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ma nu a I d e
DIPLOMACIA CORPORATIVA
•
Sumário
Prefácio, ix
Introdução, l
1 O Planejamento dos Negócios Internacionais, 3
2 A Política Externa Corporativa e a Diplomacia Corporativa, 17
2.1 Definição da Política Externa Corporativa, 17
2.2 Dimensões da Política Externa Corporativa, 24
2.3 Papel do Diplomata Corporativo, 26
3 A Dimensão Mercado, 35
3.1 Análise da Empresa, 37
3.2 Identificando as Oportunidades de Negócios Internacionais, 53
3.3 Definição da Estratégia de Entrada, 58
3.4 Implementação e Gestão dos Negócios Internacionais, 67
4 A Dimensão Governo, 73
5 A Dimensão Sociedade, 93
6 A Dimensão Informação, 109
7 A Definição dos Objetivos da Política Externa Corporativa, 119
7.1 Avaliação da Sensibilidade Dimensional Corporativa, 119
7.2 O Balanced Scorecard International (BSCi), 125
8 O Monitoramento da Política Externa Corporativa, 139
8.1 O CAGE Framework, 139
8.2 O Monitoramento dos 5 Riscos dos Negócios Internacionais, 148
8.2.1 Risco geográfico, 149
viii Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
Essa decisão
empresa, visto que dev u;"ª atençao
requer ~ especial por parte da administração da0
mundo exterior. lsso er; requerer a criação de um setor voltado só para
lações internacionais vai emandar especialistas em comércio exterior, em re·
palavras, vai obriga;:: ~esso_al com o donúnio de outras línguas. Em outras
tanto também dever, e miçao de uma nova estratégia empresarial e para
de consultores de neg, a contar
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• de empresas de recursos humanos e
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da empresa nacionaf. que se preocupam com os rumos da internacionalização
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Introdução
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1
O Planejamento dos Negócios Internacionais
Brasil está entrando em uma nova era em sua história em que a cada
O dia que passa fica mais claro que não existe saída para o nosso cresci-
mento a não ser através da internacionalização de nossas empresas.
Por outro lado, apesar de vivermos a era da globalização, poucas empre-
sas, executivos e empreendedores entendem o que é de fato fazer negócios
internacionais. Não são poucos os que enxergam os negócios internacionais
simplesmente como o processo mecânico de exportação. Nesta categoria estão
os "exportadores de feira", que são as empresas brasileiras que descobriram as
feiras internacionais. Estas empresas saem à caça de feiras pelo mundo, armam
suas banquinhas e vendem para quem aparecer. Não existe a preocupação de
conhecer os mercados, as culturas locais, os competidores, se questionar sobre
alterações de produto para agradar o consumidor local etc. Desta forma es-
sas empresas perdem imensas oportunidades de negócios por desconhecerem
como se planejar para os negócios internacionais.
Pior ainda são os "exportadores de ocasião", aquelas empresas que quando
o dólar está em alta saem correndo para encontrar compradores para os seus
produtos no mercado externo e quando o dólar está em baixa revertem suas
vendas totalmente para o mercado interno. Não se desenvolvem mercados in-
ternacionais aproveitando altas da moeda. O empresário apenas acaba danan-
do a sua própria imagem nesses mercados.
A maior parte dos países do mundo tem uma longa cultura de negócios in-
ternacionais refletidas em centenas de cursos e no comportamento dos execu-
tivos por gerações. Por outro lado, durante décadas o brasileiro negligenciou a
palavra internacional frente à grandeza do mercado interno e às enormes bar-
reiras comerciais.
No entanto, o mundo mudou e o Brasil também está mudando. Dessa for-
ma este livro é destinado a estudantes, empreendedores e executivos que que-
rem atuar com sucesso em negócios internacionais.
4 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
Neste sentido, devemos nos perguntar: afinal, o que são negócios interna-
cionais?
Razões proativas
Desenvolvido
Em
desenvolv imento Novo produto Produto em mat:ura çãf Produto padronizado
Prn<luto padronizado
Razões reativas
Globalização
cionais barreiras entre Estados caem fruto do avanço tecnológico, o qual possi-
bilita intensa troca de informações entre as pessoas no mundo. Tal fenômeno é
observado virtualmente em todos os aspectos das relações humanas, incluindo
não somente a economia mas também educação, imprensa etc.
Ou seja, a globalização é normalmente identificada como um processo eco-
nômico, mas existem outros aspectos para os quais qualquer pessoa que traba-
lhe com negócios internacionais tem que estar atenta.
A globalização da imprensa significa, por exemplo, que redes internacio-
nais de 1V como a CNN e a BBC podem transmitir ao vivo para o mundo inteiro
os últimos lances da Guerra do Iraque com comentários de líderes mundiais,
economistas e cientistas políticos em tempo real. Isto não é mero entretenimen-
to - significa que o executivo tem que tomar as decisões com mais agilidade le-
vando em conta o que está acontecendo no mundo agora. Ou seja, digamos que
sua empresa esteja planejando importar um equipamento europeu de US$ 5
milhões. Qual o impacto da notícia de guerra sobre a decisão de importação?
Outro fator importante muitas vezes negligenciado em negócios internacio-
nais é a globalização cultural. O fenômeno diz respeito à formação de uma certa
cultura global especialmente de negócios. Através da massificação da imprensa
internacional podemos observar que marcas e costumes das boas práticas de
negócio se internacionalizaram, o que facilita bastante a comunicação entre ne-
gociantes do mundo todo. Por outro lado, este processo de massificação cultu-
ral tem levado também ao fortalecimento de culturas locais que são muito mais
fragmentadas que a cultura de um país. Assim, quando você estiver fazendo ne-
gócios na Espanha, não está lidando simplesmente com um espanhol. Esta pes-
soa é de Madri? Ela vem dos Países Bascos? Você deverá levar em conta o estilo
de negociação de cada uma das pessoas com que for se relacionar.
Globalização econômica
Globalização produtiva
Digamos que você queira produzir camisas. O que, basicamente, você faz?
Compra máquinas e tecidos e começa a fazer as camisas, certo? Não, errado.
Você já checou o custo de produção das suas camisas? Qual o preço das cami-
sas no mercado com qualidade similar à sua? Não seria de estranhar se a sua
camisa provavelmente saísse mais cara que uma camisa importada da China.
Mas como isso é possível?
O planejamento dos negócios internacionais 9
Estados Unidos e México decidem formar uma zona de livre comércio; te-
mos que para determinado produto o novo quadro de tarifas deve ser:
O atento leitor pode dizer que o Brasil, caso quisesse exportar este produ-
to aos Estados Unidos, poderia então exportar primeiramente ao México com
alíquota mais baixa de 3% e depois reexportar para os Estados Unidos aprovei-
tando-se da alíquota zero entre os dois. Acontece que todo acordo de livre co-
mércio é acompanhado pelas chamadas "Regras de Origem", que não são nada
mais que regras que impedem esta triangulação. Dessa forma, o Brasil somente
poderia exportar este produto aos Estados Unidos sem pagar a alíquota de 5%
se o produto passasse por um processo de transformação no México.
O planejamento dos negócios internacionais 11
• Arbitragem
A formação de um bloco comercial tende a gerar um efeito de arbitra-
gem dos preços de determinado produto. Ou seja, descontado o efeito
cambial, as diferenças fiscais e o custo de transporte, os preços entre
os países-membros do acordo tendem a enco~trar um denominador
comum. Assim, digamos que o preço de determma~o produto antes do
acordo era, no Brasil, $ 125 e, na Argentina, $ 75. E provável que ªPós
0 acordo o preço convirja para algo em torno de$ 100.
• Seleção natural
0 processo de integração nunca é um processo neutro. Invariavelmen-
te ele gera ganhadores e _perdedore~. Os ~anhadores_ são aqueles que
têm vantagens comparativas e por isso vao consegmr aumentar su
d d as
escalas de produçao. Ja os per e ores sao as empresas menos eficien-
N , N
tes que por diversas razões não têm uma vantagem competitiva mar-
cante em relação ao produtor estrangeiro. Dessa forma, se tomarmos
em consideração o exemplo do item anterior, pode ser que o produtor
brasileiro que antes da integração vendia seus produtos a $ 125 não
consiga baixar o seu preço a $ 100 sem ter grandes prejuízos. Assim
se esta empresa não for capaz de adaptar os seus custos, terminará fe~
chando as suas portas. Lógico que, dependendo da situação desta em-
presa, há outras alternativas, como ser adquirida ou entrar em proces-
so de fusão com outra empresa.
• Clustering
O processo de integração geralmente é acompanhado pelo fenômeno
de clustering, que nada mais é do que a concentração geográfica da
produção em determinada região. Digamos, assim, que a região de
O planeja mento dos negócios internacionais 13
Globalização financeira
1
Veja < http://pt.wikipedia.org/wiki/ Pol%C3%ADtica_externa>, visitado em 24/10/2006.
18 Ma nual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
2
A Companhia das Índias Orientais foi fundada em 1602 a partir do capital levantado junto
a seis câmaras de comércio na Holanda (o que toma na prática o empreendimento também a
primeira grande start up.) A empresa, desde o início, tinha o monopólio da exploração das rotas
comerciais holandesas, o que naturalmente a tomou a primeira grande EMN. Veja <http://
en.wikipedia.org/wiki/Dutch_East_India_Company>, visitado em 24/10/2006.
3
Veja < http:/ /www.dowjones.com/TheCompany/History/History.htm>, visitado em 24/10/2006.
A política externa corporativa e a diplomacia corporativa 19
re-se às empresas que têm origem em um país mas operam sob as leis de dife-
rentes países (KOBRIN in: KRUGMAN; BREWER, 2001).
A partir de meados da década da 1970 as EMNs começam a aparecer na
literatura (KEOHANE; NYE, 2001) como importantes atores das relações in-
ternacionais, atores com seus próprios interesses, que não mais poderiam ser
reduzidos a uma influência local, submetidas exclusivamente aos interesses
nacionais. A idéia de atores transnacionais sugerida por Keohane e Nye (1971)
mostrava que naquela época os Estados já não podiam mais ser vistos como
atores isolados das relações internacionais.
Entretanto, apesar do crescente tamanho destas empresas no período que
vai da década de 1960 até a de 1980, o tamanho relativo destas empresas (fa-
turamento) em relação à economia e sua lógica organizacional (consideravel-
mente centralizada na matriz) não justificavam o desenvolvimento de políticas
espec~ficas para lidar com vários governos ao mesmo tempo. No fundo, estas
corporações ainda eram empresas baseadas em um país de origem com filiais
em dezenas de países. Filiais estas que buscavam se adaptar às regras locais
sob a supervisão da matriz.
Por outro lado, o processo de internacionalização (na verdade, multina-
cionalização das empresas) passou a tomar um grande impulso a partir da
aceleração do processo de globalização, conforme discutido no capítulo pas-
sado. Segundo o World Investment Report 2002 produzido pela UNCTAD, o
crescimento das EMNs é bastante significativo: em 1992 havia cerca de 35.000
EMNs com 150.000 empresas afiliadas. Já em 2001, havia 65.000 EMNs com
850.000 empresas afiliadas, empregando 54 milhões de pessoas (contra 24 mi-
lhões em 1990). Além disso, suas vendas totalizaram US$ 19 trilhões (o dobro
do total das exportações mundiais). Em 2001, os investimentos diretos totali-
zaram US$ 6,6 trilhões contra US$ 1,7 trilhão em 1992. As empresas afiliadas
já dão conta de um terço do PIB mundial e um terço das exportações mundiais
(contra cerca de 20% em meados da década de 1980).
Essa espantosa expansão é justificada pela própria UNCTAD em função da:
Tabela 2.1 Quão grandes eram as EMNs na economia mundial em 2000? (Em
bilhões de dólares)
4
Veja < http://www.corporations.org/system/ top100.html >, visitado em 24/ 10/ 2006.
5
A primeira EMN a aparecer neste ranking é a General Motors, em 23 2 lugar, logo à frente da
Dinamarca .
6
Em outras palavras, o PIB mede aquilo que foi produzido de "novo" na economia. Digamos que
uma empresa vende bauxita e uma outra a transforma em alumínio. O PIB deveria ser calculado
com base no valor gerado pela bauxita mais o valor do alumínio descontado o valor da bauxita,
ou seja, o valor adicionado. Por outro lado, o faturamento da empresa de alumínio embute em
si o custo de aquisição da bauxita e, portanto, não é comparável com o PIB.
A política externa corporativa e a diplomacia corporativa 21
FONTE: UNCTAD.
aPIB para países e valor agregado para EMNs. Valor agregado é a soma de salários, lucros
antes dos impostos e depreciação e amortização.
b o valor agregado é estimado aplicando 30% das ações sobre o valor agregado no total de
Outra medida interessante, sugerida pela Tabela 2.2, mostra que em 2000
as 100 maiores EMNs representaram 4,3% do valor adicionado ao PIB em nível
mundial, contra 3,5% em 1990, sugerindo a crescente importância destas em-
presas na economia global.
Tabela 2.2 fndice de concentração das 100 maiores EMNs no PIB mundial, 1990
e 2000 (Porcentagem).
Valor agre~ ado em porcentagem do PIB mundial
Número de EMNs 1990 2000
Top 10 EMNs 1 0,9
Top 20 EMNs 1,8 1,5
Top 50 EMNs 2,9 2,8
Top 100 EMNs 3,5 4,3
foNre: UNCTAD, base de dados sobre maiores EMCs.
Dessa forma, os executivos têm que amortizar os seus custos fixos em uma
base maior de mercado consumidor, o que empurra as empresas a formarem
alianças. As alianças globais podem ir desde o compartilhamento da base de
distribuição com competidores, passando por joint ventures em países específi-
cos, até processos globais de aquisição e fusão.
Consideramos então que as EMN hoje:
Externa
Corporativa
Informação
Batalha global de
percepções
Figura 2.1 Dimensões da Política Externa Corporativa.
Infra-estrutura interna
Gestão d recursos h manos
Atividades primárias
Atividades primárias
Atividades de apoio
9
Nem todo expatriado pode ser considerado parte da diplomacia corporativa. Se, por exemplo,
uma construtora leva a uma operação no exterior um grupo de operários para construir uma hi-
droelétrica, eles não fazem parte da diplomacia corporativa porque sua função não envolve deci-
A política externa corporativa e a diplomacia corporativa 29
Certamente, o foco deste livro não é corno a empresa deve lidar com os ex-
patriados. Entretanto, através de seu RH é preciso que a empresa crie políticas
específicas sobre a realocação de seus funcionários globalmente.
A atividade da diplomacia corporativa, seja em missões internacionais,
seja vivendo no exterior, é emocionalmente extremamente desgastante, espe-
cialmente em relação ao relacionamento deste diplomata com narnorado(a)s
ou/ e cônjuge e/ ou filhos. A ausência em longas viagens internacionais ou a
vida em um ambiente muito diferente do país de origem pode levar ao colapso
estes relacionamentos.
Isto de nenhuma forma é simplesmente urna questão de foro íntimo do fun-
cionário, pois a empresa indiretamente é responsável por estas tensões. Funcio-
nário infeliz produz menos e representa mal a empresa na arena internacional,
porque é humanamente impossível separar totalmente a vida particular da vida
pública. Urna área certamente influencia a outra em qualquer situação, ainda
mais quando adicionamos o componente internacional. Assim, é fundamental
que a empresa que queira ter sucesso em sua operação internacional assessore
adequadamente os seus funcionários que atuam internacionalmente.
Quadro 2.2
sões estratégicas e representação da empresa. Por outro lado, certamente o engenheiro expatriado
que comandar a obra poderá ser considerado parte da diplomacia corporativa da empresa.
30 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
* Os pontos de vista expressos neste depoimento são de responsabilidade de seu autor e não
expressam necessariamente as opiniões da empresa à qual está vinculado.
10
Danese, Sérgio. Diplomacia empresarial. Prefácio de Celso Lafer. Rio de Janeiro: Topbooks,
1999. p. 13-14.
11 Idem.
12
Cardoso, Fernando Henrique. A arte da política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
p. 604.
A política externa corporativa e a diplomacia corporativa 31
esfera pública. O setor privado, cada vez mais independente das ações do Es-
tado para a concretização dos seus negócios no exterior, tem papel relevante
no crescimento e desenvolvimento dos países, assim como na formulação de
políticas que venham ao encontro dos seus interesses.
Conceituo a diplomacia corporativa como a arte de pensar estrategicamen-
te e conectar as dimensões operacionais e comerciais de um negócio com as
sociais, ambientais, culturais e econômicas do mercado-alvo. Para colocá-la em
prática, o diplomata empresarial é fundamental, e tem como principal objeti-
vo defender os interesses do seu empregador junto a governos, comunidades,
imprensa, academia, organizações não governamentais, comunidades e enti-
dades estrangeiras, entre outras.
No Brasil, a defesa de interesses costuma ser associada à atividade de lo-
bby, palavra que, ao ser incorporada ao vocabulário local, ganhou uma cono-
tação negativa que remete a favorecimento, corrupção e conflito de interesses.
Esse significado é uma deturpação do conceito legítimo e transparente de defe-
sa de interesses como ela ocorre em países desenvolvidos, e, desde o primeiro
momento, coloca em xeque a disseminação de uma prática fundamental para a
transposição das fronteiras por empresas dispostas a se tomarem globais.
Para contornar o conceito negativo da atividade de representação institu-
cional, e valendo-se, de modo geral, da credibilidade e "nobreza" atribuídas às
funções diplomáticas, a expressão diplomacia corporativa se apresenta como
uma das mais apropriadas para descrever uma função de extrema importância
para o setor privado.
Para prosperar no mercado internacional não basta dispor de um bom pro-
duto ou serviço, de um bom centro de distribuição ou de benefícios fiscais; é
fundamental que se compreendam as dimensões sociais, políticas, culturais e
institucionais do país/região que se quer atingir. O chamado diplomata corpo-
rativo precisa conhecer muito bem o contexto em que o seu setor se insere no
país em vista e, com isso, traçar a melhor estratégia para a entrada e perma-
nência de sua empresa. Planejamento e pesquisas de mercado são apenas al-
guns dos elementos desse complexo plano de trabalho.
De nada adianta uma empresa investir num país que conta com recursos
naturais abundantes ou com poder de consumo gigantesco para produtos ele-
trônicos se ele não oferecer o mínimo de segurança jurídica e previsibilidade
política. Não se trata aqui de uma foto do momento, mas de uma análise pro-
funda das forças que governam o país e das que podem vir a conquistar o poder
pelas mais variadas vias. Para isso, apenas Internet e relatórios anuais de or-
ganismos internacionais não são o bastante. É preciso contato direto, viagens,
estabelecimento de uma rede de relacionamentos confiável e dinâmica. Mesmo
porque a balança do poder se altera de tempos em tempos e contatos ocasio-
nais não têm a menor chance de prosperar.
32 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
isso é necessário que se conheça a legislação local, a razão pela qual a medida
foi adotada e as alternativas legais que podem ser tomadas para influenciar po-
sitivamente a melhoria do ambiente de negócios no país em questão.
E a ameaça terrorista? Os efeitos das mudanças climáticas para os negócios
e as populações por elas afetadas? O fundamentalismo religioso? O crescimen-
to da pirataria? O desrespeito aos direitos humanos? ... De nada adianta uma
empresa global investir consideráveis somas de dinheiro num país ou numa re-
gião sem antes atentar, estudar e procurar respostas para tais questões.
É evidente que o diplomata corporativo não é a solução para esses proble-
mas, mas profissionais multidisciplinares, flexíveis e conhecedores profundos
dos principais temas e das mais relevantes culturas internacionais são, sem a me-
nor dúvida, um diferencial competitivo e um grande ativo para empresas e insti-
tuições interessadas em manter uma posição de destaque no mercado global.
L
3
A Dimensão Mercado
A
dimensão mercado da PEC diz respeito à estratégia global de mercado
de atuação da empresa. Na verdade, esta dimensão talvez seja a mais
tradicional em qualquer planejamento estratégico de uma empresa.
Dessa forma, a dimensão mercado diz respeito ao processo de internacio-
nalização das empresas. Resumidamente, temos que o planejamento dos ne-
gócios internacionais é um processo longo que envolve desde investigações
detalhadas sobre o mercado externo até mudanças em processos internos para
adaptar produtos e pessoal para o relacionamento externo.
O diagrama da Figura 3.1 mostra as fases do processo de internacionali-
zação.
o @ t) e
Figura 3.1 Fases do planejamento da internacionalização.
Cada uma destas fases é detalhada de acordo com o diagrama da Figura 3.2.
36 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
e
Critérios de Pesquisa
competitividade de mercado
Fontes
Critérios de
secundá rias
acesso
(publicadas)
Critérios de
demanda
Estratégias de
preço e produto
Estratégias
de entrada
Estabelecimento
dos obstáculos
estratégicos
>--
o
1
1
1
e
Administração
Implementação dos negócios
internacionais
Análise da Análise de
indústria 1-------1 mercado
SWOT
Análise da Processo
competitividade interno
A análise externa
Análise da indústria
Análise de mercado
A análise de mercado deve dar um retrato das condições conjunturais do
mercado. Normalmente, quando há vários segmentos no qual a empresa atua,
se conduzem estudos separados por segmento.
Do ponto de vista mercadológico podemos conduzir o trabalho através da
análise do clássico 4 Ps:
• produto;
• promoção;
• preço;
• ponto de distribuição .
1 Barreiras de entrada são obstáculos construídos pelos competidores para entrar em um de-
terminado mercado. As fontes da barreira de entrada podem ser bastante diversas, tais como
tecnologia diferenciada, base de clientes, intervenção governamental etc. Toda empresa quando
entra em um mercado deve conhecer as barreiras à entrada e também montar estratégias que
levantem barreiras à entrada de competidores no mercado.
A dimensão mercado 39
Barreiras de Entrada
• economias de escala;
• diferenças de produtos patenteados;
• identidade da marca;
• custo de mudança;
• exigências de capital;
• acesso à distribuição;
• vantagens de custo absoluto;
• curva de aprendizagem;
• acesso a insumos necessários;
• projeto de produtos de baixo custo;
• política governamental;
• retaliação esperada .
Substitutos
• desempenho do preço relativo dos substitutos;
• custos de mudança;
A dimensão mercado 41
Poder do Comprador
• concentração dos compradores versus concentração de empresas;
• volume do comprador;
• custo de mudança do comprador em relação aos custos de mudança da
empresa;
• informação do comprador;
• possibilidade de integração para trás;
• sensibilidade ao preço;
• diferença dos produtos;
• identidade da marca .
Rivalidade na Indústria
• crescimento da indústria;
• custos fixos/valor adicionado;
• excesso de capacidade crônica;
• diferença de produtos;
• identidade da marca;
• custos de mudança;
• concentração;
• diversidade de concorrentes .
A rede de valor está relacionada com as cinco forças de Porter (1998); con-
forme apresentado na Figura 3.4.
Análise interna
Análise SWOT
Ameaça de
novos entrantes
Poder dos
compradores
-- Poder dos
fornecedores
Substitutos
Algumas perguntas que podem ser feitas para conduzir a SWOT seguem
abaixo:
Fortalezas
• Quais são as suas vantagens em termos de produto? Administração?
Conhecimento de mercado?
• O que sua empresa sabe fazer melhor?
• O que seus clientes identificam como força?
Fraquezas
• O que sua empresa não faz bem?
• O que seus clientes identificam como negativo em sua empresa?
Oportunidades
• Quais as oportunidades de mercado que sua empresa enxerga?
• Quais as tendências de mercado que sua indústria vem enfrentando?
Ameaças
• Quais as dificuldades que sua empresa enfrenta?
• Como seus competidores podem ameaçar o seu negócio?
Fortalezas Fraquezas
Oportunidades Ameaças
Processo interno
• preço;
• localização;
• distribuição;
• diferenças do produto ou serviço;
• atendimento ao cliente;
• tecnologia;
• barreiras de entrada estabelecidas;
• ações estratégicas previstas e tomadas;
A dimensão mercado 45
• posicionamento mercadológico;
• qualidade do produto;
• qualidade administrativa;
• qualidade e quantidade da força de vendas .
Dentro desta análise matricial, ternos que a empresa A tem urna maior
competitividade, pois dentro dos parâmetros estabelecidos conseguiu obter
maior nota ponderada.
Novamente é interessante dizer que estas duas formas podem ser integra-
das para se obterem melhores resultados analíticos.
Quadro 3.1
A falácia do empreendedor
Antes de mais nada é preciso tomar extremo cuidado com aquilo que cha-
mo da falácia do empreendedor. Muitas vezes, quando as empresas desenvolvem
seus planos de negócio, tendem a minimizar a importância dos competidores até
o ponto de considerar que o produto ou serviço simplesmente não tem competi-
ção alguma.
De fato, este erro freqüente é fruto de algo positivo que é a crença do empreen-
dedor ou executivo em seu próprio negócio. A origem da falácia também pode ser
atribuída à procura por negócios altamente diferenciados. No entanto, é preciso
esclarecer, não existe tal coisa como um produto ou serviço sem competição.
Vamos considerar hipoteticamente que eu invente um aparelho que através
de asas possibilita a cada um de nós voar pequenas distâncias. Logicamente que
46 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
2
Esta análise foi conduzida com a colaboração de Eleonora Spínola, Fabiana Biazoti, Fabio Ot-
taiano e Flávia Carrasco.
A dimensão mercado 47
Substitutos:
Alta
Grande varied ade de
derivados de leite, muitos
deles com custos de
produção mais baixos
Benchmarking
Grupo Lactalis
Origem francesa
O grupo francês Lactalis, com uma estrutura familiar, foi fundado no final
de 1933. O grupo começou com um empregado e 35 litros de leite coletados,
Em 1947 possuía 25 empregados e em 1955 já estava com 50 empregados~
uma coleta anual de leite de sete milhões de litros.
Em 1967, sua coleta passou para 110 milhões de litros e no ano seguinte()
grupo lançou o queijo camembert Président. Em 1970, produzia 180 milhõe~
de camembert e possuia 7 regiões de fabricação, todas na França. Em 1980,
passou a 27 regiões produtoras, adquiriu uma filial do grupo Nestlé e, nessa_
mesma década, estabeleceu uma usina na Califórnia. Na década de 90 come,
çou a abrir filiais e já possuia 10 usinas na França e 1 nos Estados Unidos. Fe~
a aquisição do grupo Valmont, com cinco usinas dessa marca.
Em 1991, lançou o ementai Président, que em seis anos tornou-se líder de
mercado. Em 1994, fundou duas novas usinas, sendo uma nos Estados Uni-
dos. Retomou atividades com a Cooperativa de Nikola'iev, na Ucrânia, e com a
Polser, na Polônia. Em 1997, faz um acordo com a Cooperativa UCANEL para
melhoria das atividades industriais e comprou da Nestlé a fábrica de queijos
de Locatelli, na Itália. Em 1999, faz a aquisição de duas importantes empresas
de queijos dos Estados Unidos, Concord Marketing e Simplot Dairy. Em 2002 o
grupo funda sua primeira usina de queijos na Rússia. Neste mesmo ano a cole-
tagem da Lactalis era de 6,9 bilhões de litros de leite.
Líder na França, a marca Président estava difundida em 128 países, bern
como sua gama de produtos. Em 2003, adquiriu a Invernizzi, filial italiana do
grupo Kraf; deu um novo impulso à aquisição com o desenvolvimento de uma
gama de produtos dietéticos e a marca Primevere. Em 2004, resgatou os interes-
ses espanhóis pela 3A com cinco usinas de leite na Espanha; adquiriu uma par-
te da sociedade FoodMaster Internacional, presente no Cazaquistão e Ucrânia,
tendo essa marca como líder nesses mercados, trabalhando com 100 milhões de
litros de leite e comercializando leite, kefir, creme de leite, iogurte e queijos.
Em 2004 reforçou a gama de produtos nos Estados Unidos. Adquiriu a coo-
perativa Kurow na Polônia para produzir um tipo de queijo fresco muito consu-
mido no Leste Europeu. No mercado espanhol possui as marcas Chufi (marca
de bebidas lácteas) e Lauki (leite), sendo esta última líder de mercado, e, na
Escócia, a marca Seriously Strong. É vice-líder de mercado de cheddar no Rei-
no Unido. O grupo francês comprou a sociedade escocesa McLelland, com ca-
pacidade de produção de 45.000 toneladas de cheddar, cinco usinas na Escócia
e uma no País de Gales.
A dimensão mercado 49
FORTALEZAS FRAQUEZAS
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
Análise interna
FORTALEZAS
FRAQUEZAS
Análise externa
OPORTUNIDADES
AMEAÇAS
Quadro 3.2
5. Eu não tenho como competir no exterior, meu preço é caro e meu produto des-
conhecido
Se alguém compra seu produto no Brasil é bem provável que em algum outro
país o seu produto possa ser altamente interessante. O preço certamente é uma
consideração importante mas não é a única na adequação do produto para cada
mercado estrangeiro. Além disso, um bom planejamento deve ajudá-lo no cami-
nho de tornar mais conhecido o seu produto nos seus mercados focos.
• tecnologia diferenciada;
• proximidade do mercado consumidor;
• acesso a fatores de produção baratos (mão-de-obra e insumos);
• clima ou terreno do lugar;
• nível de desenvolvimento econômico local;
• muitos outros fatores ...
3
Veja no Anexo lista de links, que deve lhe auxiliar na elaboração da pesquisa de mercado.
56 Manual de Diplomacia Corpora tiva • Sa rfati
A investigação sobre o potencial local poder ser feita através das chamada~
fontes primárias, que dizem respeito à investigação direta no mercado sobr~
os gostos dos consumidores, o potencial de consumo etc. Já com as fontes se\
cundárias se pesquisa o potencial local através de estatísticas e pesquisas qu~
muitas vezes podem ser adquiridas gratuitamente.
A análise do potencial local através de pesquisas de fontes primárias é ge,
ralmente bastante cara e contratada de empresas especializadas. Dessa forma,
não há razão aqui para entrar em detalhes sobre a condução deste processo
que por si só é uma vasta área de conhecimento.
As fontes secundárias são utilizadas por empresas de todos os portes, in-
clusive as grandes, como complemento às fontes primárias. As fontes secundá-
rias podem ser:
Quadro 3.3
Sistemas de classificação
Existem vários sistemas de classificação, mas os três abaixo são os mais im-
portantes que você deve conhecer:
270710: Benzeno.
A lista B (schedule B) está associada com o HS e está focado apenas nas ex-
portações americanas. O sistema é composto de dez dígitos, sendo seis os mes-
58 Ma nual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
Benzeno: 51122.
Benzeno: 27.0710.00.
• franchising;
• turnkey projects;
• greenfield investment (novos investimentos);
• cross-border acquisition (aquisição);
• joint venture.
Já a exportação indireta:
A opção de exportação indireta pode ser uma boa forma de tomar contato
com um determinado mercado, diminuindo os riscos deste primeiro contato.
Muitas empresas usam essa opção não como uma alternativa estratégica mas
como um primeiro passo na exposição a um mercado. Os passos seguintes po-
dem ser quebrar contrato com o agente/distribuidor e passar à exportação di-
reta e, até mesmo, passar a produzir localmente.
De qualquer forma, a via indireta sofre do grave problema da identificação
do melhor agente/ distribuidor. Sendo assim, qual a melhor forma de realizar
esta escolha? Certamente não existe uma fórmula para isso, entretanto há al-
gumas dicas de questões que podem ser feitas com as empresas candidatas:
• histórico de vendas·
'
• análise territorial (território coberto, localizações, planos futuros);
• produtos e serviços (quais produtos e serviços já oferece?);
• infra-estrutura (está bem estruturada fisicamente?);
• administração (política de vendas, treinamento etc.);
• perfil dos consumidores atendidos;
• política de promoção (como ela pretende promover seu produto?) .
Assim, em 1994, quando a rede decidiu entrar no Brasil, ela podia ou instalar
uma subsidiária e começar a tentar construir o mercado para sua marca, comprar
alguma rede de supermercados ou ainda formar umajoint venture.
Desta forma, a rede norte-americana decidiu formar uma joint venture com
as Lojas Americanas, controlando 60% do capital. Fundamentalmente a empresa
optou por entrar no mercado contando com a experiência de quem conhecia bem
o varejo (embora não o setor supermercadista).
Como a Wal-Mart mantinha o controle da empreitada, ela tentou impor 0
seu estilo sem a sua devida "tropicalização". o resultado é que a transposição do
modelo de custos baixos não deu certo, pois a rede não tinha massa crítica para
pressionar os fornecedores e na outra ponta a guerra de preços foi perdida para 0
Carrefour, que acompanhava toda as ofertas da concorrente com a vantagem de
à época estar no país há 20 anos.
Após 1997, mais uma vez, a rede perdeu um precioso tempo tentando renta-
bilizar a operação da subsidiária enquanto os concorrentes entravam em um pro-
cesso de consolidação, não só com a intensificação das aquisições e multiplicação
do número de lojas, mas também na especialização do serviço oferecido, como a
grande reforma ocorrida na Rede Pão de Açúcar neste período.
Segundo dados da ABRAS (2003) no período 1989 a 2002 a Cia. Brasileira de
Distribuição fez 28 aquisições, o Carrefour 19 e a Sonae 11 . No final da década de
1990, o setor já apresentava uma concentração em torno de 40% nas cinco maio-
res redes que, pela ordem, eram Cia. Brasileira de Distribuição, Carrefour, Sonae,
Bompreço e Sendas.
Em retrospectiva, o maior varejista do mundo cometeu erros na construção
de sua estratégia de entrada. Provavelmente, no momento da decisão de entrada
a melhor opção era a aquisição de uma das redes nacionais que estavam entre as
maiores do ranking supermercadista, como a própria Cia. Brasileira de Distribui-
ção, o Bompreço e outras.
Apesar de, à época, o mercado ainda não ser plenamente consolidado ele já
tinha empresas estabelecidas que há muito operavam em um ambiente complexo
de instabilidade macroeconômica. De certa forma, a aquisição seria uma opção
relativamente barata em um mercado cheio de perspectivas.
Finalmente, as mudanças da gigante no Brasil começaram a aparecer com
quase dez anos de aprendizado. Em 2004, quando tinha apenas 25 lojas, compra
as 118 da cadeia Bompreço por US$ 300 milhões e, em 2005, compra a Sonae,
que ocupava o quarto lugar no ranking da ABRAS, por US$ 300 milhões. As aqui-
sições tardias tornaram a empresa a terceira maior varejista do país.
64 Manual de Dipl omacia Corporativa • Sarfati
Pelo caso Wal-Mart fica claro que não há uma resposta simples para a de-
cisão entre greenfield, aquisição e joint venture. Normalmente a opção da aqui-
sição é a melhor quando da decisão de mercados consolidados ou que rumam
rapidamente neste sentido.
Entretanto, em todo processo há questões de complicada resolução que
vão desde o preço justo a ser pago pela empresa (este é o chamado valuation
da empresa) até qual o melhor modelo gestão pós-aquisição, incluindo como
diminuir o impacto do choque cultural e aproveitar o potencial da rede local.
Já o greenfield logicamente costuma ser a melhor opção quando não há um
mercado consolidado. Entretanto, outras opções justificariam o investimento
direto, como diferencial de custos de produção local (mão-de-obra barata ou
acesso à matéria-prima) ou como forma de evitar barreiras de entrada, tais
como altas tarifas de importação.
Ajoint venture costuma ser a opção preferida quando há um parceiro local
com profundo conhecimento dos meandros do mercado local ou quando duas
empresas reconhecem que têm competências complementares que justifica-
riam a formação de uma nova empresa para gerir um novo empreendimento.
Por exemplo, a chilena Codelco juntou-se à japonesa Nippon Mining & Steal
para formar a Biosigma, cujo objetivo é o desenvolvimento da biotecnologia da
mineração. Por outro lado, joint ventures internacionais costumam apresentar
vários problemas que vão desde a discussão sobre o controle da empresa até
choques culturais na gestão da mesma, o que pode ser extremante frustrante
para todas as partes.
Ainda dentro da estratégia de entrada é preciso desenvolver a estratégia
de marketing para o novo mercado, o que inclui as estratégias de segmentação,
distribuição, comunicação e preço.
A segmentação de mercado diz respeito à identificação de grupos distin-
tos de consumidores que diferem entre si em termos de suas preferências. Esta
segmentação pode ser feita de diversas formas, tais como: fatores sociocultu-
rais (classes sociais, religião, estilo de vida etc.); demografia (sexo, idade, nível
de educação, diferenças étnicas etc.). Caso o produto ou o serviço seja direcio-
nado a negócios é possível também estabelecer uma segmentação em termos
de perfis ideais de consumidores, tais como: porte da empresa, segmento de
atuação da empresa etc. Como cada segmento exibe características distintas a
identificação do mesmo é fundamental para nortear as decisões de estratégia
de distribuição, comunicação e preço. Quando falamos de mercados interna-
cionais é fundamental considerar a especificidade de segmentos em cada país
(diferenças culturais).
A estratégia de distribuição diz respeito aos meios de como fazer com que
seu produto chegue ao consumidor. Logicamente, a distribuição é condiciona-
da pelo modelo de entrada em cada país.
A dimensão mercado 65
L Atacadista
Consumidor
final
4
A grande revolução da Dell foi encurtar o canal de distribuição. A empresa vende os com-
putadores diretamente aos consumidores por telefone e Internet. Além de eliminar o custo de
intermediação, esta alternativa permite produzir apenas aquilo que já foi efetivamente vendido,
o que diminui a necessidade de estoques e contribui para a diminuição dos custos da empresa.
66 Manual de Diplomacia Corporativa • Sa rfati
5
Na dimensão informação consideraremos a estratégia global de comunicação envolvendo as
três dimensões da PEC; aqui cabe apenas um breve comentário da estratégia de comunicação do
produto em termos tradicionais do marketing internacional.
A dimensão mercado 67
Operaçao
Internacional
Comércio
exterior
Não existe negócio perfeito, nem fórmula infalível de sucesso para uma
operação comercial.
Partindo deste princípio, depois de conquistar o contrato da Havanna para
o Brasil surgiram questões conceituais que refletiam o tamanho do desafio de
diferenciar a marca, escapando do óbvio e do fácil, e com algo a mais em men-
te além de objetivos comerciais.
A meta primordial do estabelecimento no país não era somente vender os
famosos doces recheados, mas também construir um nome, mirando o poten-
cial de longevidade com base nos alicerces da marca: o alfajor, o doce de leite
e as Cafeterias Havanna.
Uma grande parte do público local já conhecia a marca Havanna. Milhões
de brasileiros visitam a Argentina anualmente. Havanna converteu-se em sinô-
nimo de alfajores - talvez o souvenir mais popular e desejado de uma viagem
ao país vizinho.
No entanto, o doce de leite não é identificado de imediato com a marca,
nem os Cafés Havanna da Argentina são um sucesso incontestável junto aos
viajantes brasileiros.
Para poder desenvolver uma base sólida no negócio, tive que determinar
os fundamentos para não cairmos na armadilha de ser uma simples empresa
de venda de guloseimas argentinas.
A primeira medida foi direcionar ao varejo. Mas, ao invés de somente abrir
um ponto-de-venda inicial, uma cafeteria Havanna para marcar a imagem e
criar reconhecimento do público, distribuindo em seguida os produtos através
de diferentes canais de venda, minha opção clara foi desenvolver uma cadeia
de distribuição própria, através de opções de pontos-de-venda segmentados
por objetivos estratégicos.
Normalmente, a distribuição representa menor margem, em troca de um
volume muito superior em curto espaço de tempo e uma exposição maior aos
consumidores, mas sem a possibilidade de controle da qualidade da comunica-
ção da imagem da marca.
70 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
é o melhor e mais caro do mercado. Mas não cobramos mais do cliente por
tudo isso.
Grande parte de nossas bebidas leva doce de leite em sua formulação. O
doce de leite também está na base de produtos desenvolvidos especialmente
para a marca no Brasil, como o panetone, os ovos de Páscoa recheados e os
drinks de inverno.
Sempre com doce de leite argentino, de qualidade Premium. O doce de lei-
te tem que ser parte integrante da identidade da marca. Quase tudo tem que
levar doce de leite.
Neste processo de diferenciação, investimos muito em comunicação. Não
acredito em simplesmente me fiar em que o consumidor "saiba" o que somos
em função da nossa excelência de serviços, aparência, sabor e valor.
Identificamos com fotos os produtos criados no Brasil, para que os clientes
vejam a diferença entre as bebidas e os cafés do Havanna e as dos concorrentes.
Investimos em inúmeras ações de degustação gratuita de produtos com doce de
leite e em publicidade e comunicação dirigida através dos veículos de impren-
sa especializados. Temos também materiais promocionais nos pontos-de-venda,
aproveitando ao máximo o controle assertivo sobre o canal de distribuição pró-
prio, para poder estabelecer uma relação direta com os consumidores.
Nos primeiros seis meses de operação, chegamos à marca de dez pontos-
de-venda em São Paulo e mais de um milhão de alfajores vendidos. Tão impor-
tante quanto foram as 200.000 xícaras de café e drinks especiais e os mais de
12.000 bolos de doce de leite servidos.
No aniversário de um ano da chegada do Havanna a São Paulo, serão 20
pontos-de-venda e mais de 150 pessoas envolvidas nesta operação de cafés,
doce de leite, alfajores e, acima de tudo, inovação, conforto e prazer.
Governo
i :·-'" __ _
! \ ·-, __-~------- Estratégia e
! \ ·-, ----. ri validade
j \_ '·- entre as
j \ '··, •• , empresas
: \ , ~_- - -- -
! \_ '·
i \ ·, '
i ·,
i ',
L '-,
T. ·,
Condições Condição
de fatores da
demanda
local
Indústrias
correl atas e
de apoio
a) nomes e cargos;
b) endereços e telefones;
c) datas de aniversário.
d) interesses do cargo;
e) interesses pessoais;
f) BATNA;
g) como piorar o BATNA.
1
É importante que este mapeamento inclua não só as forças que possam contribuir para a defe-
sa dos interesses da empresa mas também outros atores que podem se opor a isto, como ONGs
e empresas de outros setores.
78 Manua l de Diplomacia Corporativa • Sarfaci
2
Preferimos aqui manter o termo original em inglês, ao invés de adotarmos algumas traduções
usadas em português, como MAPAN - Melhor Alternativa para Acordo Negociado ou MASA -
Melhor Alternativa para Solução Acordada.
3
O Modelo Racional de Negociação de Harvard é baseado no trabalho de Fisher e Ury a partir
do trabalho seminal Getting to yes. Em tomo desse modelo desenvolveram-se inúmeras aplica-
ções, do direito, passando pela administração de empresas, até conflitos internacionais, que são
constantemente aperfeiçoadas no grupo interdisciplinar chamado PON - Program on Negotia-
tion ( <http://www.pon.harvard.edu> ). É importante notar que a perspectiva de Harvard se di-
ferencia da aplicação da teoria dos jogos à medida que o primeiro foca as percepções subjetivas
da ZOPA e como estas se alteram, enquanto que o último a análise de equilíbrio da negociação
(Sebenius in Kremenyuk, 2002. p. 248).
A dimensão governo 79
dos jogos de governo. É preciso lembrar ainda que as ações em relação ao nível
estrangeiro devem levar em consideração cada uma das dimensões dos cinco
riscos discutidos no Capítulo 8.
Finalmente, é preciso indicar objetivamente quais as medidas de sucesso
para determinado objetivo da PEC governo. Por exemplo, se, como citado an-
teriormente, o objetivo for a liberalização em transgênicos, a medida para o
sucesso pode ser algo como aumento das vendas globais em 25% após mudança
do regime na OMC.
A Tabela 4.3 mostra uma forma de sistematizar e monitorar cada um dos
itens discutidos acima.
4
Dividendos políticos estão associados aos ganhos que um grupo político pode captar ao atrair
investimentos para a região. Este grupo, em campanhas políticas futuras, sempre poderá mostrar
que ajudou a trazer desenvolvimento econômico à região. Da mesma forma, o contrário também
pode ser verdadeiro à medida que a empresa deixa a região fruto de atritos políticos gerando um
ônus político que o grupo político buscará justificar em discursos de cunho nacionalistas.
5
< http://www3.chevrolet.com.br/portalgm/noticias/fev_04/noticias_0602 _grn.jsp > , visitado em
26/3/2005.
82 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfari
6
Para discussão sobre gestão de risco político na operação das empresas, veja Ian Bremmer,
Gestão de Risco num Mundo Instável, Harvard Business Review, jun. 2005.
84 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
Embora em cada país onde a empresa opere, fora de seu país sede, a EMN
busque construir uma estratégia local de lobby, a natureza desse lobby é essen-
cialmente transnacional ao invés de nacional. Isso porque a lógica da ação po-
lítica local deve respeitar as estratégias corporativas globais. Para uma EMN, a
operação em um determinado país responde a uma cultura e estratégia global
da empresa.
Um executivo do setor financeiro, por exemplo, relata que, enquanto o
banco em que ele trabalhava era controlado pelo capital nacional, era comum
a prática de "caixinhas" para funcionários estratégicos de certos fundos de pen-
são para conseguir fechar negócios. Quando este banco foi vendido para urn
grupo internacional esta prática foi interrompida. Isso quer dizer que, nesse
caso, a cultura corporativa do grupo internacional não aceita práticas de cor-
rupção e, portanto, o banco prefere não fechar determinados negócios a se en-
volver com este tipo de prática. Logicamente, esta é uma decisão estratégica
global que não vale apenas para o Brasil. 7
Uma empresa nacional costuma operar segundo as regras e a cultura de
seu país, mas uma EMN opera segundo a cultura global da empresa que, é
verdade, na maior parte das vezes é mais próxima à cultura do país sede
(PAULY; REICH, 1997). Entretanto, do ponto de vista de visão de negócio, a
lógica de ação é transacional, pois a ação em um país X pode afetar no míni-
mo a imagem e, por que não, a competitividade da empresa em todos os ou-
tros países (como em um escândalo de contaminação de alimentos ou envol-
vimento em corrupção).
Outra característica interessante do lobby transnacional é que ele envolve a
participação de executivos de outros países que buscam avançar politicamente
os interesses da empresa em um determinado país. Este executivo pode ser, por
exemplo, espanhol, trabalhar para uma corporação de origem suíça e ter uma
missão de negociar com as autoridades brasileiras a manutenção da patente de
um determinado medicamento.
Segundo depoimento de um executivo da General Electric, a empresa "em-
prega uma equipe de relações com o governo em nível mundial. A empresa
não usa os times locais de marketing pois entende que as relações com o go-
verno exigem conhecimentos diferentes ( ... ]. Usar um time dedicado a rela-
ções governamentais tem sido uma verdadeira receita do sucesso, e eu acredito
que esta seja a melhor forma de alcançar uma influência global" (WATKINS;
EDWARDS; THAKRAR, 2001, p. 199).
De certa forma, este executivo é um diplomata da sua empresa, pois a sua
negociação é essencialmente política. Portanto, à medida que há um desenvol-
vimento das relações transnacionais passa a haver um desenvolvimento de di-
7
Depoimento informal colhido junto a um executivo do mercado financeiro em março de
2005.
A dimensão governo 85
8
Veja < http://www.negociacoesintemacionais.cni.org.br/negocia/fp-negi.htm?URL=/negocia.
nsf/web_negocia_html?openform > , visitado em 7/7/2005.
9 Veja < http://www.asa-europe.org/ > , visitado em 7/7/2005.
86 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfaci
19
Veja < http://www.ifpma.org>, visitado em 7/7/2005.
20
Veja < http://www.foe.org/>, visitado em 8/7/2005.
88 Manual de Diplomacia Corpora tiva • Sarfati
grande energia para acompanhar esses comitês técnicos e exercer uma contra-
influência, buscando especialmente assessorar os países menos desenvolvidos.
A Figura 4.2 mostra que, contemporaneamente, as corporações jogam jo-
gos de negociação e lobby em múltiplas arenas (negociações internacionais
diretas com Estados, negociações em fóruns intergovernamentais e negocia-
ção para formação de coalizões empresariais). Portanto, elas devem construir
estratégias que envolvam ações simultâneas e/ou seqüenciais nessas arenas,
incluindo também a formação de coalizões, nacionais e internacionais, para a
promoção de interesses em comum. A figura mostra também que resultados de
uma arena podem influenciar os resultados em outras arenas, ou seja, a pro-
moção de determinado interesse de uma indústria nos Estados Unidos pode
resultar em influência nas preferências dos Estados Unidos, que podem pres-
sionar mudanças em outros países em negociações diretas, regionais e multila-
terais. Da mesma forma, o jogo jogado em um fórum intergovernamental pode
resultar em mudanças efetivas de legislações nacionais.
<
Nacional
Lobby
Diplomacia ~ Intergovernamental
corporativa
Negociação
Internacional (Estado)
Coalizões empresariais
21
Veja abaixo mais detalhes sobre a atuação dos escritórios de relações públicas.
22
Veja < http://www.webershandwick-eu.com/ capabilities/pub_affairs.html >, visitado em
717/2005.
23
Veja < http://www.corporatewatch.org/?lid = 1568 > , visitado em 9/ 7/ 2005.
A dimensão governo 89
O ideal é que a sua empresa tenha negócios sadios com empresas privadas
e atue com o governo em negociações SPOT para tentar ganhar novas e gran-
des negociações. Isto é fundamental para a saúde financeira do negócio. As ne-
gociações governamentais são muitas vezes gigantes, exigindo grandes inves-
timentos antecipados, bom fluxo de caixa e reserva econômica para suportar
possíveis problemas de pagamentos, que possam surgir através de mudanças
de políticas governamentais, multas inesperadas e outros interesses.
Para entender uma negociação com órgãos governamentais, é fundamen-
tal compreender profundamente o jogo da negociação. Negociar é entender as
necessidades das partes envolvidas de modo a chegar a um objetivo comum e
satisfatório para os envolvidos.
A principal diferença entre negociar com empresas privadas e governa-
mentais é que, em um jogo de negociação com empresas privadas, o bom ne-
gociador entende as necessidades desta empresa e descobre como seu produto
ou serviço pode satisfazer a estas necessidades. Claro que os contatos pessoais
são muito importantes para estas negociações, já que através dos contatos é
possível conseguir as informações necessárias.
90 Manual de Diplomacia Corpora tiva • Sarfa ti
Técnicas de negociação
1. Teia de aranha
2. Peça ajuda
Entenda também onde esta pessoa quer chegar na instituição ou órgão pu-
blico, e ajude-a a atingir este objetivo. Certamente, quando ela chegar lá não
esquecerá de seu apoio.
4. Nada é pessoal
E, por fim, não leve nada para o pessoal. Não importa como você seja tra-
tado, quanto tempo você vai esperar para uma reunião, se as respostas não
forem as desejadas, que as reuniões sejam canceladas ou qualquer outro pro-
blema que o incomode. "NADA'' é pessoal, tudo depende do interesse político
no momento. Este processo faz parte de uma grande negociação e você deve
agüentar as pressões para chegar ao seu objetivo final, que é o fechamento
do contrato.
1
Podemos considerar que a Cruz Vermelha é a primeira ONG do mundo. Criada em 1863 para
aliviar o sofrimento dos combatentes em guerras, é hoje uma imensa organização dedicada a
ajudar não só vítimas de conflitos mas também de desastres naturais. Entretanto, somente a
partir da década de 1970 as ONGs começaram a proliferar. Hoje, estima-se que existam cerca de
40.000 OINGs, que têm características de atuação internacional, como o Greenpeace, a WWF,
além de 2 milhões de ONGs locais nos países e cerca de 270 mil no Brasil.
94 Ma nual de Diplomacia Corporativa • Sarfari
Quadro 5.1
As EMNs, para defender os seus interesses, contam, além de com o seu poder
estrutural, com o seu poder brando. Conforme definido por Nye (2004, p. 5), o
poder brando é refletido na capacidade de conseguir os resultados de sua prer.:
rência cooptando as pessoas ao invés de coagi-las. Portanto, o poder brando é â
capacidade de um ator de dar forma às preferências de um outro ator através de
seu poder de atração e sedução.
O poder brando não é o mesmo que influência, visto que a influência pode
ser conquistada também pelo poder bruto. O poder brando é mais que persua-
são, pois as pessoas são levadas a concordar por se sentirem atraídas por aquilo
que determinado ator representa. A atração nem sempre determina as preferên-
cia de um determinado ator, mas certamente pode alterar a sua percepção e indi-
retamente influenciar o resultado desejado pelo ator com o poder brando.
O poder brando das EMNs nas relações internacionais está associado à identi-
dade do consumidor/cliente (no nível micro) e aos Estados (no nfvel macro) com as
atividades da empresa desenvolvidas no país. O poder brando de uma EMN pode
vir de sua imagem (o marketing construindo uma identificação com o público em
geral) e de sua relação com as comunidades epistêmicas, especialmente as científi-
cas (grupos epistêmicos como fonte de legitimação da atividade corporativa).
A dimensão sociedade 95
2
O mundo corporativo prefere diferenciar a filantropia de responsabilidade social por associar
o primeiro à caridade e o segundo ao comprometimento com a comunidade em que a empresa
atua. Logicamente, esta diferenciação ajuda ao objetivo de incluir a filantropia como parte im-
portante da estratégia de construção de imagem da empresa e de seu poder brando, portanto,
usamos aqui os termos como sinônimos.
3
< http://www.comgas.com.br/rs/voluntariado/index.asp >, visitado em 27/3/2005.
4
< http://www.aracruz.com.br/web/pt/comunidades/comuni_voluntariado.htm>, visitado em
27/3/2005.
5
< http://www.facaparte.org.br/new/parceiros.asp>, visitado em 27/3/2005.
6
Veja artigo curto em < http://www.sfiec.org.br/artigos/social/empresa_voluntariado.htm.> •
Veja também o site do Instituto Ethos, que incentiva a responsabilidade social entre as empresas
< http://www.ethos.org.br/ >, visitados em 27/3/2005.
96 Ma nual de Diplomacia Corporativa • Sarfa ti
Quadro 5.2
Segundo Porter e Kramer (2006), toda empresa deve dividir sua ação so-
cial nestas três categorias de modo a criar uma pauta social empresarial. A em-
presa deve priorizar sua ação social nas duas últimas categorias.
A segunda categoria envolve a visão de dentro para fora através da apli-
cação da avaliação do impacto social na cadeia de valor empresarial. A Figura
5.1 mostra o resumo de um mapeamento de políticas de impacto social a serem
implementadas e monitoradas por uma empresa do setor de bebidas.
A figura demonstra que há uma quantidade enorme de áreas que a empre-
sa deve gerenciar e desenvolver que conciliam o interesse social com a geração
de valor.
9
Este item foi analisado dentro do contexto da dimensão governo, entretanto, aqui, pode ser
entendido também como a sociedade influencia estas regras.
98 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
Tr.ut-.parência cm divulgação
de dados financeiros
Pr:ílic.is é 1icus cm ICS IC S
Govcmança COTJX>r.lLiva
Seguranç a de pro<lulos
~ocial
Economia de mnlcrial
Vol un wriado executivo
Reciclage m
Dcscnvolvimc1110 <lc
E<luc,1ção e 1rcinamcn10 dos produtos saudáveis
funci onários
Política de di\lcrsidadc
Benefícios sociais e de saúde
Política sa larial e clcmi ssional Política de compras
soe ial mente rcs1x>nsá \'CI
(ru1o comprar de empresas
que explorem trabalho
infantil ou dilapidcm
recursos naturai s)
QI
"O Infra-estrutura interna
V,
QI o Gestão ~e recursos ~umanos
"O 'õ
~ o.
·s; t'C Desenvolvimento tecnológic
~ Compras
Concorrência justa
Dispo nibilidade e Apoio às microempresas de
treinamento de mão-dc- bebida
obra Transparência fin anceira,
Estratégia e -e.._ _ _ soc ial e ambi ental
Associação com
uni versidades para ri validade
pesqui sa cm bebidas entre as
saudáveis empresas
Sustentabilidade no
manej o de águas
potáveis
Condi ção
Condições da
de fatores demanda
local
lnccnti voc
capacilação de
pequenos
fornecedores
Indústrias
con-elatas e
de apoio
k ~,ode produtos recicláveis
Combate ao
alcooli smo
Promoção da Bebidas saud,íveis e
indústria de socialmente
reciclagem (apoio a sustentáveis
caladores)
10 Todos os exemplos destas categorias foram retirados do Guia Exame de Boa Cidadania Corpo-
11
Veja a matéria ONGs: os novos inimigos do capitalismo, na revista Exame de 25/10/2006.
12 É bom lembrar que a Nike foi muito criticada por explorar o trabalho infantil na Ásia. Pouco
importou na verdade se eram empresas terceirizadas. O caso da empresa nos faz perceber que
a sociedade considera a multinacional o elo forte da cadeia e, portanto, responsável tanto pela
ponta da produção, inclusive os fornecedores, quanto pela ponta da venda.
A dimensão sociedade 1O1
Polarizadoras Integradoras
Orca Golfinho
Critica a performance Critica a performance das
das empresas e ataca empresas e seleciona os
Discriminadoras alvos selecionados. Tem parceiros apropriados. Tem a
a característica de ser característica de ser criativa e
estratégica, inteligente, adaptativa
independente e imprevisível
Tubarão Leão Marinho
Ignora a performance das Ignora a performance e
Não- empresas e ataca quase todos trabalha com qualquer CL
discriminadoras os alvos. Geralmente busca empresa. Tem a característica o:::
w
atacar em grupo e de maneira de não se importar com quem <(
estratégica a alimenta
z
::J
('O
FoNTE: Adaptada de SustainAbility (2003) e Marsden e Andriof (1998). ü
Polarizadoras Integradoras
Discriminadoras Orca > Regras de Combate Golfinho> "Coopet ição"
Este tipo de organ ização Este t ipo de orga nização
difici lmente será cooptada, age estrategicamente para
porta nto é preciso cria r regras sobreviver. Ora ata ca as
de contato com ela buscando emp resas, ora coo pera com
dar atenção às fontes de elas de forma a ajudá-las a se
suas insatisfações, mas gerar adaptarem à responsa bilidade
contra -propaganda quando socia l e ambienta l. Em outras
atingir o core busíness. pa lavras, há competiçã o e
cooperação.
Não- Tubarão > Balanço de Poder Leão Ma rin ho > Seleção
discriminadoras Não importa o q ue a empresa Natura l
fizer, ela será sempre a É preciso selecionar as ONG s
inimiga. Portanto, é preciso com quem a empresa irá
engajar-se em múltiplas co laborar nesta categoria,
técn icas de balanceamento de avaliando relações de custo
poder (estratégia distri butiva), e benefício e o poder social
que podem ir desde ações da ONG. Apenas aquelas
judiciais, contra-propaganda , mais bem adaptadas devem
passando por busca de sobreviver com o apoio das
mediadores e outras políticas empresas.
que visem minimizar o dano
deste tipo de organ izaçã o .
Figura 5.4 Estratégias corporativas para lidar com as ONGs.
As comunidades epistêmicas
Outro conjunto importante de poder brando das empresas está associa-
do à relação delas com as chamadas comunidades epistêmicas. Adler e Haas
(1992) definem comunidade epistêmica como uma rede de profissionais com
reconhecida especialização e competência em uma área de conhecimento, que
possuem em comum um conjunto de crenças e princípios normativos que pro-
vêem uma racionalidade de ação para os membros da comunidade; têm cren-
ças causais derivadas da análise das práticas ou que contribuem para respon-
der a um problema central na disciplina e constituem a base para entender o
relacionamento entre possíveis ações políticas e os resultados desejados; com-
partilham noções de validade que são os critérios internos para pesar e avaliar
o conhecimento específico de uma área; e desenvolvem práticas comuns asso-
ciadas a suas atividades de competência profissional que presumivelmente au-
mentariam a qualidade de vida dos seres humanos em geral.
A ação das comunidades epistêmicas nas relações internacionais deve ser
entendida dentro do contexto da coordenação política. Adler e Haas (1992) di-
zem que a coordenação política (entre Estados) é baseada no consentimento e
nas expectativas mútuas, mas a questão fundamental é: de onde vêm as expec-
104 Ma nual de Diplomacia Corpora tiva • Sarfari
internacionais. Interessante notar que, uma vez que as idéias são instituciona-
lizadas, elas podem ganhar status de ortodoxia e, portanto, podem se tornar
politicamente persistentes. Um fator fundamental para o estabelecimento dessa
persistência é o grau de consenso da comunidade epistêmica em torno de de-
terminadas idéias.
Em termos contemporâneos, Adler e Bernstein (2004) vêem a questão da
governança global como essencialmente baseada nas instituições e, portanto, a
essência da governança global como epistêmica. Ou seja, a governança global
depende fundamentalmente de entendimentos em comum sobre determinado
tema internacional. Dessa forma, as comunidades epistêmicas são elementos
centrais para que possamos compreender a formação do consenso em torno
dos temas de governança.
Segundo os autores, a govemança global depende, de um lado, das capa-
cidades materiais e conhecimento (normativo, ideológico, técnico e científico)
e, de outro, da legitimidade (aceitação do direito de julgamento sobre as co-
munidades relevantes) e da justiça (prestação de contas, representação e res-
ponsabilidade).
Quadro 5.3
13 No caso da OMC, muitos desses trabalhos podem ser acessados no site < http:// www.wto.
org/english/ forums_e/ngo_e/pospap _e.htm > , visitado em_10/7/ 2005.
11
' Veja < http://www.ceps.be > , visitado em 10/7/ 2005 .
15
Veja < http:// www.iccfglobal.org> , visitado em 10/7/2005 .
16
Veja < http://www.iconebrasil.org.br> , visitado em 10/7/ 2005.
108 Manual de Diplomacia Corpora tiva • Sa rfat i
Sua empresa:
vel com o quadro executivo que concebe a batalha pela informação como um
instrumento estratégico de desenvolvimento da empresa.
A dimensão informação parece que é muitas vezes negligenciada por mui-
tas empresas que acabam vendo-a como um apêndice de atividades de marke-
ting e se equivocam ao não atribuir valor estratégico à comunicação. E por que
ela é tão importante? Todo o negócio de uma empresa, assim como sua carrei-
ra, é fundado em sua credibilidade.
Esta credibilidade é sustentada através de três parâmetros: identidade,
imagem e reputação. Segundo Argenti (2006), a identidade é a manifestação
visual de como a empresa se vê e é transmitida através de seu nome, logomar-
ca, folhetos, uniformes, produtos e serviços. Já a imagem diz respeito à forma
com que a empresa é percebida pelos seus diferentes públicos, o que, em nosso
caso, se reflete nas dimensões mercado, governo e sociedade. Estas percepções
podem ser dissonantes à medida que, por exemplo, uma empresa pode ser per-
cebida como eficiente pelo mercado, com desconfiança pelo governo e com re-
chaço por parte da sociedade civil.
Embora as imagens possam ser dissonantes, a identidade da empresa tem
que ser única. Portanto, em um sentido estratégico, é preciso trabalhar a percep-
ção da empresa, em cada uma das dimensões, para cada país em que ela atua.
Já a reputação se diferencia da imagem por ser construida ao longo do
tempo e não apenas pela percepção em um curto espaço de tempo. Além dis-
so, a reputação de uma empresa não está baseada na percepção de apenas um
público e sim de todos eles. Empresas com reputação sólida tendem a ter mais
facilidade de atrair e reter talentos, conseguir e manter clientes e abrir as por-
tas chaves dos governos nacionais. Da mesma forma, reputações sólidas podem
virar pó em instantes, como ocorreu no colapso da Enron em 2001, que levou
junto a sua empresa de auditoria, a Andersen (ARGENTI, 2006, p. 97-99).
É importante também que o diplomata corporativo se dê conta de que a
comunicação sempre acontece em um contexto cultural. É pouco provável que
você, como brasileiro, compreenda profundamente a mente de um chinês, um
italiano ou um árabe marroquino, a não ser que tenha morado em algum des-
tes países por um bom tempo. Mesmo que você fale o idioma do país, ainda é
impo'rtante se valer de pessoas de confiança que vivam lá para evitar proble-
mas sérios de comunicação.
A relação com as dimensões informação e as dimensões mercado, socieda-
de e governo da PEC devem ser definidas passo a passo de acordo com o se-
guinte roteiro:
t
A dimensão informação 111
Quadro 6.1
A comunicação da imagem
1
Daí a famosa expressão "Pense globalmente e aja localmente".
A dimensão informação 113
4
Site da empresa < http://www.monsanto.eom.br/monsanto/mundo/visao/mo_visao.asp >, vi-
sitado em 27/3/2005.
5
Carta do presidente in Perfil Monsanto do Brasil - um novo olhar para o Brasil (2003).
A dimensão informação 11 S
6
<http://www.estadao.eom.br/agEstado/noticias/2001/mai/02/74.htm>, visitado em
27/3/2005.
116 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
As relações públicas
7
< http://www.horizontenet.com.br/gen_mostra_noticia.php?cod_noticia=69 > , visitado em
27/ 3/ 2005.
8 Veja < http://www.edelman.com/about_us/mission/>, visitado em 09/7/2005.
A educação pública
Sua empresa:
...
118 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
- 3 = nenhuma sensibilidade
- 2 = baixa sensibilidade
120 Ma nual de Diplomacia Corporativa • Sa rfa ti
- 1 = ligeiramente sensível
1 =média sensibilidade
2 =média-alta sensibilidade
3 = alta sensibilidade
Nota ponderada
- 0,2 5
da eta pa
2,4
Nota ponderada 2
da etapa
Opinião pública
não é sensível
1- f-,'f li Opinião pública é A empresa vende sa úde,
ao q ue oco rre ~·
:,"' :,- :t:'~
altamente sensível
ao que ocorre no
3 2 6
portanto, a opinião pú -
blica é altam ente afet ada
no setor setor pelas notícias do setor
1~,•','.
Autorid ades
fF·;, Auto ridades são As ações legai s das auto-
t~
não são sen- ,; altamente sensí- ridad es são consideravel-
síveis ao que veis ao que oco rre 2 3 6 m ente influ enciadas pela
ocorre no setor
j,i; t no setor ação informativa do setor
,.' e:. ,li, e pela imprensa
Pro paga nda !-, ·'.• -:,:!
Propaganda Cada vez m ais as ONG s
nega tiva de f\: :''".>~·, énegat iva das ONGs exerc em pressão sobre
. ~ij [~~
ONG não tem
'• altament e im- 2 2 4 o set o r, especialmente
im pacto na ~ ,. pactante na cadeia na sensível questão de
cadeia de valor - de va lor
o 1-0õ:.-, l""' 1
patentes
Total bruto f , .,
o o 7 2 16
coluna ~·.•
Nota ponderada
2,3
da etapa
Finanças
•
Clientes Visão Processos
Estratégica _____
.__
Internos __.
Aprendizado e
Crescimento
É importante notar que o BSCi tem dois níveis: macro e micro. O rnacronível
refere-se a objetivos, métricas e ações para sustentar a corporação em nível glo-
bal, enquanto que o rnicronível refere-se a objetivos, métricas e ações desenha-
das especificamente para cada país de atuação presente ou futura da empresa.
O rnacronível do BSCi alinha os objetivos das dimensões da PEC com os
objetivos estratégicos globais da empresa, enquanto que o rnicronível alinha os
objetivos da PEC em relação a cada um dos países em que a empresa atua, le-
vando em consideração portanto necessidades específicas locais.
Abaixo, resumidamente, ternos alguns elementos do rnacronível e do rni-
cronível do BSCi para urna empresa do setor de química fina:
Tabela 7.6
Objetivos (PEC) Métricas Iniciativa
Transparência Diminu ição globa l do Desenvolvimento de mecanismos
e eficiência nas custo de aqu isições em de leilão reverso habilitando
aquisições globa is 25% até 201 O globalmente fornecedores que já
vendem localmente para nossas
subsidiárias.
"Parceiros Aumento da receita do Estabelecimento de políticas de
globais" grupo em 35% até 2009 venda e preferência para empresas
multinacionais. Ou seja, se
queremos comprar globalmente é
natural que nossos grandes clientes
também o queiram.
Tecnologia de Aumento do Estabelecimento de quatro centros
ponta comprometimento regionais de P&D com projetos
de 10% para 15% independentes e cruzados.
da receita global da Contratação global de 30 PhDs.
empresa diretamente
destinados a pesquisa e
desenvolvimento.
Perspectiva governo
Para alcançarmos nossa visão de PEC, como deveríamos ser vistos pelo governo?
Tabela 7.7
Objetivos (PEC) Métricas Iniciativa
Regime de Aumento de 20% na Organ ização de /obby industrial
propriedade receita de produtos pressionando por medidas que
intelectual patenteados nos países aumentem o nível de punição em
em desenvolvimento até relação a países que não combatem a
2015 violação de propriedade intelectua l
Auto- Adesão de 100% das Criação e implementação de altos
consistência unidades produtivas a padrões globa is regulatórios
regulatória normas de auto-regu la- aplicados aos nossos processos
mentação até 201 O produtivos globalmente
A definição dos objetivos da política externa corporativa 129
Perspectiva sociedade
Para alcançar nossa visão de PEC, como deveríamos ser vistos pela sociedade?
Tabela 7.8
Objetivos (PEC) Métricas Iniciativa
Reputação global Melhora na reputação Aumento do diálogo junto a
de desenvolvimento global da empresa em ONGs internacionais voltadas ao
sustentável 30% de 2007 a 201 O meio ambiente. Estabelecimento
de práticas globais de
desenvolvimento sustentável
Programa global de Aumento global de 40% Iniciativa global de contratação
diversidade da força da diversidade na força e promoção de mulheres,
de trabalho de trabalho até 201 O deficientes físicos e minorias
Perspectiva informação
Tabela 7 .9
Objetivos (PEC) Métricas Iniciativa
Aumento da adesão Adesão governamental Campanha articulada para
governamental a em todos os países ganhar os corações e mentes
posições pró-prote- onde a empresa atua a da população e governos sobre
ção de propriedade posições de proteção de a importância de proteção à
intelectual propriedade intelectual propriedade intelectual
até 201 O
Reputação global Aumento global de Campanha multimídia global
e dedicada ao 15%, até 201 O, no de divulgação das ações sociais
desenvolvimento número de reportagens da empresa (comerciais de TV e
sustentável com comentários rádio, hot sites, promoções, ação
positivos sobre as ações de assessoria de imprensa, visitas
sociais da empresa guiadas às unidades de produção,
promoção de eventos associados à
qualidade de vida.
Perspectiva mercado
1
Também conhecida como BINGO (Business Interest Non Governmental Organization).
132 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfari
Tabela 7.1 O
Perspectiva governo
Para alcançarmos nossa vi.são de PEC, como deveríamos ser vi.stos pelo governo?
A definição dos objetivos da política externa corporativa 133
Tabela 7.11
r---
Objetivos (PEC) Métricas Iniciativa
Fortalecimento de regime Diminuição em 40% da Domínio da arte do
pirataria até 2012
.
de patentes 1guanxi
Rápida aprovação de Autorização para a Domínio da arte do
novos projetos com sócios construção de duas novas guanxi
10 cais unidades até 201 O
-
Todo o complexo petroquímica é considerado estratégico pelo governo chi-
nês. A demanda explosiva do país por todo tipo de petroquímica sempre atraiu
a empresa que, por enquanto, faz mais dinheiro com produtos próximos a com-
modities do que os tecnologicamente inovativos. Entretanto, a grande vantagem
da empresa está na inovação, mas esta inovação no país é ameaçada por um
regime extremamente fraco de propriedade intelectual. Portanto, a potencial
pirataria que poderia ser realizada inclusive por empresas estatais é uma séria
preocupação. Na verdade, a empresa sempre esteve ciente deste problema em
relação ao mercado chinês e não há indícios de que o governo mudará sua polí-
tica tão cedo. Dessa forma, toda a arte do relacionamento com oficiais do gover-
no (guanxi) deve ser utilizada para, se não melhorar o regime de propriedade
intelectual, ao menos impedir potenciais piratarias de produtos da empresa.
O guanxi também é nevrálgico na medida em que a empresa vê como es-
tratégica a expansão das atividades no país. Ciente de que neste setor o gover-
no somente permite a expansão viajoint ventures , a empresa deve se esforçar
para manter a maior parte do controle acionário e o total controle sobre tec-
nologias. O esforço deve ser direcionado à contratação de executivos com as
conexões certas para, inclusive, acelerar a aprovação de dois projetos de ex-
pansão da produção no país.
Perspectiva sociedade
Para alcançar nossa visão de PEC, wmo deveríamos ser vistos pela sociedade?
Tabela 7.12
Objetivos (PEC) Métricas Iniciativa
Benchmarking Eliminação de 30% nos Mudança nos processos de
social resíduos tóxicos até 201 O produção e treinamento da força
de trabalho
Socialmente Aumento da satisfação do Criação de programa de benefícios
responsável funcionário em 25% no sociais incluindo auxílio-saúde,
ano corrente seguro e clube social.
134 Manual de Diplomacia Corporativa • Sa rfat i
Perspectiva informação
Tabela 7.13
Obietivos (PEC) Métricas Iniciativa
Parceiro com o Manutenção do bom Mapeamento do poder político e
governo relacionamento com as gestão de relacionamento
autoridades
Reputação Aumento regional de Campanha multimídia global de
regional de 30%, até 201 O, no divulgação das ações sociais da
desenvolvimento número de reportagens empresa (comerciais de TV e rádio, hot
sustentável com comentários sites, promoções, ação de assessoria
positivos sobre as ações de imprensa, promoção de eventos
sociais da empresa associados à qualidade de vida
Quadro 7.1
A resposta é: depende...
• Logicamente, se a sua empresa não tiver operações internacionais, não faz
sentido formular uma PEC.
• Se a empresa realizar pequenas operações de importação/exportação tam-
bém não. Entretanto, neste caso seria interessante ao menos um funcioná-
rio com algum treinamento em diplomacia corporativa.
• Enfim, quanto maior o tamanho do envolvimento internacional, maior ten-
de a ser a necessidade de articular uma PEC e de ter profissionais formados
para serem diplomatas corporativos.
Logicamente que não há uma resposta correta ou padrão para estas alterna-
tivas. Entretanto, como notado nas questões anteriores, isso depende fundamen-
talmente de quão críticos são para o sucesso da empresa as dimensões governo e
sociedade, assim como os riscos da operação internacional e, além disso, a deci-
são estratégica de qual o papel da PEC dentro da estratégia da organização.
Se a decisão for por departamentos independentes, é lógico que é preciso
criar políticas que articulem e não dupliquem o trabalho executado por cada um
dos departamentos. Por exemplo, uma saída seria limitar o trabalho da divisão de
RI às esferas governo e sociedade com o complemento da atividade de informa-
A definição dos objetivos da política externa corporativa 137
A compreensão dos tipos de distâncias que pode haver entre países e afe-
tar a comercialização de produtos foi o cerne do estudo realizado por Pankaj
Ghemawat (2001), professor da Harvard Business School. O framework ajuda
os executivos envolvidos com os negócios internacionais a identificar e avaliar
o impacto das distâncias cultural, administrativa, geográfica e econômica em
várias indústrias.
O Quadro 8.1 a seguir revela o framework das distâncias CAGE:
' A parte do CAGE foi construída a partir de trabalho apresentado por Marcela Karina Silva
Menezes Gomes.
140 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfa ti
Distância cultural
São muitos os fatores culturais que criam distâncias entre países. Alguns
desses atributos são as crenças religiosas, as normas sociais, os idiomas.
Segundo Ghemawat (2001, p. 3), países que compartilham um mesmo
idioma, considerados todos os demais fatores inalterados, conseguem ter um
comércio três vezes maior do que entre países que falam idiomas diferentes.
Certas características culturais, como o idioma, a gastronomia e o ves-
tuário, por exemplo, podem ser facilmente percebidas, e até compreendidas,
quando vistas por olhos externos. Outros atributos culturais, no entanto, são
impossíveis de perceber, até mesmo para as pessoas a eles submetidos. Geral-
mente, dizem respeito a atributos relacionados a princípios e a valores de uma
determinada comunidade.
Ghemawat afirma que, freqüentemente, os atributos culturais criam dis-
tância porque exercem influência nas escolhas que consumidores fazem quan-
do optam por determinados produtos, em função de suas preferências. Cores,
por exemplo, possuem uma forte relação com preconceitos culturais (GHEMA-
WAT, 2001, p. 3). Elas podem ser interpretadas de forma distinta por cada so-
ciedade, de acordo com os significados que a elas são atribuídos.
O Quadro 8.2 mostra os resultados de uma pesquisa sobre a sensibilidade
das indústrias às distâncias CAGE, com foco no impacto da distância cultural.
Outro fator importante que também costuma criar distância entre países é
a infra-estrutura de instituições reguladoras das atividades econômicas presen-
tes em urna nação. Países que contam com instituições bem estruturadas costu-
mam ser atraentes a empresas externas. Contrariamente, países identificados
por corrupção ou que sofrem conflitos sociais são evitados pelas empresas es-
trangeiras (GHEMAWAT, 2001, p. 5).
Distância Geográfica
Ghernawat argumenta que quanto maior a distância entre países, mais difí-
cil é a condução de negócios entre eles. No entanto, a dimensão geográfica de
que trata não se refere apenas à distância física, em quilômetros, dos países. Ela
inclui também fatores como distâncias médias a serem percorridas dentro do
outro país, seu acesso a portos e a vias marítimas, sua topografia, além de tam-
bém considerar atributos construídos pelo ser humano e que alteram a geogra-
fia, como, por exemplo, as infra-estruturas de transportes e de comunicações.
Custos de transporte costumam aumentar de acordo com a distância. Esse
aumento, contudo, dependerá da natureza do produto que se transporta, do
seu peso e do espaço que ocupa. Bens perecíveis, por exemplo, precisam ser
transportados com maior rapidez do que produtos para a construção civil,
corno cimento e ferro.
Os resultados obtidos por Ghemawat e Mallick (apud GHEMAWAT, 2001) ,
com relação à distância geográfica, são apresentados no Quadro 8.4.
Entretanto, as distâncias não dizem respeito apenas a bens materiais. O in-
tercâmbio de produtos intangíveis e de serviços também diminui conforme as
distâncias aumentam. Nesse caso, o fundamental é que os países contem com
boas estruturas de fluxo de informações e de transações financeiras.
Em seus estudos, Ghernawat constatou que empresas que encontram bar-
reiras geográficas para o comércio costumam realizar investimentos diretos em
.'
O monitoramento da política externa corporativa 145
infra-estrutura local, nos países que querem atingir, como forma de estratégia de
entrada. Mas constatou também que quanto maior a distância geográfica entre
países, mais escassos são os investimentos estrangeiros diretos feitos entre eles.
oi,,1ad ro 8.4 Sensibilidade das indústrias à distância geográfica (física).
e--'
Mais sensível Menos sensível
Enerq ia elétrica Pasta e restos de papéis
dás, natura l ou fabricado Aparelhos fotográficos, bens da
indústria ótica, relóqios
papel e papelão Aparelhos de telecomunicações e de
qravação sonora
Ji.nimais vivos Café, chá, cacau e condimentos
Ji.çúcar e suas preparações e mel Ouro, não-monetários
-f c:?NTE: Ghemawat (2001, p. 7). Tradução própria .
Cultural
4
Esta análise foi conduzida com a colaboração de Eleonora Spinola, Fabiana Biazoti, Fabio Ot-
taiano e Flávia Carrasco.
O monitoramento da política externa co rporativa 14 7
Geográfica
Administrativa
Econômica
A renda por PIB (medida pela Paridade de Poder de Compra) per capita do
Chile é de US$ 10.900,00, superando países como o Brasil e a África do Sul,
mas perdendo para a Argentina. O índice de desemprego está em um patamar
de 8%. Já a exportação do Chile para o Brasil é inexpressiva. O mercado de
queijo no Chile é de aproximadamente US$ 315 milhões e a projeção é que
atinja US$ 320 milhões até 2008, crescimento de cerca de 1,5% ao ano. Um
fator importante a levar em conta é o fato de que a família chilena gasta cerca
de 30% de sua renda mensal com produtos alimentícios.
8 · 2 -1 Risco geográfico
Quadro 8.7
5
Embora na maior parte dos casos de negócios internacionais os obstáculos geográficos e logís-
ti cos, entendidos como transporte e armazenagem de produtos, sejam literalmente sinônimos,
casos como o da CVRD em Moçambique mostram outro importante aspecto geográfico da ativi-
dade multinacional: o aspecto humano, relativo à realocação de fa mílias .
150 Manual de Diplomacia Corporativa • Sar fati
Quadro 8.9
6
Acompanhar a indicadores como PIB, distribuição de renda, taxas de juros etc. é fund amental
na decisão de entrada e permanência de uma empresa em qualquer país.
O monitoramento da política externa corporativa 153
Quadro 8.11
Por exemplo, a Federal Drug Administration (FDA) exige amostras para viabi-
lizar a exportação; posteriormente é feito um registro e acompanhamento deste
órgão, que verificará se a empresa está cumprindo suas determinações. Até aí, é
como submeter-se às regras da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil
e, portanto, nada mais justo que a empresa exportadora de alimentos se submeta
a procedimentos locais relativos a normas sanitárias.
Entretanto, a crescente preocupação dos Estados Unidos com potenciais
atentados terroristas, envolvendo agentes biológicos, levou o governo america-
no a elaborar mecanismos preventivos para o controle de materiais que possam
representar riscos significativos à saúde pública. A chamada Lei do Bioterrorismo
tem impacto direto na importação de alimentos para consumo humano e animal.
Esta lei determina que os produtores de alimentos façam seu registro junto à FDA,
contratem um representante em território norte-americano, chamado de "agen-
te", e mantenham arquivo dos dados referentes aos embarques. De acordo com
as exigências desta lei, é necessário enviar um aviso prévio às exportações, com o
mínimo de oito horas e o máximo de cinco dias antes da chegada. Esse comunica-
do adiantado deverá conter informações sobre o fabricante, o produtor agrícola
(se conhecido}, o país de embarque e o porto de chegada, o que permitirá à FDA
o planejamento de suas inspeções.
Pela lei, a FDA está autorizada a reter alimentos caso tenha evidências ou in-
formações confiáveis de que representam ameaça de prejuízo sério à saúde ou
risco de morte para pessoas ou animais.
Considerando as dificuldades impostas pelo governo norte-americano que,
no fundo, acabam funcionando como uma barreira não tarifária às exportações a
este país, a Nutrimental deve investir em um caminho próprio de exportações (in-
dependente de intermediários/traders) para os Estados Unidos?
• requisitos de etiquetas;
• trâmites aduaneiros excessivos·
'
• inspeção prévia;
• requisitos de inspeções e testes;
• licenças de importação;
• registro do produto;
• certificações técnicas;
• normas de impostos indiretos;
• registro do estabelecimento exportador;
• regulamentação do transporte;
• normas sanitárias e fitossanitárias;
• exigência de conteúdo regional;
• exigência de patentes .
1
158 Ma nual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
8 · 2 -4 Risco político
Quadro 8.13
haviam sido duramente reprimidos pelo governo do país que colaborava com
os Estados Unidos na erradicação das plantações como forma de debelar a ori-
gem do tráfico de drogas. Morales, como líder do Movimento ao Socialismo,
nunca escondeu o seu sentimento anti-americanista, assim como suas prefe-
rências pela nacionalização dos recursos naturais do país.
Portanto, neste caso seria natural que se uma empresa estrangeira já esti-
vesse há muito instalada no país, ela contribuísse financeiramente para cam-
panhas de candidatos com posições menos xenófobas. Além disso, deveria bus-
car outras formas de mitigar o risco da operação cancelando investimentos e
buscando instrumentos de seguro no mercado financeiro internacional (veja
Quadro 8.15). Uma política de longo prazo, associada à dimensão sociedade,
poderia mitigar o risco também trabalhando com as comunidades locais em
projetos de responsabilidade social (vide poder brando).
Por outro lado, uma empresa que tivesse um projeto de investimento no
país simplesmente poderia diminuir risco esperando o desfecho da eleição e os
primeiros movimentos da nova liderança do país.
Basicamente, avaliar o risco político significa avaliar os fatores que podem
afetar a estabilidade do país. Segundo Bremmer (2005, p. 37), "a estabilidade
de uma nação é determinada por duas coisas: a capacidade dos dirigentes polí-
ticos de implementar as políticas que desejam mesmo em meio a choques e de
evitar gerar seus próprios choques".
A avaliação do risco político deve começar com uma investigação doam-
biente político, ou seja, um mapeamento da política do país. Logicamente este
mapeamento deve levar em conta aquilo que realmente for importante para o
negócio da empresa e, portanto, deve ser conduzido conforme o perfil da em-
presa. Sugerimos que alguns itens básicos devem ser incluídos neste mapea-
mento inicial:
Análise estrutural
• regime político;
• perfil dos partidos políticos;
• perfil das principais lideranças políticas do país (presidente, primeiro-
ministro, lideranças da oposição, líderes civis);
• mapeamento das forças políticas do Parlamento;
• perfil dos movimentos sociais e suas lideranças;
• mapeamento das relações políticas internacionais (histórico de rela-
ções políticas internacionais e vulnerabilidade em relação a pressões
de outros países);
• histórico de intervenção governamental nos negócios .
O monitoramento da política externa corporativa 163
Análise conjuntural
Quadro 8.15
Quadro 8.16
Ib.e Quand0 duas ou mais partes negociam, ambas trazem ~uas culturas p~r! ª
e isa de negociação. Acontece que culturas podem afetar diretame_nte pos1çoes
do nteresses. Os valores culturais podem revelar os interesses ~ais profu~d~s
en: nego:iadores. Negociadores que vêm de cultura~ que valonzam a trad1çao
v· relaçao a mudanças podem não ser muito entusiasmados com o desenvol-
llb.ento econômico que ameace o modo tradicional de vida.
. Este é o caso da Eurodisney. A Disney comprou um terreno próximo a Pa-
ris
, ~remetendo trazer empregos· e desenvolvimento para uma reg1ao ·-
com aIto
inctice de desemprego mas a população local valorizava o estilo de vida cam-
Pones.~ '
Os executivos americanos tiveram dificuldades de concr·1·iar os mteres-
·
ses da população e do empreendimento Neste caso a Disney teve que buscar
do a poio· da comunidade, ajudando os moradores
. a preservar O mo d O d e vi'd ª
eles ao invés de tentar convencê-los dos valores econômicos do parque.
Quando as pessoas negociam seus comportamentos são estratégicos e suas
estrat'egias
· podem ser culturalmente
' · que negocia
baseadas. Isto quer dizer · d o-
res d d · - ·
. e etermmada cultura podem ter maior propensao a determma a estrate-d '
g1a e m re 1açao
- a outra cultura. As estratégias estão ligadas
. ,a negociaçao,
· - pois ·
as culturas envolvem normas que facilitam a interação social.
~rett (2001) identifica quatro grandes estilos de estratégia e em seguida os
relaciona com comportamentos culturais: .
Quadro 8 · 17 Avat,·açao
- resumi.da d o nsc
. 0 cultural para o caso Frango - Países
r-------....__ Árabes
Dimen -
sao Cultural Ação
Religião Risco
Custos de produção Verificar o possível retorno
especificamente voltada financeiro da operação.
para o hala/ Caso positivo, manter estrito
cumprimento dos preceitos
Costurnes e religiosos
Negociação Diferenças em estilos de Preparação de todos os
negociação podem causar executivos com negociação
problemas na gestão do com países árabes sobre
relacionamento hábitos culturais e técnicas de
neqociação cultural
Clima
A grande extensão territorial determina ampla variedade climática, desde
os climas subtropicais, ao norte, até os frios , na Patagônia, com predomínio
dos climas temperados na maior parte do país. O clima é mais frio nos Andes ,
na Patagônia e na Terra do Fogo, em função da latitude e da maior altitude de
tais regiões.
População
A população da Argentina foi estimada em 36,3 milhões de habitantes em
2001 , o que representa uma densidade demográfica de aproximadamente 13
habitantes por quilômetro quadrado. A Província de Buenos Aires e a Capital
Federal concentram cerca de 50% da população do país, sendo a maioria de
origem européia. No centro do país boa parte é de origem mestiça. Estima-se
que, por volta do ano 2010, a população total do país chegue a 41 milhões de
habitantes. Os principais centros urbanos são:
Transporte rodoviário
Ar d d ·, . b ·almente nos últimos
anos Bu e e ro oviana
. argentina
. desenvolveu-se ,su stanci ·-
· ·pai·s cidades e regioes
d · , enos Aires está hgada, por via terrestre, as pnnci .•
0 pais. ES e conta com 63.548 quilômetros de rodovias e 600.000 qmlo1:1e_tr_ os
de estrada t . . . . . . 7 - dministradas pela m1c1a-
. priv
tiva · s rnumcipais. Das rodovias nacionais, -1 dsao a d ' ·os O transporte ro-
. , . ªd a, remunerada por meio da concessao e pe agi · . .
~oviano entre o Brasil e a Argentina efetuado por empresas braSileiras_e argen-
tinas da' · • ' · p so de los Libres. Em
d ' -se, prmcipalmente, através da ponte Uruguaiana- ª , O .
ezemb_ro de 1997, foi inaugurada a ponte São Borja - Santo Tome, sobre Ri?
Uruguai. Encontra-se em estudo a viabilidade de um corredor de transporte h-
3
gaado Buenos Aires, Montevidéu e Rio de Janeiro, com extensão de .000 km.
Ofer d . . f , · e as melhores rodo-
. ece um os roteiros mais seguros e con ortaveis . .. .
vias - com pedágios em muitos trechos, porém cobrando valores si~n_if~catl-
vamente inferiores aos do Brasil. O pagamento de propinas para pohciais da
Gua rd ª Nacional é quase inevitável.
Transporte ferroviário
. O sistema ferroviário foi privatizado em diversas etapas, que ti~er~m iní-
ClO em novembro de 1991, pelas linhas de transporte de carga, e fmahzaram
e~ : 995, com o transporte urbano de passageiros. Conta com cerca de ~4.5~0
qu_Ilometros de ferrovias, com três bitolas diferentes, e liga Buenos Aires as
prmcipais regiões e cidades do país, entre elas os portos de Santa Fé, Rosário
0
e B_ahía Blanca. Duas linhas através dos Andes permitem a comunicação com
Chile. Há ainda conexões com O Brasil, 0 Paraguai e a Bolívia. O total de carga
transportada nos anos 2001 e 2002 foi de 16,9 milhões e 17,4 milhões de to-
neladas, respectivamente. Em agosto de 1998, 0 consórcio brasileiro integra-
do pelas companhias Ferrovia Sul Atlântica e Ferrovia Centro Atlântica adqui-
riu, da empresa Indústrias Metalúrgicas Pescarmona, ações das companhias de
transporte de carga Buenos Aires al Pacífico (BAP) e Ferrocarril Mesopotámico
? ene~al Urquiza (FMGU), constituindo urna rede de 22.000 quilômetros que
mterhga centros industriais do MERCOSUL e portos da região.
172 Ma nual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
Transporte fluvial
Transporte marítimo
A maioria dos produtos importados pela Argentina chega ao país por via
marítima. No litoral marítimo de 4.000 km, a Argentina conta com portos bem
equipados e áreas para armazenagem de carga. Os principais portos são: Buenos
Aires, La Plata-Ensenada, Bahía Bianca, Mar del Plata, Quequén-Necochea, Co-
modoro Rivadavia, Puerto Deseado, Puerto Madryn e Ushuaia. O porto de Bue-
nos Aires é o mais importante, sendo responsável por parcela considerável do in-
tercâmbio comercial argentino (39% da tonelagem comercializada). O transporte
marítimo com o Brasil é disciplinado pela Conferência de Frete Brasil-Argentina,
que abrange o movimento nos principais portos argentinos e brasileiros.
doviários ~ d 1
e sao negociados livremente no mercado e dependem o vo ume a ser
. , d a d a a 1·1m1taçao
t Xportado · ~ da capacidade
· ' 1os. No transpor-
de carga d os ve1cu
e rodov1á · 0 , b d MER
SOL re no, despacho_ aduaneiro referente aos ~aises-mem ros o . , ~0-
Dec Iar quer
~
a apresentaçao do Manifesto Jnternac10nal de Carga Rodov1ana e
açao de Trânsito Aduaneiro (MIC/DTA).
Aemp ,· ·
regulares dres ~ ehxportadora pode contratar transporte_ mdantn_no com sbe rv1ços
n e 1m a ou com serviços fretados. Porém, am a existem pro 1emas
=1os-0 Portos , prmc1palmente
· · no brasileiro que conta com o uso excessivo · de
" ª -de -ob ra para movimentar carga. Mesmo ' com a Lei· d e Mod ermzaçao
· ~ d os
f .ºrdt?s e redução no número de trabalhadores uma pressão exercida pelos
- 1catos faz com que um porto como O de Santos,
In ' mesmo com a mo dermza- ·
Çao recente , empregue três vezes mais gente que similares · Iatmo-amencanos,
· ·
como . o de Bue nos A'ires na Argentina Estas re1vm .. d'1caçoes
~ 1azem
e com que
existam m · ' ·
lutas greves e um aumento no preço do produto, uma vez que deve-
se pagar um número maior de trabalhadores para realizar este serviço.
C b O transporte ferroviário é pouco utilizado pelos exportadores brasileiros.
t ª e ter pres ente, no entanto que o Brasil mantem ' · b I·1 atera1s
' convemos · de
p ransporte ferr · ' · ' · N
ov1ano com a Argentina a Bolívia e o Uruguai. as exportaçoes ~
ara esses países, é conveniente port~nto considerar os custos deste tipo de
transpo .', ' . ,
S
rte. No transporte ferrov1ario O despacho aduaneiro referente aos pa1-
es-membro
. s d o MERCOSUL requer a' apresentação da Carta d e Porte Interna-
cional e Declaração de Trânsito Aduaneiro (TIF/TDA).
t ~ ~lima na Argentina, predominantemente temperado, proporciona um for-
; cu tivo de uvas, e um grande consumo de vinhos pela população argentina.
t
c eS a forma, o consumo de vinhos geralmente vem acompanhado de queijos,
0 m sabores ma· t · ha' um gran-
d is ortes, sendo produtos complementares. Assim,
e consumo de queijos na Argentina, favorecido pelas condições climáticas.
Risco econômico
Moeda e câmbio
meiros meses, a taxa permanece mais ou menos estável ao redor de AR$ 3,00
por dólar (março 2006).
Mercado de trabalho
Inflação
Dinheiro e bancos
Reservas internacionais
Dívida externa
Comércio exterior
Risco legal
Queij os
Queijo Fresco: O que está pronto para o consumo pouco depois de sua
fabricação.
Queijo Maturado: Passou por mudanças bioquímicas e físicas.
1. Denominação de venda:
a) Denominação "Queijo" é reservada para produtos que não con-
tenham gordura e/ ou proteínas de origem não Láctea.
b) Os produtos de denominação "Queijo" devem especificar as ca-
racterísticas de sua variedade, especificadas nesse Código.
c) Os queijos deverão cumprir requisitos físicos, químicos e senso-
riais, presentes nesse artigo.
2. Classificação: A seguinte classificação se aplicará a todos os queijos
e não impede denominações mais específicas.
a) De acordo com o conteúdo de matéria gordurosa do extrato
seco em %, os queijos se classificam em:
179
O monitoramento da política externa corporativa
3. Elaboração de queijos:
a) Ingredientes obrigatórios: Leite e/ou leite reconstituído (inte-
gral ou sernidesnatado ou parcialmente desnatado, desnatado
e/ ou soro lácteo).
Leite se entende como proveniente de espécies bovinas, capri-
nas, ovina ou bufalina. Sem a especificação é denominado leite
bovino.
Coagulante apropriado (de natureza física e/o química e/o
bacteriana e/o enzimática).
b) Ingredientes opcionais: Cultivo de bactérias lácticas ou outros
microorganismos específicos, cloreto de sódio, cloreto de cál-
cio, caseína, sólidos de origem láctea, especiarias, condimentos
ou outros ingredientes opcionais, permitidos somente confor-
me o previsto explicitamente nos artigos que descrevem varie-
dades individuais ou grupos de variedades individuais de certas
variedades particulares de queijos.
c) Aditivos: Poderão ser utilizados na elaboração de queijos os
aditivos indicados na lista que figura a continuação.
180 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfa ti
I
1
1
1
1
1
184 Manual de Diplomacia Corporativa • Sarfati
Abertura de Empresa
Abaixo segue a Tabela 8.2 com os tributos pagos por uma empresa de mé-
dio porte na Argentina:
L
O monitoramento da política externa corporativa 18 7
Contratos
Riscos políticos
Corrupção
Apesar do fato de que Kirchner afirma ter entrado no poder para, entre
outras coisas, acabar com a corrupção na Argentina, sendo esta uma das ra-
zões da crise de 2001 e 2002, atualmente, o presidente sofre acusações de ser
líder fraco e com "poder emprestado" devido ao problema da hegemonia na
prática de governo.
A presença de um "regime de partido hegemônico" pressupõe a existência
de uma força política que, pela via da manipulação, de fraude e/ou de violên-
cia, consegue monopolizar todos os meios do poder ou a parte fundamental
deles, vulnerando a divisão de poderes, esvaziando a oposição de recursos e
bloqueando de modo absoluto a alternância no governo.
Tal característica de governo é um traço da política do Partido Peronista
na qual o papel do Congresso aparece sem clareza, além de acusações de ani~
mosidades irredutíveis e ingovernabilidade.
Risco cultural