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Alunos:

Vânia Christina Macieira Couto de Miranda Matrícula:2009020224


Juliene Lemos Saback Matrícula: 2009010049
Marcondes Moreira da Silveira Matrícula:2009010235
Disciplina: Linguística I TCD
Professor (a) Tutor (a) : Jonê Carla
Campus/ Pólo: Centro Data: 06/11/2010 Nota:

RESENHA CRÍTICA

MARCELO MARMELO MARTELO


Ruth Rocha

Inicialmente, acredito ser importante destacar a diferença entre língua e linguagem.


Uma língua é um conjunto de frases, cada uma delas formada por uma série de
palavras. Língua é o que usamos quando falamos, é o que vemos escrito em jornais,
livros e revistas. Já a linguagem é algo maior que a língua, é o que permite que a língua
exista. O falante de uma língua utiliza esta estrutura complexa com facilidade e sem
conhecimento consciente do processo; que lhe parece simples e natural. Podemos dizer
que esta estrutura tem um mecanismo que permite a formação e a interpretação de
frases. E desta forma entramos na Linguística. É tarefa da linguística explicitar o
funcionamento desse mecanismo.

Não é qualquer sequência de palavras que constitui uma frase da língua portuguesa ou
de qualquer língua, porque as línguas são organizadas naturalmente segundo
determinadas regras e essas regras ou princípios são os objetos de estudo dos linguístas.

E para abordamos a linguística, vamos analisar um dos clássicos da literatura infantil da


escritora Ruth Rocha: Marcelo, Marmelo, Martelo que já encantou algumas gerações de
crianças e parece que foi escrita justamente para enriquecer as questões da linguística.
Em suma, Marcelo é um menino muito esperto e curioso, que não se conforma com os
nomes dos objetos como realmente são e resolve inventar novas palavras em seu
vocabulário. Como muitas crianças de sua faixa etária, Marcelo, o protagonista, é um
perguntador incansável. Aos poucos, de pergunta em pergunta, ele chega naquela
constatação espantosa que motivou Saussure: a falta de um vínculo lógico entre o nome
e a coisa – o que o pai da Linguística chamou de arbitrariedade do signo linguístico:

— Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo?


— Ora, Marcelo foi o nome que eu e seu pai escolhemos.
— E por que é que não escolheram martelo?
— Ah, meu filho, martelo não é nome de gente! É nome de ferramenta...
— Por que é que não escolheram marmelo?
— Porque marmelo é nome de fruta, menino!
— E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?
( Marcelo, marmelo, martelo, 1999, p. 09)

Marcelo busca instaurar um laço mais autêntico com a linguagem do que o faz a maioria
das pessoas. A princípio, podemos compreender que ele tem a lógica que obriga o
significante e significado a se entrelaçarem de forma motivada.

Chamando o leite de suco de vaca é apenas produzir uma metáfora, o significante suco
continua a se ligar arbitrariamente ao alimento que designa. Parece, portanto, mais
plausível supor que Marcelo busca não uma ligação lógica entre significante e
significado, mas uma ligação poética. A língua que sonha o protagonista é aquela capaz
de desencaixar as convenções, fazer com que voltemos a prestar atenção às palavras
como realmente são.

A língua é, sem dúvida, uma das convenções sociais mais severas. Apesar do
significante ser livremente escolhido com relação ao significado que representa numa
certa comunidade linguística, uma vez escolhido, este significante é imposto à massa
falante e, então, torna-se imutável.
É através da arbitrariedade do signo que toda uma comunidade é submetida à sua
língua, como Saussure.
Marcelo ainda vai além. Antes, os nomes inventados por ele tinham uma lógica prevista
no idioma como, por exemplo, cabeceiro consistia apenas numa correção lógica de
travesseiro, a mesma relação ocorreu entre sentador e cadeira. Mas ele inventa a
expressão Biriquixote xefra. Marcelo, a partir deste ponto, não quer apenas reformar a
língua, mas sim reinventá-la. E neste clássico da literatura infantil, o pai acaba muito
assustado, pois caso seu filho continuasse nesta direção, seria isolado socialmente. Mas
sabemos que Marcelo, simplesmente, quer brincar com a língua. Para a criança, a língua
é também um objeto lúdico, um brinquedo, e não apenas um instrumento de
comunicação.

Ao final deste livro, Ruth Rocha não resolve a tensão entre mundo infantil e mundo
adulto. A casa do cachorro de Marcelo pega fogo e ele, desesperado, grita: “Papai,
papai, embrasou a moradeira do Latildo!”. Os pais demoram a entender o filho e
quando entendem a casinha já virou cinzas. Esta situação nos faz acreditar que Marcelo
e todas as crianças, depois desse episódio, terão que repensar se suas invenções
lingüísticas são de fato adequadas a todas as situações.

Mas acredito que, por outro lado, os pais do Marcelo perceberam que fugir às vezes das
convenções pode ser muito divertido. Explorar a dimensão lúdica da linguagem não
significa negar seu valor pragmático.

Saussure descreveu estas mesmas dúvidas assim como o Marcelo da Ruth Rocha e
denominou estas questões como "arbitrariedade do signo". Vale ressaltar que o
arbitrário só vale para o conjunto de uma determinada comunidade lingüística. A
arbitrariedade do signo nos faz compreender melhor que o fato social pode, por si só,
criar um sistema lingüístico. A coletividade é necessária para estabelecer os valores cuja
única razão de ser está no uso e no consenso geral: o indivíduo, por si só, é incapaz de
fixar um que seja. A língua é um sistema em que todos os termos são solidários e o
valor de um resulta tão-somente da presença simultânea de outros.
A idéia (imagem acústica ou significante) de "cadeira" não tem nada em comum com a
sequência de sons que forma seu significado ( c a d e i r a ). Ou seja, "cadeira" poderia
ter o nome qualquer desde que todos ou um grande grupo de falantes da língua,
concordasse. Toda a visão estruturalista da língua apresentada por Saussure tem por
base o conceito de signo linguístico. Para ele, não se poderia pensar uma unidade
lingüística como uma associação de um termo a uma coisa. O signo linguístico une um
conceito a uma imagem acústica.

Finalizo, afirmando que apesar do significante ser livremente escolhido com relação ao
significado que representa numa certa comunidade linguística, uma vez escolhido, este
significante é imposto à massa falante e, então, torna-se imutável.

É através da arbitrariedade do signo que toda uma comunidade é submetida à sua


língua. Saussure afirma que não somente um indivíduo seria incapaz de modificar no
que quer que seja a escolha que foi feita, mas também a própria massa não pode exercer
soberania sobre uma única palavra; ela está ligada à língua tal como ela é.

Para as crianças a fala é o produto de seu modo próprio – infantil - de ver o mundo, e as
idéias e teorias para compreender e explicar o mundo são sempre originais. À medida
que crescem e vão tendo contato com os adultos, as crianças são capazes de
compreender e aceitar que um objeto pode ser ao mesmo tempo semelhante e diferente
dos outros, que as palavras têm dois ou mais significados ampliando assim a sua
competência lingüística e se adaptando à língua da comunidade em que ela está inserida.

Referências Bibliográficas

Vigotski, L. S. (2000b). Pensamento e linguagem. - 2a. ed. – São Paulo: Martins Fontes

Internet:

MARCELO MARMELO MARTELO. Disponível em:


<http://www.scribd.com/doc/5308703/Marcelo-Marmelo-Martelo-Ruth-Rocha > acessado em 16
de outubro de 2010.

DISSE, TÁ DIZIDO; PROMETEU, TÁ PROMETADO. Disponível em:


http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=423 > acessado em 18 de outubro
de 2010

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