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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE ENGENHARIA
Departamento de Engenharia de Estruturas

CONCRETO ARMADO I

Ney Amorim Silva

Julho 2015
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Índice
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ÍNDICE GERAL

CAPÍTULOS PÁGINA

1- MATERIAIS – AÇÕES - RESISTÊNCIAS


1.1 - Histórico 1.1
1.2 - Viabilidade do concreto armado 1.4
1.3 - Vantagens concreto armado 1.5
1.4 - Desvantagens do concreto armado 1.6
1.5 - Concreto 1.6
1.5.1 - Propriedades mecânicas do concreto 1.7
1.5.1.1 - Resistência à compressão 1.7
1.5.1.2 - Resistência característica do concreto à compressão 1.8
1.5.1.3 - Módulo de elasticidade longitudinal 1.11
1.5.1.4 - Coeficiente de Poisson e mod. elasticidade transversal 1.12
1.5.1.5 - Diagrama tensão-deformação 1.12
1.5.1.6 - Resistência à tração 1.15
1.5.2 - Características reológicas do concreto 1.16
1.5.2.1 - Retração 1.17
1.5.2.2 - Fluência 1.18
1.5.2.3 - Variação de temperatura 1.17
1.6 - Aço 1.20
1.6.1 - Categoria 1.20
1.6.2 - Tipo de superfície 1.23
1.6.3 - Massa específica e propriedades mecânicas do aço 1.23
1.6.4 - Diagrama tensão-deformação 1.23
1.7 - Definições da NBR 6118:2007 1.24
1.8 - Ações 1.27
1.8.1 - Ações permanentes 1.27
1.8.1.1 - Ações permanentes diretas 1.27
1.8.1.2 - Ações permanentes indiretas 1.28
1.8.2 - Ações variáveis 1.28
1.8.2.1 - Ações variáveis diretas 1.28
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1.8.2.2 - Ações variáveis indiretas 1.29


1.8.3 - Ações especiais 1.30
1.8.4 - Valores da ações 1.30
1.8.4.1 - Valores característicos 1.30
1.8.4.2 - Valores representativos 1.31
1.8.4.3 - Valores de cálculo 1.32
1.8.5 - Coeficientes de ponderação das ações 1.32
1.8.5.1 - Coeficientes de ponderações das ações no ELU 1.32
1.8.5.2 - Coeficientes de ponderações das ações no ELS 1.34
1.8.6 - Combinações de ações 1.34
1.8.6.1 - Combinações últimas 1.34
1.8.6.2 - Combinações de serviço 1.37
1.9 - Resistências 1.38
1.9.1 - Valores característicos 1.38
1.9.2 - Valores de cálculo 1.39
1.9.3 - Coeficientes de ponderação das resistências 1.40
1.9.3.1 - Coeficiente de ponderação das resistências no ELU 1.40
1.9.3.2 - Coeficiente de ponderação das resistências no ELS 1.40
1.9.3.3 - Valores finais das resistências de cálculo do concreto e do aço 1.41

2- FLEXÃO NORMAL SIMPES


2.1 - Introdução 2.1
2.2 - Solicitações normais 2.4
2.2.1 - Hipóteses básicas e domínios de deformação 2.5
2.3 - Seções subarmada, normalmente armada e superarmada 2.16
2.4 - Seção retangular submetida à flexão simples 2.18
2.4.1 - Seções com armaduras simples e dupla 2.22
2.4.2 - Nível de tensão φ na armadura comprimida A’s 2.27
2.5 - Seção T ou L submetidas à flexão simples 2.31
2.5.1 - Determinação da largura colaborante da mesa ( bf ) 2.36
2.6 - Prescrições da NBR 6118:2007 referente às vigas 2.40
2.6.1 - Armadura longitudinal mínima de tração 2.40

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2.6.2 - Armadura de pele 2.44


2.6.3 - Armadura total na seção transversal (tração e compressão) 2.44
2.6.4 - Distribuição transversal das armaduras longitudinais 2.44
2.6.5 - Armaduras de ligação mesa-nervura ou talão-alma 2.46
2.6.6 - Cobrimento mínimo das armaduras 2.47
2.6.7 - Dimensões limites para vigas e vigas-parede 2.48
2.7 - Exemplos de aplicação 2.49
2.7.1 - Exemplo de solicitações normais 2.49
2.7.2 - Exemplo de flexão normal simples com seção retangular 2.60
2.7.3 - Exemplos de flexão normal simples com seção T ou L 2.69

3- LAJES
3.1 - Definição 3.1
3.2 - Histórico 3.1
3.3 - Laje retangular armada em uma direção 3.7
3.4 - Laje retangular armada em duas direções ou em cruz 3.9
3.4.1 - Tipos de lajes retangulares 3.9
3.4.2 - Reações de apoio 3.9
3.4.3 - Momentos fletores 3.12
3.5 - Cálculo da flecha em lajes retangulares 3.12
3.5.1 - Flecha imediata em lajes retangulares armadas em uma direção 3.15
3.5.2 - Momento de Inércia da seção fissurada para lajes 3.17
3.5.3 - Flecha imediata em lajes retangulares armadas em duas direções 3.19
3.5.4 - Flecha diferida no tempo para lajes de concreto armado 3.21
3.6 - Prescrições da NBR 6118:2014 referentes às lajes 3.23
3.6.1 - Espessura mínima das lajes maciças 3.23
3.6.2 - Deslocamentos limites 3.25
3.6.3 - Cobrimento nominal mínimo 3.25
3.6.4 - Vãos efetivos de lajes 3.26
3.6.5 - Aproximações para diagramas de momento fletor 3.26
3.6.6 - Armadura longitudinal mínima 3.28
3.6.7 - Prescrições gerais sobre detalhamento de lajes 3.30

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3.7 - Cargas para o cálculo de estruturas de edificações


(NBR-6120:1980) 3.31
3.8 - Tabelas para cálculo de reações de apoio e momentos fletores 3.35
3.9 - Exemplos 3.45
3.9.1 - Exemplo 1 3.45
3.9.2 - Exemplo 2 3.63

4- CONTROLE DA FISSURAÇÃO
4.1 - Introdução 4.1
4.2 - Tipos de fissuras 4.4
4.2.1 - Fissuras não produzidas por cargas 4.4
4.2.2 - Fissuras produzidas por cargas 4.5
4.3 - Estado limite de abertura das fissuras (ELS-W) 4.5
4.3.1 - Controle da fissuração através da limitação da abertura
estimada das fissuras 4.5
4.3.1.1 - Cálculo da tensão si de forma aproximada 4.7
4.3.1.2 - Cálculo da tensão si no Estádio II 4.11
4.3.2 - Controle da fissuração sem a verificação da abertura de fissuras 4.14
4.4 - Exemplos 4.15
4.4.1 - Exemplo 1 4.15
4.4.2 - Exemplo 2 4.19
4.4.3 - Exemplo 3 4.20

5- CISALHAMENTO
5.1 - Tensões de cisalhamento 5.1
5.2 - Elementos lineares sujeitos à força cortante 5.4
5.2.1 - Hipóteses básicas 5.4
5.2.2 - Condições gerais 5.5
5.2.3 - Exceções à condições gerais 5.7
5.2.4 - Verificação do estado limite último 5.8
5.2.4.1 - Cálculo da resistência 5.8
5.2.4.2 - Modelo de cálculo I 5.9

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5.2.4.3 - Modelo de cálculo II 5.17


5.2.5 - Cargas próximas aos apoios 5.20
5.2.6 - Prescrições complementares da NBR 6118:2014 5.22
5.3 - Força cortante em lajes e elementos lineares com bw ≥ 5d 5.22
5.3.1 - Lajes sem armadura para força cortante 5.22
5.3.2 - Lajes com armadura para força cortante 5.23
5.4 - Exemplos 5.24
5.4.1 - Exemplo 1 5.24
5.4.2 - Exemplo 2 5.27

6- VERIFICAÇÃO DA ADERÊNCIA
6.1 - Posição da barra durante a concretagem 6.1
6.2 - Valor da resistência de aderência 6.2
6.3 - Ancoragem das armaduras 6.4
6.3.1 - Ancoragem por aderência 6.4
6.3.2 - Ancoragem por meio de dispositivos mecânicos 6.4
6.3.3 - Ancoragem de armaduras passivas por aderência 6.4
6.3.4 - Ganchos das armaduras de tração 6.5
6.4 - Comprimento de ancoragem básico 6.6
6.5 - Comprimento de ancoragem necessário 6.7
6.6 - Armadura transversal na ancoragem 6.8
6.7 - Ancoragem de feixes de barras, por aderência 6.9
6.8 - Ancoragem de estribos 6.9
6.9 - Emendas das barras 6.10
6.9.1 - Tipos 6.10
6.9.2 - Emendas por traspasse 6.10
6.9.2.1 - Proporção das barras emendadas 6.11
6.9.2.2 - Comprimento de traspasse para barras tracionadas, isoladas 6.12
6.9.2.3 - Comprimento por traspasse de barras comprimidas, isoladas 6.13
6.9.2.4 - Armadura transversal nas emendas por traspasse,
em barras isoladas 6.13
6.9.2.4.1 - Emendas de barras tracionadas da armadura principal 6.13

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6.9.2.4.2 - Emendas de barras comprimidas 6.14

7- DETALHAMENTO
7.1 - Introdução 7.1
7.2 - Armadura de tração na flexão simples, ancoradas por aderência 7.2
7.3 - Armadura de tração nas seções de apoio 7.4
7.4 - Ancoragem da armadura de tração no apoio 7.5
7.5 - Viga 1 7.5
7.5.1 - Carga sobre a viga 7.6
7.5.2 - Esforços 7.6
7.5.3 - Cálculo da armadura de flexão 7.6
7.5.4 - Verificação da fissuração 7.6
7.5.5 - Cálculo da armadura de cisalhamento 7.7
7.5.6 - Detalhamento da seção transversal 7.8
7.5.7 - Cálculo dos comprimentos de ancoragem por aderência 7.9
7.5.8 - Comprimento das barras, para cobrir o diagrama de momentos
fletores 7.10
7.5.9 - Detalhamento da viga 7.12
7.5.9.1 - Barras de flexão (longitudinais) 7.12
7.5.9.2 - Barras da armadura transversal (estribos) 7.13
7.5.9.3 - Viga detalhada (desenho) 7.15
7.6 - Viga 2 7.16
7.6.1 - Correções no modelo de viga contínua 7.17
7.6.2 - Dimensionamento à flexão 7.19
7.6.3 - Verificação da fissuração 7.20
7.6.4 - Dimensionamento ao cisalhamento (Modelo I) 7.21
7.6.5 - Cálculo dos comprimentos de ancoragem por aderência 7.22
7.6.6 - Viga detalhada (desenho) 7.24

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CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 1

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Julho 2015

MATERIAIS – AÇÕES - RESISTÊNCIAS


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1.1 – Histórico

O material composto concreto armado surgiu há mais de 150 anos e se trans-


formou nesse período no material de construção mais utilizado no mundo, devido
principalmente ao seu ótimo desempenho, economia e facilidade de produção. Abaixo
são citadas algumas datas históricas, em termos do aparecimento e desenvolvimento
do concreto armado e protendido, conforme Rusch (1981).

1824 – O inventor inglês Joseph ASPDIM recebeu a patente de um produto que vinha
desenvolvendo desde 1811, a partir da mistura, queima e moagem de argila e pó de
pedra calcária retirado das ruas. Esse novo material pulverulento recebeu o nome de
cimento portland, devido à semelhança do produto final com as pedras encontradas
na ilha de Portland, ao sul da Inglaterra.

1848/1855 – O francês Joseph-Louis LAMBOT desenvolveu no sul da França, onde


passava suas férias de verão, um barco fabricado com o novo material, argamassa
de cimento e areia entremeados por fios de arame. É considerado o inventor do ferro-
cimento (argamassa armada) que deu origem ao hoje conhecido concreto armado. O
processo de fabricação era totalmente empírico e acreditando estar revolucionando a
indústria naval, patenteou o novo produto já em 1848, apresentando-o na feira inter-
nacional de Paris em 1855. Infelizmente sua patente não fez o sucesso esperado
sendo superada pelas patentes posteriores de outro francês, Monier.
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1861 – O jardineiro (paisagista) e horticultor francês Joseph MONIER foi na realidade


o único a se interessar pela descoberta de seu compatriota Lambot, vendo nesse
barco a solução para os seus problemas de confinamento de plantas exóticas tropi-
cais durante o inverno parisiense. O ambiente quente e úmido da estufa era favorável
ao apodrecimento precoce dos vasos feitos até então de madeira. O novo produto
além de bem mais durável apresentava uma característica peculiar: se o barco era
feito para não permitir a entrada de água seguramente não permitiria também a sua
saída, o que se encaixava perfeitamente à busca de Monier. A partir dessa data co-
meçou a produzir vasos de flores com argamassa de cimento e areia, reforçada com
uma malha de aço. Monier além de ser bastante competente como paisagista, possu-
ía um forte espírito empreendedor e viu no novo produto grandes possibilidades, pas-
sando a divulgar o concreto armado inicialmente na França e posteriormente na Ale-
manha e em toda a Europa. Ele é considerado por muitos como o pai do concreto
armado. Em 1875 construiu no castelo de Chazelet, nos arredores de Paris uma pon-
te de concreto armado com 16,5 m de vão por 4m de largura.

1867 – Monier recebe sua primeira patente para vasos de flores de concreto com ar-
maduras de aço. Nos anos seguintes consegue novas patentes para tubos, lajes vi-
gas e pontes. As construções eram construídas de forma empírica mostrando que o
inventor não possuía uma noção clara da função estrutural das armaduras de aço no
concreto.

1877 – O advogado, inventor e abolicionista americano Thaddeus HYATT publicou


seus ensaios com construções de concreto armado. Hyatt já reconhecia claramente o
efeito da aderência aço-concreto, da função estrutural das armaduras, assim como da
sua perfeita localização na peça de concreto.

1878 - Monier consegue novas patentes fundamentais que dão origem a introdução
do concreto armado em outros países.

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1884 – Duas firmas alemãs FREYTAG & HEISDCHUCH e MARSTENSTEIN & JOS-
SEAUX, compram de Monier os direitos de patente para o sul da Alemanha e reser-
vam-se o direito de revenda para toda a Alemanha.

1886 – As duas firmas alemãs cedem o direito de revenda ao engenheiro G. A.


WAISS, que funda em Berlim uma empresa para construções de concreto segundo o
“Sistema Monier”. Realiza ensaios em “Construções Monier” e mostra através de pro-
vas de carga as vantagens econômicas de colocação de barras de aço no concreto,
publicando esses resultados em 1887. Nessa mesma publicação o construtor oficial
Mathias KOENEN, enviado aos ensaios pelo governo Prussiano, desenvolve baseado
nos ensaios, um método de dimensionamento empírico para alguns tipos de “Cons-
truções Monier”, mostrando que conhecia claramente o efeito estrutural das armadu-
ras de aço. Desse modo passa a existir uma base tecnicamente correta para o cálcu-
lo das armaduras de aço.

1888 – O alemão C. W. F. DÖHRING consegue uma patente segunda a qual lajes e


vigas de pequeno porte têm sua resistência aumentada através da protensão da ar-
madura, constituída de fios de aço. Surge assim provavelmente pela primeira vez a
ideia da protensão deliberada.

1900 – A construção de concreto armado ainda se caracterizava pela coexistência de


sistemas distintos, geralmente patenteados. O professor da Universidade de Stuttgart
Emil MÖRSCH desenvolve a teoria iniciada por Koenen e a sustenta através de inú-
meros ensaios realizados sobre a incumbência da firma WAISS & FREITAG, a qual
pertencia. Os conceitos desenvolvidos por Mörsch e publicados em 1902 constituem
ao longo do tempo e em quase todo o mundo os fundamentos da teoria de dimensio-
namento de peças de concreto armado.

1906 – O alemão LABES concluiu que a segurança contra abertura de fissuras con-
duzia a peças antieconômicas. Koenen propôs em 1907 o uso de armaduras previa-
mente distendidas. Foram realizados ensaios em vigas protendidas relatadas por
BACH em 1910. Os ensaios mostraram que os efeitos danosos da fissuração eram

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eliminados com a protensão. Entretanto Koenen e Mörsch reconheceram já em 1912


uma perda razoável de protensão, uma vez que o concreto encurta-se com o tempo,
devido à retração e deformação lenta.

1928 - O francês E. FREYSSINET já havia usado a protensão em 1924. Entretanto só


em 1928 desenvolveu um processo empregando aços de alta resistência protendidos,
capazes de provocar tensões de compressão suficientemente elevadas e permanen-
tes no concreto. Estuda as perdas devido à retração e deformação lenta do concreto
e registra várias patentes sobre o sistema Freyssinet de protensão. É considerado o
pai do concreto protendido.

1.2 – Viabilidade do concreto armado

O concreto armado é um material de construção composto, constituído de concre-


to e barras de aço nele imersas. O funcionamento conjunto dos dois materiais só é
viabilizado pelas três propriedades abaixo:
 Aderência aço-concreto – esta talvez seja a mais importante das propriedades
uma vez que é a responsável pela transferência das tensões de tração não absor-
vidas pelo concreto para as barras da armadura, garantindo assim o perfeito fun-
cionamento conjunto dos dois materiais;
 Coeficientes de dilatação térmica do aço e do concreto praticamente iguais –
esta propriedade garante que para variações normais de temperatura, excetuada
a situação extrema de incêndio, não haverá acréscimo de tensão capaz de com-
prometer a perfeita aderência aço-concreto;
 Proteção da armadura contra a corrosão – esta proteção que está intimamente
relacionada com a durabilidade do concreto armado acontece de duas formas dis-
tintas: a proteção física e a proteção química. A primeira é garantida quando se
atende os requisitos de cobrimento mínimo preconizado pela NBR 6118:2014 que
protege de forma direta as armaduras das intempéries. A proteção química ocorre
devido à presença da cal no processo químico de produção do concreto, que en-
volve a barra de aço dentro do concreto, criando uma camada passivadora cujo

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“ph” se situa acima de 13, criando condições inibidoras da corrosão. Quando a


frente de carbonatação, que acontece devido à presença de gás carbônico (CO2)
do ar e porosidade do concreto, atinge as barras da armação essa camada é des-
passivada pela reação química do (CO2) com a cal, produzindo ácidos que abai-
xam o “ph” dessa camada para níveis iguais ou inferiores a 11.5, criando as con-
dições favoráveis para o processo eletroquímico da corrosão se iniciar. A corrosão
pode acontecer independentemente da carbonatação, na presença de cloretos
(íons cloro Cl -), ou sulfatos (S - -).

1.3 – Vantagens do concreto armado

 Economia – é a vantagem que juntamente com a segunda a seguir, transforma-


ram o concreto em um século e meio no material para construção mais usado no
mundo;
 Adaptação a qualquer tipo de forma ou fôrma e facilidade de execução – a produ-
ção do concreto não requer mão de obra especializada e com relativa facilidade
se consegue qualquer tipo de forma propiciada por uma fôrma de madeira;
 Estrutura monolítica – (monos – única, litos – pedra) esta propriedade garante à
estrutura de concreto armado uma grande reserva de segurança devido ao alto
grau de hiperestaticidade propiciado pelas ligações bastante rígidas das peças de
concreto. Além disso, quando a peça está submetida a um esforço maior que a
sua capacidade elástica resistente, ela ao plastificar, promove uma redistribuição
de esforços, transferindo às peças adjacentes a responsabilidade de absorver o
esforço;
 Manutenção e conservação praticamente nulas – a ideia que a estrutura de con-
creto armado é eterna não é mais aceita no meio técnico, uma nova mentalidade
associa à qualidade de execução do concreto, em todas as suas etapas, um pro-
grama preventivo de manutenção e conservação. Naturalmente quando compara-
do com outros materiais de construção essa manutenção e conservação aconte-
cem em uma escala bem menor, sem prejuízo, no entanto da vida útil das obras
de concreto armado;

1.5
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 Resistência a efeitos térmico-atmosféricos e a desgaste mecânico.

1.4 – Desvantagens do concreto armado

 Peso próprio – a maior desvantagem do concreto armado é seguramente o seu


grande peso próprio que limita a sua utilização para grandes vãos, onde o concre-
to protendido ou mesmo a estrutura metálica passam a ser econômica e tecnica-
mente mais viáveis. A sua massa específica é dada pela NBR 6118:2014 como
2500 kg/m3;
 Dificuldade de reformas e demolições - hoje amenizada com tecnologias avança-
das e equipamentos modernos que facilitam as reformas e demolições;
 Baixo grau de proteção térmica – embora resista normalmente à ação do fogo a
estrutura de concreto necessita de dispositivos complementares como telhados e
isolamentos térmicos para proporcionar um conforto térmico adequado à constru-
ção;
 Fissuração – a fissuração que é um fenômeno inevitável nas peças tracionadas de
concreto armado, devido ao baixo grau de resistência à tração do concreto, foi por
muitas décadas considerada uma desvantagem do material. Já a partir do final da
década de setenta, esse fenômeno passou a ser controlado, baseado numa redis-
tribuição das bitolas da armadura de tração, em novos valores de cobrimentos mí-
nimos e até mesmo na diminuição das tensões de serviço das armaduras, pelo
acréscimo das mesmas. Cabe salientar que a fissuração não foi eliminada, ape-
nas controlada para valores de aberturas máximas na face do concreto de tal for-
ma a não comprometer a vida útil do concreto armado e também a estética.

1.5 – Concreto

O concreto é uma mistura em proporção adequada (traço) dos materiais ci-


mento, agregados (areia e brita) e água resultando em um novo material de constru-
ção, cujas características do produto final diferem substancialmente daquelas dos
materiais que o constituem.

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1.5.1 – Propriedades mecânicas do concreto

1.5.1.1 - Resistência à compressão

A resistência mecânica do concreto à compressão, devido a sua função estru-


tural assumida no material composto concreto armado, é a principal propriedade
mecânica desse material a ser analisada e estudada. Essa propriedade é obtida
através de ensaios de compressão simples realizados em corpos de provas (CPs),
com dimensões e procedimentos previamente estabelecidos em normas nacionais e
estrangeiras.

A resistência à compressão depende basicamente de dois fatores: a forma do


corpo de prova e a duração do ensaio. O problema da forma é resolvido estabele-
cendo-se um corpo de prova cilíndrico padronizado, com 15 cm de diâmetro e 30 cm
de altura, que é recomendado pela maioria das normas do mundo, inclusive as bra-
sileiras.

Em outros países, como por exemplo, a Alemanha, adota-se um corpo de


prova cúbico de aresta 20 cm, que para um mesmo tipo de concreto fornece resis-
tência à compressão ligeiramente superior ao obtido pelo cilíndrico. Isso se deve a
sua forma, onde o efeito do atrito entre as faces do corpo de prova carregadas e os
pratos da máquina de ensaio, confina de forma mais efetiva o CP cúbico que o cilín-
drico, devido a uma maior restrição ao deslocamento transversal das faces carrega-
das. Adota-se nesse caso um fator redutor igual a 0,85, que quando aplicado ao CP
cúbico transforma seus resultados em valores equivalentes aos do CP cilíndrico, po-
dendo assim ser usada a vasta bibliografia alemã sobre o assunto.

Normalmente o ensaio de compressão em corpos de prova é de curta dura-


ção e sabe-se a partir dos trabalhos realizados pelo alemão Rüsch, que o resultado
desse ensaio é ligeiramente superior ao obtido quando o ensaio é de longa duração.
Isso se deve a microfissuração interna do concreto, que se processa mesmo no
concreto descarregado, e que no ensaio de longa duração tem seu efeito ampliado
devido à interligação entre as microfissuras, diminuindo assim a capacidade resis-

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Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
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tente do CP à compressão. Uma vez que grande parcela do carregamento que atua
em uma estrutura é de longa duração os resultados do ensaio de curta duração de-
vem ser corrigidos por um fator, denominado Coeficiente de Rüsch, igual a 0,85.

1.5.1.2 - Resistência característica do concreto a compressão - fck

Quando os resultados dos ensaios a compressão de um grande número de


CPs são colocados em um gráfico, onde nas abscissas são marcadas as resistên-
cias obtidas e nas ordenadas a frequência com que as mesmas ocorrem, o gráfico
final obedece a uma curva normal de distribuição de frequência, ou curva de Gauss.

Observa-se nesse gráfico que a resistência que apresenta a maior frequência


de ocorrência é a resistência média fcj, aos “j” dias, e que o valor equidistante entre a
resistência média e os pontos de inflexão da curva é o desvio-padrão “s” (ver fig. 1.1),
cujos valores são dados respectivamente por:

fcj  f ci
(1.1)
n

s
 f ci  f cj 
2

(1.2)
n 1

Onde n é o número de CPs e fci é a resistência à compressão de cada CP “i”.

A área abaixo da curva é igual a 1. Um valor qualquer da resistência marcado


no eixo das abscissas divide essa área em duas outras que representam as probabi-
lidades de ocorrência de valores maiores ou menores que esse. Do lote de CPs en-
saiados a resistência a ser utilizada nos cálculos é baseada em considerações pro-
babilísticas, considerando-se em âmbito mundial a resistência característica fck do
lote de concreto ensaiado aquela abaixo da qual só corresponde um total de 5% dos
resultados obtidos, ou seja, um valor com 95% de probabilidade de ser ultrapassado
(ver fig. 1.1).

1.8
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Para um quantil de 5% obtém-se a partir da curva de Gauss:

f ck  fcj  1,645s (1.3)

A partir de resultados de ensaios feitos em um grande número de obras e em


todo o mundo percebe-se que o desvio-padrão “s” é principalmente dependente da
qualidade de execução e não da resistência do concreto. A NBR-12655:2006 que
trata do preparo, controle e recebimento do concreto, define que o cálculo da resis-
tência de dosagem deve ser feito segundo a equação:

fcj  f ck  1,645s d (1.4)

Onde sd representa o desvio-padrão de dosagem.

Figura 1.1 – Curva de Gauss para CPs de concreto ensaiados à compressão


Resistência característica fck

1.9
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___________________________________________________________________________

De acordo com a NBR-12655:2006 o cálculo da resistência de dosagem do


concreto depende, entre outras variáveis, da condição de preparo do concreto, defi-
nida a seguir:
 Condição A (aplicável às classes C10 - fck=10 MPa, até C80 – fck=80 MPa): o
cimento e o os agregados são medidos em massa, a água de amassamento é
medida em massa ou volume com dispositivo dosador e corrigida em função da
umidade dos agregados;
 Condição B
(aplicável às classes C10 até C25): o cimento é medido em massa, a água de
amassamento é medida em volume mediante dispositivo dosador e os agregados
medidos em massa combinada com volume, de acordo com o exposto em 6.2.3;
(aplicável às classes C10 até C20): o cimento é medido em massa, a água de
amassamento é medida em volume mediante dispositivo dosador e os agregados
medidos em volume. A umidade do agregado miúdo é determinada pelo menos
três vezes durante o serviço do mesmo turno de concretagem. O volume de
agregado é corrigido através da curva de inchamento estabelecida especifica-
mente para o material utilizado;
 Condição C (aplicável apenas aos concretos de classe C10 e C15): o cimento é
medido em massa, os agregados são medidos em volume, a água de amassa-
mento é medida em volume e a sua quantidade é corrigida em função da estima-
tiva da umidade dos agregados e da determinação da consistência do concreto,
conforme disposto na NBR 7223, ou outro método normalizado ( A NBR
7223:1992 foi cancelada e substituída pela NBRNM 67:1998).

Ainda de acordo com a NBR-12655:2006, no início da obra ou em qualquer


outra circunstância em que não se conheça o valor do desvio-padrão sd, deve-se
adotar para o cálculo da resistência de dosagem os valores apresentados na tabela
1.1, de acordo com a condição de preparo, que deve ser mantida permanentemente
durante a construção. Mesmo quando o desvio-padrão seja conhecido, em nenhum
caso o mesmo pode ser adotado menor que 2 MPa.

1.10
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___________________________________________________________________________

Tabela 1.1 – Desvio- padrão a ser adotado em função da


condição de preparo do concreto (NBR 12655:2006)

Condição Desvio-
padrão (MPa)
A 4,0
B 5,5
C1) 7,0

1)
Para condição de preparo C, e enquanto não se conhece o desvio-padrão, exige-
se para os concretos de classe C15 um consumo mínimo de 350 Kg de cimento por
metro cúbico.

1.5.1.3 - Módulo de elasticidade longitudinal

O módulo de elasticidade longitudinal para um ponto qualquer do diagrama


x (tensão x deformação) é obtido pela derivada (d/d) no ponto considerado, que
representa a inclinação da tangente à curva no ponto. De todos os módulos tangen-
tes possíveis o seu valor na origem tem grande interesse, uma vez que as tensões
de serviço na estrutura são da ordem de 40% da tensão de ruptura do concreto, e
nesse trecho inicial o diagrama x é praticamente linear. De acordo com o item
8.2.8 da NBR-6118:2014 o módulo de elasticidade ou módulo de deformação tan-
gente inicial é dado por:

E ci  α E 5600 f ck para fck ≤ 50 MPa (Grupo I) (1.5a)

f ck
Eci  21,5x103 α E 3  1,25 para fck > 50 MPa (Grupo II) (1.5b)
10

Sendo
αE = 1,2 concreto produzido com brita de basalto ou diabásio
αE = 1,0 concreto produzido com brita de granito ou gnaisse
αE = 0,9 concreto produzido com brita de calcário
αE = 0,7 concreto produzido com brita de arenito

1.11
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___________________________________________________________________________

Onde
Eci e fck são dados em megapascal (MPa).

O módulo de deformação secante a ser utilizado nas análises elásticas de


projeto, principalmente para determinação dos esforços solicitantes e verificação dos
estados limites de serviço, pode ser estimado pela expressão:

Ecs  α i Eci (1.6a)

Sendo
f ck
α i  0,8  0,2  1,0 (fck em MPa) (1.6b)
80

1.5.1.4 - Coeficiente de Poisson e módulo de elasticidade transversal

De acordo com o item 8.2.9 da NBR-6118:2014 para tensões de compressão


inferiores a 50% de fc (ruptura à compressão) e para tensões inferiores a resistência
à tração fct, o coeficiente de Poisson (relação entre a deformação transversal e longi-
tudinal) e o módulo de elasticidade transversal são dados respectivamente por:

 = 0,2 (1.7)

E cs E
Gc   cs  0,42Ecs (1.8)
21  ν  2,4

1.5.1.5 - Diagrama tensão-deformação (x)

Conforme o item 8.2.10 da NBR-6118:2014 o diagrama x na compressão


para tensões inferiores a 0,5 fc (resistência à compressão do concreto) pode ser
adotado linear (Hooke), com o módulo de elasticidade igual ao secante Ecs.

Para os estados limites últimos o diagrama x na compressão, apresentado


na figura (1.2) abaixo, é um diagrama idealizado, onde se nota dois trechos distintos,
o primeiro curvo segundo uma parábola de grau “n”, com deformações inferiores a

1.12
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___________________________________________________________________________

εc2 e o segundo constante, com deformações variando de εc2 a εcu. Para o trecho
curvo a tensão no concreto é dada por:

n
  εc  
σ c  0,85fcd 1   1    (1.9a)
  ε c2  

Onde fcd representa a resistência de cálculo do concreto dada no item 12.3.3


da NBR 6118:2014, mostrada adiante no item 1.8, e a potência “n” é dada na figura
1.2 em função dos grupos de resistência I (C20 a C50) e II (C55 a C90) do concreto.

O valor da resistência no trecho constante é igual a σc = 0,85 fcd (o valor do


coeficiente 0,85 só muda quando se adota o diagrama retangular simplificado).

Figura 1.2 - Diagrama tensão-deformação idealizado (compressão)


(Adaptada da Fig. 8.2 da NBR 6118:2014)

1.13
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Os valores a serem adotados para os parâmetros εc2 (deformação específica


de encurtamento do concreto no início do patamar plástico) e εcu (deformação espe-
cífica de encurtamento do concreto na ruptura) são os seguintes:

εc2 = 2‰
concretos de classes até C50 (1.9b)
εcu = 3,5‰

εc2 = 2‰ + 0,085‰ (fck – 50)0,53


concretos de classes C55 até C90 (1.9c)
εcu = 2,6‰ + 35‰ x [ (90 – fck) / 100 ]4

Figura 1.3 - Diagramas tensão-deformação parábola-retângulo

1.14
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1.5.1.6 - Resistência à tração

Conforme o item 8.2.5 da NBR-6118:2014 os conceitos relativos à resistência


a tração direta do concreto fct são análogos aos do item anterior relativo à compres-
são. Assim tem-se a resistência média do concreto à tração fctm e a resistência ca-
racterística do concreto à tração fctk, ou simplesmente ftk. Esse valor tem 95% de
probabilidade de ser superado pelos resultados do lote de concreto ensaiado. Na
tração, o diagrama x é bilinear conforme a figura (1.4) mostrada a seguir.

Enquanto na compressão o ensaio usado é o da compressão direta, na tração


são normalizados três ensaios: tração direta, tração indireta (compressão diametral)
e tração na flexão. O ensaio de compressão diametral, conhecido mundialmente
como ensaio brasileiro por ter sido desenvolvido pelo Prof. Lobo Carneiro, é o
mais utilizado, o mais simples e fornece resultados mais homogêneos e ligeiramente
superiores ao da tração direta.

Figura 1.4 - Diagrama tensão-deformação bilinear na tração


(Adaptada da Fig. 8.3 da NBR 6118:2014)

1.15
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___________________________________________________________________________

O valor da resistência à tração direta pode ser considerado igual a:

fct = 0,9 fct,st (1.10)


ou
fct = 0,7 fct,f (1.11)

Onde fct,st é a resistência a tração indireta e fct,f é a resistência a tração na flexão.


Na falta desses valores pode-se obter a resistência média à tração dada por:

fct,m = 0,3 (fck)2/3 (MPa) P/ concretos de classes até C50 (1.12a)

fct,m = 2,12 ln(1+0,11fck) (MPa) P/ concretos de classes C55 até C90 (1.12b)

Os valores da resistência característica a tração fctk inferior e superior, usa-


dos em situações especificas, são dados por:

0,21 (fck)2/3 (MPa) até C50


fctk,inf = 0,7 fct,m = (1.13a)
1,484 ln (1 + 0,11fck) (MPa) C55 até C90

0,39 (fck)2/3 (MPa) até C50


fctk,sup = 1,3 fct,m = (1.13b)
2,756 ln (1 + 0,11fck) (MPa) C55 até C90

1.5.2 – Características reológicas do concreto

Segundo o dicionário Aurélio reologia é “parte da física que investiga as pro-


priedades e o comportamento mecânico dos corpos deformáveis que não são nem
sólidos nem líquidos”. As características reológicas do concreto que interessam ao
estudo do concreto armado são:

1.16
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1.5.2.1 - Retração (shrinkage)

A retração no concreto é uma deformação independente do carregamento e,


portanto, de direção sendo, pois uma deformação volumétrica que ocorre devido à
perda de parte da água dissociada quimicamente do processo de produção do con-
creto, quando esse “seca” em contato com o ar. Segundo a NBR 6118:2014 depen-
de da umidade relativa do ambiente, da consistência do concreto no lançamento e
da espessura fictícia da peça.

A deformação específica de retração do concreto cs pode ser calculada con-


forme indica o anexo A da NBR 6118:2014. Na grande maioria dos casos, permite-
se que ela seja calculada simplificadamente por meio da tabela 1.2. Essa tabela for-
nece os valores característicos superiores da deformação específica de retração en-
tre os instantes to e t, cs(t, to) e do coeficiente de fluência φ(t,t0), em função da
umidade média ambiente e da espessura equivalente ou fictícia da peça em , dada
por:
2A c
em  (cm) (1.14)
u

Onde Ac é a área da seção transversal e u é o perímetro da seção em contato com a


atmosfera.

Os valores dessa tabela são relativos a temperaturas do concreto entre 10 oC


e 20 oC, podendo-se, entretanto, admitir temperaturas entre 0 oC e 40 oC. Esses va-
lores são válidos para concretos plásticos e de cimento Portland comum.

Nos casos correntes das obras de concreto armado o valor da deformação


específica devido à retração pode ser adotado igual a cs(t, to) = –15x10-5, satisfa-
zendo ao mínimo especificado na NBR-6118:2014 em função da restrição à retração
do concreto imposta pela armadura. Esse valor admite elementos estruturais com
dimensões usuais, entre 10 cm e 100 cm, sujeitos a umidade relativa do ar não infe-
rior a 75%. O valor característico inferior da retração do concreto é considerado nulo.

1.17
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1.5.2.2 - Fluência (creep)

A fluência é uma deformação que depende do carregamento e é caracteriza-


da pelo aumento da deformação imediata ou inicial, mesmo quando se mantém
constante a tensão aplicada. Devido a essa deformação imediata ocorrerá uma re-
dução de volume da peça, provocando esse fato uma expulsão da água quimica-
mente inerte, de camadas mais internas para regiões superficiais da peça, onde a
mesma já tenha se evaporado. Isso desencadeia um processo, ao longo do tempo,
análogo ao da retração, verificando-se dessa forma um crescimento da deformação
inicial, até um valor máximo no tempo infinito.

Da mesma forma que na retração, as deformações decorrentes da fluência do


concreto podem ser calculadas conforme indicado no anexo A da NBR-6118:2014.
Nos casos em que a tensão inicial, aplicada no tempo to não varia significativamen-
te, permite-se que essas deformações sejam calculadas simplificadamente pela ex-
pressão:
 1  (t  , t 0 ) 
ε c (t  , t 0 )  ε ci  ε cc  σ c (t 0 )   (1.15)
 E ci (t 0 ) E ci (28) 
Onde:
- c(t, to) é a deformação específica total do concreto entre os instantes to e t;
- εci é a deformação inicial produzida pela tensão σc(t0);
- εcc é a deformação devido à fluência;
- c(t0) é a tensão no concreto devida ao carregamento aplicado em t0;
- Eci(t0) é o modulo de deformação longitudinal calculado na idade do carrega-
mento j=t0 pelas expressões (1.5a) e (1.5b);
- Eci(28) é o modulo de elasticidade longitudinal calculado na idade t=28 dias
pelas expressões (1.5a) e (1.5b);
- (t, t0) é o limite para o qual tende o coeficiente de fluência provocado por car-
regamento aplicado em t0.

1.18
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Tabela 1.2-Valores característicos superiores da deformação especifica de re-


tração εcs(t,t0) e do coeficiente de fluência φ(t,t0) (Tab. 8.2 da NBR6118:2014)

Umidade media
40 55 75 90
ambiente (%)

Espessura fictí-
cia 20 60 20 60 20 60 20 60
2 Ac/u (cm)
φ(t,to) 5 4,6 3,8 3,9 3,3 2,8 2,4 2,0 1,9
C20 a 30 3,4 3,0 2,9 2,6 2,2 2,0 1,6 1,5
C45 60 2,9 2,7 2,5 2,3 1,9 1,8 1,4 1,4
φ(t,to) 5 2,7 2,4 2,4 2,1 1,9 1,8 1,6 1,5
to
C50 a 30 2,0 1,8 1,7 1,6 1,4 1,3 1,1 1,1
dias
C90 60 1,7 1,6 1,5 1,4 1,2 1,2 1,0 1,0
5 -0,53 -0,47 -0,48 -0,43 -0,36 -0,32 -0,18 -0,15
εcs(t,to)
30 -0,44 -0,45 -0,41 -0,41 -0,33 -0,31 -0,17 -0,15

60 -0,39 -0,43 -0,36 -0,40 -0,30 -0,31 -0,17 -0,15

O valor de (t, t0) pode ser calculado simplificadamente por interpolação da


tabela 1.2. Essa tabela fornece o valor característico superior do coeficiente de flu-
ência (t, t0). O seu valor característico inferior é considerado nulo.

1.5.2.3 - Variação de temperatura

A variação da temperatura ambiente não se transmite imediatamente ao con-


creto, tendo uma ação retardada sobre a sua própria variação de temperatura, devi-
do ao baixo grau de condutibilidade térmica do concreto. Quanto mais interno estiver
o ponto considerado menor será sua variação de temperatura em função da tempe-
ratura ambiente.

1.19
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___________________________________________________________________________

Segundo a NBR 6118:2014, para efeito de análise estrutural, o coeficiente de


dilatação térmica do concreto pode ser admitido como sendo igual a αc = 10-5/°C.

Considerando o mínimo especificado na NBR-6118:2014 para a deformação


específica do concreto devido à retração cs(t, to) = –15x10-5, isso equivale a uma
diminuição uniforme de temperatura igual a 15oC.

1.6 – Aço

O aço é uma liga metálica composta basicamente de ferro e de pequenas


quantidades de carbono, com percentuais variando de 0,03% a 2%, que lhe confere
maior ductilidade possibilitando que o mesmo não se quebre quando é dobrado para
execução das armaduras. Os teores de carbono para aços estruturais utilizados na
construção civil variam de 0,18% a 0,25%.

A armadura usada nas peças de concreto armado é chamada passiva e a


usada na protensão do concreto protendido é chamada ativa.

1.6.1 – Categoria

Para aplicação estrutural o aço produzido inicialmente nas aciarias precisa ser
modificado, o que acontece por meio de dois tipos de tratamento: a quente e a frio.
O tratamento a quente consiste na laminação, forjamento ou estiramento do aço
acima da temperatura crítica, em torno de 720 oC. Os aços assim produzidos apre-
sentam maior trabalhabilidade, podem ser soldados com solda comum e apresentam
diagrama tensão-deformação com patamar de escoamento bem definido. Estão in-
cluídos nesse grupo os aços CA 25 e CA 50.

O tratamento a frio ou encruamento é obtido por uma deformação imposta ao


aço por meio de tração, compressão ou torção abaixo da temperatura crítica, impri-
mindo basicamente ao mesmo um aumento da sua resistência mecânica. O aço CA
60 pertence a esse grupo, que apresenta um diagrama tensão-deformação sem pa-
tamar de escoamento.

1.20
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___________________________________________________________________________

Segundo a NBR 7480:1996 o aço a ser usado nos projetos de estruturas de


concreto armado deve ser classificado nas categorias CA 25, CA 50 e CA 60, em
que CA significa Concreto Armado e o número representa o valor característico da
resistência de escoamento do aço, fyd, em kN/cm2 ou kgf/mm2.

A NBR 7480:1996 classifica como barra o aço produzido exclusivamente por


laminação a quente com bitola nominal maior ou igual a 5 mm e como fio o produzi-
do por laminação a frio (trefilação ou equivalente) com bitola nominal não superior a
10 mm (tabela 1.3).Os valores nominais dos diâmetros, das áreas das seções trans-
versais e da massa por metro são os estabelecidos pela NBR-7480:1996, cujos va-
lores mais usados estão indicados na tabela 1.4, abaixo.

Para se obter a massa por unidade de comprimento (kg/m) das barras basta
multiplicar a área da seção transversal por 1m de comprimento (que dá o volume da
barra por metro) , vezes a massa específica do aço. Assim, por exemplo, para a bar-
ra com bitola igual a 8 mm a área da seção transversal é igual a π x (8x10-3 m)2 / 4 =
0,503x10-4 m2 = 0,503 cm2 e a massa por unidade de comprimento é (0,503x10-4
m2) x (1 m) x (7850 kg/m) = 0,503 x 0,785 = 0,395 kg/m. A massa específica do aço
é dada no item 1.6.3 a seguir.

Tabela 1.3 – Diâmetros nominais de barras e fios - NBR 7480:1996

BARRAS Φ≥ 5 mm - LAMINAÇÃO A QUENTE - AÇOS CA-25 E CA-50

5 6,3 8 10 12,5 16 20 22 25 32 40

FIOS Φ≤ 10 mm – LAMINAÇÃO A FRIO – AÇO CA-60

2,4 3,4 3,8 4,2 4,6 5,0 5,5 6,0 6,4 7,0 8,0 9,5 10

1.21
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___________________________________________________________________________

Tabela 1.4 – Valores nominais para fios e barras de aço

Diâmetro nomi- Massa Área nominal


nal Nominal da seção
(mm) (kg/m) (cm2)

Fios Barras

5,0 5,0 0,154 0,196

6,0 0,222 0,283

6,3 0,245 0,312

6,4 0,253 0,322

7,0 0,302 0,385

8,0 8,0 0,395 0,503

9,5 0,558 0,709

10,0 10,0 0,617 0,785

- 12,5 0,963 1,227

- 16 1,578 2,011

- 20,0 2,466 3,142

- 22,0 2,984 3,801

- 25,0 3,853 4,909

- 32,0 6,313 8,042

- 40,0 9,865 12,566

1.22
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___________________________________________________________________________

1.6.2 – Tipo de superfície

Os fios e barras podem ser lisos, entalhados ou providos de saliências ou


mossas. Para cada categoria de aço, o coeficiente de aderência deve atender ao
indicado na NBR-6118:2014.

Para os efeitos dessa norma, a capacidade aderente entre o aço e o concreto


está relacionada ao coeficiente de aderência 1, listados na tabela 1.5.

Tabela 1.5 – Valor do coeficiente de aderência η1


(Tabela 8.3 da NBR 6118:2014)

Tipo de superfície η1
Lisa (CA 25) 1,00
Entalhada (CA 60) 1,40
Nervurada (CA 50) 2,25

1.6.3 – Massa específica e propriedades mecânicas do aço

Para a massa específica do aço da armadura passiva pode ser adotado o


valor s = 7850 kg/m3. O valor do coeficiente de dilatação térmica, para intervalos
de temperatura entre -20 oC e 150 oC pode ser adotado como αs = 10-5/ oC. O módu-
lo de elasticidade, na falta de ensaios ou valores fornecidos pelo fabricante, pode
ser admitido igual a:
Es = 210 GPa = 21000 kN/cm2 = 2100000 kgf/cm2.

1.6.4 – Diagrama tensão-deformação

O diagrama tensão-deformação do aço, os valores característicos das resis-


tências ao escoamento fyk e à tração (ruptura) fstk, e da deformação última de ruptu-
ra u devem ser obtidos de ensaios de tração realizados segundo a NBR ISO-

1.23
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___________________________________________________________________________

6892:2002. O valor de fyk para os aços sem patamar de escoamento é o valor da


tensão correspondente à deformação permanente de 2 ‰.

Para cálculo nos estados limites de serviço e último pode-se utilizar o diagra-
ma tensão-deformação simplificado mostrado na figura (1.5) abaixo, para os aços
com ou sem patamar de escoamento.

Figura 1.5 – Diagrama tensão-deformação para aços de armaduras


passivas (Adaptada da fig. 8.4 da NBR 6118:2014)

1.7 – Definições da NBR 6118:2014

Concreto estrutural – termo que se refere ao espectro completo das aplicações do


concreto como material estrutural.

1.24
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___________________________________________________________________________

Elementos de concreto simples estrutural – elementos estruturais produzidos


com concreto sem nenhuma armadura, ou quando a possui é em quantidades inferi-
ores aos mínimos estabelecidos nessa norma.

Elementos de concreto armado – elementos estruturais produzidos com concreto


cujo comportamento estrutural depende da perfeita aderência aço-concreto e onde
não se aplicam alongamentos iniciais nas armaduras, antes da materialização dessa
aderência.

Elementos de concreto protendido – elementos estruturais produzidos com con-


creto onde parte da armadura é previamente alongada por equipamentos especiais
de protensão com a finalidade de, em condições de serviço, impedir ou limitar a fis-
suração e os deslocamentos da estrutura e propiciar o melhor aproveitamento de
aços de alta resistência no ELU ( estado limite último).

Armadura passiva – qualquer armadura que não seja usada para produzir forças
de protensão, ou seja, armadura utilizada no concreto armado.

Armadura ativa (de protensão) – armadura constituída por barras, fios isolados ou
cordoalhas, destinada a produzir forças de protensão, isto é, armaduras com pré-
alongamento inicial.

Estados limites da NBR 6118:2014 (itens 3.2 e 10.3)

 Estado limite último (ELU) – estado limite relacionado ao colapso, ou a qual-


quer outra forma de ruína estrutural, que determine a paralisação do uso da es-
trutura.
1. estado limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como
corpo rígido;
2. estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura
no seu todo ou em parte, devido às solicitações normais e tangenciais;

1.25
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___________________________________________________________________________

3. estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura


no seu todo ou em parte, considerando os efeitos de segunda ordem;
4. estado limite último provocado por solicitações dinâmicas;
5. estado limite último de colapso progressivo;
6. estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutu-
ra, no seu todo ou em parte, considerando exposição ao fogo, conforme a
NBR 15200;
7. estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutu-
ra, considerando ações sísmicas, de acordo a NBR 15421;
8. outros estados limites últimos que eventualmente possam ocorrer em ca-
sos especiais.

 Estados limites de serviço (ELS)


1. Estado limite de formação de fissuras (ELS-F) – estado em que se inicia a
formação de fissuras. Admite-se que esse estado limite é atingido quando
a tensão máxima de tração na seção transversal for igual a fct,f , já definida
anteriormente como a resistência característica à tração do concreto na
flexão.
2. Estado limite de abertura das fissuras (ELS-W) – estado em que as fissu-
ras se apresentam com aberturas iguais aos máximos estabelecidos nes-
sa norma.
3. Estado limite de deformações excessivas (ELS-DEF) – estado em que as
deformações atingem os limites estabelecidos para utilização normal es-
pecificados nessa norma.
4. Estado limite de vibrações excessivas (ELS-VE) – estado em que as vi-
brações atingem os limites estabelecidos para utilização normal da cons-
trução.

1.26
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___________________________________________________________________________

1.8 – Ações

Conforme a NBR 6118:2014 na análise estrutural deve ser considerada a in-


fluência de todas as ações (designada genericamente pela letra F) que possam pro-
duzir efeitos significativos para a segurança da estrutura em exame, levando-se em
conta os possíveis estados limites últimos e os de serviços. Embora a norma espe-
cífica para ações e segurança nas estruturas seja a NBR 8681:2003, a norma NBR
6118:2014 traz em seu item 11 os conceitos necessários à determinação das ações
e seus coeficientes de ponderação. As ações são classificadas, conforme a NBR-
8681:2003 e a NBR 6118:2014, em permanente, variáveis e excepcionais.

1.8.1 – Ações permanentes

Ações permanentes são as que ocorrem com valores praticamente constan-


tes durante toda a vida da construção. Também são consideradas permanentes as
ações que crescem com o tempo, tendendo a um valor limite. As ações permanen-
tes devem ser consideradas com seus valores representativos mais desfavoráveis
para a segurança (NBR 6118:2014).

1.8.1.1 – Ações permanentes diretas

As ações permanentes diretas são constituídas pelo peso próprio e pelos pesos
dos elementos construtivos fixos e das instalações permanentes (NBR 6118:2014).
 Peso próprio (avaliado com a massa específica do concreto armado)
 Peso dos elementos construtivos fixos e de instalações permanentes (avaliado
conforme as massas específicas dos materiais de construção correntes com ba-
se nos valores indicados pela NBR 6120:1980, versão corrigida de 2000)
 Empuxos permanentes (consideram-se como permanentes os empuxos de terra
e outros materiais granulosos quando forem admitidos não removíveis)

1.27
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___________________________________________________________________________

1.8.1.2 – Ações permanentes indiretas

As ações permanentes indiretas são constituídas pelas deformações impostas


por retração e fluência do concreto, deslocamentos de apoio, imperfeições geométri-
cas e protensão (NBR 6118:2014).

 Retração do concreto - a deformação específica de retração do concreto pode


ser calculada conforme indica o anexo A da NBR 6118:2014.
 Fluência do concreto - as deformações decorrentes da fluência do concreto po-
dem ser calculadas conforme indicado no anexo A da NBR 6118:2014.
 Deslocamentos de apoio - os deslocamentos de apoio só devem ser considera-
dos quando gerarem esforços significativos em relação ao conjunto das outras
ações, isto é, quando a estrutura for hiperestática e muito rígida.
 Imperfeições geométricas – na verificação do estado limite último das estruturas
reticuladas, devem ser consideradas as imperfeições geométricas globais e lo-
cais do eixo dos elementos estruturais da estrutura descarregada.
 Momento mínimo - o efeito das imperfeições locais nos pilares pode ser substitu-
ído em estruturas reticuladas pela consideração do momento mínimo de 1a or-
dem
 Protensão - a ação da protensão deve ser considerada em todas as estruturas
protendidas, incluindo, além dos elementos protendidos propriamente ditos,
aqueles que sofrem a ação indireta da protensão, isto é, de esforços hiperestáti-
cos de protensão.

1.8.2 – Ações variáveis

1.8.2.1 – Ações variáveis diretas

As ações variáveis diretas são constituídas pelas cargas acidentais previstas


para o uso da construção, pela ação do vento e da água, devendo-se respeitar as
prescrições feitas por Normas Brasileiras específicas (NBR 6118:2014).

1.28
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___________________________________________________________________________

 Cargas acidentais previstas para o uso da construção - cargas verticais de uso


da construção; cargas móveis, considerando o impacto vertical; impacto lateral;
força longitudinal de frenação ou aceleração; força centrífuga.
 Ação do vento - os esforços devidos à ação do vento devem ser considerados e
recomenda-se que sejam determinados de acordo com o prescrito pela NBR
6123:1988 - versão corrigida 2:2013, permitindo-se o emprego de regras simpli-
ficadas previstas em Normas Brasileiras específicas.
 Ação da água - o nível d'água adotado para cálculo de reservatórios, tanques,
decantadores e outros deve ser igual ao máximo possível compatível com o sis-
tema de extravasão.
 Ações variáveis durante a construção - as estruturas em que todas as fases
construtivas não tenham sua segurança garantida pela verificação da obra pronta
devem ter, incluídas no projeto, as verificações das fases construtivas mais signi-
ficativas e sua influência na fase final.

1.8.2.2 – Ações variáveis indiretas

 Variações uniformes de temperatura

A variação da temperatura da estrutura, causada globalmente pela variação da


temperatura da atmosfera e pela insolação direta, é considerada uniforme. Ela de-
pende do local de implantação da construção e das dimensões dos elementos estru-
turais que a compõem. De maneira genérica podem ser adotados os seguintes valo-
res (NBR 6118:2014):
a) para elementos estruturais cuja menor dimensão não seja superior a 50 cm,
deve ser considerada uma oscilação de temperatura em torno da média de
10ºC a 15ºC;
b) para elementos estruturais maciços ou ocos com os espaços vazios inteira-
mente fechados, cuja menor dimensão seja superior a 70 cm, admite-se que
essa oscilação seja reduzida respectivamente para 5ºC a 10ºC;

1.29
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___________________________________________________________________________

c) para elementos estruturais cuja menor dimensão esteja entre 50 cm e 70 cm


admite-se que seja feita uma interpolação linear entre os valores acima indi-
cados.

 Variações não uniformes de temperatura

Nos elementos estruturais em que a temperatura possa ter distribuição significa-


tivamente diferente da uniforme, devem ser considerados os efeitos dessa distribui-
ção. Na falta de dados mais precisos, pode ser admitida uma variação linear entre
os valores de temperatura adotados, desde que a variação de temperatura conside-
rada entre uma face e outra da estrutura não seja inferior a 5ºC (NBR 6118:2014).

 Ações dinâmicas

Quando a estrutura, pelas suas condições de uso, está sujeita a choques ou vi-
brações, os respectivos efeitos devem ser considerados na determinação das solici-
tações e a possibilidade de fadiga deve ser considerada no dimensionamento dos
elementos estruturais, de acordo com a seção 23 da NBR 6118:2014.

1.8.3 – Ações excepcionais

No projeto de estruturas sujeitas a situações excepcionais de carregamento,


cujos efeitos não podem ser controlados por outros meios, devem ser consideradas
ações excepcionais com os valores definidos, em caso particular, por Normas Brasi-
leiras específicas (NBR 6118:2014).

1.8.4 – Valores das ações

1.8.4.1 – Valores característicos

Os valores característicos Fk das ações são estabelecidos na NBR-


6118:2014 em função da variabilidade de suas intensidades.

1.30
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
___________________________________________________________________________

Para as ações permanentes Fgk (a letra g será usada para ações permanen-
tes), os valores característicos devem ser adotados iguais aos valores médios das
respectivas distribuições de probabilidade, sejam valores característicos superiores
ou inferiores. Esses valores são definidos na NBR-6118:2014 ou em normas especí-
ficas, como a NBR-6120:1980, versão corrigida de 2000.

Os valores característicos das ações variáveis Fqk (a letra q será usada para
ações variáveis), estabelecidos por consenso em Normas Brasileiras específicas,
correspondem a valores que têm de 25% a 35% de probabilidade de serem ultra-
passados no sentido desfavorável, durante um período de 50 anos. Esses valores
são aqui definidos ou em normas específicas, como a NBR-6120:1980, versão corri-
gida de 2000.

1.8.4.2 – Valores representativos (NBR 6118:2014)

As ações são quantificadas por seus valores representativos, que podem ser:

 os valores característicos conforme definido acima;


 valores convencionais excepcionais, que são os valores arbitrados para as ações
excepcionais;
 valores reduzidos, em função da combinação de ações, tais como:

1. verificações de estados limites últimos, quando a ação considerada se


combina com a ação principal. Os valores reduzidos são determinados a
partir da expressão oFk , que considera muito baixa a probabilidade de
ocorrência simultânea dos valores característicos de duas ou mais ações
variáveis de naturezas diferentes;
2. verificações de estados limites de serviço. Esses valores reduzidos são
determinados a partir de 1Fk , que estima um valor freqüente e 2Fk ,
que estima valor quase permanente, de uma ação que acompanha a
ação principal.

1.31
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
___________________________________________________________________________

1.8.4.3 – Valores de cálculo

Os valores de cálculo Fd das ações são obtidos a partir dos valores represen-
tativos, multiplicando-os pelos respectivos coeficientes de ponderação f definidos a
seguir.

1.8.5 – Coeficientes de ponderação das ações

As ações devem ser majoradas pelo coeficiente f dado por:


f = (f1)x(f2)x(f3) (1.16)
Onde:
 f1 – parte do coeficiente de ponderação das ações f , que considera a variabili-
dade das ações
 f2 – parte do coeficiente de ponderação das ações f , que considera a simulta-
neidade de atuação das ações
 f3 – parte do coeficiente de ponderação das ações f , que considera os desvios
gerados nas construções e as aproximações feitas em projeto do ponto de vista
das solicitações

1.8.5.1 – Coeficientes de ponderação das ações no ELU

Os valores base são os apresentados na tabela 1.6 para (f1)x(f3) e na tabela


1.7 para f2 . Para pilares e pilares-paredes esbeltos com espessura inferior a 19 cm
e lajes em balanço com espessura menor que 19 cm, os esforços solicitantes de
cálculo devem ser multiplicados pelo coeficiente de ajustamento n (ver 13.2.3 e
13.2.4.1 da NBR 6118:2014). Essa correção se deve ao aumento da probabilidade
de ocorrência de desvios relativos e falhas na construção.

1.32
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Tabela 1.6 – Valores de (f1)x(f3) (Tab. 11.1 da NBR 6118:2014)

Ações
Combinações Permanentes Variáveis Protensão Recalques
de (g) (q) (p) de apoio e
ações retração
D F G T D F D F
Normais 1,4a 1,0 1,4 1,2 1,2 0,9 1,2 0
Especiais ou
1,3 1,0 1,2 1,0 1,2 0,9 1,2 0
de construção
Excepcionais 1,2 1,0 1,0 0 1,2 0,9 0 0
Onde: D é desfavorável, F é favorável, G é geral e T é temperatura.
a
- Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso próprio das estruturas,
especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser reduzido para 1,3.

Tabela 1.7 – Valores do coeficiente f2 (Tab. 11.2 da NBR 6118:2014)

f2
AÇÕES 0 1a 2
Locais em que não há predominância de
peso de equipamentos que permanecem
0,5 0,4 0,3
fixos por longos períodos de tempo, nem de
elevadas concentrações de pessoas b
Cargas acidentais Locais em que há predominância de pesos
de edifícios
de equipamentos que permanecem fixos
0,7 0,6 0,4
por longos períodos de tempo, ou de ele-
vada concentração de pessoas c
Biblioteca, arquivos, oficinas e garagens 0,8 0,7 0,6
Pressão dinâmica do vento nas estruturas
Vento 0,6 0,3 0
em geral
Variações uniformes de temperatura em
Temperatura 0,6 0,5 0,3
relação à média anual local

1.33
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a
Para os valores 1 relativos às pontes e principalmente aos problemas de fadiga,
ver seção 23 da NBR 6118:2014.
b
Edifícios residenciais
c
Edifícios comerciais, de escritórios, estações e edifícios públicos

1.8.5.2 – Coeficientes de ponderação no ELS

Em geral, o coeficiente de ponderação das ações para estados limites de ser-


viço é dado pela expressão:

f = f2 (1.17)

Onde f2 tem valor variável conforme a verificação que se deseja fazer (tab. 1.7)
 f2 = 1 para combinações raras
 f2 = 1 para combinações frequentes
 f2 = 2 para combinações quase permanentes.

Os valores das tabelas 1.6 e 1.7 podem ser modificados em casos especiais aqui
não contemplados, de acordo com a NBR 8681:2003.

1.8.6 – Combinações de ações (NBR 6118:2014)

Um carregamento é definido pela combinação das ações que têm probabili-


dades não desprezíveis de atuarem simultaneamente sobre a estrutura, durante um
período preestabelecido.

1.8.6.1 – Combinações últimas

1. Combinações últimas normais – Em cada combinação devem estar incluídas


as ações permanentes e a ação variável principal, com seus valores característi-
cos e as demais ações variáveis, consideradas secundárias, com seus valores
reduzidos de combinação, conforme NBR-8681:2003.
1.34
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
___________________________________________________________________________

2. Combinações últimas especiais ou de construção – Em cada combinação


devem estar presentes as ações permanentes e a ação variável especial, quando
existir, com seus valores característicos e as demais ações variáveis com proba-
bilidade não desprezível de ocorrência simultânea, com seus valores reduzidos
de combinação, conforme NBR-8681:2003.
3. Combinações últimas excepcionais - Em cada combinação devem estar pre-
sentes as ações permanentes e a ação variável excepcional, quando existir, com
seus valores representativos e as demais ações variáveis com probabilidade não
desprezível de ocorrência simultânea, com seus valores reduzidos de combina-
ção, conforme NBR-8681:2003. Nesse caso se enquadram, entre outras, sismo e
incêndio.
4. Combinações últimas usuais – para facilitar a visualização, essas combinações
estão listadas na tabela 11.3 da NBR-6118:2014, transcrita na tabela 1.8 abaixo.

Tabela 1.8 – Combinações últimas (Tab. 11.3 da NBR 6118:2014)

Combinações
últimas (ELU) Descrição Cálculo das solicitações

Esgotamento da
capacidade resis-
tente para elemen- Fd = g Fgk + εg Fεgk + q (Fq1k + Σ Ψ0j Fqjk) +
tos estruturais de
concreto armadoa εqΨ0εFεqk
Esgotamento da Deve ser considerada, quando necessário, a
capacidade resis- força de protensão como carregamento externo
Normais tente para elemen- com os valores Pkmáx e Pkmin para a força desfa-
tos vorável e favorável, respectivamente, conforme
estruturais de con- definido na seção 9
creto protendido
S (Fsd) ≥ S (Fnd)
Perda do equilíbrio Fsd = gs Gsk + Rd
como corpo rígido Fnd = gn Gnk + q Qnk - qs Qs,min ,
onde: Qnk = Q1k + Σ Ψ0j Qjk
Especiais ou
de constru- Fd = g Fgk + εg Fεgk + q (Fq1k + Σ Ψ0j Fqjk) + εqΨ0εFεqk
çãob

Excepcionaisb Fd = g Fgk + εg Fεgk + Fq1ecx + q Σ Ψ0j Fqjk) + εqΨ0εFεqk

1.35
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Onde:
Fd - é o valor de cálculo das ações para combinação última;
Fgk - representa as ações permanentes diretas;
Fεk - representa as ações indiretas permanentes como a retração Fεgk e va-
riáveis como a temperatura Fεqk;
Fqk - representa as ações variáveis diretas das quais Fq1k é escolhida prin-
cipal;
g, εg, q, εq - ver tabela 1.6;
Ψ0j, Ψε - ver tabela 1.7;
Fsd - representa as ações estabilizantes;
Fnd - representa as ações não estabilizantes;
Gsk - é o valor característico da ação permanente estabilizante;
Rd -é o esforço resistente considerado como estabilizante, quando houver;
Gnk - é o valor característico da ação permanente instabilizante;
m
Qnk  Q1k   Ψ0jQ jk
j2

Qnk - é o valor característico das ações variáveis instabilizantes;


Q1k - é o valor característico da ação variável instabilizante considerada
como principal;
Ψ0j e Qjq - são as demais ações variáveis instabilizantes, consideradas com seu
valor reduzido;
Qs,min - é o valor característico mínimo da ação variável estabilizante que
acompanha obrigatoriamente uma ação variável instabilizante.
a
- No caso geral, devem ser consideradas inclusive combinações onde o
efeito favorável das cargas permanentes seja reduzido pela considera-
ção de g= 1. No caso de estruturas usuais de edifícios essas combina-
ções que consideram g reduzido (1,0) não precisam ser consideradas.
b
- Quando Fq1k ou Fq1exc atuarem em tempo muito pequeno ou tiverem
probabilidade de ocorrência muito baixa Ψ0j, pode ser substituído por
Ψ2j.

1.36
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
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1.8.6.2 – Combinações de serviço

São classificadas de acordo com sua permanência na estrutura como:

1. Quase permanente – podem atuar durante grande parte do período de vida da


estrutura e sua consideração pode ser necessária na verificação do estado limite
de deformações excessivas (ELS-DEF);
2. Frequentes – se repetem muitas vezes durante o período de vida da estrutura e
sua consideração pode ser necessária na verificação dos estados limites de for-
mação de fissuras, de abertura de fissuras e de vibrações excessivas. Po-
dem também ser consideradas para verificações de ELS-DEF decorrentes de
vento ou temperatura que possam comprometer as vedações;
3. Raras – ocorrem algumas vezes durante o período de vida da estrutura e sua
consideração pode ser necessária na verificação do estado limite de formação
de fissuras.
4. Combinações de serviço usuais – para facilitar a visualização, essas combina-
ções estão listadas na tabela 11.4 da NBR 6118:2014, transcrita na tabela 1.9
abaixo:

1.37
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
___________________________________________________________________________

Tabela 1.9 – Combinações de serviço (Tab. 11.4 da NBR 6118:2014)

Combinações
de Descrição Cálculo das solicitações
serviço (ELS)

Combinações Nas combinações quase permanen-


quase perma- tes de serviço, todas as ações variá- Fd, ser = Σ Fgik + Σ Ψ2j Fqjk
nentes de servi- veis são consideradas com seus va-
ço (CQP) lores quase permanentes Ψ2 Fqk
Nas combinações frequentes de ser-
viço, a ação variável principal Fq1 é
Combinações tomada com seu valor frequente Ψ1 Fd,ser = Σ Fgik + ψ1 Fq1k +
freqüentes de Fq1k e todas
serviço (CF) Σ ψ2j Fqjk
as demais ações variáveis são toma-
das com seus valores quase perma-
nentes Ψ2 Fqk
Nas combinações raras de serviço, a
Combinações ação variável principal Fq1 é tomada
Fd,ser = Σ Fgik + Fq1k +
raras de serviço com seu valor característico Fq1k e
Σ ψ2j Fqjk
(CR) todas as demais ações são tomadas
com seus valores frequentes Ψ2 Fqk
Onde:
Fd,ser - é o valor de cálculo das ações para combinações de serviço;
Fq1k - é o valor característico das ações variáveis principais diretas;
ψ1 - é o fator de redução de combinação freqüente para ELS;
ψ2 - é o fator de redução de combinação quase permanente para ELS.

1.9 – Resistências

1.9.1 – Valores característicos

Os valores característicos fk das resistências são os que, num lote de materi-


al, têm uma determinada probabilidade de serem ultrapassados, no sentido desfavo-
rável para a segurança. Pode ser de interesse determinar a resistência característica
inferior fk,inf e a superior fk,sup , que são respectivamente menor e maior que a resis-
tência média fm . Para efeito da NBR-6118:2014, a resistência característica inferior

1.38
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
___________________________________________________________________________

é admitida como sendo o valor que tem apenas 5% de probabilidade de não ser
atingido pelos elementos de um dado lote de material.

1.9.2 – Valores de cálculo

1. Resistência de cálculo - a resistência de cálculo fd é dada pela expressão:

fk
fd  (1.18)
γm

Onde m é o coeficiente de ponderação das resistências.

2. Resistência de cálculo do concreto - a resistência de cálculo do concreto


fcd é obtida em duas situações distintas:
 quando a verificação se faz em data j igual ou superior a 28 dias

fck
f cd  (1.19)
γc

 quando a verificação se faz em data j inferior a 28 dias

f ckj f ck
f cd   β1 (1.20)
γc γc

sendo  1 a relação (fckj / fck ) dada por:

 28 
s 1 
 t 
β1  e (1.21)

Onde: s = 0,38 - para concreto de cimento CPIII e IV;


s = 0,25 - para concreto de cimento CPI e II;

1.39
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
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s = 0,20 - para concreto de cimento CPV-ARI;


t - é a idade efetiva do concreto, em dias.

1.9.3 – Coeficientes de ponderação das resistências

As resistências devem ser minoradas pelo coeficiente:

m = m1 . m2 . m3 (1.22)

Onde:

m1 - é a parte o coeficiente de ponderação das resistência m , que consi-


dera a variabilidade da resistência dos materiais envolvidos.

m2 - é a parte do coeficiente de ponderação das resistência m , que consi-


dera a diferença entre a resistência do material no corpo-de-prova e na
estrutura.

m3 - é a parte co coeficiente de ponderação das resistência m , que con-


sidera os desvios gerados na construção e as aproximações feitas em
projeto do ponto de vista das resistências.

1.9.3.1 - Coeficientes de ponderação das resistências no ELU

Os valores para verificação no estado limite último (ELU) estão indicados na


tabela 1.10.

1.40
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
___________________________________________________________________________

Tabela 1.10 – Valores dos coeficientes c e s


(Tab. 12.1 da NBR 6118:2014)

Concreto Aço
Combinações
c s

Normais 1.4 1.15

Especiais ou de
1.2 1.15
construção
Excepcionais 1.2 1

1.9.3.2 - Coeficientes de ponderação das resistências no ELS

Os limites estabelecidos para os estados limites de serviço (ELS) não neces-


sitam de minoração, portanto m = 1.

1.9.3.3 – Valores finais das resistências de cálculo do concreto e do aço

Para um concreto classe C20, por exemplo, cuja resistência característica fck
= 20 MPa = 200 kgf/cm2= 2 kN/cm2, a resistência de cálculo é fcd = (fck / c) = (2 /
1,4) = 1,429 kN/cm2 (c conforme tabela 1.10). O valor da tensão de pico, quando se
usa o diagrama parábola-retângulo, a ser considerado nos cálculos deve ser afe-
tado pelo coeficiente de Rüsch resultando no valor final de cálculo σc = fc = 0,85fcd =
0,85 x 1,429 = 1,214 kN/cm2, independentemente do tipo de seção e da classe do
concreto.

Por facilidade nos cálculos, normalmente se utiliza o diagrama retangular


simplificado de tensões no concreto, com altura y = λ X e tensão constante e igual a
σc = fc = αc fcd quando a largura da seção transversal não diminui no sentido da li-
nha neutra para a borda mais comprimida. Caso contrário, como por exemplo, seção

1.41
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Materiais
___________________________________________________________________________

circular, a tensão constante deve ser σc = fc = 0,9 αc fcd. Os parâmetros λ e αc, que
serão vistos no capítulo 2 dessa apostila, são dados por:

λ = 0,8 αc = 0,85 fck ≤ 50 MPa

λ = 0,8 – (fck – 50) / 400 αc = 0,85 [1 – (fck – 50) / 200] fck > 50 MPa

O valor σc = fc não aparece na NBR 6118:2014, mas de agora em diante


nessa apostila será adotado o valor fc para representar a resistência final de cálculo
do concreto.

Para um aço CA 50, por exemplo, cuja resistência característica ao escoa-


mento fyk = 50 kN/cm2 = 500 MPa = 5000 kgf/cm2, a resistência de cálculo é fyd =
(fyk / s=1,15) = 4348 kgf/cm2 ≈ 435 MPa = 43,48 kN/cm2 ≈ 43,5 kN/cm2.

Tabela 1.11 – Valores finais de cálculo para os concretos e aços usuais

Valores finais de cálculo para os concretos do grupo I - fc (kN/cm2)


αc = 0,85

C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50

1,214 1,518 1,821 2,125 2,429 2,732 3,036

Valores finais de cálculo para os concretos do grupo II - fc (kN/cm2)


αc = 0,85 [1 – (fck – 50) / 200]

C55 C60 C65 C70 C75 C80 C85 C90

3,256 3,461 3,650 3,825 3,984 4,129 4,258 4,371

Valores de cálculo para os aços - fyd (kN/cm2)

CA 25 CA 50 CA 60

21,74 43,48 52,17

1.42
CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 2

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Julho 2015

FLEXÃO NORMAL SIMPLES


__________________________________________________________________________

2.1 - Introdução

Dentre os esforços solicitantes (entes mecânicos aferidos ao centro geométri-


co da seção transversal, obtidos pela integração conveniente das tensões nessa se-
ção) o momento fletor M, é em condições normais, o esforço preponderante no di-
mensionamento de peças estruturais como lajes e vigas.

Quando o momento fletor atua segundo um plano que contenha um dos ei-
xos principais da seção transversal, a flexão é dita normal. Se esse momento atua
isoladamente tem-se a flexão normal simples. Se simultaneamente atua uma força
normal N a flexão é dita normal composta. Quando atua apenas momento, com
componentes nos dois eixos principais da seção transversal, a flexão é dita oblíqua
simples e se acompanhada de força normal é dita oblíqua composta.

Normalmente o momento fletor atua em conjunto com a força cortante V, po-


dendo, no entanto em situações ideais, ser o único esforço solicitante. Nesse caso
tem-se a flexão pura, situação ilustrada na figura 2.2, no trecho entre as cargas si-
métricas P, quando se despreza o peso próprio da viga.

Segundo o item 16.1 da NBR 6118:2014, o objetivo do dimensionamento, da


verificação e do detalhamento é garantir segurança em relação aos estados limites
último (ELU) e de serviço (ELS) da estrutura como um todo ou de cada uma de suas
partes. Essa segurança exige que sejam respeitadas condições analíticas do tipo:
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___________________________________________________________________________

S d  Rd (MSd  MRd) (2.1)

Onde Sd é a solicitação externa de cálculo e Rd é a resistência interna de cálculo.

Como a solicitação estudada é o momento fletor a equação 2.1 no seu se-


gundo termo (entre parênteses) foi adaptada para o momento externo solicitante de
cálculo (MSd) ser menor ou igual ao momento interno resistente de cálculo (MRd),
mostrados na figura 2.1 .

Figura 2.1 – Esforços solicitantes externos e internos na seção transversal

Na figura 2.1, a seção transversal retangular de uma viga é mostrada a es-


querda e parte da vista lateral é mostrada a direita onde estão concentrados em seu
centro geométrico (CG) os esforços externos solicitantes NSd e MSd. Como é flexão
simples a força normal solicitante é igual à zero. Por equilíbrio as resultantes inter-
nas de compressão no concreto Rcc e de tração no aço Rst são iguais. A resultante
no concreto é obtida pela integração das tensões normais de compressão do con-
creto (σc) na área com hachuras da seção transversal, definida pela profundidade x
da linha neutra (LN). A resultante no aço é obtida pelo produto da área de aço As
(steel) pela tensão de tração no aço σs.

Para garantir a segurança o momento externo solicitante de cálculo MSd tem


de ser menor ou igual ao momento interno resistente de cálculo MRd, que conforme

2.2
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___________________________________________________________________________

a figura 2.1 é dado pelo binário (duas forças iguais, paralelas e de sentidos opostos
separadas por uma distância, o braço de alavanca z) interno resistente MRd:

MSd ≤ MRd = Rcc . z = Rst . z (2.2)

Quanto ao comportamento resistente à flexão pura, sabe-se que sendo o


concreto um material bem menos resistente à tração do que à compressão, tão logo
a barra seja submetida a um momento fletor capaz de produzir tensões de tração
superiores àquelas que o concreto pode suportar, surgem fissuras de flexão, trans-
versais ao eixo da barra, próximas ao centro da viga e fissuras inclinadas próximas
aos apoios, conforme mostrado na figura 2.2. As primeiras são devidas ao momento
fletor, maior no centro, e as últimas devido ao cisalhamento, maior nos apoios.

Figura 2.2 – Fissuras de flexão

Caso não existisse as armaduras de flexão e de cisalhamento essas fissuras


provocariam a ruptura total da viga. Os esforços internos de tração são transmitidos
às armaduras por meio da aderência aço-concreto. É como se as armaduras “cos-

2.3
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___________________________________________________________________________

turassem” as fissuras, conforme esquematicamente mostrado na figura 2.2, o que


impede que as mesmas cresçam indefinidamente. Conforme será visto adiante no
capítulo referente à fissuração, a abertura e o controle dessas fissuras dependerão
substancialmente das características e do detalhamento final da armadura de flexão.

A ruína de uma peça à flexão é um fenômeno de difícil caracterização, devido


basicamente à complexidade envolvida no funcionamento conjunto aço-concreto.
Portanto para que esta tarefa seja possível convenciona-se que a ruína de uma
seção à flexão é alcançada quando, pelo aumento da solicitação, é atingida a ruptu-
ra do concreto à compressão ou da armadura à tração.

2.2 – Solicitações normais

Por solicitação normal entende-se toda solicitação que produza na seção


transversal tensões normais. Nesse grupo estão naturalmente a força normal, o
momento fletor ou ambos atuando simultaneamente.

A ruptura do concreto à compressão é considerada atribuindo-se de forma


convencional encurtamentos últimos para o concreto. Para seções parcialmente
comprimidas admite-se que a mesma ocorra, quando o concreto atinge na sua fibra
mais comprimida o encurtamento limite último cu, ver equações (1.9b) e (1.9c). Para
seções totalmente comprimidas o encurtamento máximo da fibra mais comprimida
varia de c2 a cu (ver hipóteses básicas adiante).

Para o aço admite-se que a ruptura à tração ocorra quando se atinge um


alongamento limite último su = 10 ‰. O alongamento máximo de 10 ‰ deve-se a
uma limitação da fissuração no concreto que envolve a armadura e não ao alonga-
mento real de ruptura do aço, que é bem superior a esse valor.

Atinge-se então, o estado limite último - ELU, correspondente à ruptura do


concreto comprimido ou à deformação plástica excessiva da armadura. O momento

2.4
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___________________________________________________________________________

fletor solicitante de cálculo MSd é o momento de ruptura, enquanto o momento de


serviço será o de ruptura dividido pelo coeficiente de ponderação das ações f, ou
seja:

M Sd
M serv  (2.3)
γf

2.2.1 – Hipóteses básicas e domínios de deformação

Conforme o item 17.2 da NBR 6118:2014, na análise dos esforços resistentes


de uma seção de viga ou pilar, devem ser consideradas as seguintes hipóteses bá-
sicas:

1 As seções transversais se mantêm planas após a deformação, os vários casos


possíveis são ilustrados na figura 2.3 (como consequência a deformação em um
ponto é proporcional à sua distância a linha neutra);
2 a deformação das barras passivas aderentes em tração ou compressão deve ser
a mesma do concreto em seu entorno (perfeita aderência aço-concreto);
3 as tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, devem ser des-
prezadas no ELU (resistência nula do concreto à tração);
4 para o encurtamento de ruptura do concreto nas seções parcialmente compri-
midas considera-se o valor convencional de εcu (domínios 3, 4 e 4a da figura
2.3). Nas seções inteiramente comprimidas (domínio 5) admite-se que o encur-
tamento da borda mais comprimida, na ocasião da ruptura, varie de εcu a εc2,
mantendo-se inalterado e igual a εc2 a deformação a uma distância (εcu - εc2) /
εcu, a partir da borda mais comprimida, a ser discutida adiante (ver figura 2.3);
5 para o alongamento máximo de ruptura do aço considera-se o valor convencional
de 10 ‰ (domínios 1 e 2 da figura 2.3) a fim de prevenir deformação plástica ex-
cessiva;
6 a distribuição das tensões do concreto na seção se faz de acordo com o diagra-
ma parábola-retângulo da figura 2.4c, já definido na figura 1.2, com a tensão de
pico igual a fc=0,85fcd (ver tabela 1.11). Permite-se a substituição desse, por um

2.5
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___________________________________________________________________________

diagrama retangular simplificado de altura y = λx (figura 2.4d), onde o parâmetro


λ pode ser tomado igual a:

λ = 0,8 para fck ≤ 50 MPa


(2.4)
λ = 0,8 - ( fck – 50 ) / 400 para fck > 50 MPa

A tensão constante atuante até a profundidade y pode ser tomada igual a:

αcfcd quando a largura da seção, medida paralelamente à LN,


não diminuir a partir dessa para a borda mais comprimida;
(2.5a)
0,9 αcfcd no caso contrário.

Sendo αc definido como (ver figura 2.5):

αc = 0,85 para fck ≤ 50 MPa


(2.5b)
αc = 0,85 [1,0 – (fck – 50) / 200] para fck > 50 MPa

As diferenças de resultados obtidos com esses dois diagramas são pequenas e


aceitáveis, sem necessidade de coeficiente de correção adicional.

7 A tensão nas armaduras deve ser obtida a partir das suas deformações usando
os diagramas tensão-deformação, com seus valores de cálculo.

Na figura 2.4b mostra-se o diagrama de deformações para um ELU de uma se-


ção parcialmente comprimida. Se a deformação de ruptura do concreto εcu corres-
ponde à profundidade X, para uma deformação igual a εc2, por regra de três simples,
determina-se a distância ac2 = (εc2 / εcu) X (ver figura 2.4c). O diagrama de tensões
(parábola-retângulo) fica dividido em dois trechos com alturas ac2, no trecho parabó-
lico, e ac1 = (X - ac2) = [(εcu - εc2) / εcu] X no trecho com tensões constantes. A resul-

2.6
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___________________________________________________________________________

tante total de compressão no concreto Rcc é a soma das resultantes Rcc1 e Rcc2, dos
trechos com tensões constante e parabólica, respectivamente.

Conforme a hipótese básica 6, para o diagrama parábola-retângulo, a tensão


constante é sempre igual a fc=0,85fcd. Considerando-se concretos do grupo I (até
classe C50) em que εcu = 3,5‰ e εc2 = 2‰ têm-se as distâncias: ac2 = (4 / 7) X e
ac1 = (X – ac2) = (3 / 7) X. Para essa situação as resultantes Rcc1 e Rcc2 ficam:

3 9
R cc1  f c b X f c bX
7 21
17
R cc  f c bX  0,809f c bX
21
2 4 8
R cc2  fcb X  f c bX
3 7 21

Na resultante Rcc2 o valor (2/3) resulta da integração da parábola do segundo


grau (fck ≤ 50 MPa) σc no retângulo de largura b e altura ac2 = (4 / 7) X.

As resultantes totais Rcc = (Rcc1 + Rcc2) e Rcc das figuras 2.4c e 2.4d respectiva-
mente, serão equivalentes se adicionalmente, as distâncias Z até a LN nos dois ca-
sos forem as mesmas. Na figura 2.4c, o equilíbrio exige que:

Rcc1 Z1 + Rcc2 Z2 = Rcc Z

1 4  11 R cc1 Z 1  R cc2 Z 2 139


Z1  X  X  X Z  X  0,584X
2 7  14 R cc 238

5 5 4 5
Z2  a c2  ( X )  X
8 8 7 14

2.7
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___________________________________________________________________________

O valor (5/8) em Z2 resulta do ponto de aplicação da resultante do diagrama


parabólico (segundo grau para fck ≤ 50 MPa) para as tensões no concreto.

Os valores 0,809 e 0,584 são aproximadamente iguais aos valores 0,8 e 0,6, que
representam respectivamente a altura do diagrama retangular e do ponto de aplica-
ção da resultante da figura 2.4d, diagrama retangular simplificado, quando fck ≤ 50
MPa.

Na figura 2.3, dos domínios de deformação da NBR 6119:2014, a armadura


tracionada ou menos comprimida é As e a mais comprimida ou menos tracionada é
A’s. A profundidade da linha neutra X é considerada positiva da borda mais compri-
mida para baixo. A seção transversal mostrada à esquerda é a representada na vista
lateral à direita, onde os alongamentos são marcados do seu lado esquerdo e os
encurtamentos do lado direito.

Figura 2.3 – Domínios de deformação da NBR 6118:2014

2.8
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___________________________________________________________________________

Figura 2.4 – Diagramas tensão-deformação para o concreto

Figura 2.5 – Valores de fc para o diagrama σxε retangular simplificado

Para a construção da figura 2.3 a seção transversal sem deformações, por-


tanto sem solicitação, é inicialmente tracionada pelo seu centro geométrico produ-
zindo tração uniforme. Nessa situação a seção solicitada desloca-se verticalmente
para a esquerda (alongamento) e como o concreto não resiste à tração (hipótese

2.9
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___________________________________________________________________________

básica 3) a única possibilidade de se ter um estado limite último é tracionar igual-


mente as duas armaduras com a deformação última do aço εsu=10‰ (hipótese bási-
ca 5). Com isso a seção transversal é deslocada para a reta “a”, ou reta da tração
centrada, onde devem ser dimensionados os tirantes (peças preponderantemente
solicitadas à tração) sem momentos. Caso as armaduras não sejam simétricas have-
rá momento fletor.

O domínio 1 de deformações começa na reta “a”, quando a seção solicitada


é paralela à seção sem solicitação, com ambas cruzando-se no infinito, onde a pro-
fundidade da linha neutra é X = - ∞ (para cima). Continuando a solicitação da seção
a partir da reta “a”, pode-se dar uma pequena excentricidade da força normal de
tração produzindo uma flexo-tração com alongamento maior na armadura As (mais
tracionada). Para que se tenha um estado limite último o alongamento nessa arma-
dura é εsu=10‰ representado pelo ponto A.

Girando-se em torno desse ponto, o domínio 1 abrange todas as solicitações


desde essa reta, onde X = - ∞, até quando a linha neutra atingir a profundidade nula,
X = 0. Nesse domínio a seção está inteiramente tracionada com solicitações varian-
do desde a tração centrada até flexo-tração (tração não uniforme) sem compres-
são.

O domínio 2 é caracterizado também pelo ELU correspondente à deforma-


ção plástica excessiva do aço (ponto A), agora com a seção transversal parcialmen-
te comprimida, até que simultaneamente seja atendido o ELU para a ruptura do con-
creto à compressão, nesse caso, com εc = εcu. As solicitações possíveis nesse do-
mínio são de flexo-tração com excentricidades maiores que as do domínio 1, flexão
simples pois tem-se simultaneamente resultantes de compressão (concreto) e de
tração (aço), e flexo-compressão com excentricidades pequenas, sem ruptura à
compressão do concreto, ou seja, εc ≤ εcu.

A profundidade da LN varia desde X=0 até a profundidade limite X=X2L que


por semelhança de triângulos na figura 2.6 resulta:

2.10
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___________________________________________________________________________

ε cu ε  10
 cu (2.6)
X 2L d

3,5
X 2L  d  0,259d para concretos de classes até C50 (2.6a)
3,5  10

ε cu
X 2L  d para concretos de classes C55 até C90 (2.6b)
ε cu  10

Onde d é altura útil da seção, distância da borda mais comprimida da seção


até o centro da armadura mais tracionada As e εcu é o encurtamento de ruptura do
concreto, dado nas equações (1.9a) e (1.9b).

Por simplicidade os valores ‰ foram suprimidos das equações (2.6). Nessas


equações tem-se o valor absoluto da profundidade X2L, que não depende do tipo de
aço usado, mas do grupo do concreto. Em muitos casos é conveniente usar o valor
relativo da profundidade limite do domínio 2, um valor adimensional dado por:

Figura 2.6 – Profundidade limite do domínio 2 (X2L)

2.11
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X 2L
ξ 2L   0,259 para concretos de classes até C50 (2.7a)
d
ε cu
ξ 2L  para concretos de classes C55 até C90 (2.7b)
ε cu  10

A partir do X2L não se pode mais girar a seção pelo ponto A, o que produziria
deformações superiores à εcu no concreto. Portanto, a parir desse ponto a seção
deve girar em torno do ponto B, desde a deformação εsu = 10‰ até a deformação
εyd, correspondente à tensão de escoamento de cálculo do aço. Esse domínio parti-
cular de deformação é o domínio 3 da figura 2.3, caracterizado basicamente pela
flexão simples (seções subarmadas) e flexo-compressão com ruptura à compressão
do concreto e com o escoamento da armadura As. A linha neutra varia desde a pro-
fundidade limite do domínio 2 até ao valor limite do domínio 3, X3L (figura 2.7).

Como as deformações do aço nesse domínio estão no intervalo εyd ≤ εs


≤10‰, a tensão na armadura As é constante e igual à fyd (figura 1.5). Na figura 2.7 o
valor X3L também é obtido por semelhança de triângulos resultando:

ε cu 
ε cu  ε yd 
 (2.8)
X 3L d

X 3L 3,5
ξ 3L   para concretos de classes até C50 (2.9a)
d 3,5  ε yd

ε cu
ξ 3L  para concretos de classes C55 até C90 (2.9b)
ε cu  ε yd

Nota-se nas equações 2.8 e 2.9 que as profundidades absoluta e relativa limi-
tes do domínio 3 dependem do tipo de aço usado e do grupo do concreto. Os valo-
res relativos desse domínio estão apresentados na tabela 2.1, juntamente com os do
domínio 2, que só dependem do grupo do concreto.

2.12
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___________________________________________________________________________

Figura 2.7 – Profundidade limite do domínio 3 (X3L)

Tabela 2.1 – Valores limites de ε para o concreto e ξL para os domínios

Deformações limites do concreto e profundidades relativas dos domínios 2 e 3


ξ3L=X3,L/d
εc2 εcu ξ2L=
CLASSE CA 25 CA 50 CA 60
‰ ‰ X2,L/d
εyd=1,035‰ εyd=2,070‰ εyd=2,484‰
Até C50 2,000 3,500 0,259 0,772 0,628 0,585
C55 2,199 3,125 0,238 0,752 0,602 0,557
C60 2,288 2,884 0,224 0,736 0,582 0,537
C65 2,357 2,737 0,215 0,726 0,569 0,524
C70 2,416 2,656 0,210 0,720 0,562 0,517
C75 2,468 2,618 0,207 0,717 0,558 0,513
C80 2,516 2,604 0,207 0,716 0,557 0,512
C85 2,559 2,600 0,206 0,715 0,557 0,511
C90 2,600 2,600 0,206 0,715 0,557 0,511

2.13
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No domínio 4 a seção continua girando em torno do ponto B desde a posição


final do domínio 3 até que a deformação na armadura As seja nula. Embora possível,
nesse domínio o dimensionamento à flexão simples (seções superarmadas) deve
ser evitado por questões econômicas, como será visto mais adiante. A armadura As
trabalha com uma tensão de tração menor ou igual à fyd, não aproveitando de forma
racional o material constituinte mais caro do concreto armado. Portanto a solicitação
preponderante desse domínio é a flexo-compressão.

A profundidade limite desse domínio é X4L=d, ficando a profundidade relativa


ξ 4L = 1.

Ainda pode-se girar em torno do ponto B até que seção tenha deformação
nula na fibra inferior mais tracionada. Isso caracteriza um domínio de deformação
muito pequeno que recebe um nome secundário de domínio 4a, caracterizado pela
flexo-compressão com armaduras comprimidas. A linha neutra varia de d até a altura
total da peça h.

Se continuasse a girar em torno do ponto B a seção transversal estaria intei-


ramente comprimida e nessa situação o encurtamento na fibra a [(εcu – εc2) / εcu] h
da borda mais comprimida seria maior que εc2, o que contraria a hipótese básica 4,
ou seja em peças inteiramente comprimidas o encurtamento da fibra mais comprimi-
da varia de εcu a εc2, desde que a [(εcu – εc2) / εcu] h dessa borda o encurtamento
seja constante e igual a εc2 (figuras 2.3 e 2.8). Isso significa que no domínio 5 a se-
ção gira em torno do ponto C. Esse domínio caracteriza-se por peças submetidas à
flexo-compressão com as armaduras comprimidas, até a compressão centrada, reta
b.

A figura 2.8 representa a situação de deformação correspondente aos limites


entre o final do domínio 4a e o início do domínio 5. Nessa situação onde X = h, a
distância a0-2 é obtida por regra de três simples resultando:

2.14
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ε cu ε
 c2 (2.10a)
h a 0 2

4 3
a 0 2  h  a 2u  h para concretos de classe até C50 (2.10b)
7 7
ε c2
a 0 2  h  a 2u  h  a 02 para concretos de classe C55 até C90 (2.10c)
ε cu

Figura 2.8 – Início do domínio 5 - Localização do ponto C

Naturamente nesse domínio a flexão simples não é possível, sendo o mesmo


caracterizado pela flexo-compressão com excentricidades maiores e capazes de
comprimir inteiramente a seção transversal. Esse domínio vai desde a situação mos-
trada na figura 2.8 até a reta “b”, da compressão centrada, onde a profundidade
limite da LN é X5L = + ∞.

2.15
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

2.3 - Seções subarmada, normalmente armada e superarmada

No caso particular da flexão simples, dos cinco domínios existentes ficam eli-
minados os de número 1 (seção totalmente tracionada), 4a e 5 (seção totalmente
comprimida), restando pois os domínios possíveis 2,3 e 4.

Os domínios 2 e 3 correspondem ao que se denomina seção subarmada on-


de a armadura escoa antes da ruptura do concreto à compressão, sd  yd, com a
armadura tracionada trabalhando com a máxima tensão de cálculo, fyd. O domínio 4
corresponde ao que se denomina seção superarmada, onde o concreto atinge o
encurtamento convencional de ruptura εcu antes da armadura escoar, sd < yd, com
a armadura tracionada trabalhando com tensões inferiores a fyd.

Costuma-se chamar normalmente armada uma seção que funciona no limite


entre as duas situações acima, isto é, na qual, teoricamente, o encurtamento último
convencional do concreto comprimido e a deformação de escoamento do aço ocor-
ram simultaneamente. Na figura 2.3 a situação de peças normalmente armadas
ocorre no limite entre os domínios 3 e 4.

Segundo o professor Tepedino, J. M. (1980) em suas apostilas de notas de


aula, “em princípio, não há inconveniente técnico na superarmação, a não ser, tal-
vez, alguma deformação excessiva por flexão, fato que pode ser prevenido. No en-
tanto, a superarmação é antieconômica, pelo mau aproveitamento da resistência do
aço. Por isto mesmo, sempre que possível, devem-se projetar seções subarmadas
ou normalmente armadas, sendo a mesma desaconselhável pela NBR 6118”.

A NBR 6118:2014 prescreve no item 14.6.4.3 limites para redistribuição de


momentos e condições de dutilidade:

“A capacidade de rotação dos elementos estruturais é função da posição da linha


neutra no ELU. Quanto menor é (x/d), tanto maior será essa capacidade.

2.16
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___________________________________________________________________________

Para proporcionar o adequado comportamento dútil em vigas e lajes, a posição da


linha neutra no ELU deve obedecer aos seguintes limites:

a) (x/d)  0,45 para concretos com fck  50 MPa; ou (2.11a)

b) (x/d)  0,35 para concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa; (2.11b)

Esses limites podem ser alterados se forem utilizados detalhes especiais de armadu-
ras, como, por exemplo, os que produzem confinamento nessas regiões.”

E no item 17.2.3, dutilidade de vigas:

“Nas vigas é necessário garantir boas condições de dutilidade respeitando os limites


de posição da linha neutra (x/d) dados em 14.6.4.3, sendo adotada, se necessário,
armadura de compressão.

A introdução da armadura de compressão para garantir o atendimento de valores


menores da posição da linha neutra x, que estejam nos domínios 2 ou 3, não conduz
a elementos estruturais com ruptura frágil. A ruptura frágil está associada a posições
da linha neutra no domínio 4, com ou sem armadura de compressão.”

Analisando-se a tabela 2.1 construída para concretos de classes C20 até C90
e os valores limites de (x/d) dados acima, para garantir o adequado comportamento
dútil, nota-se que para os três tipos de aços usados essas profundidades relativas
limites são maiores que os valores ξ2L e menores que os valores ξ3L da tabela. De
agora em diante os valores relativos limites serão ξL = (x/d)L = 0,45 para concretos
com fck ≤ 50 MPa e ξL = (x/d)L = 0,35 para concretos com 50 MPa < fck ≤ 90 MPa e
tanto um quanto outro estão localizados no domínio 3.

2.17
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

2.4 - Seção retangular submetida à flexão simples

Segundo Tepedino (1980) “no caso da seção retangular, pode-se, sem erro
considerável e obtendo-se grande simplificação, adotar, para os domínios 2 e 3 (se-
ção subarmada ou normalmente armada), o diagrama retangular para as tensões no
concreto, permitido pela NBR 6118”, representado na figura 2.4d.

Figura 2.9 – Seção retangular submetida à flexão simples

Na figura 2.9 tem-se:


 b – largura da seção retangular (na NBR 6118:2014 é dado por bw)
 h – altura total da seção retangular
 d – altura útil da seção transversal (profundidade da armadura As)
 d’ – profundidade da armadura A’s (borda mais comprimida até o CG de A’s)
 X – profundidade da linha neutra para o diagrama σxε parábola-retângulo
 y – profundidade da linha neutra para o diagrama σxε retangular
 z – braço de alavanca do binário interno resistido pelo concreto (distância en-
tre Rcc e Rst)
 λ – parâmetro de redução da altura do diagrama retangular simplificado, dado
nas equações (2.4)
 αc – parâmetro de redução da resistência do concreto na compressão, dado
nas equações (2.5)
2.18
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___________________________________________________________________________

 Rcc – resultante interna de compressão no concreto


 Rst – resultante interna de tração na armadura As
 R’sd – resultante interna de compressão na armadura A’s
 Md - momento externo solicitante de cálculo (até agora dado por MSd)

A armadura tracionada As é racionalmente dimensionada na flexão simples


quando trabalha com a máxima tensão possível sd = fyd, ou seja, apenas nos domí-
nios 2 e 3, onde a profundidade relativa da linha neutra ( ξ =x/d) é menor ou igual à
profundidade relativa limite do domínio 3 ( ξ 3L). Atendendo essa premissa básica do
dimensionamento à flexão, a resultante de tração Rst deve ser obtida pelo produto
da área As (incógnita) pela tensão σs = fyd, conforme mostrado na figura 2.9.

Conforme a figura 2.9 a tensão do concreto no diagrama retangular deve ser


fc = αc fcd = 0,85 fcd, pois a seção dimensionada é retangular, equações (2.5a) e
(2.5b). Ainda de acordo com essa figura pode-se escrever duas equações de equilí-
brio: o somatório de momentos é nulo em relação ao ponto de aplicação de As
(equação 2.12) e o somatório de forças horizontais é nulo (equação 2.13).

 y

M d  f c by d    A 's σ 'sd d  d '
 2
 (2.12)

N d  0  f c by  A 's σ 's - A s f yd (2.13)

Onde: fcby = Rcc; A’sσ’sd = R’sd; Asfyd = Rst; (d-y/2) = z.

Na equação (2.12) os três termos representam momentos, o primeiro o mo-


mento fletor externo solicitante de cálculo e os dois da direita, momentos fletores
internos resistentes de cálculo devidos à resultante de compressão do concreto e à
resultante de compressão na armadura A’s, respectivamente. Ao dividir os termos
dessa equação de equilíbrio por outro que tem a mesma dimensão de um momento,

2.19
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___________________________________________________________________________

por exemplo, (fc b d2), obtém-se uma nova equação de equilíbrio em termos adimen-
sionais, que depois das simplificações é dada por:

A's σ' sd  d' 


K  K' 1   (2.14)
f c bd  d
Onde:
Md
K (2.15)
f c bd 2
é o parâmetro adimensional que mede a intensidade do momento fletor externo soli-
citante de cálculo;

 y
f c by  d  
 2 y y   α
K'  2
 1    α 1   (2.16)
f c bd d 2d   2

é o parâmetro adimensional que mede a intensidade do momento fletor interno resis-


tente de cálculo, devido ao concreto comprimido.

O terceiro termo de (2.14) é também adimensional e mede a intensidade do


momento fletor interno resistente de cálculo, devido à armadura A’s comprimida.

Na equação (2.16),  é o valor da profundidade relativa da linha neutra refe-


rente ao diagrama retangular simplificado de tensões no concreto, dada por:

y λX
α   λξ (2.17)
d d

A equação (2.16) representa uma equação do segundo grau em , portanto,


conforme (2.17) em função da incógnita X (profundidade da linha neutra), que depois
de resolvida fornece entre as duas raízes do problema, o seguinte valor possível:

α  1  1  2K' (2.18)

2.20
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___________________________________________________________________________

A raiz com o sinal positivo foi descartada uma vez que o seu valor máximo ou
limite, para qualquer classe de concreto, é igual a αmax = λmax (x/d)L,max = λmax ξ L,max
= 0,8 x 0,45 = 0,36 < 1.

Da equação (2.14), multiplicando-se e dividindo-se o último termo simultane-


amente por fyd, obtém-se a expressão para o cálculo da armadura comprimida A’s:

 
 f c bd  K  K' 
A's    φ (2.19)
 f yd  d' 
  1  
 d 

Onde φ representa o nível de tensão na armadura comprimida, que é sempre


menor ou igual a 1, dada por:

σ 'sd
φ 1 (2.20)
f yd

A partir da equação de equilíbrio (2.13) determina-se a armadura de tração As


dada por:

f c by A's σ'sd
As   (2.21)
f yd f yd

Multiplicando-se e dividindo-se simultaneamente o segundo termo de (2.21)


por d e substituindo a relação (’sd / fyd) do terceiro termo pela equação (2.20), ob-
tém-se:

f c bd  y 
As     A's φ (2.22)
f yd  d 

2.21
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___________________________________________________________________________

Substituindo-se as equações (2.17), (2.18) e (2.19) na equação (2.22) obtém-


se:

As = As1 + As2 (2.23)

com

f c bd f bd
A s1 
f yd
α c
f yd

1  1  2K'  (2.24)

 
 f c bd  K  K' 
A s2  A' s φ     (2.25)
 f yd  d' 
  1  
 d 

Normalmente calcula-se primeiramente a armadura As. Caso a parcela As2


seja diferente de zero, calcula-se a armadura comprimida A’s, segundo (2.25), dada
por:

A s2
A's  (2.26)
φ

2.4.1 – Seções com armaduras simples e dupla

A armadura de compressão A’s nem sempre é necessária para equilibrar o


momento externo solicitante Md (representado adimensionalmente por K), que nesse
caso será equilibrado internamente apenas pelo momento devido ao concreto com-
primido (representado adimensionalmente por K’). A única possibilidade matemática
de se ter armadura A’s nula e conseqüentemente também As2, é fazer em (2.19) ou
em (2.25), K’ = K. Essa igualdade tem uma explicação física coerente com a situa-
ção de armadura simples (sem armadura de compressão). Quando o momento ex-
terno Md (K), for equilibrado apenas pelo momento interno devido ao concreto com-

2.22
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___________________________________________________________________________

primido (K’), tem-se fisicamente K = K’, não sendo necessária, portanto, armadura
de compressão A’s.

Conforme visto anteriormente na equação (2.9), a máxima profundidade rela-


tiva da linha neutra para se ter seção subarmada e/ou normalmente armada é a cor-
respondente ao limite do domínio 3. Com essa profundidade limite obtém-se o má-
ximo momento interno resistente devido ao concreto K’L (sem necessidade de A’s),
que deve ser equilibrado pelo momento externo limite KL. Para essa situação limite,
a partir da equação (2.16), obtém-se:

 α 
K L  K 'L  α L  1 - L  (2.27)
 2 
Com
y X
α L     λ    λξ 3L (2.28)
 d L  d L

O valor de αL em (2.28) é função de 3L que depende do tipo de aço empre-


gado. Segundo a NBR 6118:2014, item 14.6.4.3, os valores limites L = 0,45 ou
L=0,35 para proporcionar o adequado comportamento dútil, “podem ser alterados
se forem utilizados detalhes especiais de armaduras, como por exemplo, os que
produzem confinamento nessas regiões”. Esse confinamento da região comprimida
da seção transversal pode ser obtido com os próprios estribos (armadura transversal
de combate ao cisalhamento) ou adicionalmente com estribos menores e menos es-
paçados cofinando apenas a área comprimida da seção transversal, Delalibera
(2002). Os valores alterados de αL e KL, sem o adequado comportamento dútil, para
os três tipos de aços usados estão listados na tabela 2.2.

2.23
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Tabela 2.2 – Valores de KL SEM o adequado comportamento dútil


(X/d)L = (X/d)3L = 3L

KL
CLASSE λ
CA 25 CA 50 CA 60
Até C50 0,8000 0,427 0,376 0,358
C55 0,7875 0,417 0,362 0,342
C60 0,7750 0,408 0,349 0,330
C65 0,7625 0,400 0,340 0,320
C70 0,7500 0,394 0,333 0,313
C75 0,7375 0,389 0,327 0,307
C80 0,7250 0,384 0,322 0,302
C85 0,7125 0,380 0,318 0,298
C90 0,7000 0,375 0,314 0,294

Tabela 2.3 – Valores de KL COM o adequado comportamento dútil

CLASSE λ ξL= (X/d)L αL= λ(X/d)L KL= αL(1- αL/2)

Até C50 0,8000 0,45 0,360 0,295


C55 0,7875 0,35 0,276 0,238
C60 0,7750 0,35 0,271 0,234
C65 0,7625 0,35 0,267 0,231
C70 0,7500 0,35 0,263 0,228
C75 0,7375 0,35 0,258 0,225
C80 0,7250 0,35 0,254 0,222
C85 0,7125 0,35 0,249 0,218
C90 0,7000 0,35 0,245 0,215

2.24
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Na tabela 2.3 estão listados os valores de αL e KL, com o adequado compor-


tamento dútil, que dependem apenas do valor da resistência fck do concreto. Esses
valores serão os considerados nessa apostila.

A seção normalmente armada (X = X3L) descrita no item 2.3, resiste ao máxi-


mo momento aplicado sem a necessidade de armadura de compressão (armadura
simples), quando não se preocupa com o adequado comportamento dútil da viga.
Essa situação correspondente aos valores da tabela 2.2, não é mais possível quan-
do se deseja esse comportamento, onde a necessidade de armadura de compres-
são acontece para momentos aplicados menores, conforme os valores menores de
KL apresentados na tabela 2.3.

A partir da equação (2.15) e considerando-se os valores limites da tabela 2.3,


obtém-se:


M dL  K L f c bd 2  (2.29)

ou
Md
dL  (2.30)
K L f cb

onde:
 MdL é o máximo momento fletor de cálculo resistido com armadura sim-
ples
 dL é a altura útil mínima necessária para resistir ao Md com armadura
simples

Caso o momento de cálculo solicitante seja maior que MdL ou ainda que a al-
tura útil seja menor que dL, o que significa em ambos os casos K > KL, torna-se ne-
cessário adicionalmente para o equilíbrio, a armadura de compressão A’s. Essa situ-
ação, com a utilização simultânea de armaduras As e A’s, caracteriza seções dimen-
sionadas à flexão simples com armadura dupla.

2.25
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___________________________________________________________________________

Conforme já citado a superarmação deve sempre ser evitada, principalmente


por ser antieconômica. Na situação de armadura dupla para os valores da tabela
2.3, caso se pretenda absorver um momento solicitante superior ao MdL apenas com
armadura de tração, isso não significa necessariamente peças superarmadas (do-
mínio 4). Já com os valores da tabela 2.2, caso a mesma situação ocorra e seja
possível o equilíbrio apenas com armadura simples (só As), essa seção será obriga-
toriamente superarmada, uma vez que os limites da tabela 2.2 referem-se ao final do
domínio 3.

Na situação de armadura dupla K > KL (Md > MdL), basta fazer nas equações
de dimensionamento à flexão em seções retangulares (2.19), (2.24) e (2.25), K’ =
KL. Essa igualdade significa fisicamente que o momento interno resistente referente
ao concreto comprimido K’ é igual ao máximo momento fletor externo de cálculo
sem necessidade de armadura de compressão, KL.

Essa parcela [(Md1 = MdL) → KL < Md → K] do momento total será resistida


pelo binário interno formado pelas resultantes do concreto (Rcc,max=fcbyL) (máxima
área comprimida do concreto) e do aço (Rst1=As1fyd). Na expressão de Rcc,max acima
yL=λXL, com λ e XL (0,45d ou 0,35d) dependendo do valor de fck. Com Md1 esgota-se
a capacidade resistente do concreto, a diferença (∆Md = Md – MdL = Md2) → K-KL,
será absorvida pelo binário interno formado pelas resultantes da segunda parcela da
armadura tracionada Rst2 = As2fyd e da armadura comprimida R’sd = A’sσ’sd (ver figu-
ra 2.10).

Figura 2.10 – Seção retangular com armadura dupla

2.26
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___________________________________________________________________________

2.4.2 – Nível de tensão φ na armadura comprimida A’s

No cálculo da armadura comprimida A’s aparece o nível de tensão φ, equa-


ção (2.20), que normalmente vale 1, ou seja ’sd = fyd. A tensão na armadura com-
primida ’sd é função da deformação ’sd, que por sua vez depende da profundidade
relativa da linha neutra  = (x/d). Na situação de armadura dupla (onde A’s  0) essa
profundidade relativa é constante e igual ao valor L = 0,45 ou L = 0,35, dados na
tabela 2.3, que conforme já visto situa-se no domínio 3, onde εc,max = εcu (figura
2.10).

A deformação ’s pode ser calculada a partir da equação (2.32) abaixo, obtida
por semelhança de triângulos na figura 2.10:

ε' s ε
 cu (2.31)
X L  d' X L

X d'
  ( )
X L  d'  d L d
ε's  ε cu  ε cu (2.32)
XL X
 
 d L

Caso ’s seja menor que o valor da deformação de cálculo correspondente ao


escoamento yd, a tensão ’sd é obtida pela aplicação da Lei de Hooke, (’sd =
Es.’s), o que implica em valor de φ menor que 1. Caso contrário ’sd = fyd, o que
implica em φ = 1. Fazendo-se na equação (2.32) ’s  yd obtém-se a equação (2.33)
a seguir, que expressa a relação (d’/d) abaixo da qual se tem φ = 1:

 d'   X   ε yd 
     1   (2.33)
 d   d  lim  ε cu 

O aço CA-25 é pouco usado no Brasil, o CA-60 é normalmente usado para


flexão em lajes, onde não se usa armadura dupla, restando, pois o aço CA-50, que é

2.27
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___________________________________________________________________________

o mais utilizado para flexão em vigas. Os valores das relações (d’/d) e (d/d’) que
atendem à condição φ = 1 estão indicados na tabela 2.4, para os três tipos de aço.

Tabela 2.4 – Valores das relações (d’/d) e (d/d’) para se ter φ = 1

CA 25 CA 50 CA 60
εcu
CLASSE εyd = 1,035 ‰ εyd = 2,070 ‰ εyd = 2,484 ‰

(d’/d)≤ (d/d’)≥ (d’/d)≤ (d/d’)≥ (d’/d)≤ (d/d’)≥
Até C50 3,500 0,317 3,155 0,184 5,439 0,131 7,655
C55 3,125 0,234 4,272 0,118 8,460 0,072 13,929
C60 2,884 0,224 4,456 0,099 10,123 0,049 20,600
C65 2,737 0,218 4,595 0,085 11,724 0,032 30,909
C70 2,656 0,214 4,681 0,077 12,950 0,023 44,120
C75 2,618 0,212 4,725 0,073 13,650 0,018 55,820
C80 2,604 0,211 4,742 0,072 13,933 0,016 62,000
C85 2,600 0,211 4,747 0,071 14,016 0,016 64,039
C90 2,600 0,211 4,747 0,071 14,016 0,016 64,039

Os valores da tabela 2.4 para concretos com fck ≤ 50 MPa são atendidos para
as vigas usuais de concreto armado, ou seja, geralmente o nível de tensão na arma-
dura comprimida é igual a 1. No entanto, à medida que a resistência do concreto
aumenta esses valores (d’/d) diminuem, ou (d/d’) aumentam, para valores não prati-
cados usualmente nas vigas de concreto, o que significa valores de φ = ’sd / fyd <
1. Nesses casos o valor de φ é dado por:

 X   d'  
  d    d   ε E 
  L    cu s 1
φ (2.34a)
 X  f yd 

   
  d L 

2.28
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Particularizando os valores da tabela 2.4 e a equação (2.34a) para concretos


com fck ≤ 50 MPa e aço CA 50, obtém-se:

φ 1 para (d’/d) ≤ 0,184 ou (d/d’) ≥ 5,439, ou (2.34b)

 X  d' 
 d   d 
 L
φ  1,6905   1 no caso contrário. (2.34c)
 X 
 d 
  L 

A tabela 2.5 abaixo foi construída agrupando-se os parâmetros usuais do concreto


para o cálculo à flexão.

Tabela 2.5 – Parâmetros do concreto para cálculo à flexão

Parâmetros usuais do concreto


fck (MPa) (X/d)L εc2 (‰) εcu (‰) λ αc
≤ 50 0,45 2,000 3,500 0,8000 0,85000
55 0,35 2,199 3,125 0,7875 0,82875
60 0,35 2,288 2,884 0,7750 0,80750
65 0,35 2,357 2,737 0,7625 0,78625
70 0,35 2,416 2,656 0,7500 0,76500
75 0,35 2,468 2,618 0,7375 0,74375
80 0,35 2,516 2,604 0,7250 0,72250
85 0,35 2,529 2,600 0,7125 0,70125
90 0,35 2,600 2,600 0,7000 0,68000

Todo o dimensionamento de seções retangulares submetidas à flexão simples


encontra-se de forma resumida na próxima página.

2.29
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___________________________________________________________________________

2.30
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2.5 – Seção T ou L submetidas à flexão simples

As vigas de concreto armado são normalmente construídas solidárias (monoli-


ticidade do concreto armado) com as lajes que nelas apoiam. Ao trabalharem juntas,
as deformações e consequentemente as tensões nos pontos em comum das vigas e
lajes são as mesmas. Se essas tensões são de compressão as lajes colaboram na
resistência interna à compressão aumentando a área comprimida e consequente-
mente o desempenho final da viga. Se a contribuição das lajes ocorre simultanea-
mente nos dois lados da nervura, tem-se uma viga de seção T. Quando essa contri-
buição ocorre apenas em um dos lados, tem-se uma viga de seção L, situações ilus-
tradas na figura 2.11.

As vigas de concreto armado com seção geométrica em T ou L são compos-


tas de uma nervura ou alma (de largura bw) e uma mesa (de largura bf), conforme
ilustrado nas figuras 2.11 e 2.12. As mesmas só podem ser consideradas como tal
se a mesa estiver comprimida, caso contrário, se comportarão como seção retangu-
lar de largura b = bw.

Por outro lado, caso a profundidade da linha neutra, considerando-se o dia-


grama retangular simplificado, seja menor ou igual à altura da mesa (y  hf), a seção
será tratada como retangular, de largura b = bw = bf.

Também no caso da seção em T ou L é válida e vantajosa a substituição do


diagrama parábola-retângulo pelo retangular simplificado. Para seções subarmadas
atendendo aos limites da NBR 6118:2014, (X/d)L = 0,45 ou (X/d)L = 0,35, tem-se (yd
≤ s ≤ 10‰) o que implica em (s = fyd).

Conforme figura 2.12 podem ser montadas as equações de equilíbrio (2.35) e


(2.36) abaixo, referentes respectivamente, ao somatório de momentos em relação
ao ponto de aplicação da armadura As e ao somatório de forças horizontais. Nessa
figura fc bw y = Rcc1 e fc (bf - bw) hf = Rcc2 representam respectivamente as resultan-
tes de compressão do concreto na região da nervura (hachura mais intensa) e nas

2.31
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___________________________________________________________________________

abas da mesa (hachura menos intensa). Os braços de alavanca dessas resultantes


são respectivamente Z1 = d - (y/2) e Z2 = d - (hf/2).

Figura 2.11 – Aspectos geométricos das vigas de seção T ou L

Figura 2.12 – Seção T submetida à flexão simples

2.32
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 y  h 
M d  f c b w y d    f c b f  b w  h f  d  f   A's σ'sd d  d' (2.35)
 2  2 

N d  f c b w y  f c b f  b w  h f  A's σ'sd  A s f yd  0 (2.36)

Dividindo-se todos os termos da equação (2.35), conforme procedimento aná-


logo ao da seção retangular, por um termo com a dimensão de momento (fc bw d2) e
lembrando-se que  = y/d e φ = (’sd/fyd), obtém-se:

Md  α   bf  hf  h f  A' s φf yd  d' 
 α  1      1   1   1   (2.37)
2 2 b d 2d f b d d
fcb w d    w    c w 

Passando-se o terceiro termo para o lado esquerdo ao da igualdade na equa-


ção (2.37) e fazendo-se

Md  bf  hf  h 
K    1  1  f  (2.38)
fcb w d 2  b w  d  2d 

 α
K'  α 1   (2.39)
 2

obtém-se a mesma equação (2.14) deduzida para seção retangular.

O valor de K em (2.38) foi obtido diminuindo-se do momento total solicitante


de cálculo Md o momento interno resistido apenas pelas laterais (abas) da mesa
comprimida, terceira parcela de (2.38), o que transforma o problema da viga T em
uma flexão de seção retangular de largura bw.

Levando-se (2.38) e (2.39) em (2.37) obtém-se:

2.33
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___________________________________________________________________________

 
 f c b w d  K  K' 
A's     φ (2.40)
 f yd  d' 
  1  
 d 

Os critérios para limitação do valor de K são os mesmos da seção retangular,


portanto:

K  KL  K’ = K

K > KL  K’ = KL

Da equação (2.36) obtém-se As, que multiplicada e dividida por d resulta:

fcb w d   bf h 
As  α    1  f   φA' s (2.41)
f yd   bw  d 

O valor de  pode ser obtido de (2.39) resultando como na seção retangular a


equação (2.18), que levada em (2.41) fica:

A s  A s1  A 2 (2.42)

fcb w d   bf h 
A s1  1  1  2K'    1  f  (2.43)
f yd   bw  d 

 
 f c b w d  K  K' 
A s2    (2.44)
 f yd  d' 
  1  
 d 
Da mesma forma que na seção retangular

A's  As2  φ (2.45)

2.34
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___________________________________________________________________________

Fazendo-se bf = bw = b nas equações (2.42) a (2.45) elas se transformam nas


equações (2.23) a (2.26) para a seção retangular, como era de se esperar.

Analisando-se a equação (2.38) nota-se que quando K = 0, o momento exter-


no de cálculo Md é igual ao momento interno resistido apenas pelas abas comprimi-
das da mesa. Como nesse caso o trecho da mesa de largura bw ainda está compri-
mido, a profundidade da linha neutra, para se ter o equilíbrio, será menor que hf. Is-
so significa que mesmo para pequenos valores de K positivos, a linha neutra cortará
a mesa e o dimensionamento se fará como seção retangular de largura bf.

O valor positivo de K abaixo do qual a mesa estará parcialmente comprimida


é encontrado fazendo-se em (2.39) K = K’, uma vez que para pequenos valores de
K a armadura comprimida é igual a zero. Como K’ = (1-/2) e nesse caso y0 = hf,
tem-se:

 α  h  h 
K 0  K'  α 0  1  0   f  1  f  (2.46)
 2  d  2d 

Para valores de K  K0 o dimensionamento deve ser feito como seção retan-


gular bf h. Embora esse seja o procedimento correto, sabe-se que usando-se o limite
K  0 do Prof. Tepedino (1980), a armadura calculada como seção T, com 0  K 
K0, dá praticamente a mesma que como seção retangular bf h, nesse mesmo inter-
valo. A diferença entre essas duas armaduras é normalmente menor que a verifica-
da quando se escolhe o número de bitolas comerciais para atender à armadura efe-
tivamente calculada. Portanto, por simplicidade, para efeito dessa apostila o limite K
 0 será o utilizado para se ter a mesa parcialmente comprimida, ou seja, dimensio-
namento como se fosse uma seção retangular bf h.

Normalmente a largura colaborante da mesa bf (determinada no item seguin-


te) conduz a valores de momentos internos resistentes, que dificilmente precisam de
uma profundidade da linha neutra superior à hf. Nessa situação o melhor seria, de-

2.35
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___________________________________________________________________________

terminar o máximo momento interno de cálculo resistido pela mesa inteiramente


comprimida, denominado momento de referência MdRef, dado por:

 h 
M dRef  f c b f h f  d  f  (2.47)
 2 

Conforme

Md  MdRef  y  hf  seção retangular bf h

Md > MdRef  y > hf  seção T ou L

Na maioria das vezes Md ≤ MdRef o que transforma o dimensionamento da viga


T ou L em uma uma viga de seção retangular bf h. A comparação entre os dois mo-
mentos (Md e MdRef) é o procedimento mais praticado no dimensionamento.

2.5.1 – Determinação da largura colaborante da mesa ( bf )

Quando uma viga submetida à flexão deforma, ela traz consigo a laje que lhe
é solidária, que se estiver comprimida auxiliará na absorção do momento fletor atu-
ante. Adotando-se o diagrama retangular simplificado da NBR-6118:2014, a tensão
na mesa comprimida correspondente ao trecho comum com a nervura (bw), deve ser
igual a fc = αc fcd.

Afastando-se desse trecho nos dois sentidos laterais da mesa, conforme mos-
trado na figura 2.13, a tensão de compressão deve diminuir até zero, para pontos na
laje bem distantes da nervura. Essa distribuição de tensões na mesa pode ser obtida
pela teoria da elasticidade, mas pela NBR-6118:2014 ela é substituída por uma dis-
tribuição uniforme simplificada, com tensão igual a fc, e com uma largura total cola-
borante igual a bf, de tal forma que as resultantes de compressão em ambas as dis-
tribuições sejam estaticamente equivalentes.

2.36
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Figura 2.13 – Distribuição de tensões na mesa da seção T

Segundo a NBR-6118:2014, no item 14.6.2.2, “a largura colaborante bf deve


ser dada pela largura bw acrescida de no máximo 10% da distância (a) entre pontos
de momento fletor nulo, para cada lado da viga em que houver laje colaborante.

A distância a pode ser estimada, em função do comprimento do tramo con-


siderado, como se apresenta a seguir:

 viga simplesmente apoiada a = 1,00 ,


 tramo com momento em uma só extremidade a = 0,75 ;
 tramo com momentos nas duas extremidades a = 0,60 ;
 tramo em balanço a = 2,00 .

Alternativamente, o cômputo da distância a pode ser feito ou verificado mediante


exame dos diagramas de momentos fletores na estrutura”.

2.37
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___________________________________________________________________________

Na figura 2.14 apresenta-se um corte genérico de uma fôrma mostrando as


seções transversais de duas vigas T, a viga 1 com mísulas e a segunda normal. A
largura efetiva da nervura da viga com mísulas, ba, é a soma da largura bw com os
menores catetos dos triângulos formados pelas mesmas (ba = bw + a + c).

Figura 2.14 – Determinação da largura bf em vigas de seção T

Nessa figura, b1 é a parcela da largura colaborante a ser considerada na late-


ral da viga T, do lado em que a laje tem continuidade e b3 é a usada do lado sem
continuidade, ou seja, laje em balanço. O valor limite do b1 é a metade da largura
livre entre as faces das duas vigas, dado por b2, e para b3 esse limite é o valor dis-
ponível b4 da laje em balanço. Naturalmente na viga com seção L os valores b3 = b4
= 0.

b1  0,5 b2 b1  0,1 a
(2.48)
b3  b4 b3  0,1 a

Todo o dimensionamento de vigas com seções T ou L submetidas à flexão


simples encontra-se de forma resumida na próxima página.

2.38
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2.39
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2.6 – Prescrições da NBR 6118:2014 referente às vigas

2.6.1 – Armadura longitudinal mínima de tração

De acordo o item 17.3.5.2 da NBR-6118:2014, a armadura mínima de tração,


em elementos estruturais armados ou protendidos deve ser determinada pelo di-
mensionamento da seção a um momento fletor mínimo dado pela expressão a se-
guir, respeitada a taxa mínima absoluta de 0,15 %.

 bh 2 
Md,min = 0,8 W0 fctk,sup = 0,8fctk,sup   (2.49)
 6 

Onde:
 W0 é o módulo de resistência da seção transversal bruta de concreto,
relativo à fibra mais tracionada;
 fctk,sup é a resistência característica superior do concreto à tração,
equação (1.13b), item 8.2.5 da NBR-6118:2014.

De acordo equações (1.13b) obtém-se:

fctk,sup = 1,3 fct,m = 0,39 (fck)2/3 (MPa) fck ≤ 50 MPa


(2.50)
fctk,sup = 1,3 fct,m = 2,756 ln(1 + 0,11fck) (MPa) fck > 50 MPa

Alternativamente segundo a NBR 6118:2014 a armadura mínima pode ser


considerada atendida se forem respeitadas as taxas mínimas de armadura da tabela
2.6 abaixo. Essa tabela da norma foi construída para uma situação particular, consi-
derando seção retangular, aço CA 50, relação (d/h) = 0,8, γc = 1,4 e γs = 1,15. Para
valores diferentes, as taxas mínimas serão calculadas conforme mostrado abaixo
(ver também cálculo de As,min para seção T, item 2.7.3, exemplo2).

2.40
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Tabela 2.6 – Taxas mínimas de armadura de flexão para vigas


(Tab. 17.3 NBR 6118:2014)

Valores de ρmin a = (As,min/Ac)


fck
20 25 30 35 40 45 50
seção
Retangular 0,150 0,150 0,150 0,164 0,179 0,194 0,208
fck
55 60 65 70 75 80 85 90
seção
Retangular 0,211 0,219 0,226 0,233 0,239 0,245 0,251 0,256
a
Os valores de ρmin estabelecidos nessa tabela pressupõem o uso de
aço CA 50, (d/h) = 0,8, γc = 1,4 e γs = 1,15, seção retangular. Caso es-
ses fatores sejam diferentes, ρmin deve ser recalculado.

O dimensionamento para o momento Md,min dado em (2.49) deve conduzir a


um valor Kmin = (Md,min / fcbd2) < KL, portanto seção com armadura simples que nes-
se caso será: As = As,min. O valor de Kmin para seção retangular conforme tabela 2.6
é dado por:
 bh 2 
0,8fctk,sup  
M d,min  6   0,8γ  f ctk,sup 
K min      c  
2  f  (2.51)
f cbd 2 2 2
α c f cdbd/h h  6α d/h 
 c  ck 

Com os valores de fctk,sup das equações (2.50), γc = 1,4, αc = 0,85 para fck ≤
50 MPa e αc = 0,85[1 – (fck – 50) / 200] para fck > 50 MPa, obtém-se os seguintes
valores de Kmin:
γc
K min  0,052 f ( 1/3)
2 ck
para fck ≤ 50 MPa
α c d/h
(2.52)
γc ln1  0,11fck 
K min  0,367 2
para fck > 50 MPa
α c d/h f ck

2.41
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Conforme equação (2.24) a armadura mínima pode ser dada por:

α c f cd bd/h h A f
A s,min 
f yd
  
1  1  2K min  α c d/h  1  1  2K min c cd
f yd
 (2.53a)

A s,min f yd f yd
ω min 
A c f cd
 ρ min
f cd

 α c d/h 1  1  2K min  (2.53b)

A s,min
ρ min 
Ac

 α c d/h  1  1  2K min  ffcd (2.53c)
yd

Onde ωmin e ρmin são, respectivamente, as taxas mecânica e geométrica de armadu-


ra mínima.

Assim, exemplificando para um concreto fck = 35 MPa, do primeiro grupo da


tabela 2.6, αc = 0,85, γc = 1,4, (d/h) = 0,8, tem-se:

1,4
K min  0,052 2
35 1/3   0,0409
0,850,8


ρmin  0,85x0,8x 1  1  2x0,0409
35/1,4  0,001634 ≈ 0,164%, conforme tabela 2.6.
 500/1,15

Para um concreto do segundo grupo da tabela 2.6, por exemplo, fck = 90 MPa,
tem-se:
 90  50 
α c  0,85 1    0,68
 200 

1,4 ln1  0,11x90


K min  0,367 2
 0,0314
0,680,8 90

2.42
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 90 
 
1,4
ρmin  
 0,680,8 1  1  2x0,0314    0,002564
 500 
≈ 0,256%, conforme tabela 2.6.
 
 1,15 

Caso os parâmetros sejam diferentes dos que originaram a tabela 2.6 (aço
CA 50, d=0,8h, γc=1,4 e γs=1,15) as novas taxas de ρmin deverão ser recalculadas
conforme as equações e os dois exemplos acima, obedecido o limite mínimo de
0,15%. A tabela 2.7 relaciona as taxas de armaduras mínimas para seção retangular
com várias relações (d/h), aço CA 50 e CA 60 (valores da tabela 2.6).

Tabela 2.7 – Taxas de armaduras mínimas para vigas com seção retangular

Valores de ρmin = (As,min/Ac)


Seções retangulares, γc=1,4, γs=1,15
(d/h)=0,70 (d/h)=0,75 (d/h)=0,80 (d/h)=0,85 (d/h)=0,90 (d/h)=0,95
fck
CA 50 CA 60 CA 50 CA 60 CA 50 CA 60 CA 50 CA 60 CA 50 CA 60 CA 50 CA 60

20 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150

25 0,151 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150

30 0,170 0,150 0,158 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150

35 0,188 0,157 0,175 0,150 0,164 0,150 0,153 0,150 0,150 0,150 0,150 0,150

40 0,205 0,171 0,191 0,159 0,179 0,150 0,168 0,150 0,158 0,150 0,150 0,150

45 0,222 0,185 0,206 0,172 0,194 0,161 0,181 0,151 0,171 0,150 0,161 0,150

50 0,238 0,198 0,221 0,184 0,208 0,172 0,194 0,162 0,183 0,153 0,173 0,150

55 0,241 0,201 0,225 0,187 0,211 0,175 0,197 0,164 0,186 0,155 0,176 0,150

60 0,251 0,209 0,233 0,194 0,219 0,182 0,205 0,171 0,193 0,161 0,183 0,152

65 0,259 0,216 0,241 0,201 0,226 0,188 0,212 0,176 0,200 0,166 0,189 0,157

70 0,267 0,222 0,248 0,207 0,233 0,194 0,218 0,182 0,206 0,172 0,195 0,162

75 0,274 0,229 0,255 0,213 0,239 0,199 0,224 0,187 0,212 0,176 0,199 0,166

80 0,282 0,235 0,262 0,218 0,245 0,204 0,230 0,192 0,217 0,181 0,203 0,169

85 0,288 0,240 0,268 0,224 0,251 0,209 0,236 0,196 0,222 0,185 0,210 0,175

90 0,295 0,245 0,274 0,228 0,256 0,214 0,241 0,201 0,227 0,189 0,215 0,179

2.43
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2.6.2 – Armadura de pele

Segundo o item 17.3.5.2.3 da NBR-6118:2014, a armadura mínima lateral, ou


de pele, ou armadura de costela, deve ser 0,10 % Ac,alma em cada face da alma da
viga e composta por barras de aço CA 50 ou CA 60, dispostas longitudinalmente,
com espaçamento não maior que 20 cm ou d/3 (18.3.5), respeitado o disposto em
17.3.3.2 (toda armadura de pele tracionada deve manter um espaçamento menor ou
igual a 15L, da bitola longitudinal).

“Em vigas com altura menor ou igual a 60 cm, pode ser dispensada a utilização de
armadura de pele.
As armaduras principais de tração e de compressão não podem ser computadas no
cálculo da armadura de pele”.

2.6.3 – Armadura total na seção transversal (tração e compressão)

De acordo o item 17.3.5.2.4 da NBR 6118:2014, “A soma das armaduras de


tração e de compressão (As + A’s) deve ser menor que 4%Ac, calculada na região
fora da zona de emendas, devendo ser garantidas as condições de dutilidade reque-
ridas em 14.6.4.3”.

2.6.4 – Distribuição transversal das armaduras longitudinais em vigas

De acordo o item 18.3.2.2 da NBR 6118:2014 “O espaçamento mínimo livre


entre as faces das barras longitudinais, medido no plano da seção transversal, deve
ser igual ou superior ao maior dos seguintes valores:

 na direção horizontal (ah)


- 20 mm;
- diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
- 1,2 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo;

2.44
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 na direção vertical (av)


- 20 mm
- diâmetro da barra, do feixe ou da luva;
- 0,5 vez a dimensão máxima característica do agregado graúdo”.

Esses valores se aplicam também as regiões de emenda por traspasse das


barras.

Na figura 2.15 estão indicados os espaçamentos mínimos na direção horizon-


tal (ah) e vertical (av). Com base nessa figura obtém-se a largura útil (bútil) da viga
dada por:

bútil = bw – 2(c + t) (2.54)


Onde:
 c é o cobrimento nominal da armadura (cobrimento mínimo acrescido da
tolerância de execução)
 t é o diâmetro da armadura transversal (estribo)

O número máximo de barras longitudinais com diâmetro L que cabem em


uma mesma camada, atendendo ao espaçamento horizontal ah especificado acima,
fica:

b útil  a h
nΦ/cam  (2.55)
ah  ΦL

Adota-se como valor final do número de barras por camada, o calculado em


(2.55), arredondado para o número inteiro imediatamente inferior.

2.45
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Figura 2.15 – Distribuição transversal das armaduras longitudinais

2.6.5 – Armaduras de ligação mesa-nervura ou talão-alma

Segundo o item 18.3.7 da NBR-6118:2014, “os planos de ligação entre mesas


e almas ou talões e almas devem ser verificados com relação aos efeitos tangenci-
ais decorrentes das variações de tensões normais ao longo do comprimento da viga,
tanto sob o aspecto de resistência do concreto, quanto das armaduras necessária
para resistir às trações decorrentes desses efeitos.
As armaduras de flexão da laje, existentes no plano de ligação, podem ser conside-
radas como parte da armadura de ligação, complementando-se a diferença entre
ambas, se necessário. A seção transversal mínima dessa armadura, estendendo-se
por toda a largura útil e ancorada na alma, deve ser de 1,5 cm2 por metro”.

2.46
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2.6.6 – Cobrimento mínimo das armaduras

O cobrimento mínimo das armaduras deve ser observado conforme o pres-


crito na NBR 6118:2014, no item 7.4.7.

“7.4.7.1 Para atender aos requisitos estabelecidos nesta Norma, o cobrimento mí-
nimo da armadura é o menor valor que deve ser respeitado ao longo de todo o ele-
mento considerado. Isto constitui um critério de aceitação.
7.4.7.2 Para garantir o cobrimento mínimo (cmin) o projeto e a execução devem con-
siderar o cobrimento nominal (cnom), que é o cobrimento mínimo acrescido da tole-
rância de execução (Δc). Assim, as dimensões das armaduras e os espaçadores
devem respeitar os cobrimentos nominais, estabelecidos na tabela 7.2, para Δc = 10
mm.
7.4.7.3 Nas obras correntes o valor de Δc deve ser maior ou igual a 10 mm.
7.4.7.4 Quando houver um adequado controle de qualidade e rígidos limites de tole-
rância da variabilidade das medidas durante a execução pode ser adotado o valor
Δc = 5 mm, mas a exigência de controle rigoroso deve ser explicitada nos desenhos
de projeto. Permite-se, então, a redução dos cobrimentos nominais prescritos na
tabela 7.2 em 5 mm.
7.4.7.5 Os cobrimentos nominais e mínimos estão sempre referidos à superfície da
armadura externa, em geral à face externa do estribo. O cobrimento nominal de uma
determinada barra deve sempre ser:
a) cnom ≥ Φ barra;
b) cnom ≥ Φ feixe = Φ n = Φ (n)1/2;
c) cnom ≥ 0,5 Φ bainha.

7.4.7.6 A dimensão máxima característica do agregado graúdo utilizado no concreto


não pode superar em 20% a espessura nominal do cobrimento, ou seja:

dmáx ≤ 1,2 cnom

2.47
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Tabela 2.8 - Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobri-


mento nominal para Δc = 10mm (Tabela 7.2 NBR 6118:2014)

Classe de Agressividade Ambiental


Tabela 6.1 NBR 6118:2014
Componente
Tipo de Estrutura ou I II III IVc
Elemento
Cobrimento Nominal - mm

Lajeb 20 25 35 45

Viga/Pilar 25 30 40 50
Concreto Armado
Elementos
estruturais em
30 40 50
contato com o
solod

Laje 25 30 40 50
a
Concreto Protendido
Viga/pilar 30 35 45 55

a - Cobrimento nominal da bainha ou dos fios, cabos e cordoalhas. O cobrimento da armadura passiva
deve respeitar os cobrimentos para o concreto armado.
b - Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com re-
vestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais
como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros tantos, as exigências
desta tabela podem ser substituídas por 7.4.7.5, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15 mm.
c –Nas superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de tratamento de
água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes química e
intensamente agressivos, devem ser atendidos os cobrimentos da classe de agressividade IV.
d – No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a armadura deve ter
cobrimento nominal ≥ 45 mm.

Para concretos de classe de resistência superior ao mínimo exigido, os cobrimentos


definidos na tabela 7.2 podem ser reduzidos em até 5 mm.”

2.6.7 – Dimensões limites para vigas e vigas-parede (item 13.2- NBR 6118:2014)

“A prescrição de valores limites mínimos para as dimensões de elementos estrutu-


rais de concreto tem como objetivo evitar um desempenho inaceitável para os ele-
mentos estruturais e propiciar condições de execução adequadas.

2.48
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A seção transversal das vigas não deve apresentar largura menor que 12 cm e das
vigas-parede, menor que 15 cm. Estes limites podem ser reduzidos, respeitando-se
um mínimo absoluto de 10 cm em casos excepcionais, sendo obrigatoriamente res-
peitadas as seguintes condições:
a) alojamento das armaduras e suas interferências com as armaduras de outros
elementos estruturais, respeitando os espaçamentos e coberturas estabeleci-
dos nesta Norma;
b) lançamento e vibração do concreto de acordo com a NBR 14931.”

2.7 – Exemplos de aplicação

Os exemplos de aplicação adiante apresentados servem para fixar os concei-


tos de solicitações normais e flexão simples em seções retangular e T ou L.

2.7.1 – Exemplos de solicitações normais

Traçar o diagrama de interação NxM que solicita a seção retangular 20x40


cm2 abaixo, com fck=25 MPa, aço CA 50, 6 bitolas longitudinais L =12,5 mm, con-
forme figura 2.16. Como a resistência do concreto desse exemplo é menor que 50
MPa (grupo I) εc2 = 2‰, εcu = 3,5‰, λ = 0,8 e αc = 0,85. Como é aço CA 50 εyd =
(50/1,15) / 21 = 2,07‰.

fc = 0,85x2,5 / 1,4 = 1,518 kN/cm2 (tabela 1.11)


fyd = 50 / 1,15 = 43,48 kN/cm2 (tabela 1.11)
AsΦ=12,5 = πx1,252 / 4 = 1,227 cm2 (tabela 1.4)

Para traçar o diagrama de forma mais simplificada determinam-se os pontos


correspondentes aos pares (N,M) para algumas posições da LN no estado limite úl-
timo ligando-os posteriormente. Os pontos escolhidos são aqueles correspondentes
às posições limites da LN que definem os domínios de deformação.

2.49
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___________________________________________________________________________

1) Profundidade X = - ∞ (início do domínio 1)

Para X = - ∞ a seção deformada no estado limite último (ELU) é a apresenta-


da na figura 2.16. Essa posição é correspondente à reta “a” dos domínios de defor-
mação, figura 2.3, onde todos os pontos da seção transversal têm a mesma defor-
mação εc=εs=10‰. Portanto:

εs1=εs2=εs3 = 10‰,  σs1=σs2=σs3 = fyd=43,48 kN/cm2


As1=As2=As3=2x1,227 = 2,454 cm2  Rs1=Rs2=Rs3=2,454x43,48=106,70 kN

Figura 2.16 – Seção com ELU correspondente a X = - ∞

Os sentidos positivos dos esforços solicitantes Nd e Md são os indicados na fi-


gura 2.16, normal de compressão e momento fletor tracionando os pontos da parte
inferior da seção. Os esforços internos, resultantes Rs1, Rs2, Rs3, conforme indicados
são todos de tração. As equações de equilíbrio ficam:

∑Fh=0  Nd + Rs1 + Rs2 + Rs3 = 0  Nd = - 3x106,70 = - 320,10 kN

∑MCG=0  Md + Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0  Md = 0

2.50
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___________________________________________________________________________

Na segunda equação de equilíbrio d’’=h-d, que nesse caso do exemplo é o


mesmo valor de d’, representa a distância entre a face inferior da seção de concreto
e o centro da armadura As. Os valores das solicitações de serviço N e M para X = -
∞ são obtidos dividindo-se os valores de cálculo Nd e Md pelo coeficiente de majora-
ção das ações f. Assim:

N = Nd / 1,4 = -320,10 / 1,4 ≈ - 229 kN (tração)


M = Md / 1,4 = 0

Os valores de N e M acima são os mesmos desde a posição da LN variando


de X = - ∞ até X = X1 (ver deformações na fig. 2.16), aonde a deformação da arma-
dura As1 chega ao valor εs1 = εyd = 2,07‰ (aço CA 50). Quando X = X1, embora a
seção esteja inclinada, tem-se as mesmas resultantes da figura 2.16 e, portanto o
mesmo par de esforços solicitantes. Nessa figura o valor de X1 é obtido fazendo-se
semelhança de triângulos obtidos com a linha tracejada que passa pelos pontos A e
onde εs1=εyd (suprimiu-se o símbolo ‰ no cálculo de X1).

ε s3  10 ε s1  ε yd 10 d'  ε s1 d
  X1    4,35 cm (acima da seção)
X1  d X1  d' 10  ε s1

Para um valor no intervalo (X1 < X < 0), por exemplo x = - 2 cm, os valores
calculados são:

εs1=1,67‰<εyd εs2 = 5,79‰> εyd Rs1 = 86,06 kN Rs2= Rs3 = 106,7 kN


Nd= - 299,46 kN, N = - 214 kN (tração) Md=330,24 kNcm, M = 236 kNcm

2) Profundidade X = 0 (final domínio 1, início do domínio 2)

Para X = 0, a seção deformada no estado limite último (ELU) é a apresentada


na figura 2.17. Essa posição é correspondente aos limites entre os domínios 1 e 2,
figura 2.3, onde todos os pontos da seção transversal ainda estão tracionados. Nes-
se caso o ELU é definido pelo ponto A, deformação plástica excessiva do aço, fican-

2.51
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___________________________________________________________________________

do a armadura As3 com a deformação εs3 = εsu = 10‰. As deformações εs1 e εs2 são
obtidas por semelhança de triângulos.

ε s3  10 ε ε s2
 s1   εs1=1,11‰<εyd=2,07‰
d  36 d'  4 h/2   d'  20  4  16

 εs2=4,44‰>εyd=2,07‰
σs1=Esεs1=21000x1,11‰=21x1,11 = 23,33 kN/cm2  Rs1=2,454x23,33 = 57,26 kN
σs2=σs3 = fyd=43,48 kN/cm2  Rs2= Rs3=106,70 kN

Escrevendo-se as equações de equilíbrio:


∑Fh=0  Nd + Rs1 + Rs2 + Rs3 = 0
Nd = - 57,26 – 2 x 106,70 = - 270,66 kN

∑MCG=0  Md + Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = - 57,26x(20-4) + 106,70x(20-4) = 791,04 kNcm

Figura 2.17 – Seção com ELU correspondente a X = 0

Dividindo-se os valores de cálculo por f = 1,4 obtém-se os valores das solici-


tações de serviço N e M para X = 0.

N = Nd / 1,4 = -270,66 / 1,4 ≈ - 193 kN (tração)

2.52
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___________________________________________________________________________

M = Md / 1,4 = 1615,52 / 1,4 ≈ 565 kNcm

3) Profundidade X = X2L = 0,259 d = 0,259 x 36 = 9,33 cm (final domínio 2)

A figura 2.18 ilustra essa situação em que se têm comprimidas, a região do


concreto com hachuras e a armadura As1. A seção deformada passa por dois dos
pontos (A e B), que caracterizam o dimensionamento no ELU. Embora existam na
mesma seção transversal alongamentos (região tracionada) e encurtamentos (região
comprimida), os valores das deformações calculadas a seguir, estão desacompa-
nhados de sinais, portanto em valores absolutos. Qualquer dúvida sobre a natureza
das deformações, tensões ou resultantes pode ser tirada na figura 2.18.

Figura 2.18 – Seção com ELU correspondente a X2L = 9,33 cm

y=0,8 X =0,8 x 9,33 = 7,46 cm  Rcc = fcby = 1,518 x 20 x 7,46 = 226,67 kN

ε s3  10 ε s1 ε s2
 
d  X  36  9,33 X  d'  9,33  4 (h/2)  X  20  9,33

Alternativamente nesse caso as deformações podem ser calculadas a partir


de outra deformação prescrita, εc,max=εcu=3,5‰.

2.53
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___________________________________________________________________________

ε cu  3,5 ε s1 ε s2
 
X  9,33 X  d'  9,33  4 (h/2)  X  20  9,33

εs1 = 2‰ < εyd = 2,07‰ σs1=Esεs1=21000x2‰=21x2 = 42 kN/cm2 (compressão)


εs2=4‰>εyd=2,07‰ σs2= σs3 = fyd = 43,48 kN/cm2 (tração)
Rs1=2,454x42 = 103,07 kN (C) Rs2= Rs3=106,70 kN (T)

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 + Rs2 + Rs3 = 0


Nd = 266,67 + 103,07 – 2 x 106,70 = 156,34 kN N ≈ 112 kN (Compressão)

∑MCG=0  Md – Rcc(h/2-y/2) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 266,67(20-7,46/2)+103,07(20-4)+106,70(20-4) = 7695,20 kNcm
M ≈ 5497 kNcm

4) Profundidade X = X3L = 0,628 d = 0,628 x 36 = 22,62 cm (final domínio 3)

Figura 2.19 – Seção com ELU correspondente a X3L = 22,62 cm

A figura 2.19 ilustra essa situação em que se têm além da região comprimida
do concreto (parte com hachuras da seção transversal) as armaduras As1 e As2.

y=0,8 X =0,8x22,62 = 18,10 cm  Rcc=fcby=1,518x20x18,09 = 549,33 kN

2.54
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___________________________________________________________________________

ε cu  3,5 ε s1 ε s2
 
X  22,62 X  d'  22,62  4 X  (h/2)  22,62  20

Alternativamente nessa situação as deformações poderiam ser calculadas a


partir de outra deformação prescrita, εs3 = εyd = 2,07‰.

εs1=0,00288=2,88‰>εyd=2,07‰  σs1= fyd = 43,48 kN/cm2 kN/cm2 (Compressão)


εs2=0,00041=0,41‰<εyd=2,07‰  σs2=21x0,41 = 8,61 kN/cm2 (Compressão)
Rs1 = 106,70 kN (C) Rs2=2x1,227x8,61 = 21,12 kN (C) Rs3 = 106,70 kN (T)

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 - Rs2 + Rs3 = 0


Nd = 549,33 + 106,70 + 21,12 - 106,70 = 570,45 kN N ≈ 407 kN (C)

∑MCG=0  Md - Rcc(h/2-y/2) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 549,33(20-18,10/2)+106,70(20-4)+106,70(20-4) = 9531,75 kNcm
M ≈ 6736 kNcm

5) Profundidade X = X4L = d = 36 cm (final domínio 4)

Figura 2.20 – Seção com ELU correspondente a X4L = 36 cm

2.55
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___________________________________________________________________________

A região comprimida (figura 2.20) abrange quase toda a seção transversal, as


armaduras (As1) e (As2) trabalham comprimidas e (As3) não sofre deformação, isto é
σs3=0.

y=0,8 X =0,8x36 = 28,8 cm  Rcc=fcby=1,518x20x28,8 = 874,29 kN

ε cu  3,5 ε s1 ε s2
 
X  36 x  d'  36  4 X  (h/2)  36  20

εs1 = 3,11‰ > εyd=2,07‰  σs1= fyd = 43,48 kN/cm2 (compressão)


εs2 = 1,56‰ < εyd=2,07‰  σs2=21x1,56 = 32,67 kN/cm2 (compressão)
Rs1 = 106,70 kN (C) Rs2=2x1,227x32,67 = 80,16 kN (C) Rs3 = 0

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 - Rs2 + Rs3 = 0


Nd = 874,29 + 106,70 + 80,16 + 0 = 1061,15 kN N ≈ 758 kN (C)

∑MCG=0  Md – Rcc(h/2-y/2) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) - Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 874,29(20-28,8/2)+106,70(20-4) = 6601,60 kNcm
M ≈ 4715 kNcm

6) Profundidade X = X4aL = h = 40 cm (final domínio 4a)

A seção está inteiramente comprimida, a deformação na fibra inferior é nula e


em um ponto a [(εcu- εc2) / εcu] h = [(3,5-2) / 3,5] h = (3/7) h da borda mais comprimi-
da é igual a εc2 = 2‰, ponto C dos domínios de deformações (figura 2.3). Essa situ-
ação está ilustrada na figura 2.21.

y=0,8 X =0,8x40 = 32 cm  Rcc=fcby=1,518x20x32 = 971,43 kN

ε cu  3,5 ε s1 ε s2 ε s3
  
X  40 X  d'  40  4 X  (h/2)  40  20 X  d  40  36

2.56
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Figura 2.21 – Seção com ELU correspondente a X4aL = 40 cm

εs1 = 3,15‰ > εyd=2,07‰  σs1= fyd = 43,48 kN/cm2 (compressão)


εs2 = 1,56‰ < εyd=2,07‰  σs2=21x1,75 = 36,75 kN/cm2 (compressão)
εs3 = 0,35‰ < εyd=2,07‰  σs3=21x0,35 = 7,35 kN/cm2 (compressão)

Rs1=106,70 kN (C) Rs2=2x1,227x36,75=90,18 kN (C) Rs3=2x1,227x7,35=18,04 kN

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 - Rs2 - Rs3 = 0


Nd = 971,43 + 106,70 + 90,18 + 18,04 = 1186,35 kN N ≈ 847 kN (C)

∑MCG=0  Md – Rcc(h/2-y/2) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) + Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 971,43(20-32/2)+106,70(20-4)–18,04(20-4) = 5881,56 kNcm
M ≈ 4201 kNcm

7) Profundidade X = X5L = ∞ (final domínio 5)

A seção está uniformemente comprimida, com a mesma deformação tanto


para o concreto quanto para o aço, εc = εs = 2 ‰, correspondendo à reta “b” dos do-
mínios de deformações (figura 2.3).

2.57
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y>h  Rcc = fcby = fcAc = 1,518x20x40 = 1214,29 kN

εs1=εs2=εs3 = 2‰ < εyd,  σs1 = σs2 = σs3 = 21x2 = 42 kN/cm2

Rs1 = Rs2 = Rs3 = 2x1,227x42 = 103,07 kN (C)

∑Fh=0  Nd - Rcc - Rs1 - Rs2 - Rs3 = 0


Nd = 1214,29 + 3x103,07 = 1523,49 kN N ≈ 1088 kN (C)

∑MCG=0  Md – Rcc(0) - Rs1(h/2 – d’) + Rs2(0) + Rs3(h/2 – d’’) = 0


Md = 103,07(20-4) – 103,07(20-4) = 0
M=0

Com os pares (N,M) calculados nos itens 1 a 7 traça-se o diagrama de


interação mostrado na figura 2.22 em linha mais grossa. Foram traçados de forma
análoga, com linha fina, os outros diagramas para a mesma seção transversal de
concreto com 6Φ16, 6Φ10 e sem armação (As = 0). Nota-se que os quatros diagra-
mas de interação são semelhantes, sendo que a seção sem armadura não apresen-
ta força normal de tração. Para a seção com 6Φ12.5 os domínios de 1 a 5 foram
marcados nesta figura.

Para um valor de força normal N só existe um único valor correspondente de


momento M que a seção, com geometria específica, suporta no estado limite último.
Já para um mesmo valor de M existem dois valores de N que podem solicitar a se-
ção no ELU. Assim fixando-se N = 750 kN (compressão), existe apenas o valor M ≈
4760 kNcm, obtido na escala, para a seção com 6Φ12.5 mm. Fixando-se para a
mesma seção, M = 4000 kNcm existem dois valores possíveis N ≈19 kN e N ≈ 859
kN, ambos de compressão e obtidos na escala.

2.58
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
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Figura 2.22 – Diagramas de interação

Ainda para uma força normal N = 750 kN (C) os valores de momentos no ELU
para seções sem armadura, com 6Φ10 e com 6Φ16 são respectivamente, M ≈ 1885
kNcm, M ≈ 4000 kNcm e M ≈ 5675 kNcm (valores obtidos na escala).

Na figura 2.22 estão traçados quatro diagramas de interação de forma simpli-


ficada para a mesma seção transversal, um sem armadura e três com seis barras de
bitolas variadas localizadas nas mesmas posições, formando um ábaco. O comum é
que esses ábacos sejam construídos para uma seção retangular (bxh) genérica com
relação (d’/h) prefixada, para um determinado tipo de aço e para uma quantidade e
distribuição das barras preestabelecidas.

No caso desse exemplo essa relação é igual a (d’/h) = (4/40) = 0,10, o aço é
CA 50, e as seis barras dão as seguintes taxas mecânicas de armação, ω = (As fyd /
Ac fcd):

2.59
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___________________________________________________________________________

 ω = 0 para a seção sem armadura;


 ω = [4,71x43,5 / 800x(2,5/1,4)] = 0,143 para 6Φ10mm;
 ω = [7,362x43,5 / 800x(2,5/1,4)] = 0,224 para 6Φ12,5mm;
 ω = [12,066x43,5 / 800x(2,5/1,4)] = 0,367 para 6Φ16mm.

Nos ábacos usualmente publicados a taxa ω varia de zero, com intervalos ∆ω


= 0,10, até a taxa máxima, ρmax = (As/Ac)max = 4%, permitida pela NBR 6118:2014
(item 17.3.5.2.4). Nesses ábacos entra-se com os valores de M e N e encontra-se
um ponto, que por interpolação fornecerá taxa ω. Com essa taxa encontra-se a ar-
madura As = ω (Ac fcd) / fyd que resistirá ao par N,M solicitante. Com o valor de As
adota-se um número de bitolas igual, e com o mesmo detalhamento, da seção
transversal que originou o ábaco.

2.7.2 – Exemplos de flexão normal simples com seção retangular

Calcular as armaduras de flexão para a viga da figura 2.23 abaixo para alguns
valores de momento fletor M.

1) M=2000 kNcm

Md 2000x1,4
K 2
  0,0368  K L  0,295  K’ = K = 0,0368
f c bd 1,214x20x56 2

fcbd 1,214x20x56
A s  A s1 
f yd
 
1  1  2K' 
43,5
 
1  1  2x0,0368  1,17cm2

As2=A’s= 0

A armadura de tração calculada (As,cal) tem de ser maior ou igual a armadura


mínima (As,min) dada na tabela 2.7, para (d/h) = (56/60) = 0,93 ≈ 0,95 e aço CA 50,
ρmin = 0,15%:

2.60
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Figura 2.23 – Seção retangular do exemplo 2.7.2

As,min= ρmin Ac = 0,15% (20x60) = 1,8 cm2 > As,cal=1,17 cm2  As = As,min = 1,80 cm2

Para atender a armadura final pode-se usar uma das duas hipóteses de bito-
las abaixo:
4Φ8 mm  As,e=4x0,503 = 2,01 cm2 > As = 1,80 cm2
3Φ10 mm  As,e=3x0,785 = 2,36 cm2 > As = 1,80 cm2

Onde As,e é a armadura efetivamente colocada ou existente.

Com o valor de K=0,0368 calcula-se o valor de  = (y/d) pela equação (2.17)

   
α  1  1  2K'  1  1  2x0,0368  0,0375  y=λX=d=0,0375x56 = 2,10 cm

2.61
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X=(y/λ)=(y/0,8)=(2,10/0,8) = 2,62 cm (para fck ≤ 50 MPa  λ = 0,8)

ξ = (X/d)=(/0,8)=(2,62/56)=0,0468 < ξ = 0,259


2L

Como X = 2,62 cm < x2L = 0,259x56 = 14,52 cm, a seção trabalha no domínio
2 para o dimensionamento com M = 2000 kNcm.

Apenas para efeito de verificação das fórmulas de dimensionamento para


uma profundidade X = 2,62 cm no ELU, a seção resiste a um momento:

 y  0,8x2,62 
f cby  d   1,214x20x0,8x2,62 56  
M Res,d  2  2   2797  2000kNcm
M Res   
γ f  1,4 1,4 1,4 1,4

2) M=6000 kNcm

K=0,134 < KL = 0,295  K’ = K = 0,134

As = As1 = 4,51 cm2 > As,min = 1,8 cm2

Para atender a armadura final pode-se usar uma das hipóteses de bitolas
abaixo:

6Φ10 mm  As,e=6x0,785 = 4,71 cm2 > As = 4,51 cm2


4Φ12,5 mm  As,e=4x1,227 = 4,98 cm2 > As= 4,51 cm2
3Φ16 mm  As,e=3x2,011 = 6,03 cm2 > As = 4,51 cm2

Considerando-se um cobrimento c = 2,5 cm (tabela 2.8) e estribo com Φt = 5


mm, o número máximo de barras longitudinais de flexão com ΦL = 12,5 mm que a
seção pode ter em uma única camada é dada pela equação (2.55), com bútil dada
por (2.54) e ah = 2 cm:

2.62
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bútil = bw – 2(c + t) = 20 – 2 (2,5 + 0,5) = 14 cm

b útil  a h 14  2
n Φ/cam    4,9  4 barras ΦL = 12,5 mm / camada (OK)
a h  Φ L 2  1,25

 = 0,144  X= (0,144x56)/0,8 = 10,10 cm < X2L = 14,52 cm  domínio 2

3) M=15000 kNcm

K=0,276 < KL = 0,295  K’ = K = 0,276

As = As1 = 10,33 cm2 > As,min = 1,8 cm2

Para atender a armadura final pode-se usar uma das hipóteses de bitolas
abaixo:

9Φ12,5 mm  As,e=9x1,227 = 11,04 cm2 > As = 10,33 cm2


6Φ16 mm  As,e=6x2,011 = 12,07 cm2 > As = 10,33 cm2
4Φ20 mm  As,e=4x3,142 = 12,57 cm2 > As = 10,33 cm2

Considerando-se os mesmos valores calculados no item anterior tem-se (ver


figura 2.24):

nΦ=12,5/cam = 4,9  4Φ12,5 mm (1a e 2a camadas), 1Φ12,5 mm (3a camada)


nΦ=16/cam = 4,4  4Φ16 mm (1a camada), 2Φ16 mm (2a camada)
nΦ=20/cam = 4  4Φ20 mm (só uma camada)

Nota-se pela figura 2.24 que a distância da borda mais tracionada até o centro
da primeira camada para o detalhamento com 9Φ12,5 mm é dado por [(2,5 + 0,5 +
(1,25/2)] = 3,625 cm. Para as outras duas camadas, considerando o espaçamento

2.63
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vertical (ah = 2,0 cm), determinam-se os valores 6,975 cm para a segunda camada e
10,125 para a terceira. O centro geométrico das nove barras distribuídas em três
camadas, d’’ = h –d, é dado por:

4x3,625  4x6,875  1x10,125


d' '   5,8cm
9

Dessa forma a altura útil fica: d = h – d’’ = (60 – 5,8) = 54,2 cm, menor que o
valor adotado d = 56 cm.

Figura 2.24 – Detalhamento da Seção transversal para M = 15000 kNcm

Para os outros detalhamentos, de forma análoga, determinam-se os valores


de d = 55 cm e d = 56 cm, para 6Φ16 mm e 4Φ20 mm, respectivamente. Redimen-
sionado apenas para os dois valores diferentes da altura útil adotada, encontra-se:

Φ12,5 mm dreal = 54,2 cm Kreal = 0,294<KL = 0,295


As,real = 10,86 cm2 < As,e = 11,04 cm2 (OK)

Φ16 mm

2.64
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___________________________________________________________________________

dreal = 55 cm Kreal = 0,286<KL = 0,295


As,real = 10,62 cm2 < As,e = 12,07 cm2 (OK)

Embora diferentes, os novos valores das armaduras calculadas para os valo-


res corrigidos de d atendem aos detalhamentos para a altura útil adotada d = 56 cm.

Φ12,5 mm K = 0,294 α = 0,358 X = (0,358 x 54,2) / 0,8 = 24,3 cm2 < X3L =
0,628 x 54,2 = 34,0 cm ξ = (24,3 / 54,2) = 0,448.

Φ16 mm K = 0,286 α = 0,346 X = (0,346 x 55,0) / 0,8 = 23,8 cm2 < X3L =
0,628 x 55,0 = 34,5 cm ξ = (23,8 / 55,0) = 0,433.

Φ20 mm K = 0,276 α = 0,331 X = (0,331 x 56,0) / 0,8 = 23,1 cm2 < X3L =
0,628 x 56,0 = 35,2 cm ξ = (23,1 / 56,0) = 0,413

Como todos os valores calculados de ξ estão no intervalo, ξ =0,259 ≤ ξ ≤ ξ =


2L 3L

0,628, a seção dimensionada para esse momento, para os detalhamentos da figura


2.24), encontra-se no domínio 3.

4) M=20000 kNcm

K=0,381 > KL = 0,295 dadot = 55 cm  K’ = KL = 0,295

f c bd f bd 1,214x20x55
A s1 
f yd
 
1  1  2K'  c α L 
f yd 43,5
0,8x0,45  0,36  11,05cm2

f c bd K  K' 1,214x20x55 0,381  0,295


A s2    2,85cm 2
f yd d' 43,5 4
1 1
d 55
As = As1 + As2 = 11,05 + 2,85 = 13,90 cm2 > As,min

(d/d’)=(55/4) = 13,75 >5,439, ou (d’/d)=(4/55) = 0,073<0,184  φ = 1 (tabela 2.4)

2.65
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A s2
A's   2,85cm2

Para atender a armadura final de tração As pode-se usar uma das hipóteses
de bitolas abaixo:

7Φ16 mm  As,e=7x2,011 = 14,08 cm2 > As = 13,90 cm2 (3Φ na 2a camada)


5Φ20 mm  As,e=5x3,142 = 15,71 cm2 > As = 13,90 cm2 (2Φ na 2a camada)
3Φ25 mm  As,e=3x4,909 = 14,71 cm2 > As = 13,90 cm2 (só uma camada)

Para atender a armadura de compressão A’s pode-se usar uma das hipóteses
de bitolas abaixo:

4Φ10 mm  A’s,e=4x0,785 = 3,14 cm2 > A’s = 2,85 cm2


3Φ12,5 mm  A’s,e=3x1,227 = 3,68 cm2 > A’s = 2,85 cm2

b útil  a h 14  2
n Φ/cam   4  4 barras Φ = 20 mm / camada
a h  ΦL 22

b útil  a h 14  2,5
n Φ/cam    3,3  3 barras Φ = 25 mm / camada (OK)
a h  ΦL 2,5  2,5

O detalhamento com 5Φ20 mm poderia ter apenas 1Φ20 mm na segunda


camada, mas da forma como foi detalhado na figura 2.25 é mais comum.

2.66
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___________________________________________________________________________

Figura 2.25 – Detalhamento da Seção transversal para M = 20000 kNcm

Os valores de d, d’ e d” para os três detalhamentos estão mostrados na figu-


ra 2.25. Como todos os valores de d são maiores e os de d’ menores que os valores
adotados (d=55 cm e d’ = 4 cm), o cálculo efetuado das armaduras com esses últi-
mos, estão a favor da segurança.

Fazendo-se o dimensionamento considerando-se KL = 0,376, como já discuti-


do anteriormente, obtém-se As = 15,41 cm2 e A’s = 0,17 cm2 dando As,total = 15,41 +
0,17 = 15,58 cm2 < 4% Ac = 48 cm2. Comparando-a com a soma das armaduras ob-
tidas para KL = 0,295, As,total = 13,90 + 2,85 = 16,75 cm2 < 4% Ac = 48 cm2, observa-
se que a diferença entre ambas é menor que 7% e que ambas são menores que a
armadura total existente em qualquer um dos detalhamentos da figura 2.25. Portanto
do ponto de vista do consumo de aço os dois dimensionamentos são equivalentes
sendo que no dimensionamento com KL = 0,295 chega-se à armadura dupla para
momentos menores, melhorando assim a dutilidade da seção.

KL = 0,295  L = 0,8 (X/d)L= 0,8x0,45 = 0,36  XL = 0,45x55 = 24,75 cm

2.67
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___________________________________________________________________________

O valor da profundidade relativa da LN ξ = ξ = 0,45 está no intervalo ξ =


L 2L

0,259 ≤ ξ ≤ ξ = 0,628, portanto no domínio 3.


3L

5) Determinar o valor do momento interno resistente para a seção detalha-


da do exemplo anterior com 3Φ25 mm (As) e 3Φ12,5 mm (A’s).

Dados: As = 14,71 cm2, A’s = 3,68 cm2, d = 55,75 cm, d’ = 3,625 cm.

Como as armaduras existentes, ou efetivamente colocadas, são maiores ou


iguais às armaduras calculadas, o momento interno resistente será sempre maior ou
igual ao momento externo solicitante. Supondo que as armaduras As e A’s trabalhem
com tensões σs = σ’s = fyd = 43,5 kN/cm2, a equação de equilíbrio de forças horizon-
tais fornece, para Nd = 0:

Rcc + A’s σ’s = As σs, fc b y = (As - A’s) fyd

y = [(14,71-3,68) x 43,5] / (1,214 x 20) = 19,8 cm X = y / 0,8 = 24,7 cm

ξ2L = 0,259 < ξ = X / d = 24,7 / 55,75 = 0,443 < ξ3L = 0,628 domínio 3.

Nesse domínio a tensão na armadura As é igual a fyd e a deformação máxima


do concreto é igual a εcu = 3,5 ‰ (ponto B do dos domínios de deformação, figura
2.3). A deformação ε’s é obtida por semelhança de triângulos no diagrama de defor-
mações da seção no ELU:

(ε cu  3,5) ε' s
  ε's  2,99‰  ε yd  2,07‰ , portanto σ’s = fyd
(X  24,7) (X  d'  24,7  3,625)

Como os valores previamente supostos das tensões nas armaduras se con-


firmaram, o valor de X é o correto para o equilíbrio. O valor do momento interno re-
sistente será dado por:

2.68
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Md,Resist=Rcc(d–y/2)+A’sfyd(d-d’)=1,214x20x19,8(55,75–19,8/2)+3,68x43,5(55,75-3,625)

Md,Resist = 30386 kNcm MResist =(Md,Resist /1,4)=21704 kNcm > Msolic = 20000 kNcm

2.7.3 – Exemplos de flexão normal simples com seção T ou L

EXEMPLO 1
Calcular os valores da mesa colaborante bf para as vigas da forma apresen-
tada na figura 2.26.

Nessa forma as vigas V1, V2 e V3 têm dois tramos ou vãos, o primeiro com
comprimento (295+20/2+20/2) = 315 cm e o segundo com (365+20/2+20/2) = 385
cm. As vigas V3, V4 e V5 têm também dois vãos com comprimentos 315 cm e 400
cm. O diagrama genérico de momentos fletores para todas as vigas está apresenta-
do na figura 2.27.

Nessa figura M1 e M2 são os momentos positivos (tracionam a parte inferior


da viga) e X é o momento negativo (traciona a parte superior da viga). Os pontos de
momentos nulos do diagrama estão indicados na figura com as distâncias x1 e x2,
referenciadas ao apoio central.

Viga V1 – A mesa está comprimida para os momentos M1 e M2 e tracionada para o


momento negativo X. Essa viga só pode funcionar como T, ou no caso L, apenas
nos trechos positivos do diagrama de momentos. Os valores de a1 e a2 não estão
disponíveis no diagrama de momentos, portanto serão obtidos pela recomendação
da NBR 6118:2014.

Para M1 a parcela da largura colaborante do lado da nervura em que a laje


tem continuidade, b1, é dada por:

2.69
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Figura 2.26 – Forma para o exemplo 2.4.7.3

1 = 315 cm 2 = 385 cm
a1 = 0,75 1 = 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2= 0,75x385 = 288,75 cm

b1 ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm
b1 = 24 cm
b1 ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

2.70
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Figura 2.27 – Diagrama genérico de momentos fletores

O lado oposto a b1 não tem laje, portanto:

b3 = b4 = 0  b3 = 0

bf = bw + b1 + b3 = 20 + 24 + 0 = 44 cm (nesse caso a viga tem seção L)

Para M2 a parcela da largura colaborante do lado da nervura em que a laje


tem continuidade, b1, é dada por:

b1 ≤ 0,10 a2 = 0,10x289 ≈ 29 cm
b1 = 29 cm
b1 ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

b3 = b4 = 0  (não tem laje do lado oposto à b1)  b3 = 0

bf = bw + b1 + b3 = 20 + 29 + 0 = 49 cm (nesse caso a viga tem seção L)

2.71
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 20/40.

Viga V2 – De forma análoga ao calculado para V1, obtém-se:

1 = 315 cm 2 = 385 cm
a1 = 0,75 1= 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2 = 0,75x385 = 288,75 cm

Para M1 as parcelas da largura colaborante dos lados Esquerdo e Direito da


nervura, são dadas por:

b1,E ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm


b1,E = 24 cm
b1,E ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b1,D ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm


b1,D = 24 cm
b1,D ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

bf = bw + b1,E + b1,D = 20 + 24 + 24 = 68 cm

Para M2 tem-se:

b1,E ≤ 0,10 a2 = 0,10x289 ≈ 29 cm


b1,E = 29 cm
b1,E ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b1,D ≤ 0,10 a2 = 0,10x289 ≈ 29 cm


b1,D = 29 cm
b1,D ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

bf = bw + b1,E + b1,D = 20 + 29 + 29 = 78 cm

2.72
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___________________________________________________________________________

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 20/40.

Viga V3 – Os valores de b1 e b3 são os mesmos já calculados para a viga V1. A dife-


rença deve-se ao novo valor de b2 = 295 cm, que não interfere nos resultados finais
de b1.

Para M1 tem-se:

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 24 + 0 = 39 cm

Para M2 tem-se:

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 29 + 0 = 44 cm

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 15/40.

Viga V4 – Essa viga tem um balanço do lado esquerdo da nervura que está 30 cm
abaixo do nível das demais lajes. Assim, têm-se mesas comprimidas tanto do lado
superior direito, quanto do inferior esquerdo da nervura, fazendo a viga funcionar
como seção L, para momentos positivos e negativo.

1 = 315 cm 2 = 400 cm
a1 = 0,75 1 = 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2 = 0,75x400 = 300 cm
x1 = 0,25 1= 0,25x315 = 78,75 cm x2 = 0,25 2 = 0,25x400 = 100 cm

Para M1 tem-se:

b1 ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm
b1 = 24 cm
b1 ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

2.73
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

b3 = b4 = 0 (a laje L1 está invertida, portanto tracionada)  b3 = 0

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 24 + 0 = 39 cm

Para M2 tem-se:

b1 ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 ≈ 30 cm
b1 = 30 cm
b1 ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b3 = b4 = 0 (a laje L1 está invertida, portanto tracionada)  b3 = 0

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 30 + 0 = 45 cm

Para o momento negativo X, como a única laje comprimida (L1) está do lado
do balanço, sem continuidade, tem-se:

b3 ≤ 0,10 (x1 + x2) = 0,10x(78,75 + 100) ≈ 18 cm


b3 = 18 cm
b3 ≤ b4 = 30 cm

b1 = 0 (a laje L2 está tracionada)

bf = bw + b1 + b3 = 15 + 0 + 18 = 33 cm

Viga V5 – De forma análoga ao calculado para V2, obtém-se:

1 = 315 cm 2 = 400 cm
a1 = 0,75 1 = 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2 = 0,75x400 = 300 cm

Para M1 as parcelas da largura colaborante dos lados Esquerdo e Direito da


nervura, são dadas por:

2.74
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

b1,E ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm


b1,E = 24 cm
b1,E ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b1,D ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm


b1,D = 24 cm
b1,D ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

bf = bw + b1,E + b1,D = 20 + 24 + 24 = 68 cm

Para M2 tem-se:

b1,E ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 = 30 cm


b1,E = 30 cm
b1,E ≤ (b2/2) = (295/2) = 147,5 cm

b1,D ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 = 30 cm


b1,D = 30 cm
b1,D ≤ (b2/2) = (380/2) = 190 cm

bf = bw + b1,E + b1,D = 20 + 30 + 30 = 80 cm

Para o momento negativo X a seção funciona como retangular 20/40.

Viga V6
1 = 315 cm 2 = 400 cm
a1 = 0,75 1 = 0,75x315 = 236,25 cm a2 = 0,75 2 = 0,75x400 = 300 cm

Para M1
b1 ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm
b1 = 24 cm
b1 ≤ (b2/2) = (365/2) = 182,5 cm

2.75
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___________________________________________________________________________

b3 ≤ 0,10 a1 = 0,10x236 ≈ 24 cm
b3 = 24 cm
b3 ≤ b4 = 50 cm

bf = bw + b1 + b3 = 20 + 24 + 24 = 68 cm

Para M2

b1 ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 = 30 cm
b1 = 30 cm
b1 ≤ (b2/2) = (365/2) = 182,5 cm

b3 ≤ 0,10 a2 = 0,10x300 = 30 cm
b3 = 30 cm
b3 ≤ b4 = 50 cm
bf = bw + b1 + b3 = 20 + 30 + 30 = 80 cm

Para o momento negativo X a seção só pode funcionar como seção retangu-


lar 20/40.

EXEMPLO 2
Calcular as armaduras para uma viga T, com bf = 90 cm, bw = 20 cm, h = 50 cm,
d = 45 cm, hf = 10 cm. Concreto fck = 30 MPa, aço CA 50.

fc=0,85x3/1,4 = 1,821 kN/cm2 (tabela 1.11)


fyd=50/1,15 = 43,48 kN/cm2 (tabela 1.11)

 M = 15000 kNcm
Md b h  h  15000x1,4  90  10  10 
K 2
  f  1  f  1  f   2
   1 1    0,285  0,691
fcb w d  bw  d  2d  1,821x20x45  20  45  2x45 

2.76
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K<0  seção retangular bfh = 90/50


Md 15000x1,4
K 90x50  2
  0,0632  K < KL = 0,295  K’ = K = 0,0632
fcbf d 1,821x90x45 2

fcbf d 1,821x90x45
A s  A s1 
f yd
 
1  1  2K' 
43,5
 
1  1  2x0,0632  11,09cm 2

A armadura As tem que ser maior ou igual a armadura mínima As,min. Como os
valores das tabelas 2.6 e 2.7 só valem para seções retangulares, o valor mínimo da
armação em viga de seção T, deve ser calculado como aquela necessária para
combater o momento mínimo dado na equação (2.49). O valor de fctk,sup é dado na
equação (2.50).

Md,min = 0,8 W0 fctk,sup, W0 = (Ix,cg / ymax,trac), fctk,sup = 0,39 (fck)2/3 (fck < 50 MPa)

O centro geométrico para a seção T de concreto em relação ao limite inferior


da nervura bw (largura paralela ao eixo x da seção transversal) vale:

ycg = (90x 0x 45 + 20x40x 20) / (90x10 + 20x40) = 33,24 cm

Ix,cg = [(90x503)/12+90x50x(33,24-25)2]–[(70x403)/12+70x40x(33,24-20)2]=378873 cm4

fctk,sup = 0,39 x 302/3 = 3,77 MPa ≈ 0,38 kN/cm2

Md,min = 0,8 x [(378873) / 33,24] x 0,38 = 3443 kNcm Mmin = 2452 kNcm

KT < 0, K90/50 = 0,0104 < KL = 0,295, As,min = 1,77 cm2 < As,cal = 11,09 cm2.

Com K90x50 = 0,0632 , para M = 15000 kNcm, α=0,0654, X = 0,0654x45/0,8


= 3,68 cm < hf = 10 cm.

2.77
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Outra forma seria determinar o momento de referência, equação 2.47, e com-


pará-lo com o valor de Md.

 h   10 
M dRef  f c b f h f  d  f   1,821x90x1 0x  45    65556kNcm
 2   2

MdRef > Md = 15000x1,4 = 21000 kNcm  seção retangular bfh = 90/50

Se optasse por calcular a viga com seção retangular 20/50, desprezando-se a


contribuição da mesa, a armadura seria As,Ret = 12,96 cm2 > As,T = 11,09 cm2 mos-
trando que quando possível, o cálculo como seção T é sempre mais econômico.

 M = 40000 kNcm

Md = 56000 kNcm < Md,Ref = 65556 kNcm  seção retangular bfh = 90/50

K90/50 = 0,169 < KL = 0,295  K’ = K = 0,169  As,90/50 = As1 = 31,54 cm2

Calculando-se com as fórmulas da seção T obtém-se:

K0 = (hf/d) (1-hf/2d) = (10/45) [1-(10/2x45)] = 0,198


K = 0,759 – 0,691 = 0,0683 <
KL = 0,295  K’ = K = 0,0693

Como K < K0 a seção deve ser calculada como seção retangular 90/50, já cal-
culada acima, com As,90/50 = 31,54 cm2. Com o valor de K > 0, a armadura calculada
como seção T, será:

1,821x20x4 5   90  10 
A s,T  A s1  1  1  2x0,0683    1   31,97cm 2
43,5   20  45 

2.78
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A armadura calculada com as fórmulas da seção T (As,T = 31,97), embora er-


rada nesse caso, dá praticamente o mesmo valor que a calculada como seção re-
tangular 90/50 (As,90/50 = 31,54), daí a generalização usada por Tepedino (1980) de
se usar a seção retangular (bf h) só quando K < 0.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE

O cálculo como seção T consegue combater grandes momentos fletores ape-


nas com armadura simples (sem armadura de compressão). Isso pode levar a falsa
ideia que o simples atendimento ao ELU (dimensionamento) garanta também o es-
tado limite de deformação excessiva (ELS-DEF) do elemento estrutural em análise.
Nesse exemplo usando-se a equação (2.38) para K = KL = 0,295 (valor de K a partir
do qual se tem armadura dupla) obtém-se o momento limite para seção T:

 b h  h 
M dL  f c b w d 2 K L   f  1  f  1  f   73751x 0,295  0,691   72744 kNcm
  bw  d  2d 

ML = 51960 kNcm

Supondo uma viga biapoiada com carga uniformemente distribuída de vão =
5m (h/= 10%) submetida ao momento acima, a carga seria p = 8 x 519,60 / 52 =
166,3 kN/m. Considerando a rigidez à flexão da seção retangular geométrica (bruta)
de concreto EI, com I = (bh3/12) = (20x503/12) = 208333 cm4 e E = Ecs dado pela
equação (1.6a), onde Eci é obtido pela equação (1.5a) para αe = 1,0 (brita de granito
ou gnaisse).

E ci  α E 5600 f ck  1,0x5600 30  30672MPa  3067kN/cm2

f ck 30
α i  0,8  0,2  0,8  0,2  0,875  1,0 equação (1.6b)
80 80

2.79
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Flexão Normal Simples
___________________________________________________________________________

E cs  α i E ci  0,875x3067  2684kN/cm2

EI = 2684 x 208333 = 5,59 x 108 kNcm2

O cálculo da flecha deve ser feito com a rigidez da seção fissurada (estádio
II), que no caso é uma seção T, levando-se em conta a flecha diferida no tempo (flu-
ência). Nesse exemplo apenas para se ter uma noção da flecha máxima, será calcu-
lado como seção retangular 20x50 (inércia menor que a da seção T) com a seção
bruta (geométrica) de concreto (inércia maior que a da seção retangular fissurada).
A flecha máxima em uma viga biapoiada com carga uniformemente distribuída p =
166,3 kN/m = 1,66 kN/cm é dada por:

fmax = 5pl4 / 384EI = 5 x 1,66 x 5004 / 384 x 5,59 x 108 = 2,42 cm > 500 / 250 = 2 cm

Como a flecha máxima superou a flecha admissível fadm= (l/250) = 2 cm a vi-


ga não atenderia ao estado limite de serviço devido à deformação excessiva ELS-
DEF.

Considerando o cálculo da flecha como seção T (bf = 90 cm, bw = 20 cm, hf =


10 cm, As,cal = 31,97 cm2, n = Es / Ecs = 7,82) , no estádio II (xII = 13,58 cm, III =
321001 cm4), levando-se em conta a deformação lenta para carga permanente g =
0,7p = 0,7 x 1,66 = 1,16 kN/cm e carga acidental q = 0,3p = 0,50 kN/cm, com p∞ =
2,46g + 0,738q = 3,22 kN/cm (edifício residencial), obtém-se a flecha máxima:

f∞ = 5 x 3,22 x 5004 / 384 x 2684 x 321001 = 3,04 cm > fadm = 2 cm

confirmando, como esperado, o resultado anterior calculado com a seção retangular


geométrica (para o cálculo dos valores acima, ver o capítulo 9, deformações).

Do exposto, justifica-se a preocupação que se deve ter no cálculo de seção T


com a verificação do ELS-DEF, preocupação redobrada no caso de se ter seção T
com armadura dupla, ou seja, K > KL = 0,295.

2.80
CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 3

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Julho 2015

LAJES
__________________________________________________________________________

3.1 – Definição

Placa é um elemento estrutural laminar, uma dimensão (espessura) bem me-


nor que as outras duas em planta, solicitada predominantemente por cargas normais
ao seu plano. Quando a placa é de concreto armado ela normalmente recebe o no-
me de laje. Como exemplo pode-se citar lajes de piso e forro dos edifícios, lajes de
reservatórios, muros de contenção.

3.2 – Histórico

As placas devido a sua importância como elemento de piso, vedação e de


transferência de cargas para a estrutura, tem merecido ao longo dos tempos grande
destaque dos pesquisadores e constitui ainda hoje um tema inesgotável de pesqui-
sas.

As placas podem ser classificadas segundo a relação entre sua espessura h


e sua menor dimensão em planta a, como:

 Placas muito esbeltas, quando (h/a)  (1/100)


 Placas esbeltas, quando (1/100) < (h/a)  (1/5)
 Placas espessas, quando (h/a) > (1/5)
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

As placas de concreto, chamadas de lajes, se situam normalmente na faixa


de variação das placas esbeltas, cujo teoria clássica ou de Kirchhoff, interpreta ra-
zoavelmente os seus resultados, que são baseados na solução da equação diferen-
cial de quarta ordem (3.1). Uma apresentação detalhada da teoria de placas pode
ser encontrada em TIMOSHENKO (1940).
:

4w 4w  4w p
4
2 2 2
 4
 (3.1)
x x y  y D

Onde:
 w é o deslocamento transversal (vertical) da placa;
 p é a carga distribuída aplicada normalmente ao plano da placa;
 D é a rigidez da placa à flexão, dada por:

E cs h 3
D (3.2)

12 1 - ν 2 
Onde Ecs e  são respectivamente, o módulo de elasticidade e o coeficiente de Pois-
son do concreto, equações (1.6) e (1.7) respectivamente.

A solução analítica da equação (3.1) só é possível para situações particulares


de carregamento e de condições de contorno. Para a maioria dos casos recorre-se
aos métodos numéricos para a solução da placa baseada nos Método das Diferen-
ças Finitas (MDF), Método dos Elementos Finitos (MEF) e Método dos Elementos de
Contorno (MEC).

Normalmente as lajes dos edifícios residenciais são retangulares e para essas


foram produzidas, desde o início, tabelas para cálculo de reações de apoio e de
momentos fletores. Essas tabelas foram elaboradas baseadas na teoria da elastici-
dade usando-se integração numérica ou séries duplas de Fourier para a solução da
equação (3.1).

3.2
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

As primeiras tabelas utilizadas foram produzidas por Marcus, que resolveu o


problema, substituindo a placa por uma grelha, com vigas ou faixas unitárias per-
pendiculares e independentes entre si, introduzindo coeficientes semi-empíricos pa-
ra levar em conta a torção entre as mesmas, contemplada na equação (3.1) pela
derivada cruzada, ou seja, em x e y. O processo de cálculo para lajes retangulares
desprezando-se a torção entre as faixas perpendiculares é normalmente conhecido
como teoria da grelha ou dos quinhões de carga.

Para o entendimento desse processo simples e normalmente utilizado para a


solução de lajes nervuradas, seja a figura 3.1 onde tem-se uma laje retangular axb,
simplesmente apoiada em todos os quatro lados e submetida a uma carga total p,
distribuída uniformemente em toda a sua superfície. Essa carga será dividida em
duas parcelas ou quinhões, pa e pb, que atuarão nas direções a e b respectivamen-
te. Trata-se de um problema estaticamente indeterminado cuja única equação de
equilíbrio é dada por:

p = pa + pb (3.3)

Para a solução desse problema cujas incógnitas são as parcelas ou quinhões


de carga pa e pb, deve-se lançar mão de uma equação de compatibilidade geométri-
ca, que nesse caso consiste em igualar as flechas a e b no cruzamento das faixas
nas direções a e b, respectivamente ( ver figura 3.1).

5p a a 4 5p b 4
δa   δb  b (3.4)
384EI 384EI

A expressão genérica para a flecha máxima em uma viga biapoiada submeti-


da a uma carga vertical uniformemente distribuída é obtida da equação da linha
elástica em vigas, dada por δ = k(pl4) / (384EI), onde k depende dos tipos de apoios
da viga. Para dois apoios simples k = 5, para um apoio simples e o outro engastado
k = 2 (valor aproximado) e finalmente para dois engastes k = 1.

3.3
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Figura 3.1 – Quinhões de carga para lajes

De (3.4) obtém-se:
4
b
pa  pb   (3.5)
a

Levando-se (3.5) em (3.3) obtém-se a expressão da parcela de carga na dire-


ção b:

p
pb   k bp (3.6)
4
b
1 
a

3.4
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

1
kb  4
ka  1  kb (3.7)
b
1 
a

Onde ka e kb são os coeficientes que determinam os quinhões de cargas, pa e


pb, nas direções a e b respectivamente.

Para a determinação das reações e momentos fletores da laje basta calcular


isoladamente as vigas nas direções a e b, utilizando-se as parcelas ou quinhões de
carga obtidos.

Pela equação (3.7) para uma relação (b/a) = 2 o valor de kb = (1 / 17)  0,06 e
consequentemente ka  0,94, indicando que a laje funciona praticamente na direção
menor a. Conforme será visto adiante, a partir da relação (b/a) > 2 a laje será consi-
derada armada em uma direção, ou seja a menor dimensão, sendo que para rela-
ções menores, a laje será considerada armada nas duas direções ou em cruz.

Outras tabelas para o cálculo de reações e momentos em lajes bastante utili-


zadas são as tabelas de Kalmanock, que integrou numericamente a equação dife-
rencial (3.1) e tabelou para diversos tipos de lajes retangulares e de relações (b/a),
variando de 0,5 a 2. Essas tabelas, como outras baseadas na teoria da elasticidade,
são utilizadas no cálculo de lajes em regime elástico.

Existem também as tabelas baseadas no regime rígido-plástico, ou das linhas


de ruptura, ou das charneiras plásticas Ingerslev (1923) e Johansen (1932), onde o
diagrama tensão-deformação do material constituinte da laje é rígido-plástico per-
feito, com um trecho sem deformações (rígido), seguido por um trecho perfeitamen-
te plástico. Esse processo extremamente simples de cálculo pode ser visto na apos-
tila de lajes retangulares do Prof. José de Miranda Tepedino (1980), que originou
tanto as tabelas para cálculo de momentos fletores no regime rígido-plástico, quanto
no elástico, mostradas adiante.

3.5
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Essa análise plástica é também recomendada na NBR 6118:2014 no item


14.7.4:

“Para a consideração do estado limite último, a análise de esforços pode ser reali-
zada através da teoria das charneiras plásticas.
Para garantia de condições apropriadas de dutilidade, dispensando a verificação
explícita da capacidade de rotação plástica, prescrita em 14.6.4.4 deve-se ter a po-
sição da linha neutra limitada em:

x/d ≤ 0,25, se fck ≤ 50 MPa

x/d ≤ 0,15, se fck > 50 MPa

Deve ser adotada, para lajes retangulares, razão mínima de 1,5:1 entre momentos
de borda (com continuidade e apoio indeslocável) e momentos no vão.
Cuidados especiais devem ser tomados em relação à fissuração e verificação das
flechas no ELS, principalmente quando se adota a relação entre momentos muito
diferente da que resulta de uma análise elástica. As verificações de serviço e de fa-
diga devem ser feitas baseadas em uma análise elástica”.

Caso o dimensionamento da laje seja feito considerando o regime elástico


deve-se adotar os valores de KL conforme a tabela 2.3. De acordo com esse item da
NBR 6118:2014, se o regime adotado for o rígido-plástico os valores de KL serão
dados por:

 0,8x0,25 
K L  0,8x0,25  1    0,180 Para fck ≤ 50 MPa (3.8a)
 2 

 0,8x0,15 
K L  0,8x0,15  1    0,113 Para fck > 50 MPa (3.8b)
 2 

3.6
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

3.3 – Laje retangular armada em uma direção

Conforme visto no item anterior as lajes retangulares cuja relação entre os la-
dos for maior que 2, ou menor que 0,5, serão calculadas como laje armada em uma
direção, no caso, a direção menor. Essas lajes são calculadas supondo vigas de lar-
gura unitária, com o vão correspondente ao lado menor da laje e com as condições
de contorno iguais às do lado maior. Dessa forma as configurações possíveis para
lajes retangulares armadas em uma direção estão indicadas na figura 3.2.

As reações RA (apoio), RE (engaste) e os momentos M (positivo), X (negativo)


para os três tipos de lajes da figura 3.2 estão apresentados na tabela 3.1 adiante,
para o cálculo no regime elástico e no regime rígido-plástico, com a carga total p
atuando na faixa unitária.

Na tabela 3.1 os valores das reações e dos momentos da coluna correspon-


dente ao regime elástico são os valores conhecidos da análise de estruturas, já os
valores do regime rígido–plástico dependem da relação adotada entre o momento
negativo (X) e o positivo (M) atuantes em uma mesma direção. Essa relação para a
tabela 3.1 vale 1,5 (valor recomendado na NBR 6118:2014) e é a mesma adotada
na elaboração da tabela 3.9 de momentos fletores no regime rígido-plástico, para
lajes retangulares armadas em duas direções. Assim, para a laje apoiada-engastada
o momento máximo positivo M, que ocorre onde a força cortante se anula, x0 = RA/p
a partir do apoio simples, é dado por:

2 2
 pa X   pa 1,5M 
     
px 0 2 R A 2  2 a  2 a 
M  R A x0     (3.9)
2 2p 2p 2p

Resolvendo-se a equação (3.9) do segundo grau, chega-se à raiz possível de


M dada por:

pa 2
M (3.10)
13,33

3.7
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___________________________________________________________________________

Figura 3.2 – Tipos de lajes armadas em uma direção

Tabela 3.1 – Reações e momentos para laje armada em uma direção

Tipo da laje Regime elástico Regime rígido-plástico


R = 0,5 pa R = 0,5 pa
Apoiada-apoiada
M = pa2/8 M = pa2/8
RA = 0,375 pa = (3/8) pa RA = 0,387 pa
RE = 0,625 pa = (5/8) pa RE = 0,613 pa
Apoiada-engastada
M = pa2/14,22 M = pa2/13,33
X = pa2/8 X = 1,5 M
R = 0,5 pa R = 0,5 pa
Engastada-engastada M = pa2/24 M = pa2/20
X = pa2/12 X = 1,5 M

3.8
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___________________________________________________________________________

Para a placa engastada-engastada com a relação (X/M) = 1,5, tem-se:

2
 pa 
2  
RA 2 pa 2 pa 2
M X   X X  1,5M (3.11)
2p 2p 8 8

De (3.11) obtém-se o valor de M:

pa 2
M (3.12)
20

3.4 – Laje retangular armada em duas direções ou em cruz

Conforme visto anteriormente, quando a relação entre os lados de uma laje


retangular é maior ou igual a 0,5 e menor ou igual a 2, considera-se a mesma, ar-
mada em duas direções ou em cruz.

3.4.1 – Tipos de lajes retangulares

Os tipos possíveis de lajes retangulares estão mostrados na figura 3.3, onde


“a” é o vão cuja direção tem o maior número de engastes. Caso nas duas direções o
número de engastes seja o mesmo, “a” será considerado o menor vão.

3.4.2 – Reações de apoio

As reações de apoio para lajes maciças retangulares com carga uniforme-


mente distribuída podem ser calculadas, de acordo com o item 14.7.6 da NBR
6118:2014, com as seguintes aproximações:

“a) as reações em cada apoio são as correspondentes às cargas atuantes nos triân-
gulos ou trapézios determinados através das charneiras plásticas correspondentes à

3.9
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

análise efetivada com os critérios de 14.7.4, sendo que essas reações podem ser,
de maneira aproximada, consideradas uniformemente distribuídas sobre os elemen-
tos estruturais que lhes servem de apoio;
b) quando a análise plástica não for efetuada, as charneiras podem ser aproximadas
por retas inclinadas, a partir dos vértices com os seguintes ângulos:
− 45° entre dois apoios do mesmo tipo;
− 60° a partir do apoio considerado engastado, se o outro for considerado simples-
mente apoiado;
− 90° a partir do apoio, quando a borda vizinha for livre”.

Figura 3.3 – Tipos de lajes retangulares armadas em cruz

3.10
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

A partir dos ângulos definidos acima é produzida a tabela 3.8 para os 6 tipos
de lajes retangulares da figura 3.3, com relações b/a dentro da faixa de validade das
lajes armadas em cruz. Nessas tabelas a reação em cada lado “a” ou “b” é obtida
multiplicando-se os coeficientes tabelados pelo produto pa.

Figura 3.4 – Reações de apoio para lajes retangulares armadas em cruz

3.11
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

3.4.3 – Momentos fletores

Os momentos fletores em lajes retangulares são calculados também, por


meio de tabelas produzidas tanto para o regime elástico como para o regime rígido-
plástico. No regime elástico, para a obtenção dos valores dos momentos atuantes
nas duas direções, basta dividir o produto (pxa2) pelos valores tabelados para os
momentos positivos ma, mb (armadura de flexão na parte inferior da laje) e para os
momentos negativos na, nb (idem na parte superior).

Já para o regime rígido-plástico apenas são tabelados os coeficientes ma,


mb, com os quais se calculam os momentos positivos nas duas direções, da mesma
forma que no regime elástico. Caso exista, o momento negativo em uma determina-
da direção será obtido multiplicando-se o momento positivo nessa direção pelo valor
1,5 (conforme recomendação da NBR 6118:2014 pra relação X/M).

As tabelas 3.8 a 3.11 mostradas adiante, são as mesmas da apostila sobre la-
jes retangulares do Prof. José de Miranda Tepedino (1980), salientando-se que as
do regime rígido-plástico foram produzidas para uma variação contínua do índice de
ortotropia (relação entre os momentos de plastificação ou de ruptura nas duas dire-
ções ortogonais da laje) e para uma relação constante entre os momentos negativo
e positivo em uma mesma direção, adotada igual a 1,5.

3.5 – Cálculo da flecha em lajes retangulares

O cálculo da flecha em lajes retangulares deve naturalmente obedecer ao es-


tado limite de serviço – ELS, nesse caso denominado ELS-DEF, ou seja, de defor-
mações excessivas, definido no item 3.2.4 da NBR-6118:2014.

As cargas para o cálculo em serviço devem ser afetadas pelo coeficiente de


ponderação, no caso minoração, das ações no ELS, correspondente às combina-
ções quase permanentes, f = f2 = 2, terceira coluna da tabela 1.7.

3.12
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Conforme essa tabela, para cargas acidentais de edifícios, 2 = 0,3 para edifí-
cios residenciais, 2 = 0,4 para edifícios comerciais, de escritório, estações e edifí-
cios públicos e 2 = 0,6 para bibliotecas, arquivos, oficinas e garagens. O momento
de serviço Mserv é obtido pela soma do momento total das cargas permanentes Mg
mais o momento das cargas acidentais Mq, minorado pelo coeficiente 2.

Mserv = Mg + 2 Mq (3.13)

Caso o momento de serviço dado em (3.13) seja menor que o momento de


fissuração Mr, determinado conforme o item 17.3.1 da NBR-6118:2014, a laje estará
trabalhando no Estádio I (concreto trabalhando simultaneamente à tração e com-
pressão – concreto não fissurado), caso contrário, no Estádio II (concreto traba-
lhando à compressão no regime elástico enquanto as tensões de tração são despre-
zadas – concreto fissurado). O momento de fissuração pode ser calculado pela se-
guinte expressão aproximada (NBR 6118:2014):

Ic
M r  α f ct (3.14)
yt
“onde:
α = 1,2 para seções T ou duplo T;
α = 1,3 para seções I ou T invertido;
α = 1,5 para seções retangulares;

onde:
α é o fator que correlaciona aproximadamente a resistência à tração na
flexão com a resistência à tração direta;
yt é a distância do centro de gravidade da seção à fibra mais tracionada;
Ic é o momento de inércia da seção bruta de concreto;
fct é a resistência à tração direta do concreto, conforme 8.2.5, com o
quantil apropriado a cada verificação particular.

3.13
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Para determinação do momento de fissuração deve ser usado o fctk,inf no estado li-
mite de formação de fissura e o fctm no estado limite de deformação excessiva (ver
8.2.5).”

Para o cálculo de lajes, cuja seção transversal retangular é dada por 100h, o
valor de yt no estádio I é aproximadamente igual a h/2, onde h é a altura da laje,
ficando a relação Ic/yt  W0 (módulo de resistência à flexão) dada por:

100h 2
W0  (3.15)
6

O valor correto de yt é obtido do cálculo da seção homogeneizada, mas tendo


em vista a pequena quantidade de armadura das lajes, esse valor é muito próximo
ao da seção bruta de concreto, justificando-se adotar yt = h/2.

Levando-se os valores de , fct = fctm dado nas equações (1.12), e W0 em


(3.15) obtém-se finalmente o momento de fissuração para lajes maciças dado por:

150f ctm h 2
Mr   0,75h 2 f ck 2/3 (kNcm) para fck ≤ 50 MPa (3.16a)
6x10

150.f ctm .h 2
Mr   5,3h 2 ln 1  0,11f ck  (kNcm) para fck> 50 MPa (3.16b)
6x10

As equações (3.16) foram desenvolvidas usando-se fck em MPa para obter Mr


em kNcm (por isso a divisão por 10). Deve-se salientar que as equações (3.16) refe-
rem-se a uma faixa de laje de largura b = 100 cm = 1 m.

3.14
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

3.5.1 – Flecha imediata em lajes retangulares armadas em uma direção

Para essas lajes as flechas são calculadas com as expressões obtidas da


equação da linha elástica em vigas, para os três tipos possíveis de condições de
contorno ilustrados na figura 3.2, onde as flechas podem ser agrupadas em uma
única expressão genérica dada por:

pia4
fi  K (3.17)
384EI eq,t0

com K=5 para laje apoiada-apoiada


K = 2* para laje apoiada-engastada
K=1 para laje engastada-engastada

(*)
o valor inteiro 2 foi adotado a partir do valor correto dado por K= 2,079... .

Onde
 fi é a flecha imediata;
 pi = g + 2 q é a carga imediata de serviço;
 a é o vão da laje armada em uma direção;
 (E.I)eq,t0 é a rigidez equivalente para o tempo t0 (apli-
cação da carga de longa duração).

Normalmente as lajes em edifícios residenciais armadas em uma direção têm


vãos pequenos e consequentemente momentos solicitantes em situação de serviço
menores que o momento de fissuração (equações 3.16), trabalhando, portanto no
estádio I. Nesse caso a rigidez equivalente é obtida considerando-se a seção homo-
geneizada, utilizando-se a relação entre os módulos de elasticidade do aço e do
concreto. Devido à pequena quantidade de armação utilizada nessas lajes, pode-se
usar o momento de inércia da seção bruta de concreto em substituição ao da seção
homogeneizada. Isso se justifica pela pequena diferença entre as duas.

3.15
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Caso o momento em serviço supere o momento de fissuração, deve ser con-


siderado o estádio II. O item 19.3.1 da NBR-6118:2014, estado limite de deformação
em lajes, estabelece que devam ser usados os mesmos critérios adotados para as
vigas (item 17.3.2), tanto para o estádio I quanto para o estádio II.

Os critérios para a flecha imediata em vigas se baseiam no cálculo da rigidez


equivalente pela formulação de Branson (1966), dada na NBR-6118:2014 no item
17.3.2.1.1. Para lajes maciças, usuais dos edifícios residenciais, armadas em uma
ou duas direções, pode-se ter momento máximo menor que o momento de fissura-
ção, ou quando isso não ocorre apenas uma pequena área da laje, próxima ao mo-
mento máximo, encontra-se no estádio II. Grande parte da laje estará sempre no
estádio I. Mesmo a região que se encontra fissurada, segundo alguns autores, tem
uma contribuição mais efetiva para a rigidez equivalente que no caso das vigas, por-
tanto não seria muito correto usar o mesmo modelo para vigas e lajes. No entanto,
para efeito dessa apostila, deve-se considerar o estabelecido na NBR 6118:2014:

Estádio I - EI eq,t0  E cs I c (3.18a)

 M 
3  M 
3 
  I II   E cs I c
Estádio II - EI eq,t0  E cs  r  I c  1   r  (3.18b)
 M a    Ma
   
 

Onde:
 Ecs é o módulo de elasticidade secante do concreto;
 Ic é o momento de inércia da seção bruta de concreto;
 I II é o momento de inércia da seção fissurada de concreto no es-
tádio II, calculada com a relação entre os módulos (n = Es / Ecs);
 Ma é o momento fletor (serviço) na seção crítica do vão considera-
do, momento máximo no vão para lajes biapoiadas ou contínuas e
momento no apoio para lajes em balanço, para a combinação de
ações considerada nessa avaliação;

3.16
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___________________________________________________________________________

 Mr é o momento de fissuração do elemento estrutural;


 t0 é a idade em meses relativa à data de aplicação da carga de
longa duração.

3.5.2 – Momento de Inércia da seção fissurada (lajes)

Conforme apresentado na figura 3.5 o diagrama de tensões de compressão


no concreto é linear e na tração é nulo, de acordo com a premissa básica do Estádio
II, seção fissurada. Como para um mesmo ponto, concreto e aço têm a mesma de-
formação εc = εs, pela lei de Hooke εc = (σc/Ec) = εs = (σs/Es) de onde resulta σs =
(Es/Ec) σc = n σc com n = (Es/Ec), relação entre os módulos de elasticidades do aço
e do concreto. Com isso no diagrama de tensões a linha tracejada representa em
uma escala (1/ n) menor, as tensões no aço.

Para homogeneizar a seção transversal genérica da laje apresentada nessa


figura deve-se inicialmente transformar o material composto, concreto armado (con-
creto e aço), em um único material, normalmente no material com menor módulo de
elasticidade, o concreto. A área de aço As transforma-se em uma área equivalente
em concreto igual a (n As). O CG da seção homogeneizada encontra-se a uma pro-
fundidade xII obtida igualando-se o momento estático da área comprimida de concre-
to com o da área de aço homogeneizada (n As). Assim:

Figura 3.5 – Seção transversal para determinação de III em lajes

3.17
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___________________________________________________________________________

x II
bx II  nA s d  x II 
2

Resolvendo a equação do segundo grau em xII encontra-se:

1 2
x II   A  A 2  B com: A nA s B ndA s (3.19a)
100 100

Calculando-se o momento em relação a LN obtém-se:

 σ 100x II  2x II 
M LN   c    σ s nA s d  x II 
 2  3 
σc σs d  x II
  σs  σc
x II d  x II x II

2
100x II nA s d  x II 2 3
 100x II σ
M LN  σc  σc    nA s d  x II 2  c
3 x II  3  x II

 
 M LN  M
σc    (x II )  LN x II
3
 100x II  I II
  nA s d  x II 2 
 3 

3
100xII
I II   nA s d  x II 2 (3.19b)
3

As equações (3.19) podem ser estendidas para seções retangulares com ar-
madura As e A’s, conforme será apresentado no capítulo 4, equações (4.22) e
(4.26).

3.18
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___________________________________________________________________________

3.5.3 – Flecha imediata em lajes retangulares armadas em duas direções

Normalmente o valor da flecha imediata para essas lajes é obtido usando-se


tabelas para cálculo de flechas em lajes retangulares, baseadas em Bares (1972).
Tepedino (1980), por meio de regressão polinomial, ajustou para a flecha imediata fi,
a seguinte expressão:

pia4
f i  f1 (3.20a)
E cs .h 3

Onde pi é o mesmo usado na equação (3.17).

3 2
b b b
K1   K 2    K 3    K 4
f1  a a a (3.20b)
1000

Com K1, K2, K3 e K4 fornecidos na tabela 3.2 abaixo, não se adotando para o
cálculo valores de (b/a) fora do intervalo 0,5 ≤ (b/a) ≤2.

Com os valores de K1 a K4 tabelados abaixo, organizou-se a tabela 3.10, mos-


trada adiante, para o cálculo de flechas nos seis tipos de lajes retangulares da figura
3.3. Nessa tabela, a partir do tipo de laje e da relação (b/a), extrai-se o coeficiente f1
que permite o cálculo da flecha com o emprego da equação (3.20a).

A discussão sobre rigidez equivalente, feita anteriormente, é mais acentuada


nas lajes armadas em cruz, tendo em vista que para as lajes armadas em uma dire-
ção, o modelo estrutural aproxima-se mais do comportamento das vigas, onde se
aplica efetivamente a formulação de Branson (1966), equação (3.18b).

Para efeito dessa apostila, quando o momento em serviço for menor que o de
fissuração, ou seja, estádio I, deve-se adotar para a rigidez equivalente a mesma
dada pela equação (3.18a), ou seja, rigidez bruta do concreto. Quando ocorrer o es-
tádio II, mesmo com toda essa discussão sobre a validade da rigidez equivalente de

3.19
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___________________________________________________________________________

Branson (1966) para lajes armadas em cruz, deve-se seguir a recomendação da


NBR 6118:2014, ou seja, adotar Branson (1966) também para verificação de flechas
nessas lajes.

Tabela 3.2 – Valores dos coeficientes para cálculo das flechas (Tepedino)

LAJE K1 K2 K3 K4

A 0,4 -29,6 156,8 -79,8

B -1,0 -16,0 79,3 -29,9

C 14,4 -84,3 182,1 -87,9

D 7,2 -42,1 83,8 -26,6

E 1,9 -21,2 60,9 -23,3

F 2,0 23,0 69,2 -33,3

Assim para lajes armadas em duas direções tem-se as mesmas equações


(3.18a)* e (3.18b)* definidas anteriormente:

Estádio I - EI eq,t0  E cs I c (3.18a)*

3.20
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___________________________________________________________________________

 M 
3  M 
3 
  I II   E cs I c
Estádio II - EI eq,t0  E cs  r  I c  1   r  (3.18b)*
 M a    Ma
   
 

A equação (3.19) que calcula a flecha em lajes retangulares, apresenta o va-


lor do produto Ecs.h3 e não a rigidez à flexão EI. Portanto para levar em conta a rigi-
dez equivalente, conforme equações (3.18a) e (3.18b), basta usar o próprio valor da
altura h da laje no estádio I e para o estádio II o valor da altura equivalente heq em
substituição a h, dada por:

3
100h eq 12I eq
I eq   h eq  3 (cm) (3.21)
12 100

Com Ieq obtido de (3.18b) e os valores de h e I dados em cm.

3.5.4 – Flecha diferida no tempo para lajes de concreto armado

Segundo o item 17.3.2.1.2 da NBR-6118:2014, a flecha adicional diferida, de-


corrente das cargas de longa duração em função da fluência do concreto, pode ser
calculada de maneira aproximada pelo produto da flecha imediata fi pelo fator f,
dado pela expressão:

f dif  α f f i (3.22)

com
Δξ
αf  (3.23a)
1  50ρ '
onde:

A 's
ρ'  (3.23b)
b.d

 é um coeficiente função do tempo, que pode ser obtido diretamente na tabela 3.3,
ou ser calculado pelas expressões seguintes:

3.21
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___________________________________________________________________________

Δξ  ξ(t)  ξ(t 0 ) (3.24)

ξ(t)  0,68 0,996 t t 0,32 para t ≤ 70 meses (3.25)


ξ(t)  2 para t > 70 meses (3.26)

Onde
t é o tempo em meses em que se deseja o valor da flecha diferida;

t0 é a idade em meses, relativa à data de aplicação da carga de longa


duração. No caso das parcelas das cargas de longa duração serem
aplicadas em idades diferentes, pode-se tomar para t0 o valor pondera-
do a seguir:

 Pi t 0i
t0  (3.27)
 Pi

Onde Pi representa a parcela de carga “i” e t0i é a idade em que se aplicou


essa parcela, em meses.

Tabela 3.3 – Valores do coeficiente  em função do tempo

Tempo (t)
0 0,5 1 2 3 4 5 10 20 40  70
- meses-
Coeficiente
0 0,54 0,68 0,84 0,95 1,04 1,12 1,36 1,64 1,89 2
(t)

O valor da flecha total no tempo t é a soma da flecha imediata fi mais a parce-


la adicional diferida (fdif = f . fi) resultando ftot = fi + αffi = (1 + αf) fi. Assim para situ-
ações normais em que se deseja a flecha no tempo infinito, para cargas aplicadas a
partir dos 14 dias, aproximadamente t0 = 0,5 mês, com ’ = 0 (não se tem armadura
dupla em lajes), obtém-se para f o seguinte valor:

3.22
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___________________________________________________________________________

f = () - (0,5) = 2 – 0,54 = 1,46 (3.28)

Portanto, a flecha total será dada por:


ftotal = (1 + f) fi = 2,46 fi (3.29)

Na expressão (3.29) fi se refere à carga de serviço pi = g + 2.q (parcela


permanente mais a parcela quase permanente da carga acidental da laje), ou seja,
as parcelas afetadas pela fluência do concreto. Portanto, pode-se obter a flecha total
no tempo infinito f usando-se a mesma equação (3.20a) da flecha imediata, substi-
tuindo o valor da carga pi por p, da seguinte forma:

p a4
f   1  α f f i  f1 (3.30)
E cs h 3

Com
p = (1 + f) pi = (1 + αf) (g + 2 . q) (3.31)

Para o valor (1 + f) = 2,46 e considerando-se edifícios residenciais 2 = 0,3,


obtém-se:

p = 2,46 (g + 0,3 q) = 2,46 g + 0,738 q (3.32)

3.6 – Prescrições da NBR 6118:2014 referentes às lajes

3.6.1 – Espessura mínima das lajes maciças

Segundo o item 13.2.4.1 da NBR-6118:2014, “nas lajes maciças devem ser res-
peitados os seguintes limites mínimos para a espessura h:

3.23
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___________________________________________________________________________

a) 7 cm para lajes de forro não em balanço;


b) 8 cm para lajes de piso não em balanço;
c) 10 cm para lajes em balanço;
d) 10 cm para lajes que suportem veículos de peso total menor ou igual a 30 KN;
e) 12 cm para lajes que suportem veículos de peso total maior que 30 KN;
f) 15 cm para lajes com protensão apoiadas em vigas, (l/42) para lajes de piso bia-
poiadas e (l/50) para lajes de piso contínuas;
g) 16 cm para lajes lisas e 14 cm para lajes-cogumelo.

No dimensionamento das lajes em balanço, os esforços solicitantes de cálculo a se-


rem considerados devem ser multiplicados por um coeficiente adicional γn de acordo
com o indicado na tabela 13.2.”

Tabela 3.4 – Valores do coeficiente adicional γn para lajes em balanço


Tabela 13.2 da NBR 6118:2014
h
≥19 18 17 16 15 14 13 12 11 10
(cm)
γn 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 1,25 1,30 1,35 1,40 1,45
onde
γn = 1,95 – 0,05 h;
h é a altura da laje, expressa em centímetros (cm).
NOTA O coeficiente γn deve majorar os esforços solicitantes finais de cálculo na
lajes em balanço quando de seu dimensionamento.

Segundo o item 14.7.8 da NBR 6118:2014 lajes-cogumelo são lajes apoiadas di-
retamente em pilares com capitéis, enquanto lajes lisas são as apoiadas nos pilares
sem capitéis. Capitel é o engrossamento da espessura da laje na região dos pilares
efetivando melhorar sua resistência à punção.

3.24
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

3.6.2 – Deslocamentos limites

Segundo o item 13.3 da NBR-6118:2014, deslocamentos limites são valores


práticos para verificação em serviço do estado limite de deformações excessivas da
estrutura. Esses valores devem obedecer aos limites estabelecidos na tabela 13.3
da NBR-6118:2014. Para o caso das lajes, a flecha máxima em serviço quando atu-
ar a totalidade das cargas deve ser ( / 250), onde  é o menor vão da laje retangu-
lar. Quando atuar apenas a carga acidental esse limite deve ser considerado igual a
( / 350). Para lajes em balanço o vão equivalente a ser considerado deve ser o do-
bro do comprimento do balanço, portanto a flecha na extremidade de um balanço
com vão () deve ser menor que ( /125), quando atuar a carga total.

Deslocamentos excessivos podem ser parcialmente compensados por con-


traflechas, entretanto a sua atuação isolada não pode ocasionar um desvio do pla-
no da laje maior que ( / 350).

3.6.3 – Cobrimento nominal mínimo

Segundo o item 7.4.7.2 da NBR-6118:2014, cobrimento nominal cnom é o co-


brimento mínimo cmin acrescido da tolerância de execução c, que para obras cor-
rentes deve ser maior ou igual a 10 mm. Quando houver um adequado controle de
qualidade e rígidos limites de tolerância da variabilidade das medidas durante a exe-
cução, pode ser adotado o valor c = 5 mm, mas a exigência de controle rigoroso
deve ser explicitada nos desenhos de projeto. Nesse caso, permite-se então, a re-
dução dos cobrimentos nominais dados na tabela 2.8 em 5 mm.

Nessa tabela os cobrimentos nominais para as lajes variam de 5 mm em 5


mm, desde a classe de agressividade CAA I até a classe CAA IV.

Segundo a tabela 7.2 da NBR 6118:2014, transcrita na tabela 2.8 dessa


apostila “para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa

3.25
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamas-
sa de revestimento e acabamento tais como pisos de elevado desempenho, pisos
cerâmicos, pisos asfálticos e outros tantos, as exigências desta tabela podem ser
substituídas por 7.4.7.5, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15 mm.”

O item 7.4.7.5 da NBR 6118:2014 estabelece que o cobrimento nominal de


uma barra deva sempre ser maior que o diâmetro da barra (cnom  barra).

3.6.4 – Vãos efetivos de lajes

Segundo o item 14.7.2.2 da NBR-6118:2014, quando os apoios puderem ser


considerados suficientemente rígidos quanto à translação vertical, o vão efetivo deve
ser calculado pela seguinte expressão:

ef = 0 + a1 + a2 (3.33)

Onde:
 0 é o vão livre, ou seja, distância entre as faces dos apoios;
 a1 e a2 são em cada extremidade do vão, o menor entre os valores:
0,3h e ti/2, com h a espessura da laje e ti a largura do apoio i.

3.6.5 – Aproximações para diagramas de momento fletor

Esse é o item 14.7.6.2 da NBR-6118:2014, que trata da compensação de


negativos entre lajes contíguas.

“Quando houver predominância de cargas permanentes, as lajes vizinhas podem ser


consideradas como isoladas, realizando-se compatibilização dos momentos sobre
os apoios de forma aproximada.
No caso de análise plástica, a compatibilização pode ser realizada mediante altera-
ção das razões entre momentos de borda e vão, em procedimento iterativo, até a
obtenção de valores equilibrados nas bordas.

3.26
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Permite-se, simplificadamente, a adoção do maior valor de momento negativo ao


invés de equilibrar os momentos de lajes diferentes sobre uma borda comum.”

Figura 3.6 – Compensação de momentos negativos – Regime elástico

Na figura 3.6 está indicado esquematicamente o diagrama de momentos fleto-


res de duas lajes contíguas calculadas isoladamente no regime elástico e represen-
tado pelo diagrama tracejado. Os valores máximos dos momentos fletores sobre o
apoio central são respectivamente XL1 e XL2 para as lajes L1 e L2. Depois da com-
pensação dos negativos o diagrama final em linha cheia apresenta sobre o apoio
central o valor (XFinal compensado) dado pelo maior entre os valores:

XFinal ≥ 0,8 Xmax ou XFinal ≥ Xmed = (XL1 + XL2) /2 (3.34)

No caso das lajes no regime rígido-plástico o procedimento iterativo para a


obtenção dos valores equilibrados nos engastes por ser muito trabalhoso, normal-

3.27
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

mente é simplificado pela adoção do maior entre os momentos negativos das lajes
que chegam ao mesmo apoio (conforme recomendado na NBR 6118:2014).

Na figura 3.6 o momento negativo final compensado é menor que o momento


negativo da laje L1 e maior que o da laje L2. No primeiro caso o diagrama final de
momentos positivos da L1 apresenta momento máximo maior que o diagrama da laje
isolada e no segundo caso ocorre exatamente o contrário. Dessa forma deve-se
aumentar o momento positivo da laje L1 isolada da diferença ∆ML1 e diminuir o da
laje L2 em ∆ML2.

Na compensação dos momentos das lajes no regime elástico costuma-se


apenas aplicar a diferença ∆MLi no caso do aumento do momento positivo. A dimi-
nuição não se aplicaria, como medida adicional de segurança. A diferença ∆MLi é
dada genericamente pelo valor aproximado e usual: ∆MLi = 0,3 ∆XLi.

3.6.6 – Armadura longitudinal mínima

Os princípios básicos para o estabelecimento da armadura mínima para lajes


são os mesmos dados para elementos estruturais lineares, item 17.3.5.1 da NBR-
6118:2014. Como as lajes armadas em duas direções têm outros mecanismos resis-
tentes possíveis, os valores mínimos das armaduras positivas são reduzidos em re-
lação aos dados para elementos lineares (vigas).

Para melhorar o desempenho e a dutilidade à flexão, assim como controlar a


fissuração, são necessários valores mínimos de armadura passiva, dados na tabela
3.5. Essa armadura deve ser constituída preferencialmente por barras com alta ade-
rência ou por telas soldadas.

Nota-se na tabela 3.5 que os valores das taxas geométricas ρs para momen-
tos negativos das lajes em geral e do momento positivo apenas das lajes armadas
em uma direção obedecem aos mesmos valores mínimos ρmin que os praticados nas
vigas. Já para os momentos positivos das lajes armadas em duas direções e para os

3.28
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

momentos negativos de bordas sem continuidade, esse valor é reduzido em


(2/3)=0,67. Nas lajes armadas em duas direções isso se deve ao seu funcionamen-
to, ou seja, quando uma direção sofre flexão a outra solidariamente sofre torção,
contribuindo assim para um maior enrijecimento dessa laje e diminuição dos momen-
tos fletores nas duas direções.

Tabela 3.5 – Valores mínimos para armadura passivas em lajes


Adaptada da tabela 19.1 da NBR 6118:2014

Elementos estruturais sem armaduras


Tipo de armadura
ativas
Armaduras negativas ρs ≥ ρmin
Armaduras negativas de bordas
ρs ≥ 0,67 ρmin
sem continuidade
Armaduras positivas de lajes
ρs ≥ 0,67 ρmin
armadas em duas direções
Armadura positiva (principal) de
ρs ≥ ρmin
lajes armadas em uma direção
Armadura positiva (secundária) As,sec  0,20 As,princ
de lajes armadas em uma dire- As,sec  0,9 cm2/m
ção s  0,5 min
Onde:
As As
ρs   (3.35)
bh 100h

é a taxa geométrica de armadura da seção transversal genérica das lajes (100xh).


Os valores de min estão apresentados na tabela 2.6 (armadura mínima para vigas)
observando-se a relação (d/h) da laje considerada.

3.29
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Os valores de ρmin da tabela 2.6 foram calculados para aços CA 50 e CA 60


(normalmente usado no dimensionamento das lajes) pressupondo coeficientes de
minoração dos materiais c = 1,4 e s = 1,15. Caso haja mudança em um dos parâ-
metros que definem a tabela 2.6 ou que a relação (d/h) seja menor que 0,7 devem-
se fazer novos cálculos dos valores de ρmin usando-se a equação (2.53c).

O valor mínimo possível de ρs = ρmin = 0,15% também é válido para as lajes,


lembrando-se que no caso dos momentos positivos daquelas armadas em duas di-
reções pode-se reduzir esse valor, conforme a tabela 3.5, para ρs = 0,67 ρmin = 0,67
x 0,15% = 0,10%.

3.6.7 – Prescrições gerais sobre detalhamento de lajes

As prescrições gerais sobre o detalhamento de lajes encontram-se no item


20.1 da NBR 6118:2014:

“As armaduras devem ser detalhadas no projeto de forma que, durante a execução,
seja garantido o seu posicionamento durante a concretagem.

Qualquer barra da armadura de flexão deve ter diâmetro no máximo igual a h/8.

As barras da armadura principal de flexão devem apresentar espaçamento no má-


ximo igual a 2h ou 20 cm, prevalecendo o menor desses dois valores na região dos
maiores momentos fletores.

Nas lajes maciças armadas em uma ou duas direções, em que seja dispensada ar-
madura transversal de acordo com 19.4.1 (cisalhamento), e quando não houver
avaliação explícita dos acréscimos das armaduras decorrentes da presença dos
momentos volventes nas lajes, toda a armadura positiva deve ser levada até os
apoios, não se permitindo escalonamento desta armadura. A armadura deve ser pro-
longada no mínimo 4 cm além do eixo teórico do apoio.

3.30
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

A armadura secundária de flexão deve ser igual ou superior a 20% da armadura


principal, mantendo-se, ainda, um espaçamento entre barras de, no máximo, 33 cm.
A emenda dessas barras deve respeitar os mesmos critérios de emenda das barras
da armadura principal” (grifo nosso).

3.7 – Cargas para o cálculo de estruturas de edificações (NBR-6120:1980)

Essa norma tem como objetivo fixar as condições para determinar os valores
das cargas que atuam nos projetos de estruturas de edificações. Essa norma que
vale desde 1980, teve uma errata publicada em 2000.

A carga permanente, que é devida ao peso próprio da estrutura e de todos os


elementos construtivos fixos, pode ser avaliada com os valores dos pesos específi-
cos da tabela 1 da NBR 6120:1980, transcrita para a tabela 3.6 dessa apostila.

O item 2.1.2 da NBR 6120:1980 descreve uma forma simplificada de como


considerar as cargas das paredes apoiadas diretamente sobre as lajes armadas em
duas direções:

“Quando forem previstas paredes divisórias, cuja posição não esteja definida no pro-
jeto, o cálculo de pisos com suficiente capacidade de distribuição transversal de car-
ga, quando não for feito por processo exato, pode ser feito admitindo, além dos de-
mais carregamentos, uma carga uniformemente distribuída por metro quadrado de
piso não menor que um terço do peso por metro linear de parede pronta, observado
o valor mínimo de 1 KN/m2.”

Para as lajes armada em uma direção com parede paralela a essa direção,
basta considerar na largura unitária onde a parede se apoia, o peso por metro linear
dessa parede somado às demais cargas da laje. Se a parede é normal à direção
principal da laje deve-se considerá-la no cálculo como uma carga concentrada igual
ao seu peso por metro.

3.31
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

As cargas acidentais verticais que atuam nos pisos das edificações, referen-
tes aos carregamentos devido a pessoas, móveis, utensílios e veículos, são supos-
tas uniformemente distribuídas, com os valores mínimos indicados na tabela 3.6
abaixo, transcritos da tabela 2 da NBR 6120:1980.

Tabela 3.6 – Peso específico de alguns materiais de construção

Peso específico aparente


Materiais KN/m3
Arenito 26
Basalto 30
Rochas Gneiss 30
Granito 28
Mármore e calcáreo 28
Blocos de argamassa 22
Cimento amianto 20
Blocos Lajotas cerâmicas 18
artificiais Tijolos furados 13
Tijolos maciços 18
Tijolos sílico-calcáreos 20
Argamassa de cimento, cal e areia 19
Argamassa de cimento e areia 21
Revestimentos
Argamassa de gesso 12,5
e concretos
Concreto simples 24
Concreto armado 25
Pinho, cedro 5
Madeiras
Angico, cabriúva, ipê róseo 10
Aço 78,5
Alumínio e ligas 28
Metais
Bronze 85
Chumbo 114

3.32
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Tabela 3.7 – Valores mínimos de carga vertical


Carga
Local
KN/m2
1- Arquibanca- 4
das
Mesma carga da peça com a qual se comunica e as previstas -
2- Balcões
para parapeitos e balcões (ver adiante)
Escritórios e banheiros 2
3- Bancos
Salas de diretoria e de gerência 1,5
Sala de leitura 2,5
Sala para depósito de livros 4
4- Bibliotecas Sala com estantes de livro, a ser determinada em cada caso
ou 2,5 kN/m2 por metro de altura observado, porém o valor
6
mínimo de

5- Casa de ma- (incluindo o peso das máquinas) a ser determinada em caso,


quinas porém com o valor mínimo de 7,5
Platéia com assentos fixos 3
6- Cinemas Estúdio e platéia com assentos móveis 4
Banheiro 2
Sala de refeição e assembléia com assentos fixos 3
Sala de assembléia com assentos móveis 4
7- Clubes
Salão de danças e salão de esportes 5
Sala de bilhar e banheiro
2
Com acesso ao público 3
8- Corredores
Sem acesso ao público 2
9- Cozinhas não A ser determinada em cada caso, porém com o mínimo de 3
residenciais
A ser determinada em cada caso e na falta de valores experi- -
10- Depósitos
mentais conforme a tabela 1 da NBR-6120

11- Edifícios re- Dormitório, sala, copa, cozinha e banheiro 1,5


sidenciais Despensa, área de serviço e lavanderia 2

3.33
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___________________________________________________________________________

Com acesso ao público 3


12- Escadas
Sem acesso ao público 2,5
Anfiteatro com assentos fixos, corredor e sala de aula 3
13- Escolas
Outras salas 2
14- Escritório Salas de uso geral e banheiro 2
15- Forros Sem acesso a pessoas 0,5
16- Galerias de A ser determinada em cada caso, porém com o mínimo de 3
arte
17- Galeria de A ser determinada em cada caso, porém com o mínimo de 3
lojas

18- Garagens e Para veículos de passageiros ou semelhante com carga má-


estacionamento xima de 25 kN. Valores de  indicados adiante 3
19- Ginásio de 5
esporte
Dormitórios, enfermarias, sala de recuperação, saal de cirur-
gia, sala de raio X e banheiro 2
20- Hospitais
Corredor 3
Incluindo equipamentos, a ser determinada em cada caso,
21- Laboratórios
porém com o mínimo de 3
22- Lavanderias Incluindo equipamentos 3
23- Lojas 4
24- Restaurantes 3
Palco 5
25- Teatros Demais dependências: cargas iguais às especificadas para -
cinemas
Sem acesso ao público 2
Com acesso ao público 3
26- Terraços Inacessível a pessoas 0,5
Destinados a heliportos elevados: as cargas deverão ser for-
necidas pelo órgão competente do Ministério da Aeronáutica
-
Sem acesso ao público 1,5
27- Vestíbulo
Com acesso ao público 3

3.34
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___________________________________________________________________________

Os itens abaixo da NBR 6120:1980 referem-se também às cargas sobre as


lajes:

“2.2.1.5 Ao longo dos parapeitos e balcões devem ser consideradas aplicadas uma
carga horizontal de 0,8 kN/m na altura do corrimão e uma carga vertical mínima de 2
kN/m.

2.2.1.6 O valor do coeficiente ϕ de majoração das cargas acidentais a serem consi-


deradas no projeto de garagens e estacionamentos para veículos deve ser determi-
nado do seguinte modo: sendo  o vão de uma viga ou o vão menor de uma laje;
sendo 0 = 3 m para o caso das lajes e 0 = 5 m para o caso das vigas, tem-se:

a) ϕ = 1 , 0 0 ....................................quando  ≥ 0
b) ϕ = (0/) ≤ 1,43 ......................... quando  ≤ 0.

Nota: O valor de ϕ não precisa ser considerado no cálculo das paredes e pilares.”

3.8 – Tabelas para cálculo de reações de apoio e momentos fletores

A tabela 3.8 mostra os coeficientes para cálculo das reações de apoio, con-
forme a recomendação da NBR 6118:2014, figura 3.4. As reações em cada um dos
quatro lados são calculadas multiplicando-se sempre o produto (pa) pelo coeficiente
tabelado para o tipo de laje e de relação (b/a): Ri = ri (pa). A representação das re-
ações e a sua localização em planta estão indicadas, para uma laje genérica do tipo
C, na figura 3.7.

Os coeficientes para cálculo dos momentos fletores no regime rígido-plástico


estão indicados na tabela 3.9. Nota-se que só aparecem os coeficientes ma e mb. Ao
dividir o produto (pa2) para esses coeficientes obtém-se os momentos positivos na
direção a e b, respectivamente. Caso a laje seja engastada, o momento negativo
será obtido multiplicando-se o momento positivo nessa direção por 1,5. Assim: Mi =
(pa2) / mi e, se existir, Xi = 1,5 Mi.

3.35
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___________________________________________________________________________

Figura 3.7 – Representação genérica das reações e momentos nas lajes

A forma de se mostrar em planta os momentos fletores e as direções em que


os mesmos ocorrem está mostrada na figura 3.7 em que a linha contínua representa
momento positivo (tração na parte inferior da laje) e a tracejada, momento negativo
(tração na parte superior da laje). As direções indicadas em planta dos momentos
são na realidade a disposição das armaduras para combatê-los. As armaduras estão

3.36
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

dispostas nas direções dos planos de atuação dos momentos, portanto perpendicu-
lares aos vetores momento que as originaram.

O cálculo da flecha elástica f = f1 (p.a4) / (Ecs h3) depende do coeficiente f1


dado na Tabela 3.10.

Os momentos no regime elástico são calculados com os coeficientes mi e ni


da tabela 3.11, com Mi = (pa2) / mi e Xi = (pa2) / ni.

As tabelas 3.8 a 3.11 foram construídas para lajes retangulares armadas em


duas direções submetidas a uma carga constante, uniformemente distribuída. Já as
tabelas 3.12 A e 3.12 B são utilizadas em lajes retangulares submetidas à carrega-
mento triangular, como é o caso de lajes verticais em caixas d’água ou em conten-
ções (cortinas).

3.37
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___________________________________________________________________________

Tabela 3.8 – Reações de apoio em lajes retangulares, carga uniforme (Tepedino)

Tipo
r’a=0,183
ra=0,144
r’’a=0,317
ra=0,25
b/a rb ra r’b r’’b r’b r’’b rb r’a r’’a rb
0,50 - 0,165 0,125 0,217 - - 0,217 0,125 0,217 0,158
0,55 - 0,172 0,138 0,238 - - 0,238 0,131 0,227 0,174
0,60 - 0,177 0,150 0,260 - - 0,259 0,136 0,236 0,190
0,65 - 0,181 0,163 0,281 - - 0,278 0,140 0,242 0,206
0,70 - 0,183 0,175 0,302 - - 0,294 0,143 0,247 0,222
0,75 - 0,183 0,187 0,325 - - 0,308 0,144 0,249 0,238
0,80 - 0,183 0,199 0,344 - - 0,320 0,144 0,250 0,254
0,85 - 0,183 0,208 0,361 - - 0,330 0,144 0,250 0,268
0,90 - 0,183 0,217 0,376 - - 0,340 0,144 0,250 0,281
0,95 - 0,183 0,225 0,390 - - 0,348 0,144 0,250 0,292
1,00 0,250 0,183 0,232 0,402 0,183 0,317 0,356 0,144 0,250 0,303
1,05 0,262 0,183 0,238 0,413 0,192 0,332 0,363 0,144 0,250 0,312
1,10 0,273 0,183 0,244 0,423 0,200 0,346 0,369 0,144 0,250 0,321
1,15 0,283 0,183 0,250 0,432 0,207 0,358 0,374 0,144 0,250 0,329
1,20 0,292 0,183 0,254 0,441 0,214 0,370 0,380 0,144 0,250 0,336
1,25 0,300 0,183 0,259 0,448 0,220 0,380 0,385 0,144 0,250 0,342
1,30 0,308 0,183 0,263 0,455 0,225 0,390 0,389 0,144 0,250 0,348
1,35 0,315 0,183 0,267 0,462 0,230 0,399 0,393 0,144 0,250 0,354
1,40 0,321 0,183 0,270 0,468 0,235 0,408 0,397 0,144 0,250 0,359
1,45 0,328 0,183 0,274 0,474 0,240 0,415 0,400 0,144 0,250 0,364
1,50 0,333 0,183 0,277 0,479 0,244 0,423 0,404 0,144 0,250 0,369
1,55 0,339 0,183 0,280 0,484 0,248 0,429 0,407 0,144 0,250 0,373
1,60 0,344 0,183 0,282 0,489 0,252 0,436 0,410 0,144 0,250 0,377
1,65 0,348 0,183 0,285 0,493 0,255 0,442 0,413 0,144 0,250 0,381
1,70 0,353 0,183 0,287 0,497 0,258 0,448 0,415 0,144 0,250 0,384
1,75 0,357 0,183 0,289 0,501 0,261 0,453 0,418 0,144 0,250 0,387
1,80 0,361 0,183 0,292 0,505 0,264 0,458 0,420 0,144 0,250 0,390
1,85 0,365 0,183 0,294 0,509 0,267 0,463 0,422 0,144 0,250 0,393
1,90 0,368 0,183 0,296 0,512 0,270 0,467 0,424 0,144 0,250 0,396
1,95 0,372 0,183 0,297 0,515 0,272 0,471 0,426 0,144 0,250 0,399
2,00 0,375 0,183 0,299 0,518 0,275 0,475 0,428 0,144 0,250 0,401
O valor da reação é dado por: R = r (pa)
a é o vão com o maior número de engaste. Caso o número de engaste seja o mesmo nas duas direções, a é o menor vão.

3.38
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Tabela 3.9 – Momentos fletores, regime rígido-plástico, carga uniforme (Tepedino)

Tipo

b/a ma mb ma mb ma mb ma mb ma mb ma mb
0,50 - - 122,1 50,9 - - 103,2 64,5 215,6 80,8 - -
0,55 - - 92,2 46,5 - - 81,4 61,6 161,2 73,2 - -
0,60 - - 72,6 43,6 - - 66,9 60,2 125,6 67,8 - -
0,65 - -- 59,2 41,7 - - 56,9 60,1 101,4 64,2 - -
0,70 - - 49,7 40,6 - - 49,7 60,8 84,2 61,9 - -
0,75 - - 42,7 40,1 - - 44,3 62,3 71,8 60,6 - -
0,80 - - 37,6 40,1 - - 40,3 64,5 62,5 60,0 - -
0,85 - - 33,6 40,5 - - 37,2 67,2 55,5 60,1 - -
0,90 - - 30,5 41,2 - - 34,8 70,4 50,0 60,8 - -
0,95 - - 28,1 42,3 - - 32,8 74,0 45,7 61,8 - -
1,00 24,0 24,0 26,1 43,6 40,0 40,0 31,2 78,0 42,2 63,3 60,0 60,0
1,05 21,8 24,1 24,5 45,1 36,4 40,1 29,9 82,4 39,4 65,2 54,6 60,2
1,10 20,1 24,3 23,2 46,8 33,5 40,5 28,8 87,1 37,1 67,3 50,2 60,7
1,15 18,6 24,6 22,1 48,8 31,0 41,0 27,9 92,2 35,2 69,8 46,6 61,6
1,20 17,4 25,1 21,2 50,9 29,0 41,8 27,1 97,6 33,5 72,5 43,5 62,7
1,25 16,4 25,6 20,4 53,2 27,3 42,7 26,4 103, 32,2 75,4 41,0 64,4
1,30 15,5 26,3 19,8 55,6 25,9 43,8 25,9 109, 31,0 78,6 38,8 65,6
1,35 14,8 27,0 19,2 58,2 24,7 44,9 25,4 115, 30,0 82,0 37,0 67,4
1,40 14,2 27,8 18,7 61,0 23,6 46,3 24,9 122, 29,1 85,6 35,4 69,4
1,45 13,6 28,6 18,2 63,9 22,7 47,7 24,5 128, 28,4 89,4 34,0 71,6
1,50 13,1 29,6 17,8 66,9 21,9 49,3 24,2 136, 27,7 93,4 32,8 73,9
1,55 12,7 30,6 17,5 70,1 21,2 50,9 23,9 143, 27,1 97,6 31,8 76,4
1,60 12,4 31,6 17,2 73,4 20,6 52,7 23,6 151, 26,6 102, 30,9 79,0
1,65 12,0 32,7 16,9 76,8 20,0 54,5 23,4 159, 26,1 106, 30,0 81,8
1,70 11,7 33,9 16,7 80,3 19,5 56,5 23,2 167, 25,7 111, 29,3 84,7
1,75 11,5 35,1 16,5 84,0 19,1 58,5 23,0 175, 25,3 116, 28,7 87,8
1,80 11,2 36,4 16,3 87,8 18,7 60,6 22,8 184, 25,0 121, 28,1 91,0
1,85 11,0 37,7 16,1 91,7 18,4 62,9 22,6 193, 24,7 126, 27,6 94,3
1,90 10,8 39,1 15,9 95,8 18,0 65,2 22,5 202, 24,4 132, 27,1 97,7
1,95 10,7 40,5 15,8 99,9 17,8 67,5 22,3 212, 24,1 137, 26,6 101,
2,00 10,5 42,0 15,6 104, 17,5 70,0 22,2 222, 23,9 143, 26,3 105,
2
O valor do momento fletor positivo é dado por: M = (pa )/m
O momento fletor negativo na direção a ou b, se tiver, será dado por: Xi = 1,5 Mi
a é o vão com o maior número de engaste. Caso o número de engaste seja o mesmo nas duas direções, a é o menor vão.

3.39
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Tabela 3.10 – Flecha elástica em lajes retangulares, carga uniforme (Tepedino)

Tipo

b/a f1 f1 f1 f1 f1 f1
0,50 - 0,0068 - 0,0062 0,0033 -
0,55 - 0,0090 - 0,0080 0,0045 -
0,60 - 0,011 - 0,0098 0,0058 -
0,65 - 0,014 - 0,012 0,0073 -
0,70 - 0,017 - 0,014 0,0090 -
0,75 - 0,020 - 0,015 0,011 -
0,80 - 0,022 - 0,017 0,012 -
0,85 - 0,025 - 0,019 0,014 -
0,90 - 0,028 - 0,020 0,015 -
0,95 - 0,030 - 0,021 0,017 -
1,00 0,048 0,033 0,025 0,023 0,018 0,015
1,05 0,053 0,035 0,027 0,024 0,020 0,016
1,10 0,057 0,037 0,029 0,024 0,021 0,018
1,15 0,062 0,039 0,032 0,025 0,022 0,019
1,20 0,066 0,041 0,034 0,026 0,023 0,020
1,25 0,071 0,043 0,036 0,027 0,024 0,021
1,30 0,075 0,044 0,038 0,027 0,025 0,022
1,35 0,079 0,046 0,040 0,028 0,026 0,023
1,40 0,083 0,047 0,041 0,028 0,026 0,024
1,45 0,087 0,049 0,043 0,029 0,027 0,025
1,50 0,090 0,050 0,045 0,029 0,027 0,026
1,55 0,094 0,051 0,046 0,029 0,028 0,027
1,60 0,097 0,052 0,047 0,029 0,028 0,027
1,65 0,100 0,053 0,048 0,030 0,028 0,027
1,70 0,103 0,053 0,049 0,030 0,028 0,028
1,75 0,106 0,054 0,050 0,030 0,028 0,028
1,80 0,109 0,055 0,050 0,030 0,028 0,028
1,85 0,112 0,056 0,051 0,030 0,029 0,029
1,90 0,114 0,056 0,052 0,030 0,029 0,029
1,95 0,116 0,057 0,054 0,030 0,029 0,029
2,00 0,119 0,058 0,055 0,030 0029 0,029
4 3
O valor da flecha é dada por: f = f1 (p.a ) / (Ecs h )
a é o vão com o maior número de engaste. Caso o número de engaste seja o mesmo nas duas direções, a é o menor vão.

3.40
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Tabela 3.11 A – Momentos fletores, regime elástico, carga uniforme (Tepedino)

Tipo

b/a ma mb ma mb na ma mb na nb
0,50 - - 119,0 44,1 32,8 - - - -
0,55 - - 91,7 40,0 27,6 - - - -
0,60 - - 74,1 37,2 23,8 - - - -
0,65 - - 61,7 35,3 20,9 - - - -
0,70 - - 52,1 34,1 18,6 - - - -
0,75 - - 45,2 33,4 16,8 - - - -
0,80 - - 40,2 33,1 15,4 - - - -
0,85 - - 36,1 33,2 14,2 - - - -
0,90 - - 32,9 33,5 13,3 - - - -
0,95 - - 30,3 33,9 12,5 - - - -
1,00 23,6 23,6 28,2 34,4 11,9 37,2 37,2 14,3 14,3
1,10 20,0 23,6 25,1 36,2 10,9 31,3 37,4 12,7 13,6
1,20 17,4 23,7 22,8 38,6 10,2 27,4 38,2 11,5 13,1
1,30 15,5 24,2 21,2 41,4 9,7 24,6 40,0 10,7 12,8
1,40 14,1 25,0 20,0 44,4 9,3 22,6 41,8 10,1 12,6
1,50 13,0 25,7 19,1 47,3 9,0 21,1 44,4 9,6 12,4
1,60 12,1 26,8 18,4 51,4 8,8 20,0 48,2 9,2 12,3
1,70 11,4 27,9 17,8 55,8 8,6 19,2 52,4 9,0 12,3
1,80 10,9 28,8 17,4 59,4 8,4 18,5 56,1 8,7 12,2
1,90 10,5 30,4 17,1 63,0 8,3 18,0 60,2 8,6 12,2
2,00 10,1 31,6 16,8 67,6 8,2 17,5 62,5 8,4 12,2
O valor do momento positivo é dado por: M = pa2/m e do negativo por X = pa2/n
a é o vão com o maior número de engaste. Caso o número de engaste seja o mesmo nas duas direções, a é o menor vão.

3.41
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Tabela 3.11 B – Momentos fletores, regime elástico, carga uniforme (Tepedino)

Tipo

b/a ma mb na ma mb na nb ma mb na nb
0,50 113,6 47,9 33,7 222,2 72,7 49,3 35,2 - - - -
0,55 88,5 44,8 28,6 161,3 64,3 40,5 30,7 - - - -
0,60 73,0 42,9 25,0 123,5 58,4 34,4 27,2 - - - -
0,65 60,2 42,0 22,2 99,0 54,3 29,8 24,6 - - - -
0,70 53,5 41,7 20,1 82,0 51,3 26,2 22,5 - - -
0,75 47,2 42,0 18,5 69,0 49,5 23,4 21,0 - - - -
0,80 42,9 43,0 17,3 59,2 48,4 21,2 19,7 - - - -
0,85 39,4 44,2 16,3 52,4 47,9 19,5 19,2 - - - -
0,90 36,5 45,7 15,5 47,4 48,0 18,1 18,7 - - - -
0,95 34,2 47,8 14,8 43,1 48,6 17,1 18,4 - - - -
1,00 32,4 49,8 14,3 39,7 49,5 16,2 18,3 49,5 49,5 19,4 19,4
1,10 29,9 54,7 13,5 34,8 52,3 14,8 17,7 41,3 50,4 17,1 18,4
1,20 28,0 61,5 13,0 31,6 56,5 13,9 17,4 34,8 53,0 15,6 17,9
1,30 26,7 67,2 12,6 29,4 61,6 13,2 17,4 32,7 56,4 14,5 17,6
1,40 25,8 75,0 12,3 27,9 68,0 12,8 17,4 30,1 60,7 13,7 17,5
1,50 25,3 83,9 12,3 26,7 74,1 12,5 17,5 28,3 67,3 13,2 17,5
1,60 24,8 93,0 12,1 25,9 81,4 12,3 17,7 27,1 73,7 12,8 17,5
1,70 24,4 101,8 12,0 25,3 88,7 12,1 17,9 26,1 82,4 12,5 17,5
1,80 24,2 110,2 12,0 24,9 99,6 12,0 18,0 25,5 88,2 12,3 17,5
1,90 24,0 120,4 12,0 24,5 106,5 12,0 18,0 25,1 98,9 12,1 17,5
2,00 24,0 131,6 12,0 24,3 113,6 12,0 18,0 24,7 104,2 12,0 17,5
O valor do momento positivo é dado por: M = pa2/m e do negativo por X = pa2/n
a é o vão com o maior número de engaste. Caso o número de engaste seja o mesmo nas duas direções, a é o menor vão.

3.42
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Tabela 3.12 A - Momentos fletores em lajes com carga triangular (Bares)

Tipo

b/a ma mb ma mb nb ma mb nb ma mb nbi nb s ma mb na
0,5 62,5 19,5 109 35,6 15,3 78,1 25,4 17,9 147 46,9 19,5 29,8 55,6 16,3 22,6

0,6 54,6 22,1 94,3 37,7 15,9 75,2 27,3 18,8 128 48,1 19,8 30,0 51,5 17,8 28,4

0,7 50,0 25,6 86,2 41,2 16,8 69,0 30,1 20,4 114 50,2 20,3 30,9 50,5 19,2 36,0

0,8 47,8 29,9 81,3 45,7 17,8 64,5 33,6 22,4 105 53,5 21,2 32,4 52,9 21,1 44,2

0,9 46,7 35,0 78,1 51,5 19,1 61,3 37,5 24,9 101 57,5 21,9 34,4 56,5 23,6 53,8

1,0 47,2 41,5 74,6 58,1 20,2 58,8 42,4 28,4 99,0 62,5 23,1 37,5 61,7 26,7 66,2

1,1 36,9 39,5 59,5 54,3 18,4 46,9 39,5 26,7 74,6 55,9 20,2 34,0 55,2 24,9 64,9

1,2 34,5 37,9 48,8 51,0 16,9 39,2 37,3 25,3 59,9 51,5 18,2 31,7 50,8 23,5 64,1

1,3 30,5 37,0 41,7 48,5 15,7 33,8 35,8 24,6 49,5 48,5 16,5 30,2 47,6 22,4 65,8

1,4 27,5 36,2 36,4 46,7 14,7 29,7 35,0 24,3 41,8 46,5 15,1 29,5 44,8 21,4 68,0

1,5 25,2 35,6 32,5 45,2 13,9 26,7 34,1 24,0 36,8 45,2 14,2 28,5 43,1 20,7 69,4

1,6 23,4 34,8 25,6 44,4 13,2 24,4 33,7 24,0 33,0 44,8 13,6 27,7 41,7 19,8 70,9

1,7 21,8 35,3 26,9 44,4 12,9 22,4 34,0 24,5 29,7 45,0 13,2 27,5 40,5 19,1 75,2

1,8 20,6 35,1 25,1 43,5 12,4 21,1 33,6 24,7 27,3 44,1 12,6 26,8 39,8 18,5 76,9

1,9 19,6 35,2 23,6 42,6 12,1 19,9 33,8 25,2 25,3 43,3 12,2 26,7 39,4 18,0 81,3

2,0 18,7 36,0 22,3 43,1 11,9 18,8 34,7 26,6 23,6 43,9 11,9 26,9 38,8 17,5 89,3
2 2
O valor do momento positivo é dado por: Mi = pl /mi e do negativo por Xi = pl /ni
l é o menor vão entre a (direção horizontal) e b (direção vertical).
Tabela baseada em Bares (1972), apud Pinheiro (2007) e adaptada pelo autor.

3.43
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
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Tabela 3.12 B - Momentos fletores em lajes com carga triangular (Bares)

b/a ma mb na nb ma mb na nb ma mb na nbi nbs


0,5 104 38,6 27,8 16,3 86,2 27,6 21,6 19,5 125 48,3 34,2 20,2 31,0

0,6 112 44,1 27,9 17,7 76,3 31,9 21,8 22,1 128 52,4 33,7 21,1 32,5

0,7 86,2 52,1 28,8 19,8 68,0 37,5 22,4 26,2 122 58,8 33,6 22,5 36,0

0,8 80,0 63,7 30,5 22,5 64,1 44,1 23,9 31,9 109 65,4 34,4 24,5 40,8

0,9 81,3 75,2 32,7 25,7 64,9 53,2 26,0 39,2 99,0 74,6 35,0 27,0 47,4

1,0 84,0 90,1 35,1 29,4 67,1 64,5 27,7 48,8 97,1 87,7 37,0 30,3 56,8

1,1 72,5 87,0 31,2 27,8 58,5 62,5 25,7 51,8 80,0 83,3 32,4 28,1 57,1

1,2 64,9 86,2 28,5 26,5 52,9 62,9 23,9 53,8 70,4 82,0 29,2 26,6 57,8

1,3 59,9 85,5 26,5 25,4 48,8 63,7 22,4 56,8 63,3 82,0 26,7 25,5 59,9

1,4 55,9 84,0 24,7 24,7 45,7 64,5 21,1 61,3 57,5 83,3 24,7 24,8 62,9

1,5 52,6 82,6 23,4 23,9 43,5 64,5 20,1 64,9 53,2 82,0 23,4 23,9 65,4

1,6 49,5 81,3 22,4 23,4 41,7 64,5 19,3 69,9 49,8 81,3 22,3 23,4 69,0

1,7 46,9 81,3 21,6 23,1 40,2 65,3 18,6 75,2 46,9 81,3 21,5 23,1 74,1

1,8 44,8 79,4 21,1 22,5 39,5 65,8 18,0 76,9 45,2 79,4 21,0 22,5 76,9

1,9 42,9 79,4 20,6 22,2 38,8 69,4 17,5 81,3 43,7 79,4 20,5 22,2 81,3

2,0 41,1 80,6 20,1 22,3 38,0 73,5 16,9 89,3 42,2 80,6 20,0 22,3 92,6
2 2
O valor do momento positivo é dado por: Mi = pl /mi e do negativo por Xi = pl /ni
l é o menor vão entre a (direção horizontal) e b (direção vertical).
Tabela baseada em Bares (1972), apud Pinheiro (2007) e adaptada pelo autor.

3.44
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
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3.9 – Exemplos
3.9.1 – Exemplo 1

Para a forma abaixo de uma edificação residencial, pede-se:


1. Determinar as reações de apoio das lajes, indicando-as em planta;
2. Determinar os momentos fletores no regime elástico, indicando-os em planta;
3. Calcular as armaduras de flexão para os momentos positivos e negativos;
4. Calcular as flechas no tempo infinito;
5. Fazer o detalhamento completo das lajes, inclusive com lista e resumo dos
ferros;
6. Fazer os itens 1,2,3 e 5 para o regime rígido-plástico.

Figura 3.8 – Forma para o exemplo de lajes – Planta e Cortes

3.45
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DADOS: fck = 30 MPa (fc = 1,821kN/cm2) Brita Gnaisse Aço CA 60 / CA 50


Revestimento = 1 kN/m2 Sobrecarga = 2 kN/m2 (todas as lajes)

CARGAS: Peso próprio (pp) pp = 1 x 1 x h x c = 1x1x0,10x25 = 2,5 kN/m2


Revestimento = 1,0 kN/m2
Carga permanente g = 3,5 kN/m2

Carga acidental (sobrecarga) q = 2,0 kN/m2

Carga total p = g + q = 3,5 + 2,0 p = 5,5 kN/m2

LAJE L1

Figura 3.9 – Laje L1

Conforme a figura 3.9 essa laje em balanço suporta na sua extremidade um


parapeito de alvenaria de tijolos furados (alv = 13 kN/m3) com altura de 1,20 m e
espessura de 15 cm. Além das cargas normais da laje (p) devem ser aplicadas, se-
gundo o item 2.2.1.5 da NBR 6120:1980, ao longo de parapeitos e balcões uma car-

3.46
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ga horizontal de 0,8 kN/m na altura do corrimão e uma carga vertical mínima de 2


kN/m. As cargas em um metro de largura de laje é dada por: P = 4,34 kN, M = 0,96
kNm e p = 5,5 kN/m.
R = P + p x 1,025 = 4,34 + 5,5 x 1,025 R = 9,98 kN
X = P x 1,025 + p x (1,025) / 2 + 0,96 = 4,34 x 1,025 + 5,5 x (1,025)2 / 2 + 0,96
2

X = 8,30 kNm

Em algumas situações de projeto pode ser necessário determinar separada-


mente as reações e os momentos devidos às parcelas permanente (Rg e Xg) e aci-
dental (Rq e Xq).

Rg = 2,34 + 3,5 x 1,025 = 5,93 kN


R = Rg + Rq = 5,93 + 4,05 = 9,98 kN
Rq = 2 + 2 x 1,025 = 4,05 kN

Xg = 2,34x1,025+3,5x(1,025)2/2 = 4,24 kNm


X = Xq+Xq = 4,24+4,06 = 8,30 kNm
Xq = 2x1,025+2x(1,025)2/2+0,96 = 4,06 kNm

O valor do momento de serviço no engaste é dado por:

Xserv = Xg + Ψ2 Xq = 4,24 + 0,3 x 4,06 = 5,46 kNm (Ψ2 = 0,3 tabela 1.7)

O dimensionamento à flexão se dá em uma seção retangular 100/h, com a al-


tura útil dada no mínimo por d = h – 2,5 = 7,5 cm, para um cobrimento c = 2 cm (ta-
bela 2.8 para CAA I). Nota-se que aqui não foi feita a compensação de momentos
negativos por se tratar de uma laje em balanço. Além disso, em laje em balanço
(conforme NBR 6118:2014), o dimensionamento deve ser para um momento final
majorado por um coeficiente adicional n.

X = 830 kNcm Xd = n f X com f = 1,4 e n = 1,45 (tabela 3.4)

3.47
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Xd = 1,45 x 1,4 x 830 = 1685 kNcm

1685
K  0,164  K L  0,295  K'  K  0,164
1,821x100x7,5 2

1,821x100x7,5
A s  A s1 
43,48
 
1  1  2x0,164  5,68cm 2 /m CA 50

1,821x100x7,5
A s  A s1 
52,17
 
1  1  2x0,164  4,73cm 2 /m CA 60

Usando-se bitola Φ=8 mm (0,503 cm2, conforme tabela 1.4) tanto para aço CA
50 quanto para aço CA 60 obtém-se os seguintes espaçamentos:

s = 100 / (5,68 / 0,503) = 8,9 cm Φ=8 mm c/8 cm CA 50 (*)

s = 100 / (4,73 / 0,503) = 10,6 cm Φ=8 mm c/10 cm CA 60

Flecha

A flecha máxima na extremidade do balanço, segundo a teoria das estruturas,


é dada por:

f∞ = p∞ x 4 / (8EIeq) + P∞ x  3 / (3 EIeq) + M∞ x  2 / (2EIeq), com = 1,025 m.

p∞ = 2,46 x g + 0,738 x q = 2,46 x 3,5 + 0,738 x 2 = 10,09 kN/m

P∞ = 2,46 x G + 0,738 x Q = 2,46 x 2,34 + 0,738 x 2 = 7,23 kN equação (3.32)

M∞ = 2,46 x Mg + 0,738 x Mq = 2,46 x 0 + 0,738 x 0,96 = 0,71 kNm

3.48
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Para o cálculo de EIeq compara-se o valor do momento negativo de serviço


Xserv= 5,46 kNm com o momento de fissuração Mr dado na equação (3.16a):

Mr = 0,75 x h2 x (fck)2/3 = 0,75 x 102 (30)2/3 = 724 kNcm > Xserv Estádio I

EIeq = Ecs Ic rigidez equivalente igual a rigidez da seção bruta de concreto

Ecs = αi Eci αi=0,8+0,2(fck / 80)=0,8+0,2(30/80) = 0,875 ≤ 1,0 equação (1.6b)

Eci = αe 5600 (fck)1/2 = 1,0 x 5600 x (30)1/2 = 30672 MPa = 3,07 x 107 kN/m2 eq. (1.5a)
αe = 1,0 concreto com brita gnaisse

Ecs=0,875x3,07x107=2,69x107 kN/m2
Ecs Ic = 2,69x107x8,33x10-5=2238 kNm2
Ic = (1,00 x 0,103 /12) = 8,33 x 10-5 m4

f∞=10,09x1,0254/(8x2238)+7,23x1,0253/(3x2238)+0,71x1,0252/(2x2238)=1,95x10-3 m

f∞ ≈ 0,20 cm < fadm =  /125 = 102,5 /125 = 0,82 cm OK!

LAJE L2

A laje L2 é uma laje alongada em que o vão menor vale 2,20 m e o maior 9,00
m, portanto uma laje armada em uma direção. O primeiro trecho do lado direito des-
sa laje (vão a da viga V5) pode ser considerado engastado (continuidade com a laje
L4), já o segundo em função do vazado da fôrma tem de ser considerado simples-
mente apoiado (a viga V5 não teria rigidez suficiente à torção para engastar essa
laje).

Como o cálculo de uma laje armada em uma direção é equivalente ao de uma


viga sobre dois apoios com largura b = 100 cm, o primeiro trecho dessa laje pode ser
considerado apoiado sobre o vão a de V4 e engastado sobre o vão a de V5 (conti-

3.49
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nuidade com a laje L4). Do lado esquerdo dessa laje tem-se continuidade com a laje
em balanço L1, que normalmente é considerado como apoio simples.

Pode-se, no entanto, considerar L2 engastada na laje em balanço L1 desde


que o momento de engaste com a totalidade das cargas atuando em L2 seja menor
que o momento negativo de serviço da L1 (Xserv,L1 = 5,46 kNm) , ou ainda mais a fa-
vor da segurança, seja menor que o devido apenas às cargas permanentes (Xg,L1 =
4,24 kNm). Considerando nesse caso a pior situação de L2, ou seja, engastada em
L1 e apoiada do outro lado, o seu momento de engaste seria máximo e igual a
Xmax,L2=5,5x2,22/8=3,33 kNm. Esse valor é menor que Xg,L1=4,24 kNm e que portanto
poderia se considerar a laje L2 engastada em L1.

Um cálculo conservador para a laje L2 seria considerá-la simplesmente apoi-


ada em toda a continuidade com a laje L1 e do lado direito, engastada em L4 (vão a
da viga V5) e simplesmente apoiada no vão b da viga V5, devido ao vazado. Essa
consideração será a adotada nesse exemplo, conforme a figura 3.10, embora exista
uma situação ainda mais conservadora que seria também considerar L2 simples-
mente apoiada em toda a extensão da viga V5.

Figura 3.10 – Laje L2

3.50
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

O dimensionamento á flexão será realizado depois da compensação dos ne-


gativos não realizada na laje L1 por ser uma laje em balanço.

Flecha

Como os momentos positivos acima calculados com a carga total são meno-
res que o momento de fissuração Mr = 724 kNcm essa laje encontra-se no estádio I,
sendo a rigidez equivalente EIeq = Ec Ic = 2215 kNm2, ambos já calculados no exem-
plo da laje L1.

As flechas calculadas para as duas situações da laje L2 são (o valor de p∞ é o


mesmo da laje L1):

Trecho apoiado-engastado f∞ = 2 x 10,09 x 2,204 / (384 x 2238), eq. (3.17), K=2


f∞ = 5,5 x 10-4 m ≈ 0,06 cm < fadm = 220 / 250 ≈ 0,9 cm

Trecho apoiado-apoiado f∞ = 5 x 10,09 x 2,204 / (384 x 2238), eq. (3.17), K=5


f∞ = 1,4 x 10-3 m ≈ 0,14 cm < fadm = 220 / 250 ≈ 0,9 cm

LAJE L3

Figura 3.11 – Laje L3

3.51
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
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pa = 5,5 x 4 = 22 pa2 = 5,5 x 42 = 88

Ra = ra pa = 0,183 x 22 = 4,03 kN/m Ma = pa2 / ma = 88 / 25,1 = 3,51 kNm


R’b = r’b pa = 0,250 x 22 = 5,50 kN/m Mb = pa2 / mb = 88 / 36,2 = 2,43 kNm
R’’b = r’’b pq = 0,432 x 22 = 9,50 kN/m Xa = pa2 / na = 88 / 10,9 = 8,07 kNm

Alternativamente os coeficientes para os cálculos de R e M poderiam ser line-


armente interpolados.

Flecha

Como os momentos positivos acima calculados com a carga total são meno-
res que o momento de fissuração Mr = 724 kNcm, essa laje encontra-se no estádio I,
sendo o módulo Ecs = 2,66x107 kN/m2, ambos já calculados no exemplo da laje L1.

pa 4 10,09x4 4 400


f   f1 3
 0,039 7 3
 3,8x10 3 m  0,4cm   1,6cm OK
E cs h 2,66x10 x0,1 250

LAJE L4

Figura 3.12 – Laje L4

3.52
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Conforme a figura 3.12 a laje L4 tem uma continuidade com L3, na borda su-
perior, cuja extensão é de 457,5 cm, maior que (2/3) do comprimento do apoio, ou
seja, 457,5 > 0,67 x 580 = 387 cm. Quando isso ocorre pode-se considerar a laje L4
engastada na sua borda superior comportando como uma laje do tipo C.

pa = 5,5 x 5 = 27,5 pa2 = 5,5 x 52 = 137,5

R’a=r’a pa = 0,183x27,5 = 4,03 kN/m Ma=pa2/ma=137,5/27,4 = 5,02 kNm


R’’a=r’’a pa = 0,317x27,5 = 8,72 kN/m Mb=pa2/mb=137,5/38,2 = 3,60 kNm
R’b =r’b pa = 0,207x27,5 = 5,69 kN/m Xa = pa2/na=137,5/11,5 = 11,96 kNm
R’’b =r’’b pa = 0,358x27,5 = 9,85 kN/m Xb = pa2/nb=137,5/13,1 = 10,50 kNm

Flecha

Como os momentos positivos acima calculados com a carga total são meno-
res que o momento de fissuração Mr = 724 kNcm, essa laje encontra-se no estádio I,
sendo o módulo Ecs = 2,66x107 kN/m2, ambos já calculados no exemplo da laje L1.

pa 4 10,09x5 4 500


f   f1 3
 0,032 7 3
 7,6x10 3 m  0,8cm   2cm OK!
E cs h 2,66x10 x0,1 250

COMPENSAÇÃO DOS MOMENTOS

Compensação dos negativos (Unidade kNcm)


Entre X1 X2 0,8 Xmax Xmed
L2 – L4 333 1050 840* 692
L3 – L4 807 1196 957 1002*

Para as lajes L2 e L3 os momentos negativos finais compensados são maio-


res que os originais da condição de engaste perfeito, portanto os momentos positi-
vos finais dessas lajes, nas mesmas direções dos negativos correspondentes, deve-

3.53
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

rão ser menores que os iniciais, mas por segurança eles serão mantidos sem redu-
ção.

Para a laje L4 os momentos finais negativos compensados são menores que


os de engaste perfeito e os positivos em cada uma das direções deverão ser acres-
cidos do valor ΔM = 0,3 x (Xinicial - Xcompensado). Assim para as direções a e b os va-
lores finais dos momentos positivos ficam:

Ma,final = Ma,inicial + ΔM = 502 + 0,3 x (1196 – 1002) = 560 kNcm

Mb,final = Mb,inicial + ΔM = 360 + 0,3 x (1050 – 840) = 423 kNcm

Figura 3.13 – Representação em planta das reações e


momentos finais das lajes – Regime Elástico (R – kN/m e M – kNcm)

3.54
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

Na figura 3.13 estão representadas as reações de apoio com os seus valores


por metro e a sua localização em planta. Os valores dos momentos finais compen-
sados, tanto os negativos quanto os positivos, estão também indicados em planta.

DIMENSIONAMENTO

Dimensionamento à flexão
h=10 cm d=7,5 cm KL=0,295 (d/h) = 0,75
Momento
K As,cal (cm2) Bitola e espaçamento Aço
kNcm
4,65>(1,58)a Φ 8 c/10 cm CA 50(*)
X=1002 0,137
3,87>(1,58)a Φ 8 c/12,5 cm CA 60
3,84>(1,58)a Φ 8 c/13 cm CA 50(*)
X=840 0,115
3,20>(1,58)a Φ 6,4 c/10 cm CA 60
M=560 0,077 2,11>(1,06)b Φ 6 c/13 cm CA 60
M=423 0,058 1,56>(1,06)b Φ 5 c/12,5 cm CA 60
M=351 0,048 1,29>(1,06)b Φ 5 c/15 cm CA 60
M=333 0,046 1,22<(1,58)a Φ 5 c/12 cm CA 60
M=243 0,033 0,88<(1,06)b Φ 5 c/18 cm CA 60
M=187 0,026 0,68<(1,58)a Φ 5 c/12 cm CA 60

Os momentos finais que aparecem na figura 3.13 foram dimensionados em


ordem decrescente conforme a tabela acima. Para os momentos negativos, que são
os maiores, o dimensionamento foi obtido considerando-se tanto o aço CA 50, quan-
to o CA 60. O asterisco entre parênteses (*) indica a opção adotada, a mesma usada
para o dimensionamento do momento (negativo) da laje em balanço L1.

A medida que o momento diminui a armadura calculada pode ser inferior a


armadura mínima dada por ρsAc na equação (3.35) e na tabela 3.5. A letra (a) signi-
fica que tem-se ρs ≥ ρmin = 0,158% o que resulta em As,min = 0,158%x100x10 = 1,58
cm2/m. Essa é a armadura mínima adotada para momentos negativos (em geral) e

3.55
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

positivos para lajes armadas em uma direção. A letra (b) significa ρs ≥ 0,67 ρmin =
0,106%, resultando para momentos positivos em lajes armadas em duas direções
As,min = 0,106%x100x10 = 1,06 cm2/m.

DETALHAMENTO

Figura 3.14 – Detalhamento das armaduras positivas e negativas


Regime Elástico

A figura 3.14 apresenta o detalhamento das armaduras positivas e negativas


das lajes calculadas no regime elástico. As armaduras positivas (parte inferior da

3.56
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

laje) estão indicadas em linha contínua e as negativas (parte superior da laje) em


linha tracejada.

ARMADURAS POSITIVAS

O espaçamento máximo das barras tem que ser menor que 2h ou 20 cm na


região dos maiores momentos, valor atendido em todo o dimensionamento. Essas
barras deverão ser levadas até os apoios, de acordo o item 20.1 da NBR
6118:2014, não sendo possível o escalonamento das mesmas. Ainda de acordo es-
se item as barras deverão ser prolongadas no mínimo 4 cm além dos eixos teóricos
dos apoios.

Assim a posição N1 da figura 3.14 deve ter o seguinte comprimento mínimo:

N1,min = teórico + 4 + 4 = (200 + 10 + 10) + 8 = 228 cm < adotado = 235 cm

Adotou-se o valor 235 cm, maior que o mínimo necessário de 228 cm, obtido
da seguinte forma:

adotado = 0 + e1 + e2 – 2 x 2,5* = (200 + 20 + 20) - 5 = 235 cm


(*) maior que o cobrimento mínimo cmin = 2 cm

Dessa forma foram obtidos todos os outros comprimentos das barras positi-
vas.

ARMADURAS NEGATIVAS

As barras negativas deverão, no mínimo, ser prolongadas para cada lado dos
eixos dos apoios um quarto (0,25) do maior dos menores lados (vãos) das lajes con-
tíguas que se engastam. Nas extremidades, para garantir a perfeita ancoragem, as
barras deverão ser dobradas com um comprimento igual a (h – 2c = 10 – 2 x 2=6

3.57
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

cm). Quando a laje for em balanço, a armadura negativa deve ter o comprimento no
mínimo igual a duas vezes o vão do balanço.

Assim as barras negativas da posição N9, entre L3 (a=400 cm, b=457,5 cm) e
L4 (a=500 e b=580), devem se prolongar no mínimo (0,25x500) = 125 cm para cada
lado do eixo da viga V2. Dessa forma o trecho reto de N9 terá (125x2) = 250 cm e as
duas dobras extremas 6 cm, resultando o comprimento final de C = 262 cm. A posi-
ção N7 tem o comprimento reto no mínimo igual a duas vezes o vão do balanço
(2x110) = 220 cm. Com as duas dobras de 6 cm resulta o comprimento final C=232
cm.

A posição N8 resultou da possível superposição de N7 com o negativo entre


as lajes L2 e L3 (Φ8 c/13), observado o espaçamento de 8 cm (da laje em balanço)
entre as barras, a favor da segurança. Assim como N9, a posição N8 deve prolongar
125 cm além do eixo da V5, ficando o comprimento reto igual a
(100+20+200+10+125) = 455 cm.

A quantidade de barras (positivas ou negativas), em um determinado trecho é


obtida dividindo-se o comprimento livre do trecho pelo espaçamento calculado das
barras, adotando-se o número inteiro imediatamente superior dessa divisão.

LISTA DE FERROS

A lista de ferros mostrada na primeira tabela abaixo apresenta em ordem nu-


mérica todas as posições do desenho de armação com suas bitolas, quantidades e
comprimentos individuais. A segunda é o resumo da armadura usada no detalha-
mento da laje, contendo o tipo de aço, a bitola, o comprimento total de cada bitola e
o peso de cada tipo de aço. Tanto no detalhamento quanto na lista não estão apre-
sentados os ferros de montagem e amarração das armaduras.

O peso total das armaduras é de 372 kg para um volume de laje igual a 8,1
m3 dando um consumo de aço (372 / 8,1) = 46 kg/m3.

3.58
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

LISTA DE FERROS
Posição Φ Quantidade Comprimento (cm)
N1 5 74 235
N2 5 10 915
N3 5 22 470
N4 5 26 415
N5 5 39 595
N6 6 44 515
N7 8 53 232
N8 8 63 467
N9 8 44 262

RESUMO AÇO CA 50
Φ Comprimento (m) Peso (kg)
8 533 211
TOTAL 211
RESUMO AÇO CA 60
Φ Comprimento (m) Peso (kg)
5 710 110
6 227 51
TOTAL 161

REGIME RÍGIDO-PLÁSTICO

Quando se usa o regime rígido-plástico o valor limite para a profundidade re-


lativa da LN é (x/d)L = 0,25, para fck ≤ 50 MPa, resultando conforme a equação (3.8a)
o valor KL = 0,180. Esse valor limite supera o máximo valor de K = 0,164, calculado
para Xd,L1. Caso o valor de K fosse maior que KL, o recurso seria aumentar a altura,
uma vez que não se usa armadura dupla em lajes.

3.59
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

A laje em balanço L1 apresenta os mesmos valores calculados para o regime


elástico, tanto para reação de apoio quanto para o momento.

A laje L2 no trecho apoiado-apoiado têm as mesmas reações de apoio e mo-


mento positivo, já no trecho apoiado-engastado as reações e os momentos são da-
dos por:

RA = 0,387 pa = 0,387 x 5,50 x 2,20 = 4,68 kN/m

RE = 0,613 pa = 0,613 x 5,50 x 2,20 = 7,42 kN/m

M = pa2 / 13,33 = 5,50 x 2,202 / 13,33 = 2,00 kNm

X = 1,5 M = 1,5 x 2,00 = 3,00 kNm

A laje L3 apresenta as mesmas reações de apoio sendo os momentos obtidos


a partir dos coeficientes da tabela 3.9, para relação (b/a) = 1,14 ≈1,15.

ma = 22,1 mb = 48,8 Ma = 88 / 22,1 = 3,98 kNm = 398 kNcm

pa2 = 5,5 x 42 = 88 Mb = 88 / 48,8 = 1,80 kNm = 180 kNcm

Xa = 1,5 Ma = 1,5 x 398 = 597 kNcm Xb = 0

A laje L4 apresenta as mesmas reações de apoio sendo os momentos obtidos


a partir dos coeficientes da tabela 3.9, para relação (b/a) = 1,16 ≈1,15.

ma = 31,0 mb = 41,0 Ma = 137,5 / 31,0 = 4,44 kNm = 444 kNcm

pa2 = 5,5 x 52 = 137,5 Mb = 137,5 / 41,0 = 3,35 kNm = 335 kNcm


Xa = 1,5 Ma = 1,5 x 444 = 666 kNcm Xb = 1,5 Mb = 1,5 x 335 = 503 kNcm

3.60
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

As reações e os valores finais dos momentos para o regime rígido-plástico


estão apresentados em planta na figura 3.15 lembrando-se que nesse regime, por
simplicidade, não se faz compensação de momentos, adotando-se o maior negativo
entre as lajes.

Figura 3.15 – Representação em planta das reações e


momentos finais das lajes – Regime Rígido-plástico (R – kN/m e M – kNcm)

3.61
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

DIMENSIONAMENTO
Dimensionamento à flexão
h=10 cm d=7,5 cm KL=0,295
Momento
K As,cal (cm2) Bitola e espaçamento Aço
kNcm
X=666 0,091 3,00>(1,50)a Φ 8 c/16 cm CA 50
X=503 0,069 2,24>(1,50)a Φ 8 c/22 cm CA 50
M=444 0,061 1,64>(1,00)b Φ 5 c/11 cm CA 60
M=398 0,054 1,47>(1,00)b Φ 5 c/13 cm CA 60
M=335 0,046 1,23>(1,00)b Φ 5 c/15 cm CA 60
M=333 0,046 1,22< (1,50)a Φ 5 c/13 cm CA 60
M=200 0,027 0,73 <(1,50)a Φ 5 c/13 cm CA 60
M=180 0,025 0,65 <(1,00)b Φ 5 c/19 cm CA 60

Figura 3.16 – Detalhamento das armaduras – Regime Rígido-plástico

3.62
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

LISTA DE FERROS

LISTA DE FERROS
Posição Φ Quantidade Comprimento (cm)
N1 5 68 235
N2 5 10 915
N3 5 20 470
N4 5 30 415
N5 5 32 595
N6 5 51 515
N7 8 53 232
N8 8 63 467
N9 8 28 262

RESUMO AÇO CA 50
Φ Comprimento (m) Peso (kg)
8 491 194
TOTAL 194
RESUMO AÇO CA 60
Φ Comprimento (m) Peso (kg)
5 923 142
TOTAL 142

O peso total das armaduras é de 336 kg para um volume de laje igual a 8,1
m3 dando um consumo de aço (336 / 8,1) = 42 kg/m3.

3.9.2 – Exemplo 2

Calcular a flecha final para uma laje quadrada simplesmente apoiada em to-
das as bordas, destinada a um edifício comercial com sobrecarga de 4 kN/m2.

3.63
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

DADOS: fck = 20 MPa (fc = 1,214 kN/cm2) Aço CA 50


Vão a=b= 6 m h = 10cm d = 7,0 cm Regime elástico
Revestimento 1 kN/m2 brita calcaria

pp = 0,10 x 25 = 2,5 kN/m2 rev = 1,0 kN/m2 → g = 3,5 kN/m2


sobrecarga q = 4 kN/m2 →p=g+q → p = 7,5 kN/m2

Tabela 3.11 com (b/a)=1→ ma=mb=23,6→ Ma=Mb=pa2/ma=7,5x62/23,6=11,44 kNm

K = 0,269 < KL = 0,295 (regime elástico) → K’ = K = 0,269 As,cal = 6,27 cm2/m

Adotando-se Φ 10 c/12,5 cm → As,e = 6,28 cm2/m

Com ψ2 = 0,4 (tabela 1.7, para edifício comercial)

Msev = Ma = (g + ψ2q)a2 / ma = (3,5 + 0,4x4) x 62 / 23,6 = 7,78 kNm = 778 kNcm

Mr = 0,75 x h2 x (fck)2/3 = 0,75 x 102 (20)2/3 = 553 kNcm < Mserv Estádio II

αi = 0,8 + 0,2 (fck / 80) = 0,8 + 0,2 x (20/80) = 0,85 ≤ 1,0 equação (1.6b)
αe = 0,9 concreto com brita calcaria
Eci = αe 5600 (fck)1/2 = 0,9 x 5600 x (20)1/2 = 22540 MPa = 2,25 x 107 kN/m2 eq. (1.5a)

Ecs = αi Eci = 0,85 x2,25 x 107 = 1,91 x 107 kN/m2

n =(Es / Ecs) = (21 x 107 / 1,91 x 107) = 10,98

nA s 10,98x6,28 2ndA s 2x10,98x7x6,28


A   0,690 B   9,654
100 100 100 100

x II   A  A 2  B  0,690  0,690 2  9,654  2,493cm

3.64
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

100x 3II 100x2,4933


I II   nA s d  x II 2   10,98x6,28x 7  2,4932  1917cm4
3 3

100h 3 100x10 3
Ic    8333cm 4
12 12
 M 3  M 3  3
   553    553  3 
I eq   r  I c  1   r   I II     x8333  1     x1917  4221cm
4

 M a    Ma
     778 
    778  

12I eq 12x4221
h eq  3 3  7,97cm
100 100

p∞ = 2,46 (g + 0,4 q) = 2,46g + 0,984 x 4 = 12,55 kN/m2. Com f1 = 0,048 (tab. 3.10)

pa 4 12,55x6 4 600


f   f1  0,048  0,08m  8cm   2,4cm
E cs h 3eq 7
1,90x10 x0,08 3 250

A flecha final total (flecha imediata mais flecha diferida) deu maior que a fle-
cha admissível o que implica em aumentar a espessura da laje. Será adotada uma
nova altura de 12 cm.

p = 0,12 x 25 + 1 + 4 = 3 + 1 + 4 = 4 + 4 = 8 kN/m2

pserv = 4 + 0,4 x 4 = 5,6 kN/m2


p∞ = 2,46 x 4 + 0,984 x 4 = 13,78 kN/m2

M = 8 x 62 / 23,6 = 12,20 kNm = 1220 kNcm


Mserv = Ma = 5,6 x 62 / 23,6 = 8,54 kNm = 854 kNcm
Mr = 0,75 x 122 x (20)2/3 = 796 kNcm < Mserv Estádio II

M = 1220 kNcm K = 0,174 < KL As,cal = 4,83 cm2/m (CA 50)


Φ 10 c/16 cm As,e = 5,50 cm2/m

3.65
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Lajes
___________________________________________________________________________

A = 0,604 B = 10,870 xII = 2,783 cm III = 3053 cm4 Ieq =12242 cm4
Ic = 14400 cm4 heq = 11,37 cm f∞ = 0,031 m = 3,05 cm > fadm = 2,4 cm

Contra-flecha máxima ≤ / 350 = 1,71 cm.

Adotando-se uma contra-flecha de 1 cm, menor que a máxima permitida, a


flecha final fica:

(3,05 – 1) = 2,05 cm < fadm = 2,4 cm OK!

3.66
CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 4

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Julho 2015

CONTROLE DA FISSURAÇÃO
__________________________________________________________________________

4.1 – Introdução

Segundo o item 13.4.1 da NBR 6118:2014 a fissuração é um fenômeno inevi-


tável no concreto armado (não protendido), devido à sua baixa resistência à tração,
normalmente desprezada no projeto. Durante muito tempo a fissuração foi conside-
rada uma desvantagem do concreto armado, responsável por uma parcela importan-
te na corrosão das armaduras. Os estudos mais recentes atribuem à espessura e à
qualidade do concreto de cobrimento, as parcelas mais importantes contra a corro-
são das armaduras, ficando a fissuração responsável por uma corrosão localizada.

A baixa resistência à tração faz com que as estruturas de concreto funcionem


fissuradas já para baixos níveis de carregamento (ELS), reduzindo consideravelmen-
te a rigidez da estrutura (estádio II). A partir do início da fissuração, a distribuição
interna das tensões é bastante modificada e o concreto começa a apresentar com-
portamento não-linear.

Visando um melhor desempenho na proteção das armaduras contra a corro-


são e uma aceitabilidade sensorial dos usuários a abertura das fissuras deve ser
controlada adequadamente. Esse controle depende da classe de agressividade am-
biental mostrado na tabela 4.1, respeitando os valores limites da tabela 4.2.
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

Tabela 4.1 – Classes de agressividade ambiental (Tab. 6.1 da NBR 6118:2014)

Classe de Risco de dete-


Agressivi- Classificação geral do tipo de
agressivida- rioração da es-
dade ambiente para efeito de projeto
de ambiental trutura
Rural
I Fraca Insignificante
Submersa
II Moderada Urbanaa,b Pequeno
Marinhaa
III Forte Grande
Industriala,b
Industriala,c
IV Muito forte Elevado
Respingos de maré

(a) Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (uma
classe acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e
áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes
com concreto revestido com argamassa e pintura).
(b) Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) em
obras em regiões de clima seco, com umidade média relativa do ar menor ou igual a
65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos
ou regiões onde raramente chove.
(c) Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branquea-
mento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas.

“De uma maneira geral, a presença de fissuras com aberturas que respeitem os limi-
tes dados em 13.4.2,” (tabela 4.2) “em estruturas bem projetadas, construídas e
submetidas às cargas previstas na normalização, não implicam em perda de durabi-
lidade ou perda de segurança quanto aos estados limites últimos.”
“As fissuras podem ainda ocorrer por outras causas, como retração plástica
térmica ou devido a reações químicas internas do concreto nas primeiras idades,
devendo ser evitadas ou limitadas por cuidados tecnológicos, especialmente na de-
finição do traço e na cura do concreto”.

4.2
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

A fissuração inevitável não deve prejudicar a estética (sensibilidade sensorial


dos usuários), nem sua estanqueidade, quando requerida, além de não comprome-
ter a proteção da armadura contra a corrosão.

Segundo Tepedino (1980) “as aberturas máxima das fissuras, que se pode
admitir sem detrimento à aparência de uma peça e sem acarretar sentimentos de
alarma, depende da posição, profundidade, textura superficial e condições de ilumi-
nação das mesmas. Fatores tais como o tipo e a finalidade da estrutura, bem como
o próprio ponto de vista dos usuários e seu condicionamento psicológico face ao
problema, influem decisivamente na fixação de limites de aceitabilidade das fissuras,
sob o aspecto estético. A máxima abertura que em quaisquer condições jamais cau-
saria impacto psicológico está provavelmente compreendida entre 0,2 mm a 0,4
mm” (valores 0,2 e 0,4 atualizados).

Tabela 4.2 – Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção


da armadura passiva, em função das classes de agressividade ambiental.
(Adaptada da tabela 13.4 da NBR 6118:2014)

Tipo de concreto Classe de agressivi- Exigências relativas Combinações de


estrutural dade ambiental à fissuração ações em serviço a
(CAA) utilizar
Concreto simples CAA I a CAA IV Não há -
ELS-W
CAA I
wk,lim≤ 0,4 mm
ELS-W
Concreto armado CAA II a CAA III Frequente
wk,lim≤ 0,3 mm
ELS-W
CAA IV
wk,lim≤ 0,2 mm

4.3
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

Segundo o item 13.4.2 da NBR-6118:2014, desde que a abertura máxima ca-


racterística wk das fissuras não exceda valores da ordem de 0,2 mm a 0,4 mm, con-
forme a tabela 4.2, sob ação das combinações frequentes, isso não contribui signi-
ficativamente na corrosão das armaduras passivas.

Embora as estimativas de abertura de fissuras, feitas a seguir, devam respei-


tar os limites da tabela 4.2, não se deve esperar que as aberturas reais correspon-
dessem aos valores estimados, ou seja, fissuras reais podem ultrapassar eventual-
mente esses limites (item 13.4.2 da NBR 6118:2014). De uma maneira geral costu-
mam-se aceitar valores estimados até 20% superiores aos limites normatizados.

A estanqueidade é um dos aspectos mais importantes nos projetos de reser-


vatórios. Ela pode ser bastante prejudicada por fissuras maiores que os limites acei-
táveis, em torno de 0,2 mm. Essa situação se agrava porque a percolação de água
acelera corrosão da armadura. Nesse caso pode-se até adotar o estado limite de
formação de fissuras, que acarretaria paredes com espessuras maiores. Segundo o
item 13.4.3 da NBR 6118:2014 para controle mais efetivo da fissuração nessas es-
truturas é conveniente o uso da protensão.

Segundo a NBR-6118:2014 entende-se controle da fissuração quanto 0à


aceitabilidade sensorial, a situação em que as fissuras passam a causar desconforto
psicológico aos usuários sem, entretanto comprometer a segurança da estrutura.
Limites mais severos de abertura de fissuras podem ser adotados, de comum acor-
do com o contratante.

4.2 – Tipos de fissuras

As fissuras podem ser classificadas em dois grupos conforme elas sejam ou


não produzidas pela ação de cargas:

4.2.1 – Fissuras não produzidas por cargas


 Fissuras devidas ao abatimento do concreto ainda plástico.

4.4
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___________________________________________________________________________

 Fissuras devidas a alterações volumétricas (retração e efeitos tér-


micos), desde que a peça esteja restrita.
 Fissuras devidas à corrosão das armaduras.

4.2.2 – Fissuras produzidas por cargas

Figura 4.1 – Fissuras produzidas por cargas

4.3 – Estado limite de abertura das fissuras (ELS-W)

4.3.1 - Controle da fissuração através da limitação da abertura estimada das


fissuras

O item 17.3.3 da NBR-6118:2014 estabelece as condições necessárias para


a verificação dos valores limites para abertura das fissuras (tabela 4.2) nos elemen-
tos estruturais lineares, analisados isoladamente e submetidos à combinação de
ações conforme o item 11, dessa mesma norma.

4.5
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

O valor final da abertura das fissuras pode sofrer a influência de fatores de di-
fícil determinação, como por exemplo, as restrições às variações volumétricas e
também a das condições de execução da estrutura. Por essas razões os critérios
definidos a seguir, devem ser encarados como uma avaliação aceitável para o com-
portamento geral da estrutura, mas não garantem com precisão a abertura específi-
ca de uma fissura.

Para cada elemento isolado ou grupo de elementos da armadura passiva que


controlam a fissuração do elemento estrutural, deve ser considerada uma área Acr
do concreto de envolvimento, formada por um retângulo cujos lados não distam mais
que 7,5 do eixo do elemento da armadura, conforme mostrado na figura 4.2.

O valor da abertura estimada característica da fissura wk, determinada para


cada parte da área de envolvimento, é a menor entre as obtidas pelas expressões
abaixo:

Figura 4.2 – Concreto de envolvimento da armadura

4.6
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___________________________________________________________________________

 i σ si 3σ si
wk  (4.1)
12,5η1 E si f ctm

 i σ si  4 
wk    45  (4.2)
12,5η1 E si  ρ ri 

Onde:
 i, si, Esi, ri são definidos para cada área de envolvimento em exame;
 Acri é a área da região de envolvimento protegida pela barra i;
 Esi é o módulo de elasticidade do aço da barra considerada;
 ri é a taxa de armadura passiva em relação à área da região de
envolvimento Acri;
 si é a tensão de tração no centro de gravidade da armadura consi-
derada, calculada no estádio II;
 1 é o coeficiente de aderência da armadura considerada;
 fctm é o valor da resistência média ou característica do concreto à
tração dada nas equações (1.12).

O coeficiente de aderência 1 é dado na NBR 6118:2014 na tabela 8.3, cujos


valores estão apresentados na tabela 1.5.

4.3.1.1 – Cálculo da tensão si de forma aproximada

A tensão si deve ser calculada no estádio II, ou seja, o diagrama de tensões
de compressão no concreto linear, desprezando-se as tensões de tração. Uma ma-
neira de se obter de forma simples e aproximada essa tensão é segundo Tepedino
(1980):

f yd A s,cal
σ si  (4.3)
γf A se

4.7
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

Onde fyd é a tensão de cálculo ao escoamento da armadura, As,cal e Ase são


respectivamente, a armadura de tração calculada e aefetivamente colocada, ou exis-
tente, na seção transversal que se está verificando a fissuração.

O coeficiente f de ponderação das ações pode ser obtido de forma aproxi-


mada para combinação frequente, obra residencial 1=0,4, adotando-se para a soli-
citação permanente 70% da total e 30% para a solicitação acidental (esses percen-
tuais médios só devem ser usados quando não se dispõem dos valores reais).

Sd 1,4S gk  1,4S qk 1,4(S gk  S qk )  1,4S 1,4S


γf      1,7 (4.4)
S serv S gk  ψ 1S qk 1 S gk  0,4S qk  0,7S  0,4  0,3S 0,82S
1

A abertura estimada das fissuras, menor valor entre as equações (4.1) e (4.2),
deve ser verificada para cada área de envolvimento Acri com sua armadura Asi. No
entanto, de forma simplificada, será usada a área total de aço Ase como o somatório
das áreas das barras isoladas Asi e a área total de envolvimento das armaduras Acr
como o somatório das áreas de envolvimento Acri. Da mesma forma resultando inte-
ressada na fissuração Acr pode ser obtida pelo somatório das áreas de envolvimento
Acri de cada barra tracionada e, portanto a taxa total r pode também ser dada como
o somatório das taxas da armadura ri envolvida em cada área Acri. Assim:

Acr =  Acri (4.5)

A si ΣA si A
ρ r  Σρ ri  Σ   se (4.6)
A cri ΣA cri A cr
Analogamente

A s,cal
ρ r,cal  (4.7)
A cr

Como consequência a equação 4.3 pode ser reescrita:

4.8
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___________________________________________________________________________

f yd ρ r,cal
σ si  (4.8)
γf ρr

Levando-se a equação (4.8) nas expressões das aberturas wk estimadas de


fissuras, equações (4.1) e (4.2), e substituindo wk por w k,lim (aberturas limites das
fissuras da tabela 4.2), obtém-se duas novas equações onde a única incógnita será
a relação (rcal / r), ou inversamente (r /rcal) = (Ase /As,cal). Como para calcular a
abertura estimada, adota-se o menor valor de wk, agora para atender a fissuração
para o valor limite wk,lim, será adotada a menor relação (Ase /As,cal), equações (4.13)
e (4.16) adiante, lembrando-se que em nenhuma hipótese essa relação poderá ser
menor que 1. Não se pode adotar uma relação menor que 1 porque isso significaria
usar uma armadura inferior àquela calculada à flexão, que atende aos requisitos do
estado limite último.Do exposto vem:

 f yd  ρ r,cal   f yd ρ r,cal 
   3  
γ  ρ  
i  f  r   γ f ρr 
w k,lim  (4.9)
12,5η1 E si f ctm

 f yd   ρ r,cal 
  
γ  ρ
i  f  r   4 
w k,lim 
12,5η1 E si  ρ  45  (4.10)
 r 

Reescrevendo-se a equação (4.9) para (r /r,cal) = (Ase /As,cal) e fazendo-se


conforme Tepedino (1980):

 i f yd
aw  (4.11)
12,5η1 γ f E si w k,lim

tem-se:

2
3a w f yd  A s,cal 
1   (4.12)
γ f f ctm  A se 

4.9
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___________________________________________________________________________

Portanto, pela primeira das equações de wk a relação entre as áreas efetiva-


mente colocada ou existente Ase e a calculada As,cal fica:

A se 3a w f yd
 1 (4.13)
A s,cal γ f f ctm

Analogamente reescrevendo-se a equação 4.10 em função de aw, obtém-se:

ρ r,cal  4  ρ r,cal
1  aw   45   a w 4  45ρ r  (4.14)
ρr  ρr  ρr 2

Resolvendo-se a equação acima do segundo grau em r, obtém-se o valor


possível para r:

ρ r  22,5a w ρ r,cal  22,5a w ρ r,cal 2  4a w ρ r,cal (4.15)

ou

ρr A se 4a w
  22,5a w  22,5a w 2  1 (4.16)
ρ r,cal A s,cal ρ r,cal

Para atender a fissuração deve-se adotar a menor relação obtida nas equa-
ções (4.13) e (4.16). Caso uma delas inicialmente resulte em um número menor que
1, significa que a armadura já calculada à flexão As,cal, atende à fissuração e portan-
to naturalmente não precisa verificar a outra relação.

Particularizando-se a verificação da fissuração para aço CA 50, o valor de aw


dado na equação (4.11) fica:

i
a w  7,361  10 5 (4.17)
γ f Wk

4.10
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___________________________________________________________________________

As equações (4.13) e (4.16) representam a verificação da fissuração quando


se usa de forma simplificada a tensão σsi no estádio II.

4.3.1.2 – Cálculo da tensão si no Estádio II

A tensão de serviço si foi calculada no item anterior com o valor aproximado
dado pela equação (4.3). Essa tensão será calculada agora, como recomenda a
NBR-6118:2014, ou seja, no estádio II. Para isto seja a figura 4.3, onde uma seção
transversal está apresentada com sua armadura de compressão A’s e de tração As,
assim como a profundidade da linha neutra no estádio II, xII.

Figura 4.3 – Seção retangular genérica para cálculo de xII

Inicialmente deve-se homogeneizar a seção, isto é, transformá-la em um úni-


co material, normalmente no material com menor módulo de elasticidade, no caso o
concreto, usando a seguinte relação entre os módulos:

n = Es / Ecs (4.18)

Em seguida obtém-se a profundidade da linha neutra xII, que passa pelo cen-
tro geométrico da seção homogeneizada, igualando-se por definição de CG, o mo-
mento estático das áreas acima da LN (b.xII e nA’s) com o da área abaixo (nAs).

4.11
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___________________________________________________________________________

bX II  X II  A's X II  d'  nA' s X II  d'  nA s d  X II  (4.19)


2

O primeiro termo de (4.19) refere-se ao momento estático da área bXII em re-


lação à linha neutra. Essa área inclui a área A’s cujo momento estático já está con-
templado no primeiro termo de (4.19). Isso justifica o sinal negativo do segundo ter-
mo dessa equação. A área de aço comprimida transformada em uma área equiva-
lente de concreto fica nA’s, cujo momento estático em relação à LN é dada no tercei-
ro termo de (4.19).

Agrupando-se o segundo e terceiro termo de (4.19) obtém-se:

(n – 1) A’s (XII – d’) = n’ A’s (XII – d’) com n’ = (n – 1) (4.20)

Levando-se (4.20) em (4.19) obtém-se a seguinte equação do segundo grau


em XII:

2
bX II
 nA s  n' A's X II  nA s d  n' A's d'  0 (4.21)
2

Que depois de resolvida fornece:

x II   A  A 2  B (4.22a)
Com

nA s  n' A's 


A (4.22b)
b

2nA s d  n' A's d'


B (4.22c)
b

4.12
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___________________________________________________________________________

O momento interno da região comprimida do concreto e das armaduras As e


A’s em relação à LN é dado por:

2
bX II
M LN  σ c  A's σ'c X II d'  A's σ's X II  d'  A s σ s d  X II  (4.23)
3

Por semelhança de triângulos no diagrama de tensões da figura 4.3 as ten-


sões de compressão e de tração nas armaduras são relacionadas com a tensão má-
xima de compressão no concreto σc.

σ' σs
σ' c  s
σc n  n
 (4.24a)
X II X II  d' d  X II

σ'c 
X II  d' σ (4.24b)
c
X II

nX II  d'
σ's  σc (4.24c)
X II

nd  X II 
σs  σc (4.24d)
X II

Levando-se esses valores na equação (4.23) obtém-se:

 bX 2 A' X d'2 nA's X II d'2 nA s d  X II 2  I


M LN   II  s II   σ c  II σ c (4.25)
 3 X II X II X II  X II

De onde se tira o valor de III

bX II 3
I II   nA s d  X II   n' A's X II  d'2 (4.26)
3

4.13
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___________________________________________________________________________

Para o concreto a tensão máxima de compressão no estádio II, é dada por:

M LN  M serv
σc  X II (4.27)
I II

As tensões nas armaduras são dadas por:

M LN
σ' s  n x II  d' Armadura comprimida (4.28a)
I II

M LN
σ s  σ si  n d - x II  Armadura tracionad a (4.28b)
I II

4.3.2 – Controle da fissuração sem a verificação da abertura de fissuras

De acordo o item 17.3.3.3 da NBR 6118:2014, “Para dispensar a avaliação da


grandeza da abertura de fissuras e atender ao estado limite de fissuração (para
aberturas máximas esperadas da ordem de 0,3 mm para o concreto armado e
0,2mm para o concreto com armaduras ativas), um elemento estrutural deve ser di-
mensionado respeitando as restrições da tabela 17.2”, (4.4) abaixo, “quanto ao diâ-
metro máximo (max) e ao espaçamento máximo (smax) das armaduras passivas, bem
como as exigências de cobrimento (Seção 7) e de armadura mínima (ver 17.3.5.2).
A tensão s deve ser determinada no estádio II.”

4.14
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___________________________________________________________________________

Tabela 4.4 – Valores máximos de diâmetro e espaçamento, com barras de alta


aderência. – Tab. 17.2 da NBR 6118:2014

Valores máximos
Tensão na
Concreto sem armaduras Concreto com armaduras ati-
barra
ativas vas
s ou Δσpi
max (mm) smax (cm) max (mm) smax (cm)
(MPa)
160 32 30 25 20
200 25 25 16 15
240 20 20 12,5 10
280 16 15 8 5
320 12,5 10 6 -
360 10 5 - -
400 8 - - -

Δσpi é o acréscimo de tensão na armadura protendida aderente entre a total


obtida no estádio II e a protensão após as perdas.

4.4 – Exemplos

4.4.1 – Exemplo 1

Estimar o valor da abertura de fissura para uma viga de seção retangular


20X40 cm2, fck = 20 MPa, aço CA 50, momento fletor solicitante M = 4000 kN.cm,
obra urbana, cobrimento c = 2,5 cm, para as seguintes bitolas:
a)  = 16 mm
b)  = 12,5 mm

Cálculo da armadura de flexão

fck = 20 MPa,  fc = 1,214 kN/cm2 d = 36 cm  k = 0,178 < KL = 0,295

4.15
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___________________________________________________________________________

As,cal = 3,97 cm2 2  16 mm (4,02 cm2)  7,5 = 12 cm


4  12,5 mm (4,91 cm2)  7,5 = 9,375 cm

Figura 4.4 – Detalhamentos da seção transversal para o exemplo 1

No detalhamento para 2  16 mm (figura 4.4) o valor correto para a distância


d’’ seria (c + t + 0,5ΦL) = (2,5 + 0,5 +0,5 x 1,6) = 3,8 cm, mas foi adotado o valor d’’
= 4* cm, o que implica em d = 36 cm, valor considerado no cálculo da armadura. O
valor (7,5  = 12 cm) só pode ser aplicado acima do eixo das duas barras. Para bai-
xo o valor disponível é de 4* cm, mesmo valor adotado para as distâncias laterais.
Entre os centros das duas barras resulta 12** cm, ficando para cada barra uma regi-
ão de envolvimento Acr1 = Acr2 = (10 x 16 = 160 cm2). Nessa situação ρr1 = ρr2 = Asi /
Acri = 2,011 / 160 = 0,0126, mesmo valor para ρr = Ase / Acr = 4,02 / 320 = 0,0126.

Analogamente, no detalhamento para 4  12,5 mm, o valor 4* cm foi adotado


tanto para d’’ quanto para as distâncias laterais. Dessa forma resulta para as barras
laterais Acr1 = Acr4 = (4 + 0,5 x 4) x (13,375) = 80,25 cm2. Para as duas barras centrais
Acr2 = Acr3 = (4) x (13,375) = 53,5 cm2. Assim ρr1 = ρr4 = Asi / Acri = 1,227 / 80,25 =

4.16
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0,0153 e ρr2 = ρr3 = Asi / Acri = 1,227 / 53,5 = 0,0229. O valor de ρr = Ase / Acr = 4,91 /
267,5 = 0,0183.

 DETALHAMENTO PARA 2  16 mm

Nesse detalhamento tanto faz calcular as aberturas previstas das fissuras pa-
ra cada barra isoladamente ou para as duas conjuntamente, isso porque ρri = ρr =
0,0126. Será adotada a tensão de serviço no estádio II de forma aproximada, con-
forme equação (4.3), com γf = 1,7 (valor aproximado a ser usado quando não se co-
nhece as parcelas permanente e acidental do carregamento).

Pela equação (1.13a) para fck = 20 MPa < 50 MPa a resistência média à tra-
ção é dada por: fctm = 0,3 (fck)2/3 = 0,3 x (20)2/3 = 2,21 MPa = 0,221 kN / cm2. De (4.3)
a tensão de serviço aproximada fica:

f yd A s,cal 43,48 3,97


σ si    25,26kN/cm 2
γf A se 1,7 4,02

Pela equação (4.1)

Φ i σ si 3σ si 16 25,26 3x25,26
wk    0,24mm
12,5η1 E si f ctm 12,5x2,25 21000 0,221

Pela equação (4.2)

Φ i σ si  4  16 25,26  4 
wk    45     45   0,25mm
12,5η1 E si  ρ ri  12,5x2,25 21000  0,0126 

Como se deve adotar o menor dos valores, a abertura estimada da fissura é


de wk = 0,24 mm < wk,lim = 0,3 mm, de acordo a tabela 4.2 para CAA II, ambiente
urbano. Nesse caso o estado limite de fissuração foi atendido.

4.17
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___________________________________________________________________________

 DETALHAMENTO PARA 4  12,5 mm

Nesse detalhamento as áreas de envolvimento Acri das barras laterais e das


barras internas são diferentes, assim como as taxas ρri. Essa diferença afeta ape-
nas o cálculo da abertura prevista pela equação (4.2).

f yd A s,cal 43,48 3,97


σ si    20,68kN/cm 2
γf A se 1,7 4,91

Pela equação (4.1) para as 4 barras

Φ i σ si 3σ si 12,5 20,68 3x20,68


wk    0,12mm
12,5η1 E si f ctm 12,5x2,25 21000 0,221

Pela equação (4.2) para as barras laterais ρr1 = ρr4 = 0,0153

Φ i σ si  4  12,5 20,26  4 
wk    45     45   0,13mm
12,5η1 E si  ρ ri  12,5x2,25 21000  0,0153 

Para as barras internas ρr2 = ρr3 = 0,0229

Φ i σ si  4  12,5 20,26  4 
wk    45     45   0,09mm
12,5η1 E si  ρ ri  12,5x2,25 21000  0,0229 

Entre os dois valores obtidos pela equação (4.2) deve-se adotar, a favor da
segurança ao ELS-W, o que conduz à maior abertura prevista da fissura (w k = 0,13
mm) . Esse valor é sempre obtido para a barra com a menor taxa ρri, no caso as
barras 1 e 3 desse detalhamento.

O valor final da abertura prevista da fissura é de wk = 0,12 mm < wk,lim = 0,3


mm. Esse valor é menor que o apresentado para  = 16 mm por dois motivos: pri-

4.18
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

meiro porque  = 12,5 mm <  = 16 mm e segundo devido a relação entre as áreas


calculada e existente ser menor para  = 12,5 mm (Ase,=12,5 = 4,91 cm2 > Ase,=16 =
4,02 cm2).

Considerando-se o valor ρr = Ase / Acr = 4,91 / 267,5 = 0,0183

Φ i σ si  4  12,5 20,26  4 
wk    45     45   0,11mm
12,5η1 E si  ρ ri  12,5x2,25 21000  0,0183 

Analisando-se os três valores de abertura prevista da fissura dados pela


equação (4.2), wk = 0,09 mm, wk = 0,11 mm e wk = 0,13 mm, nota-se que o menor
valor, wk = 0,09 mm é obtido para o maior valor da taxa ρri = 0,0229. Com o valor de
ρr = 0,0183, para a armadura total Ase e área total de envolvimento Acr, a abertura wk
= 0,11 mm é aproximadamente 8% menor que o valor final. Como comentado pela
NBR 6118:2014, a abertura real pode eventualmente ser maior que a estimada e
devido a incomensurável variação dos fatores envolvidos, até 20% de diferença po-
de ser aceitável.

4.4.2 – Exemplo 2

Com os mesmos dados do exemplo 1, verificar a fissuração para a bitola  =


12,5 mm, usando-se as fórmulas (4.13) e (4.16).

Como foi visto no exemplo 1, a bitola de 12,5 mm atende à fissuração para


uma abertura limite wk,lim = 0,3 mm para as duas equações de cálculo estimado das
fissuras. Portanto ao se fazer a verificação pelas fórmulas (4.13) e (4.16), em ambas,
a relação entre as áreas existente e calculada deve ser menor que 1, embora não se
possa adotar essa relação para atender ao ELU de flexão.

Para f = 1,7, aço CA 50, com wk,lim = 0,3 mm de (4.17) resulta:

4.19
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

Φi 12,5
a w  7,361 10 5  7,361x105  1,804x103
γ f Wk 1,7x0,3

De (4.13):

A se 3a w f yd 3x1,804x10 -3 x43,48 A se
   0,79  1  1
A s,cal γ f f ctm 1,7x0,221 A s,cal

Como a relação das áreas foi menor que 1, a fissuração é aceitável, não ne-
cessitando mais verificar pela segunda equação. Mesmo assim usando-se (4.16)
com (22,5 aw = 22,5 x 1,804 x 10-3 = 0,0406) e ρr,cal = As,cal / Acr = 3,97 / 267,5 =
0,0148, obtém-se:

-3
A se
 22,5a w  22,5a w 2  4a w  0,0406  0,04062  4x1,804x10  0,74  1
A s,cal ρ r,cal 0,0148

Como esperado a relação também foi menor que 1, implicando em Ase = As,cal
= 3,97 cm2. Portanto deve-se usar a mesma armadura calculada, que é atendida
com 4  12,5 mm.

4.4.3 – Exemplo 3

Verificar a fissuração para uma viga biapoiada com 6m de vão, carga total p =
40 kN/m, sendo a carga permanente g = 30 kN/m e a acidental q = 10 kN/m, seção
de 20x60 cm2, concreto fck = 35 MPa, aço CA 50, destinada a edifício residencial em
obra urbana. Adotar  = 20 mm (3,142 cm2).

Obra urbana  (CAA II)  wk,lim = 0,3 mm Cobrimento  c = 3 cm.

Para o cálculo à flexão, considerando-se uma única camada com barras  = 20


mm, a altura útil será dada por:

4.20
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

d = h - c - estribo - (0,5 longitudinal) = 60 - 3 - 0,5 - 0,5 x 2 = 55,5 cm

 CÁLCULO À FLEXÃO

fc = 0,85 x 3,5 / 1,4 = 2,125 kN / cm2

M = 40 x 62 / 8 = 30 x 62 / 8 + 10 x 62 / 8 = 135 (Mg) + 45 (Mq) = 180 kN.m

K = 18000 x 1,4 / (2,125 x 20 x 55,52) = 0,192 < KL = 0,295  K’ = K = 0,192

As = As1 = (2,125 x 20 x 55,5 / 43,48) x (1 – 2 x 0,192)(1/2) = 11,71 cm2

 Usando-se 4  20 mm  Ase = 12,57 cm2

A’s = As2 = 0

 CÁLCULO DO VALOR f

Fd Md γ g M gk  γ q M qk 1,4x135  1,4x45 252


γf       1,65
Fserv M serv M gk  ψ1M qk 135  0,4x45 153

Os valores de g e q, para combinação última normal no ELU, estão apresen-


tados na tabela 1.6 e o valor de ψ1, para combinação frequente no ELS, na tabela
1.7.

De qualquer forma o valor final de Md é sempre 252 kNm, ou seja:

Md = 1,4 x M = f x M,serv = 1,4 x 180 = 1,65 x 153 = 252 KN.m

 VERIFICAÇÃO DA FISSURAÇÃO

bútil = b – 2(c + L) = 20 – 2 x (3 + 0,5) = 13 cm


4.21
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

b útil  a h 13  2
n Φ/cam    3,75 4  20 mm na 1a camada
a h  Φ long 22

1  20 mm na 2a camada

Figura 4.5 – Detalhamento da seção transversal para o exemplo 3

A armadura, conforme detalhada na fig. 4.5, mostra que os valores corretos


de d’’ = (3x4,5 + 1x8,5) / 4 = 5,5 cm e d = 60 – 5,5 = 54,5 cm, são diferentes dos ado-
tados, resultando um novo valor corrigido da armadura As,corr = 11,98 cm2 < Ase =
12,57 cm2 (OK).

 Verificação para si aproximado usando-se as equações (4.13) e (4.16)

Conforme a equação (4.8) a tensão si aproximada é dada por:

f yd A s,cal 43,5 11,71


σ si,aprox    24,56kN/cm 2
γ f A s,e 1,65 12,57

4.22
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

Para fck = 35 MPa, f = 1,65, aço CA 50, com wk,lim = 0,3 mm e

fctm = 0,3 (fck)2/3 = 0,3 x (35)2/3 = 3,21 MPa = 0,321 kN / cm2, tem-se:

Φi 20
a w  7,361 10 5  7,361x105  2,974x103
γ f Wk 1,65x0,3

A se 3a w f yd 3x2,974x10 -3 x43,48 A se
   0,86  1  1
A s,cal γ f f ctm 1,65x0,321 A s,cal

Portanto a fissuração é aceitável, evitando-se assim a verificação pela segun-


da equação. Mesmo assim a verificação será feita, usando-se nesse cálculo simplifi-
cado o valor de ρr,cal = As,cal / Acr = 11,71 / 470 = 0,0249. Com (22,5 aw) = 22,5 x 2,97
-3
x 10 = 0,0669, obtém-se:

-3
A se 4a w
 22,5a w  22,5a w 2   0,0669  0,06692  4x2,974x10  0,76  1
A s,cal ρ r,cal 0,0249

Mesmo que nessa segunda equação a relação fosse maior que 1, o ELS-W
já foi verificado na primeira.

 Verificação para si no estádio II

Nesse caso não se usam as equações (4.13) e (4.16). O cálculo da tensão si
no estádio II, depende do detalhamento final da armadura (figura 4.5). Conforme o
cálculo à flexão, A’s = 0. Para a montagem das barras transversais (os estribos), de-
ve-se ter em cada um dos seus vértices, mesmo quando não exigida pelo cálculo,
uma barra longitudinal. Nesse caso as duas barras longitudinais superiores, denomi-
nadas como “porta estribos” ou “monta estribos”, são comumente adotadas com bi-
tola no mínimo igual à dos estribos, ou seja,  ≥ 5 mm. Usando-se então, 2  5 mm,
como “porta estribos”, o A’s = 2x0,196 = 0,39 cm2.

4.23
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

Para fck ≤ 50 MPa e concreto produzido com brita gnaisse (αe = 1,0) vem:

E ci  α e 5600 f ck  1,0x5600 35  33130MPa  3313kN/cm 2

f ck 35
α i  0,8  0,2  0,8  0,2x  0,89 E cs  α i E ci  0,89x3313  2940kN/cm2
80 80

Com a relação entre os módulos do aço e do concreto n = 21000 / 2940 =


7,14, n’ = n – 1 = 6,14, As = Ase = 12,57 cm2, A’s = 0,39 cm2, d = 55 cm, d’ = 4 cm,
obtém-se:

A = (7,14 x 12,57 + 6,14 x 0,39) / 20 = 4,61


B = 2 x (7,14 x 12,57 x 55 + 6,14 x 0,39 x 4) / 20 = 494,58

X II   A  A 2  B  4,61  4,612  494,58  18,10cm

20x18,10 3
I II   7,14x12,5755  18,102  6,14x0,39(18,10  4) 2  162212cm 4
3

Para Mserv = 153 kNm obtém-se:

M serv 15300
σ si  n (d  X II )  7,14x 55  18,10  24,85kN/cm 2  σ si,aprox  24,56kN/m 2
I II 162212

Pela equação (4.1) a abertura prevista da fissura independe da taxa ρri de ca-
da barra da armadura de flexão, tendo um valor único:

Φ i σ si 3σ si 20 24,85 3x24,85
wk    0,20mm
12,5η1 E si f ctm 12,5x2,25 21000 0,321

Pela equação (4.2) a barra que tiver a menor taxa ρri terá o maior valor da
abertura prevista da fissura, wk. Se todas as barras de flexão têm a mesma bitola, a

4.24
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Fissuração
___________________________________________________________________________

que apresenta a menor taxa ρri é aquela que tem a maior área de envolvimento Acri.
No detalhamento da figura 4.5 essa barra é a da segunda camada (barra 4), cujo
valor de ρri = ρr4 = 0,0207 .

Φ i σ si  4  20 24,85  4 
wk    45     45   0,20mm  w k,4
12,5η1 E si  ρ ri  12,5x2,25 21000  0,0207 

Para a barra central da primeira camada, barra 2, tem-se a maior taxa ρr2 =
0,0879 e consequentemente a menor abertura wk,2 , dada por:

20 24,85  4 
w k,2    45   0,08mm
12,5x2,25 21000  0,0879 

A segurança ao estado limite de fissuração, ELS-W, será tanto maior quanto


maior for a previsão da abertura da fissura. Nesse caso adotando-se, como feito no
cálculo de σsi aproximado, a taxa geométrica total de armadura (ρr = 0,0267), ob-
tém-se o valor wk = 0,16 mm. Esse valor é menor que wk,4 = 0,20 mm, portanto con-
tra a segurança com uma diferença de 20%, ainda considerada aceitável.

4.25
CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 5

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Julho 2015

CISALHAMENTO
__________________________________________________________________________

5.1 – Tensões de cisalhamento

Considere, apenas por simplicidade, uma seção retangular submetida à flexão


simples inicialmente no Estádio I, ou seja, o concreto ainda não fissurado (fig. 5.1).
Conforme as hipóteses da Resistência dos Materiais, o diagrama de tensões de ci-
salhamento (ou tangenciais) e o diagrama de tensões normais estão indicados res-
pectivamente nas fig. 5.1b e fig.5.1c. Na fig. 5.1b,  representa a tensão de cisalha-
mento para pontos distantes y da linha neutra LN dada por:

VQ  V  b w  h  2 
τ      y 2  (5.1)
b w I  b w I  2  2  

Onde V é a força cortante atuante (solicitante) na seção transversal, Q e I


são, respectivamente, o momento estático da área A1 acima de y e o momento de
inércia da seção, ambos em relação à linha neutra LN.

O valor de  atinge o seu valor máximo o, quando y = 0, ou seja, na linha


neutra, onde Qmax = Q0 = (bw h2 / 8). Nessas condições, para um diagrama linear de
tensões normais a relação (I / Qo) = (2/3) h = Z, conforme a fig. 5.1c, representa o
braço de alavanca entre as resultantes de compressão Rcc e de tração Rtc no con-
creto, podendo a equação (5.1) ser reescrita como:
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

Figura 5.1 – Viga com seção retangular submetida à flexão simples (Estádio I)

VQ 0 V V
τ0    (5.2)
bwI I bw Z
bw
Q0

As equações (5.1) e (5.2) foram obtidas com as hipóteses da Resistência dos


Materiais considerando-se material homogêneo, ou seja, concreto não fissurado,
sendo portanto só aplicáveis no Estádio I, situação de ocorrência pouco comum para
peças de concreto armado.

Considerando-se agora o concreto já fissurado, funcionando no Estádio II, as


equações (5.1) e (5.2) serão válidas desde que se despreze a resistência do concre-
to tracionado abaixo da LN, considere distribuição linear de tensões de compressão
no concreto e, além disso, que a seção seja homogeneizada. A área da armadura de
tração As se transformará em nova área equivalente deconcreto igual a (nAs), com
“n” igual a relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto. Nesse
caso, ainda conforme as hipóteses da Resistência dos Materiais para materiais
compostos, a determinação da LN, que coincide com a profundidade da área com-

5.2
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

primida, é obtida pela igualdade entre os momentos estáticos dessa área e da área
tracionada (n As) em relação à LN.

O dimensionamento no estado limite último para flexão simples, Estádio III,


pressupõe diagrama parabólico (simplificado em retangular) de tensões de com-
pressão no concreto oriundas do momento fletor de cálculo Md, de modo que não
valem mais as equações (5.1) e (5.2), caso se pretenda obter com as mesmas o
braço de alavanca Z, como relação entre I e Qo. No entanto a equação (5.2) conti-
nua válida desde que se adote para Z no estado limite último, o mesmo valor já obti-
do no dimensionamento à flexão, ou seja:

Z = d – 0,4 x = Kz d (5.3)

No intuito de simplificar o cálculo adota-se um valor médio para Kz conforme a


NBR 6118 (2014) igual a 0,9, ficando portanto a tensão máxima de cisalhamento,
equação (5.2), agora na situação de cálculo, dada por:

Vd 1,11 Vd
τ 0d   (5.4)
b w 0,9d  bw d

Onde 0d e Vd são, respectivamente a tensão máxima de cisalhamento e a


força cortante de cálculo.

Define-se a partir da equação (5.4) uma tensão convencional de cisalhamento


de cálculo, dada por:

Vd
τ wd  (5.5)
bw d

que não tem significado físico, apenas servirá de referência para verificações futuras
da resistência da peça ao cisalhamento. Já a tensão dada pela equação (5.4) tem

5.3
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

significado físico, representando a máxima tensão de cisalhamento na seção trans-


versal, que pode ser reescrita conforme (5.5) como:

0d = 1,11 wd (5.6)

5.2 – Elementos lineares sujeitos à força cortante (Item 17.4 da NBR 6118:2014)

5.2.1 – Hipóteses básicas (17.4.1 da NBR 6118:2014)

 As prescrições que se seguem aplicam-se a elementos lineares, armados ou pro-


tendidos, submetidos à força cortante, eventualmente combinada com outros esfor-
ços.

 Não se aplicam, portanto, a elementos de volume (ex.: bloco de fundação), lajes


(tratada separadamente), vigas parede e consolos curtos.

Figura 5.2 – Elementos estruturais que não atendem as prescrições


regulamentares da NBR 6118:2014 (item 17.4.1)

As condições fixadas pela NBR-6118:2014 pressupõem a analogia com o


modelo em treliça de banzos paralelos, conforme fig. 5.3, e admitem dois modelos

5.4
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

de cálculo em função da inclinação “ɵ” das “bielas” de compressão. Associados a


esse modelo admitem ainda, mecanismos resistentes complementares, represen-
tado por uma componente adicional denominada Vc.

Figura 5.3 – Modelo de funcionamento de viga ao cisalhamento como treliça

5.2.2 – Condições gerais (item 17.4.1.1.1 da NBR 6118:2014)

Todos os elementos lineares submetidos à força cortante, com exceção dos


casos indicados no item seguinte, devem conter armadura transversal mínima
Asw,min constituída por estribos com taxa geométrica dada por:

A sw,min 0,2 f ctm


ρ sw,min   (5.7)
b w s senα f ywk

Onde bw é a largura média da alma, s é o espaçamento longitudinal dos estri-


bos inclinados de um ângulo , fctm é a resistência média à tração do concreto e fywk
é a resistência característica ao escoamento do aço da armadura transversal.

5.5
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

A resistência média à tração fctm é dada nas equações (1.12a), para fck ≤ 50
MPa e (1.12b) para fck > 50 MPa (item 8.2.5 da NBR 6118:2014).

fctm = 0,3 (fck)2/3 (MPa) P/ concretos de classes até C50 (1.12a)*


fctm = 2,12 ln(1+0,11fck) (MPa) P/ concretos de classes C55 até C90 (1.12b)*

A resistência de cálculo do aço da armadura transversal passiva fywd = fywk/ɤs,


segundo o item 17.4.2.2 da NBR 6118:2014, é limitada ao valor fyd para estribos e a
70% desse valor no caso de barras dobradas. Em nenhum dos dois casos admite-se
valores superiores a 435 MPa. Na prática, isso significa que a armadura transversal
calculada, será a mesma para aços CA 50 ou CA 60.

fywd = fyd  estribos (5.8)


 435 MPa
fywd = 0,7 fyd  barras dobradas (5.9)

A partir das equações (5.7), (1.12a) e (1.12b) para espaçamento s = 100 cm e


estribos verticais,  = 90o, obtém-se:

b w 100 sen900,2x0,3 f ck2/3  


A sw,min   ρ w,min b w (5.10a)
500
Para fck ≤ 50 MPa
w,min = 0,012 fck (2/3) (5.10b)

b w 100 sen900,2x2,12 ln1  0,11fck 


A sw,min   ρ w,min b w (5.11a)
500
Para fck > 50 MPa
w,min = 0,0848 ln (1 + 0,11 fck ) (5.11b)

Onde w,min é a taxa mínima de armadura transversal, constituída por estribos


verticais, em 1 m de viga.

5.6
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

A partir das equações (5.10b) e (5.11b), com fck expresso em MPa pode-se
tabelar o valor de w,min (tabela 5.1):

TABELA 5.1 – Valores de w,min

Grupo I – fck ≤ 50 MPa Grupo II – fck > 50 MPa


ρw,min = 0,012 fck(2/3) ρw,min = 0,0848 ln(1+0,11fck)
fck (MPa) w,min fck (MPa) w,min

20 0,088 55 0,166

25 0,103 60 0,172

30 0,116 65 0,178

35 0,128 70 0,183

40 0,140 75 0,189

45 0,152 80 0,194

50 0,163 85 0,198

- - 90 0,203

5.2.3 – Exceções às condições gerais (item 17.4.1.1.2 da NBR 6118:2014)

 a) Os elementos estruturais lineares com bw  5.d (em que d é a altura útil da


seção), caso que deve ser tratado com laje (ver item 19.4 da NBR 6118);

 b) As nervuras de lajes nervuradas, descritas em 13.2.4.2-a) e b), que tam-


bém podem ser verificadas como lajes. Nesse caso deve ser tomada como
base a soma das larguras no trecho considerado, podendo ser dispensada a
armadura transversal, quando atendido o disposto em 19.4.1;
 c) Os pilares e elementos estruturais de fundação submetidos predominante-
mente à compressão, que atendam simultaneamente, na combinação mais

5.7
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

desfavorável das ações em estado limite último, calculada a seção em estádio


I, às condições seguintes:
- nenhum ponto deve ser atingida a tensão fctk;
- Vsd ≤ Vc, sendo Vc definido em 17.4.2.
Neste caso, a armadura transvesal mínima é a definida na seção 18. (NBR 6118)

5.2.4 – Verificação do estado limite último (item 17.4.2 da NBR 6118:2014)

5.2.4.1 – Cálculo da resistência

A resistência do elemento estrutural, numa determinada seção transversal,


deve ser considerada satisfeita quando são verificadas simultaneamente a ruína por
esmagamento da biela comprimida (eq. 5.12) e pela ruptura da armadura transversal
tracionada (eq. 5.13), traduzidas pelas seguintes condições:

VSd  VRd2 (5.12)

VSd  VRd3 = Vc +Vsw (5.13)

Onde:
VSd é a força cortante solicitante de cálculo, na seção;

VRd2 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das diagonais


comprimidas, obtida de acordo o modelo de cálculo I ou II, descritos adiante;

VRd3 = Vc + Vsw é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por


tração diagonal, onde Vc é a parcela de força cortante absorvida por mecanismos
complementares ao de treliça e Vsw é a parcela resistida pela armadura transversal,
ambas obtidas de acordo o modelo de cálculo I ou II, descritos adiante.

5.8
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

5.2.4.2 – Modelo de cálculo I

O modelo de cálculo I admite diagonais de compressão inclinadas de  =45o


em relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural e admite ainda que a parcela
complementar Vc tenha valor constante, independente de VSd.

a) Verificação da compressão diagonal do concreto:

VRd2 = 0,27 v2 fcd bw d = wd2 bw d (5.14)

onde:
f ck
α v2  1  (fck em MPa) (5.15)
250

VRd2
τ wd2   0,27α v2 f cd (5.16)
bwd

obs.: - embora para o cálculo de v2 a unidade utilizada seja o MPa , para a obten-
ção do esforço VRd2 em kN, deve-se calcular wd2 em kN/cm2.

A tensão wd2 representa a tensão máxima convencional de cisalhamento,


analogamente à tensão convencional de cisalhamento wd = (Vd / bwd), de tal forma
que para se verificar a resistência da diagonal comprimida, equação (5.12) escrita
em termos de esforços, basta atender a seguinte expressão, escrita em termos de
valores convencionais de tensões de cisalhamento:

(VSd / bw d) ≤ (VRd2 / bw d)  wd  wd2 (5.17)

Da fig. 5.4 nota-se que a resistência máxima na diagonal comprimida, Rcc,max,


é dada por:

5.9
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

Rcc,max = cc,max bw z (1 + cotg) sen (5.18)

Onde cc,max é a tensão normal máxima na diagonal comprimida de concreto.

TABELA 5.2 – Valores de wd2 (Modelo I)

Grupo I – fck ≤ 50 MPa Grupo II – fck > 50 MPa

fck (MPa) wd2 (kN/cm2) fck (MPa) wd2 (kN/cm2)

20 0,355 55 0,827

25 0,434 60 0,879

30 0,509 65 0,928
35 0,581 70 0,972

40 0,648 75 1,013

45 0,712 80 1,049

50 0,771 85 1,082

- - 90 1,111

Figura 5.4 – Resultante resistente máxima da diagonal comprimida

5.10
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

Vsd = VRd2 = Rcc,max sen = cc,max bw 0,9d (1 + cotg) sen2 (5.19)

De (5.14) e (5.19) com  = 45o, obtém-se:

VRd2 = wd2 (bw d) = cc,max (1 + cotg)x0,45x(bw d) (5.20)

wd2 = 0,45 cc,max (1 + cotg) (5.21a)

Perpendicularmente à tensão cc,max atua uma tensão máxima de tração (es-


tado duplo de tensões produzido pela flexão nas vigas). Nessa situação não se pode
considerar para cc,max o mesmo valor obtido nos ensaios de compressão simples
(estado simples de tensão), ficando o seu valor reduzido para cc,max = 0,6 v2 fcd
(segundo o CEB). Com esse valor e considerando-se estribos verticais,  = 90o, ob-
tém-se:

wd2 = 0,45 x 0,6 x v2 x fcd = 0,27 v2 fcd (5.21b)

Que é a mesma dada na equação (5.16), definida pela NBR 6118:2014.

b) Cálculo da armadura transversal

Na equação (5.13) VRd3 = Vc + Vsw, a primeira parcela corresponde a força


cortante resistente absorvida por mecanismos complementares ao de treliça, que é
dada no modelo I por:

 Vc = 0 nos elementos estruturais tracionados quando a LN se situa fora


da seção;

 Vc = Vc0 na flexão simples e na flexo-tração com a LN cortando a seção;

 Vc = Vc0 (1 + M0 / MSd,max)  2 Vc0 na flexo-compressão

5.11
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___________________________________________________________________________

Com
Vc0 = 0,6 fctd bw d = c0 bw d (5.22)

f ctk,inf 0,7f ctm


f ctd   (5.23)
γc γc

0,21 (fck)2/3 (MPa) fck ≤ 50 MPa


fctk,inf = 0,7 fct,m = (1.13a)*
1,484 ln (1 + 0,11fck) (MPa) fck > 50 MPa

Onde fctk,inf é a resistência característica inferior à tração, equações (1.13a).


Tomando-se para o coeficiente de ponderação do concreto c = 1,4, a tensão con-
vencional de cisalhamento correspondente aos mecanismos complementares, (c0),
pode ser dada pela seguinte expressão:

0,6f ctd 0,6x0,21 2/3 2/3


τ c0   f ck  0,009f ck fck≤50 MPa
10 1,4x10
(5.24)
0,6f ctd 0,6x1,484
τ c0   ln1  0,11f ck   0,0636ln1  0,11f ck  fck>50 MPa
10 1,4x10

Nas equações (5.24) a unidade da tensão c0 é kN/cm2, motivo pelo qual as
expressões foram divididas por 10. Portanto nas equações (5.24) deve-se usar fck
em MPa, para se obter c0 em kN/cm2. Os valores de c0 para os dois grupos de
classe de concreto estão apresentados na tabela 5.3.

Cabe salientar que as tensões convencionais de cisalhamento wd, wd2 e c0


servem apenas de referência e devem ser usadas para a determinação das resultan-
tes das forças cortantes Vsd = wd (bwd), VRd2 = wd2 (bwd) e Vc0 = c0 (bwd).

5.12
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___________________________________________________________________________

TABELA 5.3 – Valores de c0

Grupo I Grupo II
c0 = 0,009fck2/3 c0 = 0,0636ln(1+0,11fck)

fck (MPa) c0 (kN/cm2) fck (MPa) c0 (kN/cm2)

20 0,0663 55 0,124
25 0,0769 60 0,129
30 0,0869 65 0,133
35 0,0963 70 0,138
40 0,0963 75 0,141
45 0,114 80 0,145
50 0,122 85 0,149
- - 90 0,152

Da equação (5.13) a parcela resistida pela armadura transversal tracionada


Vsw é determinada conforme o esquema mostrado na fig. 5.5.

Figura 5.5 – Resultante resistente da diagonal tracionada

5.13
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___________________________________________________________________________

A resultante Rst na direção da diagonal tracionada pode ser obtida pelo produ-
to da área total de armadura, no trecho z(1+cotgα), correspondente ao painel do
modelo de treliça, pela tensão de escoamento de cálculo na armadura transversal.
Considerando que área de uma barra da armadura transversal vale Asw e que o nú-
mero de barras no comprimento do painel é [z(1+cotgα) / s], com s igual ao espaça-
mento das barras, a resultante Rst é dada por:

z 1  cotgα 
R st  A sw f ywd (5.25)
s

z 1  cotgα  A
Vsw  R st senα  A sw f ywd senα  sw z 1  cotgα f ywd senα (5.26)
s s

Dividindo-se os termos da equação (5.13) por (bw d), para transformar as re-
sultantes em tensões convencionais de cisalhamento, adotando-se z = 0,9 d e con-
siderando-se estribos verticais ( = 90o) em vigas submetidas à flexão simples (Vc =
Vc0), obtém-se:

 A sw 
 0,9d(43,5)
Vsd V V  s 
 c0  sw  τ wd  τ c0  (5.27)
bwd b wd bwd bwd

 A sw  τ wd  τ c0
  b w  ρ *w b w (cm2/cm) (5.28)
 s  39,15

Para s=100 cm, a taxa *w se transforma na taxa w dada por :

τ wd  τ c0
ρ w  100 ρ *w  100 (5.29)
39,15

e finalmente

5.14
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___________________________________________________________________________

Asw  w bw (cm2 / m) (5.30)

Fazendo na equação (5.29) w = w,min, equações (5.10b) e (5.11b) obtém-se


o valor mínimo wd,min, para o modelo I, abaixo do qual a adoção da armadura míni-
ma Asw,min = w,min bw, absorve a totalidade do esforço de cisalhamento. Assim

39,15ρ w,min
τ wd,min   τ c0 (5.31)
100

Com os valores de w,min e c0 dados em função do grupo de resistência dos


concretos, equações (5.10b), (5.11b) e (5.24) respectivamente, obtém-se duas ex-
pressões para o valor mínimo da resistência convencional de cisalhamento:

Para o grupo I, ou seja, fck ≤ 50 MPa

2/3
39,15x0,012f ck 2/3 2/3
τ wd,min   0,009fck  0,0137fck (5.32)
100

Para o grupo II, ou seja, fck > 50 MPa

39,15x0,0848ln 1  0,11f ck 
τ wd,min   0,0636ln 1  0,11f ck   0,0968ln 1  0,11f ck 
100
(5.33)

Nas equações (5.32) e (5.33) a unidade de wd,min é kN/cm2 enquanto a uni-


dade do fck é o MPa, ou seja, entra-se com a resistência do concreto em MPa para
obter a tensão convencional mínima de cisalhamento em kN/cm2. Os valores de
wd,min estão listados na tabela 5.4.

5.15
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___________________________________________________________________________

Tabela 5.4 – Valores de wd,min para o Modelo I

Grupo I Grupo II
wd,min=0,0137fck2/3 wd,min=0,0968ln(1+0,11fck)
fck (MPa) wd,min (kN/cm2) fck (MPa) wd,min (kN/cm2)
20 0,101 55 0,189
25 0,117 60 0,196
30 0,132 65 0,203
35 0,147 70 0,209
40 0,160 75 0,215
45 0,173 80 0,221
50 0,186 85 0,226
- - 90 0,231

c) decalagem do diagrama de força no banzo tracionado (item 17.4.2.2 da NBR


6118:2014)

Quando a armadura longitudinal de tração (flexão) for determinada através do equi-


líbrio de esforços na seção normal ao eixo do elemento estrutural, os efeitos provo-
cados pela fissuração oblíqua podem ser substituídos no cálculo pela decalagem do
diagrama de força no banzo tracionado, dada pela expressão:

 VSd,max 
a L  d 1  cotgα   cotgα   d (5.34)
 2VSd,max  Vc  

Onde:
aL = d para VSd,max ≤ Vc (em módulo)
aL  0,5 d no caso geral
aL  0,2 d para estribos inclinados a 45º

5.16
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___________________________________________________________________________

Essa decalagem pode ser substituída, aproximadamente, pela correspondente deca-


lagem do diagrama de momentos fletores.

A decalagem do diagrama de força no banzo tracionado pode também ser obtida


simplesmente empregando a força de tração, em cada seção, dada pela expressão:

M 1  M Sd,max
FSd,cor   Sd  VSd cotgθ  cotgα    (5.35)
 Z 2 Z

Onde
MSd,Max é o momento fletor de cálculo máximo no trecho em análise.

5.2.4.3 – Modelo de cálculo II

O modelo de cálculo II admite diagonais de compressão inclinadas de , em


relação ao eixo longitudinal da peça, variando livremente entre 30o e 45o. Admite
ainda que a parcela complementar Vc sofra redução com o aumento de VSd.

a) verificação da compressão diagonal do concreto:

A partir da equação (5.19) para valores de  entre 30o e 45o e com cc,max =
0,6 v2 fcd a expressão para VRd2 fica:

Vsd = VRd2 = Rcc,max sen = (0,6 v2 fcd) bw 0,9d (cotg + cotg) sen2 (5.36a)

VRd2 = 0,54 v2 fcd bw d sen2 (cotg + cotg) = wd2 bw d (5.36b)

Com v2 dado na equação (5.15) e wd2 dado por:

wd2 = 0,54 v2 fcd sen2 (cotg + cotg) (5.37)

5.17
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___________________________________________________________________________

Para estribos verticais, ou seja,  = 90o, e para  = 45o, os valores de wd2 são
os mesmos do modelo I, dados na tabela 5.2.

b) – cálculo da armadura transversal

VRd3 = Vc + Vsw (5.38)

 Vc = 0 nos elementos estruturais tracionados quando a LN se situa fora


da seção

 Vc = Vc1 na flexão simples e na flexo-tração com a LN cortando a seção

 Vc = Vc1 (1 + M0 / MSd,max)  2 Vc1 na flexo-compressão

Com

Vc1 = Vc0 quando VSd  Vc0

Vc1 = 0 quando VSd = VRd2, interpolando-se linearmente para valores


intermediários

Definindo-se analogamente uma tensão convencional de cisalhamento proveni-


ente de Vc1, tem-se:
Vc1
τ c1  (5.39)
bwd

Os valores de Vc1, ou os correspondentes valores de c1, estão representados


na figura 5.6 seguinte:

5.18
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___________________________________________________________________________

Figura 5.6 – Valores de c1

Conforme figura 5.6 os valores de c1 (ou Vc1) quando wd (ou VSd) é maior
que c0 (ou Vc0) e menor que wd2 (ou VRd2) estão indicados no trecho inclinado, que
representa a interpolação linear dos valores de c1 entre c0 e wd2, dados na equa-
ção:

 τ  τ c0 
τ c1  τ c0  1  wd  (5.40)
 τ wd2  τ c0 

A parcela de tração absorvida pela armadura transversal Vsw, conforme equa-


ção (5.26), é dada no modelo II por:

z citgθ  cotgα  A
Vsw  R st senα  A sw f ywd senα  sw z cotgθ  cotgα f ywd senα (5.41)
s s

5.19
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___________________________________________________________________________

Analogamente ao desenvolvido no modelo I, dividindo-se a equação (5.13),


VSd ≤ Vc + Vsw, por bw d, fazendo-se em (5.41) z = 0,9 d,  = 90o e s = 100 cm, ob-
tém-se a equação para a armadura transversal Asw no modelo II.

Asw  w bw (cm2 / m) (5.42)

τ wd  τ c1
ρ w  100 (5.43)
39,15cotgθ

Com c1 dado na equação 5.40.

c) – deslocamento do diagrama de momentos fletores:

Se forem mantidas as condições estabelecidas no modelo I, o deslocamento


do diagrama de momentos fletores no modelo II deve ser:

a = 0,5 d (cotg - cotg) (5.44)

onde

a 0,5 d, no caso geral

a 0,2 d, para estribos inclinados de 45º.

5.2.5 – Cargas próximas aos apoios

Para o cálculo da armadura transversal, no caso de apoio direto (se a carga e


a reação de apoio forem aplicadas em faces opostas do elemento estrutural, com-
primindo-o), valem as seguintes prescrições:

a) no trecho entre o apoio e a seção situada à distância d/2 da face do apoio,


a força cortante oriunda de carga distribuída pode ser considerada constante e igual
à dessa seção;

5.20
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___________________________________________________________________________

b) a força cortante devida a uma carga concentrada a uma distância a  2d do


eixo teórico do apoio pode, nesse trecho de comprimento “a”, ser reduzida multipli-
cando-a por [a / (2d)].

Figura 5.7 – Redução do cortante próximo aos apoios

O valor final da força cortante com as reduções devidas à carga concentrada


e à carga distribuída deve ser dado por:

cd L-a a 
VS, Red  VS,eixo  p -P 1   (5.45)
2 L  2d 

5.21
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___________________________________________________________________________

5.2.6 – Prescrições complementares da NBR 6118:2014


 Item 18.3.3.2
t  5 mm
Diâmetro da armadura transversal Asw
t  bw / 10

wd  0,67 wd2 smax = 0,6 d  30 cm


Espaçamento máximo dos estribos
wd  0,67 wd2 smax = 0,3 d  20 cm
 Item 17.4.1.1.3

A armadura transversal Asw pode ser constituída por estribos ou pela com-
binação de estribos e barras dobradas, entretanto essas últimas não devem suportar
mais do que 60% do esforço total resistido pela armadura.

5.3 – Força cortante em lajes e elementos lineares com bw ≥ 5d (item 19.4 da


NBR 6118:2014)

5.3.1 – Lajes sem armadura para força cortante

Dispensa-se armadura transversal para resistir às forças de tração oriundas


da força cortante em lajes maciças ou nervuradas, quando a força cortante de cálcu-
lo a uma distância d da face do apoio, obedecer à expressão:

VSd ≤ VRd1 ou wd ≤ wd1 (5.46)

Sendo VRd1 a força cortante resistente de cálculo dada por:

VRd1 = [Rd k (1,2 + 40 ρ1)] bw d = [wd1] bw d (5.47)

Onde Rd é a tensão resistente de cálculo do concreto ao cisalhamento, dada


por:

5.22
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___________________________________________________________________________

Rd = 0,25 fctd = 0,25 (fctk,inf / γc) (5.48)

Para γc = 1,4 e fctk,inf conforme equação (1.13a), obtém-se:

0,0375 (fck)2/3 (MPa) fck ≤ 50 MPa


Rd = 0,179 fctk,inf = (5.49)
0,265 ln (1 + 0,11fck) (MPa) fck > 50 MPa

ρ1 é a taxa da armadura de tração As1 que se estende até não menos que (d
+ lb,nec), além da seção considerada. (lb,nec é o comprimento necessário de ancora-
gem, definido no próximo capítulo).

ρ1 = As1 / (bw d) ≤ 0,02 (5.50)

k é um coeficiente que tem os seguintes valores:

k = 1 - para elementos onde 50% da armadura inferior não chega até o


apoio

k = (1,6 – d) ≥ 1 - para os demais casos, com d em metros.

Segundo o item 20.1 da NBR 6118:2014, em laje em que seja dispensada a


armadura transversal, toda a armadura positiva deve ser levada até os apoios. Nes-
se caso, só a segunda opção para o valor de k deve ser usada.

bw é a largura mínima da seção ao longo da altura útil d.

5.3.2 – Lajes com armadura para força cortante

Aplicam-se os mesmos critérios estabelecidos para vigas, considerando-se


para a resistência de cálculo ao escoamento no cisalhamento (fywd) os seguintes
valores máximos:
5.23
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- 250 MPa, para lajes com espessura até 15 cm;


- 435 MPa, para lajes com espessura maior que 35 cm.

Para valores intermediários de espessura permite-se a interpolação linear re-


sultando:

435  250
f ywd  250  h  15 (MPa) (5.51)
20

5.4 – Exemplos

5.4.1 - Exemplo 1

Calcular a armadura de cisalhamento para uma viga biapoiada de 4 m de vão,


carga distribuída p = 25 kN/m, seção de 20X40 cm2, d=36 cm, fck = 20 MPa, aço
CA-60. A largura dos apoios na direção do eixo da viga é c = 20 cm.

 Modelo de cálculo I

 verificação do concreto

R = p / 2 = 25 x 4 / 2 = 50 kN

VS,max = R – p c / 2 = 50 – 25 x 0,20 / 2 = 47,5 kN


(A força cortante máxima deve ser calculada na face do apoio)

wd = VSd,max / bw d = 47,5 x 1,4 / (20 x 36) = 0,092 kN/cm2 < wd2 = 0,355 kN/cm2

Como o valor da tensão convencional máxima de cisalhamento dado na tabe-


la 5.2, wd2 = 0,355 kN/cm2, é maior que o valor de wd = 0,092 kN/cm2, o concreto foi
verificado, ou seja, a biela comprimida de concreto não romperá.

5.24
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___________________________________________________________________________

 cálculo da armadura

τ wd  τ c0 0,092  0,0663
Asw = w bw, com ρ w  100  100  0,066  ρ w,min  0,088
39,15 39,15

Os valores de ρw,min e c0 são fornecidos nas tabelas 5.1 e 5.3, respectiva-
mente. Como o valor de ρw < ρw,min, isso implica em armadura transversal mínima,
ou seja, Asw,min = w,min bw = 0,088 x 20 = 1,76 cm2/m. Usando-se estribos simples
(com dois ramos), a armadura será dada por:

(Asw)/2 = 1,76 / 2 = 0,88 cm2/m → s = 100 / (0,88 / 0,196) =22,2 cm  5 c/ 22 cm

Como wd = 0,092 kN/cm2  wd,min = 0,101 kN/cm2 (tabela 5.4), w = w,min, o
que implica em Asw = Asw,min = w,min bw, sem necessidade de calcular Asw.

Como (wd / wd2) = 0,092 / 0,355 = 0,26  0,67, o espaçamento máximo dos
estribos fica:  smax = 0,6d = 0,6 x 36  22 cm (OK!)

 Modelo de cálculo II ( = 30o)

 verificação do concreto

wd = VSd,max / bw.d = 47,5 x 1,4 / (20 . 36) = 0,092 kN/cm2

Pela equação (5.37) para  = 30o, α = 90o e fck = 20 MPa, obtém-se:

wd2=0,54v2fcdsen2(cotg+cotg)=0,54[1-(20/250)](20/1,4)sen2(30o)(0+cotg30o)

wd2 = 3,07 MPa = 0,307 kN/cm2.

wd = 0,092 kN/cm2 < wd2 = 0,307 kN/cm2 OK! concreto verificado

5.25
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___________________________________________________________________________

 cálculo da armadura

Como wd = 0,092 kN/cm2 > c0 = 0,0663 kN/cm2

 τ  τ c0   0,092  0,0663 
τ c1  τ c0 1  wd   0,06631    0,0592
 τ wd2  τ c0   0,307  0,0663 

τ wd  τ c1 0,092  0,0592
Asw = w bw, com ρ w  100 o
 100  0,048  ρ w,min  0,088
39,15cotg30 39,15x1,732

Asw = Asw,min = w,min bw = 0,088 x 20 = 1,76 cm2/m

Para estribos simples (dois ramos) Asw/2 = 0,88 cm2/m  5 mm c/ 22 cm

Como wd / wd2 = 0,092 / 0,307 = 0,30 < 0,67 smax = 0,6d = 0,6 x 36  22 cm (OK!)

 Modelo de cálculo II ( = 45o)

 verificação do concreto

wd = VSd / bw d = 47,5 x 1,4 / (20 x 36) = 0,092 kN/cm2 < wd2 = 0,355 kN/cm2 OK!

Pela equação (5.37) para  = 45o, α = 90o e fck = 20 MPa, ou simplesmente pela ta-
bela 5.2, obtém-se wd2 = 0,355 kN/cm2.

 cálculo da armadura
Como wd = 0,092 kN/cm2 > c0 = 0,0663 kN/cm2

 0,092  0,0663 
τ c1  0,06631    0,0604
 0,355  0,0663 

5.26
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___________________________________________________________________________

Asw = w bw com w = 100(wd - c1) / (39,15 x cotg), para  = 45o

0,092  0,0604
ρ w  100  0,047  ρ w,min  0,088
39,15x1

Asw = Asw,min = w,min bw = 0,088 x 20 = 1,76 cm2/m

Para estribos simples (dois ramos) Asw/2 = 0,88 cm2/m  5 mm c/ 22 cm


Como wd / wd2 = 0,092 / 0,355 = 0,26 < 0,67 smax = 0,6d = 0,6 x 36  22 cm (OK!)

Observa-se nesse exemplo que o valor calculado de ρw = 0,047 para  = 45o e α =


90o, é menor que o valor calculado nas mesmas condições considerando-se o mo-
delo de cálculo I, ρw = 0,066. Isso se deve à diferença das teorias adotadas para os
dois modelos.

Como no modelo II a taxa ρw é menor, consequentemente a armadura também será


menor. No entanto, a tensão convencional máxima de cisalhamento é menor no mo-
delo II (wd2 = 0,307 no modelo II < wd2 = 0,355 no modelo I). Portanto, o cálculo da
armadura transversal de cisalhamento pelo modelo II é sempre mais econômico,
desde que se verifique a tensão no concreto.

5.4.2 - Exemplo 2

Mesmos dados do exemplo I, com carga distribuída p = 50 kN/m

 Modelo de cálculo I (sem redução do cortante no apoio)

 verificação do concreto

R = p / 2 = 50 x 4 / 2 = 100 kN

VS,max = R – p c / 2 = 100 – 50 x 0,20 / 2 = 95 kN

5.27
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___________________________________________________________________________

wd = VSd,max / bw d = 95 x 1,4 / (20 x 36) = 0,185 kN/cm2 < wd2 = 0,355 kN/cm2 OK!

 cálculo da armadura

Como wd = 0,185 kN/cm2 > wd,min = 0,101 kN/cm2 (tabela 5.4)

Asw = w bw com w = 100 (wd - c0) / 39,15 c0 = 0,0663 kN/cm2

w = 100 (0,185 – 0,0663) / 39,15 = 0,302 > w,min = 0,088 (tab. 5.1), portanto

Asw = 0,302 x 20 = 6,04 cm2/m

Para estribos simples (dois ramos)


 5 mm s = 100 / (3,02/0,196) = 6,4 →  5 mm c/ 6 cm
Asw/2 = 3,02 cm2/m  6 mm s = 100 / (3,02/0,283) = 9,4 →  6 mm c/ 9 cm
 8 mm s = 100 / (3,02/0,503) = 16,6 →  8 mm c/ 16 cm

Como wd / wd2 = 0,190 / 0,355 = 0,54  0,67 smax = 0,6d = 0,6 . 36 = 22 cm (OK!)

 Modelo de cálculo I (com redução do cortante no apoio)

 verificação do concreto

R = p / 2 = 50 x 4 / 2 = 100 kN

VS,max = R – p c / 2 = 100 – 50 x 0,20 / 2 = 95 kN


VS,Red = R – p (c + d) / 2 = 100 – 50 x (0,20 + 0,36) / 2 = 86 kN

wd,max = VSd,max/bw.d = 95 x 1,4/(20 x 36) = 0,185 kN/cm2 < wd2 = 0,355 kN/cm2 OK!

Obs.: a verificação do concreto deve ser feita com a força cortante SEM REDUÇÂO.

5.28
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

 cálculo da armadura

O cálculo da armadura pode ser feito com o cortante reduzido, VS,Red.

wd,Red = VSd,Red / bw d = 86 x 1,4 / (20 x 36) = 0,167 kN/cm2 > wd,min = 0,101 kN/cm2,

Asw = w bw com w = 100 (wd,Red - c0) / 39,15 c0 = 0,0663 kN/cm2

w = 100 (0,167 – 0,0663) / 39,15 = 0,257 > w,min = 0,088 (tab. 5.1), portanto

Asw = 0,257 x 20 = 5,14 cm2/m

Para estribos simples (dois ramos)


 5 mm s = 100 / (2,57/0,196) = 7,6 →  5 mm c/ 7 cm
Asw/2 = 2,57 cm2/m  6 mm s = 100 / (2,57/0,283) = 11,0 →  6 mm c/ 9 cm
 8 mm s = 100 / (2,57/0,503) = 19,6 →  8 mm c/ 19 cm

Como wd / wd2 = 0,185 / 0,355 = 0,52  0,67 smax = 0,6d = 0,6 . 36 = 22 cm (OK!)

 Modelo de cálculo II ( = 30o)

 verificação do concreto

wd = VSd,max /bw d = 95 x 1,4 / (20 x 36) = 0,185 kN/cm2 < wd2 = 0,307 kN/cm2 (OK!)

b) cálculo da armadura
Como wd = 0,185 kN/cm2 > c0 = 0,0663 kN/cm2
 τ  τ c0   0,185  0,0663 
τ c1  τ c0 1  wd   0,06631    0,0336
 τ wd2  τ c0   0,307  0,0663 

Asw = w bw,

5.29
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

0,185  0,0336
ρ w  100  0,223  ρ w,min  0,088
39,15xcotg30 o

Asw = 0,223 x 20 = 4,46 cm2/m

Para estribos simples (dois ramos)


 5 mm s = 100 / (2,23/0,196) = 8,8 →  5 mm c/ 8 cm
Asw/2 = 2,23 cm2/m  6 mm s = 100 / (2,23/0,283) = 12,7 →  6 mm c/ 9 cm
 8 mm s = 100 / (2,23/0,503) = 22,6 →  8 mm c/ 22 cm

Como wd / wd2 = 0,185 / 0,307 = 0,60 < 0,67 smax = 0,6d = 0,6 x 36  22 cm (OK!)

 Modelo de cálculo II (ângulo qualquer, por exemplo  = 35o)

 verificação do concreto

wd = VSd,max /bw d = 95 x 1,4 / (20 x 36) = 0,185 kN/cm2

wd2 = 0,54 x [1 - (20/250)] x (2,0 / 1,4) x sen2(35o) x (0+cotg35o) = 0,333 kN/cm2

Como wd = 0,185 kN/cm2 < wd2 = 0,333 kN/cm2, concreto verificado.

 cálculo da armadura

Como wd = 0,185 kN/cm2 > c0 = 0,0663 kN/cm2

 0,185  0,0663 
τ c1  0,06631    0,0368
 0,333  0,0663 

Asw = w bw com w = 100 (wd - c1) / (39,15 x cotg35o)

w = 100 (0,185 - 0,0369) / (39,15 x cotg35o) = 0,265 > w,min = 0,088 (tab. 5.1)
5.30
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Cisalhamento
___________________________________________________________________________

Asw = 0,265 x 20 = 5,30 cm2/m

Para estribos simples (dois ramos)


 5 mm s = 100 / (2,65/0,196) = 7,4 →  5 mm c/ 7 cm
Asw/2 = 2,65 cm2/m  6 mm s = 100 / (2,65/0,283) = 10,7 →  6 mm c/ 10 cm
 8 mm s = 100 / (2,65/0,503) = 19,0 →  8 mm c/ 19 cm

Como wd / wd2 = 0,185 / 0,333 = 0,56  0,67 smax = 0,6d = 0,6 . 36 = 22 cm (OK!)

5.31
CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 6

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Julho 2015

VERIFICAÇÃO DA ADERÊNCIA
__________________________________________________________________________

Segundo a NBR 6118:2014 no capítulo 9, devem ser obedecidas no projeto


as exigências estabelecidas nesse capítulo, relativas à aderência, ancoragem e
emendas das armaduras.

6.1 – Posição da barra durante a concretagem

Considera-se em boa situação quanto à aderência os trechos das barras que


estejam em uma das posições seguintes:

a) com inclinação superior a 45o sobre a horizontal (fig. 6.1a);


b) horizontais ou com inclinação menor que 45o sobre a horizontal, desde
que:
 para elementos estruturais com h < 60 cm, localizados no máximo
30 cm acima da face inferior do elemento ou da junta de concreta-
gem mais próxima (fig. 6.1b);
 para elementos estruturais com h  60 cm, localizados no mínimo
30 cm abaixo da face superior do elemento ou da junta de concre-
tagem mais próxima (fig. 6.1c).

Os trechos das barras em outras posições e quando do uso de formas desli-


zantes devem ser consideradas em má situação quanto à aderência.
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

Figura 6.1 – Zonas de Boa e Má aderência

6.2 – Valor da resistência de aderência (item 9.3.2.1 da NBR 6118:2014)

A resistência de aderência de cálculo entre armadura e o concreto na ancora-


gem de armaduras passivas deve ser obtida pela seguinte expressão:

fbd = 1 2 3 fctd (6.1)

Onde:

0,21 (fck)2/3 / c (MPa) fck ≤ 50 MPa


fctd = fctk,inf / c = (6.2a)
1,484 ln (1 + 0,11fck) / c (MPa) fck > 50 MPa

Para c = 1,4, tem-se:

0,15 (fck)2/3 (MPa) fck ≤ 50 MPa


fctd = (6.2b)
1,06 ln (1 + 0,11fck) (MPa) fck > 50 MPa

6.2
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

 1 = 1,0 para barras lisas (CA 25);


 1 = 1,4 para barras entalhadas (CA 60);
 1 = 2,25 para barras nervuradas (CA 50);
 2 = 1,0 para situações de boa aderência;
 2 = 0,7 para situações de má aderência;
 3 = 1,0 para  < 32 mm;
 3 = (132 - ) / 100, para  ≥ 32 mm, com  (diâmetro da barra) em
mm.

TABELA 6.1 – Valores da resistência de aderência fbd


Aço CA 50, boa aderência,  < 32 mm

Grupo I – fck ≤ 50 MPa Grupo II – fck > 50 MPa


fbd = [0,3375 fck(2/3) / 10 fbd = [2,385 ln(1+0,11fck) / 10]
fck (MPa) fbd (kN/cm2) fck (MPa) fbd (kN/cm2)

20 0,249 55 0,466

25 0,289 60 0,484

30 0,326 65 0,500

35 0,361 70 0,516

40 0,395 75 0,531

45 0,427 80 0,544

50 0,458 85 0,557

- - 90 0,570

Segundo o item 9.3.2.3 da NBR 6118:2014:

No escorregamento da armadura, em elementos estruturais fletidos, devem


ser adotados os valores da tensão de aderência dada acima multiplicada por 1,75.

6.3
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

6.3 – Ancoragem das armaduras (item 9.4 da NBR 6118:2014)

Todas as barras das armaduras devem ser ancoradas de forma que os esfor-
ços a que estejam submetidas sejam integralmente transmitidos ao concreto, seja
por meio de aderência ou de dispositivos mecânicos ou combinação de ambos.

6.3.1 – Ancoragem por aderência

Acontece quando os esforços são ancorados por meio de um comprimento re-


to ou com grande raio de curvatura, seguido ou não de gancho.

Com exceção das regiões situadas sobre apoios diretos, as ancoragens por
aderência devem ser confinadas por armaduras transversais ou pelo próprio concre-
to, considerando-se este caso quando o cobrimento da barra ancorada for maior ou
igual a 3 e a distância entre barras ancoradas for maior ou igual a 3.

6.3,2 – Ancoragem por meio de dispositivos mecânicos

Acontece quando as forças a ancorar são transmitidos ao concreto por meio


de dispositivos mecânicos acoplados à barra.

6.3.3 – Ancoragem de armaduras passivas por aderência

As barras tracionadas podem ser ancoradas ao longo de um comprimento re-


tilíneo ou com grande raio de curvatura em sua extremidade, de acordo com as con-
dições seguintes:

 as barras lisas obrigatoriamente devem ter ganchos;


 as barras que tenham alternância de solicitação, tração e compressão, não devem
ter ganchos

6.4
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

 com ou sem gancho, nos demais casos, não sendo recomendado o gancho para
barras de  > 32 mm ou para feixe de barras.

As barras comprimidas devem ser ancoradas sem ganchos.

6.3.4 – Ganchos das armaduras de tração

Os ganchos das extremidades das barras da armadura longitudinal de tração


podem ser:

 semicirculares, com ponta reta de comprimento não inferior a 2;


 em ângulo de 45o (interno), com ponta reta de comprimento não inferior a 4;
 em ângulo reto, com ponta reta de comprimento não inferior a 8.

Para as barras lisas, os ganchos devem ser semicirculares.

O diâmetro interno da curvatura dos ganchos das armaduras longitudinais de


tração deve ser pelo menos igual ao estabelecido na tabela 6.2.

Tabela 6.2 – Diâmetro dos pinos de dobramento (D)

Tipo de aço
Bitola
CA - 25 CA - 50 CA - 60
mm
< 20 4 5 6
 20 5 8 -

6.5
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

6.4 – Comprimento de ancoragem básico

Define-se comprimento de ancoragem básico como o comprimento reto de


uma barra de armadura passiva necessário para ancorar a força limite Fd = As . fyd
nessa barra, admitindo-se ao longo desse comprimento uma tensão de aderência
constante e igual a fbd, conforme apresentado na figura 6.2.

Figura 6.2 – Comprimento de ancoragem reto

Para determinar o comprimento reto básico de ancoragem lb deve-se igualar a


máxima força Fd de tração que uma barra com diâmetro  pode suportar com a força
interna produzida pelas tensões de aderência fbd, resultando:

2
Fd  π f yd  π  l b f bd (6.3)
4

 f yd
lb   25 (6.4)
4 f bd

A partir da equação (6.4) pode-se tabelar os valores do comprimento de anco-


ragem básico para o aço CA-50, situação de boa aderência, s = 1,15, c = 1,4 e  <

6.6
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

32 mm, para concreto com fck ≤ 50 MPa, tabela 6.3.

Tabela 6.3 – Valores de lb para aço CA-50, s = 1,15, c = 1,4, boa aderência,
 < 32 mm e concretos com fck ≤ 50 MPa

Concreto Classe I (fck ≤ 50 MPa)


Valores de lb em função do diâmetro (arredondados para o múltiplo
Bitola de 5 cm, imediatamente superior)
(mm) C 20 C 25 C 30 C 35 C 40 C 45 C 50
(43,71) (37,67) (33,36) (30,10) (27,54) (25,46) (25)*
10 45 cm 40 cm 35 cm 35 cm 30 cm 30 cm 25 cm
12,5 55 cm 50 cm 45 cm 40 cm 35 cm 35 cm 35 cm
16 70 cm 65 cm 55 cm 50 cm 45 cm 45 cm 40 cm
20 90 cm 80 cm 70 cm 65 cm 60 cm 55 cm 50 cm
22 100 cm 85 cm 75 cm 70 cm 65 cm 60 cm 55 cm
25 110 cm 95 cm 85 cm 80 cm 70 cm 65 cm 65 cm

Observando-se a tabela acima nota-se que para fck = 50 MPa o valor calcula-
do de lb seria 23,73, menor que 25, que é o valor mínimo dado na equação (6.4).
Dessa maneira não é necessário calcular os valores dos comprimentos básicos para
os concretos do grupo II, pois o maior comprimento seria para fck = 55 MPa, com lb =
23,35 < 25. Portanto para concretos do grupo II (fck > 50 MPa), aço CA-50, s =
1,15, c = 1,4, boa aderência e  < 32 mm, o valor do comprimento básico é constan-
te e igual a 25.

6.5 – Comprimento de ancoragem necessário

O comprimento de ancoragem necessário pode ser calculado por:

6.7
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

A s,cal
l b,nec  α l b  l b,min (6.5)
A se

onde:
  = 1,0 para barras sem gancho;
  = 0,7 para barras tracionadas com gancho, com cobri-
mento no plano normal ao do gancho ≥ 3;
 α = 0,7 quando houver barras transversais soldadas, con-
forme item 9.4.2.2 da NBR 6118:2014;
 α = 0,5 quando houver barras transversais soldadas, con-
forme item 9.4.2.2 da NBR 6118:2014 e gancho com cobri-
mento no plano normal ao do gancho ≥ 3;
 lb é calculado conforme equação (6.4);
 lb,min é o comprimento mínimo de ancoragem, dado por:

0,3 lb
l b,min > 10  (6.6)
10 cm

6.6 – Armadura transversal na ancoragem

Para efeito desse item, observado o item 6.3.1, consideram-se as armaduras


existentes ao longo do comprimento de ancoragem, caso a soma das áreas dessas
armaduras seja maior ou igual às especificadas abaixo:

 Barras com  < 32 mm ao longo do comprimento de ancoragem deve ser


prevista armadura transversal capaz de resistir a 25 % da força longitudinal de uma
das barras ancoradas. Se a ancoragem envolver barras diferentes, prevalece para
esse efeito, a barra de maior diâmetro.

6.8
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

 Barras com   32 mm deve ser verificada a armadura em duas direções


transversais ao conjunto de barras ancoradas. Essas armaduras transversais devem
suportar os esforços de fendilhamento segundo os planos críticos, respeitando es-
paçamento máximo de 5 .

6.7 – Ancoragem de feixes de barras, por aderência

Considera-se o feixe como uma barra de diâmetro equivalente igual a:

n  f n (6.7)

Onde n é o diâmetro equivalente do feixe constituído de n barras com diâmetro f.

6.8 – Ancoragem de estribos (item 9.4.6 da NBR 6118:2014)

A ancoragem dos estribos deve necessariamente ser garantida por meio de


ganchos ou barras longitudinais soldadas.

Os ganchos dos estribos (com diâmetro t) podem ser:

 Semicirculares ou em ângulo de 45o (interno), com ponta reta de comprimento


igual a 5 t, porém não inferior a 5 cm;
 Em ângulo reto, com ponta reta de comprimento maior ou igual a 10 t, porém
não inferior a 7cm (este tipo de gancho não deve ser utilizado para barras e
fios lisos).

O diâmetro interno da curvatura dos estribos deve ser, no mínimo, igual aos
estabelecidos na tab. 6.3.

6.9
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

Tabela 6.3 – Diâmetro dos pinos de dobramento para estribos

Bitola Tipo de aço


mm CA - 25 CA - 50 CA - 60
 10 3 t 3 t 3 t
10 <  < 20 4 t 5 t -
 20 5 t 8 t -

6.9 – Emendas das barras

6.9.1 – Tipos

As emendas podem ser:


 Por traspasse (transpasse ou trespasse);
 Por luvas com preenchimento metálico, rosqueadas ou prensadas;
 Por solda;
 Por outros dispositivos devidamente justificados.

6.9.2 – Emendas por traspasse

Esse tipo de emenda não é permitido para barras de bitola maior que 32 mm.
Cuidados especiais devem ser tomados na ancoragem e na armadura de costura
dos tirantes e pendurais (elementos estruturais lineares de seção inteiramente traci-
onada).

No caso de emenda de feixe de barras, o diâmetro equivalente não deve ser


superior a 45 mm.

6.10
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

6.9.2.1 – Proporção das barras emendadas

Consideram-se como na mesma seção transversal as emendas que se su-


perpõem ou cujas extremidades mais próximas estejam afastadas de menos que 20
% do comprimento do trecho do traspasse.

Quando as barras têm diâmetros diferentes, o comprimento de traspasse de-


ve ser calculado pela barra de maior diâmetro.

Figura 6.3 – Emendas consideradas na mesma seção transversal

A proporção máxima de barras tracionadas da armadura principal emendadas


por traspasse na mesma seção transversal do elemento estrutural está indicada na
tabela 6.4 abaixo:

6.11
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

Tabela 6.4 – Proporção máxima de barras tracionadas emen-


dadas em uma mesma seção

Tipo de
Tipo de barra Situação carregamento
Estático Dinâmico
Em uma camada 100 % 100 %
Alta resistência Em mais de uma
50 % 50 %
camada
 < 16 mm 50 % 25 %
Lisa
  16 mm 25 % 25 %

Quando se tratar de armadura permanentemente comprimida ou de distribui-


ção, todas as barras podem ser emendadas na mesma seção.

6.9.2.2 – Comprimento de traspasse para barras tracionadas, isoladas

Quando a distância livre entre barras emendadas estiver compreendida entre


0 e 4 , o comprimento do trecho de traspasse para barras tracionadas deve ser:

l0t = 0t lb,nec ≥ l0t,min (6.8)

0,3 0t lb
Onde: l0t,min > 15  (6.9)
20 cm

0t é o coeficiente função da porcentagem de barras emendadas na


mesma seção, conforme a tabela 6.5.

6.12
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

Quando a distância livre entre barras emendadas for maior que 4 , ao com-
primento calculado acima, deve ser acrescida a distância livre entre barras emenda-
das. A armadura transversal na emenda deve ser justificada, atendendo ao estabe-
lecido em 6.9.2.4.

Tabela 6.5 – Valores do coeficiente 0t

Porcentagem de barras emen-


dadas na mesma seção (%)  20 25 33 50 > 50

Valores de 0t 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

6.9.2.3 – Comprimento de traspasse para barras comprimidas isoladas

Quando as barras estiverem comprimidas, adota-se a seguinte expressão para o


cálculo do comprimento de traspasse:

l0c = lb,nec  l0c,min (6.10)

0,6 lb
Onde: l0c,min > 15  (6.11)
20 cm

6.9.2.4 – Armadura transversal nas emendas por traspasse, em barras isoladas

6.9.2.4.1 – Emendas de barras tracionadas da armadura principal (ver fig. 6.4)

Quando  < 16 mm ou a proporção de barras emendadas na mesma seção


for menor que 25 %, a armadura transversal deve satisfazer ao item 6.6.

6.13
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Aderência
___________________________________________________________________________

Nos casos em que  ≥ 16 mm ou quando a proporção de barras emendadas


na mesma seção for maior ou igual a 25 %, a armadura transversal deve:

 Ser capaz de resistir a uma força igual à de uma barra emendada, conside-
rando os ramos paralelos ao plano da emenda;
 Ser constituída por barras fechadas se a distância entre as duas barras mais
próximas de duas emendas na mesma seção for < 10  ( = diâmetro da bar-
ra emendada);
 Concentrar-se nos terços extremos das emendas.

6.9.2.4.2 – Emendas de barras comprimidas (ver fig. 6.4)

Devem ser mantidos os critérios estabelecidos para o caso anterior, com pelo
menos uma barra da armadura transversal posicionada 4  além das extremidades
da emenda.

Figura 6.4 – Armadura transversal nas emendas

6.14
CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 7

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Julho 2015

DETALHAMENTO DE VIGAS
__________________________________________________________________________

7.1 - Introdução

O detalhamento de elementos lineares constitui o capítulo 18 da NBR


6118:2014. No intuito de fixar os conceitos para o cálculo das armaduras longitudi-
nais destinadas a resistir às forças de tração produzidas pela flexão e das armadu-
ras transversais para combater a força cortante são calculadas e detalhadas vigas
biapoiadas e contínuas em concreto armado. O correto detalhamento dessas arma-
duras longitudinais e transversais é uma tarefa importante no projeto de vigas de
concreto armado.

Segundo o item 18.2.1 da NBR 6118:2014 “o arranjo das armaduras deve


atender não só à sua função estrutural como também às condições adequadas de
execução, particularmente com relação ao lançamento e ao adensamento do con-
creto. Os espaços devem ser projetados para a introdução do vibrador e de modo a
impedir a segregação dos agregados e a ocorrência de vazios no interior do elemen-
to estrutural.”

Algumas barras da armadura longitudinal, tracionadas pela flexão, podem ser


dobradas para resistir à força cortante ou são necessárias em nós de pórticos. O
diâmetro interno de curvatura dessas barras (diâmetro dos pinos de dobramento pa-
ra barras curvadas) não deve ser menor que 10  para aço CA-25, 15  para CA-50
e 18  para CA-60 (item 18.2.2 da NBR 6118:2014). Esses diâmetros de curvatura
podem ser reduzidos proporcionalmente à redução da tensão de cálculo nessas ar-
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

maduras de tração em relação à tensão de escoamento de cálculo, fyd, mas nunca a


valores inferiores aos exigidos para os ganchos (ver tabela 6.2).

As prescrições que se seguem são válidas para vigas isostáticas com relação
(/h) ≥ 2 e para vigas contínuas com relação (/h) ≥ 3, em que  é o comprimento do
vão teórico (ou o dobro do comprimento teórico, no caso de balanço) e h é a altura
total da viga. Vigas com relação (/h) menores devem ser tratadas como viga pare-
de.

7.2 – Armadura de tração na flexão simples, ancoradas por aderência

Segundo o item 18.3.2.3.1 da NBR 6118:2014, o trecho adicional da extremi-


dade da barra de tração, considerado como de ancoragem, tem início na seção teó-
rica onde sua tensão σs começa a diminuir, ou seja, a força de tração da armadura
começa a ser transferida para o concreto, ponto A da figura 7.1. A partir do ponto A,
que pertence ao diagrama de forças de tração RSd=(Md)/z decalado (deslocado) de

a, acrescenta-se o comprimento necessário de ancoragem, b,nec dado na equação


(6.5). A extremidade dessa barra ancorada deve prolongar-se até pelo menos 10 
além do ponto teórico de tensão σs nula, ponto B, (onde teoricamente começa o tre-
cho de ancoragem da próxima barra). O trecho além do ponto A não pode em caso
algum, ser inferior ao comprimento necessário de ancoragem b,nec.

Assim, na armadura longitudinal de tração dos elementos estruturais solicita-


dos por flexão simples, o trecho de ancoragem da barra deve ter início no ponto A

(figura 7.1) do diagrama de forças RSd=(Md)/z decalado de a, conforme equações


(5.34), para modelo I e (5.44), para modelo II. Esse diagrama deslocado equivale ao
diagrama de forças corrigido FSd,corr, equação (5.35). Se a barra não for dobrada, o
trecho de ancoragem deve prolongar-se além de B, no mínimo 10 .

7.2
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___________________________________________________________________________

Figura 7.1 – Cobertura do diagrama de força de tração solicitante pelo diagra-


ma resistente (Adaptado da figura 18.3 da NBR 6118:2014)

Nos pontos intermediários entre A e B, o diagrama resistente linearizado (tra-


cejado) deve cobrir o diagrama solicitante (ver figura 7.1). Se o ponto A estiver na
face do apoio ou além dela e a força FSd diminuir em direção ao centro do apoio, o
trecho de ancoragem deve ser medido a partir dessa face e deve obedecer ao dis-
posto em 7.3-b.

Na figura 7.1 o apoio da esquerda, em destaque, tem inicialmente um mo-

mento fletor nulo. Considerando o diagrama deslocado de aesse apoio estará

submetido a um pequeno momento fletor M = RSd x z. O valor médio de z = 0,9 d,


já utilizado no cálculo da armadura de cisalhamento (capítulo 5), pode ser tomado
como aproximadamente z ≈ d, devido ao pequeno valor de M. A armadura de tra-
ção devido à flexão deve sempre trabalhar com σsd = fyd, o que implica em:
7.3
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___________________________________________________________________________

RSd = As fyd (7.1)

No triangulo formado pelos catetos a e M, o ângulo  é a direção do dia-


grama de momentos na seção do apoio, cuja tangente dá a derivada desse diagra-
ma em relação ao eixo longitudinal da viga (x). A partir das relações diferenciais re-
lacionando os esforços solicitantes tem-se:

dM Sd, apoio ΔM d R Sd z R Sd d
tgα   VSd,apoio    (7.2)
dx a a a

De (7.1) e (7.2) calcula-se a armadura de tração necessária no apoio:

apoio
R Sd d A s,cal f yd d a  VSd,apoio
VSd,apoio    A apoio
s,cal  (7.3)
a a d f yd

7.3 – Armadura de tração nas seções de apoio

Segundo o item 18.3.2.4 da NBR 6118:2014, os esforços de tração junto aos


apoios de vigas simples ou contínuas devem ser resistidos por armaduras longitudi-
nais que satisfaçam a mais severa das seguintes condições:

a) no caso de ocorrência de momentos positivos, as armaduras obtidas atra-


vés do dimensionamento da seção;
b) em apoios extremos, para garantir ancoragem da diagonal de compres-

são, armaduras capazes de resistir a uma força de tração FSd = (a/d) Vd +


Nd, onde Vd é a força cortante no apoio e Nd é a força de tração eventual-
mente existente, mesma equação (7.3) para N = 0;
c) em apoios extremos e intermediários, por prolongamento de uma parte da
armadura de tração do vão (As,vão), correspondente ao máximo momento
positivo do tramo (Mvão), de modo que:

7.4
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___________________________________________________________________________

- As,apoio ≥ 1/3 (As,vão) se (Mapoio ≤ 0) e de valor absoluto Mapoio ≤ 0,5 Mvão;

- As,apoio ≥ 1/4 (As,vão) se (Mapoio < 0) e de valor absoluto Mapoio > 0,5 Mvão.

7.4 – Ancoragem da armadura de tração no apoio

Quando se tratar do caso de 7.3-a, as ancoragens devem obedecer aos crité-


rios da figura 7.1. Para os casos de 7.3-b e 7.3-c as barras das armaduras devem
ser ancoradas a partir da face do apoio, com comprimentos iguais ou superiores ao
maior dos seguintes valores:
- b,nec conforme equação (6.5);
- (r + 5,5 ), onde r é o raio de curvatura dos ganchos, conforme tabela 6.2;
- 60 mm.

Quando houver cobrimento da barra no trecho do gancho, medido normal-


mente ao plano do gancho, de pelo menos 70 mm, e as ações acidentais não ocor-
rerem com grande frequência com seu valor máximo, o primeiro dos três valores an-
teriores pode ser desconsiderado, prevalecendo as duas condições restantes.

Para os casos de 7.3-b e 7.3-c, em apoios intermediários, o comprimento de


ancoragem pode ser igual a 10 , desde que não haja qualquer possibilidade da
ocorrência de momentos positivos na região dos apoios, provocados por situações
imprevistas, particularmente por efeitos de vento e eventuais recalques. Quando es-
sa possibilidade existir, as barras devem ser contínuas, ou emendadas sobre os
apoios.

7.5 - Viga 1

Calcular e detalhar uma viga biapoiada com vão  = 5 m, seção 20x50 cm2 (d
= 46 cm), fck = 25 MPa (brita calcaria), aço CA 50 (flexão) e/ou CA 60 (cisalhamen-
to), apoio da esquerda com largura cesq = 20 cm e da direita cdir = 30 cm, obra resi-
dencial urbana (w k,lim = 0,3 mm, cnom = 3 cm), reação das lajes RL = GL + QL = 22 +

7.5
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

8 = 30 kN/m, alvenaria de tijolos furados com espessura de 25 cm e altura de 2,8 m


sobre a viga.

7.5.1 – Carga sobre a viga

Peso próprio pp = 0,2 x 0,5 x 25 = 2,5 kN/m


Peso da alvenaria palv = 0,25 x 2,80 x 13 = 9,1 kN/m g = 2,5+9,1+22 = 33,6 kN/m
Reação das lajes parcela permanente = 22 kN/m

Reação das lajes parcela acidental q = 8 kN/m

Reação total p = g + q = 33,6 + 8 p = 41,6 kN/m

7.5.2 – Esforços

Reação R = p  / 2 = 41,6 x 5 / 2 = 104 kN


MS,max = p 2 / 8 = (33,6 + 8 = 41,6) x 52 / 8 = 105 (Mg) + 25 (Mq) = 130 kNm

7.5.3 – Cálculo da armadura de flexão

fc = 1,518 kN/cm2 Tabela 1.11


K = (13000 x 1,4) / [1,518 x 20 x (46)2] = 0,283 < KL = 0,295 K’ = K = 0,283
As = As1 = (1,518 x 20 x 46 / 43,5) x [1 – (1 – 2 x 0,283) ] = 10,96 cm2
1/2

(d/h) = 46 / 50 ≈ 0,90 As,min = 0,15% x 20 x 50 = 1,5 cm2 < As = 10,96 cm2


As2 = A’s = 0 usando 2  5 mm como “porta-estribo” A’se = 0,39 cm2

Usando  = 16 mm (2,011 cm2) 6  16 mm Ase = 6 x 2,011 ≈ 12,1 cm2

7.5.4 – Verificação da fissuração

fctm = 0,3 x (25)2/3 = 2,56 MPa = 0,256 kN/cm2

7.6
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___________________________________________________________________________

γf2 = ψ1 = 0,4 combinação frequente, edifício residencial


γf = (1,4 x 130) / (105 + 0,4 x 25) = 1,58 > 1,4

Usando-se a equação (4.1) que não depende do detalhamento (ρri) para i =


16 mm, e tensão σsi calculada de forma aproximada:

f yd A s,cal 43,48 10,96


σ si    24,93kN/cm 2
γf A se 1,58 12,1

Φ i σ si 3σ si 16 24,93 3x24,93
wk    0,20mm  0,3mm (OK!)
12,5η1 E si f ctm 12,5x2,25 21000 0,256

Alternativamente a verificação da fissuração pode ser feita pela equação


(4.13), originada da equação (4.1) acima, resultando:

A se 3a w f yd 3x2,483x10 3 x43,48
   0,9  A se  A s,cal  10,96cm 2 com
A s,cal γ f f ctm 1,58x0,256

Φi 16
a w  7,361 10 5  7,361x105  2,483x103 equação (4.17)
γ f Wk 1,58x0,3

7.5.5 – Cálculo da armadura de cisalhamento

Para o cálculo da tensão convencional máxima de cisalhamento wd,max a for-


ça cortante máxima deve ser obtida na face do apoio:

VS,max = R - p x cesq / 2 = 104 - 41,6 x 0,2 / 2 = 99,84 kN


wd,max = VSd,max / (bw d) = (99,84 x 1,4) / (20 x 46) = 0,152 kN/cm2

Verificação do esmagamento da biela comprimida de concreto


wd,max < wd2 = 0,434 kN/cm2, tab. 5.2 ( concreto OK!)

7.7
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___________________________________________________________________________

Cálculo da armadura de cisalhamento (modelo I)


c0 = 0,0769 kN/cm2, tab. 5.3
ρw = 100 (0,152 – 0,0769) / 39,15 = 0,192 > ρw,min = 0,103, tab. 5.1
Asw = 0,192 x 20 = 3,84 cm2/m
Considerando estribo simples (dois ramos) Asw / 2 = 1,92 cm2/m
Usando t = 5 mm (0,196 cm2) s = 100 / (1,92 / 0,196) = 10,2 cm

Espaçamento máximo
wd,max / wd2 = 0,152 / 0,434 = 0,35 < 0,67 smax = 0,6 d = 0,6 x 46 ≈ 27 cm (OK!)

Estribo final  5 c/10 cm

7.5.6 – Detalhamento da seção transversal

bútil = 20 – 2 x (3 + 0,5) = 13 cm
n,cam = (13 + 2) / (1,6 + 2) = 4,2 4  16 mm na 1a e 2  16 mm na 2a camada
d’’real = [4 x (3,5 + 0,8) + 2 x (3,5 + 1,6 + 2 + 0,8)] / 6 = 5,5 cm > d’’adot = 4 cm
dreal = 50 – 5,5 = 44,5 cm < dadot = 46 cm

Kcorrigido = 0,303 > KL = 0,295 K’ = KL = 0,295


As1 = (1,518x20x44,5/43,5)x[1–(1–2x0,295)1/2]=(1,518x20x44,5/43,5)x0,36 = 11,18 cm2
As2 = (1,518 x 20 x 44,5 / 43,5) x [(0,303 - 0,295) / (1 - 3,75 / 44,5)] = 0,26 cm2
d’ = 3 + 0,5 + (0,5/2) = 3,75 cm (d/d’) = (44,5 / 3,75) = 11,9 > 5,34 =1

As,real = As1 + As2 = 11,18 + 0,26 = 11,44 cm2 < Ase = 12,1 cm2 (OK!)
A’s = As2 /  = 0,26 cm2 < A’se = 0,39 cm2 (OK!)

As armaduras efetivamente adotadas ou existentes, calculadas com o valor


adotado dadot = 46 cm, atendem às armaduras corrigidas, calculadas com os valores
reais de dreal = 5,5 cm e d’real = 3,75 cm.

7.8
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

7.5.7 – Cálculo dos comprimentos de ancoragem por aderência

De acordo a tabela 6.3 o comprimento básico de ancoragem para situação de


boa aderência (armadura no fundo da viga) é lb = 37,67  = 37,67 x 1,6 = 60,3 cm.

 Ancoragem no vão
De acordo a equação (6.5) o comprimento de ancoragem necessário sem
gancho (1 = 1), para As,cal = As,real = 11,44 cm2, é dado por:

b,nec = 1 x 60,3 x (11,44 / 12,1) = 57 cm > lb,min = 0,3 x 60,3 ≈ 18 cm (OK!)

 Ancoragem nos apoios

Conforme equação (5.34), com VSd,max = R = 104 kN, nesse caso calculado no
eixo do apoio, onde MS = 0, para estribos verticais ( = 90o), Vc = Vc0 = c0(bwd) =
0,0769 x 20 x 44,5 = 68,44 kN, tem-se:

 VSd,max 
a   d 1  cotgα   cotgα   44,5 104x1,4
1  0  0
 2VSd,max  Vc    2104x1,4  68,44  

a= 44,5x0,94 = 42 cm < d

a  VSd,apoio 104x1,4
A s,apoio
cal   0,94  3,15cm 2
d f yd 43,5

Levando-se 2  16 mm, (1/3) das 6 barras do vão, até os apoios e conside-


rando gancho (1 = 0,7):

b,nec = 0,7 x 60,3 x (3,15 / 4,02) ≈ 33 cm > b,min = 0,3 x 60,3 ≈ 18 cm (OK!)

Além disso, conforme 7.4, o comprimento necessário de ancoragem no apoio


deve ser maior que (r + 5,5) ou 60 mm. De acordo a tabela 6.2 o diâmetro do pino
7.9
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

de dobramento dos ganchos para  = 16 mm < 20 mm e aço CA 50, é D = 5. Por-


tanto o raio de curvatura dos ganchos deve ser:

r = D/2 + /2 = 5/2 + /2 = 3 (r + 5,5) = 8,5 = 8,5 x 1,6 ≈ 14 cm

Portanto o valor b,nec = 33 cm, calculado acima, é maior que todos os demais,
atendendo a NBR 6118:2014. Esse comprimento foi calculado com o número míni-
mo de barras levadas até o apoio (duas). No detalhamento final das armaduras de
flexão pode acontecer que mais barras devam ser levadas até os apoios, o que di-
minuiria esse valor.

7.5.8 - Comprimento das barras, para cobrir o diagrama de momentos fletores

Na figura 7.2 está traçado o diagrama de momentos fletores em escala sobre


a vista lateral da viga.

Figura 7.2 – Diagrama de M e comprimento das barras tracionadas

7.10
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

Nessa figura o momento máximo no meio da vão representa em outra escala,


a resultante de tração RSd,max = MSd,max / z. Como foi adotado 6 de 16 mm para
combater a esse momento, divide-se o comprimento máximo RSd,max em 6 partes
iguais, uma para cada barra do vão. Tem-se então 6 comprimentos em escala no
diagrama de momentos (sem decalagem), variando desde 500 cm (vão teórico da
viga) até 204 cm.

Os números circundados representam as barras conforme recomendado na


figura 18.3 da NBR 6118:2014 (adaptada na figura 7.1). Já os inscritos em retângu-
los representam as barras detalhadas de forma mais simplificada, adotando-se para

a a metade da altura h, portanto maior que d/2, e tomando-se como barra maior a
de comprimento igual à distância entre os pontos de momentos nulos (no caso 500
cm) e como barra menor, a de 204 cm.

Teoricamente a barra 6, circundada tem comprimento inicial “0” (zero), acres-

cido de cada lado, do valor de a = 42 cm e do comprimento necessário de ancora-

gem b,nec = 57 cm, resultando 6 = 0 + 2 x (42 + 57) = 198 cm. O comprimento dessa
barra deve prolongar-se além do ponto B, de cada lado do eixo de simetria, de um
valor não menor que 10 = 16 cm. Portanto, o comprimento de 6 fica, juntamente
com o das outras barras:

6 = 0 + 2 x (42 + 57) = 198 cm < 204 + 2 x (42 + 16) = 320* cm.

5 = 204 + 2 x (42 + 57) = 402 cm < 289 + 2 x (42 + 16) = 405* cm.

4 = 289 + 2 x (42 + 57) = 487* cm < 354 + 2 x (42 + 16) = 470 cm.
(*) valor adotado das barras (a barra 4 também será levada até os apoios)

Não será necessário calcular os comprimentos das outras três barras porque
elas são maiores que o comprimento entre as faces internas dos apoios, 0 = 500 –

7.11
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

20/2 – 30/2 = 475 cm. Com isso serão levadas três barras até os apoios, o que dimi-
nuirá o comprimento necessário de ancoragem nos apoios para:

       (r + 5,5) = 8,5 = 8,5 x 1,6 ≈ 14 cm


b,nec = 0,7 x 60,3 x (3,15 / 8,04) ≈ 17 cm > b,min = 0,3 x 60,3 ≈ 18* cm (OK!)
6 cm

O comprimento das barras inscritas em retângulos, calculadas de forma sim-

plificada com a = h/2 = 25 cm, fica:

6 = 204 + 2 x (25 + 57) = 368* cm > 204 + 2 x (42 + 16) = 320 cm.

5 = 289 + 2 x (25 + 57) = 453* cm > 289 + 2 x (42 + 16) = 405 cm.

4 = 354 + 2 x (25 + 57) = 518* cm (> 0) > 354 + 2 x (42 + 16) = 470 cm.

(*) valor adotado das barras

Aqui também não será necessário calcular os comprimentos das outras três
primeiras barras, resultando o novo valor para o comprimento necessário de ancora-
gem nos apoios, b,nec = 18 cm.

7.5.9 – Detalhamento da viga

7.5.9.1 – Barras de flexão (longitudinais)

O detalhamento inicial será feito considerando as quatro primeiras barras le-


vadas até os apoios e as outras duas com os comprimentos já calculados anterior-
mente. As primeiras foram calculadas supondo ancoragem com gancho, que será
considerado em ângulo reto, portanto com ponta reta não inferior a 8 = 8 x 1,6 ≈ 13
cm.

7.12
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___________________________________________________________________________

As barras 1 a 4 terão um comprimento reto igual ao comprimento entre as fa-


ces externas da viga (500 + 10 + 15 = 525 cm), menos duas vezes o cobrimento (2 x
3 = 6 cm), menos 0,5 de cada lado (2 x 0,5 x 1,6 = 1,6 cm), para se ter os eixos dos
trechos retos dos ganchos das barras, menos (2 x 3) = 2 x 3 x 1,6 = 9,6 cm (raios de
curvatura dos ganchos dos dois lados), resultando:

reto,1-2-3 ≤ 525 – 6 – 1,6 – 9,6 = 507,8 cm adotado = 507 cm

O trecho curvo dos ganchos tem o comprimento dado por [(1/4) 2 (3)] =
0,25 x 2 x  x 3 x 1,6 ≈ 8 cm, ou seja, um quarto do círculo cujo raio vale 3. No apoio
da esquerda, cesq = 20 cm, as barras 1 a 4 tem um comprimento reto dentro desse
apoio dado por (20 - 3 - 0,5x1,6 – 3x1,6 ≈ 11 cm). Somando ao trecho curvo do gan-
cho, 8 cm, mais o trecho reto na extremidade (não inferior a 8 = 8x1,6 ≈ 13 cm),
dando um comprimento total a partir da face do apoio (11 + 8 + 13 = 32 cm) > b,nec =
18 cm (valor do comprimento de ancoragem necessária quando se leva 4 de 16
mm até os apoios).

Analogamente no apoio da direita, cdir = 30 cm, o comprimento total dentro do


apoio vale (21 + 8 + 13 = 42 cm), maior que os 18 cm necessários. Portanto, o com-
primento reto das barras 1 a 4 fica, conforme já calculado anteriormente, (475 + 11 +
21) = 507 cm. O comprimento total dessas quatro barras vale 507 + 2 x (8 + 13) =
549 cm, e o das outras barras (5 e 6) já foram calculadas anteriormente. Essas seis
barras estão detalhadas na figura 7.4 adiante.

7.5.9.2 – Barras da armadura transversal (estribos)

A armadura de cisalhamento foi calculada anteriormente para o máximo valor


da força cortante na face do apoio, que ocorreu no apoio da esquerda (cesq < cdir).
Esse valor do cortante (99,84 kN) é um pouco superior ao da face do apoio da direita
(104 – 41,6x0,15 = 97,76 kN), podendo-se considerar a mesma taxa ρw = 0,192, já
calculada para o da esquerda, também no apoio da direita. Esses dois valores de
cortante são os extremos que ocorrem na viga. Na região central a força cortante
7.13
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

diminui, em módulo, até um valor correspondente ao cortante mínimo, abaixo do


qual a utilização do estribo mínimo absorve o cisalhamento (ver figura 7.3).

O valor de ρw,min = 0,103, implica em wd,min = 0,117 kN/cm2, para fck = 25


MPa, conforme tabela 5.4. O cortante VSd,min = wd,min (bw d) = 0,117 x 20 x 44,5 =
104,1 kN resultando no valor VS,min = (VSd,min / 1,4) = 104,1 / 1,4 = 74,4 kN. A distân-
cia, a partir do eixo do apoio, que a força cortante assume esse valor é dado por x =
(104 - 74,4) / 41,6 = 0,71 m = 71 cm.

Para ρw,min = 0,103 a armadura Asw,min = 0,103 x 20 = 2,06 cm2/m. Conside-


rando estribo simples, dois ramos, vem:

(Asw,min)/2 = 1,03 cm2/m s = 100 / (1,03 / 0,196) = 19 cm  5 c/19 cm

Figura 7.3 – Diagrama de V com trechos de estribos máximos e mínimos

7.14
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

7.5.9.3 – Viga detalhada (desenho)

No desenho 7.4 a viga biapoiada calculada acima é desenhada mostrando os


detalhes das armaduras longitudinais e transversais. Nesse exemplo houve armadu-
ra A’s,cal = 0,26 cm2, resultando em Ase = 0,39 cm2 (2 5mm), que seria a mesma
armadura mínima para “porta-estribo”, caso não houvesse armadura de compres-
são.

Figura 7.4 – Viga V1 detalhada

A posição N5, estribo, foi considerada com gancho em ângulo reto que deve
ter ponta reta de comprimento maior ou igual a 10t = 10 x 0,5 = 5 cm, porém não

7.15
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
___________________________________________________________________________

inferior a 7 cm, conforme item 9.4.6 da NBR 6118:2014. Assim o comprimento final
do estribo será:
2 x (44 + 14 + 7) = 130 cm

O detalhamento da figura 7.4 foi feito considerando comprimentos distintos


para todas as barras, a menos das quatro maiores, que foram levadas até os apoios.
Normalmente o detalhamento é feito considerando as barras detalhadas aos pares.
Nesse caso teríamos quatro barras, correspondendo a posição N5, levadas até os
apoios e duas barras na segunda camada, 2 N3, eliminando-se assim posição N2,
do detalhamento inicial.

As duas barras N3, para o caso de serem detalhadas aos pares, estão afas-
tadas “37,5 cm” (35 cm ou 40 cm) da face do apoio da esquerda e “32,5 cm” (normal
afastar 35 cm) do da direita. De forma simplificada pode-se adotar duas barras N3,
nesse caso, com comprimento igual a 475 - 3x35 = 370 cm, uma afastada 35 cm da
face do apoio da esquerda e a outra 35 cm da face do apoio da direita. Essas barras
estariam defasadas de 35 cm, teriam o mesmo comprimento (370 cm) e cobririam o
diagrama da mesma forma que as de comprimento maior (405 cm), do detalhamento
inicial.

7.6 - Viga 2

Calcular e detalhar uma viga contínua de 3 vãos, de um pavimento intermedi-


ário, com pé-direito (distância entre as faces das lajes de piso e forro de um mesmo
pavimento) de 2,80 m, concreto fck = 35 MPa, aços CA 50 e CA 60.
A seção transversal da viga é de 15x50 cm2, d= 45 cm (prevendo armadura
tracionada em duas camadas), os pilares são todos de 20x20 cm2, as cargas, vãos e
diagramas de força cortante e momento fletor estão apresentados na figura 7.5.

7.16
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7.6.1 - Correções no modelo de viga contínua

Conforme o item 14.6.7.1 da NBR 6118:2014 o modelo clássico de viga contí-


nua, simplesmente apoiada nos pilares, para o estudo das cargas verticais, pode ser
utilizado observando-se a necessidade das seguintes correções adicionais:

a) não devem ser considerados momentos positivos menores que os que se ob-
teriam se houvesse engastamento perfeito da viga nos apoios internos;
b) quando a viga for solidária com o pilar intermediário e a largura do apoio, me-
dida na direção do eixo da viga, for maior que a quarta parte da altura do pi-
lar, não pode ser considerado momento negativo de valor absoluto menor do
que o de engastamento perfeito nesse apoio;

Figura 7.5 – Viga 2, cargas e diagramas de esforços solicitantes

7.17
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c) quando não for realizado o cálculo exato da influência da solidariedade dos


pilares com a viga, deve ser considerado, nos apoios extremos, momento fle-
tor igual ao momento de engastamento perfeito multiplicado pelos coeficien-
tes estabelecidos nas seguintes relações:
- na viga:
Mvig = Meng (rsup + rinf) / (rsup + rinf + rvig)

- no tramo (vão) superior do pilar:


Msup = Meng (rsup) / (rsup + rinf + rvig)

- no tramo (vão) inferior do pilar:


Minf = Meng (rinf) / (rsup + rinf + rvig)

Onde ri = Ii / i é a rigidez do elemento i no nó “i” extremo analisado.

Alternativamente, o modelo de viga contínua pode ser melhorado, conside-


rando-se a solidariedade dos pilares com a viga, mediante a introdução da rigidez à
flexão dos pilares extremos e intermediários (pórtico plano).

Os momentos negativos sobre os apoios extremos para a viga contínua aci-


ma, calculados considerando-se a correção c), são obtidos conforme:

 Apoio extremo da esquerda


rsup = rinf = Isup / sup = (20 x 203/12) / 280 = 48

rvig = Ivig / vig = (15 x 503/12) / 600 = 260

Meng = (20x62/12) + [20x2/(12x62)]x[12x5x12 + 22x(6-3x1)] = 66,7 kNm (obtido das tabe-


las de momentos de engastamento perfeito de barras biengastadas)

Mvig = 66,7 x [(48 + 48) / (48 + 48 + 260)] = 18,0 kNm

7.18
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 Apoio extremo da direita


rsup = rinf = Isup / sup = (20 x 203/12) / 280 = 48

rvig = Ivig / vig = (15 x 503/12) / 500 = 313

Meng = (25x52/12) + [10x3,5/(12x52)]x[12x1,752x3,25 + 3,52x(5-3x1,75)] = 65,7 kNm (ob-


tido das tabelas de momentos de engastamento perfeito de barras biengastadas)

Mvig = 65,7 x [(48 + 48) / (48 + 48 + 313)] = 15,4 kNm

Segundo a correção a) o momento positivo máximo no segundo vão conside-


rando engaste perfeito nos apoios é M*max = 30 x 4,52 / 24 = 25,3 kNm (diagrama
tracejado na figura 7.5). Esse é o valor a ser dimensionado, que além de positivo é
maior que o encontrado no diagrama de M da figura 7.5, M = - 14,4 kNm (negativo).
Para o primeiro e terceiro vãos não será necessário fazer essa verificação, pois com
os momentos de extremidades nulos os diagramas de momentos positivos nesses
dois trechos resultam em valores maiores que os encontrados na situação de engas-
te perfeito (Meng,esq = - 66,7 kNm e Meng,dir = - 65,7 kNm calculados acima).

7.6.2 - Dimensionamento à flexão

fc = 2,125 kN/cm2, para (45/50) = 0,9 As,min = 0,15% Ac = 1,13 cm2 (tab. 2,7)
M (momento positivo) X (momento negativo)

X*esq = 18 kNm K = 0,039 < KL As = 1,31 cm2 > 1,13 cm2 (OK!)
adotar 2 10mm Ase = 1,57 cm2
X1 = 109,4 kNm K = 0,237 < KL As = 9,07 cm2 > 1,13 cm2 (OK!)
adotar 5 16mm Ase = 10,06 cm2 (2 na segunda camada)
X* = 14,4 kNm K = 0,031 < KL As = 1,05 cm2 < 1,13 cm2 (adotar o mínimo)
adotar 2 10mm Ase = 1,57 cm2
X2 = 73,6 kNm K = 0,160 < KL As = 5,77 cm2 > 1,13 cm2 (OK!)

7.19
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adotar 3 16mm Ase = 6,03 cm2


X*dir = 15,4 kNm K = 0,033 < KL As = 1,12 cm2 < 1,13 cm2 (adotar o mínimo)
adotar 2 10mm Ase = 1,57 cm2

M1 = 95,5 kNm K = 0,207 < KL As = 7,74 cm2 > 1,13 cm2 (OK!)
adotar 4 16mm Ase = 8,04 cm2 (1 na segunda camada)
M*2 = 25,3 kNm K = 0,055 < KL As = 1,86 cm2 > 1,13 cm2 (OK!)
adotar 3 10mm Ase = 2,36 cm2
M3 = 115,3 kNm K = 0,250 < KL As = 9,66 cm2 > 1,13 cm2 (OK!)
adotar 5 16mm Ase = 10,06 cm2 (2 na segunda camada)

7.6.3 – Verificação da fissuração

fctm = 0,3 x (35)2/3 = 3,21 MPa = 0,321 kN/cm2


γf = 1,4 (como não foram fornecidas as parcelas permanente e acidental das cargas,
adota-se esse valor mínimo, a favor da segurança, na previsão da abertura das fis-
suras).

M1 = 95,5 kNm (As,cal = 7,74 cm2 Ase = 8,04 cm2 4 16mm)


σsi = (43,5/1,4)x(7,74/8,04) = 29,9 kN/cm2 wk = 0,28mm < 0,3mm (OK!)

M3 = 115,3 kNm (As,cal = 9,66 cm2 Ase = 10,06 cm2 5 16mm)


σsi = (43,5/1,4)x(9,66/10,08) = 29,8 kN/cm2 wk = 0,28mm < 0,3mm (OK!)

X1 = 109,4 kNm (As,cal = 9,07 cm2 Ase = 10,06 cm2 5 16mm)


σsi = (43,5/1,4)x(9,07/10,06) = 28,0 kN/cm2 wk = 0,25mm < 0,3mm (OK!)

X2 = 73,6 kNm (As,cal = 5,77 cm2 Ase = 6,03 cm2 3 16mm)


σsi = (43,5/1,4)x(5,77/8,03) = 29,7 kN/cm2 wk = 0,28mm < 0,3mm (OK!)

7.20
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Todas as aberturas estimadas das fissuras acima foram calculadas com a


equação (4.1), que não depende do arranjo usado no detalhamento. Embora essa
equação forneça normalmente aberturas estimadas maiores que as obtidas com a
equação (4.2), todos os valores wk calculados acima foram aceitáveis. Portanto não
será necessário fazer a verificação pela equação (4.2), que depende também da ta-
xa ρri, função da área de envolvimento Acri, ou seja, do detalhamento.

7.6.4 - Dimensionamento ao cisalhamento (Modelo I)

w,min = 0,128 (Tab. 5.1), Asw,min = 0,128x15=1,92 cm2/m


wd2 = 0,581 kN/cm2 (tab. 5.2), c0 = 0,0963 k/cm2 (tab. 5.3),
wd,min = 0,147 kN/cm2 (tab. 5.4), Vmin = 0,147x15x45 / 1,4 = 70,9 kN

 Verificação do concreto
VS,max = 138,2 - (40 x 0,20 / 2) = 134,2 kN
wd,max = 134,2 x 1,4 / (20 x 45) = 0,209 kN/cm2 < wd2 = 0,581 (tab. 5.2) (OK!)

 Cálculo de Asw para cortantes máximos dos vãos


 Vão1
V = 61,8 kN wd,face = (61,8 – 20x0,1)x1,4 / (15x45) = 0,124 kN/cm2 < 0,147 kN/cm2
w = w,min Asw,min/2 =0,96 cm2/m  5 c/20

V = 138,2 kN wd,face = (138,2 – 40x0,1) x1,4 / (15x45) = 0,209 kN/cm2


w = 100x(0,209-0,0963)/39,15 = 0,465 Asw/2= 3,49 cm2/m  8 c/14

 Vão 2
V = 75,3 kN wd,face = (75,3 – 30x0,1) x1,4 / (15x45) = 0,150 kN/cm2
w = 100x(0,150-0,0963)/39,15 = 0,137 Asw/2= 1,03 cm2/m  5 c/19

V = 59,5 kN wd,face = (59,5 – 40x0,1) x1,4 / (15x45) = 0,117 kN/cm2 < 0,147 kN/cm2
w = w,min Asw,min/2 =0,96 cm2/m  5 c/20

7.21
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 Vão 3
V = 115 kN wd,face = (115 – 35x0,1) x1,4 / (15x45) = 0,231 kN/cm2
w = 100x(0,231-0,0963)/39,15 = 0,345 Asw/2= 2,59 cm2/m  8 c/19

V = 95 kN wd,face = (95 – 25x0,1) x1,4 / (15x45) = 0,192 kN/cm2


w = 100x(0,192-0,0963)/39,15 = 0,244 Asw/2= 1,83 cm2/m  5 c/10

Em todos os vão foram determinados os trechos com estribos mínimos, re-


presentados na figura 7.5 com hachuras menos densas.

7.6.5 – Cálculo dos comprimentos de ancoragem por aderência

O comprimento básico de ancoragem para situação de boa aderência, para fck


= 35 MPa, é igual a b = 30,10, ou podem ser usados os comprimentos arredonda-
dos (múltiplos de 5 cm) para as diversas bitolas da tabela 6.3. Os comprimentos
necessários b,nec = b (As,cal / Ase) para os vãos (positivos), e apoios (negativos) fi-
cam:

 Momentos positivos (região de boa aderência)


M1 = 95,5 kNm (As,cal=7,74 cm2 Ase 8,04 cm2)  b,nec = 50x7,74 / 8,04 = 48 cm

M3 = 115,3 kNm (As,cal=9,66 cm2 Ase=10,06 cm2)  b,nec = 50x9,66/10,06 = 48 cm

 Momentos negativos (região de má aderência b,má = b/0,7=30,1/0,7 ≈70 cm)

X1 = 109,4 kNm (As,cal=9,07 cm2 Ase=10,06 cm2)  b,nec = 70x9,07 / 10,06 =63 cm

X2 = 73,6 kNm (As,cal=5,77 cm2 Ase=6,03 cm2)  b,nec = 70x5,77/6,03 =67 cm

 Vão 1 - Apoio da esquerda - Levando-se 3 16mm até os apoios (1a CAM)

7.22
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Vc = Vc0 = 0,0963 x 15 x 45 = 65,0 kN VSd,max = 61,8 x 1,4 = 86,52 kN


86,52
a   45  90,5  d  a   d  45cm FSd = (a/d) VSd = 86,52 kN
286,52  65

As,cal = FSd / fyd = 86,52 / 43,5 = 1,99 cm2 b,nec = 50 x 1,99 / 6,03 ≈17 cm >16 cm
b,min > (0,3 b = 0,3x50 = 15 cm, ou 10 = 16 cm, ou 10 cm)
Como b,nec calculado sem gancho é igual a largura do apoio menos o cobrimento
(20-3) = 17 cm, pode-se ancorar as 3 barras no apoio sem dobra.

 Vão 1 - Apoio da direita

Vc = 65 kN VSd,max = 138,2 x 1,4 = 193,48 kN a= 34 cm

Conforme figura 7.5, o ponto de momento nulo do diagrama de M (positivo)

está a 91 cm do eixo do segundo apoio e o diagrama deslocado, de a= 34 cm, está


a uma distância da face desse apoio de (91-34-10) = 47 cm (antes da face). Nesse
caso, de acordo 7.4, o comprimento de ancoragem a partir da face do apoio pode
ser de 10 = 16 cm, desde que se leve (1/4) das barras do vão (no mínimo 2 barras)

até o apoio (não precisa colocar b,nec a partir da face).

Além do diagrama deslocado deve ser acrescentado o comprimento b,nec =


48 cm, portanto a primeira barra deveria entrar no apoio (48 - 47) = 1 cm, menor que
10 = 16 cm, mencionado acima. Assim, no detalhamento do primeiro vão serão le-
vadas três barras até o apoio interno, entrando no mínimo 16 cm a partir da face.

 Vão 3 - Apoio da direita - Levando-se 3 16 mm até os apoios

Vc = 65 kN VSd,max = 95 x 1,4 = 133 kN a = 44 cm FSd = 130 kN

As,cal = 130 / 43,5 = 2,99 cm2 b,nec = 50 x 2,99 / 6,03 ≈ 25 cm (OK!)

Esse comprimento é maior que (20 - 3) = 17 cm, devendo ser ancorado no


apoio com gancho (ver barra N11 na figura 7.6), cujo comprimento será b,nec = 0,7 x
25 = 17 cm (ponta reta do gancho não inferior a 8 = 13 cm).
7.23
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 Vão 3 - Apoio da esquerda - Levando-se 3 16 mm até os apoios

Vc = 65 kN VSd,max = 115 x 1,4 = 161 kN a = 38 cm

A distância do ponto de momento (positivo) nulo do diagrama deslocado até a


face do apoio é (72 - 38 - 10) = 24 cm, ou seja, antes da face do apoio. Com isso a
ancoragem a partir da face pode ser de 10 = 16 cm. Como b,nec = 48 cm a barra
positiva mais comprida desse terceiro vão deverá entrar no apoio (48 -24) = 24 cm,
conforme N11 da figura 7.6.

No segundo vão o diagrama real de momentos é negativo, devendo para efei-


to de dimensionamento ser substituído pelo diagrama na situação de engastamento
perfeito (diagrama tracejado na figura 7.5). As três barras N9 da figura 7.6 devem
ser levadas até os apoios entrando 10 = 10 cm nos mesmos.

A correção do diagrama de momentos negativos para viga contínua simples-


mente apoiada sobre os apoios, conforme figura 7.5, estende-se 32 cm a partir do
eixo do pilar extremo da esquerda e 17 cm para o da direita. O comprimento neces-
sário à esquerda é b,nec = (30,10x1,0) x (1,31/1,57) = 25 cm e à direita é b,nec =
(30,10x1,0) x (1,12/1,57) = 22 cm. Essas duas armaduras serão detalhadas para o
máximo valor de a = d = 45 cm e ancoradas nos apoios a partir das suas faces (tre-
cho reto do gancho igual a 8 = 8 cm).

7.6.6 – Viga detalhada (desenho)

A figura 7.6 apresenta a viga V2 detalhada mostrando as barras da armadura


positiva e negativa. As barras detalhadas devem satisfazer aos cálculos à flexão e
ao cisalhamento cobrindo com segurança os diagramas desses esforços solicitan-
tes.

Normalmente as curvas do diagrama de momentos para os trechos negativos


são bem próximas das retas que ligam os pontos de momentos nulos com os pontos

7.24
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
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de momentos máximos sobre os apoios. A consideração dessas retas em substitui-


ção aos diagramas reais além de ser a favor da segurança na cobertura do diagra-
ma, facilita o cálculo dos comprimentos das barras negativas. Dessa forma foram
calculadas as barras 2,3,4 e 6.

Barra 2 distância entre pontos de momentos nulos = 32 cm

Trecho reto 32+(20/2)+(a=45)+(b,nec=25)-(cob=3)-(3,5=3,5) = 106 cm

Comp. total 2= 106 + (trecho curvo=5) + (ponta reta-8=8) = 119 cm

Barra 6 distância entre pontos de momentos nulos = 17 cm


Trecho reto 17+(20/2)+(a=44)+(b,nec=22)-(cob=3)-(3,5=3,5) = 87 cm

Comp. total 6 = 87 + (trecho curvo=5) + (ponta reta-8=8) = 100 cm

Barra 3 distância entre pontos de momentos nulos (91 cm e 72 cm)


Como o diagrama de M continua negativo até o próximo apoio, cujo momento ne-
cessita de 3 16 mm, prolongam-se as três barras da primeira camada até 72 cm
além do terceiro apoio.
3= (91+450+72) + (a,1=34) + (b,nec-1=63) + (a,3=38) + (b,nec-3=67) = 815 cm

Barra 4
O trecho de 91 cm dividido pelas cinco barras negativas do segundo apoio dá um
comprimento igual a (91 /5) = 18 cm. Para a segunda barra fica 2 x 18 = 36 cm. Cor-
respondente a essa barra, conforme o diagrama da figura 7.5, no vão 2 o compri-
mento será de 78 cm.
4= (36+78) + 2x34(a) + 2x63(b,nec) = 308 cm ≈ 310 cm

Barras 1 e 5
As barras para “porta-estribos” N1 e N5 são obtidas com a distância livre en-
tre as barras das armaduras negativas prolongadas de cada lado do comprimento de
traspasse b = (30,10) / 0,7 = 30 x 0,5 = 21 cm ≈ 20 cm.

7.25
Departamento de Engenharia de Estruturas (DEEs) Detalhamento
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1= 600 + 10 - [3 - 0,5 - 3 - 106] - (135 + 55) + 2 x 20 = 348 cm


5= 500 + 10 - [3 - 0,5 - 3 - 87] - 175* + 2 x 20 ≈ 282 cm
(*) 175 = 3 - (55 + 135) - 450 = 815 - 190 - 450

Barras 7 a 11
7= 600 - 154 - 178 + 45 + 34 + 2 x 48 = 443 cm
(154 e 178 ver cotas do diagrama de M no vão1 da figura 7.5)
8= 580 + 20 - 3 + 16 = 613 cm
9= 430 + 2 x 10 = 450 cm
10= 500 - 166 - 82 + 38 + 44 + 2 x 48 = 430 cm
(166 e 82 ver cotas do diagrama de M no vão 3 da figura 7.5)
11= (480 + 24 + 20 - 3 - 0,8 - 5) + 8 + 13 = 515 + 8 + 13 = 536 cm

Estribos
N12 (=5mm) 2 ganchos = 20t = 20 x 0,5 = 10 cm < 14  14 cm
12= 2 x (9 + 44) + 14 = 120cm
N13 (=8mm) 2 ganchos = 20t = 20 x 0,8 = 16 cm > 14 cm
13= 2 x (9 + 44) + 16 = 122 cm

As barras 2, 6, 8 e 11 estão afastadas 3 cm (cobrimento) das faces externas


laterais da viga. A barra negativa N3 começa a (91 + 34 + 63 = 188) ≈ 190 cm a es-
querda do eixo do segundo pilar e prolonga-se até (72 + 38 + 67 = 177) ≈ 175 cm, a
direita do terceiro pilar. A barra N4 é obtida com o diagrama de momento negativo,
retificado conforme figura 7.5, dando (91 / 5) x 2 = 36 cm. Do lado direito do eixo do
primeiro apoio a medida do diagrama de M é de 78 cm (figura 7.5), ficando o com-
primento da barra N4 dado por (36 + 34 + 63) + (78 + 34 + 63) = 308 ≈ 310 cm. Essa
barra começa a (36 + 34 + 63) = 133 ≈ 135 cm a esquerda do segundo pilar.

7.26
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Figura 7.6 – Viga V2 detalhada

7.27

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