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A LUTA DOS MOVIMENTOS NEGROS NO

BRASIL E A LEGISLAÇÃO ANTIRRACISTA


A FRENTE NEGRA BRASILEIRA (FNB) 1931-1937: A
AFIRMAÇÃO DO NEGRO COMO “BRASILEIRO”
Educar e
Nacionalismo
integrar
socialmente o
negro

Preconceito
racial: Sem
excluídos no valorização da
próprio país diversidade
étnica

Incorporação dos valores e


comportamentos europeus
como estratégia na redução
dos preconceitos contra o
negro brasileiro
TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO (TEN)
1944-1961

"Acho, isto é, tenho a certeza de que é pura e simples questão


de desprezo. Raras companhias gostam de ter negro em cena; e
quando uma peça exige o elemento de cor, adota-se a seguinte
solução: brocha-se
um branco. Branco pintado –
eis o negro do teatro nacional”

"É preciso uma ingenuidade perfeitamente


obtusa ou uma má fé cínica para se negar a
existência do preconceito racial nos palcos
brasileiros. Os artistas de cor, ou fazem O Imperador Jones,
1945, Teatro
moleques gaiatos, ou carregam bandeja ou, Municipal do RJ
por último, ficam de fora”
Nelson Rodrigues, 1948.
REPRESENTATIVIDADE, ESTÉTICA E CRÍTICA:
O CONCURSO DO CRISTO NEGRO - 1955
Na contemplação da beleza negra, nesta exaltação explícita e
a negrura não é anti-
subjacente dos valores negros,
branca, não é agressiva e nem separatista. Ao
contrário, pacífica e integrativa, ela oferece o que de mais universal,
de mais ecumênico, e, pois, de mais excelso e católico existe na sua
substância negra como é exemplo, feliz e atual, o concurso do “Cristo
de Côr”, idealizado pelo sociólogo Guerreiro Ramos e promovido
conjuntamente pelo T. E. N. e pela revista “Forma”.
Abdias do Nascimento, 1955
Racismo
“às avessas”?
BRASIL CRIOU 1ª LEI ANTIRRACISMO APÓS HOTEL EM SP NEGAR
HOSPEDAGEM A DANÇARINA NEGRA AMERICANA KATHERINE
DUNHAM
“A tese da superioridade física e intelectual de
uma raça sobre outras, cara a certos escritores
do século passado, como Gobineau, encontra-se
hoje definitivamente afastada graças às novas
investigações e conclusões da antropologia, da
sociologia e da história. Atualmente
ninguém sustenta a sério que a
pretendida inferioridade dos
negros seja devida a outras
“Se é certo que um hotel da capital de São Paulo recusou acolher comorazões que não ao seu status
hóspede a artista norte-americana Katherine Dunham por ser pessoa de cor,
social. Urge que o Poder Legislativo adote as
o fato não deve ficar sem uma palavra de protesto nacional nesta Casa.
Entre nossas responsabilidades, está a de vigilância democrática. Este é um medidas convenientes para que as conclusões
nossos
momento em que o silêncio cômodo seria uma traição aos
científicas tenham adequada aplicação”.
AFONSO ARINOS (UDN-MG)
deveres de representantes de uma nação que
faz do ideal (se não sempre da prática) da
democracia social, inclusive a étnica, um dos
seus motivos de vida, uma das suas
condições de desenvolvimento”. GILBERTO
FREYRE (UDN-PE)
Contravenção
é mais branda
do que crime
COMBATE AO RACISMO, LEI PRA INGLÊS VER,
PRECONCEITO DE TER PERCONCEITO E/OU A
RESTITUIÇÃO DO CREDO RACIAL?
De 1951 até
1988 foram 26
acusações e 6
condenações

Exceção
ou regra?

“O que caracteriza a contravenção é a causa de recusa, isto é, a sua fundamentação


em motivos de raça ou de cor. Na prática, entretanto, essa causa poderá assumir
formas disfarçadas. O projeto, por exemplo, considera contravenção obstar a alguém
o acesso a qualquer ramo das Forças Armadas por motivo de raça ou de cor. O
candidato, porém, poderá ser recusado em inspeção de saúde não por esse motivo,
mas por possuir dentes em más condições. Num hotel, poderá a gerência alegar que
não dispõe de acomodações”. (ALBERTO PASQUALINI PTB-RS)
MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO (MNU) -
1978
O Movimento Negro contemporâneo, que surge nos anos 70, vai
Seu objetivo é
estruturar-se sobre premissas diferentes.
subverter, de alto a baixo, a ideologia do
branqueamento, desmascarando o mito da
democracia racial e seu uso em proveito da
classe dominante. Comparado à Frente Negra e aos
movimentos anti-racistas dos anos 50, o Movimento Negro realiza um
verdadeiro corte epistemológico, assumindo a história dos ancestrais,
valorizando suas lutas e as reividicações. A procura de uma simples
assimilação é substituída pela afirmação de uma identidade
específica. O Movimento Negro aponta a imagem negativa do negro e
a da África nos livros escolares. Denuncia a discriminação racial, o
desemprego, o subemprego e a exploração sexual, econômica e social
da mulher negra. A partir das lutas de liberação dos países africanos,
principalmente os de expressão portuguesa, e da experiência dos afro-
americanos, tenta definir as normas para uma negritude afro-
brasileira. Nos cultos tradicionais de origem africana, procura uma
visão de mundo
autenticidade capaz de exaltar uma
enraizada nas profundezas da ancestralidade. E,
por último, por meio de críticas, mostra o caráter sistemático e não
casual das desigualdades raciais existentes na sociedade capitalista
brasileira. (D’ADESKY, J. Pluralismo étnico e multi-culturalismo:
racismo e anti-racismo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2005, p. 153)
A BANCADA NEGRA E A CONSTITUINTE DE
1988 125/513 no
universo de
54,9% de
pretos e
pardos –
Lei IBGE (2016)
7.716/89
– Lei Caó

11/487 no
universo de
40% de não- “Queremos proclamar a nossa abolição.
brancos no Não é ódio, nem rancor, apenas um grito Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
Brasil – IBGE de liberdade!“ estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
(Déc. 80) vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
Benedita da Silva, 1987. XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
Será que o movimento
focou no direito penal?
RECONHECIMENTO DAS TERRAS QUILOMBOLAS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988:
FUNÇÃO SOCIAL E PROPRIEDADE QUILOMBOLA
(IMPOSSIBILIDADE DE ESCRAVOS PODEREM SER PROPRIETÁRIOS DE TERRAS E
EXERCER SUAS PRÁTICAS CULTURAIS)
ART. 68. AOS REMANESCENTES DAS COMUNIDADES DOS QUILOMBOS QUE ESTEJAM OCUPANDO SUAS TERRAS É RECONHECIDA A
PROPRIEDADE DEFINITIVA, DEVENDO O ESTADO EMITIR-LHES OS TÍTULOS RESPECTIVOS.

No que diz com o princípio da igualdade, é mandamento constitucional que


todos temos direito a iguais oportunidades de vida e, caso constatada a
desigualdade material de certos grupos, o direito tem a tarefa de equilibrar a
sociedade. Na percepção de Jorge Miranda:

Está em causa, antes de mais, o reconhecimento aos cidadãos pertencentes a uma minoria
dos mesmos direitos e das mesmas condições de exercício dos direitos dos demais
cidadãos. Mas não basta evitar ou superar a discriminação. É necessário assegurar o
respeito da identidade do grupo e propiciar-lhe meios de preservação e de livre
desenvolvimento. Donde a atribuição de direitos particulares – de direitos fundamentais
próprios desses grupos, de carácter individual ou institucional – e a prescrição ao Estado
de correspondentes incumbências (grifos nossos) (MIRANDA, 2002, p. 195).
Dispositivos da Constituição de 1988 de repúdio à igualdade “formal/processual” e
sua opção pela concepção de igualdade dita “material” ou “de resultados”.
“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
a Constituição
Brasileira de 1988 não I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
se limita a proibir a
discriminação, (...)
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
afirmando a
igualdade, mas
permite, também, a
utilização de medidas regionais”.
que efetivamente “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
implementem a
igualdade material iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
O inciso IV, do mesmo “Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
art. 3º: promover o que visem à melhoria de sua condição social:
bem de todos, sem
preconceitos de (...)
origem, raça, sexo, XX – Proteçãodo mercado de trabalho da mulher, mediante
cor, idade e quaisquer
outras formas de incentivos específicos, nos termos da lei;”
discriminação. Ou “Art. 37 (...)
seja, se universaliza a
igualdade ao promover a VIII – A lei
reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as
igualação de modo ativo.
pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão”.
LEI 10.639/2003 DETERMINA O ENSINO DA
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E
AFRICANA
IGUALDADE FORMAL OU PROCEDIMENTAL
(A teoria constitucional clássica, herdeira do pensamento de Locke, Rousseau e Montesquieu)
X
IGUALDADE DE RESULTADO OU MATERIAL
(preocupação com os fatores “externos” à luta competitiva)

Ações afirmativas são políticas que visam afirmar o


direito de acesso a tais recursos a membros de grupos
sub-representados, uma vez que se tenham boas
razões e evidências para supor que o acesso seja
controlado por mecanismos ilegítimos de
discriminação (racial, étnico, sexual). (...) Ou seja,
políticas afirmativas visam corrigir, e não eliminar,
mecanismos de seleção por mérito, e garantir o
respeito à liberdade e à vontade individuais.
(GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e antirracismo no Brasil.
Editora 34, 2009 – 3º Edição -, p. 174-175)
25
deputados
negros
eleitos, em
2006. 5%.
(GUIMARÃE
S, A. S. A.
Racismo e
antirracismo
no Brasil.
Editora 34,
2009 – 3º
Edição -, p.
192-193)

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