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PRÁTICA GLOBAL DE FINANÇAS, COMPETIVIDADE & INOVAÇÃO

Fortalecendo a Capacidade e a
Inclusão Financeira em Angola
Um Inquérito baseado na Procura

ANGOLA, JULHO DE 2020


Finance, Competitiveness & Innovation Global Practice
Financial Inclusion, Infrastructure and Access Unit

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ÍNDICE

Prefácio v
Agradecimentos vi
Abreviaturas e Acrónimos vii
Principais Conclusões ix

SUMÁRIO EXECUTIVO 1
Recomendações 4
Resumo das principais recomendações 9

CONTEXTO DO INQUÉRITO DE ANGOLA 10


1. INTRODUÇÃO 12
2. PANORAMA DO SECTOR FINANCEIRO 13
2.1 Bancos Comerciais 13
2.2 Instituições Financeiras Não Bancárias 17

3. ALCANCE E CARÁCTER INCLUSIVO DO SECTOR FINANCEIRO 18


3.1 Contas 18
3.2 Transferências de Dinheiro e Serviços Financeiros Móveis 24
3.3 Poupança e Gestão de Riscos 27
3.4 Crédito 30
3.5 Os sem Conta Bancária e as barreiras à Titularidade de uma Conta Formal 34

4. CAPACIDADE FINANCEIRA 37
4.1 Conhecimento de Conceitos Financeiros 37
4.2 Conhecimento de Produtos Financeiros 45
4.3 Comportamento e Atitudes Financeiras 46

5. RELAÇÃO ENTRE INCLUSÃO FINANCEIRA E CAPACIDADE FINANCEIRA 54


5.1 Literacia Financeira e Inclusão Financeira 54
5.2 Conhecimento sobre Produtos Financeiros e Inclusão Financeira 57
5.3 Atitudes/Comportamento Financeiro e Inclusão Financeira 59

6. PROTECÇÃO AO CONSUMIDOR FINANCEIRO 64


6.1 Conscientização dos Direitos e Conceitos do Consumidor 64
6.2 Mecanismos de Resolução de Disputas 65
6.3 Taxas de satisfação entre os consumidores financeiros 68

i
ii Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

REFERÊNCIAS 71
ANEXO 73
A. Características do Respondente ao Inquérito 73
B. Tabelas de Regressão 76

FIGURAS, TABELAS, CAIXAS AND MAPAS


Figura 1. Estrutura de Activos 15
Figura 2. Estrutura de passivos 15
Figura 3. Rácio de inadimplência e transformação 16
Figura 4. Coeficiente de solvabilidade 16
Figura 5. Inclusão financeira por características sociodemográficas 20
Figura 6. Inclusão financeira por características sociodemográficas 23
Figura 7. Inclusão financeira por rendimento, comportamento histórico de poupança e consumo dos
meios de comunicação social 24
Figura 8. Uso do serviço de transferência de dinheiro através de indicadores sociodemográficos 25
Figura 9. Remessas nacionais por método de transferência 25
Figura 10. Uso de telemóveis por características sociodemográficas 25
Figura 11. Uso de telemóveis por características sociodemográficas 26
Figura 12. Assinatura de telemóveis (por 100 pessoas) 27
Figura 13. Número de contas de dinheiro móvel por 1,000 adultos na África Subsaariana em 2018 27
Figura 14. Poupança formal e informal 28
Figura 15. Tipos e fontes de poupanças 28
Figura 16. Produtos de gestão de riscos 28
Figura 17. Poupança formal e informal por contexto sociodemográfico 29
Figura 18. Poupança formal e informal por categoria de emprego 30
Figura 19. Crédito formal e informal 31
Figura 20. Crédito formal e informal por contexto sociodemográfico 31
Figura 21. Crédito formal e informal por estatuto de emprego 32
Figura 22. Tipos e fontes de empréstimo 33
Figura 23. Barreiras à conta formal (% de angolanos adultos sem conta bancária) 34
Figura 24. Insuficiência de dinheiro como a principal barreira à titularidade de conta por rendimento 34
Figura 25. As seis maiores barreiras à conta bancária por género 35
Figura 26. As seis maiores barreiras à conta formal por idade 36
Figura 27. As seis maiores barreiras à conta formal por ambiente urbano/rural 36
Figura 28. Visão geral da literacia financeira 38
Figura 29. Visão geral das perguntas do questionário sobre literacia financeira 39
Figura 30. Pontuação de literacia financeira por contexto sociodemográfico (número de respostas correctas) 40
Figura 31. Pontuação de literacia financeira por nível de instrução (número de respostas correctas) 40
Figura 32. Pontuação de literacia financeira por contexto sociodemográfico (número de respostas correctas) 41
Figura 33. Conhecimento da terminologia financeira 43
Figura 34. Compreenção dos juros compostos conforme evidenciado pela capacidade de pagar dívidas 43
Figura 35. Compreenção dos juros compostos, conforme evidenciado pelo uso do dinheiro restante no
pagamento de dívidas 43
Figura 36. Compreenção dos juros compostos por endividamento total 44
Figura 37. Conhecimento de auto-relato quanto a conceitos e produtos financeiros 45
Figura 38. Conhecimento de auto-relato quanto ao conceito financeiro vs. desempenho do questionário 45
Figura 39. Distribuição de pontuações de conscientização de produtos financeiros 46
Figura 40. Consumo dos meios de comunicação social por grupos sociodemográficos 47
Figura 41. Conscientização do produto financeiro pelo provedor de serviços 48
Figura 42. Pontuações médias de capacidade financeira 50
Figura 43. Pontuações médias de capacidade financeira por educação 51
Figura 44. Pontuações médias de capacidade financeira por nível de literacia financeira 51
Figura 45. Pontuações médias de capacidade financeira por idade 52
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola iii

Figura 46. Pontuações médias de capacidade financeira por comportamento de poupança infantil 52
Figura 47. Pontuações médias de capacidade financeira por uso dos meios de comunicação social 53
Figura 48. Pontuações médias de capacidade financeira por rendimento 53
Figura 49. Pontuações médias de capacidade financeira por categoria de emprego 54
Figura 50. Pontuações de literacia financeira por características de inclusão financeira (número de respostas correctas) 55
Figura 51. Pontuações de literacia financeira por propriedade de produtos e serviços financeiros formais 55
Figura 52. Pontuação de literacia financeira pelo uso de produtos de poupança formal e informal 56
Figura 53. Pontuação de literacia financeira pelo uso de produtos de crédito formais e informais 56
Figura 54. Pontuação de conhecimento do produto financeiro por motivos de não ter uma conta formal 58
Figura 55. Pontuação do conhecimento de produtos financeiros por produtos de crédito formais/informais 58
Figura 56. Pontuação do conhecimento de produtos financeiros por produtos de poupança formais/informais 58
Figura 57. Conscientização financeira por inclusão financeira 59
Figura 58. Atitudes e comportamentos financeiros e inclusão financeira 60
Figura 59. Já alguma vez criou um negócio/empresa 61
Figura 60. Fonte de capital por tipo de negócio 62
Figura 61. Pagamentos aceites por tipo de negócio 63
Figura 62. Objectivo de protecção do consumidor 64
Figura 63. Percepção de práticas comerciais abusivas 65
Figura 64. Percepções dos direitos do consumidor ao lidar com serviços financeiros 65
Figura 65. Resolução de reclamações por tipo de instituição 67
Figura 66. Abordagem para lidar com conflitos de provedores de serviços financeiros 67
Figura 67. Expectativas de resolução de conflitos com provedores de serviços financeiros 67
Figura 68. Características sociodemográficas de inacção em conflito potencial com provedor de serviços financeiros 68
Figura 69. Satisfação do cliente com os serviços prestados por diferentes instituições financeiras 69
Figura 70. Satisfação do cliente com múltiplos serviços com serviços de diferentes instituições financeiras 70
Figura 71. Taxas de satisfação do banco em características sociodemográficas 70
Figura 72. Discriminação do número estimado de população por meios urbanos/rurais 73
Figura 73. Discriminação do número estimado de população por rendimento 73
Figura 74. Discriminação do número estimado de população por género 74
Figura 75. Discriminação do número estimado de população por grupos etários 74
Figura 76. Discriminação do número estimado de população por grupos educacionais 74
Figura 77. Divisão estimada de grupos de rendimento estável/instável 74
Figura 78. Discriminação do número estimado de população por dimensão do agregado 75
Figura 79. Divisão estimada por chefe de agregado familiar vs. não chefe de agregado familiar 75
Figura 80. Divisão estimada de alfabetização 75
Figura 81. Divisão estimada da categoria de emprego 75

Tabela 1. Distribuição de AEs por província e local 11


Tabela 2. Comparação entre o censo e o perfil da Inquérito sobre a Capacidade Financeira 11
Tabela 3. Número e quantidade de operações processadas nos subsistemas do SPA 17
Tabela 4. Medidas de inclusão financeira e desenvolvimento em todas as economias 20
Tabela 5. Utilização de dinheiro móvel de 2015 a 2018 26
Tabela 6. Acesso ao crédito por ambiente urbano 33
Tabela 7. Comparação das pontuações de literacia financeira entre os diferentes países 42
Tabela 8. Comparação das pontuações de capacidade financeira entre os diferentes países 49
Tabela 9. Conflitos e resoluções de provedores de serviços financeiros 66
Tabela 10. Inclusão financeira por factores sociais e demográficos 76
Tabela 11. Pontuação de literacia financeira por factores sociais e demográficos 77
Tabela 12. Capacidades financeiras por factores sociais e demográficos 78
Tabela 13. Literacia financeira e pontuações de comportamento financeiro 80
Tabela 14. Inclusão financeira por pontuação de literacia financeira (Lit. Fin.) 80
Tabela 15. Inclusão financeira por conhecimento do produto 81
Tabela 16. Inclusão financeira por pontuações de comportamento financeiro 82
iv Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

Caixa 1. Inquérito sobre comerciantes de mercado do CNEF 21


Caixa 2. Evolução das contas Bankita 22
Caixa 3. Questionário de literacia financeira 38
Caixa 4. O Inquérito Global da S&P sobre Literacia Financeira 39
Caixa 5. Visão geral do consumo dos media 47
Caixa 6. Literacia financeira e atitudes em relação ao endividamento 56
Caixa 7. Empreendedorismo em Angola 61

Mapa 1. Inclusão financeira e rendimento médio por província 21


Mapa 2. Distribuição espacial de poupança formal e poupança informal 30
Mapa 3. Distribuição espacial de empréstimo formal e empréstimo informal 33
PREFÁCIO

A capacidade financeira, conforme definido pelo Banco e implementação da educação financeira bem como defi-
Mundial e no presente relatório, é a capacidade interna nir metas quantificáveis e concretas para o Banco Nacional
de agir no melhor interesse financeiro de alguém, dadas de Angola e o CNEF — Conselho Nacional de Estabilidade
as condições socioeconómicas e ambientais. Abrange o Financeira, que é o órgão de coordenação e acompanha-
conhecimento (literacia), atitudes, habilidades e o compor- mento do Projecto de Desenvolvimento do Sistema Finan-
tamento dos consumidores com respeito ao entendimento, ceiro (PDSF). O CNEF tem um foco especial na inclusão
selecção, e uso de serviços financeiros, e a capacidade de financeira, estabilidade e protecção do consumidor e é com-
aceder a serviços financeiros que sirvam as suas necessida- posto pelos seguintes membros permanentes: Ministro das
des (Banco Mundial 2013). Finanças, como coordenador; Governador do BNA, como
vice-coordenador; e os presidentes da Comissão do Mer-
A capacidade financeira tornou-se uma prioridade polí- cado de Capitais e da Agência Angolana de Regulação e
tica para os decisores governamentais que procuram pro- Supervisão de Seguros . Além disso, dependendo dos tópi-
mover uma inclusão financeira responsável e assegurar a cos discutidos o coordenador pode convidar representantes
estabilidade financeira e a existência de mercados finan- de outros ministérios e representantes do sector financeiro e
ceiros funcionais. Actualmente as pessoas são obrigadas a privado para as reuniões do CNEF. Além disso, os resultados
assumir cada vez mais responsabilidade pela gestão de uma da pesquisa serão usados para a definição das acções priori-
variedade de riscos sobre o ciclo da vida. As pessoas que tárias, indicadores de resultados e metas do PDSF.
tomam decisões financeiras apropriadas e que eficazmente
interagem com provedores de serviços financeiros têm maior As principais conclusões e recomendações deste relatório
probabilidade de realizar as suas metas financeiras, protegen- cobrem três áreas principais: inclusão financeira, capaci-
do-se contra os riscos financeiros e económicos, melhorando dade financeira e protecção do consumidor financeiro. Os
o bem-estar do seu agregado familiar, e apoiam o cresci- capítulos restantes estão estruturados da seguinte forma: O
mento económico. O reforço da capacidade financeira surge, Capítulo 1 apresenta o relatório e resume a legislação e as
por isso, como um objectivo de política que complementa as políticas recentes relacionadas à inclusão financeira. O Capí-
agendas de inclusão financeira e de defesa do consumidor tulo 2 analisa o panorama actual do sector financeiro em
dos governos. Neste sentido, os decisores políticos recorrem Angola, enquanto o Capítulo 3 explora o panorama actual
cada vez mais ao uso de Inquéritos como ferramentas para da inclusão financeira. O Capítulo 4 oferece uma visão geral
diagnosticar e identificar áreas de capacidade financeira que dos níveis de capacidade financeira dos adultos, em particu-
necessitem de melhoria e os segmentos vulneráveis da popu- lar em relação ao conhecimento, atitudes e comportamentos
lação que poderiam beneficiar de intervenções específicas. financeiros. O Capítulo 5 examina as relações entre inclusão
financeira e educação financeira, conhecimento, atitudes
Como parte do seu trabalho no apoio ao desenvolvi- e comportamentos. O último capítulo investiga a protec-
mento do sector financeiro em Angola, o Banco Mundial ção do consumidor financeiro, os conflitos com instituições
implementou um inquérito de capacidade financeira. O financeiras e as percepções dos consumidores sobre estas
inquérito constitui uma ferramenta chave de diagnóstico que instituições.
visa fornecer orientações sobre a abordagem, ferramentas
v
AGRADECIMENTOS

O Banco Mundial agradece muito a estreita colabora- lizada por Lilian Sousa e Delia Dean, pelos seus valiosos
ção com o Secretariado Executivo do Conselho Nacio- comentários a este relatório.
nal de Estabilidade Financeira (SE-CNEF) e com o Banco
Nacional de Angola (BNA) na elaboração do presente A equipa expressa o seu mais profundo agradecimento
relatório. Especificamente, o capítulo 2 baseia-se nos a todas as outras autoridades angolanas, incluindo o
contributos do BNA e a caixa 2 nos contributos forne- Ministério das Finanças, o Instituto Nacional de Estatís-
cidos pelo SE-CNEF, que são muito agradecidos pela tica de Angola, a Agência Angolana de Regulamentação
equipa. A equipa que elaborou este relatório foi liderada e Supervisão de Seguros, a Autoridade de Pensões, a
por Siegfried Zottel1 (especialista sénior do sector finan- Comissão do Mercado de Capitais de Angola e muitos
ceiro) da Prática Global de Finanças, Competitividade e outros, pela sua cooperação e colaboração durante a
Inovação do Grupo do Banco Mundial (GBM) e incluiu elaboração e implementação da pesquisa.
Justin Archer (consultor de pesquisa), Mazen Bouri (líder
do programa) e Delfim Mawete (especialista do sector A equipa também gostaria de expressar sua gratidão à
financeiro). equipa da Ipsos Quénia, que implementou o inquérito, e
a todos os supervisores e enumeradores cujos esforços e
O relatório foi produzido no âmbito dos Serviços de compromissos tornaram este projecto possível.
Consultoria Reembolsáveis do Sector Financeiro de
Angola (P147800) do GBM, liderado por Mazen Bouri A equipa agradece a Leila Aghbarari pela assistência na
(líder do programa), que prestou orientação técnica e pesquisa, Tora Estep pela assistência editorial e Naylor
apoio à equipa. Design, Inc. pela assistência no design e layout.

Olivier Lambert (representante residente) e Rashmi Finalmente, a equipa endereça um particular agrade-
Shankar (gestor da prática) orientaram a equipa duma cimento a todos os homens e mulheres angolanas que
forma geral. A equipa agradece a análise de pares rea- pacientemente responderam ao inquérito.

1. O autor responsável pode ser contactado através do seguinte e-mail: szottel@worldbank.org

vi
ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS

AML/CFT Combate ao branqueamento de capitais e combate ao financiamento do terrorismo


ARSEG Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros
AKPK Credit Counseling and Debt Management Agency (Malásia)
BNA Banco Nacional de Angola
BODIVA Bolsa de Dívida e Valores de Angola
CNEF Conselho Nacional de Estabilidade Financeira
CNEF-ES Secretariado Executivo do Conselho Nacional de Estabilidade Financeira
AE Área de Enumeração
FMI Fundo Monetário Internacional
INADEC Instituto Nacional de Defesa do Consumidor
INE Instituto Nacional de Estatística
M&A Monitorização e Avaliação
OMF Organizações de Micro-finanças
ENIF Estratégia Nacional de Inclusão Financeira
ONG Organização Não-Governamental
ACP Análise de Componente Principal
PDSF Projecto de Desenvolvimento do Sector Financeiro
SPA Sistema de Pagamento Angolano
ASS África Subsaariana
GBM Grupo Banco Mundial

vii
PRINCIPAIS CONCLUSÕES

Quão Financeiramente Incluído são os angolanos??


49%
49% dos adultos 41% das mulheres e 29% dos residentes rurais têm acesso a uma
inquiridos em Angola conta, em comparação com 55% dos homens e 58% dos residentes
têm acesso a uma conta urbanos.
55% 58%
transacional.
41%
29%
Adultos sem conta relatam falta de dinheiro,
documentação insuficiente, falta de
conhecimento e preferência por dinheiro
Os adultos angolanos usam métodos formais, informais ou uma
como as principais razões.
combinação de ambos os métodos para pedir emprestado e
poupar tanto formalmente como em casa.
Prefiro
Não tenho Não tenho Não sei
dinheiro documentos como41% dinheiro
vivo
CRÉDITO 16% 14% 8% POUPANÇAS 7% 24% 31%

29% 18% 12% 11%


Formal Ambos Informal Formal Ambos Informal

1 2 Quão financeiramente capazes são os angolanos?


3 4 Em média, os adultos foram Ao analisar uma série de comportamentos e atitudes financeiras, os
capazes de responder entrevistados tiveram a pontuação mais baixa em comportamentos
corretamente a 2,6 das 6 relacionados às perspectivas financeiras, mas demonstraram mais
5 6 perguntas relacionadas à capacidade na prudência:
educação financeira. Capacidade em componentes relacionadas à prudência:
COMPONENTE

Disciplinado CONCORDO (PLENAMENTE) 79%


Enquanto 71% eram
capazes de realizar
Aprende com os erros CONCORDO (PLENAMENTE) 87%
divisões simples,
31% apenas 31% estavam
familiarizados com Capacidade em componentes relacionadas às perspectivas financeiras
O conceito de inflação, CONCORDO
Viva para o presente
COMPONENTE

49%
e 31% eram capazes de (PLENAMENTE)
calcular juros compostos. CONCORDO
Age sem pensar 68% (PLENAMENTE)

Impulsivo CONCORDO
65% (PLENAMENTE)

Quão financeiramente protegidos estão os


35% angolanos?
Populações mais vulneráveis têm
Apenas 35% dos entrevistados estavam menos probabilidade de agir em
59%
familiarizados com o propósito da caso de conflito com um
proteção ao consumidor. provedor financeiro.
45%
Foram feitas poucas reclamações nos últimos 3 anos:

5%
Apenas 5% dos 92% das
adultos relataram um 92% reclamações
conflito. Isso é comum contra bancos
em países com uma foram resolvidas Não tomaria nenhuma acção em
cultura de poucas de forma caso de conflito
reclamações. satisfatória.

ix
SUMÁRIO EXECUTIVO

A inclusão financeira é um facilitador fundamental para A pandemia COVID-19 atingiu fortemente Angola,
reduzir a pobreza e aumentar a prosperidade. Inclusão afectando especialmente os mais pobres e vulneráveis.
financeira significa que indivíduos e empresas têm acesso Embora o impacto direto da COVID-19 sobre o estado
a produtos e serviços financeiros úteis e acessíveis que de saúde em Angola tem sido limitado, com 2.624 casos
atendem às suas necessidades - transacções, pagamen- confirmados e 107 mortes registadas até 2 de Setembro
tos, poupança, crédito e seguros - prestados de forma de 2020, as consequências económicas da pandemia
responsável e sustentáda. A capacidade de aceder a poderão ter um impacto de forma significativa e adversa
uma conta bancária é o primeiro passo para uma inclusão as populações pobres e vulneráveis, agravando ainda
financeira mais ampla, pois uma conta bancária permite mais a profunda desigualdade, objecto da intervenção do
que as pessoas armazenem e recebam pagamentos. O governo angolano. O fraco acesso ao sector financeiro
acesso financeiro facilita a vida quotidiana e ajuda as famí- pode amplificar este choque e, portanto, para compreen-
lias e empresas a planearem tudo, desde metas de longo der o relevante panorama com vista a informar as actuais
prazo até emergências inesperadas. Como detentoras estratégias e planos que buscam melhorar o acesso e a
de contas, as pessoas têm maior probabilidade de usar capacidade financeira.
outros serviços financeiros, como crédito e seguro, para
iniciar e expandir os seus negócios, investir em educação Pouco antes do surto de COVID-19, aproximada-
ou saúde, gerir riscos e enfrentar choques financeiros, o mente 49% dos adultos angolanos inquiridos repor-
que pode melhorar a qualidade geral de suas vidas. Ao taram ter acesso a uma conta bancária, uma métrica
mesmo tempo, é fundamental prestar atenção à capaci- habitualmente usada para comparação internacional.
dade financeira e à protecção do consumidor para pro- Quando comparada com outros países em desenvolvi-
mover serviços financeiros responsáveis e sustentáveis. mento da África Subsaariana (ASS), Angola tem um nível
relativamente alto de inclusão financeira na maioria dos
A capacidade financeira, vista através de três área- indicadores, embora o país se encontre mais atrasado
chave a inclusão financeira, capacidade financeira e em relação a outras economias de renda média-baixa.
protecção do consumidor financeiro, expandiu-se em Este padrão é consistente com os outros indicadores do
Angola apesar da significativa perturbação macroe- sector financeiro para Angola quando comparado com
conómica e da pandemia Covid-19. Existem desafios os seus países pares, embora o país contenha uma maior
notórios em cada uma dessas áreas-chave, esses desa- densidade de pontos de acesso comparativamente aos
fios, associados às recomendações do Banco Mundial, seus pares.
aos responsáveis políticos em Angola e as medidas para
os enfrentar, são detalhados a seguir.
1
2 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

Categorias socioeconómicas e demográficas — espe- e o BNIX do Banco de Negócios Internacional continuam


cialmente género e residência urbana/rural — variam operacionais, embora estas duas plataformas não sejam
significativamente em relação a medida mais comum interoperáveis, indicam o potencial destes serviços.
para aferir a inclusão financeira. As mulheres são 14
pontos percentuais menos prováveis que os homens a 62 por cento dos adultos em Angola reportaram
serfinanceiramente incluídas. Esta diferença de género alguma forma de poupança, incluindo poupança formal
em Angola é ligeiramente maior do que a diferença de e informal, investimentos, pensões privadas ou seguro
género observada na ASS, onde em média, os homens automóvel ou imobiliário. Mais de metade dos adultos
são 12 pontos percentuais mais prováveis em possuir em Angola reportaram que guardam a sua poupança em
uma conta bancária. A titularidade da conta chega a atin- casa ou a aplicam em grupos de poupança informais ou
gir 58% nas áreas urbanas, mas cai quase a metade para semi-formais. 30 por cento usam produtos de poupança
29% nas áreas rurais. formal como depósitos num banco comercial ou numa
instituição de micro-crédito. As mulheres economizam 4
O uso de serviços de transferências monetárias é por cento menos do que os homens e lidam mais com a
baixo em Angola, sendo que 17 por cento dos entre- economia informal. Apenas metade dos residentes rurais
vistados reportaram m o uso de transferências mone- faz poupança, contra dois terços dos residentes urbanos,
tárias, o que está provavelmente relacionado ao baixo sendo que este último grupo utiliza produtos formais de
nível dos fluxos de remessas que representam menos poupança a uma taxa mais que o dobro do primeiro.
de 1 por cento do PIB.2 Os altos custos as transações,
incluindo despesas de transferência e margens de câm- 38 por cento dos adultos angolanos reportaram algum
bio, são o principal obstáculo ao envio e recebimento de tipo de empréstimo, através de uma gama de fontes
remessas, o que diminui os benefícios dessas transferên- formais e informais. 16 por cento dos entrevistados usam
cias monetárias. A redução desses custos pode melhorar exclusivamente produtos de crédito formal para contrair
imediatamente a vida dos migrantes e de suas famílias. empréstimos, enquanto 8 por cento dos adultos atendem
Embora o uso de serviços de transferência seja limitado, às suas necessidades de empréstimos contando apenas
os que usam estes serviços enquadram-se significati- com fontes informais. 14 por cento dos adultos combinam
vamente em várias categorias socioeconómicas impor- fontes formais e informais de empréstimos. Significativa-
tantes. Por exemplo, os que vivem em áreas urbanas mente mais homens do que mulheres reportaram qualquer
utilizam esses serviços quase duas vezes mais do que os tipo de empréstimo (42 por cento contra 34 por cento).
residentes rurais. As áreas urbanas superam as suas contrapartes rurais no
uso geral do crédito, impulsionadas principalmente pela
Enquanto que em outros mercados africanos o dinheiro adopção de empréstimos de credores formais.
móvel impulsiona a inclusão dos não bancarizados,
este não é o caso em Angola, onde as carteiras móveis Os obstáculos mais comummente reportados à posse
ainda não ganharam momento. O uso de dinheiro móvel de uma conta formal são a falta de dinheiro suficiente
continua subutilizado em Angola, apesar do seu enorme para usar uma — reportado por 29 por cento dos
potencial, embora 64 por cento da população faça uso adultos sem conta — e documentação insuficiente —
do telefone móvel e a maioria sem conta bancaria vive reportado por 18 por cento. A falta de confiança nas ins-
em áreas rurais onde os canais convencionais (brick and tituições financeiras não é um problema em Angola, com
mortar) com seus altos custos fixos não penetram. As 9,2 apenas 3 por cento reportando-a como um obstáculo sig-
contas de dinheiro móvel do país por 1.000 adultos são nificativo ao alcance de maior inclusão financeira. Outras
eclipsadas pelas taxas de adopção dos países vizinhos, barreiras comummente citadas, tais como distância e falta
onde a média regional se aproxima de 650 contas por de conhecimento, podem ser directamente abordadas
1.000 adultos. Nos últimos anos, algumas iniciativas de pelas políticas públicas. Doze por cento reportou falta de
dinheiro móvel foram lançadas, tais como o Xikila do conhecimento em como abrir uma conta e 10 por cento
Banco Postal, que apesar do pouco tempo de existência, dos adultos sem conta bancária são impedidos de abrir
foi um sucesso. No entanto, a licença do Banco Postal uma conta devido à falta de acesso físico.
foi revogada por não cumprimento das normas pruden-
ciais. O E-Kwanza do Banco Angolano de Investimentos Embora o acesso aos serviços financeiros seja de
extrema importância, o conhecimento e as habilida-
des financeiras são essenciais, especialmente num
2. Consulte a base de dados de Migração e Remessas do Banco
Mundial. Disponível na internet em https://www.worldbank.org/ ambiente onde os produtos financeiros são cada vez
en/topic/migrationremittancesdiasporaissues/brief/migration-re- mais complexos e fornecidos por meio de novos canais
mittances-data
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 3

de distribuição. O presente relatório avaliou o conheci- adultos angolanos mostram qualidades em termos da sua
mento, as atitudes, as habilidades e os comportamentos capacidade de serem disciplinados e aprender a gerir o
dos consumidores em relação à gestão de seus recursos e dinheiro, para se concentrar nas realizações financeiras
compreensão, selecção e utilização de serviços financei- e de emprego e para controlar os seus orçamentos. Os
ros adequados às suas necessidades. respondentes do inquérito em Angola têm dificuldades
com o planeamento financeiro a longo prazo. Apesar dos
O conhecimento dos conceitos financeiros básicos é entrevistados controlarem os seus orçamentos e auto-
um desafio em Angola, conforme revelado pelo facto -controlo, as menores pontuações de capacidade finan-
de, em média, os inquiridos serem capazes de respon- ceira geral indicam que o planeamento inadequado para
der correctamente a 2,6 das 6 questões relacionadas a velhice e a impulsividade na tomada de decisões finan-
com a literacia financeira. Mais de metade da população ceiras são fortes limitações.
respondeu pelo menos três perguntas correctamente,
mas poucos deram cinco respostas corretas (9,9 por Uma comparação internacional com os participantes
cento) e apenas 2,1 por cento conseguiram fornecer res- do inquérito em 12 países confirma que os angolanos
postas correctas a todas as seis perguntas. 71 por cento geralmente exibem bons comportamentos financeiros,
dos entrevistados conseguiram calcular correctamente a mas podem melhorar o planeamento das despesas
divisão simples, enquanto as perguntas sobre inflação e para a velhice. Os participantes da pesquisa em Angola
juros compostos geraram uma taxa de resposta correcta têm desempenho equivalente aos dos países semelhantes
de 31 por cento. Como a maioria dos outros países, as em relação a poupança e vida dentro das suas possibili-
mulheres exibem menos conhecimento financeiro do que dades. A comparação entre países também mostra que,
os homens, sendo que as mulheres entrevistadas apre- embora os inquiridos em Angola apresentem um desem-
sentam em média um desempenho inferior aos homens penho mais fraco na antecipação e planeamento das
em 0,4 pontos no geral. Os residentes rurais tiveram despesas para a velhice, o país tem um desempenho favo-
um desempenho inferior ao dos residentes urbanos em rável em relação aos países pares quando comparados em
1,0 ponto. Quando comparados com outros países, os termos de outras medidas de capacidade financeira.
angolanos tiveram um desempenho relativamente fraco
onde pontuações comparáveis estiveram disponíveis. Por Os consumidores financeiramente incluídos precisam
exemplo, os adultos angolanos estão próximos do último ser protegidos de forma adequada por forma a garan-
lugar no cálculo da divisão simples e no entendimento da tir que a expansão do acesso aos serviços financeiros
inflação entre todos os países do mundo desenvolvido e seja benéfico. A protecção adequada permite que estes
em desenvolvimento para os quais existem indicadores tomem decisões bem informadas, aumentem a confiança
comparáveis. no sector financeiro formal e contribuam para mercados
financeiros saudáveis e competitivos. Sem protecção ade-
O conhecimento dos produtos financeiros em Angola é quada, os consumidores podem ser prejudicados se não
baixo, estando os inquiridos familiarizados com produ- puderem exercer os seus direitos como consumidores;
tos e serviços de uma média de 1,9 tipos diferentes de se não podem seleccionar produtos que lhes sejam mais
prestadores de serviços. Catorze por cento reportaram adequados; e se não estão protegidos contra venda inde-
familiaridade com produtos de mais de metade dos for- vida, fraude e outros abusos de mercado.
necedores disponíveis. Mais de metade dos entrevistados
estavam familiarizados com produtos de, no máximo, um Os resultados da pesquisa sugerem que, embora os
fornecedor e 35 por cento não conheciam um produto bancos comerciais tenham o maior alcance do sector
financeiro fornecido por qualquer instituição financeira. financeiro, os seus serviços geram menos satisfação do
58 por cento dos entrevistados estavam familiarizados que os de outras instituições financeiras em Angola.
com produtos de bancos comerciais e a seguinte familia- Especificamente, a bolsa do Mercado de Capitais de
ridade mais comum era com agências de câmbio, com 29 Angola, correctoras, agentes de transferência de dinheiro
por cento tendo conhecimento dos produtos ou serviços e outras instituições financeiras não bancárias apresentam
oferecidos. Agentes de transferência de dinheiro e cor- taxas de satisfação superiores a 92 por cento, enquanto
rectoras tiveram a classificação mais baixa. os bancos comerciais atingem 87 por cento. Um olhar
mais atento sobre as taxas de satisfação entre diferentes
Os comportamentos financeiros identificados através segmentos de usuários revela que os bancos têm menos
da análise de componentes principais revelam que os probabilidade de atender às mulheres, famílias rurais,
angolanos são geralmente capazes de traduzir atitudes pessoas sem alto nível de escolaridade e pessoas que tra-
em comportamentos financeiros benéficos. Em compa- balham informalmente ou desempregadas em compara-
ração com outros aspectos da capacidade financeira, os ção com seus respectivos grupos de contrapartes.
4 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

Os consumidores raramente reportam reclamações ou rida acção; e (iv) a prioridade de execução (alta, média
outros conflitos com prestadores de serviços financei- ou baixa), sem descurar o seu orçamento, com ênfase nas
ros. Apenas 5 por cento da população adulta inquirida fontes de financiamento. Este plano deverá estar alinhado
reportou ter alguma disputa com um provedor de servi- com asà actividades do Observatório de Inclusão Finan-
ços financeiros nos últimos três anos. Essa taxa baixa pode ceira que o BNA está a desenvolver para promover um
ser devido à falta de conhecimento de quando os direitos processo mais eficaz e alcançar melhorias significativas na
foram violados ou de uma fraca cultura de reclamação. A inclusão financeira. O CNEF, coordenado pelo Ministério
taxa de incidência de litígios reportados com provedo- das Finanças, coadjuvado pelo BNA, e demais membros
res de serviços financeiros é comparável a poucos países e parceiros que compõem as outras autoridades públicas
para os quais este indicador encontra-se disponível. e intervenientes do sector privado envolvidos na imple-
mentação da estratégia, devem fazer parte do processo
Aquando da ocorrência de conflitos, quase todos os de definição e aprovação de todas as acções e reformas
angolanos alegadamente tentaram alguma forma de descritas nos respectivos planos de acção.
acção para resolver o problema, independentemente
do tipo de instituição, e ficaram satisfeitos com o O monitoramento e avaliação de resultados (M&A),
resultado. Em vez de apresentar queixa ao prestador deverá constituir um dos estágios chave no processo de
de serviços financeiros, a maioria dos adultos angola- implementação da ENIF. A definição de metas quantita-
nos apresenta queixas às autoridades governamentais tivas ambiciosas, porém realistas, deve fazer parte desse
competentes. Além disso, os que não tiveram conflitos processo, começando pelo conceito de inclusão financeira
com os prestadores de serviço indicaram que preferem para Angola. Metas bem definidas, monitoradas, avaliadas
resolver os conflitos com os bancos por meio de meca- e bem divulgadas, podem ser uma ferramenta poderosa
nismos sociais e acção directa, mas que a sua preferência para a obtenção de resultados concretos. O acompanha-
para resolver conflitos com outras instituições financeiras mento do progresso das acções pode fornecer informa-
é pelo recurso as autoridades externas. As populações ções valiosas sobre os obstáculos e/ou oportunidades
mais vulneráveis estão menos inclinadas a optar pela de inclusão financeira, sendo determinante para o ciclo
resolução de conflitos. seguinte da ENIF, que se pretende quinquenal, assegu-
rando o seu alinhamento relativamente ao Plano Nacional
de Desenvolvimento igualmente determinante no alcance
RECOMENDAÇÕES3
dos objectivos de inclusão financeira. A incorporação de
Assegurar a implementação do PDSF e desenvolver módulos de inclusão financeira em inquéritos domiciliares
uma Estratégia Nacional de Inclusão Financeira (ENIF), regulares, como o Inquérito ao Emprego em Angola, é
criando, em simultâneo, um plano de acção congrega- outro elemento crítico de um guião de M&A robusto para
dor destas iniciativas. É fundamental desenvolver a ENIF inclusão financeira e seria idealmente baseado num acordo
de forma a aumentar os níveis de inclusão financeira e entre o CNEF, sob a coordenação do seu SE (Secretariado
melhorar a coordenação de esforços entre os regulado- Executivo) e o Instituto Nacional de Estatística. Este rela-
res do sistema financeiro, o governo e as demais par- tório fornece um estudo sobre a demanda da inclusão
tes representantes dos diferentes sectores da economia financeira, contudo deveriam ser realizadas pesquisas
nacionale representantes de grupos sociais. O plano de adicionais para apurar se os provedores de serviços finan-
acção deverá consistir num roteiro de acções, programas ceiros cobririam o lado da oferta desta equação. Com a
e reformas a serem realizadas dentro do cronograma para implementação do PDSF de Angola e o desenvolvimento
a revisão do PDSF e de implementação da estratégia, da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira (ENIF), o
conforme acordado pelas principais partes interessadas, SE-CNEF estará em melhores condições de desempe-
públicas e privadas. Idealmente, o plano de acção deverá nhar o seu papel no processo de acompanhamento da
abordar os principais desafios e oportunidades identifica- ENIF, incluindo a execução das fases de monitorização e
dos por meio desta pesquisa e delinear (i) uma descrição medição do progresso propícias ao aumento da inclusão
concreta e auto-explicativa das acções a serem imple- financeira. No futuro, Angola poderia dar continuidade aos
mentadas; (ii) a entidade (ou entidades) responsável(veis) inquéritos existentes, alavancar as iniciativas de pesquisa e
pela execução; (iii) o tempo de implementação da refe- a experiência do pessoal do INE para facilitar o processo
de medição e monitorização, e consequentemente tornar
3. De notar que as recomendações fornecidas neste relatório surgem esse estágio de desenvolvimento da ENIF determinante
principalmente deste inquérito de procura por parte de adultos face ao alcance dos objectivos de inclusão financeira.
em Angola, não do lado da oferta das instituições financeiras, nem
do quadro legal, regulamentar e de supervisão relevante. Embora
as referências sejam feitas conforme apropriado para essas outras Implementar as reformas recentemente promulgadas
dimensões, tais referências não são um tratamento exaustivo na Lei do Sistemas de Pagamentos de 2005, que vão
dessas dimensões.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 5

permitir que as operadoras privadas de dinheiro móvel redução da pobreza, através de critérios mais simples,
forneçam cobertura nacional de serviços financeiros incluindo a possibilidade de enviar e receber dinheiro
digitais e permitir a interoperabilidade entre as pla- electronicamente sem custos adicionais e armazenar
taformas de serviços de pagamento existentes. O uso fundos com segurança. Dinheiro insuficiente, documen-
de serviços financeiros digitais, como o dinheiro móvel, é tação insuficiente e falta de compreensão de como abrir
mínimo em Angola, mas tem potencial para reduzir custos; uma conta encontram-se entre as principais barreiras ao
aumentar a velocidade, segurança e transparência; e per- acesso à uma conta para quase metade dos angolanos.
mitir serviços financeiros personalizados que atendam os Apesar do produto de poupança Bankita4 ter sido pro-
pobres em grande escala. Espera-se que a actualização, jectado para reduzir estas barreiras, apenas 24 por cento
recentemente aprovada, da Lei do Sistema de Pagamen- dos entrevistados indicaram saber da sua existência. A
tos de 2005 impulsione o desenvolvimento de serviços pesquisa mostra que a aderência a contas semelhantes,
financeiros digitais, uma vez que vai permitir uma ampla quando acompanhada por expansões de outros produtos
gama de provedores de serviços financeiros digitais bem bancários inovadores, pode aumentar a inclusão finan-
como a adequação da regulamentação do Sistema de ceira (Dupas et al. 2016), levando a menores taxas de
Pagamentos Angolano com regulamentações modernas, pobreza e melhorias na desigualdade de renda nos países
assegurando a oferta de serviços inovadores e inclusivos. em desenvolvimento (Omar e Inaba 2020). A experiên-
Esses serviços também permitiriam que através de pro- cia internacional em países como Índia e Filipinas mostra
gramas como o programa Kwenda do GBM de resposta que a introdução de contas básicas deve ser comple-
ao COVID-19 sejam transferidos recursos financeiros (ex: mentada com campanhas de consciencialização pública
dinheiro) com segurança para as famílias pobres e vulne- para mitigar o risco de baixa aceitação desses produtos.
ráveis. A digitalização de tais pagamentos representa uma Embora o BNA venha apoiando as suas campanhas de
oportunidade para aumentar substancialmente a inclusão sensibilização através de acções no âmbito do Programa
financeira, especialmente no seio dos pobres e vulnerá- de Educação Financeira, em parceria com o Ministério de
veis, e aumentar a autonomia económica das mulheres. Educação, os níveis esperados de inclusão financeira da
população ainda não foram alcançados. Apesar das cam-
Aproveitar o potencial dos modelos baseados em panhas anteriores de consciencialização mostrarem-se
agentes possibilitados através da reforma da Lei dos eficazes, o seu crescimento moderado nos últimos anos
Sistemas de Pagamentos e os regulamentos do BNA revela que esses esforços devem ser amplificados, com
recentemente aprovados (Aviso 07/2020) para ajudar foco na disseminação das possibilidades que o regime de
a eliminar a desigualdade de género identificada e a contas simplificadas oferece aos seus alcance dos utili-
desigualdade entre as populações urbanas e rurais no zadores e potenciais beneficiários de uma conta simpli-
acesso a serviços financeiros. Modelos baseados em ficada, para além da Bankita. Além disso, o incentivo aos
agentes nos quais os provedores de serviços usam tercei- bancos para a promoção do produto deve ser realizado
ros, como lojas de retalho, para fornecer fácil acesso aos com o entendimento de que os bancos podem ter pouco
seus serviços a segmentos não atendidos da população incentivo económico para oferecer de forma voluntária o
perto dos locais onde residem, expandindo assim o seu acesso a estas contas, aos seus clientes. A experiência de
alcance a baixo custo. Contudo, até o momento os pres- outros países, como por exemplo o México, mostra que
tadores de serviços financeiros não tiveram sucesso em o aumento da aceitação e do uso de produtos como o
expandir estes pontos de acesso em Angola. O desen- Bankita poderia ser alcançado canalizando os pagamen-
volvimento do Xikila, um serviço de dinheiro móvel com tos do governo-para-pessoa, tais como transferências
foco em pagamentos básicos e serviços de transferência sociais de dinheiro, salários de funcionários do governo
que teve um rápido crescimento, especialmente entre os e pensões, por meio destas contas. Para lidar com a falta
segmentos de baixa renda, mostrou que existe uma forte de documentação adequada disponível para os pobres,
demanda para serviços de dinheiro móvel. O desenvolvi- pode ser considerada a adopção de uma abordagem em
mento de um quadro legal regulamentar subsequente, já camadas para a devida diligência do cliente, em que o
em vigor, certamente vai permitir o desenvolvimento de Bankita e outras contas básicas (até certos limites de tran-
redes de agentes bancários sustentáveis e vai contribuir, sacção) podem ser abertas com um documento de iden-
sobremaneira, alcançar localidades remotas e populações tidade oficial confiável ou potencialmente com uma carta
rurais antes excluídas dos serviços financeiros. de um líder comunitário. O BNA já aprovou o regula-
mento para o efeito através do Aviso 12/20, que permite
Abordar as principais barreiras à abertura de contas,
considerando políticas que encorajam a aceitação e o
4. O produto conta Bankita é uma conta básica que permite
uso de contas bancárias simplificadas, incluindo a conta aos clientes abrir uma conta imediatamente, sem custos de
Bankita, que efectivamente apoiam os esforços de manutenção e com um saldo inicial mínimo de Kz 100.
6 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

a abertura de contas simplificadas para fins particulares e tos e serviços financeiros e respectivo diagnóstico, (ii)
comerciais.5 formulação, (iii) implementação e (iv) monitoramento e
avaliação, podendo ainda incluir outras políticas perti-
Além de fornecer contas básicas, também deve-se pro- nentes para a redução de gaps de inclusão financeira
mover o desenvolvimento e a prestação sustentável de em Angola como é o caso do gênero e dos jovens. Este
serviços financeiros diversificados virados para a satis- processo permitirá delinear um conjunto de programas
fação das necessidades específicas dos mais carencia- prioritários para aumentar os níveis de capacidade finan-
dos, a população rural e mulheres. Apesar dos esforços ceira da população em geral e subgrupos específicos que
existentes para estender produtos e serviços a clientes de abordariam as deficiências identificadas por meio deste
baixa renda, os dados da pesquisa indicam uma falta de inquérito (por exemplo, mais de 40 por cento dos entre-
produtos adequados para atender às necessidades de vistados nesta pesquisa enfrentam um planeamento defi-
grande parte da população alvo. Embora muitos angola- ciente para a velhice e na sua maioria, tomam decisões
nos indiquem que não têm fundos suficientes, este inqué- com foco no presente). As prioridades podem ser defini-
rito revelou que ainda assim fazem poupanças, embora das com base em vários critérios, incluindo a necessidade,
recorrendo principalmente a canais informais. Os produ- metas, custos e disponibilidade de recursos, conforme os
tos formais de poupança, portanto, têm potencial, e a resultados do diagnóstico. Uma lição aprendida de paí-
sua promoção poderia contribuir para maior captação de ses que desenvolveram e implementaram tais planos de
poupança que pode ajudar as famílias a gerir os picos de acção ou estratégias foi que os elementos essenciais de tal
fluxos de caixa, suavizar o consumo e acumular montan- documento devem incluir as funções e responsabilidades
tes fixos. Ampliar a gama de produtos de seguro pode ser de todas as partes interessadas envolvidas, os principais
outra abordagem, visto que o seguro é um instrumento grupos a serem almejados, o cronograma de implemen-
útil para mitigar choques e gerir despesas relacionadas tação e, o mais importante, os recursos para a implemen-
a eventos inesperados, como emergências médicas, tação do plano de acção. Um passo essencial para iniciar
perda de familiares, roubo ou desastres naturais. Dado este trabalho é o mapeamento e revisão das iniciativas de
que a população rural depende fortemente da agricultura capacidade financeira existentes em Angola para identifi-
como principal fonte de renda, existe a necessidade de car programas com potencial para serem escalados, como
oferta de produtos de seguro (por exemplo, seguro de as campanhas de sensibilização do Bankita. Idealmente, o
colheita, seguro meteorológico com base em índices e plano de acção deve fornecer orientação às partes inte-
seguro de mortalidade de animais (com base em índices) ressadas sobre como testar os programas antes de serem
que permitiriam as famílias dependentes da agricultura lançados, como monitorar e avaliar os programas em
suavizar as flutuações nas receitas devido à sazonalidade implementação, como reportar e divulgar os resultados às
e para mitigar os riscos externos associados à realização partes interessadas em geral. Esse trabalho também ajuda
de negócios. Embora seja provável que o sector privado a garantir que o plano de acção e os programas futuros
desempenhe um papel fundamental no desenvolvimento sejam informados pelas experiências existentes, tirem
de produtos mais adequados para segmentos mais altos benefícios das lições aprendidas, evitem a duplicação e
da população, o papel do governo seria promover inova- potencializem programas bem-sucedidos (fase de monito-
ções por meio de incentivos e desenvolver uma estrutura ramento e avaliação). Para obter mais informações sobre
regulatória acomodatícia. o processo de desenvolvimento de um plano de acção de
capacidade financeira, consulte WB 2017 Good Practices
A definição dos estágios de desenvolvimento da ENIF for Financial Consumer Protection (BM 2017 — Boas práti-
poderia servir para a identificação clara do seu propó- cas para protecção ao consumidor financeiro).6
sito e características principais, aspectos organizacio-
nais importantes para aumentar e maximizar a eficácia Para aumentar os esforços de capacidade financeira
das intervenções de capacidade financeira em Angola. em Angola e abordar as áreas de melhoria identifica-
O plano de desenvolvimento da ENIF deve estar das através deste inquérito, será necessário alavancar
assente em 4 estágios nomeadamente (i) análise de o potencial dos meios de comunicação em massa, e
dados, resultantes de inquérito de capacitação finan- educação e entretenimento em particular, que, se bem
ceira bem como outros do lado da oferta de produ- feito, pode ser um canal eficaz para ajudar a alcançar
um grande número de adultos. A televisão é a fonte de
entretenimento mais reportada em Angola, com 79 por
5. Para abrir contas privadas, os clientes podem apresentar um docu-
mento emitido pelo líder tradicional comunitário. Contas comer- cento dos adultos a indicar que assistem regularmente.
ciais simplificadas permitem que comerciantes informais solicitem
um terminal de pagamento automático. Seguindo em frente, será
importante continuar a promover o uso de tais iniciativas por meio 6. Disponível online em https://openknowledge.worldbank.org/
de campanhas educativas em áreas rurais e mercados informais. handle/10986/28996
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 7

Com 78 por cento dos adultos respondendo ouvir rádio e visa equipá-los com práticas de gestão de dividas e
regularmente, essas plataformas de entretenimento com- dinheiro que ajudarão para que se tornem adultos mais
binam para atingir 93% da população e podem ser usa- responsáveis financeiramente.7 AKPK também fornece
das para comunicar mensagens eficazes, semelhantes sessões de informação, docu-dramas, e-newsletters, um
a esforços feitos em outros países que buscam resolver manual e exercícios de sala de aula, e também criou um
lacunas nas capacidades financeiras. Pesquisas mostram site de comunicação social. Dado que este inquérito
que transmitir mensagens financeiras de formas inovado- indica que cerca de 85 por cento dos jovens adultos usam
ras, como por meio do uso de novelas, filmes, vídeos ou telefones celulares regularmente, os aplicativos móveis
programas de rádio populares, pode ser bastante eficaz, podem ser outro canal de divulgação promissor. Um bom
não apenas para melhorar o conhecimento, mas tam- exemplo de um aplicativo móvel é o aplicativo de orça-
bém para mudar comportamentos (Berg e Zia 2013). Os mento móvel (Mobile Financial Assistant) desenvolvido
programas de educação e entretenimento também são para jovens adultos pela Autoridade de Supervisão Finan-
considerados mais eficazes se as mensagens forem trans- ceira da Polónia. Este aplicativo móvel foi projectado para
mitidas de maneira envolvente e divertida por meio de ajudar a monitorar e analisar as despesas pessoais e para
histórias atraentes e memoráveis e se forem repetidas e facilitar o planeamento do orçamento e encontra-se dis-
reforçadas ao longo do tempo. ponível gratuitamente para usuários de telefones celula-
res e outros dispositivos móveis.
Dados os baixos níveis gerais de conhecimento sobre
produtos financeiros, as campanhas de comunicação Medidas eficazes para lidar com o planeamento finan-
social em massa que fornecem informações sobre os ceiro deficiente de longo prazo vão além dos progra-
principais recursos dos produtos financeiros podem mas tradicionais de capacidade financeira, usando
ser um meio eficaz para aumentar o uso benéfico de avisos8 e lembretes, opções padrão e design de pro-
produtos financeiros. Os resultados do inquérito suge- duto inteligente. Estudos na Bolívia, Peru e Filipinas
rem que, como 71 e 58 por cento respectivamente dos mostram que mensagens de texto simples e oportunas,
inquiridos responderam ouvir ou assistir regularmente, a lembrando as pessoas para poupar, podem aumentar as
rádio e a televisão seriam canais eficazes para alcançar as taxas de poupança de acordo com as metas estabeleci-
populações que estão menos familiarizadas com produ- das anteriormente (Karlan et al. 2010). Como os adultos
tos financeiros. Um exemplo de como lidar com os bai- em Angola têm dificuldades em fazer planeamento finan-
xos níveis de consciencialização sobre o produto é uma ceiro a longo prazo, mensagens periódicas de lembrete
popular novela de televisão no Quénia com mais de seis podem induzi-los a corresponder aos benefícios e tare-
milhões de espectadores, Makutano Junction, que incor- fas necessárias para economizar regularmente e reservar
porou mensagens de educação financeira em algumas dinheiro para a velhice. O estudo das Filipinas mostra
das suas histórias. Essas mensagens incluíram encorajar que os dispositivos de compromisso podem ter um efeito
as pessoas a abrir uma conta bancária, em vez de manter forte e positivo no comportamento financeiro das pes-
o dinheiro debaixo do colchão. Outros exemplos do uso soas. Especificamente, o estudo mostra que os indivíduos
de educação de entretenimento para finanças são Scan- que receberam ofertas e usaram contas de poupança sem
dal! na África do Sul ou Mucho Corazon no México. Assim a opção de levantamento por seis meses aumentaram as
como em outras novelas, as pessoas assistem a estes suas poupanças em 82 por cento comparativamente a um
dramas de educação e entretenimento porque se iden- grupo de controlo que não recebeu essa conta.
tificam com as personagens e gostam das histórias, mas,
ao assistir aos programas, beneficiam das mensagens que Como os resultados da pesquisa sugerem, que a ini-
aumentam a capacidade financeira e, por fim, mudam os ciação antecipada pode gerar mais valor, a introdução
seus comportamentos. Ao mesmo tempo, alguns resulta- de intervenções de capacidade financeira no ensino
dos de pesquisas indicam um possível impacto de curta primário também deve ser incentivada. Conforme visto
duração dessas intervenções (Di Maro et al. 2013). em muitas medidas de inclusão e capacidade financeiras,
a poupança na infância é um forte indicador de partici-
Além dos programas de TV e rádio, os canais possíveis pação no sector financeiro na idade adulta e está intima-
para alcançar especificamente os jovens incluem asso- mente associada a pontuações mais altas em medidas
ciações de desenvolvimento juvenil, aplicativos móveis de habilidade financeira. Se as pessoas criarem hábitos
e sites de comunicação social populares entre os jovens.
Por exemplo, na Malásia, a Agência de Aconselhamento
7. http://www.akpk.org.my/services/financial-education/power
de Crédito e Gestão de Dívidas (AKPK) empreende uma
8. Os avisos na economia comportamental são pequenas mudanças
iniciativa conhecida como POWER!, que é direccionada num ambiente que podem canalizar a tomada de decisões e o
a jovens adultos que solicitam créditos pela primeira vez comportamento de novas formas de agir.
8 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

sólidos de gestão de dinheiro desde a tenra idade, é devem divulgar em todos os documentos de divulgação
mais provável que os sigam durante toda a vida. As evi- pré-contratual e contratual informações detalhadas sobre
dências internacionais sobre a eficácia dos programas o direito de apresentar reclamações, a maneira como as
escolares de educação financeira na mudança do com- reclamações podem ser apresentadas e os mecanismos
portamento dos alunos são contraditórias. No entanto, de como as reclamações são tratadas (incluindo infor-
os países que implementaram tais programas oferecem mações de contacto da pessoa ou divisão dentro da ins-
algumas lições. Por exemplo, a avaliação rigorosa de um tituição autorizada a receber e responder a reclamações
programa de educação financeira baseado em escolas de e prazos). No mínimo, devem ser divulgadas as informa-
grande escala no Brasil mostra que tais programas são ções de contacto e uma referência onde mais informações
particularmente eficazes quando a educação financeira é podem ser encontradas. Os documentos de divulgação
fornecida de maneiras que os alunos consideram relevan- também podem resumir os próximos passos que o consu-
tes para suas vidas, actualmente ou no futuro próximo, e midor pode tomar se não estiver satisfeito com a resolu-
se for interactivo (Bruhn et al. 2013). Portanto, são neces- ção, incluindo a opção de usar o Portal do cliente do BNA,
sários materiais ou livros didácticos de alta qualidade, e através do qual as reclamações podem ser apresentadas.
os professores precisam de receber formação adequadas
sobre o conteúdo e técnicas. Várias páginas na internet Para garantir a existência de mecanismos adequados
fornecem links para recursos de ensino.9 O CNEF-ES em para lidar com as reclamações de forma justa, o BNA
parceria com o Ministério da Educação iniciou uma ini- deve considerar rever e avaliar se os padrões míni-
ciativa com o objectivo de desenvolver um currículo que mos para o tratamento de reclamações nos bancos e
integre aulas de educação financeira para jovens que fornecedores não bancários podem ser estabelecidos
devem ser posteriormente desenvolvidas. Como os cur- ou melhorados através da definição de regras mais
rículos existentes podem já estar saturados, a integração específicas. Por exemplo, de acordo com o WB 2017
da educação financeira em várias disciplinas existentes, Good Practices for Financial Consumer Protection (BM
incluindo matemática, economia ou estudos sociais, pode 2017 — Boas Práticas para Protecção ao Consumidor
ser aconselhável, em vez de adicionar uma nova disciplina Financeiro),10 os padrões mínimos com relação à função
ao currículo. Caso os recursos para formar professores e e procedimentos de tratamento de reclamações podem
para desenvolver e fornecer materiais de ensino sejam exigir que bancos e fornecedores não bancários, entre
limitados, pode ser o melhor concentrar-se, pelo menos outros, disponibilizem uma variedade de canais — tele-
no início, na incorporação da educação financeira em fone, fax, e-mail e web — para registrar reclamações de
uma ou duas disciplinas durante três ou quatro semestres consumidores adequadas ao tipo de cliente atendido e
académicos consecutivos (Bruhn 2013). sua localização física, incluindo a oferta de um número de
telefone gratuito na medida do possível, dependendo do
Algumas das conclusões do inquérito mencionadas tamanho e da complexidade das operações do provedor
sugerem que as medidas para fortalecer a estrutura de serviços financeiros. Dados os resultados da pesquisa
financeira de protecção do consumidor, incluindo a e para proporcionar a igualdade, os provedores devem
divulgação dos direitos e recursos do consumidor, priorizar os canais que podem alcançar segmentos vulne-
precisariam complementar os esforços de capacidade ráveis — mulheres, moradores rurais e aqueles com níveis
financeira. Para abordar questões de falta de expressão mais baixos de formação académica — que foram consi-
de descontentamento relacionadas com a cultura em derados menos inclinados a agir em caso de disputa com
torno das reclamações dos consumidores, o BNA em con- o provedor de serviços.
sulta com o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor
deve considerar se as disposições legais e regulamenta- Finalmente, deve-se considerar avaliar se as institui-
res existentes seguem as melhores práticas internacionais ções financeiras cumprem os requisitos de protecção
e exigem que os bancos e outras instituições financeiras ao consumidor, incluindo divulgação de informações,
publicidade justa e tratamento e resolução de recla-
9. Estes incluem a pagina da MoneySmart Teaching da Australian mações, e a promoção de práticas comerciais sólidas
Securities and Investments Commission (https://moneysmart.gov. por meio do uso de ferramentas de supervisão de
au/), que lista uma variedade de materiais educacionais que foram conduta de mercado adequadas. A Mystery Shopping
avaliados por um processo de garantia de qualidade, e a US Jum-
p$tart Coalition Clearinghouse ( https://www.jumpstart.org/what- é uma ferramenta poderosa para alcançar este fim e
-we-do/support-financial-education/clearinghouse/) e o site da UK pode ser usado para obter pareceres adicionais sobre o
Personal Finance Education Group (https://www.young-enterprise. motivo que faz com que os bancos e os seus produtos
org.uk/). Alguns recursos encontram-se disponíveis gratuitamente
e outros estão disponíveis para compra. O Currículo de Educação
Financeira do Citigroup contém aulas interactivas, dicas para o faci- 10. Para mais informações veja https://openknowledge.worldbank.org/
litador e planos de aula para impressão (que estão disponíveis em bitstream/handle/10986/28996/122011-PUBLIC-GoodPractices-
vários idiomas) para uso na creche (jardim de infância) em diante. -WebFinal.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 9

parecem satisfazer menos a sua clientela do que outros serviços financeiros, que fornece informações sobre pro-
tipos de provedores de serviços. A Mystery Shopping dutos financeiros, direitos do consumidor, informações
pode ser uma ferramenta poderosa para testar a con- mais recentes do mercado, incluindo taxas de juros e
formidade dos bancos com requisitos específicos e para fornece um link para os consumidores fazerem reclama-
determinar a qualidade e a quantidade de informações ções. Nesse sentido, o BNA deve ponderar a análise das
que os consumidores recebem ou se são dados conse- estatísticas de reclamações de consumidores apresenta-
lhos adequados (Giné e Mazer 2016). No entanto, para dos através do seu portal e por fornecedores de serviços
perceber os benefícios dessa ferramenta de supervisão, financeiros e utilizar esta informação como input para
esta ferramenta precisa ser bem estruturada e deve as suas actividades de supervisão e regulação. Uma vez
abranger uma amostra razoável de fornecedores, e os que muitos consumidores financeiros tendem a abordar
compradores precisam fazer as mesmas perguntas a o INADEC para apresentar reclamações, o BNA deve
cada fornecedor com base num cenário simples e plau- considerar a coordenação com o INADEC para partilhar
sível. O Departamento de Conduta Financeiarado BNA os seus dados de reclamações como informação adicio-
já empreendeu várias iniciativas para reforçar o quadro nal para as actividades de supervisão e regulamentação
e a prática de protecção do consumidor na indústria11 do BNA. Com base na análise das reclamações e inqué-
e supervisiona o portal do BNA para consumidores de ritos dos consumidores, o BNA pode propor orientações
e instruções ou realizar campanhas de sensibilização que
abordem os principais problemas identificados nessas
11. O departamento fiscaliza e promove o funcionamento transpa-
rente e eficiente das instituições financeiras, fazendo a revisão dos
análises.
procedimentos de licenciamento e comercialização de produtos
e serviços financeiros; salvaguardando os aspectos contratuais, A tabela a seguir resume as principais recomendações
incluindo direitos e obrigações dos consumidores; e conduzindo
a supervisão regular externa e no local para garantir que os nas áreas de interesse.
regulamentos relativos à transparência do produto, marketing e
resolução de disputas estejam a ser seguidos.

Resumo das principais recomendações


RECOMENDAÇÕES PARTE RESPONSÁVEL TERMO

Inclusão Plano de acção de implementação do PDSF e estrutura de M&A SE-CNEF-ES/BNA CP/MP


financeira
Aproveitar os modelos baseados em agentes para expandir o alcance para BNA LP
áreas rurais e com baixa cobertura
Promover serviços financeiros diversificados virados para as necessidades BNA, SE-CNEF-ES, bancário e sector MP/LP
específicas da população em áreas com baixa cobertura de serviços financeiros privado
Capacidade Aumentar a capacidade financeira por meio de iniciativas autónomas ou BNA, SE-CNEF-ES, Entidades MP
Financeira dentro do plano de acção de capacidade financeira do PDSF Reguladoras, associações da indústria,
associações de consumidores e outras
partes interessadas relevantes
Considerar envolver a comunicação social e entretenimento educacional BNA, SE-CNEF-ES, associações da MP
para as massas com vista a aumentar a consciência do produto financeiro e a indústria, associações de consumidores
capacidade financeira entre os adultos e outras partes interessadas relevantes
Considerar a integração da educação financeira ao currículo existente SE-CNEF, BNA, Entidades Reguladoras, LP
Ministério da Educação
Protecção Avaliar se uma acção regulatória é necessária para melhorar a divulgação dos BNA e outros reguladores do sector CP
do direitos e recursos do consumidor financeiro
consumidor
Rever e avaliar se os padrões mínimos para tratamento de reclamações BNA e outros reguladores do sector CP
podem ser estabelecidos ou melhorados através da definição de regras financeiro
mais específicas (por exemplo, priorizar canais para alcançar grupos
marginalizados)
Usar uma ampla gama de ferramentas de supervisão, incluindo a análise dos BNA, INADEC, e outros reguladores do MP
dados de reclamação do consumidor provenientes do portal do cliente do sector financeiro
BNA para actividades de supervisão e regulamentação
Nota: PDSF, Estratégia de Desenvolvimento do Sector Financeiro; M&A, monitoria e avaliação; SE - CNEF, Secretariado Executivo do Conselho Nacional de Estabilidade
Financeira; BNA, Banco Nacional de Angola; ST, curto prazo, indica que a acção pode ser realizada em 0–6 meses; MP, médio prazo, indica 6 meses – 1 ano; LP, longo
prazo, indica 1+ anos.
10 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

CONTEXTO DO INQUÉRITO DE ANGOLA duo de 15 anos ou mais por domicílio amostrado usando
uma grade de Kish. Para atingir a amostra de 1.200 indi-
O questionário de capacidade financeira usado neste
víduos de 15 anos ou mais, foram amostradas 150 AEs
inquérito foi amplamente testado no contexto de paí-
durante a primeira etapa da amostragem e oito domicí-
ses de renda média e baixa. O instrumento de pesquisa
lios por AE foram selecionados durante a segunda etapa
usado é baseado num questionário desenvolvido com
da amostragem. Os agregados familiares com membros
o apoio do Fundo Fiduciário de Educação e Literacia
do agregado familiar com 15 anos ou mais constituíram
Financeira da Rússia e é adaptado para medir a capa-
o quadro da amostra por AE.12 Tabela 1 mostra a distri-
cidade financeira em países de baixa e média renda,
buição de AEs por província e local e o número alvo de
embora também possa ser usado em países de alta
entrevistas dentro de cada província e local.
renda. Extensas técnicas de pesquisa qualitativa foram
usadas para desenvolver este instrumento de pesquisa,
Para ajustar as diferentes probabilidades de amostra-
incluindo cerca de 70 grupos de foco e mais de 200
gem na população, os pesos foram calculados e usados
entrevistas cognitivas em oito países para identificar os
para todas as análises neste relatório. As respostas indi-
conceitos que são relevantes em ambientes de renda
viduais foram ponderadas com base na probabilidade de
média e baixa e para testar e adaptar as perguntas para
selecção, que se baseou na probabilidade de um domi-
garantir que sejam bem compreendidas e significativas
cílio ser seleccionado dentro do seu estrato, o número
em todos os níveis de renda e educação. O instrumento
de EAs dentro do estrato, o número de domicílios na sua
é actualmente usado ou planeado para ser usado em 14
AE, o número de domicílios em seu estrato, o número
países da África, Leste Asiático e Pacífico, América Latina
de domicílios amostrados dentro da sua AE e o número
e Médio Oriente.
de domicílios listados na sua AE de amostra dentro de
seu estrato. As regressões usaram esses pesos domici-
O instrumento de pesquisa usado permite que as ques-
liares, ao mesmo tempo em que designaram os estratos
tões de capacidade financeira, inclusão financeira e
urbano/rural, domiciliar e de respondentes no desenho
protecção ao consumidor sejam avaliadas e medidas.
do inquérito.
A capacidade financeira é medida em termos de conhe-
cimento de conceitos e produtos financeiros e em termos
Entre Novembro de 2019 e Janeiro de 2020, uma
de atitudes, habilidades e comportamento relacionados
empresa de pesquisa implementou o inquérito usando
à gestão de dinheiro no quotidiano, planeamento para o
métodos de entrevista pessoal assistida por computa-
futuro, escolha de produtos financeiros e manutenção de
dor. A Ipsos, em conjunto com o seu fornecedor angolano
informações. Para analisar conjuntamente a capacidade e
HFC Research, foi contratada para realizar o Inquérito de
inclusão financeiras, o instrumento de pesquisa captura
Capacidade Financeira em Angola. Para garantir a mais
informações sobre o uso de diferentes tipos de produ-
alta qualidade dos dados e evitar erros comuns associa-
tos e fornecedores financeiros. A secção de protecção ao
dos a pesquisas em papel e lápis, uma versão electrónica
consumidor financeiro reúne informações sobre a incidên-
do questionário que incluía verificações de consistência
cia de conflitos com prestadores de serviços financeiros e
foi programada e o inquérito foi administrado em tablets
os níveis de satisfação com os produtos financeiros ofere-
usando a plataforma iField.
cidos por diferentes instituições financeiras.

O perfil do Inquérito de Capacidade Financeira cor-


O inquérito de Angola é representativo da popula-
responde às principais características do censo geral
ção financeiramente activa das regiões abrangidas e
de Angola. A Tabela 2 mostra pequenas diferenças entre
compreende uma amostra total de 1.189 adultos. Para
a distribuição da população e a população pesquisada,
cumprir o requisito dum inquérito cientificamente sólido
em parte devido aos critérios de selecção do Inquérito
que permite inferências para todo o universo de adul-
sobre a Capacidade Financeira (adultos 15+). O Apên-
tos financeiramente activos em Angola, foi utilizado um
dice A fornece características adicionais dos inquiridos.
método de amostragem por conglomerado estratificado
em três fases. O primeiro estágio envolveu a selecção de
áreas geográficas (áreas de enumeração ou AEs) usando
12. O tamanho final da amostra de 1.189 foi inferior aos 1.200 alme-
uma abordagem de proporção de probabilidade para jados por dois motivos. A permissão para pesquisar dentro de
tamanho onde a pesquisa foi conduzida. O segundo está- uma AE foi recusada pela administração e posteriormente omitida
gio de amostragem envolveu domicílios seleccionados devido à lacuna na data da pesquisa que resultaria se substituída.
Além disso, quatro AEs não alcançaram a meta de 8 entrevistas
aleatoriamente dentro de cada AE. O terceiro estágio de completas cada devido a um número insuficiente de domicílios
amostragem envolveu a selecção aleatória de um indiví- dentro de cada limite de AE.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 11

TABELA 1. Distribuição de AEs por província e local TABELA 2. Comparação entre o censo e o perfil

URBANO RURAL TOTAL


do Inquérito sobre a Capacidade Financeira
Número de Número de Número de INQUÉRITO SOBRE
Província AEs AEs AEs
entrevistas entrevistas entrevistas INE A CAPACIDADE
Cabinda 3 24 2 16 5 40 FINANCEIRA

Zaire 3 24 2 16 5 40 Distribuição populacional


Uíge 3 24 7 56 10 80 15–24 anos 27.8% 19.6%
Luanda 21 168 2 16 23 184 25–65 anos 65.2% 77.8%
Cuanza Norte 3 24 2 16 5 40
65+ anos 6.9% 2.6%
Cuanza Sul 4 32 9 72 13 104
Distribuição de Género
Malanje 3 24 4 32 7 56
Lunda Norte 3 24 3 24 6 48 Masculino 51.3% 53.5%

Benguela 8 64 5 40 13 104 Feminino 48.7% 46.5%


Huambo 5 40 7 56 12 96 Local
Bié 3 24 5 40 8 64 Urbano 63.2% 67.8%
Moxico 3 24 3 24 6 48
Rural 36.7% 32.2%
Cuando 2 16 2 16 4 32
Cubango Província
Namibe 2 16 2 16 4 32 Bengo 1.5% 1.0%
Huíla 4 32 8 64 12 96 Benguela 8.4% 5.6%
Cunene 3 24 4 32 7 56 Bié 5.7% 3.1%
Lunda Sul 3 24 2 16 5 40
Cabinda 2.7% 2.5%
Bengo 3 24 2 16 5 40
Cuando Cubango 2.1% 3.3%
Angola 79 632 71 568 150 1200
Cuanza Norte 1.7% 1.1%
Fonte: Pesquisa de Capacidade Financeira GBM, Angola 2019
Nota: AE, área de enumeração. Cuanza Sul 7.2% 7.2%
Cunene 3.8% 1.8%
Huambo 7.9% 6.9%
Huila 9.6% 6.8%
Luanda 27.3% 41.9%
Lunda Norte 3.3% 3.5%
Lunda Sul 2.1% 2.6%
Malanje 3.8% 1.8%
Moxico 2.9% 2.4%
Namibe 1.9% 0.7%
Uíge 5.7% 6.4%
Zaire 2.3% 1.5%
Fonte: INE, Instituto Nacional de Estatística, Pesquisa Integrada
de Bem-Estar da População, dados adquiridos via página da
internet; Inquérito sobre a Capacidade Financeira GBM,
Angola 2019
12 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

1. INTRODUÇÃO ção, impulsionado pelo liberalização da taxa de câmbio


e, especialmente, dos preços mais altos dos alimentos
A desigualdade marca a economia angolana, mas um importados, representa uma ameaça significativa para a
forte movimento político agora visa políticas que pro- subsistência dos pobres nas zonas urbanas, que também
movam um crescimento económico mais inclusivo. A estão mais expostos a perdas de emprego e renda devido
administração do Presidente João Lourenço, iniciada em a medidas destinadas a mitigar a disseminação de COVID-
Setembro de 2017, começou a implementar reformas 19. A falta de acesso ao sector financeiro pode amplificar
para reorientar a economia angolana desvinculada da esse choque e, portanto, compreender o panorama rele-
dependência das receitas do petróleo e do crescimento vante é essencial para informar as estratégias e planos
impulsionado pela despesa pública e para a estabilidade que buscam melhorar o acesso e a capacidade financeira
macroeconómica, crescimento sustentado liderado pelo actualmente em desenvolvimento e implementação.
sector privado e melhoria do desenvolvimento humano
e redução da pobreza. Um plano provisório inicial de seis Como em muitos outros países, aumentar o acesso,
meses implementado logo após o início do mandato da uso e qualidade de produtos e serviços financeiros tor-
presidência foi seguido por um programa de estabiliza- nou-se uma prioridade em Angola. Nos últimos anos, as
ção macroeconómica e um plano de desenvolvimento autoridades angolanas têm feito esforços consideráveis
nacional que traça um roteiro para um modelo de cres- para garantir que a inclusão do sector financeiro angolano
cimento mais diversificado e inclusivo para 2018–2022 corresponda à sua profundidade e diversificação relati-
(Banco Mundial 2019a) vamente avançadas. Entre as várias medidas tomadas
pelas autoridades públicas, a criação do CNEF, Conselho
A pandemia COVID-19 atingiu duramente Angola, prin- Nacional de Estabilidade Financeira constitui um marco
cipalmente devido à queda dos preços do petróleo. importante. Composto por vários reguladores do sector
Antes da pandemia, esperava-se que o PIB de Angola financeiro e presidido pelo Ministério das Finanças, este
crescesse 2,9 por cento em 2020. O choque duplo da novo órgão tem como objectivo fortalecer a estabilidade
pandemia e o colapso do preço global do petróleo teve financeira e a confiança dos consumidores nas instituições
um impacto severo na economia angolana, e agora pre- financeiras. Em 2018, os membros do CNEF aprovaram a
vê-se uma contração de 4,0 por cento este ano. Diante Estratégia de Desenvolvimento do Sector Financeiro de
de uma queda acentuada na demanda global, os pre- Angola (PDSF). A educação financeira é uma das princi-
ços do petróleo caíram mais de 50 por cento em Abril, pais áreas para desenvolvimento de políticas dentro do
em comparação com os níveis de 2019. Angola é muito pilar de inclusão financeira do PDSF.
dependente das exportações de petróleo bruto, que
representam 96 por cento das exportações e 60 por cento Em linha com o PDSF e o seu plano estratégico bem
das receitas do governo central. Um sector petrolífero em como o Plano Nacional de Desenvolvimento, amos
depressão tem repercussões para a economia não petro- para 2018–2022, o Banco Nacional de Angola tem
lífera e as medidas tomadas para mitigar a propagação da implementado um conjunto de medidas destinadas
COVID-19 terão um impacto adverso adicional na econo- a aumentar a literacia financeira da população. Entre
mia angolana, especialmente no sector dos serviços. outras, o PDSF define medidas relacionadas à imple-
mentação de programas de educação financeira para
O choque do COVID-19 afectou os angolanos pobres padronizar e abrir contas bancárias simplificadas chama-
e vulneráveis, e estes poderão ser especialmente pre- das contas Bankita (ver caixa 2 mais adiante no capítulo
judicados se a estabilidade macroeconómica não for 3). Para o efeito, o BNA celebrou o Acordo de Adesão
salvaguardada, resultando num aumento esperado nos com os seguintes 13 bancos, Banco de Fomento Angola,
níveis de pobreza em 2020 de 32 para 38 por cento. Banco de Comércio e Indústria, Banco Comercial Ango-
Embora o impacto directo da COVID-19 na saúde em lano, Banco de Poupança e Crédito, Banco Sol, Banco de
Angola tenha sido limitado, com 2.624 casos confirma- Negócios Internacional, Banco Bic, Banco Keve, Banco
dos e 107 mortes registadas até 2 de Setembro de 2020, Bai Microfinanças, Banco Económico, Banco Millennium
as consequências económicas da pandemia deverão Atlântico, Banco Yetu e Banco de Investimento Rural,
impactar de forma significativa e adversa as populações para comercializar produtos Bankita, como contas Bankita
pobres e vulneráveis. A maioria dos angolanos trabalha à ordem e Bankita à crescer - esta última com incentivos
na agricultura de subsistência ou na economia informal à poupança. Além disso, o BNA realizou 40 campanhas e
em áreas urbanas, o que os deixa altamente vulneráveis 136 palestras em todo o país para sensibilizar e promover
a choques económicos e com pouco acesso à protecção a abertura de contas Bankita. Esses esforços traduziram-
social. A queda do preço do petróleo resultou numa nova -se em 83.186 novas contas abertas no primeiro semestre
depreciação do Kwanza angolano. O aumento da infla- de 2019 (ver caixa 2).
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 13

Num esforço conjunto com a Unidade de Informação Nº NOME SIGLA REGISTO


Financeira de Angola, o BNA desenvolveu um con-
1 BANCO ANGOLANO DE INVESTIMENTOS, S.A. BAI 40 BAI 40
junto de actividades relacionadas com o combate ao
2 BANCO YETU, S.A. YETU YETU 66
branqueamento de capitais e ao financiamento do ter-
3 BANCO BAI MICRO FINANÇAS, S.A. BMF 48
rorismo (ABC/CFT) e anti-risco que podem contribuir
para o avanço da inclusão financeira. As medidas rela- 4 BANCO BIC, S.A. BIC 51

cionadas com a lei publicada consideraram a necessidade 5 BANCO CAIXA GERAL ANGOLA, S.A. BCGA BCGA 4
urgente de revisão do sistema de prevenção e repressão 6 BANCO COMERCIAL ANGOLANO, S.A. BCA 43
ao branqueamento de capitais e financiamento do terro- 7 BANCO COMERCIAL DO HUAMBO, S.A. BCH 59
rismo para reforçar o nível de cumprimento das normas 8 BANCO DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA, S.A. BCI 5
internacionais. A Avaliação Nacional de Risco ABC/CFT, 9 BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE ANGOLA, S.A. BDA 54
lançada em 2017 e concluída em Junho de 2019, con-
10 BANCO DE FOMENTO ANGOLA, S.A BFA 6
tribuiu para a revisão do quadro ABC/CFT, que foi então
11 BANCO DE INVESTIMENTO RURAL, S.A. BIR 67
aprovado pelo Parlamento em Novembro de 2019. Este
12 BANCO DE NEGÓCIOS INTERNACIONAL, S.A. BNI 52
exercício também vai ajudar a identificar medidas sim-
plificadas de diligência (due diligence) do cliente que 13 BANCO DE POUPANÇA E CRÉDITO, S.A. BPC 10

podem apoiar a inclusão financeira, ao mesmo tempo 14 BANCO ECONÓMICO, S.A. BE 45


mitigar adequadamente os riscos de lavagem de dinheiro 15 BANCO KEVE, S.A. KEVE 47
e financiamento do terrorismo. Por último, na sua função 16 BANCO KWANZA INVESTIMENTO, S.A. BKI 57
de supervisor e garante da estabilidade financeira, o BNA 17 BANCO PRESTÍGIO, S.A. BPG 64
coordena, anualmente, o preenchimento do Formulário 18 BANCO MILLENNIUM ATLÂNTICO, S.A. ATL 55
de Eliminação de Riscos para o Grupo de Combate ao
19 BANCO SOL, S.A. BSOL BSOL 44
Branqueamento de Capitais da África Oriental e Austral
20 BANCO VALOR, S.A. BVB 62
por Instituições Bancárias e Não Financeiras, cujo objec-
21 BANCO VTB ÁFRICA, S.A. VTB 56
tivo é avaliar a existência, natureza, extensão, motivado-
res, impacto e respostas à redução do risco na região.13 22 FINIBANCO ANGOLA, S.A. FNB 58
23 STANDARD BANK DE ANGOLA, S.A. SBA 60
24 STANDARD CHARTERED BANK DE ANGOLA, S.A. SCBA 63
2. PANORAMA DO SECTOR 25 BCS — BANCO DE CRÉDITO DO SUL, S.A. BCS 70

FINANCEIRO14 26 BANCO DA CHINA LIMITADA – SUCURSAL EM LUANDA

A secção seguinte apresenta uma visão macroeconómica


do sistema financeiro nacional de Angola, que servirá financeiras não bancárias, foram autorizadas 113, sendo
para proporcionar uma melhor compreensão dos factos 66 casas de câmbio, 27 sociedades de microcrédito, 15
reportados do ponto de vista da estabilidade e integri- sociedades de remessas, duas cooperativas de crédito,
dade do sistema financeiro. uma sociedade de leasing financeiro e duas prestadoras
de serviços de pagamento — mobile banking.
2.1 BANCOS COMERCIAIS
A concentração de agências e balcões bancários é ele-
Tamanho do Sector Bancário vada nas províncias de Luanda, Benguela e Huíla em
Os bancos comerciais dominam o sector financeiro em comparação com o resto do país. O sistema bancário
Angola. No final de 2019, 26 instituições financeiras ban- angolano global era composto por um total de 1.579
cárias estavam autorizadas a operar no sistema financeiro agências e balcões bancários, 119 agências e balcões de
Angolano. Estas incluem três bancos públicos, 17 bancos câmbio, 45 agências e balcões de sociedades de micro-
privados nacionais, cinco subsidiárias de bancos estrangei- crédito, 24 agências e sucursais de sociedades de remes-
ros e uma agência estrangeira. Em relação às instituições sas e uma agência cooperativa de crédito. 55 por cento
de todas as agências e balcões bancários encontram-se
13. Dadas as reformas regulatórias a nível internacional, um cenário em Luanda, 8 por cento em Benguela e 5 por cento nas
de rescisão e restrição nas relações resultantes do fenómeno províncias da Huíla.
redução de risco (de-risk) tem sido aparente no sistema financeiro
global, no qual as instituições financeiras globais cada vez mais
encerram ou restringem as relações comerciais com empresas de Sistema Bancário — Activos
remessas e bancos locais em certas regiões do mundo, como a
No final do exercício de 2019, os activos do sistema
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, onde Angola
está localizada. bancário foram avaliados em cerca de Kz 15,76
14. O Capítulo 2 é baseado nas contribuições preliminares do BNA. bilhões, um aumento de cerca de Kz 2,86 bilhões (22
14 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

por cento) do final do exercício de 2018, influenciado, grossista e retalhista”, os bancos angolanos emitiram cré-
fundamentalmente, pelo aumento de 58 por cento de dito principalmente a empresas que se dedicavam a tra-
investimentos em bancos e outras instituições de cré- balhos de reparação (23 por cento do crédito ao sector),
dito. Os activos denominados em moedas estrangeiras negócios individuais (15 por cento do crédito ao sector) e
tiveram maior representatividade com a participação de imobiliário (14 por cento do crédito ao sector).
51 por cento e um maior aumento de Kz 1,78 bilhões
(28,14 por cento) em comparação com Kz 1,08 bilhões Evolução do Crédito Vencido
(16 por cento) de activos em moeda local. Isso foi asso- Os níveis de empréstimos inadimplentes pioraram
ciado à forte depreciação da moeda nacional em relação significativamente, registando um aumento de 43 por
à moeda estrangeira que ocorreu ao longo de 2019. cento para um total de Kz 1,60 bilhão. Desde meados
Durante à desaceleração económica, a estrutura dos acti- de 2014, altura em que começaram os desequilíbrios
vos agregados do sector bancário manteve-se tal como estruturais na economia angolana, até 2019, o crédito
a registada em 2018. Assim, embora tenha desacelerado malparado triplicou com um aumento de cerca de 336
(15 por cento vs. 28 por cento no mesmo período), a por cento. Considerando o volume de empréstimos ina-
tendência de crescimento continua no financiamento do dimplentes em Dezembro de 2019, o índice de crédito
Estado por meio de obrigações e títulos, permanecendo malparado piorou de 27 por cento para 32 por cento
o maior item em activos bancários, representando 32 por Como resultado, o apetite pelo risco de crédito manteve-
cento (figura 1). se limitado e, face a este cenário, o rácio de transforma-
ção manteve a tendência de redução, tendo diminuído
Sistema Bancário — Passivos de 44 por cento para 42 por cento (figura 3).
O passivo total do sector bancário rondava os Kz
14,12 mil milhões em 2019, um aumento de Kz 3,04 Coeficiente de solvabilidade
mil milhões (27 por cento) face a 2018, influenciado Relativamente ao rácio de solvabilidade, após um forte
principalmente por depósitos da ordem dos Kz 2,35 crescimento de 7 pontos percentuais em 2018, devido ao
mil milhões (25 por cento).15 Os recursos de clientes e reforço do capital social pelos bancos,16 verificou-se um
outros créditos continuam a ser a principal fonte de finan- decréscimo de 2,41 pontos percentuais, devido aos resul-
ciamento das instituições financeiras bancárias, com um tados negativos registados no período. No entanto, o sec-
peso de 83 por cento no total do passivo. Este passivo tor bancário permaneceu sólido e robusto, com níveis de
corresponde a Kz 11,77 mil milhões, dos quais 53 por capital acima do limite regulatório (10 por cento) (figura 4).
cento representam depósitos a prazo, que aumentaram
Kz 1,64 mil milhões (35 por cento), superior ao aumento Sistema de Pagamentos de Angola
de Kz 735,14 mil milhões (16 por cento) dos depósitos O Sistema de Pagamentos de Angola (SPA) é regulado
à ordem. No que se refere ao sector de actividade eco- pelo Banco Nacional de Angola, com vista a cumprir o
nómica, o sector bancário registou níveis mais elevados interesse público com os seguintes objectivos: segu-
de depósitos nas áreas de “particulares” (30 por cento), rança, fiabilidade operacional, eficiência e transparên-
“actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados cia. Neste contexto, as partes interessadas do SPA são,
a empresas” (21,28 por cento), “comércio grossista e entre outros, o BNA e o Conselho Técnico do Sistema de
de retalho” (12 por cento) e “outros serviços colectivos, Pagamentos de Angola. O SPA é composto por quatro
sociais e pessoais” (10 por cento) (figura 2). subsistemas de retalho: o subsistema de compensação
de cheques (SCC),17 o subsistema Multicaixa (MCX),18 o
Evolução do Crédito
No final de 2019, o crédito bruto emitido pelo sector 16. Ao abrigo do Aviso n.º 02/2018, BNA datado de 2 de Março de
2019.
bancário ascendia a Kz 4,76 mil milhões, um acréscimo 17. No SCC, o uso de cheques é significativamente reduzido, o que
de 18 por cento face aos Kz 4,16 mil milhões registados é um factor positivo — ou seja, o uso de instrumentos electróni-
no ano anterior, resultante essencialmente do impacto cos, como cartões e transferências, em detrimento dos cheques.
18. Ao nível do retalho, o ambiente 24/7/365 foi implementado
da desvalorização da moeda nacional. No que se refere no subsistema Multicaixa, através do Aviso nº. 17/06 de 10 de
ao crédito emitido pelo sector institucional, o sector Julho de 2017, Banco Nacional de Angola. Este aviso estabe-
empresarial privado não financeiro recebeu cerca de 75 lece os níveis de serviço da rede Multicaixa e garante a plena
disponibilidade em tempo real dos sistemas de informação
por cento do total da carteira, seguido do sector das pes- internos dos participantes da rede Multicaixa, necessária para a
soas físicas com 15 por cento. No sector do “comércio implementação de operações em tempo real, como é o caso das
transferências. Um novo canal de pagamento, denominado Mul-
ticaixa Express, também foi adicionado à rede Multicaixa. Esse
15. A taxa de câmbio de US $ para Kz em 31 de Dezembro de 2019 canal possibilita operações por celular semelhantes às de caixas
era de 1: 482,39, portanto, o passivo totalizava US $ 24,5 milhões electrónicas, ou uma funcionalidade de levantamento sem cartão,
em 2019. que permite ao titular do cartão gerar um código que permite
levantar dinheiro sem o uso de cartão.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 15

FIGURA 1. Estrutura de Activos

18 30%

26.11%
16
25%
Outros activos fixos
14 22.21%
Inventários comerciais e industriais e
20.55%
adiantamentos a fornecedores
12 20%
17.65% Outros activos
Mil Milhões de Kz

Crédito líquido
10 Operações de câmbio
15%
Créditos no sistema de pagamento
8
Derivados de crédito com valor justo
positivo
6 10%
Títulos e valores mobiliários
7.25%
Investimentos em bancos centrais e
4 outras instituições de crédito
5% Dinheiro e fundos disponíveis
2 1.15% Mudança anual em activos

0 0%
2014 2015 2016 2017 2018 2019

Fonte: BNA, Banco Nacional de Angola

FIGURA 2. Estrutura de passivos

16 30%
27.45%

14 24.14% 25%

Provisões técnicas
12 19.78% Provisões
20%
Fornecedores Indústriais e comerciais
17.08%
Outros passivos
10
Adiantamentos de clientes
Mil Milhões de Kz

15%
Dívida subordinada
8 Operações em moeda estrangeira (P)
Obrigações do sistema de pagamentos
8.30% 10%
Derivativos de hedge com valor
6 compartilhado negativo
Passivos financeiros ao valor justo por
5% meio do resultado
4 Passivos representados por títulos
Recursos de bancos centrais e outras
–0.75%
0% instituições de crédito
2
Recursos de clientes e outros empréstimos
Variação anual de activos

0 –5%
2014 2015 2016 2017 2018 2019

Fonte: BNA, Banco Nacional de Angola


16 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 3. Rácio de inadimplência e transformação

Rácio de inadimplência
6 32.40% 35%

28.85% 30%
5 26.97% 4.93

4.16 25%
Mil Milhões de Kz

4 3.62
3.59 3.62
3.21 20%
3
15%
2 12.67%
11.48% 1.60 10%
11.42%
1.04 1.12
1 5%
0.37 0.41 0.46

0 0%
2014 2015 2016 2017 2018 2019
Crédito bruto Empréstimo vencido Rácio de inadimplência

Rácio de Transformação
14 70%
11.77 60%
12
59.90% 58.96% 49.32%
Mil Milhões de Kz

10 9.42 50%
51.53%
8 7.33 44.15% 40%
7.02 41.88%
6.09
6 5.35 30%
4.93
3.59 3.62 3.62 4.16
4 3.21 20%

2 10%

0 0%
2014 2015 2016 2017 2018 2019
Crédito bruto total Total de depósitos Crédito bruto total / Total de depósitos

Fonte: Banco Nacional de Angola

FIGURA 4. Coeficiente de solvabilidade


2.5 30%
25.61%
2.00 25%
2.0 2.08
19.83% 19.79% 19.74% 23.20%
18.79%
Mil Milhões de Kz

20%
1.5 1.42
1.33
1.12 15%
1.0 0.92
10%

0.5 5%

0.0 0%
2014 2015 2016 2017 2018 2019
Fundos próprios regulamentares Coeficiente de Solvabilidade regulamentar

Fonte: BNA, Banco Nacional de Angola


Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 17

TABELA 3. Número e quantidade de operações processadas nos subsistemas do SPA


2016 2017 2018 VARIAÇÃO ANUAL (%)
Número 95,284,828 131,873,792 169,437,071 28.48%
SPTR 248,364 219,081 239,170 9.17%
SCC 447,000 319,181 228,617 –28.37%
STC 6,681,641 9,979,572 10,612,200 6.34%
MCX 87,907,823 121,355,954 158,357,084 30.49%
Valor 53,103,845 61,291,508 68,989,296 12.56%
SPTR 48,477,409 54,461,352 60,447,009 10.99%
SCC 1,199,968 927,934 800,107 –13.78%
STC 1,671,636 3,246,298 3,996,765 23.12%
MCX 1,754,831 2,655,925 3,745,416 41.02%
Fonte: BNA, Banco Nacional de Angola
Nota: SPTR, sistema de pagamento em tempo real; SCC, subsistema de aprovação de cheques; STC, subsistema de transferências de crédito;
MCX, subsistema Multicaixa

subsistema de transferência de crédito (STC),19 o sistema ambas com sede em Luanda. Além disso, 4 bancos comer-
de débito directo e o sistema de pagamento em tempo ciais no país oferecem serviços de microfinanças: Banco
real (SPTR).20 Actualmente, as acções apropriadas estão a Sol, Banco de Poupança e Crédito, Banco de Comércio
ser tomadas por forma a implementar o sistema de paga- e Industrial e Banco Bai Micro Finanças. Após a venda
mentos móveis e instantâneos. Em termos de inovação, do Novo Banco ao BMF, apenas uma instituição micro-
foi implementada a referência de pagamento de estado financeira não bancária (IMF) permanece em Angola,
único nos subsistemas de retalho da Câmara de Compen- KixiCredito. Em 2006, o KixiCredito foi criado a partir do
sação Automatizada de Angola para facilitar a cobrança Projecto de Meios de Vida Sustentáveis, criado em 1999
de receitas. Por último, foi criado o Laboratório de Inova- pela Development Workshop Angola com o apoio da
ção do Sistema de Pagamentos de Angola, que irá pro- One World Action, do Reino Unido. Embora o governo
porcionar um ecossistema favorável ao desenvolvimento tenha fornecido microcrédito de forma activa por meio
de tecnologias financeiras. (veja tabela 3).21 de instituições financeiras estatais, o sector privado tem
sido praticamente excluído devido a uma estrutura legal
limitada. Os altos custos operacionais, a predominância
2.2 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO
da informalidade e a dificuldade de chegar até aos resi-
BANCÁRIAS
dentes urbanos devido à falta de endereços fixos também
O sector de microfinanças é amplamente inexplorado são razões-chave para o lento desenvolvimento do sector
ou inexistente. Alguns actores que oferecem serviços de microfinanças.
limitados dominam o sector. Existem 24 instituições de
microcrédito no país; destas 22 encontram-se em Luanda Várias organizações não governamentais (ONGs) inter-
e 2 em Benguela. Existem 2 cooperativas de crédito, nacionais e nacionais e departamentos governamentais
têm programas de microfinanças em Angola. As ONGs
CARE e World Vision estão presentes em Angola desde
19. O governo de Angola executou todas as despesas públicas 1991, originalmente com foco em intervenções de emer-
através do STC, inicialmente através da aprovação de ordens
gência, como escassez de alimentos e questões de saúde
de levantamento. Este tem sido um grande sucesso, devido à
facilidade de crédito em conta corrente, devolução de fundos e e água. Ambas agora têm programas de microfinanças
redução significativa de reclamações de créditos indevidos. para virados para a reabilitação da população dos efeitos da
o STC também permite que os clientes de poupança comprem
guerra civil. A World Vision é um grupo de poupança
títulos do governo usando caixas electrónicos.
20. No que se refere ao SPTR, o processo contínuo de implantação do comunitária para mulheres de Porto Amboim criado no
ambiente 24/7/365 merece atenção especial. Isto permite alta fun- âmbito do programa Mulheres Empreendedorismo. Por
cionalidade do aplicativo, possibilitando a liquidação ininterrupta
meio do grupo de poupança, os participantes têm acesso
das operações do sistema de pagamentos de retalho, incluindo
transferências móveis e instantâneas, a depender da programação aos empréstimos do Banco Sol. Outras ONGs conhecidas
das operadoras da câmara, entre outras possibilidades. por terem operações de microfinanciamento em Angola
21. Ao longo do período de referência, o sistema de pagamentos
incluem o Departamento de Desenvolvimento Internacio-
sofreu alterações significativas, com impacto positivo na infraes-
trutura e na substituição gradual dos instrumentos físicos por nal do Reino Unido, o Programa de Desenvolvimento das
electrónicos. Nações Unidas e a Caritas. O programa de microcrédito
18 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

para Juventude em Angola foi lançado em 2007 pelo taforma da dívida, BODIVA, tem negociado obrigações
Ministério da Juventude e Desportos, com um financia- do estado desde Maio de 2015. Dezasseis instituições
mento de aproximadamente US$ 5 milhões do BPC. Este financeiras estão actualmente registadas para operar na
programa é um exemplo do envolvimento do governo no BODIVA (a bolsa de valores) (Banco Mundial 2019b). Des-
fornecimento de microfinanças em Angola. Kilapis, o pro- tas, 14 são bancos e duas são corretoras. No entanto, a
cesso em que os comerciantes recebem mercadorias de quota de mercado está concentrada, com apenas duas
outros comerciantes ou fábricas a crédito, é outra forma instituições sendo responsáveis por 70 por cento das tran-
de microcrédito em Angola. Os bens são então vendi- sacções nesta plataforma em 2017. O volume de negó-
dos com uma margem antes que o comerciante pague cios no mercado permanece baixo. Ao mesmo tempo,
o dinheiro ao seu credor. Infelizmente, actualmente não por Angola não ter grandes volumes de exportação (para
se encontram disponíveis dados ou estimativas sobre o além do petróleo), também não existem mercados de
tamanho desse mercado (GENESIS 2010). capitais relevantes ou instrumentos de investimento sofis-
ticados, tais como a possibilidade de negociar no mer-
Apesar do número crescente de participantes e da cado de derivados.
introdução de novos produtos, o sector de seguros
continua pequeno, representando 1% dos activos do
sector financeiro. Cinco seguradoras dominam o mer- 3. ALCANCE E CARÁCTER
cado segurador angolano: Saham, Ensa Seguros, Fide-
INCLUSIVO DO SECTOR
lidade, Nossa Seguros e Global Seguros. O sector de
vida é responsável por uma pequena fracção do total FINANCEIRO
de prémios, e espera-se que o sector não-vida continue A informação contida neste capítulo descreve o estado
a dominar, liderado por produtos obrigatórios, como do sector financeiro e o panorama da inclusão em
seguro de viagem e automóvel. O segmento de seguro Angola, fornecendo um contexto valioso para a inter-
de vida é extremamente pequeno devido aos altos níveis pretação dos resultados do inquérito sobre a capa-
de pobreza e à falta de uma população idosa conside- cidade financeira. A recolha de dados de inquérito de
rável. Um ambiente económico desafiador apresentará indivíduos — ou seja, do lado da demanda — pode for-
obstáculos para o crescimento e desenvolvimento geral, necer uma visão valiosa da utilização, valor e limitações
embora os esforços das autoridades para melhorar a dos serviços financeiros existentes. Os dados de inquérito
estrutura regulatória e estimular a demanda por seguro do lado da demanda também facilitam a análise de como
apoiem o aumento dos prémios. Nem seguro nem pen- os padrões de inclusão financeira variam entre segmen-
sões são usados para promover o financiamento a longo tos da população e o grau de sobreposição de compor-
prazo. O regulador de seguros, a Agência Angolana de tamentos financeiros, tais como poupança, contração
Regulação e Supervisão de Seguros, tem vindo a traba- de empréstimos e realização de pagamentos. Os dados
lhar com o sector para aumentar a gama e sofisticação e análise apresentados nos capítulos seguintes podem
dos serviços de seguros. A participação de seguradoras ser usados para identificar populações prioritárias, defi-
estrangeiras é limitada por restrições governamentais. A nir metas nacionais de inclusão financeira e conceber
pobreza e os baixos níveis de rendimento disponível para reformas e intervenções de modo a promover a inclusão
grande parte da população constituem um sério impedi- financeira em Angola. Por último, os dados podem for-
mento ao crescimento. necer um levantamento de base para medir o progresso
das reformas e iniciativas. As futuras rondas de inquéritos
Os mercados de capitais de Angola continuam subde- irão esclarecer em que medida o panorama da inclusão
senvolvidos e limitados principalmente à emissão de financeira está a mudar em Angola e até que ponto o pro-
obrigações do estado. Os mercados de capitais (obriga- gresso está distribuído de forma uniforme entre segmen-
ções e participações, leasing, capital de risco, etc.) encon- tos da população e regiões.
tram-se numa fase inicial de desenvolvimento. A sua
principal característica é a venda e compra de obrigações
do estado com prazos de vencimento curtos e longos. A 3.1 CONTAS
BODIVA - Bolsa de Dívida e Valores de Angola, formada De acordo com as constatações do Inquérito de Capa-
em 2006, está a dar os seus primeiros passos, tendo sido cidade Financeira de 2019, aproximadamente 49 por
lançada apenas em Março de 2014. Nenhuma empresa cento dos adultos inquiridos em Angola relatam pos-
está cotada ainda. Inicialmente estava prevista uma cota- suir uma conta numa instituição financeira formal, que
ção de 10 empresas para o terceiro trimestre de 2020. é uma métrica comummente utilizada para comparação
As ofertas públicas iniciais estimadas em 6.0 mil milhões internacional. Em comparação com outras economias da
de dólares foram também planeadas para 2020. A pla- África Ocidental e Austral, Angola tem um nível relativa-
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 19

mente elevado de inclusão financeira, embora esteja atrás tismo, a categoria de emprego e o consumo dos meios
de outras economias de rendimento médio-inferior (clas- de comunicação social, e que o género não explica de
sificação do Banco Mundial). Este padrão está geralmente forma significativa a inclusão financeira. As mulheres
de acordo com os outros indicadores do sector financeiro angolanas sofrem taxas mais elevadas de analfabetismo,
para Angola em comparação com os seus países pares, são mais frequentemente trabalhadoras por conta pró-
mas Angola tem uma comparação mais favorável com os pria ou estão fora da força de trabalho, e consomem
países de rendimento médio inferior em termos de densi- menos fontes de comunicação social, tudo isso significa-
dade de pontos de acesso, por exemplo, balcões de ban- tivamente associado à falta de acesso a contas correntes.
cos comerciais e ATMs por 100,000 adultos (tabela 4).22,23 Assim, embora a diferença na inclusão entre géneros seja
significativa quando se compara directamente através do
As mulheres em Angola têm menos probabilidade do teste de qui-quadrado (p=0.000), outros factores subja-
que os homens de serem incluídas financeiramente. centes explicam melhor a diferença.
A Figura 5 mostra que as mulheres têm 13.8 pontos
percentuais menos probabilidade do que os homens Embora a inclusão global seja razoavelmente elevada,
de beneficiarem da inclusão financeira. A Global Fin- as diferenças entre as zonas urbanas e rurais são enor-
dex 2014 constatou esta mesma disparidade com 22.3 mes. A Figura 5 mostra que a taxa de acesso a contas
por cento de mulheres e 36.1 por cento de homens que financeiras atinge 58 por cento nas zonas urbanas, mas cai
declaram ser titulares de uma conta numa instituição quase para a metade, a 29 por cento, nas zonas rurais. A
financeira formal.24 Esta diferença de género excede a inclusão financeira global está mais próxima da taxa para
da região em desenvolvimento da África Subsaariana, a população urbana, dado que 68 por cento dos ango-
onde 37 por cento das mulheres têm acesso a contas lanos residem em zonas urbanas (figura 72 do apêndice
em comparação com 48 por cento dos homens.25 Três A). Os angolanos das zonas rurais são menos instruídos,
especificações de um modelo de regressão multivariada com apenas metade a beneficiar de qualquer educação
na tabela 11 do apêndice B indicam que os principais após a conclusão do nível escolar primário, enquanto
impulsionadores da inclusão financeira são o analfabe- quase 80 por cento dos residentes nas zonas urbanos o
fizeram. Os rendimentos médios são também inferiores
22. De acordo com o inquérito Global Findex de 2014 em Angola, nas zonas rurais. Sessenta e sete por cento dos residentes
29.3 por cento dos adultos tinham uma conta formal. Isto nas zonas rurais auferem rendimentos na metade inferior
constituiu uma redução em relação a 2011, quando 39 por cento
dos adultos tinham acesso, e é quase metade do constatado
da distribuição de rendimentos, enquanto apenas 43 por
no Inquérito sobre Capacidade Financeira de 2019. A Caixa 1 cento dos residentes nas zonas urbanas se inserem nesta
descreve um inquérito aos comerciantes do mercado, realizado categoria.26 O analfabetismo também afecta os residen-
pelo CNEF em 2019-2020, que constatou que 37 por cento
tinham acesso a contas, um número abaixo do que consta deste tes nas zonas rurais de forma desproporcional. Vinte e
inquérito, mas explicável considerando diferentes quadros de sete por cento são incapazes de ler e escrever em portu-
amostragem. Outros inquéritos recentes são inexistentes; por-
tanto, é difícil comparar as constatações deste estudo com uma guês, substancialmente mais do que os 6 por cento dos
fonte externa usando uma amostra representativa a nível nacio- residentes nas zonas urbanas que não o podem fazer. Tal
nal. A possível explicação para o crescimento das contas são os
como no caso do impacto do género na inclusão finan-
esforços do BNA para promover a sensibilização e utilização das
contas Bankita, tal como descrito na Caixa 2. ceira, o modelo de regressão sugere que viver numa zona
23. Embora a titularidade de contas correntes tenha provavelmente rural não está significativamente associado ao acesso a
aumentado desde 2014, as diferenças entre os valores prova-
contas ao controlar outros factores sociodemográficos.
velmente reflectem diferenças nas metodologias de inquérito,
tais como diferenças na dimensão da amostra e abordagem de Estes outros factores têm maior impacto, e as políticas
selecção. Enquanto a Global Findex entrevistou 1,600 adultos, para melhorar as taxas de inclusão devem concentrar-se
o estudo actual baseia-se numa amostra ligeiramente menor
em abordá-los.
de 1,189 adultos. A Global Findex também utiliza técnicas de
amostragem de percurso aleatória, enquanto este inquérito listou
todos os agregados familiares dentro das áreas de enumeração A inclusão financeira varia significativamente por pro-
seleccionadas, gerando um quadro de amostragem actualizado a
víncia em Angola. O Mapa 1 mostra que o noroeste e o
partir do qual a amostra de adultos elegíveis a ser entrevistados
foi retirada aleatoriamente. Por último, ao comparar estatísticas centro oeste de Angola têm taxas mais elevadas de inclu-
entre inquéritos, também importa considerar as margens de erro. são financeira, enquanto as províncias do leste têm taxas
Por exemplo, o valor de 21 por cento no inquérito Global Findex
relativamente elevadas de acesso financeiro, embora
está associado a uma margem de erro (intervalo de confiança de
95 por cento) de +/-2.9 pontos percentuais, e o valor de 15 por sejam menos povoadas (Banco Mundial, 2020). A explo-
cento neste estudo está associado a uma margem de erro de ração de diamantes em Lunda Norte e Lunda Sul pode-
+/-2 por cento (intervalo de confiança de 95 por cento).
24. O inquérito Global Findex de 2014 constatou que a diferença de
género para a titularidade de contas em Angola se desenvolveu 26. O Relatório de Pobreza para Angola 2020 constatou que a
depois de 2011, quando as taxas de titularidade de contas eram incidência das taxas de pobreza é quase três vezes superior nas
iguais. zonas rurais do que nas zonas urbanas (54.7 por cento vs. 17.8
25. Inquérito Global Findex 2017 por cento).
20 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

TABELA 4. Medidas de inclusão financeira e desenvolvimento em todas as economias

BALCÕES EMPRESAS QUE CRÉDITO INTERNO


TITULARIDADE DE BANCOS USAM BANCOS FORNECIDO PIB PER
DE CONTA COMERCIAIS ATMS (POR PARA FINANCIAR PELO SECTOR CAPITA
FINANCEIRA (POR 100,000 100,000 INVESTIMENTOS FINANCEIRO (% (ACTUAL
(% DE ADULTOS) ADULTOS)g ADULTOS)g (% DE EMPRESAS) DO PIB)n US$))n

Angola 48.8a 9.5 18.9 13.1i 23.8 3,432


Camarões 34.6d
2.2 4.8 15.8 l
19.2 1,534
Costa do Marfim 41.3d 5.1 6.9 23.6l 39.1 1,716
Essuatíni 28.6b
7.0 40.8 30.4 l
27.7 4,146
Gana 57.7d 8.5 11.5 21.2j 26.1 2,202
Quénia 81.6d
5.0 9.2 31.6m
39.1 1,711
Lesotho 45.6d 3.7 14.4 51.8l 17.6 1,299
Mauritânia 20.9d
10.9 10.5 12.8 k
43.5 1,189
Moçambique 41.7d 4.2 10.8 11.4m 30.7 499
África do Sul 69.2d
10.2 67.0 34.8 h
79.1 6,374
Sudão 15.3c 3.4 6.4 6.7k 31.1 977
Zâmbia 40.2 e
3.9 11.6 12.2 j
48.0 1,540
45.9d
Rendimento médio 57.8d 8.0f 18.1f — 62.5 2,217
inferior
SSA (em 42.6d 3.9f 5.3f 19.7m 48.5 1,584
desenvolvimento)

Fonte: Ver notas com letras para mais detalhes. e


Inquérito do GBM sobre a Capacidade i
Inquérito às Empresas do GBM, 2010
Nota: SSA, África Subsaariana Financeira, Zâmbia 2016 j
Inquérito às Empresas do GBM, 2013
a
WInquérito do GBM sobre a Capacidade Finan- f
Inquérito obre o Acesso Financeiro do FMI, k
Inquérito às Empresas do GBM, 2014
ceira, Angola 2019 2014 l
Inquérito às Empresas do GBM, 2016
b
Banco de Dados Global Findex do GBM, 2011 g
Inquérito obre o Acesso Financeiro do FMI, m
Inquérito às Empresas do GBM, 2018
c
Banco de Dados Global Findex do GBM, 2014 2018 n
Indicadores de Desenvolvimento Mundial
d
Banco de Dados Global Findex do GBM, 2017 h
Inquérito às Empresas do GBM, 2007 do GBM, 2018

FIGURA 5. Inclusão financeira por características sociodemográficas

60.0% 58.3%
55.2% 53.7%
50.0% 48.8% 48.0%
41.4%
40.0%

30.0% 28.7% 28.6%

20.0%

10.0%

0.0%
All Female Male Urban Rural < 35 35–54 >= 55
years years years

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 21

CAIXA 1

Inquérito sobre comerciantes de mercado do CNEF

O Conselho Nacional de Estabilidade Financeira (CNEF) rea-


lizou dois inquéritos no mercado popular do “Km 30” entre
Agosto de 2019 e Março de 2020. Estes inquéritos abrangeram
2,940 inquiridos, representando 25,000 comerciantes regista-
dos. O objectivo do inquérito era identificar o grau de inclusão
financeira entre os comerciantes, identificar os obstáculos à acei-
tação de produtos e serviços, avaliar os hábitos de poupança,
compreender o nível de aceitação de seguros e investigar o uso
de serviços financeiros digitais. (11.0 por cento). Cinquenta e sete por cento dos comerciantes
possuem poupanças, mas apenas 26 por cento têm poupanças
Os resultados preliminares dos inquéritos indicam que o acesso a dedicadas à reforma. O numerário é de longe o instrumento de
contas está abaixo dos níveis nacionais, com 36.7 por cento dos pagamento mais utilizado, com os comerciantes a reportarem
comerciantes a relatarem o uso de bancos. Dos comerciantes 88 por cento das transacções realizadas com dinheiro físico. Dos
sem conta bancária, 69 por cento gostariam de ser titulares de que obtiveram crédito, 56 por cento procuraram investir no seu
uma conta bancária. As barreiras à titularidade de contas entre os negócio, 12 por cento pagaram despesas de saúde e 10 por
comerciantes incluíam insuficiência de dinheiro (28.1 por cento), cento pagaram despesas familiares. Apenas 10 por cento dos
falta de tempo (17.3 por cento), falta de conhecimento (12.6 por inquiridos solicitaram empréstimos bancários. Apenas 6 por
cento) e desconfiança em relação aos bancos (10.6 por cento). cento dos comerciantes possuíam qualquer tipo de seguro. O
As principais razões para o uso de contas bancárias são segu- interesse em vender produtos online é moderado, com 28 por
rança (37.2 por cento), poupança (29.4 por cento) e depósitos cento dos comerciantes a indicar interesse em fazê-lo.

MAPA 1. Inclusão financeira e rendimento médio por província

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

ria explicar o rendimento médio relativamente mais alto mais baixas de inclusão financeira, onde Malanje e Bié são
e as taxas mais altas de acesso financeiro nessas regiões as províncias com menos acesso (11.3 por cento e 12.2
em comparação com o rendimento médio inferior na por cento, respectivamente) e os rendimentos médios
província mais densamente povoada de Huíla. A capital, mais baixos (12,850 Kz e 16,320 Kz, respectivamente).
Luanda, tem quase a maior taxa de inclusão financeira,
com 59.9 por cento, eclipsada apenas por Bengo (63.7 O acesso entre populações jovens e de meia-idade é
por cento) e Cabinda (67.2 por cento), que se encontram quase equivalente, mas os adultos mais velhos bene-
nas proximidades. O centro de Angola apresenta as taxas ficiam de inclusão financeira a quase metade dessa
22 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

taxa. A Figura 5 mostra estas diferenças no acesso entre Dos angolanos sem escolaridade, 8.8 por cento declaram
grupos etários. Os adultos mais velhos com 55 anos ou ter beneficiado de inclusão financeira através da medida
mais têm acesso a uma conta bancária a uma taxa ligeira- principal do actual inquérito, enquanto as taxas sobem
mente superior à metade da taxa dos de meia-idade (29 para cerca de três quartos entre aqueles que concluíram o
por cento vs. 43 por cento). Ao olhar mais profundamente nível técnico-profissional e universitário. Dentro de todas
para as divisões de género na população idosa, apenas as categorias de estatuto de emprego, os trabalhado-
17.9 por cento das mulheres com 55 ou mais anos de res independentes relatam a taxa mais baixa de inclu-
idade relatam o acesso a uma conta bancária em compa- são financeira: 26.4 por cento. As pessoas com emprego
ração com 32.7 por cento dos homens nesta faixa etária. formal têm acesso a contas a taxas superiores de 84 por
O acesso a contas é mais elevado entre os homens de cento. Os angolanos que estão fora da força de trabalho
meia-idade, que relatam a inclusão a uma taxa de 61.3 têm uma taxa de acesso mais elevada do que os trabalha-
por cento. Esta constatação faz sentido, pois é mais pro- dores independentes (41.2 por cento vs. 26.4 por cento),
vável que sejam economicamente activos em compa- o que pode parecer contra-intuitivo mas é explicado
ração com as faixas jovens e mais velhas. O modelo de pelas características dos que são identificados como “fora
regressão apresentado na tabela 11 do apêndice B indica da força de trabalho”. Ao comparar estes dois grupos, o
que o nível da população de meia-idade é significativo e primeiro pode depender mais do apoio ao rendimento
está positivamente associado à inclusão financeira. proveniente da família, amigos e assistência comunitária
(40 por cento vs. 11 por cento), tem melhor educação (76
O acesso financeiro é mais baixo entre os segmentos por cento com nível secundário ou educação superior vs.
mais vulneráveis da população. O acesso a contas entre 50 por cento) e reside em famílias com rendimentos supe-
aqueles sem capacidade de leitura ou escrita e sem esco- riores (47 por cento acima do rendimento mediano vs. 39
laridade é quase inexistente (ver figura 6). Apenas 6.9 por por cento). O que suporta ainda mais esta constatação é
cento da população analfabeta relatam o acesso a uma a composição daqueles que estão “fora da força de tra-
conta. Entretanto, a taxa de acesso a contas é de 43.8 balho”, onde 57 por cento estão a estudar e 25 por cento
por cento entre os que têm alfabetização em português. estão a cuidar do seu agregado familiar, o que sugere um

CAIXA 2

Evolução das contas Bankita

Desde o lançamento do Bankita em 2011 até Junho de Relativamente ao monitoramento e às perspectivas de inclu-
2019, foram abertas 710,095 contas. Durante este mesmo são financeira, na primeira metade de 2019 registou-se um
período, foram emitidos 351,204 cartões de débito ATM e aumento do número de contas Bankita abertas, com um
foram criadas 1,177 contas poupança Bankita com o Crescer. impacto positivo adicional sobre os saldos, o que é prova de
O volume de depósitos negociados atingiu Kz 30.15 milhões um efeito positivo das campanhas e palestras desenvolvidas
no período em análise. pelo BNA. O desenvolvimento de várias iniciativas e programas
de inclusão financeira pode contribuir para o aumento da taxa
Uma maior proporção dos titulares destas contas são de literacia financeira, para uma redução das taxas bancárias e
homens, com 65 por cento, enquanto as mulheres repre- para a melhoria da inclusão financeira no futuro. Estas iniciati-
sentam 35 por cento do total. Tem sido realizado trabalho vas e programas incluem o observatório de inclusão financeira
para aumentar os níveis de bancarização, como campanhas de que está em construção, que deverá ajudar as autoridades na
sensibilização e palestras. Uma maior proporção de titulares identificação de políticas mais assertivas e num melhor com-
são indivíduos com idades compreendidas entre os 18 e os portamento na tomada de decisões; políticas relacionadas com
34 anos, quando se considera a titularidade de contas Bankita o inquérito sobre a capacidade financeira das famílias que per-
por grupo etário. Estes indivíduos representam 82 por cento mitirão a recolha de dados estatísticos de referência sobre os
de todos os titulares de contas, seguidos por indivíduos com níveis de capacidade financeira da população; o regime de con-
idades compreendidas entre os 35 e os 44 anos, que formam tas simplificadas, que define as regras e procedimentos associa-
11 por cento dos titulares de contas. No primeiro semestre dos à abertura, operação e encerramento de contas bancárias
de 2019, os estudantes eram a identidade social mais preva- simplificadas; a Avaliação Nacional de Riscos, que visa a identi-
lecente dos titulares de contas, com 41 por cento do total de ficação, avaliação e compreensão das vulnerabilidades, amea-
contas abertas, apesar de terem reduzido 0.64 por cento em ças e riscos de branqueamento de capitais/financiamento ao
números absolutos de titularidade. terrorismo associados aos produtos de inclusão financeira; e a
introdução de pagamentos móveis instantâneos.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 23

apoio financeiro suficiente para incentivar a abertura de capacidade financeira. Outros indicadores do comporta-
uma conta corrente. Os angolanos desempregados estão mento histórico de poupança e de consumo dos meios de
relativamente bem estabelecidos em termos de inclusão comunicação social demonstram diferenças acentuadas
financeira, com 54.1 por cento a relatar o acesso a uma nas taxas de inclusão financeira. Os adultos que poupa-
conta bancária. Enquanto 54.9 por cento dos inquiridos ram quando crianças acedem aos bancos em mais 13 por
indicaram não ser o chefe do seu agregado familiar, 76.2 cento do que os que não o fizeram (Figura 7). Ao comparar
por cento dos inquiridos desempregados fizeram-no. O o número de fontes comunicação social, aqueles que lêm,
rendimento médio do agregado familiar é também sig- assistem ou escutam mais do que a quantidade média
nificativamente superior para os inquiridos desemprega- de todos os adultos têm uma taxa de inclusão financeira
dos em 33,000 Kz, em comparação com o rendimento de 66 por cento, enquanto apenas 17 por cento dos que
mediano do agregado familiar de 18,000 Kz. Isto sugere têm um acesso aos meios de comunicação social abaixo
que o acesso financeiro relativamente melhorado dos da média têm acesso a uma conta bancária. Os angolanos
desempregados se deve em parte ao apoio de outros com rendimentos instáveis foram mais incluídos financei-
nas suas famílias e é, portanto, apenas uma opção para ramente do que aqueles com rendimentos estáveis (50
aqueles que vivem em famílias com rendimentos eleva- por cento vs. 46 por cento). Ao olhar dentro das fontes
dos, onde de outra forma a perda de emprego exigiria de rendimento para estes dois grupos, os trabalhadores
a aceitação de alguma forma de trabalho informal com independentes parecem impulsionar este resultado con-
baixo salário. Uma outra explicação para esta constata- traintuitivo. Para aqueles com rendimentos instáveis, os
ção contra-intuitiva pode ser a robusta política de desem- adultos que recebem assistência financeira da família,
prego do país.27 amigos ou da sua comunidade relatam o acesso a uma
conta corrente a uma taxa mais elevada do que aqueles
Sessenta e um por cento dos que auferem acima do com rendimentos estáveis (48 por cento vs. 36 por cento).
rendimento médio estão financeiramente incluídos, Ademais, os adultos formalmente empregados no sector
ultrapassando aqueles com rendimentos abaixo da privado com rendimentos estáveis relatam baixo acesso
mediana, onde apenas mais de um terço tem acesso a contas; o inverso é verdadeiro para aqueles com ren-
a uma conta corrente. Esta disparidade de rendimentos dimentos instáveis do emprego no sector privado formal
assemelha-se à constatada em outros inquéritos sobre (23 por cento vs. 91 por cento). O modelo de regressão
multivariada na tabela 11 do apêndice B mostra que, des-
tas quatro categorias sociodemográficas discutidas, ape-
27. A Lei Geral do Trabalho de Angola, implementada em 2015,
formalizou uma política de subsídio de desemprego que estipula nas o consumo dos meios de comunicação social explica
diferentes níveis de pagamento que dependem do motivo do de forma significativa a inclusão financeira.
despedimento.

FIGURA 6. Inclusão financeira por características sociodemográficas

90% 84.1%
80% 74.3%
70%
58.2%
60% 54.8% 54.1%
50% 45.2%
41.2%
40%
30% 27.1% 26.4%

20%
6.9% 8.8%
10%
0%
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O

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Se

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


24 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 7. Inclusão financeira por rendimento, comportamento histórico de poupança e consumo dos meios

Above median income 61.9%


Below median income 36.5%

Saved as a child 57.5%

Didn't save as a child 45.1%

Above average media consumption 66.1%

Below average media consumption 16.8%

Stable income 46.0%

Unstable income 50.1%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%


Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

3.2 TRANSFERÊNCIAS DE DINHEIRO E usar serviços de transferência de dinheiro (6.6 por cento),
SERVIÇOS FINANCEIROS MÓVEIS enquanto o uso entre outros grupos etários é equivalente
(Idade < 35: 18.4 por cento; idade 35-54: 18.0 por cento).
O uso de serviços de transferência de dinheiro é baixo
em Angola, mas o potencial de crescimento é enorme,
Um quarto dos angolanos enviou ou recebeu remessas
especificamente através de serviços digitais. Dezassete
domésticas no ano anterior, de acordo com o Inqué-
por cento dos angolanos relataram o uso de serviços de
rito Global Findex de 2014. Destas, quase nenhuma foi
transferência de dinheiro, através de um serviço de trans-
enviada através de um telemóvel (figura 9). As remes-
ferência como Western Union, banca Internet ou banca
sas nacionais foram mais frequentemente transferidas
móvel. Subjacente à pouca actividade destes serviços
pessoalmente e apenas em numerário, onde 17.7 por
está a falta de pagamentos de remessas recebidas que,
cento de todos os angolanos relataram ter participado
de acordo com as estimativas do Banco Mundial, foi de
neste tipo de transacção. As transacções efectuadas pes-
apenas 0.001 por cento do PIB.
soalmente e apenas em numerário foram relatadas por
62.6 por cento dos que enviaram ou receberam remes-
Dezassete por cento dos adultos angolanos relataram
sas nacionais. O envio de remessas nacionais através
usar um serviço de transferência de dinheiro, uma
de uma instituição financeira e através da utilização de
categoria que inclui Banca Internet, serviços como
uma conta era aproximadamente equivalente. Sete por
Western Union e a banca móvel. O uso destes serviços
cento dos angolanos relataram o primeiro e 6.8 por cento
não é igual em toda a população. Os residentes em zonas
o segundo. Dos que enviaram remessas, 24.6 por cento
urbanas relataram o uso de um serviço de transferência
enviaram através de uma instituição financeira e 23.8 por
de dinheiro quase duas vezes mais frequente do que os
cento enviaram usando uma conta.
residentes em zonas rurais (20.1 por cento vs. 11.5 por
cento); figura 8). Em todas as categorias de emprego, os
O uso de telemóveis é quase omnipresente em alguns
angolanos formalmente empregados usavam os serviços
sectores sociodemográficos em Angola, mas está bas-
de transferência de dinheiro com uma frequência signi-
tante ausente em outros. Sessenta e quatro por cento
ficativamente maior do que qualquer outra, onde 36.1
dos angolanos em geral relataram o uso de telemóveis.
por cento relataram o uso. O segundo utilizador mais fre-
Dos financeiramente incluídos, 88 por cento relataram o
quente são os cidadãos que estão fora da força de traba-
uso de telemóveis, e daqueles com rendimentos acima
lho, com 21.2 por cento. As mulheres têm tido um acesso
da mediana, 81 por cento relataram o uso de telemóveis
significativamente menor em muitos dos indicadores de
(figura 10). Estes números são eclipsados por angolanos
inclusão financeira, mas participam em serviços de trans-
com um diploma universitário ou superior, que relataram
ferência de dinheiro a uma taxa comparável à dos homens
o uso de telemóvel a 90 por cento (figura 11). Os for-
(17.2 por cento vs. 17.4 por cento). Os angolanos com 55
malmente empregados usam telemóveis a uma taxa de
anos ou mais são significativamente menos propensos a
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 25

FIGURA 8. Uso do serviço de transferência de dinheiro através de indicadores sociodemográficos

40%
36.1%
35%
30%
25% 21.3%
20.1%
20% 17.2% 17.4% 18.4% 18.0%
15.2%
15% 11.5% 11.3%
10% 8.0%
6.6%
5%
0%
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55
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35
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Ag
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em

e
Ag
In

Ag
O
lf-

Un

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 9. Remessas nacionais por método de transferência

70%
62.6%
60%

50%

40%

30% 24.6% 23.8%


20% 17.7%
11.7%
10% 7.0% 6.8% 9.1%
3.3% 2.6% 0.1% 0.3%
0%
In person and in Through a Using an Through money Through an over Through a
cash only financial account transfer service the counter mobile phone
institution service

Overall Percent of senders

Fonte: Inquérito Global Findex de 2014

FIGURA 10. Uso de telemóveis por características sociodemográficas

100%
90% 88%
79% 81%
80%
69%
70% 64%
60% 58%

50% 48%
42%
40%
32%
30%
20%
10%
0%
All mobile No access Financially Urban Rural Female Male Below Above
phone usage to formal included median median
account income income

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


26 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

85 por cento. Em contraste com estes números, apenas países da África Subsaariana, a utilização em Angola
42 por cento dos adultos sem acesso a uma conta cor- (figura 13) está ainda na sua fase inicial, com uma capaci-
rente e apenas 48 por cento dos que têm rendimentos dade significativa de crescimento.
abaixo da mediana usam um telemóvel. Os angolanos
sem escolaridade são os que menos usam os telemóveis O Banco Nacional de Angola (BNA) deu recentemente
(19 por cento), e os que estão fora da força de trabalho prioridade à implementação de um sistema de trans-
não relatam altos níveis de uso (30 por cento). O fosso ferências móveis e instantâneas. Um ambiente regula-
entre residentes nas zonas urbanas e rurais também é tório amigável ainda sofre de lacunas legais contínuas;
significativo (79 por cento vs. 32 por cento). As mulheres contudo, apesar dessas lacunas, a banca móvel tem sido
(58 por cento) usam menos telemóveis do que os homens introduzida gradualmente—actualmente, três provedores
(69 por cento), mas o fosso é menor quando comparado de dinheiro móvel estão no mercado, mas não existe inte-
com estas outras características sociodemográficas. A roperabilidade entre eles. Em Junho de 2020, o BNA pro-
Figura 12 mostra que o uso global de telemóveis é baixo mulgou uma reforma da Lei do Sistema de Pagamentos
quando comparado com outros países da região, em que de 2005 com os objectivos de cobrir o território nacional,
Angola está perto dos últimos lugares quanto ao número ser acessível a toda a população e melhorar a interope-
de assinaturas de telemóveis por 100 pessoas. rabilidade de todas as plataformas de pagamento. A
selecção de um operador tecnológico será anunciada em
O dinheiro móvel é uma indústria nascente em Angola Setembro de 2020.28
que começou a registar um crescimento exponencial. A
Tabela 5 mostra um crescimento significativo em Angola
28. Pedido de Informação. Sistema de Transferências Móveis e Ins-
desde 2015 através dos vários indicadores-chave da utili-
tantâneas. Disponível em https://www.bna.ao/Newsletter/anexos/
zação de dinheiro móvel. Quando comparada com outros RFI-STMI.pdf

FIGURA 11. Uso de telemóveis por características sociodemográficas


100%
90%
90% 85%
80% 75%
70%
70% 66% 64%
60% 58%
55%
50%
43%
40%
40%
30%
30%
19%
20%
10%
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Ag
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Un
Se

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

TABELA 5. Utilização de dinheiro móvel de 2015 a 2018


VALOR DAS TRANSAÇÕES NÚMERO DE TRAN-
NÚMERO DE AGÊNCIAS NÚMERO DE CONTAS DE EM DINHEIRO MÓVEL SAÇÕES EM DINHEIRO
DE DINHEIRO MÓVEL POR DINHEIRO MÓVEL POR (DURANTE O ANO DE MÓVEL (DURANTE O ANO
CADA 1.000Km2 CADA 1.000 ADULTOS REFERÊNCIA - % DO PIB) DE REFERÊNCIA)

2015 0.11 0.14 0.00 34,091


2016 0.12 0.06 0.00 34,128
2017 0.33 8.35 0.02 635,952
2018 0.46 9.23 0.10 2,689,262
2019 0.14 12.26 0.26 373,257
Fonte: Inquérito sobre Acesso Financeiro do FMI
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 27

Dois em cada cinco angolanos com acesso a contas 3.3 POUPANÇA E GESTÃO DE RISCOS
correntes relatam a utilização da banca Internet ou
Sessenta e dois por cento dos adultos em Angola rela-
banca móvel. A utilização da banca electrónica por
taram alguma forma de poupança, denotando-se um
parte de mulheres financeiramente incluídas é significa-
potencial a ser explorado no âmbito das Microfinanças.
tivamente inferior à dos homens financeiramente incluí-
Os angolanos guardam uma percentagem significativa
dos (21.5 por cento vs. 41.4 por cento). Ao considerar
de qualquer riqueza acumulada através de vias informais,
a população total, 8.9 por cento das mulheres e 22.9
sendo que mais de metade da população relata pou-
por cento dos homens utilizam estes serviços. As popu-
pança através do armazenamento de numerário em casa
lações rurais financeiramente incluídas tiram partido da
ou por via de um grupo de poupança informal (figura 14).
banca electrónica a uma taxa superior à dos seus homó-
Em Moçambique, 17 por cento da população nas zonas
logos das zonas urbanas (41.1 por cento vs. 31.8 por
rurais e 26 por cento da população nas zonas urbanas
cento). Isto pode dever-se à facilidade de acesso, onde
registou de poupanças formais baseadas na comuni-
os custos de deslocação a um banco são mais elevados
dade. Os angolanos de zonas rurais poupam em poupan-
nas zonas rurais. Os rendimentos também afectam a uti-
ças formais a um nível comparável de 17.4 por cento, mas
lização da banca electrónica. No entanto, a taxa compa-
os residentes em zonas urbanas dependem ainda mais
rativa de utilização da banca electrónica entre residentes
destes produtos, com 37.2 por cento a relatarem fazê-
em zonas urbanas e rurais é invertida quando se inclui os
-lo. Poucos adultos relatam poupar estritamente através
não financeiramente incluídos. Apenas 11.8 por cento
de vias formais, por exemplo, poupanças ou depósitos
de todos os residentes em zonas rurais utilizam serviços
em qualquer forma de banco comercial (30.8 por cento,
de banca electrónica e 18.6 por cento dos residentes
figura 15). A concepção do produto deve também reflec-
em zonas urbanas relatam a sua utilização. Os que têm
tir pesquisas recentes, incluindo experiências realizadas
rendimentos abaixo da mediana acedem a estes ser-
nas Filipinas, que constataram que as contas com lembre-
viços a uma taxa de 22.9 por cento, enquanto os que
tes de poupança podem impulsionar a poupança (Karlan
auferem rendimentos acima da mediana os utilizam a
et al. 2010).
uma taxa de 40.3 por cento. Embora não esteja omni-
presente, a banca Internet e a banca móvel existem den-
Um quarto dos adultos angolanos utiliza produtos con-
tro de Angola. Expandir essa utilização aos restantes 66
cebidos para gerir riscos. Os seguros gerais são deti-
por cento de não utilizadores entre os financeiramente
dos por 26.3 por cento, e os seguros de vida e saúde
incluídos e os 83 por cento de todos os não utilizadores
privados cobrem 24.7 por cento dos adultos (figura 16).
teria um impacto significativo no custo de acesso à conta
Os dois tipos de produtos de seguros são relativamente
e, por conseguinte, na inclusão financeira.

FIGURA 12. Assinatura de telemóveis (por 100 pessoas) FIGURA 13. Número de contas de dinheiro móvel por 1,000
adultos na África Subsaariana em 2018
Mauritius
Namibia
Botswana
Zambia
Lesotho
Botswana
Namibia
Zimbabwe
Zimbabwe
Uganda
Zambia
Rwanda
Rwanda
Mozambique
Cameroon
Uganda Lesotho

Mozambique Cameroon

Angola Mauritius

Madagascar Madagascar
Angola
0 20 40 60 80 100 120 140 160
0 200 400 600 800 1000
Fonte: União Internacional das Telecomunicações, Relatório e banco de
dados sobre o Desenvolvimento Mundial das Telecomunicações/ Tecnologias Fonte: Inquérito sobre Acesso Financeiro do FMI
de Informação e Comunicação
28 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

mais populares nas zonas urbanas, onde os residentes são do que de mulheres armazena as suas poupanças através
mais propensos a utilizar seguros gerais (31.2 por cento de meios formais (35.0 por cento vs. 26.1 por cento).
vs. 15.8 por cento) e seguros de vida e saúde privados
(28.7 por cento vs. 16.2 por cento) em comparação com O acesso a poupanças é maior nas zonas urbanas,
os residentes nas zonas rurais. Os adultos com rendimen- onde dois terços dos residentes conseguem poupar.
tos estáveis utilizam os produtos de gestão de risco ligei- Nas zonas rurais, esta taxa de poupança cai para pouco
ramente mais do que aqueles com rendimentos instáveis, menos de metade da população. A poupança apenas
embora estes últimos precisassem mais dos mesmos para através de métodos informais é equivalente entre os dois
gerir os riscos associados a fluxos de rendimentos irregu- ambientes, mas os residentes nas zonas urbanas poupam
lares e erráticos. Os seguros gerais cobrem 26.4 por cento em contas formais duas vezes mais do que os residentes
dos rendimentos estáveis e 24.7 por cento dos indivíduos em zonas rurais (37.2 por cento vs. 17.4 por cento).
com rendimentos instáveis, enquanto os seguros de vida
e de saúde privados cobrem 26.2 por cento e 20.6 por O uso de poupanças formais e informais varia em larga
cento destes grupos. medida através dos grupos de rendimento. As taxas
de poupança entre adultos através dos rendimentos cen-
As disparidades de género e urbanas/rurais no acesso tram-se em cerca de 60 por cento. No entanto, 37.2 por
financeiro global persistem no uso de instrumentos cento dos inquiridos com rendimentos acima da mediana
de poupança formais e informais. No geral, os homens armazenam poupanças em contas formais, em compara-
poupam a uma taxa superior à das mulheres (63.7 por ção com 24.8 por cento dos que têm rendimentos abaixo
cento vs. 59.7 por cento; figura 17.); As mulheres depen- da mediana. Entretanto, os adultos deste último grupo
dem mais de produtos de poupança informais do que os poupam exclusivamente por vias informais a uma taxa
homens, com 33.6 por cento a relatarem apenas poupan- de 35.1 por cento, quando apenas 26.7 por cento dos
ças informais em comparação com 28.8 por cento dos seus homólogos exibem este comportamento. Há pouca
homens. Além disso, uma maior percentagem de homens evidência de diferença discernível entre o acesso à pou-

FIGURA 14. Poupança formal e informal FIGURA 15. Tipos e fontes de poupanças

Formal savings/deposit
30.8%
at commercial bank
Informal savings (Kixiquila
23.7% self-help groups, money 54.7%
kept at home)
38.2%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%


7.2%
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

31.0%

FIGURA 16. Produtos de gestão de riscos

Access to Risk Management Products and Services


None Only formal General insurance (car,
Only informal Formal and informal household contents, 26.3%
building)
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019
Private life & health 24.7%
Nota: “Formal apenas” inclui adultos que relataram
insurance
actualmente utilizar uma conta poupança ou de depósito
num banco comercial ou banco comercial que lida com
microcrédito, mas não poupam através de poupanças
informais e semi-informais, por exemplo, grupos de 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%
auto-ajuda Kixiquila (carrossel) ou dinheiro guardado Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
em casa. “Informal apenas” inclui adultos que relatam
poupar através de poupanças informais e semi-informais,
por exemplo, grupos de auto-ajuda Kixiquila (carrossel)
ou dinheiro guardado em casa, mas não utilizam uma
conta poupança ou de depósito num banco comercial
ou banco comercial que lida com microcrédito.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 29

pança para adultos com rendimentos estáveis e os que este número é quase três vezes superior ao dos grupos
não os têm. seguintes dos informalmente empregados e dos desem-
pregados. Para os angolanos que estão fora da força de
Os adultos com rendimentos acima da mediana pou- trabalho ou que são trabalhadores independentes, o
pam mais, de um modo geral, e direccionam uma acesso apenas a produtos formais foi o mais baixo (4.0
parte maior das suas poupanças para contas formais, por cento e 3.7 por cento, respectivamente).
relativamente àqueles com rendimentos abaixo da
mediana. Sessenta e quatro por cento dos inquiridos A prevalência de poupanças formais e informais em
com rendimentos acima da mediana relataram qualquer Angola é distribuída espacialmente de forma hetero-
tipo de poupanças, superando os seus homólogos em génea, com áreas populacionais densas a favorecerem
4 por cento (figura 17). A utilização de contas poupança as contas formais e áreas populacionais esparsas a
formais foi relatada por 37 por cento dos indivíduos da favorecerem os métodos informais. Em Malanje e Bié,
categoria de rendimento mais elevado, enquanto ape- as duas províncias com os mais baixos níveis de densi-
nas 25 por cento dos indivíduos de rendimento inferior dade populacional e inclusão financeira, mais residentes
usaram uma conta poupança formal. Houve pouca dife- acedem a métodos de poupança informais do que em
rença entre os dois grupos quanto à utilização de con- outras províncias (mapa 2). Nas províncias densamente
tas informais (37 por cento para rendimentos acima da povoadas de Uíge, Luanda, Benguela e Huambo, as con-
mediana vs. 39 por cento para rendimentos abaixo da tas formais são relativamente populares. Certas províncias
mediana). têm baixos níveis de poupança, seja formal ou informal.
Estas incluem Namibe, Cunene e Cuanza Norte. Esta rela-
A poupança é maior entre os que têm emprego formal, ção entre áreas de densidade populacional e preferência
onde quase três quartos poupam tanto num produto por serviços financeiros formais pode ser influenciada por
formal como num informal. Estes indivíduos também uma maior densidade de pontos de acesso dentro de
não precisam de depender de produtos de poupança populações mais densas. A análise desta relação requer
informais na mesma medida em que outras categorias de dados sobre os pontos de acesso que estão fora do
emprego dependem (ver figura 18). Com 17.8 por cento âmbito deste inquérito, mas a probabilidade da correla-
a relatar possuir apenas uma conta poupança formal, ção é tal que o seu destaque é de valor.

FIGURA 17. Poupança formal e informal por contexto sociodemográfico

Female

Male

Rural

Urban

Below median income

Above median income

Unstable income

Stable income

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

None Only informal Only formal Formal and informal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


30 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 18. Poupança formal e informal por categoria de emprego

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Formal employment Out of labor force Informal employment Unemployed Self-employed

None Only informal Only formal Formal and informal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

MAPA 2. Distribuição espacial de poupança formal e poupança informal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

3.4 CRÉDITO cento e 14 por cento, respectivamente, em Moçambique.


Dezoito por cento dos residentes em zonas rurais em
Trinta e oito por cento dos adultos em Angola relatam
Angola têm acesso ao crédito informal e apenas 5 por
algum tipo de empréstimo, através de uma série de
cento contraem empréstimos junto de IMFs. Em Moçam-
fontes formais e informais (figura 19). Tanto no contexto
bique, as populações rurais relatam 14 por cento de uti-
urbano como rural, os angolanos dependem de fontes de
lização de crédito informal e 8 por cento de utilização de
crédito informais e menos de crédito de instituições de
IMFs para crédito (Banco Mundial 2014). Dezasseis por
microfinanças do que os seus pares em Moçambique.
cento dos inquiridos utilizam exclusivamente produtos
Vinte e quatro por cento dos residentes nas zonas urba-
de crédito formal (empréstimo bancário, empréstimo de
nas relatam utilização de crédito informal e 12 por cento
microfinanças, cartão de crédito, hipoteca, etc.) para con-
relatam ter contraído empréstimos junto de uma institui-
trair empréstimos, enquanto 8 por cento dos adultos satis-
ção de microfinanças (IMF), em comparação com 21 por
fazem as suas necessidades de empréstimo confiando
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 31

apenas em fontes informais, tais como um financiador, FIGURA 19. Crédito formal e informal
membro da família ou amigo. Aproximadamente 14 por
cento dos adultos misturam fontes informais e formais de
empréstimos, o que como corolário significa que 30 por
cento da população contrai empréstimos formalmente 13.9%
e 22 por cento contrai empréstimos de forma informal.
Esta popularidade relativa do crédito informal deve ser
do interesse dos decisores políticos angolanos, embora 16.0%
a compreensão desta preferência esteja para além do
62.2%
âmbito do presente relatório. Os mutuários informais
8.0%
podem carecer de um histórico de crédito suficiente ou
ser considerados demasiado arriscados pelos financiado-
res, ou os produtos que satisfazem as suas necessidades
podem não estar disponíveis. As evidências que susten-
tam estas circunstâncias teriam de ser obtidas por meio
de investigação adicional, potencialmente através de um None Only formal
inquérito do lado da oferta às instituições financeiras. Only informal Formal and informal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,


As mulheres e os angolanos das zonas rurais estão sig- Angola 2019
nificativamente atrasados em relação aos seus homó- Nota: “Formal apenas” inclui adultos que relatam usar
logos masculinos e urbanos no acesso ao crédito. actualmente uma hipoteca e produto de crédito à
Significativamente mais homens do que mulheres relatam habitação, empréstimo formal de uma entidade
comercial devidamente autorizada, cartão de crédito
qualquer tipo de empréstimo (41.5 por cento vs. 33.6 ou crédito de uma IMF ou outra formal ou cooperativa
por cento; figura 20). Ao considerar a combinação de de crédito, mas não contraem empréstimos de
empréstimos “apenas formais” e “formais e informais”, mutuantes informais, família/amigos ou grupos de
auto-ajuda. “Informal apenas” inclui adultos que relatam
os homens têm maior acesso a empréstimos formais em ter contraído empréstimos junto de mutuantes informais,
4.2 por cento. As zonas urbanas superam os seus homó- família/amigos ou grupos de auto-ajuda, mas não usam
logos rurais na utilização global de crédito, impulsiona- uma hipoteca e produto de crédito à habitação,
empréstimo formal de uma entidade comercial
das principalmente pela sua adopção de empréstimos de devidamente autorizada, cartão de crédito, ou crédito
mutuantes formais, onde o total de empréstimos é rela- de uma IMF ou outra formal ou cooperativa de crédito.

FIGURA 20. Crédito formal e informal por contexto sociodemográfico

Stable income

Unstable income

Above median income

Below median income

Urban

Rural

Male

Female

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
None Only informal Only formal Formal and informal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


32 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

tado por 36.3 por cento da população urbana versus 16.3 trabalho, 31.6 por cento utilizam produtos de crédito for-
por cento para as populações rurais. Os empréstimos mal, o que ultrapassa em grande medida todos os outros
informais também são contraídos com maior frequência grupos de estatuto de emprego excepto os que têm
por residentes em zonas urbanas (23.8 por cento) do que emprego formal (figura 21). Isto pode parecer contra-in-
por residentes em zonas rurais (17.8 por cento). Alega- tuitivo, mas esta categoria é composta em grande parte
damente, mais inquiridos rurais acedem apenas ao cré- por aqueles que estão a estudar, o que sugere que os
dito informal do que os urbanos (9.8 por cento vs. 7.1 credores consideram frequentemente que a inactividade
por cento), mas quando se compara o acesso global ao na força de trabalho é temporária e ainda dão acesso ao
crédito informal, os residentes em zonas urbanas ainda crédito a um grupo com baixo risco de incumprimento.
ultrapassam estes residentes em zonas rurais quanto ao Da mesma forma, os adultos com emprego formal têm
acesso (26.8 por cento vs. 18.0 por cento). O acesso glo- acesso a uma mistura de crédito formal e informal a uma
bal favorece adultos com rendimentos estáveis a uma taxa superior ao dobro da taxa de qualquer outro grupo,
taxa de 39.2 por cento em relação a 34.4 por cento para com 33.8 por cento a relatar a utilização destes produtos.
adultos com rendimentos instáveis, sendo esta diferença Os adultos independentes e os desempregados têm as
de 5 pontos percentuais impulsionada principalmente por menores taxas de acesso ao crédito.
mais 3.6 por cento do primeiro grupo que acede apenas
a produtos de crédito informal e que tem melhor acesso Empréstimos de bancos, instituições de microcrédito
a produtos formais, conforme esperado. e outras instituições financeiras regulamentadas são a
fonte mais relatada de empréstimos formais entre os
Os angolanos com rendimentos abaixo do rendimento adultos em Angola. Vinte e três por cento dos inquiridos
mediano têm uma taxa de acesso ao crédito inferior. relatam ter um empréstimo de uma entidade comercial
A Figura 20 mostra que apenas 34 por cento do grupo devidamente autorizada, equivalente a 4.0 milhões de
de rendimento abaixo da mediana relatam a utilização adultos (figura 22).29 Outras formas de crédito são mais
de qualquer produto de crédito, em comparação com ou menos semelhantes em termos de prevalência: 19 por
mais de 42 por cento do grupo de rendimento acima da cento utilizam cartões de crédito, 17 por cento contraem
mediana. O grupo de rendimento acima da mediana refe- empréstimos hipotecários e empréstimos de crédito à
rido acima acede tanto ao crédito formal (32 por cento vs. habitação e 10 por cento dos adultos angolanos con-
28 por cento) como ao informal (26 por cento vs. 23 por traem empréstimos junto de IMF. A análise espacial do
cento) a taxas superiores às dos seus homólogos. acesso ao crédito formal e informal mostra que as áreas

As populações com emprego formal e as que estão


fora da força de trabalho têm mais acesso a produtos 29. Segundo as estimativas da população do Banco Mundial para
2020, há 32.8 milhões de pessoas em Angola, das quais 53.6 por
de crédito do que os angolanos em outras categorias cento têm mais de 14 anos de idade. Disponível em https://data-
de emprego. Entre os adultos que estão fora da força de bank.worldbank.org/source/population-estimates-and-projections

FIGURA 21. Crédito formal e informal por estatuto de emprego

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
emprego formal fora do mercado emprego informal desempregado trabalhador por
de trabalho conta própria

nenhum apenas informal apenas formal formal e informal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 33

FIGURA 22. Tipos e fontes de empréstimo

Créditos de Insituições de Micro 23%


finança ou cooperativas

Crédito informal (credores informais, familia/ 22%


amigos, grupos de auto-ajuda)
19%
Cartões de crédito

Hipoteca e crédito imobiliário 17%

Créditos de Insituições de
10%
Micro finança ou cooperativas

0% 5% 10% 15% 20% 25%

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


Nota: Crédito formal inclui entidades como Banco De Poupança E Crédito, Banco De Fomento Angola, Banco Bic, Banco Sol, etc.
IMF, instituições de microfinanças.

MAPA 3. Distribuição espacial de empréstimo formal e empréstimo informal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


Nota: Mapa de empréstimos formais obtidos a partir da amostra de adultos com crédito formal. Mapa de empréstimos informais obtidos a partir da
amostra de adultos com crédito informal.

com maior densidade populacional têm maiores taxas de TABELA 6. Acesso ao crédito por ambiente urbano
utilização de crédito formal (mapa 3). O uso informal do URBANO RURAL
crédito também é popular em áreas de maior densidade,
Nenhum 56.6% 74.0%
mas distingue-se do crédito formal na medida em que
Apenas informal 7.1% 9.8%
as taxas são também elevadas em Malanje e Bié, onde
o acesso financeiro global é fraco. Em geral, as zonas Formal e informal 20.0% 8.3%
urbanas têm melhor acesso ao crédito formal e informal, Apenas formal 16.6% 8.0%
enquanto os que vivem em zonas rurais enfrentam difi- Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
culdades para explorar estas fontes de crédito (tabela 6).
34 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

3.5 CIDADÃOS SEM CONTA BANCÁRIA E AS mento de Angola30 deixa pouco dinheiro em excesso para
BARREIRAS À TITULARIDADE DE UMA se dedicar à poupança. O custo de empréstimo nestas
CONTA FORMAL áreas pode também ser elevado em relação a áreas com
baixo custo de vida.
Aproximadamente 9.0 milhões de adultos angolanos
não têm acesso a uma conta corrente e, conforme des-
A escassez de dinheiro das mulheres angolanas impe-
crito anteriormente, estas pessoas são desproporcio-
de-as de aceder mais a contas bancárias do que os
nalmente mais pobres, têm menos rendimento escolar
seus homólogos masculinos. Trinta e dois por cento das
e têm taxas mais altas de analfabetismo. Sessenta e
três por cento dos inquiridos com rendimento abaixo da
mediana relatam não ter actualmente uma conta junto de FIGURA 24. Insuficiência de dinheiro como a
uma instituição financeira. Noventa e três por cento dos principal barreira à titularidade de conta
inquiridos analfabetos não têm actualmente uma conta. por rendimento
No entanto, a falta de utilização de produtos financeiros
35%
não significa necessariamente falta de acesso (Banco Mun-
dial 2013). Enquanto algumas pessoas podem ter acesso 29.3% 28.5%
30%
a serviços financeiros a preços acessíveis e podem deci-
dir não os utilizar, outras podem não ter acesso devido a 25%
restrições tais como custos excessivamente elevados, ou
indisponibilidade dos serviços devido a barreiras regula- 20%
tórias ou outros factores. O Inquérito sobre Capacidade
15%
Financeira solicitou aos inquiridos que não têm uma conta
formal para relatarem o porquê. 10%

Os angolanos sem conta bancária identificaram a insu- 5%


ficiência de dinheiro como o principal obstáculo ao
0%
acesso à conta (Figura 23). A identificação de insuficiên-
Renda abaixo Renda acima
cia de dinheiro é sustentada através dos rendimentos. A da média da média
Figura 24 mostra que 29 por cento dos inquiridos com
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
rendimento abaixo da mediana identificaram esta barreira Angola 2019
como o seu principal obstáculo, tal como 28.5 por cento
dos inquiridos com rendimento acima da mediana. Isto
30. Um estudo de 2019 da Mercer classifica Luanda como a 26ª
pode parecer incongruente, mas uma explicação possível cidade mais cara entre as 209 cidades classificadas. Acessível em
é que o elevado custo de vida nas áreas de alto rendi- https://www.mercer.com/our-thinking/career/cost-of-living.html

FIGURA 23. Barreiras à conta formal (% de angolanos adultos sem conta bancária)

São muito caras 3%


Não confio nas contas 3%
Não preciso de conta 6%
Outro 7%
Estão muito longe 10%
Prefiro dinheiro 11%
Não sei abrir 12%
Documentação insuficiente 18%
Dinheiro insuficiente 29%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%


Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 35

mulheres relatam insuficiência de dinheiro como a sua (figura 26). O BNA permite uma diligência prévia simpli-
principal barreira à titularidade de contas, enquanto ape- ficada de clientes apenas para clientes governamentais.
nas 25 por cento dos homens o fazem (figura 25). Mais Os clientes individuais podem usar os seus bilhetes de
mulheres do que homens indicam também que lhes falta identidade nacionais, que têm estado disponíveis a baixo
a documentação necessária para abrir uma conta (18 por custo (15 Kz) desde 1999 e são obrigatórios a partir dos
cento vs. 15 por cento). Os homens são mais propensos a 10 anos de idade. Todavia, um relatório recente alega que
relatar que não precisam de uma conta (10 por cento vs. 12 milhões de angolanos não possuem este bilhete de
3 por cento para as mulheres). identidade ou certidão de nascimento (E-Global News
em português 2020). Estes factores podem ajudar a expli-
Os angolanos mais velhos citam esmagadoramente a car a barreira relativamente elevada criada pela insuficiên-
falta de dinheiro e a falta de necessidade como as suas cia de documentação. Dezassete por cento dos inquiridos
principais barreiras à titularidade de uma conta pou- não estavam preocupados em cobrir despesas quando
pança. A preocupação em cobrir despesas quando já não estiverem demasiado velhos para continuar a trabalhar.
trabalharem devido à idade era quase universal entre os
angolanos com 55 anos ou mais. Cerca de metade relatou Os angolanos nas zonas rurais enfrentam barreiras de
que estava muito preocupada com estas despesas. Qua- acesso diferentes das que existem nas zonas urbanas.
renta e três por cento identificam a falta de dinheiro como Mais residentes de zonas rurais do que de zonas urbanas
a sua principal barreira, significativamente mais do que relatam insuficiência de documentação (20 por cento vs.
qualquer outra barreira em qualquer outro grupo etário. 14 por cento) e que a distância é demasiado grande (14
Vinte e seis por cento identificaram a falta de necessidade por cento vs. 5 por cento) como as suas principais barrei-
como a sua principal barreira, que difere fortemente de ras ao acesso a contas (figura 27).
outras coortes etárias que raramente relataram falta de
necessidade (2 por cento dos menores de 35 anos e 7 A política pública pode abordar directamente outras
por cento de 35 a 54 anos de idade que relataram). Esta barreiras frequentemente citadas, tais como a distân-
falta de estratégias suficientes para cobrir as despesas de cia e a falta de conhecimento. Adultos com menos de
reforma entre a coorte mais velha de angolanos deve- 35 anos de idade identificaram insuficiência de documen-
ria suscitar preocupações entre os decisores políticos. tação (20 por cento), falta de compreensão sobre como
Maiores proporções de todos os angolanos mais jovens, abrir uma conta (13 por cento) e uma preferência por
aqueles com menos de 35 anos de idade, identificam a numerário (13 por cento) como três dos seus quatro maio-
insuficiência de documentação (20 por cento), a falta de res obstáculos à titularidade de uma conta (figura 26). As
compreensão sobre como abrir uma conta (13 por cento) zonas rurais enfrentam barreiras similares, com a falta de
e uma preferência por numerário (13 por cento) como as acesso a substituir uma preferência por numerário (figura
principais razões para a sua falta de titularidade de conta 27). No geral, 12 por cento dos adultos sem conta bancá-

FIGURA 25. As seis maiores barreiras à conta bancária por género

35%
32%
30%
25%
25%

20% 18%
15%
15%
12% 13% 11%
10% 10%
10% 9% 10%

5%
3%
0%
Dinheiro Documentação Não sei abrir Prefiro dinheiro Estão muito Não preciso
insuficiente insuficiente longe de conta

Feminino Masculino
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
Nota: Respostas apenas de angolanos sem conta bancária
36 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 26. As seis maiores barreiras à conta formal por idade

50%

45% 43%

40%

35%

30% 30%

26%
25% 24%
20%
20%
15%
15% 13% 14% 13%
10% 9% 10%
10% 9%
7% 7%
5%
5% 3%
2%
0%
Dinheiro Documentação Não preciso Não sei abrir Prefiro dinheiro Estão muito
insuficiente insuficiente longe

Idade <35 Idade <55 Idade > = 55

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 27. As seis maiores barreiras à conta formal por ambiente urbano/rural

35%
30%
30%
28%

25%
20%
20%

15% 14%
13%
12% 13%
10%
10% 9%
7%
5% 4%
3%

0%
Dinheiro Documentação Prefiro dinheiro Nao sei abrir Outros Nao preciso
insuficiente insuficiente

Urbano Rural

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

ria são dissuadidos de abrir uma conta devido a uma falta nas (14 por cento vs. 5 por cento). A literacia financeira e
de compreensão sobre como abrir uma. Dez por cento políticas para incentivar bancos e instituições financeiras
referem a falta de acesso como a sua principal barreira, não-bancárias a servir áreas onde o acesso é actualmente
com as zonas rurais a identificarem esta restrição com limitado podem ser eficazes para reduzir ainda mais estas
uma frequência quase três maior do que as zonas urba- barreiras.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 37

4. CAPACIDADE FINANCEIRA Para avaliar os conhecimentos financeiros e as com-


petências básicas em numeracia dos inquiridos, foram
acrescentadas seis perguntas31 ao Inquérito sobre a
Capacidade Financeira de Angola de 2019, abrangendo
Capacidade financeira é a capacidade interna de conceitos matemáticos e financeiros básicos como infla-
agir no seu melhor interesse financeiro, dadas as ção, juros compostos, diversificação de riscos e o princi-
condições socioeconómicas e ambientais. Por pal objectivo dos produtos de seguros. Estas perguntas
conseguinte, engloba os conhecimentos, atitu- captam conceitos e competências financeiros que são
des, competências e comportamentos de consu- amplamente considerados como cruciais para decisões
midores em termos de gestão dos seus recursos informadas de poupança e empréstimos e para ser capaz
e compreensão, selecção e utilização de serviços de mitigar os riscos de forma mais eficaz e tirar partido
financeiros que se adeqúem às suas necessidades. das oportunidades de investimento. Foi construído um
índice de literacia financeira com base no número de res-
postas correctas dadas por cada participante no inquérito
às sete perguntas sobre literacia financeira. Este índice
4.1 CONHECIMENTO DE CONCEITOS
varia de 0 a 6, sendo que 0 indica os inquiridos que mais
FINANCEIROS
dificuldades têm em responder correctamente a qualquer
Há evidências substanciais que indicam que a falta de uma destas perguntas. Uma pontuação de 6 indica par-
conhecimento e competências financeiras contribuiram ticipantes no inquérito com uma boa compreensão dos
para a crise financeira global de 2008. É uma hipótese bem conceitos financeiros fundamentais e a capacidade de
aceite que as limitações na capacidade dos consumidores efectuar cálculos matemáticos simples. A Caixa 3 fornece
de compreender plenamente os produtos financeiros e o questionário sobre literacia financeira que foi usado
os riscos que assumiram contribuíram significativamente durante o inquérito.
para a pior crise financeira desde a Grande Depressão
(Gerardi et al. 2010; Klapper et al. 2012). Os resultados do inquérito sugerem que, em média,
os adultos angolanos foram capazes de responder cor-
Os conhecimentos e competências financeiras são rectamente a 2.6 das seis perguntas relacionadas com
ainda mais importantes num ambiente em que os pro- a literacia financeira. Mais de metade da população
dutos financeiros são cada vez mais complexos e são respondeu correctamente a pelo menos três perguntas,
acessíveis através de novos canais de distribuição. Gra- mas poucos obtiveram cinco respostas correctas (9.9 por
ças ao lançamento de serviços bancários móveis como cento) e apenas 2.1 por cento conseguiram dar respos-
M-Pitesan, Wave Money, myKyat e True Money, os pro- tas correctas a todas as seis perguntas (figura 28). Mais
dutos e serviços financeiros móveis estão a tornar-se cada angolanos responderam correctamente a duas pergun-
vez mais acessíveis aos segmentos anteriormente desco- tas (23.8 por cento) do que qualquer outro número de
nectados. Embora estes desenvolvimentos proporcionem respostas correctas.
benefícios, os mesmos também suportam riscos com os
quais os actuais e novos clientes podem não estar familia- A análise do desempenho em cada um destes concei-
rizados. Para poder beneficiar destas novas oportunida- tos financeiros revela que, embora os adultos ango-
des sem estar exposto a riscos indevidos, é necessário um lanos se sintam à vontade para realizar uma divisão
certo nível de conhecimentos e competências financeiras. simples, uma compreensão limitada dos conceitos mais
complexos deixa-os vulneráveis a más decisões finan-
Um estudo de 2014 da Standard & Poor’s Ratings Ser- ceiras. A Figura 29 mostra que 71 por cento dos inqui-
vices sobre literacia financeira em 142 países constatou ridos foram capazes de calcular correctamente a divisão
que apenas 15 por cento dos adultos angolanos tinham de um presente. O desempenho nas outras respostas
conhecimentos sobre literacia financeira (Klapper et al. foi em média de 38 por cento. Todos os inquiridos res-
2015). O estudo mediu os seguintes quatro conceitos ponderam à pergunta sobre a diversificação de riscos e
fundamentais da tomada de decisões financeiras: nume- 41 por cento fizeram-no correctamente. Um pouco mais
racia básica, composição de juros, inflação e diversifica- de um terço dos inquiridos identificou correctamente o
ção de riscos. Com a alfabetização financeira definida objectivo do seguro, com um quarto a responder que não
como responder correctamente a três das quatro pergun- sabia qual era o objectivo de uma apólice de seguros. As
tas relacionadas com estes conceitos, os angolanos clas- perguntas sobre inflação e juros compostos produziram
sificaram-se em 145º lugar entre os 148 países inquiridos.
Ver Caixa 4 para informações adicionais. 31. Uma sétima pergunta relativa ao cálculo de juros simples foi tam-
bém incluída no questionário, mas a administração da mesma foi
considerada defeituosa e, por isso, foi retirada dos resultados.
38 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

CAIXA 3

Questionário sobre literacia financeira


PERGUNTA 1. Imagine que cinco irmãos recebem um presente de 10,000 Kwanza. Se os irmãos tiverem de
dividir o dinheiro por igual, quanto é que cada um recebe?
PERGUNTA 2. Agora, imagine que os cinco irmãos têm de esperar um ano para conseguir a sua parte dos
10,000 Kwanza e a inflação mantém-se nos 10%. Dentro de um ano, poderão comprar:
• Mais com a sua parte do dinheiro do que poderiam comprar hoje
• A mesma quantidade
• Menos do que poderiam comprar hoje
• Depende dos tipos de coisas que querem comprar (não ler esta opção)
PERGUNTA 3. Quanto estaria na conta no final de cinco anos? Seria
• Mais de 11,000 Kwanza
• Exactamente 11,000 Kwanza
• Menos de 11,000 Kwanza
• É impossível dizer a partir da informação dada
PERGUNTA 4. Vamos supor que viu uma televisão do mesmo modelo à venda em duas lojas diferentes. O preço
de retalho inicial era de 10,000 Kwanza. Uma loja ofereceu um desconto de 1,500 Kwanza, enquanto a outra
ofereceu um desconto de 10%. Qual deles é um melhor negócio, um desconto de 1.500 Kwanza ou de 10%?
• Um desconto de 1,500 Kwanza
• É o mesmo
• Um desconto de 10%
PERGUNTA 5. Qual das seguintes afirmações descreve melhor o objectivo principal dos produtos de seguros?
• Acumular poupanças
• Proteger contra riscos
• Efectuar pagamentos ou enviar dinheiro
• Outro
PERGUNTA 6. Suponha que tem dinheiro para investir. É mais seguro comprar acções de uma só empresa ou
comprar acções de muitas empresas?
• Comprar acções de uma empresa
• Comprar acções de muitas empresas

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 28. Visão geral sobre literacia financeira

25.0% 23.8%
21.8%
20.0%
17.6%

15.0% 13.9%
10.9%
9.9%
10.0%

5.0%
2.1%

0.0%
0 1 2 3 4 5 6
Pontuação de literacia financeira

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 39

CAIXA 4

O Inquérito Global da S&P sobre Literacia Financeira


O Inquérito Global sobre Literacia Financeira da Standard & Poor’s Ratings Service (Inquérito Global S&P
FinLit) procurou fornecer informações sobre competências financeiras em todo o mundo e foi concluído
em 2014. Este inquérito visava indivíduos com 15 anos ou mais em 142 economias de todo o mundo. A
literacia financeira foi medida através da avaliação do conhecimento de quatro conceitos fundamentais na
tomada de decisões financeiras: conhecimento de taxas de juro, juros compostos, inflação e diversificação
de riscos. Os inquiridos eram considerados financeiramente alfabetizados se respondessem correctamente
a questões relacionadas com pelo menos três destes conceitos.

A literacia financeira foi classificada globalmente em 33 por cento e variou de tão alta como 71 por cento
na Dinamarca, Noruega e Suécia e tão baixa como 13 por cento no Iémen.

Quinze por cento da população angolana estava determinada a melhorar a literacia financeira. Vinte e
seis por cento compreendiam o conceito de juros, 17 por cento compreendiam a inflação e 38 por cento
compreendiam a diversificação de riscos. Sessenta e oito por cento da população alegaram a compreen-
são da medida de juros compostos, embora isto reconcilie mal com a compreensão relativamente inferior
sobre os juros simples. Ao condicionar-se a uma compreensão de juros simples, a compreensão de juros
compostos cai para 21 por cento e a literacia financeira global cairia para 12 por cento — a mais baixa de
todos os países inquiridos.

FIGURA 29. Visão geral das perguntas do questionário sobre literacia financeira

1. Divisão simples 14% 71% 14%

2. Inflação 37% 31% 32%

3. Juros compostos 30% 31% 39%

4. Comparação
28% 49% 24%
descontos

5. Propósito dos
41% 36% 23%
seguros

6. Diversificação de
59% 41% 0%
juros

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Incorrecto Correcto Não sabe

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

ambas uma taxa de resposta correcta de 31 por cento, À semelhança das medidas de inclusão financeira
embora a maioria tenha respondido de forma incorrecta à demonstradas anteriormente, alguns segmentos da
pergunta sobre a inflação em vez de dizer que não sabia população angolana têm mais dificuldades em concei-
(37 por cento vs. 30 por cento). Tratar do fraco desem- tos financeiros básicos do que a população dos seus paí-
penho nesta avaliação de competências será um desa- ses pares. As mulheres tiveram um desempenho inferior
fio significativo para os intervenientes, e a melhoria das ao dos homens em 0.4 pontos (figura 30). Os residentes
habilidades de cálculo será essencial para assegurar que a em zonas rurais tiveram um desempenho inferior ao dos
população angolana possa tomar decisões prudentes em residentes em zonas urbanas em 1.0 pontos. Foi evidente
matéria de consumo, poupança e investimento. a semelhança entre os jovens adultos de Angola (com
40 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 30. Pontuação de literacia financeira por contexto sociodemográfico (número de respostas
correctas)
6.0

5.0

4.0
2.9 3.1
3.0 2.8 2.7 2.7 2.8
2.4 2.5
1.9 1.9
2.0 1.7

1.0

0.0
o

no

os

os

os

so aç s

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Po anç u

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ei alt
ei ba
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

m
menos de 35 anos) e os adultos de meia- FIGURA 31. Pontuação de literacia financeira por nível de
idade (35 a 54 anos), pois ambos obtiveram instrução (número de respostas correctas)
uma pontuação média de 2.7 na avaliação
6.0
da literacia financeira. No entanto, os ango-
lanos mais velhos (55 anos ou mais) tiveram 5.0
um desempenho de 0.8 pontos abaixo. Os
4.0
angolanos com menor acesso aos meios 3.2
2.8 2.9
de comunicação social também tiveram um 3.0
desempenho relativamente fraco. A sua pon- 2.0 2.0

tuação de literacia financeira de 1.7 foi pouco 1.0


1.0 0.8
mais de metade da pontuação dos seus
homólogos com um elevado consumo dos 0.0
nalfabeto alfabetizado sem primário secundário Universidade
meios de comunicação social. Aqueles que escolaridade ou acima
pouparam quando crianças também tiveram -
um desempenho marginalmente melhor do Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
que aqueles que não o fizeram, obtendo uma
média de 2.8 versus 2.5 no questionário, embora esta dife- a literacia financeira, os estudantes aprendem habilida-
rença não seja significativa (p=0.313). des de cálculo que podem ser aplicadas às decisões
financeiras. As melhorias no acesso à educação, mesmo
Os angolanos instruídos têm uma melhor educação sem quaisquer alterações curriculares, podem conduzir a
financeira, mas a melhoria das capacidades financei- uma melhoria global da literacia financeira e, no mínimo,
ras diminui para além do ensino secundário. Existe devem ajudar a colmatar a lacuna entre os menos capa-
um fosso significativo na literacia financeira entre os zes e os seus homólogos com maior domínio dos con-
angolanos alfabetizados e analfabetos. Os primeiros ceitos de literacia financeira.
obtiveram uma pontuação média de 2.8 na avaliação de
competências, enquanto os segundos apenas atingiram Os angolanos em situações socioeconómicas associa-
uma pontuação média de 1.0 (figura 31). Os angolanos das à segurança financeira e à riqueza têm um maior
sem instrução tiveram um desempenho ainda pior, com domínio dos conceitos de literacia financeira do que os
uma média de apenas 0.8 respostas correctas na avalia- que se encontram em situações mais precárias. Em toda
ção. Os adultos com educação primária registaram uma a distribuição de rendimentos, os inquiridos com rendi-
melhoria de 1.2 pontos na sua pontuação média e uma mento acima da mediana obtiveram mais de 1.2 pontos
melhoria adicional de 0.9 pontos veio do ensino secun- acima da metade mais pobre da população (figura 32).
dário. A escolaridade para além deste nível resultou em Existe pouca diferença na literacia financeira entre agre-
pontuações mais altas, mas a melhoria foi de apenas gados familiares com rendimentos estáveis e rendimentos
0.3 pontos para os inquiridos com o ensino superior. instáveis. O ambiente de trabalho é também importante
Embora as escolas possam não promover directamente na identificação da literacia financeira. Os angolanos com
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 41

FIGURA 32. Pontuação de literacia financeira por contexto sociodemográfico (número de respostas
correctas)
6.0

5.0

4.0 3.5
3.2
3.0 2.7 2.8 2.8
2.6 2.5
2.0 2.0
2.0

1.0

0.0
abaixo acima renda renda empregado emprego desempregado fora do emprego
da renda da renda instável estável por conta informal mercado formal
média média própria laboral

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

emprego formal obtiveram a pontuação mais alta, com compreensão de juros compostos ocupa o sexto lugar
uma média de 3.5 no questionário. Entretanto, os ango- entre todos os outros países do mundo desenvolvido
lanos que trabalham por conta própria obtiveram uma e em desenvolvimento para os quais estão disponíveis
pontuação média de 2.0, 1.5 pontos abaixo da pontuação indicadores comparáveis.
máxima. O desempenho para outros ambientes de traba-
lho caiu entre estes dois pólos. Existem muitas correla- Uma autoavaliação revela que, para todos os ter-
ções entre estas categorias, por exemplo, os adultos com mos básicos relacionados com finanças, quatro em
emprego formal têm níveis de educação mais altos, con- cada cinco angolanos afirmam ter ouvido falar deles,
somem meios de comunicação social de diversas fontes, e mais de metade afirma compreendê-los. Os ango-
vivem em zonas urbanas e enquadram-se em categorias lanos têm maior exposição ao conceito de “dívida”: 88
de rendimento mais elevado. Uma regressão multivariada por cento dos inquiridos indicaram já ter ouvido falar do
com estas variáveis sociodemográficas sobre a literacia termo (figura 33). Dívida é também o termo com que os
financeira demonstra que existem preditores significati- angolanos estão mais familiarizados: 72 por cento autoa-
vos entre eles (tabela 12 do apêndice B). Todos os níveis valiam-se como entendendo-o. Os termos “fontes de ren-
de educação têm um impacto significativo na literacia dimento” e “orçamento familiar” apresentam os menores
financeira. Uma formação universitária ou o ensino supe- índices de exposição. Ambos são reconhecidos por 78
rior traduz-se num aumento de 1.3 pontos na classificação por centodos respondentes como tendo ouvido falar
da literacia financeira. O aumento do rendimento e do dele e, em ambos os casos, apenas menos da metade
consumo dos meios de comunicação social são também relatou saber o significado. A ordem de compreensão
preditores de pontuações de literacia financeira mais destes termos sugere que os angolanos têm uma com-
altas. Dentro do mercado laboral, estar fora da força de preensão mais forte de como e onde poupar dinheiro e
trabalho prevê de forma significativa a pontuação de lite- que o empréstimo é uma opção financeira viável, embora
racia financeira no modelo especificado com todas as tenham uma compreensão mais fraca da discussão formal
variáveis sociodemográficas. sobre rendimentos e orçamento.

Uma comparação internacional com inquiridos de 21 Adultos que contraíram empréstimos com valores acima
países sobre medidas-chave para a literacia financeira das suas capacidades de reembolso eram significativa-
confirma que Angola enfrenta desafios significativos mente menos propensos a compreender o conceito de
em matéria de conhecimentos financeiros e que os juros compostos do que aqueles que pediram emprés-
níveis de consciencialização são um desafio significa- timos dentro das suas possibilidades de reembolso. A
tivo que exige respostas políticas imediatas. A Tabela Figura 33 ilustra que aqueles com capacidade para pedir
8 demonstra a proporção de adultos com boa percep- mais empréstimos tinham mais conhecimento do que
ção de conceitos básicos como inflação, juros simples aqueles que contraíram empréstimos dentro dos seus limi-
e compostos em 21 países e aqueles que se sentem tes (34 por cento vs. 26 por cento). Aqueles que contraí-
confortáveis em realizar divisões simples. Os adultos ram empréstimos acima dos seus limites eram os menos
angolanos classificam-se perto da base em duas das conhecedores dessas áreas: apenas 15% responderam
três categorias de comparação, mas estão mais próxi- correctamente à solicitação de juros compostos. Desses
mos dos países pares na compreensão da inflação. A sua três subgrupos, o último é o mais vulnerável a cair nas
42 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

TABELA 7. Comparação das pontuações de literacia financeira entre os diferentes países

JUROS JUROS DIVISÃO


PAÍS ANO INFLAÇÃO SIMPLES COMPOSTOS SIMPLES
Albania 2011 61 40 10 89
Angola 2019 31a N/Ab 31c 71
Armenia 2010 83 53 18 86
Colombia 2012 69 19 26 86
República Checa. 2010 80 60 32 93
Estónia 2010 86 64 31 93
Alemanha 2010 61 64 47 84
Hungria 2010 78 61 46 96
Irlanda 2010 58 76 29 93
Líbano 2012 69 66 23 88
Malásia 2010 62 54 30 93
México 2012 55 30 31 80
Mongolia 2012 39 69 58 97
Moçambique 2013 28 78 28 93
Myanmar 2017 48 16 11 98
Filipinas 2014 49 51 29 77
Perú 2010 63 40 14 90
Polónia 2010 77 60 27 91
Africa do Sul 2010 49 44 21 79
Turquia 2012 46 28 18 84
Uruguai 2012 82 50 40 86
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
a
pesquisa global “S&P Global FinLit Survey” de 2014 apurou que 17 por cento dos angolanos tinham um entendimento da inflação, que é muito
inferior aos 31 por cento encontrados neste Inquérito sobre a Capacidade Financeira (Klapper et al. 2015). Em meados de 2014, uma descida
acentuada e prolongada dos preços do petróleo, que serviu de impulso para a economia angolana, teve impactos negativos significativos na
economia. A resposta do governo aos bancos subcapitalizados e sistemicamente importantes, a perda de uma relação de correspondência
bancária de dólares com os EUA e empréstimos improdutivos levaram a uma escalada significativa da inflação em 2016. Em Dezembro do
mesmo ano, a inflação atingiu um pico de 41 por cento antes de voltar a 19 por cento em Agosto de 2018 (Banco Mundial 2020). Este episódio
sem dúvida despertou a consciência sobre a inflação e explica o grande aumento do seu entendimento entre 2014 e 2019.
b
A pesquisa global “S&P Global FinLit Survey” de 2014 apurou que 26 por cento dos angolanos compreenderam o conceito de juros simples
(Klapper et al. 2015). Este número está classificado no 19.º lugar numa comparação de 21 países.
c
A S&P Global FinLit Survey de 2014 apurou que 50 por cento dos angolanos compreenderam o conceito de juros compostos, segundo uma
das duas perguntas que se alinhavam estreitamente com a sintaxe usada neste Inquérito sobre a Capacidade Financeira (Klapper et al. 2015).
Conforme descrito na Caixa 3, condicionar os juros compostos ao entendimento dos juros simples reduz esse número para 21%.

armadilhas do endividamento. A sua falta de compreensão aqueles que o fazem. No entanto, essa diferença não
sobre literacia financeira em geral e em particular sobre o é significativa, pois um teste de qui-quadrado mostrou
impacto dos juros compostos é uma das causas dos pro- diferenças insignificantes entre os resultados dos dois
blemas financeiros da população, e os decisores políticos grupos (p = 0,459).
devem focalizar sua atenção na educação financeira como
meio de evitar o aumento dos níveis de pobreza. Os agregados familiares angolanos com alguma dívida
são mais propensos a compreender juros compostos
O inquérito não encontrou uma relação forte entre o do que aqueles com pouca ou nenhuma dívida ou mon-
entendimento dos juros compostos e o pagamento tantes significativos de dívida. Os agregados familiares
de dívidas quando sobra dinheiro para outros gas- com níveis de endividamento entre dois e 12 meses de
tos. A Figura 34 ilustra que os adultos angolanos que renda tiveram melhor desempenho na questão sobre
não usam o dinheiro excedente para pagar dívidas tive- juros compostos, com 47 por cento dos inquiridos dentro
ram um desempenho marginalmente melhor do que deste grupo a calcular correctamente o saldo de juros de
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 43

FIGURA 33. Conhecimento da terminologia financeira

Divida 72% 16% 13%

Conta bancária 63% 20% 17%

Poupança 58% 27% 15%

Investimento 55% 27% 18%

Renda 53% 26% 21%

Orçamento familiar 48% 30% 22%

Fontes de renda 47% 30% 22%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Sabe o significado Ouviu falar mas não sabe o significado Nunca ouviu falar

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 34. Compreensão dos juros compostos conforme FIGURA 35. Compreensão dos juros compostos, conforme
evidenciado pela capacidade de pagar dívidas evidenciado pelo uso do dinheiro excedente para o
pagamento de dívidas
100%
100%
90%
37% 90%
80% 38% 28%
80% 34%
54%
70%
70%
60%
60% 29%
50% 26%
34% 50%
40% 34%
15%
40%
30%
30%
20% 37%
31% 28% 20% 43%
10% 32%
10%
0%
Contraiu Contraiu Podia contrair mais 0%
empréstimos empréstimos empréstimos/Não
Usa dinheiro que sobra Não usa dinheiro que
acima dos rendimentos até ao limite contraiu empréstimos
para pagar dívidas sobra para pagar dívidas
Incorrecto Correcto Não sabe
Incorrecto Correcto Não sabe
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
44 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 36. Compreensão dos juros compostos por endividamento total

100%
90%
31% 31%
80% 42%
70% 57%

60%
32%
50%
29% 47%
40%
30% 28%
20% 37%
29%
10% 22%
15%
0%
Sem nenhuma dívida Menos que ou igual Entre 2 a 12 meses Mais de 12 meses
a um mês de de rendimentos de rendimento
rendimentos
Incorrecto Correcto Não sabe

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

um ano (figura 35). Os agregados familiares sem dívidas sobre conhecimento financeiro com as necessidades
conseguiam fazê-lo 29 por cento das vezes, aqueles com subjectivas de educação, os inquiridos também foram
dívidas menores ou iguais a um mês de renda em 32 por solicitados a autoavaliar a sua compreensão de termos
cento das vezes, e aqueles com um montante de dívidas e conceitos básicos, como taxas de juros, produtos de
maior que um ano de renda 28 por cento das vezes. Os seguro, taxas de câmbio, inflação e acções. Os relatos
agregados familiares com um nível moderado de dívida da população sobre o conhecimento dos conceitos de
podem compreender que níveis de dívida sustentáveis juros foram os mais avaliados, com 86 por cento a obser-
podem levar a melhores resultados a longo prazo e que var familiaridade com o termo e 68 por cento a identi-
o nível óptimo de dívida em Angola está entre dois e 12 ficar que sabiam o significado (figura 37). No entanto,
meses de renda. quando comparado com o desempenho no questionário
de educação financeira, 41 por cento de todos os inqui-
A falta de entendimento sobre os juros compostos ridos identificaram-se como conhecedores do conceito
pode ter consequências de longo prazo, em particu- de juros, mas apenas metade deles respondeu correc-
lar para a poupança de longo prazo e a acumulação tamente à pergunta sobre juros compostos (figura 38).
de riqueza, como demonstram as evidências de uma Quanto à inflação os relatos da população traduziram-se
recente experiência de campo na China. A experiência em níveis mais baixos em comparação com outros, onde
analisou a relação entre a compreensão da natureza dos apenas mais da metade dos inquiridos afirmaram terem
juros compostos e da poupança para a reforma na China, conhecimento do termo. De todos os inquiridos, 39 por
com base em uma amostra de mil agregados familiares. cento indicaram que sabiam o significado. Quando com-
Concluiu que os agregados familiares que foram desig- binado com a sua capacidade de identificar o resultado
nados aleatoriamente a uma formação sobre educação de um ano de inflação sobre o poder de compra, metade
financeira que enfatizava o conceito de juros compos- daqueles que indicaram saber o significado consegui-
tos aumentaram as suas contribuições para pensões de ram identificar correctamente o impacto. Curiosamente,
reforma em cerca de 40 por cento em comparação com um número semelhante de pessoas que relataram nunca
um grupo de controlo que não recebeu esta formação ter ouvido o termo também conseguiu identificar correc-
(Song 2020). tamente o impacto. Os angolanos responderam ao con-
ceito de ‘seguros’ com familiaridade. Oitenta e um por
Relatos da população sobre o conhecimento de con- cento já ouviram falar do termo e 61 por cento relataram
ceitos e produtos financeiros é alto, mas os resulta- que sabem o significado. Ao escolher entre as opções
dos da avaliação objectiva não suportam totalmente sobre o propósito de seguro, mais da metade desses 61
uma compreensão mais profunda dessas ideias. Para por cento estavam correctas (54 por cento).
comparar as descobertas objectivas do questionário
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 45

FIGURA 37. Relatos da população sobre o conhecimento de conceitos e produtos financeiros

Juros 68% 18% 15%

Seguros 61% 20% 20%

Taxa de câmbio 55% 19% 26%

Inflação 39% 15% 45%

Acções 39% 17% 45%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Sabe o significado Ouviu falar mas não sabe o significado Nunca ouviu falar

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

4.2 CONHECIMENTO DE PRODUTOS FIGURA 38. Relatos da população sobre o conhecimento


FINANCEIROS de conceitos financeiros vs. desempenho no questionárioa

Para avaliar o grau de sensibilização dos participantes 100%


do inquérito para as questões relativas aos produtos 90% 18% 19%
financeiros, o Inquérito sobre a Capacidade Financeira
80% 38%
recolheu informações sobre a familiaridade das pessoas 15% 17%
com os produtos oferecidos por diferentes provedores 70%
de serviços financeiros. Em particular, durante o inquérito 60%
os participantes foram questionados se estavam familiari-
50% 21%
zados com os produtos oferecidos por bancos comerciais, 36% 34%
seguradoras, corretoras, organizações de microcrédito, 40%
instituições financeiras não bancárias, agências de câmbio, 30% 20%
agentes de transferência de dinheiro, agentes de seguros
e pela bolsa do Mercado de Capitais de Angola. Um índice 20%
31% 30%
de conscientização de produtos financeiros foi então 10% 21%
construído com base no número de produtos financeiros
0%
conhecidos, conforme indicado por cada participante no Inflação Seguros Juros (Compostos)
inquérito. Esse índice varia de 0 a 9, sendo que 0 indica
Reportou falta de conhecimento e respondeu incorrectamente
que os inquiridos não estavam familiarizados com nenhum
produto oferecido por qualquer tipo de fornecedor. Os Reportou falta de conhecimento e respondeu correctamente

inquiridos com uma pontuação de 9 declararam familiari- Reportou conhecimento e respondeu correctamente
dade com os produtos oferecidos por todos os nove forne- Reportou conhecimento e respondeu incorrectamente
cedores questionados no inquérito. Os inquiridos também
foram questionados sobre o uso dos meios de comunica- Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
a
diferença nas percentagens da figura 37 deve-se à exclusão dos respondentes
ção social, cujos resultados são discutidos na caixa 5.
que disseram não ter ouvido falar da palavra apresentada.

Os inquiridos estavam familiarizados com produtos


e serviços de uma média de 1,9 tipos diferentes de
fornecedores. A Figura 39 ilustra que 14 por cento rela-
46 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 39. Distribuição de pontuações de conscientização de produtos financeiros

40%
35%
35%

30% 28%

25%

20%

15%

10% 9%
7%
6% 5%
5% 4%
2% 1% 2%
0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Pontuação para conhecimento de produtos financeiros

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

taram familiaridade com produtos de mais da metade decisões financeiras dos indivíduos e para ver se e como
dos fornecedores disponíveis, ou seja, pontuaram 5 ou as atitudes se traduzem em comportamento financeiro, o
mais. O preocupante, no entanto, é que mais da metade inquérito continha perguntas sobre diferentes aspectos
dos inquiridos estavam familiarizados com produtos de, (componentes) da capacidade financeira que incluem ati-
no máximo, um fornecedor e 35 por centonão tinham tudes/motivações e comportamentos. Esta secção oferece
conhecimento de um produto financeiro fornecido por uma visão geral dos pontos fortes e áreas de melhoria que
qualquer instituição financeira. os adultos inquiridos demonstraram em relação a atitudes
e comportamentos financeiros relevantes.
Uma análise mais aprofundada dos tipos de produtos
financeiros conhecidos revela que os participantes no O conjunto de dados de Angola inclui 10 componentes
inquérito estão mais familiarizados com os bancos principais de capacidade financeira, algumas das quais
comerciais do que qualquer outro tipo de provedor referem-se a comportamentos e outras a atitudes ou
por uma ampla margem. Cinquenta e oito por cento motivações. Cada componente de capacidade financeira
dos inquiridos estavam familiarizados com produtos de é medida por meio de uma combinação de perguntas rele-
bancos comerciais e a próxima familiaridade mais comum vantes. Estas são identificados por meio de uma técnica
era com agências de câmbio, com 29 por cento relatando estatística chamada Análise de Componentes Principais
conhecer produtos ou serviços oferecidos (). Agentes de (ACP). A ACP é um método de redução de dados que
transferência de dinheiro e corretoras tiveram a classi- encontra um pequeno número de combinações lineares
ficação mais baixa (7 por centoe 8 por cento, respecti- dessas variáveis que explicam a maior parte da variação
vamente), embora isto não seja surpreendente, dado o nos dados. O método é usado para agregar as variáveis
elevado custo das remessas (Barne e Pirlea 2019) e baixa que medem diferentes nuances do mesmo componente
propriedade de acções dentro do país.32 para obter um único indicador (ou pontuação) para aquele
componente. A pontuação de cada componente varia
entre 0 (pontuação mais baixa) e 100 (pontuação mais alta).
4.3 COMPORTAMENTO E ATITUDES
FINANCEIRAS
As seis componentes a seguir medem comportamen-
Mesmo que as pessoas conheçam os conceitos finan- tos relacionados à capacidade financeira: controlo
ceiros básicos, podem ter dificuldade em traduzir esse orçamental, racionalização de gastos, viver dentro dos
conhecimento em acções adequadas. Para identificar o limites da subsistência, prudência, cobertura de cus-
papel que as atitudes desempenham na formação das tos inesperados e planeamento para a velhice. Espe-
cificamente, o controlo orçamental mede até que ponto
as pessoas planeiam como usar o seu dinheiro, se ade-
32. Este Inquérito sobre a Capacidade Financeira revelou que 2,3 por
cento dos adultos angolanos alguma vez adquiriram acções no rem ao plano e quão bem incorporam as lições em seus
mercado de capitais angolano. comportamentos orçamentários; racionalização de gastos
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 47

CAIXA 5

Visão geral sobre o consumo de meios de comunicação social

Embora a televisão e o rádio sejam amplamente usados semelhantes entre os grupos que assistem à televisão,
em Angola, a penetração da imprensa escrita e da Inter- onde 91% dos residentes urbanos e 53% dos residentes
net é tendenciosa para segmentos mais ricos, urbanos, rurais relatam assistir regularmente. Com imprensa escrita,
masculinos e devidamente qualificados da população. A as lacunas são acentuadas. Metade de todos os angolanos
Figura 40 revela que a rádio e a televisão são apreciados com educação secundária leem um jornal nacional ou local,
mesmo entre as populações vulneráveis. Sessenta e dois por enquanto apenas 5 por cento dos não educados o fazem.
cento dos angolanos sem educação ouvem regularmente Os residentes rurais e as mulheres também não têm acesso
a rádio, em comparação com 80 por cento da população à imprensa escrita.
com um diploma universitário ou superior. Existem lacunas

FIGURA 40. Consumo dos meios de comunicação social por grupos sociodemográficos

100% 100%

80% 80%

60% 60%

40% 40%

20% 20%

0% 0%
Rural Urbano abaixo do rendimento acima dorendimento
médio médio
100% 100%

80% 80%

60% 60%

40% 40%

20% 20%

0% 0%
Mulher Homem sem primário secundário universidade
escolaridade

jornais locais internet jornais nacionais télemovel Rádio Televisão

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


48 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

avalia se as pessoas têm dinheiro de sobra depois de para evitar a compra de itens desnecessários e a frequên-
comprar itens essenciais e se elas se abstêm de gastá-lo cia com que o fazem. A pontuação de atitude em relação
com itens não essenciais; viver dentro dos seus próprios à poupança, no entanto, é baseada na concordância ou
limites mede se os adultos ficam sem dinheiro depois de discordância dos inquiridos com afirmações como “Tento
comprar itens essenciais e porquê, o nível de emprésti- poupar para o futuro”, “Tento poupar para emergências”
mos e se as pessoas pedem dinheiro emprestado para e “Tento poupar regularmente, mesmo que seja uma
comprar comida ou pagar outras dívidas; a prudência pequena quantia”, descreva-as pessoalmente.
avalia a capacidade de ser disciplinado ao administrar
dinheiro e aprender com os erros que outros cometem; Em comparação com outros aspectos da capacidade
a cobertura de custos inesperados indica se as pessoas financeira, os adultos angolanos demonstram boas
poderiam cobrir uma despesa inesperada equivalente à práticas em termos de prudência, orientação para o
renda de um mês e se elas se preocupam com isso; e sucesso e controlo dos seus orçamentos. De acordo com
o planeamento para a velhice indica se as pessoas têm a análise ACP, os adultos angolanos são mais capazes na
estratégias em vigor que lhes permitem cobrir as despe- área da prudência, onde alcançam a pontuação mais ele-
sas na velhice, seu nível de preparação para as despesas vada (79) de todos os aspectos da capacidade financeira
da velhice e até que ponto se preocupam em cobrir suas a medir. Essa pontuação elevada reflete-se ainda no facto
despesas na velhice. de que quase 80% dos adultos inquiridos concordaram
que são disciplinados com o seu dinheiro, dois terços dos
Quatro componentes de capacidade financeira refe- quais o fizeram firmemente. Uma proporção ainda maior
rem-se a atitudes e motivações subjacentes que de inquiridos concordou que aprendem com os erros dos
influenciam a maneira como as pessoas se compor- outros quando se trata de questões financeiras. Listando
tam, como aquelas relacionadas às perspectivas finan- todas as pontuações para diferentes aspectos da capaci-
ceiras das pessoas, sua orientação para realização, dade financeira em ordem crescente, a Figura 41 ilustra
autocontenção e sua atitude em relação à poupança. que a orientação para o sucesso (74) e o controlo orça-
Em particular, a perspectiva financeira mede a crença na mental (71) dos respondentes representam a segunda e a
autodeterminação de resultados futuros, uma preferência terceira pontuação mais elevada. Embora uma proporção
pelo pensamento de longo prazo e o controlo da tomada significativa de adultos tenha relatado alguma forma de
de decisão impulsiva. O componente de orientação para poupança (ver secção 3.3), estes respondentes pontua-
realizações identifica o grau em que as pessoas concor- ram substancialmente menos em relação à sua inclinação
dam que estão sempre à procurade oportunidades para para poupar (46), sugerindo que os valores médios de
melhorar a sua situação, têm muitas aspirações e traba- poupança podem ser baixos. Como seria de se esperar,
lham arduamente para estar entre as melhores. A medida essa população com menor inclinação para poupar tem
de autocontenção classifica as habilidades dos adultos menos probabilidade de manter poupança formal.

FIGURA 41. Conhecimento sobre produto financeiro por provedor de serviços

Bancos comerciais 58%

Agências de câmbio 29%

Empresas de Seguros 24%

Agentes de Seguros 21%

Organizações de Microcredito 18%

Instituições Financeiras Não bancárias 16%

Bolsa de Valores de Angola 12%

Correctoras 8%

Agências de transferência de dinheiro 7%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 49

Em contraste, os comportamentos financeiros rela- relações altamente negativas com as perspectivas finan-
cionados com o planeamento financeiro de longo ceiras (tabela 13 no apêndice B).
prazo parecem ser um grande desafio em Angola.
Estas conclusões devem ser motivo de alarme para os Compreender as atitudes e percepções limitadas dos
decisores políticos angolanos. Mudar estas atitudes em angolanos em relação às poupanças para a reforma a
relação à poupança para a velhice é um componente- longo prazo, conforme exemplificado na sua capaci-
-chave para o crescimento económico, estabilidade e dade relativamente fraca de planear as despesas de
bem-estar do cidadão. Sem planeamento e apoio sufi- velhice, requer a consideração do contexto mais amplo
cientes, o envelhecimento da população enfrentará da história de Angola e a sua intersecção com o sec-
insegurança alimentar e de saúde em face das despesas tor financeiro formal. Uma guerra civil prolongada que
de subsistência avassaladoras. A Figura 41 ilustra que começou em 1975 e terminou em 2002, com períodos
os respondentes no inquérito têm dificuldades com seu intermitentes de paz, deixou muitos angolanos mais
planeamento financeiro de longo prazo, incluindo as velhos, a viver grande parte da sua idade adulta em con-
suas perspectivas financeira (58) e planeamento para a flito e tendo visto a sua economia e instituições severa-
velhice (58). Mais especificamente, no que diz respeito mente danificadas. Estas experiências, combinadas com
à capacidade das pessoas de planear para a velhice, os a recente instabilidade macroeconómica e desvalorização
resultados do inquérito mostram que quase metade dos cambial, podem ter criado a falta de confiança no sector
inquiridos não tem provisão para cobrir despesas rela- financeiro formal e no kwanza, especialmente como meio
cionadas à velhice e que 25 por cento não estão mais do de reserva que permanecerá após a reforma.
que um pouco preocupados por não terem essa provi-
são. Em termos de perspectivas financeira, os resultados Uma comparação com os participantes do inquérito
do inquérito sugerem que embora os angolanos não em 12 países confirma que os angolanos geralmente
sejam muito impulsivos, as suas atitudes em relação ao exibem bons comportamentos financeiros, mas fariam
tempo indicam uma falta de previsão. Mais da metade bem em melhorar o planeamento das despesas com
dos entrevistados concordaram que vivem no presente a velhice. A Tabela 9 compara as pontuações médias
e que o futuro cuidará de si mesmo. Em uma regressão de capacidade financeira dos respondentes do inqué-
multivariada, aqueles com baixo consumo dos meios rito em cinco áreas com as dos respondentes em países
de comunicação social, aqueles que não economizaram onde uma versão deste inquérito também foi realizado.
quando crianças e os adultos de meia-idade tiveram cor- A tabela ilustra que os participantes do inquérito em

TABELA 8. Comparação das pontuações de capacidade financeira entre os diferentes países


PLANEAMENTO ESCOLHA DE VIVER
PERSPECTIVAS PARA DESPESAS PRODUTOS DENTRO DOS
PAÍS POUPANÇA FINANCEIRAS DE VELHICE FINANCEIROS SEUS LIMITES

Angola 61 58 58 N/A 66

Arménia 46 28 100 59 67

Colômbia 45 37 67 57 74

Líbano 40 55 71 63 81

México 57 35 65 59 78

Mongólia 62 60 N/A 49 84

Moçambique 42 40 40 34 64

Mianmar 61 58 58 N/A 66

Marrocos 42 78 6 89 57

Nigéria 55 N/A N/A N/A N/A

Filipinas 46 64 29 51 43

Tajiquistão 66 84 N/A N/A 82

Turquia 30 50 72 52 67

Uruguai 44 35 60 53 81
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
50 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

Angola têm um desempenho equivalente aos inquiridos particular o controlo orçamental, gastos não excessivos,
de países semelhantes em medidas de poupança e vivem perspectivas financeiras a longo prazo e orientação para
dentro das suas possibilidades. A comparação entre os o sucesso (figura 43; tabela 14 no anexo B).
diferentes países também mostra que, embora os inquiri-
dos em Angola apresentem um desempenho mais fraco Os resultados do inquérito sugerem ainda que diferen-
em termos de perspectivas financeiras e no planeamento tes grupos etários apresentam diferentes capacidades
das despesas para a velhice quando comparados com de poupança. A Figura 45 ilustra que os angolanos entre
outras métricas de capacidade financeira, têm um desem- os 35 e os 55 anos são os que mais demonstram compor-
penho favorável. tamentos associados a uma melhor capacidade financeira.
Superam os seus homólogos em termos de planeamento
Duas características pessoais essenciais que parecem para a velhice e gastos não excessivos, ocupando o 67º
estar correlacionadas com melhores pontuações em lugar no primeiro e o 64º lugar no segundo. Os adultos
várias áreas de capacidade financeira são as realiza- mais jovens com menos de 35 anos de idade são apenas
ções educacionais das pessoas e seus níveis de conhe- mais proficientes na orientação para as realizações, onde
cimento/literacia financeira. Os adultos com maior nível procuram oportunidades de sucesso, têm muitas aspira-
de escolaridade superam os seus homólogos com menor ções e trabalham arduamente para estar entre os melho-
escolaridade nas áreas de controlo orçamental, especifi- res. O grupo de angolanos mais velhos supera os seus
camente racionalização de gastos e poupança. A lacuna homólogos em termos de autocontenção e de viver den-
mais significativa entre adultos altamente qualificados e tro dos seus próprios limites, o que se alinha logicamente
aqueles sem qualquer realização educacional é evidente com um grupo que tem rendimentos fixos, poupanças e
na sua capacidade de evitar gastos excessivos (figura 42). outras formas de suporte financeiro que não permitem o
Enquanto aqueles que concluíram pelo menos o ensino endividamento.
médio alcançaram uma pontuação de gastos não exces-
sivos de 65, aqueles com o ensino básico ou menos pon- Começar cedo compensa, pois, ter economizado
tuaram 16 pontos a menos (49). Uma análise de regressão quando criança está relacionado com pontuações mais
(tabela 13 no anexo B) revela que o nível de escolaridade elevadas em várias áreas de capacidade financeira. Os
permanece significativo mesmo depois de controlar o inquiridos que pouparam na infância tendem a superar os
rendimento e outras características. Da mesma forma, seus homólogos que não formaram hábitos de poupança
níveis elevados de literacia financeira estão fortemente quando crianças nas áreas de planeamento para a velhice,
associados a pontuações mais altas em várias áreas, em poupança, cobertura de custos inesperados, orientação

FIGURA 42. Pontuações médias de capacidade financeira

Prudência 79
Orientação para a
realização financeira 74

Orçamento controlado 71

Auto controlo 67
Viver de acordo à
capacidade financeira 66
Cobertura de custos
64
inesperados

Poupanças 61
Não gasta acima das
possibilidades 60

Planeamento para a
58
velhice

Visão a longo prazo 58

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

pontuação do índice
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 51

FIGURA 43. Pontuações médias de capacidade financeira por nível de educação

Orçamento controlado
90
Orientação para 80
a realização evita gastos acima das
70 possibilidades
financeira 60
50
40
Visão a longo prazo 30 vive de acordo às Primária ou menos
20 necessidades
10 Secundária ou menos
0

Planeamento para auto-controlo


a velhice

Poupanças Prudência

cobre custos
inesperados

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 44. Pontuações médias de capacidade financeira por nível de literacia financeira

Orçamento controlado
90
Orientação para 80
a realização evita gastos acima das
70 possibilidades
financeira
60
50
40
Visão a longo prazo 30 vive de acordo às
20 necessidades baixo: 0–2
10
0 médio: 3–4
alto: 5–6
Planeamento para a auto-controlo
velhice

Poupanças Prudência

cobre custos
inesperados
Fonte: quérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

para as realizações e gastos não excessivos. A Figura 46 O consumo dos meios de comunicação social é um
ilustra que aqueles que começaram a economizar quando factor importante para explicar o comportamento
crianças têm melhores atitudes em relação a bons com- financeiro dos adultos angolanos. Os inquiridos foram
portamentos financeiros do que aqueles que não poupa- questionados se liam regularmente um jornal nacional
ram na infância. A análise de regressão confirma que as ou local, ouviam rádio, assistiam TV, usavam a Internet e
diferenças nas áreas de controlo orçamental e perspecti- usavam um telefone celular. A Figura 47 ilustra que aque-
vas financeiras permanecem significativamente negativas les que indicaram um amplo uso destes meios de comu-
e na de preparação para a velhice significativamente posi- nicação foram notavelmente melhores do que os seus
tivas após o controlo de outros factores socioeconómicos homólogos na maioria das componentes relacionadas ao
e demográficos (tabela 13 no anexo B). comportamento financeiro. O modelo de regressão apre-
52 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 45. Pontuações médias de capacidade financeira por idade

Orçamento controlado
80
Orientação para 70
a realização evita gastos acima das
60 possibilidades
financeira
50
40
30
Visão a longo prazo vive de acordo às
20 necessidades
10
0 <35

35–54
Planeamento para a auto-controlo
velhice > = 55

Poupanças Prudência

cobre custos
inesperados

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 46. Pontuações médias de capacidade financeira por comportamento de poupança durante a infancia
Orçamento controlado
90
Orientação para 80
a realização evita gastos acima das
70 possibilidades
financeira 60
50
40
Visão a longo prazo 30 vive de acordo às
20 necessidades
10
0 não pouparam na
infância
pouparam na infância
Planeamento para a auto-controlo
velhice

Poupanças Prudência

cobre custos
inesperados

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

sentado na tabela 13 no anexo B confirma que o elevado perspectivas financeira. Estes resultados sugerem que as
uso dos meios de comunicação social prevê significati- campanhas de comunicação social em larga escala podem
vamente pontuações mais elevadas para grandes consu- ser eficazes para aumentar a capacidade financeira, mas
midores dos meios de comunicação social em controlo que a mensagem de qualquer campanha deve focar-se
orçamental, gastos não excessivos, prudência, cobertura em melhorar os comportamentos que se mostram positi-
de despesas inesperadas, poupanças, preparação para vamente associados ao elevado uso destes meios.
despesas de velhice e orientação para realizações. Curio-
samente, os baixos consumidores dos meios de comu- Os inquiridos com rendimentos acima da mediana
nicação social superam este outro grupo em termos de exibem comportamentos financeiros mais fortes do
viver dentro dos seus próprios limites, autocontenção e que aqueles com rendimentos abaixo da mediana.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 53

FIGURA 47. Pontuações médias de capacidade financeira por uso de comunicação social

Orçamento controlado
90
Orientação para 80
a realização evita gastos acima das
70 possibilidades
financeira 60
50
40
Visão a longo prazo 30 vive de acordo às
20 necessidades
10
0 baixo consumo dos meios
de comunicação social
alto consumo dos meios
Planeamento para a auto-controlo de comunicação social
velhice

Poupanças Prudência

cobre custos
inesperados

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 48. Pontuações médias de capacidade financeira por rendimento

Orçamento controlado
90
Orientação para 80
a realização evita gastos acima das
70 possibilidades
financeira
60
50
40
Visão a longo prazo 30 vive de acordo às
20 necessidades
10
abaixo do rendimento
0
médio
acima do rendimento
Planeamento para a auto-controlo médio
velhice

Poupanças Prudência

cobre custos
inesperados
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

Ao comparar angolanos de alto e baixo rendimento, a di-los de implementar tais programas, visto que os seus
população de alto rendimento revelou-se notavelmente objectivos são melhorar a vida daqueles que são mais
mais capacitada do que seus homólogos em relação vulneráveis.
às atitudes e comportamentos (figura 48). A análise de
regressão na tabela 13 no anexo B apura que a auto- Os angolanos formalmente empregados exibem
contenção só é significativa com uma fiabilidade de 95 melhores comportamentos financeiros do que aqueles
por cento. Os decisores políticos que procuram melho- que se enquadram em outras categorias de emprego.
rar os comportamentos financeiros não devem esperar A Figura 49 ilustra que a população formalmente empre-
melhorias por meio de programas orientados para o gada parece ter a maior vantagem sobre todas as outras
aumento dos rendimentos, embora isso não deva impe- para evitar gastos excessivos, embora os resultados do
54 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 49. Pontuações médias de capacidade financeira por categoria de emprego

Orçamento controlado
90
Orientação para 80 evita gastos acima das
a realização 70 possibilidades
financeira 60
50
40
Visão a longo prazo 30 vive de acordo às Formal
20 necessidades Informal
10
Empregado por
0
conta própria
Fora do mercado
auto-controlo de laboral
Planeamento para a
velhice Desempregado

Poupanças Prudência

cobre custos
inesperados

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

modelo de regressão apresentados na tabela 13 no anexo


5. RELAÇÃO ENTRE INCLUSÃO
B indiquem que a lacuna só é significativa com uma fiabili-
dade de 99 por cento em comparação com os desempre- FINANCEIRA E CAPACIDADE
gados. O modelo conclui que os angolanos formalmente FINANCEIRA
empregados são significativamente melhores do que
outros no controlo orçamental (13,6 pontos melhor do A inclusão financeira e a capacidade financeira, sem
que aqueles que estão fora da força de trabalho) e na dúvida, influenciam uma à outra. Embora a falta de conhe-
autocontenção (14,6 pontos melhor do que aqueles que cimento sobre os produtos financeiros possa dificultar o
estão desempregados). Nenhuma categoria de emprego seu uso, também pode acontecer que, à medida que as
é inequivocamente pior do que todas as outras em ter- pessoas começam a usar os serviços financeiros, tornam-
mos de comportamento financeiro. A pontuação média -se mais familiarizadas e informadas a respeito dos mes-
em todas as medidas de capacidade financeira foi de 65 mos, segundo um processo de “aprendizagem através da
para os empregados informalmente, 63 para os auto-em- prática“. Embora desvendar uma ligação causal entre a
pregados e 64 para os que estão fora da força de traba- inclusão financeira e a capacidade financeira esteja além
lho e para os desempregados. Ao considerar o impacto do âmbito deste relatório, este capítulo apresenta uma
sobre o comportamento financeiro e a inclusão por meio visão geral dos cidadãos excluídos financeiramente em
de programas de emprego, os decisores políticos devem, Angola e como os seus conhecimentos, atitudes e com-
portanto, incentivar o emprego formal. portamentos financeiros se comparam aos segmentos
financeiramente incluídos da população.

5.1 LITERACIA FINANCEIRA E INCLUSÃO


FINANCEIRA
A falta de literacia financeira é geralmente citada como
uma explicação para a procura limitada por serviços
financeiros nos países em desenvolvimento. Se as pes-
soas não entendem os conceitos financeiros e não pos-
suem habilidades numéricas básicas, podem não se sentir
confortáveis em escolher produtos financeiros e, portanto,
não irão exigi-los, ou talvez mais alarmante ainda, escolhe-
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 55

rão produtos que não atendem às suas necessidades ou mostra claramente o contraste na literacia financeira entre
os usarão de forma errada. Por exemplo, um estudo na aqueles que estão financeiramente incluídos e os que não
Índia e na Indonésia, Cole et al. (2009) identificou que a estão. Aqueles com contas formais tiveram um desempe-
literacia financeira é um factor importante na determina- nho dentro do alto escalão 20 por centodas vezes, em
ção da procura por produtos financeiros, especialmente comparação com apenas 4 por centopara aqueles sem
entre segmentos da população sem instrução e sem lite- contas formais. A maior parte dos angolanos incluídos
racia financeira. financeiramente fazem parte da categoria de desempe-
nho médio (46 por cento), enquanto a maioria significativa
O uso de contas formais correlaciona-se com uma daqueles não incluídos financeiramente não tinha habili-
melhor compreensão dos conceitos financeiros bási- dades numéricas financeiras, colocando-os na categoria
cos. Para os adultos angolanos que usam qualquer tipo de desempenho mais baixo (62 por cento). Tal verificação
de conta financeira formal, o número médio de pergun- é confirmada pela análise de regressão, o que sugere que
tas respondidas com sucesso ao questionário de litera- existe uma correlação significativa entre a literacia finan-
cia financeira na secção 4.1 foi de 3.2, enquanto aqueles ceira e a participação em mercados financeiros formais
sem contas financeiras formais pontuaram 2.0 em média (tabela 15 no anexo B). Esta análise não estabelece o
(figura 50). Os utilizadores de créditos formais demonstra- vínculo causal entre a literacia financeira e a participação
ram-se ligeiramente mais alfabetizados financeiramente em mercados financeiros formais. Aqueles com um maior
do que o resto da população, alcançando uma média de grau de educação em conceitos financeiros podem, por-
2,8 questões respondidas correctamente. Os utilizadores tanto, ter maior probabilidade de abrir contas formais. No
de poupanças formais tiveram um desempenho ligeira- entanto, operar uma conta formal pode levar a uma maior
mente melhor, respondendo correctamente a uma média compreensão dos conceitos financeiros.
de 3.1 perguntas. A exposição a serviços financeiros pode
ter contribuído para esse melhor desempenho, embora a Os adultos angolanos com contas de poupança pare-
possibilidade de que aqueles que entenderam esses con- cem ter uma melhor compreensão dos conceitos
ceitos financeiros tenham mais acesso a produtos finan- financeiros fundamentais—uma constatação ainda
ceiros formais deverá também ser considerada. mais acentuada pelo uso de contas formais. A Figura
52 ilustra que a porção de inquiridos dentro da cate-
Os angolanos financeiramente incluídos têm níveis de goria mais alta de pontuação do índice de literacia
literacia financeira mais altos do que aqueles sem con- financeira é menor para aqueles que não adoptam um
tas formais. Ao categorizar o desempenho no questio- comportamento de poupança em nenhum produto ou
nário de literacia financeira em três grupos, a figura 51 serviço formal ou informal (8 por cento). Os angolanos

FIGURA 50. Pontuações de literacia financeira por características FIGURA 51. Pontuações de literacia financeira por
de inclusão financeira (número de respostas correctas) propriedade de produtos e serviços financeiros formais
6.0 70%
62%
5.0 60%

50% 46%
4.0
3.2 3.1 40%
2.8 34% 34%
3.0
2.5 2.4 30%
2.0
2.0 20%
20%

1.0
10%
4%
0.0 0%
Incluidos Não estão Crédito Sem Poupanças Sem
Financeira- Incluidos formal Crédito formais Poupanças
Adultos sem conta formal Adultos com conta formal
mente Financeira- formal formais
mente
Baixo: 0–2 Médio: 3–4 Alta: 5–6
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
56 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

que poupam apenas em contas formais foram os mais por cento dos utilizadores de produtos e serviços de cré-
alfabetizados financeiramente, com a maior proporção dito formais alcançaram a fração superior e 53 por cento
entre os primeiros do grupo de desempenho do índice tiveram uma pontuação de pelo menos 3 no índice. Este
(27 por cento). último grupo também teve um desempenho pior do
que aqueles que não usam nenhum produto, onde 11
Os angolanos que têm acesso a produtos de crédito por cento alcançaram uma pontuação de cinco ou seis.
têm níveis de inclusão financeira mais elevados do que Nem todos com acesso a produtos formais podem com-
aqueles que não têm acesso, com os mutuários infor- preender os seus riscos, tornando-os vulneráveis aos ris-
mais relativamente mais experientes financeiramente cos de conduta do mercado, como venda enganosa ou
do que aqueles que usam apenas o crédito formal. propaganda enganosa. Perceber estes riscos pode fazer
Vinte e três por cento dos utilizadores de créditos infor- com que os mutuários com menos experiência financeira
mais estavam na primeira parcela da literacia financeira, fiquem excessivamente endividados. O que possivel-
e 60 por cento alcançaram uma pontuação de índice de mente impulsiona esta disparidade é o direccionamento
pelo menos 3 em 6 (figura 53). Em contraste, apenas 5 de programas de literacia financeira para grupos infor-

CAIXA 6

Literacia financeira e atitudes em relação ao endividamento

A maioria das evidências sobre os efeitos da literacia financeira sobre a dívida vem de estudos em países
desenvolvidos. Nos Estados Unidos, Lusardi et al. (2009) descobriram que a alfabetização em matéria de
dívidas (medida com perguntas que avaliam os conceitos relacionados à dívida) é, em média, baixa e está
positivamente associada a cargas de dívida, taxas e custos de empréstimos mais elevados. Perry (2008)
constatou que nos Estados Unidos uma fração substancial das pessoas (32 por cento) tende a superestimar
as suas classificações de crédito, sendo também menos instruída em finanças e menos propensa a planear
as suas despesas e a poupar ou investir.

FIGURA 52. Pontuação de literacia financeira por uso de FIGURA 53. Pontuação de literacia financeira por uso de
produtos de poupança formal e informal produtos de crédito formais e informais

100% 100%
8% 5%
10% 15% 11% 17%
90% 90% 23%
27%
80% 80%

70% 40% 34% 70% 48%


37%
41% 41%
60% 60% 37%
50% 50%
53%
40% 40%

30% 30%
51% 55% 52%
44% 48%
20% 20% 40% 41%

10% 20% 10%

0% 0%
Sem Poupanças Só informal Só formal Formal e informal Sem crédito Só informal Só formal Formal e
informal
Baixo : 0–2 Médio: 3–4 Alta: 5–6
Baixo : 0–2 Médio: 3–4 Alta: 5–6

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019 Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 57

mais de poupança ou o baixo envolvimento de bancos financeiramente afirmam não ter contas formais porque
comerciais na literacia financeira. Explorar estas e outras não têm dinheiro para as manter ou porque não têm a
possibilidades como explicações para esta constatação documentação necessária para as abrir. Apenas uma
está além do âmbito deste relatório, mas seria um cami- pequena fracção da população relata não necessitar
nho de pesquisa útil. deles (6 por cento) ou não confiar neles (3 por cento),
sugerindo à primeira vista que as barreiras relacionadas
A falta de alto desempenho na compreensão dos con- à falta de conhecimento sobre produtos financeiros não
ceitos financeiros básicos pode ser motivo de preocu- são substanciais em Angola. No entanto, ao analisar o
pação, principalmente entre os utilizadores activos de quão informados estão os adultos sem contas formais
produtos financeiros. Para que os produtos financeiros sobre os serviços de vários provedores financeiros, o
forneçam o máximo de benefícios, os seus utilizadores seu conhecimento parece ser baixo. A Figura 54 ilustra
precisam saber como usá-los. A experiência mostra que uma discriminação do índice de conhecimento do pro-
usar produtos financeiros sem compreendê-los total- duto (descrita na secção 4.2 Conhecimento de Produtos
mente pode fazer mais mal do que bem (caixa 6). Tal Financeiros) por barreira ao acesso. Não precisar de conta
como acontece com o caso da consciência financeira, ou não confiar em instituições financeiras estão entre as
a evidência sugere que há espaço para políticas desti- barreiras que apresentam a maior proporção de adultos
nadas a melhorar a literacia financeira e as competên- que não conheciam produtos financeiros. Por outro lado,
cias numéricas entre os adultos angolanos, tanto para entre aqueles que declaram um custo de propriedade
utilizadores de produtos financeiros formais como para proibitivo e uma preferência por dinheiro como barreiras,
aqueles que estão actualmente excluídos do sistema mais de 50% estão cientes de mais de um tipo de produto
financeiro formal, mas podem eventualmente tornar-se financeiro. A análise de regressão sugere que mesmo
mais integrados. depois de controlar as características socioeconómicas
e demográficas dos adultos angolanos, o conhecimento
dos produtos financeiros e a probabilidade de possuir
5.2 CONHECIMENTO SOBRE PRODUTOS
um produto ou serviço formal estão fortemente ligados
FINANCEIROS E INCLUSÃO FINANCEIRA
(tabela 16 no anexo B).
Estabelecer uma relação causal entre inclusão finan-
ceira e conhecimento do produto financeiro com este À medida que aumenta a conscientização das pessoas
inquérito é difícil; no entanto, estudos em várias geo- sobre os produtos financeiros, elas tornam-se mais
grafias identificaram que o aumento da consciência propensas a confiar em produtos de fornecedores
financeira pode, por sua vez, levar a uma maior acei- formais. Os adultos angolanos que contraem emprésti-
tação do produto. Nos Estados Unidos, por exemplo, mos (figura 55) e poupam (figura 56) a partir de fontes for-
informações sobre um plano de reforma eram forneci- mais estão mais cientes das várias instituições financeiras
das aleatoriamente a um grupo de funcionários de uma e os seus produtos do que aqueles que recorrem a fontes
universidade. Os trabalhadores que receberam as infor- informais, ou aqueles que não poupam ou não pedem
mações foram substancialmente mais propensos a ins- empréstimos. Se os provedores financeiros formais ofe-
crever-se no plano de aposentadoria do que aqueles que recem serviços de maior qualidade, este padrão pode
não obtiveram as informações, sugerindo que os indiví- sugerir que aqueles com mais informações sobre o sector
duos são mais propensos a usar um produto financeiro, financeiro selecionam produtos e instituições melhores
uma vez aprendedido sobre os seus benefícios (Duflo e do que aqueles com menos informações.
Saez 2003). Do mesmo modo, Giné et al. (2007), des-
cobriram que na Índia rural a falta de compreensão dos O conhecimento do produto financeiro é maior entre
produtos de seguro é a segunda razão mais declarada os angolanos que contraem empréstimos e pou-
para os agregados familiares não contratarem o seguro pam através de fornecedores formais e informais. A
contra chuva. No geral, estes estudos sugerem que a falta maioria dos cidadãos que não conhecem os produtos
de uso de produtos pode reflectir uma falta de conheci- financeiros relatam não conhecer nenhum ou um dos
mento sobre eles. produtos desencadeados pelos fornecedores (figura 55
para produtos de crédito e figura 56 para produtos e
Embora nem todos devam (ou precisem) usar pro- poupança). O conhecimento entre aqueles com contas
dutos financeiros, a falta de conscientização pode formais e informais é quase por definição maior, já que
impedir as pessoas de usarem produtos financeiros pelo menos um produto de cada tipo é necessário para
que poderiam beneficiá-las. Conforme discutido na se enquadrar nesta categoria. Mesmo assim, o conheci-
secção 3.5 , a maioria dos adultos angolanos excluídos mento do produto é notavelmente maior nesta catego-
58 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 54. Pontuação de conhecimento do produto financeiro por motivos de não ter uma conta formal

100% 1% 2% 35%
8% 7% 9% 5%
5% 2%
90% 6%
8% 22% 30%
15% 18%
80% 29% 38%
26% 35%
70% 23% 25%
21%
60%
20%
50% 20%
17%
15%
40% 75% 77%
12%
30% 61% 11% 60% 57% 10%
55%
9%
20% 42% 7% 6%
5%
10%

0% 0%
ie iro

ie ão

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in d

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u

m
oc

ef
pr
-d

Nenhum: 0 Baixo: 1 Médio: 2 Alta: 3+ Fraction of adults by reported barrier

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 55. Pontuação do conhecimento de produtos FIGURA 56. Pontuação do conhecimento de produtos
financeiros por produtos de crédito formais/informais financeiros por produtos de poupança formais/informais

100% 100%
9%
16% 8%
90% 90% 7% 23%
35% 80%
80% 7%
47% 8%
70% 62% 70% 33% 60%
22%
60% 32% 11% 60%
29%
50% 50%
10%
40% 29% 40%
15% 8%
10% 30% 20%
30%
50%
44% 20% 44% 23%
20% 19%
29% 25%
10% 10%
7% 9%
10%
0% 0%
Sem crédito Só informal Só formal Formal e Sem crédito Só informal Só formal Formal e
informal informal

Nenhum: 0 Baixo : 1 Médio: 2 Alta: 3+ Nenhum: 0 Baixo : 1 Médio: 2 Alta: 3

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019 Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 59

FIGURA 57. Conscientização financeira por inclusão financeira


90% 86%
80%
70%
60%
50% 44%
39%
40% 34%
31% 30% 29%
30% 21%
20% 15% 14% 14%
9% 7% 8%
10% 1% 3% 1% 3%
0%
Bancos Companias Organizações de Bancos Insitituições Agências Agentes Agentes Bolsa de
comerciais de seguros microcrédito comerciais financeiras de cambio de envio de de seguro Valores
não bancárias dinheiro de Angola

Adultos sem conta formal Adultos con conta formal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

ria do que para aqueles com crédito formal ou apenas propósito dos bancos e outras instituições financeiras. A
informal ou produtos de poupança. Ao focar em pro- educação pública, tal como a educação financeira nos
dutos de crédito, aqueles com apenas crédito informal currículos escolares, implementada em conjunto com
conhecem mais produtos do que aqueles com apenas campanhas publicitárias privadas, pode ser uma combi-
crédito formal (uma média de 2,6 produtos apenas para nação eficaz para alcançar grandes estratos da popula-
crédito informal e 2,1 para apenas crédito formal). Isto ção angolana.
é invertido quando se concentra em produtos de pou-
pança. Apenas os que poupam formalmente conhecem
5.3 ATITUDES/COMPORTAMENTO FINAN-
mais produtos do que aqueles que apenas poupam por
CEIRO E INCLUSÃO FINANCEIRA
métodos informais (uma média de 3,0 produtos ape-
nas para poupança formal e 1,3 produtos apenas para As atitudes e comportamentos são outra dimensão
poupança informal). Esta disparidade no conhecimento relevante na análise da inclusão financeira. Em países
do produto entre produtos de crédito e poupança tem desenvolvidos e em desenvolvimento, os agregados
várias explicações possíveis. O cenário de crédito infor- familiares e empresas são frequentemente excluídas do
mal pode ser mais robusto do que o cenário de crédito acesso a produtos financeiros devido ao histórico de
formal, resultando em mais tipos de provedores para os crédito inadequado, comportamento financeiro irres-
angolanos que preferem adquirir conhecimento sobre ponsável, registos de negócios e contabilísticos pouco
o crédito informal. O inverso pode então ser verda- satisfatórios e assim por diante.33
deiro para o cenário da poupança. Também é possível
que aqueles com uma propensão pela procura do cré- Os angolanos financeiramente incluídos são mais versa-
dito não queiram envolver-se com credores formais e, dos na maioria dos comportamentos e atitudes finan-
portanto, procuram empréstimos de fontes informais, ceiras, com algumas pequenas excepções. A Figura
enquanto aqueles que desejam economizar preferem 58 ilustra que os angolanos com acesso a uma conta
armazenar o seu dinheiro em contas formais. bancária são mais versados em relação a racionalização
de gastos do que aqueles sem acesso, conseguindo 69
Os angolanos financeiramente incluídos têm o conhe- pontos ao longo deste índice em comparação com 51
cimento de significativamente mais produtos e ser- dos seus homólogos. Existem lacunas menores, mas
viços do que aqueles que não têm acesso a contas ainda significativas, nas áreas de poupança, controlo
bancárias. Oitenta e seis por cento dos considerados orçamental, orientação para realização dos objectivos,
financeiramente incluídos tinham conhecimento de cobertura de custos inesperados, planeamento para a
produtos e serviços de bancos comerciais, enquanto velhice e prudência. Aqueles sem acesso a uma conta
apenas 31 por cento dos seus homólogos tinham um bancária, no entanto, exibem melhores comportamen-
conhecimento semelhante. A Figura 57 ilustra que o tos em termos de autocontenção, viver dentro dos seus
conhecimento de todos os outros produtos e serviços limites, e de perspectivas financeiras. Para estes três últi-
foi maior também para o primeiro grupo, com uma pon-
tuação média de conhecimento de 3.11, excedendo
a pontuação de 0.08 do último grupo. Estas grandes 33. Por exemplo, uma pesquisa com empresas na Zâmbia desco-
briu que cerca de 73 por cento dos microempresários tiveram
lacunas sugerem que um caminho para melhorar a inclu- dificuldades em obter empréstimos por essas razões (Banco
são financeira é aumentar a exposição da existência e do Mundial 2013).
60 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 58. Atitudes e comportamentos financeiros e inclusão financeira

90
83
78 80
80 74
69 69 68 69 67 66 69
70 65 63 64
59 61
60 54
53 52
Index Score

51
50
40
30
20
10
0
Evita gastos Poupanças Orçamento Orientação Cobertura Planeamento Prudência Auto Viver de Planeamento
acima das controlado para a de custos para a controlo acordo à a longo
possibilidades realização inesperados velhice capacidade prazo
financeira financeira
Adultos sem conta formal Adultos com conta formal

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

mos, a relação causal pode ser no sentido oposto, onde que são significantes preditores da inclusão financeira,
a falta de acesso às contas exigiu melhores comporta- embora outras não. O controlo orçamental tem o maior
mentos no planeamento das finanças a longo prazo e em impacto significativo nas finanças, seguido de perto pela
não estender demais as finanças dos agregados familiares racionalização das despesas e poupanças. A orientação
por meio do acesso ao crédito. A análise de uma regres- para o sucesso e o planeamento para a velhice são ape-
são multivariada (tabela 17 no anexo B) mostra que algu- nas marginalmente significativos (p <0,1).
mas destas lacunas estão alinhadas com comportamentos
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 61

CAIXA 7

Empreendedorismo em Angola
Para explorar além dos módulos do Inquérito sobre a Capacidade Financeira normais, o Banco Nacional
de Angola solicitou a adição de um módulo que cobre o empreendedorismo no país. Os inquiridos foram
questionados sobre a sua compreensão do empreendedorismo e operações de negócios, e aqueles que já
começaram um negócio foram questionados sobre os seus negócios.

A maioria dos angolanos exibiu um comporta- Os empreendedores usam principalmente as suas


mento empreendedor, e cerca de metade dos próprias poupanças para obter capital para iniciar
negócios iniciados estão actualmente activos. A os seus negócios. Quase metade de todas as empre-
Figura 59 ilustra que 57 por cento dos respondentes sas usou o dinheiro economizado durante muitos
afirmaram ter alguma vez iniciado um negócio. Uma anos para começar a operar. Um quarto usou dinheiro
pequena maioria dessas empresas permanece em de amigos e familiares como financiamento inicial e
operação, com 31 por cento de todos os responden- 22 por cento usaram um salário para esse fim. Os
tes indicando que têm um negócio activo, em com- estabelecimentos tinham pelo menos três vezes mais
paração com 26 por cento que iniciaram um negócio probabilidade de obter capital inicial do salário do
no passado que não está activo actualmente. proprietário do que outros tipos de negócios (figura
60). Empréstimos ou linhas de crédito raramente eram
Mulheres e respondentes de agregados familiares usados para esse fim, e os dados do WBG Enterprise
de renda média são mais propensos a ter negócios Survey de 2010, que revelaram que apenas 5 por
activos. Como seria de se esperar, aqueles que traba- cento das empresas eram financiadas por bancos, o
lham por conta própria têm maior probabilidade de que corrobora os resultados deste inquérito.
ter um negócio activo, assim como aqueles que tra-
balham informalmente. Os angolanos em agregados Quase todas as empresas envolvem poucos ou
familiares menores são mais propensos a ter um negó- nenhum outro funcionário. Noventa e oito por cento
cio activo. Aqueles que relatam rendimentos instáveis dos empresários afirmam que o número de outras
também são mais propensos a ter um negócio activo, pessoas que empregam está entre zero e dez, sendo
talvez devido à falta de um salário regular que nor- que 74 por cento dos empresários não empregam
malmente acompanha a propriedade de um negócio. outra pessoa.

FIGURA 59. Já alguma vez criou um Mais de metade das empresas angolanas são
negócio/empresa recentes, tendo sido criadas nos últimos um a
cinco anos. Novas empresas com menos de um ano
representam 22 por cento das empresas identificadas
no inquérito. As empresas com mais de cinco anos
constituem o quarto restante das empresas. Dentro
26% deste último grupo, a divisão é paritária entre aquelas
43% que têm entre seis e 10 anos e aquelas que foram
estabelecidas há mais de 10 anos. Esta combinação
de negócios mostra a capacidade da economia ango-
lana para sustentar um negócio de longo prazo e que
31% muitos negócios têm sido capazes de estabelecer e
operar com sucesso a médio prazo.

Os empreendedores escolheram as suas activida-


des comerciais com base na facilidade de fazer
sim, mas não sim, mas ainda não negócios ou no aprendizado. Mais inquiridos (43 por
está activo está activo
cento) identificaram a fácil revenda de um produto
como o principal motivo para escolher comerciali-
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019

continuação
62 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

CAIXA 7, continuação

FIGURA 60. Fonte de capital por tipo de negócio

100%

90%

80%

70%

60%

50%
Poupanças antigas
40% amigos/familia (não crédito)
30% salário
outros
20%
empréstimos/ crédito
10% venda de produtos/ serviços

0%
establecimento vendedor agricultura
ambulante
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

zar aquele produto do que qualquer outro motivo. As ambições para começar um negócio são altas,
Aprender o ofício com um membro da família ou com destaque para a preferência das mulheres
amigo levou 34 por cento dos entrevistados a engaja- para o fazer. Sessenta e dois por cento dos entre-
rem-se nesse ofício. Poucos identificaram uma neces- vistados que não haviam iniciado um negócio ante-
sidade no mercado, embora um número significativo riormente responderam afirmativamente quando
de 17 por cento dos angolanos tenha feito essa ava- questionados se gostariam de iniciar um negócio
liação. Apenas 3 por cento dos entrevistados identifi- nos próximos seis meses. As mulheres superaram os
caram o seu negócio como tendo sido escolhido por homens neste aspecto, 66 a 60 por cento, embora
ser a sua paixão ou hobby. essa diferença não seja de alta significância (p =
0,088). Dada a distribuição entre a população geral
O dinheiro é a principal via de pagamento entre as daqueles que iniciaram negócios, é improvável que
empresas, com preferência para mantê-lo em mãos todos os que aspiram a iniciar um negócio dentro de
em vez de em uma conta bancária. Pouco menos da seis meses o façam. Este inquérito não investiga se as
metade das empresas relatou ter recebido dinheiro razões para tal são barreiras externas, como o acesso
em caixa, com 22 por cento relatando que deposita- ao capital, ou barreiras internas, como por exemplo,
ram os seus pagamentos em dinheiro em um banco. a falta de motivação.
Há pouca sobreposição entre esses dois, pois apenas
3,3 por cento das empresas relataram fazer os dois. As medidas de literacia financeira, conhecimento
Indivíduos que vendem os seus produtos agrícolas e comportamento sugerem que os empreende-
preferem predominantemente dinheiro em caixa dores que fecharam os seus negócios têm maior
em vez de dinheiro depositado (figura 61). Um terço capacidade financeira do que aqueles que mantêm
das empresas utiliza dinheiro móvel (mobile money) negócios activos. A pontuação média de literacia
para aceitar pagamentos, com os estabelecimentos financeira para empreendedores com negócios acti-
comerciais a relatarem um maior uso destas plata- vos foi de 2.4, 0.5 pontos a menos do que a pon-
formas do que outros tipos de negócios. As transfe- tuação de 2,9 registada por empreendedores cujos
rências bancárias e os pagamentos por terminais de negócios já não estão activos. O conhecimento dos
pagamentos automáticos são mínimos, relatados por produtos financeiros tem uma propagação seme-
apenas 2 por cento e 1 por cento das empresas, e são lhante: proprietários de negócios activos relatam um
relatados apenas como tipos de pagamento recebi- conhecimento médio de 3.1 produtos, mas aqueles
dos pelos estabelecimentos comerciais. cujos negócios estão fechados relatam um conheci-

continuação
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 63

CAIXA 7, continuação

FIGURE 61. Pagamentos aceites por tipo de negócio

80%
70%
70%

60%
52%
50%
45%

40% 36%
30%
30% 27%
24% 23%
20%

10% 5%
4% 3%
0% 0% 0% 0% 0% 0% 2%
0%
vendedor ambulante establecimento agricultura

dinheiro, depositado no banco transferência bancária/ depósito à ordem Dinheiro móvel

dinheiro, guardado em casa Pagamaneto através de terminal de Outros


pagamento automático
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

mento médio de 4.1 produtos. Ao examinar os com- que podem ter fechado os seus negócios em parte
portamentos financeiros, os empreendedores activos para procurar melhores oportunidades econó-
são visivelmente melhores do que os seus homólo- micas num outro lugar. Os empreendedores que
gos na racionalização de gastos (65 por cento contra encerraram negócios eram mais jovens (idade média
60 por cento), viver dentro dos seus limites (65 por de 33,8 vs. 36,3); tinham uma taxa de ensino médio
cento contra 60 por cento), poupanças (64 por cento ou superior mais alta (71,0 por cento vs. 62,5 por
contra 60 por cento) e perspectivas financeiras (60 cento); e eram muito mais propensos a estar formal-
por cento vs. 53 por cento). No entanto, os mesmos mente empregados (20,3 por cento contra 9,2 por
apresentam um desempenho inferior na cobertura cento), fora da força de trabalho (16,3 por cento con-
de custos inesperados (66 por cento contra 68 por tra 8,4 por cento) ou aposentados (24,4 por cento
cento) e orientação para o sucesso (73 por cento con- contra 10,1 por cento) do que os empresários com
tra 78 por cento). negócios activos. Os empreendedores activos regis-
taram rendimentos familiares mais elevados do que
As características sociodemográficas dos empreen- aqueles que encerraram as suas empresas (Kz 48.500
dedores que fecharam os seus negócios sugerem vs. Kz 40.200).
64 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

6. PROTECÇÃO AO 6.1 CONSCIENTIZAÇÃO DOS DIREITOS E


CONCEITOS DO CONSUMIDOR
CONSUMIDOR FINANCEIRO
O conceito de defesa do consumidor tem penetração
Além das políticas destinadas a aumentar a capacidade limitada em Angola. Os entrevistados foram convidados
das pessoas para tomar decisões financeiras sólidas, a identificar a noção de protecção ao consumidor, e mais
a protecção ao consumidor financeiro tornou-se uma da metade afirmou não ter conhecimento do conceito
prioridade cada vez maior para os decisores políticos (figure 62). Um terço concordou com a noção de que a
em todo o mundo. Crises financeiras recentes, como protecção ao consumidor visa proteger os consumido-
a crise financeira global de 2008, revelaram a necessi- res de práticas inadequadas dos provedores de serviços
dade de fortes regimes de protecção ao consumidor que financeiros. Investigar a compreensão dos inquiridos
garantam a expansão do acesso aos serviços financeiros, sobre práticas comerciais abusivas e direitos do consu-
beneficie os consumidores, permite-lhes tomar decisões midor produziu resultados semelhantes. Quarenta e dois
bem informadas, cria confiança no sector financeiro for- por cento não sabem quando ocorre uma prática comer-
mal e contribui para mercados financeiros saudáveis e cial abusiva (figura 63), e 57 por cento não sabem quais
competitivos (Banco Mundial 2017). O acesso aos merca- são os direitos do consumidor ao lidar com serviços finan-
dos financeiros tem benefícios económicos e sociais signi- ceiros (figura 64).
ficativos, mas sem protecção adequada, os consumidores
podem ser prejudicados se não puderem exercer os seus O portal do consumidor bancário do Banco Nacional
direitos como consumidores; se não puderem seleccionar de Angola é um meio simples e eficaz para o consu-
produtos adequados às suas necessidades; e se não esti- midor reclamar contra prestadores de serviços finan-
verem protegidos contra venda indevida, fraude e outros ceiros, mas apenas 6 por cento dos angolanos têm
abusos do mercado (Banco Mundial 2015). conhecimento da sua existência. O portal do consu-
midor bancário fornece informações aos consumidores
Estruturas eficazes de protecção ao consumidor finan- sobre os direitos do consumidor, boas práticas de segu-
ceiro também são essenciais para incutir confiança no rança e protecção contra fraude, crédito e risco, informa-
sistema financeiro formal e para garantir que a expan- ções sobre as diferentes instituições financeiras no país e
são do sector financeiro beneficie os consumidores e educação financeira. Reclamações contra prestadores de
a economia em geral. Uma alta incidência de conflitos serviços também podem ser feitas por meio do portal. De
com provedores de serviços financeiros ou baixos níveis 6 por cento da população que conhece o portal, 78 por
de satisfação com os produtos financeiros usados podem cento relatam usá-lo. Com o nível de conflito tão baixo
minar a confiança no sistema financeiro formal. Além de
piorar a situação dos consumidores existentes, também FIGURA 62. Objectivo de protecção do consumidor
pode desencorajar novos consumidores que podem
potencialmente entrar no mercado.

Este capítulo avalia a eficácia do actual regime finan-


ceiro de protecção ao consumidor considerando a
perspectiva da demanda, com foco na satisfação dos 35%
consumidores com os produtos e serviços financeiros,
recurso do consumidor e resolução de litígios Para
54%
avaliar se os produtos que incluem financeiramente os
adultos em Angola atendem às necessidades da popu-
lação de forma eficaz, o Inquérito sobre a Capacidade 16%
Financeira procurou captar a satisfação geral dos consu-
midores com os sete tipos mais comuns de fornecedores
e os seus produtos e serviços. Para examinar a eficácia
1%
dos mecanismos de recurso disponíveis ao consumidor,
este inquérito pediu aos utilizadores de serviços financei- Para proteger o consumidor de práticas impróprias
ros que partilhassem as suas experiências com os actuais Para proteger o banco de clientes indelicados
mecanismos de recurso internos e externos e identificou Outro
segmentos da população que são mais propensos a ter
Sem conhecimento da protecção ao consumidor
encontrado um conflito com um provedor de serviços
financeiros nos passados três anos. Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 65

FIGURA 63. Percepção de práticas comerciais abusivas

45% 42%
40% 39%
35% 31%
30%
25%
20%
15%
10% 7%
5% 3%
0%
Não tem Quando retiram Quando depositam O banco pede O gestor do
conhecimento dinheiro da minha dinheiro da comissões banco dá
conta sem minha conta prioridade
permissão sem permissão a pessoas com
deficiências físicas
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 64. Percepções dos direitos do consumidor ao lidar com serviços financeiros

60% 57%

50%

40%
31%
30%

20%
10%
10% 5%
1%
0%
Não tem Direito à informação Direito a pagar O consumidor Outros
conhecimento completa sobre o em provisões, não tem direitos
produto/serviço que se preferir
vão escolher

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

quanto relatado, o conhecimento do portal pode estar sabem que acções podem tomar para tentar resolvê-los.
vinculado à necessidade, onde aqueles que não precisam Ampliar a consciência desses mecanismos permitiria que
dele não o procuram. essas pessoas experimentassem todos os benefícios do
acesso aos mercados financeiros.
Existem mecanismos para fornecer protecção ao con-
sumidor para clientes financeiros, e os formuladores de
6.2 MECANISMOS DE RESOLUÇÃO
políticas precisam priorizar o aumento da conscienti-
DE DISPUTAS
zação sobre eles em todo o país. Conforme discutido
na secção de resolução de disputas (6.2 Mecanismos de Como resultado da baixa conscientização sobre os
resolução de disputas), os casos relatados de conflito com direitos do consumidor, a cultura de reclamações em
prestadores de serviços financeiros são poucos e, quando Angola é baixa. Conflitos com fornecedores de serviços
ocorrem, são resolvidos com alto grau de satisfação. Mas financeiros são incomuns em Angola, mas não inexisten-
a maioria dos que relataram um conflito também relatou tes. Quando ocorreu um conflito relatado, quase todas as
que não tomariam nenhuma acção caso ocorresse. Uma pessoas lesadas tentaram alguma forma de acção para
possível explicação para isso é que eles não sabem como resolver o problema. Entre a população angolana, ape-
identificar conflitos ou que, quando eles ocorrem, não nas 4,9 por cento relatam ter experimentado um conflito
66 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

com um provedor de serviços financeiros nos três anos tuição financeira. Muitos enfrentaram um conflito com um
anteriores. A prevalência deste tipo de conflito é ampla banco e outra instituição financeira e 94,3 por cento agi-
em comparação com outros países em desenvolvimento, ram para resolver em ambos os casos, 2,3 por cento não
onde dados de pesquisas semelhantes estão disponíveis. agiram em nenhum dos casos e ninguém procurou uma
Por exemplo, uma pesquisa comparável em Moçambique solução em um caso, mas não no outro. Reclamações
revelou que 15 por cento da população inquirida encon- contra bancos foram resolvidas de forma satisfatória em
trou uma disputa com um provedor de serviços financei- 92 por cento dos casos, e todos os conflitos com outras
ros nos últimos três anos. Em Mianmar e no Tadjiquistão, instituições financeiras foram resolvidos com sucesso.
apenas 0,4 por cento e 1 por cento , respectivamente,
das populações supostamente experimentaram disputas Os adultos angolanos submeteram reivindicações às
semelhantes. Comparativamente, 5 por cento dos cida- autoridades governamentais competentes mais do
dãos da Mongólia relataram um conflito com provedores que qualquer outra via de resolução. Além disso,
de serviços financeiros. Embora este relatório atribua a preferiram resolver os conflitos com os bancos por
baixa taxa de reclamações a uma cultura de poucas recla- meio de mecanismos sociais e acção directa com o
mações com base em comportamentos semelhantes em banco, enquanto a sua preferência para os confli-
outros países, nenhuma evidência interna afirma que uma tos com outras instituições financeiras é a utilização
cultura de baixas reclamações é o principal motivador em de autoridades externas. Quase metade de todos os
relação à falta de conscientização dos direitos do con- entrevistados procuraram uma solução para o seu con-
sumidor, alta satisfação entre os serviços financeiros ou flito, enviando uma reclamação à autoridade governa-
alguma outra razão. A Compreensão dessa dinâmica é mental apropriada (figura 65). Os inquiridos preferiram
uma área para pesquisas futuras. usar os mecanismos sociais mais ao lidar com bancos
do que com outras instituições financeiras: 8 por cento
Quase todos os angolanos que relataram um conflito preferiram abordar o prestador de serviços por meio de
indicaram ter um problema com um banco, mas muitos amigos e familiares e 3 por cento abordaram o prestador
também enfrentaram um conflito separado com alguma de serviços por meio de líderes comunitários. Os inqui-
outra instituição financeira. A Tabela 10 mostra que 98 ridos também procuraram acções directas com bancos
por cento das pessoas que tiveram um conflito relataram mais do que com outras instituições financeiras: 7 por
que a fonte desse conflito era um banco. De todos os cento pararam de usar os serviços antes do término do
reclamantes, 78,3 por cento relataram também ter um contrato e 5 por cento apresentaram queixa à empresa
conflito com alguma outra instituição financeira. Todos que fornecia o produto. Ao lidar com outras instituições
os entrevistados que relataram conflitos com outras ins- financeiras, os inquiridos preferiram autoridades exter-
tituições financeiras também relataram ter conflitos com nas: 23 por cento abordaram o Instituto Nacional de
um banco. Defesa do Consumidor (INADEC) e 2 por cento apre-
sentaram uma reclamação/pedido à autoridade gover-
Diante de um conflito com uma instituição financeira, namental apropriada.
quase todos os angolanos tomaram medidas para o
resolver independentemente do tipo de instituição e Os respondentes apresentaram queixas, fizeram recla-
ficaram satisfeitos com o resultado. Noventa e cinco mações à autoridade governamental apropriada e
por cento dos adultos realizaram uma acção para resolver apelaram ao INADEC mais por métodos pessoais ao
um conflito com um banco e 94,3 por cento o fizeram lidar com reclamações contra bancos, enquanto uma
quando enfrentaram um conflito com alguma outra insti- proporção maior preferia métodos mais remotos nos

TABELA 9. Conflitos e resoluções de provedores de serviços financeiros

BANCO INSTITUIÇÃO FINANCEIRA


Vivenciou um conflito nos últimos 3 anos 99% 78%
Tomou medidas para resolver o conflito 95% 94%
Medidas de resolução tomadas pessoalmente 98% 79%
Etapas de resolução tomadas remotamente 24% 41%
Reclamação resolvida satisfatoriamente 92% 100%
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 67

casos de outras instituições financeiras. Quase todas as acção preferida em caso de conflito com um provedor
reclamações formais contra bancos foram apresentadas de serviços financeiros (figura 67). Destes, 16 por cento
pessoalmente, conversando com funcionários do banco acreditavam que o problema seria resolvido automatica-
ou por meio de livros de reclamações (figura 66). Ape- mente. Um terço identificou um método formal de repa-
nas um quarto das queixas contra bancos foi submetido ração como o seu método de resolução preferido, com
remotamente, por telefone ou online. Em contrapartida, 80 por cento esperando uma resolução. Processos de
dois quintos das reclamações contra outras instituições resolução informal, como discussão directa com o pro-
financeiras foram apresentadas remotamente e pouco vedor, foram os menos preferidos, com apenas 16 por
mais de três quartos foram concluídas pessoalmente. cento , mas tiveram a maior expectativa de resolução. O
perfil de acção e expectativas entre aqueles que tiveram
Os inquiridos que não haviam sofrido nenhum conflito e não vivenciaram um conflito com um provedor de ser-
nos três anos anteriores eram muito mais propensos viços financeiros diferem fortemente, o que talvez sugira
a não fazer nada em caso de conflito. Mais da metade que há aqueles que vivenciaram conflitos menores sem
dos inquiridos identificou “não fazer nada” como a sua resolvê-los.

FIGURA 65. Resolução de reclamações por tipo de instituição

60%
50% 47% 49%
40%
40% 35%
33% 32%
30% 30%
30%
20%
13%
9%
10%
0%
Enviou uma Parou de Enviou uma Contactou o Outros (inclui
reclamação às usar os serviços reclamação à INADEC contactos a
autoridades antes do fim empresa que provedores de
competentes do contrato vendeu o produto serviços através de
amigos, familia)

Banco Outras instituições financeiras

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 66. Abordagem para lidar com conflitos de FIGURA 67. Expectativas de resolução de conflitos com provedores
provedores de serviços financeiros de serviços financeiros
100% 98%
100% 91%

79% 80%
80% 80%

60% 60% 51%


41%
40% 40% 33%
24%
20% 16% 16%
20%

0% 0%
Pessoalmente Remotamente Formalmente Informalmente, Não fez nada
(atraves de um sistema atraves de
Banco Outras instituições financeiras de reclamacoes, ou atraves conversas
de reclamacoes
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019 ao regulador)

% que age % que espera resolução

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


68 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

As populações mais vulneráveis estão menos dispos- 6.3 TAXAS DE SATISFAÇÃO ENTRE OS
tas a procurar resolver conflitos. Quase todos os que CONSUMIDORES FINANCEIROS
tiveram um conflito com um provedor de serviços finan-
Os resultados do inquérito sugerem que embora os
ceiros tomaram medidas para encontrar uma solução,
bancos comerciais tenham o maior alcance do sector
mas pode ser valioso entender as características daque-
financeiro, a satisfação com os seus serviços é inferior à
les que não o fariam. O indicador mais forte de inacção é
de outras instituições financeiras em Angola.34 A Figura
a falta de realização educacional: 69 por cento das pes-
69 indica que os bancos atendem às necessidades de 87
soas com educação primária ou menos não tomariam
por cento da sua base de clientes — a taxa média de satis-
nenhuma atitude, em comparação com apenas 43 por
fação entre todas as instituições financeiras. As casas de
cento das pessoas com pelo menos o nível médio de
câmbio e correctoras do Mercado de Capitais de Angola
educação. A população financeiramente excluída tam-
alcançaram os maiores índices de satisfação entre os seus
bém exibe uma forte aversão a tomar medidas. Sessenta
clientes (96 por cento e 95 por cento, respectivamente),
e sete por cento não resolveriam um conflito com um
seguidas pelos agentes de transferência de dinheiro com
provedor de serviços financeiros, enquanto apenas 33
94 por cento, e outras instituições financeiras não bancá-
por cento dos adultos incluídos financeiramente fariam
rias com 92 por cento. Outras instituições financeiras têm
o mesmo. A Figura 68 ilustra que as mulheres e aque-
les com rendimentos abaixo da mediana do país tam-
bém correm o risco de inacção para resolver disputas. 34. Observe que as taxas de satisfação são por natureza subjec-
tivas e o grupo de clientes difere entre os tipos de fornece-
Estas populações são particularmente vulneráveis aos
dores. No entanto, esta constatação mantêm-se mesmo se
impactos negativos associados às disputas com fornece- olharmos para o mesmo grupo de clientes. Por exemplo,
dores de serviços financeiros e, portanto, os programas mesmo se compararmos detentores de produtos bancários
que actualmente usam produtos de outros tipos de provedo-
de educação financeira que penetram nesses grupos
res, os produtos bancários ainda parecem atender menos às
devem considerar a inclusão de formações para a reso- suas necessidades em comparação com produtos de outras
lução de conflitos nos seus currículos. instituições financeiras

FIGURA 68. Características sociodemográficas de inacção em conflito potencial com provedor de


serviços financeiros

80%
69%
70% 67%

59%
60% 55%

50% 48%
43% 45%
40%
33%
30%

20%

10%

0%
escola Escola sem acesso incluido Feminino Masculino Abaixo do Acima do
primária secundária a contas financeiramento rendimento rendimento
ou menos ou mais formais médio médio

Não age para resolver conflitos

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 69

resultados piores em termos de satisfação do cliente em Uma análise mais detalhada das taxas de satisfação
comparação com os bancos comerciais. As seguradoras bancária entre diferentes perfis de usuários revela
têm os clientes menos satisfeitos, com 82 por cento , uma que os bancos têm menos probabilidade de atender
taxa apenas ligeiramente inferior à das casas de câmbio, às mulheres, famílias rurais, pessoas sem alto nível de
também com 82 por cento . escolaridade e pessoas que trabalham informalmente
ou desempregadas. A Figura 71 ilustra que o género
A satisfação do cliente é independente da exposição desempenha um papel importante na explicação das
a várias instituições. Ao comparar as taxas de satisfação diferenças nas taxas de satisfação com o banco, com as
entre a satisfação geral e as taxas de adultos que usam mulheres tendo quase o nível mais baixo de satisfação. A
mais de uma instituição financeira, as agências de câm- maior diferença nos índices de satisfação bancária pode
bio são ligeiramente menos bem-vistas (6 por cento de ser observada entre os que estão fora da força de traba-
redução), sendo essa diferença a maior entre todas as ins- lho e os que estão empregados informalmente.
tituições (figura 70). A familiaridade com os serviços de
uma instituição financeira em Angola não parece influen-
ciar significativamente a percepção das outras instituições
financeiras.

FIGURA 69. Satisfação do cliente com os serviços prestados por diferentes instituições financeiras

Bolsa de Valores de Angola 96%

Correctoras 95%

Agências de transferência de dinheiro 94%

Instituições Financeiras Não bancárias 92%

Bancos comerciais 87%

Agentes de Seguros 86%

Organizações de Microcredito 85%

Agências de câmbio 82%

Empresas de Seguros 82%

75% 80% 85% 90% 95% 100%

Satisfação
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019
70 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 70. Satisfação do cliente de múltiplos serviços com os serviços de diferentes instituições financeiras

100%

95%

90%

85%

80%

75%
Bancos Empresas Correctoras Organizações Outras Casas de Agencias de Agências Bolsa de
comerciais de seguros de micro- instituições câmbio transferência de seguros valores de
crédito financeiras de dinheiro Angola
não bancárias

Satisfaction if using multiple services Individual satisfaction

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019

FIGURA 71. Taxas de satisfação do banco em características sociodemográficas

100% 98%
92% 91%
90% 89% 88% 87% 88% 87%
84% 84% 84%
82% 82%
80% 78%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
e

io

io

al

al

ia

io

io
o

l
ra

im
ad

ad

lh
rm

rm

pr
in

lin

an

ár

ár

éd

éd
Ru

ba
ac
in

rid

im

nd

eg
cu

fo

fo

m
m

Ur

tra
p
Pr

po o in
la

cu
as

ou

pr
go

to

to
Fe

ta
co

em
M

Se

de

en

en
re
e

on
g
es

ad

ad pre

im

im
p

es

do
rc
Em
m

sid

nd

nd
Em

ca
Se

er

re

re
er
o
iv

do

do
Un

do
eg

xo

a
im
pr

ra

ai

Ac
Ab
Em

Fo

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Angola 2019


Nota: Não é apresentada a taxa de satisfação bancária para quem não tem escolaridade porque não houve respondentes.
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ANEXO

A. CARACTERÍSTICAS DO RESPONDENTE AO INQUÉRITO

FIGURA 72. Discriminação do número estimado FIGURA 73. Discriminação do número estimado
de população por meios urbanos de população por rendimento

32%

48%
52%

68%

Urbano Rural Abaixo da renda média Acima da renda média

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019 Angola 2019

73
74 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

FIGURA 74. Discriminação do número estimado FIGURA 75. Discriminação do número estimado
de população por género de população por grupos etários

8%

47%
53% 41% 51%

Masculino Feminino < 35 anos 35–54 anos >= 55 anos

Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019 Angola 2019

FIGURA 76. Discriminação do número estimado FIGURA 77. Divisão estimada de grupos de
de população por grupos educacionais rendimento estável/instável

9%
24%
31%
22%

69%

46%

Rendimento instável Rendimento estável


Sem escolaridade Primário
Secundário Universidade ou acima Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 75

FIGURA 78. Discriminação do número estimado FIGURA 79. Divisão estimada por chefe de agregado
de população por dimensão do agregado familiar vs. não chefe de agregado familiar

9%

24%
21%
45%
55%

47%

1–3 membros 4–6 membros sem chefe de familia Com chefe de familia

7–9 membros 10–16 membros Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019

FIGURA 80. Divisão estimada por alfabetização FIGURA 81. Divisão estimada por categoria
de emprego

16% 15%
13%

13%
21%

35%
87%

empregado por conta fora do mercado laboral


própria
Analfabeto Alfabetizado empregado
emprego informal
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira, emprego formal
Angola 2019
Fonte: Inquérito do GBM sobre a Capacidade Financeira,
Angola 2019
76 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

B. TABELAS DE REGRESSÃO

CAPÍTULO 3. ALCANCE E INCLUSÃO DO SECTOR FINANCEIRO


TABELA 10. INCLUSÃO FINANCEIRA POR FACTORES SOCIAIS E DEMOGRÁFICOS

(1) FINANCEIRAMENTE (2) FINANCEIRAMENTE (3) FINANCEIRAMENTE


INCLUÍDO INCLUÍDO INCLUÍDO
Idade < 35
35 > Age < 55 0.304** 0.237* 0.279**
(0.127) (0.126) (0.134)
Idade >=55 –0.347 –0.504* –0.530*
(0.266) (0.289) (0.275)
Sexo masculino 0.156 –0.007 –0.031
(0.102) (0.113) (0.118)
Sem educação
Educação primária –0.360 –0.391 –0.344
(0.304) (0.288) (0.302)
Educação secundária 0.435 0.067 0.126
(0.305) (0.294) (0.316)
Universitária ou superior 0.289 –0.381 –0.267
(0.429) (0.408) (0.442)
Analfabeto(a) –1.077*** –0.686** –0.578*
(0.297) (0.309) (0.322)
Chefe do agregado 0.050 0.015 –0.045
(0.118) (0.127) (0.137)
Rendimento abaixo da mediana
Rendimento acima da mediana 0.323** 0.154 0.171
(0.133) (0.135) (0.139)
Emprego formal
Emprego informal –0.906*** –0.887*** –0.946***
(0.216) (0.214) (0.216)
Auto-emprego –1.297*** –1.037*** –1.151***
(0.240) (0.242) (0.260)
Desempregado(a) –0.675** –0.654** –0.710**
(0.279) (0.282) (0.287)
Fora da força de trabalho –0.938*** –1.059*** –1.089***
(0.274) (0.287) (0.297)
Meio Urbano –0.131 –0.143
(0.130) (0.137)
Salvo quando criança –0.109 –0.151
(0.157) (0.165)
Consumo dos meios de 0.410*** 0.415***
comunicação social (0.041) (0.042)
Dimensão do agregado –0.038
(0.030)
Rendimento estável –0.236*
(0.139)
Constante 1.328** 0.178 0.342
(0.608) (0.667) (0.721)
Obs. 1,189 1,189 1,146
Pseudo R 2 .z .z .z
Erros comuns estão em parênteses.
*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1
Nota: A variável dependente é um indicador binário por ter, individualmente ou em conjunto com outra pessoa, uma
conta (para economizar dinheiro, fazer ou receber pagamentos ou receber salários e remessas) em um banco. As variáveis
omitidas entre as covariáveis categóricas são idade entre 18 e 35 anos, nenhuma escolaridade, rendimento abaixo da
mediana, e emprego formal.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 77

CAPÍTULO 4. CAPACIDADE FINANCEIRA


TABELA 11. PONTUAÇÃO DE LITERACIA FINANCEIRA POR FACTORES SOCIAIS E DEMOGRÁFICOS
(1) PONTUAÇÃO DE (2) PONTUAÇÃO DE (3) PONTUAÇÃO DE
LITERACIA FINANCEIRA LITERACIA FINANCEIRA LITERACIA FINANCEIRA
Idade < 35
35 <= Idade < 55 0.128 0.085 0.007
(0.118) (0.115) (0.119)
Idade >=55 –0.207 –0.241 –0.268
(0.238) (0.242) (0.248)
Sexo masculino 0.117 0.068 0.035
(0.100) (0.100) (0.105)
Sem educação
Educação primária 0.547** 0.528** 0.408*
(0.274) (0.265) (0.236)
Educação secundária 1.322*** 1.120*** 1.010***
(0.291) (0.285) (0.262)
Universitária ou superior 1.265*** 0.951*** 0.837***
(0.332) (0.332) (0.317)

Analfabeto(a) –0.333 –0.164 –0.239


(0.293) (0.281) (0.245)

Chefe do agregado 0.017 –0.011 0.081


(0.123) (0.118) (0.134)

Rendimento abaixo da mediana


Rendimento acima da 0.746*** 0.665*** 0.699***
mediana (0.117) (0.117) (0.117)
Emprego formal
Emprego informal –0.425** –0.342* –0.299
(0.191) (0.194) (0.194)
Auto-emprego –0.488** –0.330 –0.284
(0.210) (0.213) (0.222)
Desempregado(a –0.170 –0.122 –0.090
(0.236) (0.233) (0.232)
Fora da força de trabalho –0.515*** –0.497** –0.487**
(0.196) (0.200) (0.209)
Meio Urbano –0.130 –0.120
(0.112) (0.115)
Salvo quando criança 0.069 0.065
(0.133) (0.134)
Consumo dos meios de 0.140*** 0.132***
comunicação social (0.033) (0.034)
Dimensão do agregado 0.050**
(0.021)
Rendimento estável –0.058
(0.130)
Constante 1.811*** 1.495*** 1.417***
(0.583) (0.557) (0.532)
Obs. 1189 1189 1146
R-quadrado 0.300 0.323 0.322
Erros comuns estão em parênteses.
*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1
78
TABELA 12. Capacidades financeiras por factores sociais e demográficos

(3) (6) (10)


(1) (2) Viver (4) Cobrir (8) (9) Orientação
Controlo Orça- Gastos não dentro dos Autocon- (5) despesas (7) Preparação Perspectivas para a
mental excessivos seus limites tenção Prudência inesperadas Poupança para a velhice Financeiras realização
Idade < 35
35 > Idade 4.036** 1.906 –0.761 –0.621 2.871 4.528 7.744** 9.050** 8.778*** –1.987
< 55 (1.867) (2.957) (2.018) (2.754) (2.339) (3.545) (3.028) (3.568) (2.204) (2.512)
Idade >=5 –2.127 –1.556 –0.679 4.600 6.959 4.476 10.519* 8.998 8.028 –5.945
(3.523) (8.310) (3.729) (5.422) (5.300) (5.307) (6.035) (5.972) (4.905) (5.069)
Sexo –3.234 –0.800 –1.755 –7.217*** –3.434 –3.842 –8.351*** –1.434 –3.792* 0.829
masculino (2.032) (2.796) (1.708) (2.788) (2.239) (3.244) (2.744) (3.424) (1.951) (2.520)
Sem educação
Educação –10.079 7.843 –0.140 –13.304** 12.538** 10.714* 14.016* –4.843 –5.178 4.166
primária (6.253) (5.574) (3.172) (5.441) (4.917) (5.896) (8.329) (9.627) (6.763) (6.152)
Educação –6.693 11.314* 0.952 –13.928** 18.297*** 19.003*** 21.247** –6.534 –1.790 1.148
secundária (6.468) (6.183) (4.013) (6.123) (5.330) (6.933) (9.056) (10.203) (7.395) (7.040)
Universitária ou –9.420 13.258* –6.907 –20.437** 16.583*** 21.968** 18.762* 6.691 –10.023 –3.094
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

superior (7.548) (7.770) (6.349) (7.995) (6.272) (9.562) (10.809) (12.407) (8.394) (9.104)
Analfabeto(a) –12.292** –1.741 –0.126 –11.717** 12.141** 1.220 8.552 –9.180 –9.219 –10.371*
(5.431) (5.841) (3.335) (4.885) (4.884) (5.995) (8.249) (7.515) (5.634) (5.926)
Chefe do 2.722 –0.577 7.894*** 2.945 –3.064 –1.528 –2.875 5.286 2.242 2.154
agregado (2.080) (2.983) (2.246) (2.999) (2.379) (3.826) (3.257) (3.972) (2.454) (2.380)
Rendimento
abaixo da
mediana
Rendimento 1.856 0.090 3.642* 6.211** 1.528 –3.863 –3.743 5.567 2.066 4.238
acima da (1.970) (2.911) (2.204) (2.568) (2.050) (3.520) (3.038) (3.396) (2.727) (2.934)
mediana
Emprego
formal
Emprego –8.263*** –4.850 –3.944 –6.244* 0.268 0.084 2.325 0.879 –5.574 –0.599
informalt (2.744) (4.889) (2.979) (3.744) (3.163) (5.018) (4.433) (5.136) (3.928) (6.001)
Auto-emprego –12.716*** –7.592 –3.963 –7.000* 0.261 3.695 6.139 –2.086 –3.325 4.610
(3.248) (5.344) (3.460) (3.755) (3.724) (5.362) (4.770) (5.423) (4.344) (6.338)
Desemprega- –9.756*** –14.687*** –3.045 –14.635*** 0.597 4.970 –2.832 2.228 –2.928 2.723
do(a) (3.423) (5.394) (3.398) (3.971) (3.589) (6.066) (5.577) (6.290) (4.074) (4.221)

continuação
TABELA 12, continuação

(3) (6) (10)


(1) (2) Viver (4) Cobrir (8) (9) Orientação
Controlo Orça- Gastos não dentro dos Autocon- (5) despesas (7) Preparação Perspectivas para a
mental excessivos seus limites tenção Prudência inesperadas Poupança para a velhice Financeiras realização
Fora da força –13.645*** –6.312 –3.650 –11.297*** –4.818 5.541 –6.623 –5.273 –5.365 1.948
de trabalho (3.207) (4.909) (3.471) (4.112) (3.448) (4.464) (4.663) (6.840) (4.761) (6.620)
Meio Urbano –5.022** –4.236 –6.225*** 1.129 –5.195** 7.745** –0.841 2.705 2.037 2.217
(2.250) (2.779) (2.211) (2.628) (2.463) (3.338) (3.598) (3.100) (2.711) (2.948)
Poupou –4.470** –0.112 –2.287 1.991 1.690 4.892 2.497 17.648*** –9.762*** 3.063
quando criança (1.935) (3.281) (1.966) (2.948) (2.381) (3.370) (3.127) (3.447) (2.547) (3.140)
Consumo 1.937*** 4.295*** –1.363** –1.407* 2.265*** 3.167*** 5.259*** 3.621*** –3.259*** 2.665***
dos meios de (0.722) (0.901) (0.609) (0.786) (0.774) (1.000) (0.834) (1.110) (0.702) (0.962)
comunicação
social
Dimensão do –0.843** –1.280** 0.541 0.611 –0.205 –0.211 –0.087 –1.013* 0.749 –0.034
agregado (0.403) (0.646) (0.499) (0.495) (0.407) (0.588) (0.529) (0.614) (0.501) (0.478)
Rendimento –5.514*** –5.137* 3.404* 3.213 –1.910 –2.377 1.796 –0.656 1.719 –5.733*
estável (2.061) (3.054) (1.817) (2.753) (2.445) (3.413) (3.119) (3.903) (2.584) (3.392)
Constante 108.329*** 58.121*** 76.235*** 98.598*** 52.308*** 25.891* 19.357 48.266** 78.634*** 68.395***
(12.802) (14.135) (8.844) (12.695) (10.730) (14.635) (18.326) (18.892) (14.719) (15.845)
Obs. 1,146 1,146 1,146 1,146 1,146 1,146 1,146 1,085 1,146 1,146

R-quadrado 0.151 0.142 0.073 0.065 0.081 0.076 0.132 0.143 0.122 0.094

Erros comuns estão em parênteses.


*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1
Nota: A variável dependente em cada especificação foi o factor indexado correspondente à capacidade financeira identificada na análise de componentes principais. As variáveis omitidas entre as
covariáveis categóricas são idade entre 18 e 35 anos, sem escolaridade, rendimento abaixo da mediana, e emprego formal.
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola
79
80 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

TABLE 13. Literacia financeira e pontuações de comportamento financeiro


PONTUAÇÃO DE [INTERVALO
LITERACIA FINANCEIRA COEF. ERRO PADRÃO VALOR-T VALOR-P DE CONF. DE 95%] SIG.
Controlo Orçamental 0.006 0.002 2.68 0.008 0.002 0.011 ***
Gastos não excessivos 0.007 0.002 3.25 0.001 0.003 0.011 ***
Viver dentro dos seus limites 0.005 0.003 1.41 0.159 –0.002 0.011
Autocontenção 0.001 0.002 0.67 0.506 –0.003 0.005
Prudência 0.005 0.002 2.11 0.035 0.000 0.009 **
Cobrir custos inesperados 0.000 0.002 –0.06 0.951 –0.004 0.004
Poupança 0.001 0.002 0.86 0.389 –0.002 0.005
Planeamento para a velhice 0.002 0.001 1.65 0.100 0.000 0.005
Perspectivas Financeiras 0.008 0.002 3.21 0.001 0.003 0.012 ***
Orientação para a realização 0.009 0.003 2.61 0.009 0.002 0.016 ***
Constante -0.390 0.404 –0.96 0.335 –1.185 0.404

Média da variável dependente 2.381 DP da variável dependente 1.545


R-quadrado 0.134 Número de obs. 1125.000
Teste F 8.712 Prob. > F 0.000

*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1


Nota: A variável dependente é a pontuação de literacia financeira.

CAPÍTULO 5. RELAÇÃO ENTRE A INCLUSÃO FINANCEIRA E A CAPACIDADE FINANCEIRA


TABELA 14. Inclusão financeira por pontuação de literacia financeira (Lit. Fin.)

[INTERVALO
FINANCEIRAMENTE INCLUÍDO COEF. ERRO PADRÃO VALOR-T VALOR-P DE CONF. DE 95%] SIG.
Pontuação de Lit. Fin. : 0–2 0.000 — — — — —
Pontuação de Lit. Fin.: 3–4 0.179 0.147 1.22 0.223 –0.109 0.468
Pontuação de Lit. Fin.: 5–6 0.665 0.264 2.52 0.012 0.146 1.185 **
Idade < 35 0.000 — — — — —
35 > Idade < 55 0.271 0.134 2.02 0.043 0.008 0.534 **
Idade >=55 –0.572 0.282 –2.03 0.043 –1.126 -0.018 **
Sexo masculino –0.066 0.120 –0.55 0.583 –0.301 0.170
Sem educação 0.000 — — — — —
Educação primária –0.345 0.298 –1.16 0.248 –0.930 0.240
Educação secundária 0.040 0.309 0.13 0.897 –0.567 0.647
Univ. ou superior –0.334 0.439 –0.76 0.447 –1.197 0.529
Analfabeto(a) –0.564 0.314 –1.80 0.073 –1.182 0.053
Chefe do agregado –0.042 0.135 –0.31 0.758 –0.308 0.224
Rendimento abaixo da mediana 0.000 — — — — —
Rendimento acima da mediana 0.090 0.150 0.60 0.548 –0.204 0.384
Emprego formal 0.000 — — — — —
Emprego informal –0.893 0.223 –4.00 0.000 –1.332 –0.455 ***
Auto-emprego –1.099 0.262 –4.20 0.000 –1.613 –0.585 ***
Desempregado(a) –0.702 0.298 –2.36 0.019 –1.288 –0.117 **
Fora da força de trabalho –1.024 0.291 –3.52 0.000 –1.596 –0.452 ***
Meio Urbano –0.144 0.137 –1.05 0.296 –0.413 0.126
Salvo quando criança –0.157 0.164 –0.96 0.338 –0.479 0.165
continuação
Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola 81

TABELA 14, continuação

[INTERVALO
FINANCEIRAMENTE INCLUÍDO COEF. ERRO PADRÃO VALOR-T VALOR-P DE CONF. DE 95%] SIG.
Consumo dos meios de 0.415 0.042 9.89 0.000 0.332 0.497 ***
comunicação social
Dimensão do agregado –0.040 0.031 –1.31 0.190 –0.100 0.020
Rendimento estável –0.242 0.134 –1.81 0.071 –0.506 0.021 *
Constante 0.278 0.706 0.39 0.694 –1.109 1.665

Média da variável dependente 0.429 DP da variável dependente 0.495


Número de obs. 1,146.000 Teste F 13.240
*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1
Nota: A variável dependente é um indicador binário por ter, individualmente ou em conjunto com outra pessoa, uma conta (para economizar dinheiro,
fazer ou receber pagamentos ou receber salários e remessas) em um banco. As variáveis omitidas entre as covariáveis categóricas são: pontuação de
literacia financeira entre 0 e 2, idade entre 18 e 35, sem escolaridade, rendimento abaixo da mediana, e emprego formal.

TABELA 15. Inclusão financeira por conhecimento do produto

[INTERVALO
FINANCEIRAMENTE INCLUÍDO COEF. ERRO PADRÃO VALOR-T VALOR-P DE CONF. DE 95%] SIG.
Índice de Conhecimento dos 0.281 0.044 6.36 0.000 0.194 0.367 ***
Produtos Financeiros
Idade < 35 0.000 — — — — —
35 > Idade < 55 0.319 0.142 2.25 0.025 0.040 0.598 48.266**
Idade >=55 -0.554 0.261 -2.12 0.035 -1.067 -0.040 48.266**
Sexo masculino -0.106 0.128 -0.82 0.410 -0.358 0.146
Sem educação 0.000 — — — — —
Educação primária -0.145 0.279 -0.52 0.602 -0.693 0.402
Educação secundária 0.201 0.304 0.66 0.508 -0.396 0.798
Univ. ou superior -0.343 0.440 -0.78 0.435 -1.207 0.521
Analfabeto(a) -0.389 0.302 -1.29 0.198 -0.981 0.204
Chefe do agregado -0.026 0.149 -0.17 0.862 -0.319 0.267
Rendimento abaixo da mediana 0.000 — — — — —
Rendimento acima da mediana 0.088 0.148 0.59 0.553 -0.202 0.378
Emprego formal -1.123 0.263 -4.27 0.000 -1.640 -0.606 ***
Emprego informal -0.634 0.298 -2.13 0.034 -1.219 -0.050 48.266**
Auto-emprego -1.049 0.292 -3.60 0.000 -1.622 -0.476 ***
Desempregado(a) -0.122 0.142 -0.86 0.389 -0.400 0.156
Fora da força de trabalho -0.324 0.169 -1.92 0.055 -0.655 0.007 *
Meio Urbano 0.358 0.044 8.08 0.000 0.271 0.446 ***
Salvo quando criança -0.023 0.032 -0.73 0.465 -0.087 0.040
Consumo dos meios de -0.050 0.150 -0.33 0.740 -0.345 0.245
comunicação social
Dimensão do agregado -0.336 0.705 -0.48 0.634 -1.720 1.049
Rendimento estável 0.281 0.044 6.36 0.000 0.194 0.367 ***
Constante 0.000 — — — — —

Média da variável dependente 0.429 DP da variável dependente 0.495


Número de obs. 1,146.000 Teste F 12.561

*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1


Nota: A variável dependente é um indicador binário por ter, individualmente ou em conjunto com outra pessoa, uma conta (para economizar dinheiro,
fazer ou receber pagamentos ou receber salários e remessas) em um banco. As variáveis omitidas entre as covariáveis categóricas são idade entre
18 e 35 anos, sem escolaridade, rendimento abaixo da mediana, e emprego formal.
82 Fortalecendo a Capacidade e a Inclusão Financeira em Angola

TABELA 16. Inclusão financeira por pontuações de comportamento financeiro


[INTERVALO
FINANCEIRAMENTE INCLUÍDO COEF. ERRO PADRÃO VALOR-T VALOR-P DE CONF. DE 95%] SIG.
Controlo orçamental 0.008 0.003 2.79 0.005 0.002 0.013 ***
Gastos não excessivos 0.007 0.002 4.30 0.000 0.004 0.011 ***
Viver dentro dos seus limites 0.001 0.004 0.27 0.786 –0.006 0.008
Autocontenção 0.000 0.002 –0.14 0.892 –0.005 0.004
Prudência 0.002 0.002 0.90 0.367 –0.002 0.007
Cobrir custos inesperados 0.000 0.002 0.21 0.834 –0.003 0.004
Poupança 0.006 0.002 2.94 0.003 0.002 0.010 ***
Planeamento para a velhice 0.002 0.001 1.82 0.070 0.000 0.005 *
Perspectivas Financeiras –0.003 0.002 –1.25 0.213 –0.007 0.002
Orientação para a realização 0.005 0.003 1.87 0.062 0.000 0.011 *
Constante –2.006 0.385 –5.21 0.000 –2.761 –1.250 ***

Média da variável dependente 0.434 DP da variável dependente 0.496


Número de obs. 1125.00 Teste F 8.356
0
*** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1
Nota: A variável dependente é um indicador binário por ter, individualmente ou em conjunto com outra pessoa, uma conta (para
economizar dinheiro, fazer ou receber pagamentos ou receber salários e remessas) em um banco.

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