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HORNBERGER, Julia.

A Ritual of Corruption: How Young Middle-Class South Africans Get Their


Driver’s Licenses. Current Anthropology. Volume 59, Supplement 18, 2018.

- etnografia junto com os alunos dela da graduação. Trabalho de Antropologia do Estado.

- Tirar a carteira de motorista é um ritual de amadurecimento, de entrada em um novo ciclo da vida


adulta e também de renegociar relações com o Estado sem a mediação dos pais. Saem desse
encontro rompendo certas continuidades racializadas (já que todo mundo passa por isso) com um
novo sentido de pertencimento e uma desilusão cívica para outros.

- Emergência de uma nova classe média negra. Ter a carteira de motorista é visto como um símbolo
da classe média na AfS, é um símbolo de distinção social. Julia pretende focar a dimensão afetiva
que isso acaba trazendo nas relações dos sujeitos para com o Estado. (p. 1)

- Estudantes negros de Julia são a primeira geração a chegar na faculdade. Evasão escolar dos
negros é bem maior, pelas suas condições mais precarizadas. (p. 2)

- ter a certeira de motorista aparece também como um marcador social de distinção quanto o tipo de
relação que se estabelece com o próprio Estado. (p. 2).

- BISHARA (2015) viagem de carro da Cisjordânia até a Palestina de carro. Experiência do Estado
ou dos seus “efeitos” no volante. Pensar em um artigo parecido com a experiência narrada do Bruno
sobre as tecnologias e contra-tecnologias das vans e seus “esquemas”. (p. 2)

- Conformação de um estado racista gerou condições de vida e acesso às infraestruturas de bens e


serviços oferecidos pelo Estado somente voltada para os brancos. Que emergiram num sentido de
uma classe média branca capitalista. Os negros ficaram excluídos deste processo, sem acesso aos
mesmos benefícios que os brancos tinham. (p.3)

- Práticas de “indirect rule” na criação dos Bantustões criaram uma elite negra, uma elite de
burocratas por um lado, e uma série de relações clientelistas por outro. CNA ao tomar o poder fez o
que o PN já fazia, indicando boa parte da burocracia estatal seus apadrinhados políticos, fazendo
com que essa classe média negra fosse extremamente dependente do Estado, sendo ela uma classe
de funcionários públicos. (p. 3)

- Lá na AfS como em outros Estados africanos é a carreira pública e não a economia privada que é
responsável pelo enriquecimento e aspiração social (BAYART, 1993). (MBEMBE, 2001).

- relações neopatrimonialistas pautadas por um princípio de “dar e receber”. A democracia não


surge como um elemento que se contrapõe ao patrimonialismo, mas sim um elemento que o amplia,
uma vez que o crescimento da burocracia racionalizada leva também ao crescimento dessas redes
patrimoniais. (p.3)

- Aspirações da nova classe média é de transformarem o Estado em uma instituição de fato pública
ou da perpetuação dessas relações patrimonialistas pautadas na precariedade desss classes? (p. 4)

- Entre os alunos da julia, a maioria não se enxerga mais trabalhando no setor púlico, mas sim
fazendo carreira no setor privado. (p. 4)

- Classe média branca tem agora um Estado que não mais privilegia ela. Ela procura se acomodar
no setor privado, uma vez que o setor público é visto como “aparelhado” pelos negros através das
políticas afirmativas, segundo ela. (p. 4)
- historia de uma aluna que recebeu o tratamento de saúde adequado no hospital porque o pai era da
mesma irmandade da enfermeira e isto fez com que ela começasse a ser socializada na importância
dessas redes sociais personalizadas desde cedo. (p. 5)

- conseguir a carteira de motorista funciona como uma espécie de “rito de passagem” (p.6)

- Tal ritual incia os estudantes em uma das dimensões da vida adulta que é uma relação com o
Estado que não é mediada pelos pais. Julia fala então do “início e do fim da meritocracia”. (p. 6).
Fico pensando, por outro lado, em quais ritos de passagem estão inseridos os futuros policiais
da SAPS no tocante as suas relações com o Estado. Quais são suas primeiras experiências de
Estado sem a mediação dos pais?

- são narrados diferentes casos de corrupção para se conseguir a carteira de motorista. A pessoa faz
a prova corretamente mas só consegue passar se pagar uma propina para o avaliador. (p. 7-8)

- Esse ponto meio que encaminha as conclusões da Julia: “Being in a situation where paying a bribe
is replaced by actually having a friend in the state institutions is not something one would expect
from young students. But it is a situation that, in the end, is one not just of disgust and moral
repugnance but of affective desire. It should not come as a surprise when my students, in a moment
of great hilarity, shouted out to me: “Julia, you have to understand that we want the state to love
us!” - meaning that they want a sense of being seen and taken care of, a cozy nestling into the
protective arms of the state” (p.9)

- As novas concepções do estado e as formas de pertencimento ao país não são racialmente


determinadas. Outro desafio é que o mito da incorruptibilidade das classes médias brancas fica cada
vez mais difícil de se sustentar hoje em dia. Senso de pertencimento à África do Sul para negros e
brancos passa pelo entendimento de “como se deve jogar o jogo” a partir da experiência da carteira
de motorista.

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