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Metodologia de

Ensino de Língua
Portuguesa
Material Teórico
Processo Avaliativo e o Ensino e a Aprendizagem de Língua Portuguesa

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Karin Claudia Nin Brauer

Revisão Técnica:
Profa. Dra. Silvia Augusta de Barros Albert

Revisão Textual:
Profa. Dra. Silvia Augusta de Barros Albert
Processo Avaliativo e o Ensino e a
Aprendizagem de Língua Portuguesa

• Avaliação

• Tipos e Funções do Processo Avaliativo

· Nesta unidade, estudaremos o processo avaliativo e o


ensino e a aprendizagem de língua portuguesa. Reforçamos
a necessidade da interação para desenvolvermos diferentes
conhecimentos. Todas as etapas desta unidade buscam atingir
a aprendizagem de maneira colaborativa.

Para um bom desenvolvimento na disciplina, é necessário ler todo o material com muita atenção
e fazer as atividades propostas. E faça as atividades nos prazos estabelecidos no cronograma.

Não deixe de assistir à videoaula e à apresentação narrada. Elas contribuem para a


sistematização do conhecimento. Não deixe de assistir à videoaula, pois ela contribui para a
sistematização do conhecimento.

E lembre-se de esclarecer as dúvidas sempre que necessário. Para isso, entre em contato
com o (a) tutor (a), fazendo uso da ferramenta Mensagens ou do Fórum de Dúvidas. Afinal,
esclarecer as dúvidas auxilia na compreensão e construção do conhecimento.

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Unidade: Processo Avaliativo e o Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

Contextualização

Nosso tema nessa unidade envolve a avaliação. Tema polêmico que sugere muitas
perguntas, como:
- O que avaliamos nas atividades dos alunos é realmente pertinente?
- Aquilo que avaliamos tem realmente sentido para os alunos?
- O que devemos levar em consideração para avaliar um aluno?

Pra refletir sobre essas questões, vamos assistir a um vídeo do professor Cipriano Luckesi,
para Editora SM. Para isso, acesse o link:
• https://youtu.be/JqSRs9Hqgtc
Na prática cotidiana da sala de aula, a avaliação é um grande desafio para os educadores.
“Este é um convite não só ao estudo do tema, como também à transformação de nossas
condutas, no sentido de aprendermos a nos servir da avaliação como uma aliada na busca da
qualidade e eficiência em nossas atividades educativas escolares.”

Bom estudo a todos!

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Avaliação
A avaliação é um assunto muito discutido pelos professores e

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alunos, tanto na modalidade presencial quanto na modalidade
a distância, por instituir-se como um desafio no processo de
ensino e de aprendizagem. No momento em que avaliamos,
estamos analisando características subjetivas dos estudantes, e
também as questões objetivas relacionadas ao meio educacional
e à prática docente como, por exemplo: a metodologia, os
recursos, o material didático, entre tantos aspectos. Sem deixar
de lado, a influência dos fatores psicológicos e sociais presentes
nas relações de ensino e de aprendizagem.

Para Pensar
O que é avaliação?
A avaliação é um processo natural que ocorre para que o professor esteja ciente dos conteúdos
compreendidos pelos estudantes e ainda para que o professor perceba se as metodologias de ensino
empregadas por ele estão tendo o resultado esperado na aprendizagem dos alunos.

Conforme SANT’ANNA, 1997, p. 31, “Avaliação é um processo pelo qual se


procura identificar, aferir, investigar e analisar as modificações do comportamento
e atendimento do aluno, do educador, do sistema, confirmando se a construção
do conhecimento se processou, seja este teórico (mental) ou prático.”

Desta maneira, para conseguir o resultado almejado é preciso empregar diferentes formas de
avaliar, pois a avaliação não deve ser apenas um momento de fazer as provas e os testes. E sim,
um processo contínuo e que acontece todos os dias, objetivando a orientação e a compreensão
de erros e encaminhando o aluno para o desenvolvimento das metas previstas. Dessa forma, o
modo avaliativo tem a função de ser um componente de integração e de motivação no processo
de ensino e de aprendizagem.
A avaliação é um processo complexo que não deve se resumir ao produto das provas, mas
deve considerar também os resultados dos trabalhos, das atividades realizadas no do dia a dia
dos estudantes. A avaliação deve ser considerada, sobretudo, uma atividade didática no trabalho
do docente e precisa acompanhar todas as etapas do processo de ensino e de aprendizagem.
Por meio da avaliação é possível ter um diagnóstico do trabalho do professor em colaboração
com os alunos, ou seja, um trabalho conjunto. Um dos objetivos da avaliação é observar o
desenvolvimento dos estudantes, verificar suas dificuldades e orientar o trabalho para sanear as
dúvidas e assim, levá-los a tomar decisões e construir conhecimentos.

Luckesi (1996, p. 33), conceitua avaliação como “um julgamento de valor sobre
manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão”.

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Unidade: Processo Avaliativo e o Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

De acordo com Luckesi, a avaliação diz respeito a um juízo valorativo que demonstra a
qualidade do objeto, levando, consequentemente, a um posicionamento efetivo a respeito
do mesmo. Ela insere-se não só nas funções didáticas, mas também na estrutura do processo
de ensino e de aprendizagem.

É muito importante ressaltar que a avaliação é uma etapa integrante do processo de ensino
e de aprendizagem. E ela requer preparo e capacidade de observação dos profissionais
envolvidos. Conforme Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem é um processo mediador
na construção do currículo e está ligada à gestão da aprendizagem dos estudantes.

Sendo assim, no processo avaliativo da aprendizagem, o docente não deve permitir


a supervalorização dos resultados das provas, normalmente de caráter classificatório, e sim
incentivar as observações diárias, de caráter diagnóstico.

O professor, que desenvolve seu trabalho em uma dinâmica interativa, tem conhecimento
da participação e do progresso de seus alunos. É necessário evidenciar que a prova é apenas
uma formalidade do sistema escolar. Devido à avaliação formal normalmente ser obrigatória,
precisa-se ter muita atenção e cautela na sua elaboração e aplicação.

Ideias-chave
É preciso entender que avaliar não se refere apenas a desenvolver provas e atribuir notas, avaliar é
um processo pedagógico contínuo, que acontece no dia a dia, objetivando a correção de erros e a
construção de conhecimentos.

Se pensarmos em um passado não muito distante, avaliar remetia somente a fazer provas,
atribuir uma nota e considerar os estudantes aprovados ou reprovados. Atualmente, ainda há
alguns professores que pensam que a avaliação se resume a esse processo. Entretanto, essa
visão aos poucos está sendo modificada, está se buscando novas alternativas para avaliar.

E estamos encontrando diversas maneiras de avaliar como, por exemplo, desenvolver trabalhos
e pesquisas, os quais possibilitam ao professor avaliar o desenvolvimento dos estudantes evitando
somente a tradicional prova escrita. As diferentes formas avaliativas apresentam em comum o
fato de permitirem ao professor e ao aluno dialogarem, trocarem ideias para encontrarem a
solução e a compreensão de dúvidas, construindo de forma colaborativa o conhecimento e o
processo de ensino e de aprendizagem;

Vamos nos aprofundar um pouco no conteúdo desta aula? Vocês já ouviram falar em tipos
de avaliação? Vamos conhecê-los?

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Tipos e Funções do Processo Avaliativo

Avaliação Diagnóstica ou Inicial

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A avaliação diagnóstica pretende identificar e avaliar
o conhecimento do estudante, tanto em relação a seus
conhecimentos prévios (que são utilizados como base para seu
aprendizado) quanto em relação a novas aprendizagens que
lhe são ensinadas. Além disso, a avaliação diagnóstica pode ser
utilizada também no sentido de prever as dificuldades futuras
e, em alguns casos, de solucionar situações do momento.

Conforme Sant’Ana (1997, p. 33) em relação a avaliação diganóstica “busca


detectar pré-requisitos para novas experiências de aprendizagem. Permite a
averiguar as causas de repetidas dificuldades de aprendizagem.”

Para Miras e Solé (1996), a avaliação diagnóstica é aquela que possibilita ter informações a
respeito das aptidões do estudante antes de começar o processo de ensino e de aprendizagem.
De acordo com Bloom, Hastings e Madaus (1975), a avaliação diagnóstica procura a ausência
e a presença de habilidades, assim como a verificação das causas de frequentes dificuldades ou
problemas na aprendizagem.
Assim, podemos perceber que a avaliação diagnóstica tem por objetivo identificar, entre
outras informações, se um determinado tipo de estudo, como por exemplo, a modalidade a
distância, é apropriado ao perfil do aluno e ainda identifica as qualidade de aprendizagem do
aluno. O levantamento de dados do estudante pode ser feito por meio de questionários. No
planejamento das aulas, o professor considerará o estilo de seu estudante.
Há também outras formas de avaliar a aprendizagem. Vamos conhecê-las!

Avaliação Formativa
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A avaliação formativa é empregada para que o professor


identifique se o aluno alcançou as competências esperadas,
por meio da análise das atividades propostas, seguindo
critérios instituídos no plano de aula que precisa estar de
acordo com os objetivos pedagógicos a serem alcançados
(exemplos: pontualidade, colaboração). Esse tipo de avaliação
objetiva verificar se as estratégias e os recursos empregados
para ensinar estão sendo positivos, ou seja, se os alunos estão aprendendo.Se o resultado for
afirmativo, o estudante é direcionado a seguir para uma nova etapa e em caso negativo, usam-se
outras estratégias, oportunizando ao aluno tirar as dúvidas e construir seu aprendizado.

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Unidade: Processo Avaliativo e o Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

Segundo Perrenoud (1999) esta prática de avaliação pode ser compreendida como uma prática
contínua que visa ao desenvolvimento das aprendizagens, auxiliando no acompanhamento e
na orientação dos estudantes ao longo de todo o seu processo de formação. É formativa toda a
avaliação que ajuda o estudante a aprender e a se desenvolver.
Haydt (1995, p. 17), sobre a avaliação formativa afirma:
que também é função desta avaliação constatar se os alunos estão, de fato,
atingindo os objetivos pretendidos, verificando a compatibilidade entre tais
objetivos e os resultados efetivamente alcançados durante o desenvolvimento
das atividades propostas.

A avaliação formativa permite ao professor identificar carências em seu modo de ensinar,


permitindo reorganizações no seu trabalho didático, levando-o a aperfeiçoar a sua prática
docente. Por meio desse tipo de avaliação, também é possível perceber o desenvolvimento do
aluno durante o processo de ensino e de aprendizagem, no sentido de observar dificuldades e
de possibilitar soluções.
De acordo com Bloom, Hastings e Madaus (1975), a avaliação formativa tem por objetivo
informar o professor e o aluno sobre o desenvolvimento e o rendimento da aprendizagem ao
longo das atividades escolares e a identificar as deficiências, levando a uma reformulação das
práticas e das metodologias, para permitir a correção e recuperação durante o processo de
ensino e de aprendizagem.

Ideias-chave
A avaliação formativa se resume a representar uma maneira por meio da qual o aluno pode reconhecer
seus próprios erros e acertos, tendo assim, uma motivação para um estudo sistemático dos conteúdos.

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Avaliação Somativa
É a avaliação que se aplica ao fim de cada período
do aprendizado, e visa a quantificar o conhecimento
desenvolvido pelo educando. Tem uma função
classificatória, porque lida com a classificação do
estudante segundo os níveis de aplicação no fim de
uma disciplina, de um semestre, de um curso.
A avaliação somativa se fundamenta nos conteúdos e procedimentos de medida, como
provas e dissertações-argumentativas. Vale lembrar que a avaliação diagnóstica e a avaliação
formativa podem contribuir para a avaliação somativa.

Para Sant’Anna (1997, p. 35) a função da avaliação somativa “é classificar


os alunos ao final da unidade semestre ou ano letivo, segundo níveis de
aproveitamento apresentados.”

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A avaliação somativa é também conhecida como função creditativa. Ela pretende medir
resultados levantados por avaliações do tipo formativa e conseguir indicadores que possibilitem
aprimorar o processo de ensino e de aprendizagem. Essa avaliação diz respeito a uma etapa final,
a uma visão de um todo sobre o qual, até o momento, só tinham sido analisadas algumas etapas.

Conforme Miras e Solé (1996, p. 378) a avaliação somativa “determina o


grau de domínio do aluno em uma área de aprendizagem, o que permite
outorgar uma qualificação que, por sua vez, pode ser utilizada como um sinal
de credibilidade da aprendizagem realizada.”

Agora que conhecemos os vários tipos de avaliação, é importante refletirmos sobre o processo
de avaliação como um todo.
Nos últimos anos, a avaliação com fundamentação somente nas características quantitativas
e de aspecto somatório tem sido o motivo de críticas, devido à impossibilidade de mostrar a
aprendizagem dos alunos.
No entanto, é interessante observar que a avaliação formativa, que objetiva o acompanhamento
contínuo dos estudantes, o desenvolvimento das suas conquistas de forma qualitativa também
tem sido muito criticada. A razão é que, para muitos, o acompanhamento cotidiano não é
suficiente para qualificar e quantificar a aprendizagem do aluno, levando-se em consideração,
inclusive, as inúmeras demandas do professor e a quantidade de alunos. Como propor, nesse
contexto, uma avaliação diária?

Para Pensar
Deste modo, Frente ao contexto real da sala de aula, como podemos pensar a avaliação? Essa é uma
reflexão que deve ser feita por todo professor e educador.

Em uma avaliação é relevante considerarmos alguns pontos como:


- estratégias que permitam a criação de desenvolvimento cognitivo;
- atividades problematizadoras que permitam ao aluno enfrentar etapas de reconstrução de
seu conhecimento;
- atividades que promovam a interação entre o conhecimento prévio e o novo conhecimento.

Dar ênfase ao desenvolvimento de estratégias de avaliação, desde a fase do planejamento,


sugere o acompanhamento do todo, desde o processo de desenvolvimento do conhecimento
inicial pelo aluno até seu produto final.
A valorização do todo permite a inclusão de avaliações parciais que possibilitam a adaptação
do sistema proposto aos problemas e dificuldades de aprendizagem dos estudantes, identificados
pelo professor ou pelos próprios estudantes.

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Unidade: Processo Avaliativo e o Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

A concepção da valorização do todo possibilita a existência de práticas avaliativas durante


todo o processo de ensino e de aprendizagem, possibilitando tanto fazer as reelaborações ne-
cessárias ao sistema de ensino utilizado quanto operar com ferramentas de intervenção didática,
ultrapassando, assim, a ideia de mera classificação de resultados.
Luckesi (1996) evidencia que a avaliação com objetivo classificatório não ajuda no avanço
e no desenvolvimento do aluno e do professor, pois ocorre em um instrumento estático de
todo o processo educativo. De acordo com o autor, a avaliação com função diagnóstica,
diferente da classificatória, desenvolve-se em um momento dialético do processo de avançar no
desenvolvimento da ação e no aumento da autonomia.
Essa problemática em relação à avaliação acontece em todos os níveis da educação desde
o infantil, passando pelos ensinos fundamental, médio e superior. E a reivindicação de um
processo formal de avaliação aparece também por pressões das famílias. Não podemos esquecer
que os resultados de provas e as médias por períodos determinados (bimestres/trimestres), são
muitas vezes a única forma utilizada de comunicação com as famílias sobre o processo de
aprendizagem de seus filhos.

Para Pensar
E como fica a questão do processo avaliativo com o ensino e de aprendizagem da Língua Portuguesa?

Vale lembrar que o tipo de avaliação a ser utilizado no processo de ensino e de aprendiza-
gem da Língua Portuguesa está diretamente ligado aos objetivos e ao conteúdo que o professor
determina para seu curso. Vimos, em unidades anteriores que, até hoje, o ensino da gramática
tradicional que visa o estabelecimento de certo e errado é o mais comum nas escolas. Sendo
assim, vemos também que a avaliação somativa é a mais empregada, e está de acordo com essa
concepção de ensino e de aprendizagem da língua materna.
No entanto, se pensarmos na ênfase que deve ser dada ao ensino e à aprendizagem da
leitura e da escrita, veremos a necessidade de mesclar os vários tipos de avaliação (diagnóstica,
formativa e somativa) para que possamos alcançar resultados satisfatórios ao desenvolvimento
dos alunos. Atualmente, temos claro que o processo de construção do conhecimento pelo aluno
ainda não se reflete na avaliação, se pensarmos apenas na avaliação somativa.
No momento em que se considera apenas o registro de nota, o resultado tido pelo aluno,
fragmenta-se o processo de avaliação e perde-se assim o sentido real do processo e da dinâmica
da aprendizagem, que é a construção do conhecimento, de forma colaborativa, entre professores
e alunos. Trazemos a seguir, algumas considerações de ALBERT(2007, p.13 a16), em que se
apresentam algumas reflexões importantes sobre a avaliação no ensino de língua portuguesa,
notadamente em relação à produção escrita:
“No Brasil, mesmo enfrentando resistências, impuseram-se mudanças nas práticas de
avaliação devido às aplicações de novas concepções e práticas de ensino propostas inclusive
pelos PCN. O texto dos PCN informa:

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A avaliação subsidia o professor com elementos para uma reflexão contínua
sobre sua prática, sobre a criação de novos instrumentos de trabalho e a
retomada de aspectos que devem ser revistos1.

Outrossim, os frequentes baixos resultados nos exames do SAEB, do SARESP e do ENEM,


principalmente em leitura e escrita, conduziram a reflexões que resultaram em algumas mudanças
nas práticas avaliativas.
Assim, difundiu-se nos meios escolares, ao menos teoricamente, a avaliação formativa, mais
voltada para a regulação de aprendizagens do que para a certificação de resultados. Assumir
esse novo conceito de avaliação como basilar da prática do professor reflete uma pedagogia
atenta às diferenças, e não só à equidade. Entretanto, esse é um conceito amplo e nem sempre é
entendido sob um mesmo viés, sofrendo variações de acordo com o contexto em que é aplicado
ou desenvolvido.
A ideia de uma avaliação reguladora de aprendizagem e não certificativa surgiu, primeiramente,
segundo Condemarín & Medina (2005), no final da década de 1960, em oposição à avaliação
somativa. Porém, só foi retomada com intensidade por Perrenoud (1999, p. 148), na década de
1990, que assim a define: “uma avaliação só é formativa se desemboca em uma forma ou outra
de regulação da ação pedagógica ou das aprendizagens”.
Segundo esse último autor, a avaliação formativa fornece informações para o professor que
subsidiam a sua intervenção com o objetivo de regular a aprendizagem dos alunos. Depreende-
se daí que regulação e intervenção são objetivos fundamentais para a avaliação formativa, que
não se restringe a medir, certificar ou sancionar.
Condemarín & Medina (2005) partem dessa concepção para propor mudanças, no início
do século XXI. Para elas, a melhora na qualidade da educação depende da revisão e da
reformulação das práticas avaliativas tradicionais. A esse respeito, sustentam:
Esta necessidade de mudança é válida principalmente na área de linguagem
oral e escrita, na qual os progressos dos últimos 30 anos em sua teoria, pesquisa
e prática não se refletiram, em sua maioria, em avanços nos procedimentos
utilizados para avaliar as competências dos alunos. (CONDEMARÍN &
MEDINA , 2005, p. V).

As autoras defendem, assim, uma avaliação que denominam “ avaliação autêntica”, cuja
prioridade é melhorar o processo de ensino-aprendizagem que ocorre na interação de um
professor com seus alunos. (Condemarín & Medina, 2005, p. VII). Esse tipo de avaliação não
tem o objetivo de certificar; sua finalidade é informar e orientar pais e alunos.
Estamos diante de uma proposta de avaliação reguladora e interventora do processo de
aprendizagem que intenta compreendê-lo, melhorá-lo e retroalimentá-lo. Condemarín & Medina
(2005, p. VII) sustentam, ainda, que é preciso ver o ensino como um processo contínuo, em
espiral, de ação- observação - reflexão- nova ação.
Esses postulados vêm ao encontro de muitas inquietações diante do problema da avaliação,
principalmente quando preconizam a urgência de se alterar a forma de avaliar para se transformar
o conhecido quadro de insucessos do ensino e da aprendizagem de língua materna, sobretudo,
atualmente no Brasil, no que se refere ao desempenho dos alunos em leitura e escrita.
1 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa: 5a a 8a
série do Ensino Fundamental. Brasília, DF, v. 2.

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Unidade: Processo Avaliativo e o Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

Na proposta de avaliação autêntica defendida por Condemarín & Medina (2005), vale
ressaltar a ideia de interação ligada à avaliação, que vem somar-se à de regulação e intervenção
já destacada em Perrenoud (1999). Não se trata apenas de palavras, mas de uma mudança
de conduta, de uma nova postura educativa e de reais princípios norteadores: enquanto
na avaliação tradicional lidamos com dados e julgamentos (certificar, somar, sancionar), na
formativa, partimos para a ação (regular, intervir, interagir). Na primeira, há uma única pessoa
responsável - alguém que seleciona, adiciona e dá veredictos -, na segunda, há uma parceria,
uma interlocução prevista e necessária entre professor e alunos, pois, para regular e intervir, é
preciso interagir.
A dinâmica de compartilhar e dividir responsabilidades com os alunos também nessa etapa do
aprendizado é, a nosso ver, muito pouco vivenciada na sala de aula real, embora seja considerada
fator essencial para o ensino e a aprendizagem da escrita. A esse respeito, Condemarín & Medina
(2005) observam que compartilhar o processo de avaliação entre professores e alunos conduz o
aluno à melhor compreensão de suas competências e necessidades e o encoraja a assumir uma
atitude ativa frente a sua aprendizagem, responsabilizando-se por ela.
Aqui, retomamos Perrenoud (2002, p. 53), que caracteriza a avaliação formativa como
um componente de uma pedagogia diferenciada. O educador confere, pois, a esse tipo de
avaliação um caráter criativo, desvinculado de padronizações. Para ele, cada professor ou
equipe pedagógica pode exercer a avaliação formativa à sua maneira, procurando adaptá-la à
sua realidade e proposta específica, com a devida preocupação de não reinventar a roda nem
de se submeter a modelos criados por especialistas.”
A partir dessa orientação, percebemos que uma descrição da avaliação e da aprendizagem
nas escolas seria ideal para mostrar todos os acontecimentos em sala de aula. A descrição
poderia ser uma fonte de dados da realidade.
A necessidade de analisar a aprendizagem ajudaria o professor e os alunos a observarem o
que acontece ao longo do processo: no momento em que professor e os alunos têm espaço para
mostrar os acontecimentos como eles realmente ocorrem, a avaliação seria verdadeira, inclusive
discutida em conjunto.
Entretanto,o que se vê em muitas instituições, são pré-julgamentos que acabam sendo
obstáculos para as reais observações, não possibilitando as descrições na sua essência.
Um problema muito sério é que essa presunção não possibilita o aperfeiçoamento do processo
de ensino e de aprendizagem. A compreensão da avaliação, como sendo uma forma de trazer
vantagens para a aprendizagem do aluno, vem mostrando defasagem há muito tempo. Portanto,
é de extrema importância uma mudança da avaliação de resultados para uma avaliação de
processo, indicando a possibilidade de realizar-se na prática pela descrição e não pela prescrição
da aprendizagem, principalmente no que tange ao ensino a aprendizagem da leitura e da escrita.
Por último, vale lembrar que a escolha do modo de avaliar está diretamente ligado à concepção
de ensino e de aprendizagem. A seguir, apresentamos algumas abordagens educacionais que o
professor de língua portuguesa deve conhecer para poder fundamentar sua prática e escolher o
modelo de avaliação que considerar mais apropriado:

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Inatismo

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A ideia principal do inatismo é a de que o indivíduo traz consigo, desde o nascimento, as
estruturas cognitivas inatas. O processo de aprender se daria “de dentro para fora”, ou seja, nas
situações cotidianas ou escolares, o sujeito apresentaria os conhecimentos que já traz consigo
e desenvolveria novos conhecimentos a partir deles. Os principais representantes desse tipo de
abordagem são:
• - Noam Chomsky;
• - Jerry Fodor.

Behaviorista ou Tradicionalista
O ensino está centrado no professor. O aluno apenas executa, copia prescrições que lhe são
passadas pelo professor. A metodologia mais utilizada é a aula expositiva. O conhecimento
nesta abordagem é visto como acumulativo. São apresentados apenas os resultados aos alunos
para que eles os memorizem e acumulem.
Assim, a educação é tida como uma transmissão de conhecimentos. A escola deve
deixar claro que professor e aluno devem manter distanciamento. O Processo de ensino
e de aprendizagem envolve apenas situações de sala de aula, na qual os alunos serão
instruídos e ensinados pelo professor. O professor decide tudo. A avaliação tem por objetivo
a reprodução do conteúdo dado em sala de aula, com exatidão, e se restringe às notas
tiradas pelos alunos, por meio de provas, geralmente.
Deste modo, o indivíduo é como uma “tábula rasa” e o processo de aprender ocorre “de fora
para dentro”, ou seja, através de reforços do ambiente o sujeito aprende e se desenvolve. Os
principais teóricos são:
• John Watson
• Skinner

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Unidade: Processo Avaliativo e o Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

Comportamentalista
O conhecimento é algo inovador, descoberto pelo aluno. No entanto, este conhecimento
novo para o aluno já existia no mundo exterior. Por isso, o conhecimento é o resultado direto
da experiência.
A educação está ligada à transmissão cultural. A escola é um ambiente que deverá ter o controle
conforme os comportamentos que pretende instalar. O Processo de ensino e de aprendizagem é
uma modificação permanente e tem uma tendência comportamental, resultantes de um método
ou prática reforçados.
Aos educandos cabe o controle do processo de aprendizagem e ao professor preparar o
sistema de ensino com o objetivo de aumentar o desempenho do aluno. As metodologias
utilizadas são a tecnologia educacional e as estratégias de ensino. A Metodologia consiste em
analisar se o aluno aprendeu e alcançou os objetivos previstos, pois esta abordagem acredita
que o aluno obtem progresso próprio.

Humanista
Nesta concepção, enfatiza-se a função do estudante como criador do conhecimento. Centra-se
no desenvolvimento da personalidade do aluno e na aptidão de agir como uma pessoa integrada.
O professor não transmite informações, somente desenvolve condições para que o estudante
aprenda. A educação está centrada no aluno. A educação busca desenvolver condições nas
quais o estudante torne-se uma pessoa com iniciativa, responsabilidade e autodeterminação.
A escola, neste caso, respeita o aluno em sua essência (como ele realmente é) e também cria
situações para que este se desenvolva e tenha autonomia. O ensino está ligado diretamente ao
caráter do professor. Ele tem o papel de facilitador da aprendizagem. Dessa perspectiva, não
podemos falar em uma única metodologia, e sim, que cada professor deve criar a sua maneira
de facilitar a aprendizagem. Na avaliação, o aluno deve desenvolver suas próprias formas de
controle de aprendizagem. Em resumo:
Essa abordagem defende a relevância da vida do ser humano e da natureza para que ocorra
efetivo aprendizado e desenvolvimento. Assim, a aprendizagem escolar deve voltar-se para o
interesse do aluno. Os principais teóricos são:
• Abraham Maslow
• Carl Rogers

Construtivista/Cognitivista
A característica dessa abordagem é a organização do conhecimento, que está ligado à tomada
de decisões. O conhecimento, dessa perspectiva, é produto da interação entre o sujeito e o
objeto, ou seja, consiste em uma construção contínua. A educação tem uma função relevante
ao desencadear situações que venham a ser desequilibradoras para o estudante.
A escola, de acordo com essa concepção, deve ensinar a criança a, observar. No processo de
ensino e de aprendizagem, busca-se priorizar as atividades do sujeito, incluindo-o na situação
social. O professor desenvolve situações nas quais se estabeleçam colaboração tanto moral

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como racional. Na metodologia, a atuação do sujeito é o centro do processo e o índice social
ou educativo, formando assim, uma condição de desenvolvimento. A avaliação do rendimento
será feita conforme a aproximação do aluno a uma regra qualitativa pretendida.
Assim, a ideia central do construtivismo é a de que o indivíduo tem algumas estruturas
cognitivas inatas, entretanto, elas só se desenvolvem na atuação do indivíduo sobre o objeto de
conhecimento. O processo de aprender ocorre, nas situações do dia a dia ou escolares, a partir
da construção de conhecimentos. O principal teórico é:
• Jean Piaget.

Sócio-Histórica
A ideia central desta teoria é a de que o indivíduo aprende na interação com o ambiente e
com os outros. O processo de aprender se dá pela mediação feita por um sujeito mais apto
ou pelo uso de um instrumento. Dessa perspectiva, o desenvolvimento cognitivo do aluno se
dá por meio da interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o
meio, pois essa interação possibilita a geração de novas experiências e a construção de novos
conhecimentos.
O professor deve, portanto, favorecer que o aluno construa seu conhecimento em grupo,
com participação ativa e a cooperação de todos os envolvidos.
Sua orientação deve possibilitar a criação de ambientes de participação, colaboração e
constantes desafios. O principal teórico é:
• Vygotsky.

Sóciocultural
Essa concepção fundamenta-se em Paulo Freire, destacando aspectos sócio-político-culturais,
tendo grande preocupação com a cultura popular. A construção e o desenvolvimento do
conhecimento estão ligados ao processo de conscientização. A educação dá ênfase à reflexão
sobre o ser humano e sua vivência, considerando o contexto em que está inserido.
A escola deve ser um lugar que oportunize crescimento mútuo, tanto ao professor como ao
aluno. Na questão o processo de ensino e de aprendizagem, procura-se ter uma relação na
qual professor e aluno aprendam juntos, construam conhecimento, reflitam sobre sua própria
experiência. A metodologia consiste em reflexão sobre sua experiência existencial.

Em Síntese
Para finalizar, pudemos perceber, nessa unidade, que para o processo de ensino e de aprendizagem
da Língua Portuguesa é necessário ter em mente que o sucesso do processo educativo depende
da organização da disciplina, do curso, e também da concepção pedagógica adotada. Por isso,
precisamos ter consciência de que a escolha do tipo de avaliação a ser adotada depende também
dessas dimensões que fazem parte do contexto escolar. Mas é muito importante que, seja qual for a
escolha, o professor deve estar ciente e consciente de seus objetivos e dos limites e possibilidades que
oferece o contexto em que atua.

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Unidade: Processo Avaliativo e o Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

Material Complementar

Para refletir um pouco mais sobre os processos de avaliação e de ensino e de aprendizagem,


assista à entrevista do Professor José Francisco Soares, no Canal Futura, acessando o link:
https://youtu.be/y0I6okAwuk0
Nessa entrevista, José Francisco Soares, educador da UFMG e membro do Conselho
Nacional de Educação, vai analisar os modelos de avaliação no Brasil voltados para os alunos
matriculados na educação básica. Esses resultados são, efetivamente, revertidos em políticas
eficientes em prol da melhoria do ensino? Ele vai comentar, ainda, a importância da aplicação
de avaliações ao final do processo de alfabetização.

Vale lembrar sempre da importância de desenvolver seus estudos a partir das recomendações
do material complementar. Sua atitude proativa para os estudos possibilita uma boa aprendizagem
e sistematização dos conhecimentos construídos!

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Referências

ALBERT, S.A.B. Interação pela Linguagem na Avaliação de Produções escritas: Ordem


ou diálogo? . Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa). Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. São Paulo: 2007.

BLOOM, B.S., HASTINGS, J.T., MADAUS, G.F. Evaluación del aprendizaje. Buenos Aires:
Troquel, 1975.

CONDEMARÍN,M. e MEDINA,A. Avaliação Autêntica. São Paulo: Artmed Editora, 2005.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido . 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

HAYDT, R. C. Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem. São Paulo: Ática, 1995.

LUCKESI, C. C. Planejamento e Avaliação na Escola: articulação e necessária


determinação ideológica. Idéias.(1996) Via World Wide: http//www.crmaiocovass.sp.gov.Br/
pdf/idéias_15_p115-25_c.pdf. Acessado em: 01/01/2014.

PERRNOUD, P. Avaliação: Da excelência à regulação das aprendizagens. Entre duas


lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

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Sobre a teoria de Aprenndizage de Vigotsky, acesse: http://www.infoescola.com/pedagogia/


teoria-de-aprendizagem-de-vygotsky/ (último acesso em 30/06/2017)

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Unidade: Processo Avaliativo e o Ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa

Anotações

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