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Ambiente de Gestão da Cultura
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Alkimar R. Moura

Mercado de capitais e
crescimento econômico
Desenvolvimento financeiro e
lições internacionais, desafios brasileiros
ll qualldade dos ajustes macroeconômicos:
notas sobre o caso brasileiro
Edmar Lisboa Bacha
Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho
o•CANIZAD0•1s

Este artigo tem como objetivo indicar algumas dificuldades para o for-
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0(, talecimento do mercado de capitais no Brasil, tomando como base pon-
-o~ <e tos jâ conhecidos e ligados ao ajuste fiscal, cuja qualidade não favorece a
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'Õ ç>5:,✓- expansão do processo de intermediação financeira, seja por intermédio
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/ dos mercados de títulos organlzados, seja via sistema bancário. O texto
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,'lll lj estâ dividido em quatro partes. Na primeira, são discutidas brevemente as

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principais conclusões de um estudo do Banco Mundial sobre o desenvol-
vimento financeiro de um conjunto de nações (Banco Mundial 2004c).
Mercado de capitais e crescime Na segunda, a amostra é restringida a países latino-americanos. Com base
336.76 M5532005 nessas conclusões, são sugeridas, na terceira parte, algumas hipóteses que
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justificariam o fraco desempenho do Brasil no tocante ao desenvolvimen-

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ledo 1::::::::::-.: to do mercado de capitais. A última parte sintetiza as principais conclu-
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sões do trabalho.

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O estudo do Banco Mundial d) reformas que favorecem o desenvolvimento do mercado de capitais


atuam para acelerar o grau de internacionalizaçlio do mercado de
Analisar o processo de desenvolvimento financeiro de uma economia renda variável.
compreende entender as mudanças no tamanho e na composição de um
indicador de crescimento do sistema financeiro em relação ao restante da Tais conclusões constituem hoje o que se poderia chamar, sem demé-
economia. Um dos indicadores m ais usados para isso é a relação entre o rito, "sabedoria convencional" sobre as razões que explicam o desenvol-
total de ativos financeiros e o Produto Interno Bruto (PIB). Ultimamente, vimento financeiro. Outros trabalhos acadêmicos (Levine 1977, 1999;
diversos estudos acadêmicos e organismos internacionais têm tentado Djankov e outros 2005) também tendem a apontar a inter-relação estatis-
identificar as variáveis que explicam as mudanças nesse indicador de de- ticamente significativa entre desenvolvimento financeiro e melhoria de
senvolvimento financeiro tanto em estudos de séries temporais quanto variáveis econômicas, institucionais e políticas, bem como a importância
em um conjunto de países em diferentes estágios de desenvolvimento para esse desenvolvimento de reformas que reforcem as garantias dos cre-
econômico e de aperf~içoamento d e seus sistemas finance iros. Em recente dores, a redução da assimetria de informação nos mercados de crédito e de
e amplo estudo sobre os mercados financeiros latino-americanos, coorde- capitais, a defesa dos direitos dos acionistas minoritários e outros aspectos
nado por Augusto de la Torre e Sergio Schmukler, o Banco Mundial anali- favoráveis ao aperfeiçoamento institucional.
sa, em primeiro lugar, a questão dos determinantes do desenvolvimento
financeiro em geral para uma amostra significativa de países. A análise é
feita em relação aos dois componentes do mercado de valores mobiliários: A América Latina
o segmento dos títulos de dívida (pública e de empresas) e o de ações,
cada um deles tomando separadamente o mercado interno e o mercado Ao analisar no trabalho em questão os resultados para os países da América
internacional. Latina, o Banco Mundial chega a conclusões nada alentadoras, sobretudo
As principais conclusões do estudo podem ser assim resumidas: se esses resultados são comparados aos de outros países emergentes. Desde
a) fatore~ macroeconômicos (taxa de inflação, razão entre reservas in- o inicio da década de 1990, número significativo de palses latino-america-
ternacionais e PIB, indicador de carga fiscal etc.) e institucionais são nos adotou uma série de reformas - liberalização financeira, privatização
significativos para explicar o tamanho e a composição do mercado de empresas estatais, reformas institucionais, inclusive previdenciárias,
de títulos de divida tanto em moeda nacional quanto em moeda modernização da legislação e das agências reguladoras, e melhoria na in -
estrangeira, ainda que o estoque da última seja mais sensível ao peso fra-estrutura física dos mercados financeiros, de capitais e de derivativos,
dos fundamentos macroeco nômicos. com aperfeiçoamento dos sistemas de negociação, custódia e liquidação
b) economias maiores, com bases de investidores mais amplas, tendem de títulos - que deveriam favorecer o desenvolvimento dos mercados fi-
a ter maior participação d e dívida domést ica, ao passo que econo- nanceiro e de capitais. Contudo, apesar desses esforços, o retomo medido
mias menores apresentam maior volume de recursos captados em pelos indicadores convencionais de desenvolvimento financeiro para os
mercados de capitais externos. países da região, à exceção do Chile, pode ser considerado pífio não so -
c) no caso dos mercados acionários, as mesmas variáveis que favorecem mente em relação às expectativas iniciais, como também em comparação
a expansão das operações em moeda local atuam para impulsionar com a expansão, em idêntico período, desses mesmos mercados em outras
a internacionalização, a saber: elevado nível de renda per capita, es- economias emerge ntes.
tabilidade macroeconô mica, situação fiscal favorável, sistemas legais Outra conclusão do estudo é igualmente preocupante. O crescimento
consolidados e alto grau d e abertura econômica. insuficiente na intermediação no m ercado interno tem ocorrido simul-

188 MlACAOO D( CAl'fUJS • CJtUCIMlNlO (CONÕMICO DlUNVOlVIMCN TO f lNANClll O l QUAIJOADl OOS ~ STU MM:IIOtCONÔMK:OS 189
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taneamente à expansão da participação latino-ameri~ana nos mercados últimos anos, aplica-se com bastante propriedade ao Brasil. Vejamos, en-
de capitais internacionais, medida pelo volume de emissões e de nego- tão, algumas características do mercado financeiro brasileiro que explicam
ciações de títulos latino-americanos fora das fronteiras nacionais. Além as duas condições mencionadas: o fraco crescimento da intermediação
de o desempenho dos mercados financeiros nos países latino-americanos financeira doméstica, medida pela relação entre ativos financeiros e o PIB,
ser inferior ao de países emergentes de outras regiões, a distinção entre e a tendência ao crescimento mais rápido das intermediações financeiras
eles também pode ser verificada pelo maior grau de internacionalização externas, estimuladas tanto pelos emissores de ativos quanto pelos inves-
financeira observado nas economias da América Latina. A preferência pela tidores em títulos e valores mobiliários.
emissão de tí_tulos nos mercados externos de capitais ocorre em relação Supondo que a seqüência estabilidade macroeconômica e mudanças
tanto às ações quanto às obrigações públicas e privadas. Em suma, os in- institucionais, incluindo o avanço das reformas microeconômicas, é um
dicadores ligados ao desenvolvimento financeiro revelam que as nações dos pré-requisitos para o desenvolvimento financeiro, algumas caracte-
latino-americanas são subdimensionadas internamente e apresentam ex- rísticas brasileiras recentes limitam o tamanho, a composição e a taxa de
cesso de intermediação externa. crescimento da intermediação financeira. Duas delas, inter-relacionadas,
O exemplo bem-sucedido do Chile - país latino-americano com o sistema parecem explicar, ao lado de outrps fatores de caráter institucional, o nível
financeiro mais desenvolvido, a julgar pela relação entre ativos financeiros e incipiente da intermediação financeira em comparação ao benchmarl< lati-
o PIB (174%), uma das maiores entre os países emergentes, bem como próxi- no-americano: a excessiva carga tributária sobre as operações financeiras e
ma daquela apresentada por alguns países desenvolvidos - parece confirmar o reduzido tamanho do mercado secundário de títulos.
que um conjunto de decisõe5, tomadas em uma determinada seqüência, fa-
vorece o crescimento econômico, a expansão dos mercados financeiros, a
melhoria das condições sociais e da distribuição de renda, e a redução dos A tributação no mercado financeiro
níveis de pobreza. Essa seqüência temporal de reformas se inicia pela esta- Na literatura sobre desenvolvimento financeiro, as condições de estabili-
bilidade macroeconômica, fruto do combate à inflação, da reforma fiscal e dade macroeconômica são comumente resumidas pela seguinte trilogia:
do equihôrio no balanço de pagamentos. O segundo estágio compreende inflação sob controle, equilíbrio fiscal, de modo a assegurar a sustenta-
reformas microeconômicas destinadas a aumentar a competitividade da bilidade da relação dívida/PIB, e equilíbrio externo. Em relação a isso, é
economia, favorecer a flexibilidade do sistema de preços e criar um am- importante lembrar que, em comparação com outros países emergentes
biente regulatório eficiente e estável, sobretudo na regulamentação e na da América Latina, o processo de estabilização de preços brasileiro foi um
supervisão do sistema financeiro. O terceiro passo se baseia na melhoria dos últimos a ocorrer, tendo se iniciado com o Plano Real em 1994. Além
das instituições e inclui reformas que contribuem para a estabilidade polí- disso, o país só passou a contar com uma combinação de Instrumentos e
tica e aprimoram o mercado de trabalho, o sistema judiciário e a legislação objetivos capazes de assegurar, em principio, a estabilidade macroeconô-
que protege os direitos de propriedade. mica após o abandono do regime de âncora cambial e a introdução das
metas inflacionárias em julho de 1999.
Ainda assim, a qualidade do ajuste macroeconômico não é satisfatória
O caso brasileiro sobretudo no que se refere às questões fiscal e tributária e em seu impacto
no sistema de intermediação financeira. O número excessivo de impostos
A conclusão genérica a respeito do desenvolvimento do mercado -finan- (alguns com alíquotas relativamente elevadas) que incidem sobre os três
ceiro nos países da América Latina, à exceção do Chile e do México nos agentes no processo de intermediação - o aplicador/poupador, o interme-
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MUCM>O Df CNIIAJI I CIUCIMl.NIO IC0NÔMICO
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diário e o tomador de recursos - parece constituir um fator restritivo ao


aprofundamento e à ampliação do mercado financeiro no país.'
1 de tesouraria, levando à distorção na alocação dos escassos recursos
gerenciais das empresas não financeiras para a gestão de empresas
O efeito dessa carga tributária é aumentar ainda mais a cunha existente financeiras. Isso, em última análise, leva a um aumento do número
entre a remuneração líquida do poupador e o custo efetivo dos recursos de firmas no setor bancário, em contraposição à tendência recente
para o tomador, o que estimula a desintermediação financeira e desvia re- de consolidação bancária;
cursos dos intermediários bancários e financeiros tradicionais. Uma carga d) incita o aumento da informalidade nos mercados monetários e de
tributária elevada incidindo sobre as operações financeiras produz as se- crédito (mútuos entre empresas e entre pessoas físicas). No caso da
guintes distorções no mercado de capitais, sobretudo nas transações com CPMF - o exemplo mais conspícuo da tributação sobre a utilização
títulos de dívida e nas operações bancárias: de um dos componentes dos meios de pagamentos -, há evidências
a) induz à criação de produtos e serviços financeiros pelos intermediá- empíricas que mostram o efeito perverso de sua incidência no cresci-
rios tradicionais, visando, entre outros objetivos, reduzir a carga fis- mento da economia subterrânea no país, com conseqüente perda de
cal sobre poupadores e investidores. No caso do financiamento de arrecadação tributária (Lucinda e Arvate 2004). Além disso, o incre-
capital de giro para as empresas, por exemplo, as operações de "ven- mento da informalidade reduz a produtividade da economia como
dor/compror" gozam de incidência tributária menor que as opera- um todo;
ções convencionais de conta garantida e desconto de duplicatas, em e) aumenta o custo da dívida pública, uma vez que a tributação sobre a
geral as mais usadas pelas pequenas empresas. Assim, a incidência poupança financeira, em uma situação de relativa abertura financeira
efetiva de alguns tributos, especialmente a CPMF, contribui para au- externa, provoca a necessidade de aumentar a remuneração bruta do
mentar ainda mais a distância entre o custo final de empréstimos investidor, a fim de igualar a remuneração entre ativos domésticos e
entre pequenas e médias empresas, de um lado, e grandes empresas, internacionais; ademais, ao levar ao incremento do custo dos crédi-
de outro; tos bancários, faz subir também a despesa de juros das companhias
b) incentiva a desintermediação financeira em razão do estimulo ao não financeiras estatais dependentes de empréstimos, afetando ne-
desenvolvimento de produtos e serviços com menor incidência tri- gativamente o resultado primário do setor público.
butária: fundos de direitos creditórios, fundos de recebíveis imobiliá- J) não estimula a criação de um amplo mercado secundário de títulos
rios, obrigações colatelarizadas, empresas de factoring; públicos e privados, pois, nos casos de obrigações, a negociação dire-
c) estimula os grupos não financeiros a realizar investimentos na cria- ta entre compradores/vendedores de títulos é onerada pelos tributos,
ção de empresas bancárias não ligadas ao •core business" do grupo, sobretudo a CPMF - a conta investimento, por não estar sujeita à
para que este se beneficie dos ganhos tributários em suas operações aplicação da CPMF nas transações posteriores à entrada de recursos,
diminuiu, mas não eliminou a carga tributária sobre a movimenta-
ção de aplicações financeiras.
g) não encoraja a utilização pelas empresas não financeiras dos merca-
1 Alfm do Imposto de Renda sobre a remuneraçac> do poupador e sobre o lucro do intermedlá· dos futuros domésticos para proteção contra riscos cambiais e demais
rio &nancriro, os seguintes Impostos e contribuições Incidem sobre as transações financei- riscos de mercado, em razão dos encargos tributários Incidentes so-
ras: Imposto sobre Operações FIJ)ancelras (IOF), Conltlbulçlo Provisória sobre Movimen-
bre os ajustes de margem requeridos nessas operações, observando-
taçlo ou Transmlsslo de Valores e de Crfdltos e Dlttltos de Natureza Financeira (CPMF),
Contrlbulçlo para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Imposto sobre Serviçõs se o desvio de operações de hedging de empresas não financeiras para
(ISS) e Programa de Integração Social / Programa de Formaçlo do Patrimônio do Servidor bolsas de derivativos no exterior (Saito e Schiozer 2004). Ao mesmo
Públko (PIS-PASEP). tempo, a diferença nos custos de caixa para aplicadores e tomadores

MUCAOO Ol CAPflM E ClllOM(H'IO ECONÕMICO OlSUM)lVIM(NTO IINANC(.-0 ( QlW.IOloll( DOS Aj\lS(U ...aKXC0NÔMICOS 193
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de recursos, provocada pelo spread bancário, dificulta a negociação . As tesourarias dos grandes bancos e os administradores de recursos, es-
de ativos nos mercados à vista e futuros.
h) contribui para manter a assimetria entre a liquidez dos mercados de
d~rivativos e a dos mercados à vista (Banco Mundial 2004c: 31). Os
mercados de derivativos apresentam maior liquidez que os mercados
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pecialmente fundos de investimento financeiro, sllo detentores da maio-
ria do estoque de títulos públicos em poder do mercado. Como se pode
ver na Tabela 1, esses dois tipos de investidores respondem por mais de
75% do valor da dívida pública em mercado, e essa percentagem vem
spot, os quais servem de referência para os primeiros. Uma das razões -~1\ crescendo nos últimos anos.
desse paradoxo é a tributação que reduz a liquidez nos mercados
secundãrios dos títulos, pois a necessidade de caixa é maior no mer- TABElA 1
Detentores do estoque da dívida pública em mercado (em 'I&)
cado à vista que nos mercados futuros, nos quais a tributação incide
sobre uma base tributãria menor. ;r;n•~fufr~.i . , . 1~, ._1•.1--t• 'Í' ~,. • ,,,.,:~ , n1 . . ,,,,.:.) . 1•1 1,,.:/@i4•
Cart. própria bancos 39, 17 3◄,67 3◄, 11 35,10
Fundos inYtsl. (Flf) 37,78 32, 11 ◄2, 76 ◄ 6,89
Inexistência de um amplo mercado secundário para títulos Sub-total 76,95 66,78 76,87 81 ,99
O mercado secundãrio de títulos de dívida no Brasil é incipiente tanto Pe-ssoas físfc•s 0,55 0,18 0,13 0,16
para papéis públicos quanto para obrigações emitidas pelo setor privado, Pessoa jurídica nio-flnanc. 5,93 8,01 5, 78 5,99
constituindo-se em uma das características mais conhecidas e salientes de Outros 16,57 25,03 17,22 88,1~
seu mercado financeiro. Essa característica tem se mantido ao longo do
lotai g•r•I 100,00 100,00 100,00 100,00
tempo, apesar das inúmeras inovações introduzidas na infra-estrutura físi-
fonlf: lanco Cffltral
..ca e nos sistemas e procedimentos operacionais que regem a negociação,
a custódia e a liquidação desses títulos.
No caso da negociação de títulos públicos federais, o segmento mais
desenvolvido do mercado secundário, pesquisa com intermediârios fi- Tal concentração nas milos de uma reduzida base de investidores, cujo
nanceiros (tesourarias de bancos comerciais e de investimento, adminis- estímulo para a negociaçllo dos títulos responde basicamente a conside-
tradores de recursos, corretoras e distribuidoras de valores) realizada pela rações de ordem tática,. sobretudo no caso dos fundos de investimento
BOVESPA levou às seguintes conclusões sobre o mercado secundário, boa com liquidez diária, faz com que suas posições de carteira permaneçam
parte das quais ainda válidas, apesar de algumas mudanças já efetuadas centradas no espectro mais curto da curva de juros dos títulos públicos,
pelo Tesouro e pelo Banco Central para o aperfeiçoamento do mercado: diminuindq os estímulos ao alongamento dos prazos da dívida pública.2
baixa liquidez, pouca profundidade, excessivo número de emissões, des- Conseqüentemente, reduz-se a transparência para a formação de preços
continuidade nas negociações (as negociações se concentram nos dias de no mercado à vista dos papéis menos negociados. Registre-se ainda, em
leilões primários dos papéis recém-emitidos e, quando muito, durante al- apoio à conclusllo anterior, a dificuldade dos administradores de recursos
guns dias após cada leilão) e peso excessivo dos impostos, afetando negati- e dos responsãveis pelas operações de tesouraria das instituições finan-
vamente a participação de empresas não financeiras na negociação desses
papéis públicos (BOVF.SPA 1999). Além desses itens, o mercado se ressente
das seguintes características negativas: concentração de títulos nas mãos ' Ainda é cedo, contudo, para menswa1 os efeitos sobre a distdbulçao dos prazos de venci-
de um pequeno número de grandes investidores e composição inadequa- mentos da divida pública decorrentes das recentes mudança.s na estrutura trlbut!ria .sobre
da da divida pública. aplicações financeiras.

MUK'..M)() D( (»OAI\ l CIUCIMl.NlO lCONÔMKO OUlNYOl\1Ml.NTO JINANCUAO l QUAl.OAOI OOS A,l>STU MAOIOt.CONÔMtCO~ 195
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ceiras em realizar a "marcação a mercado" de suas carteiras, seja para fins -~.i do mercado financeiro no Brasil tem sido influenciado pela qualidade de
regulamentares, seja para atender a objetivos gerenciais internos. il
\i seu ajuste macroeconómico, sobretudo em relação às finanças públicas e
Por sua vez, a existência de uma divida pública composta por mais da à gestão da dívida. Ao tributar excessivamente a intermediação financeira,
metade de títulos indexados à taxa diária de juros representa um fator reduzem-se os incentivos à poupança e ao investimento, bem como o
adicional de restrição da amplitude e da profundidade do mercado secun- tamanho dos mercados financeiros e de capitais. Essa mesma tributação
dârio desses ativos. Como tais títulos oferecem baixo risco de mercado ajuda a explicar também outra característica do mercado financeiro bra-
decorrente de oscilações na taxa de juros, sua remuneração, representada sileiro: o reduzido tamanho do mercado secundário de títulos públicos e
pelo d~sâgio sobre a taxa básica de juros na emissão do papel, é relativa- privados. Por fim , o desenvolvimento desse segmento é Influenciado pela
mente reduzida, não gerando incentivo suficiente para um volume ex- composição da dívida pública, em que predomina a existência de títulos
pressivo de negociações em mercados secundários organizados. Com isso, J indexados à taxa básica de juros diária, cuja pequena volatilidade no pre-
seu ~habitat" natural até o vencimento é representado pelas carteiras das ço pouco estimula sua negociação no mercado secundário.
instituições financeiras e por investidores institucionais.
Além disso, a emissão de títulos públicos indexados à taxa ovemight
de juros tem constituído uma estratégia defensiva do Tesouro para girar ·
a dívida pública em situações de "stress", derivadas de dificuldades inter-
nas ou ligadas às crises externas que afetaram a economia brasileira nos
últimos anos. Dessa forma, em momentos de instabilidade, o Tesowo, ao
emitir e vender Letras Financeiras do Tesouro (LFT), oferece hedging natu-
ral ao mercado financeiro contra mudanças na taxa de juros, da mesma
forma que, em situações de crises cambiais anteriores, aumentou a oferta
de títulos indexados à taxa de câmbio dólar/real.
Aparentemente, a existência desse "ativo de última instância" não contri-
bui para um crescimento mais acentuado de instrumentos privados de mer-
cado (à vista ou de derivativos) que possam desempenhar o mesmo papel de
hedging contra riscos de taxas de juros. Nesse sentido, pode-se concluir que a
facilidade de uso desse instrumento na gestão da dívida pública para enfren-
tar dificuldades transitórias tem o mesmo sentido da utilização da CPMF na
arrecadação tributária. Ambos são simples de operar e geram efeitos favorâ-
veis no curto praw facilmente mensuráveis. Suas distorções, entretanto, são
sentidas apenas no longo prazo e, portanto, são dificilmente quantificãveis.

Conclusões

Estas notas procuraram indicar que, além dos fatores ligados às reformas
institucionais e microeconómicas ainda incompletas, o desenvolvimento

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