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Xlt> ESCOLA SUPERIOR

INSTITUTO DE CAPACITAÇÃO TEOLÓGICA ESPECIAL


DE TEOLOGIA

MANUAL PARA MULTIPLICADORES NA ÁREA DA VISITAÇÃO

MORTE, LUTO E PERDAS

A. ACOMPANHAR PACIENTES TERMINAIS

1. INTRODUÇÃO AO TEMA

A visitação a pacientes terminais torna-se uma das tarefas mais difíceis para todos,
profissionais e leigos, que trabalham na área da visitação. O contato com uma pessoa
moribunda confronta-nos com a limitação também da nossa própria vida. Há uma tendência
na sociedade moderna de negar a morte, defender-se contra ela, excluindo a da vida. A
maioria dos pacientes moribundos permanece e morre mais ou menos isolado no hospital e
não em casa. A rotina do hospital domina a convivência da família e delimita a intimidade dos
familiares e amigos com aqueles que se despedem da rida.

Funerárias assumiram o serviço de preparar as pessoas falecidas para o enterro e,


especialmente na cidade, substituem a casa como lugar do velório.
Endereço:
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA - IC T E As instituições funcionam como um escudo de defesa e ajudam para que todos não sintam
C a i x a P o s t a i 1b tanto a realidade do fim da rida. Conseqüentemente, perde-se mais e mais a capacidade de
SÂO LEOPOLDO / RS lidar com as pessoas moribundas, perde-se uma "cultura do morrer" acompanhado pela família
93001-970 e pela igreja. E ainda, a sabedoria espiritual de consolar os moribundos pela oração, pelos
cantos que eles conhecem, pelas leituras bíblicas, pela celebração da Santa Ceia e pelas
conversas de despedida. Facilmente fica um vazio ao redor do paciente moribundo, um
silêncio desesperado e cada vez mais medo de conversar com eles. A prática de muitos
médicos de não comunicar o diagnóstico contribui para tal.
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O paciente moribundo sem a sua defesa e


b. Doenças terminais e seu imoacto para pacientes e seus familiares.
juntamente com a perda da "cultura de morrer"
vão se mostrar também nas reações e defesas dos
= > D úâm kg- Trabalho em grupos (5-7 pessoas). Ler no livro "Como Acompanhar Doentes"
participantes de grupos de visitação em relação a
um dos textos sobre pessoas com AIDS, Câncer e doenças cardíacas. Cada grupo prepara um
este tema. Por isso, será uma das tarefas mais sócio-drama (uma encenação espontânea) cujo objetivo é visualizar a situação dos pacientes e
importantes trabalhar, durante o curso, a nossa transmitir informações básicas sobre a doença.
própria atitude e as nossas próprias experiências
com pessoas moribundas. O tema nos desafia a 4. A VERDADE NO LETTO DE PACIENTES TERMINAIS
lidar com a idéia da nossa própria morte. Na
medida em que conseguimos lidar com este
= > Ler e discutir no polígrafo do ICTE p.5-6 sobre o tema.
aspecto teremos também mais facilidade para
Fazer uma mesa redonda. O grupo escolhe dois representantes da mesa que se posicionam a
acompanhar os moribundos de uma maneira
favor de contar a verdade aos pacientes terminais e dois outros representantes se posicionam
humana e cristã.
contra. Os quatro discutem entre si. Os membros do grupo podem fazer perguntas. A
discussão termina com uma votação.
= >.2ÍSÍfiy£â. Trocar experiências sobre a visita ou o acompanhamento a pacientes terminais Alternativa: convidar um médico e um pastor para discutir os prós e os contras da questão.
(pequenos grupos).
5. A MINHA PRÓPRIA MORTE
2. ESTUDO BÍBLICO: Isafas 38.
Esta parte precisa de uma boa introdução em que o assessor explica como é importante
Ler o texto em grupos, responder e discutir as seguintes perguntas: que aqueles que acompanham pacientes moribundas entram em contato com o fato da sua
a. Como o rei Ezequias experimenta a sua doença? própria mortalidade. O assessor pode lembrar um conselho de Lutero que diz que deveríamos
b. Que idéia o texto nos traz sobre a morte?
prepara-nos para a morte enquanto estamos vivendo plenamente e na hora da morte
c. Qual é a relação de D eus com a doença e a morte? deveríamos dirigir os pensamentos apenas para a vida. Não há muito sentido de insistir nesta
d. O que é parecido com a experiência de pacientes terminais hoje?
parte se o grupo se mostrar muito resistente. Um bom caminho pedagógico é a discussão do
Avaliação no plenário. tema a partir de um filme.

-> Morte na bíblia, Polígrafo do ICTE p. 6-8.


= > DjgâjQi^i (grupos de 3 pessoas) - Conversar sobre a preparação para a morte.
- Um dia vou morrer. O que, em todo caso, ainda desejo fazer antes?
3. A SITUAÇÃO D E PACIENTES TERMINAIS
- Você já pensou na sua própria morte ou evita estes pensamentos? Quem deveria estar
junto nos seus últimos dias?
a. Alguns membros do curso relatam experiências concretas com pacientes terminais. A
- O que não deve acontecer nos últimos dias da sua vida. O que você não quer?
conversa no plenário aborda as seguintes perguntas:
- Como uma pessoa pode preparar-se para a própria morte?
- Como a pessoa sente a sua doença, o hospital e a relação com os familiares?
De dois em dois grupos pequenos se reúnem para compartilhar os resultados.
- Qual é a situação dos familiares e como eles se relacionam com o paciente?
- O que significa a fé cristã para estas pessoas?
= > Dinâmica alternativa. Mostrar durante uma noite para o grupo o filme "Silêncio como
Gelo" (a história da luta dramática de duas pacientes com câncer num hospital) ou "Golpe do
=> ÃliSQgtjxâ. Ler e discutir um dos casos descritos em Christoph Schneider-Harpprecht.
Destino" (a história de um médico que um dia descobre que está com câncer) e discutir o
Como Acompanhar Doentes. São Leopoldo, Ed. Sinodal 1994, Capítulo I.
problema da negação e exclusão da morte da nossa vida e a questão como nós queremos ser
tratados quando encontramo-nos de repente numa situação parecida.
2, ESTUDO BÍBLICO Lc 24.13-35
4 APROFUNDAMENTO
Dividir a turma em pequenos grupos de 5-7 pessoas de tal forma que pessoas de diferentes = > Tje.r n protocolo de uma conversa com uma pessoa enlutada. Anexo n° 4. Perguntas para a
comunidades formem um grupo. Ler o texto dos dois discípulos no caminho de Emaús (Lc
discussão:
24.13-35) em voz alta no grupo. Discutir e responder as seguintes perguntas:
- Como o enlutado vivência a sua situação?
a. Que reações típicas de luto podemos observar neste texto?
- O que acho im portante na condução da conversa pelo visitador?
b. D e que maneira Jesus lida com os dois discípulos, qual é o seu jeito de fazer
- O que gostaria de fazer diferente?
aconselhamento com enlutados?
c. O que consola os enlutados nesta história?
= > Dinâmica Dois membros do grupo encenam essa conversa espontaneamente. Quando o
d. Como vocês explicam que eles no final estão felizes e voltam para Jerusalém, mesmo
visitador não consegue progredir um outro membro do grupo coloca-se de pé atrás dele, toca
que Jesus desapareceu perante os seus olhos?
com as mãos os ombros do outro e continua a conversa como ele achar melhor. Depois senta-
Alternativa: o grupo reflete sobre as perguntas acima e prepara uma pequena dramatização se de novo e o outro continua. Vários membros do grupo podem chegar e experimentar a sua
espontânea sobre o texto bíblico.
variação da conversa.
3. AS FASES DO LUTO
= > Ler como resumo: Polígrafo do ICTE p. 9.

=. > Dinâmica no plenário. Ler e discutir textos que relatam as experiências de enlutados em
5. LUTO CRÔNICO
diferentes fases do processo de luto. O objetivo desta dinâmica é fazer as pessoas falarem
sobre as suas próprias experiências de luto e consdentizá-las sobre as diferentes fases. = > Ler a folha de informação, com parar com as próprias experiências. Anexo na 5.
Discussão.
= > Textos apropriados você encontra p.ex. no livro de Uta Schlegel-Holzmann. Estado Civil:
Viúva. Superando a ausência do Cônjuge. São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1994.
ó I.TJTO D E CRIANCAS
Fase de choque: p. 28s.
Fase controlada: p. 29s.
= > Ler a folha de informação. Anexo ng 6.
Fase do vazio existencial: p. 54s; p. 23; p. 31.; p. 17; p. 37.
Discussão em pequenos grupos sobre:
Fase de readaptação: Partes das pp. 47-50.
- Como os pais, parentes e amigos podem acompanhar crianças enlutadas?
Como resumo para o grupo serve a informação sobre as fases do luto
- Como jovens experimentam a m orte e o que os ajuda?

= > polígrafo do ICTE : Perda na Vida das Pessoas. Morte e Luto, Série Visitação N° 03 p 8s
e anexo n» 3. 7 ACOMPANHAR ENLUTADOS NA COM UNIDADE

a. Cultos de memória.
~ > Dinâmica em grunos: (5 pessoas) - Os membros contam como experimentaram uma
grande perda na sua vida pessoal.
= > EÍâÍJEÍ£i- Form ar grupos de diferentes comunidades. Cada membro do grupo conta
Perguntas a serem respondidas:
sobre os costumes religiosos que há na sua comunidade em relação à morte (Velório, a
- Como experimentei a perda?
m aneira de fazer o enterro, ritos de despedida etc.). O grupo anota o que é igual e o que é
- O que e quem me ajudou a superar a perda?
diferente. Desenvolve uma conversa sobre a pergunta: Como me senti durante o velório e o
- Em que medida a fé cristã e a comunidade me ajudaram?
enterro? O que nestes atos religiosos era importante para mim e o que não gostei?
Avaliação no plenário. (É possível fazer no quadro negro uma lista de coisas que ajudaram).
Compartilhar os resultados e as experiências no grande grupo.
O pastor do distrito pode dar informações sobre a liturgia de enterro.

= > Ler como resumo: Polígrafo do IC TE p. 9s.


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b. Grupos de enlutados 2. Em segundo lugar, devemos despedir-nos também espiritualmente. Isto é: unicam en te
Uma pessoa que participou de um tal grupo relata as suas experiências. por causa de Deus, devemos perdoar amavelmente todas as pessoas, por mais que nos tenham
Ler e discutir textos sobre grupos de enlutados: ofendido. Por outro lado, unicamente por causa de D eus, devemos também desejar o perdão
de todas as pessoas, muitas das quais sem dúvida ofendemos, ao menos com mau exemplo ou
= > Uta Schlegel-Holzmann. Estado Civil: Viúva, p. 30, 32s. com menos obras do que lhes devíamos segundo o mandamento do amor fraternal cristão.
= > Lilian Lauck Decker. Uma experiência em Pastoral Urbana. Anexo n° 7. Devemos fazer isso para que a alma não fique apegada a algum afazer na terra.
= > Howard Clinebell. Aconselhamento Pastoral. São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1987, p. 220s.
A ik s q flg 8 . 3. Quando nos despedimos de todos na terra, então devemos voltar-nos para Deus
Perguntas para a discussão: somente, pois é para lá que se dirige e é para lá que nos conduz o caminho da morte. Aí inicia
- Quais são as vantagens e problemas de grupos de enlutados? a porta estreita, o caminho apertado para a vida (3), por onde cada um deve se aventuar com
- Como podemos instalar um tal grupo na nossa paróquia (município)? bom ânimo, pois o caminho é, por certo, muito estreito, mas não é longo. Ocorre neste caso o
mesmo que acontece quando uma criança nasce, com perigo e temores, da pequena moradia
c. Consolação do ventre de sua mãe para dentro deste vasto céu e desta vasta terra, isto é, vem a este mundo.
Da mesma forma o ser humano sai desta vida pela porta estreita da morte. Embora o céu e o
= > Ler uma carta de consolação que Martinho Lutero escreveu para uma pessoa enlutada. mundo em que vivemos agora sejam considerados grandes e vastos, tudo é muito mais
Anexo ua 9 , apertado e menor em comparação com o céu que nos aguarda do que o ventre materno o é
= > ^j|yÍQy£â- Formar duplas que pertencem a mesma comunidade. Pensar numa pessoa que em comparação com o céu. É por isso que a morte dos queridos santos é chamada de novo
recém perdeu um parente. Tentar formular uma carta de consolação para esta pessoa. nascimento; é por isso também que o dia a eles dedicado é chamado, em latim, de natale (4),
Conversar no plenário sobre a pergunta: O que é consolação? O que consola? dia de seu nascimento. No entanto, a estreiteza da passagem para a morte faz com que esta
vida nos pareça ampla e aquela, estreita. Por esta razão devemos crer nisso e aprender do
nascimento corporal de uma criança. Assim diz Cristo: "Uma mulher, quando está para dar à
luz, sente medo. Mas depois de dar à luz, já não se lembra do medo, porque, através dela, um
ser humano nasceu ao mundo" (Jo 16.21). O mesmo vale para a morte: devemos livrar-nos do
Anexo NQ1 do texto Morte, Luto e Perdas medo e saber que, depois, haverá muito espaço e alegria.

4. Tais arranjos e preparativos para essa viagem consistem, em primeiro lugar, em


providenciar uma confissão sincera (principalmente dos pecados maiores (5) e dos que, no
momento, conseguimos lembrar com o máximo esforço) e os santos sacramento cristãos do
U M SERMÁO SOBRE A PREPARARAÇÁO PARA A MORTE (1) santo e verdadeiro Corpo de Cristo e da Extrema-Unção, em desejar estes sacramentos com
devoção e em recebê-los com muita confiança, na medida em que é possível obtê-los. Onde
M.L.A. (2)
isso não é possível, o anseio e desejo desses sacramentos deve, mesmo assim, ser consolador, e
não devemos nos apavorar demais com isso (6). Cristo diz: "Todas as coisas são possíveis a
1. Como a morte é uma despedida deste mundo de todos os seus afazeres, é necessário que
quem crê." (M c 9.23) Pois os sacramentos outra coisa não são do que sinais que servem à fé e
o ser humano disponha com clareza sobre seus bens temporais, assim como devem ficar ou
incitam a crer, como ainda veremos. Sem essa fé, eles de nada aproveitam.
assim como pretende ordená-los. Ele deve fazer isso para que, depois de sua morte, não
permaneça motivo para rixa, discórdia ou algum outro mal-entendido entre seus parentes.
1 - Eyn Sermon von der bereytung zum sterben, W A 2,685-97. Tradução de Annemarie Hõhn
Trata-se de uma despedida corporal ou exterior deste mundo, em que o ser humano abandona
e Lufe M. Sander.
e se despede de seus bens.
2 - Martin Luther Augustiner (Martinho Lutero, agostiano).
3 - Cf. Mt 7.14
4 - Em latim: dies natalis = dia do nascimento. O diá da morte dos mártires era festejado
como o dia de seu nascimento para a vida eterna.
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- H -

5 - Isto é, mortais. A Idade Média elaborou definitivamente a doutrina dos sete pecados
mortais (ou capitais): soberba, avareza, gula, luxúria, inveja, ira, tédio. não tem perigo nenhum. Ela é muito prá frente mesmo.
6 - Isto é, com o fato de não podermos recebê-los.
V6: Que bom que sua companheira é assim.
P6: Mas me conta meu amiguinho, como vai o seu trabalho? (referia-se às visitações no
hospital).
Anexo n° 2 do tema Morte, Luto e Perdas
V7: Ah. Vai muito bem. Toda a semana eu venho para cá c conheço bastante pessoas, faço
novas amizades. Está indo muito bem.
VISITA PARA UM PACIENTE M ORIBUNDO P7: E aquele menino, nosso amigo com AIDS, tu não viste mais? (perguntava pelo rapaz que
estivera internado no mesmo quarto quando da outra visita que Fiz).
V: Visitante: P: Paciente
V8: Não. Eu não mais o vi. Já na visita seguinte que eu fiz, ele não estava mais aqui.
VI: Boa tarde. O senhor por aqui? P8: Sabia que eu conheci uns quantos colegas seus que moravam nos apartamentos que têm
Pl: Boa tarde meu amiguinho. Pois é, eu já fui para casa, mas essa semana tive novamente em cima do Unidão. (fez menção de vários nomes dos quais creio não ter nenhum colega,
uma crise de falta de ar e tive de ser internado. pelo menos de turma). Eles eram muito bons rapazes, até vinham me visitar em minha casa
(perguntou se faltava muito tempo para me formar, disse-lhe que mais ou menos um ano e
V2: E quando o senhor foi internado novamente? meio).
P2: Terça-feira à noite, eram mais ou menos 1130h.
P9: Pois é, agora estou aqui no hospital, sem poder ficar em casa, sem poder fazer nada
V3: E o senhor já se sente melhor? (reclama bastante da vida).
P3: Sim. H oje estou bem melhor. Ontem estive muito mal, tive falta de ar e precisei de V9: Ah, mas não é assim que tudo é ruim, existem coisas boas que acontecem e que nos
oxigênio. V ocê já viu como funciona? Eles colocam no nariz, eu só precisei de um lado, mas deixam muito alegres.
foi terrível.
PIO: Que bom ouvir você falar isso e é mesmo uma grande verdade, quantas coisas boas
V4: Não eu não sei como funciona. acontecem para a gente e na primeira dificuldade que encontramos, esquecemos tudo de bom
P4: Nem queira saber, é terrível. Mas para mim ajudou. Ontem eu estava sufocando, aí a que nos acontece. É o mesmo que dizer que não existem mais pessoas boas no mundo,
enfermeira passou e viu que eu estava mal, providenciou o oxigênio, mas à noite já tiraram existem sim. Outro dia, quando recebi alta, estava meio bamba das pernas e caí em frente do
Ela disse que é para o meu pulmão não ficar preguiçoso. Sabe quando eu era mais novo, tive hospital, antes de entrar no carro. Muitas pessoas que estavam ali não faziam nada. Aí um
pneumonia aguda e não fiquei bem curado, aí deu efezema pulmonar. Também sofro de rapaz veio rápido lá de longe, ajudou-me a ficar de pé e colocou-me no carro.
diabete, mas a diabete eu controlava em casa, tomava diabnase, depois troquei para (disse o V10: As demais pessoas que estavam por perto talvez ficaram um pouco assustadas, mas não
nome de outro medicamento, não lembro o nome), fiz ainda tratamento com alguns tipos de foi por maldade que não ajudaram o senhor.
chás. (Falou bastante de sua doença e dos medicamentos que já usou, dos quais não lembro o
nome), mas o que me prejudica mesmo é a falta de ar e é por isso que estou aqui no hospital. PU: Faz quatro anos que perdi minha filha mais velha, naquela época cu já estava doente c
Preciso fazer nebulização. Ontem até de oxigênio precisei. minha filha não quis que cu soubesse que ela tinha câncer de mama. Como ela sofreu. Foi
feito de tudo, mas mesmo assim ela não resistiu. Esteve 23 dias internada no Hospital das
V5: É, o senhor deve sofrer muito por causa da falta de ar. C lín ic a s em Porto Alegre. Nunca pensei que eu tivesse que ver uma filha minha sendo
P5: É, sofro muito. Mas a minha companheira (referiu-se à esposa) é muito prá frente. Terça- enterrada. Ela gostava muito de mim, ela e o genro vinham lá em casa, me pegavam e aí nós
feira, quando comecei a sentir falta de ar, ela disse que me traria para o hospital e assim o fez. íamos passear para o interior. Quando ela morreu, parece que arrancaram a metade de mim
Chamou um táxi, trouxe-me para cá e quando eram mais ou menos 11.30h ela saiu novamente, (seu sentimento era tão forte que foi reforçado com um gesto como se tivesse cortando seu
pegou um táxi c foi para casa. Pegando táxi
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corpo ao meio). Não via mais sentido em nada, minha companheira me levava para passear,
mas nada fazia sentido. Mas foi vontade de Deus, Ele quis assim. Contra a vontade D ele FASES D O LUTO
ninguém pode lutar (quando começou a falar de Deus, logo falou bastante sobre religião.
Falou que era católico não-praticante, mas que respeitava até mesmo o espiritismo e que
acreditava firmemente em Deus). Assim com o estudos especializados mostraram que um moribundo tende a atravessar
V II: O senhor falou que é católico não-praticante, o senhor poderia me explicar melhor? certas fases no seu processo de morrer, assim também se conseguiu detectar certas fases pelas
quais passa uma pessoa enlutada. Fala-se por isso de um processo de luto, ou seja, pode-se
P12: É, sabe com o é. Muitos vão para a igreja só para mostrar sua roupa nova, seu carro novo. distinguir manifestações diferentes de luto em momentos diferentes duma cam inhada,
V12: E isso fez com que o senhor se desgostasse da igreja e se afastasse? respeitadas as características individuais de uma pessoa. As minhas considerações sobre o
assunto se baseiam fundamentalmente nos estudos de Y. Spiegel e de R. Lindner.
P13: É isso mesmo, uma coisa chata. Nunca falei isso para ninguém, estou falando para você. a) Fase de choque: muitas vezes a morte colhe as pessoas de surpresa. E mesmo já sendo
Sei que não cabe a nós julgar. Quem julga é somente Deus, mas eu não gostava desse jeito de esperada, quando chega, continua tendo um forte impacto. O choque resulta do confronto
ser igreja, mas mesmo a<xim confio em Deus. Eu só digo a você meu amigo, eu acredito em direto com a realidade nua e crua da morte. Essa primeira reação de choque pode se
Deus e peço que Ele m e dê uma morte tranqüila. Quero apagar como um passarinho, porque manifestar em forma de um grito desesperado ou em forma de uma sensação gélida que passa
nesses hospitais já vi tanta gente implorando para morrer e o médico ao lado sem poder fazer por todo o corpo (alguns chegam efetivamente a sentir frio). Outras pessoas contam que
nada, é triste viu. sentiram a notícia da morte de alguém querido como se tivesse levado uma paulada na cabeça
P14: Já estamos em novembro, coisa séria, como passou rápido esse ano de 94. Vais entrar e como se estivessem sendo anestesiados e fossem incapazes de manifestar algum tipo de
logo em férias? sentimento. Finalmente outros têm a sensação de que o que estão vendo ou ouvindo não pode
ser verdade. Numa reação espontânea, quando confrontados com o corpo do falecido, sentem
V13: Vou sim, no dia 2 de dezembro entro em férias. um forte impulso de querer trazê-lo de volta à vida.
P15: Vais para casa?
b) Fase controlada: depois da fase do choque inicial, segue-se uma fase mais controlada, uma
V14: Sim, vou poucos dias, depois terei que trabalhar. espécie de fase intermediária. A pessoa enlutada é desviada e distraída por diversos
acontecimentos e fatos que sucedem ao seu redor. Ela tem que pensar numa série de questões
V15: Bem, a conversa está muito boa, mas eu preciso ir. (Desejei boas melhoras a todos do que dizem respeito ao enterro. Precisa tomar outras decisões. Há pessoas a sua volta. A
quarto e disse tchau). cerimônia do enterro tem lugar. É, pois, uma fase de agitação. Os sentimentos são confusos,
P16: Tchau meu amiguinho. Volte sempre. embora predominante o sentimento de tristeza e de perda. Mas os outros estão aí e o
enlutado não chega a se dar conta exatamente do que a morte da pessoa significa para ele.
Esta fase termina quando o ritual fúnebre se encerra e quando as pessoas se dispersam.

c) Fase do vazin existencial: esta é a fase mais importante, mais prolongada e dramática do
Anexo NQ3 do texto Morte, Luto e Perdas
processo de luto. Ela inicia quando cessa a agitação, os familiares e amigos se foram e quando
retorna à rotina do dia-a-dia. Só que o dia-a-dia agora não é mais o mesmo. O sentimento de
perda se instala de forma tão forte que parece impossível pensar em outra coisa. Onde quer
Extraftto de; que se vá e não importa o que se faça, a pessoa falecida está presente. Só agora parece que o
MOLZ, Claúdio & WEHRMANN, Guenter F. K. Ofícios. Estudos Temáticos Homiléticos. enlutado se dá conta do que aconteceu de fato. É a fase na qual ele adquire a consciência real
Proclamar Libertação, Suplemento 2. São Leopoldo, Sinodal, 1988, p.75-77. da perda e se apercebe do que o falecido significava para ele. Noites de solidão e de lágrimas
se sucedem. U m a freqüente idealização da pessoa falecida faz com que a sensação de perda se
Texto de autoria de P. Lothar Carlos Hoch, p.75-77 torne ainda maior. Nesta fase muitos enlutados sentem um grande vazio existencial, sendo
possível que lhes sobrevenha o sentimento de perda do sentido da vida. São freqüentes os
sentimentos de depressão, especialmente entre aqueles que têm uma tendência para isso.
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Entre pessoas de fé, não raro se manifesta a sensação de terem sido esquecidas e M esm o assim, o falar em fases do processo de luto se constitui numa ajuda para quem lida
abandonadas por Deus. Palavras bíblicas que outrora lhes traziam consolo, agora parecem com pessoas p-nlnradas, pois, conhecendo-se melhor as formas que o prantear pode assumir, é
vazias e destituídas de sentido. Alguns cristãos sentem a necessidade de manifestar seu possível reladonar-se com essa pessoa de forma mais adequada e de modo a que ela se sinta
inconformismo e seu protesto contra Deus que permitiu essa desgraça. melhor compreendida. Conhecendo-se as fases, pode-se-á evitar que diga ou faça certas coisas
num m om ento inoportuno.
Esta é a fase em que o enlutado mais precisa de apoio de familiares, amigos, vizinhos, da
solidariedade e do consolo de irmãos e irmãs na fé. Ele precisa sentir que têm pessoas que H á um mom ento certo para todas as coisas debaixo do céu: um tempo de chorar com os
estão ao seu lado. Nem tanto para lhe darem conselhos, mas para ter com quem compartilhar que choram, um tempo de silenciar e um tempo de falar, um tem po de abraçar e um tempo de
a sua tristeza ou m esm o o seu protesto. Ele precisa recapitular certas coisas da vida que teve afastar-se do abraço (Eclesiastes 3.1 ss)
em comun com a pessoa falecida e contar repetidamente certos episódios que para ele estão
carregados de em oção. Outros enlutados preferem se recolher em si mesmos e curtir sozinhos
a sua tristeza e desolação. Eles dão a impressão de não quererem visitas. Não se deve
confundir, todavia, o desejo de não falar com o desejo de não receber visitas. Às vezes o
Anexo n° 4 do tema Morte, Luto e Perdas
enlutado prefere não falar, mas no fundo ele se alegra ao notar que outros o procuram, nem
que seja para silenciar com ele.

d) Fase de readaptação: esta fase vai surgindo aos poucos, na medida em que o enlutado
consegue reorganizar a sua vida, reencontrar alegria no trabalho e tomar iniciativas no sentido CO NVERSA COM UM A PESSOA CRONICAM ENTE ENLUTADA
de ir ao encontro de pessoas e mesmo tomar decisões (p.ex. presentear outros com as roupas
do falecido, promover mudanças profissionais ou investir em algo novo, modificar certas coisas
na sua própria casa, etc.). Nota-se que o enlutado iniciou um processo de ordenamento do U m a senhora (50 anos) que se separou do marido alcoólatra, e que perdeu trágicamente
caos interior e que optou pela vida. Só agora que o enlutado se libertou mais interiormente do seus pais na m esm a época. Ela tem uma filha adulta e um filho de 15 anos que mora com ela.
falecido, ele consegue deixá-lo repousar em paz e ver com mais objetividade o relacionamento Eles vivem num pequeno apartamento numa cidade. O visitante já conhece a família de visitas
que houve entre eles, tanto as facetas positivas ou as negativas. Aos poucos o enlutado vai anteriores.
adquirindo a liberdade para, em as circunstâncias o permitindo, entrar em novas ligações V: Visitante; A: Senhora; E: Filho
afetivas ou de transferir sua afetividade para outros objetos. Trata-se, enfim, de uma VI: Mas com o vai seu outro filho e também sua filha, eles estão bem?
readaptação à vida assim com o ela é, sem a existência da pessoa falecida. A l: Sim. Já estão bem. Família é assim, quando a gente vê, tem um com problema aqui, outro
ali. Mas agora está tudo bem. Eles até estiveram aqui, era m eu aniversário (V2: Ah... Meus
O falar em fases do luto não deve ser entendido como a pretensão de querer estabelecer parabéns!) ... A2: É , não predsava, mas sabe como eles são; vieram aqui e me presentearam
um curso "padrão" que o processo de luto precise percorrer. Cada situação de luto é especial e com esses sofás.
única. Há muitos fatores que determinam a forma do luto, desde aspectos culturais, até
características da personalidade e, não por último, o tipo de relacionamento que houve entre a V3: Mas é muito bom receber presentes no dia de nosso aniversário. A vida não é só trabalho
pessoa falecida e o enlutado. Portanto, quando se fala em quatro fases do luto não se pretende e sofrimento. Também tem coisas boas.
dizer que toda pessoa enlutada precise necessariamente passar por esse processo na forma e A3: É claro. M as a gente fica assim sem saber o que dizer, pois eles gastaram muito com uma
na ordem acima descritas. Algumas pessoas podem experimentar que simultaneamente os besteira de aniversário.
sentimentos mencionados. Outras podem num determinado dia ter a sensação de pitarem
superando a fase aguda do luto e, pouco depois, recai num momento de grande triste e V4: Mas foi presente, e presente é presente, não se discute nem se rejeita e depois se eles
angústia. deram é porque podiam presentear a senhora.
(...) Aqui faço um corte na conversa e retomo um ponto mais importante.
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V I: M as eu gostaria de voltar ao que falamos da última vez. Eu falei com a senhora sobre a Anexo n° 5 do tema Morte, Luto e Perdas
morte de seus pais e tudo o que aconteceu depois, durante estes dois últimos anos
principalmente. Mas e tu E. Tu lembras do dia em que teus avós faleceram e do enterro?
E l: É claro que lembro. Lembro do grito que a vó deu quando enterraram o vô e logo ela
caiu. (V2: E com o foi isso, com o tu te sentiu?) ... E2: Ah, foi horrível. Muito triste. Os dois
assim de uma vez. A gente fica pensando: como Deus deixa isso acontecer assim?! (A está
LUTO CRÔNICO
praticamente chorando).

V3: É estou certo de que nem eu mesmo sei se suportaria tanta dor de uma vez assim. Mas,
Quem faz visitação nas famílias da comunidade ou no hospital precisa de algumas
acho que seus avós ficariam felizes em saber que hoje vocês estão bem, com saúde,
informações sobre as reações de pessoas cujo luto não passou. O processo de luto intensivo
trabalhando, estudando, que a fam ília está crescendo... Afinal, eles vivem através de vocês.
dura em tom o de 1-3 anos. Neste tempo a pessoa enlutada passa por vários estágios de luto:
N ão é assim?
1° Choque e anestesia (dura algumas horas até 1 semana, interrompida por ataques de
E3: É claro.
sentimentos de mágoa ou de raiva); 2° Saudade e procura pela pessoa faledda (dura alguns
A l: É (chorando), mas a gente não esquece e a vida não é fádL Tu sabe o quanto eu tenho
m êses ou anos); 3° Desorganização e desespero; 4# Reorganização da vida. Dizemos que
que trabalhar e trabalhar naquela fábrica. A gente não tem tempo para descansar!... Até hoje
alguém sofre de ]ut&.££â&Í£â quando permanece durante muito tempo numa das primeiras
não consigo aceitar que meus pais tenham ido daquele jeito (chorando).
três fases ou não consegue chegar a uma reorganização da sua vida.
V4: N a hora de uma morte e de dor como esta a gente não sabe nem o que dizer. Mas eu
O luto crônico mostra-se, em geral, de três diferentes formas:
penso que já é tempo de deixar o que é do passado no passado e viver a vida hoje. Não é isso
1. Ausência constante de sentimentos de tristeza durante muito tem oo fsemanas. mêsesV A
que seus pais/avós queriam?
fase de choque e anestesia se prolonga de tal forma que a pessoa não consegue sentir a dor. A
E4: A cho que sim. Eu já entendo isso. Quem morreu, morreu. E a gente vive a vida, como tu
falta do sen tim e n to de tristeza pode ser acompanhada por crises intensivas de raiva contra
falaste, continuando da onde eles pararam.
outros e de sentimentos de culpa em relação à morte da pessoa. Permanecendo nesta situação
A2: E u sei. Eu sei... mas até hoje eu sonho com aquele dia e sofro com isso. A vontade que
a pessoa torna-se incapaz de reorganizar a vida e vive numa triste desorganização. Depressão,
tenho é de voltar a morar lá em M.R. (onde moravam com seus pais).
alcoolismo, suicídio ou o desenvolvimento de doenças físicas podem ser o resultado de luto
crônico.
V5: E por que não? Quem sabe um dia vocês voltam para lá? Mas acho ainda que a senhora
deveria aceitar que seus pais partiram, que agora estão em paz e que querem que vocês
jggffiglg i Senhora F., uma viúva (45 anos) cujo marido (55 anos) faleceu de repente,
estejam bem . Pelo que a senhora me contou, não poderia ter sido diferente, sua mãe viveu
permaneceu durante três semanas num choque, não sentia nada, estava tensa, com dor de
para seu pai e, literalmente, desejou ir junto com ele. Mas a senhora ainda tem muito o que
cabeça e sem apetite. Depois tornou-se depressiva e angustiada, sentia ataques de raiva e de
viver. Não é?
choro. Mais tarde assumiu a loja do marido, lutou para sobreviver. Nunca foi capaz de falar
A3: (já bem mais calma) É sim. Eu tento compreender assim. Já tenho aqui meu netinho e
com os filhos sobre a morte. Permanecia tensa e angustiada, com dor de cabeça e problemas
meus filhos vivem bem na cidade. As coisas já estão bem melhores.
digestivos. As relações com os filhos pioraram.
(interrompo por aqui)
2. Necacão consciente ou inconsciente do fato da morte. A pessoa não consegue se convencer
de que a perda da pessoa falecida é irreversível. Ela permanece quase na fase dos sentimentos
de saudade e da procura pela pessoa falecida. O seu refúgio são idéias que a ajudam a negar a
morte, ela desvia o pensamento para outros assuntos e evita falar, lembrar-se da pessoa
faledda; agarra-se em crenças e idéias que permitem manter o vínculo com a pessoa faledda
(espiritismo); desloca a raiva e o luto da pessoa faledda e a vive em relação com outras
pessoas ou acontecimentos (p.ex. briga constante com os médicos por causa de erros que
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Em geral vale a regra: Q UEM SOFRE D E LUTO CRÔNICO PRECISA D E AJUDA


cometeram durante o tratamento do falecido ou depressão com sentimentos de ter fracassado PROFISSIONAL (M ÉD ICO, PSICOTERAPIA) E DO APOIO D A COM UNIDADE.
e ser m lpaHa pela morte do outro), sente-se muito abalada por causa da morte de um animal
etc., porém não sente dor pensando na morte do seu familiar ou companheiro. N o encontro com estas pessoas é importante respeitar a postura delas e, por outro lado
deixar claro a posição cristã em relação à morte. Ela afirma que o ser humano é «mq nniHade
F-rrmnlrv Senhor A. (68 anos) perdeu a sua esposa em poucos dias por causa de uma doença de corpo e alma. N ão é possível separar os dois. Também a morte não é uma separação do
aguda. Alguns dias ficou "anestesiado", organizou o enterro, e depois fechou a casa e não corpo mortal da alma imortal. O ser humano como um todo morre. A morte é uma separação
deixou ninguém entrar. Entrou em depressão, dormia mal e comia pouco. Se culpou por que definitiva e irreversível. N ão haverá reencamação.
levou a esposa para o hospital, onde ela pegou uma infecção; que não foi um bom marido
para ela, que preocupou a esposa demais porque ele mesmo estava doente. Depois de 10 Perante o D eus eterno, a vida da pessoa falecida continua sendo presente. Na sua
meses, teve que ser internado num hospital psiquiátrico. Nas conversas mostrou-se que ele memória, essa vida não é passado, não está esquecida. Por isso podem os dirê»r que para Deus
idealizou muito a esposa e negou toda raiva que sentia porque ela não concordou com os seus todos continuam vivendo. Na vida e na morte de Jesus Cristo, D eu s compartilhou a noss^ vida
planos de aposentadoria, não gostou da casa que construiu, da idéia de viajar, etc. e sofreu a nossa m orte por causa do amor. O seu amor acompanha os vivos e os mortos.
Acreditando na resurreição de Cristo e na ressureição dos mortos, a convicção que o « « r
3. Euforia: algumas pessoas reagem frente à perda de um ente querido com sentimentos solidário de D eus supera a morte toma-se concreta, e é motivo de esperança.
estranhos de alegria ou euforia. Elas negam a tristeza, se convencem de que a morte foi a
melhor solução para o falecido, que ele agora vive melhor, que ele ainda não partiu, mas está
presente. Sem querer, a pessoa vive exatamente o contrário da depressão. Torna-se hiperativa, Christoph Schneider-Harpprecht
com uma grande vontade de falar, faz muitas coisas, tem grandes planos para o futuro. A
euforia serve para encobrir sentimentos de raiva, um grande vazio deixado pela pessoa
falecida ou fortes sentimentos de culpa.

F-xemnlo: Senhora B. (44 anos), mãe de duas filhas adultas, viveu separada do marido. Anexo n° 6 do tema Morte, Luto e Perdas
Quando ficou sabendo que ele morreu por causa de um acidente de trânsito, não mostrou
emoções, tornou-se alegre, depois de alguns dias hiperativa e nervosa, e falava muito, sem CRIANÇAS ENLUTADAS
interrupção. Falava sobre o marido, disse que ele foi uma pessoa muito boa, que o
relacionamento deles foi um dos melhores. Depois de algumas semanas se tornou triste e
preocupada em relação ao futuro. Falando com um psicoterapeuta sentiu raiva e culpa por Houve uma época em que cientistas pensaram que crianças não sofriam de luto quando
que o marido se separou oito m eses antes da morte. Durante anos o casamento tinha sido perdem uma pessoa ou um objeto querido. Acharam que isto seria uma reação apenas de
extremamente infeliz: Senhora B. criticava a todos, o casal se isolou e se atacaram adultos. Se nós nos lembrarmos da nossa infância, provavelmente vamos encontrar farihnmt*
mutuamente. Três anos antes ela passou por uma forte depressão. algumas recordações: a dor intensa que sentimos quando os pais nos deixaram sozinhos,
quando fomos sozinhos para o hospital, quando um anim al que gostávamos morreu ou o avô
Enlutados podem desenvolver idéias errad^ «nhre. a localização da pessoa falecida. D e ou um parente que conhecíamos faleceu. Ainda não entendíamos o que era "morte". Porém,
repente estão localizando o espírito dela numa outra pessoa possuída pela pessoa morta. Ou éramos sensíveis para a experiência da perda e do abandono, sentim os a tristeza dos outros e
sentem que não perderam o marido porque o seu espírito incorporou neles mesmos. Podem isso nos deixou tristes também.
procurar contato com o espírito do falecido através do espiritismo e desenvolver idéias que ele
teria entrado numa árvore, num animal, etc. Dependendo da situação e da pessoa, sentem-se Pesquisas feitas com crianças na idade de 1-2 anos, que foram sozinhas para o hn^piral,
felizes com isto ou sentem muito medo e procuram práticas religiosas para livrar-se do comprovaram que, quando a mãe foi embora, elas mostraram reações parecidas com o
espírito. Na cultura latino-americana, estas formas de viver o luto são muito fortes. Não é comportamento de adultos enlutados. Ficaram com saudades, começaram a procurar a mãe,
possível dizer que elas seriam simplesmente "doentias". Isso depende do caso, da situação choraram para chamá-la de volta. Depois de algum tempo ficaram com raiva, gritaram,
concreta da pessoa. sacudiram a cama, bateram em coisas e pessoas. Quando a m ãe não voltou, entraram em
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desespero, tornaram-se apáticas, não mostraram mais em oções, comeram pouco. Quando não vai sentir frio?" "Ele pode sair e vir como espírito para casa durante a noite.” As nossas
ninguém se preocupou suficientemente com essas crianças e substituiu a mãe, ficaram doentes explicações terão o sentido de acalmar a criança, mostrando o que realmente acontece com o
ou entraram numa espécie de debilidade. Saudade, a procura da pessoa perdida, raiva e corpo debaixo da terra.
depressão: essas são as reações de luto de crianças pequenas. O s adultos as repetem, de certa
forma, no seu luto. Assim como os adultos, também a criança precisa despedir-se do falecido para depois
poder viver de novo livremente. É melhor ajudá-la a viver o seu luto e chorar a sua dor do que
João tinha 5 anos quando seu pai faleceu. Ele entrou na sala onde o corpo do falecido encher a criança de calmantes e poupá-la da experiência de que a morte faz parte da vida.
estava sendo velado. A mãe sentou-se, chorando, ao lado do pai. O menino começou a bater Porém, não adianta forçar este processo. Os adultos se apegam durante um determinado
contra o caixão e chamar: Pai pai, pai! A mãe abraçou-o e disse: O teu pai não pode mais te tempo às coisas que pertenceram à pessoa falecida: guardam roupas, fotos, objetos de
ouvir. Ele não pode mais levantar e brincar. Ele está morto." lembrança de grande valor. Para as crianças também é importante ter tais objetos e guardá-
los. Eles representam uma parte da pessoa falecida e estabelecem um laço emocional com ela.
Crianças não entendem, sem explicação, o que significa "estar morto". Normalmente fazem
as primeiras experiências com a morte quando encontram o corpo de um animal morto, A criança vive o seu luto igual e diferente dos adultos. Durante o tempo do velório ela
quando um pássaro ou um gato morre em casa, ou quando se abate um porco ou um boi. Se pode ter muitas perguntas. Se os pais não se sentem em condições de responder porque estão
os pais conversam com a criança sobre estes acontecimentos, vão ajudá-la a entender o que sobrecarregados com seu próprio luto, é melhor que um tio, uma tia ou um amigo, de quem as
acontece com o corpo morto, que ele vai tranformar-se de novo em terra, que este animal crianças gostam, as cuide e acompanhe. O luto dos próprios pais pode preocupar as crianças.
morreu porque estava doente, velho e fraco e deixou o espaço para uma nova geração de Seria bom se pudessem sentir que, em meio a tanU < i-icza, continuam sendo amadas pelos
animais. pais e parentes. Se as crianças querem consolar os pais e ajudar em alguma coisa, é bom
deixá-las fazer isto, porque assim mantêm o contato e se sentem úteis.
A criança pode compreender a morte como uma parte da vida, como algo que Deus usa
Se um irmão, uma irmã, um ou ambos os pais falecem, surgem facilmente, além da dor,
para renovar a vida de plantas, criaturas e também para as pessoas. Mesmo assim, a
sentimentos de culpa e profundas preocupações com o futuro. A criança pode se culpar pela
experiência de um falecimento na família é um impacto muito grande que atrapalha as
morte do irmão. Pode ser que viveu uma forte concorrência com ele e os dois brigaram
crianças. Especialmente quando a mãe, o pai ou um dos irmãos morre, sofrem muito e
bastante. Ou ela sentiu ciúmes porque durante muito tempo toda atenção dos pais girou em
necessitam de uma boa preparação e de apoio emocional durante um bom tempo.
torno do irmão doente. A conversa com a criança deve tocar neste ponto e tentar tirar as
idéias de ser culpada.
Quando acontece o falecimento de uma pessoa, as crianças precisam ser informadas.
Alguém tem que dizer para elas o que aconteceu e que o falecimento deixa todo mundo triste.
A morte da mãe deixa marcas para a vida inteira nos filhos, de tal forma que podem
Prejudica as crianças se ninguém diz a verdade. Há pessoas que preferem fugir do assunto
permanecer deprimidos e mais tarde procuram o amor materno no marido ou na esposa, que
dizendo para o filho: "O teu pai fez uma longa viagem." A criança vai começar a esperar o pai
não conseguirão satisfazer este desejo.
voltar. Não sabendo da verdade vai se preocupar, desenvolver fantasias sobre o que aconteceu
com a pessoa faledda. Quando fica sabendo da verdade vai se sentir enganada e perder muito
O falecimento de um pai que garantiu o sustento econômico da família, desperta
de sua confiança. A s informações que se dá para a criança devem ser verdadeiras, realistas e
preocupações sobre o futuro. A mãe vai trabalhar e não tem mais tanto tempo. Outros vão
simples. Também não é suficiente dizer O teu avô está agora no céu, ou ele está com Deus.
cuidar da criança ou ela fica na escola/creche. Há casos em que ela vai morar na casa de uma
Deve-se explicar porque ele faleceu (um addente ou uma doença que provocou muita dor e outra família. Facilmente a morte do pai ou da mãe pode transformar-se em abandono para a
tomou o corpo tão fraco que ele não pôde continuar vivendo). criança. Ela não pode ser jogada de uma casa para outra, mas necessitará de um lar estável e
de «ma vida organizada. As decisões a respeito da sua pessoa (mudança, convivência com um
É necessário dizer claramente para a criança que no futuro não vai encontrar mais a padrasto/madrasta) têm que ser trabalhadas com a criança.
pessoa faledda, que o seu corpo vai ser enterrado no cemitério, mas que ele continua vivo nas
nossas lembranças e foi acolhido por Deus na eternidade. O enterro pode despertar fantasias Christoph Schneider-Harpprecht
e sentimentos de culpa: "Porque deixamos o irmão sozinho num caixão debaixo da terra?" "Ele
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Nosso maior desafio é não deixar nossos irmãos que sofrem e choram a perda de um ente
Anexo n° 7 do texto Morte, Luto e Perdas querido, caminharem sozinhos. E um privilégio carregar o fardo uns dos outros, aliviando
nossa dor e testemunhando o libertador Evangelho de Jesus Cristo.

UM A EXPERIÊNCIA EM PASTORAL URBANA O grupo tem um hino que se tom ou lema para nós, baseado em ICo 2.9: "Nem olhos
viram, nem ouvidos viram, nem jamais penetrou em coração humano o que D eus tem
preparado para aqueles que o amam." Este hino nos mostra que todo o sofrimento pode ser
O Grupo de Apoio a Enlutados da Comunidade Evangélica de Novo Hamburgo, Paróquia transformado em bênção e que nosso Pai tem um propósito de amor para com nossa vida e na
da Ascensão, surgiu a partir da necessidade de irmãos se unirem em torno de um mesmo eternidade.
sentimento: a dor e a saudade pela perda de uma pessoa muito querida. Sentimos a Também buscamos forças para enfrentar nosso dia-a-dia, conforme o Salmo 37 5- "Entrega
necessidede de expressar e trabalhar o luto junto com irmãos que já passaram pela experiêcia o teu caminho ao Senhor, confia nEle e o mais H e fará." Realmente, até Lqui fomos
da perda. ricamente abençoados por Deus.

Apoiamo-nos mutuamente no sofrimento, na solidão e na dor. Compartilhamos, choramos Pelo Grupo de Apoio aos Enlutados
e oramos juntos. Buscamos o conforto e o consolo de Deus na solidariedade do grupo.
Lilian Lauck Decker
Som os u m a f a m í l ia que todas as quartas-feiras se reúne das 14h às 15h30min na Secretaria
da Comunidade para compartilharmos as dores, os anseios, as dúvidas, a esperança na
ressurreição do corpo e na vida eterna que há em Cristo Jesus. Oramos, intercedemos,
dialogamos, desabafamos, cantamos e meditamos, aliviando assim a nossa dor. É um lugar Anexo Nc 8 do texto Morte, Luto e Perdas
onde sempre há alguém com tempo e ouvidos abertos para escutar os que sofrem.

Por ocasião do falecimento de um membro da comunidade, o grupo envia um cartão com Extraído de:
uma mensagem de fé e esperança aos familiares, e convida os enlutados a participarem do CLINEBELL, Howard. Aconselhamento Pastoral. São Leopoldo, Sinodal, 1987, p. 220-221.
grupo. O grupo faz visitas aos familiares enlutados e a necrotérios, quando do falecimento de
um membro da comunidade, ou de outras comunidades, caso seja solicitada a visita. O pastor de uma igreja no centro de Minneapolis descobriu que o ministério, junto aos que
Realizamos cultos nos cemitérios na Páscoa e dia de Fmados. Incentivamos nossos enlutados a haviam sofrido uma perda, estava exigindo mais do seu tempo que qualquer outra coisa. A o se
encontrarem um novo objetivo de vida, pois na perda de um ente querido, para os familiares a dar conta do grande número de viúvas e viúvos em sua congregação, ele percebeu que tinha à
vida parece muitas vezes não ter mais sentido. disposição ricos recursos poimênicos:

Com o cristãos n5n podemos deixar nossos enlutados caminharem sozinhos. Nem podemos Ele convidou essas pessoas enviuvadas a encontrar-se com ele para planejar um ministério
esperar que nossos pastores façam todo o trabalho dentro das comunidades. É tarefa, é leigo para os enlutados... Todos os anos há um período de treinamento de seis semanas para
m i« * o de cada um de nós apoiar estas pessoas, caminhar lado a lado com enlutados, animá- novas pessoas recrutadas para este ministério. Quando morre alguém, o pastor seledona
los no Evangelho de Jesus Cristo. Para o enlutado é importante saber que ele não está sozinho um ministro do pesar dentre este grupo e o apresenta à pessoa que sofreu perda pessoaL Esse
na sua dor, mas que a sua comunidade o compreende e caminha lado a lado com ele. ministro do pesar se compromete a exercer este ministério para com a pessoa ou família
enlutada durante um ano, fazendo contatos regulares que complementam o ministério donast
A comunidade de Jesus Cristo a serviço da vida tem como tarefa ir ao encontro dos fracos, or. (1) F
dos oprimidos, dos doentes, dos idosos, dos enlutados e das pessoas sozinhas. Somos todos
sacerdotes na seara do Senhor. Cabe a cada um de nós animar nossos irmãos a chorar com os Esse ministério leigo tem tido continuidade ao longo de 15 anos, ajudando aquela
que choram e a alegrar-se com os que se alegram. congregação a se tornar uma comunidade geradora de cura para muitas pessoas que sofreram
perda pessoal.
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A terceira parte da estratégia de ajuda para os enlutados está em o pastor constituir e entender que eles já Hnham feito a parte mais defícil do dia, qual seja, a de simpli»<m>»nt<». vir
liderar (ou co-liderar) periodicamente um grupo de cura do pesar. U m grupo desses é uma para aquele encontro. (...) Finalmente anunciei as regras fundamentais, explicando que cada
maneira eficiente de aprofundar o ministério do pesar de uma congregação e um meio de qual estava livre para reagir na medida em que para tal fosse motivado. Ali não seria
começar o treinamento de uma equipe leiga para casos de crise e de luto. A participação num necessário fazer o papel da viúva heróica, ou de quem constantemente tem seus sentimentos s
grupo desses pode ajudar a própria pessoa a concluir seu próprio trabalho do pesar bem como ob controle. Ali o choro e mesmo o riso seriam perfeitamente cabíveis, se é que estivessem
a aprender o auxílio a outras pessoas em situação semelhante. Não consigo im aginar nada que retratando seus sentimentos. (3)
um pastor ou uma congregação possa fazer, que tenha maior impacto terapêutico do que
providenciar oportunidades regulares para que pessoas enlutadas participem de semelhante Após essa introdução, o pastor dirigiu breve culto na capela da igreja, incluindo o canto de
grupo. hinos, leitura bíblica apropriada e uma rápida meditação sobre as promessas de Deus. Em
seguida, o grupo voltou ao salão da igreja para estudo bíblico de 1Co15. Então cada um foi
A capacidade de seres humanos de transformar miseráveis pontos negativos em pontos ao convidado a escrever uma carta para um amigo, que começasse assim: "Na semana passada
menos parcialmente positivos - utilizando crises e perdas como desafios para o crescimento - é estudamos na igreja o que Paulo escreveu, e tive a seguinte nova intuição: ..." Algumas das
uma das grandes coisas da existência humana. Mas para se usar a perda pessoal desta cartas foram compartilhadas no grupo. Kemper apresentou então os estágios do pesar. Entre
maneira, são necessárias duas coisas: achar-se dentro de um relacionamento de assistência cada estágio ele fez um intervalo para verificação da realidade, perguntando se algo parecido
recíproca e encontrar sentido espiritual na perda. Grupos de cura do pesar constituem fora parte da experiência dos participantes. Isto permitiu que no grupo se desenvolvesse
situações em muitas vezes ocorrem estas experiências de transformação. diálogo, lágrimas fossem compartilhadas e apoio dado mutuamente.

É relativamente fácil criar e liderar grupos de pesar (2). Numa congregação, um grupo O lanche conjunto foi ocasião de rica troca informal de experiências ao redor das mesas.
pode ser reunido simplesmente pelo convite do pastor, dirigido a todos aqueles que sofreram Tirados os pratos novamente, Kemper convidou o grupo a descrever recursos que achavam
perdas nos últimos dois ou três anos. Convites pessois por telefone e um convite aberto no úteis ou desapontadores: livros, pessoas, atividades.
informativo ou boletim da igreja para atingir outras pessoas geralmente é o suficiente para
reunir um grupo. Pessoas com toda uma variedade de tipos de perdas podem ser incluídas
num mesmo grupo, embora seja indicado ter ao menos duas pessoas com perdas semelhantes 1 - HULM E, William E. Pastoral Care and Counseling, p. 160. O pastor foi John Oman.
(por exemplo divórcio, morte, aposentadoria) dentro de um grupo, para que uma dê à outra 2 - Veja CLINEBELL, Howard. How to Set Up and Lead a Grief Group. The Christian
aquela empatia especial oriunda de quem conhece por dentro a perda sofrida pela outra. Ministry, nov. 1975.
3 - Colleague, um jornal ocasionalmente publicado por Kemper, mar. 1978, p-5.
Diversas modalidades de encontro grupai têm sido praticadas com bons resultados nas
igrejas. O modelo mais comum é uma série de encontros semanais de tuna hora e meia ou
duas horas, ao longo de 4 a 8 semanas. Ao final do período previamente combinado esses
grupos muitas vezes renovam seu contrato para estendê-lo por mais tempo a fim de tratar
Anexo n° 9 do texto Morte, Luto e Perdas
assuntos não concluídos.

Outra modalidade está no encontro mais prolongado durante um dia único ou num retiro
de fim de semana. Bob kemper, pastor de uma igreja nas proximidades de Chicago, relata que UMA CARTA DE CONSOLAÇÃO D E LUTERO
uma sessão de três horas em que se compartilhou o pesar em sua igreja, foi de uma eficiência
notável. 26 pessoas atenderam àquela reunião. Martim Lutero escreveu muitas cartas para pessoas enlutadas. Essas cartas mostram como
ele acolhe estas pessoas com sensibilidade e quer lhes transmitir a consolação do evangelho.
O nome do grupo foi "Sozinhos-juntos"; falei da solidão que sentimos ao enfrentar uma Certamente hoje em dia não podemos simplesmente repetir o que Lutero fez, porém
perda, e do poder da comunhão no sentido de ajudar-nos a enfrentar perdas. Falei então das podemos aprender muito dele.
ansiedades que todos nós temos ao fazer face a uma nova experiência, sugerindo que a maior
parte de nós não desejava estar ali. (...) D ei a Carta a W olf Heinze, em Halle.
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Agora mesmo o doutor Jonas me aponta, na carta que lhe foi escrita de Halle, (o trecho
com a notícia de) que a sua querida Eva foi para junto de Deus, seu Pai. Bem posso sentir
como uma despedida assim toca seu coração e verdadeiramente lamento entranhadamente
por sua aflição. Pois você sabe com que seriedade e lealdade o quero bem. Também sabe que
Deus o ama. Você ama seu Filho Jesus, por isso justamente sua dor m e comove tanto. E agora
como vamos fazer? Essa vida está de tal modo na miséria que devemos aprender quão
pequena é toda miséria em comparação com a miséria eterna, da qual o Filho de Deus nos
salvou, no qual temos o melhor tesouro, que permanece conosco eternamente, quando tudo
que é temporal, inclusive nós próprios, há de perecer. Nosso querido Senhor Cristo, a quem
você ama e cuja palavra honra, ele irá consolá-lo e saberá transformar essa provação
(Anfechtung) da melhor forma possível para seu bem e, antes de tudo, para Sua própria
honra. Sua querida esposa está melhor lá, onde agora está, do que quando estava com você e a
nós todos daqui para frente, mesmo que isso não possa nem deva ocorrer sem estarmos de
luto.

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