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Teoria e prática da
Tradução

Circulação Interna

Textos extraídos Do Livro Teoria e Prática da Tradução: Juliana Cristina Faggion Bergmann
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Apresentação
Escrever sobre tradução é sempre um grande desafio e conosco não foi diferente. Tivemos
como principal objetivo mostrar a você a riqueza e a importância dessa área, que pode aparecer
como uma nova perspectiva de trabalho ou contribuir para o enriquecimento do nosso conheci-
mento sobre língua e lingüística aplicada.
O interesse pela tradução vem claramente aumentando nos últimos anos, assim como a
equivalente necessidade de profissionalização da área, o que se reflete na inclusão dessa disciplina
em diversos currículos do curso de Letras. As perspectivas trazidas pelo mercado de trabalho
fizeram com que esse ramo de atividade crescesse enormemente nos últimos anos, incentivadas por
necessidades aportadas pela globalização e pela expansão natural das fronteiras lingüísticas.
Quanto maior o desejo de comunicação das pessoas, maior a necessidade de que traduções - boas
traduções - sejam feitas.
No primeiro capítulo, você encontrará a trajetória histórica da tradução através dos seus
períodos mais característicos; no segundo e terceiro capítulos, ressaltamos posições teóricas que
subjazem ao fenômeno da tradução, em especial, a perspectiva tradicional em contraste com a
contestadora, sendo que esta se apoia nos mais recentes estudos sobre a linguagem, como a análise
do discurso. No quarto capítulo, tratamos do dicionário, instrumento de grande relevância para a
atividade tradutória e, no quinto e sexto capítulos, mostramos as implicações tradutórias entre texto
literário/poético e tradução especializada.
Esperamos que você aproveite esta leitura para fazer da tradução não apenas uma
possibilidade profissional a mais, mas também uma ferramenta interessante e importante para o
ensino, para o conhecimento e reflexão sobre a própria língua, a língua estrangeira que você
conhece e a linguística, com todas as suas nuanças e especificidades.

Bom estudo e bom trabalho!

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Sumário
Introdução............................................................................................................................. 4

CAPÍTULO 1
A história da tradução......................................................................................................... 5
1.1 Os passos da tradução ao longo da história....................................................................... 6
Síntese..................................................................................................................................... 9
Atividades de Síntese.............................................................................................................. 10

CAPÍTULO 2
A corrente tradicional........................................................................................................... 11
2.1 A tradução e a concepção saussuriana da língua............................................................... 12
2.2 Jakobson e as seis funções da linguagem........................................................................... 13
2.3 A teoria dos atos de fala..................................................................................................... 14
Síntese..................................................................................................................................... 16
Atividades de Síntese.............................................................................................................. 16

CAPÍTULO 3
A corrente contestadora........................................................................................................ 17
3.1 A tradução e o discurso...................................................................................................... 19
3.2 O dialogismo e o contexto discursivo............................................................................... 19
3.3 A tradução e a corrente contestadora................................................................................. 23
Síntese..................................................................................................................................... 24
Atividades de Síntese.............................................................................................................. 24

CAPÍTULO 4
Os dicionários e a tradução.................................................................................................. 26
4.1 O uso do dicionário............................................................................................................ 27
4.2 O dicionário e o ofício do tradutor..................................................................................... 27
4.3 A organização do dicionário.............................................................................................. 28
4.4 Os tipos de dicionários....................................................................................................... 29
4.5 Como avaliar um bom dicionário?..................................................................................... 31
Síntese..................................................................................................................................... 32
Atividades de Síntese.............................................................................................................. 32

CAPÍTULO 5
A tradução poética................................................................................................................ 34
5.1 O texto poético/literário..................................................................................................... 35
5.2 As particularidades do texto poético.................................................................................. 36
Síntese..................................................................................................................................... 38
Atividades de Síntese.............................................................................................................. 38

CAPÍTULO 6
A tradução especializada..................................................................................................... 40
6.1 A tradução de textos escritos............................................................................................ 41

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6.2 A tradução audiovisual...................................................................................................... 42


6.3 Tradução versus interpretação.......................................................................................... 44
Síntese..................................................................................................................................... 45
Atividades de Síntese.............................................................................................................. 46

CAPÍTULO 7
Relação entre Linguística aplicada e tradução.................................................................. 48
7.1 A história da tradução...................................................................................................... 49
7.2 O trabalho do professor de línguas................................................................................... 51
Síntese..................................................................................................................................... 53
Atividades de Síntese.............................................................................................................. 53

Considerações Finais............................................................................................................. 54
Glossário............................................................................................................................... 55
Referências............................................................................................................................. 56
Gabarito................................................................................................................................. 58
Atividades Avaliativas............................................................................................................ 60

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Introdução
Sempre que iniciamos o estudo da tradução, percebemos o quanto é difícil datar seus
diferentes momentos de maneira precisa. O conceito de tradução está diretamente relacionado ao de
língua, e o que percebemos é, além das mudanças constantes de conceitos, a freqüente coexistência
de diferentes ideais, o que dificulta uma datação para os períodos.
De qualquer maneira, é possível destacar duas constantes. As discussões e os conceitos de
tradução giram em torno de duas importantes dicotomias: traduzibilidade versus
intraduzibilidade de um texto. E, quando consideramos a possibilidade de se traduzir, como é o
nosso caso aqui, deparamo-nos com a dicotomia tradução palavra-por-palavra versus tradução
pelo sentido.
No primeiro caso, a discussão é mais complexa. Muitos autores acreditam que é impossível
traduzir sem a perda de elementos importantes do texto na língua fonte, em especial àqueles ligados
a critérios estéticos. Outros afirmam que as perdas são naturais, mas que são justificáveis, já que
abrem a possibilidade de acesso daquele texto a um leitor que não o teria de outra forma.
E nesses pilares que se apoiam as grandes discussões teóricas sobre a tradução, enfatizando
em cada momento da história um ou outro lado, com mais ou menos força, e as tentativas de
teorização ainda não conseguiram estabelecer com segurança “uma” teoria da tradução. Por isso,
procuramos traçar um panorama sobre a tradução que pudesse situá-lo neste vasto campo de
estudos e debates. E como o próprio tema exige, serão abordados aspectos teóricos que
consideramos relevantes para o nosso estudo. Por outro lado, esclarecemos que este módulo não
tem por ambição ensinar a traduzir através do desenvolvimento de estratégias próprias, mas de
sensibilizá-lo à reflexão tradutória.
E é o que veremos a partir de agora!

A todos, bons estudos!

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Não há civilização que não tenha sua versão de Babel,


sua mitologia da dispersão primeva.. (George Steiner, 2005, p. 84)

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Iniciaremos nosso percurso, neste capítulo, com um pouco de história da


tradução e a de sua evolução em diferentes momentos, contextualizando o tema com o
qual trabalharemos através de um panorama.

1.1 Os passos da tradução ao longo da história

Veremos, nesta sequência de etapas, que o conceito de uma boa ou má tradução está
diretamente relacionado ao conceito de língua que vigorou em cada momento cultural e histórico,
embora tenhamos encontrado algo comum e permanente ao longo desse processo, que é a presença
da dicotomia tradução palavra-por-palavra versus tradução pelo sentido, que esteve e está sempre
presente.

1.1.1 A tradução em seus primeiros passos

Apesar das dificuldades encontradas para marcar fases dentro da história da tradução,
muitos teóricos, como William Steiner e George Jacobsen, aceitam e consideram que os primeiros
passos da tradução começaram a ser dados pelos romanos, em especial com Cícero e Horácio, no
século I a.C. Estes dois autores viam a tradução de uma forma mais ampla e acreditavam que uma
das funções dos poetas era a de disseminar a sabedoria, o que faziam mediante a tradução.
Assim, a tradução entre os romanos começou através da literatura, em especial da literatura
grega, em uma forma de enriquecimento de seu próprio sistema literário. E essa idéia trouxe como
conseqüência o enriquecimento também da língua, que acabou tomando emprestados novas
palavras e conceitos que não teriam equivalentes na outra língua. Isso fortaleceu a idéia de
desenvolvimento da língua pautada em critérios estéticos, trazidos pela literatura e pela cultura do
outro, nesse caso, dos gregos.
Apesar do desejo, por parte do tradutor, de ser o mais fiel possível ao texto da língua fonte,
naquela época ele deveria dar mais importância ao sentido, sempre considerando os interesses dos
leitores de seu texto na língua meta.

1.1.2 A tradução da Bíblia

A época marcada pelas primeiras traduções da Bíblia é um momento importante na história


da tradução. Refere-se ao período em que a Igreja teve como objetivo a ampla difusão do
cristianismo através da disseminação da palavra de Deus. E, para que isso acontecesse, todos
deviam ter acesso ao seu texto. Esse era, portanto, o grande objetivo da tradução naquela época:
tomar o texto bíblico acessível a tal ponto que um leigo pudesse ler e compreendê-lo.
Mesmo que as primeiras traduções da Bíblia tenham acontecido nos primeiros séculos da
Era Cristã, é a partir do século XIV que acontece uma mudança na maneira de traduzi-la, com a
determinação de critérios essencialmente estéticos, aliados a critérios evangélicos para a maioria
dos textos. A tradução passou a ser, a bem da verdade, um argumento, uma arma, usado em
conflitos dogmáticos e políticos. O tradutor se permitiu interpretar com liberdade os textos,
deixando-se influenciar pelo desejo de difundir dogmas religiosos. O trabalho do tradutor foi além
do lingüístico, tornando-se evangelizador.
Essa maneira de ver as coisas teve, é claro, conseqüência direta nas traduções que foram
feitas nas décadas seguintes. Elas aconteceram em quantidades cada vez maiores, alicerçadas
também pelo advento da imprensa, já no século XV, quando a Bíblia é traduzida para uma grande
quantidade de línguas européias. Martinho Lutero, um dos tradutores para o alemão, aconselhava o

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tradutor a contribuir com o texto na língua vernácula.


Naquela época, dois séculos após a primeira tradução conhecida da Bíblia, alguns
tradutores começaram a mudar seus objetivos com respeito aos textos existentes e quiseram
esclarecer possíveis erros e pontos dogmáticos, restringindo a liberdade de interpretação, que foi
uma característica das versões anteriores, mas ainda priorizando a fluência e a facilidade de
compreensão do texto.

1.1.3 A tradução como instrumento de educação e de difusão da língua vernácula

Além das questões ligadas à religião, a tradução tinha também um propósito político a
exercer. Com uma finalidade moral e didática, as traduções possibilitavam acesso aos textos em
língua vernácula, através de exercícios de escrita e listas de palavras. Essa era uma maneira de
melhorar a oratória, tão valorizada à época, por meio de técnicas de análise de textos, como a
paráfrase, em duas áreas de estudo: o trivium, que é a base do conhecimento filosófico e engloba a
gramática, a retórica e a dialética, e o quadrivium, que une a aritmética, a geometria, a música e a
astronomia.
Surgiram naquele período dois tipos de tradução: a vertical, feita de uma língua de
prestígio para uma língua vernácula, e a horizontal, feita de uma língua vernácula para outra,
também vernácula. Independente do tipo, a tradução é vista como uma habilidade fortemente
vinculada a maneiras de ler e de interpretar o texto na língua meta.
Mas talvez a maior contribuição da tradução ocorrida naquele momento tenha sido o fato
de que, ao mesmo tempo que propiciou que fossem cada vez mais comuns e acessíveis os textos de
outras línguas na língua vernácula, ela impulsionava e fortalecia também sua literatura, ajudando a
difundir e intensificar o status da língua nativa.
Com o aumento da quantidade de traduções, conseqüência do desenvolvimento das
técnicas de impressão do século XV, a tradução como disciplina também começou a desenvolver-
se, surgindo - no século XVI - várias teorias sobre o tema.
Uma delas foi a do francês Etienne Dolet (1509 - 1546), que escreveu um artigo intitulado
La maníère de hien traduire d une langue en autre (“Como traduzir bem de uma língua para
outra”), constituído de cinco princípios para o tradutor, os quais transcreveremos a seguir.

a. E imprescindível que o tradutor entenda completamente o sentido e o significado do


autor original, embora seja livre para esclarecer os pontos obscuros.
b. E necessário que o tradutor domine perfeitamente tanto a língua fonte quanto a língua
meta.
c. O tradutor deve evitar a tradução palavra-por-palavra.
d. O tradutor deve usar formas de discurso de uso corrente,
e. O tradutor deve saber escolher e ordenar as palavras adequadamente, para expressar o
tom correto.1

Percebemos, nessa citação, que Dolet enfatizava a importância de primeiro o tradutor


entender o texto original para, daí sim, traduzi-lo, além do cuidado que deveria ter no momento de
eleger as palavras que iria utilizar em sua tradução.

1.1.4 A tradução no século XVII

O século XVII foi um período repleto de contrastes, pois apresentou diferentes momentos.
A primeira metade viu o barroco florescer, com todo o seu dinamismo nas formas e nas cores

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intensas, além do contraste entre o claro e o escuro, trazendo sensações de movimento e


instabilidade. Mesmo sendo essas as características típicas da pintura ou da arquitetura da época,
elas retratam a cultura e os valores daquele momento, o que se refletiu também na língua e por
conseqüência na tradução, com um excesso de liberdade quanto à forma e ao sentido.
Por outro lado, percebemos já na segunda metade do século um movimento de busca por
modelos e um retorno aos mestres da Antigüidade. Essa tendência apareceu em diversas áreas,
como no teatro, com o florescimento do teatro francês clássico baseado nos princípios aristotélicos;
na literatura, com uma tentativa de estabelecimento de regras de produção estética pelos críticos
literários; e nas artes em geral, com a utilização de modos elegantes e harmoniosos inspirados na
natureza.
No que diz respeito à tradução, ela era baseada na imitação, ou imitation, especialmente
dos clássicos, que eram a grande fonte de inspiração. O tradutor e o autor do texto original eram
considerados como iguais, sendo apenas separados social e temporalmente. Essa visão permitia que
o tradutor fosse urna espécie de co-autor do texto, podendo recriar na língua meta aquilo que
considerava essencial no texto original.

1.1.5 A tradução no século XVIII

O século XVIII iniciou-se ainda sob as dúvidas e as incertezas do século anterior, quando
se estabeleceu ao mesmo tempo o excesso de fidelidade e a liberdade irrestrita dos textos
traduzidos, além de uma preocupação com o leitor. Influenciados pelo Iluminismo e pela liberdade
trazida pela Revolução Francesa de 1789, as artes plásticas, a literatura, a música e o teatro trazem
à tona o nacionalismo, a história, o amor platônico, a liberdade de criar e a valorização das
emoções, o que se refletiu inevitavelmente nas traduções do período.
Assim, a intenção neste período era fundamentalmente a de buscar a essência do texto, o
que foi feito com uma grande quantidade de novas traduções de textos antigos, por muitas vezes
adaptando-os aos padrões de língua praticados na época. Essas adaptações eram vistas de forma
natural por teóricos da tradução, que em geral afirmavam que o objetivo do tradutor era que o texto
fosse lido e, para isso, ele deveria ser acessível ao público.
Portanto não há, neste período, a idéia de que o tradutor deveria imitar o texto original. Ele
deveria, isso sim, manter o sentido essencial do texto, mas adaptando-o àquilo que o tradutor
considerasse como acessível ao leitor da língua meta.
Essa idéia se manteve até o final do século, quando Alexander Tytler, mais precisamente
no ano de 1791, publica seu livro intitulado The Principies of Translation, no qual afirma que:

a, a tradução deve fornecer uma transcrição completa da idéia da obra original;


b. o estilo e o modo de escrever devem apresentar as mesmas características do original;

Através desses princípios fica clara uma nova visão trazida pelo autor contra o excesso de
liberdade difundido por alguns tradutores da época, reforçada pela idéia de que o estilo e o modo de
escrever do autor devem aparecer também no texto em língua meta.

1.1.6 A tradução do século XIX

O turbilhão de possibilidades que apareceram durante o século XVIII se fortaleceram no


século XIX, estabelecendo um grande número de correntes e possibilidades dentro da tradução, que
se estenderiam até o século XX. Há uma nova perspectiva mundial neste período, com a possibili-
dade de intercâmbios mais freqüentes entre diferentes nações, na qual os tradutores se espelhariam.

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Nesse cenário, a tradução tornou-se uma forma de participação e conhecimento do valor e da


beleza produzidos por uma nação, a sua difusão cultural.
A concepção era que, através da tradução, o leitor conhecia a cultura do outro e, por meio
da leitura do texto na língua meta, buscava conhecer também o texto original. Para isso, o tradutor
deveria concentrar-se no texto original, traduzindo-o com fidelidade. Essa visão da tradução como
um instrumento tem algumas consequências no trabalho do tradutor, em especial porque sua
habilidade e excelência no estilo tornam- se menos importantes quando comparadas à importância
da forma e da fidelidade ao original; o profissional da tradução passou a ser visto como um técnico,
não mais como um co-autor ou como um elemento ativo no processo tradutório.
Mas, como vimos no início, essa é uma das várias correntes tradutórias deste período.
Segundo Bassnett, elas podem ser organizadas da seguinte forma:

a. a tradução enquanto atividade de estudiosos, em que a proeminência do texto em língua


fonte é admitida de fato sobre qualquer versão em língua meta;
b. a tradução enquanto meio de encorajar o leitor inteligente a voltar para o texto em
língua fonte;
c. a tradução como meio de auxiliar o leitor da língua meta a colocar-se em posição de
igualdade em relação ao que Schleiermacher chamou o melhor leitor do original, por meio
de um estrangeirismo deliberadamente artificial no texto na língua meta;
d. a tradução como meio por que o tradutor, que se vê como Aladim na lâmpada
maravilhosa (a imagem criativa de Rossetti), oferece a própria opção pragmática ao leitor
em língua meta;
e. a tradução como meio de o tradutor tentar elevar o status do texto em língua fonte, por
ser este considerado inferior em termos culturais.

Enfim, com essas várias correntes de tradução, algumas privilegiando mais a forma e
outras, mais o sentido, entramos no século XX!

1.1.7 A tradução nos séculos XX e XXI

Atualmente são inúmeros os estudos sobre a tradução. Como é característica desta época
em diversos aspectos, o ecletismo é distintivo desta fase e sem dúvida não seria diferente no campo
da tradução. Por isso, os dois próximos capítulos descreverão com mais detalhes as diferentes
correntes atuantes nesses dois séculos.

Síntese
Iniciamos o nosso estudo conhecendo um pouco da história da tradução e de
sua evolução em diferentes momentos. Vimos que o conceito de uma boa ou má
tradução muda freqüentemente e está diretamente relacionado ao conceito de língua
de cada período.

Indicação cultural

LUTHER. Direção: Eric TilL Alemanha/EUA: 2003.


O filme “Lutero” (Luther) mostra a vida de Lutero, um dos tradutores da Bíblia, que, como vimos
neste capítulo, foi um marco no processo de tradução. Vale a pena conferir para compreender um
pouco do contexto da época.

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Atividades de Síntese
1. Para cada uma das sentenças que iremos transcrever, aponte (V) para verdadeiro e (F) para falso
e, em seguida, assinale a alternativa que expressa a seqüência encontrada:
( ) Para os romanos, a tradução era usada como instrumento de aprendizagem da língua estrangeira.
( ) As traduções feitas pelos romanos ajudaram a enriquecer sua própria língua.
( ) O tradutor, na época dos romanos, deveria privilegiar a forma em detrimento do sentido.
a) F, F, V, V
b) F, F, V, F
c) F, V, V, F
d) V,V,V,V

2. O século XVI é uma época importante para a história da tradução porque:


a) surgem as primeiras teorias sobre tradução.
b) a impressão é inventada.
c) a tradução é vistacomo forma de conhecimento cultural.
d) a tradução retoma modelosda Antigüidade.

3. O século XIX marca uma nova etapa na história da tradução porque:


a) se preocupa essencialmente com a beleza do texto.
b) o tradutor ganha autonomia.
c) é através da tradução que o leitor tem acesso à cultura do outro.
d) foi um período de unicidade teórica.

4. Como vimos neste capítulo, os pilares da tradução são duas dicotomias: a questão da
traduzibilidade versus intraduzibilidade de um texto e a questão da tradução palavra-por-palavra
versus tradução pelo sentido. Para entender melhor essas questões, aprofunde seus conhecimentos
com outras leituras.
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5. Retome a leitura de cada uma das épocas apresentadas neste capítulo e estabeleça uma linha do
tempo, marcando as principais características de cada uma delas. Para um maior aprofundamento
do tema, reforce seus conhecimentos com pesquisas em outras fontes.
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[...] como as mulheres, diria o provérbio, as traduções ou são belas ou são


fiéis. (Lori Chamberlain, 2005, p. 39)

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Neste capítulo, abordaremos em particular a tradução numa visão tradicional,


que supostamente e responsável por (re)apresentar o sentido do texto fonte. Veremos,
então, os pressupostos das concepções da linguagem que fundamentam essa
perspectiva.

2.1A tradução e a concepção saussuriana da língua


O livro O signo desconstruído, de Rosemary Arrojo1, traz como subtítulo o seguinte:
“implicações para a tradução, a leitura e o ensino77. Concordamos com Arrojo quando esta explicita
nesse subtítulo a profunda inter-relação entre tradução, leitura e ensino. Sabemos que traduzir é um
ato de leitura, e as considerações que são feitas para a tradução também são válidas para a leitura.
Entendemos muitas vezes que, ao traduzirmos, transferimos algo dito ou escrito por alguém
em uma língua para outra(s) pessoa(s) em outra língua. Nesse caso, essa operação terá sucesso,
acreditam muitos, se houver integralidade da mensagem que foi proferida pela primeira pessoa para
o outro. Nessa perspectiva, a transferência de um conteúdo de uma língua para outra poderá ser
vista como relativamente simples se a figura do tradutor estiver imbuída da necessária competência
nos idiomas requeridos na atividade tradutória e conseguir entender o sentido do material a ser
traduzido. Mas imaginemos que o tradutor, ainda que bastante competente, consulte o dicionário
em busca de alguma palavra. Com toda certeza, não encontrará ali registrada apenas uma acepção,
mas várias. Façamos a experiência. Procuremos, por exemplo, no Dicionário Houaiss da língua
portuguesa2 o verbete encanto. Lá encontraremos:

quem ou o que agrada, atrai, deslumbra por suas qualidades (p. ex., beleza, inteligência,
simpatia) [ser um e. de criatura] 2 forte atração sentida por tais boas qualidades de alguém
ou de algo [o e. que ele nos causou foi imediato] 3 palavra, frase ou qualquer outro
recurso que supostamente possui poderes mágicos de enfeitiçar; encantamento [lançar um
e. sobre uma aldeia] 4 o efeito desse recurso ou ação mágica [estar sob o e. de uma bruxa]
SIN/VAR ver sinonímia de beleza, êxtase, feitiço, magia e sedução.

Constatamos aí o fenômeno da polissemia, ou seja, uma mesma palavra (significante) à


qual são atribuídos vários sentidos, diferentes sentidos. Esse é um processo bastante comum que
garante às línguas economia e flexibilidade, pois não é necessário criar um termo para cada coisa.
Por outro lado, vemos que mesmo a busca de um termo no dicionário não é tão simples de ser
realizada. Como, então, encontra o tradutor a correspondência, a equivalência de sentido entre
mensagens em línguas diferentes?
Para entender como o sentido é produzido, é necessário conhecer o material com o qual a
tradução trabalha, isto é, a língua. E, para estudar essa questão essencial para a tradução, vamos
iniciar a discussão por considerações sobre o que é traduzir, através de alguns conceitos básicos
que correntes e teorias lingüísticas desenvolveram para explicar a linguagem humana.
Á visão que se tem do trabalho de tradução - e conseqüentemente de como ele deve ser
realizado - depende do olhar que se tem sobre a língua. E importante lembrar que tudo o que
envolve a língua, envolve também uma maneira de vê-la e de compreendê-la. Por isso, a resposta à
questão “o que é traduzir?”, por exemplo, tem que considerar, primeiramente, como concebemos a
língua e, conseqüentemente, que idéias temos sobre o seu funcionamento.
Comumente, as pessoas acreditam que traduzir é encontrar na língua para a qual
traduzimos - a língua de chegada - a palavra que corresponde à da língua da qual a traduzimos - a
língua de partida.
Poderíamos, então, imaginar que os vocábulos seriam constituídos por uma espécie de
“etiqueta” e que, para traduzi-los para outra língua, seria suficiente identificar quais “etiquetas”
corresponderiam entre si. Dentro dessa visão, um dicionário, por exemplo, registraria todas as
"etiquetas” de uma língua, e o trabalho do tradutor consistiria, portanto, em saber qual “etiqueta”
da língua de chegada corresponderia à da língua de partida. Ora, se essa idéia fosse suficiente para

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explicar o fenômeno da tradução, poderíamos concluir que, se alguém possuísse um bom dicionário
bilíngue, que abrigasse todas as “etiquetas” das duas línguas, ele poderia, com certa facilidade,
traduzir um texto.
Sabemos, entretanto, que isso não ocorre. Por quê?
Primeiramente, porque essa visão está restrita a uma única função da linguagem humana, à
sua função referencial, isto é, à língua funcionando como algo que apenas designa, põe “etiqueta”
no mundo, nas coisas, nos seres, nas ações etc. Essa visão vem de uma longa tradição que remonta
a Aristóteles, que entendia o significado como uma construção mental que representa a realidade.
Na concepção de língua como representação do mundo, predomina a idéia de “objetividade”, de
caráter informativo da linguagem, de cientificidade. Mas a língua não é apenas representação.
Ao longo do século XX, alguns estudos lingüísticos tornaram-se marcos por seus
fundamentos “revolucionários” no que se refere ao funcionamento da linguagem humana de forma
mais ampla. Inaugurando a lingüística moderna1 e lançando as bases do estruturalismo, Saussure,
no início do século XX, por exemplo, centra o interesse de seus estudos na língua como um sistema
autônomo, estruturado e constituído por um conjunto de relações e não se preocupa com a sua
realização, a fala.
Para a tradução, no entanto, mais importante foi o estudo clássico sobre as funções da
linguagem de Roman Jakobson, cuja contribuição teórica, inicialmente motivada pelo seu gosto
pela poesia oral, integrou lingüística e literatura.

2.2 Jakobson e as seis funções da linguagem


Apesar de não ser o único, foi Roman Jakobson, lingüista russo, que desenvolveu um dos
estudos mais conhecidos sobre as funções da linguagem. Partindo da teoria da comunicação e da
informação, na qual o quadro comunicativo é composto pelo emissor de uma mensagem (código)
dirigida a um receptor através de um canal, ele criou a “teoria das funções da linguagem” Essa
teoria veicula uma concepção de linguagem como comunicação.
Segundo Jakobson, seis funções constituiriam a linguagem:

1. Função referencial ou denotativa: é centrada no referente e bus» ca tão-somente informar;


está presente principalmente em mensagens centradas nos pronomes da terceira pessoa (ele(s),
ela(s), por exemplo).
2. Função emotiva ou expressiva: nela o emissor se revela na mensagem, externando seus
sentimentos, apresentando sua opinião; adjetivos e interjeições, por exemplo, são marcas dessa
função, bem como a presença do pronome eu,
3. Função conativa: é a que privilegia os elementos relacionados ao destinatário da mensagem;
sendo marcada pelo uso do imperativo e do vocativo, pela presença dos pronomes tu/você(s)7 ela
procura influenciar e seduzir o destinatário.
4. Função fática: é a preocupação de manter a comunicação, de não interrompê-la; expressões
como “entende?”, “não é?” geralmente são utilizadas para verificar se a comunicação não foi in-
terrompida.
5. Função poética: é centrada nos elementos que compõem o código lingüístico, com
características próprias como entonação, ritmo, estrutura morfossintática etc.

1 Segundo Ferdinand de Saussure (1995, p. 24), “a língua é um sistema de signos que exprimem idéia, e é comparável, por isso, à
escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc. Ela é apenas o principal
desses sistemas77.

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6. Função metalinguística: remete à própria língua; fala-se dela. Por exemplo, quando se diz
“Desculpe, me expressei mal”, estamos usando a metalinguagem.

É importante lembrar que, geralmente, nas mensagens várias funções estão presentes de
forma simultânea; raramente elas ocorrem de maneira isolada. E possível também haver a
predominância de uma função, como, por exemplo, no caso da poesia, que ao criar imagens e ao
jogar com as palavras, a sonoridade e as formas, faz uso essencialmente da função poética.
A pesquisa sobre a enunciação e o contexto possibilitou, a partir de meados do século XX,
novos rumos. Veremos a seguir o papel desempenhado por esses novos paradigmas no campo da
enunciação.

2.3 A teoria dos atos de fala


Foi inicialmente com estudos do filósofo da linguagem John Austin e posteriormente com
os de John Searle que foi construída a “teoria dos atos de fala”. Pensando a língua não mais como
espelho do mundo e do pensamento, os estudos fundadores da pragmática desenvolveram a idéia de
linguagem como um meio de ação.
Essa mudança de concepção da natureza da língua foi realizada graças aos estudos que se
convencionou chamar de pragmática ou, como alguns ainda preferem denominar, de lingüística da
enunciação. Esta considera a língua em situação real de fala, como ato ilocutório, ou seja, os
enunciados proferidos possuem uma determinada força que pode ser a de ordenar, asseverar,
aconselhar, perguntar, prometer etc. O ato ilocutório é o que se faz quando se fala, enquanto que o
ato perlocutório é realizado em termos de efeito que se busca: falar é agir. O ato perlocutório é o
efeito que se produz no outro (alocutário) ao falar.
Nessa perspectiva, os atos de linguagem ou atos de fala mostram que dizer também é fazer,
agir, isto é, que a própria enunciação constitui a realização de um evento. Por exemplo, o
enunciado “declaro encerrada a sessão” constitui uma ação, desde que determinadas condições
sejam observadas, como a do estatuto da pessoa que emite o enunciado e o reconhecimento pelo(s)
interlocutor(es) desse estatuto.
Em função dessa concepção, outros aspectos também são importantes para a realização do
ato da fala. Entre eles, o de contexto. Para Austin3, o que é enunciado produz significado se for
também considerado o contexto, ou seja, o contexto em sentido amplo, envolvendo tanto as suas
características globais externas quanto as internas (como a da intenção do enunciador). Os
enunciados teriam contextos que lhes são próprios. Na situação de um casamento, por exemplo,
quando é dito: “Eu vos declaro marido e mulher”, o próprio contexto social da enunciação é a
situação social na qual ele se realiza, mas esse contexto também compreende as intenções do
locutor. E o enunciado contextualizado ou localizado, não a frase, que representa um estado de
coisas verdadeiras ou falsas.
A força ilocucionária constitui-se, portanto, em um elemento importante para os tradutores
de textos, que precisam levá-la em consideração no momento da tradução. São exemplares os
textos jurídicos, nos quais verbos performativos jurídicos estão presentes na legislação, bem como
os verbos e expressões deônticas, isto é, do dever. Observe nos fragmentos do texto que iremos
transcrever na seqüência, em espanhol, referentes à legislação sobre ciclismo da Comunidade da
Virgínia (EUA), os elementos lingüísticos destacados em negrito:
Donde circular
— Los ciclistas deben circular en el sentido dei trânsito, sobre el margen derecho de la autopista.
— Los ciclistas no podrán circular entre dos carriles de trânsito que transiten en la misma
dirección a menos que uno de ellos sea un carril exclusivo u obligatorío para girar.

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— Se prohíbe a los ciclistas circular en columna de dos o más en línea por las autopístas. Toda
vez que circulen de a dos en línea, no podrán impedir la circulación dei trânsito7 deberán
desplazarse a una fila única en el momento en que son sobrepasados desde atrás. No está
permitido circular en bicicleta en las autopistas interestatales y en algunas otras autopistas de
acceso controlado.
— La circulación de bicicletas por la acera está permitida a menos que una ordenanza local o
algún sistema de control de trânsito disponga lo contrario [grifo nosso] .4

Você notou que a força ilocucionária desse trecho foi identificada no nível lexical, ou seja,
pelos verbos dever, poder, proibir, está permitido e pelo advérbio de negação não? Entretanto, ela
também ocorre em outros níveis: o contexto mais amplo do documento, como o título (Donde
circular) e o gênero textual - um texto de caráter injuntivo, apresentado no documento intitulado
Legislación sobre ciclismo, cujo meio de veiculação é o site oficial da Comunidade da Virgínia e
que se baseia na lei de trânsito dessa comunidade.
Arbitrariamente abreviamos o percurso retrospectivo pela necessidade de destacar as
mudanças mais profundas relacionadas à concepção da linguagem e que fundamentam algumas
perspectivas para a questão da tradução. Antes de sabermos como traduzir, é necessário definir de
que ponto de vista, ou academicamente falando, sobre que aparato teórico o ato tradutório realizar-
se-á.
Na concepção da lingüística tradicional, traduzir corresponderia a recuperar, a resgatar o
sentido de um texto original para apresentá-lo em outra língua. E a ênfase recairia na literalidade.
Para alguns, a literalidade ideal constituir-se-ia na aproximação da forma entre texto original e
texto traduzido, na identificação do termo correto. Para outros, ela recairia na mensagem, no
mesmo conteúdo, ainda que fosse necessário dizê-lo, na língua de chegada, de outra forma.
Foi, então, a partir da noção de que a língua é constituída de múltiplas funções, que se
tornou necessário traduzir os textos além da dimensão referencial.
Se nas mensagens o elemento informativo está quase sempre presente, vimos que, a partir
das reflexões de Jakobson, expandiu-se o conceito sobre linguagem para além do código. Um
código que tem que ser entendido certamente, mas também uma situação de comunicação na qual
intervém elementos como a figura de um emissor, de um destinatário e de um meio de transmissão.
Comunicar seria, talvez, a palavra que sintetizaria as teorias das funções da linguagem e dos atos
de fala. O tradutor, para compreender o texto, precisaria, então, compreender a situação de
comunicação: quem produz a mensagem, a quem se destina a mensagem, com que finalidade ele
comunica etc.
Com os atos de fala, outra dimensão importante da linguagem ganha relevo: a da
enunciação. A linguagem torna-se cena enunciativa da qual o falante “se apropria da linguagem”2 e
aí ocupa uma posição em relação a um interlocutor, ao mundo que o envolve e ao que ele diz. O
tradutor precisará traduzir uma situação de comunicação.
As correntes comunicativas são, no entanto, criticadas por incorporarem uma concepção de
língua centrada na noção de código, elemento que permite a transmissão de mensagem a um
receptor, obedecendo a certas regras. A linguagem humana, portanto, reduzir-se-ia a uma co-
municação ritualizada. Além disso, como coloca Celestina Magnanti5, no seu artigo O que se faz
com a linguagem verbal?, “a linguagem, na concepção comunicativa, é centrada na
informatividade da mensagem, na funcionalidade e não no ato de linguagem. A preocupação é

2 Expressão empregada por E. Benveniste (1970), no seu artigo O Aparelho formal da enunciação. Enquanto realização individual,
a enunciação pode definir-se em relação à língua como um processo de apropriação. O locutor se apropria do aparelho formal da
língua e enuncia sua posição de locutor através de indícios específicos, por um lado, e por meio de procedimentos acessórios, por
outro lado.

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mostrar como 'funciona a comunicação' e não a de estabelecer interações, de ouvir' e 'dar voz’ ao
outro”.
Se por um lado, a tradução ainda se preocupa em traduzir corretamente a mensagem, o que
não a diferencia muito da tradição referencial, o deslocamento teórico de língua, sistema estável,
para a cena da enunciação e suas figuras (emissor, receptor, contexto) contribui para que
principalmente a figura do tradutor e, conseqüentemente, do ato tradutório seja entendido também
como situação de comunicação. Essas mudanças vão ajudar a produzir um novo deslocamento na
concepção da linguagem: o da língua como discurso.

Síntese
Este capítulo apresentou a concepção tradicional da tradução, que se
fundamenta na visão referencial da linguagem e que não só exige fidelidade à forma e
ao sentido como considera o autor como um produtor de linguagem autônomo, que
controla o seu texto. A aspiração maior da tradução é então a de transportar o sentido
do texto original (conteúdo) para o texto traduzido de preferência com a mesma forma.
Foram apresentadas também novas teorias sobre a natureza da língua - a teoria co-
municativa e a pragmática, que incorporam à materialidade lingüística as figuras da
enunciação: locutor e interlocutor

Atividades de Síntese
1. Para cada um dos complementos de sentença que escreveremos, aponte (V) para verdadeiro e (F)
para falso e, em seguida, assinale a opção que expressa a seqüência encontrada. Isso considerando
as alternativas complementares à afirmativa:
A concepção de tradução fiel, literal, baseia-se na idéia:
( ) de língua como reflexo do mundo.
( ) de tradução palavra-por-palavra.
( ) de que todo texto é aberto a interpretações.

a) F, V, F
b) V, F, V
c) F, V, V
d) V, V, F

2. Assinale a alternativa correta.


Geralmente, podemos perceber que há nos textos:
a) apenas uma função.
b) no máximo duas funções.
c) várias funções.
d) funções, quando se trata de linguagem matemática.

3. Na perspectiva da enunciação e dos atos de fala, o sujeito revela na linguagem a maneira como
ele se posiciona em relação:

I. a ele mesmo.
II. ao seu interlocutor.

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III. ao seu dizer.


IV. à sua entonação.

Assinale a opção que corresponde à seqüência encontrada:

a) V, V, F, F
b) F, F, V, F
c) V, V, V, F
d) V, F, F, V

4. Reflita sobre a tradução literal. Faça a experiência de traduzir, individualmente, para o


português, uma mesma frase (um slogan publicitário, um provérbio, por exemplo). Você considera
que a tradução é literal? Por quê?
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5. Reflita sobre as suas idéias pessoais sobre tradução. Discuta posteriormente com alguém que
também se interessa por esse assunto e observe se vocês compartilham das mesmas idéias. Elas se
aproximam ou são diferentes da perspectiva tradicional de tradução?
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[...]El concepto de texto definitivo no corresponde sino a la religión o al


cansancio, (Jorge Luís Borges, 2001)

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No capítulo anterior, você viu que todo processo tradutório é influenciado por
uma visão de linguagem, pela concepção que se tem de natureza da língua. Viu
também que foi principalmente no século XX, com estudos sobre a teoria das funções
da linguagem, a teoria da comunicação e o advento da linguística da enunciação, que
novas perspectivas surgiram para a compreensão dos fenômenos lingüísticos e para a
tradução. Operou-se, pois, um deslocamento de perspectiva: da língua, sistema estável,
código de transmissão de mensagens, para a língua como cena comunicativa e
enunciativa.

3.1 A tradução e o discurso

O fato de compreender que o material tradutório não está restrito a um código estável
influenciou e transformou a visão que se tinha do processo tradutório. Procurou-se, então, estudar
melhor como se opera a tradução, a partir da compreensão de como se produz linguagem. Ocorre,
pois, deslocamento da perspectiva de tradução como transportadora de um sentido para a de
tradução como ato interpretativo, produtor de sentidos.
Foi a partir principalmente de Mikhail Mikhailovich Bakhtin, teórico russo da literatura,
que a questão da enunciação ganhou profundidade. Ele desenvolveu noções como a de dialogismo
e a de vozes da linguagem (polifonia)1, que vão lançar alicerces para que a linguagem verbal ganhe
outras dimensões, sobretudo, a que hoje denominamos discurso. Passaremos, então, a conhecer
algumas dessas noções.
E preciso levar em conta os papéis do emissor e do receptor, por exemplo, que compõem a
cena comunicativa e integrar as forças locucionárias, ilocucionárias e perlocucionárias das
mensagens e, assim, ampliar a dimensão do processo da tradução. Porém, as mudanças teóricas
avançaram ainda mais na segunda metade do século XX e noções como a de dialogismo, bem
como a de língua como discurso, ganham grande importância. Vamos a seguir revê-las brevemente
para então retomarmos questões diretamente ligadas ao processo tradutório.

3.2 O dialogismo e o contexto discursivo

No início da década de 1970, as obras de Bakhtin transformariam profundamente o


pensamento lingüístico, deslocando a reflexão, até então centrada no enunciado, para a questão da
enunciação. Ainda que os atos da fala tenham contribuído para a compreensão da linguagem, a
visão de que ela seria predominantemente comunicativa é questionada. Furlanetto2 tece as seguintes
considerações à concepção exclusivamente comunicativa da linguagem.

Função comunicativa corresponde a um arcabouço pobre considerando a complexidade


das relações humanas. Com efeito, os termos ‘ falante-emissor, ‘ouvinte-receptor
pressupõem um papel ativo para o primeiro e passivo para o segundo
(recepção/compreensão). Embora tal esquema corresponda a um aspecto real7 é falho
quando se pretende que represente o todo da comunicação.

Assim, as idéias de Bakhtin penetram cada vez mais nas abordagens lingüísticas. Para ele,
a natureza da linguagem é outra, é dialógica, pois a presença de outro é constituinte da linguagem
verbal Ser significa ser para outro, através do outro. A língua não serve a uma subjetividade
individual, as palavras não são neutras, ao contrário, estão sempre imbuídas de evocações de outro.
O discurso se constrói na interação com o outro, e essa interação interfere no próprio contexto a
partir de um outro contexto. A linguagem está ligada a uma tradição, a uma memória e a uma
trajetória compartilhada socialmente. Nas palavras de Bakhtin3, 'Tudo se reduz ao diálogo, à

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contraposição dialógica enquanto centro. Tudo é meio, o diálogo é o fim. Uma só voz nada
termina, nada resolve. Duas vozes são o mínimo de vida”.
Bakhtin4 julgava que não era possível a análise da língua como um sistema abstrato e
rejeitava a consciência individual da enunciação. Criou, então, o conceito de dialogísmo que tem a
interação verbal como elemento central da linguagem. A expressão não é ato individual, mas ati-
vidade social co-determinada por um conjunto de relações dialógicas.
Em função dos estudos de Bakhtin, a linguagem é vista além de um ato de comunicação e
institui-se como ato de interação. A palavra, como diz ele, “é determinada, tanto pelo fato de que
procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o
produto da interação do locutor e do ouvinte”5.
Podemos perceber a força do dialogismo na nossa comunicação quotidiana. Ao
elaborarmos um texto, um comunicado, ou quando dizemos alguma coisa a alguém,
permanentemente levamos em consideração não só o nosso interlocutor (seu estatuto social, o grau
de familiaridade da nossa relação, suas intenções, seus interesses em relação ao que vamos
anunciar-lhe7 as nossas intenções, os nossos interesses também etc.), mas também a representação
que achamos que essa pessoa tem de nós, para então construirmos nosso texto, nossa fala.
Noções decorrentes do dialogismo - interacionismo, intertextualidade - constituem também
conceitos-chave para outra reflexão sobre a linguagem, a da língua como discurso, pois, como
coloca Magnanti,

do ponto de vista discursivo, não há enunciado desprovido de dimensão dialógica, pois qualquer
enunciado sobre um objeto se relaciona com enunciados anteriores produzidos sobre este objeto.
Por isso, todo discurso é fundamentalmente diálogo. Isso significa que os significados e sentidos
são produzidos nas relações dialógicas, na mesma medida em que sujeitos e objetos no mundo se
constituem como sujeitos e objetos do e no mesmo discurso.

Interessa-nos agora o deslocamento de língua para discurso, pois no contexto discursivo o


enfoque é o sentido, preocupação maior de quem traduz. Recusando-se a tratar a linguagem como
veículo da informação, a análise do discurso vê o discurso como fenômeno enunciativo jamais
igual, que põe em cena não emissores e receptores que controlam o dizer, mas sujeitos inseridos
em formações discursivas. Lança um olhar particular sobre a linguagem e tem por objeto o
discurso. Veremos a seguir princípios importantes do enfoque discursivo da linguagem.

3.2.1 A análise do discurso


Originalmente, a expressão análise do discurso (doravante AD) surgiu não só da
transposição do termo discourse analysis7 nome que remetia ao trabalho desenvolvido pelo
lingüista americano Zellig Harris, de expansão do método distribucional a unidades transfrásticas,
mas também por ter a AD se apresentado como forma de análise, às vezes de viés psicanalítico,
aplicada ao texto.
Ao mesmo tempo em que a AD torna-se um campo de conhecimento importante - pois
atraí diversas ciências que a ela recorrem para analisar o produto discursivo do seu campo de
estudo -, toma para reflexão lingüístico-discursiva toda a produção textual, analisa todos os enun-
ciados em situação e opõe-se ao estudo da língua descontextualizada. Pela abrangência da AD,
vamos destacar aqui expressões particulares que a identificam, o que nos permitirá posteriormente
tratar da questão da tradução.

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O discurso

O termo discurso também pode ser empregado em vários sentidos, por exemplo, de
enunciado tratado globalmente e de unidade superior à frase. Ou, ainda, na perspectiva
pragmática, o enunciado em sua dimensão interativa, a da ação sobre outro em uma situação
de enuncia- cão. No entanto, para a AD, o discurso não abrange apenas a estrutura
lingüística, ele vai além do enunciado. Constitui-se em um contexto histórico-social, pelas
condições de produção do texto. No discurso3 constroem-se interações que não são neutras,
mas perpassadas por ideologias.
Dentro dos estudos da análise do discurso, Eni Orlandi7, que acompanha principalmente a
obra de Michel Pêcheux, filósofo francês4, distingue três tipos de discurso a partir da relação
de interlocução que é estabelecida dentro do discurso entre o locutor e o interlocutor: lúdico,
polêmico e autoritário. Essa tipologia se constrói sobre dois critérios: o da relação entre os
interlocutores e o da relação dos interlocutores com o objeto do discurso.

O locutor leva em conta seu interlocutor de acordo com uma certa perspectiva, não o leva
em conta, ou a relação entre interlocutores é qualquer uma? [...] o objeto do discurso é
mantido como tal e os interlocutores se expõem a ele; ou está encoberto pelo dizer e o
falante o domina; ou se constitui na disputa entre os interlocutores que o procuram
dominar.

O desdobramento dessa relação é o grau de polissemia no interior do discurso. No discurso


lúdico ela é 'aberta’ - multiplicidade de sentidos; no polêmico ela é 'controlada’ - jogo entre
outro sentido e o mesmo sentido; e, no autoritário, ela é 'contida’ - sentido único.

O sujeito

Figura complexa, constituído de vozes, opõe-se ao sujeito neutro, transparente, exterior à


formação ideológica das abordagens tradicionais da linguagem. Ele constitui e é constituído
pela linguagem. Nesta inscreve suas posições históricas e sociais.

As condições de produção

Compreendem fundamentalmente o sujeito e o contexto, não apenas o contexto da


enunciação no qual se dá o discurso, mas o contexto num sentido mais amplo, sócio-
histórico, no qual o discurso se inscreve, ou seja, a que discursos responde e de que posição
de sujeito é proferido.10
Na perspectiva discursiva, a enunciação é a interação entre o falante e o ouvinte, o autor e o
leitor e é acontecimento único, em um momento sócio-histórico, um acontecimento.
Lembremos aqui o que muitas vezes acontece conosco ao produzirmos um texto. E comum
termos que reformulá-lo, adaptá-lo, se ocorrer alguma mudança na situação de comunicação.
Para toda e qualquer situação de enunciação, as condições de produção são particulares.
Mesmo supondo a enunciação de um mesmo assunto ou mensagem, precisamos sempre

3 “Um olhar lançado sobre um texto do ponto de vista de sua estruturação em língua faz dele um enunciado. Um estudo
lingüístico das condições de produção desse texto fará dele um discurso'7 (Guespin, 1971 citado por ORLANDI, 1987, p. 117).
4 A questão “discurso77 foi introduzida na França, em 1969, pela tese de Michel Pêcheux, Análise Automática do Discurso. Seu
pensamento vai além da lingüística, abrindo caminho para áreas como a história, a sociologia, a psicologia, ou seja, áreas nas
quais se encontram língua e sujeito.

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alterá-la, adaptá-la em função de novos atos de interação, pois não há mensagem/sentido


estável. Se, por exemplo, for preciso convidar para um determinado evento um cliente
comercial, um amigo, colegas de trabalho ou outros, teremos de adaptar esse convite aos
interlocutores, ao meio de comunicação pelo qual o convite é transmitido etc. Enfim, mesmo
que você já tenha antecipadamente 'pronto” um texto abordando um assunto específico, você
não poderá utilizá-lo, em um outro momento ou em outra situação, sem que haja alteração.
Isso ocorre porque os textos funcionam numa rede de elementos lingüísticos, ideológicos,
discursivos, pragmáticos, comunicativos, entre outros, na qual todo qualquer componente
produz significado.
Outro elemento constitutivo das condições de produção do discurso é a intertextualidade: o
“diálogo” do texto com outros textos, passados ou possíveis de ocorrer, pois “O(s) sentido
(s) de um texto passa (m) pela relação com outros textos”11.

O sentido

Tradicionalmente, o sentido se dá a partir da idéia de verdadeiro ou falso. Privilegia-se a


informação. Na AD, ele se encontra no discurso, nos efeitos de sentidos, que privilegia a
interação, e o sentido é produzido no confronto entre interlocutores. O sentido literal não é
central, pois "por definição, todos os sentidos são possíveis e, em certas condições de
produção, há a dominância de um deles. O sentido literal é um efeito discursivo”12. O
processo de produção de um texto (bem como o da sua leitura) é acontecimento, e o sentido
se constrói dentro de uma formação discursiva, ideológica e de determinadas condições
histórico- sociais.
Muito próximo das posições da AD, principalmente no que se refere ao sentido, encontramos
o movimento da desconstrução, que no Brasil foi assumido principalmente por Rosemary
Arrojo, que, nas reflexões sobre tradução, tem fundamentado suas posições nas concepções
de Jacques Derrida. Veremos, portanto, a seguir, algumas idéias fundadoras da
desconstrução.

A desconstrução

Essa reflexão filosófico-lingüística problematiza clássicas dicotomias, como significante e


significado, língua e fala, sujeito e objeto, verdadeiro e falso, entre outras. Criada por
Jacques Derrida, a desconstrução contesta frontalmente a noção de signo elaborada por
Saussure. Quando este coloca que o signo é formado de um significante e um significado, na
interpretação de Derrida, Saussure supõe que algo existiria atrás do significado - um sentido
imanente, mas o que existe não é mais do que um outro significante, o que geraria a
existência de uma cadeia infinita de significantes. A desconstrução, portanto, considera que
esse processo é um jogo, o jogo da linguagem. Como explica Marisa Grigoletto13, no seu
artigo A desconstrução do signo e a ilusão da trama:

o que é necessário entender é que todo o processo é ilusório, ilusão necessária para se
produzir linguagem, para que o texto se apresente; na verdade, todo o processo é um jogo,
e cada jogo tem suas próprias regras, que servem apenas para aquele jogo e não para
outro.[...] O jogo não tem origem nem fim, mas cria uma estrutura, ou melhor, permite a
ilusão de que existe uma estrutura, uma tecitura.

A noção de tecitura é central na desconstrução. O texto (escrito e falado) trama significantes


e o sentido lhe será atribuído pelo próprio produtor do texto e pelo seu leitor/ouvinte.

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Deslocar esse texto para outro momento, para outro leitor produzirá outro sentido5. Podemos
dizer que “E o sentido que define e determina a referência e não o contrário”14.
O significado, portanto, não é literal, não é previamente dado, não preexiste ao jogo da
linguagem. Ele também é construído, atribuído tanto pelo produtor quanto pelo leitor do
texto. No entanto, sabemos que interpretações semelhantes são produzidas. Para explicá-
las, lançamos mão do que Stanley Físh15 denomina de comunidades interpretativas. Estas
comunidades convencionariam os sentidos, através da história, da cultura, como Michel
Foucault16 considerou na sua célebre aula inaugural sobre a institucionalização do discurso:
“suponho que em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada,
selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por
função conjurar seus poderes e perigos, dominar o acontecimento aleatório, esquivar sua
pesada e temível materialidade”.

Apresentamos até aqui um esboço bastante abrangente das concepções da AD e da


desconstrução com o intuito de ressaltarmos aspectos teóricos sobre os quais se fundamenta o que
convencionamos chamar de corrente contestadora da tradução. Passemos, então, a conhecer me-
lhor essa corrente.

3.3 A tradução e a corrente contestadora

Do ponto de vista da desconstrução, o elemento que ilustra a preocupação central da


tradução é a noção de equivalência. Vários autores a estudaram, o que resultou numa vasta
tipologia, entre as quais a de Eugene Nida17 - equivalência formal e equivalência dinâmica. Mas
para Cristina Carneiro Rodrigues18, filiada à perspectiva da desconstrução,

A suposição da possibilidade de equivalência relaciona-se, em primeira instância, à


concepção de língua como um sistema de regras objetivas em que os limites entre os
signos e os valores de cada um deles já estejam determinados. A universalidade do
pensamento, do qual a língua seria representação, viria a ancorar a possibilidade da
igualdade de valores entre diferentes línguas e culturas.

No arcabouço teórico da AD e da desconstrução não há possibilidade de equivalência na


tradução, pois a linguagem se constitui permanentemente dentro de discursos e de culturas
diferentes, em outros momentos e espaços, além disso, não poderia haver o transporte de algo
supostamente já dado (o sentido).
A impossibilidade de existir, através da tradução, dois textos iguais ou a transferência de
significados decorre, para a corrente contestadora, do fato de que:

1. não existe significado imanente, transcendental, fora do jogo da língua, da tecitura do


texto;
2. o significado depende do espaço e do tempo e se constrói em estruturas diferentes, que
são as línguas;
3. toda produção textual é feita por um sujeito social, o qual não é neutro, produz sentidos,
carrega consciente ou inconscientemente histórias pessoais, sociais e históricas, além de ser
constituído por formações discursivas;
4. não é possível recuperar as intenções do autor;

5 Poema tirado de uma notícia de jornal é o título que o poeta Manuel Bandeira deu ao seu poema extraído de uma notícia de
jornal, o que mostra que lemos previamente, construímos o sentido a partir de nossa (pré) disposição.

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5. o tradutor antes de tudo desempenha o papel de leitor, e é na leitura que o sentido se


constrói (e não em uma sonhada identificação de intenções originais).

É importante dizer aqui que, se, por um lado, a perspectiva contestadora perturba pela
destruição da ilusão de um sentido estável, passível de ser transmitido integralmente pelo esforço e
pela competência de um tradutor, por outro lado, ela possibilita a valorização da tradução. Mas
como isso acontece?
Primeiro, eliminando a suposta hierarquia entre texto original e texto traduzido, não
permitindo a representação daquele como “fonte” e deste como “cópia”, que, por sua vez, é quase
sempre sentida como imperfeita, incompleta (quantas vezes ouvimos a frase: “Ah, ler no original é
outra coisa, muito melhor!”). Essa representação da tradução tira-lhe o prestígio, quando o que
ocorre é que “tanto o texto de partida quanto a tradução são produtos de uma interpretação, ou seja,
ambos são 'derivativos'”19.
Segundo, porque a corrente contestadora traz à reflexão o fato de que são traduzidos,
sobretudo, textos, obras e autores de línguas veiculadas por culturas de maior prestígio cultural,
econômico e político, o que atribuiria mais uma “virtude” ao texto de partida.
E, finalmente, essa corrente defende a valorização da figura do tradutor, pois não permite
que este continue a ser visto como um mero transportador de significados. Propõe que ele passe a
ter o prestígio de um produtor de texto no sentido de produtor de significados, cuja interferência é
inevitável, mas é o que permite a difusão e a circulação de bens literários, por exemplo. Além
disso, “Não há oposição nem simples complementaridade, há uma complexa relação de mútua
dependência. Se a tradução torna possível a sobrevivência do original, este depende dela, não tanto
para validar sua importância, mas para criá-la”20.

Síntese
Vimos neste capítulo que perspectivas revolucionárias sobre a linguagem a
partir da segunda metade do século XX repercutem nos estudos sobre tradução.
Observamos que a natureza da linguagem é dialógica (Bakhtin), que o sentido a cada
leitura é múltiplo, construído em formações discursivas (perspectiva discursiva da
língua) e que as “comunidades interpretativas” estabilizam aparentemente os sentidos
(perspectiva desconstrutivista). Questionamos uma das preocupações centrais da
tradução, a equivalência, argumentando que ela é decorrente da visão tradicional da
leitura/tradução. O processo tradutório é valorizado e propõe-se sobretudo que a
partir dessas novas perspectivas, um novo papel seja atribuído para o tradutor, que,
como o autor do texto original, não deixa de produzir sentidos.

Atividades de Síntese
1. Assinale a alternativa correta.
O caráter dialógico da linguagem fundamenta:
a) os conceitos de interação e intertextualidade.
b) a reflexão desconstrutivista.
c) o conceito de signo de Saussure - significante e significado.
d) a noção de sujeito.

2. Para cada uma das sentenças que completa a assertiva inicial, aponte (V) para verdadeiro e (F)
para falso e, em seguida, assinale a alternativa que expressa a seqüência encontrada.

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Segundo a corrente contestadora,


( ) o tradutor é marcado pela neutralidade.
( ) para os novos estudos sobre tradução, não há como traduzir, pois não há sentido.
( ) o sentido do texto é constituído pelas condições de produção deste.
( ) a noção de equivalência é essencial, pois a boa tradução tem que ser fiel ao original.
a) F,F,V,V
b) F, F, V, F
c) F, V, V, F
d) V,V,V,V

3. Para cada uma das sentenças que completam a assertiva inicial, aponte (V) para verdadeiro e (F)
para falso e, em seguida, assinale a alternativa que expressa a seqüência encontrada.
Para a corrente contestadora, mais importante do que julgar uma tradução é entender:
( ) o processo da tradução.
( ) os diferentes tipos de equivalência.
( ) que traduzir é interpretar.
( ) como evitar o sentido polissêmico.
a) V, V, F, F
b) V, V, V, F
c) V, F, F, F
d) V, F, V, F

4. Se você já fez traduções, procure lembrar com que dificuldades você se deparou e discuta sobre
elas com alguém que também já teve a experiência de realizar uma tradução. Procure entender a
origem das dificuldades encontradas.
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5.Retome a leitura do capítulo e levante os fundamentos da corrente contestadora da tradução.
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6. Quando uma obra literária é transposta para o cinema constitui um fenômeno de tradução? Por
quê? Quais são normalmente os comentários feitos ao se comparar livro e filme? Que concepção da
linguagem geralmente esses comentários revelam?
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Não há sentido único e estável, só assim há línguas.


(Paulo Ottoni, 2005, p. 123)

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Iniciaremos este capítulo refletindo sobre a importância e o uso do dicionário,


dentro do processo de tradução, em um primeiro momento de maneira geral e, em
seguida, de maneira mais específica. Depois veremos de que maneira os dicionários
são organizados, quais suas diferentes utilizações, de acordo com a finalidade a qual se
propõem, e, por fim, quais critérios devemos considerar para selecionar aquele que
melhor servirá às necessidades exigidas pelos diferentes tipos de tradução.

4.1 O uso do dicionário


Discutir o uso de dicionários, seja para seu uso na vida cotidiana ou no ambiente escolar,
ou na vida profissional, é algo inédito. Faremos isso aqui por acreditarmos na importância desse
tema, não só para o profissional da tradução, como também para o profissional de letras ou para o
professor de línguas - materna ou estrangeira.
Apesar da aparente facilidade de uso e de sua presença constante nas listas de material
escolar desde os primeiros anos do ensino fundamental, o dicionário - de língua portuguesa ou de
língua estrangeira - ainda é uma referência pouco ou mal utilizada em nossa cultura. Figurando na
lista dos livros mais lidos em países como a França - onde ele ocupa o 22° lugar na lista dos 100
livros preferidos dos franceses, segundo a revista Lire aqui no Brasil sua consulta é vista como
sinônimo, muitas vezes, de burrice por parte do falante, o que lhe rendeu o errôneo apelido de “pai
dos burros”!
Com essa cultura, o que se vê são situações em que o aluno se sente constrangido em
servir-se do dicionário, deixando de lado mais uma possibilidade de aprendizado e de
aprofundamento da própria língua, além do enriquecimento de vocabulário dele derivado. Observe
em seu entorno, na escola onde você trabalha! Essa realidade, infelizmente, não é difícil de ser
encontrada.
Mas se, no caso dos estudantes, o não uso do dicionário acaba sendo contornado,
principalmente com a ajuda do professor, que se toma uma espécie de fonte para os alunos, o
mesmo não acontece com os profissionais da tradução, que têm nesse livro uma ferramenta funda-
mental de trabalho.

4.2 O dicionário e o ofício do tradutor

Para falarmos de dicionário, nada melhor do que começarmos analisando exatamente o que
um dicionário fala sobre o significado desta palavra. E a função metalingüística da linguagem,
como vimos no capítulo 2; a língua falando sobre a própria língua. Assim, segundo Houaiss2,
dicionário é:

Rubrica: lexicologia. compilação completa ou parcial das unidades léxicas de uma língua
(palavras, locuções, afixos etc.) ou de certas categorias específicas suas, organizadas
numa ordem convencionada, ger. alfabética, e que fornece, além das definições
informações sobre sinônimos, antônimos, ortografia, pronúncia classe gramatical
etimologia etc. ou pelo menos, alguns destes elementos [Á tipologia dos dicionários é
bastante variada; os mais correntes são aqueles em que os sentidos das palavras de uma
língua ou dialeto são dados em outra língua (ou em mais de uma) e aqueles em que as
palavras de uma língua são definidas por meio da mesma língua.]

Essa definição já nos assinala vários pontos interessantes e vale a pena nos aprofundarmos
aqui. Em primeiro lugar, analisaremos o conceito mais óbvio, ou seja, o de que o dicionário é uma
compilação do léxico de uma língua, apresentando todas as suas possibilidades vocabulares. Apesar
de isso não ser exatamente a verdade, como veremos mais adiante, essa idéia é tomada como

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verdadeira, a ponto de muitos acreditarem que, para se fazer uma boa tradução ou para se aprender
a falar uma língua, é fundamental saber o máximo de palavras desta língua, e que é o dicionário
que trará todas essas informações.
Outro fator importante, que por sua vez é ligado ao anterior, refere-se ao equívoco, muito
comum entre aqueles menos familiarizados com o manejo do dicionário, de acreditar-se que ele
serve apenas para conhecermos o significado das palavras ou então a sua ortografia. No momento
de uma tradução, esse é o recurso mais utilizado, é verdade, mas um maior conhecimento desse
instrumento ampliará sua eficácia e diminuirá o trabalho do tradutor. E claro que usar bem um
dicionário não quer dizer, necessariamente, que os problemas relacionados à tradução estão todos
resolvidos, mas é uma ferramenta de grande ajuda para o profissional.
Assim, vamos conhecê-lo melhor a seguir!

4.3 A organização do dicionário

A maior dificuldade no uso, em se tratando de dicionário, pode ser exatamente o fato de


não o conhecer. Por trazer um grande número de informações a cada verbete, acabamos
desprezando muitas delas por falta de conhecimento sobre como funciona um dicionário. Na
tentativa de elucidarmos esse ponto, veremos algumas delas!
Diferentemente dos primeiros dicionários, criados pelos gregos e pelos romanos como
forma de organizar dúvidas e dificuldades da língua, os dicionários, desde a Idade Média até a
contemporaneidade, são organizados em ordem alfabética e trazem, também diferentemente do que
se tinha no princípio, uma seleção de palavras e locuções de uma língua, chamadas então de
verbete.
Em relação à apresentação das informações de cada verbete, apesar de ser possível uma
mudança ou mesmo que haja a necessidade de que todas elas apareçam, tomamos aqui como
exemplo uma organização geral, trazida pelo Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, que nos
dá uma idéia da ordem na qual as informações aparecem em um dicionário monolíngue:

1 entrada + 2 ortoépia/pronúncia + 3 língua (só pai ou loc. estrangeiras) / (tradução


literal)/marca registrada + 4 classe gramatical (em sub-blocos e blocos) + 5 datação + 6
acepções: numeração + 7 regências (só verbos)/qualificativos complementares de conjunções,
numerais e pronomes + 8 derivação semântica e acepção restritiva {uso do freq.j + 9 rubrica
temática + 10 regionalismo + 11 nível de uso + 12 estatística de emprego +13 registro diacrônico
+ (plural com sentido próprio) + 14 locuções +15 gramática (ou uso ou gramática e uso) + 16
etimologia + 17 sinonímia + 18 antonímia + 19 coletivos + 20 homonímia + 21 paronímia + 22
vozes de animais + 23 onomasiologia.3

Para que a lista não seja exaustiva, detalharemos4 apenas algumas das possibilidades que
acabamos de citar. Se você não as conhece, vá a um dicionário e analise-o, tente descobrir as
informações que faltam. Geralmente no princípio ou no final dele há uma seção dedicada a uma
explicação mais detalhada de seu funcionamento.
Mas, voltando à descrição dos elementos constitutivos do verbete, nosso foco, falaremos da
entrada! A entrada pode ser uma palavra, uma frase, uma locução ou um elemento de composição
que, como o nome já diz, abre o verbete. Ele vem seguido da ortoépia, que é a pronúncia do
vocábulo e aparece de forma bem característica, entre barras. É um recurso muito pouco utilizado
por estudantes de línguas, por exemplo, mas que na realidade pode ajudar muito na melhora da
performance do aluno, além de desenvolver a sua autonomia.

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Outro item é a classificação gramatical, que apresenta dados importantes, como o grupo de
conjugação ao qual pertence o verbo, lembrando sempre que os dicionários só trazem os verbos no
infinitivo, o que facilita a busca pelo verbo conjugado; no caso dos substantivos, eles são
apresentados na forma masculina e singular, o que também é especificado no item de classificação.
A datação é uma informação geralmente curiosa trazida pelo dicionário. E com ela que
descobrimos o momento do primeiro registro da palavra, de quando ela surgiu. A datação vem
seguida das acepções, que são as definições propriamente ditas do verbete. Muitas das palavras ou
locuções de uma língua possuem diferentes significados, às vezes até contraditórios, dependendo
do contexto em que estão inseridas, e são exatamente esses diferentes contextos de uso que
aparecerão aqui, geralmente acompanhados de frases que os exemplificam.
Para finalizar, outros dois elementos que são de grande ajuda para o falante ou para o
aprendiz de uma língua são os sinônimos e os antônimos, bem como as explicações quanto ao
sentido figurado, geralmente depois da abreviatura fig. No primeiro caso, da sinonímia e da
antonímia, elas ajudam no aprofundamento e no enriquecimento do vocabulário; já no segundo, o
do sentido figurado, temos um esclarecimento quanto ao emprego de termos em contextos
específicos, que geralmente nada tem a ver com o significado primário do termo, o que muitas
vezes nos prega 'peças77 durante a aprendizagem da língua.
Mas a pergunta agora é outra! Com esse número imenso de possibilidades de organização
de um dicionário, todos são iguais? Veremos que não no próximo tópico!

4.4 Os tipos de dicionários

Um dicionário, como vimos anteriormente, não consegue comportar todas as informações


lexicais possíveis de uma língua, pois elas são extensas. Mas, então, de que maneira é feita a
seleção dos verbetes nele inseridos?
E simples! A escolha do vocabulário que irá compor o dicionário é feita considerando um
público-alvo, ao qual ele deve estar adaptado. Assim, dicionários gerais da língua apresentam
vocábulos diferentes daqueles apresentados no dicionário jurídico, no científico etc.
Não temos a intenção de descrever todos os tipos de dicionários existentes no mercado, até
porque não teríamos espaço aqui. Assim, veremos (a seguir) algumas das possibilidades, a título de
ilustração.

4.4.1 O dicionário geral de língua

Esse tipo de dicionário é o mais comum, conhecido por todos e voltado a um público
amplo e eclético, o usuário cotidiano da língua. Apresenta tanto um léxico mais sofisticado, aquele
presente na literatura, quanto o mais coloquial e familiar, aquele com marcas de oralidade e gírias.
De acordo com as características que apresente, pode ser classificado em um destes quatro
modelos: monolíngue, bilíngue, de aprendizagem e misto.

1. Monolíngue

E aquele voltado às necessidades dos falantes nativos e que apresenta todas as acepções do
verbete - polissemia - na sua própria língua, descrevendo as suas diferentes possibilidades de uso.

aprender. Tr. dír e íntr 1 adquirir conhecimento (de), a partir de estudo; instruir-se. Ex.: a. uma
língua, uma técnica, uma ciência> <tem muita facilidade para a. tr dír e íntr 2 adquirir habilidade

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prática (em) Ex.: aprendeu um esporte; os cães aprendem com facilidade, tr dír? ind e bitr 3 vir a
ter melhor compreensão (de algo), esp. pela intuição, sensibilidade, vivência, exemplo. Ex.:
aprendeu que o amor é um sentimento instável; aprendeu muito com a própria vida; aprenderam
dos pais a generosidade.5

2. Bilíngüe

Apresenta o verbete em dois idiomas, normalmente com uma seleção dos léxicos mais
utilizados cotidianamente.

a.pren.der vt/ví Aprender; asimilar6

3. De aprendizagem

A característica mais marcante dessa espécie de dicionário é a riqueza de exemplos


apresentados, exatamente para facilitar a aprendizagem da língua.

4. Misto

Esse dicionário mistura características dos dicionários mono e bilíngüe. Cada verbete é
apresentado em sua língua, com as suas diferentes possibilidades de uso, especificando ao final de
cada uma delas o equivalente na outra língua.

learn [lern] - past tense, past participles learned, learnt - verb 1 to get
to know: It was then that I learned that she was dead. ficar sabendo
1 to gaín knowledge or skül (in): A chíld is always learníng; to learn
French. Aprender1

4.4.2 O dicionário ilustrado

Diferencia-se do dicionário geral da língua porque, como seu nome já diz, apresenta
imagens e ilustrações de alguns dos verbetes, facilitando a sua compreensão. Muitas crianças
gostam desse tipo de dicionário, por ser lúdico.

4.4.3 O dicionário enciclopédico

Nesse tipo de dicionário, além dos verbetes que compõem uma língua, encontramos
informações sobre personalidades, temas científicos, conceitos filosóficos etc. E uma obra que traz
informações culturais, além das questões relacionadas à língua.

4.4.4 O dicionário especializado

Cada vez mais comuns, os dicionários especializados são muito importantes como
facilitadores para a tradução de textos técnicos e no ensino-aprendizagem de uma língua com fins
específicos. E o caso dos dicionários jurídicos, médicos, tecnológicos, de negócios, da informática,
entre outros. Neles encontramos jargões específicos da área ao qual está dedicado.

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4.4.5 Os dicionários de sinônimos e antônimos

Esses tipos de dicionários, apesar de pouco conhecidos, são muito eficazes para tradutores
e profissionais das letras. Eles apresentam, para cada verbete, seus sinônimos e antônimos,
ajudando o tradutor na escolha da palavra exata no momento da tradução para a língua meta,
permitindo a percepção das pequenas nuances no uso de cada um dos termos.

Apprendre 1 [~qqch] Ápprendre une nouvelle: V. ACCUEILLIR et SAVOIR. 2. [~qqch] elle a


apprís ses leçons jusquà minuit: étudíer [fam.] rabâcher, polasser, bücher, chíader Ceite année
fapprends Vallemand: [plus fam.] faíre de, slnitier à? se mettre à (commencer un apprentissage);
TRAVAILLER [...]

4.4.6 O dicionário etimológico

Esse é o dicionário para os verdadeiros fãs de línguas! E nele que obtemos informações
sobre a origem das palavras, isto é, se elas vêm do latim, do árabe, do grego ou de alguma outra
língua antiga, ou se elas são originárias de alguma palavra emprestada de uma língua moderna.

4.4.7 O dicionário de dificuldades

Excelente material para tirarmos dúvidas quanto ao uso da língua, tanto no que diz respeito
aos vocábulos (ortografia correta de determinados termos, por exemplo), quanto a questões de
regência, prefixos ou pleonasmos, por exemplo.

Apprendre, v.tr.dir. 1 On apprend un métíer, la relíure, une scíence, une technique. Ce jeune
homme apprend la natatíon, le russe, la géographie, le droit, le dessín.
Dans certaines régions de Walloníe, on commet la faute d’employer apprendre, etparfois
apprendre pour, sans article, avec pour complément le nom de celuí quí exerce un métier, une
profession : [apprendre le relíeur, apprendre pour médecín].

4.4.8 O dicionário eletrônico

As novas tecnologias e o acesso à informática facilitaram também o acesso aos dicionários.


Já é possível encontrar todo o tipo de dicionários em versões eletrônicas, seja através da internet,
em um acesso online, seja em CD-ROMs, que deverão ser instalados no computador. A grande
vantagem desse tipo de dicionário é a facilidade e a rapidez de acesso às informações nele contidas.

4.5 Como avaliar um bom dicionário?

Como vimos anteriormente, em primeiro lugar um bom dicionário deve atender as


necessidades do público a quem se destina. Esse deve ser o tópico essencial para a escolha. Para
um aluno de línguas, por exemplo, iniciar o curso com um dicionário monolíngüe pode ser um
martírio, uma dificuldade a mais em sua aprendizagem. Porém, a escolha de um dicionário
bilíngüe, de aprendizagem ou, ainda melhor, misto, pode ser um grande auxílio para ele.
Para um tradutor, não há dúvidas da necessidade da combinação de um dicionário bilíngüe
com um monolíngüe e, nesse caso, um misto é suficiente. Essa é uma situação - a da tradução - em
que quanto maior o detalhamento que o dicionário apresentar, mais informações estará difundindo

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e mais satisfatoriamente auxiliará o trabalho


Para a tradução de textos técnicos, é imprescindível o uso de um bom dicionário
especializado, principalmente se você não for um expert na área em que está traduzindo. Caso seja
um tipo de tradução eventual, acesse esses materiais pela internet; há bons dicionários on-line. No
entanto, se você está se especializando em uma área específica, como traduções jurídicas,
administrativas ou médicas, por exemplo, invista na compra de um bom dicionário.

Síntese
Neste capítulo vimos a importância de conhecermos o funcionamento de um
dicionário, usando-o da melhor forma possível, não só para auxiliar no trabalho de
tradução, como para ajudar na aprendizagem de uma língua, materna ou estrangeira.
Também foi visto que é fundamental uma boa escolha do dicionário, em meio às várias
possibilidades à disposição, para que o auxílio seja o maior possível.

Atividades de Síntese
1. Observe o verbete transcrito a seguir:

ca.er /kaérl 1 intr.-prnl. [de algún lugar] Moverse desde arriba hacía abajo por el peso propío: la
lluvia cae dei cielo; Newton vío ~ una manzana. Es díalectal el uso transitivo: lo caí por lo dejé
caer. cair.

Esse verbete poderá ser encontrado em um dicionário:


a) misto.
b) de aprendizagem.
c) monolíngüe.
d) bilíngüe.

2. Para cada uma das sentenças a seguir, aponte (V) para verdadeiro e (F) para falso e, em seguida,
assinale a alternativa que expressa a seqüência encontrada:
( ) A ortoépia é a pronúncia correta de um vocábulo.
( ) A entrada é o significado do verbete.
( ) A entrada é o elemento que abre o verbete.

a) F, V, V
b) V, F, V
c) V, V, F
d) V, F, F

3. Para cada uma das sentenças a seguir, aponte (V) para verdadeiro e (F) para falso e, em seguida,
assinale a alternativa que expressa a seqüência encontrada:
( ) O dicionário traz apenas o significado das palavras, em suas diversas acepções.
( ) O dicionário é uma referência mal utilizada em nossa cultura.
( ) Em alguns países, o dicionário é muito lido e utilizado por fa lantes nativos.
a) V,V,F

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b) F, V, V
c) F, F, V
d) V, F, F

4. Qual você consideraria a principal função do dicionário? Por quê?


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No seu trabalho, como tradutor ou como professor de línguas, você usa muito o dicionário? Quais
tipos?
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5. Se você trabalha como professor, que tal tentar descobrir como seus alunos utilizam o
dicionário? Eles conhecem todas as possibilidades desse facilitador da aprendizagem? Se não,
aproveite para lhes explicar. Será de grande utilidade!
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Criação
é poesia
linguagem primeira
nova
inovadora
inaugurante
(Paulo Leminski, 1997)

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Este capítulo abordará uma das questões mais polêmicas da área da tradução: a
poesia pode ou não ser traduzida? Conheceremos, então os argumentos desta duas
posições, ou seja, daqueles que acreditam que características especiais da poesia, a
tornam intraduzível e poesia intraduzível e daqueles que mesmo reconhecendo as
especificidades do gênero poético afirmam que ela possui tradutibilidade.

5.1 O texto poético/literário

Muitas vezes, levanta-se como dificuldade para o ato tradutório a não correspondência do
mundo cultural que envolve as línguas, isto é, que cada língua tem a sua história, sua cultura, uma
sensibilidade particular que a constituí e que não permitiria transpô-la para uma outra língua. Mas
se diferenças profundas existem entre algumas línguas em especial, ainda assim restariam alguns
elementos, algumas pontes entre elas, que possibilitariam a sua transposição. Além disso, a
constituição histórico-cultural não é exclusiva do gênero poético, todos os outros também carregam
suas particularidades. Logo, do ponto de vista desse pressuposto, nada poderia ser traduzido.
Outros argumentos contrários à possibilidade de tradução literária/ poética referem-se a sua
estrutura lingüística, a sua construção enquanto código. Argumenta-se que as peculiaridades de
cada língua, como a prosódia e o ritmo, dificultariam que o texto poético tivesse equivalência em
outra língua, pois nesse tipo de texto a língua significa por ela própria, não há transmissão de
mensagens, a mensagem é a própria poesia. A poesia, portanto, concentraria sua força no seu
caráter estético. Essa idéia é bastante aceita pelos estudiosos e principalmente entre poetas-
tradutores, como o grande poeta francês Charles Baudelaire1, que diz: “O ritmo é necessário à
progressão da idéia de beleza, que é o maior e mais nobre fim do poema. Ora, os artifícios do ritmo
são um obstáculo intransponível a essa progressão minuciosa de pensamentos e de expressões que
tem por objeto a verdade77.
Percebemos aí a tradicional distinção entre aspecto estético da linguagem e valor de
verdade. Para melhor entendermos esses conceitos, vamos nos reportar a duas funções da
linguagem apresentadas por R. Jakobson e que foram abordadas no capítulo 2: a função referencial
e a função poética. Na primeira, a prioridade é o conteúdo da mensagem. A mensagem é o centro,
apresenta o mundo; a língua tem caráter informativo, é veículo de verdades, refere.
Conseqüentemente, podemos distinguir forma de conteúdo. Textos técnicos e científicos são
basicamente constituídos por essa função. Porém, na poesia, a centralidade não é a mensagem, ou
melhor, a mensagem é o próprio código lingüístico, a sua materialidade sonora, a sua
morfossintaxe, o jogo que a língua faz com ela mesma. Seu sentido não é referencial; é poético,
estético. Em textos em que a própria estrutura lingüística compõe o jogo, predomina a função
poética.
Com efeito, a tradução do texto poético torna-se especial e mais árdua, pois sua matéria é a
própria língua, e as línguas são estruturalmente diversas. Por exemplo, podemos perceber
diferenças estruturais entre o português e o francês pela importante diferença de extensão entre
textos traduzidos para esses idiomas, e em edições bilíngües é possível observar esse contraste. O
texto em francês é invariavelmente um pouco mais longo, pois nessa língua a presença de
pronomes sujeito e complemento é uma constante, ao passo que em português eles tendem a ficar
subentendidos. No livro de Albert Audubert, Do Português para o Francês2, no qual são
apresentados 60 textos da literatura brasileira com sua tradução para o francês ao lado, constata-se
esse fenômeno, pois, em sua quase totalidade, todo parágrafo em francês é mais longo.
Reconhece-se, em geral, que o texto poético tem peculiaridades próprias e que dissociar
seu conteúdo de sua forma seria um grande equívoco (tradutório e de leitura). Essa experiência,

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separar forma de conteúdo, já foi empreendida e é firmemente criticada: o mesmo poema é


traduzido por pessoas diferentes, alguém traduz o conteúdo, a mensagem; outra lhe veste a forma.6
Se, no texto poético, a forma já é o sentido ou, como prefere Laranjeira3, a significância, a
tradução da poesia exigirá, portanto, um outro processo tradutorio. O tradutor não dirá a mesma
coisa que o poeta disse, mas terá que jogar com os significantes como o poeta fez, ou seja, o poema
não funciona em uma linearidade, mas em uma estrutura globalizante, em que seus diversos
elementos se relacionam em vários sentidos (direções) e formam desenhos poéticos. Poderíamos,
talvez, pensar num caleidoscópio, em que vários desenhos podem ser formados conforme o
giramos, isto é, os significantes deslocam-se em conjunto e formam na sua totalidade nova rede de
significância, novos desenhos. Essa perspectiva, aliás, aproxima-se dos princípios da leitura/
tradução da AD e da desconstrução, em que o desenho configurar-se-á de acordo com o
movimento que o leitor atribuir ao poema, que independe de uma intenção do poeta, do original. A
leitura/tradução, como o próprio poema a ser traduzido, é um jogo de significantes.
Entretanto, devido às peculiaridades estruturais das línguas, o tradutor muitas vezes terá
que criar o seu desenho ao traduzir um poema, que não seguirá talvez o mesmo traçado do poeta,
mas que terá o mesmo efeito, despertará a mesma emoção. Daí o porquê de algumas indagações
freqüentes, a saber: afinal, a capacidade de criar desenhos que correspondam àquele do poema
original, exige que tipo de tradutor? é necessário que o tradutor também seja, na sua própria língua,
um poeta?
Mais uma vez uma dicotomia, pois, em relação a esse processo, duas posições introduzem-
se na área da tradução. Alguns críticos acreditam que um tradutor experiente, mesmo não sendo
produtor de poesia, pode realizar tal empreitada. Outros pensam que pelo menos em potencial o
tradutor tem que possuir a linguagem poética, a capacidade de falar poeticamente. Não de forma
conclusiva, é consenso que é importante que o tradutor tenha sensibilidade poética própria para
traduzir poesias.
Retomando a idéia de que em poesia “o texto é a matéria-prima e o produto da tradução”4,
faremos considerações mais específicas da atividade de tradução, reiterando que a leitura de um
poema inicia-se pela sua visualização, sua disposição gráfica. Ainda que a leitura linear seja feita
em seguida, não é ela que permite ao tradutor perceber o poema na sua totalidade ou como a
significância se fez. Os efeitos de significância podem ser lidos em vários pontos do texto, que
estão, no entanto, integrados numa mesma direção (a sua significância). A tradução precisará criar
esses mesmos efeitos, distribuindo-os de forma similar e mantendo a mesma significância.

5.2 As particularidades do texto poético

Ressaltaríamos, ainda quanto à tradução poética, alguns elementos importantes que não
podem ser desconsiderados por um tradutor.
O primeiro é a observância da apresentação do poema original que, em princípio, deve ser
mantida no texto traduzido. Se os seus versos iniciam ou não por maiúsculas, por exemplo, se há
segmentação em estrofes ou se o poema tem forma compacta, além disso a apresentação gráfica do
título, a regularidade ou irregularidade do tamanho das estrofes e dos versos (se for um soneto, por
exemplo, manter a tradução como soneto).

6 Exemplo dado por Mário Laranjeira (2003, p. 30) desse processo de tradução encontra-se no livro Poesia russa moderna: nova
antologia, no qual os tradutores explicam que “[os poemas] ou foram vertidos diretamente do original por Augusto ou Haroldo
de Campos, e em seguida revistos por Boris Sehnaiderman, ou foram traduzidos literalmente por este e depois trabalhados, em
confronto com o original, por um dos dois poetas da equipe7'.

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E preciso também na atividade tradutória manter sempre que possível, a sonoridade,


matéria do jogo poético por excelência. E ainda que sejam as rimas o elemento sonoro mais
comumente identificado em poemas, ele pode também estar disperso pelo texto poético, não alea-
toriamente, mas desenhando e construindo a significância do poema. Vejamos, a seguir, o poema
sem título de Paulo Leminski5 e o valor que o efeito sonoro causa:
assim
como sempre
é sempre o futuro
que faz o passado

Podemos observar que o fonema [s] ecoa no poema (aliteração em assim / sempre / sempre
/ faz / passado), possibilitando que o material sonoro do poema crie a idéia de movimento constante
e ininterrupto das relações entre futuro e passado (o passado é o que se projetou um dia como
futuro) e insista nisso (repetição de sempre, por exemplo). Em um trabalho de tradução, esse efeito
sonoro que constrói o poema, gerando e imprimindo no leitor a idéia de linha do tempo ininterrupta
(como sempre), deverá ser mantida no texto traduzido. Já vimos anteriormente que por terem as
línguas contrastes estruturais e semânticos, pode não ser possível manter a aliteração do [s], mas
será importante manter esse jogo no poema traduzido, através da criação de outra aliteração ou
utilizando-se de outros recursos sonoros (quem sabe semânticos ou sintáticos) da língua de chegada
para obter o mesmo efeito.
Incluiríamos, ainda no nível fonético do poema, a métrica, pois ela é geradora do ritmo que
o poema terá e que também participa da criação da significância poética. Com efeito, a extensão
dos versos e a acentuação que é distribuída no interior deles são de extrema importância no texto
poético, o que origina uma espécie de melodia. Um exemplo claro desse fenômeno ocorre no
poema Debussy, de Manuel Bandeira6. Esse poema, cujo título é o nome do compositor Claude
Debussy, reconstrói melodicamente a música desse compositor. O ritmo e a métrica são
fundamentais para criar esse efeito de linha melódica, de balanço.
São esses alguns dos aspectos que envolvem o texto poético. Contudo, vale a pena mais
uma vez ressaltar que é a nossa comunidade interpretativa quem caracteriza o texto poético, que o
particulariza. A proposta de Laranjeira, que aqui acompanhamos, de considerar como constituinte
do texto poético/literário a significância e do texto informativo o sentido mostra-se interessante
para orientar o trabalho de tradução. Entretanto, se voltarmos à perspectiva da desconstrução,
precisamos concordar que essas distinções não são inerentes ao texto, mas representam a
predisposição por parte do leitor em ler poeticamente (ver nota de rodapé referente ao poema de
Manuel Bandeira no capítulo 3). Por isso, a nível semântico, o leitor/tradutor tenderá a ampliar o
caráter polissêmico das palavras, abrir as possibilidades de sentido, pois é assim que se lê hoje um
texto poético/ literário, fazendo associações mais amplas de sentido. Arrojo7 coloca que 'ler um
poema implica aceitar um convite implícito à criação”.
Se iniciamos este capítulo pelo tema da tradução poética e a polêmica sobre a sua
(in)tradutibilidade, vamos encerrá-lo insistindo na idéia de que a tradução poética, como toda
tradução, não é cópia, não é secundária. Ela exige talento e um trabalho intenso de criatividade. E
graças a esse empenho tradutório é que obras poéticas se renovam, existem. Aliás, a tradução
poética não só é possível, “como é a poesia essencialmente aberta para uma infinidade de leituras, a
reescrita dessa infinitude de leituras dá ao poema uma gama maior de possibilidade de realizações
textuais pela via da tradução.

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Síntese
Neste capítulo, vimos que na história da tradução, o texto literário sempre foi
considerado especial, pois é o gênero que mais se distancia da função referencial da
linguagem e, conseqüentemente, é mais criativo no que se refere ao tratamento que dá
ao próprio código lingüístico, sobretudo quando se trata de poema. Nesse texto, no
qual se institui o jogo da linguagem, a mensagem é a sua própria construção, o que
dificulta o trabalho de quem o traduz para criar os mesmos efeitos, visto que são uma
realidade as diferenças estruturais entre as línguas.

Indicação cultural
O carteiro e o poeta. Direção: Michael Radford. Itália: 1994.
No filme italiano O Carteiro e o Poeta (II Postino), de 1994, dirigido por Michael Radford,
um dos personagens, um carteiro que vive com simplicidade em uma ilha do Mediterrâneo, deseja
aprender a fazer poesia e recorre então ao seu amigo, o poeta chileno Pablo Neruda, que
provisoriamente está morando ali. Além da beleza do filme, do seu contexto histórico, os diálogos
sobre poesia são muito interessantes.

Atividades de Síntese
1. Assinale a opção correta.
A leitura de um poema é especial, pois:
a) sem estudar métrica não é possível compreendê-lo.
b) ela precisa ser linear.
c) porque o próprio material sonoro produz sentido.
d) sua relação é com a verdade, com a referência.

2. Assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso nas seqüências que complementam a declaração
inicial e, em seguida, marque a alternativa que expressa a seqüência encontrada.
A tradução poética:
( ) não exige do tradutor uma sensibilidade poética.
( ) é mais difícil quanto mais distantes forem as línguas do ponto de vista cultural e de sua estrutura
interna.
( ) deve considerar que o seu sentido (significância) se constrói na globalidade do texto,
a) F, V, V
b) V, F, V
c) V,V, F
d) V, F, F

3. Assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso nas assertivas que complementam a expressão
inicial e, em seguida, marque a alternativa que corresponde à seqüência encontrada.
Para a tradução poética, é importante:
( ) manter o mesmo tipo de construção do poema original.
( ) criar uma estrutura poética totalmente diferente do original.
( ) o que se diz, não o como se diz.
a) V,V,F

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b) F, V, V
c) F, F, V
d) V, F, F

4. Assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso nas assertivas que complementam a expressão
inicial e, em seguida, marque a alternativa que corresponde à seqüência encontrada.
A melhor forma de tradução poética consiste em:
( ) separar conteúdo de forma.
( ) visualizar o texto e percebê-lo na sua globalidade.
( ) traduzir verso por verso.
a) F, V, V
b) F, V, F
c) F,F,V
d) V, F, F

5. Marque a alternativa correta.


O texto literário se utiliza mais da linguagem:
a) arcaica.
b) gramaticalmente correta.
c) polissêmica.
d) da lógica.

6. Procure exemplos de poemas em que ocorre aliteração. Verifique qual o efeito criado por ela e
como ela está ligada ao sentido geral do poema.
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7. Procure dois provérbios que você conhece na língua estrangeira de sua preferência e compare a
construção dele nas duas línguas. Examine se o ritmo e a rima foram mantidos. Ou se eles não se
correspondem. Observe se os provérbios examinados mantiveram os seus jogos sonoros.
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O mistério da transferência semântica é, na essência, o mesmo quando


traduzimos uma breve nota de despacho ou o Paraíso.
(George Steiner, 2005, p. 275)

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Iniciaremos este capítulo refletindo sobre os diferentes tipos de tradução


especializada, com suas facilidades e dificuldades em comparação à tradução literária,
vista no capítulo anterior. Em seguida discutiremos a diferença entre tradução c
interpretação, mais uma área de atuação do tradutor.

6.1 A tradução de textos escritos


De acordo com estudos recentes sobre o mercado da tradução, é cada vez maior o número
de textos técnicos e científicos traduzidos. Esse dado é facilmente explicável, já que
contemporaneamente crescem também as possibilidades de intercâmbios de informações e de
negócios, exigindo um bom nível de precisão na comunicação, o que é solucionado por boas
traduções.
Diferentemente do que vimos no capítulo anterior, as dificuldades apresentadas pela
tradução especializada são, de certa forma, menores que aquelas da tradução literária. Isso acontece
fundamentalmente pela diferença de discurso que temos entre as duas especificidades.
Enquanto o texto literário, como vimos anteriormente, apresenta uma linguagem poética,
abrindo a possibilidade, mesmo que de caráter finito, para várias leituras e interpretações - o que é
um desafio para o tradutor o texto especializado tem como principal característica a linguagem
referencial, a objetividade de seu discurso. Ele é escrito já com a finalidade de evitar dubiedades,
dúvidas e mal-entendidos, o que facilita muito sua compreensão e conseqüentemente sua tradução.
Essa característica, no entanto, pode ser também uma armadilha para o tradutor,
aparentando uma facilidade nem sempre real Fica aqui, portanto, um alerta! Confiança extremada
pode ser perigosa, especialmente quando se trabalha com línguas muito parecidas, como é o caso
do português e do espanhol. De qualquer maneira, esses são desafios pelos quais temos que passar
e é isso que torna o processo de tradução tão interessante.
Mas afinal, quais textos são considerados técnicos ao serem traduzidos?
E muito comum pensarmos em textos escritos quando falamos em tradução técnica. Apesar
desta não ser a única forma possível, como veremos mais adiante, ela é sem dúvida uma das
principais.

6.1.1 A tradução de textos técnicos

A primeira coisa que devemos considerar quando pensamos em tradução técnica é a dupla
competência requerida para um tradutor. Ele deve, além de conhecer profundamente as duas
línguas com as quais irá trabalhar, possuir conhecimentos temáticos extralingüísticos, conhecer
muito bem a especificidade da temática que irá traduzir, como terminologias peculiares, jargões e
convenções relacionadas aos tipos de textos utilizados. Como vimos no capítulo 4, os dicionários
específicos podem ajudar muito nessa tarefa, mas eles, sozinhos, não são suficientes.
São exemplos de textos técnicos: artigos, enciclopédias técnicas, atas de reuniões,
descrições técnicas, informes técnicos, lista de peças, manuais, planos de estudo, anúncios, folhetos
publicitários, bulas de remédios, normas técnicas, carta de reclamação etc.

6.1.2 A tradução juramentada

A juramentada é um tipo de tradução que se faz, não apenas, mas especialmente, de


documentos. Ela tem como característica o fato de ter fé pública, o que significa que ela é válida
juridicamente. Apenas tradutores juramentados, concursados pela Junta Comercial de cada estado

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do País, podem exercê-la.

6.1. 3 A tradução multimídia - internet

A tradução eletrônica é um recurso moderno, possibilitado pelas novas tecnologias, e um


facilitador do trabalho do tradutor. Inicialmente, essa técnica apareceu como uma resolução para
todos os problemas que envolvem as dificuldades do processo tradutório, mas logo se percebeu que
isso está longe de ser verdade.
A grande dificuldade desse tipo de tradução é trazida pela própria especificidade do texto
ou do hipertexto, como é conhecido esse tipo de estrutura. O hipertexto é um texto dentro do
próprio texto, que pode ser acessado através de links, e que tem como principal característica a de
dar liberdade ao leitor na construção do texto e do conteúdo que lê, considerando em especial seu
conhecimento prévio do tema.
Como não há a linearidade nesse tipo de leitura - um leitor pode selecionar alguns dos links
propostos, enquanto outro leitor pode selecionar todos, e um terceiro leitor pode não selecionar
nenhum. A possibilidade de previsão da construção e da compreensão que terá o leitor desse texto é
quase nula. Isso traz uma dificuldade a mais para o tradutor: a de estabelecer uma coesão e uma
coerência entre esses diferentes pedaços.

A internet como ferramenta de tradução

Outra novidade que as novas tecnologias trouxeram é a possibilidade de termos em


softwares e sites da internet verdadeiros tradutores automáticos, nos quais basta colocarmos o texto
para que, em alguns segundos, ele saia totalmente traduzido. Novamente encontramos uma errônea
crença de facilidade, pois imaginamos que tudo será mais fácil, com a redução e quase anulação do
trabalho do tradutor, mas a realidade é que não conseguimos o resultado idealizado.
Isso acontece por uma razão importante: um texto não se caracteriza apenas por uma união
de palavras codificadas em uma língua. As palavras possuem uma dimensão semântica, com a
manifestação de vários significados, várias vozes, articuladas entre si e não perceptíveis quando se
fala em simples decodificação da língua. E é exatamente essa dimensão, essa manifestação, que
não é traduzida pelo tradutor automático.
Por isso, desconfie! A tradução automática pode até trazer resultados satisfatórios quando
se trata de textos técnicos, que possuem uma linguagem mais objetiva e referencial, mas mesmo
nesses casos, a minuciosa intervenção do profissional da tradução é indispensável.
Alguns sites de tradução automática para você conhecer:
http://babelfish.altavista.com/
http://oesi.cervantes.es/traduccion.jsp
http://www.freetranslation.com/
http://tr.voila.fr/
Que tal experimentar a tradução on-line?

6.2 A tradução audiovisual

As linguagens audiovisuais têm como característica a união de pelo menos dois tipos de
código: o código lingüístico - oral e/ou escrito - e o código visual - verbal e/ou icônico. Essas
peculiaridades trazem uma complexidade especial para esse tipo de tradução, já que os dois códi-
gos são indissociáveis e devem manter uma grande coesão e coerência, complementando-se para

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que possamos obter um resultado final ideal Assim, esse tipo de texto deve ser analisado, ao
mesmo tempo, a partir dos pontos de vista semiótico (considerando todos os códigos que intervém
no texto), narrativo e comunicativo - de acordo com as marcas situacionais do texto.
Com todos esses fatores, a grande dificuldade é saber: Qual prioridade estabelecer? Qual
código privilegiar? Que adaptações serão necessárias no momento de traduzirmos o texto?
Nesses casos, é normal que o código visual, a imagem, permaneça inalterado, sendo feita a
tradução do código lingüístico, do texto. Essa tradução acontece em diferentes modalidades,
conhecidas como vozes sobrepostas, legendação e dublagem.

6.2.1 As vozes sobrepostas

A menos freqüente de todas as modalidades, ela é muito utilizada na tradução de


documentários, em que a tradução oral se sobrepõe ao texto original, que é mantido, porém, em um
volume mais baixo do que a tradução. Inicia com o texto original, e a tradução começa cerca de três
segundos depois, terminando, obrigatoriamente, ao mesmo tempo. Essa diferença de tempo já
pressupõe, portanto, uma adaptação do texto traduzido para o original.
Nessa modalidade de tradução, um texto escrito é apresentado de forma simultânea à fala
no texto original, e eles devem estar em perfeita sincronia. A unidade desse processo se dá o nome
de legenda, que deve ser clara, sem desviar a atenção do espectador daquilo que ele está assistindo.
Do ponto de vista técnico, a legenda costuma ter uma extensão máxima de duas linhas,
apesar de esse dado ser determinado pelo tipo de meio a que se destina a tradução: cinema ou
vídeo. Cada linha pode ter de 28 a 38 caracteres, mas geralmente temos uma quantidade maior para
o vídeo e menor para a tela de cinema, sendo que podem ser inseridas por quatro técnicas
diferentes:

— processo fotoquímico: o filme recebe uma cobertura com uma camada de cera ou de
parafina e é feita a impressão de cada uma das legendas;
— processo ótico: consiste na fotografia das legendas em uma outra película, do mesmo
tamanho da original, e sua sincronização;
— processo eletrônico: as legendas são escritas em uma tela eletrônica independente,
geralmente situada abaixo da tela;
— processo por laser: as legendas são escritas diretamente sobre o filme por um
computador que controla um raio laser: E a técnica atualmente utilizada na legendagem.

Para produzirmos uma legenda, é necessária a composição da pauta do roteiro, que é a


divisão do roteiro na língua original em unidades de tradução, auxiliando o trabalho do tradutor,
mas, principalmente, facilitando a posterior visualização do filme e da leitura por parte do
espectador. Essa etapa seria a terceira, depois da primeira visualização global do filme, da leitura e
da tomada de notas do texto original por parte do tradutor. As duas últimas etapas seriam, primeiro,
a tradução e a sincronização e, por último, a edição das legendas.
Economicamente, essa é uma opção mais barata, já que para acontecer o processo é
necessário apenas o tradutor e os técnicos que colocam as legendas em sincronia com o áudio. No
Brasil, essa é a modalidade mais utilizada para os filmes que serão difundidos nos cinemas.

6.2.3 A dublagem

Na dublagem, o texto original é totalmente substituído pelo texto oral na outra língua. E
uma modalidade muito utilizada no Brasil, especialmente na televisão. No cinema, no entanto, ela

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geralmente está restrita aos filmes infantis. Isso acontece por diversas razões, trazidas pela espe-
cificidade desse procedimento. A principal delas é o fato de substituir os diálogos originais,
apagando o texto fonte, o que para muitos modifica ou restringe a percepção da atuação dos atores
no filme. Por outro lado, ela é democrática, pois permite o acesso de todas as pessoas ao conteúdo.
O processo de dublagem é complexo. E o tipo de tradução que requer a maior estrutura de
todas as exigidas pelas demais modalidades e conta com diferentes profissionais envolvidos. Além
do tradutor, trabalham também o ajustador, o diretor de dublagem, os técnicos de som, o assessor
lingüístico e os atores. Inicia-se com a visualização do material e a leitura do roteiro, seguida da
tradução e do ajuste por parte do tradutor. As próximas etapas são a direção da gravação, o
assessoramento lingüístico e a interpretação final, por parte dos atores.
No que diz respeito especificamente ao trabalho do tradutor, foco de nosso interesse aqui,
um momento importante durante o processo de dublagem é o do ajuste, no qual acontece a
sincronia entre som e imagem. Assim, esses ajustes podem ser de três tipos:

— sincronia fonética: é a adequação da tradução aos movimentos da boca do ator no


momento da fala. A atenção aqui deve concentrar- se em situações em que se usam
consoantes labiais, por exemplo, quando o movimento dos lábios fica muito marcado;
— sincronia quinésica: trata-se da adequação da tradução aos movimentos corporais do
ator no momento em que este se expressa;
— isocronia: é a adequação da tradução à duração temporal do enunciado do ator; é a
sincronia de frase, pausa e enunciado entre o ator do filme e a nova fala traduzida.

A unidade de dublagem é chamada de tomadas (takes), as quais servem para organizar


cada trecho que será trabalhado pelo tradutor. Cada tomada não pode ultrapassar dez linhas e, no
caso de apenas um personagem, esta unidade não deve ultrapassar cinco linhas.

6.3 Tradução versus interpretação

E muito comum a confusão entre os termos tradução e interpretação, a ponto de serem até
mesmo usados de maneira generalizada, especialmente quando se trata de interpretações. No
entanto essas são atividades diferentes e que não podem, necessariamente, ser feitas por um mesmo
profissional, ou seja, apesar disso ser totalmente possível, um bom tradutor não é necessariamente
um bom intérprete, e isso acontece porque essas duas atividades exigem habilidades específicas.
Como já falamos bastante sobre os tradutores; falaremos agora sobre os intérpretes.
Sempre levando em consideração os obstáculos e as dificuldades naturais de uma tradução
feita de maneira instantânea, algumas qualidades são indispensáveis para que o profissional seja um
bom intérprete: ser capaz de ser receptivo ao conteúdo expressado pelo orador e que deve ser
traduzido, sem a demonstração de nenhuma reação de caráter pessoal; ser capaz de interpretar o
que está sendo dito de maneira rápida e em um contexto geral, não palavra por palavra; ter uma boa
memória, já que existem muitos significados para cada palavra e, portanto, apenas o contexto e o
seu uso é que darão o significado correto para determinada situação.
Além disso, é fundamental que o intérprete disponha de um extenso vocabulário global das
duas línguas, conheça os termos técnicos, que poderão ser utilizados pelos especialistas que
discursam, e tenha a capacidade de manter a conferência interessante, traduzindo em detalhes
aquilo que foi dito pelo orador, além de ter a capacidade de limpar sua memória ao longo do
trabalho, já que continuará permanentemente fazendo interpretações.
Considerando essas características, próprias dessa atividade, conheceremos em seguida os

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três tipos de interpretação possíveis: a consecutiva, a simultânea e a combinada.

6.3.1 A interpretação consecutiva

E o tipo em que o intérprete verte o texto, após o discurso oral, portanto que ele ouviu, para
a outra língua. Ocorre em situações mais informais, quando há a necessidade de que a comunicação
seja instantânea, após segmentos maiores. Nesse tipo de tradução é comum que o intérprete traduza
a partir do sentido, ressaltando aquilo que de mais importante foi falado.

6.3.2 A interpretação simultânea

Nesse tipo, o intérprete verte o texto que ouve para a outra língua ao mesmo tempo em que
o discurso é pronunciado. E uma modalidade cada vez mais comum em congressos, seminários,
palestras ou encontros. Algumas instituições internacionais, como a ONU ou a Comissão Européia,
por exemplo, em que são várias as línguas oficiais usadas, têm serviços permanentes de intérpretes
simultâneos.
Para esse tipo de interpretação, é necessária uma cabine equipada com um aparelho
especial, na qual o(s) intérprete (s) estará (estarão) disposto (s), ouvindo através de um fone aquilo
que é falado pelo orador e transmitindo já na outra língua aos ouvintes, que também estarão
munidos de fones de ouvido. Sempre que possível, o intérprete tem acesso ao texto que será lido
pelo orador - quando este não falar de improviso - o que facilita muito o trabalho de versão do
discurso.

6.3.3 A interpretação combinada

O discurso do orador, nessa condição, é vertido para vários idiomas ao mesmo tempo,
sendo, portanto, necessário um intérprete para cada uma das línguas a serem traduzidas, além de
equipamentos também individualizados.

Síntese
Neste capítulo foram apresentadas as diferentes modalidades de tradução
técnica especializada, que inclui tanto textos escritos como a tradução de multimídia
(internet, legendagem ou dublagem) e a interpretação - consecutiva, simultânea ou
combinada.

Indicações culturais
São vários os textos disponíveis na internet sobre tradução de textos técnicos, legendação
ou dublagem, mas nada como examiná-los na prática. Assim, esse é o momento propício para ver
muitos filmes e observar como são legendados ou dublados. E só escolher o gênero que você
prefere e bom divertimento!
Informações técnicas sobre a carreira de tradutor, assim como futuros encontros e
congressos, podem ser encontradas no site do Sindicato Nacional dos Tradutores
(http://www.sintra.org.br).

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Atividades de Síntese
1. Assinale a alternativa correta.
E um tipo específico de tradução que tem fé pública e é a única aceita em juízo. Estamos falando da
tradução:
a) juramentada.
b) simultânea.
c) técnica.
d) especializada.

2. Como vimos neste capítulo, o processo de legendagem de um filme é dividido em cinco etapas,
que aparecem desordenadamente, a seguir:
1. segmentação do original;
2. edição das legendas;
3. tradução e sincronização;
4. visualização do filme;
5. leitura do original e tomada de notas.

Ordene-as de acordo com a sua seqüência natural de trabalho e, em seguida, assinale nas
alternativas a seqüência numérica correspondente:

a) 1,2, 3,4, 5
b) 3, 2, 1,5, 4
c) 5, 4, 3, 2, 1
d) 4, 5, 1, 3, 2

3. Á mesma atividade da questão anterior, agora considerando o processo de dublagem, que tem
como etapas:
1. direção da gravação;
2. tradução e ajuste;
3. visualização do material e leitura do roteiro;
4. interpretação final;
5. assessoramento linguístico.

a) 1, 2, 3, 4, 5
b) 3, 2, 1,5, 4
c) 5, 4, 3, 2,1
d) 4, 5, 1,3, 2

4. É o atual processo de legendagem. Estamos falando do:


a) processo por laser.
b) processo ótico.
c) processo eletrônico.
d) processo fotoquímico.

5. Faça um levantamento das principais dificuldades apresentadas pelas diferentes técnicas de


tradução e de interpretação.
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6. Selecione alguns filmes cuja língua original seja a mesma da língua estrangeira que você
conhece. Assista a cada um deles e analise-os quanto às diferentes traduções: legendação e
dublagem.
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7. Desenvolva a mesma atividade anterior, mas agora apenas em suas versões traduzidas, ou seja,
dublado e com legendas em português. Você percebe diferenças entre os dois, mesmo utilizando o
mesmo código lingüístico, a língua portuguesa?
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"Quem aprende uma nova língua adquire uma alma nova."


(Juan Ramón Jiménez)

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Este capítulo aborda pontos de contato entre a linguística aplicada e a tradução,


enfatizando a importância da estreita relação entre teoria e prática para ambas as áreas.

A leitura do esboço feito por Schmitz sobre a situação da linguística aplicada (doravante LA)
no Brasil e no mundo mostra que a "disciplina está em pleno desenvolvimento com contribuições
pertinentes para o ensino e aprendizagem de línguas" (Schmitz, 1992, p. 215). Por outro lado,
mostra também que os limites entre a lingüística e a LA não estão bem-definidos, pois o que é
incluído na área ou dela excluído depende de certos interesses institucionais. Alguns autores
consideram que a LA inclui, como subáreas, a tradução, a aquisição da linguagem, a terminologia.
Para outros, a disciplina está voltada exclusivamente para o ensino prático, limitando- se à
aplicação de modelos lingüísticos. Outros, ainda, pensam que a LA é campo de pesquisa autônomo.
Com isso, Schmitz mostra que também não há consenso em relação a seus objetivos.
Efetivamente, vemos Coste & Galison (1976), por exemplo, afirmarem que a LA deve limitar-se a
responder à questão "o que ensinar?", excluindo de seu âmbito qualquer produção teórica, qualquer
pesquisa fundamental.
Cavalcanti (1986), entretanto, não aceita a concepção de que a LA seja apenas o lugar de
aplicação das teorias linguísticas. Para a autora, o âmbito da LA é mais amplo, inclui a pesquisa
sobre questões de uso da linguagem. Ainda que se saiba que é impossível dar conta do uso da
linguagem em toda sua complexidade, a posição de Cavalcanti é exemplar no sentido de não
restringir o campo da LA à aplicação de teorias lingüísticas apenas ao ensino e à aprendizagem de
línguas. Para a autora, a LA é também o lugar de produção de pesquisa fundamental com o objetivo
de identificar questões de uso e otimizar o desempenho do profissional, do usuário ou do aprendiz,
colocando-se dentro ou fora do contexto escolar.
Widdowson levanta outro aspecto dessa questão: não considera que, necessariamente, o
modo como a lingüística concebe a linguagem é o mais apropriado para os objetivos didáticos.
Sugere, inclusive, que:

a principal ocupação da lingüística aplicada deveria ser o estabelecimento de conceitos ou


modelos de linguagem próprios para o domínio pedagógico, sem pressupor que um
modelo de linguagem relevante deva inevitavelmente originar-se de um modelo formal de
descrição lingüística, no sentido técnico. (1984, p. 7)

A questão que Widdowson levanta relaciona-se, portanto, a diferentes maneiras de se


conceber a linguagem. De acordo com o autor, o analista, ou seja, o linguista, representa a
linguagem em termos de um sistema abstrato visando à construção de modelos dentro dos padrões
científicos da disciplina. Para Widdowson, o uso da linguagem não pode ser reduzido a regras
linguísticas idealizadas, rigorosas e precisas. O autor considera que a LA deve trabalhar com o
conceito de linguagem em uso, com a experiência de linguagem do usuário, e buscar um modelo
que seja compatível com a experiência do aprendiz, enquanto usuário da linguagem, não com
modelos descritivos da linguística.
Vê-se que a discussão em torno da LA envolve seus limites, suas áreas de atuação, seus
objetivos e, até, com que concepção de linguagem lidar. Essas questões acabam tendo
conseqüências também para a área da tradução, na medida em que em algumas instituições, como a
UNICAMP e a PUC-SP, a Tradução é uma das áreas de concentração dos programas de Pós-
Graduação em Lingüística Aplicada. Realmente, verifica-se que, apesar de a tradução não ter o
espaço institucional e acadêmico que tem a LA, nesta área podem-se levantar questões análogas.

7.1 A história da tradução

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A tradução, assim como o ensino e a aprendizagem de línguas, vem sendo praticada há


milênios, mas, enquanto áreas de investigação teórica, ambas têm história recente. Da mesma
maneira que alguns vêem a LA como receptora passiva de teorias lingüísticas, alguns teóricos da
tradução, como Mounin (1975) e Catford (1980), consideram que a lingüística deve fundamentar
"cientificamente" o que consideram um modo de agir empírico e intuitivo - a tradução.
Por outro lado, enquanto sempre se praticou o ensino de línguas, o da tradução, pelo menos
no Brasil, é recente. Além disso, há abundante bibliografia sobre o ensino e a aprendizagem de
línguas, mas sobre o ensino da tradução há pouco material publicado. A título de exemplo, entre
1968 e 1992 não há um único artigo sobre esse assunto publicado no ELT Journal, periódico
destinado a professores de inglês como língua estrangeira. No entanto, é necessário refletir sobre a
questão do método de ensino da tradução.
Delisle (1989) comenta que desde 1980 ressalta a importância da reflexão sobre a
metodologia dos cursos de tradução, mas a primeira vez em que viu uma discussão conjunta sobre
o assunto foi durante o 3º Encontro Nacional de Tradutores, cujo tema foi O Ensino da Tradução. A
leitura dos Anais desse encontro revela, entretanto, que há muito o que discutir sobre o assunto. As
comunicações que trataram do tema durante o encontro revelam pontos de vista variados, às vezes
até conflitantes. Mas há um ponto que se salienta entre os demais: a colocação da importância das
concepções sobre a natureza do processo tradutório, pois "a tradução não é disciplina na qual um
conteúdo é transmitido ... é um fazer, um fazer intelectual" (Bordenave, 1989, p. 60).
Arrojo já havia salientado a importância das concepções teóricas para o tradutor/ aprendiz,
pois permitem a ele "compreender melhor e refletir criticamente sobre a natureza de seu trabalho",
fornecendo um instrumental que o auxilia a resolver suas questões práticas (1986, p. 78).
Só que nem sempre é essa a postura dos que falam sobre tradução. Campos, por exemplo, em
um volume de divulgação sobre tradução, deixa implícito que a teoria é contraditória e
desnecessária para a prática. O primeiro item de O que é tradução - "O que se diz da tradução" -
inicia-se com a seguinte afirmação:

Desde sempre, em todos os tempos e lugares, teóricos e praticantes têm dito o que pensam
da tradução, do que ela é ou do que deveria ser. São opiniões que em muitos casos se
contradizem, se desdizem, não só no acessório como no essencial; contradições que enfim
não bastam para impedir que os tradutores continuem a fazer o seu trabalho, com a sua
prática muitas vezes desmentindo a teoria. (Campos, 1987, p. 11)

O final do item leva o leitor a imaginar que qualquer reflexão sobre tradução acaba sendo
estéril:

E por aí vão os teóricos da tradução, dizendo uns, desdizendo outros. Mas também os
práticos da tradução - se assim se podem chamar aqueles para quem "traduzir se aprende
traduzindo", assim como é nadando que se aprende a nadar - emitem vez por outra
algumas opiniões, não menos discutíveis nem menos contraditórias que as dos mais
renomados teóricos. (1987, p. 15)

Esse ponto de vista tenta ocultar que toda prática pressupõe uma base teórica. E isso não está
apenas relacionado ao tradutor, aplica-se também ao professor de línguas. Entretanto, como ressalta
Arrojo:

Mesmo o tradutor que pensa poder traduzir sem se preocupar com teorias, ou sem
conhecê-las, implicitamente estará seguindo normas que pressupõem uma postura teórica
– ou ideológica - ainda que não se dê conta disso. (1992, p. 109)

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7.2 O trabalho do professor de línguas


Poderíamos acrescentar que o professor de línguas que afirma sua despreocupação com a
teoria está, da mesma maneira, assumindo uma postura teórica. O que ocorre é a falta de
consciência sobre as relações estabelecidas entre a teoria e a prática.
Widdowson (1984) sugere que uma das questões a ser pensada sobre o ensino de línguas é se
a abordagem derivada de um modelo formal de descrição lingüística pode ser adotada, tendo em
vista seu caráter idealizante, em que se destacam as relações estabelecidas entre os signos, não as
estabelecidas entre os signos e seus usuários em contextos reais. Da mesma maneira, os teóricos da
tradução de linha lingüística mantêm o mesmo tipo de posição idealizante, trabalham com
exemplos descontextualizados, tentam explicar o processo ou o produto de modo a deixar de lado
questões importantes, como o sujeito que traduz e a ideologia.
Só que, enquanto em LA a tendência parece ser a de seguir o caminho da pesquisa autônoma
(Schmitz, 1992), em tradução acaba prevalecendo a postura de que o material e a pesquisa básica
devem provir de outras áreas e/ou de que a teoria é desnecessária para a prática. Isso é comprovado
por algumas publicações sobre tradução existentes no mercado nacional.
Há trabalhos de tradutores experientes, como os de Rónai (1981 e 1987) e de Paes (1990),
que tendem a separar a experiência vivida da reflexão teórica. Há trabalhos, como o de Barbosa
(1990), que se dedicam à descrição de passos que o tradutor deve seguir em seu trabalho,
reportando-se a características formais das línguas envolvidas como "procedimentos que
efetivamente recobrem o que acontece no ato de tradução" (Barbosa, 1990, p. 64). Esses
procedimentos são considerados, pela autora, diretrizes que podem ser úteis "para tradutores,
professores e alunos de tradução e pesquisadores da área" (p. 110). Em seu trabalho, entretanto, não
se encontra essa abrangência. Isso porque o enfoque que a autora dá à tradução é o de algo fixo,
estático, independente da leitura de um ser humano, de influências sociais, de ideologias. O próprio
realizador do processo de tradução - o tradutor - parece ser visto como um ente idealizado,
descontextualizado, e que deve seguir regras prescritivas sem ter que refletir sobre o processo.
Theodor (1986), por outro lado, considera importante a fundamentação teórica para a
orientação do tradutor na prática. Só que, para esse autor, o papel da universidade em sua formação
seria o de fornecedora de bases científicas, enfatizando os métodos tradutórios e cuidando da
qualificação lingüística do aprendiz. À teoria caberia, assim, a mera formulação de regras básicas
de tradução para resolver as dificuldades dos alunos.
Com isso, prevalece a ruptura entre essa teoria e a prática efetivamente realizada.
E o teórico acaba sendo visto como um idealista totalmente dissociado do que ocorre na
prática - tanto em relação ao fazer tradutório, quanto à sala de aula de cursos de tradução.
Esse não é um problema apenas da tradução. McDonough & McDonough (1990), em artigo
sobre o papel e a natureza da pesquisa em ensino de línguas, buscam esclarecer qual é a implicação
da pesquisa para qualquer mudança na prática em sala de aula. A conclusão a que chegam pode
perfeitamente ser aplicada à tradução. Dizem que é comum ver a teoria rejeitada por professores de
língua estrangeira, que acabam preferindo técnicas, dicas e novas idéias que possam ser aplicadas
diretamente em classe. De acordo com os autores, essa atitude "reforça a dicotomia entre teoria e
prática, construindo um mundo no qual professores conversam com professores sobre técnicas e
pesquisadores conversam com pesquisadores sobre pesquisa e teoria" (McDonough &
McDonough, 1990, p. 103). Poderíamos acrescentar que tradutores falam com tradutores sobre
traduções.
Alguns diriam que esse quadro é consequência da alienação ou do despreparo dos
professores ou, no caso da tradução, dos tradutores. Mas não estariam tocando no ponto nevrálgico

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da questão. Este, pelo menos em relação à tradução, é o afastamento entre a teoria e a prática,
devido à tentativa de certos teóricos quererem regular "cientificamente" a prática, ou seja, formular
regras tradutórias.
Snell-Homby (1988) denomina "tradutologia" a linha de pesquisa baseada na lingüística que
tem como objetivo fazer com que o estudo da tradução seja rigorosamente científico e transparente.
De acordo com a autora, o que essa abordagem prioriza é a busca de equivalentes de tradução.
Entretanto, a análise que faz de trabalhos nessa linha revela que:
O termo equivalência, além de ser impreciso e mal-entendido (mesmo depois de calorosos
debates por cerca de 20 anos), indica uma ilusão de simetria entre línguas que mal vai além de
aproximações vagas e que distorce os problemas básicos da tradução (Snell-Homby, 1988, p. 22)
Conclui que essa abordagem "não forneceu qualquer contribuição substancial para o
desenvolvimento dos estudos de tradução" (p. 26). E é fácil identificar o porquê.
Em geral, são trabalhos prescritivos, descontextualizados, que se distanciam do fazer
tradutório. Buscam explicar objetivamente o que é tradução, mas usam como meio procedimentos
tradutórios, que não descrevem o produto e congelam um processo dinâmico que não pode ser
normativizado por regras universais e atemporais. O processo de tradução é dependente de um
sujeito-tradutor e relacionado a diretrizes que não são universais nem eternas, mas transitórias e
vinculadas às instituições sociais. A tradução é um processo complexo e sempre dependente de
uma leitura contextualizada. Mas, na literatura sobre tradução, acaba prevalecendo a visão baseada
na linguística, que procura congelar e dissecar o processo, assim como estabelecer normas gerais
para a boa tradução.
Alguns pesquisadores tendem a reforçar essas noções. Por exemplo, Zanotto (1992, p. 125)
comenta que "a Teoria da Tradução, acompanhando o desenvolvimento dos estudos lingüísticos,
atingiu um grau de sofisticação didática e metodológica extraordinário". No entanto, o que chama
de "desenvolvimento teórico" refere-se à aplicação de certos conceitos da lingüística textual e a
pesquisas sobre procedimentos ou modalidades tradutórias, calcadas no modelo de Vinay e
Darbelnet, que se relacionam mais a estudos contrastivos entre línguas do que à própria tradução.
Zanotto (1992), como outros pesquisadores, deixa passar a idéia de que a tradução depende
de algumas técnicas e que seria mais fácil ou mais difícil dependendo do grau de convergência ou
de divergência entre as línguas envolvidas. Essa postura é indesejável para um curso de tradução,
pois desenvolve no aprendiz a idéia de que ele é um mero intermediário de um processo em que a
equivalência se daria pelo mero conhecimento de uma série de regras mais ou menos complexas.
Além de desvalorizar o trabalho do tradutor/aprendiz, enquanto sujeito de um fazer, atitudes
como essa tendem a criar, no aprendiz, a expectativa de que um curso de tradução, especialmente o
de teoria, forneça a resposta pronta e correta para todas as questões que surgem em sua prática.
Nesse sentido, os alunos tendem a esperar que a teoria da tradução seja uma continuação de cursos
de lingüística e que formule todas as regras e normas para a tradução perfeita. Esperam, assim, que
um curso de teoria forneça receitas e fórmulas para a boa tradução. No entanto, assim como o
objetivo de um curso de língua não é fazer com que o aluno decore certas fórmulas comunicativas,
o objetivo de um curso de tradução não pode ser a prescrição de procedimentos tradutórios. E da
mesma maneira que não se podem cobrir todas as situações de uso de uma língua estrangeira,
nenhum curso de tradução pode prever em que áreas e para que comunidades os aprendizes
realizarão seus trabalhos. Nesse sentido, os cursos têm que cumprir seu papel de formadores,
conscientizando o aluno de que a linguagem é indissociável de um contexto imediato e sócio-
histórico.
A LA e a tradução podem, juntas, tentar modificar a estrutura de ensino, buscando uma
abordagem que enfoque o uso real da linguagem. Essa abordagem não deve basear-se na noção de
que a estrutura das línguas fornece uma "significação original", que pode vir a ser alterada por

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condições externas ao sistema, relacionadas ao particular. E não deve passar a idéia de que, se o
aluno aprender as normas, as regras abstratas, terá nas mãos a chave para a compreensão da língua
e todo o restante seria acessório ou suplementar. Juntas, também, podem pensar sobre a questão do
método de ensino de línguas em cursos de Tradução. É necessário refletir se deve ser o mesmo para
um futuro tradutor e para um futuro professor. Afinal, os objetivos dos cursos de licenciatura
(Letras) e de bacharelado (Tradução) são bastante diferentes, o que implica metodologias diversas.

Síntese
Essa questão precisa ser discutida no âmbito da LA e no da tradução. Mas isso
apenas significa que há pontos de contato entre as duas áreas, o que não leva a
tradução à periferia da LA, nem à sua inclusão na área. O ponto de contato e algumas
das relações entre as áreas aqui apontadas devem servir muito mais para reafirmar
suas especificidades, o que levaria a confirmá-las como áreas de pesquisa em que deve
haver estreita relação entre teoria e prática.

Atividade de Síntese

Faça uma síntese das principais ideias contidas neste capítulo.


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Considerações finais
No decorrer deste estudo, foram apresentados a você diversos aspectos relativos à tradução.
Alguns de caráter mais prático, como o uso do dicionário, os tipos de tradução especializada, o
tratamento tradutório que o texto literário requer, e também aqueles que oportunizam reflexões
teóricas que subjazem à questão: o que é traduzir?
Ainda que a literatura que trata da tradução possa segmentar suas teorias, optamos aqui em
sintetizá-las em duas perspectivas dominantes: a tradicional, que propõe no seu arcabouço teórico
as noções de equivalência, ou seja, de um sentido estável e passível de ser recuperado pelo tradutor,
e a contestadora, que recusa um sentido estável, único, dado previamente pelo texto, pois
considera que o sentido se dá na leitura do tradutor, que como sujeito interpretante não é isento de
ideologia, de uma perspectiva sociocultural, do seu subjetivismo.
Felizmente para quem está envolvido com o trabalho de tradução, ensinando-a ou
praticando-a, a perspectiva contestadora, através dos princípios nos quais se fundamenta, põe em
xeque a figura tradicional do tradutor e abre caminho para que seja extinta a figura de um mero
transportador de significados, cujo trabalho se restringiria a uma competência técnica e não
criadora.
Esperamos que o módulo lhe tenha dado a oportunidade de ampliar seus conhecimentos,
mas também tenha despertado seu interesse em ir além, em procurar na bibliografia sugerida, por
exemplo, aprofundar os conteúdos apresentados aqui.
Desejamos-lhe um novo e proveitoso percurso nesse sentido.

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Glossário
Desconstrução: corrente lingüístico-filosófica cujo precursor é Jacques Derrida. A leitura proposta
pela desconstrução se opõe à idéia de leitura correta e prega o fim dos conceitos dualistas:
verdadeiro/falso, sujeito/objeto, língua/fala etc.
Dialogismo: figura central da teoria bakhtiniana, é constituinte da linguagem humana que sempre
pressupõe o outro nas suas mais diversas realizações.
Discurso: espaço entre o lingüístico e o extralingüístico onde se articulam as significações e as
produções sociais.
Enunciação: espaço de interação entre locutores, no qual eles ocupam posições, às vezes
explicitamente, outras implicitamente.
Hipertexto: são textos inseridos dentro de um texto principal através de links ou hiperlinks. Eles
podem ou não ser acessados pelo leitor, que o selecionará de acordo com suas necessidades e
conhecimentos pessoais.
Ilocucinárias: mesmo que “ilocutório, a saber, aquele 'que realiza a ação denominada pelo
respectivo verbo: promessa, juramento, ordem, pedido, batismo etc. (diz-se de ato lingüístico)”, de
onde derivam os termos ilocucional e ilocucionário (HOUAISS; Villar; Franco, 2001).
Interpretação consecutiva: é o tipo de interpretação em que o intérprete verte o texto que ouve
para a outra língua, após o discurso oral.
Interpretação simultânea: é o tipo de interpretação em que o intérprete verte o texto que ouve
para a outra língua ao mesmo tempo em que o discurso oral é pronunciado.
Legenda: nome dado à unidade de legendagem (legendação). Deve estar em sincronia com a fala
original do filme.
Língua: o termo opõe-se a discurso, pois está restrito a um código, um sistema supostamente
neutro. Segundo Saussure, sistema abstrato, virtual.
Locucionárias: mesmo que “locutório77, isto é, o que é “resultante da ação de se emitir um
enunciado (diz-se de ato lingüístico)77, de onde derivaram os adjetivos locucional e locucionário
(HOUAISS; Villar; Franco, 2001).
Perlocucionárias: o mesmo que 'perlocutório77, ou seja, 'que exerce um efeito sobre o ouvinte
(para amedrontar, persuadir etc.), dependendo, por isso, fundamentalmente, da situação da
enunciação (diz-se de ato lingüístico)77 (Hguaiss; Villar; Frango, 2001).
Sujeito: figura teórica desenvolvida originalmente pela teoria da enunciação proposta por
Benveniste, é central para a análise do discurso.
Texto: para a análise do discurso, é unidade de significação cujas condições de produção integram
o seu sentido.
Texto literário: texto cuja centralidade é a sensibilização ao estético.
Texto veicular: texto cuja centralidade é o referente, a informação.
Tomada (takes): é a unidade de dublagem que organiza cada trecho que será trabalhado pelo
tradutor.
Tradução: do latim traductione, significa “ato de conduzir, de levar além77.
Tradução juramentada: tradução que tem fé pública, ou seja, com valor jurídico.
Tradutor juramentado: tradutor concursado pela Junta Comercial de cada estado do País, é o
único com autorização para fazer a tradução juramentada.

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Gabarito
Capítulo 1
Atividades de Síntese
1. c
2. a
3. c
4. Resposta individual.
5. Resposta individual.

Capítulo 2
Atividades de Síntese
1. d
2. b
3. c
4. E muito difícil ocorrer total literalidade na tradução das mensagens, pois cada tradutor traz suas
interpretações subjetivas, históricas e sociais do texto. O fenômeno da polissemia na tradução
provavelmente ocasionará escolhas diferentes entre si.
5. Resposta individual que provavelmente é conseqüência da visão pessoal de cada um sobre a
linguagem e o seu funcionamento.

Capítulo 3
Atividades de Síntese
1. a
2. b
3. d
4. Resposta individual No entanto, é importante perceber que a tipologia textual pode tomar
relativamente mais fácil o trabalho do tradutor, se o texto não for literário/poético.
5. Na perspectiva da corrente contestadora, a tradução é produto da leitura do seu tradutor. O
sentido (referencial, de orientação enunciativa, ideológico) será aquele que a interpretação feita
pelo tradutor construir e poderá não ser o mesmo para todos. O tradutor não é simplesmente aquele
que espelha um sentido, mas que também o constrói.

Capítulo 4
Atividades de Síntese
1. a
2. b
3. b
4. Não há dúvidas de que a principal função do dicionário é informar sobre o significado
daquele verbete, em seus diferentes contextos. Porém, ele serve também para conhecermos a
pronúncia da palavra ou nos ajudar na busca por sinônimos, por exemplo.
5. Resposta individual. Sugerimos a análise de diferentes tipos de dicionários: monolíngües,
bilíngües, mistos, especializados etc.

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Capítulo 5
Atividades de Auto-Avaliação
1. c
2. a
3. d
4. b
5. c
6. Resposta individual. A aliteração cria um efeito, colabora para uma configuração.
7. Os provérbios e slogans geralmente são construídos em função de um ritmo, de uma rima. Se o
tradutor conseguir fazer o mesmo jogo de linguagem, conseguirá, então, uma boa tradução.

Capítulo 6
Atividades de Síntese
1. a
2. d
3. b
4. a
5. E importante que sejam levantadas aqui as diferentes características dos textos escritos e dos
textos orais e que sejam feitos paralelos entre os dois, analisando-os dentro do processo tradutório.
6. Resposta individual.

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Atividades Avaliativas
1- Apesar das traduções estarem presentes em nossa vida, nem sempre nos damos conta delas ou
analisamos um texto traduzido. Este é o momento! Escolha um texto clássico da língua estrangeira
com que trabalha ou conhece e compare o texto original com o texto traduzido ou com várias
traduções. Como foi feita a tradução: palavra-por-palavra ou pelo sentido? Que elemento foi
privilegiado por ele: a forma ou o sentido? Você concorda com as escolhas feitas? De que maneira
elas aparecem na tradução?

2- Procure, nos livros traduzidos que você possui, a identificação do tradutor. Reflita sobre se você
já havia anteriormente observado quem era o tradutor, se você o (re) conhece, se para você é
importante identificá-lo quando vai ler o livro. Pondere, então, como é vista a figura do tradutor no
contexto brasileiro.

3- Identifique as principais partes de um dicionário e as seções que compõem um verbete. Você


conhece todas elas?

4- Procure alguma poesia (em língua materna ou na língua estrangeira de sua preferência) e tente
identificar o jogo sonoro que é nela produzido pelo poeta. Tente traduzir um pequeno poema.
Anote em qual nível a sua tradução se tornou mais difícil: lexical, semântico, morfossintático ou
fonético.

5- São vários os fatores que diferem os textos escritos dos textos orais. Essas diferenças são
refletidas também nos trabalhos de tradução e ficam ainda mais evidentes quando comparamos as
escolhas linguísticas dentro da legendação e da dublagem. Que diferenças seriam essas?

6- De que maneira a Linguística Aplicada, relacionada à tradução, pode ajudar a melhorar a


qualidade do ensino de línguas nas escolas?

"A língua, por assim dizer, é o espaço social das ideias."


(Tarde)
Bons estudos!

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