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“O CASO É O SEGUINTE...”
Volume 2, Número 3, Julho de 2009 - Semestral
Revista Eletrônica
Versão Digital
Grão Chanceler
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Reitor
Prof. Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães
Vice-Reitora
Profª Patrícia Bernardes
Pró-Reitores:
Secretarias:
Revista Eletrônica
Versão Digital
Editor
Prof. Sérgio de Freitas Oliveira
Produção Gráfica
Reginaldo Quirino de Almeida
Semestral.
ISSN
Dedicamos este trabalho aos alunos que necessitam da atenção especial dos professores e
dos pedagogos. Sem essa atenção, talvez não seja possível que eles superem suas dificuldades
e conquistem seu direito de se desenvolverem como seria de se esperar.
Ter dificuldade não é o problema. O problema é não se fazer nada diante dela!
O resultado deste trabalho deve ser creditado, mais uma vez, ao empenho de nossos alunos,
graduandos em Pedagogia pela PUC Minas, nas ênfases em Ensino Religioso e Necessida-
des Educacionais Especiais.
Agradeço ao pedagogo e nosso ex-aluno Reginaldo Quirino de Almeida que, com seus dons
e sua competência, mais uma vez tornou possível a publicação da revista.
Era um sonho... tornou-se realidade e agora já se apresenta como sonho de nossos alunos,
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
que se veem diante da possibilidade de terem seu trabalho publicado! Acreditando e nos
empenhando, somos capazes de conseguir muita coisa. Espero que a experiência desta re-
vista possa servir de inspiração quando os desafios da profissão se apresentarem. É preciso
sonhar, acreditar e fazer!
Artigo 3 Artigo 16
A importância da integração família x escola no Distúrbios emocionais: um desafio no ato de edu-
desenvolvimento escolar do aluno. . . . . . . . . . . . .23 car. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Arlete Otoni de Almeida Gislene Pereira das Graças
Artigo 4 Artigo 17
Distúrbios da palavra: dislalia, a importância da O desenvolvimento escolar de um aluno com
parceria entre escola, família e fonoaudiólogo . .25 limitações que possivelmente existem devido à
Bárbara Regina Rodrigues de Alcântara prematuridade do parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Artigo 5 Juliana Aline Pereira Felipe
A inclusão na escola e a busca de um diagnós- Artigo 18
tico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Indisciplina: possível indício de dificuldade de
Celmi Altina de Oliveira aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
Artigo 6 Kely Aparecida de Oliveira
Déficit de Atenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 Artigo 19
Cristiane Aparecida de Souza Um caso a ser diagnosticado . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Artigo 7 Ladyane Raphaele de Oliveira
A indisciplina no ambiente escolar . . . . . . . . . . . . 31 Artigo 20
Cristiane Moreira de Pinho Deficiência na era da inclusão . . . . . . . . . . . . . . . . .59
Artigo 8 Laura de Oliveira Matos Duarte
Disciplina e afetividade: a relevância da estrutura Artigo 21
da família na aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 A inclusão de uma aluna com dificuldade de apren-
Daniela dos Santos Coelho dizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Artigo 9 Lílian Ferreira de Souza
Construindo o conhecimento em um mundo Artigo 22
particular de ventiladores, músicas e sonhos de Dificuldade ou falta de compreensão? . . . . . . . . . 63
igualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Luciana Santos Barbosa
Danilo Dias Leal Artigo 23
Artigo 10 Criança, a maior vítima de agressão . . . . . . . . . . .65
Hiperativo ou agressivo? A intervenção da escola Márcia Rivane Gomes Guarda
com não aceitação da família. . . . . . . . . . . . . . . . . .39 Artigo 24
Dayse Monique Tavares Zanitti A inclusão de um aluno com TDAH . . . . . . . . . . . 67
Artigo 11 Maria Aparecida Rocha
Direitos legais x Direitos reais: algumas considera- Artigo 25
ções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Direitos violados: como uma escola democrática
Deise Keli de Souza pode ajudar crianças e adolescentes . . . . . . . . . . .69
Artigo 12 Mariane Faria Fernandes
Educação infantil - transtorno sócio afetivo no ato Artigo 26
educativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 Agressividade no contexto escolar . . . . . . . . . . . . 71
Elisabeth Efigênia Duarte Severino Aleme Marluce Aparecida Morais Silva Martins
análises de um estudo de caso realizado em uma escola Paulo Freire falava da utopia enquanto
pública estadual de Belo Horizonte. Este estudo foi pos- ato de denúncia à sociedade naquilo que
sibilitado através de entrevistas com a supervisora peda- ela tem de injusta e de desumanizadora e
gógica, professores e alguns familiares do aluno, diretora enquanto ato de anunciar a nova sociedade.
e funcionários da escola. A falta de limite, transtorno de Precisamos formar seres que sonhem com
comportamento com alto grau de agressividade, dificul- uma sociedade humanizada, justa, verda-
dade de aprendizagem e relacionamento com o próximo deira, alegre, com participação de todos nos
foram os objetos de pesquisa que subsidiaram este estudo benefícios para os quais todos trabalharam.
de caso. Goethe dizia que, para que alguém possa
ser algo especial, é necessário que outros
A
educação escolar tem sido uma das acreditem que ele é especial e lhe dê a mão
grandes mentoras da criação de desa- quando necessitar de incentivo na busca de
fios para a formação humana. Esses seus ideais.
desafios significam oportunidades para a Nesse contexto, temos então a ética como
apreensão do belo e da harmonia, ajudam princípio do pensamento e da sociedade. A
a dar significado à vida, a construir projetos dimensão ética deve ser a marca dos pro-
de um futuro digno. Sabemos que é preci- jetos e das decisões no contexto escolar. A
so mais, muito mais, para que se possam sociedade de convívio das pessoas e das ins-
garantir compromissos verdadeiros com a tituições deve questionar-se sobre o “fazer o
construção desse futuro. Sabemos também bem” e o “fazer bem”. E não apenas o bem,
que, se a escola fracassar nesse seu ambi- mas o bem comum. Os individualismos pos-
cioso projeto, a educação fará ruir muito sessivos desfibram as relações humanas,
mais do que seus estatutos, na promoção do deixando um legado de terra arrasada, de
ser humano na sua integralidade. frustrações e de solidão. Como dizia o poeta
De acordo com Stryjer (1980, p. 39), o Vinícius de Morais, “é impossível ser feliz so-
início da socialização de uma criança se zinho”. Os projetos de uma nova sociedade
caracteriza por uma agressividade que já passam, necessariamente, pelas dimensões
é esperada, pois suas manifestações de da solidariedade e da visão do bem coletivo
independência representam o instinto de como elementos basilares da realização in-
sobrevivência, próprio de toda criança em dividual. Isso vale para os grandes ou os pe-
seu desenvolvimento e compreendido como quenos problemas da humanidade de hoje.
normal e construtivo. Entretanto, pode-se Hoje, na sociedade, vemos uma tendência
considerar a agressividade como um distúr- de desvalorização da família, o que acaba
bio de conduta quando a criança se torna por nos mostrar uma fragilidade dos pais
um agressor em potencial, ou seja, quando na difícil tarefa de educar. Esse enfraque-
há ataque físico, destruição material e hosti- cimento tem gerado consequências gravíssi-
lidade contra o outro ou a si mesmo. mas para a sociedade, como violência física
E por não encontrarem na e através da es- e/ou moral, uso de drogas, transtornos de
cola, da família e da sociedade a motivação de conduta e instabilidade afetiva, segregação
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Família, escola e sociedade: parceiros determinantes no... Adriane Vieira da Silva
coordenadora pedagógica ao detectar a necessidade de trassem uma solução que pudesse ajudar
incluir aluno com deficiência em um ambiente escolar. o Gustavo. Os pais, preocupados com o de-
senvolvimento do fi lho, informaram à escola
G
ustavo1 é aluno de uma escola esta- que ele estava fazendo um acompanhamento
dual de Belo Horizonte, desde 2008. com uma psicóloga no Hospital Rede Sarah.
É uma criança que necessita de aten- O relatório deixado na escola traz que
ção especial, pois não consegue realizar as Gustavo é paciente do hospital desde maio
tarefas sozinho. de 2007, atendido por uma equipe inter-
Foi matriculado em uma turma de crian- disciplinar. Segundo o documento, ele tem
ças da 1ª série e, no decorrer do tempo, foi diagnóstico de paralisia cerebral e apresenta
sendo observado pela professora que não um quadro de déficit de atenção associado a
via progresso no trabalho que estava sendo alterações comportamentais.
realizado com ele, pois sempre atrapalhava Foi sugerido à família que Gustavo reali-
as suas aulas, era uma criança muito de- zasse um acompanhamento psicoterápico de
pendente, até para realizar tarefas simples forma sistemática, com o objetivo de avaliar
como ir ao banheiro. Foi também observado as alterações de comportamento do menor e
que ele não era uma criança muda nem sur- fornecer orientações nesse sentido.
da, embora, na maioria das vezes, ele não A professora e a coordenadora, após co-
conseguia nem mesmo expressar o que es- nhecimento do relatório, informaram aos
tava sentindo, ele não se adaptava naquele pais que Gustavo teria que ser acompanha-
ambiente escolar. do por um profissional especializado, que
A professora, vendo a dificuldade da pudesse atender a suas necessidades e o
criança, solicitou à coordenadora um profis- auxiliar no seu desenvolvimento. A família
sional especializado para auxiliá-la no dia aceitou a proposta da coordenação.
a dia, dentro da escola, pois se tratava de O profissional solicitado, após se inserir
um caso de inclusão. A política de inclusão na escola, fez algumas observações e infor-
de alunos que apresentam algum tipo de mou à coordenadora que faria um trabalho
necessidade educacional especial na rede com o Gustavo fora de sala, pois o mesmo
regular de ensino não consiste apenas na precisava muito de atividades que desenvol-
permanência física desses alunos junto aos vessem a coordenação motora e de exercícios
demais educandos, mas representa ousadias que despertassem a atenção.
de rever concepções, bem como desenvolver Como princípio da inclusão, não é o aluno
o potencial dessas pessoas, respeitando seu que deve se moldar ou se adaptar à escola,
tempo certo de aprendizado. mas é ela que, consciente de sua função,
A escola não deixou que Gustavo se tor- coloca-se à disposição do aluno, tornando-
nasse uma criança rotulada “como criança se um espaço inclusivo. Nesse contexto, a
problema”, mas tratou logo de solucionar a educação é concebida para possibilitar que o
questão. A coordenadora, após anotar os re- aluno com necessidades especiais atinja os
objetivos da educação geral.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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O progresso depende de quem vê, inclui e aceita os diferentes Andréia Aparecida Antônio
REFERÊNCIA:
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes
nacionais para a educação especial na edu-
cação básica. Secretária de Educação Espe-
cial - MEC; SEESP, 2001.79 p.
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ARTIGO 3
AUTORA:
Arlete Otoni de Almeida
E
m uma escola da rede municipal de A coordenadora, ao conversar mais uma
Ribeirão das Neves, que atende a alu- vez com a professora, descobriu que as tare-
nos da fase introdutória à 4ª série, é fas de casa não eram feitas por Carlos, pois
possível perceber como o bom relacionamen- a letra nos exercícios não era dele. Ao ser
to família e escola torna-se imprescindível questionado, revelou que era de seus irmãos
no desempenho escolar do aluno. que faziam suas atividades e que ele não via,
Carlos1 é uma criança de 8 anos, está pois estava dormindo quando isso ocorria.
matriculado no 2º ano/9, e tem sido motivo Carlos contou à professora que tem dois ir-
de preocupação para sua professora, pois mãos, um de 14 anos e uma de 11 anos, e
é um aluno apático, desinteressado, falta que os três ficam sozinhos a tarde toda em
constantemente às aulas, além de ser muito casa, pois a mãe, viúva há dois anos, saí às
introvertido e calado. Somando esse perfi l 5 da manhã para trabalhar e só retorna por
ao baixo rendimento demonstrado por Car- volta das 8 horas da noite.
los nos três primeiros meses do ano letivo, Diante do quadro, a coordenadora so-
a professora relatou o caso à coordenadora licitou a presença da mãe na escola. Após
que deu início a um estudo de caso sobre o quatro tentativas, a mãe compareceu à es-
aluno. cola justificando ser difícil para ela faltar ao
Num primeiro momento, a coordenadora trabalho. Conversando com a coordenadora,
passou a observar o comportamento de Car- a mãe, entre lágrimas, desabafou e contou o
los na hora do recreio: sempre estava sozi- quão difícil estava sendo para ela cuidar dos
nho, agachado em um canto do pátio, meio três fi lhos sozinha. Confessou estar ciente
amedrontado. A coordenadora, tentando da dificuldade de Carlos na escola e que seus
uma aproximação, dirigiu-se a ele e suge- dois fi lhos mais velhos não têm paciência de
riu que ser assentasse à mesa do refeitório lhe ensinar as tarefas de casa, acabando por
com os outros colegas para lanchar. Carlos fazer para ele.
recusou-se continuando cabisbaixo, comen- Segundo a mãe, Carlos ficou muito ca-
do seu pedaço de pão. rente após a morte do pai, não tem amigos,
A coordenadora, num segundo momento, só brinca sozinho e, quando a mãe regressa
passou a observar Carlos na sala de aula, do trabalho à noite, só consegue fazer algo
na realização das atividades propostas e na após Carlos dormir, pois ele se agarra a ela
participação em assuntos em que era perti- até pegar no sono.
nente a fala de todos os alunos. A mãe contou também que, às vezes, Car-
Carlos não mudou sua atitude, continua- los começa a chorar sem motivo e não conse-
va inexpressivo a qualquer situação. Sentado gue explicar o motivo que lhe entristece.
em sua carteira, copiava o que a professora A coordenadora após estudar o caso de
Carlos, conversar com sua professora e sua
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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A importância da integração família x escola no desenvolvimento... Arlete Otoni de Almeida
REFERÊNCIA:
VIEIRA, Marili M. da Silva. O coordenador
pedagógico e o cotidiano da escola. 2003.
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ARTIGO 4
AUTORA:
Bárbara Regina Rodrigues de Alcântara
ceria entre a escola, a família e os outros profissionais dade em começar a falar. Sua mãe relatou
envolvidos no processo é a principal forma de se obterem que ele só começou a falar com 4 anos, mas
bons resultados. não procurou ajuda por acreditar que cada
um tem seu tempo e não queria procurar
R
oberto1 é um aluno de aproximada- problemas ou defeitos em seu fi lho. Admitiu
mente 16 anos, matriculado no 7º manter uma conduta de superproteção e,
ano/9 do ensino fundamental de uma às vezes, de cobrança em excesso. Devido à
escola particular em Belo Horizonte. demora na fala Roberto, só ingressou na 1ª
No início do ano, através de inúmeras série/8 aos 9 anos, em uma escola pública
atividades diagnósticas, foi detectada uma estadual, onde permaneceu por 5 anos. Ele
dificuldade significativa com relação à leitu- foi aprovado mesmo com dificuldades até a
ra e à escrita. Nas atividades, percebemos: 3ª série/8, sendo reprovado dois anos se-
• Escrita desorganizada, com trocas, omissões
guidos na 4ª série/8. Então a mãe o colocou
e substituição; muitas vezes letra ilegível em uma escola especial, onde concluiu a 4ª
com traços irregulares; desorganização do série/8 sem reprovação, mas com muitas
texto e das letras; alterações na utilização dificuldades.
da linguagem; escasso nível verbal, com po- Foi então indicada por amigos da família
breza de vocabulário; grande dificuldade de a escola em que estuda por se tratar de um
concentração e memorização. estabelecimento com número reduzido de
• Leitura não adequada para a idade; imaturi- alunos por turma , para que ele tivesse um
dade; ansiedade; insegurança e dificuldade melhor desempenho escolar. Ele foi matri-
de compreensão e expressão verbais. culado com quase 15 anos no 6º ano/9, em
2008.
Além das dificuldades nas questões pe- A coordenação pedagógica solicitou o
dagógicas, Roberto tem dificuldade de so- acompanhamento fonoaudiológico, sendo
cialização e de comunicação devido à fala diagnosticada a dificuldade na fala em razão
desordenada, por isso se isola dos outros, da dislalia.
ficando todo o recreio sozinho e isolado, Segundo Caraciki (1983, p. 27), a dislalia
apresenta baixa autoestima e não acredita é distúrbio da palavra que a criança supera
em seu potencial. lentamente, caracterizado por lapsos fonéti-
A princípio foi especulado que Roberto cos que provocam confusões aos que escu-
tivesse alguma disfunção neurológica, mas, tam. Para Marchesan (1998, p. 65), é
em conversa com a família, a coordenação
observou que a dificuldade estava em parte desvio fonológico que corresponde a difi-
ligada ao emocional e à falta de diagnóstico culdades que dizem respeito ao domínio
no caso. do padrão fonêmico da língua, na ausência
Para melhor acompanhamento e entendi- de alterações orgânicas como deficiências
mento do caso, foram feitas várias reuniões auditivas e anormalidades anatômicas. Na
Dislalia não se observa uma inabilidade ar-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Distúrbios da palavra: dislalia, a importância da parceria... Bárbara Regina Rodrigues de Alcântara
REFERÊNCIAS:
CARACIKI, Abigail Muniz. Distúrbios da pa-
lavra: Dislalia e Dislexia Dislálica. 2. ed. Rio
de Janeiro: Enelivros, 1983.
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ARTIGO 5
AUTORA:
Celmi Altina de Oliveira
caso de inclusão de um aluno em uma escola da Rede Mu- ma relações pessoais, não abraça, evita con-
nicipal de Ensino de Belo Horizonte. tato de olho, resiste às mudanças. Às vezes
tem dificuldade em entender o que foi dito e
R
onan1, com 8 anos, filho de uma dona repete as palavras que são ditas.
de casa com pouca escolaridade, foi Suspeita-se de autismo. Segundo Gau-
matriculado em uma escola da Rede derer (1993), o autismo é um quadro de um
Municipal de Ensino de Belo Horizonte, em distúrbio do desenvolvimento, não havendo
2007, por ser uma escola de tempo integral, qualquer indício de etiologia psicológica.
tendo em vista que sua mãe trabalhava o dia Para ele, as principais características do
todo e não tinha onde deixá-lo. autismo são:
Ronan apresentava um ritmo imaturo na • dificuldade no relacionamento com
fala, restrita compreensão de ideias, uso de pessoas;
palavras sem associação com o significado,
relacionamento estranho com objetos, even- • desejo obsessivo de preservar coisas e
situações;
tos e pessoas. Mesmo assim, essas carac-
terísticas não trouxeram transtorno para a • alterações da linguagem e na comunicação
escola, pois esta vê a inclusão como um novo interpessoal.
paradigma de pensamento e ação, no sentido Para esse autor, o autismo é uma inade-
de incluir todos os indivíduos socialmente e quação no desenvolvimento que se manifes-
no contexto educacional. ta de maneira grave durante toda a vida. É
Esse paradigma visa combater conceitos incapacitante e aparece nos três primeiros
estereotipados, contribuindo para o equi- anos de vida. Atinge as famílias de qualquer
líbrio do processo de desenvolvimento das configuração racial, étnica e social.
pessoas com necessidades educativas es- A escola solicitou um acompanhamento
peciais, pois somente com mecanismos de psicológico para um diagnóstico preciso,
compensação das limitações apresentadas mais detalhado, buscando-se o melhor de-
por esses indivíduos, a escola poderá forta- sempenho do aluno. Ele foi encaminhado ao
lecer atitudes de superação dos sentimentos Centro de Saúde.
de inferioridade. Uma das ações da escola tem sido aproxi-
Ronan não faz uso regular de medicação, mar o Ronan dos colegas e desenvolver uma
pois a mãe diz não ter nenhuma recomenda- boa relação com as professoras.
ção médica, além de suas condições fi nan- É preocupante para a escola a questão
ceiras serem e de alegar que não dá conta de do acompanhamento da mãe, pois a mesma
lidar com o problema do próprio fi lho. relata trabalhar o dia inteiro e não poder fal-
Na escola, foi realizado um trabalho com tar ao serviço com frequência.
muita dedicação e paciência. Começaram a A escola tem o seu papel. São elaboradas
perceber que Ronan é um aluno muito agita- estratégias para que os alunos consigam
do e faz vários gestos repetitivos sem parar. desenvolver sua capacidade de integração
com as outras crianças. Porém, a família
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A inclusão na escola e a busca de um diagnóstico Celmi Altina de Oliveira
REFERÊNCIAS:
GAUDERER, E. Christian. Autismo. 3. ed.
São Paulo: Atheneu, 1993. 192 p.
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ARTIGO 6
AUTORA:
Cristiane Aparecida de Souza
DÉFICIT DE ATENÇÃO
que apresentavam déficit de atenção, provocado pela tia o sinal e elas saíam correndo. Uma fazia
grande pressão que sofriam de seus pais. Esses estavam a passagem rápida, em casa, para almoçar,
preocupados em manter um “status social”, sem tomar porque tinha que sair rápido para a aula de
conta de que essa postura estava comprometendo a apren- inglês, depois aula de informática e, à noite,
dizagem de suas filhas. aula de violão. A outra nem em casa almoça-
va, fazia um lanche rápido, pois tinha que ir
N
uma escola particular, no centro de direto para a aula de teatro na parte da tar-
Belo Horizonte, numa turma do 8º de e, à noite, fazia aula de inglês e espanhol.
ano, no turno da manhã, duas alunas Aos sábados, pela manhã, faziam outros
se apresentam completamente dispersas e cursos. Com apenas 13 e 14 anos, já tinham
perdidas. Segundo os professores, o super- essa carga horária longa e cansativa.
visor já tinha sido avisado e estava tomando Após conversar com os pais, isso ficou evi-
as devidas providências para avaliar o caso. dente. Eles achavam que, por pagarem caro
A falta de atenção, além de prejudicar o tanto a escola quanto os cursos, podiam exi-
rendimento daquelas alunas, acabava ir- gir de suas fi lhas e alegaram que, por serem
ritando os outros alunos, que reclamavam de classe social alta, eram também cobrados
muito e ficavam bem agitados ao ouvirem a por amigos e pelos familiares.
matéria repetida pelos professores. Com a autorização dos pais, as alunas
O supervisor já tinha conversado com as foram encaminhas para o psicólogo. Ele fi-
alunas, com o objetivo de ouvi-las. Identi- cou surpreendido ao ouvir aquelas meninas,
ficou o déficit de atenção ligado a uma de até mesmo por se tratar de um caso muito
suas características: alunos com dificulda- delicado. Seria necessário os pais diminuí-
des de focalizar a atenção na sala de aula rem os afazeres das fi lhas, pois esse tipo de
por períodos maiores de tempo. Segundo pressão estava afetando o psicológico delas,
ele, a atitude das alunas se devia ao fato de começando pelo déficit de atenção, podendo
serem cobradas e pressionadas pelos seus ocasionar problemas ainda maiores.
pais, que estavam preocupados em ter fi lhos Os pais foram convocados para uma reu-
inteligentes, que falassem diversas línguas nião com esse objetivo: diminuir as ativida-
e, por isso, as obrigava a fazerem cursos des das fi lhas e dar-lhes a oportunidade de
que eles, os pais, achavam importantes. escolha, para que pudessem decidir o que
Queriam mostrar para a sociedade que seus seria melhor. Elas precisavam de apoio. Pre-
fi lhos eram os melhores, ou seja, estavam cisavam respirar e isso tinha que partir da
preocupados com o “status social”. compreensão de seus pais. Os pais ficaram
As alunas não tinham liberdade de esco- preocupados com a situação e se sentiram
lha e, como os pais pagavam caro, faziam culpados pelo problema das fi lhas. Emocio-
aquilo que os eles queriam e não o que elas nados, concordaram com a proposta.
realmente gostavam. Isso afetou o aprendi- Na visão do supervisor, os pais eram
zado das alunas, sendo o motivo do déficit sujeitos do modelo capitalista que tanto es-
de atenção. cravizam a sociedade, tornando as pessoas
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Déficit de Atenção Cristiane Aparecida de Souza
REFERÊNCIA:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
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ARTIGO 7
AUTORA:
Cristiane Moreira de Pinho
ambiente escolar, vista como problema, como desvio das problemas de pré-requisitos acabam também
normas que inviabiliza a prática escolar. desmotivados e assumem a mesma postura
dos demais.
A
indisciplina na escola está na ordem Diante dos dados observados, o coorde-
do dia. As preocupações de professo- nador pedagógico e a equipe de professores
res, pais e educadores em geral, rela- resolveram construir um projeto visando à
tivas ao comportamento escolar dos alunos, superação do problema.
têm sido consideráveis nos últimos anos. Para esse trabalho, pensou-se em um
Constata-se que, no ambiente escolar, a in- momento de estudo de textos que discutam
disciplina contribui para a exclusão. o problema da indisciplina e práticas pe-
Segundo Gotizens (2003, p. 22), dagógicas. Em um segundo momento, foi
identificada a necessidade de os professores
a disciplina escolar não consiste em um terem uma postura única e ações em grupo,
receituário de propostas para enfrentar os tomando como referência os textos trabalha-
problemas de comportamento dos alunos, dos. Ficou estipulado que nas disciplinas de
mas em um enfoque global da organização e Português e Matemática os alunos irão tra-
da dinâmica do comportamento na escola e balhar em grupos com ajuda da professora
na sala de aula, coerente com os propósitos eventual da escola, sendo que as propostas
de ensino. didáticas deverão ser adequadas às necessi-
dades do grupo.
A origem do comportamento indisciplinar Embora seja difícil e complexo lidar com
pode se relacionar ao professor, principal- o problema da indisciplina, o professor não
mente na sala de aula, bem como ao proces- pode desistir nem se acomodar. Não pode
so pedagógico escolar. deixar que a educação silencie e limite os
Numa escola estadual localizada no centro alunos e lhes impeça seu desenvolvimen-
de Belo Horizonte, a sala do 9ºano do ensino to criativo e participativo em sala de aula.
fundamental é considerada pelos professo- Precisa-se de uma educação que valorize as
res como tumultuada, a turma em que há organizações coletivas e que contribua para
mais alunos repetentes, enfi m, está rotulada a construção da autonomia e para o desen-
como a turma mais difícil da escola. volvimento intelectual dos alunos.
Observando essa turma, foi possível As escolas precisam, por conseguinte,
perceber que há grande defasagem de pré- desenvolver políticas internas para lidar de
requisitos. Após reflexões com a turma, pu- forma preventiva com a indisciplina, haven-
demos constatar que as atitudes de indisci- do também a necessidade de programas de
plina são como mecanismos de defesa, pois, formação de professores em serviço voltados
muitas vezes, a maioria dos alunos não tem para a discussão de problemas vivenciados
sequer noção do que os professores estavam nas rotinas das escolas.
falando, o que acaba provocando falta de
interesse pelas aulas e, consequentemente,
31
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A indisciplina no ambiente escolar Cristiane Moreira de Pinho
REFERÊNCIAS:
GOTIZENS, Concepción. A disciplina esco-
lar: prevenção e intervenção nos proble-
mas de comportamento. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2003.
32
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 8
AUTORA:
Daniela dos Santos Coelho
de uma criança inserida no Programa Acelerar para los alheios, abandona sua carteira e vai até
Vencer (PAV) em uma escola pública estadual de Belo à do colega para agredi-lo, tem dificuldade
Horizonte. Lucas se recusa a realizar a maioria das ati- de aceitar ajuda do colega e mesmo da pro-
vidades que lhe são propostas e ainda apresenta compor- fessora. Fala em demasia, descontrola-se
tamento agressivo. facilmente, chora, fica gago, recusa seguir
normas e regras dos adultos, culpa todos
O
ser humano é racional, dotado de pelos seus erros, demonstra falta de limites
vontade livre, de capacidade para a e carência afetiva. Não tem interesse nem
comunicação, para vida em socie- estimulo para o estudo, no ambiente escolar
dade, para interagir com a natureza e com sente-se privado de sua liberdade.
o tempo. Do ponto de vista ético, somos Com intuito de entender o processo afeti-
pessoas e não podemos ser tratados como vo/disciplinar do aluno, a professora busca
coisas. Os valores éticos se oferecem, por- informações do contexto familiar, e percebe
tanto, como expressões e garantia de nossa que ele apresenta carência afetiva e condição
condição de sujeitos, proibindo moralmente socioeconômica baixa. Conforme relatos da
que nos transformemos em coisas usadas e mãe, no ambiente familiar, tanto ela como
manipuladas pelos outros. o fi lho são vítimas de agressões verbais e
O PAV (Programa Acelerar para Vencer) físicas, além disso, ela acredita que seu fi-
foi elaborado pela Secretaria da Educação lho possa ser vítima de seu distúrbio neu-
do Estado de Minas Gerais em 2008, com o rológico diagnosticado alguns anos antes da
objetivo de reduzir a defasagem de ensino- gravidez.
aprendizagem dos alunos que apresentam, A partir desse levantamento, fez-se ne-
pelo menos, dois anos de distorção idade/ cessário que a professora obtivesse ajuda
ano de escolaridade. Esse projeto foi implan- da família, da escola e de um profissional
tado na escola, sendo duas turmas de Ensi- especializado para trabalhar o afetivo e o
no Fundamental com 22 alunos. cognitivo do aluno. Atualmente, a professora
Lucas tem 9 anos, frequenta a primeira desenvolve uma ação individualizada com
etapa do Programa Acelerar para Vencer, o aluno, pois o caso passa por encaminha-
para o qual foi transferido devido ao seu mento psicológico.
baixo desempenho no processo de ensino– As palavras tanto podem ferir como curar.
aprendizagem, a fi m de obter melhorias. Tanto os professores, como os pais e a comu-
Em conversa com a mãe, a professora a nidade escolar precisam de uma linguagem
deixa ciente do desempenho escolar do fi lho de compreensão, uma linguagem amorosa
e de suas atitudes na escola. Lucas é uma para com o ser em desenvolvimento. Os edu-
criança que apresenta o nível cognitivo bai- candos necessitam de palavras que orientem
xo, não reconhece nem mesmo as silabas sentimentos, respostas que modifiquem hu-
simples, tem dificuldades de concentração, mores, afi rmações que irradiem respeito. O
em manter atenção nas tarefas e brincadei- professor fala intimamente, ele fala ao cora-
ras. Não segue instruções, não consegue se ção. E o coração é alimentado por sutilezas,
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Disciplina e afetividade: a relevância da estrutura da... Daniela dos Santos Coelho
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério da Educação. Secreta-
ria da Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: Temas Transversais.
3. ed. Brasília: Ed. Ética, 2001.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 9
AUTOR:
Danilo Dias Leal
aluno autista numa escola pública de Contagem - MG. dade, talvez você tenha que dar comida na
boca quando for recreio e carregá-lo para
João1 é um aluno matriculado numa es- sala em seguida.
cola de classe média no município de Conta- Contudo, amenizando a atitude da vice-
gem - MG. Quando o conheci, confesso, foi diretora para com o João, devo salientar o
através de desvio de função, pois exerço um que a sua professora me disse:
cargo na biblioteca da Escola. Pensava que o – Ele toma um remédio para não cair!
cargo não tinha nada a ver com acompanha- Bate em todo mundo da sala, por isso o deixo
mento de pessoas com necessidades espe- isolado na mesinha, ele é mimado demais.
ciais. Não gostei muito da ideia: “se querem Em outra oportunidade, a professora
disciplina no recreio, contratem uma disci- afi rmou:
plinaria”, disse eu, e mais um funcionário – Ah! Eu vejo a mãe dele na rua indo para
confi rmou a indignação. Entretanto, veio a lá e para cá com ele no colo! Imagina, um
gestora me dar o recado pessoalmente: menino de quase oito anos!
– Desculpe-me não te avisar, mas na hora Então assegurei:
do recreio você deve tomar conta do João, – Pelo menos aqui na escola deveremos
para que as professoras possam descansar, tomar outros procedimentos pedagógicos.
pois é assim que a escola funciona. A mãe, sei que é evangélica, nunca vem à
Os dias iam se passando e os funcioná- escola. O pai, que traz e leva o João, é meta-
rios queriam ver a atração do recreio: aquele lúrgico. Nunca toquei no assunto, porém sei
menino que era calado, com olhar distante, que eles o levam para um psicólogo da Pre-
tagarelando comigo, aquele menino que não feitura... Falei para a professora que talvez
usava talheres, merendar sozinho. “O Au- João fosse autista. Porém a professora, que
tista faz leituras incompletas da realidade, é psicopedagoga, me disse que ele não era,
prioriza alguns aspectos em detrimento de pois ainda olha nos olhos da gente!
outros, não estabelece relações e é centrado Um dia, uma nova professora efetiva en-
em si mesmo” (NOVA ESCOLA, 1994, p.23). trou no lugar daquela contratada e disse-
Apenas respondi que foi através de coisas me:
simples que aprendi nos livros e na vida. – Já trabalhei em clínica psicológica, esse
Passados alguns, eu o deixei se sociali- menino parece com aquele daquele fi lme...
zar com alguns alunos na hora do recreio, Se não for autista, rasgo meu diploma...
poucos costumam se aproximar dele. Os Então, procurei algumas fontes na inter-
que chegam perto, ou vêm para caçoar ou net e revistas sobre o autismo, para escla-
para pegá-lo pelo braço, como se fosse de recimento de dúvidas. E descobri algumas
estimação... peculiaridades dos autistas:
Apesar das teorias e do movimento de in- • Os autistas não param quietos, essa é uma
clusão, a Escola trata o aluno como coisa ou característica marcante.
coitadinho. Lembro-me do diálogo que tive
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Construindo o conhecimento em um mundo particular de... Danilo Dias Leal
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Construindo o conhecimento em um mundo particular de... Danilo Dias Leal
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ARTIGO 10
AUTORA:
Dayse Monique Tavares Zanitti
uma escola da rede privada em Belo Horizonte e mostrar aprendizado é relacionado à educação com
a importância da participação da família na vida escolar os demais conteúdos, preservação do meio
de uma criança. Os pais não devem fechar os olhos para a ambiente e a paz, pois a escola é um lugar
realidade. Os problemas de desenvolvimento são bem co- de transformação do mundo. É importante
muns na educação infantil, com crianças entre 3 e 6 anos ensinar a pensar, a enfrentar desafios inter-
de idade, quando muitas têm o primeiro contato com ou- nos e externos, a prevenir e resolver conflitos
tras crianças de sua idade. de uma maneira pacífica, a desenvolver uma
espiritualidade sem dogmas, a expressar os
U
m dos grandes problemas encontra- valores humanos no nosso cotidiano. A Edu-
dos nas escolas públicas e privadas cação para a Paz prepara crianças e jovens
são crianças que apresentam altera- para a vida.
ções de comportamento, muitas chegando a A escola é um espaço essencial para o de-
ser agressivas com os colegas. senvolvimento de toda criança, pois é a par-
Marcos era uma criança aparentemente tir daí que se inicia um trabalho de educação
normal. Nos primeiros dias de aula, aparen- para o processo de socialização da criança e
tava ser muito educado com os colegas e os o mundo, ajudando-a na aquisição de valo-
professores, mas, com o passar do tempo, res éticos e morais, na construção da iden-
se mostrou uma criança sem limites, des- tidade e na capacidade de se relacionar e
respeitando os professores, agredindo física interagir.
e verbalmente os colegas. É um menino de Marcos e alguns outros alunos contam
apenas 5 anos de idade, que chegou a ser com um acompanhamento periódico de Neu-
“expulso” das escolas anteriores, pois a ges- rologista, Psiquiatra e Psicólogo, profissio-
tão alegava não ter métodos para trabalhar nais que realizam um trabalho de equipe
com ele. com a família e a escola.
Marcos é um menino diferente de muitos, Mas nem sempre foi assim. Os alunos que
pois tem uma vida confortável, seus pais lhe apresentavam alguma alteração comporta-
dão tudo o que ele pede, nunca ouviu a pa- mental eram classificados sumariamente
lavra NÃO, que não existe em seu dicionário, como hiperativos, tanto para a escola, quan-
então ele age de forma incorreta, pois sem- to para os pais. Segundo os profissionais da
pre é “perdoado” pelos seus erros. saúde, hoje só se pode dizer que uma crian-
Este ano ele vai mudar mais ainda, diz ça é hiperativa após passar por consultas
Mirian , Coordenadora da Educação Infantil, médicas. E a avaliação é realizada em parce-
que trabalhou 11 anos como professora e há ria com a escola, pois ninguém melhor que
3 anos coordena alunos e professores nesta o professor para observar o comportamento
mesma escola. do aluno.
Para Mirian, Marcos é uma criança como Marcos, segundo os diagnósticos apresen-
as demais, porém cada criança é única, sen- tados pelos pais de uma Neurologista e uma
te e pensa de uma forma diferente, tendo Psicóloga, é hiperativo, mas, muito antes dis-
o seu diferencial, e nesta escola os educa- so, seus pais não aceitavam a situação e di-
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Hiperativo ou agressivo? A intervenção da escola com... Dayse Monique Tavares Zanitti
REFERÊNCIA:
ROHDE, Luis Augusto P.; BENCZIK, Edylei-
ne Belline Peroni. Transtorno de déficit de
atenção/Hiperatividade: o que é? como aju-
dar?. Porto Alegre: Artmed, 1999.
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ARTIGO 11
AUTORA:
Deise Keli de Souza
TDA, como:
Resumo
• Tem dificuldade de manter a atenção em
Este artigo busca, a partir de um caso real, discutir os di-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
P
gajar em tarefas que necessitem de esforço
edro é visto como uma pedra por onde
1
mental contínuo.
passa. Ele tem dez anos, mas é larga-
mente conhecido na rede municipal da • É facilmente distraído por estímulos
cidade onde estuda. externos.
O histórico familiar e social desse aluno • É inquieto, fica com as mãos e os pés se me-
é bastante conturbado. Sua mãe foi assassi- xendo, constantemente, quando sentado.
nada quando ele tinha alguns meses de vida,
• Deixa seu assento na classe ou em outras
e ele estava no colo dela. Daí em diante, ele e
situações quando se espera que permaneça
seu irmão, apenas um ano mais velho, foram sentado.
criados em um barracão com o pai, que é
alcoólatra e bastante violento, a avó, que diz • Corre ao redor, ou sobe nas coisas, em situ-
já ter se cansado dos problemas causados ações em que isso não é apropriado.
pelos netos, algumas tias, que não veem es- • Tem dificuldade em brincar ou se engajar
sas duas crianças como alguém que merece em atividades de lazer de forma quieta.
e necessita de cuidados, e dois primos. • Tem dificuldade para aguardar pela sua
Assim, sua vida não está de acordo com vez.
as necessidades de uma criança para seu
desenvolvimento sadio e harmonioso, com Diante de tais características, seu caso
condições dignas de sobrevivência e protegi- foi notificado ao Conselho Tutelar da cidade.
da de negligência, maus-tratos ou qualquer O Conselho Tutelar, em ação conjunta com
fator que possa prejudicar seu desenvol- a escola, o encaminhou várias vezes para
vimento físico, mental, espiritual, moral e atendimento no NAPSI (Núcleo de Atenção
social, como é legalmente é garantido pelo Psicossocial à Infância) da cidade e para o
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA CRAS (Centro de Referência e Assistência
(1990) e pela Convenção sobre os Direitos da Social). A família, porém, não o levou, fa-
Criança (1989). zendo com que esse acompanhamento fosse
Pedro bate em todos os colegas, responde abandonado.
agressivamente todos os funcionários, não Ano passado, aos nove anos, Pedro foi le-
permanece em sala, não faz as atividades, vado para um abrigo da cidade vizinha, por
não tem o hábito de levar o material necessá- ordem judicial, conseguido pelo Conselho
rio e nunca entregou qualquer atividade ex- Tutelar. No entanto, um dia após chegar ao
traclasse. No entanto, possui duas peculia- abrigo fugiu e, quando perceberam, ele já
ridades, raramente falta e está alfabetizado. havia tomado um ônibus e chegado de volta
Observando-o, é possível perceber vários em casa.
sintomas que apontam para diagnóstico de Este ano, após inúmeros transtornos cau-
casos de Transtorno do Déficit de Atenção – sados na escola do bairro, ele foi transferido
para uma do bairro vizinho. A justificativa
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Direitos legais x Direitos reais: algumas considerações Deise Keli de Souza
apresentada para a transferência foi o fato mesmo tempo, é fato que, apesar de passar
de a escola fazer parte do projeto “Jornada cinco horas diárias na escola, as outras de-
Ampliada”. Com esse projeto, os alunos fi- zenove horas do dia e os fi nais de semana
cam uma hora a mais por dia na escola e são em casa.
têm acesso a oficinas de dança, informática, O controle da dosagem e do horário dos
música e outras. Assim, Pedro teria na esco- remédios é impossível ser feito pela escola.
la um tempo maior de assistência, já que a Mas deveria ser averiguado se as reações
família defi nitivamente não a oferece. percebidas são as esperadas para o caso ou
Na nova escola, a coordenação e direção não. Nesse caso, outras medidas, como uma
levaram-no ao neurologista que atende na nova notificação ao Conselho Tutelar, preci-
policlínica da cidade. Lá, por não tratar de sam ser tomadas, pois agora existe um risco
crianças, o médico o encaminhou para um de morte para essa criança. Medicamentos
psiquiatra infantil. Com algumas interven- como esses podem levar ao óbito, no caso de
ções junto à Secretaria Municipal de Edu- não serem tomados adequadamente.
cação, foi conseguido o agendamento dessa É lindo ver leis que tratam dos direitos da
consulta pelo SUS, na área hospitalar do criança e se preocupam com eles, leis que
centro de Belo Horizonte. Nenhum familiar tratam do respeito e da assistência para seu
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 12
AUTORA:
Elisabeth Efigênia Duarte Severino Aleme
constante reflexão sobre sua prática. Como garantir à mais as relações com colegas.
criança o desenvolvimento do conhecimento escolar frente O clima da sala de aula confi rma que o
a influências e possíveis dificuldades do cotidiano? Como processo de socialização abrange bem mais
a escola pode viabilizar sua função de socializar o aluno? que uma formação de hábitos e atitudes para
a vida em sociedade, envolve a vivência de
ritos, valores e a compreensão da produção
A
escola constitui-se como um espaço humana, ou seja, a construção do conheci-
que pode viabilizar a construção dos mento escolar.
conhecimentos científicos, mas de Segundo a professora, a aluna precisava
forma a satisfazer as necessidades do aluno de um acompanhamento e pediu ajuda à
tanto nas capacidades intelectuais como nas orientadora. Montalvão (1980, p. 92) afi rma
sociais. Nessa perspectiva, o relato de uma que “essa criança levará consigo essa marca
aluna socioeconomicamente menos favoreci- durante muitos anos e nunca recuperará
da pretende demonstrar as ações educativas a confiança perdida”. No entanto, Vygotsky
que foram necessárias para a sua permanên- aponta os conhecimentos científicos formais
cia na escola, bem como refletir em relação à que ocorrem na escola com as interações
importância dessas ações no desenvolvimen- entre as professoras e as crianças, que
to da aluna. acontecem por meio de orientação intencio-
Em 2008, a aluna Maísa1, de 6 anos, foi nal e explícita, no sentido de proporcionar
matriculada na 1ª série do Colégio Laurea- o aprendizado desses conhecimentos siste-
no. 2 Dada sua situação socioeconômica, foi- matizados, como um campo propício para
lhe concedida uma bolsa de estudos, já que que as crianças possam gradativamente dar
a escola é uma entidade fi lantrópica. significados e simultaneamente organizar
Em sala de aula, a professora constatou um novo mundo.
que seus comportamentos e atitudes eram Nesse sentido, para o levantamento do
atípicos em relação aos dos colegas e, a cada histórico de vida da aluna, foi realizada
dia, apresentava atitudes de agressividade, uma conversa com a aluna sobre sua vida
não conseguia acompanhar as atividades cotidiana, seu relacionamento com a família
dadas. Chorava com frequência e tinha difi- e com outras pessoas. A menina disse que
culdade para se relacionar com os colegas. gostava muito dos tios e da avó e que todos
Para a professora, a dificuldade concen- gostavam dela. Ela disse que gostava da es-
trava-se no excesso de atenção exigida pela cola. Posteriormente, a coordenadora pediu a
aluna para conseguir realizar parte das presença da responsável: a avó. Esta descre-
atividades e atender a uma das funções da veu situações da vida cotidiana de Maísa. A
educação infantil, que é a socialização da aluna não tem pai nem mãe e sofreu abuso e
criança. Para os colegas de sala, o transtor- tortura quando em companhia de seus pais.
no era a desconcentração advinda da situ- Algum tempo depois, Maísa foi abandonada
pelos pais e atualmente é criada pela avó.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
Diante dos relatos, a coordenadora con-
2. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Educação infantil - transtorno sócio afetivo no ato educativo Elisabeth Efigênia Duarte Severino Aleme
REFERÊNCIAS:
BRUNO, Eliane Bambini Gorgueira, Desejo e
condições para mudança no cotidiano de uma
coordenadora pedagógica. In: PLACCO, Vera
Maria de Souza, ALMEIDA, Laurinda Rama-
lho de (Orgs.). O coordenador pedagógico
e o cotidiano da escola. 5. ed. São Paulo:
Loyola, 2008.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 13
AUTORA:
Elizabeth Silvana de Oliveira Satil
de TDAH usados como uma justificativa confortável o aluno e, num momento preciso, convida os
para o fracasso escolar. pais para uma conversa com a fi nalidade de
expor as dificuldades do fi lho.
A
escola onde foi realizado o estudo de Nessas conversas costuma identificar al-
caso atende a alunos do maternal ao guns fatos que ajudam a explicar o problema:
ensino fundamental. O coordenador mães que tiveram uma gravidez difícil, pais
pedagógico alega que, embora isso não seja com relacionamentos confl ituosos, separa-
claro para a Direção, ele caracteriza a insti- ções dos pais, dentre outros. A partir dessa
tuição como inclusiva. Informa que recebem conversa, orienta os pais para que procurem
alunos com suspeita de Transtorno do Déficit um profissional, psicólogo ou psicopedagogo,
de Atenção com Hiperatividade e alguns são para o fi lho. Após o diagnóstico do profissio-
matriculados com o diagnóstico de TDAH. nal, esse aluno recebe acompanhamento da
Buscando informações a respeito do coordenação da escola e do corpo docente.
Transtorno do Déficit de Atenção com Hi- Segundo o coordenador, muitas escolas
peratividade, descobre-se que é um trans- ainda tentam ignorar os alunos com TDAH,
torno neurobiológico, de causas genéticas, mas, na realidade, esses alunos estão por
que aparece na infância e, frequentemente, toda parte. Cabe à escola e aos seus pro-
acompanha o indivíduo por toda a sua vida. fissionais se adaptarem, buscando juntos
Ele se caracteriza por sintomas de desaten- informações a respeito de como atender
ção, inquietude e impulsividade. melhor esses alunos no processo de ensino-
Eduardo1, coordenador da escola, informa aprendizagem.
que, a princípio, encontrou dificuldades em Eduardo citou o caso do aluno Caio 2 . Ele
receber esses alunos por falta de apoio. Os chegou à escola com muita dificuldade na
professores, geralmente, não possuem capa- aprendizagem, desatenção, lentidão na assi-
citação para lidar com TDAH, o que torna milação de conteúdos disciplinares e medo
difícil o processo de ensino-aprendizagem de socializar-se. Os pais admitiam o fato e
dos discentes. informaram a respeito de suas expectativas.
O coordenador diz que, mesmo com as Caio recebeu o diagnóstico de TDAH e hoje
dificuldades, tem conseguido realizar um recebe acompanhamento de uma psicóloga,
trabalho que amenize os problemas no aten- apoio escolar e atenção de uma estagiária
dimento desses alunos. Alguns pais matri- que o ajuda nas atividades.
culam seus fi lhos cientes das dificuldades O coordenador diz que Caio vem progre-
deles e comunicam à supervisão, outros dindo bastante nas atividades escolares e na
casos são observados pela professora e di- socialização.
recionados à coordenação. Estes últimos, os A coordenação da escola procurou um
pais costumam criar resistência em admitir caminho seguro a trilhar com relação aos
a suspeita de TDAH. alunos com suspeita de TDAH (hiperativi-
dade) e aos casos já diagnosticados. Sendo
1. Nome fictício, para preservar a identidade do coorde-
nador pedagógico. 2. Nome fictício para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Como a gestão escolar acompanha os alunos com hiperatividade (TDAH) Elizabeth Silvana de Oliveira Satil
REFERÊNCIA:
ROHDE, Luis Augusto; BENCZIK, Edyleine.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hipera-
tividade. Porto Alegre: Artmed, 2006.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 14
AUTORA:
Érika Amanda de Freitas Machado
torno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) a conversar com a Coordenadora para expor
e as tentativas da escola e da família para amenizar as os fatos que pudessem ser as causas da que-
dificuldades que inviabilizavam o processo de ensino- da do desempenho daquela turma.
aprendizagem. Ao descrever a situação para a Coordena-
dora, a professora relatou os motivos reais
M
organa1 iniciou sua vida escolar em da queda do rendimento da turma: a agita-
2007, aos 6 anos, em uma escola ção de Morgana na sala de aula resultava em
da Rede Municipal de Ensino. Hoje, distração dos demais alunos, o que dificul-
aos 7 anos, está no segundo ano do Ensi- tava e muito o trabalho pedagógico na sala.
no Fundamental. Sua adaptação foi difícil, Diante do relato, a coordenadora começou
pois ela nunca havia participado de uma o estudo de caso de Morgana, não só para
rotina escolar e, consequentemente, desco- ajudá-la a conseguir acompanhar as aulas,
nhecia as regras e os tempos de realização mas também para que a professora conse-
de cada atividade. A professora do primeiro guisse ensinar sem maiores problemas, al-
ano relatou que os combinados feitos com guma atitude deveria ser tomada.
a turma não eram respeitados por Morgana, A Coordenadora e a professora se reuni-
que sempre queria sobrepor suas vontades ram com os pais da aluna, que foram in-
às determinações da professora. formados sobre o comportamento da fi lha
A aluna sempre se mostrou muito inte- em sala de aula. E se preocuparam, pois
ressada em descobrir os espaços da escola, esse comportamento agitado de Morgana
se destacava em atividades ao ar livre e, se repetia em casa. Apesar de a criança ser
principalmente, nas aulas de Educação Físi- obediente aos pais, principalmente ao pai,
ca. Em sala de aula, Morgana demonstrava ela apresentava impaciência ao assistir tele-
interesse somente pelo início das atividades visão, por exemplo. Estava sempre cantan-
propostas, o que pareceu normal aos olhos do; conversando, mesmo com os brinquedos;
da professora que, com frequência, alterna- mexendo em algo; tentando atrair para si
va as atividades para toda a turma, a fi m a atenção de todos a sua volta. Enfi m, era,
de que não os expusesse a uma rotina can- sem dúvida, uma criança inquieta.
sativa, afi nal, crianças de seis anos não se Orientados pelos profissionais da escola,
concentram em atividades longas por muito os pais da aluna procuraram um pediatra,
tempo. que os encaminhou a um neurologista. O
No início de 2008, no segundo ano, o en- neurologista diagnosticou que Morgana
tendimento de Morgana frente às regras e apresentava Transtorno do Déficit de Aten-
aos combinados em sala já estava evidente, ção com Hiperatividade (TDAH), e que seria
porém seu comportamento não era o espe- necessária uma medicação que controlaria
rado. Frequentemente, a professora, a mes- os sintomas apresentados, deixando-a me-
ma do ano anterior, precisava chamar-lhe a nos agitada.
atenção, pedir que se assentasse ou fi zesse Os pais, receosos, somente após dois diag-
nósticos de médicos diferentes aceitaram
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Como as dificuldades podem levar à melhora do processo... Érika Amanda de Freitas Machado
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 15
AUTORA:
Gabriela dos Santos Ferreira
de caso realizado em uma escola pública, com um aluno apresenta baixo desempenho no processo de
do ensino fundamental que apresenta depressão infantil, ensino-aprendizagem.
causada pela falta de afetividade e de estrutura familiar. Segundo a professora, durante sua per-
manência na escola o garoto evidenciava,
A
família é essencial para o desenvol- frequentemente, cefaléia, dores abdominais,
vimento do indivíduo, independen- diarréia, falta de apetite, muito sono, irri-
temente de sua formação; é no meio tabilidade, agressividade com todos, choro
familiar que o indivíduo tem seus primeiros sem razão aparente, dificuldades cognitivas,
contatos com o mundo externo. Essa con- comportamento antissocial, indisciplina e
vivência é fundamental para que a criança está envolvido com frequência em situações
se insira no meio escolar sem problemas de que oferecem perigo à sua integridade física.
socialização e interação. A família deve aco- Essa situação foi confi rmada por sua pro-
lher a criança, oferecendo-lhe um ambien- fessora do primeiro ano, que admitiu não ter
te estável e amoroso. Muitas, infelizmente, tomado qualquer providência.
não conseguem manter um relacionamento Segundo Briza e Del Claro (2005), para
harmonioso. que o professor possa ajudar o aluno, é ne-
Sabemos que a família ocupa uma posição cessário que se estabeleça uma relação de
de total acuidade para a garantia da assis- amizade e confiança. E esta foi a primeira
tência dos fi lhos, sendo que é essa instituição razão de mudança da professora. João criou
que propicia os aportes afetivos e, sobretudo, um grande carinho por ela, mas isso não foi
materiais necessários ao desenvolvimento e o suficiente, pois o garoto apresentava as
bem-estar. A lei garante a participação dos mesmas patologias. No entanto, passou a
fi lhos no processo de ensino-aprendizagem, respeitar a professora e a ter pequenas con-
todavia, nem sempre as famílias se dispõem versas, numa das quais relatou que a mãe só
a essa participação. O dever da família com se importava com o namorado e o pai nunca
o processo de escolaridade e a importância ia vê-lo. Os raros momentos que ele passava
da sua presença no contexto escolar é publi- com aos pais eram para presenciar cenas de
camente reconhecido na legislação nacional violência física. Assim preferia passar o dia
e nas diretrizes do Ministério da Educação. na rua, pois seus amigos lhe davam atenção.
Afetividade é um dos subsídios que com- É evidente que essa criança não é assistida
põem o ser humano e norteiam o seu com- pelos pais.
portamento; se o indivíduo não consegue Após esta observação, foi solicitada a pre-
exteriorizar suas emoções, possivelmente sença da mãe na escola para ser posta a par
ele se frustrará e não alcançará claramente de toda a situação. Ela relatou à professora e
seus objetivos, podendo até mesmo se preju- à coordenadora que, em relação ao compor-
dicar ou lesar outrem. tamento do fi lho, em casa não era diferente.
João1 é uma criança de sete anos, iniciou E segue dizendo que a situação se agravou,
a sua vida escolar no ano de 2008, hoje fre- passando o garoto a apresentar mudança
brusca de comportamento, após ela ter ar-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Depressão na infância: a relevância da estrutura e do... Gabriela dos Santos Ferreira
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 16
AUTORA:
Gislene Pereira das Graças
em uma escola da rede privada na região de Nova Lima. vários erros por descuido, parece não ouvir
A escola é um microcosmo que reflete o mundo exterior. quando alguém lhe fala diretamente, perde
Problemas emocionais e comportamentais podem afetar objetos frequentemente e é agressivo com os
o processo de ensino-aprendizagem, gerando problemas seus colegas. Muitos até sentem receio em
peculiares que se projetam para além dos muros. fazer trabalhos com ele, que fica em grande
parte do tempo isolado da turma. Quando o
O
objetivo deste estudo é instigar o professor diz algum assunto que o interessa,
educador em relação aos problemas como televisão, videogames e outros, João
que podem ocorrer quando o educan- fica superconcentrado.
do sofre de pequenos distúrbios emocionais. A supervisora escolar, ao ser abordada
O motivo que desencadeou este estudo foi em relação ao aluno com dificuldade de
o interesse em pesquisar: até que ponto a aprendizagem, responde da seguinte forma:
atuação do professor e do supervisor pode “Se o aluno tiver dificuldade muito acentua-
interferir no processo de aprendizagem de da, converso com o psicólogo e comunico aos
crianças com hiperatividade, no Ensino pai. Dependendo da avaliação, será usado o
Fundamental. Na pesquisa, utilizei uma melhor meio para auxiliar o aluno.”
entrevista com a supervisora escolar e fiz Perguntada sobre as atividades sugeridas
uso de vários sites de busca e revistas que aos professores com alunos com dificulda-
me esclareceram como viver bem com a hi- des, ela respondeu: “Ajudo o professor para
peratividade ou com qualquer distúrbio de que ele se prepare adequadamente para re-
aprendizagem através de uma orientação ceber esse aluno e, se for o caso, o encami-
adequada. nho ao psicólogo.”
João1 é aluno do 7º ano e possui grandes De acordo com a supervisora, a escola
dificuldades de concentração. Os professores não teve acesso ao laudo do João, embora a
são graduados e participam, periodicamente, família afi rme que o possua. A única forma
de cursos de formação continuada. Os alu- que a escola tem para comprovar o distúrbio
nos demonstram interesse pelas aulas e são do aluno é o relatório dos professores, in-
bastante questionadores. A escola oferece cluindo também o boletim escolar.
uma infraestrutura adequada para crianças A família não é muito participativa e, mui-
e/ou adolescentes considerados “normais”. tas vezes, os professores ficam sem recursos
Os alunos com melhor desempenho têm os para trabalhar com o aluno.
pais mais participativos, ao contrário da- O supervisor escolar deve ser fonte de ins-
queles com baixo desempenho. piração dos seus professores, conduzindo-os
Suspeita-se que João tenha Transtorno de à criticidade da realidade e do mundo. A su-
Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, pervisora tenta fazer com que a família par-
uma doença de origem genética que pode ticipe mais vezes da vida escolar do aluno,
vir ou não associada à hiperatividade. Pode porque, de acordo com ela, poderá contribuir
aparecer antes dos três anos de idade. para um enorme avanço no desenvolvimento
dele.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Distúrbios emocionais: um desafio no ato de educar Gislene Pereira das Graças
REFERÊNCIA:
KAPLAN, Harold I; SADOCK, Benjamin J;
GREB, Jack A. Compêndio de psiquiatria:
ciências do comportamento e psiquiatria.
Trad. Dayse Batista -7. ed. Porto Alegre: Art-
med, 1997.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 17
AUTORA:
Juliana Aline Pereira Felipe
cognitiva de um aluno novato, com determinadas limi- pervisora orientou os pais a requererem um
tações em relação ao seu desenvolvimento cognitivo, que, laudo psicológico do qual contassem infor-
de acordo com a psicóloga, podem ter surgido pelo fato de mações sobre o desenvolvimento do aluno.
seu parto haver sido prematuro. Passadas três semanas, os pais compa-
receram ao colégio com o laudo em mãos
R
odrigo1 é aluno da Escola Feliz2, um e o entregaram à coordenadora, que fez
colégio particular de Belo Horizonte, um estudo minucioso com a professora de
MG. Atualmente, o aluno se encon- Rodrigo. O laudo apresentou os seguintes
tra matriculado na 2ª Série, antiga 1ª Série. resultados:
Está com 7 anos. Rodrigo é um aluno dócil O aluno foi avaliado através da Escala de
e interessado, que se socializa muito bem Inteligência Wechsler – Wisc III e a Escala de
com os outros colegas. Contudo, ainda não Matrizes Progressivas – Raven – Escala Es-
adquiriu a leitura. Só reconhece letras e sí- pacial. Esses testes são usados para avaliar
labas isoladas, mas não as associa criando o desenvolvimento cognitivo, a inteligência,
palavras e frases. Sua atual professora pro- a memória e a situação neuropsicológica.
curou a supervisora para que agendassem Os resultados do Wisc III demonstraram
uma conversa com os pais do aluno e, quem uma maior habilidade verbal, obtendo uma
sabe, pudessem conseguir um avanço, tendo faixa média no desempenho do aluno, mas,
em vista que o aluno é bastante esforçado e quanto aos outros testes, foram observados
dedicado. pela avaliadora déficits na organização per-
A supervisora marcou um atendimento ceptual e pouca habilidade visomotora. Os
com os pais e a professora. Os pais compare- dados quantitativos da área executiva situa-
ceram prontamente ao atendimento e deram ram-se em faixa inferior, bem abaixo do es-
várias informações valiosas. Uma delas foi perado para a idade. O subteste que alcançou
a de que o aluno nasceu prematuro e ficou o pior desempenho foi o de aritmética, tendo
internado na UTI neonatal durante 62 dias. o aluno ficado com a pontuação de -4, sendo
Tem deficiência visual em decorrência do par- que o esperado para a faixa etária é de 3,47.
to prematuro. O aluno passou por um acom- Os subtestes de execução com desempenho
panhamento com um fonoaudiólogo durante mais fraco foram: completar figuras, arranjo
3 anos e atualmente recebeu alta, tendo em de figuras e cubos, subtestes altamente per-
vista que os principais distúrbios fonativos ceptivos que exigem organização espacial.
foram sanados. Além do atendimento fono- O teste de Raven mostrou deficiências
audiológico, o aluno passa por outros acom- pontuadas no teste que dizem respeito à
panhamentos, o psicológico, desde os 3 anos orientação espacial falha, muitos erros de
rotação de figuras. O aluno consegue re-
alizar tarefas que estejam relacionadas à
1. Nome fictício, para a preservação da identidade do linguagem matemática, nos seus conceitos
aluno. básicos, mas ainda não consegue realizar
2. Nome fictício, para a preservação da identidade da
operações simples com números.
escola.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O desenvolvimento escolar de um aluno com limitações que... Juliana Aline Pereira Felipe
REFERENCIAS:
COLE, Michel; COLE, Sheila R. O desenvol-
vimento da criança e do adolescente. 4. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2004. 800 p.
<http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-
7 9 7 2 2 0 0 2 0 0 0 3 0 0 0 1 4 -
&tlng=en&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 19
de maio de 2009.
<http://www.rhportal.com.br/artigos/wm-
print.php?idc_cad=ulk2y7pmq> Acesso em:
19 de maio de 2009.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 18
AUTORA:
Kely Aparecida de Oliveira
A
Supervisora Pedagógica, na entrevista, no que lhes era ensinado. Tinham “preguiça
comentou que este caso era apenas um de ler”, por isso atrapalhavam a atenção e
entre tantos vivenciados no cotidiano o aprendizado dos outros alunos. A partici-
de uma escola pública. O estudo de caso foi pação desses alunos no Projeto seria uma
realizado, a princípio, com cinco alunos na possibilidade de que o conhecimento fosse
faixa etária de 11 a 13 anos, matriculados produzido para uma transformação de atitu-
no 6º ano. Apesar de sua experiência, relatou de e abertura para o crescimento.
que foi a primeira vez que atendeu todos os A prática pedagógica adotada se baseou
professores se queixando dos mesmos pro- no pensamento de Paulo Freire (1996) de que
blemas na mesma sala de aula. Diante das “ensinar não é transferir conhecimento, mas
queixas, não apenas ela, mas a escola, foi se criar possibilidades para a sua produção
conscientizando das dificuldades dos profes- ou a sua construção”, e era exatamente o
sores em trabalhar com alunos com déficit que eles precisavam para se desenvolverem.
de aprendizagem, dificuldades de leitura e Consta no relatório que, após duas semanas
interpretação, e problemas disciplinares na no Projeto, os alunos se comportavam me-
mesma sala de aula, juntamente com outros lhor até nos momentos de refeição, liam e
alunos que não tinham melhor desempenho produziam bons textos.
por influência deles. Os outros dois alunos, um de 12 e outro
Devido à indisponibilidade dos profes- de 13 anos, irmãos, após o relatório enviado
sores para atendê-los de forma exclusiva, pela psicopedagoga e o relato dos pais so-
a supervisora decidiu reunir esses alunos bre a trajetória escolar deles, ressaltando
e fazer com eles um trabalho diferenciado. que o período introdutório foi interrompido
O objetivo era desenvolver atividades extra- algumas vezes devido a problemas familia-
classe, aproveitando algumas horas do tem- res, prosseguiram na oficina de leitura or-
po escolar para trabalhar a leitura, a escrita ganizada pela professora e pela supervisora.
e a interpretação em textos sobre valores, Precisavam, realmente, de atividades que
ética e educação, pois a maioria deles tinha propiciassem o letramento e de incentivo ao
comportamentos agressivos e antissociais. prazer de aprender através da leitura, da es-
Para dar início ao processo, foram reali- crita e da interpretação.
zadas reuniões com os pais desses alunos Conforme os Parâmetros Curriculares
para informar a sua situação na escola, Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa,
apresentar a proposta de intervenção, ob- (BRASIL, 1997),
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Indisciplina: possível indício de dificuldade de aprendizagem Kely Aparecida de Oliveira
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 19
AUTORA:
Ladyane Raphaele de Oliveira
gentemente de um diagnóstico médico, mas os pais, por evitando contato físico e visual, caracte-
medo ou insegurança, o adiam. rística de uma criança autista. Em outras
situações, demonstra estar em outro lugar
U
ma grande dificuldade encontrada e nada o traz de volta à realidade. Quando
hoje nas escolas é a resistência dos está nessas situações, sente-se incomodado
pais em aceitar que o filho seja “dife- ao voltar à realidade, ficando bastante irri-
rente” ou que possua a necessidade de um tadiço, atrapalhando o desenrolar da aula,
cuidado e uma atenção maiores. Isso interfe- até o momento em que se deita no chão de-
re negativamente no trabalho da escola e da baixo da mesa da professora e se acalma.
professora, impedindo que ajudem a criança Muitas vezes, quando está longe (em outro
de forma eficaz. “mundo”), costuma conversar sozinho, como
Em uma escola privada de Belo Horizonte, se estivesse com alguém. Esse aspecto nos
Leonardo1, uma criança de 7 anos, precisa remete à questão de esquizofrenia.
urgentemente de um diagnóstico médico. Os Leonardo, muitas vezes, demonstra-se
pais afi rmam já ter procurado um especia- irritado ao participar de algumas atividades
lista, que afi rmou tratar-se de hiperatividade propostas pelos professores, fazendo ame-
em um estágio avançado. O laudo, no entan- aças como: “eu vou mandar um monte de
to, nunca chegou às mãos da coordenadora alienígenas aqui neste colégio e vou explodir
ou da professora. todo mundo”, precisando da intervenção da
Desde o início de sua vida escolar, Leo- professora para tentar acalmá-lo.
nardo demonstrou ser uma criança dife- Em uma conversa da professora com a
rente das demais. Mostra-se extremamente mãe, foi pedido que buscassem Leonardo na
inquieto, medroso em algumas situações, escola por volta de 15h, pois, após esse horá-
violento quando se sente ameaçado, mas, ao rio, ele não podia mais ser controlado. E isso
mesmo tempo, demonstra uma necessidade seria uma forma de ele sentir confiança e
imensa de receber carinho e atenção. Apa- segurança, uma vez que a mãe estaria perto
renta viver no mundo da imaginação, num quando precisasse. Esse episódio aconteceu
mundo irreal, onde ele é um super-herói e somente três vezes, a mãe não o fez mais.
as pessoas ao seu redor são inimigas ou Diversas vezes a mãe foi chamada na es-
monstros. Na última vez em que se fanta- cola, prometendo levar o fi lho ao neurope-
siou de homem-aranha, a professora teve diatra, o que ainda não se verificou. A escola
que ter um cuidado especial, pois o mesmo sugeriu que procurassem uma escola espe-
foi encontrado com o corpo fora da janela, cial para que ele recebesse tratamento mais
pronto para pular. É muito inteligente, mas intenso e mais de perto. A mãe disse estar
suas atividades têm que ser acompanhadas procurando outra escola, mas nada ainda
de perto, uma vez que nem sempre a faz e, foi decidido.
quando feita e não recolhida, é rabiscada e A mãe é psicóloga e, após várias con-
recebe vários desenhos de monstros. versas com a professora, assumiu ter feito
ela mesma o estudo do caso de Leonardo,
1. Nome fictício para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Um caso a ser diagnosticado Ladyane Raphaele de Oliveira
REFERÊNCIAS:
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 20
AUTORA:
Laura de Oliveira Matos Duarte
na rede estadual de ensino, o seu percurso, a preocupação senvolveriam os aspectos pedagógicos, como
dos professores, bem como a constatação da falta de re- enfrentariam as questões relacionadas ao
cursos que os profissionais da rede escolar vivenciam. cotidiano fora da escola e à autoestima, en-
tre outros fatores determinantes do desen-
E
ducar, nos dias atuais, não é tarefa volvimento de qualquer pessoa.
fácil. Embora tenham sido abertas No início do ano letivo de 2009, a Escola
novas e múltiplas possibilidades para Estadual Gaspar Soares recebeu a aluna
a inclusão na educação, será que estamos com 100% de deficiência visual. Os professo-
mesmo preparados para incluir? res se viram, pela primeira vez na história da
Este artigo relata a história de Luana , escola, diante de um problema que não era
uma deficiente visual de 18 anos, matricu- de disciplina ou afetividade. Depararam com
lada no 5º ano da rede estadual de ensino, a realidade de mais uma das muitas escolas
numa cidade do interior, na Zona da Mata de públicas brasileiras. E, agora? Como incluir?
Minas Gerais. Como trabalhar com a aluna para obter um
Como ponto de partida, busco informa- resultado satisfatório? Braile! Como podere-
ções na lei para saber como abordar um mos passar atividades de alguns livros em
assunto tão discutido nos últimos tempos braile, se não sabemos lê-los? Muito menos
pelos profissionais da educação e todos os escrevê-los!
interessados em inclusão escolar. Muitas foram as dúvidas, os questio-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação namentos, as reuniões entre professores,
(LDB) 9.394/96, em seu capítulo V, sinaliza supervisora, diretora e pais para que nada
que a educação dos portadores de necessi- fugisse ao controle da inclusão implantada
dades especiais deve se dar, preferencial- na rede pública.
mente, na rede regular de ensino e aponta Mutirão de funcionários na biblioteca
uma nova concepção na forma de entender para descobrir livros com o método braile
a educação e a integração dessas pessoas. de leitura. Revistas e reportagens expostas
No entanto, não garante que as pessoas com no mural da sala dos professores. Reuniões
necessidades especiais terão os seus direitos intermináveis com a mãe, para buscar ma-
respeitados. neiras de acolher melhor a adolescente. Tudo
Luana frequentou uma escola da rede isso foi feito para integração de Luana na es-
pública municipal de ensino, destinada ao cola com seus novos colegas e professores.
Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série. Po- Apesar de algumas descobertas, ainda
rém, essa frequência se deu na medida do faltava muito: livros e material para se tra-
possível, pois a mãe nunca deixou Luana se balhar Geografia e Inglês, por exemplo. E as
guiar sozinha. Apesar disso, a aluna foi al- dúvidas eram muitas sobre como proceder
fabetizada em braile por uma professora que com essa aluna em termos de processo ensi-
recebeu um treinamento específico. no-aprendizagem e de avaliação. Os profes-
O tempo foi passando e a preocupação da sores tentam se adequar e promover a inclu-
família aumentando, pois gostariam que a são, tomando isso como uma lição de vida.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Deficiência na era da inclusão Laura de Oliveira Matos Duarte
REFERÊNCIA:
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Di-
retrizes e Bases da Educação Nacional
9.394/96, 20 dez.1996. Brasília, 1996. Dis-
ponível em: www.portal.mec.gov.br. Acesso
em: 15 de abril de 2009.
60
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 21
AUTORA:
Lílian Ferreira de Souza
M
eire tem 22 anos e está no 8º ano mória, pensamento, raciocínio, percepção,
do Ensino Fundamental numa linguagem e comportamento. Esses aspec-
escola pública estadual, em Belo tos foram observados e, a partir de algumas
Horizonte. conclusões relativas ao ensino-aprendiza-
O diagnóstico de dificuldade de aprendi- gem, foram realizados encaminhamentos a
zagem foi feito no 2º ano do Ensino Funda- especialistas.
mental, em outra escola pública, a partir de Apesar de efetivas melhoras com relação
observações e avaliações, nas quais houve à dicção e também na escrita, após trabalho
percepção de dificuldades de pronunciar e realizado pelo fonoaudiólogo e a intervenção
escrever corretamente as palavras, diferen- psicológica, percebe-se uma sensação de
temente da maioria dos alunos da mesma incapacidade, existem barreiras que a impe-
faixa etária. Em algumas atividades perce- dem de mudar a situação, segundo a Coor-
beu-se a falta de atenção, melhor defi nida denadora Pedagógica.
como dificuldade em manter a concentração A aluna tem o apoio somente da mãe, o
durante a realização de trabalhos, em grupo pai prefere tirá-la da escola, uma vez que
ou individualmente. não consegue acompanhar as turmas nem
A aluna foi encaminhada para a APAE ¬ avançar no sentido de aprendizagem.
Associação de Pais e Amigos dos Excepcio- Rutter (1989) afi rma que estudos realiza-
nais, de Belo Horizonte, onde foi assistida dos na Inglaterra confi rmam a ligação entre
até os 15 anos de idade. Nessa Associação, a saúde fragilizada, problemas psicológicos
estudante passou primeiro por uma avalia- e educacionais. Os sintomas identificados
ção pedagógica e, mediante confi rmação de através desses estudos foram desatenção,
suas necessidades, foi efetivada a matrícula. hiperatividade, depressão e comportamentos
Na APAE, além de acompanhamento pedagó- desviantes associados a problemas emocio-
gico, garantiam-lhe apoio social, passe livre nais e à leitura, apontando ainda as adversi-
com direito a acompanhante, monitorias e dades familiares como causa de disfunções
atendimentos médicos, como fonoaudiólogo orgânicas do sistema nervoso e distúrbios
para avaliação do uso da linguagem, dos ór- no temperamento das crianças.
gãos da fala, da escrita, da voz e da audição, Enquanto os alunos eram avaliados
que era o mais preocupante no momento. quantitativamente, a estudante não avan-
Após algumas seções com o fonoaudió- çava. A partir do processo de avaliação em
logo, a aluna foi encaminhada ao neurolo- que as escolas passaram a trabalhar com os
gista, que realizou os exames necessários e ciclos e conceitos, a aluna conseguiu supe-
constatou que a estudante estava em perfei- rar certas dificuldades, com o empenho de
to estado, não havia laudo clínico para con- alguns professores e com a intervenção da
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão de uma aluna com dificuldade de aprendizagem Lílian Ferreira de Souza
REFERÊNCIAS:
ENUMO, Sônia Regina Fiorim; FERRÃO, Eri-
ka da Silva; RIBEIRO, Mylena Pinto Lima.
Crianças com dificuldade de aprendizagem e
a escola: emoções e saúde em foco. Estudos
de Psicologia. Campinas, 2006.
62
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 22
AUTORA:
Luciana Santos Barbosa
O
educador, em seu cotidiano escolar, uma avaliação segura do problema. Se seu
deve estar mais atento ao desenvolvi- diagnóstico for dificuldade cognitiva, ele
mento de seus alunos, pois cada um deve ser encaminhado para um psicopeda-
é único, tem necessidades diferentes. É de- gogo, que o ajudará no desenvolvimento dos
safiador para o professor o aluno que chega processos de aprendizagem.
ao 9º ano sem dominar os princípios básicos É mediante um diagnóstico detalhado
do ensino que independem de metodologia, que a escola e a família poderão se orien-
em turmas cuja disciplina, às vezes, deixa tar para dar a atenção necessária ao aluno.
muito a desejar. Não se pode trabalhar no “faz-de-conta”, no
Segundo o Prof. Abgar Renault, “a tarefa “talvez seja”. Precisamos de bases seguras
de ensinar é cada vez mais dura e ingrata: para darmos ao aluno todo o apoio de que
ambiente social, solicitações de várias natu- ele necessita. De outra forma, não se poderá
rezas, falta de respeito dos alunos, ausência chegar a lugar algum.
de qualquer sentimento de dever, má remu-
neração, tudo se situa abaixo da majestade
da missão”.
Essa situação se agrava quando percebe-
mos que o professor vem se deparando com
um aumento da violência nas salas, sendo
diversos os episódios envolvendo agressões
verbais, físicas e simbólicas à comunidade
escolar, fato que desvia a atenção dos demais
problemas, ocultando a dificuldade do aluno
que geralmente é calado e tímido.
José1 é um aluno que passou por uma ci-
rurgia na cabeça ainda bebê. Os professores
não sabiam de seu problema, desconhecem
sua trajetória escolar e sua história de vida.
Ele tem dificuldade de aprendizagem, não
consegue acompanhar a turma, mas é mui-
to esforçado. O trabalho com ele, para surtir
efeito, tem que ser diferenciado.
A família deve sempre estar em parceria
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dificuldade ou falta de compreensão? Luciana Santos Barbosa
REFERÊNCIA:
COLL, César. Aprendizagem Escolar e
Construção do Conhecimento. Trad. Emília
de Oliveira Dihel. Porto Alegre: Artes Médicas,
1994.
64
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 23
AUTORA:
Márcia Rivane Gomes Guarda
pode ter se tornado violenta para chamar a atenção dos Em desabafo, a mãe diz que sua fi lha de
pais e dos educadores para uma situação indesejável que 15 anos, também na mesma escola, não está
pudesse estar vivenciando. dormindo em casa e desconfia que ela está
infi ltrada no mundo das drogas.
N
uma escola pública situada na região A adolescente ficou três meses de adver-
periférica de Belo Horizonte, um alu- tência por causa do grande número de faltas.
no da 4ª série do ensino fundamental A mãe acredita ser por causa do namorado
demonstrava comportamento bastante agi- de 16 anos. O namorado está no mundo das
tado, não prestava atenção às aulas, exibia drogas e já foi pego pela polícia com arma,
para os colegas o órgão genital e não deixava A mãe reclama que a fi lha leva o namo-
os colegas prestarem atenção nas aulas. rado para sua casa quando ela está ausente
Diante da preocupação da professora e e colocam fi lmes inadequados na presença
da escola, conversamos com a mãe do alu- do irmão. Ela já deu conselho à fi lha, mas
no. A professora revelou as dificuldades de não adiantou. Desorientada, apelou para o
interação da criança com os colegas. Como conselho tutelar fazendo pedido de socorro
recomenda Ferreira, procuramos manter O conselheiro pediu uma declaração ou
sempre uma posição ética diante da situa- um relatório esclarecendo o máximo possí-
ção, procurando dialogar com a família para vel sobre o comportamento do educando.
conseguir resolver os problemas que surgem Como o comportamento do aluno com as
no cotidiano escolar. professoras sempre foi razoável, o problema
A mãe confessou que seu fi lho faz trata- era com os colegas menores, foi sugerida a
mento com psicólogo, há três anos, e com sua mudança de sala. A mãe aceitou e assim
psiquiatra e fonoaudiólogo, dos 3 aos 5 anos. foi feito. Após poucos, os resultados positivos
No diagnóstico do psiquiatra, não consta foram surgindo, e até o presente momento,
nada. Segundo Costa (1994, p. 26), “além de na socialização, a criança encontra-se me-
entrevistas, exames clínicos e psicológicos, nos agitada.
descrição de sintomas, há necessidade de se A mãe descobriu que a criança estava
fazer um diagnóstico, de procurar uma etio- sendo violentada e está tomando as provi-
logia e de se estabelecer um prognóstico”. dências cabíveis.
A mãe relata que o fi lho é agressivo A ação de trocar o aluno de sala foi posi-
desde os três anos de idade. No diagnóstico tiva, seu comportamento melhorou muito. A
do psicólogo, foi detectada hiperatividade. professora que atualmente o acompanha diz
O problema de agitação tem acontecido que ele está equilibrado, e afi rma também
na escola e no projeto de socialização. A que, quando ele começa a querer brigar, ela
mãe reclama que já não sabe o que fazer, relembra baixinho que agora ele está numa
tem três fi lhos, é a única pessoa para cuidar sala de crianças maiores que ele. Na sala
das crianças, pois o pai não ajuda em nada. anterior, seus colegas tinham 6 e 7 anos, na
Está desempregada há um ano, perdeu o turma atual são crianças de 9 a 12 anos.
emprego de confeiteira por ter se ausentado É importante ressaltar a responsabilida-
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Criança, a maior vítima de agressão Márcia Rivane Gomes Guarda
REFERÊNCIAS:
COSTA, Dóris Anita Freire. Fracasso escolar:
diferença ou deficiência? Porto Alegre: Kua-
rup, 1994.123 p.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 24
AUTORA:
Maria Aparecida Rocha
de um aluno de uma escola pública, com TDAH, em pro- até mesmo “ausente”.
cesso de inclusão. Foi levantada também a hipótese de estar
associado a outra síndrome, a discalculia,
E
lton , 14 anos, exibe um quadro ca- pois o aluno apresenta muita dificuldade de
racterístico de um portador do TDAH raciocínio lógico-matemático. Não consegue
– Transtorno de Déficit de Atenção resolver situações-problemas e operações.
e Hiperatividade, e tem sido preocupação A escola tem um papel muito importante
constante dos educadores da escola. Foi ofe- e desafiador para atender às necessidades
recido subsídio teórico aos professores para educacionais de um aluno com TDAH. Os
a compreensão do caso. Eles foram informa- professores e demais profissionais que li-
dos do estudo sobre o aluno, sendo-lhes in- dam com ele na escola precisam conhecer o
dicadas possibilidades de intervenção, com transtorno e o que fazer para possibilitar a
vistas à inclusão plena do aluno. aprendizagem do aluno, criando alternativas
O termo inclusão é utilizado para descre- para atendê-lo, adequando as estratégias de
ver o direito à educação e o apoio a todos os ensino às suas necessidades.
indivíduos com deficiências ou dificuldades O tratamento adequado pode representar
que comprometem o seu desenvolvimento em grande passo para minimizar o impacto
escolar. negativo que o TDAH traz à vida da crian-
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hi- ça. As intervenções tornam-se essenciais no
peratividade, o TDAH, pode ser um distúrbio tratamento, e a escola tem uma contribui-
que, se não tratado, pode apresentar várias ção importantíssima para o sucesso desse
complicações, se estendendo até a vida adul- aluno.
ta. O TDAH, problema classificado como Vários aspectos devem ser considerados
neuropsiquiátrico, deve ser diagnosticado no tratamento: esclarecimento aos pais so-
por um médico psiquiatra ou psicólogo, po- bre o transtorno; orientações à escola; psi-
dendo existir uma equipe de diferentes pro- coterapia; intervenção psicopedagógica; me-
fissionais que cuidarão do paciente, entre diação; técnicas de reabilitação da atenção;
eles neurologista, psicólogo. psicopedagogo, entre outras intervenções adequadas à real
fonoaudiólogo, psiquiatra... necessidade do aluno.
O transtorno caracteriza-se por uma A coordenação da escola conversou com
combinação de sintomas de desatenção, hi- a mãe sobre o estudo realizado com o fi lho
peratividade e impulsividade. e indicou possibilidades de intervenção da
Elton é desatento. Ele não apresenta ca- família, principalmente na realização de
racterística de hiperatividade. Seus sintomas jogos em casa (estratégia, concentração e
evidentes referem-se à falta de atenção e de memorização).
concentração para a maioria das atividades A mãe sempre manteve contato com a es-
que lhe são propostas, principalmente quan- cola e faz o acompanhamento do fi lho, uma
do há necessidade de um registro escrito. vez por semana, em uma clínica com psi-
Não consegue se concentrar por muito tempo cólogo e psicopedagogo, além do tratamento
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão de um aluno com TDAH Maria Aparecida Rocha
REFERÊNCIA:
ROHDE, Luiz Augusto P.; BENCZIK, Edylei-
ne Belline Peroni. Transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade. O que é? Como
Ajudar? Porto Alegre: Artmed, 1999.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 25
AUTORA:
Mariane Faria Fernandes
ção de direitos das crianças e adolescentes. A escola alvo pernas e nos braços. A professora, não que-
da pesquisa vem buscando soluções para esse problema rendo assustar a garota, não comentou nada
social com uma gestão pedagógica democrática. no momento, mas procurou a coordenadora
e pediu uma orientação.
A
tualmente, no Brasil, várias crianças A coordenadora em reunião com a pro-
e adolescentes vêm sofrendo de abu- fessora decidiu conversar com a aluna para
so sexual e violência doméstica. Se- averiguar o caso. A garota relatou que seu
gundo Oraggio (2009),“A cada oito minutos padrasto a agredia e muitas vezes a obrigava
uma criança é vítima de violência e 75% das a fazer sexo. O Conselho Tutelar foi acionado
agressões acontecem dentro de casa”. imediatamente, e o padrasto foi denunciado
Dentro da sala de aula o professor deve e preso.
analisar algumas atitudes de seus alunos e A coordenadora entrou em contato no-
perceber se não há sinais de maus-tratos. E vamente com o Conselheiro do bairro, para
o professor, em parceria com a coordenação que um curso de capacitação para todos os
pedagógica, deverá analisar o caso e levá-lo funcionários da escola fosse realizado e to-
aos órgãos de proteção. Por meio de conversas dos pudessem detectar casos de maus-tra-
informais com a coordenadora pedagógica e tos, abuso sexual ou qualquer outro tipo de
com a professora e da análise de um estudo violação de direitos. A partir daquele curso,
de caso em uma escola da rede pública de um projeto de intervenção pedagógica para
Belo Horizonte, será analisado como ações os alunos foi elaborado pelos professores e
de uma coordenação pedagógica democráti- pela coordenação pedagógica.
ca podem proteger crianças e adolescentes É possível perceber que a coordenação
com direitos violados. dessa escola teve uma postura legal e de-
De acordo com a leitura de um caso es- mocrática muito importante neste caso. No
tudado pela coordenadora pedagógica, havia primeiro momento, ao ligar para o Conselho
uma adolescente que estava com doze anos Tutelar. O Estatuto da Criança e do Ado-
de idade, estudava na quinta série do Ensino lescente (ECA), no artigo 5º, diz: “Nenhuma
Fundamental, era uma garota alegre, sem- criança ou adolescente será objeto de qual-
pre que chegava na escola cumprimentava quer forma de negligência, discriminação,
os professores com abraços e sempre gostou exploração, violência, crueldade e opressão,
de participar dos debates em sala de aula. punindo-se na forma da lei, por ação ou
Com o passar do tempo, essa adolescente omissão aos seus direitos fundamentais”.
ficou apática, começou a se afastar dos co- (ECA, 2005, p. 13). Portanto, ao entrar em
legas e sempre tratava os professores com contato com o órgão competente para pro-
hostilidade. Em um passeio a um clube, a teção da criança e do adolescente, a escola
garota estava com roupas que cobriam o garantiu a integridade da aluna e não per-
corpo. Alguns colegas a jogaram na piscina mitiu que seus direitos continuassem a ser
e ela teve uma crise de choro. Os professo- violados. No segundo momento, ao solicitar
res tentaram acalmá-la. Uma professora a uma capacitação para os funcionários da
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Direitos violados: como uma escola democrática pode Mariane Faria Fernandes
REFERÊNCIAS:
ARANHA, Antônia Vitória Soares. Gestão e or-
ganização do trabalho escolar: novos tempos
e espaços de aprendizagem. In: OLIVEIRA,
Maria Auxiliadora Monteiro (Org.). Gestão
Educacional: novos olhares, novas aborda-
gens. 5. ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008. Cap.
5, p. 75-86.
70
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 26
AUTORA:
Marluce Aparecida Morais Silva Martins
senta um quadro de agressividade junto aos colegas e A escola e a família, juntas, são respon-
professores. De acordo com Anna Freud, a sustentação de sáveis pela formação do educando, prepa-
um equilíbrio constante ao longo da adolescência é, por rando-o para viver em sociedade, sabendo
si mesma, anormal, o que se espera é que um adolescente respeitar, colaborar e participar. No entanto,
saudável sofra uma quebra no crescimento pacífico. o aluno não apresentou melhora, voltando
a ter atitudes agressivas e ameaçadoras. A
A
Escola Estadual Sonho do Amanhã1 escola, preocupada com a situação, chamou
tem um aluno, Luís2, que estuda na novamente a família. E veio a avó, que rela-
instituição de ensino desde os anos tou que Luís tinha as mesmas atitudes em
iniciais do ensino fundamental. Hoje está casa, batendo e agredindo a ela e a mãe, que
com 12 anos, repetindo o 6º ano (antiga 5ª sempre o repreendia com agressões que o
série). marcavam.
Segundo relato da supervisora, desde que A supervisora buscou apoio junto a uma
Luís ingressou na escola, ele sempre foi ner- instituição fi lantrópica que oferece apoio
voso, agressivo com os professores e os cole- médico e psicopedagógico a pessoas caren-
gas de sala, batendo neles e os ameaçando. tes, a FULIBAN (Fundação Libanesa de Mi-
A professora, não conseguindo controlá-lo nas Gerais).
em sala, sempre pedia ajuda à supervisora Luís teve toda a assistência de que ne-
para juntas tentarem resolver o problema. cessitava. Foram diagnosticados distúrbio
A supervisora chamou a mãe para poder da fala e maus-tratos, sendo solicitados pela
falar sobre as atitudes de seu fi lho. Ela re- fundação exames laboratoriais. Os laudos
latou que ele era um menino tranquilo em foram encaminhados à fonoaudióloga e à te-
casa e que não apresentava tais atitudes rapeuta de família, para esclarecimentos da
como a escola relatava. A escola, então, pro- história de maus-tratos na família.
curou maneiras diferentes para conduzir o Através dos resultados dos exames com-
caso dentro da instituição, procurando levar plementares, foi diagnosticada Ascaridíase
o aluno ao convívio com os colegas e demais (verminose). A mãe foi orientada sobre hábi-
pessoas da escola de forma afetiva, para tos de higiene e sobre prevenção à violência
assim fazer com que Luís se envolvesse nas familiar à qual a criança está constantemen-
atividades desenvolvidas em sala. te exposta, esclarecendo que a agressividade
Segundo Osório (1996, p. 82), do aluno se manifesta pela violência vivida
no seio de família. Neste sentido, Rassial
Costuma-se dizer que a família educa e a (1997) revela que, na relação com os pais e
escola ensina, ou seja, à família cabe ofe- com todos os adultos, em função de tantas
recer à criança e ao adolescente a pauta decepções já vividas, o adolescente estará
ética para a vida em sociedade e à escola, sensível a toda contradição interna ao dis-
instruí-los para que possam fazer frente às curso, ou entre o discurso e o ato, e não será
tolerante à constatação deste sintoma, po-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
dendo até mesmo parecer paranoico.
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Agressividade no contexto escolar Marluce Aparecida Morais Silva Martins
Foi prescrita para ele a medicação Imi- as consultas e que a fundação desmarcava.
pramina para melhorar sua agressividade. Segundo a mãe, eles não estão oferecendo
Passados alguns meses, Luís apresentou mais o acompanhamento do fi lho.
melhora de comportamento e de aprendiza- A escola buscou informações junto à FU-
gem dentro da escola e também em casa, LIBAN. A entidade relatou que ele não com-
segundo relato da mãe. Ele continuou o parecia mais às sessões de terapia há vários
tratamento na fundação com fonoaudióloga, meses e que, segundo o relato da última ses-
médico e psicólogo. são que o aluno havia feito, a avó falou que
Após dois anos, sua mãe parou de levá- persistiam a falta de cuidados com a alimen-
lo à Fundação para continuação do trata- tação, a agressividade dos pais, as condições
mento. Com isso Luís voltou a apresentar as de higiene precárias, interrompendo-se uso
mesmas atitudes na escola. Recentemente, da medicação prescrita. A fundação relatou
ele agrediu seus colegas de classe com uma que não constavam outros retornos em sua
caneta (esquentava a ponta no chão e furava ficha de atendimento e esclareceu à escola
o pescoço dos colegas). Um dos colegas agre- que não foi dada alta ao adolescente. O fato
didos foi chamar a supervisão/direção para é que abandonaram o tratamento e o atendi-
conter o agressor. Quando a supervisora e mento ao Luís.
criança a comportamentos inesperados e ações inexplicá- to de João, toda a família foi encaminhada
veis. É preciso que a criança tenha, no ambiente familiar, ao acompanhamento psicológico. A mãe foi
essa troca de afeto e diálogo para que se possa perceber a orientada a dar mais atenção ao fi lho, pois
presença de problema. ela o culpava dos problemas com os irmãos.
Segundo Bassedas (1996), “É importante
J
oão1 é aluno do ensino médio de uma acreditar e ter confiança nas possibilidades
escola pública estadual de Belo Hori- da família para conseguir ajudá-la; às vezes,
zonte. Entrou nessa escola aos sete com uma pequena ajuda externa, a família
anos, mas começou a ser observado aos vê o seu funcionamento com maior clareza,
nove. Os motivos apresentados foram indis- dá valor relativo a determinados proble-
ciplina, baixo rendimento e várias reclama- mas e tem mais capacidade para avançar e
ções de colegas, funcionários e professores. mudar”.
Segundo a professora, João demonstrava-se A escola, quando encaminha um aluno
uma criança agressiva e não aceitava ordem. para um psicopedagogo, espera que esse
Tinha necessidade de chamar a atenção das aluno que não se enquadra nas normas da
outras crianças e da professora, fazendo escola tenha uma atenção individualizada.
travessuras e fingindo cair, incomodando os Espera que se possa diagnosticar as suas
outros. dificuldades para auxiliar os professor e a
Sem entender o comportamento daquela própria escola a encontrar soluções e estra-
criança, que antes era dócil com todos, a su- tégias para que o aluno consiga progredir e
pervisora entrou em contato com a família. adaptar-se ao ritmo estabelecido.
Na conversa com a mãe, ela relatou que, Foi através desse apoio que ocorreram
desde que os irmãos gêmeos nasceram, João algumas mudanças no comportamento e no
ficara diferente, às vezes era agressivo com desenvolvimento de João. Ele passou a acei-
ela. Para ela, ele deveria estar com ciúmes tar ajuda do professor e as regras da escola e
porque toda a atenção da família estava vol- procurava relacionar-se com os colegas nas
tada para as os irmãos, que são portadores brincadeiras. Ficava entusiasmado quando
de necessidades especiais e precisam de comentava com os colegas sua participação
mais cuidado que ele, que é normal. nas aulas de balé, pois sentia prazer em
Através do relato da mãe, a supervisora ficar na ponta dos pés e sonhava com sua
percebeu que o problema não estava só com apresentação, como relatava sua professora.
João, mas em sua família. Então decidiu Esta relação de afeto contribuiu para o seu
chamar o aluno para conversar. Durante desenvolvimento escolar, porque a participa-
conversa, João disse que a mãe o agredia ção nos projetos dependia de seu desempe-
todas as vezes que os irmãos machucavam; nho escolar.
ele era culpado por não tomar conta dos Por isso, é fundamental na estrutura fa-
irmãos. miliar a relação de afeto entre pais e fi lhos.
A mãe foi chamada na escola para autori- Ela contribui para o desenvolvimento da
criança, principalmente quando no início de
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Afetividade: papel determinante no desenvolvimento escolar e familiar Patrícia Maria Barbosa
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 28
AUTORA:
Renata Soares Reis da Silva
las públicas em acolher e oferecer aos alunos de seis anos Ficou demonstrado também que a lingua-
uma escola adequada e um ensino de qualidade. Aponta o gem estava em desacordo com os princípios
processo lúdico (o ato de brincar) como fonte promotora educativos para aquela faixa etária e que
do desenvolvimento infantil e identifica a postura ética e a escola precisaria passar por uma grande
pedagógica que a instituição escolar deve adquirir peran- mudança para atender a eles.
te o jogo e a brincadeira. A primeira mudança foi em relação aos
professores das turmas iniciais, que passa-
O
ingresso dos alunos nas escolas pú- ram a ser escolhidos de acordo com o perfi l
blicas a partir dos seis anos tornou- e as necessidades das turmas. Foram ofer-
se uma grande conquista para popu- tadas oficinas de jogos na área infantil para
lação em geral. As crianças não só ganharam os professores e as brincadeiras passaram
um período maior para o desenvolvimento da a fazer parte da rotina escolar. A diretora,
aprendizagem como também a possibilidade envolvida com a nova proposta de alfabeti-
de frequentar uma escola sem grandes cus- zação da escola, comprou uma quantidade
tos financeiros. Ao receber esses alunos, as significativa de jogos direcionados para a
instituições de ensino estavam assumindo o alfabetização, ampliando ainda mais a pro-
compromisso de uma educação diferenciada posta de qualidade de ensino.
e adequada para eles. A coordenação pedagógica passou a ver
A partir do segundo ano desses alunos o brincar como fonte de acesso à constru-
nas redes públicas de ensino, em particular ção da linguagem e do conhecimento, sendo
na Escola Estadual Sonho de Criança1, co- parte indispensável para o processo de sig-
ordenadoras e professoras perceberam que nificação do mundo e do aprender. Após a
as crianças estavam apresentando um baixo inserção de jogos e brincadeiras nas ativida-
rendimento, além de grande desmotivação des escolares, a instituição percebeu gran-
para frequentar as aulas. As reclamações des avanços no desenvolvimento cognitivo
eram constantes sobre a aprendizagem e e social dos discentes, fazendo do brincar
sobre a falta de interesse das crianças na parte fundamental da grade curricular e dos
realização das tarefas escolares. Muitos pais projetos de intervenção da escola.
questionavam a postura contraditória do Para Vygotsky, tanto pela situação ima-
fi lho perante a escola particular e a escola ginária, como pela defi nição de regras es-
pública. pecíficas, o brinquedo cria uma zona de
Diante dessas constatações, coordena- desenvolvimento proximal na criança. No
doras e professoras começaram um levan- brinquedo, a criança comporta-se de forma
tamento diagnóstico sobre as atividades de- mais avançada do que nas atividades da
senvolvidas na educação infantil das escolas vida real e também aprende a separar obje-
particulares da região, através de pesquisas to e significado. Sendo assim, é necessária
com os pais, visitas às instituições de ensino a promoção de atividades que favoreçam o
e conversas com os próprios alunos. Após a desenvolvimento infantil através de brinca-
deiras e jogos, principalmente as que envol-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância do brincar no processo educativo a escola... Renata Soares Reis da Silva
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 29
AUTORA:
Sandra Maria Fontes Rezende
Endereço eletrônico: sandra.fontes@oi.com.br
Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas
FALTA DE LIMITE
escola pública da rede municipal de Belo Horizonte. Os Como afi rma Pellegrini (2002), se a crian-
alunos têm preocupado os professores por causa da falta ça se vê acolhida, a maneira de agir muda e
de posição dos pais, comprometendo a educação de seus quem pretende formar cidadãos deve, por-
filhos. A falta de disposição para estudar e o desrespeito tanto, promover trocas, e não imposições. É
para com os professores e colegas motivaram a avaliação possível que a depredação seja o meio encon-
de um aluno da 6ª série. trado para reivindicar um espaço público
negado.
M
arcos1 é um aluno carismático que, Os alunos mostram uma agressividade
apesar de suas travessuras, tem o muito grande, esta é a forma encontrada por
poder de conquistar os demais. É eles para se defender das situações que lhes
filho de pais separados e ausentes. Sua mãe, parece uma ameaça.
além de ter problemas neurológicos, é usu- Segundo Araújo (2002), cada sujeito, de
ária de drogas. Segundo relato do próprio acordo com seu contexto sócio-histórico e a
aluno, a mãe muitas vezes deixa de comprar partir dessas referências, vai organizando a
comida para saciar seu vício. sua percepção da realidade. Toda identidade
Segundo a coordenadora da escola, o é socialmente construída no plano simbólico
aluno está sempre fazendo brincadeiras de- da cultura.
sagradáveis, que o levam sempre a situação Em suma, não basta identificar o proble-
embaraçosa e consequências trágicas. ma, é necessário buscar uma parceria com
Ele está sempre ao lado de outro aluno pais e profissionais. É preciso ter paciência,
“problema”. Quando está sozinho, fica amu- dar carinho e impor limites.
ado, triste e seu comportamento é de uma O relacionamento familiar é fundamental
pessoa depressiva. para o desenvolvimento dos alunos e o bom
Numa conversa da coordenação com a professor não é aquele que apenas aceita o
mãe do Marcos, identificou-se que a influên- aluno, mas aquele que traz mudança em sua
cia do comportamento do aluno era o colega. vida, atuando de forma positiva e construti-
Os dois foram encaminhados para acompa- va, tendo por objetivo eliminar sentimentos
nhamento psicológico. de inferioridade, fracasso, desconforto, para
Após um ano, o seu comportamento pou- que seu aluno se sinta querido, estimulado
co mudou. Ele está agora na 7ª série e as e capaz.
reclamações sobre o seu comportamento
continuam. REFERÊNCIAS:
Toda vez que apronta uma travessura, a
coordenadora e os professores conversam AQUINO, Júlio Groppa. Alternativa teórica e
com ele sobre suas ações, para ver se ele as- prática. São Paulo: Summus, 1996.
sume uma postura melhor.
ARAÚJO, Carla. A violência desce para a es-
cola: Suas manifestações no ambiente esco-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Falta de limite Sandra Maria Fontes Rezende
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 30
AUTORA:
Sandra Maria Pereira Chiari
AFETIVIDADE NA ESCOLA
N
o início do ano de 2009, Valter chama- objetivos por ela definidos, da forma como
va a atenção pelos ânimos exaltados. se dará a interação entre as características
Sempre agitado, fazendo tumultos que identificam os vários grupos de profis-
com os colegas e com extrema relutância em sionais (crenças, valores, motivações, co-
atender às orientações, Valter atrapalhava o nhecimentos, atitudes, hábitos, percepções,
bom andamento das lições e da ordem den- etc.), com o conjunto de variáveis de ordem
tro e fora de sala de aula. política social e econômica que envolve a
Cientes da importância da atitude da escola. Da mesma forma, os problemas li-
coordenação frente ao problema, nos pron- gados às características da vida passada e
tificamos a praticar ações focadas nos co- presente do aluno, seu ambiente familiar,
nhecimentos referentes à coordenação e sua relação com os pais, suas condições de
supervisão pedagógica, buscando as trans- saúde e nutrição, seu aproveitamento em
formações necessárias. outras séries e em outras matérias e sua
Com a fi nalidade de estabelecer um vín- relação com outros professores e colegas
culo afetivo, mas, sobretudo, de respeito com podem interferir no trabalho do professor e,
o aluno, conversamos com ele a respeito de consequentemente, no aproveitamento dos
suas expectativas naquela escola, a razão discentes.
para frequentá-la, o que o incomodava, o
relacionamento com a família e os laços com Então, sempre antes do início das aulas,
os responsáveis. conversávamos com Valter sobre as coisas
Convocamos a responsável, a avó, para boas da vida, como, a dádiva de ter em vida
uma conversa na escola, para tratarmos so- a avó que tanto o amava e cuidava bem dele.
bre o comportamento do aluno. Ao perceber a formação humana cristã que
A partir das conversas, descobrimos que avó lhe transmitia, e com sua autorização, o
Valter não conhecia o pai. A mãe tinha um alertávamos para o fato de que Deus sabia
baixo relacionamento com a família, além de de todas as coisas, e que a vida dele estava
não ter condições fi nanceiras mínimas para nas mãos do Senhor. Sempre dizíamos ao
oferecer uma vida melhor ao fi lho, razão pela aluno: “Tudo o que vem de Deus é bom”. Aos
qual abandonou não só o lar, como também poucos fomos estabelecendo com ele laços de
o fi lho, que passou a ser criado pela avó des- respeito, confiança e fraternidade.
de então. Ele estava com 6 anos de idade. Hoje, Valter é destaque entre os alunos:
Pudemos perceber, então, os possíveis Sempre está com as lições em dia, interes-
motivos que ensejavam toda a sua revolta, sado na aula, é um dos alunos mais dedi-
dispersão e dificuldade de aprendizado, pois, cados e, por incrível que pareça, repreende
como sabemos, a base familiar e os laços que os colegas de classe que causam tumultos
na aula.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Afetividade na escola Sandra Maria Pereira Chiari
REFERÊNCIA
FALCÃO FILHO, José Leão Marinho. O(a)
supervisor/coordenador(a) pedagógico(a):
fundamentos. Disponível em: <http://web-
dav.sistemas.pucminas.br:8080/webdav/
sistemas/sga/20082/133459_COORDE-
NADOR%20pedagógico-fundamentos-.doc>.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 31
AUTORA:
Sarah Paulina da Silveira Silva
O
distúrbio comportamental e a defa- início de 2008, por motivo de violência na
sagem de aprendizagem nas escolas escola. Durante o ano de 2008, não levou a
têm sido recorrentes nas pesquisas sério. Juntou-se com más companhias fal-
que avaliam a qualidade do ensino. Nesse tando às aulas, além de ter brincado o tem-
sentido, o cenário disciplinar predominante po todo nos corredores da escola, tirando a
determina o perfil do aluno, repercutindo em atenção dos colegas, quando presente. Por
suas manifestações e desejos. esse motivo, foi reprovado, sendo obrigado a
Observa-se uma incidência crescente de repetir o ano.
distúrbio comportamental repercutindo na Neste ano, o aluno continua com os mes-
aprendizagem, em decorrência de possí- mos comportamentos, como desrespeito a
veis problemas familiares que influenciam professores e colegas, falta de concentração,
no desenvolvimento cognitivo da criança e, não consegue sentar adequadamente, de-
consequentemente, provocam a defasagem bruça, muitas vezes, por cima da carteira,
das habilidades e competências que todo sem contar o tempo que consegue ficar sen-
aluno deve adquirir no decorrer do ano le- tado dentro da sala. Ainda mais, constan-
tivo. Segundo Montalvão (1980, p. 25), “Pais temente é levado à sala do supervisor para
desajustados trazem a criança em constante repreensão. A família foi acionada, embora
inquietação e temor, fazendo ainda com que não tenha tomado nenhuma providência que
ela tome aversão a tudo quanto signifique pudesse minimizar o problema.
disciplina.” A mãe relata que o garoto foi doado no dia
Levando em consideração o componente em que nasceu, ainda no hospital, mas a avó
de participação social (a família) no cotidia- pegou a criança de volta e criou. A partir de
no do educando, muitas possibilidades são então ela não é responsável por ele, pois não
pertinentes para análise dos fatores decor- gosta dele e não se importa que morra.
rentes de situações que envolvem o aluno na Segundo o relato o aluno, ele gosta de es-
construção de sua história. tudar, sua matéria predileta é matemática,
Nesse sentido, a abordagem do educan- pensa em terminar os estudos e fazer facul-
do com perspectiva de vida normal tem sido dade de matemática. Quer ser professor. Não
cada vez mais delineada para a aquisição da suporta a turma por estar fora de sua idade.
qualidade de vida no espaço escolar. Par- E também não suporta a voz dos professo-
tindo desse pressuposto, buscar entender a res e, às vezes, discute com os colegas. Fica
defasagem escolar que norteia a realidade ansioso por ser repetente e quer ir para o
do educando é buscar uma reflexão peda- projeto Acelerar, mas ainda não tem idade.
gógica sobre o tema proposto em relação aos O aluno relata que não conheceu o pai e
motivos do mau aproveitamento bem como não sente vontade de conhecê-lo. Não vive
à questão comportamental, que podem ser
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
81
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Abordagem pedagógica em distúrbios de comportamento Sarah Paulina da Silveira Silva
bem com a mãe e não combina com o irmão, família por um acaso, resultando em proble-
que é mais querido pela mãe. O aluno relata mas emocionais, refletidos no seu compor-
que a mãe teve um namorado que era como tamento e na sua aprendizagem, consequ-
um pai. Dava-lhe de tudo. Mas terminou o ência da rejeição desde que nasceu. Como
namoro e nunca mais apareceu. Fez muita afi rmam Hall e Lindzey (1973, p. 65): “O fi-
falta, pois sente falta de um pai, todavia não lho que reprimiu sentimentos de hostilidade
quer ouvir falar do pai verdadeiro. em relação ao pai, via de regra, manifesta
Duas professoras entrevistadas afi rma- esses sentimentos contra outros símbolos de
ram que Rodney apresenta agitação cons- autoridade.”
tante, muita dificuldade de concentração Na tentativa de trabalhar o problema e
e desinteresse diante de atividades que buscar sua superação, a escola encaminhou
exigem raciocínio mais elaborado. Por ser o aluno para um psicólogo e conta com a
efetivamente agitado, o tempo de concentra- orientação do psicopedagogo da escola.
ção é mínimo e se dispersa facilmente. Além Diante do caso, percebe-se que a família
disso, não tem postura correta para assen- tem participação efetiva no desenvolvimen-
tar. Ora debruça na carteira, ora levanta do to da criança, bem como é responsável pelo
lugar. Anda desajeitado, se balançando todo. seu aprimoramento em todas as instâncias
82
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 32
AUTORA:
Selma Ferreira Aguiar
E
duardo1, 18 anos, aluno do segundo cha (2008), citando Goldstein (2000), uma
ano do Ensino Médio, é filho de pais série de critérios que são tidos como oficiais
separados, sendo criado pela mãe e no diagnóstico de Hiperatividade ou Trans-
pelos avós. O pai não tem presença nem par- torno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
ticipa de sua vida. Em casa, ele fica o tempo (TDAH) em crianças e adultos em todo o
todo na Internet, por isso não é de sair, não mundo:
frequenta bares.
Entrou nesta escola em 2007, no primeiro As características do TDAH aparecem bem
ano do EM, repetiu o ano em 2008. Até o cedo para a maioria das pessoas, logo na
mês de abril/2009, já assinou quatro ocor- infância, com dois grupos de sintomas, de
rências por comportamento desafiador, im- acordo com a área de predominância: 1-
pulsividade, agitação e inquietude. Durante TDAH – Tipo desatento: a pessoa apresenta,
as conversas na coordenação, em todas as pelo menos, seis das seguintes característi-
ocasiões, o aluno não demonstrou arre- cas: não enxerga detalhes ou faz erros por
pendimento algum, se limitando a dar as falta de cuidado; dificuldade em manter a
respostas que a supervisora esperava ouvir atenção; parece não ouvir; dificuldade em se-
para sair o mais rápido possível dali. guir instruções; dificuldade na organização;
Várias especulações foram feitas pelos evita/não gosta de tarefas que exigem um
professores, alunos e funcionários sobre o esforço mental prolongado; frequentemente
seu comportamento. Suspeitaram do uso de perde os objetos necessários a uma ativida-
Crack: de; distrai-se com facilidade; esquecimento
nas atividades diárias. 2- TDAH – Tipo hipe-
uma droga derivada da cocaína, que cau- rativo / impulsivo: a pessoa apresenta, pelo
sa aumento da autoconfiança, sensação de menos, seis das seguintes características:
poder e euforia seguida de depressão pro- inquietação, mexendo as mãos e os pés ou
funda, e provoca fadiga, perda de memória, não parando quieto na cadeira; dificuldade
insônia, paranóia e comportamento violen- em permanecer sentada; corre sem destino
to. (drogas.netsaber.com.br). ou sobe nas coisas excessivamente; dificul-
dade em engajar-se numa atividade silen-
Essa hipótese foi descartada porque o ciosamente; fala excessivamente; responde
aluno não apresenta esses efeitos colaterais, às perguntas antes de serem formuladas:
nem o cheiro característico e marcas no ros- age como se fosse movido a motor; dificul-
to e dentes, adquiridos com o uso constante dade em esperar sua vez; interrompe e se
da droga. intromete.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Afinal, o que é que esse menino tem? Selma Ferreira Aguiar
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Artigos
Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
ção de Jovens e Adultos –EJA com dificuldades de apren- começou a faltar às aulas e as educadoras,
dizagem, em uma escola da Rede Municipal de Ensino de por sua vez, tentaram conversar com ele na
Belo Horizonte. São apresentadas as intervenções execu- tentativa de entender o que estava aconte-
tadas, bem como os resultados obtidos. cendo, contudo não obtiveram sucesso.
Ainda no primeiro semestre do ano letivo,
A
sala de aula é heterogênea, cada alu- verificou-se que ele não estava acompanhan-
no tem sua característica e necessita do o desenvolvimento da turma. A situação
de um olhar individualizado do edu- foi repassada à coordenação que orientou
cador. Na classe da Educação de Jovens e as educadoras que tentassem se aproximar
Adultos – EJA, na maioria das vezes, há uma desse aluno e buscassem maneiras de co-
maior especificidade, tendo em vista que as nhecê-lo, principalmente no que tange a seu
pessoas ali presentes têm histórias, conheci- cotidiano.
mentos, anseios e interesses diversificados. Diante do proposto, as educadoras bus-
No entanto, existem alguns desafios que caram uma maior interação com o aluno,
geralmente são encontrados na EJA, dentre principalmente nos momentos informais. No
eles lidar com um aluno que trabalhou o dia intervalo, elas juntamente com todos os alu-
todo, em algumas situações com idade mais nos tomavam café juntos, sempre buscando
avançada e baixa autoestima, acarretando sua interação e participação nas conversas.
com isso a dificuldade de aprendizagem. Após uns quinze dias de especulação,
Dessa forma, a escola, principalmente os conseguiram verificar o seguinte: o aluno se
professores, deve buscar diferentes estra- recusava a ler os textos em sala pelo tama-
tégias de trabalho na tentativa de superar nho da fonte, tinha dificuldades de enxergar;
os obstáculos encontrados em uma classe apesar de ter 60 (sessenta) anos de idade,
como essa. Assim como prevê a LDBEN em era ele quem mantinha sua casa fi nanceira-
seu artigo 37º §1º: mente, por isso trabalhava o dia todo como
pedreiro (razão por que chegava à sala com
Os sistemas de ensino assegurarão gratui- uma aparência muito cansada e uma voz
dade aos jovens e aos adultos, que não pu- bem fraca), e tinha uma baixa auto-estima,
deram efetuar os estudos na idade regular, com isso não interagia com as pessoas.
oportunidades educacionais apropriadas, Após o levantamento, a situação foi dis-
consideradas as características do alunado, cutida em uma reunião pedagógica, na ten-
seus interesses, condição de vida e de tra- tativa de buscar maneiras de estimular esse
balho mediante cursos e exames. aluno e melhorar a qualidade do processo
de ensino-aprendizagem, ou seja, buscar
O caso em questão é de um aluno com 60 adaptações coerentes para a sua integração.
anos de idade na classe de alfabetização da Monteiro (1995) descreve as influências da
EJA. Pelo que foi relatado pelas professoras, deficiência:
esse aluno ficava bem calado, não interagia
com os colegas, estava sempre cabisbaixo.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Desafios encontrados na educação de jovens e adultos Adriana Fernandes Dornellas da Silva
É preciso reconhecer que a deficiência tem que o aluno interaja, compartilhando idéias,
uma dupla influência no desenvolvimento: saberes e sentimentos.
se, por um lado, é uma limitação e direta- O professor, na ótica da educação inclu-
mente atua como tal - criando obstáculos, siva, não é aquele que ministra um “ensino
prejuízos e dificuldades, por outro, exata- diversificado”, para alguns, mas aquele que
mente porque as cria, serve de estímulo para prepara atividades diversas para seus alunos
o desenvolvimento das vias de adaptação, com e sem dificuldades de aprendizagem.
canais de compreensão que podem levar o Quando a escola se depara com o aluno
desequilíbrio alterado a uma nova ordem na com necessidades educacionais especiais,
constituição das diferenças. em vez de adaptar e individualizar/diferen-
ciar o ensino para esse aluno, ela precisa
Diante do quadro levantado, foram feitas recriar suas práticas, mudar suas concep-
algumas alterações no cotidiano daquela ções, rever seu papel, sempre reconhecendo
sala, pois se acreditava que a dificuldade do e valorizando as diferenças.
aluno era resultado de uma “não interação”
em sala, uma vez que fazia as atividades so- REFERÊNCIAS:
zinho e só tinha a intervenção da professora
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 2
AUTORA:
Amanda Tostes de Oliveira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
Síndrome de Down na rede regular de ensino. A inclusão Segundo Piaget (1989), toda criança possui
escolar é um assunto que está sendo bastante discutido, um esquema de assimilação que evolui de
mas é um processo longo e contínuo que, infelizmente, não acordo com a etapa de desenvolvimento que
é aceito por todos da sociedade. atravessa. Nos primeiros anos, ele é emi-
nentemente sensório-motor e simbólico, isto
N
o Brasil, a educação inclusiva, que é, a riqueza das experiências que a criança
visa inserir as crianças com necessi- realiza nesta e nas demais etapas do seu
dades educacionais especiais no ensi- desenvolvimento torna-se fundamental para
no regular, fundamenta-se na Constituição o seu desenvolvimento cognitivo e, portanto,
Federal de 1988, que garante a todos o direi- para a aprendizagem.
to à igualdade (art. 5º). De forma tranquila, fui observando a
A inclusão é uma prática cada vez mais aluna dentro da sala, como ela agia com os
frequente em vários países, apesar de ain- seus colegas e como eles agiam com ela, e
da carecer de uma política específica para como era o seu desenvolvimento na hora do
o desenvolvimento pleno desse processo. pátio, nas brincadeiras livres, no lanche e
Naqueles cenários onde foi efetivada, a in- no recreio.
clusão tem-se revelado benéfica para as Percebi que Clara é uma criança cari-
crianças portadoras da Síndrome de Down, nhosa, esperta, alegre, gosta de brincar,
embora ainda haja muitos desafios a serem porém individualmente. A aluna me aceitou
superados, dentre eles, a falta de preparo de forma bem tranquila. Notei que tinha di-
dos profissionais envolvidos, a participação ficuldades de interação com seus colegas e
da família e a criação de uma rede de apoio não participava muito da aula. Sempre que
que inclua a interlocução de profissionais de exigia que os alunos participassem da aula,
diversas áreas do conhecimento, especial- a professora tentava que Clara participasse
mente das áreas de educação. com os outros alunos, mas nem sempre ela
Em uma escola da rede pública de Con- conseguia.
tagem (MG), foi matriculada Clara , 4 anos Segundo Pieczkowski (1999), toda crian-
de idade, com Síndrome de Down, no 1º pe- ça possui um ritmo de desenvolvimento, seja
ríodo da educação infantil. Procurei deixar ele físico ou mental que difere de uma pes-
bem claro para a diretora e a supervisora da soa para outra.
escola qual era a minha intenção de estar Aos poucos, seu comportamento foi mu-
lá, fazendo o trabalho com o estudo de caso, dando, às vezes muito agitada, outras vezes
com isso a escola me permitiu fazê-lo. permanecia apática, como se estivesse em
Comecei o estudo pedindo a pasta da outro lugar. Apresentava dificuldades ao re-
aluna contendo todas as informações médi- alizar algumas atividades. Ficava andando
cas e psicológicas. A escola tem uma ótima em toda sala, mexia na mochila, principal-
orientação e aceitação para atender esses mente na merenda dos colegas. Às vezes ela
alunos. tinha um comportamento que ninguém acre-
Aos poucos fui conhecendo como é desen- ditava: interessada, participativa, tranquila
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Alunos com síndrome de down na rede regular de ensino: inclusão Amanda Tostes de Oliveira
REFERÊNCIAS:
PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. São
Paulo. 1989.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 3
AUTORA:
Ana Cristina Alves dos Santos
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
caso observado em uma escola pública com foco no pa- cola e chegaram à conclusão de que o aluno
pel do professor enquanto agente do processo de ensino e precisava de um tratamento especializado,
aprendizagem de seus alunos. O aluno em questão apre- de um apoio psicológico, já que só chamar a
senta Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade atenção e conversar com os pais não estava
(TDAH), seu comportamento agitado e impulsivo dificul- resolvendo o problema. Diante disso, a coor-
tava sua sociabilidade e interferia em sua aprendizagem. denação da escola chamou a mãe do aluno
para conversar e pediu-lhe que levasse a
O
Transtorno de Déficit de Atenção e criança ao posto de saúde e procurasse um
Hiperatividade (TDAH) é uma doença tratamento psicológico. A mãe, que já não
pouco conhecida e de difícil diagnós- sabia mais o que fazer, resolveu ouvir o con-
tico. Os sintomas, geralmente, são diferen- selho da escola e foi buscar um tratamento
tes entre meninos e meninas, sendo que os para o fi lho.
meninos apresentam impulsividade e hipe- Segundo a coordenadora da escola, a mãe
ratividade enquanto as meninas, desatenção várias vezes relatou que era muito difícil
crônica, esquecimento e falhas de memória. conseguir esse tipo de tratamento através
A dificuldade de estabelecer um diagnóstico do Sistema Único de Saúde (SUS), mas ela
para essa doença consiste no fato de ainda teve persistência e, fi nalmente, conseguiu
não ser possível mensurar o comportamento ser atendida. A psicóloga realizou alguns
das crianças, sendo assim, os pais e profes- exames e ainda demorou alguns meses até
sores têm dificuldades de saber se aquele descobrir o problema. Felizmente, ela fez o
comportamento é normal, se é falta de um diagnóstico correto e encaminhou o Hugo
puxão de orelhas ou se pode ser realmente para um psiquiatra, que faz seu tratamento
algum tipo de doença. até hoje. O tratamento inclui o uso de remé-
Hugo1 tem 13 anos, estuda numa escola dios associado ao trabalho com a autoestima
da rede estadual da zona norte de Belo Ho- da criança, para que ela sinta cada vez mais
rizonte e está na 6ª série/9 do ensino fun- gosto pelos estudos e pelo convívio familiar.
damental. Já mudou várias vezes de escola A observação atenta da professora e a
devido ao seu comportamento e só descobriu boa relação existente entre ela e a coorde-
que apresentava esse transtorno aos onze nação da escola fi zeram toda diferença na
anos, através da ajuda de uma professora vida de Hugo. Elas conseguiram identificar
dessa escola. que aquele aluno apresentava dificuldades,
Tânia 2 , a professora de Hugo na 5ª que suas bagunças excediam o limite de um
série/9, estranhava as suas dificuldades de aluno comum e tiveram a iniciativa de ten-
aprendizagem e, principalmente, seu com- tar fazer algo diferente por ele. O professor
portamento. Ela não sabia mais o que fazer é o contato mais próximo existente entre o
para manter a sala em ordem e conseguir aluno e o processo de ensino-aprendizagem,
ensinar até as coisas mais simples para devendo estar atento às características di-
ferenciais de seus alunos. Segundo Freire
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno
(1996), “Não é possível duvidar um momento
2. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – TDAH Ana Cristina Alves dos Santos
sequer de que a prática educativo-crítica, sar das dificuldades que encontramos nas
como experiência especificamente humana, salas de aulas, principalmente nas escolas
é uma forma de intervenção no mundo”, sen- públicas, é possível fazer algo de novo, de
do capaz de alterar significativamente a vida diferente.
de seus atores. O professor representa cada vez mais um
A identificação de qualquer transtorno é papel muito importante na vida dos seus
um passo muito importante para a vida da alunos e, por isso, é importante que ele não
criança, embora ainda não resolva o proble- tenha medo de se envolver com eles, de ter
ma. Saber como lidar com esse transtorno afetividade, de ter a licenciatura como opção
apresenta tantas dificuldades quanto a sua de vida. Segundo Freire (1996), “a prática
identificação. Essas estão relacionadas com educativa é afetividade, alegria, capacida-
a vida do aluno como um todo, ou seja, a de científica e domínio técnico a serviço da
escola, os amigos, os familiares e todas as mudança”. Sem essas características difi-
pessoas que fazem parte do seu convívio cilmente conseguiremos desenvolver de ma-
social. neira satisfatória a prática educativa. Tânia
Após o diagnóstico de Hugo, ele passou e a escola onde ela trabalha conseguiram
a ser medicado e teve várias alterações em realizar um bom trabalho com Hugo, con-
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 4
AUTORA:
Analina Marciano da Silva
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
na inclusão de alunos com deficiência mental, vítimas da mental, mas, para que seja caracterizado
pedofilia. como deficiente mental, o doente mental
deve, necessariamente, ter déficit cognitivo.
E
sse artigo foi elaborado na perspectiva Após a diferenciação dos termos doente
da pesquisa bibliográfica qualitativa e mental e deficiente mental, a pesquisa bus-
objetivou identificar as ações peda- cou, através de objetivos específicos, estabe-
gógicas que viabilizam a inclusão de alunos lecer ações que facilitassem o processo de
com deficiência mental, vítimas da pedofilia. socialização desses alunos, tendo observado
A pesquisa foi realizada de maneira a consi- que crianças que vivenciaram abuso sexual
derar os danos que essa violência causa ao tendem a se comportar de maneira a dificul-
longo da trajetória escolar do aluno envolvi- tar a criação de vínculos de amizade.
do, assim como as práticas pedagógicas faci- Foram feitos dois estudos de caso. No pri-
litadoras no processo ensino-aprendizagem meiro, pôde-se perceber que o aluno apre-
desses alunos. sentava comportamento de docilidade em
Através deste estudo foram elaboradas excesso, queria carinho, insistia em abraçar
sugestões e orientações que pudessem au- os colegas mesmo quando eles não queriam
xiliar os pedagogos na orientação de seus ser abraçados. E isso ocorria o tempo todo,
professores quanto à questão da inclusão podendo-se perceber que essa ação afasta-
desses alunos, de forma a envolver toda a va e assustava os colegas, o que dificultava
turma, de acordo com os ideais da educação consideravelmente a sua socialização. Este
inclusiva. comportamento passou a ocorrer após a
O artigo se focaliza a atuação do pedagogo percepção de que a criança estava sendo
frente ao desafio da inclusão de alunos que, assesiada por pedófi los. No segundo, o com-
além da deficiência mental, foram vítimas da portamento manifestado era completamente
pedofi lia, crime hediondo que expõe a crian- atípico, o aluno apresentava postura de ví-
ça a abusos sexuais e a grandes traumas tima o tempo todo e agia de maneira antis-
psicológicos. social como se quisesse afastar as pessoas.
Para compreensão do tema, faz-se ne- Utilizava linguagem vulgar e se expressava
cessário esclarecer e diferenciar conceitos com frases e posturas inadequadas e re-
fundamentais, como o que é a deficiência pugnantes, demostrando sentir-se feliz com
mental e sua diferença de doença mental, isso. Além disso, percebeu-se que, após a
esclarecendo também as diferenças entre os descoberta dos abusos, o aluno falava sobre
diversos crimes sexuais cometidos por pedó- o fato o tempo todo e insistia em agarrar os
fi los e suas consequências para os alunos. colegas, tocando-os em suas partes íntimas,
A deficiência mental é caracterizada, fun- esse comportamento não fora observado an-
damentalmente, pelo déficit cognitivo, en- tes do registro dos abusos.
quanto a doença mental se caracteriza por Foi importante para a compreensão dos
esquizofrenias e neuroses, não implicando contextos e do tema o esclarecimento dos
que haja déficit cognitivo, e ambas podem ser pedagogos e docentes sobre questões pri-
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A atuação do pedagogo frente ao desafio da inclusão... Analina Marciano da Silva
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A atuação do pedagogo frente ao desafio da inclusão... Analina Marciano da Silva
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 5
AUTORA:
Andréa de Brito Soares Silveira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
realizado em uma escola particular da região oeste de alterações que caracteriza a múltipla defici-
Belo Horizonte. Nos problemas enfrentados no cotidiano ência, mas sim o nível de desenvolvimento,
escolar, o olhar diferenciado da direção e da professora as possibilidades funcionais, de comunica-
pode fazer a diferença na vida de uma aluna. Neste artigo, ção, de interação social e de aprendizagem
a ação da diretora e da professora, como pedagogas, foi que determinam as necessidades educacio-
o grande diferencial para as dificuldades enfrentadas por nais desses alunos.
uma aluna da 1ª Série do Ensino Fundamental. A diretora A diretora e a professora tentaram inces-
e professora souberam olhar além dos olhos, conseguindo santemente vários contatos com a família,
identificar e buscar meios para uma maior evolução da que era sempre vaga e sem uma defi nição
aluna em sala de aula. clara do problema da fi lha. Os relatórios
apresentados pela mãe eram muito antigos.
N
em sempre, os fatos ocorridos na A aluna ficou um grande período sem os
escola remetem apenas à indiscipli- óculos adequados.
na ou falta de limites dos alunos. A Segundo relato da mãe, tudo que fosse
experiência dos alunos se constrói tanto no aprendido pela criança, seria esquecido logo
âmbito escolar quanto no seu meio social. em seguida, devido à morte dos neurônios,
Muitas vezes o segundo influencia de manei- causada pela própria doença.
ra marcante no rendimento da vida escolar. A diretora, não satisfeita com os argumen-
O coordenador/diretor deve estar sempre tos da mãe, resolveu que, no início deste ano
alerta para que, diante de algum problema, escolar, a aluna deveria ir para a 1ª série do
possa identificar se a causa é interna ou ex- Ensino Fundamental, propiciando-lhe novos
terna ao âmbito escolar. estímulos e conhecimentos. Propôs este de-
O caso tratado neste artigo ocorreu em safio à professora da turma, que recebeu a
uma escola da rede particular, na região aluna de braços abertos.
oeste de Belo Horizonte, com a aluna Ma- “Educar é mostrar a vida para quem ain-
nuela1. A escola atende desde a Educação da não viu. É preciso ainda ressaltar que
Infantil até ao Ensino Médio. os alunos com deficiência múltipla passam
Manuela encontra-se hoje na 1ª série do pelos processos de desenvolvimento de um
Ensino Fundamental. Está com 11 anos, indivíduo comum. Logo, não podem ser vis-
possui deficiência múltipla, com atraso tos como eternas crianças”. Essa afi rmativa
psíquico-neuromuscular, necessitando de é bem justificada pelas sábias inferências
estimulação constante da fisioterapeuta e da de Mantoan (2004, p. 39), que relata sobre
fonoaudióloga. Apresenta fotofobia, discreto o trabalho dos profissionais no atendimento
nistagmo. Entrou na escola no ano passado, à diversidade, que precisam adotar novos
com muitas dificuldades no campo da visão, paradigmas, sem infantilizar os alunos
fala e locomoção. considerados limitados. Nesse sentido, ela
A deficiência múltipla pode ser caracteri- permeia as atuações pedagógicas com mu-
zada pelo conjunto de duas ou mais deficiên- danças e quebras de preconceitos.
Ao voltar das férias, Manuela mostrou-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O olhar diferenciado da direção e de uma professora:... Andréa de Brito Soares Silveira
se bem dependente ainda. Havia deixado o modismos educacionais, mas uma trans-
andador e agora se movimentava através de formação que produza uma nova práxis
uma cadeira de rodas. Demonstrava des- pedagógica.
controle de suas necessidades fisiológicas. A
professora, então, começou pedindo a uma Somente a credibilidade no potencial hu-
auxiliar de sala que a levasse ao banheiro mano e a parceria entre profissionais que
em determinados espaços de tempo. Com o estão sempre em sintonia puderam e pode-
passar do tempo, Manuela voltou a manifes- rão fazer a diferença na vida dessa aluna.
tar seus desejos de ida ao banheiro.
Vencida essa primeira etapa, passou-se a REFERÊNCIAS:
adaptar o material didático usado em sala.
Explicou aos coleguinhas sobre as necessi- BRASIL, Ministério da Educação e Cultura,
dades específicas de Manuela, pedindo apoio Secretaria de Educação Especial. Saberes e
a todos eles; o que facilitou a interação de práticas da inclusão: dificuldades acentua-
todo o grupo. das de aprendizagem. Deficiência Múltipla.
A diretora procurou novamente a mãe da SEEP/MEC, Secretaria da Educação Espe-
aluna, pedindo uma reunião com os profis- cial, 2004. 59p. (Série: Saberes e práticas da
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 6
AUTORA:
Aparecida Moreira dos Anjos
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
cional, procurando maneiras de ajudar as crianças com Aos seis anos, matriculada no 1º ano do
baixo rendimento escolar a potencializar suas habilida- primeiro ciclo, quando a professora trabalha
des, as quais podem, de alguma forma, compensar suas com afi nco a alfabetização, percebeu-se que
dificuldades, pois essas crianças enfrentam frustrações Luana tinha dificuldades de reproduzir os
frequentes sobre tudo na escola. sons das consoantes apresentadas e não
conseguia representá-las graficamente, atra-
A
os 6 meses de gestação, após um ul- sando seu processo de aquisição da lingua-
trassom, foi constatado que o volume gem e assimilação do processo da escrita.
do líquido amniótico não estava ade- Como o sistema da Escola Plural não
quado, assim não era possível continuar com permitia a retenção, foi promovida para o 2º
a gestação. O médico propôs uma cesariana ano do 1º ciclo. Seus problemas aumenta-
urgente na tentativa de salvar o bebê. Então ram muito, devido a sentir vergonha de não
Luana nasceu com apenas 1,4 kg e 39 cm, conseguir ler e fazer as atividades propostas
sendo levada imediatamente para incubado- pela professora, o que acarretou problemas
ra onde permaneceu por 4 meses correndo emocionais, como baixa auto-estima e de-
risco de vida, devido ser muito pequena e sinteresse pela escola.
apresentar dificuldades respiratórias. No conselho de classe, as professoras
Após quatro meses de internação, rece- juntamente com a coordenadora pedagógica
beu alta. Devido ao grande período de inter- chegaram a um consenso: Luana precisava
nação, não teve condições de ser amamen- de um acompanhamento especializado para
tada, o que também é um dos fatores que avançar em seu processo de aprendizagem,
prejudicam o desenvolvimento cognitivo dos encaminhando seu caso para a Secretaria
recém-nascidos. de Educação.
Luana começou a falar com atraso, balbu- Realizada a triagem e as primeiras en-
ciando com dificuldades os primeiros sons, trevistas, passou a fazer tratamento com
tinha dificuldades para engatinhar, apre- psicopedagogo, fonoaudiólogo e psicólogo.
sentando lentidão para realizar os movimen- A fonoaudióloga apresentou diagnóstico de
tos. A mãe, preocupada, levou-a ao médico dislalia, uma alteração na articulação dos
que realizou diversos exames e verificou fonemas devido a problemas congênitos ou
que esses atrasos eram consequência de ser adquiridos dos órgãos envolvidos como a
prematura. O médico aconselhou matricu- língua, os lábios, os dentes, a mandíbula
lar a criança em uma escola de Educação e o palato, em resumo, são dificuldades de
Infantil, ressaltando que iria auxiliar muito articulação dos sons da fala.
em seu desenvolvimento motor, socialização Hoje, com 9 anos, está no 3ºano do1º ci-
e oralidade, uma vez que seria estimulada clo, pela segunda vez, por não ter consegui-
por seus pares. do alcançar os objetivos propostos para ser
Assim aconteceu. Após uma conversa com promovida de ciclo.
a coordenação da escola, foi matriculada no A mãe é muito participativa na vida da
maternal I e foi um sucesso o seu desenvol- fi lha, procurando dar a ela todo o suporte
99
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância da parceria entre família e escola para... Aparecida Moreira dos Anjos
REFERÊNCIA:
SISTO, Fermino Fernandes et al. Dificulda-
des de aprendizagem no contexto psicope-
dagógico. Petrópolis: Vozes, 2001.
100
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 7
AUTORA:
Ariana Ponzo de Siqueira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
O
presente artigo mostra a história de algum medicamento.
um aluno desde a antiga 1ª série, A mãe o levou ao psiquiatra infantil, fo-
hoje ele está na 6ª série. ram feitos mais testes e foi confi rmado que
A professora relata, conforme informações ele tem déficit de atenção. O médico recei-
da mãe, que o aluno começou a apresentar tou “Ritalina”, que ele tem que tomar só nos
dificuldades de aprendizagem já na antiga dias que tem aula – o remédio tem efeito de
1ª série, quando fez uma prova para entrar 4 horas.
em um colégio particular e não conseguiu O aluno melhorou a atenção nas aulas e
passar, não sendo aceito na escola. continua tomando o medicamento. Hoje ele
Então ele foi estudar em uma outra escola está na 6ª série.
particular, porém menor, e na sala de aula O Distúrbio de Déficit de Atenção – DDA,
havia poucos meninos, podendo a professora segundo Hallowell e Ratey, ocorre como
lhe dar um pouco mais de atenção e fazer resultado de uma disfunção neurológica
um acompanhamento mais de perto. no córtex pré-frontal. Quando pessoas que
Quando ele ia para a 3ª série, fez nova- têm DDA tentam se concentrar, a atividade
mente uma prova no colégio onde não havia do córtex pré-frontal diminui, ao invés de
conseguido entrar, e conseguiu passar. Cur- aumentar (como nos sujeitos do grupo de
sou a 3ª série e passou para a 4ª série com controle de cérebros normais). Assim sendo,
dificuldade. No fi nal da 4ª série, ele estava pessoas que sofrem de DDA mostram muitos
com muita dificuldade e nas provas fi nais ele sintomas, como fraca supervisão interna,
não foi bem, ficando em recuperação. Aca- pequeno âmbito de atenção, distração, de-
bou não sendo promovido para a 5ª série. sorganização, hiperatividade (apesar de que
A coordenadora da 4ª série chamou a mãe só metade das pessoas com DDA sejam hipe-
e relatou que, quando os alunos estão fa- rativas), problemas de controle de impulso,
zendo uma atividade, ele fica olhando para dificuldade de aprender com erros passados,
o tempo, mexendo com a caneta, não presta falta de previsão e adiamento.
atenção nas atividades. A professora tinha Pessoas que sofrem de DDA têm dificulda-
que ficar chamando a atenção dele e pergun- de de manter a atenção e o esforço durante
tando se já havia feito as atividades. Então a períodos de tempo prolongados. Sua atenção
coordenadora orientou a mãe que o levasse a tende a vagar e frequentemente se desligam
uma psicopedagoga e indicou uma que tem da tarefa, pensando ou fazendo coisas dife-
convênio com a escola. rentes da tarefa a ser realizada.
A psicopedagoga marcou uma entrevista Ainda assim, uma das coisas que muitas
com os pais, depois com o aluno. Foram rea- vezes enganam clínicos inexperientes ao
lizados vários testes com o aluno. tratar desse distúrbio é que as pessoas com
O diagnóstico da psicopedagoga foi de que DDA não têm um âmbito pequeno de aten-
ele tinha déficit de atenção sem ter hiperati- ção para tudo. Frequentemente, pessoas que
101
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Déficit de atenção sem hiperatividade Ariana Ponzo de Siqueira
REFERÊNCIA:
HALLOWELL, Edward M.; RATEY, John J.
Tendência à distração: identificação e ge-
rência do distúrbio do déficit de atenção
(DDA) da infância à vida adulta. Rio de Ja-
neiro: Rocco.
102
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 8
AUTORA:
Bárbara de Sena Simões
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
N
ouvidas de outros;
os primeiros meses, fevereiro e março,
a aluna Monique ainda se comunica- • Presença de habilidades incomuns como
cálculos de calendário, memorização de
va com alguma dificuldade, embolan-
grande sequência.
do muito os sons, que ficavam de certo modo
incompreensíveis. Também utilizava muito o • Interpretação literal, incapacidade para in-
próprio nome quando queria verbalizar um terpretar mentiras, metáforas, etc.;
desejo, vontade ou necessidade (Ex: Monique • Dificuldades no uso do olhar;
quer massinha rosa, porque gosta de rosa.).
• Apego a rotinas e rituais, dificuldades de
Observando as atitudes e comportamentos
adaptação a mudanças;
da aluna, a professora marca uma reunião
com a mãe para conversar sobre as rotinas • Hipersensibilidade sensorial: determinados
da família. Conversando com a mãe, a pro- ruídos, fascinação por objetos luminosos e
fessora descobre que Monique faz acompa- com música, atração por determinadas tex-
nhamento com psicólogo desde 2 anos e 4 turas, etc.
meses de idade. A professora, então, decide Estudada a Síndrome de Asperger, a equi-
marcar uma reunião com o psicólogo. pe da escola traça metas para o desenvolvi-
Na conversa com o especialista, ele conta mento da aluna durante o ano letivo, com
que Monique foi indicada a ele por um psi- o intuito de obter evolução no quadro atual
quiatra. Seu diagnóstico, em fase de fecha- apresentado pela aluna. A rotina de classe
mento, é de Síndrome de Asperger e ainda foi mantida tão consistente, estruturada
não foi apresentado à família. Após receber e previsível quanto possível. Regras foram
essas importantes informações, a professo- aplicadas pela professora cuidadosamente,
ra, juntamente com supervisora da escola, ela também passou a ensinar baseando-se
vai em busca de informações e sugestões de no concreto.
como trabalhar com essa síndrome. Foi fundamental a mudança de atitude da
A Síndrome de Asperger é uma categoria escola frente ao problema da aluna. Outro
relativamente nova de desordem do desen- ponto de partida adotado pela professora foi
volvimento. Um transtorno da infância que socializar o problema com todos que tinham
afeta predominantemente meninos e é se- contato com a criança, foi essencial que to-
melhante ao autismo (transtorno autístico). dos entendessem que havia uma desordem
Caracteriza-se por prejuízo grave, persisten- de desenvolvimento que levava a aluna a se
te e clinicamente significativo da interação comportar e responder de forma diferente
social e pelo desenvolvimento de padrões de que os demais.
103
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Síndrome de Asperger e professor Bárbara de Sena Simões
REFERÊNCIA:
CUMINE, Val; LEACH, Júlia; STEVESON,
Gill. Compreender a Síndrome de Asperger:
Guia Prático para Educadores. Porto Editora,
2006.
104
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 9
AUTORA:
Brízia Aparecida Félix Ferreira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
ciplinado que não respeita os professores, não tem acom- contato com seus filhos, dando amor, com-
panhamento da família e prejudica o rendimento de toda preensão e carinho, participando de sua
a turma. vida, estimulando atitudes positivas, dando
força no desenvolvimento de talentos, dan-
A
tualmente, estamos vivendo um mo- do bons exemplos, estabelecendo limites,
mento crítico na educação, alunos direitos e deveres.
muito agressivos, que não respeitam
os professores, indisciplinados e com gran- Depois da longa conversa com a mãe,
des dificuldades na aprendizagem. a supervisora sugeriu que ele fi zesse um
O presente artigo relata um estudo de acompanhamento médico e psicológico, já
caso de um aluno da 5ª série do ensino fun- que a escola, juntamente com os professo-
damental, matriculado no turno da manhã res, estava disposta a mudar a metodologia
em uma escola da região de Contagem e fre- de ensino para tentar prender a atenção dele
quente no projeto Escola Integrada. nas aulas. uma vez que o seu comportamen-
Marcos1 é um menino que, em nenhum to destoava dos demais colegas.
momento, demonstrou interesse em aprender No decorrer do ano de 2008, ele apresen-
o conteúdo. Além de atrapalhar os colegas, tou poucos avanços em relação ao esperado.
ele é um menino indisciplinado e agressivo A supervisora percebeu que ele ainda conti-
tanto com os professores quanto com os nuava agressivo, indisciplinado, com dificul-
próprios colegas. Apresenta dificuldade de dade na leitura e na escrita e não socializa-
aprendizagem na leitura e escrita sempre va com os colegas, apesar das intervenções
fica isolado dos colegas. feitas.
Diante das dificuldades que o aluno apre- Então, no fi nal de novembro, a mãe foi
sentava, a supervisora da escola solicitou a chamada novamente à escola para mais uma
presença da mãe para expor a situação. Pela conversa com a supervisora, que gostaria
conversa, a escola ficou sabendo de informa- de saber como andava o tratamento. A mãe
ções que a mãe não havia passado para a se mostrou indiferente e disse que já estava
escola quando o aluno fora matriculado. cansada de tanto tentar e não ter resultado,
Na conversa, a mãe expôs que o fi lho, há falou também que todas as vezes que ela é
pouco tempo, descobriu que tinha sido ado- chamada na escola Marcos leva uma surra
tado com 4 anos e que, aos 6 anos, depois de para aprender a se comportar.
um exame, foi constatado que ele era diabé- De acordo com Mielnik (1982, p. 60),
tico, passando a tomar insulina. Além disso,
ele não tinha o acompanhamento familiar, a Crianças excessivamente inquietas, agi-
mãe e o pai trabalhavam o dia todo, por isso tadas, com tendências à agressividade, se
ele ficava na escola o dia inteiro. destacam no grupo pela dificuldade de acei-
Segundo José Elias Murad (2003, p.20), tar e cumprir as normas, às vezes, não con-
seguindo produzir o esperado para sua ida-
de. Estas crianças representam um desafio
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
105
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Agressividade, indisciplina e dificuldade de aprendizagem Brízia Aparecida Félix Ferreira
REFERÊNCIAS:
MIELNIK, Isaac. O Comportamento Infantil:
Técnicas e Métodos para entender crianças.
2. ed. São Paulo: Ibrasa, 1982.
106
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 10
AUTORA:
Cecília Oliveira de Morais
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
frente ao caso de um aluno do 6º ano do Ensino Funda- uma conversa sobre o aluno. Na reunião, foi
mental da rede particular de ensino, com quadro de indis- relatado que realmente o aluno é acompanha-
ciplina e dificuldade de aprendizagem, além de irritabili- do por psicóloga e psiquiatra. Em casa, ele
dade e agressividade no relacionamento com os colegas. apresenta também um comportamento bem
alterado, porém não há diagnóstico fechado
O
presente artigo foi desenvolvido a par- sobre seu caso. Os pais estão passando por
tir da análise e do acompanhamento fase de separação e acreditam que isso pos-
de um estudo de caso realizado por sa estar influenciando no comportamento do
um coordenador pedagógico em uma escola fi lho. Como nada foi comprovado até o mo-
particular de Belo Horizonte. mento, eles assumiram com a coordenação
O estudo de caso refere-se a um aluno do pedagógica o compromisso de acompanhar
6º ano do 2º ciclo, matriculado na escola no o fi lho e comparecer periodicamente à escola
2º semestre do ano letivo de 2008, que vem para se informarem.
apresentando um comportamento inquieto, Os professores relataram em entrevistas
agressivo, e dificuldade na aprendizagem. que o aluno apresenta uma grande dificul-
Supostamente, apresenta TDAH1. dade em trabalhar em grupo, é agitado,
As primeiras observações a respeito des- irônico em suas respostas, questionador. O
se aluno foram feitas pelos professores re- que mais compromete a sua interação em
gentes, com várias tentativas de intervenção, sala são os comportamentos agressivos e
mas com resultados quase nulos. A partir os palavrões com os colegas e professores.
daí, a professora, juntamente com a coor- O rendimento nos trabalhos é quase sempre
denação pedagógica, iniciou o estudo desse insatisfatório.
aluno, observando que, em um curto período Como o estudo do caso desse aluno ainda
de tempo, o aluno por várias vezes faltava é recente, as intervenções são “testes” para
à aula, apresentando atestados médicos. O verificar se há possibilidade de fechar diag-
coordenador suspeitava que o aluno apre- nóstico de TDAH. O que está sendo proposto
sentasse um quadro de TDAH, pois, além de para ele são situações próprias do cotidiano,
perceber que em alguns dias parecia estar com o intuito de estabelecer regras e um
mais alterado que o normal, o seu compor- melhor comportamento frente ao seu dia a
tamento e a dificuldade na aprendizagem es- dia, tanto em casa como na escola, criando
tavam cada dia mais evidentes. No entanto, uma responsabilidade quanto aos horários
até o momento, em sua ficha não foi decla- de tarefas e à melhor organização do com-
promisso com seus deveres.
É possível perceber que o aluno ainda não
1. O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperativi-
dade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de cau- aprendeu a conviver com a realidade escolar
sas genéticas, que aparece na infância e freqüentemente e seu comportamento ainda não apresenta
acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se ca- evolução. Não consegue lidar com os desa-
racteriza por sintomas de desatenção, inquietude e im- fios e a diversidade das atividades, principal-
pulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio
do Déficit de Atenção).
107
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A ação do coordenador pedagógico e a indisciplina em sala de aula Cecília Oliveira de Morais
REFERÊNCIAS:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT
DE ATENÇÃO. O que é TDAH. Disponível
em: <http://www.tdah.org.br/>. Acesso em:
28/05/09.
108
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 11
AUTORA:
Cláudia Pacheco de Almeida
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
de leitura da realidade bem como do domínio do processo envolve a construção de um leque variado
da prática da escrita por meio da alfabetização e do letra- de competências cognitivas e requer que se
mento na idade adulta. favoreça a participação ativa do aluno nes-
sa construção. Dessa forma, o processo de
avaliação é contínuo e cumulativo, sendo
C
onsiderando que a escola assume a utilizados instrumentos diversos tais como:
missão de inserir o aluno num con- escritos e orais; trabalhos e provas; pesqui-
texto globalizado, com participação sas e observações realizadas individualmen-
ativa e crítica na sociedade, seu objetivo te, em duplas ou em grupos.
deve ser a construção do conhecimento para Visando obter maior envolvimento do
formar cidadãos conscientes e responsáveis aluno, e consequentemente seu crescimen-
num processo educativo construtivo. Isso to humano, crítico e consciente, a escola
pressupõe a leitura da realidade e o domínio disponibiliza: exposições, gincanas, feiras,
do processo da prática da escrita que se dá excursões, pesquisas, dramatizações, expe-
através da alfabetização e do letramento. riências em laboratório, práticas diversas.
É necessário administrar as mudanças Todas essas atividades são executadas em
de forma significativa, subsidiando novas conformidade com o conteúdo básico a ser
ações num contexto mais humanista, para seguido em cada disciplina e em cada fase.
superar dificuldades e carências a partir do O professor procura ser um educador, a
potencial dos alunos e de uma educação de fi m de estimular, orientar e facilitar a apren-
qualidade num caminho participativo onde dizagem. Sendo dinâmico e autêntico no tra-
os educadores sejam facilitadores na forma- to com o educando, analisa e questiona com
ção dos alunos. o aluno suas idéias, respeitando sem impor
O presente Estudo de Caso foi realizado seu ponto de vista. O aluno é incentivado à
numa Escola Estadual que iniciou a Educa- descoberta e à valorização do trabalho para
ção de Jovens e Adultos – EJA em março de que “aprenda a aprender”, tornando-se su-
2007 e conta com seis turmas de aproxima- jeito de sua própria educação. A direção e o
damente dezenove alunos cada. As turmas serviço pedagógico da escola têm o cuidado
são formadas mediante avaliação diagnós- de reunir-se periodicamente com seu corpo
tica que indica o nível de conhecimento do docente para juntos analisarem, discutirem
aluno. e decidirem as ações pedagógicas e melhor
A proposta é articular os conteúdos com envolverem o aluno promovendo seu desen-
as experiências de vida do educando de for- volvimento. Assim sendo, diversos recur-
ma inter e transdisciplinar Assim, a escola sos pedagógicos são utilizados, tais como:
propõe trabalhar em três períodos – com du- Computador – as informações são recebidas
ração de um ano cada – sendo o primeiro re- através dos estímulos: visual, tátil, auditivo;
ferente à 5ª série, o segundo à 6ª e 7ª séries Vídeo – para enriquecer as aulas, melhorar
e o terceiro à 8ª série. São ministradas três a atenção, o raciocínio e a percepção; Artes
(dança, teatro, pintura e outros) – para de-
109
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dificuldade de alfabetização e letramento na idade adulta Cláudia Pacheco de Almeida
110
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dificuldade de alfabetização e letramento na idade adulta Cláudia Pacheco de Almeida
REFERÊNCIAS:
MANTOAN, M.T.E. Educação de deficientes
mentais: o itinerário de uma experiência.
Campinas (SP): Unicamp/Faculdade de Edu-
cação, 1987, dissertação de mestrado.
111
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 12
AUTORA:
Daniela Margareth Fernandes de Moura
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
aluno diagnosticado com quadro TDAH em uma escola e são confundidos com os “malcriados”.
inclusiva da rede particular de ensino, com o objetivo de O aluno com TDAH, como qualquer ou-
orientar educadores a identificar e atender, dentro do tro, deve ser compreendido, tornando-se
possível, alunos com TDAH. fundamental a interlocução entre educa-
ção e saúde na formação dos educadores. A
D
esde a era antiga até finais do século prática social possibilitou que os familiares
XX, observamos que mais atenção realizassem leituras mais amplas da reali-
foi dada às crianças que apresenta- dade e com isso fossem reconstruindo sua
vam problemas de aprendizagem, sem que consciência e atribuindo novos significados
houvesse qualquer deficiência que pudesse ao comportamento e desenvolvimento de
explicar o fato. crianças com TDAH.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hipe- A reflexão da prática pedagógica revelou
ratividade – TDAH1 é considerado o trans- a necessidade de os educadores buscarem
torno de desenvolvimento infantil mais diag- novos conhecimentos e estratégias que pro-
nosticado na atualidade; apresenta-se como movessem maior aprendizagem e desenvol-
tema frequente e controverso na sociedade vimento de seus alunos com TDAH, pois, de
e é grande desafio nas escolas. Os professo- acordo com pesquisa da Associação de Pais
res enfrentam situações que fogem às suas e Amigos dos Hiperativos, TDAH é um dos
expectativas e buscam organizar o entendi- transtornos mentais mais frequentes nas
mento a partir de discursos discrepantes. crianças em idade escolar, atingindo 3 a 5%
Paulo 2 é aluno matriculado em uma es- delas, ao mesmo tempo em que continua
cola particular inclusiva e apresenta um sendo um dos transtornos menos conheci-
quadro de TDAH. Segundo relatos da profes- dos por profissionais da área da educação.
sora, ele incomoda os colegas com atitudes O que podemos perceber é que, muitas
de provocação e conversas fora da atividade vezes, as primeiras suspeitas do problema
proposta. Ele anda, corre e pula no espaço surgem no âmbito escolar, já que os profes-
da sala de aula e mostra-se agressivo com sores podem comparar a conduta de crian-
os colegas. Entretanto, Paulo consegue es- ças da mesma idade, encaminhado-as para
tar atento a tudo que acontece na sala de avaliação.
aula, muitas vezes executando tarefas com Educar um fi lho ou um aluno com TDAH
rapidez. não é tarefa das mais simples. É preciso ser
Muitos desses alunos se transformam em paciente, calmo e ter bastante jogo de cintu-
ra. No caso de Paulo, a escola onde se deram
1. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
está associado com comorbidades importantes que vão as observações do estudo, segue orientações
desde perturbações no desempenho escolar até proble- e intervenções trazidas pelos especialistas e
mas de ordem psicossocial na vida do indivíduo. Dentre pelos pais do aluno. São realizadas reuniões
elas, destacam-se as alterações na coordenação motora, mensais ou de acordo com a necessidade de
interferindo na aprendizagem escolar e nas atividades troca de informações e recomendações.
cotidianas.
A mãe de Paulo se sente segura pelo
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
113
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
(TDAH) a hiperatividade no contexto escolar Daniela Margareth Fernandes de Moura
REFERÊNCIAS:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE
ATENÇÃO. Afinal, temos direito? Disponível
em: http://www.tdah.org.br/reportagem02.
php. Acessado em: 18 maio 2009.
114
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 13
AUTORA:
Débora Luíza Vieira Guedes
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
visual numa escola particular de Belo Horizonte. Nele são a drástica mudança, mas foram solidários.
relatadas as intervenções realizadas para sanar a dificul- Ele passou a ficar como ouvinte em sala e
dade, bem como a melhor forma de o aluno não perder o quase não enxergava as atividades passadas
conteúdo e, assim, permanecer na escola. em sala de aula, seu caderno não era com-
pleto e então surgia a necessidade de entrar
E
ste artigo baseia-se no estudo de caso em contato com a família e passar o caso.
do aluno Gabriel1, de 16 anos, estu- Segundo consta, Gabriel nunca havia
dante do 2º ano do Ensino Médio de realizado exame oftalmológico, pois seus
uma escola particular de Belo Horizonte. pais nunca notaram alterações no aspecto
Em conversa com a coordenadora peda- visual do fi lho, por isso, não faziam controle
gógica, esta relatou que o aluno tinha uma anual.
visão considerada normal no fi nal de 2006, Neste caso, foi a escola que chamou os
acompanhava a turma, era independente pais de Gabriel para estudarem o caso, pro-
nas atividades, mas, quando retornou de fé- curando saber o que a família tem feito para
rias em 2007, já não enxergava como antes. ajudar o fi lho e defi nindo como a escola tam-
Foi um susto para todos que o conheciam. bém poderia ajudar.
Gabriel passou a ser dependente nas ativi- Primeiramente, a coordenação chamou
dades, não conseguindo ler o que escrevia. os professores e discutiram as dificuldades
Os professores e a coordenação não per- enfrentadas. Eles colocaram que Gabriel não
ceberam qualquer alteração visual no ano se locomove como antes, suas interpretações
anterior e constataram que os desafios que pioraram e as provas precisam ser orais.
teriam que resolver junto com a família se- A mãe relatou que realmente demorou
riam enormes. muito para levar o fi lho ao oftalmologista
Segundo Aranha (2007), para que os pro- e disse que percebeu que Gabriel prefere
fessores possam desenvolver estratégias que se fechar no quarto, preferindo não se en-
facilitem a aprendizagem do aluno com Ne- turmar, talvez como uma não aceitação da
cessidades Educacionais Especiais na sala deficiência.
de aula, eles devem se tornar professores Relatou-se à mãe a dificuldade de o ado-
pesquisadores, buscando conhecer cada alu- lescente perder a visão justo no ensino médio,
no, tanto no que se refere às suas caracterís- o preconceito infelizmente presente entre os
ticas pessoais (e a família os auxiliará nessa jovens e as expectativas que todo estudan-
tarefa) como, especialmente, ao seu processo te tem quando se forma sobre o que fazer,
de aprender, antes e durante todo o proces- qual curso realizar. Para Gabriel o caminho
so de ensinar. O professor pesquisador pode não será fácil, mas que ele tem potencial e
criar estratégias para auxiliar a construção capacidade de vencer qualquer obstáculo da
de conhecimento dos alunos com baixa visão vida.
que, devido às suas limitações, muitas vezes Ao fi nal, a coordenação e professores
terão um nível de desenvolvimento real. orientaram a mãe a procurar o Instituto São
Rafael, para o curso de orientação e mobi-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
115
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Uma situação de perda visual no ensino médio Débora Luíza Vieira Guedes
REFERÊNCIA:
ARANHA, Maria Salete Fábio. Adaptações
curriculares de pequeno e de grande por-
te. Disponível em <www.mec.gov.br>. Acesso
em: 07 maio 2009.
116
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 14
AUTORA:
Denilda Patrícia Ferreira
Endereço eletrônico: d.patriciaferreira@gmail.com
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
E
ste artigo baseia-se no estudo de caso higiene pessoal e com o seu ambiente. A fa-
da aluna Ana1, de 12 anos, que está mília não aceitava sua deficiência e transferia
na 1ª série do ensino fundamental em a responsabilidade desse tipo de informação
uma escola particular inclusiva, diagnosti- para a escola. Sabemos que a escola e a fa-
cada com deficiência mental leve. mília devem trabalhar juntas com a criança
Sabemos que toda criança tem direito de com deficiência mental, auxiliando-a no seu
frequentar uma escola, na qual seja aceita tratamento e na sua socialização.
e tratada com respeito e carinho; podendo Para obter maior respaldo sobre o de-
desenvolver-se de forma integral. senvolvimento e o aproveitamento de Ana
Mantoan (2001) acredita que não adianta no contexto escolar, buscaram, por meio de
permitir o acesso de todos às escolas, sem entrevistas semiestruturadas, ouvir aqueles
garantir o prosseguimento da escolarida- que a atendiam diretamente fora desse con-
de até o nível que cada aluno for capaz de texto, bem como os profissionais da escola
atingir. Ao contrário do que alguns ainda e os pais da aluna. Todas as entrevistas fo-
pensam, não há inclusão quando a inserção ram analisadas e articuladas entre si com
de um aluno é condicionada à matricula a intenção de obterem dados desde a esfera
em uma escola ou classe especial. A inclu- clínica sobre as percepções em relação ao
são deriva de sistemas educativos que não aproveitamento de Ana, passando pelas in-
são recortados nas modalidades regular e terlocuções sociais permeadas pela família,
especial, pois ambas se destinam a receber para assim partirem para a percepção do
alunos aos quais impomos uma identidade, processo de ensino-aprendizagem.
uma capacidade de aprender, de acordo com A educação é o principal agente de trans-
suas características pessoais. formação de qualquer sociedade e a escola
No que se refere à característica essencial é o segmento que visa a essa transforma-
do deficiente mental, devemos considerar a ção, devendo para isso estar conectada à
pessoa que tem um, realidade.
É preciso convicção na capacidade que
funcionamento intelectual significativa- toda criança tem de aprender, defendendo
mente inferior à média, acompanhado de a ideia de que a escola deve transformar-se
limitações significativas no funcionamento para atender à diversidade e não fundamen-
adaptativo em pelo menos duas das se- tar-se na lógica da homogeneidade. O defi-
guintes áreas de habilidades: comunicação, ciente mental reflete o modo pelo qual a fa-
autocuidados, vida doméstica, habilidades mília e colaterais o concebem como pessoa.
Sua conduta denuncia os sentimentos que
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
117
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão de uma criança com deficiência mental: ... Denilda Patrícia Ferreira
estão por trás de certas atitudes, na maioria Para fi nalizar, é preciso ressaltar que a
das vezes inconscientes, daqueles com os inclusão escolar é um processo que envolve
quais convive mais diretamente em seu meio todos, tanto os profissionais da instituição
de origem. escolar, como também, os pais e os alunos.
A partir dessa idéia, professora e coorde-
nação desenvolveram, dentro e fora da sala REFERÊNCIAS:
de aula, atividades e comportamentos que
desenvolvessem na aluna hábitos de higiene. GLAT, Rosana (Coord.). Inclusão Escolar de
Nas atividades propostas, elas utilizavam alunos com necessidades educativas espe-
perguntas como “qual o seu nome”, “seu ciais no ensino regular: práticas pedagógi-
endereço” e sondavam sobre seu comporta- cas e cultura escolar. Disponível em: <http://
mento com sua família e seus hábitos do seu www.eduinclusivapesq-uerj.pro.br>. Acesso
dia a dia com a saúde. em: 10/05/2009.
A estruturação das representações sim-
bólicas do vivido, que ocorre naturalmente MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Caminhos
no desenvolvimento das pessoas ditas nor- Pedagógicos da Inclusão: Como estamos im-
mais, não acontece com a mesma esponta- plementando a educação (de qualidade) para
118
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 15
AUTORA:
Ednéia Aparecida Rabelo Santos
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
R
efletir sobre as questões de uma esco- para os ataques epiléticos, o tratamento psi-
la de qualidade para todos, incluindo cológico foi adiado.
aluno com deficiência mental, signifi- A escola, como centro da educação, tem
ca considerar aqueles que são responsáveis como principal objetivo conhecer a criança,
pela educação. sujeito de direitos, que participa de uma de-
A deficiência mental implica um funcio- terminada cultura e que está sendo inserida
namento intelectual geral significativamente em sua comunidade, na qual vive e dela faz
abaixo da média, oriundo do período de de- parte. O método utilizado pela escola enfati-
senvolvimento, concomitante com limitações za o construtivismo e são elaborados proje-
associadas a duas ou mais áreas da conduta tos a serem desenvolvidos com as turmas.
adaptativa ou da capacidade do indivíduo A coordenadora tem uma preocupação
em responder adequadamente às demandas com Rui, na sua mudança de conduta, de-
da sociedade, nos seguintes aspectos: co- vido às atitudes como subir em árvore e
municação e cuidados pessoais, habilidades em lugares altos, como o poste a quadra
sociais, desempenho na família e comuni- de vôlei, bem como aos ataques epiléticos
dade, independência na locomoção, saúde frequentes.
e segurança, desempenho escolar, lazer e A mãe relata as dificuldades da família
trabalho. em encontrar profissionais da educação
Embora seja possível identificar a maior preparados para lidar com esse tipo de alu-
parte dos casos de deficiência mental na no, principalmente nos momentos das ava-
infância, infelizmente esse distúrbio só é liações, quando a escola não disponibiliza
percebido em muitas crianças quando elas métodos de avaliação diferenciados. Apesar
começam a frequentar a escola. Isso acon- de ser construtivista, o aluno deficiente
tece porque essa patologia é encontrada em mental permanece na escola ano a ano sem
vários graus, desde os mais leves, passando progresso.
pelos moderados, até os mais graves. Nos Os professores e toda a equipe pedagó-
casos mais sutis, os testes de inteligência di- gica não encontram alternativas que facili-
recionados para os pequenos não são nada tem a aprendizagem, para ensiná-lo ou ao
confiáveis, tornando-se então difícil detec- menos fazê-lo acompanhar a turma. Não
tar o problema. Nos centros educacionais, há recursos pedagógicos, para um trabalho
as exigências intelectuais aumentam e aí a adequado. O aluno fica vagando pela escola
deficiência mental torna-se mais explícita. sem perspectiva de ensino.
Rui1 tem 15 anos de idade, frequenta o A professora do aluno relata “ser um ab-
3ºano do ensino fundamental, possui defi- surdo ter alunos com deficiências na esco-
la. A escola cumpre a lei de ser uma escola
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Deficiência mental e inclusão Ednéia Aparecida Rabelo Santos
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 16
AUTORA:
Gisele Maria de Souza
Endereço eletrônico: pedagogisele@hotmail.com
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
O CASO E O ACASO
com condutas típicas e descobre algo mais do que um sim- direção, até que a pedagoga resolveu instigá-
ples problema em sala de aula. Descobre possibilidades de la a fazer anotações sobre os comportamen-
trabalhar com esse aluno, apesar do descaso dos pais e da tos do aluno.
pouca intervenção da pedagoga. Manuel, 6 anos, no aspecto da psicogêne-
se linguística, estava vivenciando o período
E
m cada escola, cada sala de aula, pré-silábico, saindo da garatuja, e sua tur-
sempre encontramos sujeitos, atores ma já estava alfabética.
sociais envolvidos em inconformidade As anotações da professora se estende-
inesperada que chocam os padrões normais ram para quase um ano aproximadamente,
do cotidiano escolar. colhendo dados de Manuel e comparando-os
Vivemos hoje uma avalanche de compor- com os textos lidos, que abordavam com-
tamentos indevidos de “alunos-problemas”, portamentos típicos. Ousou evidenciar ca-
que subtraem o bom desempenho na sala de racterísticas que pareciam de alunos com
aula e que carregam consigo o estigma de déficit de atenção, mas não parecia o diag-
“os pestinhas”. nóstico fi nal, de acordo com uma psicóloga
Na Escola Criança Feliz1 não era diferen- da escola.
te. Havia vários alunos que se destacavam O apoio pedagógico tornou-se fundamen-
de “0 a 5 em comportamento”, mas um so- tal no momento em que o desgaste de uma
bressaia entre os demais na escola. professora na sala de aula com os demais
Manoel 2 era conhecido em toda a escola alunos, o aluno de condutas típicas e as res-
como aquele aluno com quem todos evita- ponsabilidades profissionais se evidenciou
vam conviver e que toda professora não de- no humor dessa profissional.
sejava na sua classe. Teimoso, barulhento, A pedagoga se reuniu com os pais de Ma-
irrequieto, interrompia as aulas tentando noel, que eram separados, comunicou sobre
chamar atenção para si, porém, se os cole- os dados pesquisados, fazendo um pedido de
gas não aderiam às suas estripulias, eram encaminhamento para especialistas. Os pais
agredidos por ele. Nunca terminava as tare- negaram o problema de todas as maneiras e
fas em sala de aula, sendo encaminhado em até ameaçaram tirar a criança da escola.
várias ocasiões para a sala de coordenação Sendo uma escola particular, intimidada,
ou outra sala enquanto os alunos se prepa- o que fi zeram foi arquivar o caso e buscar
ravam para o recreio. soluções alternativas. Isso significava maior
Manoel sempre desrespeitava a professora empenho da professora.
e liderava a turma ao desrespeito também.
Era impulsivo, ansioso, humor inconstante, Queria ter aceitado as pessoas como elas
carente de elogio e afeto. Tinha ânimo para são. Cada um sabe a alegria e a dor que
atividades esportivas (embora muitas vezes traz no coração. O acaso vai me proteger,
não as terminava sem criar confusões), e de- enquanto eu andar distraído, o acaso vai
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O caso e o acaso Gisele Maria de Souza
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 17
AUTORA:
Grazielle Andrade Madaleno
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
uma instituição pública inclusiva de Belo Horizonte, so- durante a gravidez, que tenha afetado as
bre as dificuldades de uma aluna do 3º ano do 1º Ciclo do vilosidades aracnoidianas e deixada como
Ensino Fundamental com hidrocefalia. consequência a deficiente reabsorção. Tendo
em conta que nessa fase da vida o crânio
A
hidrocefalia é um termo médico bas- ainda se encontra em crescimento, uma das
tante antigo. Na Antiguidade, a de- repercussões típicas da doença é o aumento
formação craniana era reconhecida e do tamanho da cabeça da criança afetada.
diagnosticada, mas não se sabia exatamente Em relação à aluna com hidrocefalia in-
onde o líquido se acumulava em excesso. serida no espaço educacional, é importan-
Apenas imaginavam que este se encontrava te que a escola como um todo busque uma
entre o cérebro e o envoltório ósseo. Hidroce- forma diferenciada para poder facilitar o
falia significa “água na cabeça”. O que acon- processo ensino-aprendizagem. juntamente
tece é que o Líquido Cefalorraquidiano (LCR) com a família, que também faz parte desse
produzido no cérebro, por algum motivo, não processo facilitador.
consegue circular normalmente na massa O estudo sobre a inclusão de alunos espe-
encefálica, fazendo com que a caixa craniana ciais faz-se necessário, uma vez que a nova
aumente de tamanho (característica obser- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
vada principalmente nas crianças), provo- cional (LDBEN) n. 9.394/96 prevê que todos
cando assim maiores comprometimentos. os alunos com necessidades especiais devem
As causas mais frequentes são “secreção ser atendidos, ou incluídos, nas classes re-
aumentada de LCR, obstrução das vias de gulares do ensino comum.
circulação do LCR, seja no interior do siste- Os estudos de Mittler (2003) e Mantoan
ma ventricular, seja na sua saída para o es- (2003) nos dizem que a inclusão escolar é, e
paço subaracnóideo, e bloqueio na absorção tem de ser vista como uma realidade. Como
do LCR”. O tratamento depende da origem tal deve ser encarado de forma totalmente
da anomalia. A maior parte das hidrocefa- contextualizada no cotidiano sociopsicoedu-
lias requer tratamento normalmente cirúr- cativo da práxis escolar. Por isto a cartilha
gico. O tratamento habitual é a introdução de inclusão dos direitos das pessoas com
de uma derivação (implantação de uma vál- deficiência da PUC Minas vem mostrando o
vula para drenar o LCR dos ventrículos até momento histórico e importante que estamos
o abdômen para ser absorvido pela corrente vivendo. Vários segmentos sociais lutam por
sanguínea). Porém, essa derivação não cura seus direitos de inclusão na sociedade.
a hidrocefalia. Percebe-se que aluna não está totalmen-
Hidrocefalia infantil é quando já está pre- te incluída devido a suas limitações tanto
sente no nascimento ou se desenvolve nos motoras quanto cognitivas. Diante dessas
dois primeiros anos de vida. Nesse caso, dificuldades enfrentadas pela aluna e tam-
costuma ser provocada por uma alteração bém pela escola, se faz necessário o uso
congênita, independentemente de ser origi- de alguns recursos da Tecnologia Assistiva
nada por uma malformação anatômica que (TA), para que possa facilitar o processo
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão de criança com hidrocefalia na escola regular Grazielle Andrade Madaleno
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional, Lei n. 9.394/96. Brasília:
Câmara dos Deputados; 1996.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 18
AUTORA:
Ilana Rafaela Malaquias Ramos
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
C
amila tem 9 anos e está matriculada Conceitua-se trabalho infantil aquele re-
na rede estadual no ensino funda- alizado abaixo da idade mínima básica de
mental. É uma garota que apresenta 16 anos e que prejudica a saúde da criança;
muitas dificuldades de aprendizagem, tem interfere na sequência escolar e não permite
dificuldades na leitura e na escrita, não faz tempo livre para o estudo fora da escola e
atividades propostas para casa, é muito in- rouba a infância e o lazer. Os prejuízos do
frequente às aulas. É uma criança fechada, trabalho precoce são muitos, tanto do ponto
que apresenta sinais depressivos. de vista psicoemocional quanto em relação
Através de observações do comporta- ao próprio desenvolvimento corporal das
mento, do rendimento e da infrequência da crianças e dos adolescentes. É preciso iden-
aluna, a professora resolveu informar o caso tificar a realidade dessas crianças e suas
à coordenadora da escola para juntas bus- necessidades e criar as oportunidades cer-
carem uma intervenção para solucionar o tas de supri-las. Outra necessidade básica é
problema. proporcionar o acesso à educação adequada
O primeiro passo foi conversar informal- e controlar as horas de trabalho, garantindo
mente com a aluna, procurando identificar a frequência às aulas. Essas medidas dizem
razões aparentes que pudessem justificar respeito ao poder público, mas com certeza
suas faltas e o seu fracasso escolar. Tímida são também responsabilidade dos pais e da
e acanhada, tentava sempre mudar de as- sociedade.
sunto, até que, depois de muita insistência, O Governo Federal criou o Programa de
ela acabou revelando que não tinha nenhum Erradicação do Trabalho Infantil – PETI,
tempo para estudar e para brincar, que fal- com o objetivo de retirar crianças e adoles-
tava demais às aulas porque sua mãe, ao centes do trabalho perigoso, possibilitar o
sair para trabalhar como diarista, deixava acesso, a permanência e o bom desempenho
seus três irmãos menores para ela cuidar de crianças e adolescentes na escola, fomen-
durante o dia. Relatou também que sua mãe tar e incentivar a ampliação do universo de
a obrigava a trabalhar à noite vendendo gu- conhecimentos da criança e do adolescente,
loseimas nos bares do bairro para ajudar por meio de atividades culturais e esportivas,
nas despesas da casa. artísticas e de lazer no período complementar
O relato da aluna provocou uma gran- ao da escola, ou seja, na jornada ampliada,
de indignação nos envolvidos no estudo de proporcionar apoio e orientação às famílias
caso, que buscaram informações e leis para por meio da oferta de ações socioeducativas,
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Os prejuízos do trabalho infantil na educação Ilana Rafaela Malaquias Ramos
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adoles-
cente. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente e dá outras providências. 6ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2004.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 19
AUTORA:
Iracivana Frandelina de Andrade
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
de Belo Horizonte. O aluno em questão entrou na escola mente quando a estagiária chegou, pois não
com um quadro de hiperativismo, porém a coordenadora ficava parado dentro de sala e a professora
percebeu que a criança tinha algo a mais. A mãe nunca le- não podia ir atrás dele tendo mais 25 alunos
vou o laudo médico para a escola. Então a coordenadora dentro da sala de aula.
resolveu convencer a mãe da necessidade da criança fazer A coordenadora fazia reuniões constantes
um tratamento. com a mãe da criança na tentativa de con-
vencê-la a ir a outro médico para que este
O
s alunos com deficiência já estão in- fi zesse uma avaliação da criança, pois não
seridos no contexto escolar da rede parecia ter apenas hiperativismo.
municipal de ensino e com isso a so- A coordenadora se propôs auxiliar a mãe
ciedade vem abrindo espaços para que essas e levá-la onde fosse necessário para que a
pessoas possam ingressar no mercado de escola tivesse um laudo médico da criança e
trabalho de forma a serem respeitados. conseguisse trabalhar melhor com ele.
Este artigo foi baseado em um estudo de Enfi m, a mãe concordou e levou o fi lho a
caso que observei durante meu estágio em uma clínica indicada pelo médico do posto
uma escola da rede municipal de ensino que de saúde do bairro. Na clínica, fi zeram uma
fica em um bairro da região oeste de Belo bateria de exames, diagnosticando, primei-
Horizonte. ramente, que a criança era autista, desco-
Quando a mãe matriculou o fi lho na es- brindo-se depois ser Síndrome de Asperger,
cola, ela não havia informado que ele tinha que é uma síndrome muito parecida com o
uma necessidade especial. No entanto, no Autismo.
primeiro dia de aula, todos perceberam que Com o laudo médico, a coordenadora con-
ele tinha uma deficiência. A mãe foi chama- segue analisar melhor as atitudes da crian-
da na sala da coordenação para que conver- ça e trabalhar com projetos que auxiliem a
sasse com a coordenadora. professora no aprendizado do aluno.
A criança não parava quieta e a mãe dizia As crianças que são diagnosticadas com
que ele tinha um quadro de hiperativismo, Síndrome de Asperger apresentam um desa-
mas não levou nenhum laudo médico para fio especial no sistema educacional. Elas são
comprovar o que afi rmava. A coordenadora vistas pelos colegas e alguns profissionais da
observou que a criança tinha certa agitação educação como crianças excêntricas e suas
e que lia todas as mensagens que estavam habilidades sociais são inatas.
fi xadas na parede da sala. A mãe informou Crianças com Síndrome de Asperger têm
também que outras escolas não o aceitaram uma falha no entendimento das relações
e que ele havia sido “expulso” de uma creche humanas e das regras de convívio social,
do bairro. são ingênuas e eminentemente carentes de
A coordenadora o aceitou, pois a educa- senso comum. Elas têm uma falta de habi-
ção é um direito de todos, segundo a LDB lidade para lidar com mudanças, o que as
n. 9.394/96 e, sabendo disso, não se pode leva a serem facilmente estressadas e emo-
negar a educação a nenhum ser humano. A cionalmente vulneráveis. Ao mesmo tempo,
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A escola e seus diferentes Iracivana Frandelina de Andrade
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional – Lei n. 9.394/96. Brasília:
Senado Federal, 1996.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 20
AUTORA:
Isabel Cristina Campos Faria
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
racterísticas: Desrespeito aos direitos e transgressão das constantes agressões físicas aos colegas e os
normas sociais, manifestações excessivas de agressivida- confl itos com as professoras, a coordenação
de e de tirania; crueldade com relação a outras pessoas pedagógica encaminhou-o para o atendi-
ou a animais; destruição dos bens de outrem; condutas mento psicológico que acontece quinzenal-
incendiárias; roubos; mentiras repetidas; cabular aulas mente na instituição.
e fugir de casa; crises de birra e de desobediência, etc. O Após dois encontros, convidamos o pai
que deve ser tratado o mais breve possível por uma equipe para conversar sobre os comportamentos do
interdisciplinar e especialista da área. aluno. O pai conversou com o fi lho, mas de
nada adiantou.
P
aulinho tem 5 anos completos e está No 2º período, seu comportamento piorou.
cursando o 2º período da Educação As professoras não conseguem mais conviver
Infantil. com o aluno em sala, devido à agressividade
A sua história é marcada por fatos trau- e ao mau comportamento.
máticos desde a sua mais tenra idade. Sua As professoras colocam-no de castigo,
gestação foi tranquila, os pais moravam sentado na cadeirinha do pensamento, em
juntos sem maiores dificuldades, o parto alguns momentos é impedido de participar
ocorreu no tempo certo, sendo normal. Seu das brincadeiras, como forma de punição.
desenvolvimento era normal. Ele melhora, se acalma por um momento, e
A estrutura familiar foi modificada quan- logo volta a atrapalhar a turma.
do sua mãe abandonou o lar, deixando-o Fizemos um teste com ele sob orientação
com o pai, que precisava trabalhar, não ten- do psicólogo, que nos recomendou prome-
do com quem deixá-lo. ter-lhe um prêmio no fi nal do dia caso se
Aos 4 meses de idade, foi matriculado comportasse bem. Nos dois primeiros dias
em um Centro de Educação Infantil, onde funcionou, mas já no terceiro voltou a com-
permanecia em período integral, das 7 às 17 portar-se mal.
horas. Paulinho foi diagnosticado como Distúr-
Cresceu sem uma referência de pessoa bio de Conduta, não tendo limites e refe-
adulta para orientá-lo, a não ser as monito- rência. O pai se sente de mãos atadas, sem
ras educacionais e professoras. saber como agir. No conceito de família, esta
A partir dos 4 anos, já no 1º período, é o primeiro ambiente de socialização do ser
começou a apresentar comportamentos ina- humano, sendo descrita como uma estrutu-
dequados para a sala de aula e no convívio ra social, objetiva, onde o processo de socia-
social. Não respeitava mais as professoras e lização é iniciado. A ausência da mãe talvez
funcionárias do Centro de Educação Infantil, tenha sido a principal causa do transtorno
não cumpria os combinados e as regras dos do Paulinho: carência afetiva, sentimento
jogos, sempre procurava tirar vantagens nas de rejeição, além da falta de imposição de
brincadeiras e não aceitava perder nas brin- limites pelo pai.
cadeiras e jogos. Seu desenvolvimento cogni- A escola tem que estar preparada para
tivo era normal, demonstrava ser inteligente trabalhar com esse aluno, embora não seja
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A relação entre o vínculo familiar e o transtorno de conduta Isabel Cristina Campos Faria
REFERÊNCIA:
130
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 21
AUTORA:
Jaqueline Soares Fonseca
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
processo ensino-aprendizagem do aluno com síndrome de manca (UNESCO, 1994) garante o direito que
Down numa rede regular de ensino, em uma Escola Muni- todos os sujeitos com deficiência têm peran-
cipal de Contagem. te o ensino escolar. É destacado que aqueles
com necessidades educacionais especiais
N
atália1 possui Síndrome de Down. devem ter acesso à escola regular, que de-
Segundo Fátima Alves (2007), em seu veria acomodá-los dentro de uma pedagogia
Livro “Para entender a Síndrome de centrada na criança, capaz de satisfazer a
Down”, a Síndrome de Down, também co- tais necessidades, contribuindo assim para
nhecida como Mongolismo ou Trissomia do uma sociedade mais inclusiva e alcançando
21, genericamente doença localizada no cére- uma educação para todos.
bro, encefalopatia, não é progressiva, possui Hoje com 8 anos, Natália frequenta a rede
tendências para melhoras espontâneas, pois regular de ensino, em uma Escola Municipal
seu Sistema Nervoso Central (SNC) continua de Contagem, além de ter atendimento espe-
a amadurecer com o tempo. cializado em uma escola especial em outro
Estimular é fundamental, por isso a turno para facilitar seu desenvolvimento.
família deve contribuir muito desde o nas- Natália está matriculada no 3º ano do1º ci-
cimento da criança. A grande importância clo e possui acompanhamento de estagiário
da estimulação se dá pela necessidade da para ajudar no desenvolvimento das ativi-
criança de vivenciar experiências que per- dades que algumas vezes são diferenciadas
mitam seu desenvolvimento, respeitando sua ou adaptadas, pois a aluna ainda está em
deficiência e explorando suas habilidades. processo de alfabetização, visto que a maio-
Natália, desde que nasceu, tem todo o cari- ria da turma já é alfabetizada. A aluna tem
nho da família, que sabia das dificuldades ótima relação com professores, colegas e de-
que a criança ia enfrentar, por isso sempre mais funcionários. Natália é muito sorriden-
buscaram informações sobre a Síndrome. O te, comunicativa e tem boa memória.
tempo todo que está em casa a criança é es- A aprendizagem da pessoa com Síndro-
timulada com livros, jogos e orientada na re- me de Down ocorre num ritmo mais lento.
alização de atividades por todos da família, A criança demora mais tempo para ler, es-
passo importantíssimo para que a criança crever e fazer contas. No entanto, a maioria
se desenvolvesse. das pessoas com essa síndrome tem condi-
Silva (2002) enfoca os aspectos pedagógi- ções de ser alfabetizada e realizar operações
cos a serem desenvolvidos com o aluno com lógico-matemáticas.
Síndrome de Down, quando diz que frequen- A aprendizagem tem sempre que partir
tar a escola regular permitirá à criança es- do concreto, pois o aluno com Síndrome de
pecial adquirir, progressivamente, conheci- Down tem dificuldade de abstração. Os pro-
mentos cada vez mais complexos que serão fissionais ligados à Natália na escola utili-
exigidos da sociedade e cujas bases são in- zaram materiais concretos, jogos, atividades
lúdicas para facilitar o processo ensino-
aprendizagem da aluna.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O processo ensino-aprendizagem do aluno com síndrome de Down... Jaqueline Soares Fonseca
REFERÊNCIAS:
ALVES, Fátima. Para entender a Síndro-
me de Down. Rio de Janeiro. Wak Editora.
2007.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 22
AUTORA:
Joseane da Silva Baptista
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
CRIANÇA HIPERATIVA?
de crianças que recebem o nome de hiperativas. Este arti- conjunto com a escola e a psicopedagoga,
go tem por finalidade mostrar a importância do conheci- fez um novo diagnóstico que descartou a
mento da doença e do trabalho em conjunto com escola, possibilidade de hiperatividade, afi rmando
família e médicos. tratar-se de problemas de caráter familiar.
O diagnóstico clínico deve ser feito com base
É
comum ouvirmos reclamações cons- no histórico de vida da criança, envolvendo
tantes dos professores e dos pais a necessariamente a coleta de dados com os
respeito de crianças que não conse- pais, com a criança e com a escola. E pelo
guem se concentrar e são agressivas. No en- que se sabe isso não ocorreu com o primeiro
tanto, muitas vezes é mais fácil rotular essas médico que atendeu o aluno.
crianças como hiperativas do que estudar Segundo Andrade (2000), a hiperatividade
a fundo os reais motivos para esse tipo de só fica evidente no período escolar, quando
comportamento e propor subsídios que pos- é preciso aumentar o nível de concentração
sibilitem a resolução dos problemas. para aprender. Para ele “o diagnóstico clí-
Em uma escola particular de Belo Hori- nico deve ser feito com base no histórico da
zonte, temos um caso que se assemelha à criança. Observação dos pais e professores é
situação descrita acima. Há um aluno da fundamental.” (p. 64).
primeira série que possui grande dificuldade Diante disso, afi rma-se a importância de
de concentração, é indisciplinado e apresen- que toda a equipe escolar tenha conhecimen-
ta sinais de agressividade. A lista de rótulos to sobre hiperatividade, os seus sintomas e
dessa criança é enorme, porém a família, as consequências na sala de aula, para po-
mesmo sem ter um diagnóstico médico que der identificar e diferenciar hiperatividade
comprove a hiperatividade, insiste em dizer de falta de limites ou outros problemas.
que esse é o problema da criança. O médico Em conversa com a família, identificou-se
relata não poder dar o diagnóstico de uma que o comportamento do aluno era consequ-
criança hiperativa, por não dispor de infor- ência da ausência da mãe – pois ele era cria-
mações suficientes e consistentes para isso. do com a avó desde o nascimento, influência
Segundo as professoras que acompanham do meio em que vive e resultado da curiosi-
o aluno, a psicopedagoga e a coordenadora dade em saber quem era o seu verdadeiro
pedagógica da escola, a criança não apre- pai, (nem a mãe sabe!).
senta sintomas de hiperatividade e sim de Tendo um novo diagnóstico em mãos e es-
falta de limites. clarecidos alguns problemas anteriormente
O aluno, no entanto, continua tendo di- omitidos pela família, a escola pode traba-
ficuldade de concentração ao realizar as lhar as especificidades do aluno. Ele está
tarefas, tem baixo rendimento escolar e é sendo acompanhado pela psicopedagoga da
agressivo com seus colegas de classe e sua escola, pois seus problemas afetaram o seu
família. desenvolvimento nos aspectos emocional,
A coordenadora aconselhou a família a afetivo e cognitivo.
procurar outros médicos para poderem au-
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Criança hiperativa? Joseane da Silva Baptista
REFERÊNCIA:
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ARTIGO 23
AUTORA:
Juliana Fernando Evangelista Pereira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM
que afeta um ou mais processos psicológicos envolvidos letras. Porém, quando a professora solici-
na compreensão ou no uso da linguagem falada ou escrita, ta que ela faça o registro das letras do seu
que pode se manifestar em uma dificuldade de ouvir, orga- próprio nome, ela não consegue anotar, uma
nizar o pensamento, ler, escrever, soletrar ou calcular. vez que não tem o conhecimento do alfabeto.
Além disso, a aluna não consegue associar
E
ste artigo se propõe relatar o estudo letras e números. Pelo que podemos cons-
de caso de uma adolescente de quinze tatar através dos deveres de casa, a aluna
anos, da 5ª série, que apresenta dis- demonstra não ter nenhuma ajuda em casa.
túrbio de aprendizagem diagnosticado por Apesar da dificuldade de expressão, a aluna
equipe interdisciplinar (terapeutas, educa- brinca normalmente, mas corre e sobe os
dores e médicos). Para isso, foi necessário obstáculos demonstrando não ter boa coor-
o conhecimento de seu histórico familiar e denação devido à dificuldade de locomoção.
a observação da aluna no ambiente escolar Tem bom relacionamento e é bem aceita pe-
onde está inserida. los colegas de sala, porém, na maioria das
De acordo com as observações e o relato vezes, prefere, nos momentos de recreação,
da coordenadora, a aluna é a fi lha mais ve- ficar sozinha e observando.
lha de uma família carente, de sete irmãos, Segundo a psicóloga que acompanha as
cinco deles em idade escolar. Ela permanece crianças da escola, mesmo que apresente
em horário integral, de acordo com um pro- um distúrbio de aprendizagem, qualquer
grama da escola. Apesar de estar no 6º ano educando é capaz de ter sucesso acadêmico,
do Ensino Fundamental, consequência da desde que tenha o apoio necessário dentro e
aprovação automática, por não poder ficar fora do espaço escolar.
retida duas vezes na mesma série, a aluna Para os profissionais da escola, um dos
apresenta distúrbios de aprendizagem: ela maiores desafios da educação é distinguir
não consegue ler nem escrever devido a os alunos que têm dificuldades daqueles que
comprometimento na coordenação motora, têm os chamados distúrbios de aprendiza-
tem dificuldade de expressão oral e de me- gem, como é o caso da aluna observada.
morização, e não consegue progredir em sua A professora levou ao conhecimento da
alfabetização. Não presta atenção nas aulas, pedagoga as informações dos sucessivos
tem problemas de comportamento associado fracassos da aluna. A coordenação, por sua
e não consegue se manter quieta nos mo- vez, solicitou a presença dos pais na esco-
mentos em que o ambiente propicia. la, que se mostraram indiferentes, por não
Numa de suas aulas tradicionais, a pro- admitirem as dificuldades da fi lha. Por sua
fessora individualizou a aluna na sala de crença religiosa, a família da aluna alega
aula e apresentou algumas letras do alfabeto que acredita na cura divina e não aceita a
nomeando cada uma. Em seguida, solicitou ajuda de profissionais da saúde.
que ela repetisse o nome de cada uma, mas a A escola, como faz com todos os alunos
aluna suava frio e não conseguiu se lembrar que apresentam alguma necessidade educa-
de nenhuma letra e tudo o que a professora cional especial, se propôs a encaminhar a
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Distúrbio de aprendizagem Juliana Fernando Evangelista Pereira
REFERÊNCIA:
GARCÍA, Jesus Nicasio. Manual de dificul-
dade de aprendizagem: linguagem, leitura,
escrita e matemática. Porto Alegre: Artmed,
1998.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 24
AUTORA:
Juliane Gomes Niquini
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
caso de um aluno de uma escola especial de Belo Horizon- Segundo Nunes (2004),
te, que apresentava dificuldade de comunicação. A comu-
nicação alternativa veio como um apoio no seu processo para a criança com problemas de comuni-
de ensino-aprendizagem. cação, principalmente aquela que não tem
condições de falar e, por esse motivo, não
A
comunicação alternativa é um con- consegue se fazer entender, mas compre-
junto de procedimentos técnicos e ende a linguagem falada, é preciso criar
metodológicos direcionados às pesso- condições para que ela possa se comunicar
as com alguma deficiência ou alguma outra com as pessoas a seu redor, expondo seu
situação momentânea que impede a comu- pensamento, sua vontade, sua opinião, sua
nicação com as demais pessoas por meio necessidade de participação nas situações
dos recursos normalmente utilizados, mais que lhe sejam significativas, num processo
especificamente a fala. Essa tem sido de que se denomina comunicação suplementar
grande importância no processo de ensino- alternativa.
aprendizagem dessas pessoas.
A comunicação alternativa tem como Foi proposta então para o aluno uma
objetivo promover interações interpessoais, prancha de comunicação alternativa, onde
reduzir as frustrações, auxiliar o desenvol- seriam usados os símbolos pictográficos
vimento da compreensão, diminuir a dis- (PCS).
crepância entre os níveis de compreensão e Foi feita uma reunião com a família para
produção e dar maior autonomia, melhorar ouvir a opinião sobre a proposta, pois a im-
a qualidade de vida da pessoa com paralisia plementação da prancha de CSA deveria ser
cerebral e levá-la a sentir-se mais autônoma de uso do aluno em toda a sua vida diária,
e apta a dominar os problemas do dia a dia. não se restringindo À escola, para que se
O presente estudo de caso foi realizado pudesse ter um melhor resultado.
com uma criança de 8 anos com paralisia Com o apoio da família, deu-se início à
cerebral do tipo tetraplegia, em uma escola confecção da prancha e fez-se treinamento
especial. O aluno não apresentava aquisição do aluno para o seu uso.
da fala, o que dificultava sua comunicação e Toda a equipe da escola se empenhou em
causava uma dificuldade no seu processo de ajudar e incentivar o aluno a usar a todo o
aprendizagem. momento a prancha e de forma correta.
De início, achava-se que o aluno usava O aluno passou a se comunicar de forma
das expressões faciais para se comunicar, o mais efetiva tanto em casa com na escola,
sorriso era sempre entendido pelos profissio- onde mostrou uma melhora significativa na
nais da escola como um sim. aprendizagem, respondendo melhor às ati-
No decorrer do tempo, verificaram que o vidades propostas, como nos momentos de
sorriso do aluno estava sendo utilizado para jogos.
todas as situações, ou seja, tanto para afi r- Com isso, fica demonstrado que, para a
mar quanto negar algo que era perguntado pessoa com problemas de comunicação, é
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A Comunicação Alternativa como meio facilitador... Juliane Gomes Niquini
REFERÊNCIAS:
BRASIL. MEC. Educação infantil: saberes e
práticas da inclusão, dificuldades de comuni-
cação e sinalização, deficiência física. Brasí-
lia, 2006.
138
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 25
AUTORA:
Karine Cristina Souza Mourão
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
dificuldade de aprendizagem e falta de participação da deve ter uma continuidade em casa, com a
família, realizado numa escola particular que atende a participação dos pais.
alunos da educação infantil. Nota-se que a presença dos pais é de
suma importância para um desenvolvimento
O
presente artigo baseia-se no estudo do aluno na escola, e que é preciso saber
de caso do aluno Luik1, de quatro lidar com os sentimentos infantis de modo a
anos de idade, estudante do primei- conduzi-los de maneira tranquila.
ro período de uma escola particular de Belo Segundo Vygotsky, o social tem grande
Horizonte. valor na aprendizagem, principalmente na
De acordo com relatos da professora re- educação infantil, que necessita de inter-
gente da sala de aula, Luik estuda na escola venções pedagógicas que ajudem a assimi-
há dois anos e, no início deste ano, foi perce- lar as formas sociais de atuação para depois
bido um novo comportamento. O aluno tem transferir a si mesma. Os pais têm que ser
se demonstrado um pouco desanimado, tem participativos na vida escolar do fi lho, para
faltado muito às aulas, demonstra falta de que ele busque melhor seu conhecimento.
interesse pelas atividades, em algumas oca- A família deve participar e interferir quan-
siões com uma grande dificuldade de apren- do necessário, pois tem o papel de apoio e de
dizagem, chora muito ao entrar na escola e responsabilidade pela frequência e partici-
chama pela mãe constantemente. pação das crianças em atividades propostas
A relação entre a escola e a família do pela escola.
aluno é frágil, pois a mãe quase nunca apa- Nem sempre os pais realizam esse seu
rece na escola. papel. Muitas vezes algumas atividades
A coordenadora da escola solicitou a pre- propostas pelo professor não são realizadas
sença dos pais para saber sobre a criança pelos alunos porque necessitavam de algum
em casa. adulto, que não teve tempo de ajudá-lo ou
Durante a conversa, os pais relataram não valoriza as atividades propostas pela
que tinham se separado havia um mês e que instituição.
nenhum deles estava mais acompanhando o Trabalhando em conjunto, fica mais fácil
desenvolvimento escolar do fi lho, o pai pelo a criança entender o seu papel na sociedade
fato de trabalhar e por não morar com o fi lho e solucionar os problemas que geralmente
e a mãe por ter apresentado sintomas de de- ocorrem dentro da escola.
pressão e também trabalhar, deixando tudo A escola faz parte da vida cotidiana da
na mão da babá. cada família com os seus filhos em idade
A coordenação da escola propôs um escolar. Os filhos ficam boa parte do tempo
acompanhamento psicológico para o aluno e dentro da escola e escola e família têm obje-
sugeriu um tratamento para a mãe que esta- tivos semelhantes: formar cidadãos para vi-
va com depressão, para que não ocorram os verem com dignidade em uma sociedade que
mesmos sintomas com a criança. está sempre mudando. A escola acredita no
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância da participação da família na... Karine Cristina Souza Mourão
REFERÊNCIAS:
FRITAS, Maria Tereza de Assunção. Vygotsky
um século depois. Juiz de Fora (MG): EDU-
FJF, 1998. 104p.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 26
AUTORA:
Kelly Cristina da Silva Pereira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
É
muito comum ouvirmos professores caz as atividades propostas.
e pais reclamarem de alguns alunos Diante disso, a coordenadora decidiu
referindo-se a eles como “chatos”, procurar uma profissional da área da psi-
“agressivos”, “pimentinhas”, “bagunceiros”, cologia para melhor entender o que estava
“agitados”, “impulsivos”. Dificilmente, no en- acontecendo com o aluno. Ao relatar para a
tanto, essas pessoas percebem que essa é a psicóloga os fatos ocorridos, a coordenadora
forma que a criança encontra para demons- e a professora decidiram marcar outra reu-
trar que existe algo de “incomum” com ela. nião com mãe.
Em uma escola da rede particular de O aluno continuava desatento nas aulas,
ensino, situada na região de Betim/MG, foi agredindo os colegas e com grandes altera-
realizado um estudo de caso com um aluno ções em seu humor. Muitas vezes se irritava
de 5 anos, da educação infantil. Ele se mos- ou até mesmo chorava sem haver qualquer
trava agressivo com os colegas e desatento motivo, não permitindo que a professora
durante atividades propostas pela professo- pudesse dar prosseguimento às atividades
ra. Ele já havia frequentado no ano anterior propostas. Os pais dos outros alunos já es-
uma escola da rede particular de ensino da tavam ameaçando retirar os fi lhos da escola
mesma região, mas não continuou até o fi nal e os próprios alunos estavam se negando a ir
do ano, pois os pais acreditavam que seus para escola por medo do aluno, pois a inci-
comportamentos foram adquiridos na pró- dência de machucados era constante.
pria escola. Segundo Barkley & Pfi ffner (2002),
Ao chegar à escola, Marcelo1 desestrutu-
rava todo o ambiente da sala: começava a O comportamento inquieto e/ou desatento
gritar e a rolar no chão, chamava os colegas das crianças produz desconforto nos mais
de porcaria e a professora de safada, batia variados contextos, mas é nas escolas onde
nos colegas, jogava todas as mochilas no se requerem doses consideráveis de con-
chão, falava muito, encontrava dificuldades centração e atenção, onde os primeiros sin-
para ficar sentado na sala de aula. tomas de alguns transtornos aparecem de
Como a situação estava fora do contro- forma mais intensa.
le, a mãe foi solicitada para uma reunião.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Falta de limite ou hiperatividade? Kelly Cristina da Silva Pereira
A coordenadora aconselhou mais uma ças hiperativas; dar tarefas curtas ou inter-
vez aos pais a procurarem ajuda de outros caladas, para que elas possam concluí-las
profissionais, como médicos e psicólogos, antes de se dispersarem; elogiar sempre
para que a escola pudesse fazer um traba- os resultados; usar jogos e desafios para
lho paralelo com o aluno. Os pais se recusa- motivá-los; valorizar a rotina, pois ela deixa
ram novamente, pois não queriam acreditar a criança mais segura, mantendo sempre o
que seu filho tivesse algum tipo “problema” e estímulo, através de novidades no material
achavam desnecessário o diagnóstico de um pedagógico.
médico.
Smith (2001, p. 64) afi rma que “nem sem- O sucesso em sala de aula, frequentemen-
pre os pais admitem que o fi lho seja hipera- te, exige uma série de intervenções, para que
tivo. Muitos acham que a criança é esperta as atividades deem mais êxito para o aluno.
demais e, por isso, está sempre interessada Marcelo se encontra nessa fase, a profes-
em novidades. Além disso, eles acreditam sora a cada dia percebe a evolução do traba-
que o tratamento com medicamentos pode lho desenvolvido com ele, mesmo sem haver
tirar a espontaneidade do pequeno.” ajuda por parte da família. É importante, no
Não havendo o apoio dos pais, a coordena- entanto, que os professores demonstrem aos
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 27
AUTORA:
Lenita Kátia Silva de Oliveira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
de uma escola pública de Belo Horizonte, de um compor- pai. Diante do diagnóstico, a escola resolveu
tamento exemplar, que teve seu rendimento escolar com- ajudar ainda mais a família, pedindo a eles
prometido. que continuassem com os atendimentos e
começou a promover encontros com outras
D
aniel1, hoje aluno do terceiro ano do famílias que apresentavam problemas pare-
ensino fundamental, sempre foi uma cidos. Foi formado um grupo de autoajuda
criança esperta, interessada, com- que se reunia dentro da escola em horário
prometida com a aprendizagem e, de repente, noturno.
começou a apresentar um comportamento Esse grupo, juntamente com o atendi-
diferente do que sempre apresentara, estava mento psicológico e o empenho da escola, foi
sempre triste, ficava pelos cantos da escola, que ajudou essa família a se estruturar.
não brincava com os coleguinhas e, quando Foi providenciada uma equipe de acom-
brincava, não se envolvia inteiramente nas panhamento psicopedagógico e Daniel era
brincadeiras, muito cabisbaixo, reclamando um dos alunos atendidos. A inserção do alu-
sempre de dores de cabeça. Às vezes pedia no na escola integrada também favoreceu a
até para ir embora antes do horário, mas criança, pois lá os monitores conseguiam
como a mãe não tinha como comparecer, dar a ele uma atenção diferenciada, fazendo
com o passar do tempo ele não mais pedia. com que se sentisse bem e também amada.
Daniel ficou assim por algum tempo, Ficou claro para a escola que era de ca-
mas seu comportamento incomodava sua rinho, respeito, amor e presença de pessoas
professora, pois, além de todas essas ma- que o fi zessem sentir seguro que Daniel ne-
nifestações, ele estava tendo problemas de cessitava naquele momento tão difícil de sua
aprendizagem e o seu rendimento tinha vida. A mãe já estava conseguindo ajudá-lo
caído. De comum acordo, a professora e a graças aos acompanhamentos feitos com o
coordenadora iniciaram um estudo de caso. psicólogo e o grupo de autoajuda.
O primeiro passo foi chamar a família para Hoje em dia muitas crianças dizem que
conversar. Segundo relatos da mãe, Daniel estão tristes, que não têm vontade de ir à
havia perdido o pai num acidente de moto aula, de brincar, muitas deixam até mesmo
havia pouco mais de um ano e até então a de comer, e muitas vezes nós, adultos, não
família não conseguira se adequar à atual damos atenção. Muitas dessas crianças po-
realidade. A mãe relatou à escola, “ainda em dem apresentar depressão infantil.
prantos”, que não conseguia falar do assun- Ao contrário do que se pensava, a de-
to com os fi lhos visto que ela mesma ainda pressão pode afetar crianças e adolescentes.
não conseguira se estruturar. Nos menores, ela é identificada quando há
A coordenadora então percebeu que aque- presença de sintomas simultâneos e persis-
la família precisava de ajuda e fez um en- tentes. “Se a criança anda frequentemente
caminhamento para um tratamento psico- triste, chora fácil, tem baixa autoestima,
lógico. Depois de algumas sessões, a escola perde o interesse por coisas pelas quais se
interessava antes, evita contato social, está
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Depressão infantil pela perda de parentes próximos Lenita Kátia Silva de Oliveira
sempre cansada e sem disposição, é aconse- deira, conseguimos identificar quais são os
lhável aos professores comunicar aos pais e problemas da criança’’. Outro tipo de trata-
aos pais, procurar ajuda”. mento foca mais a conversa entre paciente e
De acordo com alguns psiquiatras, exis- psiquiatra.
tem dois fatores que contribuem para desen- Abrir um espaço de conversa para expor
cadear o processo depressivo nas crianças: à criança que a morte não é um castigo, mas
O primeiro é o fator genético, em segundo sim um acontecimento natural, é muito im-
estão as causas externas, como: a perda de portante. Muitos se culpam pela situação,
um parente querido, a mudança de cidade, meu pai morreu porque eu o desobedeci. Por
a separação dos pais, entre outros. Esses isso é de grande importância mostrar aos
fatores podem desencadear a doença. Nas pequenos que nossa existência não é para
crianças, prevalecem geralmente as causas sempre e que todos nós nascemos e morre-
externas. mos um dia, cada um do seu jeito, uns de
As nossas crianças também sofrem do forma mais tranqüila, outros de forma mais
mal do século, que é a depressão, por isso é trágica. Isso ajudará e muito na compreen-
fundamental que pais e professores estejam são da perda, principalmente para que eles
sempre atentos às mudanças de comporta- não assumam uma culpa que na verdade
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 28
AUTORA:
Lílian Aparecida Gonçalves Xavier
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
ano do ensino fundamental de uma escola particular, com De forma geral, são características da
diagnóstico de Síndrome de Down, e ressalta a análise da pessoa com Síndrome Down: é um individuo
sua produção escrita. calmo, afetivo, bem humorado e com pre-
juízos intelectuais, porém pode apresentar
A
síndrome de Down é decorrente de grandes variações no que se refere ao com-
uma alteração genética ocorrida du- portamento. A personalidade varia de indiví-
rante ou imediatamente após a con- duo para indivíduo e eles podem apresentar
cepção. A alteração genética se caracteriza distúrbios do comportamento, desordens de
pela presença a mais do autossomo 21, ou conduta e ainda seu comportamento pode
seja, ao invés do indivíduo apresentar dois variar quanto ao potencial genético e carac-
cromossomos 21, possui três. A esta altera- terísticas culturais, que serão determinan-
ção denominamos trissomia simples. tes no comportamento.
No entanto, podemos encontrar outras al- A criança com Síndrome de Down se
terações genéticas que causam síndrome de desenvolve mais lentamente em relação às
Down. Estas são decorrentes de transloca- outras crianças. A aprendizagem é realizada
ção, pela qual o autossomo 21, a mais, está com sucesso se capacidades de assimilação,
fundido a outro autossomo. O erro genético reorganização e acomodação estiverem ínte-
também pode ocorrer pela proporção variá- gras, assim vão se dando as aquisições ao
vel de células trissômicas presentes ao lado longo do tempo. Esses três processos acon-
de células citogeneticamente normais. Estes tecem para que um indivíduo esteja sem-
dois tipos de alterações genéticas são menos pre adquirindo novas informações, assim,
frequentes, que a trissomia simples. quando se depara com um dado novo, para
Estas alterações genéticas decorrem de sua internalização, o indivíduo deve reorga-
“defeito” em um dos gametas que formarão nizar as aquisições já adquiridas, para aco-
o indivíduo. Os gametas deveriam conter modar os novos conhecimentos, sendo por
um cromossomo apenas e assim a união do este processo que linguagem e a cognição se
gameta materno com o gameta paterno gera- desenvolvem.
ria um gameta fi lho com dois cromossomos, As crianças com Síndrome de Down têm
como toda a espécie humana. Porém, duran- possibilidades de se desenvolver e executar
te a formação do gameta, pode haver alte- atividades diárias e até mesmo adquirir for-
rações e através da não disjunção cromos- mação profissional e, no enfoque evolutivo,
sômica, que é realizada durante o processo a linguagem e as atividades como leitura e
de reprodução, podem ser formados gametas escrita podem ser desenvolvidas a partir das
com cromossomos duplos que, ao se unirem experiências da própria criança.
a outro cromossomo pela fecundação, resul- A aquisição da escrita é mais difícil que a
tam em uma alteração cromossômica. aquisição da fala. Enquanto a fala é apren-
Estas alterações genéticas alteraram todo dida naturalmente pelo homem, a leitura e a
o desenvolvimento e a maturação do orga- escrita são ensinadas por meio de um código
nismo e inclusive alteraram a cognição do de criação humana altamente complexo.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Aquisição da escrita na síndrome de Down Lílian Aparecida Gonçalves Xavier
Luísa1 tem 9 nos de idade, frequenta o to, ela está alcançando os objetivos dentro
3ºano do ensino fundamental, possui o diag- do seu tempo.
nóstico de Síndrome de Down.
A coordenadora relatou que, no início do REFERÊNCIAS:
ano, fez um momento de socialização com
a turma da qual a aluna faz parte, falando GREGOLIN, Reny; COUSSEAU, Salete Ro-
das diferenças e da importância de se res- cio. A Aquisição da Escrita na Síndrome de
peitar o outro. Down. Revista Letras, Curitiba, n. 58, p. 171-
A escola teve acesso a alguns documen- 184. jul. 2002. Editora UFPR.
tos referentes ao acompanhamento da aluna
por profissionais, com isso acredita em um SCHWARTZAN, J. S. Síndrome de Down.
trabalho em conjunto para um melhor de- São Paulo: Mackenzie, 1999.
sempenho acadêmico da aluna.
A mãe da aluna diz que é possível en-
contrar boas escolas e que compreendem a
situação de alunos com Síndrome de Down,
porém não estão preparadas para desenvol-
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 29
AUTORA:
Luciene de Freitas dos Santos
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
da rede particular de ensino de Belo Horizonte. Relata as parecia não estar ouvindo o que estava se
observações do comportamento do aluno e como se deu o passando.
diagnóstico, assim como o que foi feito e está sendo feito Sempre levava um carrinho, que era seu
pela escola e pelos familiares para que ocorra o processo brinquedo preferido, e ficava com ele na mão,
de inclusão e interação do aluno na escola para garantir brincava “escondido” e quando a professora
sua permanência com um desenvolvimento satisfatório. reclamava, ele o colocava no bolso. A coorde-
nação motora fi na era comprometida.
H
oje, percebem-se grandes mudanças Nas brincadeiras, ele nunca participava,
na área de educação e com isso pode- ficava com o carrinho na mão, observando
mos notar progressos e transtornos. sem parar, como se naquele momento esti-
Um problema visípanhado de perto pela di- vessem somente os dois.
reção e coordenação da escola. As propostas de atividades colocadas pela
A criança, com dois anos, ainda não fala- professora, ele nunca as realizava; se a pro-
va e não andava. O pai apresentava síndro- fessora fosse um pouco mais enérgica com
me do pânico e vivia dentro de casa com a ele, chorava copiosamente. Falava muito
criança desde seu nascimento, tinha medo pouco e sem nexo. Não dava conta de falar
de tudo e de todos. Não deixava o fi lho sair frases completas, ainda que fossem frases
com a mãe tampouco brincar com outra curtas. Marcava um lugar para pôr a mochi-
criança. la, se tivesse outra, ele tirava para colocar
Apesar de não andar e não falar, os mé- a dele.
dicos diziam que a criança estava normal, Na sala de aula, ele levantava muito, fi-
saudável e que a mãe não precisava se preo- cava “passeando” pela sala, não conseguia
cupar, até porque cada criança tem um tem- permanecer sentado por muito tempo.
po de desenvolvimento diferente de outras. No parquinho, não apresentava inte-
A mãe, não satisfeita com o argumento do resse por brinquedo algum. Ficava isolado
médico, procurou logo um especialista, que brincando sozinho. Ainda na sala de aula,
sugeriu que ela o colocasse na escola o mais gostava muito de ficar se olhando no espe-
rápido possível. Na primeira escola, não se lho, toda vez que se levantava da cadeira ia
adaptou, mas mesmo assim a mãe insistiu direto se olhar no espelho, permanecia se
um pouco, notando que, além de não se olhando no espelho até que a professora lhe
adaptar, ele estava ficando muito triste com pedisse que sentasse. Ele então dava mais
a situação. algumas voltas pela sala para depois se as-
O pai continuava em casa, com a síndro- sentar. Detalhe importante: andava sempre
me do pânico. A mãe decide então colocar em na ponta dos pés.
outra escola, na qual ele se adaptou muito Se um colega estivesse lanchando e fosse
bem. O especialista continua o tratamento o que ele gostava, ele pegava do colega sem
com a criança, ainda sem dar diagnóstico pedir, e quando a professora explicava a ele
de imediato, mas o encaminhou para uma que ele não podia pegar sem pedir, ele cho-
fonoaudióloga e uma psicóloga. rava muito. A criança nunca olhava para o
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Autismo na educação infantil: diagnóstico e intervenção Luciene de Freitas dos Santos
REFERÊNCIA:
CAMARGOS Jr., Walter. Transtornos invasi-
vos do desenvolvimento: 3º Milênio. Brasí-
lia: Corde. 1992.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 30
AUTORA:
Maíra Apgaua Barbosa Lima
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
T
satisfazer a tais necessidades.
hiago tem 4 anos, é aluno de uma
escola particular da zona Sul de Belo Na mesma escola, estuda Gustavo , irmão
Horizonte, e será o foco deste estudo gêmeo de Thiago, que não apresenta quadro
de caso. clínico semelhante ao do irmão.
É uma criança extremamente feliz e tem Tive a oportunidade de acompanhar
muita vontade de aprender. Seu quadro clí- Thiago, logo quando entrou na escola. Ele
nico é de paralisia cerebral, em um grau leve, tinha apenas dois anos, só andava com aju-
havendo comprometimento na parte motora, da, pois, se caísse, corria o risco de bater a
contudo seu cognitivo é preservado. cabeça no chão, já que não tinha o apoio da
Segundo a terapeuta ocupacional Dra. mão direita e força para sustentar a queda.
Katerine Dias Vieira Nobre, A escola possuía algumas irregularidades
para receber esse aluno. Não possuía ram-
Paralisia cerebral não é doença, mas uma pas, havia desnível do pátio, banheiro sem
condição médica especial, que frequente- adaptação; tudo isso dificultava o acesso do
mente ocorre em crianças, antes, durante aluno, que se tornou dependente de todos.
ou logo após o parto, e quase sempre é o Ao completar três anos, Thiago já se lo-
resultado da falta de oxigenação ao cérebro comovia com menos dificuldade e se comu-
(como é o caso de Thiago). As crianças afe- nicava melhor, tinha acompanhamento de
tadas por paralisias cerebrais têm uma per- fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e
turbação do controle de suas posturas e dos fonoaudiólogos.
movimentos do corpo, como consequência Sua nova sala se localizava na parte in-
de uma lesão cerebral. ferior da escola, o único acesso era por meio
de escada.
De acordo com a Declaração Universal Continuei acompanhando o aluno até a
dos Direitos Humanos (UNITED NATIONS, metade do maternal III, ajudando-o nas ati-
1948), toda criança tem direito ao acesso vidades de sala de aula, além das aulas de
escolar, além do mais é imprescindível res- educação física e música. Depois disso, ou-
saltar questões contempladas na Declaração tra profissional da escola passou a dar apoio
de Salamanca (UNESCO, 1994), como: pedagógico a ele, três vezes na semana, pois
• •toda criança tem direito fundamental à
tive que assumir outra turma em turno di-
educação, e deve ser dada a oportunidade ferente, o que me impossibilitou continuar o
de atingir e manter o nível adequado de acompanhamento desse aluno.
aprendizagem; Hoje, Thiago está com quatro anos, no
primeiro período da mesma escola. Houve
algumas mudanças físicas na instituição,
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Apoio pedagógico dentro e fora da escola: essencial... Maíra Apgaua Barbosa Lima
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 31
AUTORA:
Manon Quites Brum
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
em uma escola particular de Belo Horizonte, com um alu- sem o fi lho a uma fonoaudióloga e a uma
no, hoje, com a idade de 6 anos, cuja deficiência foi tardia- psicóloga para diagnosticar algum tipo de
mente diagnosticada. deficiência.
O caso de Gustavo era dislexia. A disle-
G
ustavo começou a frequentar a esco- xia, muitas vezes confundida com déficit de
la aos 2 anos de idade em uma esco- atenção, problemas psicológicos ou mesmo
la pública, e nesse período sua mãe preguiça; se caracteriza pela dificuldade
achava que, através do convívio com outros do indivíduo em decodificar símbolos, ler,
colegas, a aquisição da fala se desenvolveria escrever, soletrar, compreender um texto,
de uma forma espontânea. reconhecer fonemas, exercer tarefas relacio-
A mãe do aluno era alguém que não estava nadas à coordenação motora e pelo hábito de
muito presente na vida do fi lho e o pai nunca trocar, inverter, omitir ou acrescentar letras/
teve interesse pela família. Eles haviam se palavras ao escrever.
separado havia mais de um ano e meio. Depois do diagnostico, a professora de
A professora era alguém com poucos co- Gustavo pôde intervir e ajudá-lo a se desen-
nhecimentos e dizia à mãe de Gustavo que volver melhor, driblando as dificuldades e
a separação dos pais teria afetado a vida do desenvolvendo novas habilidades.
fi lho. Todos sabiam que havia algo de erra- Se a dislexia for detectada o mais cedo
do com esse aluno, mas ninguém opinou possível, melhor para o aluno.
até que Gustavo passou para uma escola Nenhum professor precisa ser oftalmolo-
particular. gista para notar que o aluno não está en-
Quando o aluno mudou de escola, ele es- xergando bem. O dia a dia da sala de aula
tava repetindo pela segunda vez o 1º ano. mostra isso. O mesmo vale para a audição e
Segundo a sua nova professora, a criança outras deficiências, como a própria dislexia.
não prestava atenção às explicações quan- O professor percebe que tal pessoa é inte-
do a atividade envolvia raciocínio, não se ligente, perspicaz, criativa, tem facilidade
concentrava na execução das tarefas, não para fazer uma porção de coisas, no entanto,
concluía as atividades no tempo previsto, quando tem que ler, escrever ou entender o
não se expressava oralmente de forma clara, que leu, pronto, nem parece a mesma. Esses
apresentava dificuldade em reproduzir fatos indícios são os mais significativos.
ou acontecimentos e não sabia transmitir Os professores e coordenadores pedagógi-
recados. Não lia palavras complexas e a es- cos têm que ter informação e algum tipo de
crita apresentava muitos erros. treinamento, além de alguma sensibilidade,
A professora, muito preocupada, reuniu- para detectar, por exemplo, um caso de dis-
se com a coordenadora e mostrou que o caso lexia, pois quem sai prejudicado com uma
do aluno não era simples e que achava que intervenção tardia é o próprio aluno, sendo
Gustavo sofria de dislexia. tachado, em muitos casos, apenas como pre-
Os pais foram então convocados para guiçoso e que não quer aprender.
uma reunião e disseram à professora e Á co- O disléxico tem um ritmo diferente dos
151
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A dislexia em sala de aula Manon Quites Brum
REFERÊNCIA:
NUNES, T. & cols. Dificuldades na aprendi-
zagem da leitura: Teoria e prática. 3. ed.
São Paulo: Cortez, 2000.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 32
AUTORA:
Maria Eloíza de Jesus
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
ca que aparenta ser uma criança com deficiência mental, antipedagógica, “treináveis”, pois elas parti-
no entanto, sem diagnóstico, necessitando de intervenções cipam tranquilamente de programas educa-
para atender às suas necessidades. cionais adaptados a elas nas escolas.
Os deficientes mentais assim classifica-
J
oão1 foi recebido pela escola total- dos constituem cerca de 10% de toda da po-
mente sem limite, apresentando vários pulação de indivíduos com Retardo Mental.
desvios de comportamento, bastante Eles adquirem habilidades de comunicação
indisciplinado, aparentemente uma criança durante os primeiros anos da infância.
comum, porém algo o incomodava muito Beneficiam-se de treinamento profissional
dentro da sala de aula. e, com moderada supervisão, podem cuidar
No estudo de caso do aluno, a coordena- de si mesmos, podem beneficiar-se do trei-
dora constatou que ele vivia com a mãe, dois namento em habilidades sociais e ocupacio-
irmãos e o padrasto. O pai, que se encontra nais, mas, provavelmente, não progredirão
preso, era excessivamente violento e agredia além do nível de segunda série em temas
o fi lho toda vez que o encontrava. acadêmicos. Podem viajar, independente-
A professora não se sentia capacitada mente, para locais que lhes sejam familia-
para atender a criança. João parecia ter res. Na adolescência, suas dificuldades no
uma deficiência mental. reconhecimento de convenções sociais po-
A família foi informada da situação e soli- dem interferir no relacionamento com seus
citou-se um encaminhamento do aluno para pares. Na idade adulta, a maioria é capaz de
uma avaliação com especialistas. Afi nal, os executar trabalhos não qualificados ou se-
portadores de deficiência mental necessitam miqualificados sob supervisão, em oficinas
de atendimento multiprofissional (médico, protegidas ou no mercado de trabalho geral,
fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fono- e adaptam-se bem à vida na comunidade,
audiólogo, psicólogo, pedagogo, psicopeda- geralmente em contextos supervisionados.
gogo, entre outros), a fi m de minimizar os Prioste, Raiça e Machado (2008, p. 28)
problemas decorrentes da deficiência. Quan- dizem que
to mais cedo houver um diagnóstico e mais
precoce for a intervenção, melhores serão os a deficiência mental é uma situação e não
resultados. uma doença. Na deficiência mental há um
João foi encaminhado ao centro de saú- rebaixamento quantitativo das funções psí-
de, com um relatório da escola, pedindo em quicas, que é percebido, normalmente, logo
caráter de urgência uma avaliação diagnós- nos primeiros anos de vida. As pessoas com
tica da criança. Apesar da urgência, o diag- deficiência mental não apresentam visão
nóstico fi nal de João ficou pronto em cinco alterada de si mesmas nem da realidade;
meses. geralmente são amistosas, cooperativas,
Os especialistas constataram que João gostam de se comunicar e são capazes de
tinha deficiência mental, classificando-a tomar decisões, atendendo às responsabili-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Adaptação curricular para criança com deficiência mental Maria Eloíza de Jesus
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 33
AUTORA:
Maria Raimunda Saraiva
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
P
artindo da necessidade de se conhecer vez que tais dificuldades não são tão passa-
melhor o aluno e de compreender sua geiras e leves como antes se acreditava. Daí
real situação, buscando novos cami- a necessidade de, no contexto educacional,
nhos e abordagens, se fez necessário o estudo se olhar o aluno em sua totalidade, conside-
do convívio familiar, a fim de desenvolver um rando suas características de personalida-
trabalho específico de integração e socializa- de, seu estado emocional e cognições frente
ção do aluno no ambiente escolar. Segundo à aprendizagem.
informações coletadas e o laudo médico, a Segundo relatos da coordenação, a crian-
criança é diagnosticada como autista. ça iniciou numa escola comum aos oito anos,
O autismo é um tipo de distúrbio de de- e sua mãe era constantemente chamada
senvolvimento humano que vem sendo es- para resolver os problemas do fi lho, basica-
tudado pela ciência há quase seis décadas, mente, agressividade com todos no ambiente
mas sobre o qual ainda permanecem dentro escolar.
do próprio âmbito da ciência divergências e Teve um trabalho específico com a super-
grandes questões por responder. Foi descri- visora, em pequenos grupos, durante o ano,
to pela primeira vez em 1943 pelo Dr. Leo sem, no entanto. obter avanços. As relações
Kanner. se esgotaram na escola.
Com seus pais ausentes devido ao traba- A criança foi encaminhada a uma escola
lho, a criança mora com a avó materna. No especial, devido ao laudo médico de autismo,
momento, a mesma encontra-se internada e respaldado pela equipe de educação.
em coma, devido a um problema de saúde. A educação pode beneficiar não só o in-
Por esse motivo a rotina da criança foi alte- cluído, mas todos os que com ele estabelece-
rada. Durante a gravidez, a mãe enfrentou ram interações. Além de uma escola inclusi-
dificuldades sociais e familiares. Atribui to- va, precisamos de um mundo inclusivo. Um
dos os seus problemas à existência de seu mundo no qual todos devem ter acesso às
fi lho. oportunidades de ser e estar na sociedade de
A criança apresentou desenvolvimento forma participativa, onde a relação entre o
anormal nos primeiros anos de vida, apresen- acesso às oportunidades e as características
individuais não seja marcada.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Estudo de caso de criança autista: caminhos e abordagens Maria Raimunda Saraiva
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 34
AUTORA:
Nathália Baroni Passini
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
uma escola da rede particular de Belo Horizonte. Relata se aluno. Providenciaram uma reunião com
como surgiu a suspeita de algo diferente no comporta- os seus pais. Na primeira conversa, a mãe
mento do aluno, como se deu o diagnóstico e o que está relatou que já havia percebido certas carac-
sendo feito pela escola e pelos familiares para que ocorra terísticas na criança, como não ouvir ao seu
o processo de inclusão e interação desse aluno dentro da chamado, brincar o tempo todo sozinho, mas
escola. a mãe disse que ele apenas fingia não ouvir
em alguns momentos, mas que em outros
E
m 2006, foi matriculado na Escola In- ele olhava para ela, quando ela direcionava a
fantil Casa dos Sonhos1, da rede par- fala bem próxima a ele. A psicóloga da escola
ticular, em Belo Horizonte, um aluno orientou que a mãe procurasse por um es-
com dois anos de idade e aparentemente pecialista e, inicialmente, ficou decidido que
normal. seria procurado um otorrino para saber se
Ele começou a frequentar a escola dia- era algum problema de audição. Ao desco-
riamente, sendo sempre assíduo. Era aluno brir que ele não tinha problemas de audição,
do maternal dois, tendo em sala com ele 20 foi então encaminhado para outros médicos
alunos. para descobrir o que poderia ser. Foi aten-
No primeiro ano, a professora percebeu dido por neuropediatra, psicopedagoga, te-
que ele não participava das atividades, não rapeuta ocupacional, até que ficou diagnos-
conseguia ficar por muito tempo sentado ticado o autismo infantil. Com três anos, o
em seu lugar e parecia não compreender as aluno já tinha o seu diagnóstico estabeleci-
atividades aplicadas em sala, fossem elas do e isso era do conhecimento da família, da
individuais ou em grupo. Percebeu que em escola e dos demais especialistas envolvidos
alguns momentos ele não respondia ao seu em seu diagnóstico.
chamado nem realizava o que estava sendo O autismo se caracteriza por condu-
pedido por ela. No momento das brincadeiras tas típicas que apresentam uma variedade
no parquinho, junto com as outras crianças, no comportamento, afetando o emocional
o aluno brincava sempre sozinho e o que e o social, manifestando dificuldades de
o atraía era brincar com água ou alguma adaptação ao contexto familiar, escolar e
coisa no chão e quase nunca os brinquedos comunitário.
disponíveis no parquinho. O autismo é uma necessidade educacional
Até então, o aluno não participava das especial, pois requisita diferentes ações edu-
aulas e não realizava as atividades como os cacionais, implementadas na sala de aula e
demais alunos. Ele andava e corria pela sala nos espaços escolares, tendo como objetivo
de aula, não se concentrava nas atividades e o aluno obter uma participação construtiva
fi nalizava somente quando a professora ou a nas atividades escolares.
ajudante da sala sentava ao seu lado e segu- Há cerca de quase dois anos, tempo em
rava sua mão para que juntos registrassem que o aluno já tem o diagnóstico estabele-
algo. cido, ele passou a fazer tratamento com a
neuropediatra, fazendo uso diário de medi-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Autismo na educação infantil: diagnostico e intervenção Nathália Baroni Passini
REFERÊNCIA:
CAMARGOS JR., Walter et al. Transtornos
Invasivos do Desenvolvimento: 3º Milênio.
Brasília: CORDE, 2002.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 35
AUTORA:
Neusa Donata de Souza Nascimento
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
A
sociedade, em geral, utiliza o canal alguns passos foram dados, mas há muito
oral-auditivo como principal veículo que se fazer. Problemas no desenvolvimento
de comunicação, enquanto as pesso- educativo de crianças surdas são comuns a
as surdas, que representam uma minoria todos.
nessa mesma sociedade, utilizam-se do ca- O processo de ensino-aprendizagem do
nal visual-espacial. Isto porque os ouvintes aluno surdo necessita de maior abrangência
aprenderam a se comunicar oralmente, uti- e da adaptação da Língua Portuguesa para
lizando a língua oral de seus pais, enquanto LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) e vice-
os surdos aprenderam a utilizar a língua de versa. O ensino de palavras em si não facilita
sinais, também natural dos seus pais, sendo sua compreensão, mas o contexto delas em
crianças surdas filhas de pais surdos. No situações do dia a dia facilita seu conheci-
caso de crianças surdas filhas de pais ouvin- mento. Rafael, aos poucos, conhecia o que
tes, a situação se torna mais grave, porque a suas mãos poderiam falar, e falar melhor.
comunicação entre ambos é fraca, devido à Foi assim que ele pôde perceber que, apesar
incompatibilidade linguística. de ser o único a conversar daquela maneira
Quando as crianças chegam à idade de em sua casa, ele era capaz de tudo também,
frequentar as salas de aula, surge o proble- assim como seus pais.
ma: Onde matricular o fi lho? Escolas inclu- A escrita de sinais despertou em crianças
sivas ou de educação especial? Anos mais como o Rafael o poder de transcrever através
tarde, percebe-se que essa pessoa surda das mãos o que se forma em seu intelecto e
pouco sabe da língua portuguesa e sua re- em seu imaginário, transportando-os para
presentação ortográfica apresenta falhas de o papel. Olhares de fascínio ao perceber que
estruturação e erros evidentes. as configurações de mãos são como letras e
Em contato com alunos de uma escola da as expressões faciais, as sílabas!
rede municipal de Belo Horizonte, apresen- Esses são os motivos da importância da
tamos o projeto de Escrita de Sinais para escrita de sinais para o registro da cultura
alunos surdos. Nessa escola, identificamos surda. Os surdos, com certeza, teriam mais
vários alunos que possuíam necessidades motivação e criatividade para registrar sua
específicas, dentre eles o que mais me cha- cultura e história, sem se preocupar com
mou a atenção foi o Rafael1. o registro em outras línguas, pois isso po-
Rafael tem nove anos e é surdo, possui derá ser feito por tradutores, para outras
problemas de coordenação motora fi na e se línguas.
desenvolve com certo atraso em relação aos Segundo Quadros (2003),
demais alunos de sua idade. É um menino
de pouca comunicação e com grandes difi- A escrita da língua de sinais capta as rela-
ções que a criança estabelece com a língua
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Escrita de sinais: uma nova trajetória para pessoas surdas Neusa Donata de Souza Nascimento
REFERÊNCIA:
QUADROS, Ronice Müller de. Educação de
Surdos: a aquisição da linguagem. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2003.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 36
AUTORA:
Nielma Regiane Dias Bento
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
com Síndrome de Down inserida em uma escola dita in- pois para ele a criança com deficiência não
clusiva. Pretende-se destacar a relação do professor com se desenvolve menos que seus companhei-
a criança com vistas à promoção de seu desenvolvimento. ros em determinados aspectos, apenas se
desenvolve de outra maneira.
A
s crianças com Síndrome de Down A partir das intervenções da coordena-
possuem uma anomalia cromossômi- dora pedagógica, pais, professores, alunos
ca que implica em perturbações de vá- e funcionários acabaram entendendo que a
rias ordens e que podem causar problemas inclusão faz parte do respeito à diversidade,
cerebrais durante o desenvolvimento do feto. sendo garantido por lei o direito de se estu-
Além disso, essas crianças apresentam atra- dar em escolas regulares.
sos consideráveis em todas as áreas, sendo Para inserir Pedrinho na classe, foi ne-
maiores os verificados no desenvolvimento cessário fazer algumas adaptações quanto
da linguagem para compreender e se expres- à metodologia e à didática utilizada, pois ele
sar. Devido a esses atrasos, a criança com tem dificuldades na fala, necessita de aju-
Síndrome de Down requisita uma ação peda- da nas atividades de vida diária (AVD) e de
gógica que vise atender às suas necessidades apoio constante na hora das atividades. As
psicossociais, criando condições adequadas atividades são iguais para todos os alunos
para seu desenvolvimento global. e, segundo a coordenadora, os trabalhos são
Aprender a brincar, para Canning (1993), realizados em equipe, envolvendo alguns
é uma das mais valiosas habilidades que profissionais para compartilhamento de ex-
a criança pode adquirir na escola infantil, periência e informações.
por ser um veículo natural do crescimento Nota-se, no entanto, que tanto as profes-
e da aprendizagem, principalmente para as soras quanto os profissionais da escola não
crianças com Síndrome de Down, que neces- estão aptos para receber essas crianças, pois
sitam de assistência no brincar. lhes faltam material, informação e apoio psi-
Em uma escola infantil particular de Belo copedagógico, ou seja, falta-lhes o Plano de
Horizonte, com uma criança com Síndrome Desenvolvimento Individual (PDI).
de Down, encontramos uma professora para O relacionamento da professora com Pe-
quem foi muito difícil realizar esse trabalho, drinho é bom, mas é perceptível que a pro-
porque sentia receio e medo de não conse- fessora não tem muito conhecimento sobre
guir bom resultado junto aos alunos ditos as dificuldades e potencialidades do aluno.
“normais”. Pedrinho não consegue acompanhar as ou-
Apesar de uma boa convivência com os tras crianças e fica a maior parte do tempo
colegas, Pedrinho1 pouco interage com os brincando com os lápis, disperso e indife-
colegas e passa a maior tempo brincando rente às atividades propostas.
sozinho. No início, houve rejeição de um pai Segundo Millis (2003), na escola infan-
frente à chegada do aluno, devido ao aspecto til, é muito importante que o profissional
físico da criança. O pai achava que seu fi lho envolvido com crianças com Síndrome de
Down esteja bem preparado, para que possa
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A criança com síndrome de Down na educação infantil... Nielma Regiane Dias Bento
REFERÊNCIAS:
CANNING. D. Claire. Os anos pré-escolares.
In: PUESCHEL, Siegeiried (Org.) Síndrome
de Down. Guia para pais e educadores. São
Paulo: Papirus, 1993, p. 167-175.
162
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 37
AUTORA:
Paola Alves Pereira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
inclusão de uma criança com necessidades educacionais De acordo com Méier (1981), no que tan-
especiais na aula de educação física no ensino regular, ge à questão do gênero, as aulas mistas de
com alunos com diferentes necessidades em uma mesma educação física podem dar oportunidade
turma. para que meninos e meninas convivam, ob-
servem-se, descubram-se e possam apren-
O
presente artigo tem como finalidade der a ser tolerantes, a não discriminar e a
identificar meios de trabalhar com compreender as diferenças, de forma a não
crianças que apresentem paralisia reproduzir estereotipadamente relações so-
cerebral e comprometimentos cognitivos e ciais autoritárias.
motores na aula de educação física com alu- Com base nos estudos realizados, as
nos com diversas necessidades educacionais maiores dificuldades de inclusão de Beatriz,
especiais, procurando atender às exigências uma criança com quadro semivegetativo,
da legislação em vigor (Lei nº 9.394/96, ou são: Como aplicar exercícios, uma vez que
Lei Darcy Ribeiro). ela possui n fatores que a impossibilitam de
A turma que serviu de estudo para este realizar as atividades propostas? Que mate-
artigo possuía na classe comum quatro riais utilizar, uma vez que a escola não pos-
alunos com necessidades educacionais sui materiais suficientes para ser trabalhar
especiais, a saber: Síndrome de Down, Hi- individualmente?
drocefalia, Paralisia cerebral e uma quarta O estudo desenvolvido é qualitativo, e
criança de quem não se tem o diagnóstico e pretendeu investigar a ação da professora de
que freqüenta o ensino regular juntamente educação física no ensino regular.
com outras crianças ditas “normais”. Através de pesquisa, foi possível desco-
O resultado apresentado teve como foco a brir meios para se trabalhar com a aluna
aluna Beatriz1, 9 anos, residente em Belo Ho- em questão, uma vez que a palavra inclusão,
rizonte. Nascida em 2000, com complicações de acordo com o dicionário, quer dizer “ação
durante o trabalho de parto e num quadro ou efeito de incluir ou estado de uma coisa
de pré-eclâmpsia, a criança adquiriu a hipó- incluída”, o que muitas vezes não acontece
xia 2 e anoxia 3, lesando uma área do cérebro nas escolas, por falta de recurso e de qua-
que resultou em lesões no desenvolvimento lificação dos professores. Isso é o que gera
motor e cognitivo. a maior dificuldade em compreender o real
A inclusão escolar, principalmente na significado de inclusão: tem-se um aluno na
aula de educação física, é algo que está se escola e ninguém tem preparo para atendê-
tornando cada vez mais frequente, compa- lo e fica por isso mesmo. Os professores fi n-
rando-se com os séculos passados, em que gem estar incluindo e os órgãos competentes
se acreditava que qualquer pessoa que ti- fi ngem estar cumprindo a legislação.
A professora de educação física responsá-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. vel pela turma em que Beatriz está matricu-
2. Baixo teor de oxigênio ou redução na quantidade de lada não está devidamente qualificada para
moléculas de oxigênio no ar respirado.
essa função, teve experiências com outros
3. Falta de oxigênio no cérebro.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Inclusão: desafio para a aula de educação física Paola Alves Pereira
alunos com necessidades especiais educa- a estagiária que a acompanha como desen-
cionais nos anos anteriores, procurou fazer volver algumas atividades de acordo com a
cursos de capacitação por conta própria e percepção e as necessidades de Beatriz.
procura, sempre que necessário, ajuda de Realmente não é fácil atender aos alunos
outros profissionais. Contudo, atualmente, com necessidades especiais da forma como
não é realizado nenhum tipo de atividade se espera, principalmente na aula de educa-
com a aluna, embora, já tenha sido feita ção física. Em uma escola onde os materiais
uma avaliação com a terapeuta ocupacional são escassos e insuficientes e esses alunos
e a fisioterapeuta disponibilizadas pela pre- demandam uma atenção especial para a
feitura de Belo Horizonte. realização das atividades propostas, o ideal
De acordo com os diagnósticos médicos, seria ter nas escolas, primeiramente, pesso-
não se tem o que fazer com ela nas aulas de as capacitadas para atendê-los. Além disso,
educação física, uma vez que a aluna não ensinar ao corpo docente caminhos a serem
responde aos estímulos. A única coisa a ser seguidos de acordo com as necessidades de
feita, seria estimular o contato físico com cada aluno, para que se possa criar opor-
objetos diferentes, o que no caso é impos- tunidades e meios de incluir os alunos com
sível em uma turma de 25 alunos quando, comprometimentos mais graves, mesmo que
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 38
AUTORA:
Patrícia de Abreu Almeida
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
A
Síndrome de Down é um distúrbio ge- balhando com brincadeiras para desenvol-
nético causado durante a formação do ver a coordenação motora: jogos pedagógicos
feto; é uma das anomalias genéticas de madeira e jogos de montar proporcionam
mais conhecidas. Segundo os professores e um desenvolvimento psicomotor, atividades
doutores Elaine S. de Oliveira Rodini e Agui- faz-de-conta ou jogos de papéis ajudam a
naldo Robinson de Souza, da Universidade criança a melhorar suas habilidades sensó-
Estadual Paulista (campus Bauru), a Sín- rio-motoras e outras, subir escadas auxilia
drome de Down é responsável por 15% dos no desenvolvimento do equilíbrio e fortale-
portadores de retardo mental que frequen- ce os músculos das pernas e pular, saltar
tam instituições para crianças especiais. e dançar são excelentes atividades motoras
De uma forma geral, a Síndrome de Down que auxiliam no equilíbrio e no controle
é um acidente genético, sobre o qual ninguém muscular.
tem controle. Qualquer mulher pode ter fi lho O brincar é uma atividade inerente ao ser
com essa síndrome, não importa raça, cre- humano, faz parte de sua natureza humana,
do religioso, nacionalidade ou classe social. e favorece tanto o desenvolvimento da crian-
Por muito tempo, a SD ficou conhecida como ça dita “normal” como da criança portadora
mongolismo, termo empregado devido ao fato de alguma deficiência.
de os portadores da síndrome terem pregas Para Ribeiro (2007), as atividades lúdicas
no canto dos olhos que lembram as pesso- com brinquedos e jogos envolvem o indiví-
as de raça mongólica (amarela). Nos dias de duo como um todo – “cognição, afetividade,
hoje esse termo não é mais utilizado, é tido corpo e interações sociais” promovendo
como pejorativo e preconceituoso. seu desenvolvimento. Nesse caso, as situa-
Em uma escola particular da região de ções lúdicas para a criança com Síndrome
Contagem, Kayla1, de 2 anos, com Síndrome de Down facilitarão seu desenvolvimento. A
de Down, foi matriculada. atividade lúdica facilita o processo de apren-
No começo, ela se sentiu muito acuada, dizagem da criança, criando condições para
pois não tinha convivido com outras crian- que a mesma explore seus movimentos, ma-
ças e chorava muito, não comia o lanche que nipule materiais, interaja com seus pares e
sua mãe mandava, só permanecia no colo. resolva situações-problemas.
A mãe ficava muito preocupada como os Por meio das brincadeiras, as crianças
pais e os colegas iam recebê-la. Com o tem- podem manifestar certas habilidades que
não seriam esperadas para a sua idade.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O brincar da criança com síndrome de Down Patrícia de Abreu Almeida
REFERÊNCIAS:
RIBEIRO, Maria Luisa S. O jogo na organi-
zação curricular para deficientes mentais. In:
KISHIMOTO, Tizuko M.(Org.). Jogo, brinque-
do, brincadeira e a educação. 10. ed. São
Paulo: Cortez, 2007.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 39
AUTORA:
Patrícia Janaína de Souza Moura
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
no médio, de uma escola pública estadual, com problemas causas eram desconhecidas e que não sabia
devido ao uso abusivo de álcool. como intervir.
Nesses momentos, a escola tem papel
Maíra1 era aluna do 1º ano do ensino mé- fundamental. Não há educação sem apoio da
dio e apresentava transtornos ocasionados família e da comunidade.
pelo uso abusivo de álcool. Era frequente às Uma pesquisa sobre a temática é impor-
aulas, porém seu rendimento havia caído tantíssima, visto que leva ao conhecimento
nos últimos meses. sobre o assunto, dando subsídios ao corpo
As suspeitas começaram no momento pedagógico para lidar com as situações vin-
em que a aluna se apresentou agressiva e douras, além de contribuir para a interven-
sonolenta durante as aulas, além do baixo ção para a recuperação dos alunos.
rendimento que não lhe era característico. O tema é abrangente e não há uma única
Para a escola, tratar de um tema como causa, o que há são situações e sentimentos
esse é desafiador. Estamos acostumados a que levam as pessoas a consumirem o álcool.
enfrentar dificuldades que envolvem trans- No caso do dependente químico, uma fuga
tornos ou distúrbios como TDAH, dislexia, da realidade costuma ser a justificativa.
transtornos de conduta, entre outros. Mas No Brasil, a venda de bebida alcoólica é
o alcoolismo é um problema relativamente proibida para menores de 18 anos, conforme
“recente” nas escolas. Lei nº 14.450 e Decreto nº 49.662. No entan-
O alcoolismo tem sido motivo de transtor- to, quando encontramos jovens embriaga-
nos familiares e sociais. O álcool influencia dos, percebemos que ou a lei não está sendo
o sistema nervoso central. As consequên- cumprida ou os pais, familiares e/ou amigos
cias são alteração na fala, multiplicação de são os fomentadores do vício.
ideias, aumento da autoconfiança, fuga das O Estatuto da Criança e do Adolescente é
frustrações e euforia, além de outras alte- claro no seu parecer quanto à proibição de
rações no fígado, no sistema digestório e no entorpecentes ou qualquer produto que leve
coração. ao vicio, conforme abaixo:
O álcool é a droga preferida dos brasileiros • Seção II,
(68,7%). Os que mais consomem são pessoas
na sua idade produtiva (dos 25 aos 45 anos). • Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao
Mas alguns jovens sofrem de alcoolismo e, adolescente de:
se analisarmos os dados de estudos recen- • II - bebidas alcoólicas;
tes, veremos que são alarmantes. O artigo
• III - produtos cujos componentes possam
Epidemiologia do uso de álcool no Brasil re- causar dependência física ou psíquica ainda
lata que: “[...] 5,2% dos adolescentes (12 a 17 que por utilização indevida.
anos de idade) são dependentes do álcool.”.
A escola, para colocar-se a par do que es- Outro fator curioso que leva os jovens ao
tava acontecendo com Maíra, conversou com consumo excessivo de álcool é a crença de
que o álcool torna a pessoa mais ativa, me-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O alcoolismo e seus malefícios para alunos do ensino médio Patrícia Janaína de Souza Moura
REFERÊNCIAS:
BELO HORIZONTE. Legislação Municipal
Decreto 49.662, de 20.06.08.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1516- Acesso em:
14/05/2009.
168
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 40
AUTORA:
Paula Gomes Tinoco
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
em uma escola pública de Educação Infantil, no municí- e se masturbando na frente dos colegas. A
pio de Contagem (MG). Pela observação da professora professora comunicou à coordenadora, que
do 2º período, foi constatado que um aluno de 5 anos de o encaminhou ao acompanhamento psicoló-
idade estava sendo abusado sexualmente por um fami- gico. Durante o atendimento, o psicólogo foi
liar. A escola toma providências, oferecendo ao aluno um conversando com o aluno, que relatou estar
acompanhamento psicológico em um trabalho conjunto sendo molestado pelo irmão mais velho que o
com a família. colocava para excitá-lo de várias maneiras.
Para Gonçalves & Ferreira (2002), Habi-
P
aulo1 tem 5 anos e está cursando o 2º gzang & Caminha (2004) e Osofsky (1995),
período da educação infantil em perío-
do integral. Mora com a mãe e mais 3 o abuso sexual contra crianças e adolescen-
irmãos. Há um ano não vê o pai, que mora tes tem sido considerado um grave proble-
nos Estados Unidos. A separação do casal, ma de saúde pública, devido aos altos índi-
segundo a mãe, foi bastante traumática, re- ces de incidência e às sérias consequências
latando muitas agressões verbais e físicas na para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e
presença de Paulo. Desde então, a mãe tem social da vítima e de sua família.
a guarda dos 4 filhos, trabalha o dia inteiro
para manter a casa e à noite costuma sair O psicólogo diagnosticou o caso como
para namorar, deixando os filhos sob a res- Transtorno Comportamental de Origem
ponsabilidade do irmão mais velho, de nove Emocional, devido ao afastamento do pai e
anos. ao estilo de vida que a família leva, princi-
De acordo com o relatório escolar, o me- palmente a mãe, que passa pouco tempo com
nino apresenta dificuldades de relacionar-se os fi lhos e costuma levar os namorados para
harmoniosamente com os outros colegas e casa, ficando os fi lhos expostos ao “namoro”
cumprir os combinados da turma. Quando do casal.
quer participar das atividades e brincadeiras Paulo relatou que a mãe e o irmão têm
propostas, compartilha com dificuldade os o hábito de assistirem a fi lmes pornográfi-
brinquedos e materiais, expressa seus senti- cos, como diz o garoto: “fi lmes de mulher
mentos com pouca clareza e fica sempre mais pelada”, o que não é adequado aos fi lhos,
isolado. Necessita de um acompanhamento considerando que são crianças em fase de
com fonoaudiólogo, pois tem dificuldade na desenvolvimento.
pronúncia das palavras, o que dificulta a Segundo Hefl in & Deblinger (1996/1999)
transmissão de recados e informações, até e Saywitz, Mannarino, Berliner & Cohen
mesmo com os próprios colegas. (2000),
Familiariza-se com a imagem do próprio
corpo, demonstra cuidados com a higiene e o abuso sexual pode afetar o desenvolvi-
aparência, tem habilidades nas atividades mento de crianças e adolescentes de dife-
de coordenação motora grossa e fi na. rentes formas, uma vez que algumas apre-
sentam efeitos mínimos ou nenhum efeito
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Abuso sexual na infância Paula Gomes Tinoco
REFERÊNCIAS:
HABIGZANG, L. F. & CAMINHA, R. M. Abu-
so sexual contra crianças e adolescentes:
Conceituação e intervenção clínica. São Pau-
170
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 41
AUTORA:
Regiane de Carvalho
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
pe pedagógica e docente de uma Unidade Municipal de inclusão promovido pela escola e pelo educa-
Educação Infantil - UMEI de Belo Horizonte que, ao dor e as possibilidades a serem alcançadas
constatar um aluno autista na escola, buscou meios para por crianças autistas, quando inseridas no
alcançar o aluno e facilitar o seu processo de inclusão e meio escolar.
escolarização de forma conjunta, objetivando identificar Nessa perspectiva, a hipótese desta pes-
procedimentos, práticas e intervenções pedagógicas que quisa norteia que, através do acesso à esco-
pudessem colaborar de maneira eficaz. larização aliado a outras intervenções que
possam promover a interdisciplinaridade,
1 INTRODUÇÃO como: psicopedagogia, fonoaudiologia, psi-
cologia, musicoterapia, psicomotricidade e
A
presente pesquisa foi baseada na ob- outros, poderemos proporcionar-lhes melhor
servação participante de uma escola desenvolvimento do ensino-aprendizagem
de Educação Infantil da Rede Munici- e a inserção no meio. A educação é a base
pal de Ensino – UMEI (Unidade Municipal de de toda construção social, intelectual, de
Educação Infantil), que atende a um aluno interação e crescimento individual, é mais
com Síndrome de Autismo. Levando em con- do que cuidar de crianças, é abrir a elas o
sideração que se trata de crianças que fogem caminho da cidadania, levando em conta
de um “padrão normalizado” e que muitas que quem tem deficiência é capaz de mui-
vezes são prejudicadas em relação ao acesso tas coisas, como ler, escrever, fazer contas,
e ao convívio escolar, tendo em vista que a correr, brincar e até ser independente. O
educação é direito de todos, conforme dispos- importante é que, se a criança for estimu-
to na Constituição Federal de 1988, em seu lada a descobrir seu potencial desde cedo,
art. 205, a área desta pesquisa é delimitada as dificuldades deixam de persistir em tudo
pelo problema de identificar procedimentos o que ela faz, ou seja, ela precisa de novos
que podem ser desenvolvidos de forma a desafios para aprender a viver cada vez mais
promover os processos de inclusão, ensino- com autonomia, e não há lugar melhor do
aprendizagem e socialização de crianças com que a escola para que isso se concretize.
necessidades educacionais especiais por
apresentarem autismo, no espaço escolar. 2 DESENVOLVIMENTO
Devido a privações e práticas não condi-
zentes de alunos com necessidades especiais, O Autismo Infantil (AI) é uma síndrome
buscou-se desmistificar esses conceitos, defi nida por alterações presentes desde ida-
com o propósito de identificar alternativas des muito precoces, tipicamente antes dos
pedagógicas adequadas ao desenvolvimen- três anos de idade, e que se caracteriza sem-
to socioeducativo de crianças com Síndrome pre por desvios qualitativos na comunicação,
do Autismo, respeitando suas limitações e o na interação social e no uso da imaginação.
tempo de que necessitam para aquisição de É um distúrbio do desenvolvimento que sur-
conhecimentos. preende pela diversidade de características
Dessa forma, observaram-se as interven- que pode apresentar. Descrito em 1943, por
171
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Inclusão e escolarização de alunos autistas Regiane de Carvalho
172
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Inclusão e escolarização de alunos autistas Regiane de Carvalho
pouquíssima frequência escuta-se sua voz. pode promover grandes avanços quanto ao
Ele contas com um estagiário na sala para seu desenvolvimento nos processos de ensi-
auxiliá-lo em todos os momentos. As UMEIs no-aprendizagem, socialização e inserção ao
são bastante inclusivas, com espaços prepa- meio social, principalmente quando conta-
rados para recebimento de deficientes físicos. mos com profissionais capacitados na escola
A Prefeitura estava promovendo minicursos e o auxilio de uma equipe multidisciplinar,
sobre Autismo, no período observado. como: médicos, psicólogos, musicoterapeu-
A professora responsável pela sala diz que tas, dentre outros, no atendimento dessas
X costuma fazer as atividades, mas muitas crianças. De acordo com informações pres-
vezes rejeita e não aceita continuar. Não há tadas pela coordenadora, os trabalhos reali-
qualquer atividade direcionada para X, a não zados com o aluno estão sendo analisados e
ser procedimentos da vida diária, como ir ao discutidos, buscando-se o desenvolvimento
banheiro, se vestir, comer sozinho, escovar do aluno e novas práticas que vão surgindo
os dentes, sendo tudo isto já conquistado por no decorrer da trajetória educacional.
ele, segundo informações da professora. Na
sala de aula há um mural contendo fotos da REFERÊNCIAS:
rotina do dia, o que facilita o entendimento
da criança. Ele é bem aceito pelos colegas, CAVALCANTE, Meire. Caminhos da Inclu-
apesar de muitas vezes rejeitá-los e não acei- são. Nova Escola. São Paulo. Edição Espe-
tar brincar em grupo. Ele age com natura- cial, n. 11, p. 9-15, out. 2006.
lidade e algumas vezes nem percebemos as
suas dificuldades. FERREIRA, Izabel Neves. Caminhos do
A equipe pedagógica e docente iniciou aprender: uma alternativa educacional para
toda a trajetória identificada na metodologia a criança portadora de deficiência mental.
desta pesquisa e os resultados estão sendo Brasília: Coordenação Nacional para Integra-
analisados e discutidos entre eles, buscando ção da Pessoa Portadora de Deficiência (COR-
o desenvolvimento integral do aluno e uma DE), 1993. 162p.
inclusão satisfatória.
MELLO, Ana Maria S. Ros de. Autismo: Guia
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prático. 2. ed. Brasília: CORDE; São Paulo:
AMA, 2001. 85p.
Analisando os dados obtidos através da
observação presencial, pôde-se constatar SCHARTZMAN, José Salomão. Autismo in-
que muitas são as barreiras enfrentadas por fantil. Brasília: Coordenadoria Nacional para
professores despreparados para o atendi- Integração da Pessoa Portadora de Deficiên-
mento de crianças que apresentam necessi- cia (CORDE), 1994. 56p.
dades especiais por apresentarem autismo,
demonstrando que o acesso dessas crianças
na Rede Regular de Ensino torna-se pouco
173
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 42
AUTORA:
Renata Lana Ferreira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
equipe pedagógica da escola porque seu filho está tendo incluir problemas de linguagem, memória e
comportamentos diferentes dos demais. Ele é diagnosti- habilidades motoras. Embora a criança hi-
cado como uma criança hiperativa e a escola a orienta perativa tenha, muitas vezes, uma inteligên-
dando-lhe o apoio necessário. cia normal ou acima da média, o estado é
caracterizado por problemas de aprendizado
E
m uma escola da rede privada, a mãe e comportamento.
de um aluno de 6 anos, no período de A criança com hiperatividade apresenta
alfabetização, é chamada pela pro- os seguintes comportamentos:
fessora e pela coordenadora, por motivo de • Dificuldade de concentração (vive no mundo
comportamento de seu filho. Disseram-lhe da lua);
que ele era um aluno muito agitado, não
prestava atenção nas aulas, não parava • Não escuta quando lhe dirigem a palavra;
sentado em sua carteira, tinha dificuldade • Não aceita tarefas que envolvam trabalho
de aprendizagem e falava sem parar. Essa mental;
observação vinha sendo realizada há vários • Não se envolve em brincadeiras e não as
meses. mantém por muito tempo;
A mãe após ouvir tudo, contou a elas que
o comportamento de seu fi lho não era dife- • Tem dificuldade em aguardar sua vez;
rente quando ele estava em casa. • Fala em demasia;
Passados alguns dias, a mãe voltou à es-
• Nunca para sentado;
cola procurando uma ajuda da coordenadora
que a aconselhou a procurar primeiramente • Não aceita regras;
uma avaliação médica. • Está ligada dia e noite.
Após observações e exames, foi diagnos-
ticado que o aluno teria uma deficiência Essas crianças são vistas como proble-
chamada TDAH (Transtorno de Déficit de máticas pelas pessoas que convivem com
Atenção e Hiperatividade). elas, o que gera muita angústia para seus
A mãe, preocupada, com o diagnóstico em pais pela falta de disciplina, pela dificuldade
mãos, volta novamente à escola, reúne com de concentração, pela dificuldade de respei-
a professora e coordenadora e mais uma vez tar regras e pela irritabilidade. É importan-
pede uma ajuda, pois não sabia mais como te tomar cuidado para que não confundir
agir com seu fi lho. Ambas as apoiaram muito algumas características como indisciplina,
e disseram que o TDAH não era nenhum “bi- birra, falta de educação, fala em excesso
cho de sete cabeças”. Para obter um melhor com sintomas de hiperatividade. Por isso
resultado, era indicado procurar um acom- o professor e toda a equipe pedagógica da
panhamento psicopedagógico, reforçando escola necessitam conhecer o assunto para
que a participação da família era fundamen- que o aluno não seja diagnosticado de forma
tal para o desenvolvimento do aluno. equivocada.
175
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A escola e o aluno hiperativo Renata Lana Ferreira
REFERÊNCIAS:
BENCZIK, Edyleine Belini Peroni. Transtor-
nos de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
176
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 43
AUTORA:
Roberta Rafaela Xisto da Silva
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
com dificuldade de aprendizagem e como a introdução de cialmente construído, as pessoas que cui-
atividades lúdicas pode ajudá-la a compreender melhor dam dos bebês ajudam a brincar desde cedo,
as atividades propostas em sala de aula e auxiliá-la nos com isso, algumas brincadeiras ajudam no
conteúdos em que tenha dificuldades. desenvolvimento da criança.
Vygotsky (1998) apud Moreira (2004, p.
B
ernardo1 tem sete anos e frequenta o 48) aponta que o brincar é, portanto, uma
2° ano do ensino fundamental numa das atividades fundamentais para o desen-
escola particular em Belo Horizonte. volvimento das crianças.
No meio do ano de 2008, Bernardo apre-
sentava um estado emocional desequilibra- Por meio das brincadeiras, as crianças po-
do, e nas aulas encontrava se desatento, dem desenvolver algumas capacidades im-
desinteressado e muito agitado. Os pais portantes, tais como a atenção, a imitação,
foram chamados para uma reunião com a a memória, a imaginação. Ao brincar, elas
coordenadora com o propósito de avaliar a exploram e refletem sobre a realidade socio-
situação do aluno. A princípio, eles não acei- cultural na qual vivem, incorporando e, ao
taram muito que Bernardo precisasse de mesmo tempo, questionando papéis sociais
ajuda profissional, mas, com o tempo, aca- próprios dos adultos. Podemos dizer que nas
baram concordando que seu fi lho precisava brincadeiras as crianças podem ultrapassar
realmente de uma ajuda. a realidade, transformando-a via imagina-
Muitos fatores podem causar uma difi- ção. Fica evidente, contudo, que o papel do
culdade de aprendizagem na criança, o que educador nas brincadeiras é o de observar e
torna fundamental questionar se essa difi- compartilhar com seus pares brincadeiras,
culdade é devida ao ensino ou à aprendiza- fornecendo-lhes espaço, tempo e materiais
gem, por isso é preciso criar alternativas de apropriados e convidativos para o brincar,
ensino para que as aulas sejam desejadas, auxiliando-as quando solicitados.
mais atraentes, interessantes e significati-
vas para todos, alunos e professores. A partir das intervenções realizadas com
Assim, pensando sobre o processo a psicóloga e com a professora, é possível di-
de alfabetização, acredito que deve ser um zer que Bernardo melhorou o seu desempe-
processo dinâmico e criativo, que acontece nho não só na escola, mas também em casa.
através de jogos, brinquedos, brincadeiras, Bernardo está mais concentrado nas aulas e
musicalidade, teatro, entre outros. tem melhorado muito na escrita e no relacio-
Neste ano, Bernardo continua tendo um namento com seus colegas de classe.
acompanhamento psicológico, e um trabalho Crianças com dificuldade de aprendiza-
realizado com muito carinho pela sua atu- gem não são seres incapazes, apenas preci-
al professora. Ela utiliza atividades lúdicas sam de um tempo maior e de um ensino mais
para prender a atenção de Bernardo e auxi- elaborado com intervenções lúdicas, valori-
zando, assim, o que cada criança possui.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
177
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância das atividades lúdicas para as crianças com... Roberta Rafaela Xisto da Silva
REFERÊNCIAS:
CORRÊA, Rosa Maria. Dificuldades no
aprender: um outro modo de olhar. Campi-
nas (SP): Mercado de Letras, 2001.
178
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 44
AUTORA:
Rosângela Malaquias Clemente
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
quadro diferenciado das demais, o que deixava a escola e mostrava-se sempre próximo dos colegas.
as professoras muito inquietas. Era uma criança que não Numa entrevista, a mãe disse que em
se socializava, tendo apenas um colega com quem trocava casa lidavam com a questão mostrando a
sons que a professora não entendia. importância da comunicação nas situações
em que o Luiz se levantava. Não insistiam
L
uiz1 é o filho caçula e tem um irmão no ato de falar, nem o faziam por ele. Infor-
de 10 anos. Sua mãe o descreve como maram também que o nascimento foi den-
sendo uma criança perfeccionista, que tro do previsto. Acreditavam em fatores que
não gosta de errar ou fazer mal feito algu- poderiam ser indicadores de problema, mas
ma coisa. È inquieto, impaciente, desatento ainda não havia diagnóstico.
e inconstante, e escolhe as pessoas com as No fi nal do primeiro período, Luiz havia
quais quer falar. crescido nas relações, na forma de se co-
A partir dos três meses, seu desenvolvi- municar. Participava de tudo, levantando a
mento foi tranquilo e saudável, apesar do mão, acenando a cabeça, fazendo movimen-
atraso de 1 ano na idade óssea. Andou com tos significativos, apresentava boa relação
1 ano e meio, e só conseguiu eliminar a enu- com o grupo de trabalho e demonstrava ter
rese noturna aos 4 anos. A família não tem certa preferência, abraçando e beijando al-
religião e nunca reza com a criança. guns adultos mais próximos, mas continu-
Luiz entrou para escola quando tinha 4 ava sem falar.
anos, no primeiro período. Inicialmente cha- A mãe percebia o crescimento de Luiz na
mou atenção da professora porque não fala- escola durante todo esse tempo e tinha ex-
va com ninguém e escolhera um coleguinha, pectativas em relação à escrita e ao desenho.
Roberto 2 , com quem trocava sons, os quais A mãe dizia que o fi lho era extremamente
a professora não percebia se tinham sentido. perfeccionista e, por isso, muitas vezes fica-
Ele atendia a todas as solicitações e partici- va insatisfeito com sua produção, acabando
pava de todas as atividades, mas não se ex- por rabiscar o trabalho que estava fazendo.
pressava através do corpo, em situações de No ano seguinte, Luiz adaptou-se bem ao
música ou história, como as outras crianças. 2° período. Continuava com manifestações
Permanecia quase que impassível, apesar de de gestos, mais participativo nas atividades
parecer gostar da escola. É responsável com de sala de aula, chegando a fazer contato
as tarefas escolares, embora não demonstre com alguns colegas vez ou outra, manifestou
prazer em fazê-las. monossílabos, mas ainda sem falar. Pedago-
Sua adaptação foi tranqüila. Aos poucos gicamente estava silábico-sonoro, na escri-
começou a responder com gestos quando era ta, e produzia um desenho mais elaborado,
indagado. Segundo relato da professora, era fazia cópias de registro do quadro e estava
impressionante o autocontrole e a censura mais organizado, aparentando estar feliz.
que se impunha. Nas atividades de registro, Em aulas de música e de educação física
não participava de todas as atividades.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
2. Nome fictício.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Uma criança diferente Rosângela Malaquias Clemente
Em fevereiro deste, Luiz chegou ao 1° ano Luiz apresenta bom desempenho motor
e logo o início do ano a mãe foi chamada à global, mas envolve-se muito pouco com o
escola. A interação com os colegas ainda era grupo. Revela bom raciocínio lógico mate-
pequena, mas esse não falar não lhe prejudi- mático e parece gostar de ler.
cava. Os colegas já acostumaram com o seu A família foi orientada pela escola no sen-
jeito. “Ele é aquele que não fala”. “Ele não tido de garantir a continuidade do processo
sabe falar” – era assim que se referiam a ele. psicoterapêutico, que começa a apresentar
Estava muito desorganizado com suas coi- resultados muito positivos.
sas e com sua produção. Em uma reunião de discussão do caso,
Luiz não lia na escola, portanto, não se a escola e a psicopedagoga discutiram um
sabia se ele sabia ler. Foram colocadas para texto de Ajuriaguerra, do livro Manual de
ele diversas propostas, diversas situações, Psiquiatria Infantil. No que se refere às fun-
em diversos momentos para avaliar leitura. ções e aos distúrbios de linguagem, o autor
Mas foi tudo em vão. se refere a mutismo eletivo, quando o mutis-
A escola entrou em contato com a musi- mo só ocorre na presença de certas pessoas
coterapeuta e ela acreditava que, naquele ou em uma determinada situação.
momento, Luis só falava na escola. Dizia ter No recreio, Luiz fica sozinho ou com Ro-
180
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Uma criança diferente Rosângela Malaquias Clemente
REFERÊNCIA:
CORDIÉ, Anny. Os Atrasados não existem:
Psicanálise de crianças com fracasso escolar.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
181
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 45
AUTORA:
Selma Maria Gomes
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
sa na perspectiva da inclusão, contudo, faz-se necessário não ter o sentido da audição. Dessa manei-
adequar as práticas pedagógicas de maneira a atender à ra, se ela não tiver contato com usuários de
diversidade no contexto escolar. Para que seja alcança- uma língua “falada” na modalidade visual-
do um atendimento educacional eficaz, a coordenação da espacial, que é a língua materna das pesso-
instituição socioeducativa desenvolve ações voltadas aos as surdas, ela chegará à escola sem ter do-
educadores com o objetivo de qualificar o professor para mínio de nenhuma língua, o que é altamente
que o modelo de escola inclusiva adotado alcance resulta- prejudicial ao desenvolvimento da criança,
dos positivos no processo ensino-aprendizagem. uma vez que a aquisição de linguagem é
um aspecto importante do desenvolvimento
A
instituição na qual foi realizado o estu- cognitivo.
do de caso, localizada na região norte Em face disso, preocupada com o atendi-
de Belo Horizonte, em caráter socio- mento educacional dessa criança, a coorde-
educativo oferece atendimento educacional nação pedagógica, com o objetivo de atender
às crianças carentes da região, bem como adequadamente a esse aluno surdo bem
assistência social às famílias. O objetivo pri- como àqueles que porventura venham a se
meiro da instituição é ajudar as famílias na matricular na escola, criou condições dentro
educação dos seus filhos e melhorar a quali- da instituição de qualificação das educado-
dade de vida daqueles que são atendidos na ras para o atendimento de alunos surdos.
instituição e, por conseqüência, da comuni- Para tanto, foram promovidos palestras
dade onde vivem, uma vez que o âmbito de e minicursos para as educadoras poderem
atendimento é de um maior número possível conhecer as estratégias de atuação na edu-
de moradores da região. cação de crianças surdas, as adequações
A escola oferece atendimento educacional curriculares necessárias e os recursos e
inclusivo não somente no que se refere ao materiais pedagógicos utilizados para a efe-
atendimento de crianças com deficiência, tivação do processo ensino-aprendizagem
mas também às crianças que têm dificulda- que possa garantir ao aluno o acesso ao
des de aprendizagem e que estão em situa- currículo.
ção de vulnerabilidade social. Essas medidas não só melhoraram o de-
No quadro de alunos dessa escola, há sempenho das educadoras no atendimento
uma criança com surdez, cuja família tem à criança surda como estabeleceram um
mais quatro fi lhos, um deles com hidrocefa- vínculo maior entre a escola e família, já
lia. A família já numerosa, com baixo poder que houve um avanço no desenvolvimento
aquisitivo, tendo entre os fi lhos um com uma da linguagem da criança que possibilitou
deficiência que demanda uma atenção e um uma maior interação e comunicação entre a
tempo maior nos cuidados do dia a dia, como criança e os professores e, consequentemen-
a alimentação e a higiene, por se tratar de te, uma melhora na comunicação da criança
uma criança mais dependente, não poderia com seus familiares.
prestar assistência adequada à educação do O modelo de escola inclusiva que atenda
fi lho surdo. à diversidade de alunos já é uma realidade
183
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O papel do professor no atendimento às crianças surdas Selma Maria Gomes
REFERÊNCIAS:
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura.
Inclusão: Revista da Educação Especial. v.
1, n. 1, outubro 2005. Brasília: Secretaria de
Educação Especial.
184
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 46
AUTORA:
Silvana Conceição Leite Carvalho
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
6º ano de uma escola particular, com diagnóstico de dis- família em encontrar profissionais da edu-
lexia usual, e ressalta a importância de uma equipe mul- cação preparados para lidar com esse tipo
tidisciplinar para seu pleno desenvolvimento acadêmico de aluno. Principalmente nos momentos das
e social. avaliações, pois as escolas não disponibili-
zam métodos de avaliações individualizadas
L
er é mais difícil que falar. Enquanto ou diferenciadas.
a fala é aprendida naturalmente pelo A escola, no entanto, disse não ter tido
homem, a leitura é ensinada por meio acesso a algumas informações referentes ao
de um código de criação humana altamente acompanhamento da aluna por profissionais,
complexo. O bom leitor é aquele que desen- dizendo já ter tentado contato, mas sem êxi-
volve as habilidades de decodificação desses to, e acredita em um trabalho em conjunto
códigos de maneira eficiente. Daí a necessi- para um melhor desempenho acadêmico da
dade de conceituarmos a dislexia como uma aluna.
dificuldade que está relacionada com a per- A mãe da aluna diz que é possível encon-
cepção do texto escrito. A percepção visual trar boas escolas e que compreendem a si-
do texto relaciona-se com os movimentos e tuação de alunos com dislexia, porém não
com as fixações do olho. estão preparadas para desenvolver um sis-
Segundo a Associação Brasileira de Disle- tema de avaliação diferenciado. Para ela, “as
xia – ABD, o transtorno tem a maior incidên- escolas pensam que trabalhar de forma dife-
cia nas salas de aula. Diversos estudos rea- rente com quem tem alguma limitação é um
lizados em outros países apontam que entre privilégio. Mas não é. Para tratar todos com
5% e 17% da população mundial possui o igualdade temos que perceber as diferenças”.
distúrbio e que sua maior incidência está na No entanto, as pessoas que possuem essa
hereditariedade e não no resultado da má al- característica podem, desde que comprova-
fabetização ou da baixa inteligência. Quem do com laudo médico, ter avaliação diferen-
tem dislexia, além de problemas com as pa- ciada em provas, vestibulares, concursos e
lavras, possui dificuldades com a memória até para adquirir a carteira de habilitação.
verbal, operacional e de longo alcance. Ao contrário do que muitos pensam, a
Mariana1. tem 13 anos de idade, freqüen- dislexia não é o resultado de má alfabeti-
ta o 6º ano do ensino fundamental II e pos- zação, desatenção, desmotivação, condição
sui o diagnóstico de dislexia usual. socioeconômica ou baixa inteligência. Ela
A coordenadora da escola relatou que, no é uma condição hereditária com alterações
início do ano, fez um momento de socializa- genéticas, apresentando ainda alterações no
ção com a turma e falou das “diferenças” e da padrão neurológico.
importância de se respeitar o outro. Naquele A mãe relatou que ela e o pai são disléxi-
momento, ela mostrou uma revista em que a cos e conta as dificuldades enfrentadas na
mãe da Mariana havia dado uma entrevista fase escolar, principalmente no processo de
sobre a dislexia, o que despertou maior inte- alfabetização, sendo na leitura a maior difi-
culdade. Os pais expõem para a filha a todo
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
185
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dislexia, escola e família Silvana Conceição Leite Carvalho
instante a possibilidade de uma vida pró- Por esses múltiplos fatores é que a dis-
xima do normal, apesar das dificuldades, e lexia deve ser diagnosticada por uma equi-
acham essencial trabalhar a autoestima da pe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação
filha, tendo em vista as suas dificuldades de dá condições de um acompanhamento mais
se socializar. efetivo das dificuldades após o diagnósti-
Na ficha individual da aluna, consta um co, direcionando-o às particularidades de
acompanhamento / tratamento realizado na cada indivíduo, levando a resultados mais
clínica Dr. Ricardo Guimarães, referência no concretos.
país em relação a esse tipo de tratamento.
A aluna usa óculos específicos que possibi- REFERÊNCIA:
litam a leitura e a escrita de forma mais efi-
caz. Os pais percebem avanço escolar da fi- REIS, Marina Botelho. Psicóloga Clínica, Es-
lha com o uso desses óculos. pecialista em Atendimento Sistêmico de Fa-
A aluna tem bastante facilidade em Ma- mílias e Redes Sociais. Departamento de Dis-
temática e Inglês. Mas grandes dificuldades lexia de Leitura do Hospital de Olhos de Minas
em Português, História e Geografia. A coor- Gerais. Belo Horizonte: Revista Nova Lima
denadora sugeriu aos pais que contratassem Perfil. Disponível em:<www.dislexiadeleitura.
186
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 47
AUTORA:
Simone das Graças Ferreira
Endereço eletrônico: simonedojocac@hotmail.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
do realizado em uma escola da rede privada de ensino, realização das atividades, ele precisava da
os desafios encontrados e o que está sendo realizado pela aprovação da professora e demonstrava mui-
comunidade escolar a fim de oferecer um ensino de quali- ta ansiedade através de gestos repetitivos.
dade a um aluno que apresenta alterações de comporta- No decorrer do ano, mostrou estar mais
mento que comprometem seu rendimento escolar. adaptado, demonstrou maior segurança e
passou a participar de projetos realizados
A
sociedade tem como objetivo principal em sala ouvindo seus colegas, levantando o
oferecer oportunidade igual para que dedo para contar acontecimentos do dia a
cada pessoa seja autônoma e autode- dia e colaborando com opiniões. Ele ainda
terminada. Uma sociedade aberta a todos, preferia brincar sozinho, mas com o estímulo
que incentiva e estimula a participação de da professora e o incentivo da coordenadora,
cada um, aprecia as diferenças e reconhece já conseguia participar de brincadeiras cole-
o potencial de todo cidadão é denominada tivas. Robson tinha grande dificuldade nas
inclusiva. atividades de educação física: correr, subir e
Robson1 tem 7 anos e atualmente cursa descer, e insistia em ficar sozinho.
a 1ª série/9 do ensino fundamental. Antes O acompanhamento feito pela terapeuta
de ingressar nesta escola, ele estudava em ocupacional foi de grande valia nessa etapa.
uma outra instituição da rede privada e já A parceria entre a coordenadora, a professora
apresentava algumas alterações, ou seja, já e a terapeuta trouxe significativas evoluções
possuía um histórico. para Robson. Através das orientações dadas
O aluno foi matriculado nesta instituição pela terapeuta ocupacional, a professora
no Maternal III. No início do ano letivo, ele trabalhava áreas que estavam comprometi-
não conversava e não brincava com seus das por falta de estímulo e a coordenadora
colegas de sala, só ficava no seu cantinho incentivava e encorajava o aluno a partici-
e apresentava dificuldade de concentração. par de todas as atividades, principalmente
Robson tinha preferência por atividades fei- nas atividades que envolvessem motricidade
tas individualmente. Sua coordenação mo- ampla.
tora ampla era muito comprometida. Nessa época aconteceu um fato que cha-
Quando estava no 1º período, ele não mou a atenção de todos em volta: família,
conseguia verbalizar e continuava brincan- coordenadora, professora e colegas de sala.
do sozinho, dificilmente entendia as ordens Foi durante a realização da festa junina da
dadas pela professora. Após várias observa- escola. Robson não demonstrou nenhum in-
ções e diversos acompanhamentos, Robson teresse no decorrer dos ensaios, dias antes
foi encaminhado para uma terapeuta ocupa- da apresentação. Percebia-se que o aluno
cional. Havia reuniões semestrais no colégio não gostava do ensaio, pois não sabia co-
com a terapeuta ocupacional, a professora e ordenar seus movimentos de acordo com a
a coordenadora. dança. A professora e a coordenadora aguar-
De acordo com a professora de Robson, no davam ansiosamente o dia da festa para
ver o desempenho do aluno. No entanto, na
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
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Incentivar, estimular e acreditar Simone das Graças Ferreira
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional, nº 9.394/96. Brasília: Câ-
mara dos Deputados; 1996.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 48
AUTORA:
Simone Nara Parreiras
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
UM OLHAR TOTALIZANTE
E
ducar, nos dias de hoje, é uma tare- ção das crianças, ao mesmo tempo em que
fa árdua para quem pretende atuar os limites ficam alargados ou mal defi nidos.
no cotidiano escolar. O papel desses Nas fichas individuais dos alunos das ins-
profissionais extrapola os muros da escola e, tituições escolares, é comum encontrarmos
se a instituição não contar com uma equipe grande número de crianças que são educa-
multidisciplinar, fica mais complicado saber das por padrastos, avós, avôs, tios ou tias,
quais são as realidades e os contextos fami- entre outros.
liares do público alvo. Esta é a realidade de três irmãos cujos
De acordo com o conceito de multidiscipli- pais são viciados em entorpecentes. O pai
naridade (Dicionário Interativo da Educação abandonou a família devido a seu envol-
Brasileira – EducaBrasil, 2006), recorre-se vimento com as drogas e a um atentado a
a informações de várias áreas para estudar tiros. A mãe, depois da separação, começou
um determinado assunto, sem a preocupa- a fazer uso abusivo de álcool, mas afi rma-
ção de interligar as disciplinas entre si. va ter largado as drogas. Ela chegou a ficar
As famílias de baixa renda fi nanceira se com depressão profunda, saindo várias ve-
multiplicaram nos últimos anos e as condi- zes de casa e deixando os fi lhos dormindo
ções de muitos continuam precárias. O que sozinhos. Por várias vezes também deixou
se vê na atualidade são crianças cuidando que os fi lhos fossem sujos para a instituição,
de crianças, o que gera um questionamento: onde ficam das 7 da manhã às 5 da tarde, e
os valores familiares se perderam ou deram às vezes, no fi nal do dia, não aparecia para
lugar a outros? buscá-los.
Para Ahmad (2006), “os valores consti- No carnaval de 2009, a mãe saiu de casa
tuem o conjunto de qualidades que nos dis- e, segundo informações, ela estava frequen-
tinguem como seres humanos independen- tando um prostíbulo, onde permaneceu até
temente de credo, raça, condição social ou o mês de maio.
religião [...]”. A equipe multidisciplinar (assistente so-
Vivencia-se hoje uma época de confl itos cial, psicóloga e pedagoga) da instituição
de proporções mundiais. Nossa sociedade onde as crianças estão matriculadas re-
atravessa um período de turbulência, diante solveu intervir e traçou um percurso para
da corrupção, dos jogos de poder, da violên- se fazer com a família. Até então, o servi-
cia, do desprezo pelo ser humano e pelo meio ço social da instituição já havia registrado
ambiente. E muitos desses problemas são três denúncias de maus tratos contra as
reflexos de comportamentos sociais que não crianças; negligência por parte da mãe. As
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Um olhar totalizante Simone Nara Parreiras
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ARTIGO 49
AUTORA:
Tânia de Souza Gonçalves
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
ração e aprendizagem de um aluno com psicose infantil. O no apresenta, com grande relevância, alguns
aluno possuía um relacionamento prejudicado com os de- comportamentos vulneráveis de afetivida-
mais do grupo, resistente a mudanças, e não conseguia se de e ainda uma grande impaciência com a
concentrar nas atividades na sala de aula. São relatadas dificuldade de terminar determinadas ati-
as intervenções desenvolvidas pela coordenação da esco- vidades. Em relação ao contexto escolar de
la, juntamente com a professora. Além disso, discute-se o Pedro, a escola atual foi a primeira a que ele
importante papel do professor em propiciar uma educa- teve acesso. De acordo com os registros, Pe-
ção de qualidade para inclusão. dro é fi lho único, reside somente com a mãe,
pois o pai trabalha fora do Brasil. O contato
P
edro1 é um aluno de sete anos, estu- da criança com o pai é quase nenhum.
dante da 2ª série de uma escola públi- Considerando a psicose infantil como
ca de Belo Horizonte. Segundo relato uma confusão entre o mundo imaginário
da coordenadora, esse aluno apresentava e o mundo perceptivo, foi observado que
grande defasagem na aprendizagem e não Pedro demonstrava grande dificuldade de
conseguia se relacionar com o meio em que compreender o que acontecia ao seu redor.
estuda. No laudo fornecido à escola, a crian- Exemplo disso foi o dia em que ele agrediu
ça foi diagnosticada com psicose infantil. uma colega e, quando questionado sobre o
Segundo Bezerra, citado por Gebara e fato, disse ter batido em uma boneca. Em
Horonato (2002, p. 1), a história da psicose outras atividades como a de “faz de conta”,
infantil é marcada recentemente com a in- ele costumava sempre colocar os objetos na
trodução do autismo de Kanner. Os estudos boca; sua escrita era bastante restrita, seus
sobre a psicose infantil foram ignorados e desenhos eram sempre os mesmos; não gos-
negados em sua existência durante séculos. tava de cumprir as regras introduzidas nas
A psicose infantil é um transtorno de perso- brincadeiras, sendo resistente em continuar
nalidade, dependente do transtorno da orga- as atividades, caso a professora dissesse que
nização do eu e da relação da criança com o “não” poderia continuar daquela maneira.
meio ambiente. Um dos animais preferidos pelo aluno
A criança possui grandes alterações nas era o leão. Percebeu-se que sempre fazia
relações afetivas, com isso prefere se recuar questionamentos sobre a vida desse animal,
ou se isolar das demais pessoas do seu con- indagava o porquê dele não viver em casa
vívio. É resistente a mudar de lugar quando como as pessoas. Nas atividades em que se
solicitada a fazer algo diferente, tendo uma mostrava outro animal, este era confundido
frequente ansiedade de começar ou terminar com leão. Pedro apresentava uma dificuldade
alguma atividade, o que leva, em alguns ca- significativa em se relacionar com o grupo,
sos, a ser agressiva e agitada. Algumas têm em interagir com os demais.
o cognitivo afetado, já que o problema maior A partir desses indicadores, a coordena-
ção elaborou algumas estratégias que con-
templassem a superação das dificuldades de
1. Nome fictício, para preservar a identidade da crian-
realizar as atividades e também estimulas-
ça.
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Inclusão escolar: dificuldades de interação e aprendizagem de... Tânia de Souza Gonçalves
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ARTIGO 50
AUTORA:
Valéria Edilânia Ferreira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
É
cada vez mais incompreensível que alta, trocava muito as letras na hora de es-
uma pessoa de inteligência normal crever e não gostava muito de interagir com
não leia nem escreva com certo de- a turma.
sembaraço. A dificuldade de entender o que A escola comunicou aos pais as dificul-
está escrito diante dos seus olhos e de es- dades da aluna e juntos começaram a dar-
crever o que se está pensando claramente é lhe uma atenção mais especial. Depois de
bem o problema do disléxico. algumas reuniões, decidiram levá-la a um
A dislexia pode ser facilmente confundida especialista, para ver se ela tinha algum
com outros quadros que apresentam dificul- problema ou se era falta de interesse pelos
dades de aprendizagem associadas à fala e à estudos.
postura. Ela torna-se mais presente na fase Os especialistas diagnosticaram dislexia.
da alfabetização, embora alguns sintomas já Os pais de Júlia não tinham muito co-
estejam presentes nas fases anteriores. Ape- nhecimento do que era a dislexia e pediram
sar de uma instrução convencional, do ní- apoio à escola para conhecerem sobre o as-
vel esperado de inteligência, sem distúrbios sunto e sobre como ajudar a fi lha.
cognitivos fundamentais, a criança apresen- A escola explicou aos pais que a dislexia
ta falha no processo da aquisição da lingua- é um distúrbio ou transtorno de aprendiza-
gem. Isto é, a dislexia independe de causas gem na área da leitura, escrita e soletração,
intelectuais, emocionais ou culturais. não importando qual a sua causa. É um
Apesar da grande incidência, sendo uma distúrbio que emerge nos momentos iniciais
das mais comuns deficiências de aprendi- da aprendizagem da leitura e da escrita e
zado, o diagnóstico ainda não é facilmente é uma dificuldade específica nos processa-
realizado, fazendo com que os portadores de mentos da linguagem para reconhecer, re-
dislexia sejam erroneamente rotulados por produzir, identificar, associar e ordenar os
pais e professores de preguiçosos, pouco in- sons e as formas das letras, organizando-os
teligentes ou mal-comportados. corretamente.
Júlia1 tem oito anos e está cursando a 2ª Como se pode perceber, a dislexia não é
série do ensino fundamental numa escola culpa de ninguém, a criança nasce assim.
particular, onde estuda desde 2008. O importante é aceitá-la como uma difi-
Na educação infantil, ela estudou em uma culdade de linguagem que deve ser tratada
escolinha, onde ficava em horário integral. por profissionais especializados. As escolas
Quando chegou à escola, a professora podem acolher os alunos com dislexia, sem
percebeu que Júlia tinha muitas dificulda- modificar os seus projetos pedagógicos.
des na leitura e na escrita, dificuldades em Procedimentos didáticos adequados possi-
ordenar as letras do alfabeto e, principal- bilitam ao aluno vir a desenvolver todas as
suas aptidões, que são múltiplas. A dislexia
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
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Possibilidades metodológicas para auxiliar alunos disléxicos Valéria Edilânia Ferreira
persiste, apesar da boa escolaridade. Não há aproveitamento escolar de Júlia, basta ape-
um método, uma cartilha, uma receita para nas um pouco mais de tempo.
trabalhar com alunos disléxicos, é preciso
mais tempo e mais ocasiões para a troca de REFERÊNCIAS:
informações sobre os alunos, para planeja-
mento de atividades e elaboração de instru- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA.
mentais de avaliação específicos, pois, em Dislexia. Disponível em http://www.dislexia.
geral, o disléxico tende a lidar melhor com org.br. Acesso em: 11 maio 2009.
as partes do que com o todo. Abordagens e
métodos globais e dedutivos são-lhe de difí- CONDEMARÍN, Mabel Blomquist. Dislexia:
cil compreensão. manual de leitura corretiva. Tradução de Ana
Não foi diferente com Júlia. Na escola se Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Mé-
deram as observações e se defi niram méto- dicas, 1989.
dos e estratégias para auxiliar Júlia no seu
processo de ensino-aprendizagem. PAMPLONA, Manuel Antônio Morais. Distúr-
São metodologias e estratégias utilizadas bios da aprendizagem: uma abordagem psi-
pela escola: copedagógica. 9. ed. 1989.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 51
AUTORA:
Vanessa Barcelos Rodrigues
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
pública de ensino de Belo Horizonte com dificuldades de cola, seus pais eram divorciados e Bernardo
aprendizagem. Ele possuía dificuldades em acompanhar o morava com a mãe e mais um irmão de qua-
ritmo das aulas e dos demais alunos, sendo também extre- tro anos. A mãe alegou ser a única respon-
mamente inquieto e agitado. sável pelo sustento da casa, o ex-marido não
mantém, há quatro anos, vínculo com os fi-
A
aprendizagem e a construção do co- lhos e também não oferecia apoio fi nanceiro.
nhecimento são processos naturais Ela relatou que em casa Bernardo realmente
e espontâneos do ser humano que, apresentava muita dificuldade em cumprir
desde muito cedo, aprende a amar, falar, ordens, sendo também muito agitado. Por
andar, pensar, garantindo assim a sua outro lado, a mãe informou que ele é uma
sobrevivência. criança que tem facilidade para fazer ami-
Weiss (2006) afi rma: zades e é muito feliz. Estas últimas informa-
ções destoaram do que a professora relatou,
A aprendizagem normal dá-se de forma inte- quando disse que é uma criança triste e que
grada ao aluno (aprendente), no seu pensar, encontra dificuldades em estabelecer víncu-
sentir, falar e agir. Quando começam a apa- los de amizades, referindo-se até a um com-
recer “dissociações de campo” e sabe-se que portamento de rejeição por parte das outras
o sujeito não tem danos orgânicos, pode-se crianças.
pensar que estão se instalando dificuldades Pelegrini e Golfeto (2000) propõem uma
na aprendizagem: algo vai mal no pensar, classificação das dificuldades de aprendi-
na sua expressão, no agir sobre o mundo. zagem: a) as desordens especificamente es-
colares; b) as decorrentes do potencial inte-
Bernardo1 tem 10 anos e está repetindo lectual da criança; c) as decorrentes de um
a 3ª série do ensino fundamental. É aluno comprometimento da personalidade, ainda
da escola desde o início deste ano, quando em evolução, associado a um confl ito psíqui-
veio de uma outra escola da rede municipal co; d) as por razões sociais (falta de continui-
de ensino de Belo Horizonte. Observando-o, dade de ensino, mudanças de escola, troca
percebeu-se que é desatento, agitado e com de professores e classes numerosas); e e) as
grandes dificuldades em cumprir ordens. associadas a outros distúrbios (desatenção,
Segundo relatos da professora, ele é tam- hiperatividade e dificuldade de conduta).
bém impulsivo, agindo às vezes de maneira Em reunião com a mãe do aluno, a profes-
imprópria, não controlando sua irritação em sora e a coordenadora pedagógica da escola,
situações de confl itos. A professora procura- a mãe relatou que, desde bem pequeno, Ber-
va sempre desenvolver atividades diferentes nardo já apresentava muita agitação e era
para que ele tivesse mais concentração, mas desatento às ordens e regras. Por algumas
não obtinha sucesso. A família foi chamada vezes, já foi chamada pela direção das es-
por várias vezes à escola para tomar conhe- colas em que o fi lho estudou para reuniões
sobre o desenvolvimento e comportamento
1. Nome fictício, para preservar a identidade da crian-
dele. Ela informou ainda nunca ter feito
ça.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dificuldades de aprendizagem Vanessa Barcelos Rodrigues
REFERÊNCIAS:
PELEGRINI, R. M.; GOLFETO, J. H. Problemas
de Aprendizagem com Enfoque em Psiquia-
tria Infantil. In: Problemas de Aprendiza-
gem – Enfoque Multidisciplinar. Campinas:
Alínea; 2000.
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
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