Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dissertação apresentada à
Coordenação do Curso de Mestrado
em Economia CAEN da
Universidade Federal do Ceará -
UFC, como requisito parcial à
obtenção do Título de Mestre em
Economia.
A citação de qualquer trecho desta Dissertação é permitida, desde que seja feita
de conformidade com as normas da ética científica.
Antônl
(
Pr f. Emerson Luis Lemos
Examinador
A
Deus
Aos meus pais
Ao meu Filho e à minha Esposa
AGRADECIMENTOS
Toda tarefa de cunho científico, por exigir método e trabalho de pesquisa, requer
ampla dedicação pessoal.
Ressalto, ainda, o convívio saudável com os alunos Cruz, Chico Marcelo, Wander,
Falcão, Daniella, Flávio Ataliba, Sales, João Mário e Paulo Marcelo.
The objective of this thesis is to examine the inflationary process in Brazil, taking
into account the financing mechanisms of the public sector, that is, money and treasure bills.
The approach adopted considers mainly the money and bond markets, supposing that
inflationary expectations are formed according to signal extraction that orinate from the rate of
interest determined in those markets. This analysis also comprehend an empirical study.
sUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO . . 09
2 ABORDAGEM TEÓRICA 12
2.2.8 Conclusões 47
3.7 Conclusões 78
4. EVIDÊNCIA EMPÍRICA 80
4. 1. 1 O mercado monetário 81
4.4 Conclusões 97
5 CONCLUSÃO 100
1 INTRODUÇÃO
Em princípio, não existe uma relação compulsória entre déficit público e inflação.
Muitos países detentores de significativo endividamento público, por exemplo, passaram por
experiências inflacionárias relativamente amenas, quando comparadas ao caso brasileiro.
Dessa forma, o montante do déficit parece não ser () ceme da questão inflacionária
Nesse caso, caberia investigar se as formas de financiamento do déficit público é que, dentre
outras coisas, podem causar o processo inflacionário.
TABELA 1
Países %
Israel (1989) 122,0
Itália (1988) 106,0
México (1986) 77,0
EUA (1991) 50,1
Reino Unido (1986) 42,2
Canadá (1987) 39,9
França (1990) 25,6
Alemanha (1990) 15,6
Brasil (Abr 1993) 8,0
2 ABORDAGEM TEÓRICA
Na ótica Keynesiana, o déficit público (seja por incrementos nos gastos ou por
redução dos tributos) causa expansão na demanda agregada através do conhecido
multiplicador, afetando favoravelmente a acumulação de capital.
1 Uma resenha desses tópicos pode ser obtida em BARRO (}989) e BER.\HELH (1989).
13
A sua teoria parte da equação quantitativa de Cambridge, relativa aos encaixes reais,
onde se evidencia o fato de que o nível de encaixes reais da economia é proporcional à renda
real, ou seja, (M/P = Kx; k = constante). Adicionalmente, considera-se que as variações nos
encaixes reais irão depender, principalmente, da taxa esperada de mudança nos preços.
14
Para incrementos na riqueza real dos indivíduos, espera-se que parte desse aumento
seja mantido em forma de moeda, pela sua liquidez imediata. No caso de aumento de renda, os
agentes procurarão substituir alguns ativos de baixa liquidez, demandando assim um volume
maior de moeda.
A ligação entre quantidade de moeda e aumento dos preços foi verificada durante os
períodos de hiperinflação. O processo inflacionário gerava uma verdadeira fonte de receita
para o governo, mediante o imposto inflacionário. Essa forma de receita apresenta vantagens
operacionais: a primeira delas diz respeito ao fato de não haver necessidade de uma legislação
específica para esse "imposto inflacionário". A outra envolve a questão de que, para arrecadar,
basta tão somente emitir moeda.
Caracterizando o imposto inflacionário, diz-se que a sua base sào os saldos reais
(M/P) e a taxa eqüivale à variação dos preços. Assim, a receita do imposto pode ser vísta
como sendo
~1t) = MJP(dP/dt.l/P)
inflação 1t], como noutro ao nível de 1t2. Numa circunstância de altas taxas de inflação, o
governo poderia estimular a demanda por encaixes reais, fazendo com que houvesse um
incremento na receita do imposto inflacionário e, portanto, gerando uma redução na taxa de
inflação. O estímulo à elevação da demanda por encaixes reais pode ser favorecido através de
políticas governamentais que modifiquem as condições monetárias da economia. Tais
modificações, como observa DALL'ACQUA (1989), é que fazem com que as relações entre
déficit público, inflação e imposto inflacionário possam ser distintas entre paises ou periodos.
16
Outra forma pela qual pode ocorrer expansão da base monetária refere-se aos
processos de desvalorização da moeda doméstica em relação à moeda estrangeira. Esse
mecanismo propicia superávits na balança comercial e, posteriormente, gera uma troca de
divisas por moeda local. criando poder de compra na economia.
A expansão da base monetária e suas relações com o déficit público, taxa de câmbio
e a inflação são analisados no modelo de RODRIGUEZ (1978). Dessa forma, serão
apresentadas as linhas básicas do modelo em duas etapas: a primeira opera numa situação em
que não ocorre déficit fiscal; na segunda etapa, introduz-se o déficit fiscal para descrever o
problema da inflação.
2 C4RDOSO (1989) cita o caso da Ntcaràgva. no qual o governo foi forçado a emitir moeda para financiar o
déficit! orçamentário. gerando uma taxa anual de inflação próxima a 10.000% em 1989.
17
A economia produz outros bens de consumo doméstico, de tal forma que (Qh) e
(Ch) indicam, respectivamente, produção e consumo. O preço desses bens será denotado por
>0
oe
<O
ce
A demanda tanto para bens exportáveis como domésticos é assumida ser uma
Ct = Ct (e,m)
Ch = Ch (e,m) (2.2)
(2.2)
--->0 >0
ôe êM
Supondo ainda que, tanto o estoque nominal de moeda _ como a taxa de câmbio
(E) se mantenham constantes, o equilíbrio em (4) dá-se a partir de movimentos nos preços
domésticos (Ph). Assim, estabelece-se uma relação como a seguir. e representada no gráfico da
3 Um estoqure elevado de moeda real sensibiliza positivamente o consumo de bens domésticos, tornando o
preço relativo desses bens superior e reduzindo a taxa de cámbio real.
19
Fig.2.2
Ct
= . H (e) O (6.1 )
e e m
No modelo ora proposto, assume-se que existe algum alor de (e) que garanta urna
não variação nas reservas, ou seja, que assegure que o excesso de oferta de bens exportáveis
seja nulo, ou seja,
R=O
-
m = H (e)
M
= f (e) 4 (7)
E
A interseção da reta M(to)lEo com a curva HH, ponto "a", indica o par (~o; mto)
representativo de uma situação em que ocorre equilíbrio no mercado de bens para uma
determinada relação entre estoque real de moeda e taxa de câmbio real.
bens domésticos, visto que estão associados a níveis de taxas de câmbio inferiores às taxas de
equilíbrio e, portanto, a maiores valores de Ph. Da mesma forma, estariam associados a
Como (e) diz respeito ao crescimento nulo das reservas, a taxa de câmbio real eo e
curva HH. Esses movimentos se repetirão até que se chegue ao ponto e, para que se obtenha
um equilíbrio do tipo "Steady State", onde haja estabilidade de preços e balança de
pagamentos equilibrada.
4 Assim. JfE será maior (menor) que zero sempre que ocorra superávit (déficit) no balanço de pagamentos.
5 Como .\1 E m .\1
m = ----- e e = ----, logo --- E--
r, r. e E
21
Fig.2.3
M=R=O
M(tO)/tO
HH
e e
"With the possibility of the devaluation taking place when the price levei has finally
stabilized, there is the temptation of blaming the resulting inflation on the devaluation, and
attention may be diverted away from the more basic underlyind disequilibrium, which is the
fiscal déficit"
A segunda etapa do modelo irá tratar da questão dos déficits fiscais no processo
inflacionário.
2.2.2.2 r ma Estrutura com Déficit Fiscal.
=E.R+D (8)
1 D
= R + -- (9)
E E
(10)
E
Através da equação (6), identificava-se a taxa de variação das reservas como sendo
decorrente do excesso de oferta de bens exportáveis. Agora que se introduz o consumo
governamental de bens exportáveis, tem-se a seguinte representação para as alterações de
reservas
ou
(11 )
Será feita a suposição, como anteriormente, de que existe uma taxa de câmbio real
(ê) que tome R igual a zero. Essa taxa necessita ser superior a (e), tendo em vista amenizar o
M
-- = f(e) (12)
E
Dessa forma, para que a relação MIE seja igual a zero, é necessário que (e) seja
igual a (e). Agora, o nível de taxa de câmbio real consistente com a estabilidade do estoque
nominal de moeda é menor que aquele requerido para o equilíbrio externo". O modelo agora
opera com duas taxas de câmbio relevantes, sendo uma delas necessária para assegurar um
crescimento nulo do estoque nominal de moeda (e), e a outra, (ê), própria para que R = O.
Fig. 2.4
m M=O R=O
m(to)
b )M(tO)1E1
c
-r---~.....: I-ll-I
e ê e
6 A função f (e) em (12) é distinta daquela apresentada em (7) .\'0 presente caso. fie) = R - go.
24
Inicialmente, a nova demanda governamental não impacta o nível dos preços dos
bens domésticos, já que o financiamento dessas compras decorre de uso das reservas. a
verdade, o excesso de demanda por bens exportáveis tende a equilibrar-se mediante queda nas
reservas.
atingir Rm, pressupõe-se que o banco Central intervenha no mercado promovendo uma
desvalorização cambial objetivando que as reservas retomem ao seu nível inicial Ra.
efetua uma desvalorização no câmbio que, mantidos os preços domésticos, provoca uma
elevação nos preços dos bens exportáveis. Admite-se que a elevação dos preços internos dos
produtos de exportação conduza a uma realocação de recursos de tal forma que a produção de
bens domésticos passa a ser privilegiada. Da mesma maneira. verifica-se uma maior demanda
por bens domésticos.
c) uma positiva, embora desacelerada. elevação dos preços. representada pelo movimento de
"b" até "a" ao longo de HH.
A demanda dos agentes econômicos por dívida pública implica restrições à atuação
do governo. A alternativa do endividamento através de títulos, por exemplo, tem como limite a
compatibilidade com o tamanho da economia. Por outro lado, a demanda apenas reagirá
positivamente diante de um prêmio julgado satisfatório. Estando a emissão de títulos ligada às
26
Seja D = iD - G a representação da dinâmica da divida pública, onde (i) é a taxa de juros e (G) o déficit
primário, então:
D iD G
- = - - - , y = PIB
y y y
O crescimento de (D'Y) pode ser expresso por:
D. r -D. r D D y iD G D Y
d(D',V) = ------- = - - - . - = -- - - - - . -
.,
r vvv y yyy
y G
D
logo d/Díy} (i - -) - -. e supondo (G'y) constante
=-
y y y
Observa-se que o crescimento da divida irá depender do termo a-vv). referente ao diferencial entre taxa de
juros e taxa crescimento da economia.
27
o déficit do governo será representado em termos reais e sem a inclusão dos juros.
Ao longo do tempo, os déficits aparecem na seqüência D( 1), D( ),... D t . e dizem respeito à
política fiscal adotada. A política monetária, por seu turno, é descrita pela seqüência de
estoques de base monetária H(I), H(2), ..., H(t).
H(t)-H(t-I)
D(t) = ------------- + [B(t) - B(t-1 )] [1 + R(t-1 )] (1 )
P(t)
onde:
Ao dividir a equação (1) por N(t), tem-se a seguinte expressão da emissão de titulos
per-capita para o período t:
Supõe-se, agora, que a base monetária irá crescer a uma taxa 0, exceto H(1) que é
tida como dada' . Então, estabelece-se um intervalo de H(2) até H(T) onde T ~ 2. para o qual
O prevalece. Após o período T, admite-se que o estoque de títulos per-capita se mantenha
constante no mesmo nível do período T. Pode-se, portanto, estabelecer uma relação para H(t),
visto que H( 1) é dado.
1 (1+0).H(t-l)
ou P(t) = -- . ------------ (5.1)
h (1+n) .N .(t-1)
Através de (5. 1), percebe-se que o crescimento dos preços ira depender da relação
(1+0/1 +n). Como os agentes econômicos possuem informações acerca da olitica monetária e,
portanto, de O, conhecem antecipadamente a taxa de inflação para os peno o = 2,3 ...T.
Neste modelo, objetiva-se mostrar de que forma a taxa de inflação dos períodos
além de T é influenciada pela taxa inflação anterior a T.
Em primeiro lugar, a inflação para t > T depende do estoque de dívida real, atingido
no período T9. Por sua vez, este estoque é função de " Usando as equações (4) e (5) e
substituindo-as em (3), considerando ainda que b(t) = B(t)lN(t), obtém-se:
8 Comparativamente. uma política monetária será mais contracionista que outra se apresentar um menor
valor de O.
9 Esse fato pode ser visto quando da substituição de
29
1 + R(t-1) Dít) ho
b(t) = ---------- . b(t -1) + ---- - --- (6)
1+ n N(t) 1+0
Ao assumir que a demanda por moeda depende da taxa esperada de inflação, o nível
corrente de preços passa a depender tanto da oferta corrente corno esperada de moeda. Assim,
o controle monetário passa a ser endogeneizado, estando as expectativas dos agentes
econômicos a desempenhar um relevante papel.
o artigo clássico de Thomas Sargent e Neil Wallace, em sin ese. mostra que o
financiamento do déficit público por criação de dívida pode tomar-se mais inflacionário que o
financiamento via emissão monetária.
B(t) B(t-J)
bott) = - = -- e H(t) = h.Nttt.ptt) na equação (3),
.\'(t) .\'(I-J)
obtendo-se para t T a seguinte expressão:
D(t) sa-n»
bott)
J P(t-l) .\'(1) l+n
J - [--. --J = ------
l= n R(I) h
30
A visão monetarista do déficit público admite que o seu financiamen o via títulos do
governo não tem implicações importantes sobre o nível de demanda agregada. Assim, um
financiamento efetuado inteiramente através da dívida não afetaria a taxa de inflação.
onde B = 1/(1 +A) é o fator de desconto temporal, para o qual (A) representa
um parâmetro que capta as preferências para cada período.
10 Considera-se. portanto, que são válidas as hipóteses de que os agentes possuem horizontes infinitos e
expectativas racionais.
31
tempo t. O capital tem o seu preço fixado na sua taxa de retomo entre (t) e (t+ I), ou seja, f
(Kt+ I).
bt = (l + r) bt - I + d (I + r) (2)
d = déficit
1 - Qt
Rt = ------
Qt
A taxa de juros real é captada pela relação entre o retomo dos rulo e a taxa de
inflação, sendo expressa por:
I + Rt Pt + 1 - Pt
1 - rt = ------ onde -----------
1 + Pt Pt
de impostos.
Dessa forma, para cada período "t", a restrição orçamentária das fanúlias é dada
II Conforme SIDRACSlJ (1967), o modelo apresenta duas restrições para cada unidadade econômica: de
estoques e de fluxos. Xa primeira. o total de riquezas deve ser alocado entre capital (KtJ e encaixes reais
(mt). Pela restrição de fluxos. a renda disponível deve ser igual à poupança mais consumo. A renda
32
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
t
lim bt+ 1 3t-1 ---- =O (11 )
1+rt
disponível pode ser vista como sendo o estoque de capital das famílias adicionado ao montante de
transferências do governo: Yd = Kt - vt. Retomando a restrição de fluxos, tem-se que: Yd = Kt - vt = Ct -
SI. Se considerada como sendo a variação do estoque de capital mais a variação dos saldos reais, a
poupança será representada por. St = (Kt - 1) - (mt 1 - mt). A equação (3) é derivada das duas restrições
citadas. acrescentando-se o mercado de títulos do governo.
I: SL\/OYSES (1983) se constitui numa referência, em seu capítulo 17. no tratamento da otimização dinâmica.
33
( 12)
A junção das restrições orçamentárias tanto dos agentes privados como do governo,
conforme (3) e (13), respectivamente, gera o seguinte resultado.
(14)
1S
Supondo agora que a taxa de juros (r) seja uma "proxy" da taxa de preferência de
cada período (A), temos que:
3~
1 1
f3t-1 = _
f3= ----- (17)
1 +r (1 + r)t-l
segundo termo à direita de (16.3) por (3t-1 )/(1 +r}, que gera o resultado abaixo:
o conceito adotado até o presente instante para o déficit não considerou a parcela
dos juros. Dessa forma, tratou-se de uma espécie de déficit "primário".
(19)
também sejam constantes, é válido concluir que as variações nos pagamentos da dívida serão
oriundas dos juros sobre os títulos:
t t
lim ht+ 1 Bt-I --- = lim [b 1 + dt (1 +r)] [-----] = O
t ~ ix: (1+r)! t ~ o: (l +r
A despeito do aspecto formal com que foi tratado o tema, cabe in gar afinal, por
que a inclusão ou não da parcela de juros é crucial para verificar a alidade da hipótese
monetarista. No caso de o déficit (sem juros) ser inteiramente financiado por títulos que outra
fonte iria responder pela parcela financeira, tendo em vista que a expansão da moeda é tida
como nula') Como se observa, em sendo a restrição orçamentária do go emo formada por
títulos e moeda, o modelo não comportaria uma solução não inflacionária, ou seja, não se
encontraria na estrutura formal da restrição outra saída para o impasse. A solução reside
portanto, em incluir o montante financeiro do déficit no seu cômputo.
As questões até aqui tratadas envolviam o déficit público e as pressões por ele
exercido sobre a quantidade de moeda, estabelecendo uma relação de causalidade entre moeda
e preços, sempre na direção do primeiro para os segundos.
Uma formulação que leve em conta esse fato poderia analisar o efeito da inflação
ampliando o déficit fiscal financiado pelo banco central e que conduziria a incrementos na
oferta da moeda, realimentando o processo inflacionário. Haveria, portanto, uma seqüência do
tipo P -» DF -» M -» P, identificando-se a dupla direção de causalidade entre moeda e preços.
Para a determinação dos preços, será formulada uma demanda real por moeda que
dependa tanto do nível de renda como do custo de oportunídade para manter ati os em forma
de moeda. É razoável que supor que, em países em desenvolvimento esse custo seja medido
pela taxa esperada de inflação. Seja então:
o estoque atual de moeda real é tido por ajustar-se de acordo com a relação entre a
demanda presente por moeda e o estoque real de moeda do periodo anterior. ou seja:
(3)
Neste modelo, assume-se que o nível real desejado de gastos do governo depende
da renda real, sendo esta última tida como exógena. Logo, escreve-se que:
Pelo lado das receitas, admite-se que estas (em termos nominais estão relacionadas
com o nível de renda nominal vigente, ou seja:
A equação (7) evidencia a hipótese de que o governo tenta manter os seus gastos
reais constantes, diante dos aumentos nos preços.
Ht = CGt + BR
Admitindo-se que CGt seja um reflexo do déficit, (12.1) é reformulada para gerar:
(12.2)
onde Et = BR + Ht-1
13 Devido a fatores tais como a ineficiência operacional do sistema tributário. o período compreendido entre
o fato gerador e o efetivo ingresso dos recursos no caixa do governo pode tornar-se relativamente longo. A
corrosão monetária desses valores. decorrente da inflação, acarreta perdas significativas para as contas
públicas. sendo geralmente citada na literatura como Efeito Tanzi.
39
(13)
Objetivando simplificar o modelo, evitando que a equação (13 tenha forma não
linear para as variáveis, procedeu-se a uma aproximação linear a avés da logaritimização tal
que:
logaritmos de G, R e E.
Para examinar o processo inflacionário relativo ao modelo. supõe-se que ocorra uma
alteração em E, por exemplo, fazendo com que haja uma expansão na ofena de moeda.
Recorrendo à equação (4. 1), nota-se a resultante elevação dos preço q e. por sua vez,
repercute positivamente sobre as receitas e despesas do governo eq ações 9 e 10,
respectivamente) .
14 Em Kevnes, por exemplo, a moeda modifica primeiramente a taxa de juros, para em seguida alterar o nível
de investimentos.
41
o governo, ao emitir títulos de sua dívida, coloca à disposição dos di ersos agentes
privados mais um ativo que irá compor as carteiras individuais. Na hipótese de se considerar
tais títulos como sendo riqueza, é possível que os agentes econômicos enham a elevar seus
gastos, afetando a demanda agregada 17 .
15 Os investimentos reagem ao movimento da taxa de juros conjugada com a eficiência marginal do capital,
ou retomo esperado sobre os investimentos.
16 Essas conclusões, como se sabe, dizem respeito ao periodo de curto prazo. So longo prazo, Kevnes
considera que o efeito sobre os preços irá depender basicamente da elevação dos custos das firmas em
relação ao aumento da eficiência dp sistema produtivo.
1- A questão da riqueza em relação aos titulos tem uma de suas análises clássicas em BARRO (197-1).
42
Outro canal de transmissão seria através dos custos das empresas. e se elevariam
por aumentos nas taxas de juros. Refere-se, portanto, ao custo financeiro que teria
significativo aumento, dada uma política de endividamento público basea . o agamemo de
"prêmios" elevados com vistas a garantir o financiamento da dívida _ entalo Esse
raciocínio admite que as empresas recorrem freqüentemente ao crédito an -no. no sentido de
financiar a produção, ou o fato de que a taxa de juros funciona como eço dentro da
economia, estando presente em todas as transações.
Além disso, a fixação dos juros que remunerem os títulos do go 'e o pode sinalizar,
em ambientes inflacionários, boas ou más expectativas, balizando a a - e dos diversos
agentes econômicos em relação aos preços futuros. Esse componente de e ectarivas apesar
de complexa aferição, exerce um papel fundamental dentro do processo inflacionário
No caso brasileiro, como salienta TOLEDO (1992), o nível de taxa de juros pago
sobre a dívida interna é limitado pela capacidade fiscal. Como não ocorrem superávits
(incluindo os pagamentos de juros da dívida externa), o governo fica impossibilitado de
remunerar seus papéis com juros positivos. Dessa forma, a compensação é dada através da
transformação dos títulos em "quase moeda", com liquidez diária.
43
Tornando por base urna economia onde o setor público seja financeiramente
fragilizado, a aquisição de títulos do governo representa um risco para os tomadores da dívida
pública. Esse fato se reflete nas altas taxas de juros que o governo de e o e . com vistas à
manutenção deste padrão de financiamento.
18 A idéia de que os agentes econômicos tomam decisões baseadas em expectativas e que o seu
comportamento leva em consideração a credibilidade do governo, revela a existência de um "jogo ". onde as
ações são interdependentes. Tais fatos se constituem em objeto de estudo da Macroeconomia Política, um
dos modernos ramos da Macroeconomia. A propósito ver Kydland e Prescott (1977) e Werlang (1992).
19 Segundo Rocha (]988), a proposição Fisheriana de que os agentes econômicos antecipam a inflação futura
mediante a tara nominal de juros é verdadeira para o caso brasileiro f 1972-1979) . .\'0 entanto, não é apenas
a tara de juros nominal que incorpora toda a inflação futura, mas também a tara real de juros esperada.
conforme o mesmo autor.
45
Mostra-se, pois, que afora o efeito sobre as variáveis reais a taxa e o se liga à
taxa de inflação através do mecanismo das expectativas.
y = g (m-TI)
onde:
n = taxa de inflação
onde:
n= taxa de inflação
46
Quando efetuamos a abordagem pela ótica das expectativas ada ati 'as mais simples
(IIPtePT = Ilt -1), observamos que a relação em (2) passaria a ter a . e forma
7t = B (H)
Veja-se agora que, no longo prazo, a taxa de juros real tende a taxa de pleno
emprego e a inflação esperada e a efetiva convergem para o mesmo nível Tome-se, portanto, a
relação de Fisher a seguir:
(3)
onde:
depósitos que seriam registrados em moeda estrangeiras (DIUvtE), conforme circular 230 de
1974 e Resolução 432 de 1977. A Circular 230 regulamentava a captação de recursos no
exterior através dos bancos do país, sendo que o Banco Central assumiria os encargos (juros,
comissões e variações cambiais) até que se definissem os toma ore o dos empréstimos.
Em relação à Resolução 432, esta permitia que o tomador de recur o m dasse sua
posição de endividamente reajustado pela correção cambial para o a à correção
monetária.
Esses dois mecanismos legais fizeram com que o ônus da em les e a ser
socializado com o governo, transformando os encargos dessa 1 os D18.lS
permitir que o problema da restrição externa VIesse alterar as expectativ -as da atividade
econômica, tendo em vista não deteriorar a imagem política do gove o momento
próximo a eleições. Assim, o governo esboçou incrementos nos ....astos entando uma
recuperação do desempenho da economia.
Esse cenário de incertezas cambiais fez com que o gove o testasse r abelecer a
confiança dos demais agentes internos, no intuito de que os em os
empréstimos no exterior. Essa preocupação, em certos momentos foi suoenor e voltada
para a política de exportações. Nesse contexto, o crédito interno foi desesnrac.ado ed.iante
determinações governamentais, bem como através de uma programada r ~ ~ - a . ridades
do Banco do Brasil, até então o major fornecedor de crédito do sistema
Um' aspecto relevante nesse processo é que o poder liberatório dos recursos
depositados no BACEN caberia aos credores externos. Estes poderiam optar pela simples
aplicação de seus recursos no passivo da autoridade monetária.
Dado que o setor público, através de suas empresas, representava o segmento mais
necessitado de novos empréstimos externos, acordou-se que o Banco Central informaria
52
Nesse processo, o setor público detinha cerca de 70% do este e ida externa
brasileira ao final do ano de 1982, num quadro de elevada restrição de os internos e,
agora de forma mais clara, de recursos externos.
Diante desse panorama, cabe indagar a razão pela qual se restringia o crédito
interno. Segundo relatórios do FMI, temia-se que o setor público. na ânsia or recursos,
pressionasse a taxa de juros interna para níveis proibitivos, aniquilando a ini iari a privada.
Dessa forma, assegurava-se o eventual crédito interno para os agentes pri ados
Numa situação ideal, onde as empresas públicas e privadas dis essem de recursos
para honrar os compromissos externos ou mesmo houvesse formas al emativas de
financiamento, deixaria de ocorrer as pressões sobre as contas do Ban o Ce tral Assim, os
exportadores trocariam dólares por cruzeiros junto ao Banco Central que. por seu turno,
venderia aos importadores e outros agentes endividados externamente. Dessa forma, haveria
um enxugamento da liquidez interna oriunda das exportações.
;0 .\'0período de 197-1 a 1980. estima-se que o fluxo de financiamento externo para as autoridades monetárias
foi da ordem de L'SS J] bilhões. enquanto que a var/Gção da base monetária e da divida mobiliária foi de
l."SS 6.9 bilhões.
No entanto, o quadro da economia brasileira era outro. 'ão sendo possuidora de
recursos próprios a autoridade monetária passa a trocar títulos por cruzeiros advindos dos
superávits comerciais visando a saldar os encargos externos e aquele do setor público
inadimplente. Como se vê, diferentemente da situação ideal. o enxugamento a liquidez deixa
de ser realizado pelos agentes econômicos internos e é efetivado pelo B o Central. através
da emissão de dívida pública.
A discussão cotidiana tem levado a crer que o setor público a partir de sua crise de
endividamento, não teria se ajustado ao modelo econômico vigente à época . esse contexto é
que veio à tona a noção da ineficiência estatal, onde a redução dos gastos e dos investimentos
públicos se afigurou como medidas indispensáveis, sob a ótica dos elaboradores de política
econômica.
PNB+R=PID
onde
PNB R
ou = 1 - -----
PID PID
A partir da última expressão, dado que o PNB pode ser expresso como sendo a
soma da renda disponivel do setor público e da renda disponivel do setor privado, é válido que:
onde:
Partindo dessa relação, dado um cenário em que ocorra uma elevação do termo Yr,
Tabela 3.1
Distribuição do pm - 1970/83
(%Pill)
Tabela 3.2
;1 Veja-se. por exemplo, que a fuga de capitais no caso brasileiro. entre 1977 e 1987, foi em tomo de LSS 20
bilhões conforme REIS (1989)
58
Com o ajustamento interno, cujo ônus recaiu sobre o setor público, e com a queda
do esforço privado de poupança, bloqueou-se o financiamento da acumulação de capital.
Assim, ainda com base em WERNECK (1986), a taxa interna de poupança da economia
brasileira reduziu-se, nos primeiros anos da década de 80, a quase a metade do que
representou nos anos 70.
Operações Externas.
Operações Internas.
São aquelas efetuadas pelo BACEN junto ao setor privado e ao universo financeiro
do governo (BB, BNB, CEF, ete). Em relação ao último, o BACEN opera tanto a nível de
autoridade monetária típica como também a nível de supridor de recursos em certas linhas
especiais de crédito.
Vale ressaltar que ao conceito das NFBC, são agregadas periodicamente outras
rubricas contábeis, dependendo de novas operações que ocorram entre o Banco Central e o
Tesouro Nacional.
Dessa forma, o total das contas anteriormente descritas tem o seu financiamento
suprido por aumentos na base monetária e na colocação de títulos do governo.
Quadro 3.1
1. Governo Central
2. Governos Estaduais e Municipais
3. Empresas Estatais
4. Previdência Social
b - Setor Privado
1. Operações Externas
2. Operações Internas
c - NFBC (a + b = I + II)
I - Base monetária
n - Colocação liquida de Títulos
Tabela 3.3
Financiamento ao
Setor Privado (b) 2,8 1,6 -1,7 -0,2
~~O déficit quando calculado pelo dado das "aplicações "ou gastos, diz-me ser mensurado "acima da linha ".
Por outro lado, quando se trata de medi-Ia através das suas fontes de financiamento. efetua-se uma medida
"abaixo da linha ",
62
o Governo, por seu turno, não concordava com o critério seguido pelo das NFSP
alegando que, ao se considerar todo o déficit, não se esta a fazendo distinção entre as
despesas correntes e despesas de investirnentos'" . Enquanto as primeiras en olvem a aquisição
de bens ou serviços que não se tomam produtivos ao Estado, ou seja, que não geram
rendimentos futuros, as segundas podem estar associadas a retornos futuros à sociedade.
Nesse caso, as despesas com investimentos seriam "autofinanciá eis não representando
qualquer ônus para as necessidades de financiamento. Na realidade, o Go emo propunha a
retirada da rubrica "despesas de investimentos" do cálculo do déficit. '0 final prevaleceu o
conceito operacional das NFSP, atualmente aceito não só pelo governo corno também por
grande parte dos analistas.
Quadro 3.2
Governo Central I
- no Bacen
- fora do Bacen
Empresas Estatais
- no Bacen
- fora do Bacen
Tabela 3.4
Percentagem do pm - 1985/1990
Apesar dos problemas citados anteriormente, a variação dos estoques da dívida num
determinado período, com a conseqüente conversão da dívida num determinado período, com
a conseqüente conversão em dólares (possibilitando a obtenção da relação DLSPlPm), pode
ser considerada como uma aproximação do endividamento consolidado do déficit público.
65
Tabela 3.5
Dívida Líquida do Setor Público/Pffl (%) - 1982-1990
11
Discriminação 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
a) Dívida Interna 12,81 17.1~ 19.53 21.10 18.60 19.91 22.41 24.13 18.13
- Governo Federal e Bacen 2.78 3.95 6.23 7.41 6.22 ~.41 4.01 7.87 4,30
- Governo Estadual e Municipal 3,73 ~.68 4.74 4.87 ~.30 5.17 5.74 5.83 5,04
- Empresas Estatais e
Ag. Descentralizadas 6.30 8.51 8.56 8.82 8.08 10.33 12.66 10.43 8.79
b) Dívida Externa 22.73 29.50 30.78 29.22 30.36 33.18 32.80 27.81 30,82
- Governo Federal e Bacen 6.93 11.36 13.02 11.31 12.73 16.77 18.64 16.88 9,33
- Governo Estadual e Municipal 1.39 1.62 1.61 1.81 1.97 1.91 1.77 1,50 1.41
- Empresas Estatais e
Ag. Descentralizadas 14.~1 16.52 16.15 16.10 15.66 14.50 12.39 9.43 10,08
c) Total (a + b) 35.54 46.64 50.31 50.32 48.96 53.09 55.21 51.94 48.95
Fonte: Relatório Anual do Bacen (1990)
l/os saldos médios da dívida interna são comparados ao PID em moeda nacional e os saldos
médios da dívida externa ao PID em dólares.
Supondo agora que os preços no período (t+ 1) sejam mais ele ados que os do
período (t), haverá alteração tanto no valor do estoque inicial (real) que irá decrescer como na
própria variação dos estoques:
(2)
Zt+l z, z, z,
- x + (---- - ---)
Pt+l Pt Pt+l Pt
(2.1)
Zt+l z, z, z,
= (---- --- ) - x
Pt+l Pt+1 Pt+1 Pt
Observa-se, portanto, que o fluxo real de Z entre (t) e (t+ 1) não se iguala à variação
dos estoques reais, tendo em vista o decréscimo representado por x.
A perda verificada no estoque (x) pode ser expressa, por definição, como se segue.
x = -- -
Pt Pt+ 1
Pt+ 1 - Pt Pt + 1
7t = ----------- = ------ -
Pt Pt
z, (1 + 7t) z,
X =-- - ---------- (3.1), ou
Pt (1 + 7t) Pt (1 + n)
z, 7t
X =-- (3.2)
Pt 1+n
Através de (3.2), nota-se que a perda real verificada no estoque inicial da variável Z
tende a se elevar com a evolução do processo inflacionário \ eja-se agora a expressão final
do fluxo real de Z, mediante a substituição de (3.2) em (2.1).
Zt+1 z, Zt+1 z, z, 7t
(--- - ----) = (--- - --) + -- (4)
Pt+1 Pt+1 Pt+1 Pt Pt 1+n
A expressão em (4) nos indica que, diante de um processo de inflação, o fluxo real
de uma variável não se configura apenas na variação dos estoques, visto que deve se levar
também, em conta o efeito da inflação sobre o estoque inicial. Aqui, cabe o exemplo da
variável capital, onde não se poderia inferir acerca do seu estoque ao final de um período
através da simples adição do fluxo de investimento, sem considerar as perdas decorrentes da
depreciação. No caso de fluxos, a deflação é efetuada pela simples divisão do fluxo nominal
pelo índice de preços verificado no período. desde que a inflação seja constante no intervalo de
tempo relevante.
Ht+l Ht Ht+l Ht Ht 7t
Dt Dt+l n, 7t
Um ponto merece destaque no caso da dívida, dado o papel da taxa de juros. Como
o governo geralmente paga juros significativos sobre sua dívida, é possível que, ao contrário
de uma desvalorização do estoque inicial, haja uma valorização, dependendo da relação entre
os juros nominais e a inflação.
Dt i.Dt (8)
E = --- + ----
Pt+l Pt+l
69
Dt 7t Dt Dt
E = -- - (-------. --) + i -------
I Pt 1+ 7t Pt I I Pt(1,) I
Dt
. (i - 7t) + -- (8.1)
I +7t Pt
fazendo com que (i - 7t1l + n) seja a taxa real de juros (r), temos que:
Dt Dt
E = -- + r -- (8.2)
Pt Pt
Através da equação (8.2) se verifica que, para uma dada taxa de juros real positiva
(taxa de juros nominal superior à inflação), o estoque real da dívida irá aumentar. De forma
análoga, taxas reais negativas estão associadas a estoques reais decrescentes de dívida.
(9)
G F n, T Ht+l Ht Ht 7t Dt+l Dt n, 7t
---- + --- + i---- = ---- + [---- - --] + -- . --- + [---- - --] + -- . ---
Pt+l Pt+l Pt+l Pt+l Pt+l Pt Pt 1+7t Pt+l Pt Pt 1+7t
A restrição orçamentária em (9) pode ser reescrita como abaixo, sabendo-se que
Pt+ I = Pt (1 +x):
G F Dt T Ht+ 1 Ht n, 7t
---- + ---- + ---- (I +~. r = ---- + [(---- - --) T -- . -----] T
Pt+l Pt+l Pt+l Pt+l Pt~l Pt Pt 1 + 7t
Dt+l Dt
---- - -- (9. I )
Pt+l Pt
70
fazendo Pt+ 1 = Pt (l +x), tem-se que (9.1) passa a ser escrita como:
onde:
h = ht+ 1 - ht
d = dt+ 1 - dt
o resultado obtido em (9.3) serve também para esclarecer uma polêmica que há
algum tempo se dá em torno dos conceitos operacionais e nominais do déficit público. Na
hipótese de se computar, pelo lado dos gastos do governo, a parcela relativa à correção
monetária, não se pode deixar de considerar a receita oriunda do imposto inflacionário, que
incide sobre a expansão da base monetária, captado pelo termo ht n/(l +n).
Vale ainda lembrar que, quando o déficit público é medido "abaixo da linha"
(pelo lado do financiamento), o fluxo real de moeda ou títulos não pode ser aferido pela
simples variação dos estoques, tendo em vista os efeitos inflacionários sobre os estoques
iruciais.
A tendência crescente de liquidez fez com que o BACEN inundasse o mercado com
títulos públicos, cujo volume afigurava-se superior à capacidade de absorção pelo público,
constituindo-se no fenômeno denominado "oversold" , ocorrido principalmente entre 1984 e
1989.
~5 Conforme FERREIRA e FREITAS (1990), tal proibição a nível constitucional se configura em medida
inédita, quando se considera o conjunto dos países desenvolvidos.
72
26 O termo "zeragem de posição diz respeito à compreensão entre agentes econômicos. no processo de
consolidação diária dos fluxos de caixas .. \'a hipótese de não ocorrer vazamentos no sistema econômico, o
mercado "zeraria ,. sua posição automaticamente. visto que o saldo negativo de um agente seria
compensado pelo saldo simétrico de outro.
73
Esses indicadores mostram que o peso de tal encargo tendem a exercer uma pressão
muito grande sobre novas colocações de títulos públicos ou sobre emissões monetárias, o que
geraria mais endividamento e maiores encargos, repetindo todo o ciclo novamente.
Tabela 3.6
1980 3.64 1.79 7.53 9.32 3.89 13.21 6.17 19.38 3.57 22.95
1981 3.24 1.71 7.61 9.32 7.25 16.57 8.30 24.87 4.55 29.42
1982 3,24 1.65 6.10 7.75 8.12 15.87 9.54 25.41 5.54 30.95
1983 1.94 1.02 4.07 5.09 5.28 10.37 10.06 20.43 5.34 25.77
1984 2.07 1.00 3.51 4.50 8.63 13.14 10.16 23.30 6.38 29.68
1985 2.04 1.06 3.98 5,04 11.62 16.66 9.79 26.45 6.71 33,16
1986 4.53 2.13 9.41 1.55 9.09 20.64 8.36 29.00 7.39 36.39
1987 2.39 1.18 3.74 4.91 10.88 15.79 10.48 26.27 4.56 30.83
1988 1.52 0.87 2.03 2.90 10.67 13.57 10.83 24.40 4.37 28.77
1989 1.45 0.87 1.35 2,21 13.21 15.42 6.93 22.35 3.18 25.53
1990 2.31 1.40 2.18 3.58 2.69 6.26 3.37 9.64 3.57 13.21
Fonte: Bacen (Relatório Anual - 1990)
Como se observa na tabela 3.6, ocorre uma sensível queda no volume dos depósitos
à vista no período em pauta. Isto se deve basicamente às inovações financeiras implementadas
a partir da década de 70, tais como a popularização do overnight, a redução do prazo de
crédito dos juros das cadernetas de poupança, o mecanismo da "conta remunerada", a criação
dos "banco 24 horas" entre outras.
Os conceitos mais restritos de moeda, como o Ml, tiveram a sua taxa de expansão,
conforme ROSSI (1991), inferiores às dos demais agregados monetários, visto que estes
últimos contém ativos não-monetários indexados à inflação. O declínio de Ml é devido
basicamente à redução dos depósitos à vista, posto que o papel moeda em poder do público,
por depender dos hábitos da população, tende a ter um comportamento mais estável.
Outrossim, uma queda brusca nas taxas de juros tenderia a provocar uma expansão
na demanda por bens. Dado que os empresários não responderiam de imediato à nova onda
"consumista", seria provável a elevação dos preços frente à especulação de estoques.
~- .\"0 sentido de atender aos pressupostos teóricos tradicionais, o conceito relevante de moeda para
especiftcar a sua demanda é o Ml . Conforme TRICHES (}992), em análise empirica. a utilização de
conceitos de moeda mais amplos, apesar da importância para a formulação de políticas monetárias.
evidenciam uma descaracterização das concepções já consagradas, como por exemplo. a do comportamento
da taxa de juros que passa a ter sinal positivo. em relação à demanda por moeda.
78
3.7 Conclusões
Embora esta parcela do trabalho tenha se voltado a realizar uma análise sobretudo
descritiva do financiamento do déficit público, são pertinentes as seguintes indicações
conclusivas:
4 EVIDÊNCIA EMPÍRICA.
Além desta introdução, o presente capítulo é composto pelos tópicos 4.2, 4.3, 4.4 e
4.5, destinados à apresentação do modelo adotado, à metodologia e resultados, a um teste de
causalidade entre variáveis inflação e déficit público e às conclusões empíricas obtidas do
modelo proposto.
(1)
Dm = a(o) + a(1)y + a(2)i + a(3)7tet a(1) > 0, a(2) < 0, a(3) < °
(2)
Sm = a(4) + a(5)L + a(6)8 a(5) < 0, a(6) > °
Onde:
y = nivel de renda
A equação (1) é uma versão linear da demanda por moeda lia Ia Cagan",
incorporando as expectativas inflacionárias A discussão teórica dessa equação foi efetuada na
parte inicial do capítulo 2.
7tt = Sm - Dm (3)
onde:
o nível de renda, por impactar positivamente a demanda por moeda, terá efeito
contrário sobre o nível de inflação. A taxa de juros nominal influencia negativamente a
demanda por encaixes monetários, ficando associada, portanto, a elevações do patamar de
inflação. A inflação esperada também se relaciona de maneira inversa com os encaixes
monetários, gerando maiores valores para a inflação presente.
onde:
A equação (5) explicita o fato de que os agentes econômicos irão demandar mais
títulos do governo em função de taxas mais elevadas de juros reais e de menores riscos em
relação à moratória da dívida interna.
No caso da equação (6), tanto a taxa de juros real como o estoque da dívida,
sensibilizam positivamente a oferta.
A equação (7) é uma equação de Fisher para a taxa de juros, ou seja, busca-se
captar o fato de que a taxa esperada de inflação seja sinalizada tanto pela taxa de juros nominal
como pela taxa de juros real."
(9)
Assim, a partir de (9) é possível determinar a taxa real de juros (r) de equilíbrio,
conforme a seguir:
onde
K = [b(3) - b(O)]
De uma forma geral, a taxa real de juros de equilíbrio, nesse mercado, é função do
estoque da dívida pública no período anteríor e do nível de risco associado ao "calote" dessa
dívida.
:CS Anteriormente fizemos referência ao fato de que ROCHA (1988) constatou empincamente essa proposição,
para o caso da economia brasileira.
85
Então:
partir da equação (9.1). Ali se percebe que o sinal inerente ao estoque da dívida passada
depende de b(5)/[b(I)-b(4)], afigurando-se indefinido, na medida em que o diferencial [b(I)-
b(4)] varia com a magnitude das elasticidades da demanda e oferta de títulos em relação à taxa
de juros real.
No caso do risco (R), o raciocínio é análogo, dado que o seu sinal depende da
relação -b(2)/[b(1 )-b( 4)].
Ainda visualizando a equação (8.1), conclui-se, com base nos sinais de C(1), C(2) e
d(1), todos positivos - de acordo com (7) e (8) - que os parâmetros referentes a 1tt-I, i, R e
Fig.4.1
r
Ds
86
7to .
(III)
Uma variação positiva na taxa de juros nominal efetuada pelo Banco Central, por
exemplo, tenderia a elevar a inflação esperada, através de (7), impactando a inflação presente
por (8).
y = C + I + G - (X-M) (I O)
onde:
Y = produto
C = consumo agregado
I = investimento
87
G = gastos do governo
(X-M) = saldo da balança comercial
1<0 (10.4)
G = G = autônomo
o consumo, portanto, é uma função da renda disponível (yd), que, por sua vez,
depende da tributação T. A cobrança de taxas e impostos é suposta ser dependente do nível
renda. O total de investimentos (1) irá depender do diferencial entre a taxa nominal de juros (i)
e a inflação esperada (nO). Os gastos do governo são dados exogenamente por G. O saldo da
balança comercial é uma função da taxa de câmbio real (O).
A inflação esperada (ne), no tocante aos efeitos sobre o nível de produto, merece
algumas observações: por um lado, uma alta nas expectativas inflacionárias, dada a taxa
nominal de juros, implicaria em redução na taxa real de juros, propiciando impulsos positivos
nos investimentos. No entanto, a taxa nominal de juros, no caso brasileiro, é fixada pelo Banco
Central de forma a acompanhar as expectativas inflacionárias dos diversos agentes
econômicos. Assim, toma-se mais adequado considerar que uma elevação em tais expectativas
sinalize aos investidores a manutenção de uma política "apertada" nos juros do mercado,
88
contribuindo para a desaceleração das inversões privadas. Em conclusão, o sinal esperado para
A taxa de câmbio real deve relacionar-se de forma positiva com o produto, visto que
sua elevação (redução) resulta em maiores (menores) volumes do saldo da balança comercial.
Com base nesses argumentos, são justificados os sinais indicados para a equação
(11).
O modelo completo é composto pelas equações (4), (9) e (11), com a seguinte
caracterização para as variáveis:
- endógenas: 7t, y e e
As equações (4), (9) e (10), para fins de estimação, terão as seguintes formas
estruturais lineares:
7tt = 13(0)+13(1
)m-l +B(2)R +13(3)Dt-l +t:2 (13)
- 7tt (igp): inflação apurada pela variação do IGP-DI, da FGV, obtida através da
revista Conjuntura Econômica (vários números), tomando como base o mês dezl89 = 1;
- L (rtit): reflete o impacto monetário das operações com títulos públicos efetuados
pelo Banco Central. Valores reais negativos significam resgate liquido de títulos, enquanto
valores positivos referem-se à colocação líquida de títulos. Os valores têm como fonte os
Relatórios Anuais do BACEN.
:9 Serão utilizadas como instrumentos para estimação do sistema de equações as seguintes variáveis exógena:
[rdivi-l I], dummy, rdef
(rtit), (jur) , [(igp(-l))),
90
- R (dummy): variável binária que tenta captar o risco e o grau de desconfiança dos
agentes econômicos em relação à moratória interna da dívida pública. Assume-se que essa
variável tenha valor 1 entre janeiro/82 e dezembro/86, bem como entre janeiro/89 e
dezembro/89, sendo zero nos demais periodos. A utilização de uma variável binária, nesse
caso, procura expressar as modificações comportamentais das expectativas dos agentes
econômicos em relação ao risco inerente ao pagamento da dívida do Governo, ou seja,
representa formas "distintas" de considerar esse risco, sempre observando fatores de ordem
político-econômicos associados aos diversos períodos. Não se trata, portanto, de ocorrer ou
não o fator risco, mas de que existem distribuições diferentes para o mesmo.
o sistema de equações formado por (12), (13) e (14) foi estimado pelo método dos
mínimos quadrados em dois estágios. A variável inflação esperada (1te) é substituída por 1tt-1,
ou seja, pela inflação do período anterior, admitindo-se um caso particular das expectativas
adaptativas'". Os resultados (MQ2E) constam da tabela 4.1 a seguir:
Tabela 4.1
F = 85,22
30 De uma forma geraL a regra adaptativa para as expecativas inflacionárias é do tipo nt• = 1rt-I' + (l-a)
(1rt-1 -1rt-1 e). No caso em estudo. tornou-se a=O.
91
F = 189,60
íP = °,
247 F = 8,72
Esses resultados, apesar das limitações do modelo, sugerem uma certa inadequação
da explicação monetarista para a inflação brasileira.
A equação (14) foi utilizada de forma a permitir a estimação do modelo, visto que
existem três variáveis endógenas. Nesta estimação, todas as variáveis apresentaram os sinais
esperados. O coeficiente significante foi o do déficit público, com sinal oposto ao produto, que
poderia caracterizar o fato de o perfil financeiro do endividamento público estar desviando
recursos do setor produtivo, através dos mecanismos especulativos.
Tabela 4.2
R2 = O ,8937 R2 = 08890
, F = 189,2956
R2 = O2533
, F = 8,9743
Então:
m m
Yt=L cj X(t-j) + L dj Y(t-j) + Nt (3)
j=l j=I
No entanto, para que se possa efetuar o mencionado teste, é exigido que as séries
sejam cointegradas, garantindo a existência de resíduos do tipo "White noise", ou seja, uma
série de erros estacionária. Uma abordagem acerca desses temas pode ser encontrada em
GREENE (1993, P. 563-567).
onde:
A partir da regressão anterior, obtém-se uma série de resíduos que deve ser
examinado com o objetivo de se testar a hipótese de que as séries IGP e DEF são
cointegradas, ou integradas na mesma ordem.
Tabela 4.3
Com base nos resultados da tabela 4.3, observa-se que a estatística T para E( t- 1) é -
2,6454. Do ponto de vista da distribuição tradicional da estatística T (student), poderíamos
concluir que a estimativa de Eít-l ) seria significante para níveis de 1%, 5% e 10%. Apesar
disso, o tratamento seria inadequado. Assim, o procedimento correto envolve o exame da
96
tabela de valores críticos para o teste de Dickey-Fuller, podendo ser visualizada em FLLLER
(1976, p. 373).
m m
IGP = L aj IGP(t-j) + L bj DEF(t-j) + Et (7)
j=l j=l
m m
DEF = L cj IGP(t-j) + L dj DEF(t-j) + Nt (8)
j=I j=l
Tabela 4.4
4.4 Conclusões.
Assim, com base nos resultados obtidos são válidas as seguintes indicações
conclusivas:
98
b) as taxas de juros dos títulos do governo, ao serem estabelecidas pelo Banco Central,
sinalizam a inflação esperada, que os agentes econômicos antecipam de maneira pre entiva;
ANEXO 4.1
EQUAÇAO IGP RTIT RCAM JUR INA IGP(-l) RDIV(-I) DUMMY RDEF
B
12 x X X X X X O O O
13 X O O X O X X X O
14 O O X X X X O O X
I Condição de Ordem:
Equação 12 Superidentificada
Equação 13 Superidentificada
Equação 14 Superidentificada
D Condição de Rank:
Equação 12
C X
O ~
: RANK = 3> (G-l)
X X
Equação 13 : RAAIJ( = 4 > (G-l)
~
X X ~!
Equação 14
~
X
O
O
5 CONCLUSÃO GERAL
postulados próprios de econorruas estáveis, como a amencana, para pres stos mais
adequados ao caso da economia brasileira.
É preciso ter em vista que as conclusões desta dissertação chamam atenção para a
importância do mercado de títulos públicos na determinação da taxa de inflação. Assim, a
sugestão é que haja, a nível de política governamental, um monitoramento das taxas de juros
dos títulos públicos. Isso tem uma ligação estreita com o atual arranjo institucional que
estabelece as regras entre o Tesouro Nacional e o Banco Central.
6 REFERÊNCIAS BmLIOGRÁFICAS
AGHEVLI, Bijan B. e Mohsin S. Khan. Governament deficits and the inflacionary process in
developing countries. IMF Stalfpapers. voi. 25, n 3, p. 383-415, 1978.
BARRO, Robert 1. The Ricardian aproach to budget deficits, the Journal of Economic
Perspectives, vol. 3, n 2, 1989.
--------. Are Govemment bonds net wealth. Journal of Political Economy, vol. 81, P 1095-
1117, 1974.
BIASOTO, Jr., Geraldo. Dívida externa e déficit público, Rio de Janeiro, IPEA, 1992.
CAGAN, Phillip. The monetary dinarnics of hiperinflation, in Studies in the quantitaty theo _.
ofmoney, ed. By Milton Friedman (university ofChicago Press), p 25-11 T, 1956.
CARDOSO, Eliana A., Hiperinflação na América Latina, Revista de Economia Política, vol 9,
n 3, p. 21-41, jul-set 1989.
----------, Deficit finance and monetary dynarnics in Brazil and Mexico, Journal of
Development Economics, North-Holland, 37, p. 173.197,1992.
COSTA, Fernando N., Moeda endógena, taxa de juros exógena, Anais do 19o Encontro
Nacional de Economia, vol. 2, p. 221-140, 1991.
DALL'ACQUA, Fernando M., Imposto inflacionário: uma análise para a economia brasileira,
Revista de Economia Política, vol 9, n 3, p. 5-19, jul-set 1989.
FISHER, Irving. A teoria do juro. Série Os Economistas, Ed. Abril, São Paulo, 1984.
FULLER, W. Introduction to Statistical Time Series, New York., Wiley, p. 373, 1976.
GRANGER, Clive W.1. Investigating causal relation by econometric models and cross -
Spectral Methods. Econometrica. Cambridge, MIT, voI. 40, n 2, p. 361-438, July 1969.
KEYNES, 1. Maynard. A teoria geral do emprego, juros e moeda, série Os Economistas, Ed.
Abril, 1983.
LOPES, Francisco. O Desafio da Hiperinflação - Em busca da Moeda Real - Ed. Campus. Rio
de Janeiro, 1989.
MARTINS, Marco Antônio Campos, Clovis de Faro e Antonio Salazar Pessoa Brandão.
Juros, Preços e Dívida Pública: a teoria e o caso brasileiro". Série Pesquisas EPGE, n 3,
Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1991.
REIS, Eustáquio 1., A superação da crise atual: ajuste fiscal e renegociação externa.
Perspectivas da Economia Brasileira, IPEA, p. 215-242, 1989.
ROCHA, Roberto Rezende. Juros e inflação: uma análise da equaçãode Fisher para o Brasil,
série teses EPGE, n 15, 1988.
RODRIGUEZ, Carlos. A stilized mo dei of devaluation-inflation spiral. IMF Staff Papers, voI
25, n 1, p. 76-89, março 1978.
104
ROSSI, José W. Oferta monetária, nível de atividade econômica e inflação Revista Brasileira
de Economia, vo145, n 1, p. 91-102, jan-mar 1991.
SARGENT, T. e Neil Wallace. Some unpleasant monetarist aritthmetic. Federal Rese Bank
of Minneapolis Quartely Review 5, p. 1-17, 1981.
TOLEDO, Joaquim Elói Cirne de. Déficit, conflito e processo Inflacionário. USP, Texto para
Discussão Interna, n 16, setembro 1992.