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DE IPATINGA
1
Paloma Carlean de Figueiredo Souza
LÍNGUA PORTUGUESA E
PRODUÇÃO DE TEXTO
1ª edição
Ipatinga – MG
2021
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FACULDADE ÚNICA EDITORIAL
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização
escrita do Editor.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
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Menu de Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles
são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um
com uma função específica, mostradas a seguir:
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A LÍNGUA PORTUGUESA COMO UNIDADE
INSTRUMENTO DE INTERAÇÃO
SOCIAL
1.1 INTRODUÇÃO
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acontecerá mais tarde e, provavelmente, em um ambiente escolar- local de prestí-
gio social.
Embora a fala esteja mais presente no nosso cotidiano, uma vez que falamos
muito mais do que escrevemos, a escrita possui um lugar de destaque, pois “seu
domínio se tornou um passaporte para a civilização e para o conhecimento.”
(MARCUSCHI, 2008, p. 21). Em outras palavras, e concordando com o autor, afir-
mamos que a sociedade valoriza mais a escrita por razão desta representar certo
status, haja vista que muitos estudos sociais associam a escrita e a alfabetização à
saúde, ao progresso e à riqueza. Por outro lado, doença, regresso e pobreza estão
associados ao analfabetismo.
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1.3 REGISTRO FORMAL E REGISTRO INFORMAL
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
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Apesar de a língua apresentar variedades linguísticas, existe uma tradição
gramatical, baseada em parâmetros para a escrita ou para situações mais formais
de fala, que é denominada Norma-padrão. A norma-padrão, portanto, é um
“conjunto de regras, pautadas em autores consagrados, que impõe uma unidade à
língua escrita.” (CEREJA; VIANNA; CODENHOTO, 2016, p. 53).
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Embora haja a determinação de uma norma padrão, de convenções do uso
da língua, é importante ressaltar que ela é dinâmica e apresenta variações, segundo
elementos geográficos, históricas, sociais, entre outros. Desse modo, podemos definir
variações linguísticas ou variedades linguísticas como “os diferentes modos de falar
uma língua- relacionados à idade do falante, à sua classe social, ao espaço em que
ele se encontra e, ainda, aos objetivos e aos usos específicos que ele faz da língua,”
(CEREJA; VIANNA; CODENHOTO, 2016, p. 50).
Para Bortoni-Ricardo (2004), a variação linguística acontece em qualquer
comunidade de fala, urbana ou rural, pois de acordo com os grupos ou situações de
comunicação, apresentamos maneiras distintas de falar. Vejamos alguns casos de
variação linguística:
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Figura 1: Exemplo de variação diacrônica
Fui dar um passeio por Rondônia. Lá pelas tantas, comecei a perceber que não estava
entendendo a conversa do povo. Eu, que falo o português do centro-oeste mineiro, achei
toada na fala da região. Cheguei numa beira de porto e pus sentido na prosa em redor.
Decorei alguma coisa, que divido agora com o leitor. [...] Eis meu relato:
O regatão saltou do alvarenga onde estava morcegando e berrou:
— Açaí, cajarana, cupuaçu e pupunha! Loção contra carapanã, mucuim, mutuca e pium.
Vai levar, patrão? [...]
Procurei um taxi, mas desanimei ao ouvir o informante dizer:
— Aqui, BK é só para quem está bamburrado. Tu está?
E saiu rindo, apontando para mim e falando:
— Brabo aqui vai de catrai! [...]
Logo que pude, abri buraqueira (fugi) para não ser forçado a fazer uso de uma assistência
(ambulância) com destino a um hospício; nem para ser submetido a um bascolejo (revista
policial). Claro! Do jeito que fiquei, talvez pensassem que eu estava bordado (maluco) [...].
Logo eu, que sou tão virado (trabalhador)!
É uma faceta (epa!) da nossa língua...brasileira ou portuguesa?
Wilson Liberato, in jornal O Pergaminho, 21/10/2000
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1.4.3 Variação Linguística sociocultural
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Figura 2: Exemplo de inadequação linguística
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FIXANDO O CONTEÚDO
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele
foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição
deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está
fantasiado de palhaço. Minha avó entendia dregências verbais. Ela falava de sério. Mas
todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um
chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor.
E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou:
Disilimina esse, Cabeludinho.Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um
perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do
que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não
pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que
pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena,
não me escreve / que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir,
ampliava a solidão do vaqueiro.
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d) ausência de elementos promotores de coesão entre os eventos narrados.
e) presença de frases incompreensíveis a um leitor iniciante.
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Gerente: Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?
Cliente: Estou interessado em financiamento para compra de veículo.
Gerente: Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente?
Cliente: Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco.
Gerente: Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda
tivesse na agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma.
5. (ENEM - Adaptada)
MANDIOCA — mais um presente da Amazônia
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( ) Considerando a transposição do cartum acima, analise os excertos e marque V
para verdadeiro e F para falso:
( ) A concepção de linguagem que a professora revela em sua prática disvincula a
llingua de seu funcionamento social e histórico.
( ) No segundo quadrinho, é possível perceber exemplos de variação linguística
diatópica, ou seja, regionalismos.
( ) A abordagem da professora, ao se referir a questões de linguagem, demonstra
respeito com as variedades llinguísticas da língua portuguesa.
( ) Nessa situação do cartum, a professora poderia ter utilizado os conhecimentos
linguísticos de que os alunos dispõem para abordar as diferenças que ocorrem
na língua de acordo com as regiões, ou seja, explicar variação linguística
geográfica.
a) V,V,V,V
b) V,F, F,V
c) F,F,F,F
d) F,V,V,F
e) V,V,F,F
Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança
da língua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma de
língua em suas atividades escritas? Não deve mais corrigir? Não!
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Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe ape-
nas um português correto, que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos não é
o mesmo dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo dos cordelis-
tas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo dos cadernos de cultura dos mesmos jornais.
Ou do de seus colunistas.
POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67.
Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português correto”. Assim
sendo, o domínio da língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber:
Nossa tradição escolar sempre desprezou a língua viva, falada no dia a dia, como se fosse
toda errada, uma forma corrompida de falar “a língua de Camões”. Havia (e há) a crença
forte de que é missão da escola “consertar” a língua dos alunos, principalmente dos que
frequentam a escola pública. Com isso, abriu-se um abismo profundo entre a língua (e a
cultura) própria dos alunos e a língua (e a cultura) própria da escola, uma instituição
comprometida com os valores e as ideologias dominantes. Felizmente, nos últimos 20 e
poucos anos, essa postura sofreu muitas críticas e cada vez mais se aceita que é preciso
levar em conta o saber prévio dos estudantes, sua língua familiar e sua cultura
característica, para, a partir daí, ampliar seu repertório linguístico e cultural.
a) Ajuda a diminuir o abismo existente entre a cultura das classes consideradas he-
gemônicas e das populares.
b) Deve ser banida do ensino contemporâneo, que procura basear-se na cultura e
nas experiências de vida do aluno.
c) Precisa enriquecer o repertório do aluno, valorizando o seu conhecimento prévio
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e respeitando a sua cultura de origem.
d) Tem como principal finalidade cercear as variações linguísticas que comprome-
tem o bom uso da língua portuguesa.
e) Torna-se, na contemporaneidade, o grande referencial de aprendizagem do
aluno, que deve valorizá-la em detrimento de sua variação linguística de origem.
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TEXTO, CONTEXTO E INTENÇÃO UNIDADE
COMUNICATIVA
Ensinamento
Por outro lado, quando pretendemos comunicar algo e o fazemos por meio
de outros códigos que não sejam palavras, estamos fazendo uso da linguagem não
verbal. Essas mensagens também fazem parte dos textos que circulam na sociedade
e são relevantes para o processo comunicacional. São exemplos de linguagem não
verbal imagens, sinais, expressões faciais, gestos, entre outros. Veja alguns textos
compostos apenas por linguagem não verbal:
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Figura 3: Exemplo de linguagem não-verbal
Fonte: Educa Mais Brasil. Disponível em https://bit.ly/39jw0tE. Acesso em: 02 dez. 2020.
Há também uma grande variedade de textos que utilizam mais de uma lin-
guagem, compondo uma linguagem mista. Na charge abaixo, por exemplo, para
que ocorra a compreensão da mensagem, é necessário cruzar as duas linguagens,
ou seja, relacionar a linguagem verbal (palavras) e a linguagem não verbal
(imagem), o que configura uma linguagem mista ou híbrida.
Figura 4: Negligência
Seria simplista entendermos a língua apenas como um código que precisa ser
decodificado, da mesma forma não se pode restringir um texto a apenas um
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conjunto de palavras.
As atividades de leitura são complexas e o sentido de um texto é construído ,
pois ele se concretiza na interação entre código, interlocutores e situação de co-
municação. Em outras palavras, dizemos que a comunicação ocorre levando-se em
consideração vários fatores, desse modo, o texto é um processo , e não um produto.
De acordo com Mendonça (2014), o que faz com que uma produção oral ou escrita
seja classificada como texto é a “possibilidade de se estabelecer uma coerência
global, ou seja, de se (re)construir sentidos a partir de um conjunto de pistas
apresentadas”.
Seguindo esse viés de pensamento, é necessário pensar no texto como uma
construção que envolve elementos linguísticos, mas que só se realiza tendo em vista
os interlocutores (emissor, receptor), os propósitos comunicativos, o gênero discursivo,
a esfera social de circulação, suporte, etc.
Não se pode negar o caráter dialógico e social da linguagem. É muito im-
portante a natureza construcionista, sociointeracional e situada da linguagem, pois
traz à tona o fato de que ela “não ocorre em um vácuo social e que, portanto, textos
orais e escritos não têm sentido em si mesmos.” Os sentidos são construídos pelos
interlocutores, situados socialmente, levando-se em consideração os elementos do
discurso: quem produz o texto, com que finalidade, quem recebe, qual o lugar social
de cada interlocutor, qual momento o texto foi produzido, a partir de quais
ideologias. Nessa perspectiva, os significados são contextualizados (BRASIL, 2004).
As pessoas sempre comunicam entre si por meio de textos, e não por meio de
palavras ou frases isoladas. Toda e qualquer produção de linguagem, em última
instância, possui um emissor, aquele que a produz, um receptor (imediato ou não),
aquele que a recebe e passa a construir uma compreensão sobre ela, um conteúdo
em si, entre outros elementos.
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Com o intuito de estudar a língua em uso, sem dissocia-la da fala e das situa-
ções sociais em que ela ocorre, emerge a teoria da comunicação, proposta pelo
linguista Roman Jakobson.
Nessa perspectiva, a língua é considerada como um código utilizado pelos
sujeitos a fim de se comunicarem por meio de textos. De acordo com Jakobson
(2007), para que ocorra a comunicação, são essenciais seis elementos, que serão
descritos a seguir:
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perspectiva, os elementos da linguagem descritos por Jakobson passam a ser mais
dinâmicos e a comunicação se realiza dando ênfase ao processo de enunciação.
Os elementos emissor e receptor passam a ser chamados de interlocutores.
Só Hoje
Jota Quest
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que visa à persuasão. Em textos que há o predomínio da função da linguagem co-
nativa ou apelativa, algumas marcas gramaticais são comuns: verbos e pronomes
em 2ª pessoa (ou 3ª pessoa – você), vocativos, imperativos, perguntas ao interlocutor
etc.
Senado aprova PEC com 44 bi para novo auxílio emergencial; proposta segue para Câmara
Um dia após o país registrar novo recorde de mortes pela covid-19, o Senado aprovou nesta
quinta-feira (04/03) a PEC Emergencial, proposta de alteração da Constituição que cria
mecanismos para conter gastos públicos e é um primeiro passo para a volta do auxílio
emergencial — benefício para proteger os mais vulneráveis durante a pandemia.
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o número total de mortes a 259.271, segundo boletim do Conselho Nacional de
Secretários da Saúde (Conass). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
também anunciou pela manhã retração de 4,1% da economia em 2020.
Por ser uma tentativa de alterar a Constituição, a PEC só entra em vigor se for
aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados, sem qualquer alteração no
texto do Senado. O presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), quer votar a
proposta já na próxima semana.
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
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“Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.”
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Figura 7: Recursos gráficos Diálogos
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FIXANDO O CONTEÚDO
Desabafo
[...] Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje.
Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-
feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para
serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que
venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.
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da crônica “Desabafo”, a função da linguagem predominante é a emotiva ou
expressiva, pois:
Vou-me embora p'ra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda a minha
obra. Vi pela primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi
num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou
“tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um pais de
delícias, como o de L'invitation au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte anos depois,
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quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desâ-
nimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito em minha vida por motivo
da doença, saltou-me de súbito do subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me
embora p'ra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei
realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e
tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu
sem esforço como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo
nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto, como meu pai desejava, não
fiz nenhuma casa, mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo de
aparências”, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a “minha”
Pasárgada.
BANDEIRA. Minerário de Pasárgada Rio de Janeiro Nova Fronteira, Brasília INL, 1984
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Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa.
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b) Poética, já que a ênfase é dada à elaboração da mensagem.
c) Metalinguística, uma linguagem sendo explicada por ela mesma..
d) Conativa, pois pretende persuadir o receptor da mensagem.
e) Referencial, pois objetiva informar.
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TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS UNIDADE
DISCURSIVOS
3.1 INTRODUÇÃO
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representações, concepções, valores socioculturais e de instrumento
de intervenção social; já o tipo, leva em consideração a língua, numa
perspectiva formal e estrutural – de natureza linguística (DURÃES, 2018,
p. 34-35).
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É importante destacar que os tipos textuais se mesclam, por exemplo, ao es-
crever uma carta ao prefeito reclamado da situação das ruas do seu bairro, você irá
defender um ponto de vista e para isso irá argumentar, mas no seu texto, prova-
velmente, haverá parágrafos que descrevem as condições em que a rua se en-
contra e parágrafos que apresentam narrativa.
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prevendo suas ações como se lhes percorresse a mente e a alma.
Veja os exemplos que seguem. No texto 1, a narradora relata sobre a sua
experiência, portanto é narradora/personagem e o foco narrativo está em primeira
pessoa.
Segue trecho do relato “Docência: uma experiência de encanto, superação
e sucesso”.
“Nutri o sonho de ser professora desde a infância, nas brincadeiras, a professora só poderia
ser eu e mais ninguém. Ao finalizar o Ensino Fundamental, tinha nítida a certeza do que eu
queria ser: professora. Meu primeiro desafio foi fazer meus pais acreditarem no meu sonho,
pois de família simples e conservadora, a possibilidade de ser uma grande professora não
era considerada real. Meu pai acreditava que estudar até a 4ª série era o suficiente pra
mim.”
Marilene Nunes,
professora e coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade Única de Ipatinga
“João chegou em casa cansado e disse para a mulher, Maria, que queria tomar um banho,
jantar e ir direto para a cama. Maria lembrou a João que naquela noite eles tinham ficado
de jantar na casa de Pedro e Luísa. João deu um tapa na testa, disse um palavrão e decla-
rou que de maneira nenhuma, não iria jantar na casa de ninguém. Maria disse que o jantar
estava marcado há uma semana e seria uma falta de consideração com Pedro e Luísa,
que afinal eram seus amigos, deixar de ir. João reafirmou que não ia. Encarregou Maria de
telefonar para Luísa e dar uma desculpa qualquer. Que marcassem o jantar para a noite
seguinte.
Maria telefonou para Luísa e disse que João chegara em casa muito abatido, até com um
pouco de febre, e que ela achava melhor não tirá-lo de casa naquela noite. Luísa disse
que era uma pena, que tinha preparado uma Blanquette de Veau que era uma beleza,
mas que tudo bem. Importante é a saúde e é bom não facilitar. Marcaram o jantar para a
noite seguinte, se João estivesse melhor.”
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A descrição é um processo de caracterização que exige sensibilidade e
perspicácia, pois, por meio dela se oferece ao interlocutor uma imagem, uma
espécie de fotografia do que é descrito. A tipologia textual descritiva consiste em
apresentar detalhes, características de uma pessoa, de determinado objeto, de um
animal ou até mesmo de uma cena , sem se preocupar com a progressão temporal.
Os textos em que predomina a descrição são, geralmente, compostos por muitos
adjetivos, já que a finalidade é caracterizar, colocar em destaque os aspectos do
objeto descrito. Em textos descritivos, podem aparecer verbos que exprimem ação,
mas o foco não é indicar uma progressão temporal, como acontece nos textos
narrativos.
O ato de descrever pode ser feito de dois modos: de modo objetivo- quando
descreve-se o objeto, ação, as pessoas, utilizando uma linguagem comum e em
sentido denotativo, ou seja, sentido literal da palavra. Nesse tipo de descrição, os
detalhes são apresentados tal qual a realidade: forma, cor, tamanho, peso, cheiro,
etc.
A descrição feita de modo subjetivo acontece por meio de uma linguagem
mais pessoal, produto da impressão que se tem do objeto, ação, ou ser descrito. A
descrição subjetiva é também conhecida como impressionista ou psicológica, já
que nela se reflete o estado de espírito do autor do texto e o objeto descrito
apresenta as impressões pessoais de quem o descreve.
Veja, no trecho abaixo, a descrição objetiva que Aluísio Azevedo faz de uma
personagem:
Não vinha em traje de domingo; trazia casaquinho branco, uma saia que lhe deixava ver
o pé sem meia num chinelo de polimento com enfeites de marroquim de diversas cores. No
seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado sobre a nuca, havia um molho de manjericão
e um pedaço de baunilha espetado por um gancho. E toda ela respirava o asseio das
brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o
atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra
um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce
fascinador.
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Não era uma mulher, era uma sílfide, uma visão de poeta, uma criatura divina. Era loura;
tinha os olhos azuis, que buscavam o céu ou pareciam viver dele. Os cabelos,
desleixadamente penteados, faziam-lhe em volta da cabeça, um como resplendor de
santa; santa somente, não mártir, porque o sorriso que lhe desabrochava os lábios era um
sorriso de bem-aventurança, como raras vezes há de ter tido a terra.
Um vestido ranço, de finíssima cambraia, evolvia-lhe o corpo, cujas formas, aliás,
desenhava, pouco para os olhos, mas muito para a imaginação.
ASSIS, Machado de. A chinela turca. Rio de Janeiro: Editora Aguilar. 1986.
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Como já foi dito anteriormente, o texto dissertativo constitui-se em três
etapas, cada uma delas com funções bem definidas que, somadas, oferecem ao
leitor uma visão de totalidade. Observe com mais detalhes cada uma dessas partes:
A introdução é a parte ou momento do texto em que a ideia central, a tese, é
apresentada. A ideia principal representa o ponto de partida para a organização
textual, é a partir dela que o leitor adere ou não ao texto, por isso, essa etapa exige
capacidade de síntese e clareza na exposição da temática. É na introdução que se
apresenta ao interlocutor um contato direto com os elementos que encaminharão
a argumentação, para que o texto obtenha maior objetividade, rigor e
credibilidade.
O desenvolvimento é a parte ou momento do texto em que são inseridos e
articulados novos argumentos. As informações apresentadas na introdução são
analisadas, debatidas em confronto com outras informações do meio a que
pertence o tema. É no desenvolvimento que outras vozes são trazidas para reforçar
o ponto de vista do autor.
Esse movimento argumentativo pode se dar por meio de sustentação, refu-
tação ou negociação e os tipos de argumentos utilizados podem ser: argumento de
autoridade, argumentos por exemplificação, argumentos de princípios, relação de
causa e consequência e outras estratégias argumentativas.
A conclusão é a parte ou momento do texto em que será sintetizado o que
há de mais relevante no conteúdo desenvolvido. O objetivo é apresentar as
considerações finais sobre a temática discutida.
Veja o exemplo de um texto dissertativo, “Olhares que buscam o Brasil”,
redação do ENEM escrita pela estudante Caroline Lopes dos Santos.
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argumentos para forma irregular e esperar que eles, sozinhos, encontrem um ofício
justificar seu ponto de para se sustentar. O governo ainda não percebeu que a
vista. regularização desses imigrantes e a inserção dos mesmos no
mercado de trabalho formal poderiam servir como
oportunidades para o país arrecadar mais impostos e possíveis
futuros cidadãos, ou seja, novos contribuintes para a deficitária
Previdência Social.
Visando aproveitar tais benefícios, o governo poderia começar
a implantar, nas regiões por onde chegam os imigrantes, mais
órgãos e agências que oferecessem serviços de regularização
do visto e da carteira de trabalho, posto que ainda há muita
deficiência de controle nesse setor. Além disso, nos destinos
finais desses imigrantes poderiam ser oferecidos cursos de
português e cursos qualificantes voltados para os mesmos. Isso
facilitaria muito a inserção dessas pessoas no mercado de
trabalho formal e poderia inclusive suprir a alta demanda por
mão-de-obra em setores como o da construção civil, por
exemplo.
Nesse sentido, é preciso que atitudes mais energéticas sejam
tomadas a fim de que o país não deixe escapar essa
Conclusão: o autor oportunidade: a de transformar o problema da imigração
retoma a crescente em uma solução para outros. A questão merece mais
argumentação e atenção do governo, portanto, pois não deve ser a toa que o
finaliza o texto. Brasil, além de ser conhecido pela hospitalidade, também o é
pelo modo criativo de resolver problemas. Prestemos mais
atenção aos olhares que nos cercam; deles podem vir novas
oportunidades.
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3m815FQ. Acesso em: 20 mar. 2021.
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RECOMENDACÕES E ADVERTÊNCIAS IMPORTANTES:
Antes de utilizar o aparelho, leia atentamente todas as instruções de uso, pois elas
são necessárias para um perfeito funcionamento de seu produto, e para sua se-
gurança:
Antes de ligar o plugue na tomada, verifique se a voltagem do aparelho é
compatível com a da rede elétrica local.
Este aparelho foi produzido para fins domésticos; sua utilização comercial
acarretará a perda da garantia.
Desligue o aparelho da tomada sempre que não estiver utilizando o mesmo.
Para evitar choques elétricos, nunca use o aparelho com as mãos molhadas, não
molhe o corpo do aparelho e não o mergulhe em água.
Para evitar acidentes, não permita que crianças utilizem o produto ou mesmo
pessoas que desconheçam suas instruções de uso.
Sempre que colocar o aparelho de lado, mesmo que por breves instantes,
desligue-o.
Não utilize extensões auxiliares para aumentar o comprimento do cabo plugue.
Nunca permita que o cabo plugue se encoste a superfícies quentes.
Nunca transporte ou desligue o produto puxando pelo cabo plugue.
Nunca use o produto com o cabo plugue ou plugue danificados, ou ainda se o
produto apresentar mau funcionamento. Leve-o a uma Assistência Técnica Autori-
zada MARKOCH.
Para não perder a garantia, evitar problemas técnicos e risco de acidentes ao
usuário, não permita que sejam feitos consertos e/ou trocas de peças em casa;
caso seja necessário, leve o produto a uma Assistência Técnica Autorizada
MARKOCH.
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FIXANDO O CONTEÚDO
Blues da piedade
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
CAZUZA. Cazuza: o poeta não morreu. Rio de Janeiro: Universal Music, 2000 (fragmento).
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É comum coexistirem sequências tipológicas em um mesmo gênero textual. Nesse
fragmento, os tipos textuais que se destacam na organização temática são:
a) descritivo e argumentativo, pois o enunciador detalha cada lugar por onde passa,
argumentando contra a violência urbana.
b) dissertativo e argumentativo, pois o enunciador apresenta seu ponto de vista sobre
as notícias relativas à cidade.
c) expositivo e injuntivo, pois o enunciador fala de seus estados físicos e psicológicos
e interage com a mulher amada.
d) narrativo e descritivo, pois o enunciador conta sobre suas andanças pelas ruas da
cidade ao mesmo tempo que a descreve.
e) narrativo e injuntivo, pois o enunciador ensina o interlocutor como andar pelas ruas
da cidade contanto sobre sua própria experiência.
[...] Vovó me contava uma ou duas histórias, acariciava minha face, beijava a minha
testa e imediatamente a esfregava com um lencinho perfumado , que mantinha
sempre enfiado dentro da manga esquerda para espanar ou esmagar os micróbios, e
apagava a luz. Mesmo no escuro, ela continuava a cantarolar, não era em cantarolar,
nem murmurar, nem mesmo um zumbir baixinho, como posso dizer, ela fazia surgir de
dentro dela própria uma voz distante, onírica , um som cor de nozes, escuro e agradável
, que lentamente se transformava num eco, num tom, um matiz, um cheiro, uma leve
aspereza, um calor, uma cálida água de poço[...] toda a noite.
OZ, Amós. De amor e de trevas. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
a) Apenas a I é verdadeira.
b) Apenas a II é verdadeira.
c) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras..
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d) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.
e) Apenas as afirmações II e III são verdadeiras.
Estudo feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz sobre adolescentes recru-
tados pelo tráfico de drogas nas favelas cariocas expõe as bases sociais dessas qua-
drilhas, contribuindo para explicar as dificuldades que o Estado enfrenta no combate
ao crime organizado.
O tráfico oferece ao jovem de escolaridade precária (nenhum dos entrevistados havia
completado o ensino fundamental) um plano de carreira bem estruturado, com salários
que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000 mensais. Para uma base de comparação, convém
notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da população brasileira com mais de
dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha no máximo o ‘piso salarial’
oferecido pelo crime. Dos traficantes ouvidos pela pesquisa, 25% recebiam mais de R$
2.000 mensais; já na população brasileira essa taxa não ultrapassa 6%.
Tais rendimentos mostram que as políticas sociais compensatórias, como o Bolsa-Escola
(que paga R$ 15 mensais por aluno matriculado), são por si só incapazes de impedir
que o narcotráfico continue aliciando crianças provenientes de estratos de baixa
renda: tais políticas aliviam um pouco o orçamento familiar e incentivam os pais a
manterem os filhos estudando, o que de modo algum impossibilita a opção pela
delinquência. No mesmo sentido, os programas voltados aos jovens vulneráveis ao
crime organizado (circo-escola, oficinas de cultura, escolinhas de futebol) são
importantes, mas não resolvem o problema.
A única maneira de reduzir a atração exercida pelo tráfico é a repressão, que aumenta
os riscos para os que escolhem esse caminho. Os rendimentos pagos aos adolescentes
provam isso: eles são elevados precisamente porque a possibilidade de ser preso não
é desprezível. É preciso que o Executivo federal e os estaduais desmontem as
organizações paralelas erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de punição
elimine o fascínio dos salários do crime.
Editorial. Folha de São Paulo.
4. No Editorial, o autor defende a tese de que “as políticas sociais que procuram
evitar a entrada dos jovens no tráfico não terão chance de sucesso enquanto a
remuneração oferecida pelos traficantes for tão mais compensatória que aquela
oferecida pelos programas do governo”. Para comprovar sua tese, o autor
apresenta:
47
5. Com base nos argumentos do autor, o texto aponta para:
a) V, V, V, V
b) V, F,V, F
c) F,F,F,F
d) F, V,F,V
e) F,V,V,V
48
Leia os textos abaixo:
49
d) O texto é injuntivo.
e) O texto apresenta a tipologia dialogal.
50
ELEMENTOS LINGUÍSTICOS TEXTUAIS UNIDADE
4.1 INTRODUÇÃO
51
4.2.1 Intencionalidade
4.2.2 Aceitabilidade
52
do receptor do texto.
4.2.3 Situacionalidade
4.2.4 Informatividade
Para que se cumpra uma comunicação eficiente, todo texto deve apresentar
dados suficientes e relevantes sobre o tema ou assunto abordado, a esse fator textual
dá-se o nome de informatividade. De acordo com Costa Val (1999), para que o
receptor do texto tenha interesse por efetivar a leitura, é necessário que o nível de
informatividade seja regular, de forma que que as informações sejam intercaladas
entre informações de rápido processamento e informações que exijam mais esforço
do leitor, novidades. A esse respeito, a autora afirma:
[...] não ser possível nem desejável que o discurso explicite todas as
informações necessárias ao seu processamento, mas é preciso que ele
deixe inequívocos todos os dados necessários à sua compreensão aos
quais o recebedor não conseguirá chegar sozinho (COSTA VAL, 1999,
p. 14-15).
53
4.2.5 Intertextualidade
Epígrafe: trata-se de uma escrita que introduz outra. Em geral, ocorre nas
páginas opcionais de projetos, dissertações, teses, livros, artigos e em outros
trabalhos acadêmicos.
Citação: trata-se de uma transcrição referente a um texto de outro autor,
geralmente marcada por aspas.
Paráfrase: trata-se, tradicionalmente, de uma recomposição de determinado
texto alheio, mantendo supostamente a unidade de sentido em relação ao
texto base/fonte.
Pastiche: trata-se da imitação de estilo.
Tradução: trata-se da recriação de um texto, dada a relação entre sistemas
linguísticos diferentes.
Referência/alusão: trata-se da menção, direta ou não, que um texto deixa
54
deflagrar em relação a outros textos.
Paródia: trata-se da apropriação do texto do outro, visando subverter, de certo
modo, o texto base/fonte. Geralmente, essa subversão se efetiva em função da
produção de ironia ou de critica.
Neste caso, pode-se perceber que o próprio nome da música já faz relação à
data em que ocorreu a morte de uma criança. Espera-se que o leitor/ ouvinte da
música seja capaz de reconhecer a presença do intertexto, pela ativação do texto-
fonte em sua memória discursiva acerca de textos/discursos veiculados nos jornais à
época do fato. Caso essa memória não seja ativada, a compreensão do texto ficará
comprometida.
Ainda na letra da música, é possível perceber outras ocorrências de intertex-
tualidade, pois quando a compositora relaciona a criança a Ícaro, personagem da
mitologia grega, o texto ganha ainda mais sentido.
55
Menino de 5 anos morre ao cair do nono Figura 8: Miguel Otávio chega ao céu
andar de prédio no Centro do Recife
56
coerência de um texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados que
sua rede de conceitos e relações põe em jogo.”
Para que a coerência se efetive, um texto precisa apresentar continuidade,
não contradição e progressão. É preciso respeitar as relações entre as frases, bem
como a relação entre as partes que formam a macroestrutura ou o sentido global de
um texto. Quando essas relações não são respeitadas, o entendimento e a pos-
sibilidade de interpretação do texto ficam comprometidos.
Um texto é considerado coerente quando “faz sentido” para seus usuários e,
por outro lado, para Beaugrande e Dressler (1981) apud Koch e Travaglia (2016, p. 31-
32) um texto incoerente é aquele em que:
Figura 9: Incoerência
57
garantir o desenvolvimento de determinado texto, desse modo, a coesão guarda
estreita relação com a coerência textual. De acordo com Costa Val (1999), a coesão
assegura o efeito de unidade formal do texto e é construída por meio de mecanismos
gramaticais e lexicais.
A coesão de um texto pode se dar por meio de conjunções, pronomes, pre-
posições, locuções adverbiais e outros elementos coesivos aos quais chamamos de
elementos de coesão ou operadores argumentativos.
Para ilustrar que pode haver coerência, mesmo quando os elementos coesivos
não são explícitos no texto, leia a crônica de Ricardo Ramos e perceba a relação
lógica, o encadeamento das ações, embora o autor não tenha utilizando
conectivos. O sentido do texto, nesse caso, pode ser recuperado levando-se em
conta o contexto e o conhecimento prévio do leitor.
Circuito Fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme
de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha.
Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata,
paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros,
caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos.
Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone,
agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de
saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro
e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes,
telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos,
cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro,
fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras, copos,
pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de
dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro,
fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel,
pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto,
xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos.
Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos,
guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona.
Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água.
Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
O texto apresentado foi organizado por justaposição, o autor optou por não
utilizar conectores entre uma oração e outra. Mesmo entre um paragráfo e outro,
nota-se a ausência de elementos coesivos. Nota-se que os substantivos constituem a
base do texto e o autor não recorre a adjetivos para singularizar as imagens criadas
ou verbos para explicitar as ações, mas o conjunto de substantivos constitui uma
sequência temporal e uma linha coerente de raciocínio. Portanto, é possível haver
58
coerência, mesmo sem a presença de elementos explícitos de coesão. Esse recurso
costuma ser utilizado em textos literários ou publicitários. Vale ressaltar, porém, que
não é comum em textos informativos, didáticos ou expositivos esse tipo de construção
, haja vista a necessidade de clareza e progressão linear das ideias apresentadas.
4.5.1 Preposições
59
adjunto do primeiro (termo regente -subordinante ou antecedente).
Observe como a mudança da preposição pode alterar totalmente a semân-
tica de um enunciado:
60
Quadro 3: Principais preposições e suas relações de sentido
Discutiu-se muito sobre política.
ASSUNTO
Falou-me de sonhos e projetos.
Há muitos brasileiros morrendo de covid-19.
CAUSA
Ser feliz em viver.
COMPANHIA Conversávamos com o chefe frequentemente.
Gilvânia é especialista em educação.
ESPECIALIDADE
Formou-se em gestão.
DIREÇÃO Olhe para frente.
FIM Estudava muito para passar no concurso.
FALTA O produto pode ser dividido sem juros.
INSTRUMENTO A criança feriu-se com uma tesoura.
Moro em Turmalina.
LUGAR
Irei a Ipatinga.
MEIO Viajamos de trem.
Trabalhar com capricho.
MODO
Viver em paz.
OPOSIÇÃO Lutava contra corrupção.
POSSE O livro de Pedro foi roubado.
MATÉRIA Ana Paula costumava usar uma caneca de louça.
O viajante veio da Bahia.
ORIGEM
Pedro é de Salvador.
CONTEÚDO Embriagou-se com um copo de pinga.
Viajei durante as férias.
TEMPO Ir à noite.
Dormir até10 horas
MOVIMENTO Arrastou-se até o quarto.
Caneta de dez reais.
PREÇO
Comprar por cinco reais.
Fonte: Elaborado pela Autora (2020)
4.5.2 Conjunções
Operadores que introduzem argumentos que se so- e, nem, também, não só... mas
mam a outro, tendo em vista a mesma conclusão. também, além disso.
61
Operadores que introduzem enunciados que logo, portanto, então, conse-
exprimem conclusão ao que foi expresso quentemente.
anteriormente.
mas, porém, todavia, embora,
Operadores que introduzem argumentos que se
ainda que, apesar de.
contrapõe a outro visando a uma conclusão contrária.
62
FIXANDO O CONTEÚDO
O mundo é grande
O mundo é grande e cabe
Nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
Na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
No breve espaço de beijar.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.)
a) comparação
b) conclusão.
c) oposição.
d) alternância.
e) finalidade
2. "Há pessoas com quem as admoestações são inúteis, pois são refratárias às or-
dens." O período coeso e coerente que é paráfrase perfeita do texto é:
a) Existe pessoas para as quais as críticas são inócuas uma vez que desobedecem a
todas as ordens.
b) Existem pessoas com quem as repreensões são vãs, porquanto resistem a ordens.
c) Existem pessoas para as quais os conselhos são embalde desde que são submissas
às ordens recebidas.
d) Há pessoas com as quais exortações não funcionam uma vez que são insubmissas
as ordens superiores.
e) Existem pessoas para as quais as críticas são em vão pois uma vez que
desobedecem todas as ordens
63
3. Leia o texto abaixo para responder a questão.
Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no meu braço, falou qualquer coisa que
não entendi. Fui logo dizendo que não tinha. Certa de que ele estava pedindo dinheiro.
Não estava. Queria saber a hora. Talvez não fosse um Menino De Família, mas também
não era um Menino De Rua. É assim que a gente divide. Menino De Família é aquele bem-
vestido com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio e a mãe dá outro se o
dele for roubado por um Menino De Rua. Menino De Rua é aquele que quando a gente
passa perto segura a bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha,
ladrão.
Ouvindo essas expressões tem-se a impressão de que as coisas se passam muito
naturalmente, uns nascendo De Família, outros nascendo De Rua. Como se a rua, e não
uma família, não um pai e uma mãe, ou mesmo apenas uma mãe os tivesse gerado, sendo
eles filhos diretos dos paralelepípedos e das calçadas, diferentes, portanto, das outras
crianças, e excluídos das preocupações que temos com elas. É por isso, talvez, que, se
vemos uma criança bem-vestida chorando sozinha num shopping center ou num
supermercado, logo nos acercamos protetores, perguntando se está perdida, ou
precisando de alguma coisa. Mas se vemos uma criança maltrapilha chorando num sinal
com uma caixa de chicletes na mão, engrenamos a primeira no carro e nos afastamos
pensando vagamente no seu abandono.
Na verdade, não existem meninos De Rua. Existem meninos NA rua. E toda vez que um
menino está NA rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos aos lugares.
Assim como são postos no mundo, durante muitos anos também são postos onde quer que
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E por quê.
No Brasil temos 36 milhões de crianças carentes. Na China existem 35 milhões de
crianças superprotegidas. São filhos únicos resultantes da campanha Cada Casal um Filho,
criada pelo governo em 1979 para evitar o crescimento populacional. O filho único, por
receber afeto "em demasia", torna-se egoísta, preguiçoso, dependente, e seu rendimento
é inferior ao de uma criança com irmãos. Para contornar o problema, já existem na China
30 mil escolas especiais. Mas os educadores admitem que "ainda não foram desenvolvidos
métodos eficazes para eliminar as deficiências dos filhos únicos".
O Brasil está mais adiantado. Nossos educadores sabem perfeitamente o que seria
necessário para eliminar as deficiências das crianças carentes. Mas aqui também os
"métodos ainda não foram desenvolvidos".
Quando eu era criança, ouvi contar muitas vezes a história de João e Maria, dois
irmãos filhos de pobres lenhadores, em cuja casa a fome chegou a um ponto em que, não
havendo mais comida nenhuma, foram levados pelo pai ao bosque, e ali abandonados.
Não creio que os 7 milhões de crianças brasileiras abandonadas conheçam a história de
João e Maria. Se conhecessem talvez nem vissem a semelhança. Pois João e Maria tinham
uma casa de verdade, um casal de pais, roupas e sapatos. João e Maria tinham
começado a vida como Meninos De Família, e pelas mãos do pai foram levados ao
abandono.
Quem leva nossas crianças ao abandono? Quando dizemos "crianças abandonadas"
subentendemos que foram abandonadas pela família, pelos pais. E, embora penalizados,
circunscrevemos o problema ao âmbito familiar, de uma família gigantesca e
generalizada, à qual não pertencemos e com a qual não queremos nos meter.
Apaziguamos assim nossa consciência, enquanto tratamos, isso sim, de cuidar
amorosamente de nossos próprios filhos, aqueles que "nos pertencem".
Mas, embora uma criança possa ser abandonada pelos pais, ou duas ou dez crianças
possam ser abandonadas pela família, 7 milhões de crianças só podem ser abandonadas
pela coletividade. Até recentemente, tínhamos o direito de atribuir esse abandono ao
governo, responsabilizando-o por isso, mas, em tempos de Nova República, quando
queremos que os cidadãos sejam o governo, já não podemos apenas passar adiante a
64
responsabilidade. A hora chegou, portanto, de irmos ao bosque, buscar as crianças brasi-
leiras que ali foram deixadas.
a) Permanência
b) Procedência
c) Qualidade
d) Companhia
e) Posse
5. Com ênfase no sentido das conjunções, marque a opção correta. Se for preciso,
releia o texto:
“Mas os educadores admitem que “ainda não foram desenvolvidos métodos eficazes
para eliminar as deficiências dos filhos únicos”.
65
c) Pela conjunção “porque”, configurando causa e consequência.
d) Pela palavra “entretanto”, que estabelece relação de oposição.
e) Pelo vocábulo “portanto”, apresentando uma ideia de conclusão.
Valsinha
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.”
66
7. (ENEM – Adaptada)
Texto I Texto II
67
a) Citação, porque há transcrição de um trecho do texto II ao longo do texto.
b) Epígrafe, pois o texto I recorre a trecho do texto II para introduzir o seu texto.
c) Paráfrase, porque apesar das mudanças das palavras no texto I, a ideia do texto
II é confirmada pelo novo texto.
d) Paródia, pois a voz do texto II é retomada no texto I para transformar seu sentido,
levando a uma reflexão crítica.
e) Alusão, porque faz referência, de modo implícito, ao texto II para servir de termo
de comparação.
68
PRÁTICA DE LEITURA E NOÇÕES DE UNIDADE
SEMÂNTICA
5.1 INTRODUÇÃO
69
O ato de ler aqui discutido não se restringe apenas em codificar e decodificar
as letras, mas consiste em ler, fazer inferências, levantar hipóteses, correlacionar
pontos do texto lido a outros conhecimentos adquiridos previamente, enfim, com-
preender o texto em suas dimensões explicita e implícita. Para realizar a leitura e
interpretação de textos, é preciso conhecer os processos que envolvem essas
atividades, saber relacionar os fatores linguísticos e extralinguísticos (contexto).
Como foi a reunião com o O clima esquentou. Sentido figurativo, reunião difícil.
chefe?
Carla e Arthur estão O clima esquentou. Sentido figurativo, desejo entre duas
flertando? pessoas.
Fonte: Elaborado pela Autora (2021)
70
e designa-se o mundo.
Por outro lado, a conotação trata de outros valores que os signos linguísticos
podem adquirir, ou seja, as palavras adquirem valor figurativo nos sistemas da língua.
É importante ter em vista que a significação das palavras não é fixa, nem estática,
elas podem ter seu significado ampliado, deixando de representar apenas a ideia
original (básica e objetiva). Assim, frequentemente remetem-nos a novos conceitos
por meio de associações, dependendo do contexto. Observe abaixo o uso do
vocábulo “pneus”, no primeiro balãozinho, ele foi usado no sentido conotativo,
figurado; no segundo balão, a palavra está associada ao seu sentido literal,
conforme o dicionário, portanto está no sentido denotativo.
71
Polissemia e uma palavra de origem grega: (polis) significa vários, muitos
e sema vem de semântica , sentido. Desse modo, polissemia consiste na multiplici-
dade de significados de uma palavra, ou seja, um termo polissêmico é aquele que,
a depender do contexto, vai adquirir significados distintos. Veja o exemplo abaixo:
72
Figura 12: A polissemia no texto
Pedro, não adianta você ir à casa de Marcos, pois ele saiu com a sua mãe.
De quem é a mãe?
Diana, não quero mais que a sua cadela vá na minha casa, ela está cheia de pulgas.
Quem está com pulgas?
73
Nas propagandas, o uso da ambiguidade como recurso estilístico tem um
propósito definido: chamar a atenção do consumidor/ receptor para o produto
focalizado. Além disso, esse recurso tem um caráter persuasivo, levando o consumi-
dor a agir por meio da linguagem. No caso, gerar consumo.
Veja o exemplo a seguir:
No enunciado “Você andou muito para encontrar seu verdadeiro amor. Não
é hora de agradecer seus pés por isso?” é possível reconhecer uma ambiguidade,
que foi utilizada como recurso linguístico na divulgação de um produto (chinelos da
marca Havaianas). Neste contexto, há uma ambiguidade lexical, já que a campa-
nha publicitária relaciona o ato de caminhar, dar passos em busca de algo muito
marcante que seria a pessoa amada.
74
5.4 A PONTUAÇÃO COMO FATOR DE PRODUÇÃO DE SENTIDO
75
Quadro 7: Principais regras de pontuação
A casa, quase sempre fel-
Ponto final (.) Emprega-se o ponto, basica- chada, parecia
mente, para indicar o término abandonada, no entanto
de um frase declarativa de um tudo no seu interior era
período simples ou composto. conservado com primor.
O ponto de exclamação é
empregado para marcar o fim
Ponto de exclamação: de qualquer enunciado com
- Adeus!
(!) entonação exclamativa, que
- Como Teresa é linda!
normalmente exprime
admiração, surpresa, assombro,
indignação etc.
A vírgula é empregada para
uma pequena pausa, para
A vida é composta de
Vírgula: (,) separar elementos, inserir
dores, amores, sabores e
informações ou explicar termos
mais nada.
antecedentes (sempre com
uma justificativa sintática).
Fonte: Adaptado de Cunha e Cintra (2017)
76
Figura 14: A aplicação da vírgula
d) para isolar palavras e expressões explicativas (a saber, por exemplo, isto é, ou melhor, aliás,
além disso etc.):
Gastamos R$ 5.000,00 na reforma do apartamento, isto é, tudo o que tínhamos economizado
durante anos.
77
O palácio, o palácio está destruído.
Estão todos cansados, cansados de dar dó!
Não, espere.
Não espere...
78
R$ 2,34
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.
79
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Da forma como foi escrito, este texto, retirado de uma propaganda, apresenta
mais de um sentido.
80
b) a expressão “no caminho de casa” é ambígua.
c) a imagem apresentada contradiz a fala do marido.
d) a palavra “bar” foi utilizada em sentido conotativo.
e) a expressão “no caminho de casa” é uma figura de linguagem.
Com foco nas questões semântica, pode-se dizer que o recurso utilizado para
produzir humor é a:
81
O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de informações
visuais e recursos linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida recorre
à:
a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir
a ideia que pretende veicular.
b) ironia para conferir um novo significado ao termo “outra coisa”.
c) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da população
pobre e o espaço da população rica.
d) personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico.
e) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira
de descanso da família.
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
82
Em tempos de WhatsApp, mineiro distribui cartas por Belo Horizonte
8. (UFLA – MG) Aponte a alternativa que justifica corretamente o emprego das vír-
gulas na seguinte frase:
83
“Guri que finta banco, escritório, repartição, fila, balcão, pedido de certidão, imposto a
pagar.”
(Lourenço Diaféria)
84
PRODUÇÃO DE TEXTOS UNIDADE
6.1 INTRODUÇÃO
85
A linguagem Acadêmica visa à pesquisa, construção do conhecimento e ins-
trução, desse modo é preciso que tenha a formalidade que possibilite o seu
entendimento em qualquer região do país, necessitando de cuidados quanto à
formação das frases, coesão textual, concordância verbal e, ainda, ser pautada nas
Normas da ABNT para trabalhos científicos. Embora não precise utilizar uma
linguagem rebuscada, intrincada e de difícil acesso, pelo contrário, é recomendável
que seja simples, clara, direta de modo a alcançar o máximo de leitores, porém com
aspectos metodológicos da área da educação como mencionado no quadro
abaixo.
86
de parágrafos deve ser dosado na medida necessária para
articular o raciocínio: toda vez que se dá um passo a mais no
desenvolvimento do raciocínio, muda-se o parágrafo.
Os recursos ilustrativos, como gráficos estatísticos, desenhos,
RECURSOS tabelas são considerados como figuras e devem ser criteriosa-
ILUSTRATIVOS mente distribuídos no texto, tendo suas fontes devidamente
citadas.
Toda vez que for usada a fala de outrem, é preciso referenciar,
CITAÇÕES
seja citação direta ou indireta.
Fonte: Pádua (1996, p. 82)
Finalmente, vale elucidar que todo texto, mesmo o científico, deve conquistar
o leitor de forma a levá-lo a descobertas e, por conseguinte, a reflexões, já que deve
conter o previsível (o dado), mas também o imprevisível (o novo). Essas considerações
alertam para o fato de que a leitura e a escrita na universidade devem levar em
consideração conhecimentos sobre letramento e gêneros acadêmicos.
87
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3sGd53G. Acesso em: 18 mar. 2020.
Exemplo de Resumo:
O Pequeno Príncipe: resumo
O próprio autor do livro é um personagem da história, em que ele inicia no papel de narrador
contando as recordações de infância. Ele adorava desenhar, mas alguns adultos lhe
aconselhavam a deixar esse sonho para lá, e então ele se empenha na profissão de aviador.
Em uma de suas viagens pelas terras dos desertos do Saara, seu avião cai no meio do deserto.
E após adormecer e acordar, se depara com o menino de baixa estatura, cabelos louros e
que usava um cachecol vermelho no pescoço.
Conta sobre o seu planeta B-612, que era formando apenas por três vulcões, um que estava
extinto e uma Rosa, a pivô do Pequeno Príncipe sair em suas viagens em busca do sentido
das coisas
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3sCTQrR. Acesso em: 23 mar. 2021.
88
com textos “curtos”: crônicas, reportagens, etc.; e com textos “longos”: romances e novelas,
em que o aluno teria de ler pelo simples prazer, sem algum tipo de avaliação. A proposta de
leitura em sala de aula, a partir da seleção de diferentes gêneros de textos, a fim de
desenvolver o gosto pela leitura, pode ser válida; porém o descompromisso em avaliar o
aluno, seja por meio de fichas, de relatórios, como é proposto pelo autor, é que deixa a
desejar. Penso que o aluno não deve deixar de ser avaliado, não por critérios rígidos e
intransigentes; mas por uma avaliação que considere sua série e sua faixa etária. A tentativa
do autor de relacionar os três aspectos – a leitura de textos, a produção de textos e a análise
linguística – é viável. A leitura de textos, considerando o aspecto quantitativo, possibilitará ao
aluno o maior contato com os mesmos. Assim, segundo o autor, melhor será o seu
desempenho e maior será a possibilidade de desenvolver o gosto pela leitura. A prática da
leitura subsidiará o trabalho com a produção de textos, pois, quanto maior o número de
leitura, maior será a reflexão do aluno e melhor será o seu desenvolvimento na formação de
ideias, afirma Geraldi. É bastante pertinente a proposta do professor, pois acredito que uma
das maiores dificuldades do aluno na produção de textos é a falta do que dizer, a falta de
organização de ideias. Sugere que, a partir da produção textual do próprio aluno, pode-se
iniciar a prática da análise linguística. Concordo com essa sugestão, mas o professor não
pode se esquecer de criar meios para não constranger esse aluno. Essa análise não pode
limitar-se a simples correção de aspectos gramaticais, mas sim deve conduzir o aluno a
reescrever seu próprio texto, fazendo com que ele consiga elaborar conscientemente textos
com sentidos. A proposta do professor Geraldi referente ao trabalho com textos em sala de
aula é salutar, uma vez que concebe linguagem enquanto interação entre produtor, texto e
leitor. Creio que o aluno, para desenvolver a habilidade de produção de textos, precisa
previamente de bastante leitura. Somente a partir daí ele poderá compreender a estrutura
de seu código linguístico e utilizá-lo de forma consciente na produção de textos.
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3m2YigV. Acesso em 02 mai. 2020
Em termos gerais, podemos dizer que resumo é uma síntese fiel de um texto,
em que as ideias principais são apresentadas de forma concisa, direta e objetiva;
enquanto a resenha é a apresentação dos fatos relativos a um dado texto (ou obra)
acompanhada de uma análise. A resenha, diferentemente do resumo, traz, além de
um apanhado das ideias do texto, as impressões daquele que a escreve sobre o livro,
artigo ou texto base. Portanto trata-se de um texto opinativo.
89
seguintes perguntas: Quem é meu interlocutor? Qual o objetivo dessa comunicação?
Qual gênero eu utilizo para comunicar nessa situação discursiva? Qual o grau de
formalidade esse texto exige?
Esses questionamentos poderão auxiliá-lo na produção de um texto eficiente,
ou seja, um texto capaz de cumprir o seu papel em determinada esfera e ato co-
municativo.
Da mesma forma que o discurso não é fixo, o sentido das palavras também
não pode ser desvinculado de uma construção social, portanto, ao produzir um texto,
na escolha de uma palavra em detrimento de outra, o produtor deixa as marcas
ideológicas em seus enunciados. A esse fenômeno, chamamos de escolha lexical.
Ao analisar o sentido de uma palavra, de um enunciado ou de um texto
(discurso materializado) precisamos levar em consideração os lugares sociais
90
ocupados pelos sujeitos da interlocução, ou seja, produtor e receptor do texto, pois
uma mesma palavra pode ter significados distintos e/ou a alteração de uma palavra
pode configurar na alteração global do que se deseja comunicar.
Partindo do pressuposto de que nos encontramos submetidos a um sistema
convencional, comum a todos, as escolhas lexicais que fazemos, seja na
modalidade oral, seja na escrita, mantêm uma estreita relação com a semântica. Ou
seja, ao fazermos uso desta ou daquela palavra, temos, necessariamente, de estar a
par do seu verdadeiro significado naquele contexto. Vejamos um exemplo:
Texto I:
Estudantes ocupam mais de 60 escolas em MG contra a PEC 241.
UFMG informou que também tem seis prédios ocupados por estudantes.
Eles são contra a PEC que impõe teto ao crescimento dos gastos públicos.
Disponível em: https://glo.bo/3sLoorz. Acesso em: 10 dez. 2020.
Texto II:
Estudantes invadem escolas públicas em várias cidades
Manifestantes protestam contra a PEC 241, que impõe um teto para os gastos públicos e
deve ser votada nesta segunda-feira na Câmara dos deputados.
Disponível em: https://bit.ly/3dhFcj6. Acesso em: 10 dez. 2020.
91
FIXANDO O CONTEÚDO
a) oposição;
b) retificação;
c) acréscimo;
d) concessão;
e) explicação.
2. “Comunicar é também agir num sentido mais amplo”; com esta frase inicial do
segundo parágrafo, o autor do texto:
Comunicar é também agir num sentido mais amplo. Quando um enunciador reproduz em
seu discurso elementos da formação discursiva dominante, de certa forma, contribui para
reforçar as estruturas de dominação. Se se vale de outras formações discursivas, ajuda a
colocar em xeque as estruturas sociais. No entanto, pode-se estar em oposição às
estruturas econômico-sociais de uma maneira reacionária, em que se sonha fazer voltar
um mundo que não mais existe, ou de uma maneira progressista, em que se deseja criar
um mundo novo. Sem pretender que o discurso possa transformar o mundo, pode-se dizer
que a linguagem pode ser instrumento de libertação ou de opressão, de mudança ou de
conservação.
92
c) corrige o emprego do verbo “agir”, utilizado no primeiro parágrafo;
d) quer mostrar que “comunicar” e “agir” são ações equivalentes
e) mostra certa ironia diante da ação humana de comunicar algo.
A tirinha denota a postura assumida por seu produtor frente ao uso social da tec-
nologia para fins de interação e de informação. Tal posicionamento é expresso,
de forma argumentativa, por meio de uma atitude:
a) crítica, expressa pelas ironias.
b) resignada, expressa pelas enumerações.
c) indignada, expressa pelos discursos diretos.
d) agressiva, expressa por contra-argumentos.
e) alienada, expressa pela negação da realidade.
93
(O tempo... O amor tem mil inimigos, mas o pior deles é o tempo. Este ataca em silêncio.
Ele usa armas químicas.)
Com o tempo, Norberto passou a tratar a mulher por “Ela”.
– Ela odeia o Charles Bronson.
– Ah, não gosto mesmo.
Deve-se dizer que o Norberto, a esta altura, embora a chamasse de Ela, ainda usava um
vago gesto de mão para indicá-la. Pior foi quando passou a dizer “essa aí” e apontar com
o queixo.
– Essa aí...
E apontava com o queixo, até curvando a boca com um certo desdém.
(O tempo, o tempo captura o amor e não o mata na hora. Vai tirando uma asa, depois a
outra...)
Hoje, quando quer contar alguma coisa da mulher, o Norberto nem olha na sua direção.
Faz um meneio de lado com a cabeça e diz:
– Aquilo...
Luís Fernando Veríssimo
5. No texto de Luís Fernando Veríssimo, fica evidente o quanto a escolha das palavras
e importante para gerar o efeito de sentido pretendido. A esse respeito, marque a
resposta que melhor define a organização textual:
94
d) A seleção lexical na crônica nada tem a ver com a relação do casal, trata-se
apenas de palavras aleatórias.
e) Os apelidos utilizados pelos personagens do texto denotam amizade e
companheirismo entre eles.
O ouro do século 21
Cério, gadolínio, lutécio, promécio e érbio; sumário, térbio e disprósio; hólmio, túlio e itérbio.
Essa lista de nomes esquisitos e pouco conhecidos pode parecer a escalação de um time
de futebol, que ainda teria no banco de reservas lantânio, neodímio, praseodímio, európio,
escândio e ítrio. Mas esses 17 metais, chamados de terras-raras, fazem parte da vida de
quase todos os humanos do planeta. Chamados por muitos de “ouro do século 21”,
“elementos do futuro” ou “vitaminas da indústria”, eles estão nos materiais usados na
fabricação de lâmpadas, telas de computadores, tablets e celulares, motores de carros
elétricos, baterias e até turbinas eólicas. Apesar de tantas aplicações, o Brasil, dono da
segunda maior reserva do mundo desses metais, parou de extraí-los e usá-los em 2002.
Agora, volta a pensar em retomar sua exploração.
95
I. A resenha é a síntese de uma obra, que além do resumo, deve vir acompanha-
da de uma posição crítica por parte do resenhista.
II. Para elaborar uma resenha é necessário que o resenhista tenha capacidade
de síntese, seja objetivo, tenha domínio do assunto tratado na obra e saiba
argumentar e fundamentar as suas críticas.
III. A resenha consiste na leitura, resumo, na crítica e na formulação de um concei-
to de valor da obra feitos pelo resenhista.
IV. A resenha apresenta os resultados de uma pesquisa original, inédita e criativa,
contribuindo para a divulgação do conhecimento científico.
a) I, II, III e IV
b) II e IV apenas
c) I e II apenas
d) II e III apenas
e) III e IV apenas
Os gêneros textuais podem ser caracterizados, dentre outros fatores, por seus
objetivos. Esse fragmento é um:
96
b) resumo, pois promove o contato rápido do leitor com uma informação desco-
nhecida.
c) Uma notícia, pois objetiva relatar um fato atual.
d) instrução, pois ensina algo por meio de explicações
e) resenha, pois apresenta uma produção intelectual deforma crítica.
97
LINGUÍSTICA APLICADA À UNIDADE
CONCEPÇÃO
7.1 INTRODUÇÃO
07
Nas falas sobre o texto é comum relacioná-lo à tecitura, pois assim como a
tecelã alinha fio a fio até dar forma ao tecido, tecemos sons e grafias, cosemos letras
que formam palavras, estas que costuram períodos e parágrafos que estruturam
diferentes tipos e gêneros textuais em variados tamanhos e com diferentes usos e
aplicabilidades. Assim, o texto ou a escrita consciente de um texto não tem relação
com extensão, mas sim especial vínculo com a intenção.
Ou seja, ao escrever ou propor alguém a escrever ou falar, produzir um
pensamento sobre algo, por exemplo, uma das perguntas que devemos fazer é: qual
o meu ou o seu objetivo ao produzir um texto? O que me ou te motiva a falar de
algo? Por que um dado tema me ou te motiva a escrever sobre ele? O mesmo
acontece com o receptor, isto é, o leitor que se dispõe a se emaranhar nos fios das
linhas e entrelinhas textuais, que afeta e é afetado pelo tecido de significações.
Por sua vez, esse entrelaçamento de formas, pensamentos, ideias, sentidos e
sensibilidades está sob uma base, um padrão que ordena, estrutura e organiza a
linguagem. Esse alicerce equivale a “qualquer meio sistemático de comunicar ideias
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc.”
(HOUAISS, 2009). Portanto, neste capítulo tratamos, de forma breve, a relação entre
língua, textos e a noção de sistema; os textos multissemióticos e a BNCC; o dialogismo
pela ótica de seu criador Mikhail Bakhtin.
Bakhtin foi um filósofo russo que desenvolveu uma das teorias sobre o texto que
ainda direciona grande parte dos estudos sobre os gêneros e sequências ou tipos
textuais. Concepções básicas sobre enunciado, gêneros discursivos, primários e
secundários, e objeto do discurso são alguns dos termos bakhtinianos que também
listamos com o objetivo que se compreenda o significado de tais colocações
corriqueiramente citadas nos estudos linguísticos.
Além disso, diferenciamos a Linguística da Linguística Aplicada que, embora
englobem a mesma área de conhecimento, possuem finalidades que a diferenciam
98
entre si. Igualmente, foram conceituadas as noções de sujeito, situação
comunicativa e posição sócio-histórica, conceitos relevantes na abordagem
dialógica do texto, gêneros e suas tipologias.
99
processo de interação entre os interlocutores. Desse modo, Barbosa e Rojo (2015)
tratam de características básicas em torno do conceito do gênero do discurso
proposto por Mikhail Bakhtin, que é marcado pela heterogeneidade, visto a sua
riqueza e diversidade, uma vez que é uma maneira de expressão da atividade
humana.
De maneira que os gêneros discursivos podem se apresentar sob diferentes
formas (oral, escrita, impressa ou digital). Para tanto, vejamos, abaixo (Quadro 1), um
resumo dos principais conceitos do filósofo russo que forneceu uma importante
contribuição para o letramento escolar com foco no ensino do texto por meio do
discurso.
100
com as pessoas ao nosso redor.
101
vii. É papel do falante de uma dada língua ser compreendido ao se
comunicar – e não necessariamente explicar seu funcionamento, sendo
esta função a de um especialista em língua, papel que exerce um
linguista, por exemplo.
viii. É importante que o cidadão tenha consciência gramatical da língua.
ix. Deve-se evitar, como finalidade pedagógica, a descrição.
x. Igualmente, deve-se evitar que o ensino de língua seja feito de forma
isolada da situação de uso.
xi. Logo, é preciso também evitar realizar recortes linguísticos como se o
sistema da língua fosse autossuficiente, isto é, descontextualizado
xii. Assim como se deve inibir a prescrição de produção textual com
características estáticas, ou seja, invariáveis, uma vez que os tipos e
gêneros textuais não possuem estruturas rígidas, embora seja possível
identificar padrões em suas construções no uso cotidiano.
102
Tal teoria é relevante porque se baseia na semiótica de Peirce o conceito de textos
multissemióticos ou multimodais, noções relevantes na compreensão em torno da leitura
e produção de textos múltiplos, característica que se intensifica na contemporaneidade
do presente século XXI. Para tanto, compreenda as especificidades desses modos de
composição textual também a partir da videoaula explicativa disponível no Canal da
Linguagem, no Youtube, disponível na URL a seguir: https://bit.ly/3HkNynx. Acesso em: 25
out. 2021.
103
iii. A posição sócio-histórica a qual os sujeitos pertencem (uma vez que as os
aspectos sociais e históricos influenciam no processo de interação da
linguagem).
104
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Mikhail Bakhtin foi um estudioso russo que pensou a linguagem do ponto de vista
do processo dialógico. Segundo o Houaiss (2009), um dos significados para o termo
“diálogo” é: “fala em que há a interação entre dois ou mais indivíduos”. Nesse
sentido, indique a alternativa, abaixo, correspondente ao resumo de artigo
científico que melhor se encaixa na noção dialógica da linguagem:
a) Este artigo expõe resultados de pesquisa cujo objetivo geral foi entender o que
representava para a aquisição da escrita o aparecimento de segmentações não
convencionais, resultantes de combinações entre separações e junções não
previstas de palavras, em enunciados escritos por crianças (CAPRISTANO, 2021).
b) [...] Analisa-se uma sessão de grupo socioeducativo para homens autores de
violência contra a mulher, ilustrando a disputa discursiva sobre o recorte
constituinte do tema do gênero (FERRETTI, 2021).
c) Selecionamos cinco livros didáticos e observamos como eles apresentam os
seguintes temas: pronomes oblíquos, pronomes demonstrativos, pronomes pessoais
retos, pronúncia do verbo estar e preposição para. Observou-se que a maioria dos
materiais adota a norma padrão como parâmetro para os conteúdos (HUBACK,
2021).
d) A abordagem empregada consiste em uma análise de prática tradutológica de
Rothenberg, a partir da leitura de ensaios críticos de sua autoria e de traduções
realizadas por ele, identificando e contextualizando impasses teóricos que
enfrentou (DIAS, 2021).
e) Este trabalho propõe-se a analisar a obra Hibisco Roxo (2011), de Chimamanda
Ngozie Adichie - romance permeado por tensões de raça e de gênero,
provocadas pelo imperialismo inglês na Nigéria, sob o prisma dos conflitos políticos
e socioculturais ambientados no capitalismo. (CERQUEIRA; BITTENCOURT, 2021).
105
a) É um processo de interação social que parte apenas de um indivíduo falante de
uma dada língua.
b) Independe do processo de interação entre os indivíduos.
c) Não é relevante da produção de discursos.
d) É a real unidade da comunicação discursiva.
e) É uma unidade própria das normas gramaticais.
4. Segundo Noble, Simões e Medeiros (2017), a linguística pode ser entendida sob
diferentes óticas, ou seja, distintas concepções que norteiam a língua e a
linguagem como ciência. O estruturalismo foca na língua e na estrutura; o
gerativismo, na linguagem e mente; o funcionalismo, na língua e função. Logo,
seguindo a mesma lógica, é possível afirmar que o dialogismo estuda:
106
a) Discursos e interações entre sujeitos.
b) Prática e semiótica.
c) Situações e normas.
d) Multimodalidade e gramática.
e) Signos e multissemioses.
a) Multimodal.
b) Chamativo.
c) Representativo.
d) Figurativo.
e) Ilustrativo.
107
d) Metáfrase e paráfrase: modalidades da apropriação do discurso de outrem na
escrita acadêmica (DAUNAY, 2020).
e) Sobre a noção de três espaços no cinema (BORGES, 2019).
108
8. Todo e qualquer estudo científico possui um objeto de análise. Enquanto área da
ciência da linguagem, o estudo linguístico dialógico visa o objeto do discurso.
Sendo assim, marque a alternativa que melhor define o objeto de investigação da
Linguística Aplicada, segundo Pereira e Roca (2021):
a) Outro periódico, citado por Kaplan (1985, p. 4), é o Annual Review of Applied
Linguistics, que, naquela época, apresentava um amplo escopo de interesse,
incluindo seções sobre “pidginização e criolização, ensino de língua mediado por
computador, língua dos sinais, política linguística, linguagem-naeducação,
letramento, e um número de outras áreas. (PEREIRA; ROCA, 2021, p. 32)
b) Parece haver consenso de que o objeto de investigação da LA é a linguagem
como prática social, seja no contexto de aprendizagem de língua materna ou de
outra língua, seja em qualquer outro contexto em que surjam questões relevantes
sobre o uso da linguagem. (PEREIRA; ROCA, 2021, p. 27)
c) Cavalcanti (1986, p. 50) registra que a LA “foi vista durante muito tempo como uma
tentativa de aplicação de Linguística (teórica) à prática de ensino de línguas”, ou
seja, voltada para as questões de métodos e técnicas de ensino. Essa tendência
ainda é forte na área, mas muitas outras questões emergiram dos contextos
escolares, profissionais e midiáticos. (PEREIRA; ROCA, 2021, p. 28)
d) Uma das principais contribuições da Linguística à sociedade brasileira tem sido o
alerta feito pelos especialistas em favor da equivalência entre as variedades do
português brasileiro. (PEREIRA; ROCA, 2021, p. 54)
e) Investigar a mente humana e, consequentemente, a linguagem desencarnada
(LAKOFF, 1977; MONDADA, 2002) do contexto sociocultural enfraquece os estudos
das relações entre linguagem e conhecimento. (PEREIRA; ROCA, 2021, p. 93)
109
ENSINO DE TEXTO NA UNIDADE
CONTEMPORANEIDADE
8.1 INTRODUÇÃO
08
O ensino de texto, tipos e gêneros textuais envolve entendermos seus
sistemas na tentativa de responder a questões como: qual a importância da
comunicação para os viventes? O que ou por que escrevemos? Com qual finalidade
ensinamos? Quais são as distintas formas de expressão e organização de um texto,
seja ele verbal, escrita ou oral, bem como a não verbal. Por fim, podemos pensar
como a estruturação textual colaboram na intenção ou proposta comunicativa, seja
minha ou de quem interajo. Por que trazer tantos questionamentos?
Diz-se que o verdadeiro professor é quem pergunta, pois aprende aquele que
precisa estabelecer raciocínio e estrutura argumentativos para explicar ou ensinar
algo. Logo, letrar é refletir: é preciso, tanto como professor quanto como estudante –
ou em sentido mais amplo, como cidadão ou ser vivente – aprendermos a questionar
para que a nossa relação com o outro nos ensine através da percepção e do
diálogo, essencial a qualquer letramento e convivência em sociedade.
Portanto, no presente capítulo a importância do questionamento e da revisão
textual para uma leitura e produção de texto mais consciente, noções de língua e
prática docente. Também tratamos sobre os gêneros textuais e discursivos como
objeto de ensino, texto e fatores de textualidade, tais como a substituição gramatical.
Sobre língua e diversidade, levantamos uma discussão baseada na
transformação da língua, uma vez que o dialogismo entende que o processo de
ensino e aprendizagem não é estanque, já que engloba não apenas o conteúdo e
falantes, ou melhor, seu discurso e interlocutores (sujeitos que se comunicam entre si),
mas também a situação histórica, social e discursiva desses sujeitos.
Por isso, encerramos este capítulo com uma problematização sobre o uso da
língua sob o tema da linguagem neutra em prol da diversidade, para refletimos
quando e de que modo a língua, o texto e seus sistemas são objetos de
transformação ou transformadora do estrato social e os sujeitos que nele interagem.
110
8.2 AS PERGUNTAS E A REVISÃO TEXTUAL
111
implementadas ou ajustadas, quando se passa pelo processo de revisão do texto.
Aliás, a revisão é uma importante prática que deve ser ensinada nas aulas de escrita,
já que, nesta etapa, é possível identificar não apenas falhas gramaticais e de
ortografia, como de sentido, possibilitando que se identifique e, assim, possibilite o
aperfeiçoamento do texto. Quanto maior a necessidade de melhorias no texto, mais
releituras de revisão textual é preciso empreender, até que o texto atinja a sua forma
mais satisfatória, visando o público, meios e objetivo comunicativo.
112
outros questionamentos segundo a sua
proposta didática.
113
valorizar a reflexão sobre a língua sem ignorar a capacidade cognitiva. Em outras
palavras, para Marcuschi (2008), a escola não ensina a língua em si, mas os usos dela,
assim como maneiras não triviais de comunicação, tanto no âmbito da oralidade
quanto da escrita. Logo, se o núcleo do trabalho escolar é o ensino de língua, deve-
se estar envolto da compreensão, análise e produção textual.
114
A noção de texto, pois, para dialogar com o contexto contemporâneo das
múltiplas linguagens, precisa ser entendida não do ponto de vista de apenas uma
linguagem, como normalmente é associada à verbal. É possível pensarmos o texto
como uma unidade de sentido que se forma com o objetivo de enredar ou conectar
ideias ou pensamento. De maneira que a coesão, por meio dos recursos coesivos
(Quadro 3), e a coerência protagonizam a tecitura do texto, ou a textualidade, em
outras palavras.
Por exemplo:
Por exemplo:
“O ato de escrever deve ser visto como uma atividade sociocultural. Ou,
dito de outra forma, escrevemos para alguém ler” (FARAC0, 2003, p. 8,
apud ANTUNES, 2015, p. 63).
O paralelismo é um recurso muito ligado à coordenação de segmentos
Paralelismo que apresentam valores sintáticos idênticos, o que nos leva a prever que
os elementos coordenados entre si apresentem a mesma estrutura
gramatical. Ou seja, as unidades semânticas similares deve corresponder
uma estrutura gramatical similar. É o que se chama, comumente, de
paralelismo ou simetria de construção. Por exemplo, em:
115
(ANTUNES, 2005, p. 63-64).
Pode atingir o mesmo efeito por vias diferentes: a substituição de uma
Substituição palavra por um pronome, um advérbio ou outra palavra com
equivalência semântica é um recurso coesivo essencial para a escrita
clara de um texto.
116
117
HUNTY, Rita Von. Linguagem neutra: @ELLE Brasil. Canal de Tempero Drag. Disponível em:
https://bit.ly/33WYc5t. Acesso em: 23 out. 2021.
118
FIXANDO O CONTEÚDO
Questão 2
2. Leia o resumo a seguir, de Cavalcante e Paiva (2020), com atenção às partes
destacadas:
119
direcionados ao passado no francês, inglês, holandês e espanhol. (CAVALCANTE; PAIVA,
2020, grifo nosso)
Uma outra insuficiência poderia ser vista no fato de que, além de escassas, as
oportunidades de escrita limitam-se a uma escrita com finalidade escolar apenas; ou seja,
uma escrita reduzida aos objetivos imediatos das disciplinas, sem perspectivas sociais
inspiradas nos diferentes usos da língua fora do ambiente escolar. (ANTUNES, 2005, p. 26)
120
Desse modo, Antunes demonstra estar de acordo com Marcuschi (2008), visto que
ambos os estudiosos:
a) Entendem o ensino de texto como um evento social pautado em situações do
cotidiano, de maneira que a língua deve ser ensinada de forma contextualizada
e não restrita ao sistema linguístico unicamente.
b) Concordam que o fenômeno linguístico ocorre no âmbito social, logo, a leitura e
produção de texto, no espaço escolar, devem focar as regras gramaticais.
c) Corroboram com a noção sociointeracionista da língua, por isso se baseiam na
concepção de língua como instrumento, isto é, um sistema que precisa ser
decodificado com a finalidade de transmitir uma informação.
d) Demonstram ter uma visão sociointeracionista da língua, por isso desconsideram
os aspectos históricos e discursivos no ensino de texto, sendo, pois, uma atividade
cognitiva.
e) Reafirmam a importância de se pensar o ensino de texto aliado aos processos
históricos e discursivos, situados na realidade do aluno. Isto é, a língua pensada
como forma e estrutura.
4. Leia a citação abaixo de texto de Cruz e Sousa, feita por Ernani Terra para
exemplificar a coesão por repetição:
De outros Gólgotas mais amargos subindo a montanha imensa, — vulto sombrio, tetro,
extra-humano! — a face escorrendo sangue, a boca escorrendo sangue, o peito
escorrendo sangue, as mãos escorrendo sangue, o flanco escorrendo sangue, os pés
escorrendo sangue, sangue, sangue, sangue, caminhando para tão longe, para muito
longe, ao rumo infinito das regiões melancólicas da Desilusão e da Saudade,
transfiguradamente iluminado pelo sol augural dos Destinos!.. (CRUZ E SOUSA apud TERRA,
2021, p. 609-632).
121
a) O poeta reitera o sofrimento de um personagem, Gólgotas, que está sempre
ensanguentado, “subindo a montanha imensa”.
b) O poeta descreve situações sobre-humanas que ninguém é capaz de suportar,
por isso reitera o sofrimento vivido por Gólgotas aocitar “Desilusão” e “Saudade”.
c) O poeta expressa um sofrimento de forma persistente, por meio de uma imagem
de alguém ensanguentado, que se repete exaustivamente através da reiteração
intencional da palavra “sangue”.
d) O poeta descreve partes do personagem que estariam ensanguentadas, tais
como: a face, a boca, o peito, as mãos e os pés.
e) O poeta compara o seu Destino ao de Gólgotas: passar por situações dramáticas
e violentas.
a) Considerando a diferença entre expectativas de vida por sexo nos estados, uma
recém-nascida no Estado de Santa Catarina esperaria viver em média 15,8 anos a
mais que um recém-nascido do sexo masculino no Piauí.
b) A fase adulta, aqui considerada como o intervalo de 15 a 60 anos de idade,
também foi beneficiada com o declínio dos níveis de mortalidade.
c) Entre as Unidades da Federação, a menor taxa de mortalidade infantil em 2018 foi
encontrada no Espírito Santo, 8,1 óbitos para cada mil nascidos vivos. A maior
ocorreu no Amapá, 22,8 por mil.
d) Em 1980, de cada mil pessoas que chegavam aos 60 anos, 344 atingiam os 80 anos
de idade. Em 2018, este valor passou para 599 indivíduos.
e) Com o declínio da mortalidade nesse período, um mesmo indivíduo de 50 anos,
em 2018, teria uma expectativa de vida de 30,7 anos, esperando viver em média
até 80,7 anos, ou seja, 11,6 anos a mais do que um indivíduo da mesma idade em
1940.
122
6. O paralelismo busca realizar a coordenação sintática de uma frase, conforme é
possível perceber nas partes destacadas no exemplo a seguir, em que tanto
“chegar” como “trazer” estão na segunda pessoa do singular do subjuntivo
presente: “É conveniente que chegues a tempo e que tragas o relatório pronto”
(ANTUNES, 2005, 64). Nesse sentido, é correto afirma, parafraseando Antunes, que:
Questão 7
7. Leia o fragmento inicial do conto “O gigante” (2020a), de Ruth Guimarães: “Era
uma vez um homem tão forte e tão grande, da terra longínqua dos gigantes, que
poderia sem esforço pôr o mundo nas costas e sair trotando”. Antunes (2005)
enumera algumas formas de substituição como recurso coesivo de reiteração: a
gramatical, a lexical (por sinônimo, hiperônimo e caracterizadores situacionais) e
a retomada por elipse. Nesse sentido, o recurso coesivo utilizado no exemplo
acima corresponde à:
a) Substituição gramatical do termo “um homem” por “terra longínqua dos gigantes”.
123
b) Substituição da unidade lexical do termo “um homem” por “terra longínqua dos
gigantes”.
c) Substituição da unidade lexical do termo “um homem” por “o mundo nas costas”.
d) Retomada por elipse do termo “um homem” e da substituição gramatical para o
termo “ele”: “Era uma vez um homem tão forte e tão grande, da terra longínqua
dos gigantes, que [ele] poderia sem esforço pôr o mundo nas costas e sair
trotando.”
e) Retomada por elipse do termo “um homem”: “Era uma vez um homem tão forte e
tão grande, da terra longínqua dos gigantes, que [um homem] poderia sem
esforço pôr o mundo nas costas e sair trotando.”
É a substituição dos artigos feminino e masculino por um "x", "e" ou até pela "@" em alguns
casos. Assim, "amigo" ou "amiga" virariam "amigue" ou "amigx". As palavras "todos" ou
"todas" seriam trocadas, da mesma forma, por "todes", "todxs" ou "tod@s". A mudança,
como é popular principalmente na internet, ainda não tem um modelo definido (SANTOS,
2021b, online).
A língua pode ser pensada tanto como um sistema de regras rígidas e inflexíveis
quanto do ponto de vista da adequação ao contexto de uso. Nesse sentido, é
possível afirmar que:
124
e) O fragmento aborda o conceito da linguagem neutra por meio do uso de
pronomes pessoais binários (“Elxs” ou “El@s”, por exemplo) que visam diversificar a
noção de gênero na Língua Portuguesa.
125
O LETRAMENTO COMO REFLEXÃO UNIDADE
9.1 INTRODUÇÃO
09
Na relação dialógica da linguagem, os diferentes contextos sociais e modos
de interação humana requerem diversos grupos discursivos, sejam eles primários ou
secundários, que se imbricam e se multiplicam no processo de comunicação
humana. Nesse sentido, Bazerman entende que “cada texto se encontra encaixado
em atividades sociais estruturadas e depende de textos anteriores que influenciam a
atividade e a organização social” (BAZERMAN, 2005, p. 22, apud, BARBOSA, ROJO,
2015, p. 19). Isto é, um texto puxa outro texto e depende de cada contexto e objetivo
de comunicação.
Neste capítulo buscaremos refletir sobre o letramento como um processo
crítico e interativo, isto é, de reflexão e contato com o outro. Portanto, abordados o
diálogo no método socrático como um recurso de exercício do pensamento crítico.
Diferenciamos práticas e processo de letramento, padrões de alfabetização e
escolarização. Pontuamos as especificidades da oralidade, fala e escrita. A
aprendizagem de adultos e o ensino de texto no ambiente virtual. Além da
importância do planejamento para uma abordagem mais consciente, por meio da
roteirização do material didático.
3.1 Letrar é refletir
De uso não tão comum, o verbo “letrar” se refere à aquisição de
conhecimentos literários, isto é, das letras. Tanto no sentido de fazer alguém adquirir
um saber quanto da nossa aquisição própria. Por isso, letrar é uma incorporação
funcional que também significa “fazer passar ou passar pelo processo de letramento”
(HOAUISS, 2009), por meio de um exame ou estudo em torno de um determinado
texto. Logo, produzir ou interagir com textos é dialogar com discursos. Ou seja, são
formas ideológicas ou estruturas de pensamentos que se sustentam nos grupos
sociais, estes que são as diferentes formas de associação que integramos (família,
escola, amigos, vizinhos, classe alta, média ou baixa, negros, LGBTQIA+, indígenas
etc) que estabelecemos no âmbito social.
Nesses espaços socais empregamos, criamos ou recriamos textos específicos
126
para esses ambientes. Em outras palavras, adequamos a nossa fala de acordo com
a situação. Em geral, comunicamos de formas distintas no âmbito público e privado.
Estabelecemos estilos distintos de comunicação de acordo com a pessoa ou grupo
a quem nos comunicamos. Há contextos em que algumas formas de tratamento, por
exemplo, já são social e historicamente marcadas. Talvez você já tenha aprendido
sobre os pronomes de tratamento em algum momento da vida. Qual pronome de
tratamento se deve usar para os cardeais, por exemplo? Se você não sabe ou não
lembra, isso não é um problema. Apenas significa que essa informação não é
necessária ou requisitada em seu contexto de vida. Afinal, quantas vezes você
trabalhou ou se comunicou com um cardeal? Poucas pessoas passam por tal
necessidade comunicativa. Por isso que no processo de ensino-aprendizagem
devemos considerar a situação em que aquele texto será empregado. Por quê? A
resposta é simples: deve-se fazer sentido, já que para adquirir conhecimento é
preciso que estejamos abertos para isso.
Contudo, a tendência é que só estejamos disponíveis a algum aprendizado se
tiver sentido para a nossa realidade. É provável que você já tenha se perguntado,
especialmente no ambiente escolar ou acadêmico, a utilidade de aquisição de um
dado saber. Quanto mais perdemos o sentido ou razão em aprender algo, menor a
fluidez e maiores são as chances de decepção ou arrependimentos. Por outro lado,
se diante dessa perda de sentido passamos a nos questionar, isto é, a refletir uma
dada situação ou pensamento, aumenta-se a possibilidade de gerarmos motivação
para mudar uma determinada realidade ou determinado pensamento.
Você já parou para pensar nos diferentes tipos e formas de discurso que
produzimos ou recorremos para fazer valer a relação dialógica, ou seja, o processo
de interação social? Por exemplo, vamos pensar:
I. Nas redes sociais virtuais, costumamos usar mais o texto verbal escrito ou o
falado? Mais o texto verbal, visual ou ambos? Nelas, os textos ou as linguagens
são estáticas ou animadas?
II. Ao compartilharmos uma postagem com alguém, seja na forma privada (via
mensageiro, por exemplo) ou pública (via story, por exemplo, no Instagram), é
certo afirmar que geramos novos textos? Isto é, novos gêneros discursivos?
III. Quais outros processos de interação humana você pode citar, além das redes
socais virtuais, em que costumamos participar e quais outros gêneros textuais
e discursivos ou linguagens podemos recorrer para fazer valer o processo de
127
comunicação dialógico entre os interlocutores?
Se você tentou responder a essas perguntas, provavelmente percebeu que as
respostas implicam que o sistema linguístico forma sistema de textos que podem ser
usados de maneira consciente ou não, mas que envolve uma intenção e uma
conexão de ideias. Mas o que você entende por sistema? Língua, linguagem e
construções textuais se valem de um padrão, de uma organização lógica, de normas
ou leis que classificam e ordenam pensamentos com uma finalidade discursiva. Por
isso, para termos conhecimento de nossas propostas ou intenções comunicativas, é
preciso aprendermos a indagá-las.
128
Quadro 4: Diferenciação de conceitos no letramento
Termo Descrição
Práticas É um processo histórico e social que não se confunde com a realidade
de representada pela alfabetização regular e institucionalizada.
letramento
Mesmo os analfabetos são alvos dessas práticas de letramento.
129
9.3 LETRAMENTO COMO PRÁTICA SOCIAL
130
Fala e escrita: modalidades de uso da língua.
Prática Caracterização
social
Oralidade Compreende uma prática social interativa para fins comunicativos.
Por outro lado, a escrita não é tida como uma representação da fala. Hoje em
dia, com a popularização de variadas formas de comunicação, nota-se que a
oralidade se mescla com a escrita, havendo a composição de um texto misto. Desse
modo, qualidades que eram associadas à fala também se fazem presentes na
131
escrita, como a simultaneidade temporal (Marcuschi, 2010) dos mensageiros das
redes sociais ou das salas de bate-papo.
Contudo, Marcuschi (2008) observa que os textos escolares tendem a ignorar
a complexidade do que é produzido pelos discentes no âmbito da oralidade, à
medida que os alunos ingressam no ambiente escolar falando, ou seja, exercendo
certo domínio sobre a língua. Com isso, é importante rever mitos e ideias
preconcebidas que hierarquizam fala e escrita, texto escrito e falado, adquirindo
uma postura mais adequada a situações de uso, à oralidade e à variação linguística.
132
social foram implementados criaram uma nova dinâmica nas relações humanas. Em
que, muitas vezes, o nosso próprio lar passou a dividir o papel de espaço familiar com
o de estudo e trabalho.
Nessa nova configuração, borram-se ainda mais as fronteiras entre nossas
funções sociais e o quanto nos dedicamos a elas e respeitamos, ou não, os limites –
nossos e alheios – entre o público e o privado, entre o profissional e o familiar. De
maneira que, estudantes e professores, por exemplo, voltando-nos à educação, nem
sempre familiarizados as tecnologias da informação ou sequer com acesso a tais
ferramentas, se viram impulsionados a novas formas de pensar, manusear e
compreender não apenas a comunicação, como o processo educacional a
distância. Evidenciando, assim, que o acesso à internet e a eletrônicos digitais é um
recurso de necessidade básica na sociedade atual (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO,
2021).
133
134
FIXANDO O CONTEÚDO
a) [...] não se pode pensar num povo capaz de exercer a cidadania plena, quando
a maioria esmagadora das pessoas é incapaz de compreender criticamente os
textos que circulam na sociedade [...] (p. 273)
b) [...] as políticas públicas de educação falharam em seu alvo principal, a inclusão
das pessoas na sociedade da informação como cidadãos. (p. 273)
c) Ora, não existe consciência fonológica da linguagem. Existe uma consciência
fonológica, que é o conhecimento consciente que se tem sobre os fonemas (mais
precisamente denominada consciência fonêmica) [...].
d) [...] é necessário pontuar que a maior exclusão, hoje, é aquela que nega ao
indivíduo o acesso ao conhecimento (p. 274)
135
e) Na seção ‘O processo de alfabetização’ da versão final da BNCC (BRASIL/MEC,
2017), observam-se falhas essenciais que comprometem a definição dessa
aprendizagem da qual dependem as demais. (p. 274)
3. A oralidade é uma prática social que ocorre por meio da interação entre dois ou
mais falantes interlocutores, por isso é uma proposta comunicativa própria do ser
humano. Sabe-se, segundo Ong (1982, apud Marcuschi, 2010) que há sociedades
completamente orais ou com oralidade secundária. Nesse sentido, o Brasil
compreende uma oralidade secundária, pois:
5. A fala é uma forma de produção de texto e discurso que tem como finalidade
comunicar algo. Por se tratar de um recurso próprio da oralidade, é correto afirmar
136
que:
6. Assim como a fala, a escrita é uma forma de produção textual de ordem discursiva
e também tem objetivo comunicativo entre dois ou mais interlocutores. Por sua vez,
as características que a definem são:
137
d) Oralidade e letramento são práticas sociais distintas.
e) Fala e escrita não considera o uso da língua na prática.
138
SEQUÊNCIA OU TIPOS TEXTUAIS UNIDADE
10.1 INTRODUÇÃO
10
Neste capítulo, compreenderemos a teoria dos gêneros por Mikhail Bakhtin, e
as sequências textuais: narrativa, descritiva, expositiva, dissertativa-argumentativa e
injuntiva. Entenderemos os conceitos propostos por Bakhtin, através de Barbosa e
Rojo (2015), a exemplo dos gêneros do discurso, texto e enunciado, bem como as
sequências discursivas e suas especificidades, acompanhadas de exemplos com o
intuito de facilitar a compreensão sobre o tema.
Vejamos, a seguir, uma abordagem mais detalhada sobre como os discursos
podem ser organizados em sequências com estruturas próprias: narrativa, descritiva,
dissertativa-argumentativa, expositiva e injuntiva, de acordo com a finalidade. É
importante pontuar que um mesmo texto pode conter mais de uma sequência, visto
que a interação comunicativa é intrinsecamente heterogênea e de dinâmica fluida.
Bem (2013) cita o importante papel da narrativa, verbal escrita ou oral, para a
preservação e reconstrução da memória, de maneira que o registro do texto
narrativo se faz presente nos documentos perpetuados pelas civilizações da
antiguidade. De tal modo que Bruner (1991) entende que nós, seres humanos
viventes, tendemos a organizar experiências e registros de acontecimentos
especialmente na estrutura narrativa. Assim, essa estrutura, para o psicólogo, é uma
forma convencional que é transmitida de modo cultural e se vale da verossimilhança.
A narrativa é, pois, a “versão de realidade cuja aceitabilidade é governada apenas
por convenção e por ‘necessidade narrativa’”, segundo Bruner. Tradicionalmente, as
narrativas são estruturadas em personagens, narrador, enredo, tempo e espaço,
conforme bem descreve Pacífico (2010).
139
Personagens
O personagem principal é o protagonista (seja uma pessoa, animal, coisa
etc.), isto é, em torno do qual a trama se constrói. Por outro lado, o
antagonista se concretiza por uma pessoa, ação ou situação que impõe
um obstáculo ao protagonista, gerando tensão no desenrolar da
narrativa.
Narrador É quem narra a história (não é o mesmo que a autoria, ou seja, quem
escreve a história).
140
Já o espaço interior compreende o nível íntimo dos personagens, através
de suas memórias, nas quais ocorrem os pensamentos e sentimentos.
141
contido são descritos pelo narrador no conto Duas irmãs, de Cristina Agostinho, em
que os adjetivos aparecem com a finalidade de caracterizar os substantivos, ao
passo que as ações são indicadas pelo verbo que situa a narrativa no momento
presente:
As duas estavam sentadas nas poltronas da pequena sala, com mantas nas
pernas, diante da lareira. A mais velha fazia a barra de crochê de uma toalha, o gato
ronronando a seus pés. Sem conseguir se concentrar na leitura do livro, a mais nova
observou o crepitar da madeira, o bailado das chamas, o bule de chá sob o delicado
abafador de tricô, os sequilhos na cestinha de vime, o vaso de flores no aparador.
(AGOSTINHO, 2020, p. 29)
Assim, o texto acima, ao atender à organização descritiva, não estabelece
vínculo com a noção diacrônica do tempo, isto é, não compreende a progressão
temporal, própria do texto narrativo. Em outras palavras, não se volta a um passado
ou nem visa criar um futuro, mas apenas descreve os objetos, pessoas e espaços. Por
isso, Fiorin e Platão (2007) observam que o tipo textual descrito, ao contrário do
narrativo, não busca relatar um acontecimento, mas sim volta às especificidades e
aspectos que configuram o que está sendo representado: cor, forma, dimensão etc.,
ou características positivas ou negativas, em outras palavras, como se compõe
alguém ou alguma coisa.
142
ensino básico. Segundo o Houaiss (2009), o verbo dissertar significa expor um assunto
de forma sistemática (isto é, há uma organização interna), abrangente (ao passo que
trata de um determinado tema de forma ampliada) e profunda (uma vez que é
necessário conhecer diferentes olhares sobre um tema). Nesse caso, a estrutura
canônica da dissertação escolar compreende, segundo Travaglia (2009): tese inicial,
introdução, argumentação ou refutação, desenvolvimento e conclusão.
Por sua vez, Koch e Elias (2009) entendem que as sequências argumentativas
stricto sensu se caracterizam pela ordenação “ideológica de argumentos e/ou
contra-argumentos” (KOCH; ELIAS, 2009, p. 72). Para tanto, são empregados
elementos que modalizam o discurso, ou seja, a opinião e argumentação
apresentadas no texto. A modalização assertiva (realmente, evidentemente, sem
dúvida etc) e a subjetiva e intersubjetiva (felizmente ou infelizmente, estranhamente,
sinceramente) são alguns dos exemplos de recursos modalizadores que evidenciam
a opinião na sequência argumentativa.
Argumentar, pois, compreende “apresentar fatos, ideias, razões lógicas,
provas etc.” (HOUAISS, 2009) com a finalidade de comprovar uma afirmação ou tese
em torno de um tema. Dessa maneira, no ensino superior, esse tipo de texto ganha
uma melhor definição e objetivos, sendo solicitado na forma de TCC (Trabalho de
Conclusão de Curso), por exemplo. Logo, a sequência dissertativa-argumentativa
une a exposição ordenada de um tema e a apresentação de fatos ou pensamentos
com o intuito de comprovação e/ou posicionamento em relação à ideia
apresentada no texto.
143
Para que o aprendizado de produção textual se faça de maneira mais consciente
quanto às especificidades de cada tipo e gênero textual, é necessário que o docente
abandone propostas textuais do tipo “Escreva sobre as suas férias”, isto é,
descontextualizadas da realidade dos discentes (não situadas em um fato social), sem
objetivo comunicativo (ou seja, sem uma delimitação do que se quer alcançar ao se
propor a produção do texto) e sequer com uma projeção de receptor (isto é, para quem
se escreve o texto).
Portanto, para tornar a produção escrita mais consciente tanto para o educador quanto
para o estudante, é importante que ambos se façam as seguintes perguntas norteadoras:
v. Qual é o possível interlocutor do texto (ou seja, a quem se dirigirá o texto, mesmo
que hipoteticamente)?
vi. Em que meios (jornal, revista, site, redes sociais etc.) será publicado?
144
detalhadamente como, nos projetos supostamente voltados à
sustentabilidade indígena, equaciona-se todo o sistema de produção,
distribuição e consumo, considerando a importância e o valor
atribuído pelos grupos indígenas à lógica da troca, ao dar e receber.
(GALLOIS, 2005, p. 01)
Segundo foi percebido nos exemplos acima, Silva (2012) reforça que o texto
que se caracteriza como expositivo visa apresentar um conceito, informação ou
conteúdo, bem como “explicar uma matéria, informar sobre um tema, descrever um
problema, comparar diferentes pontos de vista” (SILVA, 2012, p. 15-16), tendo, pois,
como proposta, realizar uma análise de um dado objeto ou situação, ou construir
uma argumentação, seja ela favorável ou contrária a uma dada hipótese ou teoria.
145
o verbo prescreve orientações como “mostre” e “não saia”, também empregando o
imperativo:
146
147
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Há textos que são caracterizados pelo ato de transmitir uma ordem, orientação,
prescrição, recomendação ou aconselhamento sobre algo. As placas de trânsito,
por exemplo, são exemplos não verbais desse tipo de texto. Sendo assim, a
sequência discursiva que se adequa a tal definição e gênero textual é:
a) A sequência descritiva.
b) A sequência dissertativo-argumentativa.
c) A sequência narrativa.
d) A sequência injuntiva.
e) A sequência expositiva.
a) Dissertativa-argumentativa.
b) Assertiva.
c) Injuntiva.
d) Expositiva.
e) Opinativa.
3. O narrador faz parte da sequência narrativa e tem como função indicar o foco
narrativo de uma história. Dentre as suas qualidades, pode ser classificado em
diferentes tipos, como onisciente ou observador, por exemplo. Sendo assim, a
explicação que melhor se aplica a esse recurso narrativo corresponde à
alternativa:
148
b) O narrador equivale à autoria do texto. Assim, o narrador representa histórias da
vida real do autor.
c) O narrador equivale ao autor do texto. Assim, há situações em que o narrador (o
autor) conta histórias ficcionais sobre a própria vida, mas também de fatos reais.
d) Onisciente significa saber absoluto. Logo, esse tipo de narrador não interfere na
narrativa, sendo apenas um observador dos fatos.
e) Onisciente significa saber absoluto. Por isso, está presente em todos os lugares.
Logo, tende a conhecer fato e detalhes em relação à trama.
149
a) Esse não é o melhor mês para agir bem louca. Apenas observe. Não precisa fazer
nada muito radical, nem se cobrar tanto nem tomar atitudes precipitadas.
(BRONA, 2021)
b) As palestras que se sucederam neste Seminário mostraram a imensa dificuldade
de as políticas públicas contribuírem para a sustentabilidade dos modos de vida
indígenas. (GALLOIS, 2005, p. 2)
c) Era uma vez um homem muito pobre, que tinha uma boa plantação de melancias
na beira do rio. Porém, quando estavam as pesadas frutas maduras e, ao calor,
via-se o coração vermelhando, ele não conseguia colher uma só que fosse.
(GUIMARÃES, 2020b)
d) Na dúvida, selecionara alguns livros para reler na quarentena. Sobre a brevidade
da vida, de Sêneca, Saber envelhecer, de Cícero, Meditações, de Marco Aurélio,
e os Ensaios, de Montaigne. Estoicismo e humanismo poderiam ser eficazes para
produzir anticorpos emocionais. (AGOSTINHO, 2020)
e) Neste artigo, descrevemos as propriedades de sentenças do português brasileiro,
formadas a partir do subjuntivo pretérito em contexto matriz, sem elementos
licenciadores. (CAVALCANTE; PAIVA, 2020)
150
dada opinião e argumentação apresentadas no texto. Sendo assim, selecione a
alternativa que realiza a modalização do discurso:
a) Mas ... falta coesão exatamente onde? Falta que tipo de recurso? Se um texto não
tem coesão é porque lhe está faltando o quê? (ANTUNES, 2005, p. 16)
b) A palavra crônica é de origem latina, Chronica, e objetiva relatar um ou mais
acontecimentos do cotidiano em tempo determinado e determinado tempo,
possui um número reduzido de personagens, ou mesmo nenhum, e seu tom é
costumeiramente irônico, reflexivo, humorístico, lírico, crítico e/ou informativo.
(ARAÚJO; BARBOSA, 2013, p. 330)
c) [...] a escrita elaborada não é um bem cultural para o jovem contemporâneo. A
geração passada, no entanto, demonstrava um zelo e até um amor pela escrita.
Esmerava-se no caderno de caligrafia, para que a letra ficasse bonita. Hoje,
infelizmente, o apuro e a precisão estão ultrapassados. (BARBOSA et al., 2008, p. 8)
d) Texto ou discurso? surge de necessidades cotidianas, constantemente reiteradas
na multiplicidade de atividades acadêmicas, de pesquisa e de ensino-
aprendizagem, implicadas nos estudos da linguagem. (BRAIT; SILVA, 2012, p. 9)
e) Para expressar o dinamismo dos acontecimentos, é comum apelar-se à analogia
com um rio, com a indicação da renovação constante de seu fluxo como fator
que faz com que “muita água role por debaixo de uma ponte” e defina, portanto,
um “estado de movimento contínuo”. (CARVALHO et al., 2009, p. 11)
a) Foram para a cidade, num domingo, para se casar. Juntou gente para ver a
moça, tão linda, com seus cabelos verdes e olhos de água verde — tão linda!
(GUIMARÃES, 2020b, p. 29)
b) Zão, zão, zão, zão, / calunga, / olha o mungueledô, / calunga, / minha gente toda,
/ calunga, / vamos embora, / calunga. (GUIMARÃES, 2020b, p. 30)
151
c) Muitas vezes, o que era pra nos ajudar a nos fazer sentir melhor acaba piorando
tudo, trazendo mais ansiedade e novas neuras (BRONA, 2020).
d) Sem uma mudança sistemática, qualquer terapia individual é mero paliativo, o
que pode ser bem lucrativo para o capitalismo do bem-estar (BRONA, 2020).
e) Na literatura linguística, a existência de imperativos pretéritos é um tema pouco
explorado. Ainda assim, é possível encontrar várias posturas distintas sobre o tema.
(CAVALCANTE; PAIVA, 2020).
152
OS GÊNEROS TEXTUAIS UNIDADE
11.1 INTRODUÇÃO
11
No capítulo anterior, vimos como os discursos se organizam em sequências
textuais e que, usualmente, elas são classificadas em cinco categorias, conforme a
sua proposta comunicativa e organização do texto:
i. Narrativa: conta uma dada história, seja real ou fictícia.
ii. Descritiva: pontua as características, podendo ser de um lugar, pessoa, objeto,
animal. Ou seja, qualquer elemento que possa ser detalhado ou descrito.
iii. Expositiva: se propõe à transmissão de um dado tema, ideia ou conceito ou
um acréscimo de informações, com a finalidade de expor algo para o
interlocutor.
iv. Dissertativa-argumentativa: um texto fundamentado em dados e informações,
com o objetivo de apresentar a perspectiva de quem escreve e convencer o
interlocutor por meio de argumentos.
v. Injuntiva: fornece orientações, instruções ou regras com a intenção de
prescrever algo para o interlocutor.
153
prévios em torno da imprensa escrita.
Para tanto, com foco nos jornais impressos, Nascimento, Assis e Oliveira
também consideram que “promover atividades de retextualização dos gêneros orais
para os gêneros escritos é um importante exercício do qual o professor pode lançar
mão dentro de uma sequência de atividades voltada para o jornal” (NASCIMENTO;
ASSIS; OLIVEIRA, 2016, p. 86). À medida que a principal proposta do discurso
jornalístico é informar, também visa a crítica e o humor, podendo, assim, apresentar
uma opinião explícita ou não. A notícia, a entrevista e a reportagem são os gêneros
textuais mais comuns na esfera jornalística, por exemplo.
Por seu turno, numa tentativa de compreender como e por que estudar a
mensagem publicitária, Carvalho (2014) considera que a propaganda não só tem o
objetivo de convencer alguém a adquirir um produto, como também o
reconhecimento e a absorção da ideologia social de quem produz a propaganda.
Por isso, “à ação comercial também se acrescenta uma ação ideológica e cultural”
(CARVALHO, 2014, p. 21). Assim, embora também vise transmitir uma informação, tal
qual o texto jornalístico, o texto publicitário é marcado explicitamente pela
persuasão.
Sobre a diferenciação entre o termo propaganda e publicidade, Carvalho
(2014) ainda explica que o primeiro se trata de um sentido abrangente, de propagar,
à medida que inclui a propaganda política, institucional, ideológica e comercial. Por
sua vez, o segundo, publicidade, remete à propaganda exclusivamente comercial,
seja ela de caráter institucional, de um produto ou serviço.
154
Modos discursivos no texto publicitário
Na obra, também é possível entender o estreito vínculo da publicidade nas redes sociais,
texto do último capítulo homônimo da obra de Carvalho, disponível na Biblioteca
Pearson: https://bit.ly/3sLs7Iq. Acesso em: 25 jun. 2021.
11.3 RESUMO
155
11.4 RESENHA TEMÁTICA
1) Título da resenha.
2) Contextualização do tema.
3) Exposição das ideias centrais dos textos resenhados.
4) Avaliação crítica decorrente do tema apresentado, dos seus
resultados ou de suas afirmações, em relação a um contexto teórico
ou prático (implicações de nível pedagógico, teórico, econômico,
social etc.).
5) Assinatura e identificação do resenhador.
6) Referências dos textos resenhados (KOCHE, BOFF; PAVANI, 2015, p.
106).
156
11.5 MEME
O termo meme surge de uma redução feita pelo biólogo Richard Dawkins, em
sua obra O gene egoísta (1976), da palavra mimeme, termo de origem grega que
remete a mimesis, a qual se refere à imitação ou representação de algo. Além disso,
a noção de viralização é basilar no meme, visto que é um gênero textual de rápida
propagação na internet. Dessa maneira, envolve a apropriação e intertextualidade,
pondo em xeque noções de originalidade e direitos autorais, uma vez que o gênero
mescla diversas produções sem fazer a referência expressa à autoria. Assim, uma
mesma imagem, texto, áudio ou vídeo, por exemplo, pode ser replicado inúmeras
vezes de diferentes formas e sob uma forma de pensar ao mesmo tempo cômica e
trágica, em que variadas referências sociais, culturais, históricas e de sentido são
condensadas com o intuito de provocar humor pelo riso em relação ao outro.
157
foi tanto que logo surgiram diversas paródias (amadoras ou profissionais).” (BOLADA,
2021). No meme abaixo (Figura 2) é possível notar que o tema “Para nossa alegria”
se construiu a partir do seriado de animação norte-americano Os Simpsons.
158
11.6 HISTÓRIA EM QUADRINHOS
Ramos (2009, 2011, citado por RAMOS, 2013) define a história em quadrinhos
(HQ) como um hipergênero que assimila outros gêneros autônomos que possuem
uma estrutura narrativa, ao passo que “compartilharem recursos próprios da
linguagem quadrinística (balões, onomatopeias, linhas cinéticas, entre outros) e de
antecipar ao leitor que se trataria de uma história em quadrinhos” (RAMOS, 2013, p.
1285). Para o quadrinista norte-americano Will Eisner, na HQ, “o tratamento visual das
palavras como formas de arte gráfica [através dos diferentes tipos gráficos e seus
estilos] é parte do vocabulário” (1999, p. 10). Além disso, Eisner compara a história em
quadrinhos com o teatro, uma vez que também possibilita a interação emocional e
trata de complexidades da experiência humana através do recurso visual.
É interessante citar que essa conexão da imagem como recurso narrativo de
expressão teatral também é percebida pelo ilustrador brasileiro Rui de Oliveira, que
vê proximidade entre o livro, a ilustração e o teatro (HANNING; MORAES;
PARAGUASSU, 2012, p. 36-37), por entender as convenções e sintaxes teatrais mais
significativas aos ilustradores. Por outro lado, o brasileiro insere os quadrinistas no
universo do cinema, pois, para ele, “[...] a aceitação por parte do público do
imaginário teatral, do faz de conta, o depuramento simbólico das luzes e cenários
[...]” é muito mais significativo para os ilustradores. No entanto, Will Eisner acredita que
a história em quadrinhos é capaz de envolver o leitor – ou o espectador no caso do
159
cinema – através de elementos visuais tão sofisticados quanto a ilustração.
160
11.7 CARTUM
161
chamados pela autora [Violette Morin] de ‘disjunções’” (ARAGÃO, 2011, p. 116). Ao
passo que tais disjunções estimulam o humor. Sendo assim, a capacidade narrativa
do ilustrador, entende Morin (ARAGÃO, 2011), aliada aos mecanismos disjuntivos nela
contida, provocariam o riso.
11.8 TIRAS
Ramos (2013) observa que, no Brasil, seja no universo dos jornais impressos
quanto no mundo virtual, as tiras cômicas ou simplesmente tiras (de origem norte-
americana, a partir do termo comic strip). O autor brevemente entende as tiras como
produções que possuem “desfecho inesperado, tal qual uma piada.” (RAMOS, 2013,
p. 1285), estabelecendo um diálogo com o cartum. Por sua vez, ele define a tira
seriada a partir do tema, que se diferencia da tira à medida que estabelece relação
com a aventura, sendo narrada em capítulos, cada qual em uma tira. Logo, Ramos
(2013, p. 1285) explica que esse tipo de tira se assemelha “à forma de narrar de uma
novela de TV”, uma vez que a sequência da história é feita na edição seguinte do
jornal, por exemplo. Conforme ilustra o próprio autor com a tira seriada do
162
personagem Popeye (Figuras 6 e 7):
Ramos (2013) ainda cita a tira cômica seriada, que estaria entre a tira e a tira
seriada, caracterizando-se pela narrativa em capítulo com uma disjunção, isto é,
desfecho que provoca riso. Além das tiras livres, em que o autor utiliza uma tira de
apenas um quadro da cartunista Laerte Coutinho para exemplificá-la. Assim, é
possível perceber que a tira e a tira livre são um tipo de arte humorística que pode
ser dividida em capítulos ou não, podendo ser sequenciada ou de apenas um
quadro.
163
referência ao mundo concreto. Assim, Terra e Pacheco consideram que “as figuras
representam o mundo; os temas o organizam” (p. 74). Logo, as figuras vão recobrir o
tema, isto é, “a palavra concreta ilha pode recobrir os temas da solidão, do
isolamento, do refúgio” (TERRA; PACHECO, 2017, p. 75), enquanto “pássaro” pode
remeter à liberdade, por exemplo. Ou seja, no conto e romance, assim como nos
demais gêneros literários que se utilizam do mesmo recurso, as figuras acabam por
representar uma variedade de interpretações temáticas.
O conto é um gênero narrativo de breve extensão, de maneira que o espaço,
o tempo e os personagens não se ampliam tanto quanto no romance, por exemplo,
que pode envolver um enredo mais amplo. A classificação em torno dessas ambas
formas de construção literárias é vasta e amplamente utilizada no ambiente escolar.
Travaglia (2007a, citado por Travaglia, 2009) pontua que o conto e romance contêm
usualmente nove classificações, de acordo com o conteúdo temático que os
caracterizam: histórico, psicológico, regionalista, indianista, fantástico, ficção
científica, capa e espada, policial e erótico (Quadro 7).
164
dessa forma literária no contexto da sala de aula. Sendo uma importante ferramenta
didática para o ensino da organização e estrutura do texto narrativo, na prática.
Portanto, a brevidade do gênero conto dialoga com a dinâmica da produção
escrita exigida no contexto escolar, além de permitir que o discente compreenda a
aplicabilidade das especificidades do texto narrativo, tais como os tipos de narrador,
organização do tempo, além de construção do espaço e personagens.
165
Mundukuru, que além de indígena é doutor em Educação pela USP, ainda alerta que
comemorar o Dia do Índio, ação comum nas escolas brasileiras, se trata de uma ficção,
de modo que a “figura com duas pinturas no rosto e uma pena na cabeça, que mora
em uma oca em forma de triângulo": "É uma ideia folclórica e preconceituosa."
(MUNDUKURU, 2019, online).
166
editorial, das livrarias, feiras e cadernos literários, principalmente
quando esses autores trazem para o texto literário a questão racial.
(RISO, 2021, online)
167
Do ponto de vista da formação de leitores, Araújo e Barbosa (2013) observam
que a prática da escrita é tida como uma das mais difíceis de executar. Por isso, as
autoras consideram que o gênero textual crônica contribui para o desenvolvimento
sociorreflexivo dos discentes. Uma vez que contextualiza “as situações comunicativas
diárias dos falantes e por desempenhar nestes a capacidade de análise,
168
compreensão e construção” (ARAÚJO; BARBOSA, 2013, p. 328) do texto, contribuindo
para uma melhor compreensão linguística por parte dos alunos em torno dos
aspectos linguísticos, tais como a coesão e a coerência.
Assim sendo, a facilidade de acesso da crônica também demonstra ser um
bom recurso didático para a formação de leitores, seja estimulando a leitura ou a
escrita autoral a partir de fatos do cotidiano dos próprios estudantes, seja estimulando
a compreensão crítica sobre situações do dia a dia. Conforme é possível perceber
no fragmento, abaixo, do conto “Papai só não faz chover”, de Vivian Vainzof, em
que a autora inicia seu texto relatando ou descrevendo situações ou objetos de seu
cotidiano, fazendo uso de um estilo mais poético:
É quase sem perceber que vou levando aos meus filhos toda a vida já
vivida. As brincadeiras se repetem, as músicas, os livros, as receitas que
vão para a mesa, os passeios, as preocupações, os sonhos, vou tirando
um a um da mala de couro ruivo, alaranjado, que minha mãe ainda
guarda num quartinho, junto com muitas coisas e memórias daquele
tempo em que as malas não tinham rodinhas (VAINZOF, 2020, p. 32).
Por sua vez, o autor Carlos Castelo emprega um estilo mais humorístico,
percebido já nas primeiras linhas de sua crônica jornalística, na seção Crônica por
Quilo, no jornal Estadão:
Logo, Araújo e Barbosa, citando Sabino (1965), pontuam ainda que a crônica
atua sobre o circunstancial e o episódico, ou seja, trata de fatos do cotidiano,
corriqueiros e atuais. Incluindo ainda temas comuns nos noticiários jornalísticos
(ARRIGUCCI JÚNIOR, 1987, apud ARAÚJO; BARBOSA, 2013, p. 327), gerando, assim,
uma intersecção entre o jornalismo e a literatura (TUZINO, 2010).
169
170
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Veja, a seguir, o cartaz da campanha intitulada “Racismo faz mal à Saúde” que
foi produzido pelo Ministério da Saúde e Secretaria de Direitos Humanos:
171
d) O cartaz apresenta uma estrutura publicitária com foco político-partidária: uso de
logomarcas (do SUS e Governo Federal); produção intersemiótica (palavras e
imagens); mensagem passada de forma breve e objetiva contra o racismo nas
unidades de saúde.
e) O cartaz apresenta uma estrutura publicitária, pois se utiliza da ironia, figura de
linguagem unicamente usada no meio publicitário, ao recorrer à imagem do
“faça silêncio”, comum nas unidades de saúde.
172
É correto afirmar que o gênero textual acima trata-se de um meme que visa fazer
uma crítica ao patriarcado, visto que:
173
Figura 10: Cumbe (VENETA, 2014), de Marcelo D'Salete
174
linguística e gráfica. Sendo assim, a melhor explicação sobre a relação entre a HQ
e o cartum, segundo Aragão (2011, p. 115), corresponde à alternativa:
6. A tira é um gênero textual similar a HQ, visto que ambas tendem a utilizar a mesma
estrutura intersemiótica e de requadros, embora não seja obrigatório. Sendo assim,
a alternativa que melhor define a tira corresponde à letra, conforme Ramos (2013):
a) Percebe-se que os termos “tira” e “tirinha” funcionam como eixos comuns para as
ocorrências, algo semelhante ao que se pôde ver nos títulos dos livros da
personagem Mônica. (p. 1282)
b) “As tiras são um subtipo de HQ” (MENDONÇA, 2002, p. 198 apud RAMOS,
2013, p. 1282)
c) [...] as histórias em quadrinhos compõem um hipergênero, um campo maior que
agrega diferentes gêneros autônomos. (p. 1285)
d) Registrar que se trata de tiras ou tirinhas “cômicas”, “humorísticas”, “de humor”
aproxima tais referências ao campo da comicidade. (p. 1288)
e) A expressão é uma tradução de “comic strip”, importada dos Estados Unidos nas
primeiras décadas do século passado junto com as produções em quadrinhos que
vinham de lá. De forma bastante resumida, seriam produções marcadas por um
desfecho inesperado, tal qual uma piada. (p. 1285)
7. Tanto o conto quanto o romance têm como objetivo narrar uma determinada
175
história. Para tanto, se utilizam de elementos como: narrador, personagem, espaço
e tempo. Desse modo, é correto afirmar que:
176
e) A crônica jornalística tem um viés do texto jornalístico no que diz respeito à
veiculação de notícias e fatos.
177
TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS NO UNIDADE
12
ENSINO
12.1 INTRODUÇÃO
178
Assim sendo, a avaliação está longe de ser um recurso e punição, de
hierarquização ou controle do conhecimento do estudante. Então, qual o objetivo
da avaliação escolar? “A avaliação serve para o professor saber quais caminhos
deve tomar no seguimento do ano letivo, portanto, não pode ser realizada apenas
no final das etapas, mas durante o processo de aprendizagem” (BATISTI; SILVA, 2017,
p. 77) Sendo assim, a avaliação é um recurso educativo para que tanto o docente
quanto o discente analise ou averigue quais dificuldades ainda possam receber
atenção, seja pela revisão, estruturação ou ampliação das atividades avaliativas,
conforme bem pontuam Batisti e Silva (2017).
O livro ilustrado Abra este pequeno livro, de Jesse Klausmeier e Suzy Lee, é uma
fonte de possibilidades não apenas de leitura como de produção textual, devido à
rica intertextualidade que a obra estabelece com narrativas infantis, clássicas, por
exemplo, trazendo para uma perspectiva contemporânea. Além do próprio caráter
experimental da obra, que convida o leitor a interagir com as páginas do livro, com
as narrativas e personagens como um dos protagonistas. A Joaninha, o Sapo, a
Coelha, a Ursa e a Giganta tanto se fazem presentes na obra de Klausmeier e Lee,
quanto nas fábulas e contos infantis clássicos. É o caso da imagem da Coelha em
Lee (Figura 11) e do Coelho em Alice no País das Maravilhas, escrito por Lewis Carroll
e ilustrado por John Tenniel. Ou o Sapo em Lee e em O sapo e o boi, uma das fábulas
de Esopo. De maneira que a obra de Klausmeier e Lee permite abordar a
179
intertextualidade tanto do ponto de vista do texto visual quanto verbal.
Ou seja, por meio dela, os alunos podem ser estimulados a pensar sobre
diferentes formas de construir enredos ou personagens, e como o gênero textual
influencia na forma como apresentamos os elementos que constituem uma narrativa.
Com isso, é possível propor perguntas, como: quais as diferenças de representação
visual entre a Coelha, ilustrada por Lee e o coelho ilustrado por Tenniel? Como os
ilustradores optaram por expressar ou representar esses personagens? Em que eles se
assemelham ou se diferenciam? Como isso interfere na leitura da história? Tais
perguntas são ótimas ferramentas tanto para o educador quanto para o discente,
uma vez que torna o processo de leitura mais consciente, à medida que se
compreende como as escolhas dos autores interferem na construção de um dado
gênero textual.
O mesmo pode ser feito para o texto verbal, por exemplo: a obra de Lewis
Carroll contém mais texto verbal que a obra de Klausmeier e Lee. Logo, podemos nos
questionar: o quanto isso interfere no ensino da estrutura narrativa, considerando o
público-leitor? É o caso da versão da editora Zahar (2009), na qual se compila duas
histórias – “Aventuras de Alice no País das Maravilhas” e “Através do espelho e o que
Alice encontrou por lá” – e, por isso, possui 317 páginas, sendo boa parte tomada por
texto verbal escrito e algumas ilustrações de Tenniel (configuração própria de um livro
180
com ilustração, em que a imagem ilustra o texto). Já Abra este pequeno livro possui
tão poucas páginas que mal é possível ver o miolo quando a obra está fechada.
Por outro lado, a obra possui um forte equilíbrio entre o uso de texto verbal e
visual, podendo ser considerado, assim, um livro ilustrado. Além das inovações no
formato da página, que são como capas de livros que diminuem e aumentam, ao
passo que avançamos a narrativa. Sendo assim, quais dessas duas obras você optaria
para abordar com alunos do Ensino Fundamental I ou II e por quê? Pensar as
motivações das suas escolhas ajuda a alcançar um planejamento mais consciente
no processo de ensino de leitura textual, assim como também de produção. Neste
caso, a leitura de Abra este pequeno livro é uma fonte de inspiração na proposição
de formas distintas de construir o livro, como também de reconstruir narrativas
clássicas ou contemporâneas que sejam do interesse da turma. Por exemplo, é
possível realizar um plano de aula voltado para a leitura e reescrita de fábulas
clássicas ou contos da cultura local.
Em um primeiro momento, a leitura pode ser feita do ponto de vista
interpretativo, para entender o nível de compreensão dos alunos quanto ao caráter
semântico, isto é, do sentido do texto. O que nos permite, enquanto leitores,
compreendermos como os diferentes significados de um texto nos é assimilado e em
até que medida nossas leituras ou interpretações dialogam com o texto
propriamente dito. Por isso, o processo de leitura é antes uma mediação: os
significados não precisam ser impostos, o que pode parecer muito óbvio para um
adulto, pode não atrair a atenção de uma criança ou adolescente.
Ou o contrário, o que pode parecer muito atrativo aos olhos de uma criança
ou adolescente, pode ser banal para um adulto. Logo, ler também é refletir nossos
processos internos de afetação, bem como de empatia, de tentar compreender o
olhar do outro, as suas sensibilidades. É o oposto da imposição tão comum nos livros
paradidáticos, por exemplo. Assim, ler significa um envolvimento dos receptores, estes
que geram significações pelo afeto: distintas maneiras que é afetado ou tocado pelo
texto. Em outras palavras, quem lê acaba por imprimir sua forma de ver e pensar a
realidade, ao passo que também compartilha com outras maneiras de pensar e
sentir, outras realidades, quando interage com uma determinada produção textual
ou visão de um autor ou mediador.
Após ou ao passo que ocorre essa etapa interpretativa de um dado tipo ou
gênero textual – segundo a preferência didática de cada educador – é possível
181
apontar as características que especificam o gênero. Por exemplo, na fábula há
alguns padrões narrativos, tais como os personagens, que em geral são animais
personificados, ou seja, agem como humanos. Ou na crônica, em que o espaço
tende a se situar em ambientes que retratam o cotidiano das pessoas. Já nos contos,
é possível destacar os tipos de narrador e o foco narrativo, por exemplo. Portanto,
assim como as autoras Klausmeier e Lee propõem em Abra este pequeno livro, após
a leitura de textos clássicos e a abordagem de elementos textuais de tipo ou gênero,
os alunos podem ser estimulados a criarem as suas próprias versões de histórias
clássicas. Ou criar as suas próprias versões de “Abra este pequeno livro”, com novos
formatos, personagens, narrativas ou finais, por exemplo.
182
Presente na literatura em diversas produções literárias, o texto figurativo é um importante
recurso nas histórias infantojuvenis. Para compreender como as especificidades desse
modo de construção textual e literária no gênero conto, leia o capítulo “O conto: um
gênero figurativo”, disponível na Biblioteca Pearson: https://bit.ly/31ctWTb. Acesso em: 25
ago. 2021.
183
Figura 12: Ilustração de Desenhos invisíveis (2014)
184
Figura 13: Ilustração de Desenhos invisíveis (2014)
185
12.5 SUBVERTENDO OS GÊNEROS TEXTUAIS
186
com composições modernas, se comparadas com as Iluminuras, por exemplo.
Porém, a organização dessas linguagens, em geral, ocorre de forma distinta no
espaço da página. Assim como a estrutura narrativa, ou seja, os recursos de coesão
e coerência textual se adequam às especificidades de cada gênero e proposta
criativa de cada autor. Tais características são uma fonte de possibilidades de leitura,
percepção e criação do uso dos textos verbais e visuais, seja por meio da
comparação entre os gêneros, seja pela singularidade de cada obra.
Por exemplo, no livro A chegada (2007), de Shaun Tan, ao passo que pode ser
classificado como livro-imagem, pela sua narrativa em grande parte visual, em vários
momentos o autor-ilustrador ora se utiliza da composição própria dos livros ilustrados
modernos, em que textos e imagem se imbricam num mesmo espaço, como na
representação de páginas de jornal, ora remonta à estrutura dos HQs, por meio de
requadros (Figura 14). De maneira que esse jogo criativo com as formas de
composição em A chegada estimule outras formas de produção e composição
textual que quebrem os padrões, isto é, reconfigure o que tradicionalmente se defina
e se caracterize os gêneros textuais.
187
188
Nesse sentido, é importante a abordagem de HQs que mostrem, especialmente, a
diversidade indígena e africana presentes na cultura e literatura brasileira, ou do próprio
continente latino-americano e da África. Nesta, portanto, em matéria para o Brasil de
fato, o professor e pesquisador de quadrinhos sul-africanos Júlio Sande destaca a
diversidade das HQs que advêm do continente africano e os diferentes estilos de seus
países:
Confira, na matéria, alguns das HQs e temáticas de histórias africanas, que há cerca de
uma década vem conquistando o interesse do público brasileiro, segundo Sande.
Confira, na íntegra, a reportagem de Neves sobre a diversidade dos quadrinhos africanos
na URL a seguir: https://bit.ly/32FEafv. Acesso em: 18 out. 2021.
189
real. Nesse sentido, para unir, por exemplo, a produção de texto ao seu uso prático,
podemos propor a criação de folders com textos injuntivos explicando a importância
do descarte consciente e da reciclagem do lixo tanto no ambiente escolar quanto
na comunidade em que a instituição de ensino está inserida. Ou realizar a
conscientização sobre atitudes de respeito às diferenças, especialmente na
conscientização dos impactos negativos do bullying. Para tanto, o educador poderá
propor a leitura de textos expositivos e injuntivos sobre o tema trazido para a
abordagem didática.
Nessa questão, vale tanto o professor já determinar um assunto, com o intuito
de compreender o conhecimento de mundo da turma sobre um dado tópico, como
também propor aos próprios alunos, por meio do diálogo, quais temas eles
consideram relevantes ou urgentes serem abordados durante as aulas. O debate é
outro gênero textual importante no processo educativo, com a finalidade de colocar
em prática a capacidade tanto do aluno produzir textos dissertativos argumentativos
orais. Sendo também uma ótima ferramenta para que os estudantes aprendam a
expor seu ponto de vista e a respeitar a opinião do colega. Portanto, o debate
implica a leitura de textos dissertativos-argumentativos.
No caso da poluição e do respeito às diferenças, o educador poderá realizar
a leitura coletiva de artigos jornalísticos e científicos, seja sobre os malefícios da
poluição do meio ambiente para a vida na terra ou a comunidade em que o aluno
vive, assim como os benefícios do reaproveitamento dos dejetos. Ou sobre a
importância da diversidade na formação da vida na terra, não apenas na humana,
ensinando o valor do afeto e da valorização da nossa vida e de quem convivemos.
Em outras palavras, é importante que o ensino de texto e seus respectivos tipos e
gêneros se façam também no plano da informação que conscientiza, quando é este
um dos objetivos, tanto quem produz quando quem lê.
190
191
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Nas aulas de leitura e produção de texto, as atividades são muitas vezes pautadas
por ensino de gramática. Por outro lado, a linha sociointeracionista do ensino de
língua visa uma postura baseada na aplicabilidade. Nesse sentido, indique a
alternativa em que Araújo, Saraiva e Sousa Filho (2021) criticam a primeira visão de
ensino a partir dos livros didáticos:
Fonte: Borgatto, Bertin e Marchezi (2015, p. 97) apud Araújo, Saraiva e Sousa Filho (2021).
192
Araújo, Saraiva e Sousa Filho (2021) consideram que a atividade acima utiliza o
texto para o ensino de gramática. Com isso, ainda citando os autores, a alternativa
que apresenta a justificativa mais completa sobre a atividade corresponde à letra:
3. Batisti e Silva (2017) entendem que se “no ensino tradicional a gramática normativa
ainda ocupa a posição central, em uma perspectiva mais significativa de ensino,
colocaremos o texto como objeto central na aula de Língua Portuguesa (LP).”.
Assim, ao tratar do ensino tradicional e o texto como objeto de ensino de LP, Batisti
e Silva revelam:
193
interlocutor subverte a noção sociointeracionista no ensino de texto, visto que,
ainda citando Batisti e Silva:
5. Batisti e Silva (2017) observam que “Tornar públicos os textos de nossos alunos
finalizam o ciclo de trabalho com os textos, ou seja, o uso do texto produzido para
participar socialmente no mundo.” (BATISTI; SILVA, 2017, p. 76). Logo, é possível
afirmar que “participar socialmente no mundo” significa que, ainda citando Batisti
e Silva:
a) Nesse caso, é importante que o processo de avaliação seja visto como atividade
processual, contínua e sinalizadora de que a responsabilidade pela aprendizagem
é compartilhada. (p. 77)
b) [...] é também fundamental repensarmos a forma que avaliamos os textos dos
nossos alunos nas aulas de Língua Portuguesa. (p. 76)
c) [...] o fato de promovermos essa interlocução em espaços para além da sala de
aula possibilita que a produção do aluno permaneça gerando interações. (p. 76)
d) Em sala de aula, apresentando-nos com nossas próprias práticas letradas, nos
deparamos com a prática particular de cada aluno com a produção e a leitura
de textos em diversas esferas. (p. 74)
194
e) As atividades de pré-leitura podem envolver questões que façam os alunos
relacionarem suas experiências à temática apresentada pelo texto e que já o
ajudem a ter ideias para suas produções. (p. 74)
6. Sobre a avaliação de texto nas instituições de ensino, Costa Val (2009) observa a
recorrência das seguintes perguntas feitas pelos professores como perguntas
norteadoras para a correção de textos: Que percentual da nota atribuir ao
“conteúdo” e à gramática? Quantos pontos descontar a cada erro? O professor
deve ou não marcar os erros? Que tipo de erro deve marcar? (p. 28). Para que a
avaliação do texto escolar não se transforme no mero apontamento de erros é
preciso que a avaliação de produção de texto seja vista como um processo, pois,
ainda nas palavras da autora:
7. Costa Val (2009) pontua que distintas formas de avaliação do texto: uma mais
detalhada, em que se assinala erros de ortografia, pontuação, estruturas sintáticas
etc. para evitar a repetição do erro; outra mais geral, em que é feita uma leitura
globalizante para captar o sentido geral do texto e valorizar o que o aluno tem a
dizer. Em outras palavras, tais perspectivas avaliativas revelam que:
195
a) A segunda mantém interferências do professor na correção da estrutura do texto.
A primeira interfere minimamente, pois a correção e o apontamento de erros são
vistos como prejudiciais ao desenvolvimento do discente.
b) A primeira mantém interferências do professor na correção da estrutura do texto.
A segunda interfere minimamente, pois a correção e o apontamento de erros são
vistos como prejudiciais ao desenvolvimento do discente.
c) A primeira mantém interferências do professor na correção da estrutura do texto,
revelando uma perspectiva construtivista de avaliação.
d) A segunda interfere minimamente, pois a correção e o apontamento de erros são
vistos como prejudiciais ao desenvolvimento do discente, revelando uma postura
formalista de avaliação.
e) A primeira interfere minimamente, pois a correção e o apontamento de erros são
vistos como integrantes no processo de aprendizagem do texto.
196
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 B
UNIDADE 03 UNIDADE 04
QUESTÃO 1 C QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 D QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 D
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 B QUESTÃO 8 D
UNIDADE 05 UNIDADE 06
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 A QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 E
197
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
UNIDADE 07 UNIDADE 08
QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 D QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 A QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 B QUESTÃO 8 D
UNIDADE 09 UNIDADE 10
QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 C QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 E
UNIDADE 11 UNIDADE 12
QUESTÃO 1 A QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 A QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 D QUESTÃO 7 B
QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 D
198
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