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Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

Departamento de Psicologia

Disciplina: História da Psicologia

Docente: Sávio Passafaro Peres

Discente: Lívia Rocha Carniel (11793872)

Resenha sobre o documentário “O Século do Ego – Máquinas de Felicidade”


O documentário aborda como os poderosos têm usado as teorias de Freud para controlar multidões a
determinados fins. Um desses fins se direciona para o próprio princípio do sistema capitalista que se
desenvolvia e necessitava de um mercado que consumisse em massa sua superprodução. Com isso, a ideia
de desejo inconsciente é utilizada para desenvolver uma mentalidade que se tornaria um dos pilares desse
sistema, o consumismo.

Desse modo, as necessidades e desejos mais profundos do homem são associados a bens de consumo, o
que as propagandas da época e, como podemos analisar, ainda as de hoje, buscam exageradamente
demonstrar ao associar a obtenção do consumo a plena felicidade. Pode-se analisar, no entanto, que essa
plena felicidade é extremamente paradoxal e contraditória, pois sua plenitude dura até que um novo
produto seja lançado e estimulado como a nova forma de ser feliz. Com isso, o ciclo de desejar, comprar e
desejar torna-se muito bem articulado de modo a garantir que os produtos oferecidos pelas grandes
empresas sejam consumidos em larga escala.

Exemplos dessa associação naquela época que o documentário aponta, é que esse novo tipo de
consumidor, é bombardeado de ideias de que os produtos expressam sua personalidade, de que o carro
assegura a sexualidade masculina e o cigarro a liberdade feminina. Desse modo, ao comprar um carro o
homem acredita estar comprando sua masculinidade e ao consumir o cigarro as mulheres acreditavam
estar consumindo sua liberdade.

Esse ego consumista que viria a dominar o mundo moderno é inconsolável buscando em cada produto algo
que o faça realmente feliz ou satisfaça seu desejo mais profundo, seja ele qual for. Afinal, toda essa
mentalidade foi construída a tal ponto que o consumidor acredita que ele pode e precise ser feliz, que é um
direito ter seus desejos satisfeitos, que ele é uma máquina de felicidade que deve ser abastecida pelo o que
o sistema tem a oferecer. Essa máquina de felicidade, não sabe lidar com a frustração entre a realidade do
produto que ele recebeu e a idealização do produto que lhe foi vendida. Com isso, ele continua comprando
em busca dessa felicidade que ele quer comprar, e comprará eternamente já que o que lhe foi vendido não
existe em um produto realmente.

A grande e dolorosa ironia desse sistema é que seus desejos mais profundos são vendidos nas
propagandas, mas tudo o que o consumidor pode realmente comprar são bens de consumo. O produto na
propaganda, não está nas prateleiras, não é o objeto produzido pela empresa. O produto que as
propagandas prometem vender, é na verdade construído pelo próprio consumidor, é a ideia irracional, é a
idealização que o consumidor projeta no produto.

E isso tem um efeito não menos perverso nos indivíduos, pois a propaganda assegura que é um direito e
um poder deles alcançar esse desejo. Ela promete que eles serão atendidos e os indivíduos se mantem
nessa eterna busca e expectativa frustrada em encontrar suas realizações mais profundas e irracionais.

Assim, a análise que pode ser feita em cima do documentário é que estimulando os desejos das pessoas e
vinculando-os ao fim que se quer atingir, nesse caso, aos bens de consumo, os poderosos podem controlar
as massas para atingir seus interesses.

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