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Ano 2010 Leituras “Fundamentos de raiz”

Visão panorâmica da umbanda

1.0 - Origem

O marco inicial da umbanda é reconhecido


como o advento do caboclo das 7 encruzilhadas
através de seu médium Zélio de Moraes ocorrido
em 1908 em Niterói – Rido de Janeiro. Segue
abaixo um resumo da história:

Em 15 de novembro de 1908, compareceu a


uma sessão da Federação Espírita, em Niterói,
então dirigida por José de Souza, um jovem de 17
anos de tradicional família fluminense. Chamava-
se ZÉLIO FERNANDINO DE MORAES.
Restabelecera-se, no dia anterior, de moléstia cuja
origem os médicos haviam tentado, em vão,
identificar. Sua recuperação inesperada por um
espírito causara enorme supressa. Nem os
doutores que o assistiam nem os tios, sacerdotes
católicos, haviam encontrado explicação plausível.
A família atendeu, então, à sugestão de um amigo,
que se ofereceu para acompanhar o jovem Zélio à
Federação. Zélio foi convidado a participar da Mesa. Zélio sentiu-se deslocado,
constrangido, em meio àqueles senhores. E causou logo um pequeno tumulto. Sem
saber por que, em dado momento, ele disse: "Falta uma flor nesta casa: vou buscá-la".
E, apesar da advertência de que não poderia afastar-se, levantou-se, foi ao jardim e
voltou com uma flor que colocou no centro da mesa. Serenado o ambiente e iniciados
os trabalhos, manifestaram-se espíritos que se diziam de índios e escravos. O dirigente
advertiu-os para que se retirassem. Nesse momento, Zélio sentiu-se dominado por uma
força estranha e ouviu sua própria voz indagar por que não eram aceitas as mensagens
dos negros e dos índios e se eram eles considerados atrasados apenas pela cor e pela
classe social que declinavam. Essa observação suscitou quase um tumulto. Seguiu-se
um diálogo acalorado, no qual os dirigentes dos trabalhos procuravam doutrinar o
espírito desconhecido que se manifestava e mantinha argumentação segura. Afinal um
dos videntes pediu que a entidade se identificasse, já que lhe aparecia envolta numa
aura de luz. Se querem um nome - respondeu Zélio inteiramente mediunizado - que seja
este: eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, porque para mim não haverá
caminhos fechados. E, prosseguindo, anunciou a missão que trazia: estabelecer as
bases de um culto, no qual os espíritos de índios e escravos viriam cumprir as
determinações do Astral. No dia seguinte, declarou ele, estaria na residência do
médium, para fundar um templo, que simbolizasse a verdadeira igualdade que deve
existir entre encarnados e desencarnados. Levarei daqui uma semente e vou plantá-la
no bairro de Neves, onde ela se transformará em árvore frondosa. No dia seguinte, 16
de novembro de 1908, na residência da família do jovem médium, na Rua Floriano
Peixoto, 30 em Neves, bairro de Niterói, a entidade manifestou-se pontualmente no
horário previsto - 20 horas. Ali se encontravam quase todos os dirigentes da Federação
Espírita, amigos da família, surpresos e incrédulos, e grande número de desconhecidos
que ninguém poderia dizer como haviam tomado conhecimento do ocorrido. Alguns
aleijados aproximaram-se da entidade, receberam passes e, ao final da reunião,
estavam curados. Foi essa uma das primeira provas da presença de uma força superior.
Nessa reunião, o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS estabeleceu as normas do
culto, cuja prática seria denominada "sessão" e se realizaria à noite, das 20 às 22 horas,
para atendimento público, totalmente gratuito, passes e recuperação de obsedados. O
uniforme a ser usado pelos médiuns seria todo branco, de tecido simples. Não se
permitiria retribuições financeiras pelo atendimento ou pelos trabalhos realizados. Os
cânticos não seriam acompanhados de atabaques nem de palmas ritmadas. A esse novo
culto, que se alicerçava nessa noite, a entidade deu o nome de UMBANDA, e declarou
fundado o primeiro templo para sua prática, com a denominação de tenda Espírita Nossa
Senhora da Piedade, porque: "assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, a
Tenda acolheria os que a ela recorressem, nas horas de aflição". Através de Zélio
manifestou-se, nessa mesma noite, um Preto Velho, Pai Antônio, para completar as
curas de enfermos iniciadas pelo Caboclo. E foi ele quem ditou este ponto, hoje cantado
no Brasil inteiro: "Chegou, chegou, chegou com Deus, Chegou, chegou, o Caboclo das
sete Encruzilhadas". A partir desta data, a casa da família de Zélio tornou-se a meta de
enfermos, crentes, descrentes e curiosos.

2.0 - Definição

Sem dúvida a melhor definição continua sendo a primeira, proclamada pelo caboclo das
7 encruzilhadas:“Umbanda é a manifestação do espírito para a acaridade”.A
Definição Clássica do que é Umbanda, foi aprovada na II CONVENÇÃO NACIONAL DA
UMBANDA, realizada pelo CONSELHO NACIONAL DELIBERATIVO DA UMBANDA E
DOS CULTOS AFROS - CONDU/RJ, em 25/28 de agosto de 1.978, que é a seguinte:
“UMBANDA é uma manifestação Divina, Culto de caráter Místico Religioso, projetado no
Plano Astral do Brasil, com fundamento na Caridade. Uma vibração de Amor, trazidas
pelas Entidades Espirituais”.

3.0 - Finalidade

Prestar a caridade e auxiliar o homem a encontrar o caminho da prórpia evolução a


partir de passes, consultas, transportes, descarregos, energizações e aconselhamentos.

4.0 - Fundamentos

A umbanda crê em Deus (Zambi-Tupã-Olorum) manifestando-se como Orixás, os


senhores da Luz, nos guias e na modificação do destino a partir do livre arbítrio. Crê na
reencarnação, na lei do carma, na lei do livre arbítrio e na prática da mediunidade.
Preconiza o amor ao próximo, a liberdade religiosa e o respeito a todas as religiões.

4.1 - Deus e os orixás


Deus na sua totalidade é incompreensível a consciência humana; para que possamos
compreendê-lo, Ele se manifesta em partes: Os orixás. Os Orixás são manifestações
específicas de Deus, não possuindo forma física e nunca incorporando diretamente. São
os Senhores da Luz, mantendo a Ordem Universal através das leis divinas. São energias
ancestrais que condensadas e mescladas originam tudo o que existe no mundo físico
(Ayê) e no mundo espiritual (Orum). No plano físico essas energias podem ser
manipuladas a partir de sons, formas geométricas, cores, ervas, pedras, sentimentos,
danças, etc. Cada Orixá possui um ponto de força na Terra, isto é, regiões no paneta que
são chacras por onde essas vibrações se movimentam: mares, rios, lagos, cachoeiras,
matas, estradas, etc.
Sendo o orixás uma consciência energética nosso conga não os representa de forma
antropomórfica, ou seja na forma humana a partir de imagens de santos católicos. Orixás
nunca foi gente ele é o gerado a matéria prima com a qual tudo foi feito.
Segue abaixo um pequeno resumo sobre os Orixás cultuados pela umbanda:
Oxalá: É Deus-amor, o princípio espiritual que reflete o amor Universal e a fé.
Ogum: è Deus-guerreiro, o princípio da conquista e da abertura de novos caminhos.
Oxossi: É Deus-vivificante, o princípio da revitalização cósmica.
Obaluaiê: É Deus-morte, o rpincípio que rege os finais de ciclos representados pela morte
e pela doença.
Xangô: È Deus-Justiça, o princípio da Lei Divina, a irradiação da Justiça Cósmica.
Ibeji: É Deus-alegria, o princípio da pureza e da revitalização cósmica.
Yemanjá: é Deus-mãe, o princípio criativo e doador da vida, a geração da vida, a grande
mãe Cósmica.
Oxum: É Deus-Mãe, o princípio da auto estima, do amor próprio.
Yansã: É Deus-mãe-guerreira, o princípio das grandes mudanças, da revolução total.
Nana: É Deus-mãe ancestral, o princípio da sabedoria e da paciência, é o conhecimento
Cósmico, a ancestralidade.

4.2 - Os guias
Entidades mentoras responsáveis pela transmissão dos ensinamentos espirituais.
Antepassados habitantes do alto plano astral. Conhecedores dos fundamentos da
evolução espiritual.

5.0 - O terreiro
A Umbanda é uma religião que deve sempre ocorrer em um local sacralizado, onde
todas as firmezas foram realizadas segundo a tradição advinda do Babalorixá. A
sacralização do conga, dos 4 cantos e da tronqueira são os elementos mais importantes
porém não únicos, para que a realização do culto (rito ou gira) ocorra. A lei máxima é: “o
local material deve estar sacralizado para que o divino se manifeste”. Portanto, nunca
deve haver incorporação em outro lugar que não seja o terreiro!!! Caso isso ocorra
sempre haverá um preço e este certamente será cobrado...

6.0 - A Hierarquia
O terreiro não é uma democracia, muito menos um senado, é uma monarquia
vitalícia, o Babalorixá (pai de Santo) é a autoridade máxima dentro do terreiro cuja palavra
é lei. Deve sempre ser um médium experiente na prática da mediunidade e da mecânica
de incorporação, mas essencialmente deve ter uma conduta de vida e um conhecimento
da religião que vai além do conhecimento dos demais. É ele quem conhece todos os
segredos e manipula energias sem estar incorporado. É o Grande sacerdote que mesmo
incompreendido deve ser obedecido...É ele o responsável pelo seu desenvolvimento
como médium e como pessoa, o maior indicado para traçar junto com você um objetivo
de vida, necessariamente deve saber mais que você sobre a religião. A relação do filho de
santo com seu Babalorixá deve ser sempre de admiração e respeito mútuos.
7.0 - As guias
O uso de guias na umbanda é uma das características de atuação nessa religião. Há
várias e contraditórias explicações para o uso desses “colares” bem como para sua
quantidade e elementos de composição. Há quem diga que devem ser utilizados apenas
elementos naturais como corais, conchas, sementes e pedra verdadeiras, outros acham
que devem ser apenas de porcelana, outros apenas de cristal e há quem faça uma
mistureba de tudo (como nós no GRUEL). Cada terreiro organiza as guias de acordo com
suas necessidades ou copia de outros sem explicação alguma. Muitos dizem que a guia é
um mistério do guia...(fácil explicar assim quando não se sabe...). poderíamos dizer que a
elaboração de uma guia é algo complexo uma vez que leva em consideração muitas
variáveis: a seqüência das cores, o número de miçangas, o tipo de fio (plástico ou
cordonê), o tipo de cruzamento (amaci, vela de sete dias, passe do guia, etc) ou ainda a
função para a qual foi designada.

8.0 - Procedimentos energéticos


Na umbanda o atendimento é único e insubstituível podendo ocorrer a partir das
seguintes modalidades:
Passe: transmissão de energia psíquica que restaura o equilíbrio mental, físico e
espiritual. Proporciona um reequilíbrio da aura pela desobstrução dos chacras.
Descarrego: transmissão de energia psíquica mais intensa onde cada chacra recebe
uma recarga específica é realizado com defumação, círculo de caboclos, pó da Oxum e
banho de descarrego.
Energização: É uma transmissão de energia psíquica cuja finalidade é atuar
especificamente na ansiedade e na angústia gerada por uma perda sentimental, doença,
etc.
Transporte: procedimento através do qual o médium retira energias condensadas e
espíritos obssessores.
Ano 2010 Leituras “Fundamentos de raiz”

Mediunidade

Mediunidade [do latim medium + -idade] – 1. Faculdade que a quase totalidade das
pessoas possuem, umas mais outras menos, de sentirem a influência ou ensejarem a
comunicação dos Espíritos, tanto que Allan Kardec afirma serem raros os que não
possuem rudimentos de mediunidade. 2. Em alguns, essa faculdade é ostensiva e
necessita ser disciplinada, educada; em outros, permanece latente, podendo manifestar-
se episódica e eventualmente.
Medianimidade [do latim mediu + anima + -idade]
http://www.espirito.org.br/portal/doutrina/vocabulario/letra-m.html

As vivências tidas como mediúnicas são descritas na maioria das civilizações e têm
um grande impacto sobre a sociedade. Apesar de ser um tema pouco estudado
atualmente, já foi objeto de intensas investigações por alguns dos fundadores da moderna
psicologia e psiquiatria.
O desenvolvimento da mediunidade não guarda relação com o desenvolvimento
moral dos médiuns. A faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe
do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom, ou mau,
conforme as qualidades do médium.

Não é a mediunidade que te distingue.


É aquilo que fazes dela.
A ação do Instrumento varia conforme a atitude do servidor.
A produção revela o operário.
A pena mostra a alma de quem escreve.
O patrimônio caminha no rumo que o mordomo dirige.
O lavrador tem a enxada, entretanto...
Se preguiçoso, cede asilo à ferrugem.
Se delinqüente, empresta-lhe o corte à sugestão do crime.
Se prestativo e diligente, ergue, ditoso, o berço de flor e pão.
O legislador guarda o poder; contudo, através dele...
Se irresponsável, estimula a desordem.
Se desonesto, incentiva a pilhagem.
Se consciente e abnegado, é fundamento vivo à cultura e ao progresso.
O artista dispõe de mais amplos recursos da Inteligência; todavia, com eles...
Se desequilibrado, favorece a loucura.
Se corrompido, estende a viciação.
Se enobrecido e generoso, surgirá sempre como esteio à, virtude.
Urge reconhecer, no entanto, que acerca das qualidades e possibilidades do
lavrador, do legislador e do artista, na concessão do mandato que lhes é confiado, apenas
à Lei Divina realmente cabe julgar.
Todos nós, porém, de imediato, conseguimos classificar-lhes a influência pelos
males ou bens que espalhem.
Assim também na mediunidade.
Seja qual for o talento que te enriquece, busca primeiro o bem, na convicção de que
o bem, a favor do próximo, é o bem irrepreensível que podemos fazer.
Desse modo, ainda mesmo te sintas imperfeito e desajustado, infeliz ou doente,
utiliza a força medianímica de que a vida te envolve, ajudando e educando, amparando
e servindo, no auxilio aos semelhantes, porque o bem que fizeres retornará dos outros ao
teu próprio caminho, como bênção de Deus a brilhar sobre ti.

Texto ditado por Emmanuel na reunião pública de 12/2/1960, a respeito do Livro dos
Médiuns - Questão nº 226 - Parágrafo 1º

Todas as faculdades são favores pelos quais deve a criatura render graças a Deus,
pois que homens há privados delas. Poderias igualmente perguntar por que concede
servem para dizer coisas nocivas. O mesmo se dá com a indignas que a possuem, é que
disso precisam mais do que as outras, para se melhorarem.
Ninguém se esqueça de que estamos assimilando incessantemente as energias
mentais daqueles com quem nos colocamos em relação.
E, além disso, estamos sempre em contacto com o que podemos nomear como
sendo “geradores específicos de pensamento”. Através deles, outras inteligências
atuam sobre a nossa.
Um livro,
um laço afetivo,
uma reunião
ou uma palestra são geradores dessa classe.
Aquilo que lemos,
as pessoas que estimamos,
as assembléias que contam conosco
e aqueles que ouvimos influenciam decisivamente sobre nós.
Devemos ajudar a todos, mas precisamos selecionar os ingredientes de nossa
alimentação mais íntima.
Certo, não podemos menosprezar o nosso irmão que se arrojou aos
despenhadeiros do crime, constituindo simples dever nosso o auxilio objetivo em
favor do reajuste e soerguimento dele, todavia, não podemos absorver-lhe as
amarguras e os remorsos, que se dirigem a natural extinção.
Visitaremos o enfermo, encorajando-o e levantando-lhe o bom ânimo,
contudo, não será aconselhável adquirir-lhe as sensações desequilibrantes,
que precisam desaparecer, tanto quanto os detritos de casa que nos cabe
eliminar.
A obra da caridade tudo transforma em favor do bem.
A atitude é oração. E, pela atitude, mostramos a qualidade dos nossos desejos.
Os pensamentos honestos e nobres, sadios e generosos, belos e úteis, fraternos e
amigos, são a garantia do auxílio positivo aos outros e a nós mesmos.
Quanto mais nos adiantamos na ciência do espírito, mais entendemos que a vida
nos responde, de conformidade com as nossas indagações.
O princípio dos “semelhantes com os semelhantes” é indefectível em todos os planos
do Universo.
Caminhamos ao encontro de nós mesmos e, por isso, surpreendemos
invariavelmente conosco aqueles que sentem com o nosso coração e pensam com a
nossa cabeça.
Os médiuns, em qualquer região da vida, filtros que são de rogativas e respostas,
precisam, pois, acordar para a realidade de que viveremos sempre em companhia
daqueles que buscamos, de vez que, por toda parte, respiramos ajustados ao nosso
campo de atração.
- Emmanuel - 1952 -
A MEDIUNIDADE UMBANDISTA

Médiuns são aqueles espíritos que receberam, antes da presente encarnação,


determinados ajustes em seu Organismo Astral que possibilitem ceder sua constituição
física à comunicação mediúnica, trabalhando em prol da Caridade e da evolução, própria
e dos seus semelhantes. Este é um compromisso firmado entre este Ser e os Espíritos da
Confraria Cósmica de Umbanda antes do nascimento e que deve florescer de maneira
natural ao longo da encarnação do indivíduo.Atualmente, raros são os médiuns com
atividades positivas e ligados a Espíritos com ordens e direitos do Astral Superior.
Também o grau de atividade da faculdade mediúnica varia entre os médiuns, de acordo
com seu grau consciencial e com a sua experiência ao longo das encarnações exercendo
esta faculdade.Deixamos claro que não é necessário ser médium para ser umbandista e a
mediunidade não é uma dádiva estendida a "eleitos" ao reino dos Céus. Na verdade, os
médiuns são espíritos de alguma forma comprometidos carmicamente com a evolução
planetária, na maioria devedores antigos que, em maior ou menor grau, são cientes de
seus débitos e trabalham para quitá-los perante a Lei.Alguns destes médiuns são
espíritos velhos no Planeta, que embora possam ter-se desviado, em algum momento, da
via justa da evolução, carregam consigo considerável experiência e conhecimento, tanto
das coisas do espírito como das forças da Natureza e, principalmente, da psicologia
humana. Estes são chamados Iniciados, cada um dentro de seu grau, da Corrente Astral
de Umbanda. A Iniciação é um processo contínuo, que se desenvolve no decorrer de
várias e várias encarnações dedicadas a este aprendizado, também não acaba nunca
pois é infinita a evolução espiritual e cada minúscula porção de conhecimento trazido por
um iniciado deve ser fruto da sua própria vivência orientada por mestres. Sim, cada fio de
cabelo da cabeça de um Iniciado é contado...

A MEDIUNIDADE UMBANDISTA DENTRO DO GRUEL

O Babalorixá do GRUEL (Grupo Umbanda é Luz) entende que a incorporação é


apenas a ponta de um iceberg muito maior que é a mediunidade. O desenvolvimento do
eu, um encontrar consigo mesmo é o primeiro passo para um desenvolvimento da
mediunidade. Incomodar-se com o sofrimento alheio e ter a necessidade de auxiliar o
próximo não é suficiente para ser médium no GRUEL. A sede por conhecimento,a
assiduidade, o constante aprimoramento e a disposição para o trabalho são itens
TAMBÉM importantes. O ingresso no GRUEL é único e para cada filho ocorre de uma
maneira, portanto, nunca se compare com seu irmão, compare você com você mesmo
estabelecendo sempre uma linha crescente nos aspectos emocionais, materiais,
espirituais e humanos. Qualquer dúvida procure sempre seu babalorixá só ele pode
solucionar da melhor forma possível sua dúvida.
Independente do médium vir de outra casa “desenvolvido” todo ingresso no
GRUEL começa pela ação de camboneamento, estado excelente para aprender com os
problemas alheios e a medir o grau de seus problemas! É como cambone que o médium
vai se aprimorando no trato com os demais médiuns, entidades e consulentes, onde
percebe e entende como ocorrem os trabalhos de Umbanda e os diversos andamentos
que podem existir. Paralelamente a atuação como cambone está a de médium aprendiz
que ocorre nas aulas de sábado (sempre obrigatórias) nas leituras indicadas pelo
babalorixá e na troca com outros médiuns. É inadimissível um médium atuar dentro do
GRUEL e não saber a origem de sua religião, qual sua finalidade, seu fundamento, como
dar explicações aos consulentes, como saudar um orixá, como trabalhamos, qual nossa
concepção de mediunidade.
A incorporação passa a segundo plano, tanto que nem existem giras de
desenvolvimento e muito dificilmente os guias fazem “puxadas” no médiuns. Isso ocorre
porque acreditamos que uma vez o médium com moral, conteúdo e comportamento
dignos a incorporação é pura conseqüência. È também fundamental que o médium
desenvolva sua competência mediúnica sem a incorporação ou seja, tenha capacidade de
manipular energias e conduzindo-as e transformando-as sem a incorporação. Que o
médium tenha sempre uma palavra amiga e que seu melhor exemplo seja a sua vida, a
sua prosperidade e a sua conduta.
Que ele seja sempre alegre, esperançoso e jamais pessimista ou maledicente, que ao
entrar na casa de qualquer pessoa seja o portador de alegria, entusiasmo, bênçãos e
prosperidade. Que sua visita seja sempre bem vinda, que você seja sempre portador do
axé de seu Orixá.

O tempo não é importante assim, a incorporação ocorre em média de 2 a 5 anos


após a entrada no GRUEL e ainda assim ela se manifesta para organizar passes,
transportes, descarregos e trabalhos indicados pelas entidades consulentes.
Paralelamente o médiun já está num estágio onde tem segurança para organizar as
energias sem a incorporação, ou seja, “a incorporação ocorre quando ela não é mais
necessária!”
A atuação no GRUEL resulta da aprendizagem pela oralidade de gestos, falas,
cantos, procedimentos, mitos, rituais e uma infinidade de pequenos detalhes que são
priomordiais para o bom desempenho. Há muitas lentas que vão contra nossa atuação
mas a prática e o número de pessoas que atendemos é a maior respostas a nós mesmos
que estamos no caminho certo. Nunca interessou ao GRUEL quantidade, a qualidade de
quem entra é sempre mais importante e jamais podemos acreditar que atuar
mediunicamente é necessariamente “receber guias”, pequenos são esses que assim
pensam e muito pouco sabem dos verdadeiros Babalawós (pai do segredo) que estão nos
terreiros de umbanda que sem nunca terem incorporados, sustentam e sacralizam o
material para que o sagrado se manifeste. Feliz daquele que tem um Babalorixá com raiz,
com ordens e direitos, que ensina a medida em que o médium vai evoluindo, pois o
aprendizado é eterno.
Para nós, atuar mediunicamente é ser um representante de Deus na Terra,
auxiliando seus irmãos na evolução mas sendo também um parâmetro através do seu
comportamento não comum e medíocre de muitos brasileiros fechados no seu mundinho
de “baladas ou de futebol”. Nós médiuns de Umbanda sentimos o chamado dos clarins de
Ogum e devemos sempre estar atentos, melhorando cada vez mais como soldados nessa
luta pelo nosso próprio bem estar e pelo bem estar alheios. Devemos sempre ser um
referencial a todos aqueles que necessitam de um caminho ou que passam por alguma
perda e se encontram desacreditados e desmotivados. Devemos ser o conforto para os
doentes e a sua esperança de cura e mais do que isso senhores de nosso destino uma
vez que, tomando as rédeas de nossa vida possamos prosperar em busca de nossa
maior felicidade que é o dom de servir.
Muitos se entusiasmam, poucos fazem do servir um hábito, pouquíssimos
continuam fazendo com emoção por anos e somente os escolhidos permanecem lutando
e melhorando ainda mais essa sagrada religião brasileira. A esses pilares do movimento
umbandista de ontem, de hoje e de sempre nosso sincero saravá!
Ano 2010 Leituras “Fundamentos de raiz”

II CIDAU

O CIDAU – Curso Interno de Doutrina e Ação umbandista, será uma reunião que ocorrerá
semestralmente para discutirmos os rumos da atuação dentro do terreiro, a postura dos
médiuns frente a assistência, aos seus irmãos e à própria religião. Será uma reflexão
semestral sobre os rumos que nosso GRUEL deve tomar, sempre na busca de uma atuação
mais eficaz no atendimento umbandista. Esse CIDAU envolverá à todos, pois dividiremos
TODOS os filhos em grupos que se encarregarão de uma das atividades abaixo:
1. GRUPO ORADORES – serão compostos por todos os médiuns de consulta os quais,
farão uma palestra durante o CIDAU;
2. GRUPO DOS ESCRIBAS – Médiuns que se encarregarão de montar as apostilas do
curso mediante material fornecido pelo Babalaô.
3. GRUPO DOS AVALIADORES _ Médiuns que se encarregarão de elaborar uma
avaliação final de curso para todos os participantes do CIDAU, as quais também serão por
eles corrigidas e um gráfico final será apresentado.
4. GRUPO “OI GENTE” – médiuns que se encarregarão da recepção, acomodação e
assessoria dos demais médiuns durante o CIDAU, bem como do controle do tempo de cada
palestra.
5. GRUPO “COMER, COMER” – médiuns que se encarregarão do lanche que ocorrerá
diariamente durante 15 minutos.
6. GRUPO MACHADO DUPLO – Médiuns que elaborarão o estatuto do GRUEL para 2007.
segue abaixo o título de algumas palestras que ocorrerão:
 Casa da Sogra? Como se entra, como se sai, como se comportar no GRUEL;
 Consultinha? Claro sou da casa! Ética dos filhos quando necessitarem de auxílio
do GRUEL;
 Aqui tem operação espiritual? Tem sim Senhor!!
 Um trio para evoluir ou para se irritar: sintonia entre cambone, consulente e guia.
 Dou passagem, eles precisam trabalhar – como informar os médiuns de outros
terreiro e a assistência sobre mediunidade.
 “Num vai te puxadinha?” O desenvolvimento da incorporação dentro do GRUEL.
 O que rola na gira de sábado _ a gira light?
 O que rola na gira de quarta _ a gira 25 de março?
 Quando junta é pra limpar ou para juntar sujeira? Atuação de guias durante o
trabalho em conjunto de descarrego aos sábados.
 As guias de umbanda – Quantidade ou Qualidade?
 Zin fio toma esse chá e faz banho que tais ervas_Cuidado PRETO VELHO!, isso dá
cadeia!!!!
 Corrente afiada: canto, dança e sintonia na corrente de umbanda.
 O DONO da porta – Hierarquia constante e acidental dentro do GRUEL.
 “ NUM INTINDI” fala de novo meu pai – competências do cambone no GRUEL

Horário SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA


7:45 as 20:00As guias Lei de pemba Defumação e Vamu bate... sacramentos
banhos
20;00 as 20:30
Casa da sograAqui tem operação Gira sábadoGira de quarta
Ervas na umbanda
20;30 as 21:00
Sarava meu paiCadeia - chá descarrego Num intindi contabilidade
21:00 as 21:15 lanche lanche lanche lanche lanche
21:15 as 21:45
Corrente afiada
Consultinha Dou passagem Trio evoluir estatuto
21:45 as 22:15
Iniciação na puxadinha comportamento O dono da porta
encerramento
umbanda
 Tenho axé: iniciação na umbanda;
 Casa da Sogra? Como se entra, como se sai, como se comportar no GRUEL;
 Sarava meu pai: saudações na Umbanda;
 Corrente afiada: canto, dança e sintonia na corrente de umbanda.
 As guias de umbanda – Quantidade ou Qualidade?
 A energia escrita: lei de pemba;
 Aqui tem operação espiritual? Tem sim Senhor!!
 Zin fio toma esse chá e faz banho com tais ervas, Cuidado PRETO VELHO!, isso dá cadeia!!!!
 Consultinha? Claro sou da casa! Ética dos filhos quando necessitarem de auxílio do GRUEL;
 “Num vai te puxadinha?” O desenvolvimento da incorporação dentro do GRUEL.
 Defuma com as ervas da jurema: a defumação e os banhos específicos no GRUEL;
 O que rola na gira de sábado _ a gira light?
 Quando junta é pra limpar ou para juntar sujeira? Atuação de guias durante o trabalho em
conjunto de descarrego aos sábados.
 Dou passagem, eles precisam trabalhar – como informar os médiuns de outros terreiro e a
assistência sobre mediunidade.
 Suas palavras falam, seus atos gritam: comportamento do médium fora do GRUEL;
 Vamu bate tambor! Responsabilidade da tarefa de Ogã;
 O que rola na gira de quarta _ a gira 25 de março?
 “ NUM INTINDI” fala de novo meu pai – competências do cambone no GRUEL
 Um trio para evoluir ou para se irritar: sintonia entre cambone, consulente e guia.
 DONO da porta – Hierarquia constante e acidental dentro do GRUEL.
 Que assim seja: sacramentos na umbanda;
 Banho de cheiro! As ervas na umbanda;
 Contabilidade umbandista;
 Encerramento e estatuto

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

Casa da Sogra? Como se entra, como se sai, como se comportar no GRUEL;

Elaborar um texto onde vocês discutam três eixos principais:


1- Como se cumprimenta tronqueira, corrente, conga, atabaques, babalaô e filhos de branco
(saudações e os porquês);
2- qual deve ser nossa atuação dentro da corrente enquanto os trabalhos acontecem;
3- Como devemos proceder durante um transporte, uma chamada de orixá, batismo, casamento
ou simplesmente enquanto esperamos a gira acabar

Discutir sobre o assunto não é atacar, não enfoque os pontos negativos, enfoque apenas os
positivos e ensinem como devemos proceder para garantir que nossa estadia na corrente seja
satisfatória.
Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

Consultinha? Claro sou da casa! Ética dos filhos quando necessitarem de auxílio do GRUEL;

Elabore um texto onde vocês discutam o tema sob dois enfoques:


1- Quando houver a necessidade de consulta como fazer? Escolher o médium? Acabar um
camboneamento e buscar auxílio em outro guia?
2- A necessidade de um novo olhar sobre a consulta, que o médium entenda as entrelinhas, as
“dicas” dadas pela própria dinâmica do trabalho para que desvencilhe-se da dependência de tudo
perguntar para a entidade.

Discutir sobre o assunto não é atacar, não enfoque os pontos negativos, enfoque apenas os
positivos e ensinem como devemos proceder quando tivermos um problema e sentirmos a
necessidade de uma consulta, discuta as diversas formas de consulta (pedido para o Orixá
mentalmente, cantar e dançar em sacrifício, tomar passa e pedir mentalmente, durante o
camboneamento quando perceber problemas semelhantes ao seu, doar sua energia na certeza
de que também estará se aliviando etc)

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

Aqui tem operação espiritual? Tem sim Senhor!!

Elaborar um texto onde a noção de doença seja vista sob a óptica umbandista, esclarecer
que a doença é sempre um sinal, uma pergunta que nós fazemos a nós mesmos. Destacar o
aspecto espiritual e material que toda doença tem. Defender então a tese da operação espiritual
definindo-a e mostrando sua aplicação e limitação. Falar um pouco sobre como ocorre a operação
espiritual feita pelas suas entidades. Levantar uma polêmica: todo guia pode realizar uma
operação espiritual?

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

Um trio para evoluir ou para se irritar: sintonia entre cambone, consulente e guia.

Elaborar um texto onde sejam colocadas três pontos básicos:

1. as obrigações da entidade, do cambone e da assistência durante uma consulta e ainda como


deve-se proceder caso haja uma falha em um dos três.
2. Indicar rumos para que o cambone possa interceder para que a harmonia permaneça.
3. Discutir o que é uma consulta, qual o papel dos três nessa consulta.

Discutir sobre o assunto não é atacar, não enfoque os pontos negativos, enfoque apenas os
positivos e ensinem como devemos proceder para garantir que nossa atuação na consulta seja a
melhor possível.
Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

Dou passagem, eles precisam trabalhar – como informar os médiuns de outros terreiro e a
assistência sobre mediunidade.

Discutir com os médiuns a questão sob dois aspectos:


1- Desenvolver-se é receber guia ou aprender a manipular as energias de tal forma que a
incorporação só ocorra segundo nossa vontade?
2- Se a assistência receber um guia como proceder? Chamar o Lipe?

Elabore um texto onde essas questões sejam discutidas e indique um rumo, uma diretriz para que
possamos adotá-la sempre que isso ocorrer. Discutir ainda a questão de dar passagem – isso é
necessário? O médium que só camboneia está com seu desenvolvimento atrasado?

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

“Num vai te puxadinha?” O desenvolvimento da incorporação dentro do GRUEL.

Elaborar um texto que discuta o que é desenvolvimento, que puxada é uma atitude retrógrada,
sem finalidade em si, que a manifestação do guia deve ter um por quê e que isso ocorre de
maneira gradativa e NATURAL que se inicia durante o processo de energização que o médium
aprende a fazer. Discutir o que é estar incorporado e a responsabilidade deste ato inclusive com
os karmas decorrentes desta atitude.

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

 O que rola na gira de sábado _ a gira light?

Elabore um texto que discuta as atividades que ocorrem durante a gira de sábado, por que ela é
estruturada dessa forma e qual a importância de se estar presente nessa gira, principalmente no
descarrego de exu (o que ele significa para nós e para nossa mediunidade). Discutir a
possibilidade de desenvolvimento e abertura de intuição durante as atividades de organizar fila,
borrifar, defumar, dar banho e pó.
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O que rola na gira de quarta _ a gira 25 de março?

Elabore um texto que discuta as atividades que ocorrem durante a gira de quarta feira, por que ela
é estruturada dessa forma e qual a importância de se estar presente nessa gira. Discutir a
agilidade da porta e do cambone para otimizar a consulta, discutir a importância do trabalho em
paralelo realizado pelos médiuns de trabalho e sua postura ética e o karma desenvolvido durante
essa atuação.

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

Quando junta é pra limpar ou para juntar sujeira? Atuação de guias durante o trabalho em
conjunto de descarrego aos sábados.

Qual a finalidade de um descarrego? Como podemos perceber a sintonia entre os guias? E entre
os guias e os médiuns auxiliares (que estão ali pra dar pemba, flores, velas e enxugar o suor).
Qual a importância da sintonia para que se realize o propósito do descarrego. Faça o mesmo
também com os trabalhos para orixás que ocorre aos sábados: qual a importância da sintonia
entre os médiuns?

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

Zin fio toma esse chá e faz banho com tais ervas_Cuidado PRETO VELHO!, isso dá cadeia!!!!

Elabore um texto que discuta o porquê não é necessário receitar “remédios caseiros” ou melhor
quando a entidade receita remédios caseiros é porque o médium desconhece as relações espirituais e
materiais que ocorrem quando uma doença se instaura. Explicar o papel fundamental da garrafa de
água nesse contexto. Aproveite pra discutir alguns pontos: o guia não deve mandar que o assistente
acenda vela em casa, muito menos que jogue qualquer coisa na encruzilhada, indique outras formas
para que isso possa acontecer.

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

Corrente afiada: canto, dança e sintonia na corrente de umbanda.

Elaborar um texto que indique como o canto e a dança são poderosos auxiliares para que a sintonia da
corrente permaneça. Como a corrente deve proceder para ser afiada (ex. olhar quem desincorpora,
evitar trombadas, quedas, dar água, energizar, etc)

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

“ NUM INTINDI” fala de novo meu pai – competências do cambone no GRUEL


Discutir o papel de cambone dentro do GRUEL, um resumo da apostila sobre camboneamento.
Dicas e sugestões

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

“ Sarava meu pai! ” – Saudações na Umbanda

Elaborar um texto onde seja discutida todas as formas de saudação existentes dentro do GRUEL
tanto gestuais como as faladas. Indicar a importância dessas saudações e a forma correta de
fazê-las. Não esqueça que o gestual para bater cabeça, defumar-se, cumprimentar entidades e
irmãos de corrente são também saudações. Discutam a pergunta Pra que serve uma saudação?

Palestra N____ dia____hora_____palestrantes__________________________

As guias de umbanda – Quantidade ou Qualidade?


Sacramentos na umbanda
O DONO da porta – Hierarquia constante e acidental dentro do GRUEL.

Guias de Umbanda: Qualidade ou quantidade


Palestra realizada durante o II CIDAU, proferida por Marco Antonio (Babalaô)

O uso de guias na umbanda é uma das características de atuação nessa religião.


Há várias e contraditórias explicações para o uso desses “colares” bem como para sua
quantidade e elementos de composição. Há quem diga que devem ser utilizados apenas
elementos naturais como corais, conchas, sementes e pedra verdadeiras, outros acham
que devem ser apenas de porcelana, outros apenas de cristal e há quem faça uma
mistureba de tudo (como nós no GRUEL). Cada terreiro organiza as guias de acordo com
suas necessidades ou copia de outros sem explicação alguma. Muitos dizem que a guia é
um mistério do guia...(fácil explicar assim quando não se sabe...). poderíamos dizer que a
elaboração de uma guia é algo complexo uma vez que leva em consideração muitas
variáveis: a seqüência das cores, o número de miçangas, o tipo de fio (plástico ou
cordonê), o tipo de cruzamento (amaci, vela de sete dias, passe do guia, etc) ou ainda a
função para a qual foi designada. No GRUEL, as guias apresentam-se dividas em
categorias:
1-) GUIA DE INICIAÇÃO – Simbolizam a entrada na corrente astral de umbanda do
GRUEL, sendo de dois tipos:
GUIA DE PORCELANA BRANCA – Simboliza a iniciação, o branco representa a
fertilidade, os genitores sagrados, simboliza um referencial: seu nascimento dentro da
nossa linha de umbanda. É o nosso credenciamento submetendo-nos as ordens da
umbanda na pessoa do Babalorixá. É nosso assumir da coroa umbandista organizando
nosso corpo astral para entrar em sintonia com a máxima expressão de fé e do amor
fraternal que são expressões de Oxalá. As contas representam todos os demais filhos da
corrente enquanto a firma representa você em destaque nessa corrente. É a guia que
representa sua escolha, sua decisão de utilizar sua energia mediúnica a favor da corrente
sagrada de umbanda.
GUIA DOS ORIXÁS – A tão famosa guia das sete linhas – Simboliza a vibração de todos
os Orixás, de todos os princípios do universo com os quais experimentamos um fluxo
energético que nos proporciona um estado alterado de consciência. Passamos a nos
sentir a lâmpada emissora de luz. É a guia símbolo do medianeiro, do trabalhador em
favor do próximo. A firma pode tanto ser branca representando Oxalá como ter as cores
do eledá e junto.

Essas duas guias tem uma medida certa: devem ir do pescoço ao umbigo pois servirão de
escudo ao chacras mais atacados durante o processo de mediunização. Protegendo
também o nosso calcanhar de Aquiles (ponto fraco) que é o umbigo (região física-astral
que carrega uma cicatriz da maior união que já existiu – filho e mãe) É por isso que
quando fazemos transportes as guias devem ser retiradas.

2-) GUIA CABALÍSTICA – São guias organizadas pelo Babalaô, são elos de ligação entre
a energia vibracional individual do médium, do guia e da tronqueira do terreiro. É ela
quem organiza o código de ética materializado no GRUEL. Essa guia controla a atuação
energética do médium. São guias utilizadas por médiuns que estão na condição de passe,
trabalho e ou consulta. É ela quem materializa os erros que possam ocorrer durante a
atuação do médium nas giras onde ele está presente ou não. A presença ou a ausência
do médium não o abstém de seu balanço kármico energético. A guia trançada de fitas e a
nova guia cabalística que os filhos de consulta irão utilizar são exemplos deste tipo de
guia. Nunca são feitas com cordão de náilon, essas guias são feitas no cordonê
preparado, isto é, num cordonê que passou por uma fase de imersão num amaci
especialmente preparado, foi enterrado durante um período de tempo numa determinada
lua e exposto ao Sol por determinado tempo numa determinada hora...

3-) GUIAS DE TRABALHO – São guias pedidas pelas entidades por onde fixam,
conduzem, expandem ou drenam as energias espirituais. É parte integrante do corpo
astral da entidade formando uma verdadeira simbiose. Não é uma necessidade de todos
os guias assim como charutos, cigarros etc. Mas todo guia que pedir deve tê-la nas mãos
enquanto dá passe ou dá consulta. São bons exemplos de guia de trabalhos a guia do pai
Sarapião e do Mané baiano.

4-) GUIA DE LOUVAÇÃO – Montadas pela vontade ou intuição da própria pessoa e


muitas vezes passada pela entidade para satisfazer as necessidades de firmeza do
médium. Tem ação apenas psicológica sobre o médium que se sentido mais protegido
abre-se mais para a incorporação (engraçado como alguns médiuns se apegam as guias
mais do que nas entidades ...) Essa guias estarão em extinção dentro do nosso terreiro.

As guias são portanto, elementos de trabalho, de louvação, símbolos de hierarquia


e ainda cabalísticas. Mas não podemos nos esquecer de uma coisa muito importante:
uma boa incorporação do guia é mais importante que uma guia linda! A qualidade é
sinônimo de sintonia e a quantidade de pouca humildade. É muito comum ver
babalorixás formados com muitas guias e brajás mas é muito triste vê-los
incorporar...
Claro que as guias são importantes e devem ser cuidadas e muito bem feitas, para
absorver o axé da casa. Mas não se esqueçam que elas são a carcaça nunca o motor...

O DONO DA PORTA: A hierarquia constante e acidental dentro do GRUEL


Palestra realizada durante o II CIDAU, proferida por Marco Antonio ( BabalaÔ)
Em todos os processos sociais onde mais de um ser humano está envolvido devem
existir as hierarquias, aqueles que mais sabem ocupam cargos de maior
representatividade, mas na umbanda, saber não é só receber bem, dar consulta bem. É
muito mais que isso. Se um médium sabe cambonear bem, dar passe bem, faz bem os
transportes e trabalhos e dá uma consulta que agrade aos consulentes então ele é o
médium ideal. IDEAL PRA QUEM? Para aqueles que conhecem apenas os aspectos
superficiais de nossa religião. Quanto mais nos aprofundamos no conhecimento mais
reconhecemos a superioridade de outros seres humanos, a superioridade em
competência, em saber fazer, fazer acontecer! Muitas vezes analisamos apenas a
consulta dada pelo guia, ignorando o todo: a ação do cambone, de quem deu a ficha, de
quem estava na porta, de quem trabalhou com os orixás...enfim, os mais estreitos
intelectualmente vêem a gira de maneira individualizada, este ou aquele trabalha bem,
não observam as entrelinhas pensando: mesmo esse não trabalhando bem o todo dá
conta! É devido a estreiteza de muitos médiuns que as hierarquias devem existir e quanto
mais ignorante for o médium mais autoritária ela deve ser! Dentro do GRUEL só há um
grau de maioridade: o do BABALORIXÁ. É ele e só ele quem decide quem entra, quem
sai, quem é suspenso, quem faz o que. Abaixo dele não há ninguém (e nunca
haverá!!!!!!!!!!!!!!!!) porque até o momento não há ninguém em condições globais para
estar num cargo de pai ou mãe pequenos (muitos tem boa competência espiritual mas
pouca competência intelectual – no sentido de conhecimento doutrinário, de manutenção
de axé, ou de verificação de oráculos. È o babalorixá a única hierarquia constante no
terreiro. Por conta da própria dinâmica do processo de trabalho realizado no nosso
terreiro, existem as hierarquias acidentais dentro do terreiro. Melhor explicando, há
ocupações dentro da gira que colocam o médium numa condição momentânea superior
aos demais sendo sua autoridade reconhecida por todos. O médium da porta é um
exemplo, é ele quem decide os encaixes e toda a dinâmica de fichas de todos os guias
incorporados, na dúvida o cambone é obrigado a respeita-lo! O Lipe durante os trabalhos
também possui a hierarquia acidental: pode questionar a entidade quanto ao tipo de
trabalho que esta fazendo, quanto ao desincorporar ou recusa ao atender assistentes,
recebimento de entidades em hora errada ou ainda fumar, comer, descançar ou fofocar
em momentos errados. Na consulta quem manda é o guia, mas o cambone na dúvida de
qualquer procedimento pode pedir uma segunda opinião ao Lipe que fatalmente
consultará as entidades do babalaô. Respeitar a hierarquia é obrigação de todos e jamais
deve haver “bate-boca” na frente da assistência. Não queira sair de bonzinho dizendo que
a porta e quem não deixou!!!! Por mais errado que possa parecer a atitude da porta, vá de
encontro, concorde, diga ao assistente: é norma da casa!!!! Mesmo que depois eu você e
a porta tenhamos que discutir!!! Respeito é sinal de devoção e de inteligência, tomar
bronca é sinal de que mesmo fazendo o certo você não está conseguindo expressar-se
de maneira satisfatória e deve rever sua atuação.
Na umbanda o respeito ao Babalaô e a religião se faz não só enquanto ela
está desincorporado mas principalmente enquanto ele está incorporado....
De todas as hierarquias acidentais, a função da porta é uma das que mais exige,
devemos estar sempre em equilíbrio, sempre com um sorriso, como a Grande Mãe, que
ampara a todos os filhos! Devemos estar abertos ao diálogo, ao ouvir, mesmo que a
multidão esteja gritando, empurrando, xingando. O grande foco de atuação na porta talvez
seja ter em mente o seguinte: ninguém pode determinar como você tratará ninguém nem
mesmo aquele que te agride! Leia o texto abaixo e reflita:

ELEGÂNCIA

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez
mais rara: a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto
dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma
gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de
dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma
nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada. É possível detectá-la nas
pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que
falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no
boca a boca. É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz
ao se dirigir a frentistas. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não
sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia
fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não
recomenda à secretária que Pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer
se está ou não está. Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso
demais. É elegante, você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você
teve que se arrebentar para o fazer... É muito elegante não falar de dinheiro em bate-
papos informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade. É elegante o silêncio,
diante de uma rejeição.... Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a
elegância do Gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do
mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. É elegante a gentileza, atitudes gentis
falam mais que mil imagens... Abrir a porta para alguém...é muito elegante . Dar o lugar
para alguém sentar...é muito elegante . Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem
danado para a alma... Oferecer ajuda...é muito elegante Olhar nos olhos, ao conversar é
essencialmente elegante. Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela
observação, mas tentar imitá-la é improdutivo. A saída é desenvolver em si mesma a
arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso
lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras". Se os amigos
não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la. Educação
enferruja por falta de uso. E, detalhe: não é frescura.

Tenho axé: iniciação no Gruel


Palestra realizada durante o II CIDAU, proferida por Marco Antonio (Babalaô)

“Há muitos iniciados e pouquíssimos acabados”

Toda iniciação é um processo de despertar gradativo e ordenado da nossa


consciência. Iniciar-se é antes de tudo conhecer-se, renovar-se, adquirir novos hábitos e
de cultivar cada vez mais a busca de nossa própria essência. É buscar o início, o princípio
real, o objetivo de todas as nossas coisas. A iniciação não surge do nada, mas de um
princípio verdadeiro. Surge de alguma coisa que você já foi um dia: alguém perfeito por
ser simples! E ser simples é ser o que você é verdadeiramente e por si só. O dia em que
você encontrar alguém diante do qual você não tenha medo e naturalmente consiga ser
quem você realmente é de verdade, nesse dia tenha certeza que você tornou-se um
iniciado pois essa pessoa é realmente seu mestre. Toda iniciação envolve uma relação
interpessoal entre duas pessoas, o conceito de mestre e discípulo na visão africana fica
muito bem expressa na fala do professor José Flávio:

“ Iniciar os mais novos os filhos (discípulos) é a resistência


cotidiana daqueles que decidem ser iguais ao seus antepassados
(mestres), permitindo que outros iguais a si possam surgir,
possibilitando o progresso de um estilo de vida diferente porém
sempre mais elaborado e condizente com a mítica ancestral.
Resolveram contagiar os outros com suas crenças, criando uma
África caleidoscópica, aqui mesmo”

A iniciação exige auto conhecimento mas na visão africana, para nos conhecer
melhor necessitamos não olhar para dentro, refletindo e interiorizando–se. Na verdade,
devemos fazer o contrário, necessitamos nos abrir para o exterior! Conhecer pessoas,
experimentar outros modos de vida, outras interpretações de mundo mesmo que as vezes
contraditórios. A máxima africana diz: “Somente interagindo com os outros poderemos
conhecer a nós mesmos”. É despertar a consciência cósmica, é entender que nossa ação
é muito maior que nosso ser.
Há várias iniciações a familiar, a profissional, a religiosa, a sexual, etc.
Restringindo-se apenas a iniciação religiosa e especificamente a iniciação umbandista,
podemos perceber uma infinidade de tradições e invenções. Na verdade hoje muitos “pais
de santo” inventam de acordo com sua necessidade iniciações buscando elementos no
esoterismo, no candomblé, nas tradições xamânicas e até na hindu. Procuram em outras
escolas aqueles que não conhecem verdadeiramente a sua...Pior ainda são os pais de
santo que nem sabem que deveriam fazer a iniciação, talvez seja porque já nasceram
sabendo...Outros se sentem iniciados só por que fizeram um curso e tem diploma.
Iniciação tornou-se sinônimo de diplomação de acesso rápido a uma posição..
Seja qual for a iniciação na umbanda ela deve proporcionar algumas etapas que
são essenciais: doutrina ativa, desenvolvimento mediúnico, assentamento de energias,
capacitação para o voluntariado e conhecimento histórico de sua raiz (a maioria só tem
folha ou fruto muitas vezes podres...).
Para alguns iniciar-se na umbanda é colocar branco, desenvolver-se e dar
consulta, se discutir ou não concordar com o pai de santo, sair e abrir seu terreiro.
DEIXANDO DE LADO TODO O FOLCLORE E AS MODINHAS ATUAIS, a
iniciação só pode ser realizada por aquele que um dia também foi iniciado!!!! Até hoje a
iniciação dentro do GRUEL foi feita como era feita no terreiro onde eu fui iniciado,
ninguém sabia o que acontecia direito. Os tempos são outros e como nosso terreiro é
assentado sobre a vibração de Oxossi, os filhos devem saber de uma maneira geral o que
acontece.
Tudo começa quando eu (Babalorixá) aceito o médium e este passa a fazer parte
da corrente. Esse médium vai aprendendo como se comportar durante a dinâmica dos
trabalhos desenvolvendo assim seu potencial de voluntariado. Até aí nenhuma novidade.
MAS em paralelo muita coisa acontece... Num dado momento o caboclo Sultão das Matas
chama o médium e abre seu farin criando assim a possibilidade de sua personalidade
espiritual se manifestar: seu ori. Este ato expoem o ori-orum separando-se do ori-inú que
reside no corpo, na glândula pineal de cada indivíduo. Surge assim a coroa, o camutuê, o
duplo ori: o ori-orum e o ori-inú. Esse ori-inu agora individualizado precisa de uma
representação material o que nossa tradição chama de Igbá-ori (ou kolobô) que é a
representação individualizada de nosso exu-energia placentário (Exu Bará). Consiste
materialmente de uma bola de barro com elementos minerais, animais e vegetais
representativos do orixá ancestral do qual provém nosso Bará. Apresenta-se com a parte
inferior pintada de branco, símbolo da ancestralidade, do nascimento em uma tradição e
na parte superior um farin umbilicado por um búzio circundado pelas cores branco,
vermelho e preto símbolos respectivamente do princípio masculino, feminino e do
primogênito. Essa bola de barro apresenta ainda uma amarrada em sua porção equatorial
uma raiz vegetal que simboliza a raiz da nossa lei de pemba (raiz do congo). Como
símbolo de individualidade essa bola é colocada num saquinho de pano e protegida por
uma metade de cabaça. Está pronta a Igba-ori ou kolobô que atuará como uma placenta,
sendo o elo de ligação entre os dois oris (orum e inú) e ainda com as forças dos nove
odus de nascimento do indivíduo. Para determinar os elementos materiais (animais,
vegetais e minerais) que formarão o kolobô, o babalorixá, na qualidade de Babalawô,
deve traçar o Ipori isto é, conhecer quais são as tendências energéticas que atuam sobre
o indivíduo auxiliando-o durante seu percurso na terra. Munido do Ipori o babalaxé
organizará sua materialização: o kpoli (representação na lei de pemba do Ipori).
De tempos em tempos o babalorixá deve elaborar banhos, comidas, amacis, etc,
para fortalecer a movimentação energpetica do Ipori. Quando isso é realizado diretamente
no farin, chamamos o ritual de M’Bori ou bori, cuja tradução é “dar de comer a cabeça”,
numa representação simbólica de fortalecimento espiritual. É com esse arsenal que o
babalorixá avalia as compet~encias mediúnicas, organiza banhos individuais, rituais e
firmezas necessárias.
Esse procedimento obrigatoriamente intensifica o fluxo energético dos chacras e
consequentemente aumenta o poder de atração energética no campo mental do médium.
Isso portanto pode leva-lo a prosperar ou a chegar ao fundo do poço, de acordo com os
pensamentos que o mesmo realizar cotidianamente. Por isso a iniciação é um processo
sem volta onde um pequeno imãnzinho torna-se um poderoso eletroímã obrigando o
médium autoconhecer-se e evoluir constantemente para não cair em tentação...é o ori
que nos livra de todo mal, amém, quer dizer axé...!

Santo come? O ato de comer na umbanda


Palestra realizada durante o II CIDAU, proferida por Marco Antonio (Babalaô)

“ O homem constrói regras e sistemas alimentares na sua vida cotidiana.


Esta necessidade, de ordem biológica, não especifica, no entanto, o que
vai ser ingerido, estas escolhas encontram-se no contexto social, a cultura
é um meio através do qual a natureza é transformada em cultura”
(Lévi-Strauss)

Muitas vezes você já deve ter visto dentro do GRUEL, uma farofa ou um pão
sendo repartido por todos os filhos da corrente. Que idéia você faz desse procedimento?
Já parou pra pensar por que isso ocorre?
Muitos poderiam responder a essas perguntas dizendo que as comidas
representam o alimento da alma, um compartilhar com Deus, uma comunhão com o
sagrado. Todas essas respostas estão corretas mas são muito genéricas e superficiais ou
melhor, explicariam assim o comer em qualquer religião. Mas especificamente na
umbanda, o que representa a comida?
Toda comida feita que será distribuída pela corrente umbandista deve passar de
profana à sagrada. A sacralização inicia-se no momento da sua preparação. A comida
sacralizada passa a chamar-se Iyanlê e tem uma fortíssima representação simbólica
estando relacionada com o ciclo de nascimento e morte, com o coletivo e o individual.
Nascer significa individualizar uma porção do orixá enquanto morrer é restituir essa
porção individual que volta a compor a massa genérica que é o orixá. Quando a porção
individualizada retorna compondo novamente a massa genitora, o Orixá adquire mais axé,
pois tudo o que foi experimentado pela massa individual é adicionada a massa genérica
no momento de seu retorno. Assim, quanto mais esse ciclo ocorre, mais axé o orixá
comporta. As Iyanlês representam a massa genitora genérica, o Orixá, que ao ser cortada
(dividida) dá origem a porções individualizadas que representam o Ori de quem recebe.
Consumindo Iyanlê os médiuns compartilham as substâncias-símbolos (ejés) do axé do
Orixá, compartilham sua força e suas qualidades fortalecendo assim seu axé individual.
A transformação da comida profana em comida sagrada é competência do
Babalaxé, é ele também quem promove a dinâmica magística das sucessivas
transformações da existência genérica em existência individual representando assim a
morte e o renascimento como elemento essencial a evolução e intensificação do axé.
Muitas vezes essa massa individualizada (pedaço) vem amparada por uma folha
vegetal. É claro que a folha não representa simplesmente um recipiente, um prato, é
outrossim, uma simbologia muito importante. Ela representa Exu Bará, o primeiro da vida
individual, representado pela placenta durante a gestação. É a placenta quem intermédia
a mãe e filho, quem transfere os nutrientes necessários estabelecendo o papel de
mensageiro entre um e outro. Assim é Exu Bará quem intermédia a relação entre nós e
nosso orixá; é ele quem nos dá movimento, permitindo nosso nascer, crescer, reproduzir,
cumprir nosso destino pessoal e ciclo vital. Quando morremos nossos Bará muda de
função transformando-se em Exu elerú, o exu transportador do nosso carrego.
Analogamente, a folha de mamona enquanto envolve a comida representa exu bará e
assim que toda porção de comida é ingerida ela “morre” então a folha fazia passa a
representar exu Eleru, que, ao ser passada ao redor da cabeça, representado nosso ciclo
vital, se encarrega de levar os carregos existentes. Neste contexto, a palavra carrego
indica não só energias ruins, mas representa também os padrões pensenes negativos
que sendo repetitivos consomem nossa energia e não nos permite avançar, mudar de
hábitos, experimentar novas realidades.
COMER é reestabelecer o elo com o nosso orixá de tal forma a aumentarmos
nosso axé, de maneira análoga, fazemos isso durante o processo de respiração, ao
inspirarmos retiramos uma porção de ar da atmosfera que tem então sua composição,
temperatura e intensidade alteradas sofrendo individualização e portanto tendo um
propósito, um objetivo, um destino. Ao ser expirada essa massa de ar individualizada
(emi) altera energeticamente a massa de ar atmosférica (Oforufô). Assim emi reintegra o
oforufô modificando-o em qualidade e quantidade de axé.
A participação nesse ritual de alimentação é garantia de prosperidade e saúde,
chamando nossa atenção ao partilhar a Iyanlê como fonte de axé, onde o dividir é somar,
onde partilhar é prosperar.
FINALIZANDO, transcrevo um mito que deu origem ao Olubajé que ocorre no
candomblé keto, durante os festejos a Obaluayê. Olubajé, que significa literalmente
“aquele que aceita comer”, é um partilhar de Iyanlê, fonte de axé e vida que Obaluaiê
pode, com seu poder, restituir aos carentes e enfermos.

XANGÔ um dia convidou os Orixás para uma festa. Havia muita fartura e todos
estavam muito felizes. No meio da festa, eles se dão conta da ausência de obaluaiê...Ele
não havia sido convidado. Temendo sua cólera, os Orixás decidem ir ao se palácio, todos
juntos, levando o que comer e beber. Era necessário pedir desculpas...fazê-lo esquecer a
indelicadeza...Obaluaiê aceita a homenagem, mas faz Xangô chamar a todos os
habitantes de sua cidade para partilhar com ele do banquete...”

Energia escrita: a lei de pemba

A cultura africana chegou no Brasil dentro do ser humano. O africano não trouxe
objetos, livros nem fotografias, ele trouxe sua memória e a partir dela construiu sua
história neste país. Tiraram-lhe tudo: família, posição social, dignidade, profissão, mas
não tiraram seu conhecimento. Esse conhecimento só pode ser mantido durante a
diáspora negra porque esse povo sempre teve uma forte tradição oral. Foi a oralidade que
perpetuou os fundamentos da religião. Assim a tradição dos antigos Babalawôs africanos
manteve-se viva e pode sofrer alterações em contato com a tradição indígena e a tradição
do branco. Foi dessa amálgama que surgiu a tradição dos Babalawôs de Umbanda. Uma
porção diminuta que caminha sobre a terra em segredo, muito discretamente,
sustentando as raízes e permitindo que a verdadeira tradição umbandista prosperasse
para que os demais umbandistas pudessem expressar partes desse conhecimento em
seus atos mediúnicos através da Umbanda popular. O movimento umbandista foi
elaborado a partir de d dois pólos: o material e o espiritual. No Orum, plano espiritual,
surgiu uma realidade nova, uma egrégora na qual entidades foram divididas em linhas e
falagens com características específicas e objetivos próprios todos unidos por uma só
força: a criação do movimento umbandista, estas entidades eram antigos sacerdotes das
religiões das três raças formadoras ou ainda elementos de grande expressão em cada
raça. Estando o astral organizado, a umbanda foi sendo vagarosamente implantada no
ayê, plano material, de tal forma que, quando houve o acúmulo de conhecimento mínimo
necessário, caboclos, preto velhos, exus e pombas giras foram estabelecendo contato
aqui e ali, preparando caminho para o Caboclo das Sete Encruzilhadas por intermédio de
Zélio de Moraes, promover o marco inicial dessa religião. Mas a umbanda não começou
aí muito menos teve todos os seus fundamentos depositados aí. Foi a tradição dos
babalawôs de Umbanda quem sacralizou o território material para que o divino pudesse
se manifestar de maneira mais intensa e pudesse trabalhar de maneira mais profunda
para o bem estar do próximo. Esses Babalawôs de umbanda permaneceram e
permanecem anônimos sendo muito difícil cita-los. Mas em 1956, um desses Babalawôs
da tradição da Raiz da Guiné, WW Matta e Silva resolveu soltar o verbo, e detonar com
toda a superficialidade e mediocridade com a qual os rituais de umbanda estavam sendo
conduzidos. Escreveu várias obras tentando desvendar alguns “véus da Umbanda”,
deixou um legado de mais quatro Babalawôs que seguindo sua própria evolução
superaram seu mestre e especializaram-se em caminhos diferentes, um deles F. Rivas
Neto é o idealizador da primeira Faculdade de Teologia Umbandista. A grande
contribuição desses babalawôs foi a união entre os rituais utilizando-se de chaves mais
simples mas muito mais poderosas para abrir portais. O sacrifício animal e seu ejé
vermelho, foi substituído por sinais feito com pemba a partir de um código: a lei de pemba.
Eu conheço duas tradições a raiz da guiné e a raiz do congo. A raiz da Guiné elabora todo
seu código utilizando elementos da astrologia, do alfabeto adâmico e dos sinais de sete
orixás (Oxalá, Yori, Yorimá, Oxossi, Xangô, Ogum e Yemanjá) é a única difundida
parcialmente em livros por Matta e Silva. A segunda tradição é a raiz do Congo, que
elabora seu código a partir de dez Orixás dando ênfase ao sinais de essuiá e de exu.
Essa última apresenta códigos diferentes para elaboração de Kpoli, para pontos de
entidades, para assentamentos e para mandalas. Quais todos os sinais são comuns mas
código para agrupa-los é diferente. Por isso surgiram tr~es sacerdotes: Babalorixás,
Babalawôs e Babalaxés. A lei de pemba simplificou processos de sacralização, de
assentamentos e de abertura de portais, possibilitou uma maior manipulação de energias
por parte das entidades e ainda intensificou o oráculo de Ifá. MAS há um erro muito
comum: pensar que a lei de pemba é só riscar!!!! Ela exije um maantra (som sagrado) e
um mudrás (gesto sagrado) somente assim a junção risco-som-gesto transforma-se em
movimentação de energia – o Yantra. Meu pai de santo dizia: “Assim como palavras
colocadas ao acaso não originam poesias, somente riscas sinais decorados não são
componentes da lei de pemba” eu diria: “Decorar letras e junta-las pode impressionar
analfabetos mas é signo de mediocridade para os alfabetizados”
Na atual fase do GRUEL, as entidades estão começando a manipular a lei de pemba
herdada da tradição Congo, a maior ou menor habilidade no manuseio dessa lei para
elaboração de pontos depende de vários fatores, mas o conhecimento do médium é um
dos mais importantes. A utilização da pemba para a abertura de portais está começando a
ser utilizadas no momento da energização. A utilização dessa lei para sacralização,
assentamentos, elaboração de Kpoli e aberturas de portais só é ,por enquanto,
competência minha Babalaxé. Mas é claro que assim como eu fui privilegiado certamente
privilegiarei alguém, para com certeza manter viva nossa tradição e a força da pemba do
congo (congo sempre vai girar!). Para finalizar fica o ponto e entenda quem puder:

“ Pisa na linha de congo meu filho, filho meu,


Pisa na linha de congo devagar filho meu,
Pisa na linha de congo destemido, filho meu,
Pai Congo trabalha na umbanda só pra te ajudar
Olha congo a girar”
Ano 2010 Leituras “Fundamentos de raiz”

Prosperidade

Poucas pessoas neste mundo, pouquíssimas mesmo, podem ser consideradas bem-
sucedidas, prósperas. Por que será? O que as diferencia das demais, em número bastante
superior? Existiria, de fato, algum segredo, alguma chave mágica para se abrir as portas dos
tesouros do Universo? Existe, sim, um segredo (podemos dar o nome de segredo por falta de
outro melhor). E as pessoas que compõem esse pequeno grupo, apenas 1% da humanidade,
conhecem esse segredo. É algo tão simples, tão ao alcance de nossas mãos, à nossa
disposição. Chama-se Plano de Vida. Pessoas de sucesso têm um plano de vida, estabelecem
metas. Há um encadeamento de coisas importantíssimas para se alcançar o sucesso. Primeiro,
você precisa ter um sonho definido, precisa saber exatamente o que deseja. Em seguida, deve
estabelecer metas para alcançar o seu sonho. Precisa traçar um roteiro, marcar uma data para
realizar o sonho. Deve planejar como vai cumprir as metas, que caminho vai tomar, o que vai
fazer. Tem que agir. Sem ação não se chega a lugar nenhum. Não adianta sonhar, estabelecer
metas, planejar e ficar sentado em sua zona de conforto. Nada cai do céu. É necessário sair em
campo, para a batalha, para a conquista do seu sonho. E, por fim, precisa acreditar em si, na
sua capacidade, nas possibilidades infinitas e que a realização do seu sonho é possível. Em
suma, o sucesso é o resultado da concretização das metas estabelecidas, do perfeito plano de
ação, do trabalho empreendido em prol do seu ideal e da crença em seu potencial e na
possibilidade da realização do sonho. Este é, portanto, o segredo para se fazer parte do restrito
grupo dos seres bem-sucedidos; esta é a chave que abre as portas dos tesouros infinitos do
Universo. Agora que você conhece o grande segredo do sucesso, magnetize os centros de sua
consciência com pensamentos de sucesso. Contemple o futuro com alegria e expectativa de
grandes realizações. Deseje ser próspero. Deseje firmemente a prosperidade. Deseje atrair
dinheiro para gozar a vida, para ser feliz. Deseje firmemente tudo de bom que a vida tem para
oferecer. Você merece e pode ter tudo o que deseja. Tenha sentimento de solidariedade.
Deseje sinceramente ser útil às pessoas através da riqueza que você conquistar. Deseje
profundamente ajudar o próximo: os parentes, os amigos, os necessitados. Evite o egoísmo, a
ganância desmedida. Deseje a prosperidade para você, para sua família, para os amigos, para
todas as pessoas. Deseje sinceramente ver todo o mundo próspero, saudável e feliz. Deseje
melhorar seu padrão de vida. Visualize o seu sucesso. Veja-se prosperando a cada dia. Veja-se
ganhando muito dinheiro e gastando-o de forma criativa e judiciosa. Veja-se feliz em todos os
momentos de sua vida, ao lado da família, dos amigos. Veja-se amando e sendo amado. Veja-
se de bem com a vida. Sonhe e acredite. Seus sonhos se tornarão realidade. Você pode
conquistar a riqueza simplesmente se imaginando rico. Agindo dessa maneira, você vai contar
com a ajuda infalível do seu subconsciente. Riqueza é uma convicção subconsciente. Você só
precisa pôr em sua mente a idéia da riqueza e fazê-la acontecer usando a chave do sucesso.
Esta é a lei mental: sentimento de riqueza produz riqueza, sentimento de sucesso produz
sucesso. Ao pensar em riqueza, a idéia dominante deve ser de riqueza e não de pobreza; ao
pensar em sucesso, a idéia dominante deve ser de sucesso e não de fracasso. Lembre-se: o
obstáculo ao seu sucesso em tudo que desejar está em sua própria mente. Logo, você pode
destruí-lo quando quiser. Coloque-se mentalmente em harmonia com o seu subconsciente e
seja rico, próspero e feliz. Mas, lembre-se também que o que você afirmar conscientemente,
em certo momento, não deve ser negado mentalmente em seguida. Assim procedendo, você
acaba por desfazer a programação.

O modelo de prosperidade africana


Para os yorubás a prosperidade é algo muito mais complexo que o simples acúmulo de
dinheiro. A paz interior, o equilíbrio emocional, filhos saudáveis, uma mesa farta, um círculo
grande de amigos, uma memória prodigiosa, uma boa caça, uma boa colheita e dinheiro no
bolso, são alguns itens levados em consideração para dizer se uma pessoa tem ou não
prosperidade. A representação física da prosperidade é, na visão yorubá, de fundamental
importância para que ela se materialize, assim tudo que é abstrato, deve ser materializado para
que possa ocorrer de maneira satisfatória. Existe assim um ritual para que a prosperidade seja
trazida para o mundo físico: sua representação é feita pelo akoto, um caracol, que simboliza o
crescimento ao infinito, algumas ervas e sementes e ainda a lama que é o elemento
fundamental na criação de qualquer massa-matéria existente no plano físico. Tendo
manipulado esse representantes simbólicos de forma correta, basta inferir alguns sons, que
poderíamos classificar como mantras, para que a matéria tenha movimento. Dessa forma esse
amontoado de símbolo ganha vida, sendo a representação física do estado de prosperidade
que se deseja. Esse procedimento recebe uma vez por mês um ritual de “comer” isto é, uma
alimentação para que o movimento continui. É como se completássemos o tanque de gasolina
para que o motor da prosperidade pudesse continuar a todo vapor. Esse ritual mensal é
imprescindível para que a materialização da prosperidade permaneça viva e ativa. A
concentração determinada no conceito de prosperidade como sendo exclusivamente um
sinônimo de ganhos monetários podem “matar” a sua representação. Portanto, sejamos
maiores e vamos pedir sempre muito mais que dinheiro...

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