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Cantiga de

Esponsais
Autor: Machado de Assis
Romão Pires nasceu no Valongo, ou por esses lados; tem cabeça
branca e sessenta anos, bom músico e bom homem, conhecido
como mestre Romão. Regia a orquestra de uma missa cantada em
1813, na igreja do Carmo. Quando a festa acabou, mestre Romão
desceu as escadas com sua bengala e foi cumprimentar os padres
e aceitou participar do jantar. Acabando, foi de volta pra casa, onde
reside com pai José, um preto velho, sua verdadeira mãe. Mestre
Romão tinha ar de melancolia quando não estava regendo, isso
porque ele tinha a vocação íntima da música; trazia dentro de si
muitas óperas e missas, um mundo de harmonias novas e originais,
que não conseguia exprimir e pôr no papel.
Em 1779, três dias depois de casado, ele começou a compor
um canto esponsalício. A mulher que até então tinha vinte e um
anos, morreu com vinte e três, não era bonita nem feia, mas
extremamente simpática, e se amavam muito. Três dias depois
de casado sentiu uma coisa parecida com inspiração, conseguiu
até escrever algumas notas, mas depois nada saía. Tentou uma,
duas, vinte vezes enquanto era casado. Quando a mulher
morreu, ele releu as notas, sensação de tristeza e felicidade
extinta.
Disse para pai José que se sentia doente e um médico lhe deu
um remédio. Parecia que não tinha tido efeito. Cinco dias depois
da festa, o médico o achou realmente mal, e disse:
— Isto não é nada; é preciso não pensar em músicas...
Era isso, músicas!
Resolveu tentar terminar aquele canto esponsalício.
Mestre Romão ordenou que lhe levassem o cravo
para a sala do fundo, que dava para o quintal: era-lhe
preciso ar. Pela janela viu na janela dos fundos de
outra casa dois recém casados, debruçados, com os
braços por cima dos ombros, e duas mãos presas.
Mestre Romão sorriu com tristeza. Sentou-se ao
cravo, mas nada, não passava adiante. Tentou
inspiração com as lembranças da mulher, nada.
Tentou com o casal da janela, mas não lhe surgia a
inspiração.
Desistiu, pegou o papel e rasgou-o.
Nesse momento, a moça embebida
no olhar do marido, começou a
cantarolar à toa e inconscientemente
formulou uma linda frase musical,
justamente a que mestre Romão
procurara durante anos sem nunca
achar. O mestre ouviu-a com tristeza,
abanou a cabeça, e a noite morreu.
Obrigada pela
atenção!
Trabalho feito por:
Lívia Júlia da Silva Pessôa
Vitória Luiza Brasil Barbosa

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Fonte imagem:
http://www.poeteiro.com/2017/11/cantiga-de-esponsais-conto-de-machado.html

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