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ILSI BRASIL
COORDENAÇÃO CIENTÍFICA:
Tulio Konstantyner
Médico e Pediatra, com área de atuação em Nutrologia. Mestre e Doutor em Ciências
Aplicadas à Pediatria (UNIFESP). Pós-Doutorado em Epidemiologia e Saúde Pública pela
London School of Hygiene & Tropical Medicine e em Medicina pela Universidade Fe-
deral de São Paulo. Professor Adjunto I e Vice Chefe da Disciplina de Nutrologia (EPM/
UNIFESP). Membro Titular do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de
Pediatria. Coordenador científico da força-tarefa de Nutrição da Criança do International
Life Sciences Institute (ILSI Brasil).
REVISÃO CIENTÍFICA:
AUTORES:
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
PREFÁCIO
Por fim, agradecemos aos colegas que contribuíram com a sua realização e, con-
sequentemente, para a manutenção ativa da educação continuada em nutrição infantil.
Tulio Konstantyner
Coordenador Científico da Força-tarefa de Nutrição da Criança
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SUMÁRIO
1. Definição e diagnóstico 8
1.1 Introdução 8
1.2 Definição 9
1.3 Diagnóstico 10
1.4 Exames subsidiários 15
1.5 Conclusão 22
1.6 Referências bibliográficas 22
2. Prevenção e tratamento 27
2.1 Prevenção da APLV 27
2.2 Tratamento 29
2.3 Referências bibliográficas 33
3. Manejo nutricional 35
3.1 Introdução 35
3.2 Avaliação nutricional 35
3.3 O leite de vaca e a sua substituição na dieta 36
3.4 Cuidados para prevenção de transgressões à dieta 38
3.5 Avaliação de tolerância 39
3.6 Considerações finais 41
3.7 Referências bibliográficas 41
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1. DEFINIÇÃO E DIAGNÓSTICO
1.1 Introdução
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foi verificado que 91 (9,3%) dos 976 lactentes admitidos naquele país apresentaram
suspeita de APLV.7 APLV foi confirmada por teste de desencadeamento em 49, ou seja,
prevalência de 5,0%. É interessante mencionar que a idade média destes lactentes era
6 meses e que menos de 20% apresentava sensibilização ao leite de vaca.7 Fica a per-
gunta, afinal a prevalência de APLV está mais próxima de 0,54% ou 5,0%. Estes dados
mostram a complexidade envolvida na estimativa da prevalência de APLV. No entanto,
na prática, aceita-se que cerca de 2 a 3% dos lactentes apresentam APLV,1,5 entretanto,
um percentual maior desenvolve manifestações clínicas que levam a hipótese diagnós-
tica de APLV mas são ocasionados por outras doenças.7,8
O objetivo deste texto é discutir a definição e o diagnóstico clínico e laboratorial
da alergia à proteína do leite de vaca (APLV).
1.2. Definição
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cela dos pacientes com APLV desenvolve, ao longo dos primeiros anos de vida, de
forma espontânea, tolerância ao leite de vaca.1,2,12 O desenvolvimento espontâneo de
tolerância é mais comum na alergia tardia mediada por células. Alguns pacientes, em
geral com APLV do tipo mediada por IgE, persistem por alguns anos sem desenvolver
tolerância oral.1,2,12
1.3. Diagnóstico
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Legenda: A maioria dos lactentes apresentava mais de uma manifestação clínica. Segundo Vieira et al.5
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diagnóstico final de APLV do tipo tardia (mediada por células). Várias tentativas foram
feitas nas últimas décadas no sentido de identificar um método com poder para estabe-
lecer com segurança o diagnóstico de APLV. O mesmo pode ser dito para definir se um
paciente com APLV desenvolveu ou não tolerância oral e, assim, caracterizar o momento
exato para encerrar a dieta de eliminação e reiniciar a dieta sem restrição das proteínas
do leite de vaca (leite, derivados e produtos preparados com leite). Assim, na vida real,
frente a esta problemática é proposta, muitas vezes precipitadamente, a utilização de no-
vos métodos para os quais não se fez uma avaliação prévia de seu real valor diagnóstico.
Muitas vezes, a realização destes testes não validados é reivindicada por pacientes para
comprovar um diagnóstico improvável que não se sustentou com os conhecimentos atu-
ais. A seguir serão apresentados alguns comentários sobre alguns métodos disponíveis
para complementar a avaliação de um paciente com suspeita de APLV.
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• Ponto de corte de IgE específica para o leite indicando o valor preditivo positivo
de pelo menos 95% para o teste de desencadeamento (provocação) oral positivo:
o Menores de 1 ano: ≥ 5 kIU/L
o Sem idade especificada: ≥ 15 kIU/L
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relatar alguns dados obtidos em uma revisão sistemática que analisou o desempenho
diagnóstico dos indicadores de sensibilização para APLV.23 Foram incluídos na revisão
31 artigos. De acordo com os dados compilados foi considerado que quando o valor
de IgE é maior do que 5 KUA/L a possibilidade diagnóstica de APLV é elevada em
pacientes com idade inferior a 2 anos. Surpreendentemente, com base na revisão da
literatura os autores não conseguiram identificar um ponto de corte apropriado para
crianças com maior idade.23
Mais recentemente vem sendo oferecido para pesquisa e prática clínica o Immu-
noCAP ISAC que proporciona a pesquisa simultânea de mais de uma centena de diferen-
tes anticorpos específicos IgE, em pequeno volume de soro, incluindo vários antígenos
alimentares. Até o presente momento, não existem evidências de que possam contribuir
na investigação da APLV. Deve ser mencionado que a maioria das alergias alimentares são
decorrentes de um único alimento, como é o caso da APLV. Este método é indicado em
outros cenários clínicos nos quais podem ocorrer múltiplas ou inesperadas sensibilizações.
Determinação de IgE total, IgG específica, teste cutâneo de contato (“patch test”)
Frente a falta de contribuição da IgE específica para a avaliação de pacientes com
APLV tardia mediada por células, surgiram sugestões para utilizar estes métodos como
subsídio para o seu diagnóstico. Entretanto, não existe utilidade clínica comprovada.
Portanto, não devem ser usados na avaliação de crianças com APLV.1,11,21
Hemograma
O hemograma e a dosagem da ferritina podem ser úteis para verificar se o pacien-
te apresenta deficiência de ferro.1,21 A APLV pode ser acompanhada por perdas sanguíne-
as digestivas aumentadas como ocorre na protocolite eosinofílica. Estas perdas de san-
gue podem predispor ao balanço corporal negativo de ferro que é muito comum entre
os seis e 24 meses de vida, provocando anemia por deficiência de ferro. Este problema
pode ser mais grave em recém-nascidos prematuros.
Com relação aos leucócitos, alergias são consideradas uma das explicações para
eosinofilia. Em cerca da metade dos lactentes com colite eosinofílica, na vigência de
aleitamento natural ou artificial, é encontrada eosinofilia que pode, em conjunto com o
histórico e exame físico, vincular a presença de sangue nas fezes com APLV.
É interessante mencionar que de acordo com a ESPGHAN, perda de sangue ocul-
to nas fezes pode estar relacionada com a APLV.1 No passado, pesquisa de sangue oculto
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positiva no lactente era considerada uma indicação de APLV. Há cerca de 20 anos foi
disponibilizado um método de pesquisa de sangue oculto nas fezes, mais específico do
que os usados anteriormente. Trata-se de um método imunocromatográfico específico
para hemoglobina humana. Utilizando está técnica, foram investigados 98 lactentes de
uma cidade do interior do Brasil que recebiam dieta livre.24 Muitos consumiam leite de
vaca integral. Nenhum apresentava manifestações clínicas sugestivas de APLV. Entretan-
to, presença de sangue oculto nas fezes foi encontrada em 44,9% (44/98) destes lacten-
tes. Constatou-se relação entre a presença de sangue oculto nas fezes e menor média de
ferritina sérica. Assim, considerou-se improvável que a presença de sangue oculto tivesse
alguma relação com APLV.24
Apesar de não existirem evidências publicadas sobre o assunto, em minha opi-
nião, a utilização da pesquisa de sangue oculto no acompanhamento de pacientes com
colite eosinofílica não é necessária.
Outros exames realizados nas fezes objetivam determinar a concentração de pro-
teínas que potencialmente indicam inflamação no tubo digestivo. Portanto, trata-se de
um método inespecífico que poderia caracterizar a presença de inflamação alérgica no
tubo digestivo. No passado, foi utilizada a determinação de alfa-1-antitripsina, entretan-
to, este método diagnóstico foi praticamente abandonado no diagnóstico e acompa-
nhamento de pacientes com APLV. Pode ser útil na avaliação das enteropatias perdedo-
ras de proteínas.21 Mais recentemente vem sendo usada a calprotectina como indicadora
de inflamação no tubo digestivo. Trata-se de uma proteína ligadora de zinco produzida
basicamente por neutrófilos, monócitos e macrófagos.21 Na alergia alimentar, pode ser
observada diminuição na concentração fecal de calprotecina após o início da dieta de
eliminação. No entanto, não existe definição dos pontos de corte de calprotectina fecal
associados com teste de desencadeamento oral positivo.25-27
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intestinais associada com infiltrado inflamatório da lâmina própria com ou sem eosinó-
filos. Nas ileocolonospcopias podem ser observadas alterações mucosas indicativas de
inflamação e infiltração de eosinófilos na submucosa e no próprio epitélio intestinal. É
importante que a indicação do exame endoscópico seja discutida com o especialista.
O endoscopista deve ter experiência pediátrica e realizar biópsias mesmo quando o
aspecto macroscópico da endoscopia estiver normal.1,11,17,21
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reações tardias, das informações dos familiares para caracterizar a ocorrência de deter-
minadas manifestações clínicas a serem valorizadas ou não na definição do resultado do
teste de desencadeamento. Vale lembrar que, especialmente em lactentes, o teste de
desencadeamento oral aberto permite a definição do diagnóstico de APLV na esmaga-
dora maioria dos casos.
O teste de desencadeamento oral duplo-cego controlado por placebo não é
necessário na maioria dos casos de APLV. Em geral, pode ser necessário em crianças
maiores e adolescentes com reações IgE mediadas, especialmente para sintomas que
envolvam subjetividade em pacientes sugestionáveis. A administração do placebo e do
alérgeno devem ser realizados com intervalos mínimos pré-estabelecidos. Para as rea-
ções tardias, a exposição à proteína ou placebo deve se estender por pelo menos duas
semanas, o que é uma grande limitação para sua realização em lactentes, crianças e ado-
lescentes com APLV. Similarmente ao teste de desencadeamento oral aberto, pode apre-
sentar resultados falsos negativos (se realizado após desenvolvimento de tolerância oral)
e positivos (quando ocorrem manifestações clínicas atribuídas erroneamente à APLV).
1.5. Conclusão
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2. PREVENÇÃO E TRATAMENTO
O aumento da prevalência das alergias alimentares (AA) nas últimas décadas tem se
tornado significante em muitos países do mundo, atingindo até 10% dos pré-escolares. O
aumento das AA associado ao aumento na prevalência de anafilaxia a alimentos, juntamente
com o maior conhecimento na patogênese das AA e o potencial para indução de tolerância,
fez com que se revisse o conceito de prevenção primária das AA1. Os pesquisadores enten-
deram que as intervenções dietéticas e nutricionais deveriam sofrer mudanças como estra-
tégias de reduzir ou manter a prevalência das AA. Recomendações internacionais no início
dos anos 2000 preconizavam evitar alimentos potencialmente alergênicos durante a gravidez
e amamentação, além de postergar sua introdução após o primeiro ano de vida em crianças
de famílias de risco, o que não se mostrou eficaz em estudos posteriores2.
Os oito alérgenos relacionados com mais de 90% dos casos de AA na criança são o
leite de vaca, ovos, amendoim, castanhas, trigo, soja, peixes e crustáceos. Apesar da APLV
ser uma das mais prevalentes, os estudos relacionados com o amendoim e ovo foram os pri-
meiros a mostrar benefícios na prevenção primária com a estratégia da introdução precoce
entre o 4º e 6º mês de vida do lactente. Desse modo, o estudo LEAP (Learning Early About
Peanut) publicado em 2015, foi o primeiro estudo randomizado e controlado a demonstrar
uma redução de até 80% da alergia a amendoim com a introdução precoce desse alimento
em crianças de risco3. Seguindo o mesmo raciocínio para prevenção a múltiplos alimentos,
em 2016 foi publicado o estudo EAT (Enquiring About Toleance) que randomizou 1303 crian-
ças normais da população em aleitamento materno exclusivo. O objetivo do estudo foi a
introdução precoce de seis alérgenos (amendoim, leite de vaca, peixe, trigo, ovo cozido e
gergelim), comparando sua introdução aos 3 versus aos 6 meses de vida em lactentes em
aleitamento exclusivo, e sua evolução para AA a qualquer um dos seis alimentos entre os 12
e 36 meses de idade. Embora a análise de intenção de tratamento não demonstrasse dife-
rença nas taxas de alergia entre os dois grupos, na análise “per-protocol” foi encontrada uma
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redução significante de alergia com a introdução precoce apenas para o ovo e amendoim.
Mesmo com uma alta taxa de adesão de introdução precoce do leite de vaca de 85,2% na
forma de yogurt ,o estudo não demonstrou benefício na prevenção de APLV. De importância
no estudo foram as dificuldades das famílias participantes na adesão ao esquema de intro-
duções dos alimentos4.
Os estudos de prevenção para APLV com a introdução precoce de LV foram, até o
momento, todos observacionais e com resultados conflitantes. A introdução nos primeiros 3
meses de vida de quantidades regulares e diárias de LV em crianças, comparando a introdu-
ção de fórmulas de LV com o aleitamento materno tem sido uma das formas de intervenção.
Estudo de coorte na Finlândia em 2016 mostrou que a introdução de LV nos primeiros dias
de vida foi associado com o maior risco de APLV nos primeiros anos de vida5. Por outro lado,
estudo de coorte conduzido em Israel havia mostrado que a introdução nas duas primeiras
semanas de vida protegia versus a introdução aos 4-6meses que aumentava o risco de APLV6.
Uma análise recente nos dados do estudo Health Nuts na Austrália, mostrou que a exposição
precoce ao LV até os 3 meses de idade foi associada a uma redução do risco para sensibiliza-
ção, reações relatadas pelos pais e APLV presumida (OR=0,31; IC95%, 0,1-0,91) aos 12 meses
de idade, mesmo ajustando para história familiar de alergia. O ponto fraco deste estudo foi
a falta do uso de provocação oral para comprovação de APLV, que foi definida apenas com
base nas descrições dos familiares de sintomas compatíveis com reação IgE-mediada asso-
ciada a prick-test positivo para LV 7.
Uma revisão recente dos principais estudos que avaliaram a introdução precoce de
alimentos potencialmente alergênicos mostrou a grande heterogeneidade das populações
estudadas e dos desfechos de cada estudo. Apenas o estudo LEAP para introdução preco-
ce do amendoim encontrou consistência para seu uso em crianças e nenhum outro estudo
mostrou que a demora na introdução do leite e ovo trouxe maior risco do desenvolvimento
de alergia a estes alimentos8.
Os resultados de estudos que apontam para prevenção de doenças alérgicas, es-
pecialmente para a dermatite atópica, em especial na situação de privação do aleitamento
materno, vêm sendo discutidos com especial atenção para o uso de fórmulas de soro do
leite de vaca parcialmente hidrolisadas e fórmulas de caseína extensamente hidrolisadas em
lactentes com alto risco de doença alérgica. Metanálise que avaliou 37 estudos clínicos com
19.000 participantes não mostrou evidências na redução das doenças alérgicas9.
Outras intervenções para prevenção de alergias alimentares, como a exclusão de
alimentos potencialmente alergênicos durante a gravidez e aleitamento que foi consisten-
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
2.2 Tratamento
O tratamento da alergia à proteína do leite de vaca inclui uma série de passos que
demandam método em sua implementação e uma enorme parceria com a família, espe-
cialmente na APLV que envolve primordialmente pacientes pediátricos. Para que o sucesso
terapêutico seja obtido os pilares do tratamento da APLV (Quadro 1) devem incluir:
A. Exclusão
Para o momento todos os consensos e guias para tratamento da APLV recomendam
a exclusão do leite de vaca como principal estratégia terapêutica. Como exclusão do leite
de vaca: entende-se a remoção de quaisquer alimentos que contenham leite de vaca ou de
qualquer outro mamífero. Produtos manufaturados com leite devem ser excluídos. Deve-se
ter atenção a cosméticos, medicamentos e vacinas que possam ter proteínas de leite em sua
composição12,13.
Nas nutrizes, a dieta de exclusão de leite deve ser adotada se a criança apresentou
sintomas durante o aleitamento materno exclusivo. No caso de aleitamento misto, deve-se
avaliar individualmente os pacientes lembrando que as manifestações através do leite mater-
no são mais frequentes nas alergias através de mecanismo não mediado por IgE.
Na produção ou cocção dos alimentos que não contenham leite como ingrediente
pode haver possibilidade de contaminação, ou seja, presença de pequenas quantidades de
proteína de leite de vaca. Alguns aspectos são necessários destacar:
• nem todos os pacientes reagem a esta pequena quantidade de proteína, sendo ne-
cessário individualizar os pacientes e o tipo de doença apresentada. Pacientes com alergias
não mediadas por IgE, em especial a proctocolite, em geral reagem a mínimas quantidades,
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mas sem implicação na gravidade do quadro ou persistência dos sintomas. Pacientes com
alergia pelo mecanismo misto, por exemplo a dermatite atópica, toleram pequenas conta-
minações sem piora do quadro. Nas manifestações de alergia mediada por IgE, há possibili-
dade de reação até mesmo graves com pequenas quantidades de leite.
• Há dificuldades na quantificação de proteínas que podem possivelmente estar pre-
sentes em preparações assim como em se estabelecer um limiar de segurança 13.
B. Adequada nutrição
O leite de vaca é uma importante fonte proteica nos primeiros dois anos de vida espe-
cialmente entre lactentes cujo aleitamento materno não foi possível. Para estas crianças que
necessitam complementação, as fórmulas especiais são recomendadas. No Brasil as fórmu-
las especiais para cuidado dos pacientes com APLV incluem:
• Fórmula extensamente hidrolisada de leite de vaca. Este tipo de fórmula é pro-
duzido pela hidrólise extensa do soro de leite de vaca a pequenos peptídeos e acréscimo
de aminoácidos. Deve ser tolerada por 90% dos pacientes com APLV desencadeada pelos
vários mecanismos imunológicos (IgE mediado, Não IgE mediado ou misto).
• Fórmula de aminoácidos livres. Fórmula inclui aminoácidos livres, quando adequadamen-
te produzida, não inclui quaisquer traços de leite. Indicada nos casos de anafilaxia, nos pacientes
com alterações nutricionais e naqueles que não toleram a fórmula extensamente hidrolisada
• Fórmula de soja. Possibilidade de tratamento de pacientes com alergia IgE media-
da a partir dos seis meses de idade.
• Fórmula extensamente hidrolisada de arroz. Produzida a partir de proteínas do arroz
e acrescida de nutrientes necessários pode ser uma alternativa no cuidado de pacientes com APLV14.
É importante destacar que no primeiro ano de vida as suplementações devem ser
sempre feitas com fórmulas, que obedecem às recomendações do codex alimentar. Nas
crianças acima de um ano que já realizam refeições recomenda-se a adequação nutricional
completa que inclui a suplementação de cálcio. Nos casos mais graves, onde há restrições
múltiplas e alergias mais prolongadas, há suplementos específicos para crianças acima do
primeiro ano de vida12,13.
C. Orientação
Um importante momento de esclarecimento deve ser reservado no cuidado dos pa-
cientes com APLV, para informar sobre possíveis risco de um contato acidental com a prote-
ína do leite. Este contato pode ocorrer de maneira consciente ou por desconhecimento de
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
E. Avaliação da tolerância
É parte integrante dos cuidados em pacientes com APLV a avaliação da tolerância e,
neste contexto, é importante saber o mecanismo de alergia alimentar envolvido. Nas alergias
não mediadas por IgE, a tolerância ocorre mais precocemente, especialmente na proctoco-
lite ao final do primeiro ano. Na enterocolite associada aos alimentos ou na enteropatia os
sintomas podem permanecer por mais tempo, mas ao final do terceiro ano de vida a maior
parte dos pacientes já ingere leite sem sintomas. Nas alergias IgE mediadas, principalmen-
te em pacientes com anafilaxia, a tolerância pode ocorrer na adolescência ou mesmo na
vida adulta. Ainda que não seja um grande biomarcador, a presença de níveis elevados de
IgE específica para caseína se relaciona a um retardo na aquisição de tolerância. Ciente das
características de cada manifestação de APLV e compreendendo que a tolerância ao leite
ocorre de maneira escalonada, é parte do tratamento da APLV a reintrodução do leite. Nos
pacientes com proctocolite em aleitamento materno, a reintrodução pode começar através
da dieta materna e continuar ofertando quantidades crescentes da fórmula ou leite adequa-
do a idade. Nas crianças com alergias IgE mediadas, a avaliação de tolerância deve ocorrer
através de um teste de provocação que sempre deve ser realizado em ambiente adequado
ao manejo das reações adversas. A tolerância completa é atingida quando o paciente ingere
uma porção do leite in natura entre 150 e 250 ml de leite de acordo com a idade. Estágios
intermediários de tolerância podem ser testados e incluem oferta de alimentos processados
a altas temperaturas ou ingesta de quantidades menores de leite, estes procedimentos po-
dem contribuir para a melhora da qualidade de vida do paciente12.
Abordar o tratamento da APLV de maneira completa minimiza riscos, traz benefícios
nutricionais e melhora a qualidade de vida.
32
Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
3. MANEJO NUTRICIONAL
3.1 Introdução
A avaliação nutricional detalhada é um dos primeiros passos a ser realizado. Esta en-
volve a avaliação antropométrica, da alimentação, dos exames laboratoriais e o exame físico4.
A partir desta avaliação pode-se verificar quais são as intervenções necessárias de acordo
com a idade, condição nutricional e contribuição do leite de vaca na dieta habitual4.
É importante ressaltar que o olhar para a antropometria deve ser para ambos os
desvios nutricionais, magreza e excesso de peso. Em geral, costuma-se considerar que as
crianças com APLV apresentam apenas o risco de desnutrição, entretanto, o excesso de peso
também pode estar presente, muitas vezes por substituições inadequadas na dieta5.
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
A escolha dos substitutos do leite de vaca deve considerar a faixa etária envolvida.
Crianças amamentadas devem ser estimuladas a manter o aleitamento. Este nunca deve ser
suspenso, mesmo na fase de suspeita diagnóstica. Na prática, muitas vezes, vemos condutas
de suspender aleitamento temporariamente para confirmação do diagnóstico. Esta conduta
é totalmente contraindicada, pois os riscos não superam os benefícios. O profissional de
saúde deve estar atento para que a facilidade de acesso para o uso de fórmulas especiais
substitutivas não sejam fatores que impactem negativamente no aleitamento materno6.
Outro ponto importante é que a dieta materna isenta de leite e derivados só deve ser
instituída quando houver sintomas pelo leite materno. Muitas crianças não apresentam reações
quando a mãe consome leite de vaca e derivados e amamenta, mas apresentam reações se
receberem diretamente a proteína do leite de vaca (por exemplo, pela fórmula infantil)7.
Na impossibilidade de aleitamento materno ou diante da necessidade de comple-
mentação, existem fórmulas especiais substitutivas, as quais podem ser à base de proteína
isolada de soja, extensamente hidrolisadas ou à base de aminoácidos. As indicações de uso
consideram aspectos da alergia (manifestações clínicas, segurança, eficiência), idade e as-
pectos nutricionais7. Neste contexto, algumas considerações podem ser realizadas:
Fórmulas à base de proteína isolada de soja: uso recomendado para as formas IgE
mediadas de alergia sem comprometimento do trato gastrintestinal, para maiores de 6 me-
ses. Existem preocupações com aspectos nutricionais, principalmente em relação ao conte-
údo de fitoestrógenos e ao uso de soja transgênica8,9.
Fórmulas extensamente hidrolisadas: uso recomendado como primeira opção para
menores de 6 meses com formas IgE mediadas ou em situações de má evolução com fórmu-
las à base de proteínas isoladas da soja em maiores de 6 meses. Existem opções sem e com
lactose e a escolha desta depende da presença ou não de intolerância à lactose. Atualmente,
a base proteica das fórmulas disponíveis no mercado é a proteína do soro do leite ou de ar-
roz, sendo que existem questionamentos quanto à segurança nutricional do uso de fórmulas
à base de arroz7. Estas são recomendadas como 2ª opção, quando há baixa aceitação ou
não tolerância às fórmulas à base de proteína do soro do leite. As fórmulas extensamente
hidrolisadas possuem alto custo e sabor residual amargo9.
Fórmulas à base de aminoácidos: primeira opção em lactentes com alto risco de rea-
ções anafiláticas (história prévia de anafilaxia e que não estejam em uso regular de fórmulas
extensamente hidrolisadas) ou para aqueles que apresentaram má evolução com fórmulas
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
extensamente hidrolisadas10. Deve-se ter cautela quanto à sua indicação, pois na prática ob-
serva-se o uso abusivo deste tipo de fórmula, sem indicação apropriada. Geralmente é a
fórmula com maior custo e também apresenta palatabilidade ruim9.
O uso de fórmulas para necessidades especiais está indicado até 1 ano de idade,
preferencialmente até os 2 anos. As bebidas vegetais podem ser utilizadas a partir desta idade,
mas não são obrigatórias. A composição varia bastante entre marcas e fonte proteica, portanto,
deve-se atentar para o valor nutricional destas bebidas (energia, macronutrientes e micronu-
trientes) e a lista de ingredientes (por exemplo, conteúdo de açúcar e de aditivos alimentares)9.
Em relação à introdução alimentar, os demais grupos de alimentos devem ser intro-
duzidos normalmente, sem diferenciação em relação às recomendações gerais11. Receitas
podem ser fornecidas e exemplos de esquemas de cardápio, para maior praticidade, varie-
dade e adesão à dieta.
A adequação nutricional pode ser difícil, já que o leite de vaca e seus derivados estão
presentes na alimentação habitual da maioria das pessoas. Sua retirada da dieta pode levar à
monotonia alimentar, bem como ao consumo insuficiente de determinados nutrientes. É im-
portante considerar os nutrientes fontes do leite de vaca e derivados e se alimentos alternativos
estão presentes ou podem ser incluídos na dieta isenta de leite de vaca e derivados12 (Tabela1).
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
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A tolerância ao leite de vaca deve ser avaliada regularmente, por meio de teste de
provocação oral. Para as manifestações não IgE medidas, leves a moderadas, a reintrodução
pode ser programada quando a criança completar 9-12 meses de idade e 6 meses de dieta6,
com liberação do leite de vaca na dieta materna (se em aleitamento) ou transição gradual
da fórmula em casa. Nos quadros não IgE mediados e quando a idade for acima de 1 ano, a
introdução de leite pode ser realizada de forma escalonada (“milk ladder”)17.
Para crianças com alergia IgE mediada, pode-se avaliar primeiro a tolerância às pre-
parações assadas com leite (Baked) por meio de teste de provocação oral sob supervisão ao
longo do acompanhamento. Se a criança tolerar, poderá ser liberado o consumo de prepa-
rações assadas com leite12, desde que a família siga as condições descritas na Tabela 2.
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
Fonte: Adaptado de Robinson et al. 201818 e Groetch et al. 201312, Bird et al. 202019.
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
mento), para garantir que o paciente está tolerante. Após a confirmação da tolerância, é
importante acompanhar a introdução de leite e derivados na dieta habitual, pois muitas
vezes a criança recusa o sabor ou não consegue consumi-los por medo de reações19.
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Alergia à Proteína do Leite de Vaca: Uma Abordagem Prática / ILSI Brasil
Histórico e Justificativa
Com atividades iniciadas, em 2011, como um Grupo de Trabalho ligado a For-
ca-Tarefa Nutrição Clínica, a equipe consolidou seus objetivos e metas ate se tornar
uma Forca-Tarefa independente, em 2016. Atualmente, sua atuação é direcionada à
nutrição da gestante e lactente, prosseguindo na Primeira Infância expandida (ate os 5
anos de vida) e, posteriormente, na faixa etária escolar ate o início da adolescência (10
anos), considerando as peculiaridades destes grupos na promoção da saúde.
A proposta e estimular a discussão multidisciplinar neste universo, que envolve
profissionais de diversas especialidades, e contribuir para que a informação isenta e de
qualidade seja ferramenta importante na atualização científica do profissional atuante na
saúde, que envolve o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança,
contribuindo, assim, para a saude e qualidade do capital humano na vida adulta.
Objetivos
• Estimular a discussão de assuntos ligados as necessidades nutricionais de
crianças de 0 a 10 anos, levando conhecimento científico sobre o tema.
• Atuar como facilitador nas trocas de informacoes entre profissionais da area
de saúde, empresas, academia, orgaos cientificos e governamentais.
• Melhoria da qualidade de vida destes grupos populacionais.
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