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1, 2013
RESUMO
Na maioria das grandes cidades da América Latina e Ásia, milhares de pessoas, no Brasil chamados de
catadores(as), trabalham na coleta seletiva informal ou organizada em cooperativas ou associações, às vezes
com apoio do governo municipal. Os resíduos sólidos recicláveis são coletados, separados, prensados e
redirecionados para a indústria da reciclagem. Algumas cooperativas já adicionam valor aos seus produtos,
como acontece na região do ABC, onde catadores(as) transformam a garrafa PET em varal e comercializam o
produto. As cidades em que o governo local apoia e remunera o trabalho da coleta seletiva - como por exemplo
em Londrina e Diadema, no Brasil – podem atingir importantes ganhos sociais e ambientais através do serviço
prestado pelos catadores(as). Esse trabalho gera benefícios ambientais porque recupera matérias-primas que
causariam poluição em lixões e aterros ou através da incineração. Quando resíduos sólidos são recuperados para
o reúso ou a reciclagem, automaticamente se reduz tanto a necessidade de extração de novas matérias primas,
quanto se diminui a geração de gases eliminados na decomposição (como o metano, por exemplo) ou na
incineração (por exemplo: dioxinas, furanos ou hidrocarbonetos), que são responsáveis pela poluição e podem
causar mudança climática. As atividades relacionadas à reciclagem geram trabalho e renda para inúmeras
pessoas e, portanto, contribui para a redução da pobreza e de todas as suas conseqüências sociais e econômicas
para a comunidade local e de forma geral. A principal preocupação dos catadores hoje, no entanto, é a expansão
da incineração que destrói matéria-prima e valiosos postos de trabalho, além de contaminar o meio ambiente. O
presente artigo introduz questões relevantes acerca da gestão de resíduos sólidos com a inclusão social de
catadores e catadoras.
Palavras-chave: gestão de resíduos sólidos, coleta seletiva, cooperativa, incineração, catadores.
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inadequado que gera impactos ambientais. como recursos com valores. Os catadores
‘Governança participativa’, ‘co-gestão’, acessam os materiais recicláveis dos
‘co-manejo’ ou seja: resíduos sólidos como um recurso de
“Co-governança em seu aspecto ‘propriedade comum’, uma vez que foi
variado pode ser uma resposta, uma descartado como lixo pelo seu proprietário,
expressão ou uma reação a esta do que [a o gerador dos resíduos sólidos. Os
autora vê]. (…) como um desenvolvimento conflitos pelo acesso a esses materiais
societário importante, uma tendência rumo estão cada vez mais eminentes, dado o
à crescente interdependência e valor significante das matérias primas
interpenetração societárias. (...) co- contidas nos resíduos (Sabetai, 1999).
governança significa a utilização de Hoje estão surgindo outros indivíduos e
formas organizadas de interações para fins grupos interessados nesses materiais, como
dos atos de governar” (Kooiman, 2003, empresários do ramo da gestão de resíduos
p.97). sólidos (como por exemplo, operadores de
Colaboração e cooperação são coleta de lixo, operadores de aterros,
princípios básicos da gestão de recursos indústria de tecnologia como
compartilhados de forma paritária. Como incineradores, biodigestores, etc.) e
antes fora destacado, estão surgindo redes gestores públicos das áreas de saneamento,
colaborativas, principalmente no contexto obras e coleta de lixo. Os novos
de economia solidária, que exercem interessados nos resíduos criam sérios
significativo papel para o avanço de novas desafios para os catadores, que
formas de gestão. historicamente têm sido o principal grupo
As principais experiências com que trabalha recuperando esses materiais
manejo participativo derivam da descartados.
participação social na gestão de recursos A seguir serão discutidas algumas
naturais, como ocorre com recursos das preocupações sociais e econômicas da
pesqueiros ou florestais, já amplamente coleta seletiva realizada pelos catadores e
estudados (Andrade, 2007; Berkes, 2009; catadoras, resultado das pesquisas e
entre outros). No presente trabalho, que atividades de extensão universitária nas
reflete as pesquisas desenvolvidas pela quais a autora esteve participando durante
autora durante os últimos dez anos, será os últimos anos. Os casos aqui analisados
aplicado o conceito da gestão participativa refletem em parte também as situações em
à gestão de resíduos sólidos. Como já outros países na America Latina, África e
explicitado, entende-se os resíduos sólidos Ásia.
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dos recursos naturais e, consequentemente, autoridades ainda veem esse setor com
será prevenido o seu esgotamento. desconfiança, e muitas vezes recusam-se a
A redução no consumo, o consumo admitir o papel que os grupos organizados
consciente, e o desfazer dos produtos e e catadores informais podem desempenhar.
embalagens de forma responsável podem Infelizmente catadores(as) ainda são
contribuir para uma mudança de vistos, na maioria das vezes, como um
paradigma do tratamento negligente de problema social, ficando sujeitos a
nossos resíduos sólidos. Isto implica preconceitos e humilhação quando
também em uma mudança na percepção realizam seu trabalho nas ruas. Como
dos trabalhadores envolvidos na consequência, os programas que apoiam o
recuperação desses materiais, trabalho dos catadores são geralmente
reconhecendo os catadores(as) como oriundos do setor da assistência social e
prestadores de serviços ambientais, em vez não dos múltiplos setores como obras,
de vê-los como algo inoportuno e de tratá- transporte, saneamento, meio ambiente,
los com aversão. O empoderamento dos saúde pública, que estão naturalmente
catadores(as) informais e organizados envolvidos na coleta seletiva e que
através da educação, da qualificação poderiam tratar a questão dos resíduos
permanente, da ampla divulgação de sólidos de forma integrada.
informação e da participação nas tomadas Os grupos organizados de
de decisão possibilita a inclusão social. A catadores(as) ainda podem prestar outros
coleta seletiva é uma ótima oportunidade serviços à cidade, como por exemplo
para gerar trabalho e renda digna. O educação e conscientização ambiental,
empoderamento traz à tona e fortalece a além da coleta seletiva porta a porta de
dignidade das pessoas que trabalham com recicláveis e de material orgânico para
a recuperação de recursos. produção de composto. Em diversos
Embora na literatura internacional municípios os catadores também já
tenha sido dada atenção considerável à começaram a trabalhar com a recuperação
organização dos catadores(as) informais de matérias primas embutidas em produtos
em cooperativas de reciclagem e em eletrônicos, ou estão envolvidos na coleta
programas baseados no desenvolvimento de óleos domésticos, madeiras, resíduos de
comunitário, a atitude predominante dos construção, etc.
governos locais continua sendo de excluir O contato que os catadores
essas pessoas e a sua atividade do processo estabelecem com os moradores cria
de gestão de resíduos sólidos. As oportunidades importantes na divulgação e
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