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Ribeirão Preto
2021
Introdução
discutido a partir de um referencial teórico marxista, e esta última entendida a partir de seu
aspecto biopsicossocial. Para isso, foram abordados alguns aspectos da crítica desenvolvida
por Karl Marx, em um recorte restrito à brevidade exigida para esta avaliação, não deixando,
é claro, de enriquecê-lo com reflexões a respeito da sociedade para pensarmos essa relação.
Discussão
A princípio, iniciamos essa discussão abordando a forma como Marx (1983) inicia
sua célebre obra, “O Capital”, em uma busca para desenvolver explicações acerca do que é
mercadoria. O autor discute sua forma social histórica, a qual demonstra que o produto é
produzido e tem seu fim máximo direcionado ao mercado. A partir disso, Jorge Grespan
(2021) aponta que “a mercadoria também é a forma pela qual o sistema se generaliza e se
expande, destinando ao mercado todos os produtos do trabalho, uma vez que a fonte criadora
podemos notar uma correlação estabelecida a partir da qual se esclarece, então, como
podemos entender que no capitalismo tudo se torna uma enorme coleção de mercadorias.
composta por uma contradição entre o seu valor de uso e o seu valor de troca, produzida a
partir de uma outra contradição no próprio trabalho. Tal contradição é dada pela relação entre
o trabalho concreto, que gera valor de uso, e trabalho abstrato, definido como uma espécie de
pacto social que compactua com a ficção social que, por sua vez, produz o valor de troca.
Essa contradição diz respeito à distância que existe entre aquilo que é necessário e aquilo que
possui valor para o mercado. Desse modo, como Marx (1983) aponta, este valor ficcional do
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relações capitalistas de troca. Isso porque é a partir dessas relações que se constrói o ciclo do
capital: o trabalhador se vende para poder comprar enquanto o burguês o compra para poder
vender, objetivando alcançar uma forma de extrair dessa relação o mais valor, seu lucro.
contemporaneidade, uma vez que esta é a dinâmica que se desenrola por trás do fato de que
não trabalhamos para atender às nossas necessidades, mas sim às do mercado. Diante dessa
lógica, não importa que para nós a necessidade seja saúde, seja educação, seja a construção
de hospitais e de escolas. Importa apenas aquilo que possui valor para o mercado, aquilo que
possui o tal valor ficcional, isto é, o trabalho abstrato, o produto de trabalho validado pelo
porém é necessário que algumas considerações sobre o conceito saúde sejam feitas antes.
Saúde deve ser compreendida em seu aspecto biopsicossocial, pois essa condição envolve
tanto o homem enquanto corpo biológico e dimensão psicológica, como o homem também
em suas vivências e inserção em um meio social, como será abordado. Primeiramente, assim
como Michael Wilson (1984) aponta, um dos questionamentos mais importantes a ser
discutido é o que entendemos por saúde. Para isso, é importante destacar que, no pensamento
doença. Tal concepção gera grande contraste com os sistemas e entendimentos de saúde
saúde. Essa análise pode ser fundamentada por um livro brasileiro dos anos 80, chamado
“Medicina não é Saúde”, de Jayme Landmann (1983). O autor investiga como, no ocidente, é
comum que a população em geral vá recorrer aos remédios diante de um sintoma, buscando
silenciá-lo ao invés de procurar investigá-lo e tratar suas causas, que muitas vezes podem
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Com isso, podemos apontar a relação entre saúde e sociedade a partir de uma leitura
da obra “O Mal-Estar na Civilização”, escrita por Sigmund Freud, que destaca o próprio ser
humano como sintoma de uma cultura e uma sociedade doente. Diante disso, se aponta que
Unidade Tua Rádio São Francisco, 2021), o que demonstra que os brasileiros estão doentes,
mas não de forma isolada. Tal fato entra em consonância com o que Freud observou, uma vez
que podemos concluir que estamos doentes enquanto país, sociedade e cultura. Como
quadros agravados de sofrimento psíquico e emocional. Sabe-se que tal composto é regulado
por meio de ciclos de sono e vigília, alimentação, práticas de atividades físicas, banhos de sol
e outros hábitos. Dessa forma, em muitos casos, a privação ou disfunção de tais hábitos e
costumes são responsáveis por desenvolver em nós dinâmicas doentias, que não podem ser
curadas ou remediadas com drogas. A partir disso, cabe destacar como a sociedade do
trabalho impacta esses hábitos para explicitar a relação entre a dinâmica social e a saúde do
trabalhador.
Logo, torna-se possível estabelecer, a partir disso, uma relação entre o adoecimento da
população e a dinâmica capitalista, já que esta impede que a maioria dos indivíduos tenham
acesso a meios de cultivar hábitos saudáveis. De modo a fundamentar isso, citamos o trecho
em que Marx questiona o que é uma jornada de trabalho e por quanto tempo os interesses do
capital podem prolongá-la, ao passo que responde que esta corresponde às 24 horas
completas com exceção de poucas horas de repouso, suficientes apenas para que o trabalho
não cesse (Marx, 1983). Desse modo, fica explícito que é impossível para o trabalhador
dispor de tempo, disposição ou energia para hábitos saudáveis. As implicações disso são
várias em nosso cotidiano, pois mesmo a lógica de produtividade que essa dinâmica nos
impõe nos limita a desenvolver cuidados com a saúde - dado que, por exemplo, uma dor de
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cabeça causada pelo excesso de esforço nunca é tratada em sua causa, mas sim silenciada
Ademais, tal aspecto é explicitado quando Marx coloca que nessa dinâmica “toda
barreira interposta pela moral e pela natureza, pela idade ou pelo sexo, pelo dia e pela noite
foi destruída”. Assim, todo o tempo do trabalhador não pertence a ele mesmo. Tal dinâmica
Rouba o tempo necessário para o consumo de ar puro e luz solar. Escamoteia o tempo
destinado às refeições para incorporá-lo onde possível ao próprio processo de produção [...]”
Indo ainda mais além nessa reflexão, quando pensamos em alimentação, um dos
exemplos de cuidados com saúde citado, não é possível deixar de fora como as dinâmicas
dessa sociedade neoliberal capitalista impedem uma dieta saudável. A exemplo disso,
vivemos em país cujo governo atual foi o que historicamente mais liberou o uso de
agrotóxicos. Isto porque existe uma rede de interesses políticos e econômicos, cujo intuito
deveria ser cuidar do bem-estar e da saúde do trabalhador, mas que normalmente atua em
detrimento deste. Ademais, retomando o fato de que o que é produzido conforme a dinâmica
do Capital não visa atender às necessidades da população e sim aos interesses do mercado,
podemos pensar como este impacta a produção de alimento. Por exemplo, uma das indústrias
mais ricas neste setor são as empresas de Fast-Food, o que impacta diretamente naquilo que é
plantado localmente. Dessa forma, como é o mercado de Fast-Food que vende produtos com
alto valor de troca, localmente são produzidos os ingredientes que ele necessita para vender e
questionar como é possível pensar em saúde, uma necessidade humana, diante de mais um
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Outro exemplo a ser citado relaciona-se à remuneração distinta dos profissionais de
saúde, uma vez que são os médicos mais necessários, tais quais os médicos de comunidades,
os de família, e, em geral, aqueles não associados a grandes corporações, que são pouco
são altíssimas. Mais uma vez, podemos notar a contradição apontada por Marx no valor
comunidade tenha um trabalho de utilidade muito maior para a sociedade, que carece desse
atendimento, é um cirurgião plástico quem possui os salários mais elevados, embora cirurgias
Ademais, uma observação sobre essa remuneração que pode ser colocada é a de que a
classe médica atua como uma forma de sensores de controle social. Isso porque o médico é
um profissional que detém o poder de autorizar que um trabalhador deixe de trabalhar por um
período, ao mesmo tempo que é o profissional capaz de investigar as causas das doenças que
ele deve tratar, possivelmente percebendo que essas são mais que sintomas, são consequência
do modelo de vida atrelado ao capitalismo. Desta forma, um médico costuma ser melhor
remunerado para que ele não se veja como trabalhador, de forma que ao se deparar com dada
situação, sua falta de consciência de classe o impeça de se deixar envolver por essa
exploração, sendo muito mais provável que ele atenda os interesses da classe dominante.
Com isso, o nosso sistema de saúde continua a se debruçar sobre os sintomas e não sobre as
causas, afinal essa dinâmica mantida através da exploração do trabalhador não tem interesse
em permitir que as causas de suas doenças sejam problematizadas, tendo em vista que o
Por fim, encerramos este trabalho comentando mais uma das reflexões de Marx
retiradas de “O Capital”. Como preparação, cabe apontar que para Marx a essência do
homem é o trabalho e que por isso é por ele denominado de “homo faber”. No entanto, na
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dinâmica de trabalho que o capitalismo impõe, este se converte em uma forma de alienação,
pois, como ele aponta, este trabalho é externo ao trabalhador, não faz parte de sua natureza e,
assim, não o leva a realizar-se em seu trabalho, e sim a se negar. Desse modo, a perversidade
desse sistema se enfatiza na forma com a qual ele separa o homem de sua própria essência,
folga, visto que diante deste trabalho imposto e forçado ele se sente contrafeito. Marx ainda
aponta, como prova dessa alienação, o fato de que sem esta imposição o trabalho é evitado
como uma praga. Ainda, assim como apontamos ao longo deste texto, ele coloca que o
trabalho “não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras
necessidades”. Enfatizando tal afirmação, Marx ainda demonstra que tal trabalho, que serve
trabalhador é demonstrado por não ser o trabalho dele mesmo mas trabalho para outrem, pelo
fato de no trabalho ele não se pertencer a si mesmo mas sim a outra pessoa.”
Assim, por não servir ao homem e sim ao mercado, como o trabalho poderia atender
diante de uma dinâmica de trabalho de sacrifício? Como é possível para o trabalhador ter
saúde, se este trabalho atropela todos os seus limites biológicos, psicológicos e sociais?
torna-se a doença?
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Referências
ansiolíticos alcançam o topo da lista dos remédios mais vendidos no Brasil. Recuperado em
https://www.tuaradio.com.br/Tua-Radio-Sao-Francisco/noticias/saude/22-02-2021/ant
idepressivos-e-ansioliticos-alcancam-o-topo-da-lista-dos-remedios-mais-vendidos-no-
Marx, K. (1983). O Capital: Crítica da economia política. Vol. 1. Tradução de Régis Barbosa
Wilson, M. (1984). Saúde, atitudes e valores. In: TAPS. Saúde da comunidade: um desafio.