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Emoção e Razão na
Aprendizagem
Emoção e Razão na Aprendizagem - Bruno Stramandinoli Moreno
CHANCELARIA
Jonathas Carvalho Batista
Roselene Aguiar Santos
PRESIDENTE
Claudinei Senger
VICE-PRESIDENTE
Roberto Alonso
DIRETOR FINANCEIRO
Vinícius Mendes de Oliveira
COORDENAÇÃO DE CURSOS
Administração: Milton Tadeu Piscinato
Ciências Contábeis: Manuel dos Santos Leitão
Direito: Viviane Alves de Morais
Pedagogia: Luci Ana Santos da Cunha
Sistemas de Informação: Carlos Antonio José Oliviero e Paulo Marcotti (adjunto)
Gestão Financeira e Logística: Roberto Datrino
Gestão de Marketing e Gestão Comercial: Dario Djouki
Gestão de Recursos Humanos: Jairo Gonçalves Duarte
Primeiro ano Tecnológicos, Administração e Ciências Contábeis: Jairo Gonçalves Duarte (ad-
junto)
COORDENAÇÃO DE CURSOS
Publicidade e Propaganda; Rádio, TV e Internet e Relações Públicas: Lina Maria Moreira Garai
da Silva
Administração: Milton Tadeu Piscinato
DIAGRAMAÇÃO
Valdecir Xavier
APRESENTAÇÃO
Saudações à disciplina de Emoção e Razão na Aprendizagem. Nada mais instigante e atual que um
tema que afeta diretamente nossa vida, seja quando vivenciamos a alegria, o prazer, o riso e a des-
contração, e a tristeza, melancolia, pessimismo e as lamúrias do dia-a-dia. Antes mesmo de iniciar-
mos qualquer debate mais técnico, convido você a ouvir a música Human, de autoria de Rag’n’Bo-
ne Man, através do link https://www.youtube.com/watch?v=L3wKzyIN1yk, buscando refletir sobre a
imensa complexidade que constitui a existência humana nas mais profundas e superficiais dimensões:
Tabela 1 – Human
HUMAN – Rag’n’Bone Man
Não peça minha opinião
Don’t ask my opinion Não me peça para mentir
I’m only human Don’t ask me to lie E depois implorar e pedir per-
I’m only, I’m only Sou apenas um ser humano dão
Sou apenas, sou apenas Then beg for forgiveness
I’m only human, human For making you cry Por ter feito você chorar
Sou apenas humano, humano Feito você chorar
Making you cry
Maybe I’m foolish ‘Cause I’m only human after all Porque eu sou apenas um ser
Maybe I’m blind Talvez eu seja idiota humano, afinal
Thinking I can see through Talvez eu sou cego
this Pensando que eu posso ver
através disso Eu sou apenas humano, afinal
E ver o que está por trás I’m only human after all Não coloque sua culpa em mim
And see what’s behind Não tenho uma maneira de Don’t put your blame on me Não ponha a culpa em mim
Got no way to prove it provar isso Don’t put the blame on me
So maybe I’m lying Então talvez eu estou mentindo
But I’m only human after Algumas pessoas tem proble-
Mas sou apenas ser humano, Oh, some people got the real
all mas reais
afinal problems
I’m only human after all Algumas pessoas sem sorte
Eu sou apenas ser humano,
Don’t put your blame on Algumas pessoas pensam que
afinal
me Some people out of luck eu posso resolvê-los
Não coloque sua culpa em mim
Don’t put your blame on Não coloque sua culpa em mim Some people think I can solve
me them Senhor dos céus
Olhe-se no espelho Eu sou apenas humano, afinal
Take a look in the mirror E o que você vê agora Lord heavens above Eu sou apenas humano, afinal
And what do you see Você vê mais claramente I’m only human after all Não ponha a culpa em mim
Do you see it clearer Ou está enganado I’m only human after all Não ponha a culpa em mim
Or are you deceived Imerso no que você acredita? Don’t put the blame on me
In what you believe Porque eu sou apenas um ser Don’t put the blame on me
‘Cause I’m only human humano, afinal Eu sou apenas humano
after all Você é apenas um ser humano, Eu cometo erros
afinal I’m only human Eu sou apenas humano
You’re only human after all Não ponha a culpa em mim I make mistakes Que é tudo o que preciso
Don’t put the blame on me Não coloque sua culpa em mim I’m only human Para colocar a culpa em mim
Don’t put your blame on That’s all it takes Não coloque a sua culpa em
me Algumas pessoas têm proble- To put the blame on me mim
mas reais Don’t put the blame on me
Some people got the real Eu não sou nenhum profeta ou
problems Algumas pessoas sem sorte ‘Cause I’m no prophet or Messiah messias
Some people out of luck outras com sorte Should go looking somewhere Deveria ir procurar em algum
Algumas pessoas pensam que higher lugar mais alto
Some people think I can eu posso resolvê-los Eu sou apenas um ser humano,
solve them afinal
I’m only human after all Eu sou apenas um ser humano,
Senhor acima dos céus I’m only human after all
Eu sou apenas um ser humano afinal
Lord heavens above Don’t put the blame on me Não ponha a culpa em mim
I’m only human after all humano, afinal Don’t put the blame on me
Eu sou apenas um ser humano, Não ponha a culpa em mim
afinal
I’m only human after all Não ponha a culpa em mim I’m only human
Don’t put the blame on me Não ponha a culpa em mim Eu sou apenas humano que
I do what I can Eu faço o que posso
Don’t put the blame on me I’m just a man Eu sou apenas um homem
I do what I can Eu faço o que posso
Don’t put the blame on me Não ponha a culpa em mim
Don’t put your blame on me Não coloque a sua culpa em
mim
Fonte: https://www.letras.mus.br/ragnbone-man/human/traducao.html
Ao longo da vida, de uma maneira única, construímos conhecimentos e sabedorias sobre o que é
bom e o que ruim, o que é certo o que e é errado (ou mesmo o que está no meio disso, menos co-
lorido e mais acinzentado). Definimos, redefinimos, negamos, afirmamos, negamos novamente, nos
contradizemos, revemos a posição inicialmente assumida. Votamos na esquerda no primeiro turno,
mudamos o voto para direita, e vice-versa. Assumimos, nos esquivamos, decidimos exitamos, des-
truímos, construímos, gritamos ensandecidos, acolhemos calorosamente. Proferimos discursos elo-
quentes em alguns momentos, atuamos de forma apática em outros. Nos mobilizamos a melhorar
a vida de pessoas que não conhecemos e ignoramos nossos próximos. Esta gama de possibilidades
e de realizações só é possível por que captamos, processamos, organizamos e, com isso, aprende-
mos. Isto nos torna loucos, sãos, capazes, vulneráveis, inseguros, fortes… Humanos.
Neste sentido, nosso itinerário ao longo da disciplina passará por compreendermos as bases do pro-
cesso de aprendizagem, em sua dimensão biopsicossocial, sob os auspícios das Neurociências, da
Psicologia, da Educação, da Filosofia, apreendendo e discutindo informações sobre a natureza bio-
lógica da Aprendizagem, bem como nos enveredar sobre os Processos Psicológicos, Básicos e Supe-
riores, relacionados ao aprender e terminando na construção de entendimentos sobre os aspectos e
dinâmicas e funcionamento do que mobiliza o Ser Humano a atuar, agir e ser no meio em que vive.
Objetivos Gerais
Apresentar, de maneira interdisciplinar, as principais contribuições que os conhecimentos construí-
dos na área das neurociências, psicologia, educação e ciências sociais e humanas, fornecem para
as concepções e práticas envoltas e circunscritas com o fenômeno da aprendizagem, sua dinâmica,
destacando seus aspectos biopsicossociais.
Módulo 1
Fundamentos de Neurociência aplicados à aprendizagem
Objetivos específicos
•• Apresentar noções básicas de Neurociência do processo de aprendizagem; ressaltando o
sistema racional e sua intersecção com o sistema emocional;
•• Discutir as contribuições da neurociência em comparação com outras áreas do conhecimento
(Psicologia, Ciências Sociais e Humanas, etc.);
•• Conhecer as estruturas macroscópicas e estudar, anatômica e fisiologicamente, o sistema
nervoso central, com ênfase nas inter-relações com a razão e emoção.
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................... 8
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................................................20
REFERÊNCIAS............................................................................................................................................................... 23
INTRODUÇÃO
O ser humano é caracterizado por diversas dimensões e funções que abarcam desde aspectos cor-
porais, emocionais, psíquicos /mentais, biológica, se estendendo por âmbitos ambientais e socio-
culturais, tudo isto compondo um sistema único e indissociável, o qual será a base para a estrutura-
ção tanto da personalidade como de duas capacidades, identidades, etc. A base material, concreta,
que organizarã esta constelação de elementos é estabelecida por neuromatrizes, que funcionarão
sob a lógica de uma intencionalidade homeostática (ou seja, que tendem tudo sempre a busca de
um equilíbrio para manutenção de alguma unidade: o indivíduo).
Neste sentido, é salutar destacar a condição comunicativa (seja ela ativa, pró-ativa, retroativa, as-
cendente, descendentes, longitudinal, transversal, oblíqua ou polidiagonal) entre todos os aspectos,
dimensões e funções da pessoa como essencial para a composição e definição de como e quan-
do, se irá/poderá/conseguirá aprender. Tanto o carácter interno quanto o externo do processo de
aprendizagem precisa ser considerado quando se pretende conceber o ser humano e sua capacida-
de de aprender: a comunicação entre os elementos biopsicossociológicos, isto é: como funcionam
entre si.
O homo sapiens é um todo, e isto pode ser constatado através de sua expressividade, da comuni-
cação de seus pensamentos, opiniões, percepções, gostos, desgostos, etc. Será pela via das ações
motoras, comportamentos, fazendo ou não fazendo algo, torcendo para este ou aquele participan-
te de um programa de talentos, ou escolhendo atravessar ou não a porta para uma entrevista de
emprego, decidindo ou não sonegar imposto, estendendo a mão para auxiliar uma pessoa caída,
direta ou indiretamente, somos expressão dessa sua totalidade.
Nossa premissa inicial é de que o efetivo funcionamento humano depende não somente da ativa-
ção biocorporal, mas também, e como mesmo peso de importância, do acionamento emocional,
psíquico, cognitivo e mental, no meio ambiente sociocultural. Uma premissa secundária que nos
guiará nas discussões empreendidas nesta disciplina, é que este “todo humano” é composto por
uma série de instâncias, de dinâmicas, de estruturas, de subsistemas, de microssistemas, mas que
tem sua funcionalidade unificada, de maneira a atender, pressões/compressões de subsistemas ou
dimensões a outro, em efeitos recorrentes (em geral, negativos, diretos ou indiretos) nos restantes
e vice-versa.
Vejamos este exemplo: imagine você andando no meio da rua da sua casa voltando de uma noita-
da, da missa, do jogo de futebol, etc… Já está escuro, quando você está no portão do seu prédio,
de sua casa, você avista na esquina uma pessoa correndo a toda velocidade de encontro a você.
Alguma percepção sobre o que está acontecendo surge (ah tô perdido, enfim chegou minha hora,
“aha” é hoje, etc.) esta situação provocou tensões musculares, gerarem não só o enrijecimento físico
do corpo das pernas, que prepararam para fazer algo (até não fazer nada), mas, também, te ati-
vou mentalmente, o que faz com que você potencialize seu próprio potencial bioenergético e ative
funções psíquicas, biocorporais, começando, a partir daí a expressar-se, não na sua totalidade mas
através de subsistemas do seu todo. A sua resposta é sua! Deixemos no “imaginário”.
Este exemplo no traz o cerne do será trabalhado no presente módulo: as bases neurocientíficas que
amparam os processos de aprendizagem, bem como a estimulação, o desenvolvimento, a educação
e a expressividade de todas as suas dimensões, níveis e instâncias, isto é, biológicas, neurológicas,
fisiológicas etc. que auxiliarão na emergência de um sentido da unidade, da identidade e da pes-
soalidade de cada ser humano.
Figura 1 – Rede Neural
Obviamente, para que seja possível a geração de energia necessária e suficiente para as múltiplas,
variadas e diversificadas atividades e funções far-se-á imprescindível que a todas as células seja
favorecido um ambiente estável e estimulante, protegido das agressões do exterior. Só a partir disso
é possível garantir, de maneira interligada e interdependente, a autonomia, a coerência, a solida-
riedade e a funcionalidade da rede neural. É o que tornará exequível as infinitas comunicações e
intercomunicações, de informações e mensagens, de cargas e de descargas energéticas.
Entretanto, como destaca Fonseca (2008), torna-se imperativo que o individuo tenha preservado
um determinado nível de integridade interconectada, solidária e funcional, com vias a interagir
com os meios, ambientes e ecossistemas no qual esteja circunscrito. Serão necessários meios de
ação que lhe possibilitem, por exemplo, proteger-se de situações agressoras, ou estabelecer ajustes
(posturais, espaciais, técnicos, sociais e culturais) em que o indivíduo se sinta estimulado, desenvol-
vido e motivado em relação a alguma programação inicial (leia-se aqui os aspectos genotípicos).
A partir das programações biológicas, como o código genético, as mensagens como as “comunica-
ções internas” e aquilo que caracteriza o ser humano, em seu aspecto biológico, vão se alinhando,
sendo revisto, ajustado aos seus aspectos psicossocioculturais, alterando e realinhando suas estru-
turas e dinamismos tanto bioquímicos como emocionais, tanto sociais como psíquicos. Os efeitos
daí decorrentes podem ser visualizados no exterior de si mesmo, tanto na aparência física quanto
nos tipos de ações que vivenciamos, nossas atitudes, fatos, acontecimentos e comportamentos do
exterior verso o interior.
Isto fica claro quando pensamos alguém que adota uma atitude mais saudável, por exemplo, fazer
mais caminhadas e buscar um regime alimentação mais adequado e funcionalmente mais ajustado
a suas necessidades nutricionais. Isto se reflete interiormente (níveis de glicose se regularizam, taxa
metabólica aumenta, risco de acometimentos reduzem significativamente) quanto exteriormente
(sua postura e ânimo para atuar no meio em que vive se modifica de forma sensível: bom humor,
motivação, capacidade enfrentamento de problemas, aumentada, etc).
Segundo Fonseca (2008) é esta dinâmica, esta relação entre aspectos biológicos, antropológicos,
sociais e psíquicos, que constitui o “cerne” do humano. Por conseguinte, tudo o que interfira nestes
aspetos tem impacto direto na funcionalidade humana, torna-se redutor ou potencializador dos
mecanismos e processos da homeostasia do indivíduo, das ativações biológicas e sociais que orga-
nizam e tornam o ser humano o que é, ou será! Seguindo este raciocínio, quanto melhores forem as
condições descritas melhor a eficiência de seu aparelho cerebral, responsável por toda a “gestão”
das intercomputações, ações, adaptações, rentabilidades e eficiências, ou seja, de toda a interativi-
dade (permanente, diga-se de passagem) entre as vivências e experiências positivas e negativas,
modelações, esquemas, estilos de vida, que, viabilizão e mobilizarão o aparato biológico humano.
Pense comigo
Um comentário muito pontual. É notório que não é mais possível falar
em aspectos biológicos e psicossociais ou mesmo ambientais de forma
segmentada, ou seja, em separado, o ser humano se constitui como tal,
justamente, por que há esta convergência de forças internas (biológicas, genéticas, “natu-
rais”) e sociais (ambiente, cultura, etc.). Esta articulação atua de maneira a filtrar, envolver,
rejeitar as realidades, os fatos e acontecimentos exteriores à pessoa. O sistema nervoso, em
si, será instruído a partir de marcos essenciais e referenciais (tanto a nível neurobiológico
quanto social, tanto a nível emocional como, a níveis, sentimentais, afetivos e psíquicos). E,
justamente, por seu caráter permanente, esta convergência de forças dota, ou pelo menos,
impele a pessoa a uma condição de plasticidade. Isto é, o ser humano possui capacidades de
constantemente refazer-se, reconstruir-se, adaptar-se à mudanças, de integrar-se mais à
fora, mais a dentro, reequilibrando-se.
Mas voltando ao ponto desta seção, o cérebro. Sua principal função é sistematizar e unificar as ações
das inúmeras partes e subsistemas corpóreos, em face das intempéries e desafios externos. Especifi-
camente, atua interligando as regiões corticais, os núcleos subcorticais e os circuitos neurais locais.
Em termos anatômicos, o cérebro é entendido como o componente primás do sistema nervoso
central, Este, por sequência liga-se através de nervos. Os quais tem a função de transmitir impulsos
bioquímicos e bioeléctricos provenientes do cérebro para as partes corporais, não de forma isolada,
mas articulada a todo o resto, interno (outros órgãos) e o ambiente) de forma fluida, unificado.
Não obstante, a necessidade de entendermos, mas adiante na disciplina, que razão e emoção atuam
de forma harmônica e funcional, pois ambas (como convergência de forças) no indivíduo, exigem, a
ativação e mobilização de mecanismos de autorregulação e autointegração, ora mais uma ora mais
a outra, com vistas a protegê-lo ou instrumentalizá-lo a enfrentar e se posicionar as instabilidades
e demandas ambientais. O grande desafio é compreender como promover uma manutenção eficaz
dos equilíbrios e funcionalidades, haja vista o ser humano ser, inexoravelmente, bombardeado por
mudanças e demandado, a todo o tempo, a uma adaptação. Não importa se é interno ou externo,
como há uma relação de forças biossociais, o que há é uma pressão sociopsíquica (leia-se razão e
emoção) no âmago do ser humano, mobilizando na mesma medida o aparato biológico (seu corpo
como um todo). Quando você sente medo, não é seu cérebro que sinaliza, são os tremores da mão,
a boca seca, o fraquejar das pernas. Não mudar-se, não conseguir responder, adaptativamente fa-
lando, implica, invariavelmente, em instabilidade do sistema, ameaça de destruição e implosão, de
deterioração do ser humano. Tanto das estruturas biológicas, por exemplo alimentar-se de forma
mais saudável, implica em desequilíbrios tanto das estruturas fisiológicas e neurobiológicas, quanto
da desordem da integridade das estruturas sociopsíquicas e afectivo-emocional.
“Trocando em miúdos”, o ser humano é (será), o resultado de uma convergência de forças, inin-
terruptas, através desse relacionar-se “consigo mesmo” e com os outros (ambiente sociocultu-
rais, fatos e acontecimentos). O cérebro será moldado, conforme esta interação, em razão do meio
ambiente, das artes, das culturas e os saberes de maneira diferente. As modificações exteriores
também causarão modificações, nos padrões neuronais humanos, e por conseguinte, em padrões
cognitivos e emocionais humanos. Isto significa que a forma apreendemos a realidade, a associação
ou a dissociação das imagens bem, como de representações mentais que tecemos sobre a realidade
que nos circunscreve é afetada diretamente por estes padrões, e quem opera tudo isso, de forma a
geri-la é o cérebro.
disposição genética), ou; (b) fatores extrínsecos (ambiente circundante, pessoas com as quais se
relaciona, etc.) Mas tanto um quanto outro, tipo de fatores, desembocam, nas oportunidades e os
estímulos aos quais estes indivíduos sejam submetidos ao longo do desenvolvimento.
Atenção
Os fatores que relacionam o ambiente e as características genéticas, tem
grande destaque na discussão da psicomotricidade, pois não só a cons-
tituição biológica do indivíduo é importante, como também um agente
facilitador à adaptação (processos educativos, geradores de aprendizagem).
Oliveira (2002) destaca que o movimento e a integração do homem às condições do meio am-
biente, dependem do sistema nervoso. Esse sistema coordena e controla todas as atividades do
organismo, integra sensações e ideias, interpreta os estímulos vindos da superfície do corpo, e de
todas as funções. Seleciona e procura informações, canalizando-as para as regiões motoras cor-
respondentes do cérebro, para que depois sejam emitidas respostas adequadas, de acordo com
cada indivíduo. As células que compõe o sistema nervoso são os neurônios, que têm a função de
condutibilidade e excitabilidade.
Figura 3 – Neurônios
Para Gallahue e Ozmuna (2005) a maturação nervosa, que consiste na mielinização das nossas cé-
lulas nervosas, é um dos fatores relevantes no desenvolvimento humano, e fatores como a interação
do indivíduo com o meio é importantíssimo para que isso ocorra e a psicomotricidade pode auxiliar
a criança a alcançar um desenvolvimento integral, que o preparará para uma aprendizagem mais
satisfatória. Algumas habilidades são muito importantes no desenvolvimento psicomotor humano.
Essas habilidades permitem, por exemplo, que uma pessoa manipule objetos da cultura em que
vive. Para que essa pessoa se movimente no espaço com desenvoltura, equilíbrio e coordenação é
preciso ter o domínio do gesto e do instrumento. A coordenação e o equilíbrio são elementos de
base para qualquer movimento.
[…] Os “influxos” nervosos que percorrem os neurônios e que criam essas atividades
elétricas detectáveis dependem de fenômenos bioquímicos complexos. Os
receptores sensoriais têm por missão a “transdução” dos sinais físicos que recebem
em impulsos nervosos. A transmissão do influxo nervoso de um neurônio para o
outro nas sinapses, e dos neurônios para os músculos, nas placas motoras, é possível
graças à liberação de “neuromediadores” que são, em seguida, recapturados pela
membrana pré-sináptica ou destruídos na fenda sináptica. Eles exercem um efeito
inibidor ou excitante nas membranas pós-sinápticas. Mesmo quando a liberação
deste ou daquele neuromediador, feita por este ou por aquele sistema neuronal, é
bem identificada, não se pode deduzir que o neuromediador é específico do sistema
neuronal envolvido ou que é específico das funções nas quais esse sistema está
implicado: assim, embora a dopamina seja, efetivamente, liberada pelos neurônios
nigro-estriados e esteja implicada na motricidade, ela também é liberada pelos
neurônios meso-límbicos na regulação afetivo-emocional (GIL, 2010, p.3).
Tentemos ilustrar melhor esta descrição com uma imagem que detalha a estrutura de um neurônio
e funcionamento sináptico.
Fonseca (2008) destaca que o desenvolvimento motor humano têm-se início já no momento da
concepção, cerca de nove meses antes do seu nascimento. O desenvolvimento fetal se dá por meio
de processos regulados exclusivamente pela lógica biológica, vindo, entretanto, a ter continuidade
após o nascimento, quando, um por um, os órgãos e sistemas assumem suas funções no organis-
mo, ainda que muitos deles se manifestem de forma parcial.
Ainda segundo o mesmo autor, após o nascimento a motricidade se desenvolve de forma constante,
paulatina e gradual, inicialmente de forma elementar e indiferenciada, passando posteriormente
para um estágio mais organizado, com precisão do controle mental. Dessa maneira, todos os movi-
mentos que a criança utiliza ao longo do processo de desenvolvimento pós-natal indicam-nos sua
maturidade e sua integridade psicofísica.
Desta forma, faz-se necessário delinear as principais estruturas cerebrais. A figura que se segue
detalha de forma mais ilustrativas estas estruturas e descreve suas funcionalidades em termos de
interação ser humano ambiente
adaptado, a criança não passará da atividade informal e global a uma atividade mais
consciente, mais ordenada e mais dominada (LAGRANGE, 1977, p.27).
Portanto, a evolução da função motora é o resultado da atividade integrada de três sistemas neu-
rológicos: (a) o sistema piramidal (responsável pelo movimento voluntário, pela elaboração das
praxias em que dirige o movimento para um fim); (b) o sistema extrapiramidal (que controla o mo-
vimento automático, no momento que um movimento é aprendido, este passa a ser integrado pela
memória e fica sob o controle desse sistema, funcionando como um depósito das aprendizagens
motoras que serão indispensáveis no desenvolvimento corporal do indivíduo), e; o (c) sistema cere-
belar (que regula as sinergias musculares – ou seja, recebe as informações que vem dos músculos,
tendões e articulações, de modo a coordenar/dimensiona os movimentos.
Pense comigo
O movimento humano ocorre devido às interações entre o indivíduo e
seu meio ambiente. Estando em constante modificação, por meio das
experiências motoras, da estrutura de personalidade, das percepções
pessoais, do ambiente sociocultural e do ambiente físico.
Apenas para ilustra, anatomicamente, a distribuição neural central e sua relação com o movimento
e funcionalidades corporais, podem ser ilustradas na imagem que se segue:
Logo, é possível afirma que o movimento humano ocorre devido às interações entre o indivíduo e
seu meio ambiente. Estando em constante modificação, por meio das experiências motoras, da es-
trutura de personalidade, das percepções pessoais, do ambiente sociocultural e do ambiente físico.
1. 3. 1 Especialização hemisférica
Segundo Gil (2010) o cérebro estabeleceu seu funcionamento através da especialização de cada um
de seus hemisférios. Esta especialização Uma funcional de cada hemisfério, há tempo, foi deno-
minada como sendo a existência de uma dominância de certas fnções me relação ao outro lado.
Nesta toada, o autor destaca haver o consenso de que o hemisfério esquerdo, que é o hemisfério
que gerencia as funções da linguagem e que comanda a mão, em geral mais hábil, ou seja, a dos
destros, é o chamado de hemisfério dominante. A especialização hemisférica é mais nítida nos
destros. E é através da realização de um exame neuropsicológico específico se o indivíduo é destro
ou canhoto (puro, “contrariado” ou ambidestro) e, se possível, que pesquise os antecedentes de ca-
nhotismo familiar (estudos sugerem o elemento genético nesta definição).
Saiba mais
Para ilustrar esta questão te convido a assistir dois vídeos:
1. “Cérebro direito x Cérebro Esquerdo” proferido pelo pisiquiatra Dr. Wilson Gonzaga.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=edUMtn0lBDE
2. “Cérebro Dividido” - Animação que exemplifica na prática a atuação destes dois hemisférios.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=u-OPHNyx4Dc
Figura 7 – Hemisférios cerebrais
Fonte: <http://www.imagenslivres.com/imagem-gratis-aprendizagem-educacao-desenvolvimento-funcoes-cerebrais/>.
Acessado em 21 nov 2018
Gil (2010) ao apresentar a especialização hemisférica do cérebro destaca com minúcias algumas
especialidades mais objetivas. A fim de ilustra e esclarecer esta divisão apresentamos a tabela 2
com um melhor detalhamento desta especificidade hemisférica do cérebro.
Tabela 2 – Especialização hemisférica
HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO
1. Não verbal: percepção das coisas com uma relação mínima
1. Verbal: usa palavras para nomear, descrever e definir;
com palavras;
2. Analítico: decifra as coisas de maneira sequencial e por
2. Sintético: unir coisas para formar totalidades;
partes;
3. Relaciona as coisas tais como estão nesse momento;
3. Abstrato: extrai uma porção pequena de informação e a
utiliza para representar a totalidade do assunto; 4. Analógico: encontra um símil entre diferentes ordens; com-
preensão das relações metafóricas;
4. Temporal: se mantem uma noção de tempo, uma sequência
dos fatos. Fazer uma coisa e logo outra, etc.; 5. Atemporal: sem sentido de tempo;
5. Racional: extrai conclusões baseadas na razão e nos dados; 6. Não racional: não requer uma base de informações e fatos
reais; aceita a suspensão do juízo;
6. Digital: utiliza números;
7. Espacial: ver as coisas relacionadas a outras e como as
7. Lógico: extrai conclusões baseadas na ordem lógica. Por
partes se unem para formar um todo;
exemplo: um teorema matemático ou uma argumentação;
8. Intuitivo: realiza saltos de reconhecimento, em geral, a par-
8. Linear: pensar em termos vinculados a ideias, um pensa-
tir de padrões incompletos, intuições, sentimentos e imagens
mento que segue o outro e que em geral convergem em uma
visuais;
conclusão;
9. Holístico: perceber ao mesmo tempo, concebendo padrões
9. Escrita à mão
gerais e as estruturas que muitas vezes levam a conclusões
10. Símbolos: Utiliza um símbolo que está no lugar de outra divergentes.
coisa. Ex.: o sinal + representa a soma;
10. Relações espaciais
11. Linguagem Leitura
11. Figuras e padrões
12. Computação matemática
12. Fonética Sensibilidade a cores
13. Localização de fatos e detalhes
13. Canto e música
Fonte: GIL, 2010, p.9
Para ilustrar melhor esta questão convido você a analisar a imagem que se segue identificando o
posicionamento físico no cérebro onde, por exemplo reconhecemos as palavras de forma falada, ou
escrita. Especificamente a imagem é foi extraída de uma Tomografia por emissão de Pósitrons (TEP),
compostas por quatro imagens do cérebro humano aqui demonstrando o hemisfério esquerdo de
um indivíduo normal. As cores destacadas em vermelho e amarelo representam elevada atividade
cerebral: IMAGEM A: quando olhando palavras; IMAGEM B: quando ouvindo as palavras; IMAGEM C:
quando pronunciando as palavras, e; a IMAGEM D: quando pensando em palavras.
Nota
Para Gil (2009) há a necessidade de aplicação de uma bateria de exames
para se estabelecer um diagnóstico neuropsicológico mais preciso, que
envolve o mapeamento: (a). da lateralidade, do nível cultural, do “es-
tado mental”; (b) da capacidade de julgamento, do raciocínio e da capacidade de abstração
(usando algumas questões como por exemplo, qual a semelhança entre uma laranja e uma
banana... um cachorro e um leão... um casaco e um vestido... um machado e uma serra... o
Norte e o Oeste…); (c) da linguagem, (fluidez, compreensão da linguagem oral, expressão
verbal, denominação, escrita, a leitura, interpretação e compreensão); (d) 4. de movimen-
tos conscientes e intencionais (comportamentos construtivos, bucofaciais e os ideomotores);
(e) visuo-espaciais (avaliação de risco, memória topográfica, cálculo, a memória geral, a
planificação e a flexibilidade mental, a capacidade de reproduzir sequências e gestos).
cos, e, também, estimulados e reorganizados quanto aos sentimentos, afetos, processos motores,
sensoriais e perceptivos. Esta interação, como descreve o autor tem impacto direto nos processos
decisórios da pessoa. Isto terá implicações, como veremos mais adiante em módulos posteriores da
disciplina, tanto nos Processos Psicológicos Básicos (leia-se aqui percepção, memória, motivação
e a emoção) quanto nos Processos Psicológicos Superiores (leia-se aqui pensamento, linguagem,
raciocínio e julgamento), no posicionamento (seja ele mais ou menos flexível, veicular e adaptável)
que este ser humano adotará em relação aos meios e aos ambientes exteriores, e asi mesmo en-
quanto entidade biopsicossocial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo basilar de qualquer investigação nas áreas de neurociências, psicologia, educação, etc.,
na ótica de Damásio (2001) deveria ser, penso eu, buscar construir compreensões sobre a a natureza
biopsicossocial do ser humano. Isto implica dizer que tanto aceitá-la como promover seus aperfei-
çoamento, em função da obtenção e concretização, de mais e melhores realizações, atitudes e com-
portamentos. Não será essa a função primaz da aprendizagem para os homens o que, justamente,
nos diferenciou de outros hominídeos? (Ardipithecus, Australopithecus anamensis, Australopithecus
afarensis, Australopithecus africanus, Australopithecus aethiopicus, Australopithecus garhi, Aus-
tralopithecus robustus, Australopithecus boisei, Homo habilis, Homo erectus, Homo heidelbergen-
sis, Homo Neanderthalensis).
Figura 9 – Evolução humana
tema emocional. Obviamente que quando falamos e sistemas (emocional e racional) estamos, ao
mesmo tempo englobando, tanto a um quanto ao outro, elementos biológicos, psíquicos e sociais
(ambientais) constituintes. Isto é, ambos são compostos por todos estes elementos.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, L.F.; MEDEIROS, M.H.G.; AUGUSTO, O. Danos oxidativos e neurodegeneração: o quê apren-
demos com animais transgênicos e nocautes?. Quím. Nova, São Paulo, v. 29, n. 6, p. 1352-1360,
Dec.2006. Disponível através do endereço <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
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BUENO, J.M. Psicomotricidade teoria & prática: estimulação, educação e reeducação psicomotora
com atividades aquáticas. São Paulo: Lovise, 1998.
GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescen-
tes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005.