidotos, serpentinas, clorita, carbonatos, etc) em grau variável para corpos porosos /
permeáveis (rochas vulcanoclásticas e/ou vesiculares / amigdaloidais), ou préviamente
deformados.

2 REPRESENTAÇÃO DAS PARAGÊNESES / PRINCIPAIS MINERAIS (RELAÇÕES


QUEMOGRÁFICAS)

Espaço composicional: indicado no diagrama ACF (tetraedro ACFH,


projetado do vêrtice H2O sobre o plano ACF - v. transparências).
Principais minerais do protólito: piroxênios (cálcicos e sub-cálcicos),
plagioclásio (bytownita - andesina), óxidos de Fe-Ti (magnetita, ilmenita), + olivina
ou quartzo, vidro vulcânico / agregados cripto-cristalinos, feldspato alcalino (às vezes
em intercrescimentos micro-granofíricos intersticiais), biotita, fases hidratadas e/ou de
alteração tardi-magmática / hidrotermal (clorita, serpentina, montmorillonita / celadonita,
epidoto, carbonatos, etc)

3 MINERALOGIA METAMÓRFICA

São, relativamente aos pelitos, poucos minerais, predominando anfibólios


(actinolita, hornblenda, tremolita, glaucofânio, cummingtonita, etc), plagioclásio,
epidoto, clinozoisita e clorita, assim como quartzo, clinopiroxênios, ortopiroxênios,
titanita, ilmenita, magnetita, granada, carbonatos, zeólitas, prehenita, pumpellyita,
biotita, feldspato potássico, etc. As reações metamórficas contínuas: Exemplos dos
anfibólios, plagioclásio e epidoto.
Principais minerais metamórficos: indicados na Fig. 3, com a projeção no
diagrama ACF(M)N(K) (Fig. 4), cujas paragêneses estão representadas na Fig. 5.

- Anfibólios: principalmente Ca-anfibólios (actinolita, hornblenda),


cummingtonita
- Plagioclásio: albita - Na-oligoclásio (c/epidoto) a andesina / labradorita
- Clorita
- Minerais do grupo do epidoto (epidoto, zoisita, clinozoisita)
- Magnetita, ilmenita e/ou titanita
- Quartzo
- Minerais do grupo das zeólitas (analcima, heulandita, thompsonita, etc)
- Prehnita, pumpellyita, laumontita
- Granada (em rochas ricas em Ca, Al, ou de P alta)
- Clinopiroxênio (diopsídico - hedenbergítico)
FIGURA 3. Minerais metamórifcos dos metabasitos.
FIGURA 4. Projeção dos minerais dos metabasitos no diagrama ACF.

FIGURA 5. Diagrama ACF, com a indicação dos principais minerais metamórficos dos
metabasitos.
4 MEMBROS FINAIS E SÍTIOS OCUPACIONAIS DOS ANFIBÓLIOS

A fórmula estrutural do anfibólio possui um grande número de sítios e larga


flexibilidade de substituições, no entanto a familiarização com os anfibólios pode
auxiliar no entendimento dos processos metamórficos em que este mineral possa estar
envolvido. A fórmula estrutural básica dos anfibólios é:

A0-1M42M133M22T8O22(OH)2

Onde A é o maior sítio de vacância ou parcilamente completo entre as bases


das cadeias, M13 representa os sítios M1 e M3 (cujas características sào muito
semelhantes), e T os sítios tetraédricos. Os preenchimentos preferencias para cada
sítio estão descritos a seghuir:

Sítio T: Si, Al. O limite de substituição do Al está por volta de 2 em 8.


Sítio M2 (octaedro menor): Al, Cr, Fe3+, Ti, Fe2+, Mg.
Sítios M1+M3 (octaedros médios): Fe2+, Mg, Mn.
Sítio M4 (octaedro maior): Ca, Na, Mn, Fe2+, Mg.
Sítio A: Na, K e vacâncias.

A lista abaixo contém os membros finais mais comumente utilizados para


anfibólios monoclínicos. A letra V é utilizada para representar vacância no sítio A, Fe é
Fe2+.
VCa2Mg5Si8O22(OH)2: Tremolita
VCa2Fe5Si8O22(OH)2: Ferro-actinolita
VCa2Mg3Al2[Al2Si6]Si8O22(OH)2: Tschermakita
NaCa2Mg5[AlSi7]Si8O22(OH)2: Edenita
VMg2Mg5Si8O22(OH)2: Cummingtonita
VNa2Mg3Al2Si8O22(OH)2: Glaucofânio
VNa2Mg3Fe3+2Si8O22(OH)2: Magnésio-riebeckita

Note que outros membros finais comumente utilizados podem ser expressos
como combinações lineares destes supracitados, e.g. pargasita = edenita + 0,5
tschermakita.
Um tratamento vetorial para hornblenda, usando-se a tremolita como fase
componente básica, e considerando-se substituições de Ti, Mn e K, pode utilizar-se ods
seguintes conjuntos de componentes nmas substituições:
Fe2+Mg-1
MnMg-1
Al2Mg-1Si-1: substituição tschermakítica
Fe3+AlMg-1Si-1: substituição ferri-tschermakítica
TiAl2Mg-1Si-1: edenita
KAlV-1Si-1: K-edenita
MgCa-1: Cummingtonita
NaAlCa-1Mg-1: Glaucofânio

5 METAMORFISMO

As principais reações metamórficas dos metabasitos e suas paragêneses


podem ser vistas nas Figs. 6, 7 e 8.

5.1 Baixo Grau (Fácies Zeólita e Prehnita–Pumpellyita, ou Fácies Sub-


Xisto Verde)
Ao contrário do que ocorre em rochas metapelíticas, o início do
metamorfismo progressivo regional (de baixo grau, geralmente de soterramento - burial
- geralmente de baixa pressão) caracteriza-se por uma hidratação das assembléias
minerais originalmente anidras, e confunde-se, em parte, com os efeitos de alterações
deutéricas. Em algumas áreas, porém (Nova Zelândia, Andes chilenos), é possível
estabelecer sequências paragenéticas que definem um metamorfismo progressivo de
baixo grau.
As rochas sedimentares vulcanogênicas (grauvacas) e tufáceas, ou
vesiculares / amigdaloidais, mais porosas / permeáveis e/ou portadoras de agregados
cripto-cristalinos e vidro vulcânico (fases mais reativas), são mais susceptíveis às
transformações que caracterizam este estádio metamórfico. As paragêneses não são
estritamente de equilíbrio: as substituições minerais ocorrem em domínios
composicionais mais susceptíveis (áreas intersticiais cripto/microcristalinas, fases mais
reativas, e.g. olivinas e vidro vulcânico, bordas de fases ígneas, e.g. uralitização nas
bordas dos piroxênios), e coexistem, em equilíbrio metaestável, fases ígneas e
metamórficas de baixo grau.
Os fluídos circulantes podem promover significativas alterações
composicionais nesta etapa (metassomatismo).
5.1.1 Fácies zeólita
Vidro vulcânico / fases cripto- ou micro-cristalinas alteradas para zeólitas
(heulandita, analcima, thompsonita), acompanhadas de algum quartzo secundário e
filossilicatos (montmorillonita / celadonita); as fases ígneas se mantém mais ou menos
pristinas. Em grau crescente, laumontita substitui zeólitas, o Ca-plagioclásio é
substituido por pseudomorfos de albita, clorita aparece, e finalmente prehnita-
pumpellyita e epidoto substituem a laumontita.

5.1.2 Fácies prehnita–pumpellyita


Minerais típicos nestas condições - prehnita, pumpellyita, actinolita, clorita, epidoto,
albita, quartzo, sericita, lawsonita, titanita e estilpnomelano, + fases ígneas reliquiares.
Uma assembléia mineral ígnea pode evoluir diretamente para associações
de fácies zeólita, prehnita-pumpellyita, xisto verde ou xisto azul, dependendo das
condições metamórficas sob as quais os fluídos irão entrar em contato com a
assembléia mineral original. A ausência do fácies prehnita-pumpellyita, em muitos
casos, pode ser explicada pela presença de CO2 nos fluidos metamórficos, que
desestabilizam laumontita e prehnita, inibindo a formação das paragêneses distintivas
do baixo grau.

5.2 Pressão Intermediária (Fácies Xisto Verde a Anfibolito)


A evolução das paragêneses minerais, em rochas metabásicas /
metamáficas, é controlada predominantemente por reações contínuas, em
contraposição à das rochas metapelíticas, onde prevalecem reações descontínuas, que
marcam intervalos mais restritos (= zonas minerais) na evolução metamórfica
progressiva. O número de fases minerais distintas é relativamente baixo em rochas
metabásicas, e as assembléias minerais persistem práticamente imutáveis ao longo
das zonas minerais definidas em metapelitos. O metamorfismo progressivo é marcado
principalmente por mudanças composicionais nas fases principais, Ca-anfibólios (de
actinolita a hornblenda tschermakítica) e plagioclásios (de albita - Na-oligoclásio a
plagioclásio com An>17, e progressivamente mais anortítico) (Fig. 9), além de
mudanças em termos de proporções entre os diversos constituintes (consumo
progressivo de clorita e epidoto, aumento em abundância de Ca-plagioclásio e
hornblenda) (Fig. 10).
As principais reações minerais indicativas do grau metamórfico dos
metabasitos podem ser vistas na Fig. 11.
FIGURA 6. Principais reações metamórficas dos metabasitos.
FIGURA 7. Principais paragêneses dos metabasitos nos diferentes tipos báricos e grau
metamórfico.

FIGURA 8. Paragêneses dos metabasitos com a progressão do metamorfismo.


FIGURA 9. Variações composicionais contínuas do anfibólio e do plagioclásio no metamorfismo
barrowiano de metabasitos.

FIGURA 10. Cristalização e consumo dos minerais dos metabasitos ao metamorfismo.


FIGURA 11A. Condições P–T das fácies metamórficas barrowianas dos metabasitos.

FIGURA 11B. Condições P–T das fácies metamórficas barrowianas dos metabasitos.
5.2.1 Fácies xisto verde
Associação mineral característica: epidoto, albita, actinolita, clorita +
titanita, magnetita/hematita, calcita, quartzo, hornblenda, granada, biotita. Com o
aumento de grau, calcita tende a desaparecer (clorita + calcita ⇔ epidoto + actinolita +
fase fluída c/ H20+CO2). A rocha característica deste fácies é o clorita-albita-epidoto-
actinolita xisto (= xisto verde), com texturas grano-lepido-nematoblásticas, ou
texturas herdadas modificadas em grau variável (blasto-subofítica/ofítica, blasto-
intergranular, etc). Com o incremento adicional do grau metamórfico, clorita e epidoto
(e quartzo) são consumidos, dando lugar à associação hornblenda + Ca-plagioclásio
(transição para o fáciesanfibolito). A ilmenita tende a ser substituída pela titanita,
inicialmente como agregados granulares indistintos, ópticamente mal resolvidos
(leucoxênio), que evoluem para grãos discretos, individualizados de titanita.
Exemplos de reações na transição fácies xisto verde - anfibolito (p.detalhes / reações
balanceadas, v.Yardley, 1989, p.141, ou Bucher e Frey, 1994, p. 267-268):

- clorita + Al-epidoto + quartzo ⇔ hornblenda tschermakítica + anortita + fase


fluída
- albita + actinolita ⇔ hornblenda edenítica + quartzo
- actinolita + clorita + quartzo + Al-epidoto ⇔ hornblenda tschermakítica +
fase fluída

5.2.2 Fácies anfibolito


Associação mineral característica: hornblenda edenítica-tschermakítica
(pargasítica), Ca-plagioclásio (andesina - labradorita) + titanita, magnetita/ilmenita,
granada, clinopiroxênio diopsídico, epidoto, biotita. O tipo litológico característico é o
anfibolito, com textura grano-nematoblástica ou grano-decussada. Com o
metamorfismo progressivo, hornblenda vai se tornando mais aluminosa (e mais rica em
álcalis), e o plagioclásio, mais cálcico. O limite entre fácies xisto verde e fácies
anfibolito (~500 oC) é determinado pelo salto da lacuna de miscibilidade da peristerita,
ou seja: quando o plagioclásio, originalmente albita ou Na-oligoclásio, adquire (de
maneira mais ou menos súbita) composições com An>17. O enriquecimento paulatino
em Al e álcalis da hornblenda é controlado através das substituições acopladas
edenítica (†Si ⇔ NaAl), que pode até consumir as bordas mais albíticas de cristais
preservados de plagioclásio ripiforme da textura ígnea original (bordas carcomidas nos
slides correspondentes), e tschermakítica (MgSi ⇔ AlAl).
Para alguns autores, existe um fácies intermediário, denominado epidoto-
anfibolito, no qual a hornblenda, já claramente estabelecida, coexiste com o epidoto +
albita / Na-oligoclásio. Em pressões mais baixas, epidoto seria consumido mais cedo,
persistindo a clorita por mais tempo, enquanto a pressões mais altas, o inverso
ocorreria, com a clorita sendo consumida antes, e o epidoto persisitindo por mais
tempo (geralmente, a P intermediárias, clorita seria totalmente consumida a ~ 550 oC,
enquanto epidoto se tornaria menos frequente acima de ~ 600 oC). Este fácies
intermediário, para outros, seria apenas o fácies anfibolito inferior.
O fácies anfibolito superior seria definido a partir da blastese do
clinopiroxênio (T ~ 650 oC), quando então se inicia o processo de consumo dos
componentes dos anfibólios e sua substituição por componentes dos piroxênios
(transição para o fácies granulito). Nestas condições, em ambientes saturados em fase
fluída aquosa, ocorre fusão parcial localizada nas rochas metabásicas / metamáficas,
que remove quartzo, plagioclásio e biotita das rochas para o leucossoma (veios e
manchas quartzo-feldspáticas, dioríticas / tonalíticas).
A granada pode ser produzida, em rochas de composição adequada (mais
ricas em Al) já a partir do consumo da clorita / epidoto (limiar fácies xisto verde -
anfibolito), e geralmente aumenta em proporção modal com o incremento em grau
metamórfico. A titanita, formada sob condições mais oxidantes no fácies xisto verde,
tende a ser substituída pela ilmenita, ou ser absorvida pela hornblenda, que incorpora o
Ti ao seu retículo (substituição Ti-tschermakítica), adquirindo tonalidades mais
carregadas (de verde claro no limiar fácies xisto verde - anfibolito, a verde oliva no
fácies anfibolito, e finalmente a verde-pardo no limiar dos fácies anfibolito - granulito).
Em alguns casos, um protólito igneo básico / máfico pode ser submetido
diretamente a uma transição para condições de fácies anfibolito, sem desenvolver os
estágios de mais baixo grau. Nestas rochas, as transformações mineralógicas são
fundamentalmente dependentes da disponibilidade de água (fluído aquoso), para que o
desenvolvimento das paragêneses estáveis nessas condições possam se formar.
Conforme o caso, podem se desenvolver texturas coroníticas, indicativas de difusão
limitada dos componentes envolvidos nas reações, por falta de uma fase fluída
catalizadora em volume adequado. Em outros, pode ocorrer a substituição direta dos
piroxênios por anfibólios, frequentemente de maneira pseudomórfica, com inclusões
goticulares de quartzo no anfibólio neoformado como sub-produto. Nestas texturas, o
plagioclásio ígneo, ripiforme é frequentemente poupado na sua forma ígnea original
("igneous looking" - de aspecto ígneo, ripiforme / tabular longo, com padrões de
geminação complexos, combinados), apenas com as bordas corroídas ao longo dos
contatos com os anfibólios, por conta da substituição edenítica, que incorpora Na e Al
da molécula albítica à hornblenda.

5.3 Metamorfismo de Alta T (Fácies Granulito)


Amplo intervalo de pressões possíveis no metamorfismo de fácies granulito
(Pt < Pfl). A presença de ortopiroxênio (hiperstênio, bronzita) serve de mineral índice
para o fácies granulito. Associações minerais características:

a) Baixa pressão - ortopiroxênio, clinopiroxênio, plagioclásio (+ olivina em


composições mais básicas / ferro-magnesianas). Transição para granulitos de pressão
intermediária: olivina + plagioclásio ⇔ granada, ou: olivina + plagioclásio ⇔ Al-
diopsídio + Al-enstatita + quartzo (p/fórmulas balanceadas, v.Yardley, 1989, p.154);
b) Pressão intermediária - granada, clinopiroxênio, ortopiroxênio,
plagioclásio + hornblenda verde escuro / verde pardo (pargasítica, saturada em Al, Na
e Ti). Transição para granulitos de alta pressão: ortopiroxênio + plagioclásio ⇔ granada
+ clinopiroxênio + quartzo, ou: ortopiroxênio + plagioclásio ⇔ granada + quartzo
(p/fórmulas balanceadas, v.Yardley, 1989, p.155);
c) Alta pressão - granada, clinopiroxênio, quartzo + ortopiroxênio ou
plagioclásio

5.4 Metamorfismo de Alta P: Fácies Xisto Azul e Eclogito


5.4.1 Fácies xisto azul
P >>, T < que no metamorfismo barroviano. Ca-anfibólios (actinolita,
hornblenda) são substituídos pelo Na-anfibólio glaucofânio, de côr azul. Outros
minerais característicos: lawsonita, piroxênio jadeítico, aragonita. Associação
diagnóstica: lawsonita + glaucofânio. Xistos azuis são característicos de zonas de
subducção / colisão continental.

5.4.2 Fácies eclogito


P >> (20-30 kbar), T > (de ~ 500 a 750 oC) que no metamorfismo
barroviano. Paragênese típica: onfacita (clinopiroxênio sódico) + granada (almandina-
piropo-grossulária), ausência de plagioclásio (seus componentes são incorporados à
onfacita e granada). Os eclogitos são os correspondentes de alta pressão das rochas
basálticas, formados em ambientes tectônicos específicos, como na subducção de
crosta oceânica, ou em zonas de colisão continental / espessamento crustal.
G. METAMORFISMO DE ROCHAS ULTRAMÁFICAS / ULTRABÁSICAS

Gergely Szabó

INTRODUÇÃO

Rochas ultramáficas / ultrabásicas: exclusivamente protolitos ígneos.


Critérios petrográficos, classificação mineralógica / modal (IUGS), formas e
associações de ocorrência.

1 ORIGEM DAS ROCHAS ULTRAMÁFICAS / ULTRABÁSICAS NA CROSTA DA


TERRA

1.1 Mantélicos
Fragmentos obductados – peridotitos alpinos lato sensu (peridotitos alpinos,
ofiolitos). Composição: harzburgitos – opx+ol (manto empobrecido / exaurido),
lherzolitos ol+opx+cpx (manto fértil).

1.2 Cumuláticos
Em complexos máfico-ultramáficos estratiformes, por exemplo em ofiolitos
(câmaras magmáticas alimentadoras dos enxames de diques) ou na base de derrames
komatiíticos espessos. Composição: de dunitos (ol+cromita) a websteritos (piroxenitos
com olivina) e piroxenitos.

1.3 Vulcânicos
Komatiítos. Em seqüências vulcano-sedimentares arqueanas-
paleoproterozóicas tipo greenstone belt. Composição: ultramáfica, magnesiana, de
básica a ultrabásica.
Principais minerais ígneos de rochas ultramáficas / ultrabásicas: olivina (Mg, Fe)2SiO4,
ortopiroxênio (Mg,Fe2+)2Si2O6, clinopiroxênios: augita (Ca,Mg,Fe2+,Al)2(Si,Al)2O6 e
pigeonita (Mg, Fe2+,Ca)(Mg,Fe2+)Si2O6, além de cromita Fe2+Cr2O4, plagioclásio
(Na,Ca)(Si,Al)AlSi2O8, biotita/flogopita K2(Mg,Fe2+)6-4(Fe3+,Al,Ti)0-2[Si6-5,Al2-3,O20](OH,F)4
em menor proporção.
A composição mineralógica dos protolitos ígneos é essencialmente anidra: à
semelhança do que acontece com as rochas metabásicas, o desenvolvimento das
paragêneses metamórficas dependerá da fase fluída presente e das condições de
acesso / percolação da mesma. Rochas maciças, pouco deformadas do interior de
corpos ultramáficos maiores poderão permanecer praticamente inalteradas durante
todo o metamorfismo, na ausência de uma fase fluida. Em muitos casos, estes núcleos
estarão em claro contraste de grau metamórfico com as rochas encaixantes, enquanto
em outros casos os metaultramafitos podem estar pervasivamente reequilibrados /
reorganizados textural e mineralogicamente, indicando metamorfismo em condições
compatíveis com os seus arredores.
É muito importante, no caso de rochas metaultramáficas, avaliar se o
metamorfismo se processou em: a) sistema fechado, b) parcialmente fechado ou c)
aberto.
a) O sistema fechado é quando não há troca alguma de componentes entre
a porção de rocha considerada (o sistema idealizado) e o seu exterior – esta situação
ocorre no interior maciço, não deformado, íntegro (sem evidências de fraturamento /
venulação) de corpos ultramáficos relativamente grandes, que supostamente não
sofreram nem mesmo percolação restrita de fluidos. Obviamente, trata-se de uma
idealização, uma situação irreal.
b) Sistema parcialmente aberto é quando ocorre apenas troca da fase fluida
com o exterior, sem que haja modificação na concentração relativa dos demais
componentes (MgO, FeO, SiO2, Al2O3, etc). Exemplo deste caso seria a hidratação
pura e simples de um peridotito: apenas água seria incorporada, sem modificações nos
demais componentes.
c) Transformações em sistema aberto, ou processos metassomáticos,
pressupõem mobilidade dos demais componentes, havendo trocas com o exterior do
sistema através de componentes químicos dissolvidos na fase fluida, redistribuídos em
função de gradientes químicos existentes entre o sistema em questão (o corpo de
rochas em estudo) e o seu meio (rochas encaixantes). Rochas ultramáficas /
ultrabásicas tem grande diferença composicional em relação a suas encaixantes na
crosta (rochas quartzo-feldspáticas e metapelíticas, em geral), fato que facilita o
desenvolvimento de processos metassomáticos entre elas, principalmente em regimes
metamórficos com alta taxa de percolação de fluidos em zonas intensamente
deformadas (zonas de cisalhamento).
Os processos metassomáticos mais comuns em rochas metaultramáficas
são a serpentinização e a talcificação. Muitos serpentinitos se originam a partir da
hidratação de protolitos ultramáficos, acompanhada da mobilização preferencial de
alguns componentes, como Ca e álcalis, e eventualmente também Al. A formação de
talco xistos e esteatitos é um processo metassomático por excelência: não é possível
formar rochas constituídas integralmente por talco a partir de protólitos ultramáficos
ígneos ou mesmo carbonáticos magnesianos através de metamorfismo acompanhado
apenas de hidratação (ver diagramas CMS e MSH para a relação composicional do
talco e das demais fases magnesianas). Além dos acima descritos, podem ocorrer
ainda a cloritização (enriquecimento em Al, possivelmente oriundo de partes
serpentinizadas / talcificadas), e abiotitização, principalmente em contatos entre talco
xistos e granitos / migmatitos intrusivos.
Rochas como antofilita – talco xistos e talco-clorita-antofilita-tremolita xistos
tem composições não compatíveis com protolitos ígneos ultramáficos “convencionais”:
nestes casos, modificações composicionais (principalmente em zonas de cisalhamento,
tão freqüentes nos terrenos precambrianos brasileiros) devem ter tido grande
importância.

2 SISTEMAS QUÍMICOS

MSH (MgO–SiO2–H2O) – sistema ultrabásico / magnesiano fundamental,


para composições duníticas / harzburgíticas (Trommsdorf & Evans 1972).
CMSH (CaO–MgO–SiO2–H2O) – para composições lherzolíticas simples.
(Evans 1977, Evans & Trommsdorf 1974)
CMASH (CaO–MgO–Al2O3–SiO2–H2O) para composições lherzolíticas e
para komatiítos, sistema simplificado.
NCMASH (Na2O–CaO–MgO–Al2O3–SiO2–H2O) – representa mais
realisticamente composições komatiíticas e de peridotitos (lherzolitos) com plagioclásio.
Outros componentes, geralmente não considerados nas projeções em diagramas de
fase: FeO (desconsiderado, uma vez que MgO>>FeO), K2O (geralmente em teores
insignificantes, exceto em rochas ultramáficas de filiação alcalina ou alteradas por
processos hidrotermais / metassomáticos), TiO2 (idem). CO2 na fase fluida é tratado à
parte, e pode adquirir importância destacada em muitos casos.

3 PRINCIPAIS MINERAIS METAMÓRFICOS

3.1 Sistema MSH


Serpentinas: antigorita (Atg), crisotila (Ctl), lizardita - Mg3[Si2O5](OH)4
Talco (Tlc) – Mg3[Si2O10](OH)2
Brucita – Mg(OH)2
Olivina: forsterita (Fo) – Mg2SiO4
Antofilita (Ath) – Mg7Si8O22(OH)2
Enstatita (En) – Mg2Si2O6

3.2 Sistema CMSH: adicionalmente


Diopsídio (Di) – CaMgSi2O6
Tremolita (Tr) – Ca2Mg5Si8O22(OH)2

3.3 Sistema MASH / CMASH: adicionalmente


Clorita (clinocloro - Chl) – (Mg,Fe2+,Fe3+,Mn,Al)6[(Si,Al)4 O10](OH)8
Espinélio (Spl) – MgAl2O4

3.4 Sistema NCMASH: adicionalmente


Hornblenda – NaCa2Mg4Al[Al2Si6]O22(OH)2

4 PRINCIPAIS REAÇÕES METAMÓRFICAS

(Tabela 5.1 e Figuras 5.3 e 5.4 de Bucher & Frey 1994 – v. também Spear 1993, Tab.
13-1):

Sistema: Reações:
MSH (1) 15 Ctl (crisotila) + Tlc (talco) ⇔ Atg (antigorita)
(2) 17 Ctl ⇔ Atg + Brc (brucita)
(3) Atg+20 Brc ⇔ 34 Fo (forsterita) + 51 H2O
(4) Atg ⇔ 18 Fo + 4 Tlc + 27 H2O
(5) Atg + 14 Tlc ⇔ 90 En (enstatita) + 55 H2O
(6) Atg ⇔ 14 Fo + 20 En + 31 H2O
(7) 9 Tlc + 4 Fo ⇔ 5 Ath (antofilita) + 4 H2O
(8) Tlc + Fo ⇔ 5 En + H2O
(9) Ath + Fo ⇔ 9 En + H2O

CMSH 10) Atg + 8 Di ⇔ 18 Fo + 4 Tr + 27 H2O


(11) Tr + Fo ⇔ 5 En + 2 Di + H2O

MASH (12) Chl ⇔ Fo + 2 En + Spl + 4 H2O


5 PRINCIPAIS DIAGRAMAS PARA REPRESENTAR AS RELAÇÕES DE FASE

5.1 Sistema MSH


Diagrama triangular MgO–SiO2–H2O. São três componentes: para 2
variáveis (P, T), podemos ter 5 fases em equilibrio em pontos invariantes (v. diagramas
distribuídos em aula – pontos invariantes I e II), ou 4 ao longo das curvas univariantes
(que marcam as reações), ou três nos campos divariantes. (Lembrete: V=C – F + 2 –
Regra das Fases, onde V = grau de liberdade / variância, C =no de componentes, F =
no de fases no sistema considerado). Este diagrama pode ser projetado sobre a reta
MgO – SiO2 a partir do vêrtice H2O (pressupondo este componente em excesso no
sistema, portanto: Ptotal=PH2O).

5.2 Sistema CMSH


Sua projeção completa corresponde a um tetraedro com vêrtices (CaO-MgO-
SiO2-H2O), mas é representado através da projeção planar sobre um diagrama
triangular a partir do vêrtice H2O (v. figuras em anexo). Em geral, considera-se o
sistema mais completo, CMS-CH (CO2 + H2O na fase fluida). A representação na rede
das curvas de equilíbrio em campo P x T (v. diagramas em anexo) restringe-se às
curvas que envolvem diopsídio (a fase cálcica estável sob condições de baixo grau
metamórfico) e tremolita, esta novamente substituída por diopsídio quando em alto
grau. Nas curvas pertinentes a este sistema teremos portanto 5 fases em equilíbrio nas
curvas univariantes (temos agora 4 componentes!), e 4 nos campos divariantes, se
bem que na projeção triangular são indicadas, no máximo, apenas 4 fases como
participantes das reações! (a presença da fase fluida é constante).
Um exemplo real de metamorfismo de contato de serpentinitos junto ao
Tonalito de Bergell, Suiça, interpretado através dos sistemas CMSH e MSH, é
apresentado em Yardley (1989).

5.3 Sistemas AMSH e CMASH


A única diferença entre estes e os anteriores é a inclusão da curva de
quebra da clorita magnesiana (clinocloro). Na ausência de outros componentes (Na,
por exemplo), supõe-se todo o Al incorporado à clorita, que permaneceria como fase
inerte ao longo da maior parte da evolução metamórfica progressiva, até atingir o seu
limite máximo de estabilidade, quando então seria consumida para formar paragêneses
com Ol-Opx-Esp. Este quadro é algo idealizado, porém é útil para rochas co baixo
conteúdo em Al. No entanto, reações descontínuas de substituições tschermakíticas e
conseqüentes variações composicionais na clorita (enriquecimento em Al com aumento
do grau metamórfico, principalmente sob condições próximas às da sua quebra final)
podem modificar a situação, mas não serão aqui consideradas.

5.4 Sistema NCMASH


É um sistema mais complexo, com as reações metamórficas
predominantemente descontínuas, controladas pelas substituições catiônicas /
soluções sólidas nos anfibólios e cloritas. A tremolita dá lugar à hornblenda
magnesiana através de substituições edeníticas / tschermakíticas combinadas
(respectivamente, ‫ٱ‬ASiIV⇔NaAAlIV e MgVISiIV⇔AlVIAlIV), que se processam
contínuamente com o aumento do grau metamórfico, e Mg-clorita enriquece em Al até
a sua quebra final (subst. tschermakítica). Este processo irá resultar, em última
instância, em rochas com porfiroblastos de olivina e/ou ortopiroxênio em uma matriz de
hornblenda magnesiana (incolor) com espinélio verde (MgAl2O4) intersticial ou incluso
nas fases porfiroblásticas. Nas etapas intermediárias, clorita pode ocorrer em
quantidade variável junto às demais fases envolvidas. A representação correta deste
sistema exigiria uma projeção multidimensional, que permitisse indicar os campos
multivariantes ao longo dos quais se processam as reações contínuas.
H. GRANULITOS

Caetano Juliani

INTRODUÇÃO

A fácies granulito foi originalmente definida por Eskola (1939) ao referir-se a


rochas geradas em temperaturas muito altas, onde haveria a desidratação do anfibólio,
produzindo ortopiroxênio em rochas de composição básica.
As altas temperaturas exigidas para formação dos granulitos restrigem suas
ocorrências a regiões crustais onde gradiente geotérmico excede os valores normais.
Seus minerais geralmente apresentam texturas coroníticas, que são usadas
para definição da história termal e geodinâmica da crosta continental, fornecendo
informações sobre os episódios orogênicos, inclusive, por vezes sobre os estágios
evolutivos iniciais, anomalias e reequilíbrios termais, influxo de CO2, fusão crustal e
diferenciação da crosta continental.

1 DEFINIÇÃO

O termo granulito foi utilizado desde o século passado para vários tipos de
rochas, dentre os quais apenas o trappgranulit possuia em sua composição o
hiperstênio. De modo geral estes litotipos foram originalmente descritos como de
granulação grossa, maciços e com textura granoblástica.
Atualmente o termo refere-se a rochas com com ortopiroxênio, pobres em
micas, geradas na fácies granulito.
Um grupo internacional criado em 1968 criado para redefinição do termo
(Behr et al., 1971) resultou nas seguintes recomendações:
a) Nem todas as rochas da fácies granulito são granulitos, assim como nem
todas rochas da fácies anfibolito são anfibolitos. Entretanto, todos granulitos pertencem
à fácies granulito.
b) Os granulitos devem ser nomeados de forma descritiva, sem conotações
genéticas, sempre que possível.
c) O termo deve ser limitado a rochas ácidas ou relativamente ácidas, ricas
em feldspatos.
d) O nome deve ser utilizado para rochas finas, sendo chamados de
granofels se a granulação é maior que 3 mm.
e) A textura típica é granoblástica equigranular, com ou sem quartzo platy.
f) Cordierita pode estar presente e muscovita nunca está presente.
As condições c), d) e e) não tem sido adotadas generalizadamente pelos
petrólogos.
Destaca-se ainda o termo granolito, utilizado por Winker para definição das
rochas da fácies granulito, que também não tem sido adotado pela maioria dos
petrólogos.

2 CONDIÇÕES DE FORMAÇÃO

- Temperatura varia de 650 oC até > 1.000 oC


- Pressão varia de 3 kbar até > 18 kbar (geralmente até 10 – 12 kbar)
- Tem sido demonstrado que podem se formar em regimes de P-T horários e
anti-horários e uma importante parcela dos terrenos sofreram resfriamento isobárico
(IBC)

- Fluidos podem estar:

a) Ausentes
b) Serem ricos em CO2
c) Serem ricos em H2O

O CO2 pode geralmente é introduzido nos estágios tardios do metamorfismo,


após a formação das paragêneses características.
Na ausência de fluidos as rochas crustais férteis produzem 30 a 40% de
fusão a 850-900 oC, ao passo que metapelitos saturados em quartzo produzem 25 a
50% a ~ 850o C e metabasitos e metaintermediárias geram 15 a 50% em temperaturas
maiores que 950o C. Com altos volumes de fusão a temperatura permanece constante
até que cesse a fusão parcial, impossibilitando a formação dos granulitos, mas com a
remoção do fundido, que formará granitos do tipo I e S, restará um resíduo granulítico
na base da crosta, com:

- Qzt + FK (ou Pl) + Grt + Sil + Rt


- Qzt + Pl + Opx + Grt
- Opx + Cpx + Pl + Grt
Se houver continuidade no suprimento térmico poderão ser gerados granitos
do tipo A, sem tamponamento da temperatura pela fusão parcial.

3 DISTRIBUIÇÃO NA CROSTA, IDADES E TIPOS DE OCORRÊNCIAS

a) Xenólitos em magmas derivados do manto


b) Fatias em cinturões orogênicos colisionais do tipo Alpino
c) Maciços granulíticos
d) Boudins de granulitos em terrenos da fácies eclogito ou anfibolito

4 PARAGÊNESES DIAGNÓSTICAS

As principais paragêneses dos granulitos podem ser vistas na Fig. 1.

FIGURA 1. Principais paragêneses dos granulitos.

Metapelitos: quartzo + pertita + sillimanita + almandina + cordierita + biotita


+ cianita
Metabasitos: plagioclásio + dipsídio/salita + hiperstênio + granada
Rochas carbonáticas magnesianas: calcita + diopsídio + forsterita +
escapolita + coríndon. Caso haja alumínio e potássio, formam-se também clinocloro e
flogopita. Wollastonita pode estar presentes em T > 800o C se PCO2 > PT e zoizita +
cianita (white schists) ou zoizita/clinozoisita + grossulária + quartzo + anortita + calcita
se PCO2 << PT.
Metaultrabásicas: forsterita + enstatita + espinélio.
5 A PASSAGEM DA FÁCIES ANFIBOLITO PARA GRANULITO

É definida pelo primeiro aparecimento do ortopiroxênio nos metabasitos (Fig.


2 e 3), em função da reação:

hornblenda + quartzo Æ ortopiroxênio + clinopiroxênio + plagioclásio + H20,


resultando na seguinte associação:

Opx + Cpx + Pl + Hbl + Grt + Bt + Qtz + Rt + Ilm

Nos metapelitos a indicação é dada pelo desaparecimento da muscovita:


Ms + Qzt = Or + Sil + H2O, em PH2O < 3,5 kbar

Reações complementares podem ser vistas nos diagramas de fases KFMAS


e FMAS apresentados no ítem metapelitos.

6 A TRANSIÇÃO ENTRE AS FÁCIES GRANULITO E ECLOGITO

O eclogito é definido como uma rocha com granada rica em piropo e


grossulária + onfacita, sem plagioclásio. Geralmente estão presentes também quartzo,
cianita e rutilo.
A paragênese é dada pela reação Opx + Pl Æ Grt + Cpx + Qzt, que ocorre
ao redor de 1000 oC e a pressões entre 12 e 18 kbar, dependendo da razão Ca/Na e
da quantidade de Na2O na rocha, qua quanto maiores, mantêm mais estável o
plagioclásio de sódio com o aumento da temperatura (Fig. 4).

FIGURA 2. Reações de formação do orto- e do clinopiroxênio no metamorfismo de


fácies granulito de pressão baixa, intermediária e alta.
FIGURA 3. Reações de formação do orto- e do clinopiroxênio no metamorfismo de
fácies granulito.

FIGURA 4. Separação dos granulitos de alta pressão e a transição para a fácies eclogito.
7 NOMENCLATURA

As rochas de composição granítica constituem a série charnockítica e são


denominadas com base no diagrama QAP utilizado para as rochas graníticas, como
pode ser visto a seguir:

2 3 4 5

6 7 8 9 10
FK( )*
P(
**)

** Plagioclásio com An>5

FIGURA 4. Diagrama para classificação granulitos da série charnockítica.

TABELA 1. Classificação dos granulitos da série charnockítica.


Campo Nome
2 Hiperstênio-álcali-feldspato granito ou álcali-feldspato charnockito
3 Hiperstênio granito ou charnockito. Farsundite para o campo 3b
4 Hiperstênio granodiorito ou charnoendebito ou opdalito
5 Hiperstênio tonalito ou enderbito
6 Hiperstênio-álcali-feldspato sienito
7 Hiperstênio sienito
8 Hiperstênio monzonito ou mangerito
9 Monzonorito ou hiperstênio monzodiorito ou jotunito
10 Norito ou hiperstênio diorito. Anortosito para M < 10
Obs.: i) Charnockitos com mesopertita são denominados de m-charnockitos
ii) A mesopertira deve ser computada como ½ FK e ½ P, antipertita como P e
pertita como FK.

Para rochas de composição básica podem ser utilizados os seguintes


termos, recomendados por Behr et al. (1971), ao invés de granulitos máficos:

Piroclasito, para rochas com orto- e/ou clinopiroxênio e plagioclásio


Piribolito, para rochas com hornblenda parda, orto- e/ou clinopiroxênio e
plagioclásio, se Hbl:Px = 1:1.
Pirigarnito, para rochas com piropo-almandina, orto- e/ou clinopiroxênio e
plagioclásio, se Grt:Px >= 1:1
Para outros tipos de rochas pode ser utilizada a classificação de Katz (1972),
como se segue (Fig. 6):

FIGURA 6 − Classificação dos granulitos não charnockíticos.

8 TIPOS DE GRANULITOS BÁSICOS

8.1 De baixa pressão (low pressure)


São caracterizados pela paragênese estável de olivina e plagioclásio

8.2 De pressão média (intermediate pressure) ou piroxênio granulitos


Tipicamente apresentam ortopiroxênio e plagioclásio em paragêneses
estáveis, mas não ocorrem olivina em contato com plagioclásio

8.3 De pressão alta (high pressure) ou granada granulito


Apresentam associação de granada + clinopiroxênio + plagioclásio +
quartzo, mas ortopiroxênio não coexiste com o plagioclásio, devido a reação
ortopiroxênio + plagioclásio Æ clinopiroxênio + granada + quartzo
9 REAÇÕES METAMÓRFICAS

9.1 Rochas básicas

Hbl + Qzt Æ Fs + Cpx + Pl + H2O


Hbl + Bt + Qzt Æ Fs + Or + Pl + H2O
Hbl + Alm + Qzt Æ Fs + Pl H2O
Ol + An Æ Fs + Cpx + Spl
Fs + Pl Æ Cpx + Grt + Qzt
Px + Spl + Pl Æ Grt + Px

9.2 Rochas metapelíticas


A formação do hiperstênio depende da razão Al2O3/(FeO + Fe2O3) = A. Se:

A > 1 Î 3Crd Æ 2Grt + 4Sil + 5Qzt;


A < 1 Î Crd + 4Fs Æ 2Grt + 3Qzt
Crd + Grt Æ Fs + Sil + Qzt
Crd Æ Fs + Sil + Qzt
Fs + Sil Æ Spr + Grt + Qzt
Crd + Grt Æ Fs + Spr + Qzt
Crd + Grt Æ Fs + Spl + Qzt
Bt + Qzt Æ Fs + Or + H2O + Grt
Bt + Sil + Qzt Æ Crd + Grt + Or + H2O
Bt + Crd + Qzt Æ Grt + Or + H2O
Mu + Qzt Æ Or + Sil + H2O
Mu + Cal + Qzt Æ Or + Fs + H2O
Bt + Qzt Æ Or + Prp/Alm + H2O

10 SISTEMAS QUÍMICOS

Os sistemas químicos para estudo dos granulitos é são os FMAS e o


KFMAS, sem H2O, que incluem as seguintes fases: quartzo, sillimanita, granada,
cordierita, ortopiroxênio, espinélio e safirina.
No sistema FMAS algumas paragêneses são diagnósticas da fácies
granulito, quais sejam:
Grt + Crd + Qzt: distribem-se em um largo campo P-T
Grt + Crd ou Opx e/ou Sill: indicam P-T altas
Spl + Qzt: são diagnósticos de T altas
Spr + Qzt: formam-se em P-T altas

Deve ser observado que a simples presença da safirina não é diagnóstica,


uma vez que este mineral pode ocorrer em baixo grau metamórfico em rochas
aluminosas.
Influxos de CO2 do manto são insuficientes para desidratação da crosta
(baseado em isótopos de He).
CO2 geralmente é posterior ao pico metamórfico, mas as inclusões fluidas
demonstram que ele pode ser uma fase importante sin-metamórfica.
Granulitos podem ser produzidos por metamorfismo com fluido presente ou ausente.
Com fluido os granulitos podem ser formados por reações de desidratação a
temperaturas relativamente baixas, em presença fluidos dominados por outras
espécies que não a água (p.ex. CO2).
Pequenas quantidades de fluido rico em H2O acima de 650o C (fácies
granulito) provocam limitados graus de fusão parcial e a formação de migmatitos
granulíticos, mas não produzem magma granitóide móvel.
A base da crosta é formada por metagabros e restitos de granulitos, mas a
crosta média a superior contem componentes de restito de granulitos substanciais,
derivados da fusão parcial em regime de fluido ausente de rochas crustais comuns, que
sofreram ciclos de hidratação anteriores.
Somente granulitos de fluido ausente (produzidos a > 850o C) podem
relacionar-se com os volumosos granitóides associados aos terrenos granulíticos.

11 MODELOS GENÉTICOS

Diversos modelos genéticos são propostos para formação dos granulitos,


incluindo o metassomatismo carbônico, causado pela degasificação do manto, com
influxos por pressão positiva na base da crosta Fig. 7. Entretanto, estudos mais
recentes tem demonstrado que, a não ser em raros casos, a introdução do CO2 é tardio
à formação dos granulitos, o que desfavorece o modelo anterior.
Atualmente a formação dos granulitos é interpretada como formada em dois
estágios, quais sejam:
a) fusão parcial em temperatura relativamente estável, com geração de
líquidos até todo consumo da água disponivel e extração do líquido do local.
b) formação dos granulitos por continuidade do fluxo térmico, possibilitando,
após a extração do fundido, que a temperatura alcance, sem fusão, temperaturas
sficientes para formação do ortopiroxênio.
Caso a temperatura seja suficientemente alta para ocasionar a fusão parcial
anidra, haverá formação de migmatitos da fácies granulito. Se a fusão for intensa
poderão então ser gerados charnockitos e os demais charnockitóides.
Com o avanço das isotermas de alta temperatura para níveis crustais um
pouco menos profundos, os granitos e migmatitos do primeiro estágio podem ser
granulitizados e charnockitizados.
O modelo genéticos em dois estágios é apresentado na Fig. 8.

FIGURA 6. Esquema do modelo genéticos de formação dos granulitos.


FIGURA 7. Esquema do modelo genéticos de formação dos granulitos em dois
estágios.
I. MIGMATITOS

Caetano Juliani

INTRODUÇÃO

Em grau metamórfico alto e em presença de PH2O significativo, as rochas


sofrem fusão parcial (ver Fig. 2 Parte A), resultando em rochas híbridas, em parte
metamórficas e em parte ígneas, que são denominadas de migmatitos. Alguns autores
denominam este processo de ultrametamorfismo e, com a progressão da fusão, há
uma gradativa passagem para rochas ígneas, com a geração de migmaitos nebulíticos.
Os migmatitos são formados predominantemente a partir de granitóides, mais
comumente com composição granítica, pois rochas de composição mais básica
dificilmente se fundem na crosta com o grau geotérmico normal.

1 DEFINIÇÃO

O termo migmatito foi originalmente aplicado para descrever rochas xistosas,


metavulcânicas e gnáissicas com veios e bolsões de rochas graníticas e, por vezes
com porfiroblastos metassomáticos de feldspato.
Paleossoma (paleosome): representa o protolito metamórfico que não
sofreu fusão, ou que tece suas texturas, estruturas e composição química muito pouco
afetadas pela fusão parcial ou pela injeção de líquidos magmáticos.
Neossoma (neosome): é a porção neoformada da rocha, com
características ígneas.
A descrição das partes do migmatito pode ser também feita do seguinte
modo:
a) Leucossoma (leucosome): é composta por um maior volume de minerais
félsicos, especialmente feldspatos e quartzo, relativamente ao paleossoma
b) Melanossoma (melasome): são os leitos e porções formados
prodominantemente por minerais máficos, como biotita, hornblenda, cordierita, etc, ou
seja, são os resíduos da fusão mínima do paleossoma.
c) Mesossoma (mesosome): porçõea da rocha original, que não sofreu
fusão.
Estes termos não implicam em conotações genéticas, uma vez que a
formação das porções claras dependem da composição original de diferentes leitos.
O neossoma pode ser formado de três maneiras: fusão parcial in situ,
injeção de material fundido e introdução metassomática. A concentração de leitos de
composição quartzo-feldspática semelhante a do neossoma pode também ser
observada em rochas de menos grau metamórfico, em função de segregação
metamórfica sem que haja fusão.

2 SISTEMA QUÍMICO

Granitos:
SiO2−NaAlSi3O8−KAlSi3O8−CaAl2Si2O8−H2O
(quartzo−albita−anortita− ortoclásio−água)
A fusão depende não somente da composição da rochas, como também da
pressão, como pode ser visto nas Fig. 1 e 2, para as composições graníticas.

Metabasitos:
SiO2−CaAl2Si2O8−KAlSi3O8−H2O
(quartzo−anortita−ortoclásio−água)
Hornblenda−clinopiroxênio−ortopiroxênio−plagioclásio−granada.
A fusão das rochas básicas exige uma maior pressão de H2O, e
temperaturas ainda maiores que as verificadas nas rochas graníticas.

3 ESTRUTURAS MACROSCÓPICAS

As estruturas dos migmatitos são puramente descritivas, mas para uma


dada composição química do protolito, a uma dada PH2O e Pt e Pf, elas podem ser
indicativas de diferentes taxas de fusão parcial, ou de injeção, podendo, desta forma,
fornecerem importandes indicações sobre aumento da temperaturas, temperatura e
profundidade do meio. Alternativamente, podem ser indicativas de diferentes processos
de injeção de fluidos no sistema, notadamente de água, ou de descompressão do
sistema. Podem ainda, segundo os minerais residuais, fornecerem informações sobre
as reações químicas de desidratação dos minerais para formação da fusão e,
complementarmente, da seqüência de cristalização dos minerais ao resfriamento.
As pricipais estruturas, segundo Mehnert (1971) são (ver estruturas):

Agmatítica ou brechada (agmatitic or breccia)


Dictionítica ou em rede (dyktyonitic)
Schollen ou em placas (schollen or raft)
Flebítica ou em veios (phlebitic)
Estromática ou acamada (stromatic or layered)
Surreítica ou de dilatação (surreitic or dilatation)
Dobrada (folded)
Ptigmática (ptygmatic)
Oftalmítica, augen ou ocelar (ophthalmitic or augen)
Estiolítica, manchada ou em nódoas (stictolithic or fleck)
Schlieren (schlieren)
Nebulítica (nebulitic)

FIGURA 1. Diagrama da fusão mínima granítica no sistema Q−Ab−Or, a 2 kbar (Winker, 1977).
FIGURA 2. Diagrama da fusão mínima granítica no sistema Q−Ab−Or, a 7 kbar
(Winkler, 1977).
FIGURA 3. Diagrama T-P experimental da fusão de anfibolitos. (M) fusão, (Pl) plagioclásio,
(Hbl) hornblenda, (Cpx) clinopiroxênio, (Opx) orthopiroxênio e (Ga) granada. Linhas do solidus
a P=PH2O e demais linhas indicando surgimento (in) e desaparecimento (out) de minerais nos
restitos (Zharikov & Khodorevskaya, 1995).

FIGURA 4. Diagrama da composição normativa Ab–Na-Or da fusão parcial de rochas básicas e


ácidas. (1) composição inicial do anfibolito, resultando nas composições “anidras” (2-5) do
sistema a diferentes pressões (kbar): 2 - 5; 3 - 15; 4 - 20; 5 - 25; 6-7 e PH2O = 5 e 7,5 kbar,
respectivamente; 8 - 5 kbar em presença de fluido ácido (H2O + HCl). Setas mostram aumento
isobárico da temperatura. (A) tonalito, (B) granodiorito, (C) adamelito, (D) trondhjemito, (E)
granito (Zharikov & Khodorevskaya, 1995).
Os seguintes termos são também importantes:

Anatexito (anatexis): corresponde à fusão in situ de uma rocha preexistente.


Diatexito (diatexis): rocha formada por uma alta taxa de fusão, em níveis
que se aproximam muito de uma rocha ígnea.
Metatexito (metatexis): segregação metamórfica de minerais máficos ou
félsicos pela fusão parcial resultando em leucossoma e melanossoma.

4 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DOS MIGMATITOS

A determinação da sequência de formação das estruturas migmatíticas é de


fundamental importância para o estudo de terrenos metamórficos, pois permitem o
estabelecimento de uma cronologia relativa de formação de magmas e, portanto,
assegura estudos geocronológicos mais precisos. O mapeamento das sequências de
surgimento das estruturas migmatíticas para um determinado tipo de rocha, permite
também a definição de zonas de maior fluxo térmico na crosta com implicações
importantes, tanto no metamorfismo progressivo das sequências supracrustais, como
também para a datação de eventos tectonomagmáticos de um sistema orogênico. Uma
vez que a fusão parcial é fortemente controlada por alívio da pressão total e/ou por
introdução de H2O no sistema, que se dá preferencialmente ao longo de
descontinuidades físicas e zonas de cisalhamento, o estudo dos migmatitos através de
suas estruturas e da petrologia, constitui-se em uma ferramenta para o
estabelecimento de períodos de compressão/descompressão no orógeno (Hopgood,
1984).
J. ESTRUTURAS METAMÓRFICAS

Caetano Juliani
Thatyana Benevides
Fernando Camargo Freitas
Annabel Pérez Aguilar

INTRODUÇÃO

Na descrição das estruturas das rochas metamórficas, pode-se, muitas


vezes, citar a estrutura original, sedimentar ou ígnea, sem necessidade de adoção do
prefixo blasto-, que caracteriza a preservação parcial do protolito.
Há um grande número de estruturas identificáveis em rochas metamórficas, mas as
principais delas são:

Reliquiares (relict): são resquícios identificáveis de estruturas prévias ao evento


metamórfico considerado. A preservação depende muito do grau de recristalização e
da intensidade da transposição tectônica, sendo dificilmente encontradas em terrenos
de alto grau. Na sua nomenclatura, acrescenta-se o prefixo blasto ao nome da
estrutura original, quando cabível. Como exemplos podem ser citadas estratificações
cruzadas, marcas de ondas ou solas, granodescrescência, laminação plano-paralela,
seixos pingados, pillow lavas, brechas vulcânicas ou sedimentares, etc.
Algumas estruturas reliquiares são:
Blasto-amigdaloidal (blasto-amygdaloidal): ver textura.
Blastodrusiforme (blastodrusiform): ver textura.
Blasto-escoriácea. (blastoscoriaceous): ver textura.
Blasto-esferulítica (blastospherulitic): ver textura.
Blastomiarolítica (blastomiarolitic): ver textura.
Blastoporfirítica (blastoporphyritic): ver textura.
Blastospinifex (blastospinifex): ver textura.

Blastovariolítica (blastovariolitic): ver textura.


Blastovesicular (blastovesicular): ver textura.
Blastopsefítica (blastopsefític): ver textura.
Blastorudítica (blastoruditic): ver textura.
Blastoquímica (blastochemical): ver textura.
Blasto-clastoquímica (blasto-clastochemical): ver textura.
Blastopsamítica (blastopsammitic): ver textura.

O reconhecimento do acamamento é muito importante para reconstituição


das estruturas tectônicas e da própria origem de algumas rochas e é identificado como
S0, ou seja, é a superfície planar mais antiga que pode ser observada numa rocha
metamórfica.
Foliações metamórficas: são planos gerados pela pressão dirigida nos quais
geralmente cristalizam-se os minerais metamórficos e são identificadas
cronologicamente como S1, S2, S3, S…, sendo que a S1 é a primeira foliação
metamórfica do evento considerado. Em muitos casos, nem sempre é possível afirma-
se que a primeira foliação trata-se realmente da S1 e, nestes casos, deve-se utilizar a
denominação de Sn, Sn+1, etc. A forma dos planos varia em função da temperatura e
pressão nas quais as rochas foram geradas. A foliação geralmente é dada pela
isorientação de minerais placóides, tabulares, prismáticos e aciculares, mas pode
também ser definida pelo estiramento e recristalização de qualquer mineral, como o
quartzo, os carbonatos e os feldspatos.
Na caracterização das foliações deve ainda ser utilizada a nomenclatura da
geologia estrutural, como: crenulação, clivagem disjuntiva, paralela, anastomosada,
discreta, gradacional, zonal, cerrada, diferenciada, etc.
Essas foliações são subdivididas em:
Clivagem ardosiana (slaty cleavage): ocorre em rochas formadas em baixas
temperaturas, de granulação muito fina, usualmente menores que 0,05 mm (os
minerais não são indistinguíveis a olho nú) e constitui-se em planos bem definidos e de
espaçamento cerrado. Devido à granulação dos minerais e à falta de uma forte
orientação preferencial dos minerais micáceos, os planos desta foliação, que
usualmente cortam o S0, são tipicamente foscos.
Foliação filítica (phyllitic foliation): são típicas para rochas formadas em P−T um pouco
maiores que as anteriores e são caracterizadas pela granulação um pouco maior, mas
ainda com os minerais indistinguíveis a olho nú. Devido à maior granulação e melhor
orientação preferencial das micas esta foliação apresenta um brilho lustroso. As
superfícies de quebra na foliação filítica também são planas e bem definidas, mas
podem ser um pouco irregulares, devido ao início dos surgimento de alguns minerais
mais grossos, que cristalizam-se em velocidades relativamente maiores, e ao maior
cisalhamento entre os planos de foliação, que faz com que os minerais placóides
amoldem-se ao redor de grãos mais grossos.
Xistosidade (schistose or schistosity): varia de fina a muito grossa, ocorre em rochas
onde os minerais já podem ser identificados macroscopicamente e, gradativamente, os
planos vão se tornando menos definidos e mais corrugados, em função da pressão e
temperatura mais elevadas e da cristalização de minerais maiores que os demais,
como a granada e a estaurolita. Estas rochas são, característicamente micáceas. A
granulação dos xistos é assim considerada:

• < 0,01 mm = ultra fina


• 0,01 a 0,1 muito fina
• 0,1 a 1 mm = fina
• 1 a 4 mm = média
• 4 a 16 mm = grossa
• > 16 mm = muito grossa

Foliação gnáissica: é típica de rochas quartzo-feldspáticas, formadas principalmente


pela reação da muscovita + quartzo, quando de origem pelítica, em P - T muito mais
altas (acima de 640o C). Geralmente as rochas são bandadas, com os planos da
foliação geralmente mal definidos, mas mesmo quando as feições planares são nítidas,
a partição da rocha é difícil. A foliação é definida pela orientação do quartzo e dos
feldspatos e/ou dos anfibólios e biotita presentes. Em rochas metamórficas derivadas
de arcóseos e grauvacas ou de rochas graníticas, estruturas semelhantes podem ser
formadas em temperaturas mais baixas.
Foliação granulítica: é semelhante à anterior mas se caracteriza pela presença de
quartzo e feldspatos fortemente estirados, com formas lenticulares (com 1 a 4 cm de
comprimento e 0,2 a 4 mm de espessura), sendo típicas de rochas formadas em
temperaturas ainda mais altas que as anteriores, suficientes para fundir a rocha, o que
não ocorre devido à pouca quantidade absoluta ou relativa de água, em função do
enriquecimento em CO2. Usualmente estas rochas, ou as associadas, apresentam
ferrosilita (hiperstênio) em sua composição, mineral este que define a fácies granulito.
Outras estruturas são:
Acamadada (bedded): é idêntica à estrutura bandada, mas a espessura é da ordem de
metros a dezenas de metros.
Augen (augen): é típica de rochas quartzo-feldspáticas e é definida pela presença de
feldspato mais grossos ou de agregados de feldspato alongados pela foliação
metamórfica, em forma de olhos. As rocha podem ser denominadas de augen gnaisse,
ou augen milonito.
Bandada (layered): é definida pela alternância de leitos com diferentes composições
mineralógicas ou cores, que correspondem as estruturas originais da rocha
(acamamento) ou são gerados por metamorfismo (bandamento diferenciado), de
espessuras na ordem de centímetros.

Bandamento contorcido (contorted bedding): bandas dobradas irregularemente.


Boudinada (boudinage): quando há diferença de competência entre litotipos
intercalados, os leitos menos competentes são estirados e parcialmente rompidos,
gerando, em cortes, formas elípticas ou alongadas contínuas, como gomos de
lingüiças.
Brechada (brecciated): é definida pela presença de fragmentos líticos ou de minerais
com formas angulosas que podem representar relíquias sedimentares, vulcanoclásticas
ou de brechas hidrotermais, ou fragmentação em regime rúptil em zonas de
cisalhamento.

Cataclástica (cataclastic): rochas fragmentadas por metamorfismo dinâmico, sem


foliação evidente. Podem apresentar poros e fraturas abertas, devido à lixiviaçào de
componentes por hidrotermalismo.
Dobrada (folded): são típicas das rochas metamórficas dinamotermais e ocorrem em
todas escalas, desde regionais, com dezenas de quilômetros de comprimento e
amplitude, até microscópicas. São definidas pelo acamamento ou por foliações
metamórficas anteriores ao período do dobramento e geralmente são definidas pela
cristalização orientada de minerais placóides ou prismáticos, notadamente as micas e
anfibólios. As dobras podem ser kink bands, abertas, fechadas, isoclinais, intrafoliais
(com ou sem raiz), quase sempre tem foliação plano-axial, que constitui-se numa Sn de
maior número que a S dobrada e podem estar redobradas. Sempre é necessário a
definição da superfície que foi dobrada ou redobrada.
Físsel (fissity): é típica de rochas de baixo grau metamórfico, como ardósia e filitos, ou
em milonitos, que partem-se muito facilmente em fragmentos laminares ou tabulares
segundo o acamamenento ou a uma clivagem metamórfica.
Flaser (flaser): é semelhante à anterior, mas ocorre em rochas miloníticas
normalmente derivadas de rochas porfiríticas, e os “olhos” de feldspatos ou de quartzo
são mais estirados e envolvidos por minerais micáceos, principalmente muscovita,
biotita e clorita, definido forte estrutura de fluxo, e fina massa granulosa.
Granulosa (granulose): rocha com texura granoblástica, geralmente maciça.
Hornfélsica (hornfelsic): caracteriza-se por minerais muito finos, que conferem à rocha
aspecto vítreo. Geralmente apresentam fraturas conchoidais, são maciças e
tipicamente são originadas por metamorfismo de contato.
Imbricada (imbricate): fragmentos escalonados superpostos resultantes da
transposição de leitos por foliações metamórficas, notadamente em falhas dúcteis e
rúpteis. Pode ser também relíquia sedimentar.
Laminada (laminated): é idêntica à estrutura bandada, mas as lâminas tem espessuras
milimétricas.

Lineações (lineation): são definidas pela presença de minerais prismáticos,


aproximadamente isorientados, ou pela intersecção de planos de foliações
metamórficas com outras estruturas planares, como o acamamento sedimentar, ou
mesmo uma foliação metamórfica pré-existente. Também são definidas pela
intersecção de foliações ou pelo cisalhamento entre planos com diferentes
composições em dobramentos cilíndricos.
Maciça (massive): rocha que não apresenta foliação ou bandamento. A falta de
foliação indica predominância da recristalização e ausência ou quase de deformação, o
que é típico de metamorfismo de contato ou de alto grau. A falta de bandamento deve-
se ao protolito.
Maculada ou maculosa (maculose): são rochas com porfiroblástos dispersos em
matriz mais fina, como filitos ou ardósias, ou por manchas de concentração de minerais
como material carbonoso ou grafita e carbonatos, por exemplo. Geralmente associa-se
a metamorfismo de contato, mas também ocorrem em rochas metamórficas regionais
devivadas sedimentos com nódulos de ferro, manganês, carbonatos, etc.

Migmatítica (migmatitic): são caracterizadas pela presença de rochas gnáissicas


cortadas por leitos ou veios de granitos, implicando em ter havido uma injeção de
fundidos graníticos, ou em ter ocorrido fusão parcial dos gnaisses. São rochas mistas,
metamórficas e ígneas.
Figura 1. Principais estruturas dos migmatitos, segundo Mehnert (1971). (1) Agmatítica
ou brechada (agmatitic or breccia), (2) Dictionítica ou em rede (dyktyonitic), (3) Schollen
ou em placas (schollen or raft), (4) Flebítica ou em veios (phlebitic), (5) Estromática ou
acamada (stromatic or layered), (6) Surreítica ou de dilatação (surreitic or dilatation), (7)
Dobrada (folded), (8) Ptigmática (ptygmatic), (9) Oftalmítica, augen ou ocelar
(ophthalmitic or augen), (10) Estiolítica, manchada ou em nódoas (stictolithic or fleck),
(11) Schlieren (schlieren) e (12) Nebulítica (nebulitic).

As estruturas dos migmatitos são meramente descritivas, mas para uma


dada composição química do protolito, a uma dada PH2O e Pt e Pf, elas podem ser
indicativas de diferentes taxas de fusão parcial, ou de injeção, podendo, desta forma,
fornecerem importandes indicações sobre aumento da temperaturas, temperatura e
profundidade do meio. Alternativamente, podem ser indicativas de diferentes processos
de injeção de fluidos no sistema, notadamente de água, ou de descompressão do
sistema. Podem ainda, segundo os minerais residuais, fornecerem informações sobre
as reações químicas de desidratação dos minerais para formação da fusão e,
complementarmente, da seqüência de cristalização dos minerais ao resfriamento.

O paleossoma representa o protolito metamórfico que não sofreu fusão, ou que tece
suas texturas, estruturas e composição química muito pouco afetadas pela fusão
parcial ou pela injeção de líquidos magmáticos. O neossoma é a porção neoformada
da rocha, com características ígneas, que pode ser dividido em três partes: 1)
leucossoma: é composta por um maior volume de minerais félsicos, especialmente
feldspatos e quartzo, relativamente ao paleossoma; 2) melanossoma: são os leitos e
porções formados prodominantemente por minerais máficos, como biotita, hornblenda,
cordierita, etc, ou seja, são os resíduos da fusão mínima do paleossoma; e o
mesossoma, que corresponde aproximadamente ao protolito. Estes termos não
implicam em conotações genéticas, uma vez que a formação das porções claras
dependem da composição original de diferentes leitos.
Milonítica (milonític): rochas fragmentadas por metamorfismo dinâmico, com foliação
evidente. Podem apresentar recristalização e minerais metamórficos,
predominantemente de baixa temperatura, como sericita e clorita.

Mosqueada (spotted or dotted): é definida pela presença de pequenos agregados de


micas, em arranjos irregulares ou radiados, comuns em ardósias e filitos de
metamorfismo regional e, especialmente em zonas externas de auréolas de contato.
Ver maculada.

Mullion (mullion): são colunas com perfis elípticos de rochas mais competentes,
geradas por truncamento e rotação de leitos com decímetros a poucos metros de
espessura em dobras similares, definido, o conjunto, arcos. A foliação plano-axial
amolda-se ao redor dos mullions, que podem também estar dobrados.

Nodosa ou nodulosa (knotted): ver textura.

Pitch and swell (pitch and swell): ver boudinada.


Porfiroblástica (porphyroblastic): é definida pela presença de minerais pelo menos
cinco vezes mais grossos que a moda dos minerais da matriz.
Porfiroclástica (porphyroclastic): é semelhante à porfiroblástica, mas os minerais mais
grossos não são produto de cristalização metamórfica, e sim restos de minerais ou
agregados de minerais parcialmente deformados dispersos em uma matriz fina de
minerais moídos e/ou recristalizados por metamorfismo dinâmico.

Sacaroidal (sacchroidal): grãos finos com contatos suturados, com aparência de


açucar. É observada essencialmente em rochas quartzíticas finas, em quartzo de veio
recristalizado ou em mármores finos, .
Serpentinítica (serpentinitic): ver textura.
K. TEXTURAS METAMÓRFICAS

Caetano Juliani
Thatyana Benevides
Fernando Camargo Freitas
Annabel Pérez Aguilar

INTRODUÇÃO

As texturas são feições principalmente observáveis em lupa ou ao


microscópio e são definidas pelo arranjo entre os minerais metamórficos e pelas suas
relações de contato e de granulação. O estudo detalhado das texturas minerais
fornecessem indicações fundamentais para o estabelecimento da evolução
metamórfica, notadamente quando comparadas às estruturas tectônicas, bem como
dos processos envolvidos na formação da rocha e de sua origem.
As texturas das rochas metamórficas são geradas pela recristalização de
minerais e texturas dos protolitos e, sobretudo, pela cristalização e recristalização
metamórfica, ou seja, em estado sólido. Uma vez que os diferentes minerais possuem
diferentes energias livres de Gibson e distintas tensões superficiais, as formas dos
contatos entre eles podem variar enormemente, assim como as suas dimensões
relativas, o que leva à geração de um grande número de textura metamórficas.
Muito freqüentemente estas texturas são polifásicas e, geralmente pode-se
observar trilhas de inclusões internas de outros minerais (Si), que geralmente definem
um foliação metamórfica anterior, ou um estágio inicial da foliação externa (Se),
tornando-as importantíssimas para a definição de evolução metamórfica das rochas,
por permitirem o estabelecimento de uma cronologia relativa de surgimento de minerais
metamórficos, seja em regimes progressivos, retrógrados ou re-metamorfismo.
As reações metamórficas podem se dar de forma contínua ou descontínua,
ou seja, diferentes reações mais ou menos separadas no espaço P-T podem gerar o
mesmo mineral, muito embora com composições diferenciadas. Se as reações são
contínuas, as chances de nucleação do mineral são menores, e o porfiroblasto apenas
continuará a aumentar suas dimensões, mas, se forem descontínuas, reagentes
distintos podem ser utilizados na formação do mineral, fazendo com que haja
nucleações, que produzem, ao final do processo duas ou mais classes modais de
diâmetro médio dos cristais, que podem, inclusive, serem seriados.
Segundo Becke (1913), os minerais dos xistos podem ser ordenados pela
sua tendência de cristalização como minerais idioblásticos (crystalloblastic strenght),
como se segue:

a) Pelitos e psamitos:
(titanita, rutilo) Î (hematita, ilmenita, magnetita) Î (granada, turmalina) Î (estaurolita,
cianita, sillimanita, cloritóide) Î (albita, muscovita, biotita, clorita) Î
(quartzo, cordierita, ortoclásio, microclínio)

b) Calcários, dolomitos e metavulcânicas básicas


(titanita, rutilo, espinélio) Î (pirita, granada, turmalina, espinélio) Î (epidoto, zoisita,
forsterita, augita) Î (hornblenda, dolomita, glaucofano, albita) Î (muscovita, biotita,
tremolita, clorita, talco) Î (calcita, quartzo, ortoclásio, microclínio)
Harker (1932) acrescentou a esta seqüência, os minerais dos hornfels, quais
sejam:

a) Pelitos e psamitos
(rutilo, pleonasto) Î (granada, sillimanita, turmalina) Î (óxidos de ferro, andalusita) Î
(muscovita, biotita, clorita) Î (plagioclásio, quartzo, cordierita) Î
(ortoclásio, microclínio)

b) Calcários, dolomitos e metavulcânicas básicas


(titanita, espinélio, pirita) Î (wollastonita, grossularita, apatita) Î (magnetita, pirrotita,
zoisita, epidoto) Î (forsterita, chondroita, hipertênio, diopsídio, chalybita, dolomita) Î
(escapolita, albita, muscovita, biotita, flogopita) Î (tremolita, vesuvianita, calcita) Î
(plagioclásio, quartzo, ortoclásio, microclínio)

A grande maioria das texturas ígneas e sedimentares podem ser


preservadas, especialmente em rochas de baixo grau metamórfico e pouco
deformadas, algumas delas listadas a seguir:

Blasto-amigdaloidal (blasto-amygdaloidal): rocha na qual podem ainda ser


reconhecidas cavidades de gases liberados no magma, parcialmete preenchidas por
minerais secundários, como quartzo, carbonatos, clorita, zeólitas, etc. Muitas vezes
apenas podem ser fantasmas destas estruturas.
Blastocoronítica (blastocoronitic): relíquias de minerais ígneos com bordas de outros
minerais produzidos em estágio ígneo, produto de reações descontínuas no magma.
Blastocriptográfica (blastocriptographic): é tipica de rochas metavulcânicas com
textura ígnea dada por intercrescimento de finíssimos cristais de feldspatos e quartzo.
Blastodrusiforme (blastodrusiform): relíquias de drusas em rachas metavulcânicas ou
metasubvulcânicas.
Blasto-esferulítica (blastospherulitic): relíquia de textura ígnea dada pela presença de
esférulas ou ovóides de minerais aciculares radiados, geralmente de feldspato, muito
comum em metarriolitos de baixo grau metamórfico.
Blastofelsítica (blastofelsitic): relíquia de textura ígnea de rocha de granulação fina a
criptocristalina.
Blastofelsítica (blastofelsitic): relíquias de rochas ígneas com textura afanítica, de
composição quartzo-feldspática.
Blastofítica (blastophitic): rocha ígnea básica recristalizada em intensidade variável, na
qual reconhece-se ainda restos da textura ofítica, dada por grandes cristais de
piroxênio parcial ou totalmente substituídos por anfibólios, clorita e epidoto, com ripas
de plagioclásio total ou parcialmente englobados, comumente recristalizados e
saussuritizados.
Blastogranular (blastogranular): relíquias de rochas ígneas com minerais granulares
primários parcialmente recristalizados.
Blastohialina (blastohyaline): rocha metamórfica na qual podem ainda ser
reconhecidas evidência de uma textura ígnea vítrea.
Blastohialoclástica (blastohialoclastic): relíquias de rochas vulcanoclásticas com
evidência da existência de vidro vulcânico original.

Blastohialofítica (blastohyalo-ophitic): relíquia ígnea em metavulcânicas básicas a


intermediárias, com relíquias de texturas de vidro vulcânico distribuídas nos interstícios
entre uma rede de ripas de plagioclásio.
Blasto-intersertal (blasto-intersertal): é semelhante à blasto-intergranular, mas os
espaços intergranulares são preenchidos por relíquias de materiais vítreos,
criptocristalinos ou de minerais deutéricos.
Blastopilotaxítica (blastopilotaxitic): relíquias de microlitos de plagioclásio em matriz
feltrosa em rede, sem vidro, alinhados segundo o fluxo ígneo.
Blastopoiquilítica (blastopoikilitic): restos de fenocristais ou megracristais
(oiquilocristais, oikilocrysts) ígneos muito ricos em inclusões de outros minerais,
geralmente em continuidade óptica.
Blastoporfirítica (blastoporphyritic): rocha ígnea recristalizada em intensidade variável,
na qual reconhece-se ainda restos da textura porfirítica, representada por fenocristais,
parcial ou totamente substituídos e recristalizados, dispersos em matriz de cristais
finos, totalmente metamórficos ou não, com granulação, em moda, pelo menos cinco
vezes mais finos que os cristais grossos.

Blastoporfiróide (blastoporphyritic): é semelhante à textura blastoporfirítica, mas os


cristais mais grossos não são fenocristais, e sim megacristais.
Blastorapakivítica (blastorapakivitic): metagranitos com feldspato potássico manteado
por plagioclásio sódico, ovalados (wiborgitico) ou não (piterlítico).
Blastoriodiabásica (blastorhyodiabasic): relíquia de textura ofítica com fenocristais de
plagioclásio orientados aproximadamente em paralelo.
Blastortofírica (blasto-orthophyric): variedade da textura blastoporfirítica, com cristais
grossos de feldspatos com formas quadradas disperdos em matriz fina.
Blastospinifex (blastospinifex): é dada por relíquias de cristais esqueletais, placóides,
tabulares ou aciculares de clino-, ortopiroxênio magnesiano ou de olivina, geralmente
pseudomorfisados, entrelaçados, formando um emaranhado semelhante a folhas de
capim.

Blastosubofífica (blastophitic): rocha ígnea básica recristalizada em intensidade


variável, na qual reconhece-se ainda restos da textura subofítica, dada por uma malha
entrelaçada de cristais tabulares de plagioclásio, parcial ou totalmente substituídos e
recristalizados em grãos menores, comumente com formas de corrosão, com
piroxênios intersticiais, parcial ou totalmente substituídos por anfibólios, clorita e
epidoto.
Blastovariolítica (blastovariolitic): formas globulares do tamanho de uma ervilha ou
maiores, causadas pela desmistura de magmas ou por agregados de feldspatos
radiados ou em leque em metabasaltos.
Blastovesicular (blastovesicular): relíquia de rochas ígneas com vesículas primárias,
geradas pela liberação de gases durante a consolidação da lava. Muito comumente são
preenchidas por minerais secundários, especialmente por quartzo, carbonatos, clorita,
epidoto e sulfetos durante o metamorfismo.
Blastovitroclástica (blastovitroclastic): relíquias de fragmentos de vidro vulcânico e
pumice, com típicas vesículas e espículas triangulares concavas, originadas pelo
rompimento das bolhas.
Blastrovitrofírica (blastovitrofiric): variedade de textura porfirítica reliquiar, com
fenocristais, megacristais ou xenocristais geralmente finos, dispersos em matriz vítrea
escura.
Em rochas sedimentares podem ser reconhecidas, dentre muitas outras, as
seguintes relíquias:
Blastopelítica (blastopelitic): derivada de sedimentos argilosos.
Blastopsefítica (blastopsefític): quando ainda são reconhedidos os fragmentos mais
grossos, sedimentares. e, matriz mais fina, como os seixos estirados na foto abaixo.

Blastorudítica (blastoruditic): ver blastopsefítica.


Blastoclástica (blastoclastic): textura clástica (detrítica) observada como relíquias em
metassedimentos.
Blastoquímica (blastochemical): rochas metassedimentares nas quais podem ainda
ser reconhecidas texturas de precipitação química original.
Blasto-clastoquímica (blasto-clastochemical): rochas metassedimentares nas quais
podem ainda ser reconhecidas texturas de precipitação química original e de
retrabalhamento mecânico.
Blastopsamítica (blastopsammitic): rocha na qual podem ainda ser identificados
clastos sedimentares na fração areia, parcial a totalmente recristalizados.

As texturas geradas pelos processos metamórficos são:


Arco poligonal (polygonal arc): é uma textura dada por diversos cristais minerais
placóides e prismáticos que definem uma dobra. Esta textura resulta da recristalização
de minerais maiores dobrados, rompidos em grãos menores em locais de maior tensão.
Esta textura indica que o pico térmico ocorreu após o episódio deformacional.
Atol (atoll): ao iniciar-se a cristalização de um mineral porfiroblástico, pode haver
muitos pontos de nucleação, que acabam por unir-se em um único cristal, como ilhas
de um atol, caracterizando esta textura. Se houver disponibilidade de reagentes e
tempo, o mineral acabará por tornar-se um porfiroblásto poiquilítico e, em temperaturas
ainda maiores, poderá expulsar a maior parte das inclusões.

Augen (augen): corresponde a rochas, geralmente quartzo-feldspáticas, com cristais


grossos de feldspato, geralmente derivados de rochas porfiríticas, ou de agregados de
feldspato recristalizado, com formas de olhos, estirados pela foliação metamórfica
regional ou de cisalhamento. Pode também ser gerada em rochas ígneas sin-tectônica,
como em sills colocados em zonas de cavalgamento, devido ao fluxo ígneo.
Augenclástica (augen-clastic): corresponde à cominuição e estiramento de fragmentos
de brechas por cisalhamento.
Bola de de neve (snowball): mineral, notadamente a granada, com inclusões internas
(Si) organizada em espirais, geradas po intensa rotação do cristal, concomitante à sua
cristalização.

Borda de reação (reaction rim): com as mudanças nas condições físico-químicas do


metamorfismo, minerais estáveis passam a ser substituídos a partir de suas bordas, ou
no contato entre eles, por novos minerais e, se a reação for interrompida nos seus
estágios iniciais, serão envolvidos pela nova paragênese. Geralmente, algumas faces
que não estão em contato com os reagentes, podem permanecer estáveis. Com a
progressão do metamorfismo, se os reagentes estiverem em excesso, ou se o tempo
for suficiente, haverá substituição completa do mineral. Quando apenas restos dos
minerais de um grau mais baixo permance incluso em minerais de maior grau, eles são
chamados de relíquias, e são muito importantes para definição da evolução da rocha e
das reações químicas envolvidas na formação do novo mineral. Isto, por comparação
com diagramas de fases experimentais, podem definir, com boa aproximação, as
condições de temperatura e/ou pressão do metamorfismo
.
Boudinada (boudinage): é definida pelo adelgaçamento e até o rompimento de leitos
relativamente mais rúpteis que a rocha encaixante. Define uma lineação metamórfica.
Brechada (brecciated): textura relacionada a deformações rúpteis, a brechas
hidrotermai ou a rochas vulcanoclásticas, na qual fragmentos de rochas com forma
anguulres são reconhechecidas.
Cataclástica (cataclastic): são geradas em metamorfismo dinâmico e resultam da
fragmentação e moagem dos minerais e da rocha, com desenvolvimento de extinção
ondulante, geminação por deformação, mica fish, recristalização, recuperação, etc,
com cristalização de minerais neoformados ausente ou pouco desenvolvida. Podem ser
foliadas (ver milonitos) ou não (ver cataclasitos).
Coronítica (coronitic): são bordas de reação que envolvem completamente um mineral.
Vários minerais podem estar presentes nas coronas.
Decussada (decussed): arranjo de minerais prismáticos subidioblásticos a
xenoblásticos, como os anfibólios, definindo formas cruzadas, sem orientação
preferencial. É típica de hornfels, mas também ocorre em rochas de metamorfismo
regional, quando o pico térmico ocorre após cessadas as deformações.

Dobra ptigmática (ptigmatic fold): microdobras irregulares de lâminas de maior


competência em rocha menos competente.
Dobrada (folded): caracteriza-se pelo dobramento, em diversos estilos, comumente
com redobramentos, de qualquer superfície planar ou arranjos linerares, sejam
originadas por processos tectônicos, sedimentares ou ígneos.
Em rede (mesh): é definida por uma trama de serpentina que substitui a olivina. Pode
ser relíquia de alterações deutéricas (blastoreticulada).
Extinção concêntrica (concentric extinction): é observada em minerais metamórficos
ou em relíquias ígneas de minerais cujo ângulo de extinção varia em função de
mudanças contínuas em sua composição química (séries isomórficas). É caracterizada
pela variação contínua do ângulo extinção da borda para o núcleo do mineral, ou vice-
versa. Em minerais quimicamente desequilibrados pode-se mostrar zonamentos
oscilatórios. Constitue-se em excelente critério para distinção de plagioclásio não
geminado de quartzo e para indicação de metamorfismo progressivo, retrogressivo e
remetamorfismo.
Extinção ondulante (undulose extinction): textura observada em mineria que sofreram
deformação, sem recristalização, resultando, ao ser cruzado o filtro analisador do
microscópio, em extinção heterogênea do grau. É indicativa de deformações
posteriores à cristalização ou à recristalização.
Facoidal (phacoidal): é caracterizada pela presença de minerais ou agregados de
minerais lenticulares, estirados. Ver augen e flaser.
Feixe (sheaf): É uma variedade da textura radiada, mas os cristais prismáticos
distribuem-se preferencialmente para duas direções opostas, formando dois ângulos
agudos contrapostos.
Fibroblástica (fibroblastic): é formada pelo predomínio de minerais fibrosos
equidimensionais desenolvidos pelo metamorfismo.
Fibro-radiada: em regimes metamórficos estáticos, sem pressão dirigida, alguns
minerais de hábito fibroso, notadamente os anfibólios, podem cristalizar-se em arranjos
radiados, definindo esta textura.
Fita de quartzo (quartz ribbon): ver quartzo ribbon.
Flaser (flaser): é definada por lentes e leitos de minerais pouco alterados pelo
metamorfismo, geralemente de feldspato recristalizado ou não e quartzo, envoltas por
minerais micáceos fortemente orientados por fluxo e por minerais finos, em arranjo
granoblástico. O termo também é utilizado para descrever augens totalmente
recristalizados em grão menores, mas que mantêm a mineralogia original. É uma
textura típica de rochas miloníticas.
Foliada (foliated): arranjo planar de minerais anisotrópicos, como as micas, anfibólios,
sillimanita e turmalina. Ver clivagem ardosiana, xistosidade, crenulação, etc.
Fosso (moat): corresponde a uma variedade da textura coronítica, onde a corona é
monominerálica que isola dois reagentes, impedindo o prosseguimento da reação
metamórfica.
Fragmental (fragmental): ver cataclástica. Também refere-se a relíquias de texturas
sedimentares clásticas e, especialmente, vulcanoclásticas.
Franja de pressão (pressure fringer): ver orla de pressão.
Geminação por deformação (deformational twining): geminações causadas pela
deformação dos cristais em zonas de cisalhamento.
Glomeroporfiroblástica (glomero-porphyroblastic): rocha com agregados de
porfiroblastos. Ver porfiroblástica.
Gnaissosa ou gnáissica (gneissosse or gneissic): textura dada pela alternância de
leitos predominantemente micáceos (lepidoblásticos) ou de minerais prismáticos
(nematoblástica), com outros ricos em quartzo e feldpatos granulares (granoblásticos).
Granoblástica (granoblastic): Em minerais equigranulares, e especialmente em
minerais maiores recristalizados em grãos menores, o arranjo não mostra orientação
significativa, e os contatos entre os grão são suaves, o que define esta textura. É típica
de rochas de metamorfismo de contato e de rochas monominerálicas em metamorfismo
regional, como os quartzitos e os mármores, e em rochas de alto grau metamórfico.
Granuloblástica (granuloblastic): ver granoblástica.
Granulosa (granulose): é caracterizada pela presença predominante de minerais
granulares, como o quartzo, carbonatos, piroxênios, feldspatos, granada, etc.

Helicítica (helicitic or helizitic): é dada por porfiroblastos pós-cinemáticos, geralmente


idioblásticos, com trilhas de inclusões (Si) com orientações planares ou em forma de
dobras, definidas pelo acamamento ou por foliações metamórficas.
Hipidoblástica (hypidioblastic): textura dada por minerais predominantemente
subioblásticos a idioblásticos.
Hornfélsica (hornfelsic): nesta textura os minerais não apresentam uma orientação
preferencial e comumente formam agregados porfiroblásticos e tem associadas
texturas fibro-radiadas.
Idioblástica (idioblastic): textura dada por minerais predominantemente idioblásticos.
Kink band (kink band): dobras sanfonadas observadas em minerais, especialmente em
micas.
Lepidoblástica (lepidoblastic): é caracterizada pelo arranjo isorientado de minerais
placóides, nas foliações, geralmente das micas, como a muscovita, biotita, flogopita,
clorita, etc. Também podem apresentar lineação mineral e comumente pode estar
dobrada. É uma variedade da textura homeoblástica.
Leque (fan): Variedade da textura radiada, na qual porfiroblastos prismáticos
distribuem-se a partir de um ponto para um único lado, cujo conjunto forma um ângulo
agudo.
Maculada ou maculosa (maculose): textura dada pela distribuição de minerais
grossos, porfiroblásticos e principalmente poiquiloblásticos, e agregados de minerais
em rochas finas, como filitos ou ardósias. Pode ser dada também por concentrações de
grafita ou de material carbonoso, com contatos difusos ou por concentrações relativas
de minerais escuros ou claros em porções da rocha. Geralmente associa-se a
metamorfismo de contato, mas também ocorrem em rochas metamórficas regionais
devivadas sedimentos com nódulos de ferro, manganês, carbonatos, etc.
Milonítica (mylonitic): textura dada pela fragmentação lítica e de minerais em zonas de
cisalhamento, com orientação do minerais cominuídos e com pouca cristallização de
novos minerais. Ver classificação das rochas cataclásticas.
FIGURA 1. Principais textura das rochas cataclásticas, segundo Sibson (1977). (a)
protomilonito (protomylonite), (b) milonito (mylonite), (c) ultramilonito (ultramylonite) (d)
protocataclasito (protocataclasite), (e) cataclasito (cataclasite), (f) ultracataclasito
(ultracataclasite).
Moldura (framed): ver mortar.
Mortar (mortar or Murbruk): relaciona-se a zonas de cisalhamento, podendo as rochas
serem miloníticas ou cataclásticas, e são caracterizadas pou um porfiroclasto
deformado, envolvido por grãos gradativamente mais finos em direção às bordas,
produto da fragmentação do mineral.
Mosaico (mosaic): textura granoblástica onde grãos aproximadamente
equidimensionais apresentam contatos retilíneos a levemente curvados e junções
tríplice com ângulos de 120o ou de aproximadamente 120o. Esta textura é indicatica de
cristalização pós-cinemática e de metamorfismo de contato e de equilíbrio
termodinâmico.
Murbruk (Murbruk): ver mortar.
Nematoblástica (nematoblastic): é definida pelo arranjo isorientado nas foliações de
minerais prismáticos ou fibrosos, especialmente de anfibólios, sillimanita e turmalina.
Na superfície da foliação sempre haverá uma lineação mineral associada. É uma
variedade da textura homeoblástica.

Ninho (nested): é uma tipica textura de substuição observada em cristais grossos ou


agregados de cianita ou de sillimanita que são substituídos por fibrolita e,
eventualmente com micas e minerais opacos associados, em arranjos concêntricos,
idênticos aos de ninhos de aves.
Nodular ou nodulosa (knotted): ocorre quando minerais metamórficos em agregados
finos definem manchas ou nódoas, geralmente compostas por minerais óxidos de ferro
ou manganês, grafita, carbonatos, etc. É mais típica em rochas de baixo grau
metamórfico, especialmente de metamorfismo de contato, pois em alto grau os
agregados podem ser cristalizar-se em grãos mais grossos.
Orla de pressão (pressure fringer): é definida por transformações mineralógicas
causadas por variação de pressão, em regimes estáticos, como as bordas de quartzo
ao redor de cristais de coesita. Tipicamente, os minerais neoformados tendem a
orientarem-se perpendicularmente à borda do mineral mais antigo.
Palimpséstica (palimpsestic): ver reliquiar.
Peneira (sieve): ver poiquiloblástica.
Poiquiloblástica (poikiloblastic): textura porfiroblástica com cristais muito ricos em
inclusões de outros minerais, que podem, inclusive, predominar volumetricamente
sobre o mineral hospedeiro. Pode ser também relíquias ígneas de poiquiloblastos. Ver
sieve e peneira.
Porfiroblástica (porphyroblastic): são grandes cristais de minerais metamórficos, pelo
menos cinco vezes maiores do que as dimensões médias dos minerais da matriz. Os
porfiroblastos podem ser pré-, sin-, tardi- ou pós cinemáticos a uma determinada
foliação metamórfica.

Porfiroclástica (porphyroclastic): são grandes cristais de minerais fragmentais, com


pelo menos cinco vezes maiores do que as dimensões médias dos minerais da matriz,
gerados em metamorfismo dinâmico que, geralmente, mas nem sempre, são relíquias
de texturas porfiríticas ou sedimentares.
Prisma-radiada (radiated prisms) é uma variedade a textura radiada, dada por
minerais prismáticos, especialmente de anfibólios e wollastonita, grossos orientados
em todas as direções. É tipica de hornfels, mas pode ocorrem em rochas de estágios
pós-cinemáticos do metamorfismo e, nestes casos podem ser sin-deformacionais,
definido formas dobradas.
Pseudomórfica (pseudomorphic): caracteriza-se como uma textura de substituição
aproximadamente isovolumétrica de um mineral pré-existente por um neoformado,
mantendo a forma do mineral original. Como exemplos podem ser citados feldspatos
ígneos total ou parcialmente substituídos por sericita, porfiroblastos de granada ou de
biotita substituídos por clorita, etc.
Quartzo discóide (quartz platy): ver quartzo ribbon.
Quartzo ribbon (quartz ribbon): grão de quartzo estirado, lenticular gerado por
cisalhamento, geralmente com eixo c perpendicular ao alongamento e com extinção
ondulante. Pode recristalizar-se em grão menores. Ver plättung.
Radiada (radial): refere-ser ao arranjo radiado de minerais prismáticos como os
anfibólios, ou micáceos.

Relíquia armada (armoured relic): são restos de minerais totalmente, ou quase,


envolvidos por outro mineral metamórfico que o isola do meio, evitando o
prosseguimento da reação. Comumente são esqueléticos.
Reliquiar (relict): quando a forma original de um mineral ou uma textura pré-
metamórfica ainda pode ser observada, apesar da recristalização e da deformação.
Neste caso as texturas metamórficas são nomeadas com a adição do prefixo blasto- ao
nome da textura ígnea, sedimentar ou metamórfica.
Reticulada (reticulated): ver em rede.
Sacaroidal (sacchroidal): grãos finos com contatos suturados, com aparência de
açucar. É observada essencialmente em rochas quartzíticas finas, em quartzo de veio
recristalizado ou em mármores finos.
Seriada (seriate): termo que pode ser utilizado para descrever, para um mesmo
mineral em uma rocha, diversas modas da granulação.
Serpentinítica (serpentinitic): a serpentinização de minerais magnesianos, como a
olivina e piroxênios em rochas ultrabásicas, ou em metadolomitos, gera um grande
conjunto de texturas, destacando-se a textura em rede, onde há um entrelaçado de
antigorita substituindo os minerais.
Serrilhada (serrate): é dada por minerais com contatos interpenetrados semelhantes a
dentes de serra. Podem ser de relíquias ígneas.
Sieve (sieve): ver poiquiloblástica. O temo em inglês significa peneira, dando uma boa
idéia sobre a quantidade de inclusões.
Simplectítica (simplectitic): é caracterizada pela cristalização intercrescida de dois ou
mais minerais, aproximadamente segundo a mesma orientação cristalográfica, devido a
processos de desmistura de uma fase mineral homogêneo. Tipicamente ocorre no
retrometamorfismo de eclogitos. Pode ser relíquia em rochas ígneas metamorfisadas,
onde forma-se em estágios pós-magmáticos, distinguindo-se assim da textura gráfica.

Sombra de pressão (pressure shadow): quando um porfiroblasto (ou porfiroclasto) é


submetido a uma deformação por cisalhamento, ele comporta-se como um corpo mais
resistente, sendo rotacionado, o que faz com que a foliação amolde-se ao seu redor.
Durante a rotação, as faces perpendiculares ao plano da foliação e, principalmente as
que estão orientadas segundo o vetor do esforço, constituem-se em zonas protegidas
da pressão dirigida havendo, portanto uma pequena redução da pressão nestes locais.
Isto faz com que os minerais ali cristalizados sejam um pouco mais grossos e tendam a
arranjos granoblásticos, apesar da foliação externa. Há também uma migração de
fases mais solúveis, especialmente do quartzo, que concentra-se nas sombras de
pressão. Esta textura é indicativa de uma cristalização pré-deformacional do
porfiroblasto.
Suturada (sutured): agregados granoblásticos com contato engrenado, comuns em
rochas de metamorfismo de contato e em rochas deformadas e recristalizadas. Pode
ser relíquia ígnea.
Ultramiloníticas (ultramylonitic): semelhante à milonítica, da qual distingue-se pela
granulação é muito fina, derivada de uma moagem muito forte, e por apresentar uma
foliação é muito intensa.

Xenoblástica (xenoblastic): textura cristaloblástica na qual as faces cristalinas do


mineral não são observadas.
Xistosa (schistose): é definida pelo arranjo planar de minerais achatados, de micas ou
de minerais prismáticos.
Xistosidade (schistosity): ver xistosa.
Zonada (zoned): É uma textura comum em muitos minerais, notadamente a granada,
que indica que não houve tempo suficiente para que a difusão intracristalina
homegeizasse o mineral. Tipicamente ocorre em minerais de grau baixo a médio e,
quase sempre pode-se notar, inclusive nos minerais de mais alto grau, bordas
zonadas, devido ao retrometamorfismo.
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