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ARTIGOS 33
PORTUGUÊS
COMPETÊNCIAS DIGITAIS DOS PROFESSORES
INTRODUÇÃO
1
Doutora em Engenharia Elétrica/Sistemas Digitais pela Universidade de São Paulo (USP), tem graduação em Física e
mestrado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora titular do
Departamento de Estudos Especiais da Faculdade de Educação da UFRGS, é pesquisadora e coordenadora do Programa
de Pós-Graduação em Informática na Educação da UFRGS.
34 PESQUISA TIC EDUCAÇÃO 2018
ARTIGOS
dos níveis de competência digital dos professores, tais como a Being Fluent with Information
Technology (1999), da National Academy of Sciences, National Educational Technology
Standards for Teachers, da International Society for Technology in Education – Iste (2008),
Padrões de competência em TIC para professores: diretrizes de implementação (2008), da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o European
Framework for the Digital Competence of Educators, proposto pela Joint Research Centre (JRC)
da Comunidade Europeia (Redecker, 2017).
FIGURA 1
ALFABETIZAÇÃO DIGITAL X FLUÊNCIA DIGITAL
SOCIEDADE ALFABETIZAÇÃO
PRESSUPÕE
DA INFORMAÇÃO DIGITAL
MANUSEIA
FLUÊNCIA
TIC COM
DIGITAL
PROFICIÊNCIA
PORTUGUÊS
aprimoramento em sua prática no uso da tecnologia), líder (identificando e explorando novos
recursos digitais para a educação), cidadão (promovendo o uso responsável da tecnologia),
colaborador (usando ferramentas colaborativas para o engajamento de estudantes, colegas e
especialistas, que podem estar próximos ou distantes), designer (usando a tecnologia para criar
ambientes adaptativos, personalizados e autênticos, a fim de maximizar uma aprendizagem
ativa e profunda), facilitador (gerenciando o uso de estratégias em ambientes e plataformas
digitais pelos estudantes) e analista (usando formas alternativas para monitorar e realizar
avaliação formativa e somativa, guiando o progresso do estudante).
Por sua vez, o framework DigCompEdu, desenvolvido pelo Joint Research Centre, é uma
proposta mais recente. Ela é usada na Comunidade Europeia para categorizar o estágio de
desenvolvimento dos professores no que tange ao uso das TIC como recurso educacional
(Redecker 2017). O framework também será usado como base para a análise do cenário
brasileiro, tal como percebido na pesquisa TIC Educação 2017. Este framework foi o escolhido
em função de ser amplo, atualizado e contemplar uma gama diversificada de atividades
envolvendo o uso educacional da tecnologia digital.
FRAMEWORK DIGCOMPEDU
ensino e na aprendizagem;
Área 4: Avaliação – Utilização de TIC e estratégias para melhorar a avaliação;
Área 5: Capacitar os alunos – Utilização de tecnologias digitais para melhorar a inclusão,
personalização e engajamento ativo dos alunos. Concentra-se no potencial das TIC para
criar estratégias de ensino e aprendizagem centradas no aluno;
Área 6: Facilitar a competência digital dos alunos – Permite que os alunos utilizem de
forma criativa e responsável tecnologias digitais para informação, comunicação, criação
de conteúdo, bem-estar e resolução de problemas.
O framework também descreve seis estágios diferentes pelos quais a competência digital de
um educador normalmente se desenvolve. Nos dois primeiros – novato (A1) e explorador
(A2) – o profissional assimila novas informações e desenvolve práticas digitais básicas. Nos
dois estágios seguintes – integrador (B1) e especialista (B2) –, o educador aplica, expande
e estrutura suas práticas digitais. Nas fases mais elevadas – líder (C1) e pioneiro (C2) –, ele
compartilha seus conhecimentos, critica a prática existente e desenvolve novas práticas. Um
detalhamento maior sobre as características dos docentes em cada um dos estágios é mostrado
a seguir:
A1 – Novatos – Estão cientes do potencial das TIC para melhorar a prática pedagógica
e profissional, no entanto, tiveram pouco contato com tecnologias digitais e as utilizam
principalmente para preparação de aulas, administração ou comunicação organizacional.
Os novatos precisam de orientação e incentivo para expandir seu repertório e aplicar sua
competência digital no campo pedagógico;
A2 – Exploradores – Estão cientes do potencial das tecnologias digitais e interessados em
explorá-las para melhorar a prática pedagógica e profissional. Eles começaram a usar as
TIC em algumas áreas de competência digital, sem, no entanto, seguir uma abordagem
abrangente ou consistente. Os exploradores precisam de encorajamento, percepção
e inspiração, a partir do exemplo e da orientação de colegas, em um intercâmbio
colaborativo de práticas;
B1 – Integradores – Experimentam tecnologias digitais em uma variedade de contextos
e para diversos propósitos, integrando-as em muitas de suas práticas. Eles as utilizam
criativamente para aprimorar variados aspectos de seu engajamento profissional, mas
ainda estão trabalhando para entender quais ferramentas funcionam melhor, em quais
situações e como adaptá-las às estratégias e métodos pedagógicos;
B2 – Especialistas – Usam uma variedade de tecnologias digitais com confiança,
criatividade e criticidade para aprimorar suas atividades profissionais. Eles selecionam
as TIC para situações particulares e tentam entender seus benefícios e desvantagens,
investindo na experimentação como um meio de expandir, estruturar e consolidar seu
repertório de estratégias;
C1 – Líderes – Os líderes têm uma abordagem consistente e abrangente no que se
refere ao uso de tecnologias digitais para aprimorar práticas pedagógicas e profissionais.
Eles contam com um amplo repertório de estratégias digitais e sabem como escolher
a mais adequada para qualquer situação. Eles refletem continuamente e desenvolvem
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ARTIGOS 37
suas práticas. A partir da interação com os colegas, se mantêm atualizados sobre novos
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desenvolvimentos e ideias;
C2 – Pioneiros – Os pioneiros questionam a adequação das práticas digitais e
pedagógicas contemporâneas. Estão preocupados com as limitações ou desvantagens
dessas práticas e são movidos pelo impulso de inovar ainda mais a educação. Eles
experimentam tecnologias digitais altamente inovadoras e complexas e/ou desenvolvem
novas abordagens pedagógicas.
O CENÁRIO BRASILEIRO
No cenário brasileiro, tal como evidenciado pela pesquisa TIC Educação 2017, é possível
perceber que, embora 97% das escolas tenham acesso à Internet, a quantidade de equipamentos
conectados é pequena. O estudo indica que 63% das escolas têm até 15 computadores de
mesa com acesso à Internet e 70%, até cinco notebooks com acesso à Internet. A pesquisa
também relata que a maior parcela das escolas (37%) tem poucos computadores para uso
pedagógico, com uma relação de mais de 40 alunos por computador. Mas, a despeito dessa
escassez de equipamentos e de acesso, uma parcela substancial de professores (78%) utiliza
os computadores e a Internet de uma maneira que indica uma fluência digital, tendo realizado
atividades de criação de projetos e de interação com os alunos (CGI.br, 2018).
A investigação relatada neste trabalho foi desenvolvida com vistas a derivar um perfil dos
docentes brasileiros que participaram da pesquisa TIC Educação 2017, gerando indicadores
que permitissem estimar o estágio de competência dos professores envolvidos, segundo o
framework DigiCompEdu.
Os estágios previstos em cada uma das competências seguem um padrão de evolução análogo
ao que é mostrado na Tabela 1: variando desde o pouco uso da competência, avançando
para o básico e, em seguida, passando para uma utilização mais efetiva e intencional, depois
planejada, com avaliação, até chegar ao delineamento de novas estratégias de aproveitamento
dos recursos. Esse escalonamento possibilita investigar, no conjunto de indicadores da pesquisa
TIC Educação 2017, elementos que permitam inferir o estágio dos professores nas diversas
competências relacionadas no framework DigiCompEdu.
2
Mais informações sobre os dados da pesquisa TIC Educação 2017 no website do Cetic.br. Recuperado em 14 fevereiro,
2019, de http://www.cetic.br
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PORTUGUÊS
TABELA 1
ESTÁGIOS DE COMPETÊNCIA DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
TABELA 2
ESTÁGIOS DE COMPETÊNCIA DA COLABORAÇÃO PROFISSIONAL
Usar tecnologias digitais para colaborar B1 – O professor usa tecnologias digitais para compartilhar e trocar práticas.
com outros educadores, partilhar e trocar
conhecimento e experiência, bem como B2 – O
professor usa tecnologias digitais para a construção colaborativa de
para inovar práticas pedagógicas de forma conhecimento.
colaborativa.
C1 – O
professor usa tecnologias digitais para refletir e melhorar as práticas
e as competências.
PORTUGUÊS
A Tabela 2 destaca os estágios de competência em termos de colaboração profissional e, nesse
quesito, foram considerados os dados da questão C4A (professores, por atividades realizadas
na Internet). Percebe-se que 41% dos professores participam de fóruns ou grupos de discussão
na Internet, embora não seja possível saber se esses locais são comunidades de práticas ou de
outros interesses (especialmente no caso de grupos de discussão). Pode-se supor que ao menos
uma parte dos professores faz uso básico das TIC para colaboração no plano profissional
e, eventualmente, usa TIC para compartilhar e trocar práticas. Isto colocaria esta parcela
de professores (41%) no estágio de competência entre explorador (A2) e integrador (B1).
No entanto, a maioria dos professores está no estágio novato (A1), pois não há indícios de que as
TIC sejam usadas de forma mais sistemática para a construção colaborativa de conhecimento.
Tendo como base a estimativa feita em relação aos estágios dos docentes participantes da
pesquisa TIC Educação 2017, foi usado um questionário de autoavaliação simulando um
professor que estivesse no estágio médio, como assinalado na Tabela 3. O questionário3 permite
identificar o nível de competência digital em que se encontram os respondentes e fornece
sugestões sobre a formação a realizar, a fim de que se possa evoluir para um nível superior.
TABELA 3
ESTÁGIOS DE COMPETÊNCIA DAS DEMAIS ÁREAS
A1 A2 B1 B2 C1 C2
CONTINUA
3
Mais informações no website do DigiCompEdu. Recuperado em 14 fevereiro, 2019, de https://ec.europa.eu/eusurvey/
runner/DigCompEdu-S-PT
40 PESQUISA TIC EDUCAÇÃO 2018
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CONCLUSÃO
A1 A2 B1 B2 C1 C2
A partir dessa simulação, foi obtido um resultado de 35 pontos (em um total de 80) para
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a competência digital do professor representado pela média das respostas da pesquisa
TIC Educação 2017. Isso colocaria o hipotético professor simulado na categoria integrador (B1).
Naturalmente, há uma margem de erro nesse resultado, porque as respostas foram derivadas
não de um indivíduo real, mas de uma hipótese de como responderia um professor, tendo por
base as opções mais frequentes selecionadas nas alternativas consideradas nas questões da
pesquisa. Além disso, há um grande número de professores que não utilizam recursos de TIC
em atividades educacionais em sala de aula ou com alunos.
Há que salientar também que, em muitos casos, a questão permitia derivar de forma parcial
o estágio de competência do professor. De modo geral, foi percebida uma tendência para o
uso mais básico de recursos de TIC. Não foi possível perceber, pelas respostas às questões, um
uso nos níveis de competência mais elevados (especialista, líder e pioneiro), embora todos
os professores disponham de computador e usem a Internet na preparação de suas atividades
educacionais.
Pelas respostas às questões da pesquisa, percebe-se que a falta de recursos de TIC na escola
e, em particular, na sala de aula, impacta severamente nas atividades educacionais de modo
geral. A questão F2, por exemplo, aponta a falta de computadores em número suficiente,
computadores obsoletos e a baixa velocidade de conexão, além da falta de suporte, como as
principais barreiras para o uso das TIC na escola. A despeito das dificuldades, percebe-se um
aumento no uso de tecnologia pelos professores, com estratégias que implicam em formas
mais ativas de participação pelos alunos, por exemplo, envolvendo o uso de celulares, tipo de
recurso mais abundante entre os estudantes. Mas, ainda existe uma grande parcela de docentes
que não usa as TIC como recurso educacional, como ilustram as respostas da questão E3,
conforme o Gráfico 1.
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GRÁFICO 1
PROFESSORES, POR USO DO COMPUTADOR E DA INTERNET PARA REALIZAR ATIVIDADES COM OS ALUNOS
PORTUGUÊS
60 55 55
51
50 47
43
40 34
33
30
30 26 26
23
19 19 19 20
20
10
0
Elaborou planilhas Trabalhou com Realizou interpretação Fez pesquisas em Solicitou que os
e gráficos com jogos educativos de textos com livros e revistas alunos produzissem
os alunos com os alunos os alunos com os alunos textos, desenhos
ou maquetes
60 55
50
48 48
50 46
43 43
40 40
40 35
30
19
20
9 9 8
10 5
0
Promoveu debates Solicitou a realização Solicitou trabalhos Solicitou a realização Deu aulas
ou apresentações de exercícios em grupo de trabalhos sobre expositivas
com os alunos temas específicos
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
PORTUGUÊS
da participação em comunidades de boas práticas, da investigação sobre as estratégias de
aprimoramento da competência digital dos educadores e de recursos de formação on-line ou
sessões de formação presenciais.
Conforme destacado por Vygotsky (1991), em seu conceito Zona de Desenvolvimento Proximal
(ZDP)4, o potencial de crescimento do indivíduo passa pela participação e pela interação
com seus pares. Porém, boa parte do esforço de crescimento deriva de iniciativa individual,
conforme destaca a pesquisa TIC Educação 2017. O framework DigiCompEdu também
preconiza o esforço individual para o crescimento profissional.
Nesse sentido, procurar soluções que atendam às necessidades específicas de cada professor
é uma responsabilidade que tem sido assumida pessoalmente, pois as ofertas disponibilizadas
pela escola, pelo governo ou por outras instituições são, de modo geral, planejadas para
atender a um público-alvo cujas características podem não ser as de um professor em particular.
A pesquisa TIC Educação mostra (conforme questão D1A) que a forma predominante de
aprendizado e atualização sobre o uso do computador e da Internet pelo professor é aprender
sozinho (92%), seguido por aprender com outras pessoas, como parentes (87%) e por contatos
informais com outros professores (79%). Dessa forma, a criação de recursos de apoio à
colaboração sistemática entre professores tem grande potencial para minorar o problema da
atualização profissional digital do professor.
O movimento dos Recursos Educacionais Abertos (REA)5 tem recebido impulso no Brasil,
especialmente com a posição da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) (Portaria n. 183, 2016) de implantar uma política de reuso dos conteúdos educacionais
digitais produzidos no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (Universidade Aberta do Brasil
[UAB], 2017). O crescimento dessa estratégia é promissor no sentido de melhorar a criação
de conteúdos digitais pelos professores, os quais não mais se sentirão tolhidos pelo temor de
estarem utilizando indevidamente materiais educacionais encontrados on-line.
4
ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar pela solução independente de
problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (Vygotsky, 1991, p. 97).
5
Mais informações no website da Capes. Recuperado em 14 fevereiro, 2019, de http://www.capes.gov.br/uab/rea
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A colaboração, a partir do uso da maior variedade possível de recursos de TIC, também precisa
ser incentivada, com vistas a ampliar a participação ativa do aluno no processo, pois este novo
perfil de cidadão fluente digitalmente é o esperado e o necessário para o século 21.
REFERÊNCIAS
Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br. (2018). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação
e comunicação nas escolas brasileiras: TIC Educação 2017. São Paulo: CGI.br.
Computer Science and Telecommunications Board – CSTB (1999). Committee on Information Technology
Literacy and National Research Council, Being Fluent with Information Technology. National Academy of
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ensino público médio e fundamental em Portugal. Revista Diálogo Educacional, 18(58), 624-644.
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for Teachers. Recuperado em 14 fevereiro, 2019, de http://www.iste.org/standards/nets-for-teachers.aspx
Moore, A. (2007). The new economy, technology, and learning outcomes assessment. Educause Quarterly,
30(3), 6-8.
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14 fevereiro, 2019, de http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001562/156207por.pdf
Portaria n. 183, de 21 de outubro de 2016 (2016). Regulamenta as diretrizes para concessão e pagamento
de bolsas aos participantes da preparação e execução dos cursos e programas de formação superior, inicial
e continuada no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Brasília, DF. Recuperado em 14
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Schneider, D., Franco, S., & Sabrito, C. (2017). Atividades de ensino no Moodle: Implicações da fluência
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