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Síntese sobre: Estabelecimento de um Marco Conceitual para Medir a Equidade na Aprendizagem

(Por: STUART CAMERON, RACHITA DAGA E RACHEL ATINGEM)

Devido aos níveis de aprendizagem serem altamente desiguais, acesso desigual à educação, a
desigualdade económica e a diferença dos resultados de aprendizagem, assim torna necessário a
observância das políticas internacionais sobre a igualdade e equidade.

1. Os Conceitos de Igualdade e Equidade

Segundo Jacob e Holsinger (2008), definem igualdade como “o estado de ser igual em termos de
quantidade, posição, status, valor ou grau”, ao passo que a equidade “considera as ramificações da justiça
social na educação em relação à igualdade, justiça e imparcialidade de sua distribuição em todos os níveis
ou subsectores educacionais” (Jacob; Holsinger, 2008, p. 4). Equidade significa que uma distribuição é
justa ou justificada, envolve um julgamento normativo de uma distribuição variável. A igualdade pode ser
aplicada a indivíduos, grupos ou países e a diferentes indicadores. A equidade pode ser aplicada com
diferentes teorias sobre a justiça nas ramificações da distribuição da educação.

Os princípios e os marcos recomendados para avaliar a equidade na educação são:

a) Igualdade de oportunidades - significa que todas as pessoas devem ter as mesmas oportunidades de
prosperar, independentemente de variações nas circunstâncias em que nascem;

b) Justiça como equidade - que significa não deve haver barreiras legais e sociais que impeçam alguns
segmentos da sociedade de acessar instituições sociais;

c) Diferenças individuais, capacidades e redistribuição considerar em que medida um sistema


educacional pode, ou deve, compensar a desvantagem resultante de uma deficiência ou do nascimento em
uma família pobre, a fim de promover a igualdade de capacidades;

d) Foco nas consequências da educação desigual – com o fim de uniformizar as oportunidades


educacionais, com políticas que podem tentar romper o vínculo entre renda e educação e o Stewart (2002)
argumenta que desigualdades “horizontais” entre grupos culturalmente definidos ou construídos, (etnia,
religião, raça, região e classe) podem causar consequências particularmente a indivíduos talentosos que
pertencem a esse grupo.

2. CINCO CONCEITOS PARA MEDIR A EQUIDADE


1) Meritocracia - significa distribuir educação de modo desigual em relação a uma diferença relevante
que reflicta o mérito individual (inteligência, esforço, realização ou alguma combinação desses conceitos)
e pode ser medido por meio de testes, referências etc; 2) Padrões mínimos - reflectem um direito ou uma
norma acordada, como o uso generalizado de indicadores (como a taxa líquida de matrícula, taxa de
conclusão da escola primária, etc); 3) Imparcialidade - a medida estatística da imparcialidade indica um
limite inferior para a verdadeira igualdade de oportunidades e oferece um meio para verificar se os
padrões mínimos estão sendo igualmente atendidos em diferentes grupos populacionais; 4) Igualdade de
condição - certos insumos, bens ou limites de resultados educacionais devem ser distribuídos universal e
igualmente, de modo que estejam no mesmo nível para todos os indivíduos, independentemente de
analisarmos dentro ou entre grupos populacionais; e 5) Redistribuição – consiste em distribuir insumos
educacionais de forma desigual, de modo a compensar a desvantagem existente e os indicadores são de
particular interesse no campo do financiamento da educação.

3. COMO DEVE SER UMA MEDIDA DE EQUIDADE?

Cinco propriedades desejáveis para medidas de igualdade de condição: 1. Simetria ou anonimato


significa que a medida é insensível a qualquer permutação da variável de interesse; 2. Igualdade perfeita
o valor definido que é assumido quando cada indivíduo tem exactamente o mesmo nível de ensino; 3.
Princípio da transferência - consiste em aplicar medidas de igualdade de condição, podendo - se aplicar
medidas de imparcialidade; 4. Invariância de escala e tradução - as medidas de imparcialidade podem
ser sensíveis a mudanças na escala da (s) variável (eis) de circunstância e no indicador de educação como
característica importante das medidas de desigualdade e 5. Decomponibilidade - implica que deve haver
uma relação coerente entre a desigualdade em toda a sociedade e a desigualdade nos subgrupos que
compõem essa sociedade.

Cinco propriedades desejáveis para medidas de imparcialidade: 1. Simetria ou anonimato Quanto à


igualdade de condição, não estamos interessados em permutações de indivíduos, desde que a distribuição
multivariada permaneça a mesma; 2. Igualdade perfeita - deve haver um ponto definido que represente
uma imparcialidade perfeita, onde não exista relação entre circunstâncias e educação; 3. Princípio da
transferência Como o princípio da transferência para medidas de igualdade de condição, esse princípio
também pode se aplicar a medidas de imparcialidade; 4. Invariância de escala e tradução - as medidas
de imparcialidade podem ser sensíveis a mudanças na escala do indicador de educação; e 5.
Decomponibilidade - existe potencialmente duas formas diferentes de decomposição: as medidas de
“desigualdade de oportunidade” tendem a medir a contribuição de diferentes circunstâncias para os
resultados.
Propriedades desejáveis para medidas redistributivas e meritocráticas: Na primeira, temos em
mente, uma medida específica de tratamento desigual. Na segunda, não temos uma expectativa específica
sobre o quão desigualmente devemos tratar os desiguais, mas sim o desejo de medir o quão desigualmente
eles são tratados actualmente.

Indicadores de Equidade na Educação

Introdução

No processo do ensino e aprendizagem, encontramos o envolvimento de toda a sociedade neste


cenário, que por várias condições pode marcar desequilíbrio ao acesso do bem comum sobre as
oportunidades que devem ser distribuídas igualmente para todos, observando a “equidade” para
que não haja favorecidos do que os outros. Por esta razão, a “equidade em educação é (…) um
instrumento fundamental da equidade social e a desigualdade de resultados escolares tem custos
sociais e económicos” (The Prince´s Trust, 2007). O objectivo deste estudo pretende analisar os
indicadores da equidade na educação, problematização e a implementação das políticas da
equidade no que tange a “igualdade de acesso, igualdade de tratamento e a igualdade de
resultados/competências” como três fases das políticas de educação, segundo como consideram
Demeuse e Baye. Para a observação destas políticas é preciso que haja indicadores que devem
ser mensuráveis.

1. Indicadores de Equidade
1.1. Indicadores para a equidade e a eficiência nos sistemas de educação.

A equidade em educação é, portanto, um instrumento fundamental da equidade social e a


desigualdade de resultados escolares tem custos sociais e económicos. E para aferir os resultados
escolares, equidade e políticas públicas é preciso agrupar quatro variáveis: (1) variabilidade de
resultados nas escolas e entre escolas, (2) desistência ou abandono escolar precoce (antes do final
do secundário), (3) tipologia de percursos escolares e (4) integração de migrantes e minorias
(Field, Kuczera e Pont, 2007) in Lemos (2013, p.153). Por sua vez, as características dos
sistemas escolares que se relacionam com a sua equidade e a sua eficiência são:
-- as condições de acesso e participação em cada nível educativo e em cada via ou
percurso escolar;

— a atribuição e alocação de recursos, como a distribuição de professores, do tempo


de ensino ou do material pedagógico;

— as condições de aprendizagem e o processo de ensino, incluindo os níveis


desagregação ou inclusão na organização do acesso a cada escola e na constituição das
turmas, o currículo e as práticas pedagógicas.

1.2. Os Indicadores relativos aos resultados obtidos

Os indicadores de resultados podem-se categorizar em dois grupos:

— resultados internos do sistema escolar, que se reportam ao percurso dos alunos (níveis de
frequência, abandono, transição, retenção, diplomação, bem como competências adquiridas); e
— resultados externos, que se reportam aos efeitos sociais e económicos da educação, como o
rendimento privado e público, o emprego, os níveis salariais, mas também a participação social e
a criminalidade, entre outros fenómenos.

1.3. O sucesso escolar como indicador de equidade

As condições sociais ou organizacionais relativas ao acesso, participação, recursos ou processo


de ensino, quer sejam os efeitos sociais e económicos da educação (Lemos: 2013,pg.156), os
indicadores para a operacionalização dos resultados podemos considerar dois tipos essenciais:

 Indicadores de participação -- temos as taxas de acesso, frequência e


abandono/desistência;
 Indicadores de aproveitamento – temos as taxas de aprovação / reprovação, transição /
retenção e diplomação;

Os Indicadores dos resultados escolares apontam que a equidade tem constituído uma questão
central nas políticas públicas de educação das últimas décadas e o acesso à escola e o sucesso
escolar são importantes indicadores da equidade e da eficiência dos sistemas escolares, cujo
enfrentam vários problemas a quanto da sua implantação, esta problemática passaremos a
discutir a seguir.
2. A Problemática da Equidade na Educação

A educação, embora não seja condição suficiente, é de importância fundamental para o progresso
pessoal e social, admitindo que, em termos gerais, a educação apresenta graves deficiências, que
se faz necessário torná-la mais relevante e melhorar sua qualidade. Os seus problemas de
equidade destacam-se os seguintes: Acesso a cada nível do sistema escolar, a atribuição de
recursos (professores, material pedagógico, tempo de ensino, etc.); As condições de
aprendizagem (níveis de inclusão ou segregação, currículo, práticas de ensino, etc.) e Os
resultados, quer internos (taxas de abandono, reprovação, transição, competências adquiridas,
etc.) quer externos (efeitos económicos e sociais, como o rendimento privado e público). A
equidade “considera as ramificações da justiça social na educação em relação à igualdade,
justiça e imparcialidade de sua distribuição em todos os níveis ou subsectores educacionais”
(Jacob; Holsinger, 2008, p. 4), com ausência desta justiça face a educação e aprendizagem, fica
em causa a Equidade tornando vulnerável a vários problemas acima apresentados, que irão
carecer da implementação de acções correctivas, para tal, são inspirados os seguintes
documentos: -- Declaração Mundial sobre Educação para todos; O Plano estratégico da
Educação em Moçambique e a Lei 18 do Sistema Nacional de Educação, que vamos decifrar a
baixo.

A Declaração Mundial sobre Educação para todos aponta problemáticas que afectam a
equidade na educação, como por exemplo: insuficiência do acesso ao ensino primário, elevado
analfabetismo de mulheres e analfabetismo funcional, insuficiência elevada de acesso as
habilidades de tecnologias aos adultos, elevado numero de crianças e adultos sem a conclusão do
ciclo básico (p.1), e ao mesmo tempo, o mundo tem que enfrentar um quadro sombrio de
problemas, entre os quais: o aumento da dívida de muitos países, a ameaça de estagnação e
decadência económicas, o rápido aumento da população, as diferenças económicas crescentes
entre as nações e dentro delas, a guerra, a ocupação, as lutas civis, a violência; a morte de
milhões de crianças que poderia ser evitada e a degradação generalizada do meio ambiente (p.2)
e finalmente propõe-se que a necessidade de proporcionar às gerações presentes e futuras uma
visão abrangente de educação básica e um renovado compromisso a favor dela, para enfrentar a
amplitude e a complexidade do desafio com seguintes objectivos: SATISFAZER AS
NECESSIDADES BÁSICAS DE APRENDIZAGEM, EXPANDIR O ENFOQUE, UNIVERSALIZAR O
ACESSO À EDUCAÇÃO E PROMOVER A EQUIDADE, CONCENTRAR A ATENÇÃO NA
APRENDIZAGEM, AMPLIAR OS MEIOS E O RAIO DE AÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA,
PROPICIAR UM AMBIENTE ADEQUADO À APRENDIZAGEM, FORTALECER AS ALIANÇAS,
DESENVOLVER UMA POLÍTICA CONTEXTUALIZADA DE APOIO, MOBILIZAR OS
RECURSOS, FORTALECER SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL.

O Plano Estratégico da Educação inspira - se dos dispositivos internacionais que apontam


vários objectivos para a resolução da problemática da equidade na educação, que condiciona a
elaboração de planos estratégicos e operacionais e para Moçambique não sendo excepção, o seu
PEE 2020-2029 no objectivo “2.3.1 Garantir a inclusão e a equidade no acesso, participação e
retenção” no qual apresenta elementos que compõem o primeiro objectivo estratégico são:

Primeiro, o acesso, participação e retenção - estes conceitos relacionam-se, respectivamente,


com os processos tendentes à inscrição, assiduidade, progressão e conclusão dentro de um
subsistema educativo e a respectiva redução da repetição e abandono escolar.

Segundo, a inclusão e a equidade - relacionam-se com a justiça social e o cumprimento do


direito à educação. Um foco na equidade significa garantir que não existem disparidades a nível
de oportunidades no sistema, por via de factores geográficos, económicos, sociais, género ou
necessidades educativas especiais. No que concerne à inclusão esta é garantida quando as
estruturas de ensino atendem às necessidades de todos e se insere numa estratégia mais
abrangente de promoção de uma sociedade inclusiva.

A Lei nº 18/2018 de 28 de Dezembro, no artigo 3 diz: O SNE orienta-se pelos seguintes


princípios gerais: alínea a) educação, cultura, formação e desenvolvimento humano equilibrado
e inclusivo é direito de todos os moçambicanos; f) inclusão, equidade e igualdade de
oportunidades no acesso à educação; m) promover o acesso à educação e retenção da rapariga,
salvaguardando o princípio de equidade de género e igualdade de oportunidades para todos. E
no artigo 4 sobre os princípios pedagógicos, apresenta que o processo educativo orienta-se pelos
seguintes princípios: alínea f) inclusão, equidade e igualdade de oportunidades em todos os
subsistemas de ensino e na aprendizagem de alunos com necessidades educativas especiais; h)
desenvolvimento de actividades e medidas de apoio e complementos educativos, visando
contribuir para a igualdade de oportunidades de acesso à educação e ao sucesso escolar. Para
pôr em prática o direito ao acesso à educação tornam indispensável a educação básica,
caracterizada por obrigatoriedade, segundo como prevê o artigo 7 no seu ponto 1. “A
Escolaridade obrigatória é da 1.ª a 9.ª classes” e para garantir o seu acesso sem qualquer
impedimento, abre a condição de gratuitidade ao ensino primário, assim como o SNE através do
artigo 8, no seu ponto 1. “A frequência do ensino primário é gratuito nas escolas públicas,
estando isento do pagamento de propinas”.

Conclui-se que, uma educação básica adequada é fundamental para fortalecer os níveis
superiores de educação e de ensino, a formação científica e tecnológica e, por conseguinte, para
alcançar um desenvolvimento autónomo e proporcionar às gerações presentes e futuras uma
visão abrangente de educação básica e um renovado compromisso a favor dela, para enfrentar a
amplitude e a complexidade do desafio (Declaração Mundial sobre Educação para Todos) sobre
a equidade durante a sua implantação.

3. Políticas da Equidade na Educação e sua Pratica de Implementação

O compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência da


providencia de educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais
especiais em particular dentro do sistema regular de ensino e reendossamos a Estrutura de Ação
em Educação Especial, em que, pelo espírito de cujas provisões e recomendações governo e
organizações sejam guiados (Declaração Mundial sobre Educação para Todos). Em resposta
desta recomendação os governos articulam as seguintes práticas: -- direito a educação para toda a
criança, independentemente da sua condição física, geográfica e cultural; -- consideração das
diversas características de habilidades, interesses e necessidades de aprendizagem das crianças
como únicas; -- articulação dos programas educacionais dos sistemas educacionais para inclusão
das diversidade de tais características e necessidades com uma Pedagogia centrada na criança e --
escolas regulares que possuam uma orientação inclusiva com os meios mais eficazes de
combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras.

Para o âmbito da gestão sob olhar da transparência orientada aos resultados, constam as
seguintes políticas: Tomada de prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus
sistemas educacionais no sentido de inclusão de todas as crianças; -- adopção do princípio de
educação inclusiva em forma de lei ou de política, matriculando todas as crianças em escolas
regulares; desenvolvimento de projectos de troca de experiencias; -- Estabelecimento de
mecanismos participativos e descentralizados na planificação, monitoria e avaliação de provisão
educacional; -- participação de pais, comunidades e organizações de pessoas portadoras de
deficiências nos processos de planificação e tomada de decisão; -- promoção de estratégias de
identificação e intervenção precoces e aspectos vocacionais da educação inclusiva e – Promoção
de mudança sistémica, programas de treinamento de professores, tanto em serviço como durante
a formação, incluindo a provisão de educação especial dentro das escolas inclusivas.

Conclusão: A implementação de políticas de equidade na educação verifica-se: a escolaridade


obrigatória; democratização do acesso à escola e sucesso escolar; as progressões para aferir a
equidade na educação, por outro lado o insucesso escolar é um forte indicador da desigualdade e
da iniquidade, bem como a ineficiência dos sistemas escolares, e as taxas de retenção e
desistência são, por sua vez, indicadores robustos do insucesso, carecendo de correcção, razão
pela qual são elaborados os planos estratégicos.

Referências bibliográficas:

__________________ Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), Jomtien, Tailândia.
__________________ Lei nº 18/2018 de 28 de Dezembro, do Sistema Nacional de Educação.
Lemos, V. (2013), POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO. Equidade e sucesso escolar. Instituto
Politécnico Castelo Branco. n.º 73, pp. 151-169.
MINEDH, (2000), Plano Estratégico da Educação 2020-2029, MINEDH, Maputo. Moçambique.

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