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Regional-Global

Do Autor:

O Mito da Desterritorialização:
Do "Fim dos Territórios" à Multiterritorialidade

Regional-Global:
Dilemas da Região e da Regionalização na
Geografia Contemporânea
Rogério Haesbaert

Regional-Global
Dilemas da Região e da Regionalização na
Geografia Contemporânea

BERTRAND BRASIL
Em memória de minha mãe
cuja despedida se deu durante as últimas páginas deste livro

com a saudade infinita


e a ter:na lembrança
\.v�t/:.-;"� '
de sua atêgria pela vida
. e de um amor
que não conheceu.fronteiras
Sumário

Introdução 9

1. Região e regionalização: a trajetória de um debate 15


1.1. Região: conceito polissêmico 20
1.2. Região: dos primórdios ao período hegemónico 25
1.3. Morte e vida da região 37
Morte e vida da região numa perspectiva neopositivista 42
Morte e vida da região numa perspectiva marxista 49
Morte e vida da região sob o "globalismo pós-moderno" 58
a) o pós-estruturalismo e a ênfase contextual/"local" 62
b) perspectivas "neomode�às" 73
1.4. Entre realidade empírica e construção intelectual:
a região como fato e como-artifício 91
a. Abordagens "realistas": a região/regionalização como
fato ou evidência empírica 96
b. Abordagens analítico-racionalistas e/ou "construtivistas":
a região/regionalização como artifício ou construto
intelectual 100
c. Abordagens normativas: a região como instrumento de
ação 103
2. Por uma outra regionalização: a região confg,ii}Íéfato 109
2.1. Nem apenas "fato", nem sim.ples "artifício":
a região como arte-fato 111
2.2. Das características elementares da regionalização ao
esboço de uma nova proposta para a análise regional 122
3. Região numa "constelação" de conceitos: espaço, território e
região 157
3.1. O espaço e o território 164
3.2. O território e a região 169

Considerações finais 181

Bibliografia 197
O título Regional-Global que propusemos para este livro sig­
nifica, de saída, assumir a natureza do regional, hoje, ao mesmo
tempo como condicionado e condicionante em relação aos chama­
dos processos globalizadores - ou melhor, como seu constituinte
indissociável - a ponto de, muitas vezes, regionalização e globali­
zação se tornarem dinâmicas tão imbricadas e complementares
que passam a ser, na prática, indiscerníveis. Mas a globalização,
como bem sabemos, está longe de ser um consenso, em primeiro
lugar por não representar um processo uniforme e, neste sentido,
não ser propriamente "global". Muitos pesquisadores preferem
mesmo utilizar o termo sempre no plural, "globalizações", distin­
guindo aí suas múltiplas dimensões, a enorme desigualdade com
que é produzida/difundida e seus diferentes sujeitos - tanto no
sentido daqueles que prioritariamente a promovem e a desenca­
deiam quanto daqueles que a ela, basicamente, encontram-se
subordinados.
Podemos, é claro, falar de um processo globalizador - e, con­
comitantemente, regionalizador - hegemônico, aquele envolvido
pelos grandes "sujeitos" que pretendem dar as cartas e definir os
rumos do capital financeiro, da especulação em diferentes níveis e
da mercantilização generalizada. Em nome de uma lógica
individualista-contábil mundial, este movimento propõe de algu­
ma maneira integrar as mais distintas áreas do planeta, "regiona­
lizando" sobretudo na forma que melhor convém às suas estraté­
gias geográficas de circulação, acumulação e dominação. Mas há
sempre, é claro, articulado de forma contraditória e/ou ambivalen­
te, um processo que podemos denominar contra-hegemônico - ou,
mais simplesmente, de destruição das hegemonias (no sentido da
hierarquia que elas implicam), tanto de forma mais localizada
quanto mais global, como nos movimentos contraglobalizadores
(que são também, concomitantemente, contrarregionalizadores),
ou melhor, por uma outra globalização-regionalização, capitanea­
da fundamentalmente pelos grupos ou classes subalternos.
Numa perspectiva mais pessoal, a temática regional sempre
esteve presente, de uma maneira ou de outra, na minha trajetória
acadêmica, e ela própria denuncia um pouco o ir e vir da região na

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