Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Francisco Reis MEM 2018
Francisco Reis MEM 2018
ENSINO DE MÚSICA
INSTRUMENTO – PIANO
M MESTRADO
ENSINO DE MÚSICA
INSTRUMENTO – PIANO
Professora Orientadora
Dr.ª Sofia Inês Ribeiro Lourenço da Fonseca
Professora Cooperante
Maria José Souza Guedes
09/2018
ii
AGRADECIMENTOS À professora Sofia Lourenço
À professora Maria José Souza Guedes
Ao Conservatório de Música do Porto e aos seus alunos
Aos meus pais e familiares
A todas as presenças especiais na minha vida
Aos meus professores
Aos meus alunos
iii
RESUMO O presente relatório reflexivo atesta o trabalho desenvolvido no
âmbito do estágio que integra o Mestrado em Ensino de Música
(Instrumento – piano) da Escola Superior de Música e Artes do
Espetáculo, compreendendo também um pequeno projeto de
investigação que incide na exploração dos métodos de trabalho
de Alfred Cortot e Monique Deschaussées relativos aos
primeiros seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849).
O primeiro capítulo destina-se à contextualização das
atividades. O segundo sumariza a prática de ensino
supervisionada, nomeadamente a observação e a lecionação de
aulas, incluindo os materiais relevantes. O terceiro e último incide
no projeto de investigação em questão.
Partindo de uma abordagem de análise de conteúdo, procedeu-
se ao estudo comparativo das perspetivas técnico-
interpretativas de dois relevantes pianistas do século XX.
Procurou-se entrar em detalhe nas questões de destreza
pianística de uma das obras maiores do repertório do piano,
dando assim um contributo para uma pedagogia informada.
iv
ABSTRACT The present reflective report aims to attest the work carried out
within the context of the internship that is part of the Master
Degree in Music Education (Instrument – piano) from Escola
Superior de Música e Artes do Espetáculo and includes a brief
investigation project as well, which is focused on the exploration
of the study methods by Alfred Cortot and Monique
Deschaussées for the first six of F. Chopin’s Études op. 10.
The first chapter contextualizes the activities. The second
summarizes the supervised educational practice, namely lesson
observation and lesson teaching, and comprises the relevant
documentation. The third and last one is concerned with the
investigation project in question.
Through a content analysis approach, a comparative study of the
technical and interpretative perspectives of two relevant
pianists of the 20th century was devised, intending to go into
detail on the issues of pianistic dexterity of one of the major
works of the piano repertoire and thus contributing to an
informed pedagogy.
v
vi
ÍNDICE
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1
vii
2.6. Pareceres sobre a prática de ensino supervisionada ........... 48
2.6.1. Professora orientadora | supervisora ............................. 48
2.6.2. Professora cooperante ........................................................... 49
ANEXOS ..........................................................................................................107
Anexo 1 ................................................................................................107
Anexo 2............................................................................................... 109
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
POR_1643_ME ............................................................................................................................................................ 5
ix
FIGURA 10. EXERCÍCIO DE DEDOS PRESOS. REPRODUZIDO DE CHOPIN: 12 ÉTUDES, OP.10 (P. 8), DE A. CORTOT,
1915, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS MAURICE SENART. COPYRIGHT 1915, ÉDITIONS MAURICE SENART. .. 59
FIGURA 11. TRABALHO DIGITAL SEM MOVIMENTO DA MÃO. REPRODUZIDO DE CHOPIN: 12 ÉTUDES, OP.10 (P. 8),
DE A. CORTOT, 1915, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS MAURICE SENART. COPYRIGHT 1915, ÉDITIONS
x
FIGURAS 21A, 21B E 21C. PARA O TRABALHO DAS SECÇÕES INICIAL E FINAL. REPRODUZIDO DE CHOPIN: 12
ÉTUDES, OP.10 (P. 21), DE A. CORTOT, 1915, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS MAURICE SENART. COPYRIGHT
1915, ÉDITIONS MAURICE SENART. ...................................................................................................................... 69
FIGURA 22. PRIMEIROS COMPASSOS DO ESTUDO N.º 3. ADAPTADO DE ETIUDY (P. 24), DE F. CHOPIN, 2000,
VARSÓVIA, POLÓNIA: PWM. ................................................................................................................................... 71
FIGURA 23. EXECUÇÃO DA M. E. SEGUNDO DESCHAUSSÉES. REPRODUZIDO DE FRÉDÉRIC CHOPIN: 24 ÉTUDES –
VERS UNE INTERPRÉTATION (P. 38), DE M. DESCHAUSSÉES, 1995, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS VAN DE
VELDE. COPYRIGHT 1995, ÉDITIONS VAN DE VELDE. ........................................................................................ 72
FIGURA 24. COMPASSOS 21 A 23 DO ESTUDO, M. D.. ADAPTADO DE ETIUDY (P. 25), DE F. CHOPIN, 2000,
VARSÓVIA, POLÓNIA: PWM. .................................................................................................................................. 73
FIGURA 25. NOTAS DE PARTIDA; ENCADEAMENTOS. ADAPTADO DE FRÉDÉRIC CHOPIN: 24 ÉTUDES – VERS UNE
INTERPRÉTATION (PP. 39-40), DE M. DESCHAUSSÉES, 1995, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS VAN DE VELDE.
xi
FIGURA 34. FÓRMULAS COM TERCINAS E DEDOS PRESOS. ADAPTADO DE CHOPIN: 12 ÉTUDES, OP.10 (PP. 26-
27), DE A. CORTOT, 1915, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS MAURICE SENART. COPYRIGHT 1915, ÉDITIONS
MAURICE SENART. ................................................................................................................................................... 80
FIGURA 35. FÓRMULAS COM ACORDES. ADAPTADO DE CHOPIN: 12 ÉTUDES, OP.10 (P. 27), DE A. CORTOT, 1915,
PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS MAURICE SENART. COPYRIGHT 1915, ÉDITIONS MAURICE SENART. .............. 81
FIGURA 36. EXERCÍCIO EM GALOPES; RECURSO À ACENTUAÇÃO. ADAPTADO DE FRÉDÉRIC CHOPIN: 24 ÉTUDES
– VERS UNE INTERPRÉTATION (P. 46), DE M. DESCHAUSSÉES, 1995, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS VAN DE
VELDE. COPYRIGHT 1995, ÉDITIONS VAN DE VELDE. ........................................................................................ 81
FIGURA 37. COMPASSOS 35 A 36 DO ESTUDO N.º 4. REPRODUZIDO DE ETIUDY (P. 30), DE F. CHOPIN, 2000,
VARSÓVIA, POLÓNIA: PWM. ................................................................................................................................. 82
FIGURA 38. RELAÇÃO ENTRE OS DEDOS 2 E 3. REPRODUZIDO DE FRÉDÉRIC CHOPIN: 24 ÉTUDES – VERS UNE
INTERPRÉTATION (P. 44), DE M. DESCHAUSSÉES, 1995, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS VAN DE VELDE.
INTERPRÉTATION (P. 45), DE M. DESCHAUSSÉES, 1995, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS VAN DE VELDE.
xii
FIGURA 44. DEDOS CONDUTORES NOS CC. 7 E 8. REPRODUZIDO DE FRÉDÉRIC CHOPIN: 24 ÉTUDES – VERS UNE
INTERPRÉTATION (P. 52), DE M. DESCHAUSSÉES, 1995, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS VAN DE VELDE.
xiii
FIGURA 56. EXERCÍCIOS PARA A EXTENSÃO E POSIÇÃO DOS DEDOS. ADAPTADO DE CHOPIN: 12 ÉTUDES, OP.10
(PP. 40-41), DE A. CORTOT, 1915, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS MAURICE SENART. COPYRIGHT 1915,
ÉDITIONS MAURICE SENART. ................................................................................................................................. 96
FIGURA 57. EXEMPLO DE SEGMENTO ONDE AS SEMICOLCHEIAS PASSAM DA M. D. PARA A M. E. (CC. 17 E 18).
REPRODUZIDO DE ETIUDY (P. 38), DE F. CHOPIN, 2000, VARSÓVIA, POLÓNIA: PWM. ............................. 97
FIGURA 58. USO DO PEDAL NO INÍCIO DO ESTUDO, SEGUNDO CORTOT. REPRODUZIDO DE CHOPIN: 12 ÉTUDES,
OP.10 (P. 41), DE A. CORTOT, 1915, PARIS, FRANÇA: ÉDITIONS MAURICE SENART. COPYRIGHT 1915,
xiv
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1. DISTRIBUIÇÃO DAS AULAS OBSERVADAS E LECIONADAS POR ALUNO E NÍVEL DE ENSINO .......... 14
TABELA 2. DIAS DE OBSERVAÇÃO E DE LECIONAÇÃO DE AULAS E NÍVEIS DE ENSINO CORRESPONDENTES . 15
TABELA 3. SECÇÃO CENTRAL – COMPASSOS E MÃOS CORRESPONDENTES AOS EXERCÍCIOS DE CORTOT E
DESCHAUSSÉES ................................................................................................................................................. 72
TABELA 4. COMPASSOS CONSIDERADOS POR CORTOT E DESCHAUSSÉES E MÃOS EQUACIONADAS ............ 78
xv
xvi
LISTA DE ABREVIATURAS
c. compasso
cc. compassos
CMP Conservatório de Música do Porto
EAE Ensino Artístico Especializado
ESE Escola Superior de Educação
ESMAE Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo
m. d. mão direita
m. e. mão esquerda
n.º número
op. opus
p. página
pp. páginas
s .d. sem data
xvii
xviii
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
INTRODUÇÃO
A função docente compreende uma ação ponderada que, dado o elevado grau de
responsabilidade envolvido, necessita de ter em conta o extensíssimo conjunto de variáveis
envolvidas nos processos de ensino e de aprendizagem, visando a apropriação dos
conhecimentos, a sensibilização e a formação de pessoas autónomas, responsáveis e mais
completas. Neste sentido, para além do domínio específico da área a lecionar, são relevantes os
processos pessoais de autoconhecimento e é importantíssima a familiaridade com um conjunto
de saberes relativos às ciências da educação, que integraram o currículo do primeiro ano do
Mestrado em Ensino de Música da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE)
que frequentei, em articulação com a Escola Superior de Educação (ESE), do Politécnico do
Porto.
É por demais evidente que a realidade da prática pedagógica que tem lugar numa sala de aula é
bastante mais complexa do que o somatório das suas possíveis descrições teóricas e que, ao
mesmo tempo, esta envolve uma série de competências que não estão meramente associadas à
memorização, à lógica, à conceptualização ou à abstração. Por estes motivos, a aprendizagem (e
a avaliação) “no terreno”, com a realização de um estágio curricular possui um lugar central neste
Mestrado, sendo o principal objeto deste trabalho. Por outro lado, uma vez que se trata de um
curso de nível pós-graduado, justifica-se também a realização de uma investigação com
relevância para a prática educativa.
Assim, o presente relatório é reflexivo e compreende três capítulos principais: (I) Guião de
Observação da Prática Musical, (II) Prática de Ensino Supervisionada e (III) Projeto de
Investigação.
1
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Encerrando o relatório, é pertinente uma reflexão final, que parte das experiências derivadas
da prática educativa e da investigação realizada, pretendendo registar e sintetizar o processo de
emancipação profissional do autor enquanto profissional de ensino.
2
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
1.1.1. História
Apesar do “dinamismo por parte de uma elite cultural e económica, que desenvolve iniciativas
assinaláveis no campo musical, como a criação do Orpheon Portuense (1881)”, fundado pelo
violinista, musicógrafo e pedagogo Bernardo Valentim Moreira de Sá, “a abertura do Teatro
Baquet (1859), o Carlos Alberto (1897) e o Avenida (1888)” (Iria, 2011, p. 24), a intensidade da
vida artística da cidade do Porto tinha, no início do séc. XX, decaído, com os portuenses menos
ativamente participantes e mais passivamente expectantes e com uma diminuição do número
de músicos não profissionais, de salas de concertos e de orquestras (Rigaud, 2013). Embora
existisse, em Lisboa, o Conservatório Nacional, criado em 1835 para substituir a antiga escola de
música do Seminário Patriarcal (Borba e Graça, 1996), o ensino de música na cidade do Porto era
prestado unicamente em contexto particular ou familiar, não existindo assim possibilidade de
certificação (Rigaud, 2013).1
Foi nestas circunstâncias que, após algumas tentativas infrutíferas, das quais se salientam as
de António Nicolau de Almeida e do Prof. Ernesto Maia, foi criado o Conservatório de Música do
Porto (CMP) (Costa, 2008), na sequência de uma proposta da responsabilidade do pianista e
diretor de orquestra Raymundo de Macedo (CMP, s.d.).
Raymundo de Macedo, Joaquim de Freitas Gonçalves, Luiz Costa, José Cassagne, Pedro
Blanco, Óscar da Silva, Ernesto Maia, Moreira de Sá, Carlos Dubbini, José Gouveia, Benjamim
Gouveia e Angel Fuentes constituíram o corpo docente fundador desta instituição, estando a
primeira direção a cargo de Moreira de Sá (diretor) e Ernesto Maia (subdiretor). No primeiro ano
de funcionamento, o número de alunos matriculados foi de 339, distribuídos pelos cursos de
piano, canto, violino e violeta, violoncelo, instrumentos de sopro e composição (CMP, n.d.).
1
Os professores particulares realizavam, com alguma frequência, apresentações públicas com os seus
alunos, em diversos espaços da cidade, na sua maioria salões associados às lojas de instrumentos, como
o salão Bechstein, de Raymundo de Macedo (Cancela, 2017).
3
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
2
Ao centro: Moreira de Sá. Ao seu lado direito: Luiz Costa, Pedro Blanco, Ernesto Maia. Ao seu lado
esquerdo: Freitas Gonçalves, Raymundo de Macedo, Carlos Dubbini. Atrás: Augusto Fuentes, Benjamim
Gouveia, José Cassagne.
4
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
grupo de professores (...) decidiu ocupar o Palacete [municipal] Pinto Leite, com o objetivo de
garantir melhores condições” (Cancela, 2017). Os sucessivos conselhos diretivos do n.º 13 da
Rua da Maternidade foram presididos por Fernando Jorge Azevedo, Alberto Costa Santos,
Anacleto Pereira Dias, Maria Fernanda Wandschneider, António Cunha e Silva, Manuela Coelho,
Maria Isabel Rocha e António Moreira Jorge (CMP, s.d.).
5
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Segundo o atual diretor, o Conservatório de Música do Porto contou, no ano do seu centenário,
com mais de 1000 alunos, oferecendo formação em todos os níveis e ciclos de ensino desde o 1.º
ano ao final do ensino secundário (Jorge, 2007). Assim, é proporcionada aos alunos a
possibilidade de traçarem, dentro da instituição, um percurso escolar contínuo e completo.
A qualidade e a excelência do ensino praticadas no CMP são asseguradas pela “competência
dos seus professores” e o “rigor e exigência da sua formação” (Jorge, 2017), comprovadas pelo
sucesso obtido pelos alunos de vários níveis e instrumentos em concursos nacionais e
internacionais, e pelo historial de ex-alunos que se tornaram figuras de renome no panorama
musical português.
No que toca à sua oferta formativa, o Conservatório estrutura-se da seguinte forma:
- 1.º Ciclo do Ensino Básico / Iniciação (em regime integrado ou supletivo);
- Curso Básico de Música (em regime integrado, articulado ou supletivo);
- Curso Secundário de Música – Instrumento, Formação Musical, Composição ou Canto
(em regime integrado, articulado ou supletivo).
A acrescentar a estes cursos, o Conservatório oferece ainda vários cursos livres e a variante de
Jazz, para os alunos do Curso Secundário de Instrumento ou Canto.
Como já foi referido no subcapítulo anterior, o CMP foi, em 2008, acolhido nas instalações da
Escola Básica e Secundária Rodrigues de Freitas, após intervenções nas suas infraestruturas,
realizadas com objetivo de melhorar e ampliar os seus espaços e equipamentos, para que estes
pudessem ir ao encontro das novas exigências do atual modelo de ensino.
6
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
1.2.3. Missão
Tal como é evidenciado no Projeto Educativo do CMP (s. d.), uma das suas principais
prioridades é a aposta numa formação completa e integral de excelência na área da música, que
possibilite a posterior continuação dos estudos.
Poderá isto ser verificado e comprovado através da observação dos princípios e linhas
orientadoras que se transcrevem do Projeto Educativo e que refletem as principais
preocupações da instituição.
7
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Princípios orientadores:
As escolas de ensino especializado da música destinam-se a alunos com
comprovadas aptidões musicais. Como escolas vocacionais que são,
pressupõem uma natural seleção de candidatos, através de testes específicos ou
de outros processos de seriação e seleção. No desenvolvimento da sua atividade
pedagógica – que contempla uma importante componente artística e cultural –
estas escolas desenvolvem e promovem um conjunto alargado de competências,
de caráter específico e transversal. Tais competências são a concretização de um
conjunto genérico de objetivos inscritos na própria existência e tipologia destas
escolas especializadas.
Enunciam-se de seguida os princípios e valores que norteiam a ação global
destas escolas. Assim, o Ensino Artístico Especializado da Música:
- Promove a aquisição de competências nos domínios da execução e criação
musical;
- Incentiva à superação das limitações e à busca da perfeição, que se atingem
pela perseverança, pela disciplina e pelo rigor;
- Desenvolve o sentido da responsabilidade e a capacidade de
autodeterminação;
- Educa para a autonomia e para a ação, gerando autoconfiança e favorecendo
a iniciativa individual;
- Desenvolve a capacidade de cooperação e de trabalho em grupo,
nomeadamente pela prática regular de música de conjunto;
- Educa para a participação na construção da sociedade, sublinhando o valor da
sensibilidade artística nas relações interpessoais;
- Apela à inovação, ao sentido de pesquisa e à investigação, estimulando uma
atitude de procura e desenvolvendo da criatividade.
- Contribui para uma formação mais global, desenvolvendo a capacidade crítica,
a sensibilidade e o sentido estético.
- Sensibiliza para o respeito e defesa do património cultural e artístico.
(CMP, s.d.)
8
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Linhas orientadoras:
O Projeto Educativo contempla os princípios, os valores, as metas e as
estratégias que orientam o Conservatório na sua atividade formativa. Assume,
em consequência, um conjunto orientador de objetivos pedagógicos e
administrativos que contribuem para a sua identidade e norteiam a ação de todos
aqueles que constituem a sua comunidade educativa. Tendo em atenção que
esta escola integra a rede pública das escolas do ensino especializado de música,
no respeito pelas caraterísticas do ensino artístico especializado anteriormente
apresentadas, o Conservatório de Música do Porto assume:
a) A preparação dos alunos, através de uma formação de excelência, orientada
para o prosseguimento de estudos, no ensino superior; para a entrada no
mercado de trabalho, em profissões de nível intermédio; para o desenvolvimento
cultural do indivíduo, numa perspetiva de formação integral;
b) A formação específica do aluno, proporcionando-lhe o conhecimento e
domínio das diversas áreas que integram a sua formação musical. Esta deverá
contemplar uma sólida formação ao nível da prática instrumental; uma
aprofundada formação teórico-prática ao nível das ciências musicais; uma
elevada capacidade de leitura musical; um domínio interpretativo de diferentes
géneros e estilos musicais; familiaridade com o repertório contemporâneo e
competências para a sua interpretação; prática continuada de música de
conjunto.
(CMP, s.d.)
No final do séc. XIX, “tocar piano era um hábito, fazia parte da educação e muitos talentos se
revelaram” (Costa, 2001).
A primeira geração de professores de piano do CMP era constituída por Pedro Blanco, José
Cassagne, Luiz Costa, Joaquim de Freitas Gonçalves, Raymundo de Macedo e Ernesto Maia. À
exceção de Joaquim de Freitas Gonçalves, um dos mais talentosos alunos de Óscar da Silva,
também ele associado ao corpo fundador e que estudou em Leipzig e Frankfurt, mas que nunca
chegou a exercer no Conservatório, todos estes músicos haviam estudado com grandes
9
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
3
Toda a informação que se integra nesta secção provém desta fonte bibliográfica, em articulação com os
dados recolhidos na instituição aquando do estágio, exceto quando de outra forma assinalado em
citação.
4
Como, por exemplo, em 1949, a integral de Chopin, por Leopold Querol (em articulação com a Delegação
do Círculo de Cultura Musical do Porto, fundado por Freitas Gonçalves a convite de Elisa de Sousa
Pedroso) e o Cravo Bem-Temperado de Bach, em 1956, por Helena Sá e Costa.
10
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Conservando-se, ao longo dos anos seguintes, este dinamismo, vieram a integrar o corpo
docente, a partir dos anos 60, pianistas de carreira consolidada, como Fernando Jorge Azevedo,
Fernanda Wandschneider (discípula de Ernestina Silva Monteiro e de Berta Alves de Sousa e
fundadora do importante Concurso Internacional de Música do Porto, que contou com 26
edições) ou Manuela Araújo (discípula de Vianna da Motta, Marie Levêque de Freitas Branco e
Géza Anda) e, nos anos 70, Maria Teresa Xavier, Isabel Rocha, Maria Teresa Paiva, Teresa
Rego, Arminda Odete Barosa e Isabel van Zeller, entre outros.
Ainda em 1965, a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto adquiriu um papel
importante na divulgação musical, realizando a integral dos Concertos para piano de Beethoven
com os professores Hélia Soveral (n.º 1), Manuela Araújo (n.º 2), Fernando Jorge de Azevedo (n.º
3) e Fernanda Wandschneider (n.º 4 e n.º 5).
Até ao período da revolução, juntaram-se ainda ao Conservatório as professoras Maria Teresa
Xavier (discípula de Helena Sá e Costa), Maria Teresa Paiva (aluna de sua mãe, Gilberta Paiva,
Maria Adelaide Freitas Gonçalves e Croner de Vasconcelos) e Isabel Rocha (discípula de sua mãe
Marília Rocha, Maria Adelaide de Freitas Gonçalves e Helena Sá e Costa).
Depois da transição para o Palacete Pinto Leite, em 1975, o dinamismo das décadas anteriores
não foi interrompido, dando-se um aumento significativo do número de professores de piano ao
longo dos anos. Assistiu-se ao ingresso de nomes como Jaime Mota, Maria José Souza Guedes,
Fausto Neves, Teresa Xavier, Fátima Travanca, Manuela Costa, Eduardo Resende e Isabel Couto
Soares, antigos alunos, e de pianistas estrangeiros como Anne Marie Soares (suíça), Vitali
Dotsenko (russo) ou Constantin Sandu (romeno).
Jaime Mota, que havia sido aluno do curso superior, diz, a propósito do Conservatório: “Aí
mergulhei inequivocamente na Música, adquirindo ensinamentos, ligações e oportunidades tão
valiosas que, ainda hoje (...) descubro a sua profunda importância na minha condição de
professor e músico” (Cancela, 2017).
Até ao final do séc. XX deu-se continuidade aos ciclos de concertos dos quais se destacam
alguns, mais relevantes, tais como a Série Cultural das Quintas-Feiras; o “Ano Mussorgsky”,
organizado pela professora Manuela Araújo e celebrado em 1989; e também a primeira edição
do Concurso de Piano, em 1994, no qual o primeiro prémio foi atribuído a Luisa Tender; e a
realização de diversas parcerias entre o CMP e algumas instituições culturais da cidade do Porto,
que possibilitaram a apresentação pública de alguns dos seus professores, enriquecendo a
11
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Consultar o Anexo I para uma cronologia detalhada dos professores de piano do Conservatório
desde a sua fundação até 2017, reproduzida de Cancela (2017).
12
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
2.1. Introdução
A Prática de Ensino Supervisionada é uma unidade curricular que integra o terceiro e o quarto
semestres do Mestrado em Ensino de Música da ESMAE, compreendendo a realização de um
estágio, de cariz profissionalizante, numa instituição de ensino profissional, vocacional ou
artístico e constituindo o eixo estruturante deste mestrado (ESMAE, 2018).
Para mim, o CMP desde cedo se afigurou como um local desejável para o desenvolvimento
deste estágio, uma vez que, para além da sua posição de destaque no EAE e da sua localização
vantajosa, constituiu a escola onde fui aluno durante os nove anos que estabeleceram a base da
minha formação enquanto músico. Foi neste sentido que contactei Maria José Souza Guedes,
minha professora de piano ao longo desses nove anos (de 2001 a 2010), que recebeu muito
positivamente esta possibilidade de reencontro e de cooperação, num voto de amizade e
confiança pelo qual ficarei eterna e profundamente grato.
Observei então aulas lecionadas pela professora Maria José Souza Guedes – na qualidade de
professora cooperante – e ministrei ainda, posteriormente, lições aos seus alunos, tendo sido
guiado, neste processo, pela mesma, conjuntamente com a orientadora deste relatório, a
professora Sofia Lourenço – como professora supervisora.
Neste capítulo, que se destina a descrever estas atividades, começa-se por apresentar a
organização da Prática Educativa e as duas professoras envolvidas, através da exposição das
suas biografias. De seguida, contextualiza-se brevemente o processo de observação e inserem-
se três exemplares de registos das aulas observadas (dado o número elevado de registos, os
restantes poderão encontrar-se no Anexo II). Segue-se a secção relativa às aulas por mim
lecionadas, onde, estabelecidas algumas considerações preliminares, se integram as respetivas
planificações, mas também as reflexões pós-aula e a minha própria avaliação. Por fim, são
transcritos os pareceres das professoras supervisora e cooperante relativamente ao decorrer do
estágio.
Optou-se por não incluir os nomes dos alunos, atribuindo-lhes números e distinguindo o seu
género (aluno ou aluna) com o único intuito de preservar uma maior facilidade no tratamento
linguístico. Indica-se o ano de escolaridade, no caso dos alunos que frequentam o regime
integrado, e o grau de ensino especializado, para os alunos em regime supletivo.
13
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
2.2. Organização
Como já referi, o estágio realizado no CMP compreendeu duas fases distintas, decorrendo a
primeira, de observação, entre Janeiro e Abril de 2018 e a subsequente, de lecionação, nos
meses de Maio e Junho.
Para além destas duas atividades distintas, assisti a duas audições em que alguns destes
alunos participaram, na perspetiva de analisar o seu comportamento e o seu desempenho numa
situação de apresentação pública, com um carácter mais avaliativo, apreciando a sua gestão
individual da ansiedade e as suas perceções de sucesso e fracasso.
Em ambas as etapas de trabalho foram incluídos alunos dos dois níveis de ensino para o qual
este mestrado profissionaliza, o básico e o secundário. No entanto, as circunstâncias específicas
dos alunos (faltas, audições, masterclasses, concursos, provas, etc.) e as condicionantes dos
calendários escolares, dos horários e das disponibilidades dos professores não permitiram a sua
distribuição equitativa, resultando na organização que se explicita na Tabela 1.
Tabela 1
14
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Tabela 2
DIAS
Aulas observadas Aulas lecionadas
MÊS
Ensino Ensino Ensino Ensino
Básico Secundário Básico Secundário
Janeiro 8|9|15|16| 22|23|29|30 8|15|22|29 - -
Fevereiro 6|19|20 19 - -
Março 5|12|13|20|26 5|12|26 - -
Abril 16|23|24|30 16|23 - -
Maio - - - 14
Junho - - 4|6 -
2.3. Orientação
15
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Pianista portuense, realizou os seus estudos musicais no Curso Silva Monteiro, sob a
orientação de Ernestina Silva Monteiro e de Fernanda Wandschneider. Realizou o exame final
desse Curso com 20 valores. Terminou também o Curso Superior de Piano do Conservatório de
Música do Porto, com 20 valores.
Simultaneamente licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da
Universidade do Porto.
É detentora do Primeiro Prémio "Varella Cid" e da Medalha de Ouro Silva Monteiro.
Como bolseira da Fundação Gulbenkian, prosseguiu os seus estudos pianísticos em Viena, com
o prof. Hans Graf. Posteriormente estudou com o prof. Sequeira Costa, tendo frequentado
muitos masterclass de piano, orientados por Vlado Perlemuter, Jörg Demus, Carlos Cebro,
Sequeira Costa etc., e de música de câmara, orientados por Maria João Pires, Augustin Dumay,
Aurèle Nicolet, Patrick Gallois, etc.
Realizou mais de 400 concertos, a solo, com orquestra e de música de câmara, especialmente
com o seu marido, o flautista Luís Meireles, em importantes auditórios e prestigiados festivais,
em Portugal (incluindo Açores e Madeira), Espanha (incluindo Gran Canária), Suécia, Polónia,
Roménia, Grécia, Eslováquia, Hungria, Alemanha, Finlândia, República Checa, Áustria, Itália
(incluindo Sardenha e Sicília), Bélgica, Suíça, França , Rússia (incluindo a Sibéria), Macedónia,
Eslovénia, Sérvia, Croácia, Noruega, Montenegro, EUA , Cuba e Singapura.
Foi solista das Orquestras Sinfónicas do Porto e de Lisboa, da Orquestra Clássica e da
Orquestra Nacional do Porto, do Ensemble do Porto, da Orquestra Sinfónica de Szczecin, da
Orquestra de Câmara da Silésia e da Orquestra de Câmara Nacional do Cazaquistão.
Gravou 7 CDs, três a solo e quatro em duo, que obtiveram excelentes referências da crítica.
Foram-lhe dedicadas várias obras, nomeadamente pelo compositor Fernando C. Lapa, que
estreou em primeira audição absoluta: Plural III para clarinete e piano (1993), Variações sobre o
Coro da Primavera para piano solo (2000), Duplo Concerto para flauta, piano e orquestra de
16
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
cordas (2002), O Milagre do Amanhecer (2008), para piano, e 4 Versos de Olhar Suspenso, para
piano e flauta (2012)
Foi membro de júri de vários concursos nacionais e internacionais, em Espanha, Macedónia,
Itália, Rússia e Portugal.
Orientou vários cursos de masterclass em Portugal e França.
É professora do Conservatório de Música do Porto, desde 1982, após ter vencido o respetivo
concurso de provas públicas. Muitos dos seus alunos têm sido regularmente premiados em
concursos nacionais e internacionais.
O elevado número de horas dedicado no âmbito deste estágio à observação das aulas da
professora cooperante poderia parecer excessivo, não se tivesse em conta a sua grande
utilidade na formação de professores.
De facto, a posição central da observação, nos mestrados profissionalizantes, é perfeitamente
justificada, uma vez que esta constitui um instrumento muito relevante de reflexão,
aprendizagem e análise da prática pedagógica, permitindo, segundo Estrela (1994), a
modificação do comportamento e da atitude do professor em formação.
Na minha experiência, considero que observar externamente a ação de outro professor me
permitiu catalisar o processo de pensar devidamente a ação educativa. Foi particularmente
relevante o facto de a professora cooperante ter sido a minha professora de piano durante todo
o meu percurso no CMP, o que me permitiu refletir, a uma distância de mais de oito anos e de
múltiplas vivências pessoais e profissionais, sobre a minha própria realidade como discente,
tornando mais claros pressupostos e processos implícitos e explícitos.
17
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O modelo de registo adotado consiste numa grelha de observação de fim aberto, que se baseia
na divisão temporal da aula de acordo com os conteúdos programáticos, ao invés de utilizar um
intervalo de tempo específico, como por vezes é sugerido, permitindo-me assim uma maior
concentração e envolvimento analítico, mantendo um foco alargado. Intentei, nos registos
realizados, uma demarcação clara das observações descritivas e das observações
interpretativas.
18
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Componente técnica
5
Apresentam-se como exemplos os primeiros três registos efetuados. Consultar o Anexo II para os
restantes.
19
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Esta foi a primeira peça abordada pois, assim que a professora deu por terminada a
componente técnica, o aluno pediu para a tocar, manifestando um grande apreço pela
mesma. Apesar de se tratar de repertório novo, lido nas férias de Natal, o aluno tocou já
toda a peça com as mãos juntas, tendo dificuldade apenas em alguns pontos
específicos, onde professora o auxiliou, dizendo o nome das notas enquanto este
tocava. Para além disto, a professora chamou a sua atenção para que não fizesse três
repetições da primeira secção, pediu-lhe que respirasse na presença das pausas e da
barra dupla e explicou-lhe o funcionamento das caixas de repetição. Perguntou-lhe
ainda se determinado acorde, onde este apresentou dificuldade, lhe era familiar e o
aluno manifestou conhecer a sonoridade e nomear corretamente o acorde de sétima da
dominante. Chegando ao fim, o aluno levantou-se do banco, acontecimento ao qual a
professora não deu muita importância, pedindo-lhe que se sentasse para trabalharem
um aspeto, específico do estudo. Este aspeto prendia-se com uma melodia cantabile na
mão esquerda, em que a professora evocou a imagem de um violoncelo, com um
acompanhamento harmónico na mão direita, em que o aluno não estava a realizar
corretamente a pausa e os contornos ascendente e descendente. A professora explicou
tudo claramente e, tendo o aluno tocado a mesma passagem com sucesso, pediu-lhe
que se lembrasse de a estudar em casa.
Falando sobre um dos acordes dessa mesma passagem, o aluno dispersou a sua
atenção e começou a experimentar acordes mais ou menos aleatórios no piano. Neste
ponto, a professora decidiu mudar de peça, perguntando ao aluno se havia trabalhado
alguns itens da sua lista de repertório marcado para as férias, que se encontrava no seu
caderno.
Apesar de o aluno se ter mostrado disposto a tocar este estudo, referiu que não havia
estudado muito bem. A professora disse-lhe que não se importava e, quando o aluno
terminou de o tocar pela primeira vez, mãos juntas, incentivou-o, apesar de este se
mostrar um pouco descontente (“pensava que estava mal”). De seguida, orientou-o na
contagem dos tempos e, perante alguma dificuldade na junção das mãos, trabalhou com
o aluno as mãos separadas, cantando as melodias para o auxiliar. No total, o aluno tocou
o estudo duas vezes, trabalhando isoladamente o compasso mais difícil. Note-se que
este estudo não era o que a professora tinha marcado para as férias, mas encontrava-
se na mesma página, pelo que o aluno teria confundido os dois. A professora decidiu, no
entanto, trabalhá-lo na mesma, aproveitando assim o investimento do aluno.
20
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Minueto em Sol Maior, BWV Anh. 116 – J. S. Bach, livro de Anna Magdalena
O aluno começou a tocar a peça com as mãos juntas e, chegando ao fim da parte A,
onde se encontrava uma barra de repetição, a professora disse-lhe: “Gostei tanto que
quero ouvir outra vez!”. Havendo muito pouco a apontar nesta primeira secção, a
professora forneceu apenas orientações relativas às dinâmicas, à medida que o aluno ia
tocando. Chegando à parte B, a professora perguntou-lhe em que tonalidade esta se
encontrava e o aluno respondeu corretamente. Encontrando-se esta mesma secção
bastante menos segura do que a anterior, o aluno apresentou mais dificuldades. Nestas
circunstâncias, a professora encontrou-se atenta, chamando de imediato a atenção do
aluno para as causas dos problemas específicos a cada situação, como por exemplo a
dedilhação ou uma abertura exagerada da mão num intervalo de 7ª. Pediu-lhe ainda que
não olhasse exclusivamente para os dedos, que consultasse também a partitura, uma
vez que este não se lembrava do que se seguia, em determinados pontos.
O aluno tocou o estudo com as mãos juntas, manifestando apenas uma dificuldade
mais notória na cadência, onde a professora o ajudou guiando-o com o nome das notas
e cantando. Neste estudo, uma das principais dificuldades apresentava semelhanças
com uma das passagens que o aluno não realizou corretamente no primeiro estudo
trabalhado. A professora apontou este facto e elogiou-o por aqui executar
corretamente a figuração da mão direita.
Conclusão da aula
21
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
À medida que a aluna foi tocando o estudo, a professora foi oferecendo algumas
instruções, interrompendo quando necessário. O principal aspeto abordado foi a
dedilhação.
Em alguns pontos, a professora marcou na partitura dedilhações diferentes daquelas
que se encontravam indicadas na edição que a aluna possuía. Noutras passagens,
mantiveram-se as dedilhações recomendadas pelo editor, mas foi necessário chamar a
atenção da aluna, uma vez que esta as executava erradamente, manifestando,
consequentemente, irregularidade. Ainda noutras situações, a professora marcou
dedilhações em locais que não possuíam indicações desta ordem. Uma destas abarcava
uma passagem cromática, onde a professora prescreveu uma dedilhação que
compreendia o uso do quarto dedo. Aqui, explicou à aluna que, executada dessa forma, a
passagem se tornava mais simples do que se se empregasse a dedilhação tradicional
(que emprega apenas os três primeiros dedos).
Outros aspetos trabalhados incluíram a realização do contorno melódico nas
figurações rápidas e o aproveitamento da harmonia: a professora pediu à aluna que
tocasse “como se estivesse apaixonada pela música”, indicação que fez muita diferença
no resultado que a aluna produzia (até esta se distrair com outras questões,
provavelmente por falta de automatismo). Para além disto, a professora realizou, por
vezes, perguntas como “porque será que estão escritas semínimas?”. Neste caso em
específico, a aluna respondeu “para manter a nota” e a professora acrescentou “e para
cantar!”.
Foi necessário indicar uma nota errada e chamar a atenção da aluna para o facto de,
apesar de existir já um pouco de fluência na peça, esta ser quebrada em pontos
específicos que correspondiam a terminações invulgares de frases, ou transições. Isto
foi feito com um tom de brincadeira (“tenho de te puxar as orelhas?”), mas foi apontado
que se tratava de uma questão de estudo insuficiente.
Trabalhando uma das passagens em que a aluna apresentou dificuldade, a professora
dividiu-a em duas partes, referindo que a segunda se tratava de um arpejo comum,
deste modo simplificando-a cognitivamente para a aluna.
22
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Antes de a aluna começar a tocar a peça, a professora indicou que poderia prolongar
um pouco a aula. Referiu também a importância de usar o pedal moderadamente,
mesmo tratando-se de uma composição de Chopin, e brincou um pouco com isto.
Inquiriu a aluna sobre a dificuldade principal da mão esquerda no início, ao que aluna
respondeu a dificuldade em ouvir-se o terceiro dedo (controle dinâmico com movimento
do pulso).
Tratando-se de uma obra já trabalhada nas aulas anteriores, a abordagem foi
detalhada e semelhante àquela usada no Estudo de Moszkowski: enquanto a aluna
tocou, a professora foi orientando, corrigindo e interrompendo.
Foram trabalhados:
• Condução melódica – conduzir as frases para o seu clímax; retirar falsos
acentos. Por vezes, a professora fez perguntas como “este sol é mais forte do
que este?”, explicitando assim as suas instruções clara e objectivamente. Nas
passagens polifónicas, a professora cantou, para que esta compreendesse
melhor as diferentes vozes. Em determinados momentos pediu-lhe que
imaginasse um grande cantor, referindo também a questão da respiração.
• Dinâmicas: A aluna apresentou tendência a tocar demasiado piano, pelo que a
professora chamou a sua atenção várias vezes, pedindo-lhe que atentasse a
indicação con anima, na parte mais forte. Usou também imagens como a de uma
escada com vários patamares, para concretizar este tipo de crescendo e, por
vezes, justificou formalmente algumas das opções estilísticas (exemplo:
salientar o que é novo, não dando tanta importância ao que já se ouviu). Em
determinada secção pediu-lhe que tocasse com “toda a orquestra”.
• Forma – estruturas de 4 compassos. Em determinada instância, a professora
tocou uma redução harmónica de uma secção, evidenciando assim a sua
condução frásica.
• Pedal: Apesar da preferência por um pedal discreto, a professora insistiu para
que não houvesse, na mudança de pedal, um intervalo sem ressonâncias,
pedindo à aluna que utilizasse mudanças de meio pedal. Numa secção que a
aluna tocou sem pedal, a professora escreveu na sua partitura marcações para
que esta soubesse como o aplicar. Com este aspecto, a professora brincou
também um pouco e contou uma história do pianista Artur Pizarro, em que este
lhe terá dito algo como: “podes pôr o pedal todo que quiseres, desde que eu não
note”.
23
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Conclusão da aula
24
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Componente técnica
25
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
A professora pediu ao aluno que tocasse uma vez a peça sem pedal. Uma vez que o
aluno não ficou muito animado, falámos os três sobre a necessidade de fazer este
trabalho.
A obra encontrava-se, de facto, num nível inicial de preparação. A professora foi
corrigindo algumas questões de solfejo e marcou e trabalhou com o aluno algumas
dedilhações e saltos, com as mãos separadas e com as mãos juntas. Por vezes, explicou
o porquê de determinadas opções de dedilhação e clarificou a forma como o aluno
deveria pensar determinadas passagens, por exemplo, pedindo-lhe que agrupasse
mentalmente os acordes de três notas em grupos de duas mais uma nota. Sempre que o
aluno se encontrou com problemas numa passagem, a professora não lhe permitiu
seguir em frente sem compreender devidamente o problema.
-Em determinado momento, o aluno preferiu uma dedilhação diferente da indicada
pela professora, tendo-lhe sido permitido adotar a sua opção.
-Numa fase de menor concentração por parte do aluno, a professora aparentou
manter o mesmo nível de energia, incentivando-o (“Boa! Acho que vais tocar isto muito
bem!”) e brincando um pouco com ele.
-A professora perguntou ao aluno em que tonalidade se encontrava a parte B e
elogiou-o por notar que este a estudou em casa. Pediu-lhe que repetisse esta mesma
secção para verificar se não existiam erros de leitura. Repetiram ainda mais uma vez o
último sistema da mesma.
-Em certa passagem, que apresentava uma dificuldade grande para o aluno,
resolveram o problema assumindo que não se tocaria uma nota. A professora assinalou
que se tratava de uma situação em que era necessário realizar este ajuste, mas que
este não deveria ser um método a aplicar recorrentemente.
-A professora chamou a atenção do aluno para ouvir uma inversão de um acorde e,
mais à frente, para o equilíbrio das notas.
Chegando ao fim, foi pedido ao aluno que tocasse novamente as últimas duas páginas.
Quando terminam, a professora consultou o relógio, para verificar se havia sobrado
tempo. Pedindo a o aluno que preparasse esta peça novamente para a próxima aula, e
escrevendo-o no seu caderno, abordou então o terceiro andamento da Sonata.
26
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Antes de iniciar este andamento, o aluno perguntou se a professora pretendia que ele
tocasse com ou sem pedal. Uma vez que esta lhe respondeu que usasse “muito pouco”,
o aluno preferiu optar por não o usar, começando a tocar.
À medida que foi prosseguindo, a professora foi interrompendo, dando algumas
instruções, de entre os quais:
• Começar sem acento, como se a música já tivesse iniciado.
• Não fazer uma série de 5 notas iguais na mesma dinâmica, pensar um
crescendo.
• Corrigir dedilhações. Num destes momentos, a professora explicou que a
dedilhação usada pelo aluno estava a conduzir a que tocasse, por vezes, uma
nota errada. Dando-lhe duas alternativas, o aluno escolheu uma delas. Voltando
a fazer o mesmo erro, pouco depois, a professora assinalou-o assertivamente.
• Corrigir notas erradas, que, nalgumas instâncias, se encontravam já assinaladas
na partitura.
• Realizar os diferentes modos de articulação em cada mão. A propósito, a
professora aproveitou para brincar um pouco com o aluno, a respeito da sua
coordenação: “quando conduzires vai ser bonito!”.
• Respeitar as pausas.
• Ajustar aspetos mecânicos, como a posição da mão, que, em determinada
escala, deveria estar mais próxima do teclado.
Após uma secção que se encontrava pior, numa cadência, a professora interrompeu o
aluno e pediu-lhe que repetisse, indicando o compasso de onde deveria começar. Deste
modo, o aluno repetiu em aula a parte que estava menos estudada. Mais à frente,
quando este chegou ao mesmo ponto, a professora permitiu-lhe continuar, mas pediu-
lhe que estudasse bem aquele trecho para a próxima aula, explicando-lhe que, criando
vícios errados, se tornaria mais difícil para ele efetivar as correções.
Conclusão da aula
27
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
(...) in an occupation such as learning to master an art, (...) if not all, then almost
all depends on individuality (...). (Neuhaus, 1993, p. 17)
28
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
dos conceitos, estratégias e sequências nelas encontradas ao decorrer das lições, conseguindo,
assim, maior fluidez e eficácia.
Depois de cada planificação, apresenta-se a avaliação do aluno e uma reflexão sobre a aula,
que tem em consideração a discussão com as professoras supervisora e cooperante.
2.5.2. Aula 1
2.5.2.1. Planificação
– Apresentação da aula:
Aluno: Aluna n.º 1
Regime de frequência: Supletivo – 7.º grau
Tipologia de aula: Individual
Duração: 90 minutos (2 tempos)
Data: 14 de Maio de 2018
Docente: Francisco Reis
– Conteúdos:
29
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
30
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
que terá lugar duas semanas depois desta aula. Estas questões correspondem à seleção de
conteúdos didáticos acima apresentados.
– Desenvolvimento da aula:
31
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Recursos
Dois pianos; dois bancos; partituras; lápis; borracha; metrónomo.
didáticos:
32
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
– Atividades de enriquecimento:
Se possível, serão estabelecidas comparações entre aquilo que é pedido à aluna e situações
que lhe possam ser familiares, sejam estas do domínio do senso comum, ou relativas à sua
realidade pessoal e às suas atividades, como a dança.
33
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Não conseguiu
alcançar
Consistência e A execução foi Conseguiu alcançar
consistência,
correção na execução, inconsistente, consistência, correção e
correção ou
segurança irregular e insegura. segurança na execução.
segurança na
execução.
Conseguiu
Não conseguiu Conseguiu
Compreensão e compreender e aplicar
compreender nem compreender e aplicar
aplicação dos métodos parcialmente as
aplicar as estratégias com sucesso as
e estratégias estratégias e os
e os métodos estratégias e os
propostas métodos
apresentados. métodos apresentados.
apresentados.
34
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Em análise ulterior, considero que tive uma boa prestação e que consegui resultados muito
interessantes com a aluna, que agradaram também às professoras presentes.
A professora cooperante salientou a qualidade das estratégias empregadas, particularmente
nas escalas e no Estudo de Moszkowski, tendo apreciado o uso que foi feito do metrónomo
neste último, ajustando o andamento à tarefa a realizar e possibilitando assim o sucesso da
aluna.
A professora supervisora, que concordou com os tópicos referidos pela professora
cooperante, reparou que teria sido pertinente o trabalho da mão esquerda na secção inicial do
Noturno, tendo em conta o tamanho médio da mão da aluna. Indicou ainda que poderia ter sido
apropriado recomendar a audição de gravações de pianistas de referência.
Foram destacadas por ambas as professoras a perspicácia da abordagem e a adequação dos
conteúdos e das sequências de aprendizagem, em função da aluna, aspeto fulcral na realidade
do ensino individual.
2.5.3. Aula 2
2.5.3.1 Planificação
– Apresentação da aula:
Aluno: Aluna n.º 2
Regime de frequência: Integrado – 8.º ano
Tipologia de aula: Individual
Duração: 90 minutos (2 tempos)
Data: 4 de Junho de 2018
Docente: Francisco Reis
35
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
– Conteúdos:
36
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
e ao texto musical, e as suas interpretações traduzem apreço por uma estética equilibrada e
ponderada.
Uma vez que a aluna teve a sua prova de final de ano letivo na semana anterior à lecionação
desta aula, tendo obtido a classificação de 18 valores, espera-se que as obras apresentadas se
encontrem bem resolvidas, motivo pelo qual tentarei realizar um trabalho de aprimoramento que
se foque essencialmente em aspetos estilísticos e formais, conforme os conteúdos didáticos
acima apresentados.
Nesta ordem de ideias, poderá ser interessante explorar com ela uma leitura mais intensa do
conteúdo emocional das obras, no geral e no particular, que mantenha em conta a necessidade
de equilíbrio e uma forte ligação à racionalidade.
– Desenvolvimento da aula:
37
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
38
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Recursos
Dois pianos, dois bancos, partituras, lápis, borracha, metrónomo.
didáticos:
– Atividades de enriquecimento:
Tentar-se-ão contextualizar os estilos barroco e romântico estabelecendo relações com os
conhecimentos que a aluna poderá possuir à partida;
Poderá ser sugerida a audição de gravações do repertório executado, bem como de outras
obras que se considerem relevantes.
6
Esta avaliação baseia-se numa avaliação parcial do conteúdo programático, dado que que nunca tinha
ouvido a aluna tocar o Noturno.
39
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Destreza técnica
(igualdade e Consolidou Consolidou
Não consolidou os
velocidade em parcialmente os significativamente os
aspetos técnicos das
diferentes dinâmicas, aspetos técnicos das aspetos técnicos das
obras.
notas dobradas, obras. obras.
escalas, arpejos, etc.)
Compreendeu
Aspetos da Não compreendeu Compreendeu e
parcialmente ou
expressividade e do ou não empregou os empregou com sucesso
empregou por vezes
estilo (fraseio, aspetos da os aspetos da
os aspetos da
prosódia, planos expressividade e do expressividade e do
expressividade e do
sonoros, etc.) estilo. estilo.
estilo.
Não conseguiu
alcançar
Consistência e A execução foi Conseguiu alcançar
consistência,
correção na execução, inconsistente, consistência, correção e
correção ou
segurança irregular e insegura. segurança na execução.
segurança na
execução.
Conseguiu
Não conseguiu Conseguiu
Compreensão e compreender e aplicar
compreender nem compreender e aplicar
aplicação dos métodos parcialmente as
aplicar as estratégias com sucesso as
e estratégias estratégias e os
e os métodos estratégias e os
propostas métodos
apresentados. métodos apresentados.
apresentados.
40
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
ressonâncias do instrumento foi particularmente positiva, embora esta tarefa necessitasse, por
certo, de continuidade, para produzir um efeito significativo.
A fim de alcançar efetivamente um nível de interpretação mais profundo, parece-me que seria
necessário o aprofundamento extensivo do “ouvido interior” da aluna, em paralelo com a
construção de um maior vocabulário de movimentos. Para além da chamada da atenção da
aluna para a expressividade da linguagem musical, incluindo aqui elementos como a textura,
penso que foram oportunas as sugestões que lhe forneci de ouvir árias de ópera de Bellini,
procurando paralelismos com a escrita de Chopin, e de, mais genericamente, assistir a concertos
com regularidade. No entanto, ficou por abordar mais detalhadamente a relação com o
movimento.
A abordagem da Sinfonia foi breve, uma vez que os conteúdos anteriores ocuparam
praticamente a totalidade do tempo da aula. Ainda assim, tratando-se de uma peça curta, foi
possível realizar certos ajustes que se traduziram favoravelmente.
A professora supervisora elogiou alguns aspetos desta aula, entre eles a forma simples e
amável de expor os conteúdos, a boa relação com a aluna, o uso eficaz da demonstração “ao
vivo”, com exemplos práticos, o uso adequado do reforço positivo e a capacidade de me fazer
entender, base da pedagogia.
A professora cooperante, estando de acordo com a professora supervisora, acrescentou que
considerou muito interessante o trabalho desenvolvido no Noturno, compreendendo o uso dos
pedais e das ressonâncias do instrumento, a “orquestração” (trabalhando a mão esquerda com
as duas mãos, antes de acrescentar depois a mão direita), o cantabile (em relação com a ópera
de Bellini e abarcando as ornamentações e as terminações dos trilos), a estabilidade rítmica
(essencial nas tercinas) e a implementação de comparações com a pintura. Mencionou que
poderia também ser interessante proporcionar à aluna associações com a literatura, como por
exemplo com a tragédia de Shakespeare Romeu e Julieta. Na sua opinião, os segmentos do
Noturno que envolviam execução polifónica na mão direita poderiam ter sido abordados mais
extensivamente, uma vez que não se encontravam bem solucionados. Na Sinfonia, apreciou a
correção da prosódia, a importância dada às figuras mais longas para a estabilidade da pulsação
(em oposição às figuras curtas ou rápidas), e o uso da respiração (evitando transparecer
dificuldade na execução).
41
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
2.5.4. Aula 3
2.5.4.1. Planificação
– Apresentação da aula:
Aluno: Aluno n.º 3
Regime de frequência: Integrado – 7.º ano
Tipologia de aula: Individual
Duração: 90 minutos (2 tempos)
Data: 6 de Junho de 2018
Docente: Francisco Reis
– Conteúdos:
42
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
– Desenvolvimento da aula:
43
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
peças em questão.
Tentar-se-á que o aluno possa chegar às suas próprias
conclusões, estimulando assim o seu sentido crítico, a sua
motivação e a sua experiência de autonomia.
Tentar-se-á criar um ambiente favorável para a interpretação e
exploração emocional da música. O aluno deverá estar à vontade
para cantar.
Serão fornecidas instruções para aumentar o rendimento do
estudo individual do aluno, revendo-se as suas estratégias de
trabalho e fornecendo-se novos métodos que se adequem aos
conteúdos didáticos.
Poderão ser prescritos determinados exercícios, ou poderá ser
sugerido repertório específico do instrumento, a trabalhar durante
as férias escolares.
44
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Recursos
Dois pianos, dois bancos, partituras, lápis, borracha, metrónomo.
didáticos:
– Atividades de enriquecimento:
Tentar-se-ão contextualizar os estilos estabelecendo relações com os conhecimentos que o
aluno poderá possuir à partida dos períodos clássico e moderno.
45
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
DOMÍNIO MUSICAL7
Não demonstrou Evoluiu pouco
Evolução geral de aula Evoluiu muito desde
evolução desde a aula desde a aula
para aula a aula anterior.
anterior. anterior.
Não conseguiu Conseguiu Conseguiu
Leitura das obras
concretizar com concretizar concretizar com
(mãos separadas e mãos
sucesso a leitura das parcialmente a sucesso a leitura das
juntas)
obras. leitura das obras. obras.
Destreza técnica
Consolidou Consolidou
(igualdade e velocidade Não consolidou os
parcialmente os significativamente os
em diferentes dinâmicas, aspetos técnicos das
aspetos técnicos das aspetos técnicos das
notas dobradas, escalas, obras.
obras. obras.
arpejos, etc.)
Compreendeu
Não compreendeu Compreendeu e
Aspetos da parcialmente ou
ou não empregou os empregou com
expressividade e do empregou por vezes
aspetos da sucesso os aspetos
estilo (fraseio, prosódia, os aspetos da
expressividade e do da expressividade e
planos sonoros, etc.) expressividade e do
estilo. do estilo.
estilo.
Não conseguiu Conseguiu alcançar
Consistência e A execução foi
alcançar consistência, consistência, correção
correção na execução, inconsistente,
correção ou segurança e segurança na
segurança irregular e insegura.
na execução. execução.
Conseguiu Conseguiu
Não conseguiu
compreender e compreender e aplicar
Compreensão e compreender nem
aplicar parcialmente com sucesso as
aplicação dos métodos e aplicar as estratégias e
as estratégias e os estratégias e os
estratégias propostos os métodos
métodos métodos
apresentados.
apresentados. apresentados.
7
Não se considera o primeiro parâmetro visto que não disponho de dados para realizar essa avaliação.
46
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
47
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
48
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
49
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
3.1. Introdução
Nobody can bypass Chopin’s etudes!!! They are milestones of virtuosity and
musicality both. (Leonskaja, 2010)
A minha vontade de tratar este opus de Estudos parte, naturalmente, da relevância que este
assume na prática pianística. Tendo alguns dos Estudos op. 10 sido escritos pela altura dos vinte
anos do compositor, “foi com estas peças que o estilo de Chopin se revelou plenamente, em todo
o seu poder e subtileza”, não se verificando, nas obras mais tardias, embora, por vezes, mais
ambiciosas ou audazes, mudanças de estilo radicais, como acontece em Haydn, Beethoven, ou
mesmo Mozart e Schubert (Rosen, 1993, p. 369).
Desta forma, os Estudos de Chopin constituem pináculos da forma romântica que é o Estudo
de Concerto e concentram em si uma série de dificuldades técnicas que fazem parte,
inevitavelmente, do processo gradual de domínio do instrumento, possuindo um lugar bem
estabelecido na aprendizagem do piano, especificamente no ensino secundário dos
conservatórios e nos níveis pré e pós-graduados das universidades. Justifica-se assim a
relevância de os abordar no contexto deste Mestrado.
50
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Alfred Cortot foi um pianista, maestro e pedagogo suíço altamente conceituado, reconhecido
como especialista na interpretação do repertório romântico para piano e autor de vários livros e
de uma vastíssima coleção de edições de trabalho de numerosas obras de Chopin, Liszt e
8
Neste parágrafo, as datas apresentadas entre parêntesis dizem respeito aos anos do nascimento e, nos
casos em que se aplica, da morte dos autores.
9
Neste parágrafo, as datas apresentadas entre parêntesis dizem respeito aos anos das publicações dos
autores.
51
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Schumann, bem como de algumas peças de Bach, Franck, Mendelssohn, Schubert e Weber, que
totalizam 76 volumes, publicados pela editora parisiense Salabert. Note-se que Cortot foi, em
França, aluno de L. Diémer e de É. Descombes, um dos últimos alunos de Chopin, e que
influenciou profundamente várias gerações de artistas, lecionando lendários cursos de
interpretação em Paris. Em resultado da sua atividade e dos seus empreendimentos literários,
Cortot deixou uma das exposições mais completas de ensino empírico em registo escrito,
comparável em âmbito e interesse às de Heinrich Neuhaus e Artur Schnabel. As suas ideias
sobre as obras musicais, a sua apresentação de ideais interpretativos e de ensino e as muitas
soluções que propõe para problemas de interesse são de grande mérito. (Dubal, 1989; Taylor,
1988)
Entre as suas obras, salienta-se a sua contribuição para a literatura técnica Principes
Rationnels de la Technique Pianistique, publicada em 1928, que abre com o seguinte parágrafo:
Dois fatores estão na base de todo o estudo instrumental. – Um fator psíquico,
ao qual respeitam gosto, imaginação, raciocínio, sentimento da nuance e da
sonoridade; estilo, em uma palavra. – Um fator fisiológico, isto é, habilidade
manual e digital, submissão absoluta dos músculos e dos nervos às exigências da
execução. (Cortot, 2005)
Note-se, no entanto, que, apesar do valor poético e da inspiração das suas interpretações, a
qualidade técnica das execuções de Cortot está longe dos patamares de outros artistas, sendo,
em algumas instâncias, bastante inconsistente, como se pode constatar nas suas gravações e
como é relatado por vários autores (Taylor, 1988).
Cortot foi, em 1919, cofundador da École Normale de Musique de Paris, onde teve como
discípulos Monique Deschaussées, Clara Haskil, Yvonne Lefébure e Magda Tagliaferro, entre
outros (Deschaussées, 1984; Taylor, 1988).
Monique Deschaussées teve também como professores L. Levy, outro discípulo de L. Diémer,
e E. Fischer, sendo um dos seus raros alunos privados. Possuidora de uma carreira internacional
como concertista, dedicou-se, a partir de 1957 e durante mais de dez anos, ao estudo
aprofundado de métodos de relaxamento e da psicoterapia, nomeadamente sobre a reeducação
do controle cerebral, o que a levou a reconsiderar a técnica, o ensino do piano e a sua própria
carreira pessoal. Descobrindo uma imperiosa vocação para a pedagogia, onde pôde sintetizar as
suas pesquisas no plano humano e musical, tornou-se professora na École Normale de Musique
52
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
de Paris (de 1969 e 1971) e, posteriormente, no Conservatoire Européen de Musique de Paris (de
1969 a 1977), desenvolvendo um método natural para tocar piano que permite ao artista
exprimir-se livremente. Deschaussées publicou os seguintes livros: L’homme et le piano (1982),
Chopin: les 24 études (1986), que surge em 1995 com o título Frédéric Chopin: 24 Études – Vers
une interprétation,; La musique et la vie (1988), com a colaboração de Érik Pigani; Musique et
spiritualité (1996); e Par la musique deviens qui tu es (1999). Uma vez estabelecida como
reputada pedagoga, ministrou também conferências, cursos de interpretação e de pedagogia em
vários países, integrando, por vezes, júris de concursos nacionais e internacionais.
(Deschaussées, 1984, 1995)
O objetivo desta investigação foi, pois, o confronto das perspetivas e das abordagens de Cortot
e Deschaussées respetivas aos seis primeiros Estudos do opus 10 de Chopin, procurando
analisar, sintetizar e comparar duas importantes fontes bibliográficas relativas a este particular
segmento do repertório para piano e aspirando daqui retirar alguma conclusão, no sentido de
iluminar as principais diferenças e semelhanças entre si.
53
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
54
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O trabalho desenvolvido por Cortot (1915) tem em vista vários aspetos, entre os quais o
“desenvolvimento da extensão” (p. 7). Para isto, são, por vezes, empregadas posições que
envolvem uma grande abertura da mão, entre os dedos 1-5, 1-2-4 e 1-4, por exemplo (Figura 4).
Figura 4. Exercícios envolvendo extensão. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (pp. 7-8), de
A. Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
Por sua vez, Deschaussées (1995), não nega um trabalho de extensão, mas preconiza que este
seja realizado “em técnica pura” (p. 26), fora do teclado, sobre uma mesa (p. 12). Assim, tocar em
extensão deve sempre ser evitado, pretendendo-se a supressão das posições de grande
abdução, através da conceção do Estudo em fórmulas de dedos 2451 (ou 2351), que incluem o
polegar seguinte e não o precedente (como ocorreria na fórmula 1245), e de um transporte de
peso adequado, de um dedo para o outro, atentando ao seu equilíbrio e ao fecho imediato do arco
da mão sobre o seu ponto de partida (articulação metacarpofalângica). A imagem fornecida é a
de caminhar sobre os dedos, relaxando cada dedo sobre o seguinte e mantendo, assim, o mesmo
55
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
contacto e a mesma sensação de conforto sobre cada nota. A libertação total do polegar
aquando do toque do 2.º dedo parece ser particularmente importante, uma vez que “um polegar
tenso bloqueia automaticamente o pulso, podendo a tensão tomar todo o braço” (Deschaussées,
1995, p. 27). Para a autora, o pensamento e a realização deste Estudo segundo estes princípios
tornam-no acessível mesmo para as pequenas mãos.
Cortot (1915) não faz referência a este transporte de peso, mencionando o peso do braço
apenas no processo de execução do “staccato pesado do antebraço” e é nessa e apenas nessa
circunstância que alude à importância de um polegar solto (p. 7). Talvez devido à valorização que
faz do trabalho de extensão, o autor não apresenta, ao longo dos primeiros onze exercícios,
qualquer observação relativa ao fecho da mão, mencionando apenas a preparação antecipada
do polegar nos exercícios 7 e 8, e reservando aquela indicação para os exercícios 12 a 15, que
empregam ritmos com apoios sucessivos sobre um mesmo dedo (Figura 5).
Figura 5. Exercícios com ritmos. Reproduzido de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 8), de A.
Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
É interessante reparar que Deschaussées emprega também estes ritmos, como forma de
aumentar a velocidade e de trabalhar o encadeamento entre as diferentes posições, embora não
refira a paragem no primeiro dedo (correspondente ao exercício n.º 12 de Cortot), provavelmente
para evitar a conceção da posição na forma 1245, que se referiu previamente. A autora
recomenda que se desenvolva um trabalho mais aprofundado das passagens mais difíceis, que
podem facilmente ser detetadas com estes exercícios, e vai um passo mais longe neste tipo de
abordagem, aplicando o mesmo princípio ao longo de duas oitavas, isto é, parando apenas na
56
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
terceira vez que um dedo se repete (e.g. 2 4512451 2).10 Deschaussées sublinha a importância do
relaxamento completo entre cada grupo e da previsão mental do movimento seguinte, ao passo
que Cortot, para além do fecho da mão sobre os pontos de apoio, atenta no evitar do colapso ou
quebra dos dedos e na precisão da articulação dos dedos que executam as fusas, que deverá ser
próxima do teclado. A indicação de Cortot de aplicar as nuances , antecipando as
indicações presentes no texto musical da sua edição, é congruente com as indicações de
Deschaussées, embora ela reserve a variação dinâmica às duas oitavas superiores e pareça
preferir a realização deste tipo de trabalho separadamente, conservando mais simples os
exercícios de ritmos (Figura 6).
Outra característica comum a Deschaussées e Cortot é o trabalho das posições tomadas pela
mão ao longo do Estudo. No entanto, como seria expectável, tendo em conta as suas diferentes
perspetivas relativamente à extensão, a forma de as trabalhar é consideravelmente distinta.
Cortot agrupa as notas em diferentes configurações, de maior ou menor extensão, dando
relevância à preparação antecipada do ataque e à sua precisão (Figura 7).
Figura 7. Posições em Cortot. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 7), de A. Cortot,
1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
10
Pela descrição que Deschaussées faz destes exercícios entende-se que, na sua perspetiva, não é
necessária a paragem na nota inicial. Assim, a notação da sua versão dos exercícios poderia ser muito
idêntica à que é feita por Cortot (Figura 2), mas eliminar-se-ia a primeira colcheia de cada exercício (e a
ligadura de prolongação correspondente).
57
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Por sua vez, Deschaussées (1995) sugere que se toquem, primeiramente, os acordes
formados sem os polegares, ao longo das quatro oitavas, “sentindo bem as distâncias e os
relevos criados pelas teclas brancas e pretas” e “deixando as sensações penetrar na mão” (p.
24), partindo depois para o deslocamento ultrarrápido destes mesmos acordes, preparando-os
antecipadamente, de forma semelhante à de Cortot, e para a realização de projeções entre estes
acordes e o polegar seguinte (“pequenas distâncias”, sentindo a nota comum entre os dedos 3 ou
4 e o polegar) e entre o polegar anterior e estes acordes (“grandes distâncias”) – Figura 8.
11
No terceiro, quarto e quinto acordes do sistema superior, encontra-se um erro tipográfico: a nota
superior deveria estar colocada uma linha suplementar abaixo (mi).
12
Ocorre novamente um erro tipográfico: no último acorde do sistema à direita existe uma linha
suplementar a mais. As notas superiores deste acorde deveriam ser dó e mi.
58
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Figura 10. Exercício de dedos presos. Reproduzido de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 8), de A.
Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
No que toca às estruturas físicas para além dos dedos, Deschaussées (1995) refere, desde o
início, “o papel capital do braço, numa técnica de dedos rápida e possante” (p. 24), recomendando
que o cotovelo se mantenha livre e capaz de conduzir o peso do braço necessário para a
execução forte. Introduz ainda, no final do capítulo dedicado a este Estudo, um movimento
vertical do pulso, com o objetivo de frasear cada grupo de 4 notas. Estas observações
contrastam um pouco com a postura de Cortot (1915), que, embora reconheça o papel do peso do
braço na execução staccato, trabalhando a “solidez de ataque” (p. 7), apresenta algumas
observações que podem conduzir a uma maior ou menor fixação de certas estruturas,
nomeadamente o evitar de todo o movimento da mão, no exercício 10. Esta indicação relaciona-
se certamente com o trabalho da “força individual de cada dedo” (p. 8) – Figura 11.
Figura 11. Trabalho digital sem movimento da mão. Reproduzido de Chopin: 12 Études,
op.10 (p. 8), de A. Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915,
Éditions Maurice Senart.
De certo modo, o exercício apresentado nesta última figura remete também para o
encadeamento entre posições, trabalhado por Deschaussées com o uso de ritmos, como se
descreveu acima. A autora recomenda a consciência das “viragens”, sentindo o fecho da mão
59
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
entre o quinto dedo e o polegar, e reforça mais uma vez o imperativo de se tocar através das
“pequenas distâncias” (fórmula 2451 ou 2351), que, segundo ela, faz com que “este Estudo se
torne um dos 24 que mais deixa a mão fechada, por muito paradoxal que possa parecer”
(Deschaussées, 1995, pp. 25-26). No seu parecer, o segundo dedo tem um papel fundamental no
encadeamento das posições, assegurando o equilíbrio da mão e a condução do movimento, e da
sua precisão depende a propriedade da execução. Assim, na execução rápida, recomenda que se
pense somente neste dedo, sentindo a distância que separa duas notas a executar
consecutivamente com o segundo dedo.
60
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Outra diferença importante entre estes dois autores é o recurso a dedilhações diferentes do
padrão de dedilhação original de Chopin13, que Cortot (1915) considera inaceitável, por “alterar
demasiado o carácter sonoro da passagem” (p. 10), mas que é aconselhado por Deschaussées
nos compassos 31-32 e 35-36 – Figura 13.
Figura 14. Exercício para os cc. 42 a 44. Reproduzido de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 8), de A.
Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
13
Que se pode encontrar na edição de Ekier (Chopin, 2000).
61
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
62
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
seguinte, através de um rápido gesto lateral do pulso (Deschaussées, 1995, p. 33). Quanto às
duas notas inferiores da mão direita, que constituem também figuras de acompanhamento e que
são trabalhadas de seguida, isoladamente e em relação com a mão esquerda, é dada grande
relevância à precisão e à “vida” das falangetas, como aliás em todo o Estudo, também neste caso
em contiguidade com o teclado. Esta indicação parece aliar-se bem à ideia de pizzicato fornecida
por Cortot (1915), que sugere uma execução muito curta, “pinçando as notas”, – Figura 15 – e
aconselha também o estudo isolado destas figuras, utilizando um movimento muito rápido dos
dedos, com a mão imóvel (p. 15).
14
Isto ocorre com frequência em passagens cromáticas, mas também em frases de canto legato.
63
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Figura 16. Escalas preparatórias. Reproduzido de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 14), de A.
Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
Deschaussées (1995), que instrui também a “trabalhar uma escala cromática com os dedos 3,
4 e 5, ao longo de todo o teclado, ida e volta, em movimento contínuo ou descontínuo, com
variantes, de forma a preparar a escala cromática do Estudo” (p. 34), opta por não regular
detalhadamente a dedilhação, a divisão métrica e a articulação a aplicar, deixando-as ao critério
do pianista. Apesar disto, são proveitosas as propostas relativas ao movimento descontínuo e à
realização de variantes, bem como o espaço deste modo proporcionado para a expressão de
criatividade na concretização do exercício.
Passando à escala cromática que percorre todo o Estudo, Deschaussées indica que esta se
exercite com a dedilhação escolhida para a execução, primeiro legato, depois staccato de dedo,
de perto, controlando o contacto, que deve permanecer o mesmo sobre as teclas brancas e as
teclas pretas, não sendo suficiente, por exemplo, meramente aflorar uma tecla branca que se
situe entre duas teclas pretas. Após este trabalho, desenvolvido sentindo os dois patamares do
teclado (o das teclas pretas e o das teclas brancas) e cuidando a perfeição da articulação, a
regularidade do seu débito e a igualdade tímbrica, deverá tocar-se toda a escala cromática, no
andamento final, juntamente com o acompanhamento da mão esquerda, atentando na relação
entre as mãos e na sua sincronia.
Cortot aborda o treino desta mesma escala mediante um método bastante distinto, aplicando
quatro padrões rítmicos a cada grupo de quatro compassos, mantendo a mão tranquila e
realizando os acentos com os dedos – Figura 17a. Tal como Deschaussées, alvitra o emprego da
dedilhação final do Estudo, salientando a importância da sua definição, não a deixando ao acaso.
Propondo uma única dedilhação, na sua edição, explicita o critério por detrás da sua escolha, que
64
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
consiste em dar primazia às posições que permitem uma maior independência dos dedos e uma
maior igualdade, admitindo, contudo, a possibilidade de modificação, tendo em conta a
conformação individual de algumas mãos – Figura 17b.
a:
b:
Figuras 17a e 17b. Treino da escala com ritmos; Critério para a escolha da
dedilhação. Reproduzido de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 14), de A. Cortot, 1915,
Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
Porém, o exercício n.º 10, que, de acordo com o autor, deverá ser executado em andamento
moderado e nuance forte, com os acordes deslizando de um para outro, parece ser algo
65
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
contraditório, uma vez que, possuindo ou não utilidade, convida à fixação do polegar e do
segundo dedo, que, segundo o próprio, não devem constituir um “ponto de apoio para os dedos
superiores” (Cortot, 1915, p. 15). Note-se também o elevado grau de extensão presente nas
posições que emergem dos exercícios 10 e 11, reminiscente do tratamento do Estudo anterior.
a:
b:
66
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Na parte A, Cortot (1915), analogamente ao que sucede no segundo Estudo, preconiza a divisão
da mão em duas regiões musculares distintas, produtoras de diferentes intensidades sonoras,
embora declare, neste caso, que não se trata “de um problema técnico especial”, mas de uma
dificuldade de ordem geral, que se encontra na “maior parte das obras expressivas de
Beethoven, Chopin, Schumann, César Franck e, sobretudo, Bach” (p. 20). Por este motivo,
considera essencial o trabalho judicioso e racional da “independência sonora dos diferentes
67
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
dedos” e apresenta, para este efeito, oito exercícios introdutórios, que se destinam aos cinco
dedos da mão direita, individualmente e em alternância – Figura 20. Apesar da sua aparente
simplicidade, note-se a difícil transposição de alguns deles, pelo que se julga relevante a
sugestão fornecida de o aluno criar as suas próprias fórmulas.
Figura 20. Exercícios introdutórios. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (pp. 20-21), de A.
Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
68
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
tecla branca, embora o autor não o mencione). A sensação de “fazer passar o peso da mão, e
mesmo do antebraço, sobre qualquer dedo, com o resto da mão completamente livre e relaxado”
(Cortot, 1915, p. 21) possui aplicação prática, no Estudo, na melodia executada pelos dedos 3, 4 e
5, presente nos 20 primeiros e nos 16 últimos compassos, que se deverão trabalhar recorrendo à
fórmula número 9 – Figura 21a. O compasso 16, ao qual esta fórmula não se adequa, executar-
se-á, neste caso, de acordo com a Figura 21b. Neste exercício, a força dos dedos superiores
obtém-se, segundo o autor, não pela articulação, mas pelo peso, e o polegar e o segundo dedo
devem limitar-se a aflorar as teclas, embora com uma grande precisão de ataque. O aluno é
instruído a tocar os primeiros 20 compassos 5 vezes, de seguida, lentamente e escutando a
sonoridade produzida. Prevendo a necessidade de melhor apurar e consolidar este conteúdo,
Cortot oferece ainda um exercício suplementar – Figura 21c.
a:
b:: c:
Figuras 21a, 21b e 21c. Para o trabalho das secções inicial e final. Reproduzido de Chopin: 12
Études, op.10 (p. 21), de A. Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright
1915, Éditions Maurice Senart.
69
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
15
“Avoir la sensation de prendre les touches et non pas de les enfoncer seulement” (Deschaussées, 1995,
p. 37).
16
Note-se que o primeiro segmento melódico, comporta, em três momentos (cc. 2, 3 e 5), repetições do
quinto dedo sobre a mesma tecla.
70
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Por outro lado, na voz inferior da mão direita, Deschaussées advoga o uso do nível superior do
escape, o que vai de encontro ao preceito de Cortot de apenas aflorar os dedos correspondentes.
Para a autora, o “papel motor” destas semicolcheias é fulcral, constituindo “a trama da obra”, e a
sua regularidade comporta “uma verdadeira pulsação, profunda”, que não deve ser acelerada
nos valores longos da melodia (Deschaussées, 1995, p. 38). É por meio destas figuras, que se
unirão as secções, e que se realizarão as variações agógicas (incluindo o rallentando final),
preservando a unidade formal da obra, ressaltada por Deschaussées. Cortot não versa este
aspeto, mas refere, a propósito, que o rubato deve ser empregue “sem exagero”, de acordo com
“as acelerações e retardos naturais de uma declamação por vezes comovida, por vezes ardente”
(Cortot, 1915, p. 22).
No que diz respeito à mão esquerda desta primeira secção, que não é em nenhuma instância
aludida por Cortot, Deschaussées (1995) recomenda que esta estabeleça um “doce balanço”,
correspondente a um movimento vertical do pulso, de acordo com a Figura 23 (p. 38). Na junção
com a mão direita, este balanço não deverá perturbar a independência do acompanhamento das
semicolcheias nem o fraseio da melodia, devendo evitar-se acentuar o canto no segundo tempo
do compasso.17
17
Notar, no entanto, na escrita original de Chopin, os acentos colocados nas segundas semicolcheias de
cada tempo, na mão esquerda.
71
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Para a secção central do Estudo, tanto Deschaussées como Cortot apresentam exercícios ou
métodos de trabalho distintos, para uma ou ambas as mãos, de acordo com as dificuldades aí
presentes. Como se pode verificar na Tabela 3 abaixo, Cortot apresenta fórmulas, agrupadas por
letras, para todos os compassos desta secção, à exceção dos cc. 42 e 43 (aos quais se podem
aplicar as fórmulas contidas na letra F). Deschaussées, por sua vez, foca-se apenas em algumas
destas passagens.
Tabela 3
Cortot Deschaussées
cc. 21-29 Letra A m.d.
cc. 30-41
Letra B m.d.
cc. 34-35
cc. 32-33 “Posições”, “Partidas”,
Letra C 2 mãos 2 mãos
cc. 36-37 “Encadeamentos”
cc. 38-41 Letra D 2 mãos “Dedos condutores” m.d.
cc. 43 e 45 Letra E m.d.
“Partidas”, “Encadeamentos”,
cc. 46-53 Letra F 2 mãos 2 mãos
Projeções, “Dedos condutores”
Assinala-se, antes de mais, que o papel do pulso, desconsiderado por Cortot na primeira
secção, é aqui reconhecido na letra A, onde este lhe atribui a importância de assegurar o legato
na passagem em sextas, – Figura 24 – e, indiretamente, também nas letras C e F, no movimento
vertical de ataque aí patente, que se discutirá de seguida.
72
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Na letra C, tanto Cortot como Deschaussées se ocupam das posições assumidas pela mão, em
acordes. À semelhança do que aconteceu no primeiro Estudo, Deschaussées foca-se em sentir
estas posições e em deslocar os acordes rapidamente, com precisão, antes de os tocar, mas,
neste caso, propõe também o conhecimento das notas de partida de cada grupo de dois e o
trabalho dos encadeamentos entre as notas da segunda e da primeira colcheia de cada grupo (as
notas de partida) – Figura 25.
Cortot, de forma um pouco distinta, começa também por trabalhar as posições formadas pelos
acordes, com a realização de 10 repetições da primeira fórmula que apresenta, em acelerando, e
prossegue com a execução rápida dos grupos de duas colcheias, atacando forte e “de alto” –
Figura 26.18 Defendendo uma boa elevação da mão e do antebraço depois de cada ataque, que,
na realização deste tipo de fórmulas, deverá ser de “pelo menos 20 centímetros acima das
teclas” (Cortot, 1915, p. 22), o autor assume uma posição muito divergente da de Deschaussées,
que escreve: “os fraseios de dois em dois fazem-se com um movimento do pulso, mas sem
saltar, preservando o contacto” (Deschaussées, 1995, p. 41).
18
Numa outra fórmula, respeitante à letra D, Cortot (1915) fala em “robustez de ataque” (p. 22).
73
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Figura 26. Letra C – Cortot. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (pp. 21-
22), de A. Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915,
Éditions Maurice Senart.
Figura 27. Letra F – Cortot. Reproduzido de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 22), de A. Cortot,
1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
Quanto aos compassos dispostos na letra D, Cortot recomenda que estes se estudem
suprimindo os polegares, em cada uma das mãos, muito legato, “inclinando ligeiramente a mão
(...) e segurando bem o teclado” 19 (Cortot, 1915, p. 22) – Figura 28a. Este “pressionar” relaciona-
19
“en poussant légèrement la main du côté ou l’on joue et en tenant bien le clavier” (Cortot, 1915, p. 22).
74
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
se, muito provavelmente, com o “apoio” ou “peso”, por si previamente apontados, diferindo um
pouco da sensação de “agarrar” nas teclas descrita por Deschaussées, na sua abordagem à
melodia. O autor aconselha também o estudo da passagem original aplicando padrões rítmicos –
Figura 28b.
a:
b:
Figuras 28a e 28b. Letra D – Cortot. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 22), de A.
Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
No final da secção central (cc. 56-61), antes da repetição do tema inicial, Cortot recomenda que
se conserve o tremor da exaltação anterior, extinguindo-o por degraus. São também úteis os
seus conselhos em relação aos pedais, dos quais Deschaussées não se ocupa.
Cortot (1995) afirma que o uso do pedal direito deve ser quase exclusivamente comandado
pela linha melódica, permitindo-lhe mover-se claramente sobre um fundo envolvente. Para isso,
deve evitar-se “o seu emprego rudimentar, por pacotes harmónicos”, mudando-o com
frequência e liberdade e “reduzindo ao mínimo o tempo necessário para levantar o pé entre cada
75
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
batimento” (p. 22). Sugere também que, nos primeiros compassos, se recorra à surdina, que
permitirá melhor salientar a melodia respeitando, no entanto, o carácter global.
O Estudo número quatro apela, novamente, à técnica de dedos. Para Deschaussées, o seu
interesse musical, frequentemente negligenciado, encontra-se no jogo entre as duas mãos, que
se perseguem num movimento perpétuo, frenético, parecendo, por vezes, querer escapar:
embora estas se encontrem transitoriamente, a escrita volta sempre a “girar” obcessivamente e,
finalmente, na coda, depois de uma insistência terrível, com as mãos juntas e con più fuoco
possibile, tomba definitivamente a última evasão (Deschaussées, 1995).
Cortot, nas páginas dedicadas à exposição da sua abordagem, foca-se única e exclusivamente
na consolidação dos aspetos mecânicos, não apresentando qualquer sugestão relativamente ao
carácter ou à interpretação.
Neste sentido, começa por apresentar uma série de exercícios preparatórios destinados à
igualdade dos dedos nas duas mãos, mantendo regularidade e vivacidade no ataque e
empregando o polegar indiscriminadamente sobre teclas brancas e teclas pretas, de acordo com
a escrita de Chopin. Note-se que a emancipação do polegar, isto é, a sua livre aplicação sobre as
teclas pretas e em fragmentos melódicos, constitui mais um dos aspetos sumarizados por
Eigeldinger (2005) em que Chopin quebrou com as regras clássicas, expandindo os horizontes
relativamente à problemática da dedilhação (pp. 19-20). Esta característica será também notória
no Estudo seguinte, op. 10 n.º 5. Estes primeiros exercícios organizam-se de acordo com a
posição assumida pela mão, que poderá ser de recolhimento ou de extensão, correspondendo a
fórmulas melódicas conjuntas (por meios tons e por tons inteiros – n.º 1 e n.º 2) ou disjuntas (n.º
4), respetivamente – Figura 30. A fórmula n.º 3, servindo de transição, assiste na regularização
do terceiro e do quarto dedo.
20
Esta característica será também notória no Estudo seguinte, op. 10 n.º 5.
76
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Figura 30. Exercícios preparatórios. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 26), de A.
Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
77
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Cortot, para além das fórmulas acima expostas, concede uma fórmula suplementar “para
estabelecer, com facilidade e rapidez, a passagem da mão da posição recolhida à posição
estendida” – Figura 31 – e, antes de passar ao trabalho de alguns fragmentos específicos do
Estudo, recomenda que este se trabalhe com ritmos, em segmentos de três ou quatro
compassos, repetindo-os oito a dez vezes (Cortot, 1915, p. 26).
Tabela 4
21
No #7, em Cortot (1915, p. 27), ao invés de “Mesures 35, 36, 40, 41”, deveria ler-se “Mesures 35, 36 et
39 à 44” ou simplesmente “Mesures 35, 36 et similaires”.
22
No #8, em Cortot (1915, p. 27), ao invés de “Mesure 47”, deveria ler-se “Mesure 46” ou “Mesures 45 et
46”.
78
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
De um modo geral, Deschaussées concentra-se mais no texto original, ao passo que Cortot,
partindo do mesmo, desenvolve métodos de trabalho que isolam dificuldades específicas
próprias às passagens sobre as quais se debruça, envolvendo um conjunto de métodos comuns,
entre os quais tercinas, dedos presos e acordes, que passarei a descrever, transcrevendo alguns
exemplos.
Figura 32. Fórmulas com tercinas. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (pp.
26-27), de A. Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright
1915, Éditions Maurice Senart.
Os exercícios com dedos presos são os mais numerosos e, relacionando-se também com o
aperfeiçoamento da articulação, envolvem, por sua vez, a independência dos dedos, parecendo
ter igualmente utilidade, por vezes, na assimilação das posições da mão. Embora a sua tipologia
seja distinta, à semelhança do que aconteceu no primeiro Estudo deste opus, estes
23
No #9, em Cortot (1915, p. 27), ao invés de “Mesures 71 à 79”, deveria ler-se “Mesures 71 à 78”.
79
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Figura 33. Fórmulas com dedos presos. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 27), de A.
Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
Existem também fórmulas que empregam simultaneamente dedos presos e tercinas, como as
que se apresentam na Figura 34.
80
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O uso de fórmulas com acordes diz respeito à consolidação das posições assumidas pela mão
(nomeadamente nas configurações de acordes em blocos), ao seu encadeamento (através do
seu deslocamento e da perceção dos dedos comuns) e à preparação antecipada de
determinados dedos – Figura 35.
Figura 35. Fórmulas com acordes. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (p.
27), de A. Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915,
Éditions Maurice Senart.
81
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
dedo, que “tem um papel pivot e conduz o 2.º [dedo] seguinte”, que, depois da execução da
oitava, assume a mesma nota através de um movimento lateral do pulso (Deschaussées, 1995,
p. 47) – Figura 37. A junção dos dedos 2 e 3 da mão direita virá reforçar a segurança dada pelos
mesmos dedos na mão esquerda.
82
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
a:
b:
83
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Outra passagem onde o trabalho de encadeamentos poderá ser bastante proveitoso é o trecho
correspondente aos compassos 40 a 43, onde se reúnem dois elementos heterogéneos – Figura
41. Nesta e noutras instâncias, é sugerida uma paragem num dedo “difícil”, para lhe dar
segurança; neste caso, no 4.º dedo dos primeiros tempos de cada compasso, na mão esquerda.24
Como se pode deduzir de alguns dos exemplos anteriores, Deschaussées dá uma grande
importância à relação entre as mãos, o que contrasta com Cortot, que indica apenas um exercício
que envolve este aspeto (ver fórmula #5C, na Figura 33). Para uma boa sincronização, a autora
considera essencial o conhecimento dos reencontros entre elas e a precisão dos dedos que
“marcam os tempos”, frequentemente o terceiro, na mão direita, e o segundo, na esquerda
(Deschaussées, 1995, p. 44).
A indicação de Deschaussées (1995) de sentir os dois níveis do teclado na anacrusa inicial do Estudo (p.
24
84
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
seguinte. Aconselha o uso da dedilhação 25312 na subida e 21452 na descida, o que não condiz
com a dedilhação de Chopin (que indica 25412 na subida), coincidindo, no entanto, com a que é
apresentada por Cortot na sua edição (Chopin, 2000).
Para Deschaussées (1995), o Estudo número cinco é outro Estudo de dedos no opus 10, de
carácter ligeiro e com um desenho luminoso e caprichoso. Estas características são partilhadas
com o Estudo número dois, no entanto, aqui, Chopin escreve a mão direita usando
exclusivamente teclas pretas (à exceção de uma nota, no c. 66), colocando-se, portanto, a
questão do equilíbrio e da precisão dos dedos sobre as mesmas.
Esta autora escreve que “o melhor trabalho preparatório [para este Estudo] consiste em fazer
a técnica quotidiana sobre as teclas pretas (dedos, saltos, oitavas, acordes, oitavas quebradas)”,
tornando o nível superior do teclado tão familiar que se possa esquecer que existe um outro
(Deschaussées, 1995, p. 51), mas não desenvolve esta ideia, apesar de voltar a mencionar, no
final, relativamente ao compasso 83, a importância de praticar escalas em oitavas em toda a
extensão do teclado, atentando nas distâncias dissimilares entre as notas sol - mi e ré -
si .25
Cortot, pelo contrário, dedica grande atenção a esta preparação, fornecendo uma série de
nove26 exercícios destinados a “assegurar, antes de mais, o perfeito domínio da sucessão de
teclas pretas, nas duas mãos”. Aqui, encontram-se exercícios que compreendem a adaptação
física às posições mais comuns que surgem do uso restrito das teclas pretas, preservando a
“regularidade sonora” dos “dedos fortes” e “fracos”, através do recurso a teclas presas (incluindo
a sua fórmula mais básica e tradicional), acordes, tercinas, acentuações, escalas (simples e em
notas dobradas, legato) e acordes quebrados (em divisão binária e divisão ternária, “legato e
staccato de dedo, evitando todo o movimento no momento da passagem do polegar”) (Cortot,
1915, p. 33) – Figura 42.
Cortot numera apenas oito exercícios, mas é bastante claro que, no último exercício encontrado nesta
26
85
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Figura 42. Exercícios preparatórios de Cortot. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (pp. 33-34),
de A. Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
86
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Neste outro grupo de exercícios, é a mão direita que constitui o enfoque de Cortot, verificando-
se que a mão esquerda é abordada apenas nos compassos 1 e 57 a 6027 – Figura 43. A propósito,
Deschaussées (1995) salienta, nestes mesmos compassos, a importância da precisão das notas
centrais dos acordes, que lhes proporcionam “plenitude, densidade e riqueza harmónica” (p. 51),
propondo, de forma um pouco distinta, que, no caso do primeiro compasso, se sintam os
intervalos de terceira individualmente, antes de juntar as oitavas.
27
No último exercício que Cortot (1915) apresenta, que se pode consultar na Figura 43, ao invés de
“Mesures 57 et 58”, deveria ler-se “Mesures 57 à 60”.
87
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
harmónica no ré do c. 41. São ainda merecedoras de atenção a melodia no polegar, nos cc. 41 a
48, a necessidade de aligeirar o braço na dinâmica piano, no c. 2, e a consciência dos dedos
condutores, nos cc. 7 e 8 – Figura 44.
Porém, à parte das indicações anteriores, Deschaussées não concede métodos de trabalho
especiais destinados à mão esquerda, a não ser relativamente à passagem final (cc. 79 a 82) e,
quanto à mão direita, a situação é semelhante, sendo fornecidos apenas alguns exercícios e
instruções de carácter geral, para além dos que dizem respeito àquele grupo de compassos.
Destas instruções, relativas à mão direita, é relevante mencionar a atenção dada, mais uma
vez, ao abandono das posições da extensão (nos cc. 45-48) e à precisão dos polegares e das
falangetas dos quintos dedos, das quais depende “a luminosidade dos arabescos”
(Deschaussées, 1995, p. 52). Deschaussées (1995) escreve que os polegares, velozes e ligeiros,
não podem pesar ou sobrecarregar a mão direita, “que deve voar” (p. 52). Cortot (1915), refere,
complementarmente, como “regra essencial para a boa posição da mão em todo este Estudo”,
que o polegar não se deve afastar da nota que vai tocar (p. 35), indicando inclusivamente um
exercício para os compassos 57 a 62 que tem em conta este princípio, visando
concomitantemente a ligeira acentuação do polegar e a execução rápida e brilhante dos dedos
superiores – Figura 45.
88
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Outros aspetos importantes na mão direita, evidenciados por Deschaussées, prendem-se com
os compassos 33 a 40. Aqui, a autora defende o controlo do contacto com as notas centrais,
transportando o peso de um dedo sobre o seguinte e fechando a mão nas distâncias maiores
(sol - ré , com os dedos 2 4). Subentende-se também o trabalho dos encadeamentos, de
acordo com o exemplo transcrito na Figura 46. Cortot, por sua vez, para esta mesma passagem,
destina a fórmula #3, abordando-a na perspetiva das posições da mão, em acordes, e da
independência dos dedos – Figura 47.
Quanto aos exercícios gerais que se mencionaram acima, estes baseiam-se no trabalho das
“viragens” (“deslocamentos laterais de certos dedos”) e na consolidação dos “grupos fracos da
mão direita” (Deschaussées, pp. 53-54). Para o primeiro, a autora enfatiza a prática sistemática
dos encadeamentos entre os segundos e os terceiros tempos e entre os quartos e os primeiros
tempos dos compassos seguintes, assinalados na Figura 48a. Para o segundo, instrui que se
toquem, juntamente com a mão esquerda, apenas os grupos assinalados na Figura 48b.
89
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
a:
b:
Este último trabalho envolve também, implicitamente, os “reencontros” entre as mãos, que
deverão ser melhor consciencializados individualmente, tocando as duas mãos e parando nos
pontos onde as semicolcheias da direita coincidem com os acordes da esquerda, sentindo os
dedos correspondentes.
90
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Depois de assim abordada, esta passagem deverá ser conceptualizada, na execução rápida,
através da parte condutora (dedos 321 321 321), a trabalhar separadamente – Figura 51 – e em
conjunção com a mão direita. Apesar da acentuação presente em cada intervalo de terceira,
deverá sentir-se o compasso binário.
91
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Cortot, para este mesmo conjunto de quatro compassos (79 a 82), fornece exercícios que se
focam, em ambas as mãos, nas distâncias entre os dedos e nas posições da mão (e seu
deslocamento) – Figura 52.
Tal como Deschaussées, Cortot atribui importância, na mão esquerda, às distâncias entre os
dedos 5 e 1 e ao papel do terceiro dedo; porém, o exercício de “projeção” que disponibiliza, de
utilidade para a segurança e o “contacto” do 5.º dedo, aparenta ser pouco eficaz no trabalho dos
encadeamentos das posições. Comparativamente com aquela autora, no que concerne à mão
direita, o editor parece dar uma menor importância à condução pelos dedos centrais,
favorecendo a condução mediante o quinto dedo.
Figura 52. #6 – Cortot. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 35), de A. Cortot, 1915,
Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
Os restantes exercícios de Cortot, ainda não mencionados, expostos sob #1, #3 e #5,
destinam-se particularmente a assegurar a articulação, a independência dos dedos e o
conhecimento das posições.
Destaca-se o formato dos exercícios contidos em #2, que têm em vista os compassos 27 e
28, onde fica implícito o papel do pulso e do braço na “deslocação livre da mão”, apontada
inicialmente pelo autor (Cortot, 1915, p.33) – Figura 53.
Figura 53. #2 – Cortot. Adaptado de Chopin: 12 Études, op.10 (p. 34), de A. Cortot, 1915,
Paris, França: Éditions Maurice Senart. Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
92
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
A este propósito, surge uma questão importante relativamente a um aspeto por este autor
considerado fundamental no Estudo, o “jeu perlé”.
A virtuosidade especial a que chamamos “jeu perlé” (...) tem neste estudo um
papel capital. Seria, do ponto de vista da interpretação, uma falha maior
negligenciar a sua concretização do que tocar notas erradas ou realizar as
nuances inversamente. (Cortot, 1915, p. 35)28
Cortot descreve este efeito como a igualdade perfeita da sonoridade das notas, com um certo
destaque de cada uma delas, o que, na minha leitura, poderá ser interpretado como uma espécie
de non legato, com uma participação restringida do peso do braço, uma ação digital pronunciada
e uma reduzida participação do pulso. No entanto, nos exercícios #2A e #2B, encontrados na
Figura 53, é solicitada a participação da movimentação vertical e lateral do pulso. Talvez Cortot
intente simplesmente, com isto, a amplificação de movimentos que, ulteriormente, se tornarão
mínimos.
Mais importante é a contradição que encontro na asserção de Cortot (1915), no início do
capítulo: “legato brilhante, nomeado “jeu perlé”” (p. 33).
Ainda no que respeita aos movimentos, apesar de a mão direita do Estudo compreender, em
grande parte, a alternância direta de intervalos ascendentes e descendentes, Cortot não faz
qualquer referência a movimentos de rotação. Já Deschaussées (1995) refere, ao nível da
expressão, a vantagem da sua introdução, nas passagens da mão direita em que se adequam,
“uma vez que o Estudo esteja totalmente assegurado no plano da técnica de dedos, sem a menor
fadiga, ao tempo de execução” (p. 54). É curioso Deschaussées defender que o Estudo se toque
primeiro sem rotação; para Golandsky não existiria outra forma de tocar a mão direita.
28
“La virtuosité speciale que l’on nomme «jeu perlé» et qui sous entend en effet l’égrènement des notes,
l’égalité parfaite de leur sonorité, joue dans cette étude um rôle capital. Ce serait[,] au point de vue de
l’interprétation, une grosse faute de négliger sa mise em valeur, que de jouer faux ou de mettre des
nuances à contre sens.”
93
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Cortot e Deschaussées encaram o número seis deste opus como um Estudo destinado à
exploração do toucher, das sonoridades, da polifonia e do legato. Cortot, para além destes
aspetos, considera também a extensão como dificuldade particular.
As suas abordagens são, assim, bastante semelhantes entre si e relacionam-se estreitamente
com o que cada um deles escreve nos capítulos destinados ao Estudo op. 10 n.º 3. No entanto,
embora ambos os autores forneçam instruções técnicas, apenas Cortot se dedica a indicar
alguns exercícios, ainda que em número reduzido, com o intuito de consolidar determinados
conteúdos.
A linha superior e as semicolcheias são tratadas distintamente, como se poderia esperar, dada
a configuração de melodia acompanhada – Figura 54.
Figura 54. Primeiros compassos do Estudo n.º 6. Reproduzido de Etiudy (p. 38),
de F. Chopin, 2000, Varsóvia, Polónia: PWM.
Ao contrário do que acontece no Estudo op. 10 n.º 3, Deschaussées (1995) não prescreve, para
a linha superior, uma forma única de execução, fornecendo, em vez disso, uma breve descrição
do papel de vários aspetos técnicos “na criação sonora de um canto” (p. 59): a velocidade com a
qual o dedo transpõe o nível do escape, a parte do dedo aplicada na tecla (“unha”, “parte carnuda”
ou “pele”) e a maneira de tratar a tecla (afundando ou “agarrando”). Pressupõe-se, no entanto,
que, podendo ser variada, a forma de tocar correspondente àquele outro Estudo se adeque
também a este, de um modo geral: ataque rápido, com os dedos alongados e tendo a sensação
de “agarrar” nas teclas. Esta sensação de puxar a tecla para cima cria, de acordo com a autora,
“um clima de sonho” (Deschaussées, 1995, p. 59), condizente com o carácter de meditação
dolorosa, triste e sem esperança por si apontado. Segundo ela, apesar da breve passagem em Mi
Maior, o otimismo surge apenas na última de todas as notas (cadência picarda).
94
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Figura 55. Exercícios para o “ataque especial” das semicolcheias. Adaptado de Chopin:
12 Études, op.10 (pp. 40-41), de A. Cortot, 1915, Paris, França: Éditions Maurice Senart.
Copyright 1915, Éditions Maurice Senart.
Este tipo de “apoio”, descrito por Cortot, contrasta um pouco com a sua indicação para o Estudo
op. 10 n.º 3 de apenas aflorar as teclas respetivas à voz de acompanhamento. Para ele, o
acompanhamento comporta aqui uma linha melódica viva, que se une ao canto “sem o cobrir e
que sustenta e reforça o seu carácter expressivo, ao mesmo tempo que preserva a sua
individualidade sonora e a sua liberdade rítmica” (Cortot, 1915, p. 40). A verdadeira dificuldade
deste Estudo encontra-se, deste modo, na concretização deste equilíbrio e desta independência,
envolvendo, por vezes, algumas posições de extensão.
Deschaussées, tal como Cortot, debruça-se também mais especificamente sobre a execução
destas semicolcheias, onde a igualdade sonora e o legato parecem adquirir uma grande
importância. Neste contexto, é por si referida, mais uma vez, a diferença de nível entre as teclas
pretas e as teclas brancas, que não poderá ter impacto naquela igualdade, tal como as próprias
diferenças morfológicas entre os dedos. Assim, depois de alcançadas a liberdade e a
independência dos dedos, considera importante a procura de “uma conivência entre o dedo e a
95
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
mola da tecla”, isto é, o conhecimento exato do peso das teclas, eliminando qualquer incerteza e
permanecendo em contacto com elas (Deschaussées, 1995, p. 61). Esta ideia parece remeter
para o toque non legato e para o exercício sugerido por Cortot.
A diferença entre as abordagens destes dois autores às figuras de acompanhamento em
questão parece estar, assim, no facto de Cortot, aparentemente, considerar uma maior
participação do peso na realização do legato.
96
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Quanto ao uso do pedal, Cortot expõe aqui uma situação semelhante à do Estudo op. 10 n.º 3,
sugerindo o seu emprego muito frequente, mas discreto, tal como Deschaussées. Cortot (1915)
escreve “obter-se-á a agilidade do pé aumentando muito gradualmente a rapidez do
movimento; na execução, esta maneira de usar o pedal consiste apenas numa espécie de
batimentos, de tremores ininterruptos” (p. 41) – e a esta sua descrição parece corresponder o
termo “pedal vibrato”, aplicado por Deschaussées (1995, p. 61). Ambos os autores defendem que,
anteriormente ao uso do pedal, deve ser possível dar a impressão de legato apenas com os
dedos.
Relembre-se a indicação prévia de Cortot de colocar a surdina, para criar uma cor mais
expressiva, dando mais relevo à melodia sem exceder a nuance geral.
97
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Para além do que já foi referido, Deschaussées versa, neste Estudo, um aspeto não aludido por
Cortot que consiste no uso do pulso. Para esta autora, o seu movimento traduz-se diretamente
na expressão musical, de tal forma que a sua imobilidade “traduz a espera, ou a calma, a paz, a
meditação interior”. Pelo contrário, o seu movimento provoca animação, devendo-se, assim,
coloca-lo progressivamente em ação no stretto e no crescendo que culminam no forte do
compasso 32.
Cortot, por sua vez, no final do seu capítulo, apresenta um exercício dedicado especificamente
à primeira metade do compasso 7, onde se encontra um acorde de sexta napolitana que se
repetirá mais quatro vezes ao longo do Estudo. É um exercício que aborda, através de notas
presas e da alternância de dedos, a extensão que resulta da dedilhação aí aplicada pelo editor –
Figuras 59 e 60a. No entanto, é relevante apontar que existem várias outras possibilidades de
dedilhação para esta passagem e que, na dedilhação original de Chopin, distinguida a negrito na
edição de Ekier, não se verifica aquela conformação da mão – Figura 60b.
a: b:
98
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
3.5. Conclusão
De um modo geral, as relações entre as duas obras são complexas, verificando-se, por um
lado, que Cortot e Deschaussées abordam um número elevado de questões técnico-
interpretativas semelhantes, nestes seis estudos, e, por outro, que existem temas que lhes são
particulares e diferenças importantes na forma de tratar os assuntos e nas soluções propostas.
Em primeiro lugar, salienta-se o facto de Deschaussées reconhecer grande valor nos aspetos
“cerebrais” ou mentais da técnica pianística, ao passo que a abordagem de Cortot é
pronunciadamente mais mecanicista. Deschaussées parece, assim, integrar-se numa escola de
piano que reflete mais intensamente os campos da psicologia e da neurociência, o que não é
muito surpreendente, dado o seu percurso biográfico e a sua época.
Desta forma, Deschaussées indica, para uma série de dificuldades inerentes ao texto de
Chopin, respostas que se poderão encarar como processos de automatização, mas que são
sempre guiados pela compreensão intelectual do texto e da própria técnica, bem como pelas
sensações físicas e auditivas.
A autora recomenda, por exemplo, que se conheçam as notas comuns entre posições, as
distâncias, os pontos de “viragem”, as notas de partida e de chegada, os dedos com papel pivot e
os dedos condutores e que se recorra à antecipação mental dos movimentos, tudo isto sem
desprezar o trabalho em velocidade, empregando ritmos e realizando projeções. Sugere
também, frequentemente, que se analisem as relações entre as mãos, que se sintam “os relevos”
de determinadas posições (atendendo aos níveis do teclado) e a abertura ou o fecho da mão, e
que se procurem sensações particulares, como a de “falangetas vivas”, a de “caminhar sobre as
teclas” ou a de “agarrar nas teclas”, descrevendo então atividades musculares complexas com
base nas impressões por elas produzidas.
99
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Apesar das problemáticas que se assinalaram na edição de trabalho de Cortot, não é opinião do
investigador esta não possua utilidade na prática pedagógica, bem pelo contrário. Pode afirmar-
se que muitas das fórmulas que o autor expõe são de grande proveito e que, à luz da consciência
aqui desenvolvida, o seu uso poderá ser muito profícuo.
100
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
REFLEXÃO FINAL
A realização deste mestrado constituiu, sem dúvida, uma importante fonte de aprendizagem e
de desenvolvimento. Se no primeiro ano do curso a componente teórica teve uma grande
preponderância, ao longo do segundo ano foi possível mobilizar finalmente o conjunto de
saberes adquiridos e trabalhar in loco as competências específicas de um professor de
instrumento.
Quando ingressei no curso, tinha já exercido a função docente, embora durante breves
períodos, o que considero ter sido fundamental, tornando possível a compreensão e a integração
de diversos conceitos que, de outra forma, poderiam ser demasiado abstratos ou até
aparentemente irrelevantes. No entanto, após estes dois anos, que compreenderam muitas
aulas, pesquisas, leituras, discussões (com colegas e professores) e experiências, considero-me
um professor renovado, muito mais seguro, consciente e competente.
A Prática de Ensino Supervisionada foi particularmente importante, uma vez que,
compreendendo a observação crítica de um número significativo de aulas, me permitiu refletir
sobre uma multiplicidade de temas próprios ao ensino individual de um instrumento, como a
relação professor-aluno, o papel dos encarregados de educação, os programas, as atividades
extracurriculares, a relação entre os alunos, os métodos e aspetos estratégicos do ensino, a
motivação, a memória, a organização do estudo e a própria técnica pianística, entre outros.
Por outro lado, a lecionação de aulas, inserida no mesmo estágio, proporcionou-me ainda o
teste e a aplicação de uma série de valências, relativas não apenas aos conhecimentos
teóricos da psicologia, da pedagogia e da didática, mas também à relação interpessoal e à
forma de conduzir uma aula. Foram aqui determinantes os diálogos estabelecidos com as
professoras supervisora e cooperante, e os seus conselhos e observações.
A formulação de questões e a pesquisa (e ulterior teste) de respostas, inerentes a esta Prática
de Ensino Supervisionada, continuarão certamente a fazer parte da minha prática pedagógica, à
luz de um processo contínuo de auto e hetero-observação.29
29
Gostaria de referir, a este propósito, pela relevância pessoal que teve, um exercício realizado no âmbito
de uma das unidades curriculares do segundo ano deste mestrado, que foi um forte impulsionador do
processo de auto-observação. Este exercício consistiu na gravação audiovisual de duas aulas por mim
lecionadas e na sua posterior análise.
101
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
A meu ver, o mundo em que vivemos, prolífico em informação de fácil acesso, coloca fortes
exigências à ação de um professor, que necessita de se atualizar, de conhecer profunda e
extensivamente o seu objeto e de ser capaz de compreender e guiar eficazmente o aluno, no seu
percurso individual. Mais, os problemas que a humanidade atualmente enfrenta, como a crise
climática, a disparidade económica crescente, a migração em massa e a perturbação mental nos
jovens, não podem ser resolvidos senão através de uma educação completa, sensível e
diferenciada, que tenha em vista a evolução da consciência e que ultrapasse as fronteiras da
racionalidade formal (Gidley, 2016).
102
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Cisler, V., e Hinson, M. (2004). Technique for the advancing pianist. Van Nuys, E.U.A.: Alfred
Publishing Co.
Chopin, F. (2000). Etiudy (J. Ekier & P. Kaminski, Eds.). Varsóvia, Polónia: PWM.
Cortot, A. (1915). Chopin: 12 Études, op.10. Paris, França: Éditions Maurice Senart.
Cortot, A. (2005). Principes rationnels de la technique pianistique. Milão, Itália: BMG (Salabert)
Costa, H. S. (2001). Uma vida em concerto. Porto, Portugal: Campo das Letras.
Costa, M. S. (2008). Memórias e recordações. Vila Nova de Gaia, Portugal: Edições Gailivro.
103
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Deschaussées, M. (1995). Frédéric Chopin: 24 Études – Vers une interprétation. Paris, França:
Éditions Van de Velde.
Dias, C. (2009). Olhar com olhos de ver. Revista Portuguesa de Pedagogia, 43(1)
Dubal, D. (1989). The art of the piano: Its performers, literature, and recordings. Orlando, E.U.A.:
Harcout Brace & Company.
Eigeldinger, J. (2005). Chopin: Pianist and teacher as seen by his pupils. Cambridge, Inglaterra:
Cambridge University Press.
Eliot, T. S. (1934). The Rock. Nova Iorque, E. U. A.: Harcourt, Brace and Company
Glaser, B. G. e Strauss, A. L. (1967). The discovery of grounded theory: strategies for qualitative
research. Chicago, E.U.A.: Aldine.
104
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Leonskaja, E. (2010). 6 Questions for Elisabeth Leonskaja (G. Henle Verlag). Famous Pianists
on Frédéric Chopin and Robert Schumann (p. 7).
Mikuli, C. (1943). Introdutory note. In C. Mikuli (Ed.), Frederic Chopin Complete Works for the
Piano. Nova Iorque, E.U.A..: G. Schirmer.
Neuhaus, H. (1993). The art of piano playing (K. A. Leibovitch, Trad.). Londres, Inglaterra: Kahn
& Averill.
Palacete Pinto Leite, no Porto, vendido por 1,643 ME (2016, 16 de Fevereiro), Correio da
Manhã. Acedido em
https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/palacete_pinto_leite_no_porto_vendido_por_1643
_me
105
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Roldão, M. C. (2009). Estratégias de ensino: O saber e o agir do professor: Vila Nova de Gaia,
Portugal: Fundação Manuel Leão.
Rosen, C. (1998). The romantic generation. Cambridge, MA, E.U.A.: Harvard University Press.
Strauss, A. e Corbin, J. (1998). Basics of qualitative research: Techniques and procedures for
developing grounded theory (2.ª ed.). Londres, Inglaterra: Sage.
Taylor, K. M. (1988). Alfred Cortot: His interpretative art and teachings (Tese de Doutoramento,
Indiana University). Acedido em https://scholarworks.iu.edu/dspace/handle/2022/886
106
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
ANEXOS
Anexo 1
Figura. Cronologia dos professores de piano no CMP, da sua fundação até 2017. Reproduzido
de 1917-2017: A tradição de piano no Conservatório de Música do Porto. 100 anos de História –
Google Arts & Culture, de A. Cancela, 2017. Acedido em
https://artsandculture.google.com/exhibit/mwIC2kyVZkAZLQ. Copyright 2017,
Conservatório de Música do Porto.
107
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
108
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Anexo 2
Registos de observação
Comentários prévios
Componente técnica
A aluna executou as escalas em terceiras dobradas de Sol Maior e Sol menor e ainda a
escala cromática em terceiras dobradas de sol e o respetivo arpejo de sétima da
dominante.
A professora assinalou, numa das escalas diatónicas, alguma desigualdade, pedindo-
lhe para repetir. Na escala cromática, a professora sugeriu que a aluna descontraísse o
polegar e, quando a aluna repetiu, esta indicação permitiu-lhe uma execução
aparentemente mais fácil e consideravelmente mais veloz.
109
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Conclusão da aula
Notas / Comentários
No aquecimento da aluna, fiquei com a sensação de que esta poderia não saber
trabalhar bem as escalas em terceiras dobradas. Também é possível que possa ter-se
sentido menos à vontade para as praticar, limitando-se assim a tocá-las normalmente.
110
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Componente técnica
A aluna tocou as escalas em terceiras dobradas de Sol Maior, Sol menor e Sol
cromática e o arpejo de sétima da dominante. Neste processo, a professora auxiliou-a
nas suas dificuldades e assinalou que esta apresentava já maior facilidade.
Antes de prosseguirem, a professora conversou um pouco com a aluna sobre o seu
repertório e foi neste contexto que decidiu abordar o Prelúdio e Fuga de Bach, para que
não esquecesse, e que pediu à aluna que começasse a debruçar-se mais
intensivamente sobre um dos estudos a preparar.
Prelúdio e Fuga em Ré Maior (Cravo Bem Temperado, 1.º vol.), BWV 850 – J. S. Bach
A aluna já havia preparado esta obra para uma audição de classe. Começou a tocá-la,
mas perdeu-se. A professora orientou-a, sinalizou o que falhou e pediu-lhe que
recomeçasse. No Prelúdio, foram indicados os aspectos que se encontravam melhores
e aqueles que necessitavam de mais trabalho, nomeadamente:
• A igualdade e precisão de articulação, através da valorização do quarto dedo
(“cantar o quarto dedo”, com mais peso) e da realização do fraseio das
semicolcheias, como se tratassem de dois instrumentos. Foi também pedido à
aluna que evitasse prender as teclas, fazendo notas consecutivas soarem
juntas.
• O equilíbrio sonoro e o carácter dos acordes finais, com o quinto dedo mais forte.
A sonoridade foi comparada àquela produzida por um grande órgão.
111
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
A professora sugeriu que a aluna tocasse esta peça na audição de Março e chamou a
sua atenção para a importância de concretizar bem os primeiros compassos, que
introduzem a obra.
Os itens mais relevantes do trabalho desenvolvido envolveram:
• O uso da surdina e do pedal direito;
• O aproveitamento da mão esquerda para salientar aspetos da mão direita, como
uma síncopa ou um início de uma melodia;
• O fraseio, compreendendo pontos de maior e de menor tensão;
• A polifonia;
• O equilíbrio sonoro e a necessidade de um maior cantabile, com profundidade,
no soprano, em dinâmica piano;
• Os movimentos laterais rápidos na mão esquerda, fazendo bom uso da
dedilhação e mantendo uma boa posição da mão;
• A correção de notas erradas;
• A clarificação estrutural de alguns segmentos;
• O carácter, a intenção musical e as variações dinâmicas de determinadas
secções.
A aluna foi incentivada sempre que conseguiu obter melhorias e, no final, a professora
assegurou-a de que a peça se encontrava no bom caminho. Pediu-lhe ainda que
estudasse os aspetos técnicas das passagens de uma forma mais musical.
112
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
O início desta aula foi assistido pelo aluno anterior, que aguardava o seu encarregado
de educação. A professora incumbiu-o de manter o silêncio.
Componente técnica
A aluna tentou tocar este estudo com as mãos juntas, porém, uma vez que se
encontrava com bastante dificuldade, a professora pediu-lhe que prosseguisse com
apenas uma mão, voltando, no final, ao princípio, desta vez tocando apenas a outra mão.
Foi a primeira vez que a aluna apresentou esta peça, tendo feito a sua leitura e
preparação durante a semana anterior. No entanto, esta encontrava-se ainda deveras
inconsistente, sem qualquer fluência e com alguma profusão de erros de leitura, como a
professora assinalou.
Tendo isto em conta, a professora manteve-se atenta e foi corrigindo e marcando na
partitura as notas erradas, que consistiam maioritariamente em bemóis presentes na
armação de clave e em acidentes que haviam ocorrido previamente, dentro de um
mesmo compasso. A professora recomendou à aluna que realizasse ela própria este
trabalho, em casa, registando na partitura as alterações que poderiam ser mais
facilmente esquecidas. Por vezes, ao invés de assinalar os erros diretamente, pediu à
aluna que olhasse para a partitura e que os corrigisse ela própria.
Terminando, a professora disse à aluna que teria de estudar a peça com mais atenção,
recomendando-lhe que o fizesse abordando duas páginas de cada vez [o estudo
possuia quatro páginas].
113
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
No final da aula, a professora indagou a aluna sobre o estudo que havia concretizado
durante a semana, uma vez que lhe pareceu que a aluna havia trabalhado menos e,
antes de terminar, esclareceu-a sobre o programa que pretendia tratar na aula seguinte.
114
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Componente técnica
A aluna tocou uma vez o Noturno e a professora foi dando algumas indicações
prioritárias, pedindo-lhe, por exemplo, que realizasse as variações agógicas indicadas
na partitura, que empregasse de outro modo o pedal direito e que executasse de
algumas passagens sem precipitação. Para além disto, consultou ainda o metrónomo
para tomar conhecimento do andamento em que a aluna estava a tocar, comparando-o
com o tempo por si indicado, a lápis, no início da peça.
Tendo a aluna terminado, a professora decidiu abordar a parte final da obra, pedindo-
lhe que tocasse as mãos separadamente, sem usar o pedal direito.
• Na mão direita, os principais conteúdos abordados prenderam-se com a
precisão rítmica das figuras pontuadas (com um e com dois pontos), as
dinâmicas e as ligaduras de expressão. Nalguns momentos, provou-se útil pedir
à aluna que repetisse determinada passagem “não tocando apenas as notas,
mas atribuindo-lhe um significado musical”.
• Na mão esquerda, foram trabalhadas a igualdade rítmica e sonora, a polifonia e a
expressividade.
De seguida, a aluna tocou a mesma secção com as mãos juntas, usando agora o pedal
direito, verificando-se uma melhoria na qualidade da sua execução, que foi
devidamente assinalada pela professora.
No final, a professora mostrou à aluna como trabalhar em casa algumas passagens,
recapitulando os conceitos mais importantes.
Na conclusão da aula, foi pedido à aluna que aprendesse melhor a parte central.
115
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Nesta aula, a professora havia trazido a sua partitura, para que pudessem tocar a dois
pianos. À medida que foram tocando, a professora, sentada no segundo piano, foi dando
indicações à aluna, pedindo-lhe, frequentemente, que repetisse algumas passagens, por
vezes voltando atrás. Os conteúdos abordados incluíram:
• Consciência da introdução orquestral (na qual a professora corta um trecho, por
forma a que não seja demasiado longa);
• Precisão no ritmo e na articulação;
• Manutenção do andamento;
• Variações dinâmicas;
• Descontração do polegar na articulação dos dedos 3, 4 e 5;
• Posição do pulso;
• Encadeamentos entre a parte orquestral e a parte do piano;
• Prolongamento dos baixos na mão esquerda, fazendo o efeito de pedal;
• Igualdade na execução de passagens em terceiras;
• Separação de ideias e frases distintas;
• Correção de dedilhações;
• Cantabile;
• Organização de passagens de acordo com as diferentes posições assumidas
pela mão.
Conclusão da aula
No final, uma vez que a obra não se encontrava muito bem, a professora inquiriu a
aluna sobre o seu estudo durante a semana anterior, ficando a saber que a aluna se
encontrava num período de muitas avaliações, tendo tido pouco tempo para se
preparar. Foi aconselhado à aluna que tentasse compensar esta situação assim que
possível e foi ainda recomendado que esta dedicasse um pouco de tempo à prática de
exercícios técnicos, como os de Pischna.
116
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
A aluna e a professora tocaram uma vez todo o andamento, a dois pianos. Este
encontrava-se agora bastante melhor, comparativamente à semana anterior. No
entanto, uma vez que a aluna manifestou alguma tendência para reduzir a pulsação nas
passagens com semicolcheias, a professora optou por começar por trabalhar algumas
secções com metrónomo.
Depois disto, tratou alguns conteúdos com a aluna, nomeadamente:
• A execução do baixo de Alberti com o polegar relaxado, tendo presente a
sensação de peso na parte externa da mão;
• A consistência sonora, que, na presença de uma orquestra, seria indispensável;
• O desenho em arco de alguns gestos que compreendem deslocamentos laterais
no teclado;
• O equilíbrio sonoro entre as mãos, considerando a relevância relativa das ideias
musicais;
• A valorização correta das pausas e das figuras pontuadas.
Notas e comentários
117
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Antes de iniciar a aula, a professora providenciou à aluna a peça imposta para a sua
prova final, que já havia sido escolhida e divulgada. Para lhe dar uma ideia da obra, tocou
um pouco da mesma.
A professora começou por pedir à aluna que tocasse este estudo, mas, verificando
que a respetiva leitura se encontrava muito atrasada e que a aluna não havia investido
muito tempo na sua preparação, decidiu, após refletir, alterar o seu repertório,
designando para a prova final um outro estudo, de leitura mais fácil, libertando assim
mais tempo para o trabalho da peça imposta.
A aluna tocou toda a peça, com a partitura, e, à medida que foi prosseguindo, foram
realizadas algumas correções, das quais se salientam:
• Realização do fraseio da mão direita, considerando os pontos de maior e menor
tensão e a respiração entre as frases;
• Execução de uma quintina e junção da mesma com uma tercina;
• Uso do pedal direito;
• Saliência da melodia;
• Imaginação orquestral;
• Aproveitamento de nuances harmónicas, com recurso a imagens.
118
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Prelúdio e Fuga em Ré Maior (Cravo Bem Temperado, 1.º vol.), BWV 850 – J. S. Bach
A aluna começou a tocar o Prelúdio, porém, uma vez que a pulsação não se
encontrava regular, a professora interrompeu-a e deu uso ao metrónomo, seguindo a
marcação por si colocada na partitura. Foi pedido à aluna que “cantasse” os quartos e os
quintos dedos da mão direita e foram resolvidos alguns problemas na mão esquerda,
apesar de esta não compreender, à partida, grande dificuldade. No final, a professora
constatou que a aluna já dominava a execução naquele andamento e modificou a sua
anotação na partitura para uma pulsação ligeiramente mais rápida.
Na Fuga, para além da correção de uma nota errada, foram trabalhados o carácter e a
execução dos acordes arpejados no final.
Conclusão da aula
No final da aula, a professora inquiriu a aluna sobre o seu estudo nas duas semanas
anteriores e, considerando a sua situação enquanto aluna de outro curso do ensino
secundário, salientou a importância de esta estudar piano com afinco ao longo das
férias da Páscoa, dado que as provas de piano teriam lugar daí a dois meses e que, em
altura de aulas, entre testes e exames, esta não iria dispor de muito tempo.
119
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
No início da aula a aluna apontou que durante a semana anterior não dispôs de muito
tempo para estudar, devido a uma situação familiar problemática.
A aluna tocou a peça imposta para a sua prova uma vez e a professora interrompeu-a
nalgumas passagens, para a auxiliar e lhe fornecer estratégias de estudo, como o
emprego de ritmos de galope e galope invertido.
Depois de tocar o estudo uma vez, a aluna repetiu algumas secções em que a
professora lhe pediu uma maior profundidade na execução técnica da mão esquerda.
Foram corrigidos alguns erros e foram marcadas na partitura dedilhações mais
adequadas para determinadas passagens.
Prelúdio e Fuga em Ré Maior (Cravo Bem Temperado, 1.º vol.), BWV 850 – J. S. Bach
Depois de a aluna tocar uma vez o Prelúdio, com certa dificuldade e alguns erros, que a
professora corrigiu, foi-lhe pedido que o repetisse, notando-se imediatamente uma
melhoria. Talvez isto tenha acontecido por a aluna ter estudado muito pouco, visto que
já havia apresentado a mesma obra com maior segurança e correção. Seguiram então
para a Fuga, que foi abordada de modo semelhante.
120
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Componente técnica
A aluna tocou uma vez este estudo, repetindo algumas secções a pedido da
professora, que, quando necessário, indicou algumas dedilhações e maneiras de
estudar. Pediu à aluna que preparasse melhor o estudo dividindo-o em duas partes, a
praticar em dias distintos, e marcou na sua partitura duas pulsações, instruindo-a a
começar na mais baixa, subindo até atingir a mais elevada.
Prelúdio e Fuga em Ré Maior (Cravo Bem Temperado, 1.º vol.), BWV 850 – J. S. Bach
Depois de uma execução do Prelúdio, foi pedido à aluna que desse mais importância à
parte externa da mão, cantando o quarto e o quinto dedos da mão direita e retirando
peso do polegar. Depois de inquirida sobre formas de praticar a mão direita, a aluna
recebeu instruções para o estudo com ritmos de galope e com diferentes articulações.
Na Fuga, à medida que a aluna foi tocando, a professora foi enumerando alguns
eventos relativos à estrutura formal da peça. Foi discutido ainda o seu carácter.
Enquanto a aluna foi tocando, a professora foi trabalhando com a aluna alguns
aspetos da obra, auxiliando-a no seu estudo e explicitando melhor alguns conteúdos,
como a execução de ornamentos, entre outros.
121
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Componente técnica
A aluna realizou, ao longo de quatro oitavas, as escalas (às distâncias de 8ª, 10ª, 6ª e
3ª) e os arpejos (com inversões) das tonalidades de Fá Maior e menor, e ainda o arpejo
de sétima da dominante (com inversões) e a escala cromática (à 8ª).
Tendo manifestado alguma dificuldade nas escalas à distância de 6ª, a professora
auxiliou-a no uso correto da dedilhação e na automatização das mãos, individualmente,
antes de as juntar. A aluna foi aconselhada a continuar este trabalho em casa.
Depois de a aluna ter tocado o estudo uma vez, a professora ajudou-a nos aspetos
que mais requeriam atenção. Para além de se corrigirem os erros, trabalharam-se as
passagens de polegar com o emprego de ritmos de galope, por forma a tornar o
movimento mais eficiente e económico, e foi pedido à aluna que resolvesse as suas
dúvidas no que toca à dedilhação, praticando as várias posições em bloco (acordes). De
facto, algumas notas erradas pareciam ser causadas por uma falta de consolidação da
memória digital.
Finalizando, a professora indicou quais os aspetos mais positivos e quais aqueles a
que seria necessário dedicar-se mais, no estudo individual da aluna ao longo da semana
seguinte, escrevendo na partitura a pulsação indicada para o seu trabalho.
A aluna tocou uma vez o estudo e, tendo terminado, a professora elogiou a melhoria
que esta demonstrou na mão direita e abordou a mão esquerda separadamente,
explorando o conteúdo musical latente, antes de juntar as mãos novamente.
122
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
A aluna tocou esta Sinfonia uma vez, com grande qualidade. No final, a professora
corrigiu-lhe apenas uma questão de compreensão polifónica que ocorreu ao longo de
dois compassos.
Depois de ter tocado integralmente esta outra Sinfonia, a aluna repetiu-a novamente
num andamento mais lento, seguindo a indicação da professora, que a foi ajudando em
vários pontos, focando-se bastante na polifonia.
123
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Componente técnica
A aluna tocou uma vez todo o estudo, recebendo algumas indicações da professora,
entre as quais: salientar a melodia da mão esquerda e usar a dedilhação correta nos
acordes invertidos. No final, abordaram algumas passagens, com as mãos separadas,
dando atenção ao fraseio, na mão direita, e à execução técnica da figuração, na mão
esquerda, aplicando ritmos e conservando relaxamento no dedo polegar. Foi também
desenvolvida a questão da “orquestração” da mão esquerda.
Tratando-se da peça imposta para a prova, a aluna tocou-a uma vez de memória.
Tendo finalizado, a professora abordou apenas as terceiras dobradas na mão esquerda,
criando alguns exercícios para melhorar a sua execução e conseguir a sincronização
das duas vozes. Entre estes exercícios foram particularmente relevantes o emprego de
ritmos, a prática da voz inferior isoladamente, reforçando os dedos 3, 4 e 5, e a prática
das duas vozes juntas, empregando em cada uma diferentes articulações.
124
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
A aluna tocou uma vez a Sinfonia e, no final, depois de realçar o trabalho muito
positivo por ela desenvolvido, desde a aula anterior, a professora apontou na partitura
alguns aspetos que poderiam ainda ser melhorados. Reviu também algumas
dedilhações e abordou a ornamentação.
Conclusão da aula
Foi realçada a qualidade do trabalho desenvolvido pela aluna e foi verificado o seu
caderno, para que ficasse corretamente definido o programa a preparar para a aula da
semana seguinte.
125
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Faço aqui uma síntese do trabalho que foi desenvolvido neste estudo:
• Automatização da abertura da mão (1-5) e treino do deslocamento lateral do
braço.
• Minimização dos acentos falsos na parte mais fraca do tempo. Esta passagem
foi uma das que foram abordadas na aula anterior, mas, uma vez que ainda não
se encontrava melhor, depois de apontar este facto ao aluno, a professora
insistiu muito no seu trabalho, dizendo-lhe que se queria tocar este estudo teria
de ser “profissional”. Foi usada a imagem de uma pena a levantar voo, para o
auxiliar a obter a leveza necessária no polegar.
• “Direção” da execução do aluno, por parte da professora, à medida que este foi
tocando, traduzindo principalmente a expressividade e as dinâmicas.
• Eliminação das paragens que o aluno sofria, em situações em que precisava de
pensar o que vinha a seguir, que traziam interrupções muito notórias no fluxo de
colcheias que permeava toda a obra.
• Correção da posição do pulso, que por vezes se encontrava um pouco alto. Na
passagem em questão, o aluno sugeriu uma dedilhação do seu agrado e a
professora permitiu-lhe que a testasse e, funcionando, que a usasse.
• Aprimoramento da dedilhação e do legato nos acordes cadenciais finais da obra.
126
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Minueto em Sol Maior, BWV Anh. 116 – J. S. Bach, livro de Anna Magdalena
O aluno tocou a peça uma vez, com repetições, mas foi necessário à professora
interrompê-lo na parte B, para corrigir uma dedilhação. Tendo parado, a professora
pediu-lhe que iniciasse novamente no começo dessa parte.
Nesta obra, as principais questões corrigidas pela professora prenderam-se com:
• Aberturas da mão: diferenciação dos intervalos de 3ª, 4ª e 5ª, em cada mão,
individualmente;
• Estabilidade do tempo: o aluno acelerava nas secções mais fáceis, atrasando
nas mais difíceis;
• Deslocamentos laterais no teclado (saltos), abordados com as mãos separadas;
• Articulação portato das notas cadenciais finais na mão esquerda, para que as
três fossem audíveis.
O aluno pediu para tocar esta peça de seguida. No entanto, à semelhança do que
aconteceu na anterior, este iniciou-a demasiado rápido, pelo que a professora lhe pediu
que a principiasse novamente, num andamento mais lento. Uma vez que este se
manifestou descontente, a professora frisou que lhe permitiria tocar mais rápido, se
primeiro a tocasse bem no andamento que lhe indicou. Efetivamente, verificou-se que
lhe seria impossível tocar no andamento que escolheu à partida, o que foi assinalado
pela professora, para que este tivesse consciência.
Durante a execução do aluno, a professora elogiou a sua mão esquerda e guiou-o nas
dinâmicas e nas alterações da pulsação (rallentando / a tempo). Louvou também o seu
fraseado, dizendo-lhe que se encontrava muito melhor do que na aula anterior e,
terminando, indicou-lhe o que seria prioritário trabalhar, nomeadamente as passagens
com deslocamentos maiores (saltos) e o último sistema. Foi exemplificada a execução
desse último sistema, para que o aluno ouvisse.
127
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Conclusão da aula
Comentários finais
128
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Embora no final da aula anterior não tivesse sido marcado por escrito o programa, o
aluno tinha conhecimento do repertório que necessitava de trabalhar.
Componente técnica
Minueto em Sol Maior, BWV Anh. 116 – J. S. Bach, livro de Anna Magdalena
A professora permitiu ao aluno escolher a ordem em que iria tocar as peças ao longo
da aula. Iniciando esta obra num andamento demasiado rápido, a professora
interrompeu-o para lhe expor, através de uma história, o conceito de minueto como
dança antiga, em tempo moderado. O aluno iniciou então novamente a peça, num tempo
apropriado, e a professora elogiou a escolha do andamento. Numa passagem que se
encontrava pior, foi-lhe pedida maior clareza, através do uso do peso do braço.
Antes de prosseguirem, o aluno comentou com a professora que ouvira no Youtube
uma versão em que o pianista executava um mordente numa das notas cadenciais,
exemplificando-o com alguma dificuldade. A professora manifestou apreço pelo seu
interesse e quis prosseguir o seu trabalho, aproveitando para o alertar para o facto de se
encontrarem tanto boas como más gravações, naquela plataforma digital.
Enquanto o aluno tocou esta peça, a professora elogiou o seu trabalho e o facto de se
registarem progressos, relativamente à aula da semana anterior. Elogiou também
aspetos específicos, como o portato da mão esquerda. Tendo o aluno terminado de
tocar, a professora praticou com este uma das passagens, que compreendia um maior
deslocamento lateral, e, antes de passarem ao item seguinte do repertório, incentivou o
seu trabalho, dizendo-lhe que as duas peças de Bach se encontravam em bom caminho.
129
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O aluno começou a tocar o estudo, mas foi necessário parar, para trabalhar, da mesma
forma que na peça anterior, uma passagem com um deslocamento lateral que falhou.
Recomeçando, a professora dirigiu-o nas dinâmicas e alterações na pulsação
(rallentando e a tempo) e auxiliou-o, no final, quando o aluno se esqueceu de tocar a
coda. Para consolidar esta transição, pediu-lhe que tocasse mais uma vez a segunda
parte, seguindo para a coda.
A professora indicou que iria escolher este estudo para o aluno tocar no concurso
interno.
Conversámos um pouco antes de se abordar a obra seguinte.
O aluno tocou este estudo, referindo que já o sabia de memória, mas, talvez por
conhecer as suas características individuais, a professora disse-lhe que não era
necessário tocá-lo de cor, preferindo que olhasse para a partitura.
Enumeram-se alguns dos aspetos aqui abordados: igualdade sonora das colcheias;
diferenciação das dinâmicas; realização correta das repetições. Numa passagem já
trabalhada nas duas aulas anteriores, a professora perguntou ao aluno se se lembrava
do que lhe havia pedido e auxiliou-o, mais uma vez, pedindo-lhe que tocasse com as
mãos separadas.
Enquanto o aluno tocou este estudo, foi bastante elogiado, e, verificando que o aluno
fruía do mesmo, a professora indicou que este talvez o pudesse tocar no concurso, ao
invés do anterior, dado que o estudasse bem.
Enquanto o aluno tocou este estudo, a professora corrigiu a contagem dos tempos,
explicando-lhe que se tratava de um compasso 6/8, e a coordenação das mãos. Visto
que o aluno não demonstrou um grande apreço pelo estudo, para o incentivar a estudá-
lo, a professora salientou a sua importância, comparando-o a um suplemento
vitamínico ou nutricional para os dedos.
Auxiliei a professora a motivar o aluno e este tocou-o mais uma vez.
130
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
No final da aula, o aluno tocou uma peça de Mozart que preparou por iniciativa própria.
Este manifestou-se ainda pouco à vontade na mesma, tendo a professora fornecido
apoio nas questões coordenação e nas dedilhações da melodia e dos acordes,
chamando também a sua atenção para a postura e para a sua posição no banco.
Antes de terminarem, o aluno repetiu mais uma vez a segunda parte.
Conclusão da aula
Comentários finais
Nesta aula, chamou-me a atenção a possibilidade do professor de, pelo menos com os
alunos mais novos, fazer uso de mecanismos de compromisso, como o pacto realizado
com este, que permitam que o aluno vá de encontro aos objetivos propostos,
experienciando também desta forma maior autonomia e motivação.
131
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
À medida que o aluno tocou esta peça, a professora deu-lhe algumas indicações, entre
as quais:
• Realizar um crescendo progressivamente, não tocando forte imediatamente;
• Não tocar acentos falsos;
• Estudar com repetições, por forma a tornar isto habitual. Desta forma, não será
necessário pensar nisso mais tarde, quando estiver a tocar a peça;
• Cuidar a sua posição no banco.
Durante o processo, a professora elogiou a qualidade do som do aluno e a sua
expressividade nas modulações.
O aluno tocou este estudo uma vez, enquanto a professora foi elogiando alguns
aspetos e apontando outros com os quais o aluno deveria ter cuidado, nomeadamente
as dinâmicas e os acentos nos polegares que se situavam nos finais das frases. Depois
de abordarem o cantabile de uma melodia na mão esquerda, a professora solicitou ao
aluno que tocasse a peça novamente, cuidando o som, imaginando uma harpa.
Enquanto este tocou, ajudou-o e voltou a elogiá-lo em alguns momentos.
Antes de prosseguirem, a professora realizou com o aluno alguns exercícios em que,
aos poucos, foi construindo a passagem final, permitindo-lhe assim automatizar a
mesma, tendo em conta os seus vários componentes.
132
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O aluno tocou uma vez este outro estudo, tendo sido elogiado devido à qualidade com
que realizou algumas passagens, de ambas as mãos. Verificando que se encontrava
bastante bem preparado, a professora felicitou a sua execução e o facto de ter realizado
corretamente o fraseado com que se haviam debatido nas aulas anteriores.
A professora refletiu um pouco e expôs ao aluno que este estudo seria mais
apropriado para tocar no concurso interno e o aluno sugeriu então tocar o outro numa
audição. Neste momento, a professora falou com o aluno sobre a realização de um
ensaio para o concurso e marcou a data e a hora respetivas no seu caderno.
Minueto em Sol Maior, BWV Anh. 116 – J. S. Bach, livro de Anna Magdalena
133
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Conclusão da aula
Comentários finais
134
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Esta peça já havia sido trabalhada com a professora na aula do dia 5 de Fevereiro.
Tratando-se de uma peça no formato melodia e acompanhamento, incidiu-se
principalmente sobre esta diferenciação, inclusivamente na presença de notas longas
na melodia, como acontecia na cadência final.
Antes de prosseguirem para outro repertório, o aluno tocou uma vez toda a peça e a
professora deu-lhe os parabéns, pedindo-me também a minha opinião. Foi esclarecido
ainda o significado das palavras italianas coda e capo (como em Da Capo).
135
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O aluno executou a peça uma vez, de memória, falhando apenas num encadeamento,
especificamente no acorde inicial da mão esquerda de uma nova secção, que a
professora corrigiu prontamente, indicando o acorde correto no teclado. Tendo
terminado de tocar, a professora indicou-lhe como deveria realizar o rallentando no final
e explicitou que o andamento Andantino é mais rápido do que o Andante. Após algumas
considerações sobre os andamentos musicais, pediu-lhe que tocasse mais uma vez e,
satisfazendo um pedido do aluno, colocou o metrónomo na parte inicial, e comunicou-
lhe o valor usado, em bpm.
Componente técnica
No final da aula, o aluno realizou, em duas oitavas e com as mãos juntas, as escalas e
arpejos maiores e menores de Mi. Durante este processo, a professora corrigiu as
dedilhações, quando necessário, e foi indicando os aspetos para o onde o aluno deveria
orientar a sua atenção.
O aluno tocou ainda a escala cromática de Mi.
Notas e comentários
136
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Esta aula foi a última antes da prova do aluno no concurso interno do CMP e, como tal,
serviu para ensaiar as peças, ganhando à vontade e segurança nas mesmas.
O aluno tocou a peça de memória e a sua execução foi bastante boa. No entanto,
ocorreram alguns enganos em certas notas, que o aluno corrigiu parando e repetindo.
Preparando-o para a situação de apresentação pública, a professora pediu-lhe que
tocasse novamente a peça, indicando-lhe que, caso se enganasse, deveria continuar
sem efetuar correções.
Antes de tocar esta obra, o aluno começou por experimentar o respetivo andamento
tocando os compassos iniciais, ocasião em que a professora o interrompeu, pedindo-lhe
que fizesse este processo internamente, sem experimentar ao piano.
O aluno tocou então toda a peça de memória. Ao errar determinada passagem, parou e
quis recomeçar do início, mas isto não lhe foi permitido, uma vez que a professora queria
treinar especificamente o hábito e a capacidade de prosseguir.
Tendo terminado de tocar, foi pedido ao aluno o aprimoramento do fraseio da mão
direita, reduzindo o acento na terceira semicolcheia de cada tempo. Foi também
trabalhado o decrescendo na secção final e um intervalo de oitava que implicava um
deslocamento da mão. O aluno repetiu então o estudo.
137
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O aluno tocou a peça em questão demasiado lentamente, pelo que a professora lhe
pediu que parasse e recomeçasse. Enquanto a executou, o aluno manifestou algumas
dificuldades que revelaram uma memorização incompleta e, nestes momentos, foi-lhe
dada a consultar a partitura, para o auxiliar. No final, a professora pediu-lhe que
realizasse um rallentando.
Foi solicitado ao aluno que repetisse a peça. Este encontrava-se desconcentrado,
desobedecendo por vezes às instruções da professora, pelo que foi necessário que esta
o repreendesse, ameaçando não lhe permitir fazer o concurso se não tentasse retirar
aproveitamento desta última aula antes da prova. Depois deste incidente, foi-se
tornando evidente alguma frustração que o aluno sentia com as suas falhas de
memória. Perante esta situação, a professora convenceu-o a ter calma, colocando a
partitura à sua frente e preconizando uma postura mais racional: enervar-se consigo
próprio não lhe traria nada de bom, sendo mais importante detetar o problema e
resolvê-lo. A professora usou a metáfora da sinalização por vezes presente nas linhas
de comboio: “Pare, escute e olhe”.
Recapitulação / Revisão
Terminando de abordar o programa acima, sobrou ainda algum tempo de aula, pelo
que a professora optou por fazer uma pequena pausa, recapitulando depois as três
peças. Na Canção italiana, pediu ao aluno para tocar toda a mão esquerda
individualmente, antes de tocar as duas mãos juntas. O aluno tocou agora todas as
obras com uma maior concentração, conseguindo um resultado muito bom, pelo que a
professora se mostrou muito agradada.
138
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Notas prévias
Esta aula foi presenciada pelo pai do aluno, que o veio trazer.
Componente técnica
Esta obra havia sido preparada pelo aluno com o auxílio do seu encarregado de
educação, constituindo uma “surpresa” para a professora. Inicialmente, o aluno
começou por tocar a mão direita separada, e a professora foi auxiliando na sua
progressão e na escolha de dedilhações. Pediu-lhe que sentisse a pulsação à colcheia e
que não fizesse movimentos desnecessários.
Depois de repetida mais duas vezes a mão direita, passaram à mão esquerda, em que
a professora referiu logo o equilíbrio a considerar posteriormente, na junção das mãos.
À medida que trabalharam, a professora foi encorajando o trabalho do aluno, dando-
lhe reforço positivo quando este manifestou qualidades diversas na sua execução. A
professora marcou também na partitura a indicação do andamento de estudo, para o
aluno.
Conclusão da Aula
No término da aula, a professora tocou para o aluno um outro estudo do mesmo livro,
tentando, assim, motivá-lo a estudar também esse. Todos conversámos um pouco.
139
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Componente técnica
140
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Tendo chegado a aluna que se lhe seguia, o aluno mostrou-se impaciente, pois queria
ainda apresentar à professora dois estudos de Czerny e parte do segundo andamento
da Sonatina. Deste modo, a professora fez um tratamento rápido destas obras.
No estudo em Ré Maior, foi corrigida a oitava em que a mão esquerda iniciava e, dadas
as indicações necessárias, foi pedido ao aluno que fizesse a repetição da segunda parte,
que se encontrava pior do que a primeira.
No estudo em Lá M, que o aluno tocou com as mãos separadas, a sua progressão foi
auxiliada, e foi-lhe recomendado que, na execução do tremolo, concebesse
mentalmente dois instrumentos, como um violino e uma viola.
Antes de a aula terminar, foi abordada a mão direita da parte inicial deste andamento,
na qual foi marcada a dedilhação de uma passagem.
A professora aconselhou o aluno a estudar em casa da mesma forma que na aula,
calmamente, e felicitou-o pelo seu trabalho.
141
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O aluno tocou uma vez o andamento. Foi necessário, nos momentos iniciais, a
professora chamar a sua atenção para a qualidade do som, pois, uma vez que este se
encontrava muito enérgico, apresentou tendência para tocar tudo demasiado forte. A
sua intenção seria “imitar uma orquestra”.
No final, a professora elogiou o seu trabalho e assinalou que o aspeto principal em que
este se deveria concentrar se tratava da regularidade da pulsação, com a exceção de
uma passagem que compreendia um pequeno rallentando. A professora procurou então
um andamento apropriado no metrónomo, que foi posteriormente reajustado, e instruiu
o aluno a tocar novamente a peça, salientando a importância de ouvir bem a pulsação
antes de iniciar, contando alguns compassos.
Entre os aspetos abordados estiveram a realização de appoggiaturas, o uso de uma
maior superfície dos dedos nas teclas pretas, a execução polifónica e a preparação
antecipada da posição das mãos, nas pausas. As passagens mais difíceis foram
trabalhadas com as mãos separadas.
Neste estudo, foram revistas as dedilhações e foi desenvolvida uma maior leveza do
polegar, na componente técnica do tremolo na mão esquerda.
Para que o aluno repetisse mais uma vez aquilo que acabou de realizar com sucesso, a
professora fez uso de uma pequena provocação, questionando-o se este sucesso teria
ocorrido por acaso. Em determinados momentos, reforçou também as suas qualidades
e capacidades, perguntando-lhe: “vês como és capaz?”.
142
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários
143
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Componente técnica
Tendo a professora iniciado um cronómetro, o aluno tocou este andamento uma vez.
Durante a sua execução, a professora tomou algumas notas a lápis na sua partitura,
verbalizando-as também, mas permitiu-lhe sempre que prosseguisse. Uma vez que a
peça se encontrava num nível de preparação avançado, a professora congratulou-o
quando este terminou (“Bravo!”) e felicitou-o pelo seu trabalho.
Depois disto, foi discutido o repertório para o concurso em questão, e a professora
consultou-me para uma opinião.
Considerada esta questão, a professora indicou uma pulsação ligeiramente mais
rápida e pediu ao aluno que tocasse mais uma vez o andamento, cronometrando-o
novamente.
A professora pediu ao aluno que tocasse todo o andamento num tempo que lhe fosse
confortável e que seguisse sempre tocando, mesmo que tivesse dificuldade nalgumas
passagens. Assim, pode obter a duração aproximada do mesmo. No final, deu-lhe
também os parabéns pelo seu trabalho.
144
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Conclusão da aula
145
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
O aluno tocou todo o andamento uma vez, de cor, tendo a professora reparado que
este se encontrava bem melhor. De seguida, perguntou ao aluno se a peça de Albéniz se
encontrava também já memorizada e, dado que o aluno respondeu afirmativamente,
afirmou que voltariam a abordar este andamento mais tarde.
146
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Conclusão da aula
147
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Antes de iniciar a aula, a professora conversou com o aluno sobre um concerto que
ambos tinham ouvido e sobre algumas gravações de uma das peças que o aluno se
encontrava a estudar, que haviam trocado por email. A professora entregou também ao
aluno a partitura de um estudo, para integrar o seu repertório.
O aluno mencionou que não estudou a peça de Bach pois havia confundido o número
da mesma. A professora escreveu-o então no seu caderno e pediu-lhe que fizesse uma
leitura, com as mãos separadas.
Componente técnica
148
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
O aluno tocou esta peça uma vez, com a partitura e, enquanto foi progredindo, a
professora deu-lhe algumas instruções, sem o interromper, exceto num momento, e
tomou notas a lápis na sua partitura. Monitorizou também a sua posição, para que não
subisse os ombros.
Quando o aluno terminou, a professora apontou algumas questões que o aluno
poderia melhorar e trabalhou com ele porções da obra. Abordaram, entre outros
aspetos, o rubato, as notas dobradas [para que melhorasse este conteúdo a professora
aconselhou ao aluno um exercício técnico], o carácter leggiero, o fraseio, o equilíbrio
sonoro das duas mãos e o pedal.
Num determinado momento, em que a professora pediu a minha opinião, participei
também na aula, ajudando a tomar uma opção estilística.
Encontrando-se próximo o final da aula, não foi abordada a totalidade da obra, mas
foram enunciadas e, em certas instâncias, demonstradas as considerações mais
importantes.
Comentários
149
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
O Aluno chegou um pouco atrasado, o que foi sinalizado pela professora, ainda que em
tom leve e jocoso. De seguida, a professora anunciou as datas dos próximos
compromissos do aluno – uma audição informal (servindo de ensaio geral) e uma
audição formal – e, consultando o seu caderno, verificou o programa designado para
esta aula e explicitou, tomando nota, que, na semana seguinte às férias de carnaval,
desejaria ouvir o programa que o aluno iria tocar na audição informal.
Componente técnica
O Aluno havia estudado esta peça com as mãos separadas e foi desse modo que a
executou, com a professora prestando algum auxílio em alguns aspetos da leitura e
interrompendo o aluno para corrigir, por exemplo, notas alteradas, notas presas,
arranjos entre as mãos e dedilhações.
A professora recomendou ao Aluno que, desde logo, pensasse a escrita
polifonicamente quando estudasse esta obra. Para além disto, clarificou um pouco da
estrutura tonal da mesma, clarificou algumas aparições do tema e dos seus fragmentos
e salientou a importância das pausas nos motivos anacrúsicos.
150
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Conclusão da aula
151
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
O aluno chegou um pouco atrasado. Antes de iniciar a aula, a professora discutiu com
o aluno uma estratégia para a disposição de uma partitura de música de câmara, por
forma a facilitar a leitura e a viragem das páginas, durante a performance.
Nesta aula, foi feita a preparação para a apresentação que o aluno teria no dia
seguinte: em primeiro lugar, foram abordadas as partes de piano das obras de música
de câmara, que o aluno havia ensaiado no dia anterior com a presença da professora;
em segundo lugar, o programa a solo.
Nesta peça, a professora pediu ao aluno que tocasse algumas passagens específicas,
que, na véspera, havia reparado necessitarem de uma maior atenção, e indicou como as
poderia estudar em casa (em non legato/staccato, com o pulso baixo). Para além disto,
explicitou quais as diferenças entre alguns trechos semelhantes, ajudando assim o
aluno a estruturar o seu pensamento.
Antes de prosseguirem, a professora salientou a importância de o aluno estar muito
atento à flautista, para que o resultado sonoro pudesse soar “como se se tratasse de
uma pessoa só”, não apenas no que toca aos ambientes, mas também nas oscilações de
tempo, etc.
152
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Prelúdio e Fuga em Dó menor (Cravo Bem Temperado, 1.º vol.), BWV 847 – J. S. Bach
Estudo op. 25 n.º 1 – F. Chopin
Castilla (Seguidilla) – I. Albéniz
De seguida, o aluno ensaiou, de memória, estas três peças, que iria tocar também no
dia seguinte. Em todas elas, quando o aluno terminou de tocar, a professora realizou
algumas correções, pedindo-lhe depois que as repetisse, antes de passar à obra
seguinte. Apenas a última não foi repetida.
De entre os aspetos assinalados, salientam-se:
• No Prelúdio – a correção rítmica na secção final e o uso de substituição de
dedos;
• Na Fuga – a definição da pulsação do tema, a construção dinâmica das secções,
a correção de uma nota errada (consciencializando em que escala esta se
inseria), a realização correta de um fraseio (sem falsos acentos) e a retificação
da dedilhação de uma passagem;
• No Estudo – a execução da anacrusa inicial, a correção de alguns erros
circunstanciais. Foi também pedido ao aluno que tocasse esta peça com menos
ênfase na componente mecânica do virtuosismo.
• Na Seguidilla – a estruturação e o encadeamento de algumas partes. Foi aqui
assinalado um grande progresso, de facto, notório.
153
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
Nesta aula, o aluno anunciou que se encontrava com dor num tendão do braço direito,
pelo que o período de tempo despendido a tocar foi bastante curto.
A sua lesão tinha-se tornado proeminente após uma sessão de estudo, dias atrás,
pelo que este foi aconselhado pela professora a não praticar mais no dia da aula e no dia
seguinte. Como o aluno tinha uma audição agendada para o final da semana, e uma vez
que se encontrava com grande vontade de tocar, foi resolvido que este decidiria se iria
tocar ou não em função de como se sentisse após o repouso.
Naturalmente, grande parte do tempo da aula foi dedicada ao aconselhamento do
aluno, para evitar a subsistência e o ressurgimento deste problema. Eu e a professora
falámos um pouco das nossas experiências pessoais e mencionamos as nossas
perspetivas sobre a prevenção deste tipo de situações e sobre o modo como o aluno
deveria proceder, a curto e a longo prazo.
O aluno tocou este programa uma vez, de cor, e, no final de cada peça, a professora
assinalou os aspetos mais relevantes, através da consulta da partitura.
154
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Início da aula
Ao iniciar a aula, a professora falou com o aluno sobre a sua última audição,
salientando os aspetos mais positivos, e deu-lhe algumas indicações para o repertório
que executou, por vezes consultando a partitura.
O trabalho deste andamento foi o cerne da presente aula. Enumeram-se aqui algumas
das questões abordadas:
• Regularidade nas figuras de acompanhamento iniciais da mão esquerda
(tercinas), em dinâmica piano, e com maior saliência da nota inferior
relativamente às duas notas superiores (imaginando dois instrumentos), tendo
em conta a dedilhação e o começo em anacrusa;
• Estabilidade da pulsação, com recurso ao metrónomo;
• Execução legato, ouvindo as notas “até ao fim”;
• Uso da surdina e do pedal direito, em concordância com as características da
escrita;
• Separação e contraste entre secções;
• Dedilhação a usar na secção em tercinas, antes do reaparecimento do tema,
organizando as passagens em posições confortáveis;
• Estratégias de estudo para um trecho que implicava a junção de divisões binária
e ternária.
155
Seis Estudos op. 10 de F. Chopin (1810-1849) na perspetiva técnica e interpretativa dos pianistas Alfred Cortot e Monique Deschaussées Francisco Reis
Comentários prévios
O aluno havia participado num concurso no estrangeiro, pelo que, tendo chegado há
pouco tempo, depois de uma atividade tão intensiva, não teve possibilidade de preparar
com profundidade esta aula.
Componente técnica
O Aluno executou as escalas (à distância de 8ª, 10ª, 6ª e 3ª) e arpejos (com inversões)
das tonalidades de Mi Maior e menor, bem como a escala cromática (à 8ª) e o arpejo de
sétima da dominante (com inversões). Não tendo preparado devidamente estes
conteúdos, pediu para os realizar ao longo de apenas duas oitavas.
Para auxiliar o aluno a resolver as suas dificuldades, a professora foi elucidando as
alterações e a dedilhação. Aconselhou-o também no que respeita à forma como deveria
praticar em casa (com as mãos separadas) e acentuou a necessidade de uma boa
preparação destes conteúdos para a prova. O aluno teria de apresentar a sorteio seis
tonalidades à sua escolha.
O aluno tocou uma vez esta Sinfonia e a professora foi fornecendo algumas
indicações, à medida que este foi prosseguindo. No final, pediu-lhe que revisse
atentamente a dedilhação, estudando com as mãos separadas.
Uma vez que este estudo se tratava da peça imposta para a prova final de piano,
embora o aluno ainda não o tivesse começado a preparar, a professora despendeu
algum tempo para explicar alguns conteúdos que aqui assumiam alguma relevância,
como o legato de terceiras dobradas e o fraseio.
Enquanto o aluno foi tocando, a professora foi-lhe dando indicações para otimizar o
processo de aprendizagem, pedindo-lhe, por exemplo, que tocasse certas passagens
com as mãos separadas e apontando notas e dedilhações a corrigir, para além das
diferentes articulações e de outras especificidades.
156
MESTRADO
ENSINO DE MÚSICA
INSTRUMENTO – PIANO
Monique Deschaussées
157
Francisco Reis