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REVISTA ELETRÔNICA

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

“O CASO É O SEGUINTE...”
Volume 2, Número 3, Julho de 2009 - Semestral

Instituto de Ciências Humanas


Departamento de Educação
Curso de Pedagogia
“O CASO É O SEGUINTE...”
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Revista Eletrônica

Versão Digital

Belo Horizonte, julho de 2009

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais


Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Educação
Curso de Pedagogia
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

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“O CASO É O SEGUINTE...”
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Revista Eletrônica

Versão Digital

Belo Horizonte, julho de 2009

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais


Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Educação
Curso de Pedagogia
Chefe do Departamento de Educação
Profª. Maria Salete Chaves

Editor
Prof. Sérgio de Freitas Oliveira

Produção Gráfica
Reginaldo Quirino de Almeida

Capa: Reginaldo Quirino de Almeida

Editoração de Texto: Prof. Sérgio de Freitas Oliveira

Formato: 21,59 x 27,94 cm


Número de Páginas: 197

FICHA CATALOGRÁFICA PROVISÓRIA

Revista Eletrônica: “O Caso é o Seguinte...” / Coordenação Pedagógi-


ca: Coletânea de Estudos de Casos / Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais – v. 2, n. 3 (jan./julho. 2009-). – MG/Belo Horizonte: ICH
– PUC Minas, 2009.

Semestral.
ISSN

1. Educação - Periódicos. I. Pontifícia Universidade Católica de Minas


Gerais. Instituto de Ciências Humanas. Departamento de Educação. Cur-
so de Pedagogia.

CDU 37.013 (047.3)


Dedicatória
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Dedicamos este trabalho aos alunos que necessitam da atenção especial dos professores e
dos pedagogos. Sem essa atenção, talvez não seja possível que eles superem suas dificuldades
e conquistem seu direito de se desenvolverem como seria de se esperar.

Ter dificuldade não é o problema. O problema é não se fazer nada diante dela!

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral


Agradecimentos

O resultado deste trabalho deve ser creditado, mais uma vez, ao empenho de nossos alunos,
graduandos em Pedagogia pela PUC Minas, nas ênfases em Ensino Religioso e Necessida-
des Educacionais Especiais.

Agradeço ao pedagogo e nosso ex-aluno Reginaldo Quirino de Almeida que, com seus dons
e sua competência, mais uma vez tornou possível a publicação da revista.

Era um sonho... tornou-se realidade e agora já se apresenta como sonho de nossos alunos,
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que se veem diante da possibilidade de terem seu trabalho publicado! Acreditando e nos
empenhando, somos capazes de conseguir muita coisa. Espero que a experiência desta re-
vista possa servir de inspiração quando os desafios da profissão se apresentarem. É preciso
sonhar, acreditar e fazer!

Prof. Sérgio de Freitas Oliveira


Curso de Pedagogia • ICH • PUC Minas

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral


Sumário
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Artigo 13
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Como a gestão escolar acompanha os alunos com
ARTIGOS hiperatividade (tdah) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
Elizabeth Silvana de Oliveira Satil
Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso Artigo 14
Artigo 1 Como as dificuldades podem levar à melhora do
Família, escola e sociedade: parceiros determinan- processo ensino-aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . .47
tes no desenvolvimento do ser . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Érika Amanda de Freitas Machado
Adriane Vieira da Silva Artigo 15
Artigo 2 Depressão na infância: a relevância da estrutura e
O progresso depende de quem vê, inclui e aceita os do suporte familiar no processo de ensino aprendi-
diferentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 zagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Andréia Aparecida Antônio Gabriela dos Santos Ferreira
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Artigo 3 Artigo 16
A importância da integração família x escola no Distúrbios emocionais: um desafio no ato de edu-
desenvolvimento escolar do aluno. . . . . . . . . . . . .23 car. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Arlete Otoni de Almeida Gislene Pereira das Graças
Artigo 4 Artigo 17
Distúrbios da palavra: dislalia, a importância da O desenvolvimento escolar de um aluno com
parceria entre escola, família e fonoaudiólogo . .25 limitações que possivelmente existem devido à
Bárbara Regina Rodrigues de Alcântara prematuridade do parto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Artigo 5 Juliana Aline Pereira Felipe
A inclusão na escola e a busca de um diagnós- Artigo 18
tico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Indisciplina: possível indício de dificuldade de
Celmi Altina de Oliveira aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
Artigo 6 Kely Aparecida de Oliveira
Déficit de Atenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 Artigo 19
Cristiane Aparecida de Souza Um caso a ser diagnosticado . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Artigo 7 Ladyane Raphaele de Oliveira
A indisciplina no ambiente escolar . . . . . . . . . . . . 31 Artigo 20
Cristiane Moreira de Pinho Deficiência na era da inclusão . . . . . . . . . . . . . . . . .59
Artigo 8 Laura de Oliveira Matos Duarte
Disciplina e afetividade: a relevância da estrutura Artigo 21
da família na aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 A inclusão de uma aluna com dificuldade de apren-
Daniela dos Santos Coelho dizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Artigo 9 Lílian Ferreira de Souza
Construindo o conhecimento em um mundo Artigo 22
particular de ventiladores, músicas e sonhos de Dificuldade ou falta de compreensão? . . . . . . . . . 63
igualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Luciana Santos Barbosa
Danilo Dias Leal Artigo 23
Artigo 10 Criança, a maior vítima de agressão . . . . . . . . . . .65
Hiperativo ou agressivo? A intervenção da escola Márcia Rivane Gomes Guarda
com não aceitação da família. . . . . . . . . . . . . . . . . .39 Artigo 24
Dayse Monique Tavares Zanitti A inclusão de um aluno com TDAH . . . . . . . . . . . 67
Artigo 11 Maria Aparecida Rocha
Direitos legais x Direitos reais: algumas considera- Artigo 25
ções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Direitos violados: como uma escola democrática
Deise Keli de Souza pode ajudar crianças e adolescentes . . . . . . . . . . .69
Artigo 12 Mariane Faria Fernandes
Educação infantil - transtorno sócio afetivo no ato Artigo 26
educativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 Agressividade no contexto escolar . . . . . . . . . . . . 71
Elisabeth Efigênia Duarte Severino Aleme Marluce Aparecida Morais Silva Martins

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Artigo 27 Artigo 8
Afetividade: papel determinante no desenvolvi- Síndrome de Asperger e professor. . . . . . . . . . . . 103
mento escolar e familiar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Bárbara de Sena Simões
Patrícia Maria Barbosa Artigo 9
Artigo 28 Agressividade, indisciplina e dificuldade de apren-
A importância do brincar no processo educativo a dizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
escola e os alunos de 6 anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Brízia Aparecida Félix Ferreira
Renata Soares Reis da Silva Artigo 10
Artigo 29 A ação do coordenador pedagógico e a indisciplina
Falta de limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 em sala de aula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Sandra Maria Fontes Rezende Cecília Oliveira de Morais
Artigo 30 Artigo 11
Afetividade na escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Dificuldade de alfabetização e letramento na idade
Sandra Maria Pereira Chiari adulta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Artigo 31 Cláudia Pacheco de Almeida
Abordagem pedagógica em distúrbios de comporta- Artigo 12
mento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 (TDAH) a hiperatividade no contexto escolar..113

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Sarah Paulina da Silveira Silva Daniela Margareth Fernandes de Moura
Artigo 32 Artigo 13
Afinal, o que é que esse menino tem? . . . . . . . . . . 83 Uma situação de perda visual no ensino médio..115
Selma Ferreira Aguiar Débora Luíza Vieira Guedes
ARTIGOS Artigo 14
A inclusão de uma criança com deficiência mental:
Pedagogia com Ênfase em Necessidades limites e possibilidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Educacionais Especiais Denilda Patrícia Ferreira
Artigo 1 Artigo 15
Desafios encontrados na educação de jovens e Deficiência mental e inclusão . . . . . . . . . . . . . . . . 119
adultos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 Ednéia Aparecida Rabelo Santos
Adriana Fernandes Dornellas da Silva Artigo 16
Artigo 2 O caso e o acaso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Alunos com síndrome de down na rede regular de Gisele Maria de Souza
ensino: inclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89 Artigo 17
Amanda Tostes de Oliveira A inclusão de criança com hidrocefalia na escola
Artigo 3 regular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – Grazielle Andrade Madaleno
TDAH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Artigo 18
Ana Cristina Alves dos Santos Os prejuízos do trabalho infantil na educação 125
Artigo 4 Ilana Rafaela Malaquias Ramos
A atuação do pedagogo frente ao desafio da inclu- Artigo 19
são de alunos com deficiência mental, vítimas da A escola e seus diferentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
pedofilia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93 Iracivana Frandelina de Andrade
Analina Marciano da Silva Artigo 20
Artigo 5 A relação entre o vínculo familiar e o transtorno de
O olhar diferenciado da direção e de uma profes- conduta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
sora: uma dupla imbatível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Isabel Cristina Campos Faria
Andréa de Brito Soares Silveira Artigo 21
Artigo 6 O processo ensino-aprendizagem do aluno com
A importância da parceria entre família e escola síndrome de Down na rede regular de ensino.... 131
para o desenvolvimento de crianças com baixo Jaqueline Soares Fonseca
rendimento escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99 Artigo 22
Aparecida Moreira dos Anjos Criança hiperativa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Artigo 7 Joseane da Silva Baptista
Déficit de atenção sem hiperatividade . . . . . . . . 101 Artigo 23
Ariana Ponzo de Siqueira Distúrbio de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Juliana Fernando Evangelista Pereira

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Artigo 24 Artigo 39
A Comunicação Alternativa como meio facilitador O alcoolismo e seus malefícios para alunos do
do processo de ensino-aprendizagem. . . . . . . . . 137 ensino médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Juliane Gomes Niquini Patrícia Janaína de Souza Moura
Artigo 25 Artigo 40
A importância da participação da família na apren- Abuso sexual na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
dizagem de uma criança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 Paula Gomes Tinoco
Karine Cristina Souza Mourão Artigo 41
Artigo 26 Inclusão e escolarização de alunos autistas . . . 171
Falta de limite ou hiperatividade? . . . . . . . . . . . . 141 Regiane de Carvalho
Kelly Cristina da Silva Pereira Artigo 42
Artigo 27 A escola e o aluno hiperativo. . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Depressão infantil pela perda de parentes próximos Renata Lana Ferreira
143 Artigo 43
Lenita Kátia Silva de Oliveira A importância das atividades lúdicas para as crian-
Artigo 28 ças com dificuldade de aprendizagem . . . . . . . . 177
Aquisição da escrita na síndrome de Down . . . 145 Roberta Rafaela Xisto da Silva
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Lílian Aparecida Gonçalves Xavier Artigo 44


Artigo 29 Uma criança diferente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
Autismo na educação infantil: diagnóstico e inter- Rosângela Malaquias Clemente
venção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Artigo 45
Luciene de Freitas dos Santos O papel do professor no atendimento às crianças
Artigo 30 surdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
Apoio pedagógico dentro e fora da escola: essencial Selma Maria Gomes
para alunos especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 Artigo 46
Maíra Apgaua Barbosa Lima Dislexia, escola e família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Artigo 31 Silvana Conceição Leite Carvalho
A dislexia em sala de aula. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 Artigo 47
Manon Quites Brum Incentivar, estimular e acreditar . . . . . . . . . . . . . 187
Artigo 32 Simone das Graças Ferreira
Adaptação curricular para criança com deficiência Artigo 48
mental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 Um olhar totalizante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
Maria Eloíza de Jesus Simone Nara Parreiras
Artigo 33 Artigo 49
Estudo de caso de criança autista: caminhos e Inclusão escolar: dificuldades de interação e apren-
abordagens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 dizagem de um aluno com psicose infantil . . . . 191
Maria Raimunda Saraiva Tânia de Souza Gonçalves
Artigo 34 Artigo 50
Autismo na educação infantil: diagnostico e inter- Possibilidades metodológicas para auxiliar alunos
venção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 disléxicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
Nathália Baroni Passini Valéria Edilânia Ferreira
Artigo 35 Artigo 51
Escrita de sinais: uma nova trajetória para pessoas Dificuldades de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . 195
surdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 Vanessa Barcelos Rodrigues
Neusa Donata de Souza Nascimento
Artigo 36
A criança com síndrome de Down na educação
infantil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
Nielma Regiane Dias Bento
Artigo 37
Inclusão: desafio para a aula de educação física..163
Paola Alves Pereira
Artigo 38
O brincar da criança com síndrome de Down... 165
Patrícia de Abreu Almeida

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral


Editorial

Sempre esteve presente em nossas discussões a questão da publicação, a importância


de nossos alunos produzirem e publicarem textos que apresentassem suas reflexões acerca
das temáticas presentes no desenvolvimento das diversas disciplinas do curso.
O problema era: Onde publicar? Onde estão os espaços acessíveis aos alunos?
Foi pensando nisso que, a partir da análise dos estudos de caso feita pelos alunos na
disciplina Estágio de Supervisão Educacional, nos propusemos criar um espaço para que
os alunos pudessem publicar o resultado de seu trabalho.
A Revista Eletrônica Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos é esse
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

lugar. E já podemos ver nossos alunos produzindo e publicando, vivendo a experiência de


produzir e publicar, aplicando seus conhecimentos e observando as normas que regulam
as publicações acadêmicas.
Nesta terceira edição, contamos novamente com artigos dos nossos alunos do 8º Período
do Curso de Pedagogia com Ênfase em Necessidades Especiais e do 9º Período do Curso de
Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso.
Vale a pena ver o resultado!

Prof. Sérgio de Freitas Oliveira


Curso de Pedagogia • ICH • PUC Minas

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral


Apresentação

A empolgação e a felicidade dos nossos alunos com as edições anteriores da Revista


Eletrônica Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos nos motivaram a tra-
balhar na construção da 3ª edição. O objetivo desta revista é publicar os artigos produzidos
pelos nossos alunos dos Cursos de Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais e em Ensino Religioso, da PUC Minas, a partir dos estudos de caso analisados no
Estágio Supervisionado de Supervisão Educacional.
No nosso trabalho como pedagogos, somos desafiados com problemas de indisciplina e
dificuldades de aprendizagem. E não podemos ignorar o que acontece com os nossos alunos
e afeta o seu desenvolvimento.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Se existe problema, existe a necessidade de conhecê-lo e compreendê-lo para que possa-


mos promover alguma forma de intervenção. Afi nal, superar as situações que comprometem
o desenvolvimento dos nossos alunos deve ser sempre o objetivo do educador, o compromis-
so do professor e do pedagogo.
Para isso, nós, pedagogos, recorremos ao estudo de caso, para fazermos um diagnóstico
do problema, conhecermos seu alcance e suas implicações e sugerirmos intervenções – de
curto, médio e longo prazo – que possam resultar em benefício para os nossos alunos.
Entre as nossas atividades de estágio, trabalhamos o estudo de caso, estudamos e rela-
tamos um estudo de caso realizado pelas escolas, observando os passos para a sua elabora-
ção. Às vezes, é difícil a realização da tarefa. Em muitas escolas, não se formaliza um estudo
de caso. As informações, algumas vezes, estão na memória dos coordenadores e surgem por
meio de depoimentos orais. Recolhemos as peças, como se fosse para montar um quebra-
cabeça. Aí fica a questão: ao estagiário não se dá a oportunidade de ver e vivenciar a prática
do estudo de caso, do trabalho com os problemas que interferem no desempenho escolar
de nossos alunos e nas suas relações. Como será quando esse estagiário for o profissional?
Será que só a literatura, a teoria, dará a ele condições de realizar uma prática eficaz?
Apesar das dificuldades, como nas edições anteriores, muita coisa boa se conseguiu.
Insistindo, “incomodando” os coordenadores, muitas histórias foram levantadas. E, a partir
desses relatos e depoimentos, nossos estagiários conseguiram reconstituir os casos e fazer
os seus relatórios, expressos nos artigos que compõem esta 3ª edição da revista.

Prof. Sérgio de Freitas Oliveira1


Curso de Pedagogia • ICH • PUC Minas

1. Licenciado em Letras e em Pedagogia, com especialização em Coordenação Pedagógica e Psicopedagogia Clínica


e Institucional e mestrado em Educação. É professor orientador de Estágio Supervisionado dos cursos de Pedagogia
com ênfase em Ensino Religioso e Pedagogia com ênfase em Necessidades Educacionais Especiais da PUC Minas.

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral


Artigos
Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral


REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
ARTIGO 1
AUTORA:
Adriane Vieira da Silva

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

FAMÍLIA, ESCOLA E SOCIEDADE: PARCEIROS DETERMINANTES NO DESENVOLVIMENTO DO SER

projetos ou ações interventivas pelos quais a


vida mereça ter sentido, muitos buscam nas
Resumo drogas, solidão e sofrimento, o risco de se
As considerações contidas neste artigo perpassam as tornaram seres excluídos socialmente.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

análises de um estudo de caso realizado em uma escola Paulo Freire falava da utopia enquanto
pública estadual de Belo Horizonte. Este estudo foi pos- ato de denúncia à sociedade naquilo que
sibilitado através de entrevistas com a supervisora peda- ela tem de injusta e de desumanizadora e
gógica, professores e alguns familiares do aluno, diretora enquanto ato de anunciar a nova sociedade.
e funcionários da escola. A falta de limite, transtorno de Precisamos formar seres que sonhem com
comportamento com alto grau de agressividade, dificul- uma sociedade humanizada, justa, verda-
dade de aprendizagem e relacionamento com o próximo deira, alegre, com participação de todos nos
foram os objetos de pesquisa que subsidiaram este estudo benefícios para os quais todos trabalharam.
de caso. Goethe dizia que, para que alguém possa
ser algo especial, é necessário que outros

A
educação escolar tem sido uma das acreditem que ele é especial e lhe dê a mão
grandes mentoras da criação de desa- quando necessitar de incentivo na busca de
fios para a formação humana. Esses seus ideais.
desafios significam oportunidades para a Nesse contexto, temos então a ética como
apreensão do belo e da harmonia, ajudam princípio do pensamento e da sociedade. A
a dar significado à vida, a construir projetos dimensão ética deve ser a marca dos pro-
de um futuro digno. Sabemos que é preci- jetos e das decisões no contexto escolar. A
so mais, muito mais, para que se possam sociedade de convívio das pessoas e das ins-
garantir compromissos verdadeiros com a tituições deve questionar-se sobre o “fazer o
construção desse futuro. Sabemos também bem” e o “fazer bem”. E não apenas o bem,
que, se a escola fracassar nesse seu ambi- mas o bem comum. Os individualismos pos-
cioso projeto, a educação fará ruir muito sessivos desfibram as relações humanas,
mais do que seus estatutos, na promoção do deixando um legado de terra arrasada, de
ser humano na sua integralidade. frustrações e de solidão. Como dizia o poeta
De acordo com Stryjer (1980, p. 39), o Vinícius de Morais, “é impossível ser feliz so-
início da socialização de uma criança se zinho”. Os projetos de uma nova sociedade
caracteriza por uma agressividade que já passam, necessariamente, pelas dimensões
é esperada, pois suas manifestações de da solidariedade e da visão do bem coletivo
independência representam o instinto de como elementos basilares da realização in-
sobrevivência, próprio de toda criança em dividual. Isso vale para os grandes ou os pe-
seu desenvolvimento e compreendido como quenos problemas da humanidade de hoje.
normal e construtivo. Entretanto, pode-se Hoje, na sociedade, vemos uma tendência
considerar a agressividade como um distúr- de desvalorização da família, o que acaba
bio de conduta quando a criança se torna por nos mostrar uma fragilidade dos pais
um agressor em potencial, ou seja, quando na difícil tarefa de educar. Esse enfraque-
há ataque físico, destruição material e hosti- cimento tem gerado consequências gravíssi-
lidade contra o outro ou a si mesmo. mas para a sociedade, como violência física
E por não encontrarem na e através da es- e/ou moral, uso de drogas, transtornos de
cola, da família e da sociedade a motivação de conduta e instabilidade afetiva, segregação

19
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Família, escola e sociedade: parceiros determinantes no... Adriane Vieira da Silva

sociocultural e econômica que acabam por Foram inúmeros os transtornos causados


refletir diretamente na evolução educacional por ele ao patrimônio da escola por ataques
do ser que, por sua vez, deixa também a es- e quebradeiras ao mobiliário e demais ob-
cola como parte culpada desse “fracasso na jetos de uso pessoal e coletivo dos alunos,
formação do educando”. bem como as agressões físicas e verbais aos
Para elucidar essas colocações, tomo que com ele convivem. Suas agressões não
como exemplo o estudo de caso que está necessitam de “motivos” para que ocorram.
sendo realizado pela equipe da Escola Es- Elas se dão quando menos se espera, neces-
tadual Felicidade1, bem como pelo Conselho sitando de uma atenção maior do professor
Tutelar da Regional Leste de Belo Horizonte, e ou de quem está a sua volta.
na tentativa de entender e buscar soluções Todos que com ele convivem, em especial
para ajudar o aluno José do Vale 2 no seu seus professores, afi rmam: “não estamos
“ajuste social”, na aprendizagem, no equilí- conseguindo desenvolver atividades na sala
brio psicológico bem como na sua convivên- para promover aprendizagem dele e dos de-
cia familiar. mais alunos. Não há um dia que não temos
José do Vale é aluno da escola há 3 anos, um fato a enfrentar devido ao comportamen-
quando foi matriculado por ordem do Conse- to dele”.

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lho Tutelar, por medida preventiva assistida, O que se observa com esse aluno leva-
devido ser obrigado a “vender e consumir nos a refletir sobre uma pontuação feita por
drogas por exigência de seu irmão, também Stryjer (1980, p. 44) de que os transtornos
menor de idade, e a se prostituir com trafi- emocionais requerem psicoterapia, muitas
cantes a ‘troco’ de drogas e comida”. Ele vive vezes associadas à terapêutica familiar.
em um barraco com sua mãe e o irmão. Seu Assim, só um estudo cuidadoso dos fatores
pai foi assassinado há alguns anos por tra- ambientais, somáticos e psíquicos, em cada
ficantes que cobraram por dívida de drogas caso particular, pode conduzir ao diagnós-
do outro fi lho. tico ou estudo das causas, e, consequente-
Desde então José do Vale vem se mostran- mente, a um acompanhamento e tratamento
do um ser arredio e com sérios problemas pelos profissionais que o caso requeira: pe-
de conduta e relação. Cursa hoje o 5° ano dagogos, psicólogos, terapeuta ocupacional,
de escolaridade, mas com grande defasagem assistente social, etc.
de aprendizagem, segundo seus professores Dada a necessidade desses profissionais
e alguns registros da ficha individual das para acompanhar o estudo de caso, é fun-
séries anteriores. Antes de sofrer com a “su- damental que, paralelamente às ações in-
posta influência negativa” do irmão, ele não terventivas que o caso requer – de extrema
apresentava “nenhum problema” de condu- urgência –, se faça um acompanhamento de
ta, convivência ou aprendizagem. seus familiares, para que de fato o traba-
Hoje em dia, ele não consegue ter um di- lho apresente resultados significativos na
álogo coerente, é agressivo com os colegas, promoção social desse aluno, mediante um
os profissionais da escola e sua família. Nas diagnóstico consistente, que seja de cará-
poucas vezes que consegue expor o que pen- ter efetivo e afetivo para todos que com ele
sa ou sente, relata não gostar de seus fa- convivem.
miliares, amigos e professores e até mesmo
afirma não gostar da vida. Não atende a co-
mandos para realizar as atividades propostas REFERÊNCIAS:
dentro e fora da escola. Mostra-se um alu-
no sem limites, disperso, chegando a ter um FERREIRA, Marlene de Cássia Trivellato &
diagnóstico de autista, dado por um pediatra MARTURANO, Edna Maria. Ambiente familiar
do posto de saúde da comunidade onde vive. e os problemas do comportamento apresenta-
Chegou a tomar medicação e a fazer acom- dos por crianças com baixo desempenho es-
panhamento com Psiquiatra durante 2 anos. colar. Psicologia Reflexão e Crítica, 2002,
Esse acompanhamento foi suspenso no mo- v. 15, n. 1, p. 35-44.
mento que passou a se “comunicar”, após
longos meses de total silêncio e indiferença STRYJER, Roberto S. O.; STRYJER, Luiz Jú-
em relação ao meio em que vive. lio (Ed.). Projeto Saúde – Aspectos fisioló-
gicos e psicológicos do desenvolvimento
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola. sexual. Rio de Janeiro, 1980.
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
20
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 2
AUTORA:
Andréia Aparecida Antônio

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

O PROGRESSO DEPENDE DE QUEM VÊ, INCLUI E ACEITA OS DIFERENTES

latos da professora e fazer uma breve inves-


Resumo tigação e observação da criança, elaborou
Este caso demonstra a importância do trabalho de uma convocou os pais para que, juntos, encon-
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coordenadora pedagógica ao detectar a necessidade de trassem uma solução que pudesse ajudar
incluir aluno com deficiência em um ambiente escolar. o Gustavo. Os pais, preocupados com o de-
senvolvimento do fi lho, informaram à escola

G
ustavo1 é aluno de uma escola esta- que ele estava fazendo um acompanhamento
dual de Belo Horizonte, desde 2008. com uma psicóloga no Hospital Rede Sarah.
É uma criança que necessita de aten- O relatório deixado na escola traz que
ção especial, pois não consegue realizar as Gustavo é paciente do hospital desde maio
tarefas sozinho. de 2007, atendido por uma equipe inter-
Foi matriculado em uma turma de crian- disciplinar. Segundo o documento, ele tem
ças da 1ª série e, no decorrer do tempo, foi diagnóstico de paralisia cerebral e apresenta
sendo observado pela professora que não um quadro de déficit de atenção associado a
via progresso no trabalho que estava sendo alterações comportamentais.
realizado com ele, pois sempre atrapalhava Foi sugerido à família que Gustavo reali-
as suas aulas, era uma criança muito de- zasse um acompanhamento psicoterápico de
pendente, até para realizar tarefas simples forma sistemática, com o objetivo de avaliar
como ir ao banheiro. Foi também observado as alterações de comportamento do menor e
que ele não era uma criança muda nem sur- fornecer orientações nesse sentido.
da, embora, na maioria das vezes, ele não A professora e a coordenadora, após co-
conseguia nem mesmo expressar o que es- nhecimento do relatório, informaram aos
tava sentindo, ele não se adaptava naquele pais que Gustavo teria que ser acompanha-
ambiente escolar. do por um profissional especializado, que
A professora, vendo a dificuldade da pudesse atender a suas necessidades e o
criança, solicitou à coordenadora um profis- auxiliar no seu desenvolvimento. A família
sional especializado para auxiliá-la no dia aceitou a proposta da coordenação.
a dia, dentro da escola, pois se tratava de O profissional solicitado, após se inserir
um caso de inclusão. A política de inclusão na escola, fez algumas observações e infor-
de alunos que apresentam algum tipo de mou à coordenadora que faria um trabalho
necessidade educacional especial na rede com o Gustavo fora de sala, pois o mesmo
regular de ensino não consiste apenas na precisava muito de atividades que desenvol-
permanência física desses alunos junto aos vessem a coordenação motora e de exercícios
demais educandos, mas representa ousadias que despertassem a atenção.
de rever concepções, bem como desenvolver Como princípio da inclusão, não é o aluno
o potencial dessas pessoas, respeitando seu que deve se moldar ou se adaptar à escola,
tempo certo de aprendizado. mas é ela que, consciente de sua função,
A escola não deixou que Gustavo se tor- coloca-se à disposição do aluno, tornando-
nasse uma criança rotulada “como criança se um espaço inclusivo. Nesse contexto, a
problema”, mas tratou logo de solucionar a educação é concebida para possibilitar que o
questão. A coordenadora, após anotar os re- aluno com necessidades especiais atinja os
objetivos da educação geral.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O progresso depende de quem vê, inclui e aceita os diferentes Andréia Aparecida Antônio

Após algum tempo, Gustavo voltou para


sala, mas junto com a professora de apoio.
Ele não realizava tarefas como as outras
crianças, mas estava conseguindo se adaptar
melhor ao ambiente. A professora de apoio re-
latou à coordenadora que a criança, durante
o período que esteve com ela, se demonstrou
uma criança alegre e muito carinhosa, par-
ticipando de todas as atividades que por ela
eram propostas. Passou a se comunicar com
todos da escola. Sua linguagem era mais
clara, sua pronúncia estava cada dia mais
enriquecida. Gustavo se tornou uma criança
mais independente, estava conseguindo até
mesmo ir ao banheiro sozinho.
A professora durante seu trabalho utili-
zou diversas estratégias: jogos, brinquedos

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pedagógicos, CD, livros de histórias infantis,
revistas com gravuras coloridas, sendo tudo
muito chamativo. A criança durante esse
período não conseguiu aprender nenhuma
letra, nem mesmo a primeira de seu nome,
não identifica números, nem consegue acer-
tar o nome das cores.
No fi nal do semestre, a professora de apoio
teve que encerrar o seu trabalho na escola.
A partir desse momento, Gustavo voltou a
ter problemas em sala. A professora regen-
te mais uma vez solicitou à coordenação o
auxílio de outro profissional especializado,
sendo atendida imediatamente. A nova pro-
fessora de apoio já iniciou o trabalho com o
Gustavo e tem obtido grandes resultados.
As Diretrizes Nacionais para Educação
Especial na Educação Básica trazem que a
escola é o principal lugar de formação para a
cidadania. Uma escola ideal não deve erguer
barreiras de apartação a pessoas de classe,
raça, gênero e origem diferentes, nem mes-
mo as pessoas com deficiência. Deve erguer
como uma ponte para o futuro, onde todos
possam empreender a caminhada do apren-
der e se tornar cidadãos.

REFERÊNCIA:
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes
nacionais para a educação especial na edu-
cação básica. Secretária de Educação Espe-
cial - MEC; SEESP, 2001.79 p.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 3
AUTORA:
Arlete Otoni de Almeida

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A IMPORTÂNCIA DA INTEGRAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA NO DESENVOLVI-


MENTO ESCOLAR DO ALUNO

passava no quadro, não questionava nem


Resumo conversava com os colegas. Acabada a tare-
O presente artigo relata como a relação família / escola fa, abaixava a cabeça na mesa e, às vezes,
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

é fundamental no processo de ensino-aprendizagem, bem chegava a dormir, não se importando com o


como de socialização da criança no ambiente escolar. desconforto da posição e do som vindo dos
colegas de sala.

E
m uma escola da rede municipal de A coordenadora, ao conversar mais uma
Ribeirão das Neves, que atende a alu- vez com a professora, descobriu que as tare-
nos da fase introdutória à 4ª série, é fas de casa não eram feitas por Carlos, pois
possível perceber como o bom relacionamen- a letra nos exercícios não era dele. Ao ser
to família e escola torna-se imprescindível questionado, revelou que era de seus irmãos
no desempenho escolar do aluno. que faziam suas atividades e que ele não via,
Carlos1 é uma criança de 8 anos, está pois estava dormindo quando isso ocorria.
matriculado no 2º ano/9, e tem sido motivo Carlos contou à professora que tem dois ir-
de preocupação para sua professora, pois mãos, um de 14 anos e uma de 11 anos, e
é um aluno apático, desinteressado, falta que os três ficam sozinhos a tarde toda em
constantemente às aulas, além de ser muito casa, pois a mãe, viúva há dois anos, saí às
introvertido e calado. Somando esse perfi l 5 da manhã para trabalhar e só retorna por
ao baixo rendimento demonstrado por Car- volta das 8 horas da noite.
los nos três primeiros meses do ano letivo, Diante do quadro, a coordenadora so-
a professora relatou o caso à coordenadora licitou a presença da mãe na escola. Após
que deu início a um estudo de caso sobre o quatro tentativas, a mãe compareceu à es-
aluno. cola justificando ser difícil para ela faltar ao
Num primeiro momento, a coordenadora trabalho. Conversando com a coordenadora,
passou a observar o comportamento de Car- a mãe, entre lágrimas, desabafou e contou o
los na hora do recreio: sempre estava sozi- quão difícil estava sendo para ela cuidar dos
nho, agachado em um canto do pátio, meio três fi lhos sozinha. Confessou estar ciente
amedrontado. A coordenadora, tentando da dificuldade de Carlos na escola e que seus
uma aproximação, dirigiu-se a ele e suge- dois fi lhos mais velhos não têm paciência de
riu que ser assentasse à mesa do refeitório lhe ensinar as tarefas de casa, acabando por
com os outros colegas para lanchar. Carlos fazer para ele.
recusou-se continuando cabisbaixo, comen- Segundo a mãe, Carlos ficou muito ca-
do seu pedaço de pão. rente após a morte do pai, não tem amigos,
A coordenadora, num segundo momento, só brinca sozinho e, quando a mãe regressa
passou a observar Carlos na sala de aula, do trabalho à noite, só consegue fazer algo
na realização das atividades propostas e na após Carlos dormir, pois ele se agarra a ela
participação em assuntos em que era perti- até pegar no sono.
nente a fala de todos os alunos. A mãe contou também que, às vezes, Car-
Carlos não mudou sua atitude, continua- los começa a chorar sem motivo e não conse-
va inexpressivo a qualquer situação. Sentado gue explicar o motivo que lhe entristece.
em sua carteira, copiava o que a professora A coordenadora após estudar o caso de
Carlos, conversar com sua professora e sua
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância da integração família x escola no desenvolvimento... Arlete Otoni de Almeida

mãe, o encaminhou a um psicólogo para


uma melhor avaliação.
Após algumas consultas, o psicólogo en-
viou à escola um relatório que dizia que o
aluno estava passando por uma depressão
infantil, decorrente da morte do pai e da
ausência da mãe. Somando duas perdas de
pessoas importantes em sua vida, o especia-
lista disse que Carlos evitava interagir com
as pessoas, para não se apegar a elas e cor-
rer o risco de perdê-las novamente, ou seja,
ele criou um mecanismo de defesa para não
sofrer mais. A consequência disso foi o total
desinteresse pelos estudos, a vontade de se
isolar e viver num mundo só dele.
Diante disso, Carlos está tendo acompa-
nhamento psicológico uma vez por semana,

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e a coordenadora, a professora e a mãe do
aluno estão buscando formas de ajudá-lo a
interagir com crianças da idade dele, além
de encorajá-lo a participar mais do meio
em que vive e a se sentir mais seguro de si
mesmo.

REFERÊNCIA:
VIEIRA, Marili M. da Silva. O coordenador
pedagógico e o cotidiano da escola. 2003.

24
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 4
AUTORA:
Bárbara Regina Rodrigues de Alcântara

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DISTÚRBIOS DA PALAVRA: DISLALIA, A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA EN-


TRE ESCOLA, FAMÍLIA E FONOAUDIÓLOGO

com os pais, no intuito de se tentar chegar à


Resumo origem ou possível causa da dificuldade.
Este artigo relata um caso de dislalia e mostra que a par- Roberto, na infância, teve grande dificul-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

ceria entre a escola, a família e os outros profissionais dade em começar a falar. Sua mãe relatou
envolvidos no processo é a principal forma de se obterem que ele só começou a falar com 4 anos, mas
bons resultados. não procurou ajuda por acreditar que cada
um tem seu tempo e não queria procurar

R
oberto1 é um aluno de aproximada- problemas ou defeitos em seu fi lho. Admitiu
mente 16 anos, matriculado no 7º manter uma conduta de superproteção e,
ano/9 do ensino fundamental de uma às vezes, de cobrança em excesso. Devido à
escola particular em Belo Horizonte. demora na fala Roberto, só ingressou na 1ª
No início do ano, através de inúmeras série/8 aos 9 anos, em uma escola pública
atividades diagnósticas, foi detectada uma estadual, onde permaneceu por 5 anos. Ele
dificuldade significativa com relação à leitu- foi aprovado mesmo com dificuldades até a
ra e à escrita. Nas atividades, percebemos: 3ª série/8, sendo reprovado dois anos se-
• Escrita desorganizada, com trocas, omissões
guidos na 4ª série/8. Então a mãe o colocou
e substituição; muitas vezes letra ilegível em uma escola especial, onde concluiu a 4ª
com traços irregulares; desorganização do série/8 sem reprovação, mas com muitas
texto e das letras; alterações na utilização dificuldades.
da linguagem; escasso nível verbal, com po- Foi então indicada por amigos da família
breza de vocabulário; grande dificuldade de a escola em que estuda por se tratar de um
concentração e memorização. estabelecimento com número reduzido de
• Leitura não adequada para a idade; imaturi- alunos por turma , para que ele tivesse um
dade; ansiedade; insegurança e dificuldade melhor desempenho escolar. Ele foi matri-
de compreensão e expressão verbais. culado com quase 15 anos no 6º ano/9, em
2008.
Além das dificuldades nas questões pe- A coordenação pedagógica solicitou o
dagógicas, Roberto tem dificuldade de so- acompanhamento fonoaudiológico, sendo
cialização e de comunicação devido à fala diagnosticada a dificuldade na fala em razão
desordenada, por isso se isola dos outros, da dislalia.
ficando todo o recreio sozinho e isolado, Segundo Caraciki (1983, p. 27), a dislalia
apresenta baixa autoestima e não acredita é distúrbio da palavra que a criança supera
em seu potencial. lentamente, caracterizado por lapsos fonéti-
A princípio foi especulado que Roberto cos que provocam confusões aos que escu-
tivesse alguma disfunção neurológica, mas, tam. Para Marchesan (1998, p. 65), é
em conversa com a família, a coordenação
observou que a dificuldade estava em parte desvio fonológico que corresponde a difi-
ligada ao emocional e à falta de diagnóstico culdades que dizem respeito ao domínio
no caso. do padrão fonêmico da língua, na ausência
Para melhor acompanhamento e entendi- de alterações orgânicas como deficiências
mento do caso, foram feitas várias reuniões auditivas e anormalidades anatômicas. Na
Dislalia não se observa uma inabilidade ar-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Distúrbios da palavra: dislalia, a importância da parceria... Bárbara Regina Rodrigues de Alcântara

ticulatória, mas sim uma organização falha


na aprendizagem de regras de combinação
de traços distintivos do sistema dos sons da
língua.

Com o início do tratamento fonoaudioló-


gico, Roberto começou também com o acom-
panhamento psicológico e com a terapia
ocupacional.
Para Ferrigno (1994, p. 188), a terapia
ocupacional proporciona aos pacientes o en-
frentamento de situações novas, que servi-
rão como base para que a pessoa ultrapasse
seus limites e extrapole essa vivência para
outros momentos da vida.
Com isso a coordenação, juntamente
com os pais e os professores, tem buscado

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atividades que proporcionem a Roberto en-
frentar suas dificuldades, enxergando que,
mesmo com a diferença de idade, ele é capaz
de acompanhar sua turma, participando e
convivendo socialmente com a maioria dos
colegas, percebendo que é capaz de vencer
os obstáculos encontrados.
As medidas adotadas representam uma
melhora significativa na escrita. Os pais têm
colaborado dando apoio e acompanhando as
atividades de casa e o incentivando. A dis-
lalia está sendo tratada através do lúdico,
porém é um processo mais demorado devido
à imaturidade de Roberto, que dificulta a
produção e a fi xação fonêmica.
O trabalho da escola em parceria com a
família e os demais profissionais envolvidos
no caso está sendo de grande valia para o
amadurecimento e o crescimento pedagógico
de Roberto, que agora busca aprender mais
e superar seus limites.

REFERÊNCIAS:
CARACIKI, Abigail Muniz. Distúrbios da pa-
lavra: Dislalia e Dislexia Dislálica. 2. ed. Rio
de Janeiro: Enelivros, 1983.

FERRIGNO, Iracema Serrat Vergotti. O que é


Terapia Ocupacional? In: KUDO, Aide Mitie,
et al. (coord.). Fisioterapia, Fonoaudiologia
e Terapia Ocupacional em Pediatria. 2. ed.
São Paulo: Sarvier, 1994. (Monografias Médi-
cas. Série Pediatria. v. XXXII).

MARCHESAN, Irene Queiroz. Fundamen-


tos em Fonoaudiologia: Aspectos clínicos
da motricidade oral. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan, 1998.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 5
AUTORA:
Celmi Altina de Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A INCLUSÃO NA ESCOLA E A BUSCA DE UM DIAGNÓSTICO

Ele não é uma criança agressiva, mas não


Resumo consegue fazer amizades nem brincar com
O presente artigo tem por objetivo relatar um estudo de os colegas. Ronan prefere estar só, não for-
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caso de inclusão de um aluno em uma escola da Rede Mu- ma relações pessoais, não abraça, evita con-
nicipal de Ensino de Belo Horizonte. tato de olho, resiste às mudanças. Às vezes
tem dificuldade em entender o que foi dito e

R
onan1, com 8 anos, filho de uma dona repete as palavras que são ditas.
de casa com pouca escolaridade, foi Suspeita-se de autismo. Segundo Gau-
matriculado em uma escola da Rede derer (1993), o autismo é um quadro de um
Municipal de Ensino de Belo Horizonte, em distúrbio do desenvolvimento, não havendo
2007, por ser uma escola de tempo integral, qualquer indício de etiologia psicológica.
tendo em vista que sua mãe trabalhava o dia Para ele, as principais características do
todo e não tinha onde deixá-lo. autismo são:
Ronan apresentava um ritmo imaturo na • dificuldade no relacionamento com
fala, restrita compreensão de ideias, uso de pessoas;
palavras sem associação com o significado,
relacionamento estranho com objetos, even- • desejo obsessivo de preservar coisas e
situações;
tos e pessoas. Mesmo assim, essas carac-
terísticas não trouxeram transtorno para a • alterações da linguagem e na comunicação
escola, pois esta vê a inclusão como um novo interpessoal.
paradigma de pensamento e ação, no sentido Para esse autor, o autismo é uma inade-
de incluir todos os indivíduos socialmente e quação no desenvolvimento que se manifes-
no contexto educacional. ta de maneira grave durante toda a vida. É
Esse paradigma visa combater conceitos incapacitante e aparece nos três primeiros
estereotipados, contribuindo para o equi- anos de vida. Atinge as famílias de qualquer
líbrio do processo de desenvolvimento das configuração racial, étnica e social.
pessoas com necessidades educativas es- A escola solicitou um acompanhamento
peciais, pois somente com mecanismos de psicológico para um diagnóstico preciso,
compensação das limitações apresentadas mais detalhado, buscando-se o melhor de-
por esses indivíduos, a escola poderá forta- sempenho do aluno. Ele foi encaminhado ao
lecer atitudes de superação dos sentimentos Centro de Saúde.
de inferioridade. Uma das ações da escola tem sido aproxi-
Ronan não faz uso regular de medicação, mar o Ronan dos colegas e desenvolver uma
pois a mãe diz não ter nenhuma recomenda- boa relação com as professoras.
ção médica, além de suas condições fi nan- É preocupante para a escola a questão
ceiras serem e de alegar que não dá conta de do acompanhamento da mãe, pois a mesma
lidar com o problema do próprio fi lho. relata trabalhar o dia inteiro e não poder fal-
Na escola, foi realizado um trabalho com tar ao serviço com frequência.
muita dedicação e paciência. Começaram a A escola tem o seu papel. São elaboradas
perceber que Ronan é um aluno muito agita- estratégias para que os alunos consigam
do e faz vários gestos repetitivos sem parar. desenvolver sua capacidade de integração
com as outras crianças. Porém, a família
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

27
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão na escola e a busca de um diagnóstico Celmi Altina de Oliveira

tem também um papel importante. Os pais


podem encorajar a criança a se comunicar
espontaneamente, criando situações que
provoquem a necessidade de comunicação.
Não se deve antecipar tudo o que a criança
precisa, devem ser criados momentos para
que ela sinta a necessidade de pedir aquilo
de que precisa.
Muitas vezes, a profissão e o horário co-
tidiano não facilitam, mas é importante dis-
pensar algum tempo para que as crianças
possam se sentir queridas e mostrar o que
aprenderam.
Todos os alunos têm direito de que lhes se-
jam oferecidas possibilidades educacionais,
nas condições mais normais possíveis, que
favoreçam o seu desenvolvimento e a socia-

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lização com colegas da mesma faixa etária,
e que lhes permitam no futuro integrar-se e
participar melhor da vida na sociedade.
No caso do Ronan, o ideal é que continue
convivendo com as outras crianças na esco-
la até que se tenha o diagnóstico para uma
correta intervenção.

REFERÊNCIAS:
GAUDERER, E. Christian. Autismo. 3. ed.
São Paulo: Atheneu, 1993. 192 p.

GAUDERER, E. Christian. Autismo e outros


atrasos do desenvolvimento; uma atualiza-
ção para os que atuam na área: do especia-
lista aos pais. Brasília: Coordenadoria Nacio-
nal para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, 1993.

28
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 6
AUTORA:
Cristiane Aparecida de Souza

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DÉFICIT DE ATENÇÃO

O dia a dia dessas duas garotas era cor-


Resumo rido. Ficavam dentro da sala já pensando
Este artigo tem como finalidade o relato de duas alunas nas suas atividades extracurriculares. Ba-
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que apresentavam déficit de atenção, provocado pela tia o sinal e elas saíam correndo. Uma fazia
grande pressão que sofriam de seus pais. Esses estavam a passagem rápida, em casa, para almoçar,
preocupados em manter um “status social”, sem tomar porque tinha que sair rápido para a aula de
conta de que essa postura estava comprometendo a apren- inglês, depois aula de informática e, à noite,
dizagem de suas filhas. aula de violão. A outra nem em casa almoça-
va, fazia um lanche rápido, pois tinha que ir

N
uma escola particular, no centro de direto para a aula de teatro na parte da tar-
Belo Horizonte, numa turma do 8º de e, à noite, fazia aula de inglês e espanhol.
ano, no turno da manhã, duas alunas Aos sábados, pela manhã, faziam outros
se apresentam completamente dispersas e cursos. Com apenas 13 e 14 anos, já tinham
perdidas. Segundo os professores, o super- essa carga horária longa e cansativa.
visor já tinha sido avisado e estava tomando Após conversar com os pais, isso ficou evi-
as devidas providências para avaliar o caso. dente. Eles achavam que, por pagarem caro
A falta de atenção, além de prejudicar o tanto a escola quanto os cursos, podiam exi-
rendimento daquelas alunas, acabava ir- gir de suas fi lhas e alegaram que, por serem
ritando os outros alunos, que reclamavam de classe social alta, eram também cobrados
muito e ficavam bem agitados ao ouvirem a por amigos e pelos familiares.
matéria repetida pelos professores. Com a autorização dos pais, as alunas
O supervisor já tinha conversado com as foram encaminhas para o psicólogo. Ele fi-
alunas, com o objetivo de ouvi-las. Identi- cou surpreendido ao ouvir aquelas meninas,
ficou o déficit de atenção ligado a uma de até mesmo por se tratar de um caso muito
suas características: alunos com dificulda- delicado. Seria necessário os pais diminuí-
des de focalizar a atenção na sala de aula rem os afazeres das fi lhas, pois esse tipo de
por períodos maiores de tempo. Segundo pressão estava afetando o psicológico delas,
ele, a atitude das alunas se devia ao fato de começando pelo déficit de atenção, podendo
serem cobradas e pressionadas pelos seus ocasionar problemas ainda maiores.
pais, que estavam preocupados em ter fi lhos Os pais foram convocados para uma reu-
inteligentes, que falassem diversas línguas nião com esse objetivo: diminuir as ativida-
e, por isso, as obrigava a fazerem cursos des das fi lhas e dar-lhes a oportunidade de
que eles, os pais, achavam importantes. escolha, para que pudessem decidir o que
Queriam mostrar para a sociedade que seus seria melhor. Elas precisavam de apoio. Pre-
fi lhos eram os melhores, ou seja, estavam cisavam respirar e isso tinha que partir da
preocupados com o “status social”. compreensão de seus pais. Os pais ficaram
As alunas não tinham liberdade de esco- preocupados com a situação e se sentiram
lha e, como os pais pagavam caro, faziam culpados pelo problema das fi lhas. Emocio-
aquilo que os eles queriam e não o que elas nados, concordaram com a proposta.
realmente gostavam. Isso afetou o aprendi- Na visão do supervisor, os pais eram
zado das alunas, sendo o motivo do déficit sujeitos do modelo capitalista que tanto es-
de atenção. cravizam a sociedade, tornando as pessoas

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Déficit de Atenção Cristiane Aparecida de Souza

oprimidas e cada vez mais individualistas.


Essa fala nos faz lembrar Paulo Freire, em
“Pedagogia do Oprimido”, em que mostra
que o homem é capaz de transformar sua
própria opressão; essa libertação deixa de
ser a parte oprimida da ação imposta pelos
homens, muitas vezes, imposta pela condi-
ção do meio social em que o mesmo se situa,
e não consegue achar a saída, o caminho
para a liberdade.

A pedagogia do oprimido, como pedagogia


humanista e libertadora, terá dois momen-
tos distintos. O primeiro, em que os oprimi-
dos vão desvelando o mundo da opressão e
vão comprometendo-se, na práxis, com sua
transformação; o segundo, em que, trans-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


formada a realidade opressora, esta pedago-
gia deixa de ser do oprimido e passa a ser a
pedagogia dos homens em processo de per-
manente libertação. (FREIRE, 1987, p. 41).

Enfi m, o resultado desse estudo só veio


quando os pais, através da “ação libertado-
ra”, permitiram que suas fi lhas escolhessem
quais atividades extracurriculares gosta-
riam fazer. A partir do momento que os pais
diminuíram as responsabilidades de suas
fi lhas e permitiram a elas autonomia e li-
berdade de escolha, o comportamento delas
dentro da sala de aula foi completamente
diferente. São alunas alegres, participativas
e atentas em todas as aulas, e mais, não
fi zeram a prova especial, alcançando as me-
lhores notas da turma.

REFERÊNCIA:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 7
AUTORA:
Cristiane Moreira de Pinho

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A INDISCIPLINA NO AMBIENTE ESCOLAR

o próprio tumulto. Em contrapartida, o pro-


Resumo cesso ensino-aprendizagem torna-se mais
Este artigo traz uma reflexão sobre a indisciplina no lento e aqueles alunos que não têm grandes
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ambiente escolar, vista como problema, como desvio das problemas de pré-requisitos acabam também
normas que inviabiliza a prática escolar. desmotivados e assumem a mesma postura
dos demais.

A
indisciplina na escola está na ordem Diante dos dados observados, o coorde-
do dia. As preocupações de professo- nador pedagógico e a equipe de professores
res, pais e educadores em geral, rela- resolveram construir um projeto visando à
tivas ao comportamento escolar dos alunos, superação do problema.
têm sido consideráveis nos últimos anos. Para esse trabalho, pensou-se em um
Constata-se que, no ambiente escolar, a in- momento de estudo de textos que discutam
disciplina contribui para a exclusão. o problema da indisciplina e práticas pe-
Segundo Gotizens (2003, p. 22), dagógicas. Em um segundo momento, foi
identificada a necessidade de os professores
a disciplina escolar não consiste em um terem uma postura única e ações em grupo,
receituário de propostas para enfrentar os tomando como referência os textos trabalha-
problemas de comportamento dos alunos, dos. Ficou estipulado que nas disciplinas de
mas em um enfoque global da organização e Português e Matemática os alunos irão tra-
da dinâmica do comportamento na escola e balhar em grupos com ajuda da professora
na sala de aula, coerente com os propósitos eventual da escola, sendo que as propostas
de ensino. didáticas deverão ser adequadas às necessi-
dades do grupo.
A origem do comportamento indisciplinar Embora seja difícil e complexo lidar com
pode se relacionar ao professor, principal- o problema da indisciplina, o professor não
mente na sala de aula, bem como ao proces- pode desistir nem se acomodar. Não pode
so pedagógico escolar. deixar que a educação silencie e limite os
Numa escola estadual localizada no centro alunos e lhes impeça seu desenvolvimen-
de Belo Horizonte, a sala do 9ºano do ensino to criativo e participativo em sala de aula.
fundamental é considerada pelos professo- Precisa-se de uma educação que valorize as
res como tumultuada, a turma em que há organizações coletivas e que contribua para
mais alunos repetentes, enfi m, está rotulada a construção da autonomia e para o desen-
como a turma mais difícil da escola. volvimento intelectual dos alunos.
Observando essa turma, foi possível As escolas precisam, por conseguinte,
perceber que há grande defasagem de pré- desenvolver políticas internas para lidar de
requisitos. Após reflexões com a turma, pu- forma preventiva com a indisciplina, haven-
demos constatar que as atitudes de indisci- do também a necessidade de programas de
plina são como mecanismos de defesa, pois, formação de professores em serviço voltados
muitas vezes, a maioria dos alunos não tem para a discussão de problemas vivenciados
sequer noção do que os professores estavam nas rotinas das escolas.
falando, o que acaba provocando falta de
interesse pelas aulas e, consequentemente,

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A indisciplina no ambiente escolar Cristiane Moreira de Pinho

REFERÊNCIAS:
GOTIZENS, Concepción. A disciplina esco-
lar: prevenção e intervenção nos proble-
mas de comportamento. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2003.

PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza; ALMEI-


DA, Laurinda Ramalho de. O Coordenador
Pedagógico e o cotidiano da escola. 2. ed.
São Paulo: Edições Loyola, 2004.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 8
AUTORA:
Daniela dos Santos Coelho

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DISCIPLINA E AFETIVIDADE: A RELEVÂNCIA DA ESTRUTURA DA FAMÍLIA


NA APRENDIZAGEM

organizar e terminar as tarefas, não gosta


Resumo de realizar atividades que envolvam esforço
Este artigo tem por objetivo apresentar o estudo de caso mental. É distraído até mesmo por estímu-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

de uma criança inserida no Programa Acelerar para los alheios, abandona sua carteira e vai até
Vencer (PAV) em uma escola pública estadual de Belo à do colega para agredi-lo, tem dificuldade
Horizonte. Lucas se recusa a realizar a maioria das ati- de aceitar ajuda do colega e mesmo da pro-
vidades que lhe são propostas e ainda apresenta compor- fessora. Fala em demasia, descontrola-se
tamento agressivo. facilmente, chora, fica gago, recusa seguir
normas e regras dos adultos, culpa todos

O
ser humano é racional, dotado de pelos seus erros, demonstra falta de limites
vontade livre, de capacidade para a e carência afetiva. Não tem interesse nem
comunicação, para vida em socie- estimulo para o estudo, no ambiente escolar
dade, para interagir com a natureza e com sente-se privado de sua liberdade.
o tempo. Do ponto de vista ético, somos Com intuito de entender o processo afeti-
pessoas e não podemos ser tratados como vo/disciplinar do aluno, a professora busca
coisas. Os valores éticos se oferecem, por- informações do contexto familiar, e percebe
tanto, como expressões e garantia de nossa que ele apresenta carência afetiva e condição
condição de sujeitos, proibindo moralmente socioeconômica baixa. Conforme relatos da
que nos transformemos em coisas usadas e mãe, no ambiente familiar, tanto ela como
manipuladas pelos outros. o fi lho são vítimas de agressões verbais e
O PAV (Programa Acelerar para Vencer) físicas, além disso, ela acredita que seu fi-
foi elaborado pela Secretaria da Educação lho possa ser vítima de seu distúrbio neu-
do Estado de Minas Gerais em 2008, com o rológico diagnosticado alguns anos antes da
objetivo de reduzir a defasagem de ensino- gravidez.
aprendizagem dos alunos que apresentam, A partir desse levantamento, fez-se ne-
pelo menos, dois anos de distorção idade/ cessário que a professora obtivesse ajuda
ano de escolaridade. Esse projeto foi implan- da família, da escola e de um profissional
tado na escola, sendo duas turmas de Ensi- especializado para trabalhar o afetivo e o
no Fundamental com 22 alunos. cognitivo do aluno. Atualmente, a professora
Lucas tem 9 anos, frequenta a primeira desenvolve uma ação individualizada com
etapa do Programa Acelerar para Vencer, o aluno, pois o caso passa por encaminha-
para o qual foi transferido devido ao seu mento psicológico.
baixo desempenho no processo de ensino– As palavras tanto podem ferir como curar.
aprendizagem, a fi m de obter melhorias. Tanto os professores, como os pais e a comu-
Em conversa com a mãe, a professora a nidade escolar precisam de uma linguagem
deixa ciente do desempenho escolar do fi lho de compreensão, uma linguagem amorosa
e de suas atitudes na escola. Lucas é uma para com o ser em desenvolvimento. Os edu-
criança que apresenta o nível cognitivo bai- candos necessitam de palavras que orientem
xo, não reconhece nem mesmo as silabas sentimentos, respostas que modifiquem hu-
simples, tem dificuldades de concentração, mores, afi rmações que irradiem respeito. O
em manter atenção nas tarefas e brincadei- professor fala intimamente, ele fala ao cora-
ras. Não segue instruções, não consegue se ção. E o coração é alimentado por sutilezas,

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Disciplina e afetividade: a relevância da estrutura da... Daniela dos Santos Coelho

por um olhar que atrai, um olhar que afi rma


e um comentário que confi rma. A educação
traduz experiência em valores.
Com esse olhar dirigido para o aluno, a
professora busca resgatar a sua condição de
aprendente, para que possa se desenvolver
normalmente.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério da Educação. Secreta-
ria da Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: Temas Transversais.
3. ed. Brasília: Ed. Ética, 2001.

CHAUÍ, Marilena. Filosofia novo ensino mé-


dio. 3. ed. São Paulo: Ed. Ática, 2001.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 9
AUTOR:
Danilo Dias Leal

Graduado em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

CONSTRUINDO O CONHECIMENTO EM UM MUNDO PARTICULAR DE VENTILADORES,


MÚSICAS E SONHOS DE IGUALDADE

com a vice-diretora quando me entregou o


Resumo João pela primeira vez:
O presente artigo aborda a questão da inclusão de um – Vou deixar o João na sua responsabili-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

aluno autista numa escola pública de Contagem - MG. dade, talvez você tenha que dar comida na
boca quando for recreio e carregá-lo para
João1 é um aluno matriculado numa es- sala em seguida.
cola de classe média no município de Conta- Contudo, amenizando a atitude da vice-
gem - MG. Quando o conheci, confesso, foi diretora para com o João, devo salientar o
através de desvio de função, pois exerço um que a sua professora me disse:
cargo na biblioteca da Escola. Pensava que o – Ele toma um remédio para não cair!
cargo não tinha nada a ver com acompanha- Bate em todo mundo da sala, por isso o deixo
mento de pessoas com necessidades espe- isolado na mesinha, ele é mimado demais.
ciais. Não gostei muito da ideia: “se querem Em outra oportunidade, a professora
disciplina no recreio, contratem uma disci- afi rmou:
plinaria”, disse eu, e mais um funcionário – Ah! Eu vejo a mãe dele na rua indo para
confi rmou a indignação. Entretanto, veio a lá e para cá com ele no colo! Imagina, um
gestora me dar o recado pessoalmente: menino de quase oito anos!
– Desculpe-me não te avisar, mas na hora Então assegurei:
do recreio você deve tomar conta do João, – Pelo menos aqui na escola deveremos
para que as professoras possam descansar, tomar outros procedimentos pedagógicos.
pois é assim que a escola funciona. A mãe, sei que é evangélica, nunca vem à
Os dias iam se passando e os funcioná- escola. O pai, que traz e leva o João, é meta-
rios queriam ver a atração do recreio: aquele lúrgico. Nunca toquei no assunto, porém sei
menino que era calado, com olhar distante, que eles o levam para um psicólogo da Pre-
tagarelando comigo, aquele menino que não feitura... Falei para a professora que talvez
usava talheres, merendar sozinho. “O Au- João fosse autista. Porém a professora, que
tista faz leituras incompletas da realidade, é psicopedagoga, me disse que ele não era,
prioriza alguns aspectos em detrimento de pois ainda olha nos olhos da gente!
outros, não estabelece relações e é centrado Um dia, uma nova professora efetiva en-
em si mesmo” (NOVA ESCOLA, 1994, p.23). trou no lugar daquela contratada e disse-
Apenas respondi que foi através de coisas me:
simples que aprendi nos livros e na vida. – Já trabalhei em clínica psicológica, esse
Passados alguns, eu o deixei se sociali- menino parece com aquele daquele fi lme...
zar com alguns alunos na hora do recreio, Se não for autista, rasgo meu diploma...
poucos costumam se aproximar dele. Os Então, procurei algumas fontes na inter-
que chegam perto, ou vêm para caçoar ou net e revistas sobre o autismo, para escla-
para pegá-lo pelo braço, como se fosse de recimento de dúvidas. E descobri algumas
estimação... peculiaridades dos autistas:
Apesar das teorias e do movimento de in- • Os autistas não param quietos, essa é uma
clusão, a Escola trata o aluno como coisa ou característica marcante.
coitadinho. Lembro-me do diálogo que tive
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Construindo o conhecimento em um mundo particular de... Danilo Dias Leal

• Oferecem mais atenção aos objetos e coisas


do que às pessoas em redor. dades especiais para que o indivíduo, como
membro da sociedade, possa usufruir das
• Não gostam de brincar com crianças da
mesmas especificidades dos ditos normais,
mesma idade.
(DELOURS, 2001).
• Chegam ao delírio de gritos e gargalhadas A escola deve manter em seu bojo a fra-
em monólogo. grância dos quatro pilares da educação, re-
• Não gostam de ser tocados. almente, e não apenas fi ngir ser inclusiva.
João não pediu para nascer com esse dis-
• Têm distúrbios intestinais.
túrbio! Cabe ao poder público compartilhar,
O seguinte trecho da reportagem da Revis- democraticamente, experiências positivas e
ta Época me deu um norte sobre o distúrbio confl itos, buscando juntamente com a insti-
do garoto: “Se deixarmos o Rafael sozinho, tuição maneiras de apaziguá-los.
ele fica longas horas vendo o rodar do CD de Os coordenadores pedagógicos e os do-
música – disse a mãe, preocupada com o seu centes são profissionais da educação essen-
fi lho autista,” (NOGUEIRA, 2007, p. 75). ciais na missão de acolher aqueles com ne-
Por isso é quase impossível deixar João cessidades especiais em suas salas de aula
sozinho, pois a admiração pelo ventilador e no espaço da escola. Desse modo, podem

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


pode ocasionar-lhe, perigosamente, uma partilhar da riqueza de serem tolerantes ao
lesão. Porém, temos que deixar claro que diferente, de aprenderem com o novo: “Há
ele pode, ao longo do tempo, ter uma vida possibilidades para diferentes amanhãs. A
relativamente normal. São muitos casos de luta já não se reduz a retardar o que virá ou
pacientes que formaram no ensino médio e a assegurar a sua chegada; é preciso rein-
estão cursando a universidade. ventar o mundo”. (FREIRE, 1995, p. 40).
Alguns casos são famosíssimos. O mais Nesse sentido, afi rmo que a maioria dos
famoso dos casos de autista é da engenheira alunos, em sua essência, possui a solidarie-
e bióloga Temple Grandin. Aos trinta anos dade em seus corações e acolhe seus colegas
deu a mão a outra pessoa pela primeira vez; portadores de distúrbios, com igualdade.
autistas, em geral, têm horror ao toque. A criança não trata alunos como João
Apesar do diagnóstico sombrio, a mesma como coisas ou outros sentimentos nefastos
reportagem afi rma que temos uma visão es- dignos de pena. As crianças não esquece-
tereotipada sobre o distúrbio, costumamos ram ainda a essência espiritual que nos leva
pensar que o autista vai ficar batendo a ca- a alcançar o ato exclusivo do ser humano,
beça na parede e nunca se socializar. de criar e cuidar da criação junto ao Criador
O lúdico, João já encontrou, algumas ve- amoroso, de partilhar a solidariedade aos
zes, em brincadeiras no recreio ou através oprimidos que padecem. Venham as crianci-
da leitura. Muitas vezes observei no pátio do nhas, pois são delas as escolas públicas.
recreio, João dançar com músicas infantis e,
na biblioteca, sonhar através do colorido dos REFERÊNCIAS:
livros e de suas letras que atraem (ALVES,
2005). Ele sabe ler, e bem. Quando está na A APRENDIZAGEM na perspectiva piagetiana:
presença de alunos maiores e adolescentes, Como a criança aprende, segundo PIAGET.
fica à vontade para falar e expor seus de- Nova Escola. n. 75. jun./1994. p. 20-25.
sejos, ao contrário do que acontece quando
fica com colegas de sua idade. Portanto, ele ALVES, Rubem. Educação dos sentidos e
sente prazer, algumas vezes, em interagir, mais... São Paulo: Verus, 2005. 126 p.
em folhear os pensamentos das pessoas,
dos livros nas estantes. Prazer em brincar BERGAMINI, Cecília. Whintarker. Psicologia
e interagir ao tentar ser príncipe, palhaço aplicada à administração de Empresas: psi-
ou super-herói. A relação do autista com o cologia do comportamento organizacional. 3.
lúdico é muito particular, uma peça teatral ed. São Paulo: Atlas, 1982. 175 p.
em monólogo.
A comunidade escolar, sobretudo as po- BÍBLIA. Português. A Bíblia Sagrada: con-
líticas públicas, deve acolher e incluir essas tendo o velho e o novo testamento. Rio de Ja-
pessoas especiais. As escolas devem levar em neiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1962.
conta os pilares educacionais, a experiência
global da inclusão de pessoas com necessi-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Construindo o conhecimento em um mundo particular de... Danilo Dias Leal

BOCK, Ana Bahia; TEIXEIRA, M.T.; FURTA-


DO Odair. Psicologias: uma introdução ao
estudo de Psicologia. 4. ed. São Paulo: Sarai-
va, 1991. 284 p.

BRASIL. Lei n. 9.394/96: Estabelece as dire-


trizes e bases da educação nacional. Brasília,
20 de dezembro de l996.

DELOURS, Jacques. Os quatro pilares da


educação. In: DELOURS, Jacques. Educa-
ção: um tesouro a descobrir. 6. ed. São Pau-
lo: Cortez, 2001. cap. 4, p.89-117.

FALCÃO FILHO, J. Coordenador Pedagógico.


In: Presença Pedagógica. Belo horizonte, v.
13. n. 75. maio/jun. 2007. p. 48-58.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

FERREIRA, Naura Syria (org.) C. Supervisão


educacional para uma escola de qualidade.
São Paulo: Cortez, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 18.


ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. 184 p.

FREIRE, Paulo. A sombra desta mangueira.


São Paulo: Olho D’água, 1995.

NOGUEIRA, Sônia. Um novo olhar sobre o


mundo oculto do autismo: O Brasil pode ter
um milhão de casos não diagnosticados. In:
Época. São Paulo: Globo. n. 473. jun./2007.
p. 76-85.

RANGEL, Mary. Supervisão: do sonho à ação


- uma prática em transformação. In:

37
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 10
AUTORA:
Dayse Monique Tavares Zanitti

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

HIPERATIVO OU AGRESSIVO? A INTERVENÇÃO DA ESCOLA COM NÃO


ACEITAÇÃO DA FAMÍLIA

dores trabalham com os alunos um proje-


Resumo to denominado “Educação para a Paz”. Não
O objetivo deste artigo é apresentar um estudo de caso de há a disciplina de Ensino Religioso, mas o
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

uma escola da rede privada em Belo Horizonte e mostrar aprendizado é relacionado à educação com
a importância da participação da família na vida escolar os demais conteúdos, preservação do meio
de uma criança. Os pais não devem fechar os olhos para a ambiente e a paz, pois a escola é um lugar
realidade. Os problemas de desenvolvimento são bem co- de transformação do mundo. É importante
muns na educação infantil, com crianças entre 3 e 6 anos ensinar a pensar, a enfrentar desafios inter-
de idade, quando muitas têm o primeiro contato com ou- nos e externos, a prevenir e resolver conflitos
tras crianças de sua idade. de uma maneira pacífica, a desenvolver uma
espiritualidade sem dogmas, a expressar os

U
m dos grandes problemas encontra- valores humanos no nosso cotidiano. A Edu-
dos nas escolas públicas e privadas cação para a Paz prepara crianças e jovens
são crianças que apresentam altera- para a vida.
ções de comportamento, muitas chegando a A escola é um espaço essencial para o de-
ser agressivas com os colegas. senvolvimento de toda criança, pois é a par-
Marcos era uma criança aparentemente tir daí que se inicia um trabalho de educação
normal. Nos primeiros dias de aula, aparen- para o processo de socialização da criança e
tava ser muito educado com os colegas e os o mundo, ajudando-a na aquisição de valo-
professores, mas, com o passar do tempo, res éticos e morais, na construção da iden-
se mostrou uma criança sem limites, des- tidade e na capacidade de se relacionar e
respeitando os professores, agredindo física interagir.
e verbalmente os colegas. É um menino de Marcos e alguns outros alunos contam
apenas 5 anos de idade, que chegou a ser com um acompanhamento periódico de Neu-
“expulso” das escolas anteriores, pois a ges- rologista, Psiquiatra e Psicólogo, profissio-
tão alegava não ter métodos para trabalhar nais que realizam um trabalho de equipe
com ele. com a família e a escola.
Marcos é um menino diferente de muitos, Mas nem sempre foi assim. Os alunos que
pois tem uma vida confortável, seus pais lhe apresentavam alguma alteração comporta-
dão tudo o que ele pede, nunca ouviu a pa- mental eram classificados sumariamente
lavra NÃO, que não existe em seu dicionário, como hiperativos, tanto para a escola, quan-
então ele age de forma incorreta, pois sem- to para os pais. Segundo os profissionais da
pre é “perdoado” pelos seus erros. saúde, hoje só se pode dizer que uma crian-
Este ano ele vai mudar mais ainda, diz ça é hiperativa após passar por consultas
Mirian , Coordenadora da Educação Infantil, médicas. E a avaliação é realizada em parce-
que trabalhou 11 anos como professora e há ria com a escola, pois ninguém melhor que
3 anos coordena alunos e professores nesta o professor para observar o comportamento
mesma escola. do aluno.
Para Mirian, Marcos é uma criança como Marcos, segundo os diagnósticos apresen-
as demais, porém cada criança é única, sen- tados pelos pais de uma Neurologista e uma
te e pensa de uma forma diferente, tendo Psicóloga, é hiperativo, mas, muito antes dis-
o seu diferencial, e nesta escola os educa- so, seus pais não aceitavam a situação e di-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Hiperativo ou agressivo? A intervenção da escola com... Dayse Monique Tavares Zanitti

ziam que a criança era apenas “agitada e ba-


gunceira”. Em reunião, os pais confessaram
à coordenadora que existe algo além. Marcos
é uma criança sem limites e agressiva, e os
pais disseram que nunca negaram nada a
ele, brinquedos, passeios, ele tem tudo o que
quer e faz o que quer até mesmo com eles, e
com lágrimas nos olhos a mãe disse ter sido
agredida diversas vezes quando ele lhe pedia
algo e ela não o atendia de imediato.
Hoje, na escola, Marcos está aprendendo
que existem regras e que devem ser cum-
pridas. Em outra época, ele não respeitava
nada nem ninguém, não respeitava o cha-
mado da professora, não compartilhava o
computador com outro colega, não organiza-
va sua cadeira, e certa vez chegou a desligar

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


da tomada todos os computadores dizendo
que ninguém mais ia jogar. Imediatamente
foi levado à sala da coordenação e foi repre-
endido pelo seu ato. Em represália, agrediu
a professora e começou a bater nos colegas.
Os pais foram convocados e comparece-
ram na escola. A Coordenadora explicou a
situação e a mãe se negava a aceitar, mas
acabou compreendendo. Então, em parceria
com sua psicóloga, a escola e a família se
reúnem semanalmente para tratar do desen-
volvimento do Marcos.
Marcos não participa das aulas em tempo
integral, ele vai à escola durante a semana,
uma hora por dia, apenas para participar de
alguma atividade, com acompanhamento de
uma estagiária de Pedagogia com Ênfase em
Necessidades Educacionais Especiais
Depois dessas intervenções, o comporta-
mento de Marcos melhorou bastante, é notá-
vel e significativo. Esses resultados só foram
possíveis graças, principalmente, ao apoio
da família, que é a base de tudo, e ao apoio
da escola em acreditar nele e querer ajudá-lo
a mudar sua história de vida.

REFERÊNCIA:
ROHDE, Luis Augusto P.; BENCZIK, Edylei-
ne Belline Peroni. Transtorno de déficit de
atenção/Hiperatividade: o que é? como aju-
dar?. Porto Alegre: Artmed, 1999.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 11
AUTORA:
Deise Keli de Souza

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DIREITOS LEGAIS X DIREITOS REAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

TDA, como:
Resumo
• Tem dificuldade de manter a atenção em
Este artigo busca, a partir de um caso real, discutir os di-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

tarefas ou atividades lúdicas.


reitos de proteção, garantidos à criança.
• Evita, não gosta, ou fica relutante em se en-

P
gajar em tarefas que necessitem de esforço
edro é visto como uma pedra por onde
1
mental contínuo.
passa. Ele tem dez anos, mas é larga-
mente conhecido na rede municipal da • É facilmente distraído por estímulos
cidade onde estuda. externos.
O histórico familiar e social desse aluno • É inquieto, fica com as mãos e os pés se me-
é bastante conturbado. Sua mãe foi assassi- xendo, constantemente, quando sentado.
nada quando ele tinha alguns meses de vida,
• Deixa seu assento na classe ou em outras
e ele estava no colo dela. Daí em diante, ele e
situações quando se espera que permaneça
seu irmão, apenas um ano mais velho, foram sentado.
criados em um barracão com o pai, que é
alcoólatra e bastante violento, a avó, que diz • Corre ao redor, ou sobe nas coisas, em situ-
já ter se cansado dos problemas causados ações em que isso não é apropriado.
pelos netos, algumas tias, que não veem es- • Tem dificuldade em brincar ou se engajar
sas duas crianças como alguém que merece em atividades de lazer de forma quieta.
e necessita de cuidados, e dois primos. • Tem dificuldade para aguardar pela sua
Assim, sua vida não está de acordo com vez.
as necessidades de uma criança para seu
desenvolvimento sadio e harmonioso, com Diante de tais características, seu caso
condições dignas de sobrevivência e protegi- foi notificado ao Conselho Tutelar da cidade.
da de negligência, maus-tratos ou qualquer O Conselho Tutelar, em ação conjunta com
fator que possa prejudicar seu desenvol- a escola, o encaminhou várias vezes para
vimento físico, mental, espiritual, moral e atendimento no NAPSI (Núcleo de Atenção
social, como é legalmente é garantido pelo Psicossocial à Infância) da cidade e para o
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA CRAS (Centro de Referência e Assistência
(1990) e pela Convenção sobre os Direitos da Social). A família, porém, não o levou, fa-
Criança (1989). zendo com que esse acompanhamento fosse
Pedro bate em todos os colegas, responde abandonado.
agressivamente todos os funcionários, não Ano passado, aos nove anos, Pedro foi le-
permanece em sala, não faz as atividades, vado para um abrigo da cidade vizinha, por
não tem o hábito de levar o material necessá- ordem judicial, conseguido pelo Conselho
rio e nunca entregou qualquer atividade ex- Tutelar. No entanto, um dia após chegar ao
traclasse. No entanto, possui duas peculia- abrigo fugiu e, quando perceberam, ele já
ridades, raramente falta e está alfabetizado. havia tomado um ônibus e chegado de volta
Observando-o, é possível perceber vários em casa.
sintomas que apontam para diagnóstico de Este ano, após inúmeros transtornos cau-
casos de Transtorno do Déficit de Atenção – sados na escola do bairro, ele foi transferido
para uma do bairro vizinho. A justificativa
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Direitos legais x Direitos reais: algumas considerações Deise Keli de Souza

apresentada para a transferência foi o fato mesmo tempo, é fato que, apesar de passar
de a escola fazer parte do projeto “Jornada cinco horas diárias na escola, as outras de-
Ampliada”. Com esse projeto, os alunos fi- zenove horas do dia e os fi nais de semana
cam uma hora a mais por dia na escola e são em casa.
têm acesso a oficinas de dança, informática, O controle da dosagem e do horário dos
música e outras. Assim, Pedro teria na esco- remédios é impossível ser feito pela escola.
la um tempo maior de assistência, já que a Mas deveria ser averiguado se as reações
família defi nitivamente não a oferece. percebidas são as esperadas para o caso ou
Na nova escola, a coordenação e direção não. Nesse caso, outras medidas, como uma
levaram-no ao neurologista que atende na nova notificação ao Conselho Tutelar, preci-
policlínica da cidade. Lá, por não tratar de sam ser tomadas, pois agora existe um risco
crianças, o médico o encaminhou para um de morte para essa criança. Medicamentos
psiquiatra infantil. Com algumas interven- como esses podem levar ao óbito, no caso de
ções junto à Secretaria Municipal de Edu- não serem tomados adequadamente.
cação, foi conseguido o agendamento dessa É lindo ver leis que tratam dos direitos da
consulta pelo SUS, na área hospitalar do criança e se preocupam com eles, leis que
centro de Belo Horizonte. Nenhum familiar tratam do respeito e da assistência para seu

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


se dispôs a levá-lo. Dessa forma, o diretor da desenvolvimento pleno. No entanto, é lamen-
escola e uma funcionária da Secretaria de tável constatar que leis escritas em papéis
Educação levaram-no. não garantem que uma criança de dez anos,
O diagnóstico do médico foi hiperativida- efetivamente, desfrute desses direitos.
de, não eximindo a possibilidade de algum
outro distúrbio, síndrome ou transtorno. REFERÊNCIAS:
Porém, segundo ele, tais investigações só
poderiam ser feitas após o controle da hipe- BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990.
ratividade. Para isso, foram receitados três Estatuto da Criança e de Adolescente. Bra-
medicamentos. A família, ao ser comunica- sília: MEC, ASC, 2005.
da, se comprometeu a ministrar o medica-
mento. No entanto, tem-se notícia de que é MATTOS, Carlos; THOMPSON, Rita; MOUSI-
a própria criança vem tomando sozinha os NHO, Renata. (Orgs.). Psicomotricidade clí-
medicamentos. Não se sabe ao certo se esses nica. São Paulo: Lovise, 2000.
medicamentos estão sendo tomados correta-
mente. Afi nal o comportamento de Pedro tem ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Con-
oscilado muito. Há dias em que ele chega à venção sobre os Direitos da Criança, 20
escola e praticamente destrói a biblioteca e nov. 1989.
outros em que dorme em qualquer lugar que
encosta. SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão, paradig-
Toda criança, segundo o ECA, tem direi- ma do século 21. Revista da educação espe-
tos fundamentais: à vida, à saúde, ao respei- cial. Out./2005, p.19-23.
to, à dignidade, à educação, ao lazer, dentre
outros. E quando a família não assume essa
responsabilidade, o Estado passa a tê-la,
proporcionando meios para que os direitos
fundamentais da criança sejam respeitados.
Afi nal, em relação ao meio escolar, não bas-
ta que Pedro esteja integrado.
Sassaki (2005) alerta para o perigo da
integração. Integrar – manter a criança inse-
rida no meio –, não é incluir – proporcionar
formas para que a criança faça parte do meio
– e isso pressupõe, muitas vezes, adequações
físicas, humanas e técnicas. A escola talvez
não tenha sido, até então, persistente o su-
ficiente em suas tentativas de intervenção.
Talvez falte alguém para conduzir e coorde-
nar, com pulso e perseverança, esse caso. Ao

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 12
AUTORA:
Elisabeth Efigênia Duarte Severino Aleme

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

EDUCAÇÃO INFANTIL - TRANSTORNO SÓCIO AFETIVO NO ATO


EDUCATIVO

ação de descontrole da aluna. Além disso,


Resumo pequenos furtos começaram a ser identifi-
Educar é uma tarefa complexa e exige dos educadores cados na sala de aula, agravando-se ainda
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

constante reflexão sobre sua prática. Como garantir à mais as relações com colegas.
criança o desenvolvimento do conhecimento escolar frente O clima da sala de aula confi rma que o
a influências e possíveis dificuldades do cotidiano? Como processo de socialização abrange bem mais
a escola pode viabilizar sua função de socializar o aluno? que uma formação de hábitos e atitudes para
a vida em sociedade, envolve a vivência de
ritos, valores e a compreensão da produção

A
escola constitui-se como um espaço humana, ou seja, a construção do conheci-
que pode viabilizar a construção dos mento escolar.
conhecimentos científicos, mas de Segundo a professora, a aluna precisava
forma a satisfazer as necessidades do aluno de um acompanhamento e pediu ajuda à
tanto nas capacidades intelectuais como nas orientadora. Montalvão (1980, p. 92) afi rma
sociais. Nessa perspectiva, o relato de uma que “essa criança levará consigo essa marca
aluna socioeconomicamente menos favoreci- durante muitos anos e nunca recuperará
da pretende demonstrar as ações educativas a confiança perdida”. No entanto, Vygotsky
que foram necessárias para a sua permanên- aponta os conhecimentos científicos formais
cia na escola, bem como refletir em relação à que ocorrem na escola com as interações
importância dessas ações no desenvolvimen- entre as professoras e as crianças, que
to da aluna. acontecem por meio de orientação intencio-
Em 2008, a aluna Maísa1, de 6 anos, foi nal e explícita, no sentido de proporcionar
matriculada na 1ª série do Colégio Laurea- o aprendizado desses conhecimentos siste-
no. 2 Dada sua situação socioeconômica, foi- matizados, como um campo propício para
lhe concedida uma bolsa de estudos, já que que as crianças possam gradativamente dar
a escola é uma entidade fi lantrópica. significados e simultaneamente organizar
Em sala de aula, a professora constatou um novo mundo.
que seus comportamentos e atitudes eram Nesse sentido, para o levantamento do
atípicos em relação aos dos colegas e, a cada histórico de vida da aluna, foi realizada
dia, apresentava atitudes de agressividade, uma conversa com a aluna sobre sua vida
não conseguia acompanhar as atividades cotidiana, seu relacionamento com a família
dadas. Chorava com frequência e tinha difi- e com outras pessoas. A menina disse que
culdade para se relacionar com os colegas. gostava muito dos tios e da avó e que todos
Para a professora, a dificuldade concen- gostavam dela. Ela disse que gostava da es-
trava-se no excesso de atenção exigida pela cola. Posteriormente, a coordenadora pediu a
aluna para conseguir realizar parte das presença da responsável: a avó. Esta descre-
atividades e atender a uma das funções da veu situações da vida cotidiana de Maísa. A
educação infantil, que é a socialização da aluna não tem pai nem mãe e sofreu abuso e
criança. Para os colegas de sala, o transtor- tortura quando em companhia de seus pais.
no era a desconcentração advinda da situ- Algum tempo depois, Maísa foi abandonada
pelos pais e atualmente é criada pela avó.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.
Diante dos relatos, a coordenadora con-
2. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Educação infantil - transtorno sócio afetivo no ato educativo Elisabeth Efigênia Duarte Severino Aleme

seguia compreender melhor a dificuldade MONTALVÃO, Alberto. Psicologia Aplicada ao


apresentada pela aluna. comportamento. Relações Públicas Huma-
Para a coordenadora, seria necessário, nas. São Paulo: Editorial Novo Horizonte S.A.
primeiramente, um trabalho para elevar a V. II, 1980.
autoestima da aluna, com oficina terapêu-
tica em encontros semanais. Após algumas
semanas, a aluna começou a apresentar
avanços, e demonstrava felicidade ao voltar
para a sala de aula, ao realizar as atividades
e ao socializar-se com os colegas de sala.
Os colegas, a princípio, sentiram “inveja”
pelo tratamento individualizado dado à Ma-
ísa, mas entenderam a razão e o clima na
sala entrou na normalidade para desenvol-
vimento das atividades.
A partir desse entendimento, percebe-se
que a escola pode funcionar como instru-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


mento que viabilize situações que permitam
ao indivíduo viver como ser humano sociável.
Nesse sentido Freire (1983, p. 27) afi rma: “o
homem é um ser inacabado que se move em
direção a ser mais, a se completar, o proces-
so nunca se conclui”. E o espaço escolar é
campo favorável e concreto para ações que
promovam essas mudanças.
Para apoio pediu-se a ajuda de um psicó-
logo para se trabalhar a questão do trans-
torno socioafetivo da aluna. A aluna faz
psicoterapia e vem respondendo de maneira
significativa no processo ensino-aprendiza-
gem e nas relações cotidianas.
Como vimos, educar é uma tarefa comple-
xa, que exige dos profissionais habilidades e
competências diversificadas para responder
aos anseios e às necessidades dos alunos e
de suas famílias.

REFERÊNCIAS:
BRUNO, Eliane Bambini Gorgueira, Desejo e
condições para mudança no cotidiano de uma
coordenadora pedagógica. In: PLACCO, Vera
Maria de Souza, ALMEIDA, Laurinda Rama-
lho de (Orgs.). O coordenador pedagógico
e o cotidiano da escola. 5. ed. São Paulo:
Loyola, 2008.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio


de Janeiro: Paz e terra, 1983.

GOULART, Maria Inês Mafra. A criança e a


construção do conhecimento. In: CARVALHO,
Alysson, SALLES, Fátima. GUIMARÃES, Ma-
rília (Orgs.). Desenvolvimento e Aprendiza-
gem. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 13
AUTORA:
Elizabeth Silvana de Oliveira Satil

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

COMO A GESTÃO ESCOLAR ACOMPANHA OS ALUNOS COM HIPERATIVIDA-


DE (TDAH)

Eduardo tem estudado muito a respeito


Resumo desses casos e realiza um acompanhamento
Este artigo faz uma análise sobre os vários diagnósticos desses alunos. Geralmente, ele conversa com
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

de TDAH usados como uma justificativa confortável o aluno e, num momento preciso, convida os
para o fracasso escolar. pais para uma conversa com a fi nalidade de
expor as dificuldades do fi lho.

A
escola onde foi realizado o estudo de Nessas conversas costuma identificar al-
caso atende a alunos do maternal ao guns fatos que ajudam a explicar o problema:
ensino fundamental. O coordenador mães que tiveram uma gravidez difícil, pais
pedagógico alega que, embora isso não seja com relacionamentos confl ituosos, separa-
claro para a Direção, ele caracteriza a insti- ções dos pais, dentre outros. A partir dessa
tuição como inclusiva. Informa que recebem conversa, orienta os pais para que procurem
alunos com suspeita de Transtorno do Déficit um profissional, psicólogo ou psicopedagogo,
de Atenção com Hiperatividade e alguns são para o fi lho. Após o diagnóstico do profissio-
matriculados com o diagnóstico de TDAH. nal, esse aluno recebe acompanhamento da
Buscando informações a respeito do coordenação da escola e do corpo docente.
Transtorno do Déficit de Atenção com Hi- Segundo o coordenador, muitas escolas
peratividade, descobre-se que é um trans- ainda tentam ignorar os alunos com TDAH,
torno neurobiológico, de causas genéticas, mas, na realidade, esses alunos estão por
que aparece na infância e, frequentemente, toda parte. Cabe à escola e aos seus pro-
acompanha o indivíduo por toda a sua vida. fissionais se adaptarem, buscando juntos
Ele se caracteriza por sintomas de desaten- informações a respeito de como atender
ção, inquietude e impulsividade. melhor esses alunos no processo de ensino-
Eduardo1, coordenador da escola, informa aprendizagem.
que, a princípio, encontrou dificuldades em Eduardo citou o caso do aluno Caio 2 . Ele
receber esses alunos por falta de apoio. Os chegou à escola com muita dificuldade na
professores, geralmente, não possuem capa- aprendizagem, desatenção, lentidão na assi-
citação para lidar com TDAH, o que torna milação de conteúdos disciplinares e medo
difícil o processo de ensino-aprendizagem de socializar-se. Os pais admitiam o fato e
dos discentes. informaram a respeito de suas expectativas.
O coordenador diz que, mesmo com as Caio recebeu o diagnóstico de TDAH e hoje
dificuldades, tem conseguido realizar um recebe acompanhamento de uma psicóloga,
trabalho que amenize os problemas no aten- apoio escolar e atenção de uma estagiária
dimento desses alunos. Alguns pais matri- que o ajuda nas atividades.
culam seus fi lhos cientes das dificuldades O coordenador diz que Caio vem progre-
deles e comunicam à supervisão, outros dindo bastante nas atividades escolares e na
casos são observados pela professora e di- socialização.
recionados à coordenação. Estes últimos, os A coordenação da escola procurou um
pais costumam criar resistência em admitir caminho seguro a trilhar com relação aos
a suspeita de TDAH. alunos com suspeita de TDAH (hiperativi-
dade) e aos casos já diagnosticados. Sendo
1. Nome fictício, para preservar a identidade do coorde-
nador pedagógico. 2. Nome fictício para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Como a gestão escolar acompanha os alunos com hiperatividade (TDAH) Elizabeth Silvana de Oliveira Satil

significativo o número de alunos com hipe-


ratividade (TDAH), ignorá-los ou dizer que o
problema não está no âmbito escolar não re-
solveria o problema e sim criaria outros. Os
professores não conseguiriam desenvolver o
seu trabalho e muito menos a gestão escolar,
comprometendo-se o curso das atividades
escolares.

REFERÊNCIA:
ROHDE, Luis Augusto; BENCZIK, Edyleine.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hipera-
tividade. Porto Alegre: Artmed, 2006.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 14
AUTORA:
Érika Amanda de Freitas Machado

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

COMO AS DIFICULDADES PODEM LEVAR À MELHORA DO PROCESSO


ENSINO-APRENDIZAGEM

silêncio. Em decorrência dessa situação, o


Resumo desempenho da turma sofreu um déficit,
O presente artigo relata o caso de uma aluna com Trans- motivo pelo qual a professora foi chamada
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

torno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) a conversar com a Coordenadora para expor
e as tentativas da escola e da família para amenizar as os fatos que pudessem ser as causas da que-
dificuldades que inviabilizavam o processo de ensino- da do desempenho daquela turma.
aprendizagem. Ao descrever a situação para a Coordena-
dora, a professora relatou os motivos reais

M
organa1 iniciou sua vida escolar em da queda do rendimento da turma: a agita-
2007, aos 6 anos, em uma escola ção de Morgana na sala de aula resultava em
da Rede Municipal de Ensino. Hoje, distração dos demais alunos, o que dificul-
aos 7 anos, está no segundo ano do Ensi- tava e muito o trabalho pedagógico na sala.
no Fundamental. Sua adaptação foi difícil, Diante do relato, a coordenadora começou
pois ela nunca havia participado de uma o estudo de caso de Morgana, não só para
rotina escolar e, consequentemente, desco- ajudá-la a conseguir acompanhar as aulas,
nhecia as regras e os tempos de realização mas também para que a professora conse-
de cada atividade. A professora do primeiro guisse ensinar sem maiores problemas, al-
ano relatou que os combinados feitos com guma atitude deveria ser tomada.
a turma não eram respeitados por Morgana, A Coordenadora e a professora se reuni-
que sempre queria sobrepor suas vontades ram com os pais da aluna, que foram in-
às determinações da professora. formados sobre o comportamento da fi lha
A aluna sempre se mostrou muito inte- em sala de aula. E se preocuparam, pois
ressada em descobrir os espaços da escola, esse comportamento agitado de Morgana
se destacava em atividades ao ar livre e, se repetia em casa. Apesar de a criança ser
principalmente, nas aulas de Educação Físi- obediente aos pais, principalmente ao pai,
ca. Em sala de aula, Morgana demonstrava ela apresentava impaciência ao assistir tele-
interesse somente pelo início das atividades visão, por exemplo. Estava sempre cantan-
propostas, o que pareceu normal aos olhos do; conversando, mesmo com os brinquedos;
da professora que, com frequência, alterna- mexendo em algo; tentando atrair para si
va as atividades para toda a turma, a fi m a atenção de todos a sua volta. Enfi m, era,
de que não os expusesse a uma rotina can- sem dúvida, uma criança inquieta.
sativa, afi nal, crianças de seis anos não se Orientados pelos profissionais da escola,
concentram em atividades longas por muito os pais da aluna procuraram um pediatra,
tempo. que os encaminhou a um neurologista. O
No início de 2008, no segundo ano, o en- neurologista diagnosticou que Morgana
tendimento de Morgana frente às regras e apresentava Transtorno do Déficit de Aten-
aos combinados em sala já estava evidente, ção com Hiperatividade (TDAH), e que seria
porém seu comportamento não era o espe- necessária uma medicação que controlaria
rado. Frequentemente, a professora, a mes- os sintomas apresentados, deixando-a me-
ma do ano anterior, precisava chamar-lhe a nos agitada.
atenção, pedir que se assentasse ou fi zesse Os pais, receosos, somente após dois diag-
nósticos de médicos diferentes aceitaram
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Como as dificuldades podem levar à melhora do processo... Érika Amanda de Freitas Machado

iniciar o tratamento medicamentoso. Ao ini- que o trabalho pedagógico fosse repensado,


ciar a medicação, Morgana era visivelmente gerando uma nova forma de organização da
outra criança, menos agitada, se mantinha rotina em sala de aula e permitindo a melho-
assentada todo o tempo e seu ritmo diário ra do desempenho de toda a turma.
diminuía a cada dia. Nem mesmo as aulas
de Educação Física eram desempenhadas REFERÊNCIA:
com todo o vigor de uma aluna que gostava
tanto da atividade. Após um mês de trata- VERMES, Joana Singer. Sobre livros: Tera-
mento, Morgana começou a sentir-se mal, pia cognitivo-comportamental no transtorno
ficava indisposta quase todos os dias. de déficit de atenção/hiperatividade (manual
O fato foi comunicado aos pais, que deci- do terapeuta e manual do paciente). Revis-
diram suspender a medicação. Desde então, ta Brasileira de Terapia Comportamental e
a aluna voltou a se comportar como antes. Cognitiva, Campinas, v. VI, n. 1, p. 72-73,
Outra providência deveria ser tomada. 2002.
Após a interrupção do tratamento, os
pais foram chamados à escola novamente
e orientados a procurar um psicólogo. Feito

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


isso, Morgana começou a ser acompanhada
por uma psicóloga que também atendia a
outros alunos da escola. A solução encontra-
da pela escola e pela família foi compreender
e amenizar os sintomas provocados pelo
TDAH, para que Morgana pudesse se con-
centrar mais, melhorar o comportamento e,
consequentemente, aprender e avançar nos
estudos.
Segundo Vermes (2002), o fato de profes-
sores, pais, psicólogos aceitarem que o TDAH
é um déficit de origem neurológica, possi-
bilita intervenções que podem contribuir e
concorrer para a minimização ou até mesmo
superação dos problemas identificados.
O acompanhamento psicológico ao qual
Morgana foi submetida permitiu à aluna uma
melhora lenta, mas gradual, que foi perce-
bida por todos. Ainda havia necessidade de
se chamar sua atenção, às vezes ela se dis-
persava, outras vezes se recusava a realizar
as atividades e conversava muito, distraindo
outros colegas. Contudo, essas atitudes se
tornavam cada vez menos recorrentes.
Através da experiência vivida pela pro-
fessora, ela aprendeu a conviver com as
dificuldades da aluna e dela mesma e a
trabalhá-las. Essa profissional percebeu
que seus limites estavam rígidos demais, e
ainda, que, se ela se preocupasse em atrair
a atenção dos alunos e principalmente de
Morgana com atividades mais diversifica-
das e atrativas, a disciplina se manteria por
consequência.
O trabalho compartilhado entre os pro-
fissionais da escola conduzido pela Coorde-
nadora Pedagógica e a relação entre escola e
família permitiram os avanços constatados
e foram de fundamental importância para

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 15
AUTORA:
Gabriela dos Santos Ferreira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DEPRESSÃO NA INFÂNCIA: A RELEVÂNCIA DA ESTRUTURA E DO SUPORTE


FAMILIAR NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

quenta o segundo ano do ensino fundamen-


Resumo tal numa escola pública da rede estadual
O presente artigo tem por objetivo apresentar o estudo de ensino da cidade de Belo Horizonte, e
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de caso realizado em uma escola pública, com um aluno apresenta baixo desempenho no processo de
do ensino fundamental que apresenta depressão infantil, ensino-aprendizagem.
causada pela falta de afetividade e de estrutura familiar. Segundo a professora, durante sua per-
manência na escola o garoto evidenciava,

A
família é essencial para o desenvol- frequentemente, cefaléia, dores abdominais,
vimento do indivíduo, independen- diarréia, falta de apetite, muito sono, irri-
temente de sua formação; é no meio tabilidade, agressividade com todos, choro
familiar que o indivíduo tem seus primeiros sem razão aparente, dificuldades cognitivas,
contatos com o mundo externo. Essa con- comportamento antissocial, indisciplina e
vivência é fundamental para que a criança está envolvido com frequência em situações
se insira no meio escolar sem problemas de que oferecem perigo à sua integridade física.
socialização e interação. A família deve aco- Essa situação foi confi rmada por sua pro-
lher a criança, oferecendo-lhe um ambien- fessora do primeiro ano, que admitiu não ter
te estável e amoroso. Muitas, infelizmente, tomado qualquer providência.
não conseguem manter um relacionamento Segundo Briza e Del Claro (2005), para
harmonioso. que o professor possa ajudar o aluno, é ne-
Sabemos que a família ocupa uma posição cessário que se estabeleça uma relação de
de total acuidade para a garantia da assis- amizade e confiança. E esta foi a primeira
tência dos fi lhos, sendo que é essa instituição razão de mudança da professora. João criou
que propicia os aportes afetivos e, sobretudo, um grande carinho por ela, mas isso não foi
materiais necessários ao desenvolvimento e o suficiente, pois o garoto apresentava as
bem-estar. A lei garante a participação dos mesmas patologias. No entanto, passou a
fi lhos no processo de ensino-aprendizagem, respeitar a professora e a ter pequenas con-
todavia, nem sempre as famílias se dispõem versas, numa das quais relatou que a mãe só
a essa participação. O dever da família com se importava com o namorado e o pai nunca
o processo de escolaridade e a importância ia vê-lo. Os raros momentos que ele passava
da sua presença no contexto escolar é publi- com aos pais eram para presenciar cenas de
camente reconhecido na legislação nacional violência física. Assim preferia passar o dia
e nas diretrizes do Ministério da Educação. na rua, pois seus amigos lhe davam atenção.
Afetividade é um dos subsídios que com- É evidente que essa criança não é assistida
põem o ser humano e norteiam o seu com- pelos pais.
portamento; se o indivíduo não consegue Após esta observação, foi solicitada a pre-
exteriorizar suas emoções, possivelmente sença da mãe na escola para ser posta a par
ele se frustrará e não alcançará claramente de toda a situação. Ela relatou à professora e
seus objetivos, podendo até mesmo se preju- à coordenadora que, em relação ao compor-
dicar ou lesar outrem. tamento do fi lho, em casa não era diferente.
João1 é uma criança de sete anos, iniciou E segue dizendo que a situação se agravou,
a sua vida escolar no ano de 2008, hoje fre- passando o garoto a apresentar mudança
brusca de comportamento, após ela ter ar-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Depressão na infância: a relevância da estrutura e do... Gabriela dos Santos Ferreira

rumado um namorado que recebia em sua compreender a afetividade humana e enca-


casa. Os três compartilhavam a mesma minhar as situações com certa sabedoria.
cama. A mãe confessou não dar mais tanta
atenção ao fi lho, pois estava muito envolvida REFERÊNCIAS:
com o novo relacionamento. E a presença do
fi lho remetia à imagem do ex-marido, que a BRIZA, Lucita; DEL CLARO, Pricila. Aluno
agrediu diversas vezes. Além dessas infor- agressivo? Ele precisa de afeto e de limites.
mações, foram relatadas diversas situações Nova Escola, São Paulo, Ano XX, n. 184, p.
de falta de cuidados afetivos familiares com 38-39, ago. 2005.
João. Quando o pai foi chamado à escola, ele
se recusou e disse que não queria contato ROTONDARO, D. P. Os desafios constantes
com o “suposto” fi lho. de uma psicóloga no abrigo. Psicologia: Ciên-
Diante desse quadro, foi sugerido pela es- cia e Profissão, 3, 2002, p. 8-13.
cola um acompanhamento psicológico, com o
qual a mãe, a princípio, concordou, mas não VIEIRA, Marili M. da Silva. O coordenador
levou o fi lho. No entanto, a escola conseguiu pedagógico e o cotidiano da escola. 2003.
uma parceria com uma faculdade, e o garo-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


to foi acompanhado por estagiários e alunos
do curso de psicologia. Nos laudos psicoló-
gicos, foi diagnosticada depressão infantil,
apresentando núcleo depressivo significati-
vo e, consequentemente, intenso sofrimento
psíquico. Ficou bem claro que essa situação
afeta profundamente o seu rendimento es-
colar. Enfatiza-se, ainda, que a criança não
tem referência de família, e muito menos de
uma pessoa com bom comportamento den-
tro dessa instituição.
Segundo Rotondaro (2002), para que a
criança tenha um desenvolvimento emocio-
nal saudável, precisa de um ambiente fa-
miliar favorável, capaz de suprir adequada-
mente suas necessidades básicas, entre as
quais as de proteção e acolhimento. Quando
isso não acontece, a criança utiliza meca-
nismos de defesa específicos para lidar com
as dificuldades, comprometendo o desenvol-
vimento das estruturas de personalidade
que estão se formando na infância.
Após o início das sessões com os psicó-
logos, o comportamento da criança vem aos
poucos mudando, é perceptível que João está
mais centrado e não sofre com tantas dores.
A escola vem propondo novas metodologias
para ajudar os alunos e lhe atribuindo mais
atenção e afeto. Ainda não foi possível esta-
belecer uma relação estreita entre escola e
família. Mas João relatou que hoje sua mãe
lhe oferece mais carinho e amor.
O suporte familiar e uma boa estrutura
dessa instituição são de total acuidade. Se-
gundo Vieira (2003, p. 87), o coordenador
pedagógico tem que saber lidar com seus
sentimentos e de toda a sua equipe, os quais
podem ser contraditórios, assim é relevante

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 16
AUTORA:
Gislene Pereira das Graças

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DISTÚRBIOS EMOCIONAIS: UM DESAFIO NO ATO DE EDUCAR

João responde de forma precipitada an-


Resumo tes de as perguntas serem concluídas, fala
O presente artigo apresenta um estudo de caso realizado em excesso, distrai-se facilmente, comete
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

em uma escola da rede privada na região de Nova Lima. vários erros por descuido, parece não ouvir
A escola é um microcosmo que reflete o mundo exterior. quando alguém lhe fala diretamente, perde
Problemas emocionais e comportamentais podem afetar objetos frequentemente e é agressivo com os
o processo de ensino-aprendizagem, gerando problemas seus colegas. Muitos até sentem receio em
peculiares que se projetam para além dos muros. fazer trabalhos com ele, que fica em grande
parte do tempo isolado da turma. Quando o

O
objetivo deste estudo é instigar o professor diz algum assunto que o interessa,
educador em relação aos problemas como televisão, videogames e outros, João
que podem ocorrer quando o educan- fica superconcentrado.
do sofre de pequenos distúrbios emocionais. A supervisora escolar, ao ser abordada
O motivo que desencadeou este estudo foi em relação ao aluno com dificuldade de
o interesse em pesquisar: até que ponto a aprendizagem, responde da seguinte forma:
atuação do professor e do supervisor pode “Se o aluno tiver dificuldade muito acentua-
interferir no processo de aprendizagem de da, converso com o psicólogo e comunico aos
crianças com hiperatividade, no Ensino pai. Dependendo da avaliação, será usado o
Fundamental. Na pesquisa, utilizei uma melhor meio para auxiliar o aluno.”
entrevista com a supervisora escolar e fiz Perguntada sobre as atividades sugeridas
uso de vários sites de busca e revistas que aos professores com alunos com dificulda-
me esclareceram como viver bem com a hi- des, ela respondeu: “Ajudo o professor para
peratividade ou com qualquer distúrbio de que ele se prepare adequadamente para re-
aprendizagem através de uma orientação ceber esse aluno e, se for o caso, o encami-
adequada. nho ao psicólogo.”
João1 é aluno do 7º ano e possui grandes De acordo com a supervisora, a escola
dificuldades de concentração. Os professores não teve acesso ao laudo do João, embora a
são graduados e participam, periodicamente, família afi rme que o possua. A única forma
de cursos de formação continuada. Os alu- que a escola tem para comprovar o distúrbio
nos demonstram interesse pelas aulas e são do aluno é o relatório dos professores, in-
bastante questionadores. A escola oferece cluindo também o boletim escolar.
uma infraestrutura adequada para crianças A família não é muito participativa e, mui-
e/ou adolescentes considerados “normais”. tas vezes, os professores ficam sem recursos
Os alunos com melhor desempenho têm os para trabalhar com o aluno.
pais mais participativos, ao contrário da- O supervisor escolar deve ser fonte de ins-
queles com baixo desempenho. piração dos seus professores, conduzindo-os
Suspeita-se que João tenha Transtorno de à criticidade da realidade e do mundo. A su-
Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, pervisora tenta fazer com que a família par-
uma doença de origem genética que pode ticipe mais vezes da vida escolar do aluno,
vir ou não associada à hiperatividade. Pode porque, de acordo com ela, poderá contribuir
aparecer antes dos três anos de idade. para um enorme avanço no desenvolvimento
dele.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

51
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Distúrbios emocionais: um desafio no ato de educar Gislene Pereira das Graças

O educador, por sua vez, deve sempre mo-


tivar o educando para que ele se interesse
pelos assuntos e temas tratados. Não é uma
tarefa fácil para o professor, mas é muito
gratificante quando se consegue que o aluno
fique atento e interessado. Nesse processo, é
importante considerar os interesses e a ba-
gagem cultural dos alunos. Uma atividade
prazerosa e que sirva de estímulo favorável
ao desempenho cognitivo da criança será
sempre bem-vinda.
Com crianças que apresentem problemas
ou dificuldades de aprendizagem, o super-
visor escolar precisa conhecer sobre as ca-
racterísticas dessas dificuldades, para po-
der contribuir para o seu desenvolvimento,
orientando professores e famílias na forma

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


como lidar com elas.

REFERÊNCIA:
KAPLAN, Harold I; SADOCK, Benjamin J;
GREB, Jack A. Compêndio de psiquiatria:
ciências do comportamento e psiquiatria.
Trad. Dayse Batista -7. ed. Porto Alegre: Art-
med, 1997.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 17
AUTORA:
Juliana Aline Pereira Felipe

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

O DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DE UM ALUNO COM LIMITAÇÕES QUE POSSI-


VELMENTE EXISTEM DEVIDO À PREMATURIDADE DO PARTO

de idade, e as aulas particulares para a rea-


Resumo lização das tarefas escolares.
O presente artigo tem por objetivo analisar a situação Mediante as informações prestadas, a su-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

cognitiva de um aluno novato, com determinadas limi- pervisora orientou os pais a requererem um
tações em relação ao seu desenvolvimento cognitivo, que, laudo psicológico do qual contassem infor-
de acordo com a psicóloga, podem ter surgido pelo fato de mações sobre o desenvolvimento do aluno.
seu parto haver sido prematuro. Passadas três semanas, os pais compa-
receram ao colégio com o laudo em mãos

R
odrigo1 é aluno da Escola Feliz2, um e o entregaram à coordenadora, que fez
colégio particular de Belo Horizonte, um estudo minucioso com a professora de
MG. Atualmente, o aluno se encon- Rodrigo. O laudo apresentou os seguintes
tra matriculado na 2ª Série, antiga 1ª Série. resultados:
Está com 7 anos. Rodrigo é um aluno dócil O aluno foi avaliado através da Escala de
e interessado, que se socializa muito bem Inteligência Wechsler – Wisc III e a Escala de
com os outros colegas. Contudo, ainda não Matrizes Progressivas – Raven – Escala Es-
adquiriu a leitura. Só reconhece letras e sí- pacial. Esses testes são usados para avaliar
labas isoladas, mas não as associa criando o desenvolvimento cognitivo, a inteligência,
palavras e frases. Sua atual professora pro- a memória e a situação neuropsicológica.
curou a supervisora para que agendassem Os resultados do Wisc III demonstraram
uma conversa com os pais do aluno e, quem uma maior habilidade verbal, obtendo uma
sabe, pudessem conseguir um avanço, tendo faixa média no desempenho do aluno, mas,
em vista que o aluno é bastante esforçado e quanto aos outros testes, foram observados
dedicado. pela avaliadora déficits na organização per-
A supervisora marcou um atendimento ceptual e pouca habilidade visomotora. Os
com os pais e a professora. Os pais compare- dados quantitativos da área executiva situa-
ceram prontamente ao atendimento e deram ram-se em faixa inferior, bem abaixo do es-
várias informações valiosas. Uma delas foi perado para a idade. O subteste que alcançou
a de que o aluno nasceu prematuro e ficou o pior desempenho foi o de aritmética, tendo
internado na UTI neonatal durante 62 dias. o aluno ficado com a pontuação de -4, sendo
Tem deficiência visual em decorrência do par- que o esperado para a faixa etária é de 3,47.
to prematuro. O aluno passou por um acom- Os subtestes de execução com desempenho
panhamento com um fonoaudiólogo durante mais fraco foram: completar figuras, arranjo
3 anos e atualmente recebeu alta, tendo em de figuras e cubos, subtestes altamente per-
vista que os principais distúrbios fonativos ceptivos que exigem organização espacial.
foram sanados. Além do atendimento fono- O teste de Raven mostrou deficiências
audiológico, o aluno passa por outros acom- pontuadas no teste que dizem respeito à
panhamentos, o psicológico, desde os 3 anos orientação espacial falha, muitos erros de
rotação de figuras. O aluno consegue re-
alizar tarefas que estejam relacionadas à
1. Nome fictício, para a preservação da identidade do linguagem matemática, nos seus conceitos
aluno. básicos, mas ainda não consegue realizar
2. Nome fictício, para a preservação da identidade da
operações simples com números.
escola.

53
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O desenvolvimento escolar de um aluno com limitações que... Juliana Aline Pereira Felipe

A analisar o laudo, a supervisora e a pro-


fessora chegaram à conclusão que, pelo fato
de o aluno não estar alfabetizado, pode ser
difícil prosseguir com os conteúdos escola-
res, tendo em vista as limitações do aluno.
No entanto, dada a sua disponibilidade e
abertura para aprender, a professora relatou
à supervisora que o aluno tem muito desejo
de aprender, mesmo que muitas vezes esteja
distraído. Percebe-se no aluno a frustração
por não conseguir o desempenho escolar
desejado.
A supervisora, a coordenadora e diretora
de ensino, em reunião, chegaram à conclu-
são que o aluno precisaria passar por um
processo de realfabetização. Além disso, a
diretora de ensino orientou a supervisora

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


para que aconselhasse aos pais levar o alu-
no a um neuropediatra, para avaliar se ele
possui limitações que sejam provenientes do
parto prematuro.
Os pais ouviram com atenção as colo-
cações da supervisora que fez a indicação
da consulta com o neuropediatra, além de
recomendar uma professora particular que
acompanhasse o processo de realfabetiza-
ção, para que o aluno não se sentisse frus-
trado nas atividades executadas em sala de
aula.
Os pais acataram o posicionamento da
supervisora, o aluno foi encaminhado à tur-
ma de 1ª série, enquanto aguarda o resul-
tado do laudo do neuropediatra para ver se
há algum tratamento específico para que ele
adquira as habilidades básicas de leitura,
escrita e desenvolvimento escolar.
O aluno não se sentiu desmotivado ao re-
tornar para a 1ª Série, muito pelo contrário,
ele mesmo relatou: “agora eu vou conseguir
aprender igual aos outros coleguinhas”.

REFERENCIAS:
COLE, Michel; COLE, Sheila R. O desenvol-
vimento da criança e do adolescente. 4. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2004. 800 p.

<http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-
7 9 7 2 2 0 0 2 0 0 0 3 0 0 0 1 4 -
&tlng=en&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 19
de maio de 2009.

<http://www.rhportal.com.br/artigos/wm-
print.php?idc_cad=ulk2y7pmq> Acesso em:
19 de maio de 2009.

54
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 18
AUTORA:
Kely Aparecida de Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

INDISCIPLINA: POSSÍVEL INDÍCIO DE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

ter outras informações importantes sobre


Resumo eles e, a partir daí buscar auxílio de outros
Este artigo trata de um estudo de caso realizado a partir profissionais.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

da percepção da indisciplina como indicativo de proble- No início do trabalho extraclasse, a su-


mas na aprendizagem. Foi baseado na entrevista com a pervisora pedagógica e a professora identi-
Supervisora Pedagógica de uma escola da rede estadual, ficaram que três dos cinco alunos seriam
em Ribeirão das Neves (MG), e na análise de relatório encaminhados para o Projeto Escola em
que continha as estratégias utilizadas no desenvolvimen- Tempo Integral, pois precisavam de incen-
to do trabalho de intervenção. tivo, sabiam ler e interpretar, mas tinham
baixa autoestima e não encontravam prazer

A
Supervisora Pedagógica, na entrevista, no que lhes era ensinado. Tinham “preguiça
comentou que este caso era apenas um de ler”, por isso atrapalhavam a atenção e
entre tantos vivenciados no cotidiano o aprendizado dos outros alunos. A partici-
de uma escola pública. O estudo de caso foi pação desses alunos no Projeto seria uma
realizado, a princípio, com cinco alunos na possibilidade de que o conhecimento fosse
faixa etária de 11 a 13 anos, matriculados produzido para uma transformação de atitu-
no 6º ano. Apesar de sua experiência, relatou de e abertura para o crescimento.
que foi a primeira vez que atendeu todos os A prática pedagógica adotada se baseou
professores se queixando dos mesmos pro- no pensamento de Paulo Freire (1996) de que
blemas na mesma sala de aula. Diante das “ensinar não é transferir conhecimento, mas
queixas, não apenas ela, mas a escola, foi se criar possibilidades para a sua produção
conscientizando das dificuldades dos profes- ou a sua construção”, e era exatamente o
sores em trabalhar com alunos com déficit que eles precisavam para se desenvolverem.
de aprendizagem, dificuldades de leitura e Consta no relatório que, após duas semanas
interpretação, e problemas disciplinares na no Projeto, os alunos se comportavam me-
mesma sala de aula, juntamente com outros lhor até nos momentos de refeição, liam e
alunos que não tinham melhor desempenho produziam bons textos.
por influência deles. Os outros dois alunos, um de 12 e outro
Devido à indisponibilidade dos profes- de 13 anos, irmãos, após o relatório enviado
sores para atendê-los de forma exclusiva, pela psicopedagoga e o relato dos pais so-
a supervisora decidiu reunir esses alunos bre a trajetória escolar deles, ressaltando
e fazer com eles um trabalho diferenciado. que o período introdutório foi interrompido
O objetivo era desenvolver atividades extra- algumas vezes devido a problemas familia-
classe, aproveitando algumas horas do tem- res, prosseguiram na oficina de leitura or-
po escolar para trabalhar a leitura, a escrita ganizada pela professora e pela supervisora.
e a interpretação em textos sobre valores, Precisavam, realmente, de atividades que
ética e educação, pois a maioria deles tinha propiciassem o letramento e de incentivo ao
comportamentos agressivos e antissociais. prazer de aprender através da leitura, da es-
Para dar início ao processo, foram reali- crita e da interpretação.
zadas reuniões com os pais desses alunos Conforme os Parâmetros Curriculares
para informar a sua situação na escola, Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa,
apresentar a proposta de intervenção, ob- (BRASIL, 1997),

55
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Indisciplina: possível indício de dificuldade de aprendizagem Kely Aparecida de Oliveira

o trabalho com leitura tem como finalidade REFERÊNCIAS:


a formação de leitores competentes e, con-
sequentemente, a formação de escritores BRASIL. Secretaria de Educação Fundamen-
[...]. Se o objetivo é formar cidadãos capazes tal. Parâmetros Curriculares Nacionais:
de compreender os diferentes textos com os Língua Portuguesa. Brasília: Ministério da
quais se defrontam, é preciso organizar o Educação e da Cultura, 1997.
trabalho educativo para que experimentem
e aprendam isso na escola. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia:
Saberes necessários à prática educativa. São
O trabalho foi desenvolvido com diversos Paulo: Paz e Terra, 1996.
tipos de textos, livros, vídeos nas aulas de
português e nas aulas extras com a única SOARES, Magda. Alfabetizar e Letrar: Um
professora que se propôs a participar do pro- Diálogo entre a Teoria e a Prática. Rio de Ja-
jeto de intervenção. neiro: Vozes, 2005.
Como afi rma Soares (2005),

não se ensina a gostar de ler por decreto, ou

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


por imposição, nem se formam letrados por
meio de exercícios de leitura e de gramática
rigidamente controlados. Para formar indi-
víduos letrados, a escola tem que desenvol-
ver um trabalho gradual e contínuo.

O trabalho contribuiu significativamente


para a melhoria da aprendizagem e do com-
portamento dos alunos, pois, a partir das
atividades diferenciadas e atrativas por elas
propostas, eles passaram a prestar mais
atenção em todas as aulas, a participar e
começaram a ajudar outros colegas.
Não foi apenas um trabalho de letramen-
to, mas um trabalho de socialização que in-
fluenciou positivamente no desenvolvimento
cognitivo, psicológico e social daqueles alu-
nos e, consequentemente, na melhoria do
processo de ensino-aprendizagem da sala de
aula da qual faziam parte.
A partir do caso relatado, podemos con-
siderar que o sucesso da avaliação e da
intervenção depende muito da capacidade
do pedagogo de busca, envolvimento, arti-
culação, acompanhamento e liderança, pois
a educação só fará a diferença na vida de
adolescentes, quando os profissionais envol-
vidos se tornarem mais comprometidos e se
contentarem apenas quando atingirem bons
resultados. Um estudo de caso não pode ser
simplesmente um documento para arquivo,
mas exemplo vivo de práticas pedagógicas
de qualidade.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 19
AUTORA:
Ladyane Raphaele de Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

UM CASO A SER DIAGNOSTICADO

Leonardo é uma criança com bastante


Resumo dificuldade de se comunicar e se entrosar
Este artigo apresenta o caso de um aluno que precisa ur- com os demais colegas. Sempre se isola,
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

gentemente de um diagnóstico médico, mas os pais, por evitando contato físico e visual, caracte-
medo ou insegurança, o adiam. rística de uma criança autista. Em outras
situações, demonstra estar em outro lugar

U
ma grande dificuldade encontrada e nada o traz de volta à realidade. Quando
hoje nas escolas é a resistência dos está nessas situações, sente-se incomodado
pais em aceitar que o filho seja “dife- ao voltar à realidade, ficando bastante irri-
rente” ou que possua a necessidade de um tadiço, atrapalhando o desenrolar da aula,
cuidado e uma atenção maiores. Isso interfe- até o momento em que se deita no chão de-
re negativamente no trabalho da escola e da baixo da mesa da professora e se acalma.
professora, impedindo que ajudem a criança Muitas vezes, quando está longe (em outro
de forma eficaz. “mundo”), costuma conversar sozinho, como
Em uma escola privada de Belo Horizonte, se estivesse com alguém. Esse aspecto nos
Leonardo1, uma criança de 7 anos, precisa remete à questão de esquizofrenia.
urgentemente de um diagnóstico médico. Os Leonardo, muitas vezes, demonstra-se
pais afi rmam já ter procurado um especia- irritado ao participar de algumas atividades
lista, que afi rmou tratar-se de hiperatividade propostas pelos professores, fazendo ame-
em um estágio avançado. O laudo, no entan- aças como: “eu vou mandar um monte de
to, nunca chegou às mãos da coordenadora alienígenas aqui neste colégio e vou explodir
ou da professora. todo mundo”, precisando da intervenção da
Desde o início de sua vida escolar, Leo- professora para tentar acalmá-lo.
nardo demonstrou ser uma criança dife- Em uma conversa da professora com a
rente das demais. Mostra-se extremamente mãe, foi pedido que buscassem Leonardo na
inquieto, medroso em algumas situações, escola por volta de 15h, pois, após esse horá-
violento quando se sente ameaçado, mas, ao rio, ele não podia mais ser controlado. E isso
mesmo tempo, demonstra uma necessidade seria uma forma de ele sentir confiança e
imensa de receber carinho e atenção. Apa- segurança, uma vez que a mãe estaria perto
renta viver no mundo da imaginação, num quando precisasse. Esse episódio aconteceu
mundo irreal, onde ele é um super-herói e somente três vezes, a mãe não o fez mais.
as pessoas ao seu redor são inimigas ou Diversas vezes a mãe foi chamada na es-
monstros. Na última vez em que se fanta- cola, prometendo levar o fi lho ao neurope-
siou de homem-aranha, a professora teve diatra, o que ainda não se verificou. A escola
que ter um cuidado especial, pois o mesmo sugeriu que procurassem uma escola espe-
foi encontrado com o corpo fora da janela, cial para que ele recebesse tratamento mais
pronto para pular. É muito inteligente, mas intenso e mais de perto. A mãe disse estar
suas atividades têm que ser acompanhadas procurando outra escola, mas nada ainda
de perto, uma vez que nem sempre a faz e, foi decidido.
quando feita e não recolhida, é rabiscada e A mãe é psicóloga e, após várias con-
recebe vários desenhos de monstros. versas com a professora, assumiu ter feito
ela mesma o estudo do caso de Leonardo,
1. Nome fictício para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Um caso a ser diagnosticado Ladyane Raphaele de Oliveira

não conseguindo chegar a um diagnóstico.


Nesse caso, como fazer? Sendo a mãe, talvez
não devesse ela mesma tentar diagnosticar o
fi lho, afi nal está envolvida sentimentalmente
à criança e isso pode dificultar chegar a um
diagnóstico conclusivo.
Ao analisar toda essa situação, pode-se
perceber que os pais, não aceitando que seu
fi lho apresenta uma necessidade especial,
acabam atrapalhando seu desenvolvimento.
Os pais criaram uma barreira entre a escola
e a família, impossibilitando um trabalho
conjunto que pudesse contribuir para o de-
senvolvimento pedagógico e social.

REFERÊNCIAS:

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Disponível em: <http://www.copacabanarunners.
net/esquizofrenia>. Acesso em 01 de jun. 2009.

Disponível em: <http://www.abcdasaude.com.br>.


Acesso em 01 de jun. 2009.

58
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 20
AUTORA:
Laura de Oliveira Matos Duarte

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DEFICIÊNCIA NA ERA DA INCLUSÃO

menina fi zesse o 1º grau completo. No entan-


Resumo to, várias eram as indagações: como se daria
Este artigo apresenta o caso de uma aluna matriculada a integração da menina na escola, como de-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

na rede estadual de ensino, o seu percurso, a preocupação senvolveriam os aspectos pedagógicos, como
dos professores, bem como a constatação da falta de re- enfrentariam as questões relacionadas ao
cursos que os profissionais da rede escolar vivenciam. cotidiano fora da escola e à autoestima, en-
tre outros fatores determinantes do desen-

E
ducar, nos dias atuais, não é tarefa volvimento de qualquer pessoa.
fácil. Embora tenham sido abertas No início do ano letivo de 2009, a Escola
novas e múltiplas possibilidades para Estadual Gaspar Soares recebeu a aluna
a inclusão na educação, será que estamos com 100% de deficiência visual. Os professo-
mesmo preparados para incluir? res se viram, pela primeira vez na história da
Este artigo relata a história de Luana , escola, diante de um problema que não era
uma deficiente visual de 18 anos, matricu- de disciplina ou afetividade. Depararam com
lada no 5º ano da rede estadual de ensino, a realidade de mais uma das muitas escolas
numa cidade do interior, na Zona da Mata de públicas brasileiras. E, agora? Como incluir?
Minas Gerais. Como trabalhar com a aluna para obter um
Como ponto de partida, busco informa- resultado satisfatório? Braile! Como podere-
ções na lei para saber como abordar um mos passar atividades de alguns livros em
assunto tão discutido nos últimos tempos braile, se não sabemos lê-los? Muito menos
pelos profissionais da educação e todos os escrevê-los!
interessados em inclusão escolar. Muitas foram as dúvidas, os questio-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação namentos, as reuniões entre professores,
(LDB) 9.394/96, em seu capítulo V, sinaliza supervisora, diretora e pais para que nada
que a educação dos portadores de necessi- fugisse ao controle da inclusão implantada
dades especiais deve se dar, preferencial- na rede pública.
mente, na rede regular de ensino e aponta Mutirão de funcionários na biblioteca
uma nova concepção na forma de entender para descobrir livros com o método braile
a educação e a integração dessas pessoas. de leitura. Revistas e reportagens expostas
No entanto, não garante que as pessoas com no mural da sala dos professores. Reuniões
necessidades especiais terão os seus direitos intermináveis com a mãe, para buscar ma-
respeitados. neiras de acolher melhor a adolescente. Tudo
Luana frequentou uma escola da rede isso foi feito para integração de Luana na es-
pública municipal de ensino, destinada ao cola com seus novos colegas e professores.
Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série. Po- Apesar de algumas descobertas, ainda
rém, essa frequência se deu na medida do faltava muito: livros e material para se tra-
possível, pois a mãe nunca deixou Luana se balhar Geografia e Inglês, por exemplo. E as
guiar sozinha. Apesar disso, a aluna foi al- dúvidas eram muitas sobre como proceder
fabetizada em braile por uma professora que com essa aluna em termos de processo ensi-
recebeu um treinamento específico. no-aprendizagem e de avaliação. Os profes-
O tempo foi passando e a preocupação da sores tentam se adequar e promover a inclu-
família aumentando, pois gostariam que a são, tomando isso como uma lição de vida.

59
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Deficiência na era da inclusão Laura de Oliveira Matos Duarte

A supervisora, diante dos questionamen-


tos, procurou a Inspetora Escolar e a direto-
ra para defi nir como agir nesse caso, pois ela
havia consultado a LDB, em seu capítulo V,
art.58, parágrafo 1º, que determina: “have-
rá, quando necessário, serviços de apoio es-
pecializado, na escola regular, para atender
às peculiaridades da clientela de educação
especial.” Teria a escola o direito a um apoio
especializado?
Quando Luana chegou à escola com um
laudo do Instituto São Rafael, de Belo Ho-
rizonte, o mesmo relatava a importância do
acompanhamento de um especialista ao seu
lado durante o período escolar. O que acon-
teceu na escola “Gaspar Soares” foi uma
voluntária da cidade se propor a ajudar os

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


professores, já que ela sabe decifrar algu-
mas letras em braile. É uma ajuda que está
sendo o subsídio dos professores.
As repostas nem sempre são satisfatórias
e condizentes com a lei. Os educadores têm
de estar dispostos a enfrentar a realidade
e assumir junto com os demais funcioná-
rios a responsabilidade de educar, à sua
maneira, a aluna Luana. Os que acompa-
nham o caso demonstram preocupação com
a situação da aluna, no entanto sentem-se
impotentes diante da falta de providências
institucionais.

REFERÊNCIA:
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Di-
retrizes e Bases da Educação Nacional
9.394/96, 20 dez.1996. Brasília, 1996. Dis-
ponível em: www.portal.mec.gov.br. Acesso
em: 15 de abril de 2009.

60
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 21
AUTORA:
Lílian Ferreira de Souza

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A INCLUSÃO DE UMA ALUNA COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

tinuar o tratamento neurológico. Foi então


Resumo direcionada ao profissional da Psicologia,
Este artigo relata o estudo de caso de uma aluna com por problemas afetivos de relacionamento
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dificuldade de aprendizagem desde o 2º ano do Ensino familiar.


Fundamental. A aluna apresenta baixo rendimento e difi- Segundo McKinney (1989), há um estudo
culdade na fala e na escrita. tradicional realizado com crianças com difi-
culdade de aprendizagem, relacionado a me-

M
eire tem 22 anos e está no 8º ano mória, pensamento, raciocínio, percepção,
do Ensino Fundamental numa linguagem e comportamento. Esses aspec-
escola pública estadual, em Belo tos foram observados e, a partir de algumas
Horizonte. conclusões relativas ao ensino-aprendiza-
O diagnóstico de dificuldade de aprendi- gem, foram realizados encaminhamentos a
zagem foi feito no 2º ano do Ensino Funda- especialistas.
mental, em outra escola pública, a partir de Apesar de efetivas melhoras com relação
observações e avaliações, nas quais houve à dicção e também na escrita, após trabalho
percepção de dificuldades de pronunciar e realizado pelo fonoaudiólogo e a intervenção
escrever corretamente as palavras, diferen- psicológica, percebe-se uma sensação de
temente da maioria dos alunos da mesma incapacidade, existem barreiras que a impe-
faixa etária. Em algumas atividades perce- dem de mudar a situação, segundo a Coor-
beu-se a falta de atenção, melhor defi nida denadora Pedagógica.
como dificuldade em manter a concentração A aluna tem o apoio somente da mãe, o
durante a realização de trabalhos, em grupo pai prefere tirá-la da escola, uma vez que
ou individualmente. não consegue acompanhar as turmas nem
A aluna foi encaminhada para a APAE ¬ avançar no sentido de aprendizagem.
Associação de Pais e Amigos dos Excepcio- Rutter (1989) afi rma que estudos realiza-
nais, de Belo Horizonte, onde foi assistida dos na Inglaterra confi rmam a ligação entre
até os 15 anos de idade. Nessa Associação, a saúde fragilizada, problemas psicológicos
estudante passou primeiro por uma avalia- e educacionais. Os sintomas identificados
ção pedagógica e, mediante confi rmação de através desses estudos foram desatenção,
suas necessidades, foi efetivada a matrícula. hiperatividade, depressão e comportamentos
Na APAE, além de acompanhamento pedagó- desviantes associados a problemas emocio-
gico, garantiam-lhe apoio social, passe livre nais e à leitura, apontando ainda as adversi-
com direito a acompanhante, monitorias e dades familiares como causa de disfunções
atendimentos médicos, como fonoaudiólogo orgânicas do sistema nervoso e distúrbios
para avaliação do uso da linguagem, dos ór- no temperamento das crianças.
gãos da fala, da escrita, da voz e da audição, Enquanto os alunos eram avaliados
que era o mais preocupante no momento. quantitativamente, a estudante não avan-
Após algumas seções com o fonoaudió- çava. A partir do processo de avaliação em
logo, a aluna foi encaminhada ao neurolo- que as escolas passaram a trabalhar com os
gista, que realizou os exames necessários e ciclos e conceitos, a aluna conseguiu supe-
constatou que a estudante estava em perfei- rar certas dificuldades, com o empenho de
to estado, não havia laudo clínico para con- alguns professores e com a intervenção da

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão de uma aluna com dificuldade de aprendizagem Lílian Ferreira de Souza

Coordenadora Pedagógica. FREINET, C. O texto livre. Lisboa / Portu-


São realizadas algumas atividades espe- gal. Editora Dinalivros, 1976.
ciais com a estudante, utilizando jogos pe-
dagógicos e materiais como textos, revistas MCKINNEY, J. D. Longitudinal research on
e jornais, que têm como objetivo prender a the behavioral characteristics of children with
atenção da aluna, através da interação en- learning disabilities. Journal of Learning Di-
tre conteúdo, esses materiais e a realidade. sabilities, 22 (3), 141-15, 1989.
Freinet (1976) mostra, através das técnicas
utilizadas dentro e fora da sala de aula, que OATLEY, K.; NUNDY, S. Repensando o papel
o aluno aprende fazendo, sendo necessário das emoções na Educação. In: OLSON, D.R.;
que o conteúdo tenha sentido para ele e des- TORRANCE, N. (Orgs.). Educação e desen-
perte nele a curiosidade; através do envolvi- volvimento humano: novos modelos de
mento, o educando constrói o conhecimento, aprendizagem, ensino e escolarização. Por-
se relacionando com o meio. to Alegre: ArtMed, 2000, p. 217-230.
Em conversas informais com a estudan-
te, percebemos a falta de motivação. A coor- RUTTER, M. Isle of wight revisited: twenty-
denadora e alguns professores confi rmam. five years of child psychiatric epidemiology.

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Para ela não existem motivos para continuar Journal of the American Academy of Child
na escola, não consegue aprender como os and Adolescent Psychiatry, 28 (5), 633-653,
outros colegas e sente vergonha de estar 1989.
em uma sala com idade fora da faixa etária
predominante.
Para Oatley e Nundy (2000), o compo-
nente afetivo é o determinante primário
do desempenho escolar, relacionando-o às
emoções, às atitudes e aos interesses. Esses
aspectos são identificados no comportamen-
to da estudante.
Talvez a estudante devesse procurar um
supletivo ou a Educação de Jovens e Adul-
tos. A aluna, no entanto, afi rma que não tem
a permissão do pai para estudar em horário
noturno, e esses processos na rede pública,
na sua região, funcionam somente à noite.
A estudante continua em tratamento psi-
cológico e apresenta resultados positivos.
Tem reagido frente às situações familiares
que causam desconforto pessoal e afetam
seu desempenho escolar, apesar de não pos-
suir total autonomia diante de certas situ-
ações. Encontrou apoio de colegas de sala
de aula, da mãe, de alguns professores e da
coordenadora pedagógica. Mostra-se otimis-
ta, com mais perspectivas de futuro e mais
esclarecida com relação à importância da
continuidade do processo de escolarização.

REFERÊNCIAS:
ENUMO, Sônia Regina Fiorim; FERRÃO, Eri-
ka da Silva; RIBEIRO, Mylena Pinto Lima.
Crianças com dificuldade de aprendizagem e
a escola: emoções e saúde em foco. Estudos
de Psicologia. Campinas, 2006.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 22
AUTORA:
Luciana Santos Barbosa

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DIFICULDADE OU FALTA DE COMPREENSÃO?

com a escola, informando sobre os fi lhos,


Resumo porque só assim é possível oferecer ao aluno
O presente artigo apresenta um estudo de caso realizado um trabalho com atividades alternativas,
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em uma escola pública da região metropolitana de Belo atendendo às diferenças individuais.


Horizonte e tem o objetivo de analisar uma criança com A coordenadora da escola sugeriu que
dificuldade de aprendizagem, desmotivada e incomodada os pais procurassem um profissional para
com as tarefas escolares. acompanhar o aluno. Ele precisa de atenção
diferenciada, de um psicólogo para realizar

O
educador, em seu cotidiano escolar, uma avaliação segura do problema. Se seu
deve estar mais atento ao desenvolvi- diagnóstico for dificuldade cognitiva, ele
mento de seus alunos, pois cada um deve ser encaminhado para um psicopeda-
é único, tem necessidades diferentes. É de- gogo, que o ajudará no desenvolvimento dos
safiador para o professor o aluno que chega processos de aprendizagem.
ao 9º ano sem dominar os princípios básicos É mediante um diagnóstico detalhado
do ensino que independem de metodologia, que a escola e a família poderão se orien-
em turmas cuja disciplina, às vezes, deixa tar para dar a atenção necessária ao aluno.
muito a desejar. Não se pode trabalhar no “faz-de-conta”, no
Segundo o Prof. Abgar Renault, “a tarefa “talvez seja”. Precisamos de bases seguras
de ensinar é cada vez mais dura e ingrata: para darmos ao aluno todo o apoio de que
ambiente social, solicitações de várias natu- ele necessita. De outra forma, não se poderá
rezas, falta de respeito dos alunos, ausência chegar a lugar algum.
de qualquer sentimento de dever, má remu-
neração, tudo se situa abaixo da majestade
da missão”.
Essa situação se agrava quando percebe-
mos que o professor vem se deparando com
um aumento da violência nas salas, sendo
diversos os episódios envolvendo agressões
verbais, físicas e simbólicas à comunidade
escolar, fato que desvia a atenção dos demais
problemas, ocultando a dificuldade do aluno
que geralmente é calado e tímido.
José1 é um aluno que passou por uma ci-
rurgia na cabeça ainda bebê. Os professores
não sabiam de seu problema, desconhecem
sua trajetória escolar e sua história de vida.
Ele tem dificuldade de aprendizagem, não
consegue acompanhar a turma, mas é mui-
to esforçado. O trabalho com ele, para surtir
efeito, tem que ser diferenciado.
A família deve sempre estar em parceria
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dificuldade ou falta de compreensão? Luciana Santos Barbosa

REFERÊNCIA:
COLL, César. Aprendizagem Escolar e
Construção do Conhecimento. Trad. Emília
de Oliveira Dihel. Porto Alegre: Artes Médicas,
1994.

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ARTIGO 23
AUTORA:
Márcia Rivane Gomes Guarda

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

CRIANÇA, A MAIOR VÍTIMA DE AGRESSÃO

do trabalho para levar o fi lho ao psicólo-


Resumo go toda quarta-feira, e uma vez ao mês ao
Este artigo traz à tona a realidade de uma criança que psiquiatra.
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pode ter se tornado violenta para chamar a atenção dos Em desabafo, a mãe diz que sua fi lha de
pais e dos educadores para uma situação indesejável que 15 anos, também na mesma escola, não está
pudesse estar vivenciando. dormindo em casa e desconfia que ela está
infi ltrada no mundo das drogas.

N
uma escola pública situada na região A adolescente ficou três meses de adver-
periférica de Belo Horizonte, um alu- tência por causa do grande número de faltas.
no da 4ª série do ensino fundamental A mãe acredita ser por causa do namorado
demonstrava comportamento bastante agi- de 16 anos. O namorado está no mundo das
tado, não prestava atenção às aulas, exibia drogas e já foi pego pela polícia com arma,
para os colegas o órgão genital e não deixava A mãe reclama que a fi lha leva o namo-
os colegas prestarem atenção nas aulas. rado para sua casa quando ela está ausente
Diante da preocupação da professora e e colocam fi lmes inadequados na presença
da escola, conversamos com a mãe do alu- do irmão. Ela já deu conselho à fi lha, mas
no. A professora revelou as dificuldades de não adiantou. Desorientada, apelou para o
interação da criança com os colegas. Como conselho tutelar fazendo pedido de socorro
recomenda Ferreira, procuramos manter O conselheiro pediu uma declaração ou
sempre uma posição ética diante da situa- um relatório esclarecendo o máximo possí-
ção, procurando dialogar com a família para vel sobre o comportamento do educando.
conseguir resolver os problemas que surgem Como o comportamento do aluno com as
no cotidiano escolar. professoras sempre foi razoável, o problema
A mãe confessou que seu fi lho faz trata- era com os colegas menores, foi sugerida a
mento com psicólogo, há três anos, e com sua mudança de sala. A mãe aceitou e assim
psiquiatra e fonoaudiólogo, dos 3 aos 5 anos. foi feito. Após poucos, os resultados positivos
No diagnóstico do psiquiatra, não consta foram surgindo, e até o presente momento,
nada. Segundo Costa (1994, p. 26), “além de na socialização, a criança encontra-se me-
entrevistas, exames clínicos e psicológicos, nos agitada.
descrição de sintomas, há necessidade de se A mãe descobriu que a criança estava
fazer um diagnóstico, de procurar uma etio- sendo violentada e está tomando as provi-
logia e de se estabelecer um prognóstico”. dências cabíveis.
A mãe relata que o fi lho é agressivo A ação de trocar o aluno de sala foi posi-
desde os três anos de idade. No diagnóstico tiva, seu comportamento melhorou muito. A
do psicólogo, foi detectada hiperatividade. professora que atualmente o acompanha diz
O problema de agitação tem acontecido que ele está equilibrado, e afi rma também
na escola e no projeto de socialização. A que, quando ele começa a querer brigar, ela
mãe reclama que já não sabe o que fazer, relembra baixinho que agora ele está numa
tem três fi lhos, é a única pessoa para cuidar sala de crianças maiores que ele. Na sala
das crianças, pois o pai não ajuda em nada. anterior, seus colegas tinham 6 e 7 anos, na
Está desempregada há um ano, perdeu o turma atual são crianças de 9 a 12 anos.
emprego de confeiteira por ter se ausentado É importante ressaltar a responsabilida-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Criança, a maior vítima de agressão Márcia Rivane Gomes Guarda

de e a relevância do acompanhamento dos


pais no dia a dia e nas atividades escola-
res e não escolares dos fi lhos. Destaca-se
também a necessidade de compromisso dos
profissionais da educação em inovar, buscar
meios de tornar o espaço mais acochegante
e proporcionar um ambiente mais agradável
para a obtenção de resultados satisfatórios
no processo de ensino-aprendizagem.
Segundo Ferreira,

Se a ética é a morada da liberdade, ela é


a construção do agir justo. Em nossas es-
colhas, o imperativo de ser justo deve ser
o indicador para uma reflexão que possa
permitir a diferença de ideias, o conflito é
o estabelecimento de regras para uma boa

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convivência. Se essa ética for o ponto cen-
tral de nosso relacionamento, com certeza,
alcançaremos sempre nossos objetivos.

REFERÊNCIAS:
COSTA, Dóris Anita Freire. Fracasso escolar:
diferença ou deficiência? Porto Alegre: Kua-
rup, 1994.123 p.

FERREIRA, Amauri Carlos. A morada do


educador: ética e cidadania.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 24
AUTORA:
Maria Aparecida Rocha

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A INCLUSÃO DE UM ALUNO COM TDAH

em determinada atividade e tem dificuldade


Resumo de concluí-la.
Este artigo tem como objetivo apresentar o estudo de caso Às vezes, apresenta estar “desanimado” e
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de um aluno de uma escola pública, com TDAH, em pro- até mesmo “ausente”.
cesso de inclusão. Foi levantada também a hipótese de estar
associado a outra síndrome, a discalculia,

E
lton , 14 anos, exibe um quadro ca- pois o aluno apresenta muita dificuldade de
racterístico de um portador do TDAH raciocínio lógico-matemático. Não consegue
– Transtorno de Déficit de Atenção resolver situações-problemas e operações.
e Hiperatividade, e tem sido preocupação A escola tem um papel muito importante
constante dos educadores da escola. Foi ofe- e desafiador para atender às necessidades
recido subsídio teórico aos professores para educacionais de um aluno com TDAH. Os
a compreensão do caso. Eles foram informa- professores e demais profissionais que li-
dos do estudo sobre o aluno, sendo-lhes in- dam com ele na escola precisam conhecer o
dicadas possibilidades de intervenção, com transtorno e o que fazer para possibilitar a
vistas à inclusão plena do aluno. aprendizagem do aluno, criando alternativas
O termo inclusão é utilizado para descre- para atendê-lo, adequando as estratégias de
ver o direito à educação e o apoio a todos os ensino às suas necessidades.
indivíduos com deficiências ou dificuldades O tratamento adequado pode representar
que comprometem o seu desenvolvimento em grande passo para minimizar o impacto
escolar. negativo que o TDAH traz à vida da crian-
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hi- ça. As intervenções tornam-se essenciais no
peratividade, o TDAH, pode ser um distúrbio tratamento, e a escola tem uma contribui-
que, se não tratado, pode apresentar várias ção importantíssima para o sucesso desse
complicações, se estendendo até a vida adul- aluno.
ta. O TDAH, problema classificado como Vários aspectos devem ser considerados
neuropsiquiátrico, deve ser diagnosticado no tratamento: esclarecimento aos pais so-
por um médico psiquiatra ou psicólogo, po- bre o transtorno; orientações à escola; psi-
dendo existir uma equipe de diferentes pro- coterapia; intervenção psicopedagógica; me-
fissionais que cuidarão do paciente, entre diação; técnicas de reabilitação da atenção;
eles neurologista, psicólogo. psicopedagogo, entre outras intervenções adequadas à real
fonoaudiólogo, psiquiatra... necessidade do aluno.
O transtorno caracteriza-se por uma A coordenação da escola conversou com
combinação de sintomas de desatenção, hi- a mãe sobre o estudo realizado com o fi lho
peratividade e impulsividade. e indicou possibilidades de intervenção da
Elton é desatento. Ele não apresenta ca- família, principalmente na realização de
racterística de hiperatividade. Seus sintomas jogos em casa (estratégia, concentração e
evidentes referem-se à falta de atenção e de memorização).
concentração para a maioria das atividades A mãe sempre manteve contato com a es-
que lhe são propostas, principalmente quan- cola e faz o acompanhamento do fi lho, uma
do há necessidade de um registro escrito. vez por semana, em uma clínica com psi-
Não consegue se concentrar por muito tempo cólogo e psicopedagogo, além do tratamento

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão de um aluno com TDAH Maria Aparecida Rocha

sistematizado com neurologista, fazendo uso


de medicamentos controlados.
Na anamnese, levantou-se o histórico de
vida do aluno: sua família e suas experiên-
cias na infância. Na realização dos testes,
mostrou-se muito interessado, pedindo que
também jogássemos com ele. Às vezes, du-
rante os testes, ele se cansava e solicitava
algo mais prazeroso.
As atividades desenvolvidas nos momen-
tos de intervenção jogos, brincadeiras,
leituras e histórias em quadrinhos foram
bastante enriquecedoras, favorecendo o de-
senvolvimento de habilidades que precisam
ser estimuladas.
A escola e os educadores que trabalham
com o aluno tiveram a oportunidade de co-

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nhecer sobre o TDAH, suas características,
seus principais sintomas e como organizar
o trabalho de forma a atender as especifi-
cidades do aluno. Além disso, o estudo do
caso proporcionou uma articulação entre a
escola, a família e o educando, que contri-
buirá para seu desenvolvimento escolar e
uma convivência mais harmoniosa com seus
colegas e professores na sala de aula.

REFERÊNCIA:
ROHDE, Luiz Augusto P.; BENCZIK, Edylei-
ne Belline Peroni. Transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade. O que é? Como
Ajudar? Porto Alegre: Artmed, 1999.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 25
AUTORA:
Mariane Faria Fernandes

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

DIREITOS VIOLADOS: COMO UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA PODE AJUDAR


CRIANÇAS E ADOLESCENTES

levou até o vestiário e, quando a garota ti-


Resumo rou a roupa, a professora notou que havia
O presente artigo analisa um estudo de caso sobre a viola- manchas rochas pelo corpo e mordidas nas
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ção de direitos das crianças e adolescentes. A escola alvo pernas e nos braços. A professora, não que-
da pesquisa vem buscando soluções para esse problema rendo assustar a garota, não comentou nada
social com uma gestão pedagógica democrática. no momento, mas procurou a coordenadora
e pediu uma orientação.

A
tualmente, no Brasil, várias crianças A coordenadora em reunião com a pro-
e adolescentes vêm sofrendo de abu- fessora decidiu conversar com a aluna para
so sexual e violência doméstica. Se- averiguar o caso. A garota relatou que seu
gundo Oraggio (2009),“A cada oito minutos padrasto a agredia e muitas vezes a obrigava
uma criança é vítima de violência e 75% das a fazer sexo. O Conselho Tutelar foi acionado
agressões acontecem dentro de casa”. imediatamente, e o padrasto foi denunciado
Dentro da sala de aula o professor deve e preso.
analisar algumas atitudes de seus alunos e A coordenadora entrou em contato no-
perceber se não há sinais de maus-tratos. E vamente com o Conselheiro do bairro, para
o professor, em parceria com a coordenação que um curso de capacitação para todos os
pedagógica, deverá analisar o caso e levá-lo funcionários da escola fosse realizado e to-
aos órgãos de proteção. Por meio de conversas dos pudessem detectar casos de maus-tra-
informais com a coordenadora pedagógica e tos, abuso sexual ou qualquer outro tipo de
com a professora e da análise de um estudo violação de direitos. A partir daquele curso,
de caso em uma escola da rede pública de um projeto de intervenção pedagógica para
Belo Horizonte, será analisado como ações os alunos foi elaborado pelos professores e
de uma coordenação pedagógica democráti- pela coordenação pedagógica.
ca podem proteger crianças e adolescentes É possível perceber que a coordenação
com direitos violados. dessa escola teve uma postura legal e de-
De acordo com a leitura de um caso es- mocrática muito importante neste caso. No
tudado pela coordenadora pedagógica, havia primeiro momento, ao ligar para o Conselho
uma adolescente que estava com doze anos Tutelar. O Estatuto da Criança e do Ado-
de idade, estudava na quinta série do Ensino lescente (ECA), no artigo 5º, diz: “Nenhuma
Fundamental, era uma garota alegre, sem- criança ou adolescente será objeto de qual-
pre que chegava na escola cumprimentava quer forma de negligência, discriminação,
os professores com abraços e sempre gostou exploração, violência, crueldade e opressão,
de participar dos debates em sala de aula. punindo-se na forma da lei, por ação ou
Com o passar do tempo, essa adolescente omissão aos seus direitos fundamentais”.
ficou apática, começou a se afastar dos co- (ECA, 2005, p. 13). Portanto, ao entrar em
legas e sempre tratava os professores com contato com o órgão competente para pro-
hostilidade. Em um passeio a um clube, a teção da criança e do adolescente, a escola
garota estava com roupas que cobriam o garantiu a integridade da aluna e não per-
corpo. Alguns colegas a jogaram na piscina mitiu que seus direitos continuassem a ser
e ela teve uma crise de choro. Os professo- violados. No segundo momento, ao solicitar
res tentaram acalmá-la. Uma professora a uma capacitação para os funcionários da

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Direitos violados: como uma escola democrática pode Mariane Faria Fernandes

escola, possibilitou a garantia de preserva-


ção de direitos de várias outras crianças e
adolescentes.
E no último momento, ao produzir um
projeto de intervenção pedagógica em par-
ceria com os professores, promoveu a demo-
cracia na escola. Segundo Aranha (2008, p.
81),

[...] a questão do diálogo, do clima de troca


e cumplicidade, se faz importante numa es-
cola radicalmente democrática. Reconhecer
os docentes como sujeitos do processo de
ensino-aprendizagem, como educadores em
toda a dimensão do termo, é essencial.

Ao envolver os professores na produção

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de um projeto com um tema que era de inte-
resse de todos, a coordenação promoveu algo
significativo e que abrangeu toda a escola.
E este ato democrático só é possível se
toda a comunidade escolar for envolvida de
maneira significativa. Algumas ações de pro-
teção aos direitos das crianças e dos adoles-
centes podem ser tomadas em parceria com
os órgãos competentes e com a comunidade
escolar. O papel do coordenador pedagógico
na escola é fundamental, pois ele tem como
função promover a capacitação do corpo do-
cente da escola, para que problemas diversos
possam ser detectados e solucionados.

REFERÊNCIAS:
ARANHA, Antônia Vitória Soares. Gestão e or-
ganização do trabalho escolar: novos tempos
e espaços de aprendizagem. In: OLIVEIRA,
Maria Auxiliadora Monteiro (Org.). Gestão
Educacional: novos olhares, novas aborda-
gens. 5. ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2008. Cap.
5, p. 75-86.

BRASIL; ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE (1990). Hora de Fazer Va-
ler. Brasília. Ministério da Educação, 2005.
75 p.

ORAGGIO, Liliane. Infância em perigo. Plane-


ta Sustentável, São Paulo, abr. 2009. Dis-
ponível em: <http://planetasustentavel.abril.
com.br/noticia/atitude/conteudo_432669.
shtml>. Acesso em: 02 maio 2009.

70
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 26
AUTORA:
Marluce Aparecida Morais Silva Martins

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

AGRESSIVIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

exigências competitivas do mundo na luta


Resumo pela sobrevivência.
Este artigo relata o estudo de caso de um aluno que apre-
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senta um quadro de agressividade junto aos colegas e A escola e a família, juntas, são respon-
professores. De acordo com Anna Freud, a sustentação de sáveis pela formação do educando, prepa-
um equilíbrio constante ao longo da adolescência é, por rando-o para viver em sociedade, sabendo
si mesma, anormal, o que se espera é que um adolescente respeitar, colaborar e participar. No entanto,
saudável sofra uma quebra no crescimento pacífico. o aluno não apresentou melhora, voltando
a ter atitudes agressivas e ameaçadoras. A

A
Escola Estadual Sonho do Amanhã1 escola, preocupada com a situação, chamou
tem um aluno, Luís2, que estuda na novamente a família. E veio a avó, que rela-
instituição de ensino desde os anos tou que Luís tinha as mesmas atitudes em
iniciais do ensino fundamental. Hoje está casa, batendo e agredindo a ela e a mãe, que
com 12 anos, repetindo o 6º ano (antiga 5ª sempre o repreendia com agressões que o
série). marcavam.
Segundo relato da supervisora, desde que A supervisora buscou apoio junto a uma
Luís ingressou na escola, ele sempre foi ner- instituição fi lantrópica que oferece apoio
voso, agressivo com os professores e os cole- médico e psicopedagógico a pessoas caren-
gas de sala, batendo neles e os ameaçando. tes, a FULIBAN (Fundação Libanesa de Mi-
A professora, não conseguindo controlá-lo nas Gerais).
em sala, sempre pedia ajuda à supervisora Luís teve toda a assistência de que ne-
para juntas tentarem resolver o problema. cessitava. Foram diagnosticados distúrbio
A supervisora chamou a mãe para poder da fala e maus-tratos, sendo solicitados pela
falar sobre as atitudes de seu fi lho. Ela re- fundação exames laboratoriais. Os laudos
latou que ele era um menino tranquilo em foram encaminhados à fonoaudióloga e à te-
casa e que não apresentava tais atitudes rapeuta de família, para esclarecimentos da
como a escola relatava. A escola, então, pro- história de maus-tratos na família.
curou maneiras diferentes para conduzir o Através dos resultados dos exames com-
caso dentro da instituição, procurando levar plementares, foi diagnosticada Ascaridíase
o aluno ao convívio com os colegas e demais (verminose). A mãe foi orientada sobre hábi-
pessoas da escola de forma afetiva, para tos de higiene e sobre prevenção à violência
assim fazer com que Luís se envolvesse nas familiar à qual a criança está constantemen-
atividades desenvolvidas em sala. te exposta, esclarecendo que a agressividade
Segundo Osório (1996, p. 82), do aluno se manifesta pela violência vivida
no seio de família. Neste sentido, Rassial
Costuma-se dizer que a família educa e a (1997) revela que, na relação com os pais e
escola ensina, ou seja, à família cabe ofe- com todos os adultos, em função de tantas
recer à criança e ao adolescente a pauta decepções já vividas, o adolescente estará
ética para a vida em sociedade e à escola, sensível a toda contradição interna ao dis-
instruí-los para que possam fazer frente às curso, ou entre o discurso e o ato, e não será
tolerante à constatação deste sintoma, po-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
dendo até mesmo parecer paranoico.
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Agressividade no contexto escolar Marluce Aparecida Morais Silva Martins

Foi prescrita para ele a medicação Imi- as consultas e que a fundação desmarcava.
pramina para melhorar sua agressividade. Segundo a mãe, eles não estão oferecendo
Passados alguns meses, Luís apresentou mais o acompanhamento do fi lho.
melhora de comportamento e de aprendiza- A escola buscou informações junto à FU-
gem dentro da escola e também em casa, LIBAN. A entidade relatou que ele não com-
segundo relato da mãe. Ele continuou o parecia mais às sessões de terapia há vários
tratamento na fundação com fonoaudióloga, meses e que, segundo o relato da última ses-
médico e psicólogo. são que o aluno havia feito, a avó falou que
Após dois anos, sua mãe parou de levá- persistiam a falta de cuidados com a alimen-
lo à Fundação para continuação do trata- tação, a agressividade dos pais, as condições
mento. Com isso Luís voltou a apresentar as de higiene precárias, interrompendo-se uso
mesmas atitudes na escola. Recentemente, da medicação prescrita. A fundação relatou
ele agrediu seus colegas de classe com uma que não constavam outros retornos em sua
caneta (esquentava a ponta no chão e furava ficha de atendimento e esclareceu à escola
o pescoço dos colegas). Um dos colegas agre- que não foi dada alta ao adolescente. O fato
didos foi chamar a supervisão/direção para é que abandonaram o tratamento e o atendi-
conter o agressor. Quando a supervisora e mento ao Luís.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


diretora foram à sala para averiguar o ocor- No processo pedagógico, a relação entre
rido, Luís não aceitou a intervenção e come- professores e alunos, a realidade escolar e
çou a jogar as cadeiras em seus colegas. A a realidade de mundo vivenciada por docen-
diretora foi chamar a sua mãe; a supervisora tes e discentes, bem como as experiências aí
pediu que o vigia da escola a ajudasse, pois constituídas e sua relação com as concep-
o aluno estava nervoso e agredindo os cole- ções de mundo produzidas e reproduzidas
gas, principalmente o que saíra da sala para no cotidiano configuram uma teia indissoci-
chamar a direção. Quando sua mãe chegou, ável de relações, signos, significados e senti-
Luís correu para agredir a supervisora, sen- dos nos quais a aprendizagem e a educação,
do impedido pelo vigia da escola. Em segui- enquanto práticas e processos, de criação de
da, na frente de sua mãe, ele levou a mão si mesmo e do mundo, estão imersas e to-
para lhe dar um tapa no rosto e chutá-la. mam parte, numa relação recíproca: o meio
Sua mãe o segurou, impedindo, e lhe deu social modifica e constitui a educação, que,
uns tapas para tentar conter o ocorrido. por sua vez, configura e transforma o meio
Freud (1995) considera normal que os social.
pais sejam o primeiro alvo dessa revolta ado- Portanto, nós, educadores, temos que
lescente, explicando: procurar sempre refletir que dentro da es-
cola é preciso que o professor permita-se
Como pelas identificações prévias, é justa- falhar e não se condene por isto, para que
mente com os pais que a mente juvenil está o adolescente possa também aceitar-se com
mais fundida, torna-se imperioso acentuar suas faltas, com suas impossibilidades, pois
o confronto de ideias a nível familiar para compreenderá que a perfeição é apenas um
que se facilite o processo discriminatório ideal a ser buscado, mas não alcançado; e
sem o qual a identidade permanece num que, apesar disso, poderá ser feliz, em algu-
estado caótico ou indiferenciado. ma medida, no mundo que existe.

É no processo de diferenciação da in- REFERÊNCIAS:


dividuação que o indivíduo encontra-se
novamente em um momento de questionar FREUD, Anna. Adolescência. In: Revista da
qualquer valor estabelecido. Toda norma que Associação Psicanalítica. Porto Alegre: Ar-
antes era irrevogável, agora ele a questiona, tes e Ofícios, ano V, número 11, novembro
debate, duvida e coloca sua forma de agir. de 1995.
A escola, enquanto uma instituição pre-
ocupada com o processo ensino-aprendiza- OSÓRIO, Luiz Carlos. Família Hoje. Porto
gem de todos os alunos, procurou ajudá-lo Alegre: Artes Médicas, 1996.
através de uma intervenção psicopedagógica
e de projetos para resgatar a importância de RASSIAL, Jean-Jacques. A passagem ado-
valores sociais e morais. Perguntando à mãe lescente: da família ao laço social. Porto Ale-
se ela continuava o tratamento do Luís na gre: Artes e Ofícios, 1997.
FULIBAN, ela relatou que sempre marcava
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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 27
AUTORA:
Patrícia Maria Barbosa

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

AFETIVIDADE: PAPEL DETERMINANTE NO DESENVOLVIMENTO ESCOLAR E


FAMILIAR

zar que o aluno tivesse um acompanhamen-


Resumo to psicológico. Ela aceitou, mas, devido às
A falta de carinho e compreensão dos pais pode levar a reclamações relacionadas ao comportamen-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

criança a comportamentos inesperados e ações inexplicá- to de João, toda a família foi encaminhada
veis. É preciso que a criança tenha, no ambiente familiar, ao acompanhamento psicológico. A mãe foi
essa troca de afeto e diálogo para que se possa perceber a orientada a dar mais atenção ao fi lho, pois
presença de problema. ela o culpava dos problemas com os irmãos.
Segundo Bassedas (1996), “É importante

J
oão1 é aluno do ensino médio de uma acreditar e ter confiança nas possibilidades
escola pública estadual de Belo Hori- da família para conseguir ajudá-la; às vezes,
zonte. Entrou nessa escola aos sete com uma pequena ajuda externa, a família
anos, mas começou a ser observado aos vê o seu funcionamento com maior clareza,
nove. Os motivos apresentados foram indis- dá valor relativo a determinados proble-
ciplina, baixo rendimento e várias reclama- mas e tem mais capacidade para avançar e
ções de colegas, funcionários e professores. mudar”.
Segundo a professora, João demonstrava-se A escola, quando encaminha um aluno
uma criança agressiva e não aceitava ordem. para um psicopedagogo, espera que esse
Tinha necessidade de chamar a atenção das aluno que não se enquadra nas normas da
outras crianças e da professora, fazendo escola tenha uma atenção individualizada.
travessuras e fingindo cair, incomodando os Espera que se possa diagnosticar as suas
outros. dificuldades para auxiliar os professor e a
Sem entender o comportamento daquela própria escola a encontrar soluções e estra-
criança, que antes era dócil com todos, a su- tégias para que o aluno consiga progredir e
pervisora entrou em contato com a família. adaptar-se ao ritmo estabelecido.
Na conversa com a mãe, ela relatou que, Foi através desse apoio que ocorreram
desde que os irmãos gêmeos nasceram, João algumas mudanças no comportamento e no
ficara diferente, às vezes era agressivo com desenvolvimento de João. Ele passou a acei-
ela. Para ela, ele deveria estar com ciúmes tar ajuda do professor e as regras da escola e
porque toda a atenção da família estava vol- procurava relacionar-se com os colegas nas
tada para as os irmãos, que são portadores brincadeiras. Ficava entusiasmado quando
de necessidades especiais e precisam de comentava com os colegas sua participação
mais cuidado que ele, que é normal. nas aulas de balé, pois sentia prazer em
Através do relato da mãe, a supervisora ficar na ponta dos pés e sonhava com sua
percebeu que o problema não estava só com apresentação, como relatava sua professora.
João, mas em sua família. Então decidiu Esta relação de afeto contribuiu para o seu
chamar o aluno para conversar. Durante desenvolvimento escolar, porque a participa-
conversa, João disse que a mãe o agredia ção nos projetos dependia de seu desempe-
todas as vezes que os irmãos machucavam; nho escolar.
ele era culpado por não tomar conta dos Por isso, é fundamental na estrutura fa-
irmãos. miliar a relação de afeto entre pais e fi lhos.
A mãe foi chamada na escola para autori- Ela contribui para o desenvolvimento da
criança, principalmente quando no início de
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Afetividade: papel determinante no desenvolvimento escolar e familiar Patrícia Maria Barbosa

sua vida escolar. Já que tudo que se aprende


na escola, a criança deve ter ajuda dos pais,
para que possa ter continuidade. E isso só
acontece quando a criança está em um am-
biente de carinho e afeto.
Analisando o caso de João, podemos per-
ceber a importância da relação de afeto na
estrutura familiar e da interação família/
escola.
Foi por acreditar que era possível ajudar e
recuperar o aluno que supervisores, profes-
sores e familiares atenderam às suas neces-
sidades de carinho e atenção. Hoje, aos de-
zesseis anos, João é técnico em informática,
formado pelo Senai, o que lhe garante uma
renda, e se tornou instrutor de informática
para crianças em sua comunidade.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


REFERÊNCIA:
BASSEDAS, Eulália et al.. Intervenção edu-
cativa e diagnostico psicopedagógico.Tra-
dução Beatriz Afonso Neves. 3. ed. Porto Ale-
gre: Artmed, 1996.p. 36-38.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 28
AUTORA:
Renata Soares Reis da Silva

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO PROCESSO EDUCATIVO A ESCOLA E OS ALU-


NOS DE 6 ANOS

coleta dos dados, ficou constatado que os


Resumo alunos sentiam falta da brincadeira e do
O presente artigo apresenta a grande dificuldade das esco- ambiente aconchegante das escolas infantis.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

las públicas em acolher e oferecer aos alunos de seis anos Ficou demonstrado também que a lingua-
uma escola adequada e um ensino de qualidade. Aponta o gem estava em desacordo com os princípios
processo lúdico (o ato de brincar) como fonte promotora educativos para aquela faixa etária e que
do desenvolvimento infantil e identifica a postura ética e a escola precisaria passar por uma grande
pedagógica que a instituição escolar deve adquirir peran- mudança para atender a eles.
te o jogo e a brincadeira. A primeira mudança foi em relação aos
professores das turmas iniciais, que passa-

O
ingresso dos alunos nas escolas pú- ram a ser escolhidos de acordo com o perfi l
blicas a partir dos seis anos tornou- e as necessidades das turmas. Foram ofer-
se uma grande conquista para popu- tadas oficinas de jogos na área infantil para
lação em geral. As crianças não só ganharam os professores e as brincadeiras passaram
um período maior para o desenvolvimento da a fazer parte da rotina escolar. A diretora,
aprendizagem como também a possibilidade envolvida com a nova proposta de alfabeti-
de frequentar uma escola sem grandes cus- zação da escola, comprou uma quantidade
tos financeiros. Ao receber esses alunos, as significativa de jogos direcionados para a
instituições de ensino estavam assumindo o alfabetização, ampliando ainda mais a pro-
compromisso de uma educação diferenciada posta de qualidade de ensino.
e adequada para eles. A coordenação pedagógica passou a ver
A partir do segundo ano desses alunos o brincar como fonte de acesso à constru-
nas redes públicas de ensino, em particular ção da linguagem e do conhecimento, sendo
na Escola Estadual Sonho de Criança1, co- parte indispensável para o processo de sig-
ordenadoras e professoras perceberam que nificação do mundo e do aprender. Após a
as crianças estavam apresentando um baixo inserção de jogos e brincadeiras nas ativida-
rendimento, além de grande desmotivação des escolares, a instituição percebeu gran-
para frequentar as aulas. As reclamações des avanços no desenvolvimento cognitivo
eram constantes sobre a aprendizagem e e social dos discentes, fazendo do brincar
sobre a falta de interesse das crianças na parte fundamental da grade curricular e dos
realização das tarefas escolares. Muitos pais projetos de intervenção da escola.
questionavam a postura contraditória do Para Vygotsky, tanto pela situação ima-
fi lho perante a escola particular e a escola ginária, como pela defi nição de regras es-
pública. pecíficas, o brinquedo cria uma zona de
Diante dessas constatações, coordena- desenvolvimento proximal na criança. No
doras e professoras começaram um levan- brinquedo, a criança comporta-se de forma
tamento diagnóstico sobre as atividades de- mais avançada do que nas atividades da
senvolvidas na educação infantil das escolas vida real e também aprende a separar obje-
particulares da região, através de pesquisas to e significado. Sendo assim, é necessária
com os pais, visitas às instituições de ensino a promoção de atividades que favoreçam o
e conversas com os próprios alunos. Após a desenvolvimento infantil através de brinca-
deiras e jogos, principalmente as que envol-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância do brincar no processo educativo a escola... Renata Soares Reis da Silva

vem o imaginário. A criação de possibilida- gos e brincadeiras. Contar, ouvir histórias,


des para o trabalho com o brincar é função dramatizar, jogar com regras e desenhar
pedagógica e as escolas devem se utilizar constituem meios prazerosos de aprendiza-
desses recursos de forma deliberada para gem. Brincar é a forma mais perfeita para
favorecer o processo de desenvolvimento de perceber a criança e estimular o que ela pre-
suas crianças. cisa aprender para se desenvolver.
Por isso, além de uma atividade de lazer
e diversão, o brincar constitui uma ativida- REFERÊNCIAS:
de extremamente complexa e vital para o
crescimento da criança. É através do brin- GOULART, Maria Inês Mafra. A criança e a
car que ela compreende, organiza o mundo Construção do conhecimento. In: CARVALHO,
e lhe dá significado. Brincar não é apenas Alysson; SALLES, Fátima; GUIMARÃES, Ma-
um passatempo, mas uma linguagem atra- rília. (orgs.). Desenvolvimento e Aprendiza-
vés da qual a criança se expressa. O brincar gem. Belo Horizonte: Editora UFMG. Proex,
precisa ser compreendido pelo adulto e pela 2002.
escola como possibilidade para o processo
educativo infantil. MADELENO, A.; PAGAN, L.H.; ASSUNÇÃO,

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Valorizar o brincar significa, cada vez F.B. Crianças com problemas psiquiátricos
mais, levar o brinquedo para sala de aula em programas de brinquedoteca. Revista
e munir os profissionais de conhecimentos Psicopedagógica. 1998. p. 42-50.
para que possam entender e interpretar a
brincadeira assim como utilizá-la no auxi- OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: Aprendi-
lio da construção do aprendizado, como fez zado e Desenvolvimento, um Processo Sócio
a Escola Estadual Sonho de Criança. Para Histórico. 2. ed. São Paulo: Editora: Scipione,
tanto, é necessário que os professores sejam 1995.
sujeitos de seu trabalho e estejam num pro-
cesso contínuo de formação.
O desenvolvimento da inteligência prá-
tica (inteligência mais imediata e concreta
dos objetos) e o contínuo exercício dos jogos
simbólicos podem auxiliar a criança a obter
grandes progressos no plano das represen-
tações e, consequentemente, nos planos da
linguagem e da atividade motora. Mas, mais
que promover o desenvolvimento, o brincar
é um direito. O respeito aos direitos funda-
mentais da criança implica a compreensão
de seu processo de desenvolvimento, implica
não ‘roubar’ a sua infância, exigindo que
elas desenvolvam prematuramente deter-
minadas competências. Isso significa, entre
outras coisas, ver a criança e aceitá-la como
ela é: um ser que tem seu próprio jeito de
reinventar o mundo. E respeitar o tempo que
ela precisa para descobrir as coisas e sua
maneira de aprender.
A escola precisa atuar positivamente,
garantindo possibilidade para o desenvol-
vimento do brincar; se ela age de forma
contrária, cabe ao professor a garantia e o
enriquecimento da brincadeira como ativi-
dade social da infância, oferecendo espaço,
material e partilhando das brincadeiras, fa-
zendo com que ela ocupe espaço central no
cenário educativo.
Muito pode ser trabalhado a partir de jo-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 29
AUTORA:
Sandra Maria Fontes Rezende
Endereço eletrônico: sandra.fontes@oi.com.br
Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

FALTA DE LIMITE

Na aula, o professor sempre o coloca como


Resumo seu ajudante e de seus colegas para que ele
Este artigo relata um estudo de caso realizado em uma se sinta útil.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

escola pública da rede municipal de Belo Horizonte. Os Como afi rma Pellegrini (2002), se a crian-
alunos têm preocupado os professores por causa da falta ça se vê acolhida, a maneira de agir muda e
de posição dos pais, comprometendo a educação de seus quem pretende formar cidadãos deve, por-
filhos. A falta de disposição para estudar e o desrespeito tanto, promover trocas, e não imposições. É
para com os professores e colegas motivaram a avaliação possível que a depredação seja o meio encon-
de um aluno da 6ª série. trado para reivindicar um espaço público
negado.

M
arcos1 é um aluno carismático que, Os alunos mostram uma agressividade
apesar de suas travessuras, tem o muito grande, esta é a forma encontrada por
poder de conquistar os demais. É eles para se defender das situações que lhes
filho de pais separados e ausentes. Sua mãe, parece uma ameaça.
além de ter problemas neurológicos, é usu- Segundo Araújo (2002), cada sujeito, de
ária de drogas. Segundo relato do próprio acordo com seu contexto sócio-histórico e a
aluno, a mãe muitas vezes deixa de comprar partir dessas referências, vai organizando a
comida para saciar seu vício. sua percepção da realidade. Toda identidade
Segundo a coordenadora da escola, o é socialmente construída no plano simbólico
aluno está sempre fazendo brincadeiras de- da cultura.
sagradáveis, que o levam sempre a situação Em suma, não basta identificar o proble-
embaraçosa e consequências trágicas. ma, é necessário buscar uma parceria com
Ele está sempre ao lado de outro aluno pais e profissionais. É preciso ter paciência,
“problema”. Quando está sozinho, fica amu- dar carinho e impor limites.
ado, triste e seu comportamento é de uma O relacionamento familiar é fundamental
pessoa depressiva. para o desenvolvimento dos alunos e o bom
Numa conversa da coordenação com a professor não é aquele que apenas aceita o
mãe do Marcos, identificou-se que a influên- aluno, mas aquele que traz mudança em sua
cia do comportamento do aluno era o colega. vida, atuando de forma positiva e construti-
Os dois foram encaminhados para acompa- va, tendo por objetivo eliminar sentimentos
nhamento psicológico. de inferioridade, fracasso, desconforto, para
Após um ano, o seu comportamento pou- que seu aluno se sinta querido, estimulado
co mudou. Ele está agora na 7ª série e as e capaz.
reclamações sobre o seu comportamento
continuam. REFERÊNCIAS:
Toda vez que apronta uma travessura, a
coordenadora e os professores conversam AQUINO, Júlio Groppa. Alternativa teórica e
com ele sobre suas ações, para ver se ele as- prática. São Paulo: Summus, 1996.
sume uma postura melhor.
ARAÚJO, Carla. A violência desce para a es-
cola: Suas manifestações no ambiente esco-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Falta de limite Sandra Maria Fontes Rezende

lar e a construção da identidade dos jovens.


Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

PELLEGRINI, Denise de Cuiabá; VITA, Mar-


cos. Paz seja bem-vinda: não à violência.
Nova Escola, São Paulo, n. 152, p. 16-21,
maio 2002.

TIBA, Içami. O limite na medida certa. São


Paulo: Editora Gente, 1996.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 30
AUTORA:
Sandra Maria Pereira Chiari

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

AFETIVIDADE NA ESCOLA

aí se estabelecem são determinantes na vida


Resumo escolar do aluno.
Este artigo aborda o caso de um aluno que, após receber Segundo Falcão Filho (2009, p. 3),
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

tratamento adequado às suas necessidades, deixa de ser


indisciplinado e torna-se exemplo dentro de sala de aula. O terceiro aspecto que emerge da definição
de escola é a importância para o alcance dos

N
o início do ano de 2009, Valter chama- objetivos por ela definidos, da forma como
va a atenção pelos ânimos exaltados. se dará a interação entre as características
Sempre agitado, fazendo tumultos que identificam os vários grupos de profis-
com os colegas e com extrema relutância em sionais (crenças, valores, motivações, co-
atender às orientações, Valter atrapalhava o nhecimentos, atitudes, hábitos, percepções,
bom andamento das lições e da ordem den- etc.), com o conjunto de variáveis de ordem
tro e fora de sala de aula. política social e econômica que envolve a
Cientes da importância da atitude da escola. Da mesma forma, os problemas li-
coordenação frente ao problema, nos pron- gados às características da vida passada e
tificamos a praticar ações focadas nos co- presente do aluno, seu ambiente familiar,
nhecimentos referentes à coordenação e sua relação com os pais, suas condições de
supervisão pedagógica, buscando as trans- saúde e nutrição, seu aproveitamento em
formações necessárias. outras séries e em outras matérias e sua
Com a fi nalidade de estabelecer um vín- relação com outros professores e colegas
culo afetivo, mas, sobretudo, de respeito com podem interferir no trabalho do professor e,
o aluno, conversamos com ele a respeito de consequentemente, no aproveitamento dos
suas expectativas naquela escola, a razão discentes.
para frequentá-la, o que o incomodava, o
relacionamento com a família e os laços com Então, sempre antes do início das aulas,
os responsáveis. conversávamos com Valter sobre as coisas
Convocamos a responsável, a avó, para boas da vida, como, a dádiva de ter em vida
uma conversa na escola, para tratarmos so- a avó que tanto o amava e cuidava bem dele.
bre o comportamento do aluno. Ao perceber a formação humana cristã que
A partir das conversas, descobrimos que avó lhe transmitia, e com sua autorização, o
Valter não conhecia o pai. A mãe tinha um alertávamos para o fato de que Deus sabia
baixo relacionamento com a família, além de de todas as coisas, e que a vida dele estava
não ter condições fi nanceiras mínimas para nas mãos do Senhor. Sempre dizíamos ao
oferecer uma vida melhor ao fi lho, razão pela aluno: “Tudo o que vem de Deus é bom”. Aos
qual abandonou não só o lar, como também poucos fomos estabelecendo com ele laços de
o fi lho, que passou a ser criado pela avó des- respeito, confiança e fraternidade.
de então. Ele estava com 6 anos de idade. Hoje, Valter é destaque entre os alunos:
Pudemos perceber, então, os possíveis Sempre está com as lições em dia, interes-
motivos que ensejavam toda a sua revolta, sado na aula, é um dos alunos mais dedi-
dispersão e dificuldade de aprendizado, pois, cados e, por incrível que pareça, repreende
como sabemos, a base familiar e os laços que os colegas de classe que causam tumultos
na aula.

79
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Afetividade na escola Sandra Maria Pereira Chiari

Colocando em prática os ensinamentos


teóricos sobre coordenação e supervisão pe-
dagógica, conseguimos ser o diferencial para
o aprendizado e para a vida do aluno. Atual-
mente, além da melhora no comportamento,
Valter foi eleito representante de turma, sen-
do porta-voz de seus colegas, defendendo e
reivindicando interesses da turma.

REFERÊNCIA
FALCÃO FILHO, José Leão Marinho. O(a)
supervisor/coordenador(a) pedagógico(a):
fundamentos. Disponível em: <http://web-
dav.sistemas.pucminas.br:8080/webdav/
sistemas/sga/20082/133459_COORDE-
NADOR%20pedagógico-fundamentos-.doc>.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Acesso em 28/05/09.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 31
AUTORA:
Sarah Paulina da Silveira Silva

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

ABORDAGEM PEDAGÓGICA EM DISTÚRBIOS DE COMPORTAMENTO

provenientes de alguma repressão no seio da


Resumo família. “As repressões, uma vez formadas,
Este artigo focaliza as questões comportamentais e a de- são difíceis de desfazer.” (HALL e LINDZEY,
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

fasagem de aprendizagem apresentadas pelo educando em 1963, p. 65).


sua trajetória escolar. Rodney1, 14 anos, 7º ano do ensino fun-
damental, foi transferido de outra escola no

O
distúrbio comportamental e a defa- início de 2008, por motivo de violência na
sagem de aprendizagem nas escolas escola. Durante o ano de 2008, não levou a
têm sido recorrentes nas pesquisas sério. Juntou-se com más companhias fal-
que avaliam a qualidade do ensino. Nesse tando às aulas, além de ter brincado o tem-
sentido, o cenário disciplinar predominante po todo nos corredores da escola, tirando a
determina o perfil do aluno, repercutindo em atenção dos colegas, quando presente. Por
suas manifestações e desejos. esse motivo, foi reprovado, sendo obrigado a
Observa-se uma incidência crescente de repetir o ano.
distúrbio comportamental repercutindo na Neste ano, o aluno continua com os mes-
aprendizagem, em decorrência de possí- mos comportamentos, como desrespeito a
veis problemas familiares que influenciam professores e colegas, falta de concentração,
no desenvolvimento cognitivo da criança e, não consegue sentar adequadamente, de-
consequentemente, provocam a defasagem bruça, muitas vezes, por cima da carteira,
das habilidades e competências que todo sem contar o tempo que consegue ficar sen-
aluno deve adquirir no decorrer do ano le- tado dentro da sala. Ainda mais, constan-
tivo. Segundo Montalvão (1980, p. 25), “Pais temente é levado à sala do supervisor para
desajustados trazem a criança em constante repreensão. A família foi acionada, embora
inquietação e temor, fazendo ainda com que não tenha tomado nenhuma providência que
ela tome aversão a tudo quanto signifique pudesse minimizar o problema.
disciplina.” A mãe relata que o garoto foi doado no dia
Levando em consideração o componente em que nasceu, ainda no hospital, mas a avó
de participação social (a família) no cotidia- pegou a criança de volta e criou. A partir de
no do educando, muitas possibilidades são então ela não é responsável por ele, pois não
pertinentes para análise dos fatores decor- gosta dele e não se importa que morra.
rentes de situações que envolvem o aluno na Segundo o relato o aluno, ele gosta de es-
construção de sua história. tudar, sua matéria predileta é matemática,
Nesse sentido, a abordagem do educan- pensa em terminar os estudos e fazer facul-
do com perspectiva de vida normal tem sido dade de matemática. Quer ser professor. Não
cada vez mais delineada para a aquisição da suporta a turma por estar fora de sua idade.
qualidade de vida no espaço escolar. Par- E também não suporta a voz dos professo-
tindo desse pressuposto, buscar entender a res e, às vezes, discute com os colegas. Fica
defasagem escolar que norteia a realidade ansioso por ser repetente e quer ir para o
do educando é buscar uma reflexão peda- projeto Acelerar, mas ainda não tem idade.
gógica sobre o tema proposto em relação aos O aluno relata que não conheceu o pai e
motivos do mau aproveitamento bem como não sente vontade de conhecê-lo. Não vive
à questão comportamental, que podem ser
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

81
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Abordagem pedagógica em distúrbios de comportamento Sarah Paulina da Silveira Silva

bem com a mãe e não combina com o irmão, família por um acaso, resultando em proble-
que é mais querido pela mãe. O aluno relata mas emocionais, refletidos no seu compor-
que a mãe teve um namorado que era como tamento e na sua aprendizagem, consequ-
um pai. Dava-lhe de tudo. Mas terminou o ência da rejeição desde que nasceu. Como
namoro e nunca mais apareceu. Fez muita afi rmam Hall e Lindzey (1973, p. 65): “O fi-
falta, pois sente falta de um pai, todavia não lho que reprimiu sentimentos de hostilidade
quer ouvir falar do pai verdadeiro. em relação ao pai, via de regra, manifesta
Duas professoras entrevistadas afi rma- esses sentimentos contra outros símbolos de
ram que Rodney apresenta agitação cons- autoridade.”
tante, muita dificuldade de concentração Na tentativa de trabalhar o problema e
e desinteresse diante de atividades que buscar sua superação, a escola encaminhou
exigem raciocínio mais elaborado. Por ser o aluno para um psicólogo e conta com a
efetivamente agitado, o tempo de concentra- orientação do psicopedagogo da escola.
ção é mínimo e se dispersa facilmente. Além Diante do caso, percebe-se que a família
disso, não tem postura correta para assen- tem participação efetiva no desenvolvimen-
tar. Ora debruça na carteira, ora levanta do to da criança, bem como é responsável pelo
lugar. Anda desajeitado, se balançando todo. seu aprimoramento em todas as instâncias

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


É carente, demonstra ser rejeitado pelos fa- da vida, pois sua ação pode ajudar ou não
miliares e fi xa os olhos no professor. Gosta o seu desempenho como pessoa. No caso de
de ajudar o professor carregando o material, Rodney, a família deixou de ser favorecer a
apagando o quadro e, quando sai da sala, sua construção social, omitindo sua respon-
não espera o professor autorizar. sabilidade e deixando de cumprir seu papel
Após conhecer sua história, algumas ati- defi nido pela legislação.
tudes foram tomadas com vistas a ajudar o
aluno, como um tratamento diferenciado, REFERÊNCIAS:
assistência efetiva do psicopedagogo da es-
cola com mais afeto e valorizando-o naquilo CONO, Betuel. Ética: arte de viver. A alegria
que faz e gosta de fazer. de não estar só. 4. ed. São Paulo: Paulinas,
O aluno tem apresentado alguma me- 2005.
lhora parcial, mas ainda falta muito, pois
vai depender de um acompanhamento HALL, Calvin S. e LINDZEY, Gardner. Teorias
prolongado. da Personalidade. 4. ed. São Paulo: Editora
Para efeitos didáticos, foi feito com o alu- Pedagógica e Universitária Ltda., 1973.
no um desenho para análise do caso. Uma
pessoa ensinando e outra aprendendo, sendo KANDEL I. L. Uma Nova Era em Educação.
fundamental lembrar que o aluno se identi- Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1960.
fica com um educando aprendendo com as
professoras de quem ele mais gosta. MONTALVÃO, Alberto. Psicologia Aplicada
Uma de suas manifestações é a discór- ao Comportamento. Percepção e controle
dia com as professoras mais admiradas por da tensão emocional. São Paulo: Empreen-
ele, o que levou o direcionamento do caso dimento Editorial do Grupo Novo Horizonte
ao contexto familiar, pois, muitas vezes, têm S.A., 1980.
que ser levados em consideração os valores
adquiridos no seio da família.
Segundo Kandel (1960, p. 77), “[...] essas
experiências que influenciam suas atitudes,
idéias, seu modo de proceder e falar, se ir-
radiam para fora do lar”. O contexto fami-
liar tem sido um dos principais objetos de
estudo na área da educação, pois a família é
parte integrante da escola, é onde se inicia o
processo educativo. “A família é considerada
um dos alicerces da civilização e da educa-
ção” (CONO, 2005, p. 63).
Pela avaliação, Rodney é vítima de um
relacionamento sem sucesso. Faz parte da

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 32
AUTORA:
Selma Ferreira Aguiar

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

AFINAL, O QUE É QUE ESSE MENINO TEM?

Para alguns professores, o aluno é indis-


Resumo ciplinado, sem limites, sem noção de valores
A pergunta feita pela cantineira de uma escola pública de e, por isso, deveria ser convidado a se retirar
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

Belo Horizonte dá inicio ao estudo de caso de um aluno da escola.


que foi enviado para avaliação psicológica por apresen- Outra hipótese que conta com o consenso
tar comportamento inadequado. parece ser o Transtorno de Déficit de Aten-
ção e Hiperatividade (TDAH). Segundo Ro-

E
duardo1, 18 anos, aluno do segundo cha (2008), citando Goldstein (2000), uma
ano do Ensino Médio, é filho de pais série de critérios que são tidos como oficiais
separados, sendo criado pela mãe e no diagnóstico de Hiperatividade ou Trans-
pelos avós. O pai não tem presença nem par- torno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
ticipa de sua vida. Em casa, ele fica o tempo (TDAH) em crianças e adultos em todo o
todo na Internet, por isso não é de sair, não mundo:
frequenta bares.
Entrou nesta escola em 2007, no primeiro As características do TDAH aparecem bem
ano do EM, repetiu o ano em 2008. Até o cedo para a maioria das pessoas, logo na
mês de abril/2009, já assinou quatro ocor- infância, com dois grupos de sintomas, de
rências por comportamento desafiador, im- acordo com a área de predominância: 1-
pulsividade, agitação e inquietude. Durante TDAH – Tipo desatento: a pessoa apresenta,
as conversas na coordenação, em todas as pelo menos, seis das seguintes característi-
ocasiões, o aluno não demonstrou arre- cas: não enxerga detalhes ou faz erros por
pendimento algum, se limitando a dar as falta de cuidado; dificuldade em manter a
respostas que a supervisora esperava ouvir atenção; parece não ouvir; dificuldade em se-
para sair o mais rápido possível dali. guir instruções; dificuldade na organização;
Várias especulações foram feitas pelos evita/não gosta de tarefas que exigem um
professores, alunos e funcionários sobre o esforço mental prolongado; frequentemente
seu comportamento. Suspeitaram do uso de perde os objetos necessários a uma ativida-
Crack: de; distrai-se com facilidade; esquecimento
nas atividades diárias. 2- TDAH – Tipo hipe-
uma droga derivada da cocaína, que cau- rativo / impulsivo: a pessoa apresenta, pelo
sa aumento da autoconfiança, sensação de menos, seis das seguintes características:
poder e euforia seguida de depressão pro- inquietação, mexendo as mãos e os pés ou
funda, e provoca fadiga, perda de memória, não parando quieto na cadeira; dificuldade
insônia, paranóia e comportamento violen- em permanecer sentada; corre sem destino
to. (drogas.netsaber.com.br). ou sobe nas coisas excessivamente; dificul-
dade em engajar-se numa atividade silen-
Essa hipótese foi descartada porque o ciosamente; fala excessivamente; responde
aluno não apresenta esses efeitos colaterais, às perguntas antes de serem formuladas:
nem o cheiro característico e marcas no ros- age como se fosse movido a motor; dificul-
to e dentes, adquiridos com o uso constante dade em esperar sua vez; interrompe e se
da droga. intromete.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Afinal, o que é que esse menino tem? Selma Ferreira Aguiar

Após passar pelo colegiado, o aluno foi REFERÊNCIAS:


encaminhado ao Centro de Aplicação da Psi-
cologia (CEAP) . BENCINI, Roberta. Comprimidos em exces-
Encaminhar alunos ‘’com dificuldade’’ so. Nova Escola. São Paulo, n. 202, p. 36 -
aos consultórios médicos é cada vez mais 42. maio 2007.
comum, mas é preciso cautela porque:
ROCHA, Danielle Cássia da. Criança Hipera-
Na infância, todos gostam de brincar, cor- tiva? O Caso é o seguinte... Coordenação Pe-
rer, pular, gritar. Alguns também xingam, dagógica, Revista Eletrônica, Belo Horizon-
fazem birra, não respeitam as pessoas e são te, v. 1, n. 1, p. 135-137, jan./jun. 2008.
indisciplinados, esses comportamentos são
normais. Muitas crianças têm dificuldades http://drogas.netsaber.com.br/index.
de aprendizagem, mas pouquíssimas têm php?c=151 Acesso em: 10/05/2009.
déficit de aprendizagem. O limite entre a
normalidade e a doença está na frequência
dessas atitudes. É preciso observar e acom-
panhar a vida do estudante por pelo menos

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


seis meses para fazer um diagnóstico. Fatos
traumáticos como a separação dos pais ou
a morte de um ente querido podem gerar
mudanças importantes, ainda que temporá-
rias. O transtorno só se manifesta mesmo
quando esse hábito passa a atrapalhar os
relacionamentos e o desenvolvimento na es-
cola. (BENCINI, 2007).

A ausência de um histórico com este


diagnóstico ou registros escolares do aluno
no Ensino Fundamental descartam, a prin-
cípio, o distúrbio.
Afi nal, o que é que esse menino tem?
A supervisora não descarta a possibilida-
de do TDAH, por isso mesmo buscou uma
avaliação do profissional da saúde, mas
ela concorda que certas condutas que os
jovens adotam estão, muitas vezes, ligadas
à aceitação em grupos que valorizam com-
portamentos caracterizados como provas de
autoconfiança. Buscando essa aceitação, o
jovem se vê levado a adotar condutas que,
normalmente, não adotaria sem esse tipo de
cobrança. Talvez esse jovem esteja procu-
rando seu espaço e a sensação de pertencer
a algum grupo, de ser respeitado como pes-
soa. Embora apresente atitudes e compor-
tamento considerados inadequados, só quer
ser e se sentir feliz.
Seja qual for o resultado da avaliação
psicológica, a escola e os responsáveis pelo
aluno vão procurar estratégicas para ajudá-
lo e compreender as suas necessidades, aco-
lhendo-o, respeitando-o em suas diferenças,
sem cair na armadilha dos sentimentos de
pena e intolerância.

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Artigos
Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais

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REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
ARTIGO 1
AUTORA:
Adriana Fernandes Dornellas da Silva

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

DESAFIOS ENCONTRADOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A princípio, acharam que era somente por


Resumo timidez, mas continuaram observando-o de
Este artigo relata o estudo de caso de um aluno da Educa- forma atenciosa. Com o passar do tempo, ele
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ção de Jovens e Adultos –EJA com dificuldades de apren- começou a faltar às aulas e as educadoras,
dizagem, em uma escola da Rede Municipal de Ensino de por sua vez, tentaram conversar com ele na
Belo Horizonte. São apresentadas as intervenções execu- tentativa de entender o que estava aconte-
tadas, bem como os resultados obtidos. cendo, contudo não obtiveram sucesso.
Ainda no primeiro semestre do ano letivo,

A
sala de aula é heterogênea, cada alu- verificou-se que ele não estava acompanhan-
no tem sua característica e necessita do o desenvolvimento da turma. A situação
de um olhar individualizado do edu- foi repassada à coordenação que orientou
cador. Na classe da Educação de Jovens e as educadoras que tentassem se aproximar
Adultos – EJA, na maioria das vezes, há uma desse aluno e buscassem maneiras de co-
maior especificidade, tendo em vista que as nhecê-lo, principalmente no que tange a seu
pessoas ali presentes têm histórias, conheci- cotidiano.
mentos, anseios e interesses diversificados. Diante do proposto, as educadoras bus-
No entanto, existem alguns desafios que caram uma maior interação com o aluno,
geralmente são encontrados na EJA, dentre principalmente nos momentos informais. No
eles lidar com um aluno que trabalhou o dia intervalo, elas juntamente com todos os alu-
todo, em algumas situações com idade mais nos tomavam café juntos, sempre buscando
avançada e baixa autoestima, acarretando sua interação e participação nas conversas.
com isso a dificuldade de aprendizagem. Após uns quinze dias de especulação,
Dessa forma, a escola, principalmente os conseguiram verificar o seguinte: o aluno se
professores, deve buscar diferentes estra- recusava a ler os textos em sala pelo tama-
tégias de trabalho na tentativa de superar nho da fonte, tinha dificuldades de enxergar;
os obstáculos encontrados em uma classe apesar de ter 60 (sessenta) anos de idade,
como essa. Assim como prevê a LDBEN em era ele quem mantinha sua casa fi nanceira-
seu artigo 37º §1º: mente, por isso trabalhava o dia todo como
pedreiro (razão por que chegava à sala com
Os sistemas de ensino assegurarão gratui- uma aparência muito cansada e uma voz
dade aos jovens e aos adultos, que não pu- bem fraca), e tinha uma baixa auto-estima,
deram efetuar os estudos na idade regular, com isso não interagia com as pessoas.
oportunidades educacionais apropriadas, Após o levantamento, a situação foi dis-
consideradas as características do alunado, cutida em uma reunião pedagógica, na ten-
seus interesses, condição de vida e de tra- tativa de buscar maneiras de estimular esse
balho mediante cursos e exames. aluno e melhorar a qualidade do processo
de ensino-aprendizagem, ou seja, buscar
O caso em questão é de um aluno com 60 adaptações coerentes para a sua integração.
anos de idade na classe de alfabetização da Monteiro (1995) descreve as influências da
EJA. Pelo que foi relatado pelas professoras, deficiência:
esse aluno ficava bem calado, não interagia
com os colegas, estava sempre cabisbaixo.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Desafios encontrados na educação de jovens e adultos Adriana Fernandes Dornellas da Silva

É preciso reconhecer que a deficiência tem que o aluno interaja, compartilhando idéias,
uma dupla influência no desenvolvimento: saberes e sentimentos.
se, por um lado, é uma limitação e direta- O professor, na ótica da educação inclu-
mente atua como tal - criando obstáculos, siva, não é aquele que ministra um “ensino
prejuízos e dificuldades, por outro, exata- diversificado”, para alguns, mas aquele que
mente porque as cria, serve de estímulo para prepara atividades diversas para seus alunos
o desenvolvimento das vias de adaptação, com e sem dificuldades de aprendizagem.
canais de compreensão que podem levar o Quando a escola se depara com o aluno
desequilíbrio alterado a uma nova ordem na com necessidades educacionais especiais,
constituição das diferenças. em vez de adaptar e individualizar/diferen-
ciar o ensino para esse aluno, ela precisa
Diante do quadro levantado, foram feitas recriar suas práticas, mudar suas concep-
algumas alterações no cotidiano daquela ções, rever seu papel, sempre reconhecendo
sala, pois se acreditava que a dificuldade do e valorizando as diferenças.
aluno era resultado de uma “não interação”
em sala, uma vez que fazia as atividades so- REFERÊNCIAS:
zinho e só tinha a intervenção da professora

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


quando a mesma revisava essas atividades. BRASIL. Lei n. 9.394/96 – Lei de Diretrizes e
O primeiro passo foi alterar a fonte dos Bases da Educação Nacional.
textos disponibilizados a esse aluno, para
facilitar sua leitura. Outra estratégia uti- MONTEIRO, Mariângela da Silva. A educa-
lizada foi a elaboração de atividades em ção especial na perspectiva de Vygotsky. In:
grupo valorizando a interação e a troca de MONTEIRO, Mariângela da Silva. Nas rela-
informações entre os educandos, levan- ções dialógicas: o cotidiano de uma classe
do em consideração que aquele grupo era especial. Rio de Janeiro: UERJ, 1995 (Dis-
muito rico (com alunos em vários níveis de sertação de Mestrado).
desenvolvimento). Por fi m, outra alteração
na elaboração dos projetos, tendo em vista
que a escola nessa modalidade de ensino só
trabalha com projetos, mas preestabelecidos
por ela: passou a fazer com que os alunos
escolhessem os temas geradores de forma a
estimular a participação de todos, para fi-
carem mais interessados e se sentirem mais
importantes (autoestima).
Percebe-se que algumas atitudes apon-
tadas estão sustentadas em algumas idéias
de Vygotsky apud Monteiro (1995) “[...] as
crianças com deficiência deveriam ser es-
timuladas a interagir amplamente [...]”. Ele
ressaltou ainda que o pensamento e o con-
vívio com a diversidade são fundamentais
para o desenvolvimento.
Depois de alguns meses de mudanças de
estratégias, verificaram-se algumas melho-
ras no desenvolvimento do aluno em foco,
mas ainda apresentava algumas dificulda-
des em decorrência do cansaço de um dia
longo de trabalho e de sua idade avançada,
porém são questões cuja solução não está ao
alcance da escola.
A escola tem o objetivo de ampliar todo
e qualquer conhecimento que o aluno traz
de sua experiência pessoal, porém deve esti-
mulá-lo a superar o senso comum. Contudo,
uma das suas maiores missões é fazer com

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ARTIGO 2
AUTORA:
Amanda Tostes de Oliveira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN NA REDE REGULAR DE ENSINO:


INCLUSÃO

volvido o trabalho na escola. Clara tem uma


Resumo estagiária que cuida dela e a ajuda para
O presente artigo refere-se à questão dos alunos com melhorar o seu desempenho social e escolar.
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Síndrome de Down na rede regular de ensino. A inclusão Segundo Piaget (1989), toda criança possui
escolar é um assunto que está sendo bastante discutido, um esquema de assimilação que evolui de
mas é um processo longo e contínuo que, infelizmente, não acordo com a etapa de desenvolvimento que
é aceito por todos da sociedade. atravessa. Nos primeiros anos, ele é emi-
nentemente sensório-motor e simbólico, isto

N
o Brasil, a educação inclusiva, que é, a riqueza das experiências que a criança
visa inserir as crianças com necessi- realiza nesta e nas demais etapas do seu
dades educacionais especiais no ensi- desenvolvimento torna-se fundamental para
no regular, fundamenta-se na Constituição o seu desenvolvimento cognitivo e, portanto,
Federal de 1988, que garante a todos o direi- para a aprendizagem.
to à igualdade (art. 5º). De forma tranquila, fui observando a
A inclusão é uma prática cada vez mais aluna dentro da sala, como ela agia com os
frequente em vários países, apesar de ain- seus colegas e como eles agiam com ela, e
da carecer de uma política específica para como era o seu desenvolvimento na hora do
o desenvolvimento pleno desse processo. pátio, nas brincadeiras livres, no lanche e
Naqueles cenários onde foi efetivada, a in- no recreio.
clusão tem-se revelado benéfica para as Percebi que Clara é uma criança cari-
crianças portadoras da Síndrome de Down, nhosa, esperta, alegre, gosta de brincar,
embora ainda haja muitos desafios a serem porém individualmente. A aluna me aceitou
superados, dentre eles, a falta de preparo de forma bem tranquila. Notei que tinha di-
dos profissionais envolvidos, a participação ficuldades de interação com seus colegas e
da família e a criação de uma rede de apoio não participava muito da aula. Sempre que
que inclua a interlocução de profissionais de exigia que os alunos participassem da aula,
diversas áreas do conhecimento, especial- a professora tentava que Clara participasse
mente das áreas de educação. com os outros alunos, mas nem sempre ela
Em uma escola da rede pública de Con- conseguia.
tagem (MG), foi matriculada Clara , 4 anos Segundo Pieczkowski (1999), toda crian-
de idade, com Síndrome de Down, no 1º pe- ça possui um ritmo de desenvolvimento, seja
ríodo da educação infantil. Procurei deixar ele físico ou mental que difere de uma pes-
bem claro para a diretora e a supervisora da soa para outra.
escola qual era a minha intenção de estar Aos poucos, seu comportamento foi mu-
lá, fazendo o trabalho com o estudo de caso, dando, às vezes muito agitada, outras vezes
com isso a escola me permitiu fazê-lo. permanecia apática, como se estivesse em
Comecei o estudo pedindo a pasta da outro lugar. Apresentava dificuldades ao re-
aluna contendo todas as informações médi- alizar algumas atividades. Ficava andando
cas e psicológicas. A escola tem uma ótima em toda sala, mexia na mochila, principal-
orientação e aceitação para atender esses mente na merenda dos colegas. Às vezes ela
alunos. tinha um comportamento que ninguém acre-
Aos poucos fui conhecendo como é desen- ditava: interessada, participativa, tranquila

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Alunos com síndrome de down na rede regular de ensino: inclusão Amanda Tostes de Oliveira

e assim ela ficava todo tempo na escola.


Aos poucos fui observando que aluna
adora brincar com os joguinhos de ligue-
ligue e, quando ela conseguia montar algu-
ma pecinha, ela batia palma e ficava toda
feliz. Percebi também que ela gosta de brin-
car com joguinhos pedagógicos de madeira,
de colorir com giz de cera e de brincar no
escorregador.
Além de a aluna ter o incentivo da escola,
ela tem o da família, que é um dos mais im-
portantes. Ela faz acompanhamento diário
na APAE de Contagem. Com isso a escola
tem uma ligação direta com os médicos, pe-
dagogos e psicólogos que a acompanham, o
que favorece o seu desenvolvimento.
A coordenação pedagógica juntamente os

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profissionais que a acompanham acreditam
que, com o passar dos anos, Clara terá um
desempenho escolar e social.
De acordo com Pieczkowki (1999), na bus-
ca da inclusão de crianças portadoras de de-
ficiência no contexto educacional em espaços
menos segregadores, essas crianças passam
a ganhar conotações mais importantes, ten-
do seu direito à educação assegurado pela
legislação vigente, que prevê atendimento
educacional especializado, preferencialmen-
te na rede regular de ensino.
Ressalto que a inclusão na escola regular
não resolverá totalmente a questão da defi-
ciência da criança, visto que é um problema
real, clínico e objetivo e que o trabalho dos
profissionais da educação não é suficiente
para a inclusão, se a sociedade não estiver
preparada para receber essa criança.

REFERÊNCIAS:
PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. São
Paulo. 1989.

PIECZKOWSKI, Tânia Mara Zancanaro. O


espaço das crianças portadoras de necessi-
dades educacionais especiais – Deficiência
Mental – na Educação. Revista Pedagógica.
Chapecó, Santa Catarina, 1999.

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ARTIGO 3
AUTORA:
Ana Cristina Alves dos Santos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE – TDAH

Hugo. Diante desse desespero, ela começou


Resumo a falar do comportamento do aluno para ou-
Este artigo tem por objetivo apresentar um estudo de tras professoras e para a coordenação da es-
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caso observado em uma escola pública com foco no pa- cola e chegaram à conclusão de que o aluno
pel do professor enquanto agente do processo de ensino e precisava de um tratamento especializado,
aprendizagem de seus alunos. O aluno em questão apre- de um apoio psicológico, já que só chamar a
senta Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade atenção e conversar com os pais não estava
(TDAH), seu comportamento agitado e impulsivo dificul- resolvendo o problema. Diante disso, a coor-
tava sua sociabilidade e interferia em sua aprendizagem. denação da escola chamou a mãe do aluno
para conversar e pediu-lhe que levasse a

O
Transtorno de Déficit de Atenção e criança ao posto de saúde e procurasse um
Hiperatividade (TDAH) é uma doença tratamento psicológico. A mãe, que já não
pouco conhecida e de difícil diagnós- sabia mais o que fazer, resolveu ouvir o con-
tico. Os sintomas, geralmente, são diferen- selho da escola e foi buscar um tratamento
tes entre meninos e meninas, sendo que os para o fi lho.
meninos apresentam impulsividade e hipe- Segundo a coordenadora da escola, a mãe
ratividade enquanto as meninas, desatenção várias vezes relatou que era muito difícil
crônica, esquecimento e falhas de memória. conseguir esse tipo de tratamento através
A dificuldade de estabelecer um diagnóstico do Sistema Único de Saúde (SUS), mas ela
para essa doença consiste no fato de ainda teve persistência e, fi nalmente, conseguiu
não ser possível mensurar o comportamento ser atendida. A psicóloga realizou alguns
das crianças, sendo assim, os pais e profes- exames e ainda demorou alguns meses até
sores têm dificuldades de saber se aquele descobrir o problema. Felizmente, ela fez o
comportamento é normal, se é falta de um diagnóstico correto e encaminhou o Hugo
puxão de orelhas ou se pode ser realmente para um psiquiatra, que faz seu tratamento
algum tipo de doença. até hoje. O tratamento inclui o uso de remé-
Hugo1 tem 13 anos, estuda numa escola dios associado ao trabalho com a autoestima
da rede estadual da zona norte de Belo Ho- da criança, para que ela sinta cada vez mais
rizonte e está na 6ª série/9 do ensino fun- gosto pelos estudos e pelo convívio familiar.
damental. Já mudou várias vezes de escola A observação atenta da professora e a
devido ao seu comportamento e só descobriu boa relação existente entre ela e a coorde-
que apresentava esse transtorno aos onze nação da escola fi zeram toda diferença na
anos, através da ajuda de uma professora vida de Hugo. Elas conseguiram identificar
dessa escola. que aquele aluno apresentava dificuldades,
Tânia 2 , a professora de Hugo na 5ª que suas bagunças excediam o limite de um
série/9, estranhava as suas dificuldades de aluno comum e tiveram a iniciativa de ten-
aprendizagem e, principalmente, seu com- tar fazer algo diferente por ele. O professor
portamento. Ela não sabia mais o que fazer é o contato mais próximo existente entre o
para manter a sala em ordem e conseguir aluno e o processo de ensino-aprendizagem,
ensinar até as coisas mais simples para devendo estar atento às características di-
ferenciais de seus alunos. Segundo Freire
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno
(1996), “Não é possível duvidar um momento
2. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – TDAH Ana Cristina Alves dos Santos

sequer de que a prática educativo-crítica, sar das dificuldades que encontramos nas
como experiência especificamente humana, salas de aulas, principalmente nas escolas
é uma forma de intervenção no mundo”, sen- públicas, é possível fazer algo de novo, de
do capaz de alterar significativamente a vida diferente.
de seus atores. O professor representa cada vez mais um
A identificação de qualquer transtorno é papel muito importante na vida dos seus
um passo muito importante para a vida da alunos e, por isso, é importante que ele não
criança, embora ainda não resolva o proble- tenha medo de se envolver com eles, de ter
ma. Saber como lidar com esse transtorno afetividade, de ter a licenciatura como opção
apresenta tantas dificuldades quanto a sua de vida. Segundo Freire (1996), “a prática
identificação. Essas estão relacionadas com educativa é afetividade, alegria, capacida-
a vida do aluno como um todo, ou seja, a de científica e domínio técnico a serviço da
escola, os amigos, os familiares e todas as mudança”. Sem essas características difi-
pessoas que fazem parte do seu convívio cilmente conseguiremos desenvolver de ma-
social. neira satisfatória a prática educativa. Tânia
Após o diagnóstico de Hugo, ele passou e a escola onde ela trabalha conseguiram
a ser medicado e teve várias alterações em realizar um bom trabalho com Hugo, con-

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seu comportamento. Nos primeiros meses, seguiram desenvolver uma educação com
ele ainda apresentava certa irritação, mas afetividade, com vontade e, como vimos, o
estava mais quieto. Após alguns meses de resultado foi satisfatório para todos os envol-
tratamento, ele se comportava praticamente vidos no processo. Além disso, é importante
como os outros alunos. Hugo teve um atra- que os professores estejam sempre atualiza-
so considerável em seu tempo escolar, mas dos, que saibam identificar as dificuldades
após o início do tratamento apresenta faci- de seus alunos e associá-las a possíveis
lidade de aprendizagem e muita criatividade transtornos ou doenças que são passíveis
para desenvolver seus trabalhos escolares e de diagnóstico na fase escolar. Essa questão
conta com todo o apoio por parte da escola. da atualização dos professores está intima-
Esse aluno pôde, a partir do tratamento, mente ligada ao seu processo de formação
ter um bom relacionamento social na esco- e à vontade e à crença de que uma escola
la, sendo tratado como uma pessoa normal melhor é possível.
e não como o bagunceiro. Tânia, Hugo e a
coordenação da escola cresceram juntos, REFERÊNCIAS:
identificaram o problema e souberam o que
fazer para resolvê-lo. ABDA. Via crucis do transtorno do défi-
Diante da história de Hugo, várias ques- cit de atenção e hiperatividade infantil.
tões podem ser apontadas, dentre elas: a Disponível em: <http://www.upgradetreina-
importância do professor na educação dos mento.com.br/artigos/deficit-de-atencao/a-
alunos e da coordenação no acompanha- via-crucis-do-transtorno-do-deficit-de-aten-
mento das atividades realizadas por eles; a cao-e-hiperatividade-infantil>. Acesso em
necessidade de o professor se manter sem- 20/04/2009.
pre atualizado e consciente de suas ações; o
papel fundamental da escola enquanto faci- FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia:
litadora da relação da criança com o mundo saberes necessários à prática educativa. São
a sua volta; e a importância da relação entre Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).
pais, professores e coordenação da escola,
como agentes de intervenção na vida da
criança. Todos esses pontos servem para a
reflexão sobre qual escola queremos, sobre
como a interferência na vida do aluno, den-
tro e fora da sala de aula, pode ser benéfica
para o mesmo e, principalmente, sobre como
possibilitar ao aluno um melhor processo de
aprendizagem. A vivência dessa professora e
da coordenação da escola serve de exemplo
para nossa prática como futuros profissio-
nais de Pedagogia e nos apresenta que, ape-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 4
AUTORA:
Analina Marciano da Silva

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO FRENTE AO DESAFIO DA INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICI-


ÊNCIA MENTAL, VÍTIMAS DA PEDOFILIA

de origem genética ou ser adquiridas pelos


indivíduos ao longo de suas vidas. É impor-
Resumo tante que se saiba que o deficiente mental
Este artigo trata da atuação desafiadora do pedagogo pode apresentar características de doente
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

na inclusão de alunos com deficiência mental, vítimas da mental, mas, para que seja caracterizado
pedofilia. como deficiente mental, o doente mental
deve, necessariamente, ter déficit cognitivo.

E
sse artigo foi elaborado na perspectiva Após a diferenciação dos termos doente
da pesquisa bibliográfica qualitativa e mental e deficiente mental, a pesquisa bus-
objetivou identificar as ações peda- cou, através de objetivos específicos, estabe-
gógicas que viabilizam a inclusão de alunos lecer ações que facilitassem o processo de
com deficiência mental, vítimas da pedofilia. socialização desses alunos, tendo observado
A pesquisa foi realizada de maneira a consi- que crianças que vivenciaram abuso sexual
derar os danos que essa violência causa ao tendem a se comportar de maneira a dificul-
longo da trajetória escolar do aluno envolvi- tar a criação de vínculos de amizade.
do, assim como as práticas pedagógicas faci- Foram feitos dois estudos de caso. No pri-
litadoras no processo ensino-aprendizagem meiro, pôde-se perceber que o aluno apre-
desses alunos. sentava comportamento de docilidade em
Através deste estudo foram elaboradas excesso, queria carinho, insistia em abraçar
sugestões e orientações que pudessem au- os colegas mesmo quando eles não queriam
xiliar os pedagogos na orientação de seus ser abraçados. E isso ocorria o tempo todo,
professores quanto à questão da inclusão podendo-se perceber que essa ação afasta-
desses alunos, de forma a envolver toda a va e assustava os colegas, o que dificultava
turma, de acordo com os ideais da educação consideravelmente a sua socialização. Este
inclusiva. comportamento passou a ocorrer após a
O artigo se focaliza a atuação do pedagogo percepção de que a criança estava sendo
frente ao desafio da inclusão de alunos que, assesiada por pedófi los. No segundo, o com-
além da deficiência mental, foram vítimas da portamento manifestado era completamente
pedofi lia, crime hediondo que expõe a crian- atípico, o aluno apresentava postura de ví-
ça a abusos sexuais e a grandes traumas tima o tempo todo e agia de maneira antis-
psicológicos. social como se quisesse afastar as pessoas.
Para compreensão do tema, faz-se ne- Utilizava linguagem vulgar e se expressava
cessário esclarecer e diferenciar conceitos com frases e posturas inadequadas e re-
fundamentais, como o que é a deficiência pugnantes, demostrando sentir-se feliz com
mental e sua diferença de doença mental, isso. Além disso, percebeu-se que, após a
esclarecendo também as diferenças entre os descoberta dos abusos, o aluno falava sobre
diversos crimes sexuais cometidos por pedó- o fato o tempo todo e insistia em agarrar os
fi los e suas consequências para os alunos. colegas, tocando-os em suas partes íntimas,
A deficiência mental é caracterizada, fun- esse comportamento não fora observado an-
damentalmente, pelo déficit cognitivo, en- tes do registro dos abusos.
quanto a doença mental se caracteriza por Foi importante para a compreensão dos
esquizofrenias e neuroses, não implicando contextos e do tema o esclarecimento dos
que haja déficit cognitivo, e ambas podem ser pedagogos e docentes sobre questões pri-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A atuação do pedagogo frente ao desafio da inclusão... Analina Marciano da Silva

mordiais, em especial o fato de que muitos abuso possa estar ocorrendo.


acreditavam que os alunos manifestavam A ação pedagógica deverá considerar que
aqueles comportamentos devido a sua defi- a criança deve ser ensinada a confiar em
ciência, e que muitas de suas falas estavam si própria, a se expressar e a buscar ajuda
fazendo parte do imaginário. Muitos profes- junto àqueles com quem ela se sente segu-
sores que já haviam ouvido relatos desses ra. O papel do professor pode tornar-se de-
alunos desconsideravam a possibilidade de cisivo tanto na prevenção do abuso quanto
eles estarem falando de problemas de seu na identificação e denúncia do pedófi lo. O
cotidiano. professor pode, através das observações das
Em um dos casos, quando a criança re- atividades e das ações da criança, perceber
latou o abuso, este foi desconsiderado por que algo errado pode estar acontecendo. E o
parte dos professores, pois, após conversar aluno deve ser encorajado a romper a lei do
com os pais, estes afi rmaram que isso fazia silêncio e a falar sobre o assunto com pesso-
parte apenas de seu imaginário. Na realida- as de sua confiança.
de, esses pais estavam mascarando o que
acontecia em casa, pois a mãe tinha medo REFERÊNCIAS:
de denunciar o marido, que abusava sexu-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


almente do aluno, ou seja, o professor, por BRANDÃO, Maria Zilah da Silva. Comporta-
falta de informação, recorreu à família, ou mento humano: (tudo) ou quase tudo que
seja, ao agressor e à cúmplice. você gostaria de saber para viver melhor. São
Cumpre destacar ainda que os professores Paulo, 2002.
perdem a oportunidade de orientar seus alu-
nos de forma a prevenir que estes venham a CARVALHO. Rosita Edler. Educação inclu-
se tornar vítimas de abusadores, pois muitos siva: com os pingos nos “is”. 4. ed. Porto
acreditam que a pedofi lia é um crime típico Alegre: Mediação, 2006. 175p.
de comunidades carentes, o que não condiz
com o histórico de casos de pedofi lia. Apesar FERNÁNDEZ,A. Os idiomas do aparente:
de haverem fatores que podem complicar a análise de modalidades ensinantes em fa-
questão da criança de baixa renda, o núme- mílias, escolas, meios de comunicação.
ro de casos envolvendo crianças de classes Tradução de Neuza Kern e Regina Ogler Sor-
sociais mais elevadas tem sido significativo. di. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Para a compreensão deste artigo, faz-se
necessário o esclarecimento sobre o que ve- LIBÂNEO, José C. A Prática Pedagógica de
nha a ser pedofilia e sua diferenciação dos Professores da Escola Pública. São Paulo,
demais conceitos envolvendo crimes sexuais, PUC, 1985, dissertação de Mestrado, mimeo.
pois é muito comum pessoas acharem que
pedofilia, abuso sexual, violência contra a MANTOAN, Maria Tereza Égler. Compreen-
criança, estupro e assédio sejam sinônimos. dendo a deficiência mental: Novos cami-
Pedofi lia é a perversão sexual, na qual nhos. São Paulo: Sicpione, 2006. 167p.
a atração sexual de um indivíduo adulto
está dirigida primariamente para crianças MARQUES, Luciana Pacheco. Professor de
pré-púberes ou não. Conhecer o perfi l de pe- alunos com deficiência mental: Concepções
dófi los pode auxiliar os pedagogos em sua e práticas pedagógicas. Juiz de Fora (MG):
atuação. Considera-se uma relação pedófi la UFJF, 2001. 260p.
quando a diferença de idade entre os envol-
vidos é maior que cinco anos, exceção feita PEREIRA, Mário do Carmo; VIEIRA, David
no relacionamento entre adolescentes e en- Fernando. Uma perspectiva de organiza-
tre adultos. As sequelas físicas e cognitivas ção curricular para a deficiência mental. 2
desse crime para as vítimas são agravadas ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
de acordo com a gravidade do abuso. Quanto 1996.
mais violento for o abuso maior o dano cau-
sado à criança. Em se tratando de crianças SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: cons-
com deficiência mental, as manifestações são truindo uma sociedade para todos .2. ed.Rio
ainda mais complexas, requerendo distinção de Janeiro: WVA, 1997. 176p.
entre o é característico de sua deficiência e
o que é manifestação e sinalização de que o

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A atuação do pedagogo frente ao desafio da inclusão... Analina Marciano da Silva

UNESCO. Stateinent and Framework for


Action on Special Needs Education. UNES-
CO, 7-10 jun. 1994. 47p.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 5
AUTORA:
Andréa de Brito Soares Silveira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O OLHAR DIFERENCIADO DA DIREÇÃO E DE UMA PROFESSORA:


UMA DUPLA IMBATÍVEL

cias associadas, de ordem física, sensorial,


Resumo mental, emocional ou de comportamento
As análises deste artigo recaem sobre um estudo de caso social. No entanto, não é o somatório dessas
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realizado em uma escola particular da região oeste de alterações que caracteriza a múltipla defici-
Belo Horizonte. Nos problemas enfrentados no cotidiano ência, mas sim o nível de desenvolvimento,
escolar, o olhar diferenciado da direção e da professora as possibilidades funcionais, de comunica-
pode fazer a diferença na vida de uma aluna. Neste artigo, ção, de interação social e de aprendizagem
a ação da diretora e da professora, como pedagogas, foi que determinam as necessidades educacio-
o grande diferencial para as dificuldades enfrentadas por nais desses alunos.
uma aluna da 1ª Série do Ensino Fundamental. A diretora A diretora e a professora tentaram inces-
e professora souberam olhar além dos olhos, conseguindo santemente vários contatos com a família,
identificar e buscar meios para uma maior evolução da que era sempre vaga e sem uma defi nição
aluna em sala de aula. clara do problema da fi lha. Os relatórios
apresentados pela mãe eram muito antigos.

N
em sempre, os fatos ocorridos na A aluna ficou um grande período sem os
escola remetem apenas à indiscipli- óculos adequados.
na ou falta de limites dos alunos. A Segundo relato da mãe, tudo que fosse
experiência dos alunos se constrói tanto no aprendido pela criança, seria esquecido logo
âmbito escolar quanto no seu meio social. em seguida, devido à morte dos neurônios,
Muitas vezes o segundo influencia de manei- causada pela própria doença.
ra marcante no rendimento da vida escolar. A diretora, não satisfeita com os argumen-
O coordenador/diretor deve estar sempre tos da mãe, resolveu que, no início deste ano
alerta para que, diante de algum problema, escolar, a aluna deveria ir para a 1ª série do
possa identificar se a causa é interna ou ex- Ensino Fundamental, propiciando-lhe novos
terna ao âmbito escolar. estímulos e conhecimentos. Propôs este de-
O caso tratado neste artigo ocorreu em safio à professora da turma, que recebeu a
uma escola da rede particular, na região aluna de braços abertos.
oeste de Belo Horizonte, com a aluna Ma- “Educar é mostrar a vida para quem ain-
nuela1. A escola atende desde a Educação da não viu. É preciso ainda ressaltar que
Infantil até ao Ensino Médio. os alunos com deficiência múltipla passam
Manuela encontra-se hoje na 1ª série do pelos processos de desenvolvimento de um
Ensino Fundamental. Está com 11 anos, indivíduo comum. Logo, não podem ser vis-
possui deficiência múltipla, com atraso tos como eternas crianças”. Essa afi rmativa
psíquico-neuromuscular, necessitando de é bem justificada pelas sábias inferências
estimulação constante da fisioterapeuta e da de Mantoan (2004, p. 39), que relata sobre
fonoaudióloga. Apresenta fotofobia, discreto o trabalho dos profissionais no atendimento
nistagmo. Entrou na escola no ano passado, à diversidade, que precisam adotar novos
com muitas dificuldades no campo da visão, paradigmas, sem infantilizar os alunos
fala e locomoção. considerados limitados. Nesse sentido, ela
A deficiência múltipla pode ser caracteri- permeia as atuações pedagógicas com mu-
zada pelo conjunto de duas ou mais deficiên- danças e quebras de preconceitos.
Ao voltar das férias, Manuela mostrou-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O olhar diferenciado da direção e de uma professora:... Andréa de Brito Soares Silveira

se bem dependente ainda. Havia deixado o modismos educacionais, mas uma trans-
andador e agora se movimentava através de formação que produza uma nova práxis
uma cadeira de rodas. Demonstrava des- pedagógica.
controle de suas necessidades fisiológicas. A
professora, então, começou pedindo a uma Somente a credibilidade no potencial hu-
auxiliar de sala que a levasse ao banheiro mano e a parceria entre profissionais que
em determinados espaços de tempo. Com o estão sempre em sintonia puderam e pode-
passar do tempo, Manuela voltou a manifes- rão fazer a diferença na vida dessa aluna.
tar seus desejos de ida ao banheiro.
Vencida essa primeira etapa, passou-se a REFERÊNCIAS:
adaptar o material didático usado em sala.
Explicou aos coleguinhas sobre as necessi- BRASIL, Ministério da Educação e Cultura,
dades específicas de Manuela, pedindo apoio Secretaria de Educação Especial. Saberes e
a todos eles; o que facilitou a interação de práticas da inclusão: dificuldades acentua-
todo o grupo. das de aprendizagem. Deficiência Múltipla.
A diretora procurou novamente a mãe da SEEP/MEC, Secretaria da Educação Espe-
aluna, pedindo uma reunião com os profis- cial, 2004. 59p. (Série: Saberes e práticas da

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


sionais que acompanhavam Manuela. Mais inclusão).
uma vez não houve grande sucesso. Solicitou
o telefone de contato para que, pelo menos, MANTOAN, Maria Teresa. Educação escolar
pudessem conversar, avaliando novos proce- de deficientes mentais. Problemas para a
dimentos que deveriam ser adotados para o pesquisa e o desenvolvimento. Disponível em:
crescimento da aluna. http//www.scielo.com.br. Acesso em: 08 fev.
A diretora, ao entrar em contato com a 2002.
fisioterapeuta e terapeuta ocupacional de
Manuela, recebeu um convite para acom-
panhar um atendimento da aluna, o que foi
aprovado pela mãe. Elas puderam ver como
o trabalho é desenvolvido e trouxeram para
dentro da escola algumas formas mais efica-
zes de trabalho.
Com o empenho e a abertura da professo-
ra para novas propostas pedagógicas junto
à aluna, Manuela passou a ter um melhor
aproveitamento escolar, conquistando eta-
pas dentro da alfabetização, que são sempre
comemoradas.
Os bilhetes enviados à mãe passaram a
receber respostas mais receptivas e os en-
viados à professora vinham com mais âni-
mo; parecia que ali se formava uma nova
parceria, resultante de expectativas futuras
que antes não podiam ser vistas pela mãe.
Podemos concluir com o seguinte relato:

[...] A avaliação escolar tem múltiplos condi-


cionantes e consequências. É um processo
que ocupa centralidade no fazer pedagógico,
e pode ensejar, não isoladamente, é claro,
mudanças profundas em toda ação educa-
cional. Mudar as concepções e práticas já
sedimentadas na escola e na sala de aula
implica abandonar, muitas vezes, o conforto
e a estabilidade que velhas fórmulas tra-
zem. Todavia, mudar é essencial. Não uma
mudança que implique adesão irrefletida a

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 6
AUTORA:
Aparecida Moreira dos Anjos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA PARA O DESEN-


VOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM BAIXO RENDIMENTO ESCOLAR

vimento, começou a andar, mas a fala ainda


Resumo era muito confusa, as pessoas não a enten-
Família e escola devem ser um verdadeiro apoio emo- diam o que a deixava irritada.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

cional, procurando maneiras de ajudar as crianças com Aos seis anos, matriculada no 1º ano do
baixo rendimento escolar a potencializar suas habilida- primeiro ciclo, quando a professora trabalha
des, as quais podem, de alguma forma, compensar suas com afi nco a alfabetização, percebeu-se que
dificuldades, pois essas crianças enfrentam frustrações Luana tinha dificuldades de reproduzir os
frequentes sobre tudo na escola. sons das consoantes apresentadas e não
conseguia representá-las graficamente, atra-

A
os 6 meses de gestação, após um ul- sando seu processo de aquisição da lingua-
trassom, foi constatado que o volume gem e assimilação do processo da escrita.
do líquido amniótico não estava ade- Como o sistema da Escola Plural não
quado, assim não era possível continuar com permitia a retenção, foi promovida para o 2º
a gestação. O médico propôs uma cesariana ano do 1º ciclo. Seus problemas aumenta-
urgente na tentativa de salvar o bebê. Então ram muito, devido a sentir vergonha de não
Luana nasceu com apenas 1,4 kg e 39 cm, conseguir ler e fazer as atividades propostas
sendo levada imediatamente para incubado- pela professora, o que acarretou problemas
ra onde permaneceu por 4 meses correndo emocionais, como baixa auto-estima e de-
risco de vida, devido ser muito pequena e sinteresse pela escola.
apresentar dificuldades respiratórias. No conselho de classe, as professoras
Após quatro meses de internação, rece- juntamente com a coordenadora pedagógica
beu alta. Devido ao grande período de inter- chegaram a um consenso: Luana precisava
nação, não teve condições de ser amamen- de um acompanhamento especializado para
tada, o que também é um dos fatores que avançar em seu processo de aprendizagem,
prejudicam o desenvolvimento cognitivo dos encaminhando seu caso para a Secretaria
recém-nascidos. de Educação.
Luana começou a falar com atraso, balbu- Realizada a triagem e as primeiras en-
ciando com dificuldades os primeiros sons, trevistas, passou a fazer tratamento com
tinha dificuldades para engatinhar, apre- psicopedagogo, fonoaudiólogo e psicólogo.
sentando lentidão para realizar os movimen- A fonoaudióloga apresentou diagnóstico de
tos. A mãe, preocupada, levou-a ao médico dislalia, uma alteração na articulação dos
que realizou diversos exames e verificou fonemas devido a problemas congênitos ou
que esses atrasos eram consequência de ser adquiridos dos órgãos envolvidos como a
prematura. O médico aconselhou matricu- língua, os lábios, os dentes, a mandíbula
lar a criança em uma escola de Educação e o palato, em resumo, são dificuldades de
Infantil, ressaltando que iria auxiliar muito articulação dos sons da fala.
em seu desenvolvimento motor, socialização Hoje, com 9 anos, está no 3ºano do1º ci-
e oralidade, uma vez que seria estimulada clo, pela segunda vez, por não ter consegui-
por seus pares. do alcançar os objetivos propostos para ser
Assim aconteceu. Após uma conversa com promovida de ciclo.
a coordenação da escola, foi matriculada no A mãe é muito participativa na vida da
maternal I e foi um sucesso o seu desenvol- fi lha, procurando dar a ela todo o suporte

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância da parceria entre família e escola para... Aparecida Moreira dos Anjos

necessário para seu desenvolvimento, ape-


sar das dificuldades fi nanceiras que levam a
interrupções no tratamento de Luana.
Outro fato que pode ter interferido no de-
senvolvimento de Luana foi a perda do pai
aos 5 anos.
Devido às condições fi nanceiras da mãe,
viúva e sem parentes que a ajudem, a escola
tem orientado a mãe a como agir com a fi lha
com o intuito de auxiliar na realização das
atividades propostas, para que Luana vença
as etapas do ciclo.
No caso de alunos com dislalia, reco-
menda-se aos professores:

• Repetir somente a palavra correta, para que


a criança não fixe a forma errada que aca-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


bou de pronunciar.
• Articular bem as palavras, fazendo com que
as crianças percebam claramente todos os
fonemas.
• Assim que perceber alterações na fala de
um aluno, evitar criar constrangimentos em
sala de aula ou chamar a atenção para o
fato. O recomendável é que não se espere
muito tempo para avisar a família e procu-
rar um fonoaudiólogo.
• Uma criança que falta às aulas regularmen-
te por problemas de audição, como otites
frequentes, requer maior atenção.
• O ato da fala é um ato motor elaborado e,
portanto, os professores devem trocar in-
formações com os educadores esportivos e
professores de Educação Física, que nor-
malmente observam o desenvolvimento psi-
comotor das crianças.

REFERÊNCIA:
SISTO, Fermino Fernandes et al. Dificulda-
des de aprendizagem no contexto psicope-
dagógico. Petrópolis: Vozes, 2001.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 7
AUTORA:
Ariana Ponzo de Siqueira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

DÉFICIT DE ATENÇÃO SEM HIPERATIVIDADE

vidade. Depois do diagnóstico, foi informado


Resumo para a mãe que o aluno poderia vir a tomar
O artigo trata de um aluno que tem déficit de atenção e da algum medicamento, mas teria que levá-lo a
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

importância da intervenção da escola. um psiquiatra infantil para fazer mais testes


para avaliar se realmente precisaria tomar

O
presente artigo mostra a história de algum medicamento.
um aluno desde a antiga 1ª série, A mãe o levou ao psiquiatra infantil, fo-
hoje ele está na 6ª série. ram feitos mais testes e foi confi rmado que
A professora relata, conforme informações ele tem déficit de atenção. O médico recei-
da mãe, que o aluno começou a apresentar tou “Ritalina”, que ele tem que tomar só nos
dificuldades de aprendizagem já na antiga dias que tem aula – o remédio tem efeito de
1ª série, quando fez uma prova para entrar 4 horas.
em um colégio particular e não conseguiu O aluno melhorou a atenção nas aulas e
passar, não sendo aceito na escola. continua tomando o medicamento. Hoje ele
Então ele foi estudar em uma outra escola está na 6ª série.
particular, porém menor, e na sala de aula O Distúrbio de Déficit de Atenção – DDA,
havia poucos meninos, podendo a professora segundo Hallowell e Ratey, ocorre como
lhe dar um pouco mais de atenção e fazer resultado de uma disfunção neurológica
um acompanhamento mais de perto. no córtex pré-frontal. Quando pessoas que
Quando ele ia para a 3ª série, fez nova- têm DDA tentam se concentrar, a atividade
mente uma prova no colégio onde não havia do córtex pré-frontal diminui, ao invés de
conseguido entrar, e conseguiu passar. Cur- aumentar (como nos sujeitos do grupo de
sou a 3ª série e passou para a 4ª série com controle de cérebros normais). Assim sendo,
dificuldade. No fi nal da 4ª série, ele estava pessoas que sofrem de DDA mostram muitos
com muita dificuldade e nas provas fi nais ele sintomas, como fraca supervisão interna,
não foi bem, ficando em recuperação. Aca- pequeno âmbito de atenção, distração, de-
bou não sendo promovido para a 5ª série. sorganização, hiperatividade (apesar de que
A coordenadora da 4ª série chamou a mãe só metade das pessoas com DDA sejam hipe-
e relatou que, quando os alunos estão fa- rativas), problemas de controle de impulso,
zendo uma atividade, ele fica olhando para dificuldade de aprender com erros passados,
o tempo, mexendo com a caneta, não presta falta de previsão e adiamento.
atenção nas atividades. A professora tinha Pessoas que sofrem de DDA têm dificulda-
que ficar chamando a atenção dele e pergun- de de manter a atenção e o esforço durante
tando se já havia feito as atividades. Então a períodos de tempo prolongados. Sua atenção
coordenadora orientou a mãe que o levasse a tende a vagar e frequentemente se desligam
uma psicopedagoga e indicou uma que tem da tarefa, pensando ou fazendo coisas dife-
convênio com a escola. rentes da tarefa a ser realizada.
A psicopedagoga marcou uma entrevista Ainda assim, uma das coisas que muitas
com os pais, depois com o aluno. Foram rea- vezes enganam clínicos inexperientes ao
lizados vários testes com o aluno. tratar desse distúrbio é que as pessoas com
O diagnóstico da psicopedagoga foi de que DDA não têm um âmbito pequeno de aten-
ele tinha déficit de atenção sem ter hiperati- ção para tudo. Frequentemente, pessoas que

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Déficit de atenção sem hiperatividade Ariana Ponzo de Siqueira

sofrem de DDA conseguem prestar muita


atenção em coisas que são bonitas, novas,
novidades, coisas altamente estimulantes,
interessantes ou assustadoras. Essas coisas
oferecem uma estimulação intrínseca sufi-
ciente a ponto de ativarem o córtex pré-fron-
tal, de modo que a pessoa consiga focalizar
e se concentrar.
Uma criança com DDA pode se sair muito
bem em uma situação interpessoal e des-
moronar completamente em uma sala de
aula com 30 crianças. Uma criança que tem
DDA, por exemplo, costumava levar quatro
horas para fazer um dever de casa que le-
varia meia hora, muitas vezes se desligando
da tarefa. Mas se você lhe der uma revista
sobre estéreo de carros, ele a lê rapidamente

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


de cabo a rabo e se lembra de cada detalhe.
Pessoas com DDA têm dificuldade em
prestar atenção por muito tempo em assun-
tos longos, comuns, rotineiros e cotidianos,
como lição de casa, trabalho de casa, tarefas
simples ou papelada. O terreno é terrível e
uma opção nada desejável para elas. Elas
precisam de excitação e interesse para acio-
nar suas funções do córtex pré-frontal.

REFERÊNCIA:
HALLOWELL, Edward M.; RATEY, John J.
Tendência à distração: identificação e ge-
rência do distúrbio do déficit de atenção
(DDA) da infância à vida adulta. Rio de Ja-
neiro: Rocco.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 8
AUTORA:
Bárbara de Sena Simões

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

SÍNDROME DE ASPERGER E PROFESSOR

comportamento repetitivos e estereotipados.


Resumo Contrastando com o autismo, não há atrasos
A professora de uma escola particular percebe comporta- clinicamente significativos na linguagem ou
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

mentos estranhos em sua aluna do maternal, uma criança no desenvolvimento cognitivo.


de 3 anos que não interagia com os colegas e mal se co- Algumas das características peculiares
municava. Foi marcada uma reunião com o psicólogo da mais frequentemente apresentadas pelas
aluna, que suspeitava de um diagnóstico de Síndrome de pessoas com Síndrome de Asperger são:
Asperger. • Ecolalia ou repetição de palavras ou frases

N
ouvidas de outros;
os primeiros meses, fevereiro e março,
a aluna Monique ainda se comunica- • Presença de habilidades incomuns como
cálculos de calendário, memorização de
va com alguma dificuldade, embolan-
grande sequência.
do muito os sons, que ficavam de certo modo
incompreensíveis. Também utilizava muito o • Interpretação literal, incapacidade para in-
próprio nome quando queria verbalizar um terpretar mentiras, metáforas, etc.;
desejo, vontade ou necessidade (Ex: Monique • Dificuldades no uso do olhar;
quer massinha rosa, porque gosta de rosa.).
• Apego a rotinas e rituais, dificuldades de
Observando as atitudes e comportamentos
adaptação a mudanças;
da aluna, a professora marca uma reunião
com a mãe para conversar sobre as rotinas • Hipersensibilidade sensorial: determinados
da família. Conversando com a mãe, a pro- ruídos, fascinação por objetos luminosos e
fessora descobre que Monique faz acompa- com música, atração por determinadas tex-
nhamento com psicólogo desde 2 anos e 4 turas, etc.
meses de idade. A professora, então, decide Estudada a Síndrome de Asperger, a equi-
marcar uma reunião com o psicólogo. pe da escola traça metas para o desenvolvi-
Na conversa com o especialista, ele conta mento da aluna durante o ano letivo, com
que Monique foi indicada a ele por um psi- o intuito de obter evolução no quadro atual
quiatra. Seu diagnóstico, em fase de fecha- apresentado pela aluna. A rotina de classe
mento, é de Síndrome de Asperger e ainda foi mantida tão consistente, estruturada
não foi apresentado à família. Após receber e previsível quanto possível. Regras foram
essas importantes informações, a professo- aplicadas pela professora cuidadosamente,
ra, juntamente com supervisora da escola, ela também passou a ensinar baseando-se
vai em busca de informações e sugestões de no concreto.
como trabalhar com essa síndrome. Foi fundamental a mudança de atitude da
A Síndrome de Asperger é uma categoria escola frente ao problema da aluna. Outro
relativamente nova de desordem do desen- ponto de partida adotado pela professora foi
volvimento. Um transtorno da infância que socializar o problema com todos que tinham
afeta predominantemente meninos e é se- contato com a criança, foi essencial que to-
melhante ao autismo (transtorno autístico). dos entendessem que havia uma desordem
Caracteriza-se por prejuízo grave, persisten- de desenvolvimento que levava a aluna a se
te e clinicamente significativo da interação comportar e responder de forma diferente
social e pelo desenvolvimento de padrões de que os demais.

103
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Síndrome de Asperger e professor Bárbara de Sena Simões

Os autores do livro Compreender a Sín-


drome de Asperger (2006) escrevem: “estas
crianças normalmente mostram uma sur-
preendente sensibilidade à personalidade do
professor [...], elas podem ser ensinadas, mas
somente por aqueles que lhes dão verdadeira
afeição e compreensão, pessoas que mos-
tram delicadeza e, sim, humor [...] a atitude
emocional básica do professor influencia,
involuntária e inconscientemente, o humor
e o comportamento da criança”. O próprio
descobridor da síndrome deixa clara a im-
portância central da atitude do professor no
trabalho com essas crianças. A supervisora
da escola continuou a apoiar a professora e
a ajudá-la no processo educacional.
A professora acreditou que a criança

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


daria conta da classe onde estava inserida,
ela também buscou ajudas especializadas e
principalmente da família.
Com ajuda de muitos profissionais (peda-
gogo, psicólogo, terapeuta ocupacional e fo-
noaudióloga), a professora pôde, ao fi nal do
ano, registrar em seu relatório fi nal o salto
no desenvolvimento da aluna. O ensaio e a
prática da inclusão que a professora de Mo-
nique realizou trouxeram sucesso a sua alu-
na, isso mostra que essas crianças podem
aprender e se desenvolver naturalmente no
ambiente escolar, tudo vai depender da for-
ma de incentivo e da confiança creditada.

REFERÊNCIA:
CUMINE, Val; LEACH, Júlia; STEVESON,
Gill. Compreender a Síndrome de Asperger:
Guia Prático para Educadores. Porto Editora,
2006.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 9
AUTORA:
Brízia Aparecida Félix Ferreira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

AGRESSIVIDADE, INDISCIPLINA E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

A família é a base da formação e do o desen-


Resumo volvimento do individuo. Daí a necessidade
Este artigo refere-se a um adolescente agressivo e indis- de pais ou responsáveis estarem sempre em
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

ciplinado que não respeita os professores, não tem acom- contato com seus filhos, dando amor, com-
panhamento da família e prejudica o rendimento de toda preensão e carinho, participando de sua
a turma. vida, estimulando atitudes positivas, dando
força no desenvolvimento de talentos, dan-

A
tualmente, estamos vivendo um mo- do bons exemplos, estabelecendo limites,
mento crítico na educação, alunos direitos e deveres.
muito agressivos, que não respeitam
os professores, indisciplinados e com gran- Depois da longa conversa com a mãe,
des dificuldades na aprendizagem. a supervisora sugeriu que ele fi zesse um
O presente artigo relata um estudo de acompanhamento médico e psicológico, já
caso de um aluno da 5ª série do ensino fun- que a escola, juntamente com os professo-
damental, matriculado no turno da manhã res, estava disposta a mudar a metodologia
em uma escola da região de Contagem e fre- de ensino para tentar prender a atenção dele
quente no projeto Escola Integrada. nas aulas. uma vez que o seu comportamen-
Marcos1 é um menino que, em nenhum to destoava dos demais colegas.
momento, demonstrou interesse em aprender No decorrer do ano de 2008, ele apresen-
o conteúdo. Além de atrapalhar os colegas, tou poucos avanços em relação ao esperado.
ele é um menino indisciplinado e agressivo A supervisora percebeu que ele ainda conti-
tanto com os professores quanto com os nuava agressivo, indisciplinado, com dificul-
próprios colegas. Apresenta dificuldade de dade na leitura e na escrita e não socializa-
aprendizagem na leitura e escrita sempre va com os colegas, apesar das intervenções
fica isolado dos colegas. feitas.
Diante das dificuldades que o aluno apre- Então, no fi nal de novembro, a mãe foi
sentava, a supervisora da escola solicitou a chamada novamente à escola para mais uma
presença da mãe para expor a situação. Pela conversa com a supervisora, que gostaria
conversa, a escola ficou sabendo de informa- de saber como andava o tratamento. A mãe
ções que a mãe não havia passado para a se mostrou indiferente e disse que já estava
escola quando o aluno fora matriculado. cansada de tanto tentar e não ter resultado,
Na conversa, a mãe expôs que o fi lho, há falou também que todas as vezes que ela é
pouco tempo, descobriu que tinha sido ado- chamada na escola Marcos leva uma surra
tado com 4 anos e que, aos 6 anos, depois de para aprender a se comportar.
um exame, foi constatado que ele era diabé- De acordo com Mielnik (1982, p. 60),
tico, passando a tomar insulina. Além disso,
ele não tinha o acompanhamento familiar, a Crianças excessivamente inquietas, agi-
mãe e o pai trabalhavam o dia todo, por isso tadas, com tendências à agressividade, se
ele ficava na escola o dia inteiro. destacam no grupo pela dificuldade de acei-
Segundo José Elias Murad (2003, p.20), tar e cumprir as normas, às vezes, não con-
seguindo produzir o esperado para sua ida-
de. Estas crianças representam um desafio
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

105
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Agressividade, indisciplina e dificuldade de aprendizagem Brízia Aparecida Félix Ferreira

para suas famílias e escola, cabendo a estes


estabelecer os métodos de orientação mais
condizentes a cada situação e estabelecer os
níveis de regimes necessários para obtenção
da disciplina.

De acordo com o autor, a família e a es-


cola têm que andar juntas para que possa
haver algum resultado.
No início deste ano, quando foi matricu-
lar o aluno, que repetirá a 5ª serie, a mãe se
dispôs a fazer tudo que for possível para que
Marcos melhore seu comportamento e a su-
pervisora, confiante no apoio da família, se
dispôs a buscar todas as metodologias pos-
síveis para despertar o interesse do aluno.
Em março, a supervisora já pôde perceber

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


uma pequena mudança no comportamento
de Marcos e no seu interesse pela escola.
Convocou a mãe para uma reunião para
falar sobre a melhora e pedir que não inter-
rompesse o tratamento para não prejudicar
o aluno.

REFERÊNCIAS:
MIELNIK, Isaac. O Comportamento Infantil:
Técnicas e Métodos para entender crianças.
2. ed. São Paulo: Ibrasa, 1982.

MURAD, José Elias. O que é preciso saber


sobre drogas. AMAE educando, Belo Hori-
zonte, v. 35, n. 313, p. 16-20, mar. 2003.

106
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 10
AUTORA:
Cecília Oliveira de Morais

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A AÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO E A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

rado nem apresentado nenhum diagnóstico


Resumo referente à saúde da criança.
Este artigo apresenta a ação da Coordenação Pedagógica Os pais foram convocados à escola para
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

frente ao caso de um aluno do 6º ano do Ensino Funda- uma conversa sobre o aluno. Na reunião, foi
mental da rede particular de ensino, com quadro de indis- relatado que realmente o aluno é acompanha-
ciplina e dificuldade de aprendizagem, além de irritabili- do por psicóloga e psiquiatra. Em casa, ele
dade e agressividade no relacionamento com os colegas. apresenta também um comportamento bem
alterado, porém não há diagnóstico fechado

O
presente artigo foi desenvolvido a par- sobre seu caso. Os pais estão passando por
tir da análise e do acompanhamento fase de separação e acreditam que isso pos-
de um estudo de caso realizado por sa estar influenciando no comportamento do
um coordenador pedagógico em uma escola fi lho. Como nada foi comprovado até o mo-
particular de Belo Horizonte. mento, eles assumiram com a coordenação
O estudo de caso refere-se a um aluno do pedagógica o compromisso de acompanhar
6º ano do 2º ciclo, matriculado na escola no o fi lho e comparecer periodicamente à escola
2º semestre do ano letivo de 2008, que vem para se informarem.
apresentando um comportamento inquieto, Os professores relataram em entrevistas
agressivo, e dificuldade na aprendizagem. que o aluno apresenta uma grande dificul-
Supostamente, apresenta TDAH1. dade em trabalhar em grupo, é agitado,
As primeiras observações a respeito des- irônico em suas respostas, questionador. O
se aluno foram feitas pelos professores re- que mais compromete a sua interação em
gentes, com várias tentativas de intervenção, sala são os comportamentos agressivos e
mas com resultados quase nulos. A partir os palavrões com os colegas e professores.
daí, a professora, juntamente com a coor- O rendimento nos trabalhos é quase sempre
denação pedagógica, iniciou o estudo desse insatisfatório.
aluno, observando que, em um curto período Como o estudo do caso desse aluno ainda
de tempo, o aluno por várias vezes faltava é recente, as intervenções são “testes” para
à aula, apresentando atestados médicos. O verificar se há possibilidade de fechar diag-
coordenador suspeitava que o aluno apre- nóstico de TDAH. O que está sendo proposto
sentasse um quadro de TDAH, pois, além de para ele são situações próprias do cotidiano,
perceber que em alguns dias parecia estar com o intuito de estabelecer regras e um
mais alterado que o normal, o seu compor- melhor comportamento frente ao seu dia a
tamento e a dificuldade na aprendizagem es- dia, tanto em casa como na escola, criando
tavam cada dia mais evidentes. No entanto, uma responsabilidade quanto aos horários
até o momento, em sua ficha não foi decla- de tarefas e à melhor organização do com-
promisso com seus deveres.
É possível perceber que o aluno ainda não
1. O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperativi-
dade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de cau- aprendeu a conviver com a realidade escolar
sas genéticas, que aparece na infância e freqüentemente e seu comportamento ainda não apresenta
acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se ca- evolução. Não consegue lidar com os desa-
racteriza por sintomas de desatenção, inquietude e im- fios e a diversidade das atividades, principal-
pulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio
do Déficit de Atenção).

107
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A ação do coordenador pedagógico e a indisciplina em sala de aula Cecília Oliveira de Morais

mente nos trabalhos em grupo, quando fica


nervoso, irritado e perde o limite.
Com este caso, podemos perceber a neces-
sidade de um diagnóstico preciso a respeito
do aluno e da interação com as famílias. O
coordenador pedagógico deve estar conec-
tado e fazer uso da metodologia do “estudo
de caso”, pois é a partir dele e com ele que
será possível a intervenção efetiva na vida
dos alunos.

REFERÊNCIAS:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT
DE ATENÇÃO. O que é TDAH. Disponível
em: <http://www.tdah.org.br/>. Acesso em:
28/05/09.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


SAGE, Daniel D. Estratégias Administrati-
vas para o Ensino Inclusivo. IN: STAINBACK,
Susan; STAINBACK, William. Inclusão: Um
Guia para Educadores. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 1999. Cap. 7, p. 129-141.

108
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 11
AUTORA:
Cláudia Pacheco de Almeida

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

DIFICULDADE DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA IDADE ADULTA

aulas por noite, com duração de 50 minutos


Resumo cada, tendo início às 19h.
Este artigo pretende mostrar a relevância da habilidade O processo de ensino e aprendizagem
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

de leitura da realidade bem como do domínio do processo envolve a construção de um leque variado
da prática da escrita por meio da alfabetização e do letra- de competências cognitivas e requer que se
mento na idade adulta. favoreça a participação ativa do aluno nes-
sa construção. Dessa forma, o processo de
avaliação é contínuo e cumulativo, sendo

C
onsiderando que a escola assume a utilizados instrumentos diversos tais como:
missão de inserir o aluno num con- escritos e orais; trabalhos e provas; pesqui-
texto globalizado, com participação sas e observações realizadas individualmen-
ativa e crítica na sociedade, seu objetivo te, em duplas ou em grupos.
deve ser a construção do conhecimento para Visando obter maior envolvimento do
formar cidadãos conscientes e responsáveis aluno, e consequentemente seu crescimen-
num processo educativo construtivo. Isso to humano, crítico e consciente, a escola
pressupõe a leitura da realidade e o domínio disponibiliza: exposições, gincanas, feiras,
do processo da prática da escrita que se dá excursões, pesquisas, dramatizações, expe-
através da alfabetização e do letramento. riências em laboratório, práticas diversas.
É necessário administrar as mudanças Todas essas atividades são executadas em
de forma significativa, subsidiando novas conformidade com o conteúdo básico a ser
ações num contexto mais humanista, para seguido em cada disciplina e em cada fase.
superar dificuldades e carências a partir do O professor procura ser um educador, a
potencial dos alunos e de uma educação de fi m de estimular, orientar e facilitar a apren-
qualidade num caminho participativo onde dizagem. Sendo dinâmico e autêntico no tra-
os educadores sejam facilitadores na forma- to com o educando, analisa e questiona com
ção dos alunos. o aluno suas idéias, respeitando sem impor
O presente Estudo de Caso foi realizado seu ponto de vista. O aluno é incentivado à
numa Escola Estadual que iniciou a Educa- descoberta e à valorização do trabalho para
ção de Jovens e Adultos – EJA em março de que “aprenda a aprender”, tornando-se su-
2007 e conta com seis turmas de aproxima- jeito de sua própria educação. A direção e o
damente dezenove alunos cada. As turmas serviço pedagógico da escola têm o cuidado
são formadas mediante avaliação diagnós- de reunir-se periodicamente com seu corpo
tica que indica o nível de conhecimento do docente para juntos analisarem, discutirem
aluno. e decidirem as ações pedagógicas e melhor
A proposta é articular os conteúdos com envolverem o aluno promovendo seu desen-
as experiências de vida do educando de for- volvimento. Assim sendo, diversos recur-
ma inter e transdisciplinar Assim, a escola sos pedagógicos são utilizados, tais como:
propõe trabalhar em três períodos – com du- Computador – as informações são recebidas
ração de um ano cada – sendo o primeiro re- através dos estímulos: visual, tátil, auditivo;
ferente à 5ª série, o segundo à 6ª e 7ª séries Vídeo – para enriquecer as aulas, melhorar
e o terceiro à 8ª série. São ministradas três a atenção, o raciocínio e a percepção; Artes
(dança, teatro, pintura e outros) – para de-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dificuldade de alfabetização e letramento na idade adulta Cláudia Pacheco de Almeida

senvolver a criatividade e a percepção; Vi- tre motivação e aprendizagem que, conforme


sitas – são realizadas aulas-passeio com a Pilette (1998), se traduz nos pressupostos:
fi nalidade de levar o aluno a compreender
e experimentar o prazer da descoberta do Sem motivação não há aprendizagem; os
mundo que o cerca. motivos geram novos motivos; o êxito da
Os alunos da EJA encontram-se numa aprendizagem reforça a motivação; a mo-
faixa-etária entre 30 e 65 anos, são funcio- tivação é condição necessária, porém não
nários do Estado que diariamente desem- suficiente.
penham atividades profissionais exaustivas
em serviços gerais. Residem na Grande BH – Dessa forma, a intervenção pedagógica
Ibirité, Sabará, Ribeirão das Neves e outras que favoreceu a aprendizagem do aluno foi a
– e, após um dia de jornada, deslocam-se até utilização do Projeto Foto.
a Escola Estadual. Assim sendo, apesar da Considerando que a imagem está cada
dedicação e do esforço, nem sempre conse- vez mais presente no cotidiano, ao propor
guem acompanhar as atividades propostas apreciações e registros de fotos, os alunos
com o desempenho esperado. têm contato com o mundo das imagens e co-
Destaca-se nesse contexto um aluno de meçam a relacionar-se com elas de maneira

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


54 anos, cursando o 6º ano/9 – 5ª série – que mais ativa. Além disso, o aluno que apre-
apresentava dificuldades referentes a alfabe- sentava maiores dificuldades não se sentiu
tização e letramento, o que foi evidenciado exposto em sua fragilidade, pois a turma
de forma significativa quando as atividades toda foi envolvida nas atividades.
foram relativas à elaboração e produção de O Projeto foi desenvolvido durante dois
textos. meses. As atividades foram realizadas uma
Tendo em vista que numa mesma turma vez por semana com o tema: Um retrato do
há sempre diferentes níveis, tanto na concep- bairro e da turma.
ção sobre a leitura e a escrita quanto no que Motivação: O professor perguntou à tur-
se refere às diferentes bagagens sociocultu- ma como é o bairro em que fica a escola; se
rais dos alunos, foi preciso que o professor é rico em diversidade natural. A curiosidade
tivesse uma sensibilidade especial e forma- deu lugar às descobertas e estimulou a me-
ção adequada, para identificar esse aluno. lhorar a leitura e escrita. Com a fotografia
Esse processo educativo exigiu muitas vezes foi possível olhar para o seu lugar, enfo-
o acompanhamento individualizado e tare- car belezas ou mazelas, fazer denúncia ou
fas diferenciadas, além de práticas coletivas, exaltação.
como afi rma Mantoan (1987): Num primeiro momento, ocorreu a análi-
se de uma foto – quando o assunto é aprecia-
A especialização do educador para atender ção, é importante que os alunos reconheçam
às necessidades de todos os alunos e não o próprio universo e estabeleçam relações.
apenas de alguns deles, os especiais, deve- A turma escolheu uma foto e foi instigada a
ria ser a meta da capacitação profissional observar o que mais chamava a atenção na
em todos os níveis de formação. imagem. Foi proposto que conversassem so-
bre as diferentes formas de registro – gráfico
No desenvolvimento das atividades didáti- e fotográfico.
cas, foram intercalados momentos coletivos Foi considerado o conhecimento prévio –
de trabalhos e discussões. O conhecimento o professor procurou sondar o que o grupo
pessoal foi ampliado através do processo sabia sobre o assunto. As idéias foram regis-
social de trocas entre alunos e com as inter- tradas. Conversaram sobre as imagens re-
venções do educador. O trabalho pedagógico petidas, como figuras e propagandas, sendo
esteve sempre contextualizado, sistematiza- motivados a pensar.
do, sequenciado e diferenciado. Por fi m, na hora da prática – após estudar
O processo de ensino e aprendizagem a fotografia, a turma foi convidada a posar
envolveu a construção de um leque variado para fotos e, ao serem reveladas, fi zeram as
de competências cognitivas, favorecendo a legendas e montaram o álbum que foi expos-
participação ativa do aluno nessa constru- to para toda a comunidade.
ção, exigindo que o professor conhecesse os Esse projeto auxiliou o professor a traba-
interesses atuais do aluno para mantê-los e lhar vários momentos – individuais e coleti-
orientá-los. Existe uma estreita relação en- vos – que, de forma bem articulada, puderam

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dificuldade de alfabetização e letramento na idade adulta Cláudia Pacheco de Almeida

evitar a fragmentação ou as retomadas repe-


titivas de conteúdos, além disso, permitiu ao
aluno com dificuldade na alfabetização e o
letramento:
• Interpretar situações do cotidiano ou o rela-
cionamento da linguagem com as diversas
ciências, ampliando sua compreensão do
mundo que o cerca;
• Estabelecer conexões entre os campos da
leitura e escrita com as outras áreas do sa-
ber, desenvolvendo a iniciativa, a imagina-
ção e a criatividade;
• Compreender e transmitir ideias por es-
crito ou oralmente, desenvolvendo a sua
capacidade de argumentação, entre outras
habilidades.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

REFERÊNCIAS:
MANTOAN, M.T.E. Educação de deficientes
mentais: o itinerário de uma experiência.
Campinas (SP): Unicamp/Faculdade de Edu-
cação, 1987, dissertação de mestrado.

PILETTI, Claudino. Didática Geral. 6. ed. São


Paulo: Ática, 1998.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 12
AUTORA:
Daniela Margareth Fernandes de Moura

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

(TDAH) A HIPERATIVIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

um verdadeiro problema para os professores,


Resumo os pais e todos que convivem a sua volta. Eles
Este artigo relata um estudo de caso realizado com um parecem ignorar as regras de convívio social
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

aluno diagnosticado com quadro TDAH em uma escola e são confundidos com os “malcriados”.
inclusiva da rede particular de ensino, com o objetivo de O aluno com TDAH, como qualquer ou-
orientar educadores a identificar e atender, dentro do tro, deve ser compreendido, tornando-se
possível, alunos com TDAH. fundamental a interlocução entre educa-
ção e saúde na formação dos educadores. A

D
esde a era antiga até finais do século prática social possibilitou que os familiares
XX, observamos que mais atenção realizassem leituras mais amplas da reali-
foi dada às crianças que apresenta- dade e com isso fossem reconstruindo sua
vam problemas de aprendizagem, sem que consciência e atribuindo novos significados
houvesse qualquer deficiência que pudesse ao comportamento e desenvolvimento de
explicar o fato. crianças com TDAH.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hipe- A reflexão da prática pedagógica revelou
ratividade – TDAH1 é considerado o trans- a necessidade de os educadores buscarem
torno de desenvolvimento infantil mais diag- novos conhecimentos e estratégias que pro-
nosticado na atualidade; apresenta-se como movessem maior aprendizagem e desenvol-
tema frequente e controverso na sociedade vimento de seus alunos com TDAH, pois, de
e é grande desafio nas escolas. Os professo- acordo com pesquisa da Associação de Pais
res enfrentam situações que fogem às suas e Amigos dos Hiperativos, TDAH é um dos
expectativas e buscam organizar o entendi- transtornos mentais mais frequentes nas
mento a partir de discursos discrepantes. crianças em idade escolar, atingindo 3 a 5%
Paulo 2 é aluno matriculado em uma es- delas, ao mesmo tempo em que continua
cola particular inclusiva e apresenta um sendo um dos transtornos menos conheci-
quadro de TDAH. Segundo relatos da profes- dos por profissionais da área da educação.
sora, ele incomoda os colegas com atitudes O que podemos perceber é que, muitas
de provocação e conversas fora da atividade vezes, as primeiras suspeitas do problema
proposta. Ele anda, corre e pula no espaço surgem no âmbito escolar, já que os profes-
da sala de aula e mostra-se agressivo com sores podem comparar a conduta de crian-
os colegas. Entretanto, Paulo consegue es- ças da mesma idade, encaminhado-as para
tar atento a tudo que acontece na sala de avaliação.
aula, muitas vezes executando tarefas com Educar um fi lho ou um aluno com TDAH
rapidez. não é tarefa das mais simples. É preciso ser
Muitos desses alunos se transformam em paciente, calmo e ter bastante jogo de cintu-
ra. No caso de Paulo, a escola onde se deram
1. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
está associado com comorbidades importantes que vão as observações do estudo, segue orientações
desde perturbações no desempenho escolar até proble- e intervenções trazidas pelos especialistas e
mas de ordem psicossocial na vida do indivíduo. Dentre pelos pais do aluno. São realizadas reuniões
elas, destacam-se as alterações na coordenação motora, mensais ou de acordo com a necessidade de
interferindo na aprendizagem escolar e nas atividades troca de informações e recomendações.
cotidianas.
A mãe de Paulo se sente segura pelo
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

113
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
(TDAH) a hiperatividade no contexto escolar Daniela Margareth Fernandes de Moura

trabalho realizado pelas professoras e pela


pedagoga da escola, pois tem observado me-
lhoria na atenção e na concentração do fi lho,
melhor desempenho na leitura, na escrita e
no cálculo, porém, segundo ela, ainda não
ocorreram mudanças referentes ao compor-
tamento explosivo e hiperativo. Quanto ao
relacionamento com os demais, foi relatada
pouca mudança positiva.
Para a professora, houve melhora signi-
ficativa na aprendizagem escolar após as
intervenções. Também foi relatada maior
capacidade de atenção e concentração, po-
rém, pouca alteração na conduta hiperativa.
A professora já tem percebido que o relacio-
namento de Paulo com os demais também
melhorou, demonstrando estar um pouco

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


mais maduro.
Através deste estudo, o que se percebe é
que a forma como o professor e a família li-
dam com a situação é determinante tanto no
desenvolvimento psicológico do aluno como
na aprendizagem escolar e sua participação
no processo deve ser esclarecida e reforçada,
pois o aluno com TDAH requer a abertura de
um espaço privilegiado de reflexão, discus-
são e compartilhamento de experiências.

REFERÊNCIAS:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE
ATENÇÃO. Afinal, temos direito? Disponível
em: http://www.tdah.org.br/reportagem02.
php. Acessado em: 18 maio 2009.

SOUSA, Celeste Aparecida Dias e. Estudo de


caso de alunos com distúrbios de compor-
tamento e/ou aprendizagem: como fazê-lo.
Belo Horizonte, 2005.

114
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 13
AUTORA:
Débora Luíza Vieira Guedes

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

UMA SITUAÇÃO DE PERDA VISUAL NO ENSINO MÉDIO

Gabriel sempre foi um aluno excelente,


Resumo comprometido com os estudos e as tarefas
Este artigo relata o estudo de caso de um aluno com perda de grupo. Todos os colegas assustaram com
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

visual numa escola particular de Belo Horizonte. Nele são a drástica mudança, mas foram solidários.
relatadas as intervenções realizadas para sanar a dificul- Ele passou a ficar como ouvinte em sala e
dade, bem como a melhor forma de o aluno não perder o quase não enxergava as atividades passadas
conteúdo e, assim, permanecer na escola. em sala de aula, seu caderno não era com-
pleto e então surgia a necessidade de entrar

E
ste artigo baseia-se no estudo de caso em contato com a família e passar o caso.
do aluno Gabriel1, de 16 anos, estu- Segundo consta, Gabriel nunca havia
dante do 2º ano do Ensino Médio de realizado exame oftalmológico, pois seus
uma escola particular de Belo Horizonte. pais nunca notaram alterações no aspecto
Em conversa com a coordenadora peda- visual do fi lho, por isso, não faziam controle
gógica, esta relatou que o aluno tinha uma anual.
visão considerada normal no fi nal de 2006, Neste caso, foi a escola que chamou os
acompanhava a turma, era independente pais de Gabriel para estudarem o caso, pro-
nas atividades, mas, quando retornou de fé- curando saber o que a família tem feito para
rias em 2007, já não enxergava como antes. ajudar o fi lho e defi nindo como a escola tam-
Foi um susto para todos que o conheciam. bém poderia ajudar.
Gabriel passou a ser dependente nas ativi- Primeiramente, a coordenação chamou
dades, não conseguindo ler o que escrevia. os professores e discutiram as dificuldades
Os professores e a coordenação não per- enfrentadas. Eles colocaram que Gabriel não
ceberam qualquer alteração visual no ano se locomove como antes, suas interpretações
anterior e constataram que os desafios que pioraram e as provas precisam ser orais.
teriam que resolver junto com a família se- A mãe relatou que realmente demorou
riam enormes. muito para levar o fi lho ao oftalmologista
Segundo Aranha (2007), para que os pro- e disse que percebeu que Gabriel prefere
fessores possam desenvolver estratégias que se fechar no quarto, preferindo não se en-
facilitem a aprendizagem do aluno com Ne- turmar, talvez como uma não aceitação da
cessidades Educacionais Especiais na sala deficiência.
de aula, eles devem se tornar professores Relatou-se à mãe a dificuldade de o ado-
pesquisadores, buscando conhecer cada alu- lescente perder a visão justo no ensino médio,
no, tanto no que se refere às suas caracterís- o preconceito infelizmente presente entre os
ticas pessoais (e a família os auxiliará nessa jovens e as expectativas que todo estudan-
tarefa) como, especialmente, ao seu processo te tem quando se forma sobre o que fazer,
de aprender, antes e durante todo o proces- qual curso realizar. Para Gabriel o caminho
so de ensinar. O professor pesquisador pode não será fácil, mas que ele tem potencial e
criar estratégias para auxiliar a construção capacidade de vencer qualquer obstáculo da
de conhecimento dos alunos com baixa visão vida.
que, devido às suas limitações, muitas vezes Ao fi nal, a coordenação e professores
terão um nível de desenvolvimento real. orientaram a mãe a procurar o Instituto São
Rafael, para o curso de orientação e mobi-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Uma situação de perda visual no ensino médio Débora Luíza Vieira Guedes

lidade para uma melhor independência no


andar, e um oftalmologista, para indicação
de recurso visual para melhorar a qualidade
de Gabriel nos estudos. A escola assumiu
o compromisso de fazer qualquer adapta-
ção e um bom trabalho para ver o sucesso
do aluno, pois acredita na sua capacidade
intelectual.
Na época, os pais de Gabriel o colocaram
no curso de orientação e mobilidade e o of-
talmologista entregou para a escola um rela-
tório com orientação sobre alguns recursos,
como contraste e tamanho de letra, assim
como iluminação e modificações estruturais
na escola.
Com isso, o aluno conseguiu melhorar a
qualidade das atividades, porém continua

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como ouvinte na sala, pois não visualiza o
quadro. Seria necessário que a escola con-
tratasse um estagiário para ditar para Ga-
briel a matéria passada, sem perdas.
A partir das intervenções, pode-se dizer
que Gabriel está mais bem assistido visu-
almente. Segundo relatório médico, Gabriel
perderá a visão e chegará a ficar cego, por
isso, a escola está utilizando muito a memó-
ria visual e todo o material necessário para
seu bom desempenho.
É preciso entender que o aluno com bai-
xa visão não é incapaz de realizar as ativi-
dades como os outros, apenas necessita de
mudanças nos materiais e da boa vontade
dos profissionais. Para isso, é preciso criar
condições de diálogo entre a escola e família,
a fi m de criar laços de respeito e confiança.
Portanto, cabe ao professor estar sem-
pre atento à necessidade individual de cada
aluno e buscar promover o desempenho e a
inclusão de seu aluno.
As intervenções realizadas pela escola fo-
ram significativas, uma vez que buscou co-
nhecer a realidade do aluno e levou em consi-
deração as suas potencialidades, mantendo
um diálogo permanente com a família.

REFERÊNCIA:
ARANHA, Maria Salete Fábio. Adaptações
curriculares de pequeno e de grande por-
te. Disponível em <www.mec.gov.br>. Acesso
em: 07 maio 2009.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 14
AUTORA:
Denilda Patrícia Ferreira
Endereço eletrônico: d.patriciaferreira@gmail.com
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A INCLUSÃO DE UMA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA MENTAL: LIMITES E


POSSIBILIDADES

sociais, relacionamento interpessoal, uso


Resumo de recursos comunitários, autossuficiência,
Este artigo relata o estudo de caso de uma aluna com defi- habilidades acadêmicas, trabalho, lazer,
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ciência mental inserida em uma escola particular de Belo saúde e segurança.


Horizonte. Nele são relatadas as dificuldades de convívio
e aquisição de hábitos da aluna e as intervenções da esco- A professora e a direção da escola detec-
la para o seu desenvolvimento social. taram que a aluna não havia desenvolvido
muito claramente a noção de hábitos como

E
ste artigo baseia-se no estudo de caso higiene pessoal e com o seu ambiente. A fa-
da aluna Ana1, de 12 anos, que está mília não aceitava sua deficiência e transferia
na 1ª série do ensino fundamental em a responsabilidade desse tipo de informação
uma escola particular inclusiva, diagnosti- para a escola. Sabemos que a escola e a fa-
cada com deficiência mental leve. mília devem trabalhar juntas com a criança
Sabemos que toda criança tem direito de com deficiência mental, auxiliando-a no seu
frequentar uma escola, na qual seja aceita tratamento e na sua socialização.
e tratada com respeito e carinho; podendo Para obter maior respaldo sobre o de-
desenvolver-se de forma integral. senvolvimento e o aproveitamento de Ana
Mantoan (2001) acredita que não adianta no contexto escolar, buscaram, por meio de
permitir o acesso de todos às escolas, sem entrevistas semiestruturadas, ouvir aqueles
garantir o prosseguimento da escolarida- que a atendiam diretamente fora desse con-
de até o nível que cada aluno for capaz de texto, bem como os profissionais da escola
atingir. Ao contrário do que alguns ainda e os pais da aluna. Todas as entrevistas fo-
pensam, não há inclusão quando a inserção ram analisadas e articuladas entre si com
de um aluno é condicionada à matricula a intenção de obterem dados desde a esfera
em uma escola ou classe especial. A inclu- clínica sobre as percepções em relação ao
são deriva de sistemas educativos que não aproveitamento de Ana, passando pelas in-
são recortados nas modalidades regular e terlocuções sociais permeadas pela família,
especial, pois ambas se destinam a receber para assim partirem para a percepção do
alunos aos quais impomos uma identidade, processo de ensino-aprendizagem.
uma capacidade de aprender, de acordo com A educação é o principal agente de trans-
suas características pessoais. formação de qualquer sociedade e a escola
No que se refere à característica essencial é o segmento que visa a essa transforma-
do deficiente mental, devemos considerar a ção, devendo para isso estar conectada à
pessoa que tem um, realidade.
É preciso convicção na capacidade que
funcionamento intelectual significativa- toda criança tem de aprender, defendendo
mente inferior à média, acompanhado de a ideia de que a escola deve transformar-se
limitações significativas no funcionamento para atender à diversidade e não fundamen-
adaptativo em pelo menos duas das se- tar-se na lógica da homogeneidade. O defi-
guintes áreas de habilidades: comunicação, ciente mental reflete o modo pelo qual a fa-
autocuidados, vida doméstica, habilidades mília e colaterais o concebem como pessoa.
Sua conduta denuncia os sentimentos que
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão de uma criança com deficiência mental: ... Denilda Patrícia Ferreira

estão por trás de certas atitudes, na maioria Para fi nalizar, é preciso ressaltar que a
das vezes inconscientes, daqueles com os inclusão escolar é um processo que envolve
quais convive mais diretamente em seu meio todos, tanto os profissionais da instituição
de origem. escolar, como também, os pais e os alunos.
A partir dessa idéia, professora e coorde-
nação desenvolveram, dentro e fora da sala REFERÊNCIAS:
de aula, atividades e comportamentos que
desenvolvessem na aluna hábitos de higiene. GLAT, Rosana (Coord.). Inclusão Escolar de
Nas atividades propostas, elas utilizavam alunos com necessidades educativas espe-
perguntas como “qual o seu nome”, “seu ciais no ensino regular: práticas pedagógi-
endereço” e sondavam sobre seu comporta- cas e cultura escolar. Disponível em: <http://
mento com sua família e seus hábitos do seu www.eduinclusivapesq-uerj.pro.br>. Acesso
dia a dia com a saúde. em: 10/05/2009.
A estruturação das representações sim-
bólicas do vivido, que ocorre naturalmente MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Caminhos
no desenvolvimento das pessoas ditas nor- Pedagógicos da Inclusão: Como estamos im-
mais, não acontece com a mesma esponta- plementando a educação (de qualidade) para

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neidade no caso dos deficientes mentais e de todos na escola brasileira. São Paulo: Mem-
pessoas portadoras de outros problemas de non, 2001.
natureza intelectual. A condição que o aluno
tem de projetar para o pensamento o que viu
, sentiu, pegou, viveu na ação, não implica
necessariamente uma dublagem da sequên-
cia espaço-temporal ocorrida na prática.
E, ainda, a reorganização das represen-
tações do real através de processos de abs-
tração incidindo sobre os dados concretos,
tangíveis ou não, são possíveis a partir da
operação, ação interiozada, reversível, que
consistiu o instrumento pelo qual o conheci-
mento lógico é produzido.
As aplicações de todas as atividades trou-
xeram para a aluna informações importan-
tes do seu dia a dia e uma enorme evolução
do que diz respeito ao seu desenvolvimento
tanto pessoal quanto intelectual.
É a partir deste desenvolvimento que
podemos contextualizar a afi rmação de
Vygotsky (1997, 2003) ao dizer que é neces-
sário compreender os processos de aprendi-
zagem do aluno, pois só assim deixamos de
nos fi xar no déficit para favorecer as possi-
bilidades [pois “esse aluno” aprende, mas de
forma diferente].
Sabemos que, diante do crescimento de
Ana, há que se considerar ainda que os
processos pertinentes a essa “melhora” pas-
saram por percursos que precisaram ser
revistos, sinalizados e entendidos como um
processo de (re)construção constante, não
só dos direitos de escolarização, mas tam-
bém no seu direito de aprender a participar
de todos os espaços sociais. E que, acima
de tudo, o processo de desenvolvimento será
sempre constante e com perspectivas de me-
lhorar sempre.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 15
AUTORA:
Ednéia Aparecida Rabelo Santos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

DEFICIÊNCIA MENTAL E INCLUSÃO

ciência mental moderada. Tive acesso às


Resumo informações durante o estágio de supervi-
Este artigo baseia-se no estudo de caso de um aluno do são escolar, através da ficha individual do
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3º ano do ensino fundamental, que apresenta deficiência aluno.


mental, e enfatiza a realidade da inclusão na escola regu- Na ficha individual do aluno, consta um
lar. acompanhamento psicológico, datado em
dois anos. Devido à compra de remédios

R
efletir sobre as questões de uma esco- para os ataques epiléticos, o tratamento psi-
la de qualidade para todos, incluindo cológico foi adiado.
aluno com deficiência mental, signifi- A escola, como centro da educação, tem
ca considerar aqueles que são responsáveis como principal objetivo conhecer a criança,
pela educação. sujeito de direitos, que participa de uma de-
A deficiência mental implica um funcio- terminada cultura e que está sendo inserida
namento intelectual geral significativamente em sua comunidade, na qual vive e dela faz
abaixo da média, oriundo do período de de- parte. O método utilizado pela escola enfati-
senvolvimento, concomitante com limitações za o construtivismo e são elaborados proje-
associadas a duas ou mais áreas da conduta tos a serem desenvolvidos com as turmas.
adaptativa ou da capacidade do indivíduo A coordenadora tem uma preocupação
em responder adequadamente às demandas com Rui, na sua mudança de conduta, de-
da sociedade, nos seguintes aspectos: co- vido às atitudes como subir em árvore e
municação e cuidados pessoais, habilidades em lugares altos, como o poste a quadra
sociais, desempenho na família e comuni- de vôlei, bem como aos ataques epiléticos
dade, independência na locomoção, saúde frequentes.
e segurança, desempenho escolar, lazer e A mãe relata as dificuldades da família
trabalho. em encontrar profissionais da educação
Embora seja possível identificar a maior preparados para lidar com esse tipo de alu-
parte dos casos de deficiência mental na no, principalmente nos momentos das ava-
infância, infelizmente esse distúrbio só é liações, quando a escola não disponibiliza
percebido em muitas crianças quando elas métodos de avaliação diferenciados. Apesar
começam a frequentar a escola. Isso acon- de ser construtivista, o aluno deficiente
tece porque essa patologia é encontrada em mental permanece na escola ano a ano sem
vários graus, desde os mais leves, passando progresso.
pelos moderados, até os mais graves. Nos Os professores e toda a equipe pedagó-
casos mais sutis, os testes de inteligência di- gica não encontram alternativas que facili-
recionados para os pequenos não são nada tem a aprendizagem, para ensiná-lo ou ao
confiáveis, tornando-se então difícil detec- menos fazê-lo acompanhar a turma. Não
tar o problema. Nos centros educacionais, há recursos pedagógicos, para um trabalho
as exigências intelectuais aumentam e aí a adequado. O aluno fica vagando pela escola
deficiência mental torna-se mais explícita. sem perspectiva de ensino.
Rui1 tem 15 anos de idade, frequenta o A professora do aluno relata “ser um ab-
3ºano do ensino fundamental, possui defi- surdo ter alunos com deficiências na esco-
la. A escola cumpre a lei de ser uma escola
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Deficiência mental e inclusão Ednéia Aparecida Rabelo Santos

inclusiva. O governo faz muito, joga alunos REFERÊNCIA:


de tudo quanto é tipo e os professores que
se virem. Manter esses alunos na escola, MARQUES, Luciana Pacheco. Professor de
em minha opinião, é um absurdo, para isso alunos com deficiência mental: concepções
existem escolas especiais, estamos fazendo e práticas pedagógicas. Juiz de Fora (MG):
muito.” UFJF, 2001. 260p.
A inclusão escolar de alunos com defici-
ência mental, apesar da legislação existen-
te, não ocorre. A escola tem a inclusão nas
escolas apenas vista por ter um aluno com
deficiência matriculado, se esquecendo de
que inclusão vai além disso.
O tratamento do aluno com deficiência
mental deve incluir o acompanhamento si-
multâneo do médico, do fisioterapeuta, do
terapeuta ocupacional, do fonoaudiólogo, do
psicólogo e do pedagogo, entre outros. As-

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sim, é possível amenizar as consequências
desse problema.
O diagnóstico precoce também é fun-
damental para oferecer à criança uma me-
lhor qualidade de vida e resultados mais
eficientes.
Devido à falta de preparo dos professores
e mesmo ao desinteresse, muitos não com-
preendem realmente o que é a inclusão de
um aluno com deficiência mental. A escola
não se encontra comprometida com o efetivo
aproveitamento do aluno, cumpre a lei atri-
buindo nota e acompanhando a freqüência
do aluno, o que confere a aprovação.
O aluno com deficiência é apenas mais
um entre outros. O que importa é saber que
o aluno está presente na escola e que será
aprovado para a próxima etapa.
Por essas razões o deficiente mental cla-
ma por um pouco mais de atenção. Nós, pro-
fessores, precisamos acreditar nas aptidões
dessas crianças.
O que nos faz a todos especiais são exa-
tamente as nossas diferenças, é preciso que
haja essa conscientização. O respeito é o ca-
minho mais rápido para encontrar a igual-
dade frente às diferenças.
A criança com deficiência mental pode
ser atendida pedagogicamente através de
recursos adaptativos e ajudada a expandir
suas habilidades, para que possa ocupar o
seu justo lugar na sociedade, aprendendo a
respeitar os seus limites, direitos e deveres
como qualquer criança.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 16
AUTORA:
Gisele Maria de Souza
Endereço eletrônico: pedagogisele@hotmail.com
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O CASO E O ACASO

sânimo para atividades que exigiam esforço


Resumo mental.
A professora se empolga nas pesquisas sobre o seu aluno A professora sempre levava o caso para a
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com condutas típicas e descobre algo mais do que um sim- direção, até que a pedagoga resolveu instigá-
ples problema em sala de aula. Descobre possibilidades de la a fazer anotações sobre os comportamen-
trabalhar com esse aluno, apesar do descaso dos pais e da tos do aluno.
pouca intervenção da pedagoga. Manuel, 6 anos, no aspecto da psicogêne-
se linguística, estava vivenciando o período

E
m cada escola, cada sala de aula, pré-silábico, saindo da garatuja, e sua tur-
sempre encontramos sujeitos, atores ma já estava alfabética.
sociais envolvidos em inconformidade As anotações da professora se estende-
inesperada que chocam os padrões normais ram para quase um ano aproximadamente,
do cotidiano escolar. colhendo dados de Manuel e comparando-os
Vivemos hoje uma avalanche de compor- com os textos lidos, que abordavam com-
tamentos indevidos de “alunos-problemas”, portamentos típicos. Ousou evidenciar ca-
que subtraem o bom desempenho na sala de racterísticas que pareciam de alunos com
aula e que carregam consigo o estigma de déficit de atenção, mas não parecia o diag-
“os pestinhas”. nóstico fi nal, de acordo com uma psicóloga
Na Escola Criança Feliz1 não era diferen- da escola.
te. Havia vários alunos que se destacavam O apoio pedagógico tornou-se fundamen-
de “0 a 5 em comportamento”, mas um so- tal no momento em que o desgaste de uma
bressaia entre os demais na escola. professora na sala de aula com os demais
Manoel 2 era conhecido em toda a escola alunos, o aluno de condutas típicas e as res-
como aquele aluno com quem todos evita- ponsabilidades profissionais se evidenciou
vam conviver e que toda professora não de- no humor dessa profissional.
sejava na sua classe. Teimoso, barulhento, A pedagoga se reuniu com os pais de Ma-
irrequieto, interrompia as aulas tentando noel, que eram separados, comunicou sobre
chamar atenção para si, porém, se os cole- os dados pesquisados, fazendo um pedido de
gas não aderiam às suas estripulias, eram encaminhamento para especialistas. Os pais
agredidos por ele. Nunca terminava as tare- negaram o problema de todas as maneiras e
fas em sala de aula, sendo encaminhado em até ameaçaram tirar a criança da escola.
várias ocasiões para a sala de coordenação Sendo uma escola particular, intimidada,
ou outra sala enquanto os alunos se prepa- o que fi zeram foi arquivar o caso e buscar
ravam para o recreio. soluções alternativas. Isso significava maior
Manoel sempre desrespeitava a professora empenho da professora.
e liderava a turma ao desrespeito também.
Era impulsivo, ansioso, humor inconstante, Queria ter aceitado as pessoas como elas
carente de elogio e afeto. Tinha ânimo para são. Cada um sabe a alegria e a dor que
atividades esportivas (embora muitas vezes traz no coração. O acaso vai me proteger,
não as terminava sem criar confusões), e de- enquanto eu andar distraído, o acaso vai

1. Nome fictício, para preservar o nome da escola.


2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O caso e o acaso Gisele Maria de Souza

me proteger, enquanto eu andar [...] (Sergio disponibilizando ferramentas adequadas


Brito, música: Epitáfio, Titãs)3. ao educador, auxiliando-o com pesquisas e
observações.
Freire (1997) aborda discussões sobre o É preciso trabalhar o emocional do pro-
quanto as atitudes que o professor toma den- fessor que se desgasta facilmente com alunos
tro de sala e fora dela influenciam o que ele de condutas típicas. Dessa maneira, o aluno
passa para seus alunos. O autor deixa claro estigmatizado, “o pestinha”, vai ser o gran-
que uma docência decente, de qualidade, de estímulo para o que o educador entenda
não se separa da afetividade que o professor mais sobre limites e possibilidades, sobre o
tem por seus alunos, embora ela não deva tempo ideal e o tempo real de seu aluno em
interferir, por exemplo na avaliação, e nem relação à turma.
signifique que o educador deva amar todos
seus alunos de maneira igual. O educador REFERÊNCIAS:
que busca inspirações em Freire sabe dis-
tinguir a mudança de “curiosidade ingênua” AQUINO, Júlio Groppa. Alternativa teórica
para “curiosidade epistemológica” e foi o que e prática. São Paulo: Summus, 1996.
a professora, estimulada por seus estudos,

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buscou fazer com o Manoel. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia.
Providenciou fazer uso da afetividade e São Paulo: Paz e Terra, 1997. 165p.
de intervenções que iam desde mudanças
organizacionais na sala de aula, até auxi-
liar Manoel com tarefas simples, constantes,
respeitando o seu tempo no processo de
alfabetização.
Foi preciso respeitar a fase em que Mano-
el se encontrava, o que obviamente não era
a fase em que todos de sua idade estavam.
Aquino (1996) explica que quanto maior a
repressão maior a violência dos alunos em
tentar garantir as forças que assegurem sua
vitalidade enquanto grupo.
Embora este estudo de caso tenha sido
supostamente arquivado, os dados que fo-
ram levantados e pesquisados auxiliaram o
olhar diferenciado da professora para o seu
aluno, a postura da pedagoga que, outro-
ra, era indiferente e a escola, que se sentia
mais à vontade para aceitar o aluno no ano
seguinte.
É importante destacar que a afetividade
pode transformar e muito o comportamento
de um aluno com condutas típicas, embora
no dia-a-dia do professor não seja fácil lidar
com a diversidade de seus alunos e ainda
com o “diferente”. É necessário que o pro-
fessor esteja essencialmente amparado por
informações que o deixarão conectados com
a maneira de agir diante desse aluno.
Conclui-se, portanto, que só é possível
levar o aluno, diferenciado dos demais, ao
sucesso escolar, quando a escola se mobiliza
para auxiliar o professor em sala de aula a
adequar o ambiente, interferindo, quando
necessário, com conversas com o aluno,
3. Música Epitáfio, da banda Titãs, composta por Sérgio
Brito em 2002.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 17
AUTORA:
Grazielle Andrade Madaleno

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A INCLUSÃO DE CRIANÇA COM HIDROCEFALIA NA ESCOLA REGULAR

dificulte a normal circulação do líquido ce-


Resumo falorraquidiano ou por uma infecção, como
O presente artigo relata um estudo de caso realizado em a toxoplasmose ou rubéola, sofrida pela mãe
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uma instituição pública inclusiva de Belo Horizonte, so- durante a gravidez, que tenha afetado as
bre as dificuldades de uma aluna do 3º ano do 1º Ciclo do vilosidades aracnoidianas e deixada como
Ensino Fundamental com hidrocefalia. consequência a deficiente reabsorção. Tendo
em conta que nessa fase da vida o crânio

A
hidrocefalia é um termo médico bas- ainda se encontra em crescimento, uma das
tante antigo. Na Antiguidade, a de- repercussões típicas da doença é o aumento
formação craniana era reconhecida e do tamanho da cabeça da criança afetada.
diagnosticada, mas não se sabia exatamente Em relação à aluna com hidrocefalia in-
onde o líquido se acumulava em excesso. serida no espaço educacional, é importan-
Apenas imaginavam que este se encontrava te que a escola como um todo busque uma
entre o cérebro e o envoltório ósseo. Hidroce- forma diferenciada para poder facilitar o
falia significa “água na cabeça”. O que acon- processo ensino-aprendizagem. juntamente
tece é que o Líquido Cefalorraquidiano (LCR) com a família, que também faz parte desse
produzido no cérebro, por algum motivo, não processo facilitador.
consegue circular normalmente na massa O estudo sobre a inclusão de alunos espe-
encefálica, fazendo com que a caixa craniana ciais faz-se necessário, uma vez que a nova
aumente de tamanho (característica obser- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
vada principalmente nas crianças), provo- cional (LDBEN) n. 9.394/96 prevê que todos
cando assim maiores comprometimentos. os alunos com necessidades especiais devem
As causas mais frequentes são “secreção ser atendidos, ou incluídos, nas classes re-
aumentada de LCR, obstrução das vias de gulares do ensino comum.
circulação do LCR, seja no interior do siste- Os estudos de Mittler (2003) e Mantoan
ma ventricular, seja na sua saída para o es- (2003) nos dizem que a inclusão escolar é, e
paço subaracnóideo, e bloqueio na absorção tem de ser vista como uma realidade. Como
do LCR”. O tratamento depende da origem tal deve ser encarado de forma totalmente
da anomalia. A maior parte das hidrocefa- contextualizada no cotidiano sociopsicoedu-
lias requer tratamento normalmente cirúr- cativo da práxis escolar. Por isto a cartilha
gico. O tratamento habitual é a introdução de inclusão dos direitos das pessoas com
de uma derivação (implantação de uma vál- deficiência da PUC Minas vem mostrando o
vula para drenar o LCR dos ventrículos até momento histórico e importante que estamos
o abdômen para ser absorvido pela corrente vivendo. Vários segmentos sociais lutam por
sanguínea). Porém, essa derivação não cura seus direitos de inclusão na sociedade.
a hidrocefalia. Percebe-se que aluna não está totalmen-
Hidrocefalia infantil é quando já está pre- te incluída devido a suas limitações tanto
sente no nascimento ou se desenvolve nos motoras quanto cognitivas. Diante dessas
dois primeiros anos de vida. Nesse caso, dificuldades enfrentadas pela aluna e tam-
costuma ser provocada por uma alteração bém pela escola, se faz necessário o uso
congênita, independentemente de ser origi- de alguns recursos da Tecnologia Assistiva
nada por uma malformação anatômica que (TA), para que possa facilitar o processo

123
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A inclusão de criança com hidrocefalia na escola regular Grazielle Andrade Madaleno

ensino-aprendizagem permitindo à aluna


desenvolver suas habilidades e participar
das atividades propostas em sala de aula. O
objetivo desses recursos é auxiliar o aluno
nas atividades, realizando-os de maneira
mais independente possível.
De acordo com Galvão Filho e Damasceno
(2003), a Tecnologia Assistiva (TA) é toda e
qualquer ferramenta e recursos utilizados
para facilitar ou dar uma maior independên-
cia às pessoas com necessidades educacio-
nais especiais.
Acredita-se que haja uma escola para
todos. Devemos pensar em espaços educa-
cionais democráticos, que contemplem cada
criança em sua especificidade. A escola,
teoricamente, é exclusivamente o local para

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“aquisição do conhecimento” de maneira
sistematizada. A junção da escola com a tec-
nologia poderá ajudar em muito o processo
de ensino-aprendizagem de crianças com
hidrocefalia.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional, Lei n. 9.394/96. Brasília:
Câmara dos Deputados; 1996.

DAMASCENO, Luciana Lopes e GALVÃO


FILHO, Teófilo Alves. As novas Tecnologias
como Tecnologia Assistiva: Usando os recur-
sos da Acessibilidade na Educação Especial.
Revista Presença Pedagógica. Belo Horizon-
te: Ed. Dimensão, v. 9, n. 54, p. 40-47, nov./
dez. 2003.

GODOY. Andréia. Cartilha de inclusão dos


direitos das pessoas com deficiências. 1.
ed. Belo Horizonte: PUC Minas, 2001. 152 p.

MANTOAN. Maria Tereza Eglér. Inclusão es-


colar: O que é? Por quê? Como fazer? São
Paulo: Moderna; 2003.

124
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 18
AUTORA:
Ilana Rafaela Malaquias Ramos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

OS PREJUÍZOS DO TRABALHO INFANTIL NA EDUCAÇÃO

se respaldarem para tomar as devidas pro-


Resumo vidências, protegendo, assim, a aluna do
O presente artigo aborda a questão do trabalho infantil trabalho precoce e garantindo seu direito de
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e relata um estudo de caso realizado em uma escola pú- estudar.


blica estadual no município de Sabará, que atende, prin- Apesar da vedação expressa no Estatu-
cipalmente, alunos em risco social. Pelo artigo, é possível to da Criança e do Adolescente (ECA) ao
perceber uma triste realidade em que crianças, em vez da trabalho infantil ou de menores, salvo na
orientação e do acompanhamento dos pais, sofrem com as condição de aprendiz, a realidade em nosso
consequências de famílias desestruturadas. país demonstra múltiplas situações de total
desrespeito ao ECA.

C
amila tem 9 anos e está matriculada Conceitua-se trabalho infantil aquele re-
na rede estadual no ensino funda- alizado abaixo da idade mínima básica de
mental. É uma garota que apresenta 16 anos e que prejudica a saúde da criança;
muitas dificuldades de aprendizagem, tem interfere na sequência escolar e não permite
dificuldades na leitura e na escrita, não faz tempo livre para o estudo fora da escola e
atividades propostas para casa, é muito in- rouba a infância e o lazer. Os prejuízos do
frequente às aulas. É uma criança fechada, trabalho precoce são muitos, tanto do ponto
que apresenta sinais depressivos. de vista psicoemocional quanto em relação
Através de observações do comporta- ao próprio desenvolvimento corporal das
mento, do rendimento e da infrequência da crianças e dos adolescentes. É preciso iden-
aluna, a professora resolveu informar o caso tificar a realidade dessas crianças e suas
à coordenadora da escola para juntas bus- necessidades e criar as oportunidades cer-
carem uma intervenção para solucionar o tas de supri-las. Outra necessidade básica é
problema. proporcionar o acesso à educação adequada
O primeiro passo foi conversar informal- e controlar as horas de trabalho, garantindo
mente com a aluna, procurando identificar a frequência às aulas. Essas medidas dizem
razões aparentes que pudessem justificar respeito ao poder público, mas com certeza
suas faltas e o seu fracasso escolar. Tímida são também responsabilidade dos pais e da
e acanhada, tentava sempre mudar de as- sociedade.
sunto, até que, depois de muita insistência, O Governo Federal criou o Programa de
ela acabou revelando que não tinha nenhum Erradicação do Trabalho Infantil – PETI,
tempo para estudar e para brincar, que fal- com o objetivo de retirar crianças e adoles-
tava demais às aulas porque sua mãe, ao centes do trabalho perigoso, possibilitar o
sair para trabalhar como diarista, deixava acesso, a permanência e o bom desempenho
seus três irmãos menores para ela cuidar de crianças e adolescentes na escola, fomen-
durante o dia. Relatou também que sua mãe tar e incentivar a ampliação do universo de
a obrigava a trabalhar à noite vendendo gu- conhecimentos da criança e do adolescente,
loseimas nos bares do bairro para ajudar por meio de atividades culturais e esportivas,
nas despesas da casa. artísticas e de lazer no período complementar
O relato da aluna provocou uma gran- ao da escola, ou seja, na jornada ampliada,
de indignação nos envolvidos no estudo de proporcionar apoio e orientação às famílias
caso, que buscaram informações e leis para por meio da oferta de ações socioeducativas,

125
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Os prejuízos do trabalho infantil na educação Ilana Rafaela Malaquias Ramos

promover e implementar programas e proje-


tos de geração de trabalho e renda para as
famílias.
A escola, diante disso, solicitou a pre-
sença da mãe para uma conversa e escla-
recimento sobre as leis que estavam sendo
descumpridas e oferecer ajuda para mudar
essa situação. A responsável compareceu no
dia proposto, sendo informada sobre o relato
da criança. Foi alertada sobre a necessidade
de uma mudança na rotina da criança. Caso
isso não ocorresse, a escola faria uma de-
núncia aos órgãos responsáveis e ela pode-
ria perder a guarda dos fi lhos. A mãe expôs
sua situação fi nanceira dizendo-se ser mãe
solteira e que tinha de trabalhar para não
deixar seus fi lhos morrerem de fome.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


No primeiro momento, concordou e se pro-
pôs a caminhar corretamente e acompanhar
a fi lha nas atividades escolares e garantir
sua frequência às aulas. Decorrido um mês,
a situação não mudou muita coisa, a aluna
continuava faltando e seu rendimento conti-
nuava baixo. A mãe foi chamada novamente
na escola e não compareceu. A escola buscou
os órgãos responsáveis para que pudessem
ajudar a resolver a questão. Em decorrência
da demora no atendimento, a mãe acabou
tirando a criança da escola sob a alegação
de que estaria mudando para outro bairro.
Informou que a fi lha seria matriculada em
outra escola mais perto do novo local onde
iriam morar.
Ao que tudo indica, na verdade nada seria
feito para mudar o quadro. A transferência
da aluna foi uma forma de fugir do enfrenta-
mento da questão. Infelizmente.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adoles-
cente. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente e dá outras providências. 6ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2004.

BRASIL.Ministério do Desenvolvimento Social.


Programa de Erradicação do Trabalho In-
fantil (PETI). Disponível em:<www.mds.gov.
br/programas/rede-suas/protecao-social-
especial/programa-de-erradiacao-do-traba-
lho-infantil-peti> Acesso em: 11/05/2009

126
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 19
AUTORA:
Iracivana Frandelina de Andrade

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A ESCOLA E SEUS DIFERENTES

coordenadora encaminhou o caso e pediu


Resumo com urgência uma estagiária para o aluno.
Este artigo relata um estudo de caso feito em uma escola Este iniciou suas atividades escolares so-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

de Belo Horizonte. O aluno em questão entrou na escola mente quando a estagiária chegou, pois não
com um quadro de hiperativismo, porém a coordenadora ficava parado dentro de sala e a professora
percebeu que a criança tinha algo a mais. A mãe nunca le- não podia ir atrás dele tendo mais 25 alunos
vou o laudo médico para a escola. Então a coordenadora dentro da sala de aula.
resolveu convencer a mãe da necessidade da criança fazer A coordenadora fazia reuniões constantes
um tratamento. com a mãe da criança na tentativa de con-
vencê-la a ir a outro médico para que este

O
s alunos com deficiência já estão in- fi zesse uma avaliação da criança, pois não
seridos no contexto escolar da rede parecia ter apenas hiperativismo.
municipal de ensino e com isso a so- A coordenadora se propôs auxiliar a mãe
ciedade vem abrindo espaços para que essas e levá-la onde fosse necessário para que a
pessoas possam ingressar no mercado de escola tivesse um laudo médico da criança e
trabalho de forma a serem respeitados. conseguisse trabalhar melhor com ele.
Este artigo foi baseado em um estudo de Enfi m, a mãe concordou e levou o fi lho a
caso que observei durante meu estágio em uma clínica indicada pelo médico do posto
uma escola da rede municipal de ensino que de saúde do bairro. Na clínica, fi zeram uma
fica em um bairro da região oeste de Belo bateria de exames, diagnosticando, primei-
Horizonte. ramente, que a criança era autista, desco-
Quando a mãe matriculou o fi lho na es- brindo-se depois ser Síndrome de Asperger,
cola, ela não havia informado que ele tinha que é uma síndrome muito parecida com o
uma necessidade especial. No entanto, no Autismo.
primeiro dia de aula, todos perceberam que Com o laudo médico, a coordenadora con-
ele tinha uma deficiência. A mãe foi chama- segue analisar melhor as atitudes da crian-
da na sala da coordenação para que conver- ça e trabalhar com projetos que auxiliem a
sasse com a coordenadora. professora no aprendizado do aluno.
A criança não parava quieta e a mãe dizia As crianças que são diagnosticadas com
que ele tinha um quadro de hiperativismo, Síndrome de Asperger apresentam um desa-
mas não levou nenhum laudo médico para fio especial no sistema educacional. Elas são
comprovar o que afi rmava. A coordenadora vistas pelos colegas e alguns profissionais da
observou que a criança tinha certa agitação educação como crianças excêntricas e suas
e que lia todas as mensagens que estavam habilidades sociais são inatas.
fi xadas na parede da sala. A mãe informou Crianças com Síndrome de Asperger têm
também que outras escolas não o aceitaram uma falha no entendimento das relações
e que ele havia sido “expulso” de uma creche humanas e das regras de convívio social,
do bairro. são ingênuas e eminentemente carentes de
A coordenadora o aceitou, pois a educa- senso comum. Elas têm uma falta de habi-
ção é um direito de todos, segundo a LDB lidade para lidar com mudanças, o que as
n. 9.394/96 e, sabendo disso, não se pode leva a serem facilmente estressadas e emo-
negar a educação a nenhum ser humano. A cionalmente vulneráveis. Ao mesmo tempo,

127
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A escola e seus diferentes Iracivana Frandelina de Andrade

as crianças com Síndrome de Asperger têm


uma inteligência na média ou acima dela e
uma memória privilegiada, a ponto de alguns
professores afi rmarem que têm uma memó-
ria fotográfica. Essas crianças têm obsessão
por um interesse específico, o que pode levá-
las a grandes descobertas futuras.
A Síndrome de Asperger é um espectro do
Autismo, o que dificulta na identificação da
Síndrome, pois é facilmente confundida com
o Autismo. Em 1944, um pediatra que tinha
um grande interesse em educação especial
descreveu o quadro de 4 crianças, diagnosti-
cando-as como se tivessem uma condição de
Psicopatia Autística. Ele desconhecia o que
Kanner, um psiquiatra austríaco, havia es-
crito um ano antes sobre o Autismo infantil

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


precoce.
De posse do diagnóstico correto, a mãe
iniciou o tratamento do fi lho e hoje o alu-
no consegue ficar dentro de sala e ter mais
atenção nas suas atividades.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional – Lei n. 9.394/96. Brasília:
Senado Federal, 1996.

MINAS GERAIS. Subsecretaria de Desenvol-


vimento da Educação. Curso sobre Deficiên-
cia Mental e Transtornos Invasivos do De-
senvolvimento (apostila), dezembro e janeiro
de 2006.

128
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 20
AUTORA:
Isabel Cristina Campos Faria

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A RELAÇÃO ENTRE O VÍNCULO FAMILIAR E O TRANSTORNO DE CONDUTA

e habilidoso, aprendendo com facilidade os


Resumo conteúdos e as atividades propostas.
O artigo relata Transtornos de conduta as seguintes ca- Persistindo o mau comportamento, as
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racterísticas: Desrespeito aos direitos e transgressão das constantes agressões físicas aos colegas e os
normas sociais, manifestações excessivas de agressivida- confl itos com as professoras, a coordenação
de e de tirania; crueldade com relação a outras pessoas pedagógica encaminhou-o para o atendi-
ou a animais; destruição dos bens de outrem; condutas mento psicológico que acontece quinzenal-
incendiárias; roubos; mentiras repetidas; cabular aulas mente na instituição.
e fugir de casa; crises de birra e de desobediência, etc. O Após dois encontros, convidamos o pai
que deve ser tratado o mais breve possível por uma equipe para conversar sobre os comportamentos do
interdisciplinar e especialista da área. aluno. O pai conversou com o fi lho, mas de
nada adiantou.

P
aulinho tem 5 anos completos e está No 2º período, seu comportamento piorou.
cursando o 2º período da Educação As professoras não conseguem mais conviver
Infantil. com o aluno em sala, devido à agressividade
A sua história é marcada por fatos trau- e ao mau comportamento.
máticos desde a sua mais tenra idade. Sua As professoras colocam-no de castigo,
gestação foi tranquila, os pais moravam sentado na cadeirinha do pensamento, em
juntos sem maiores dificuldades, o parto alguns momentos é impedido de participar
ocorreu no tempo certo, sendo normal. Seu das brincadeiras, como forma de punição.
desenvolvimento era normal. Ele melhora, se acalma por um momento, e
A estrutura familiar foi modificada quan- logo volta a atrapalhar a turma.
do sua mãe abandonou o lar, deixando-o Fizemos um teste com ele sob orientação
com o pai, que precisava trabalhar, não ten- do psicólogo, que nos recomendou prome-
do com quem deixá-lo. ter-lhe um prêmio no fi nal do dia caso se
Aos 4 meses de idade, foi matriculado comportasse bem. Nos dois primeiros dias
em um Centro de Educação Infantil, onde funcionou, mas já no terceiro voltou a com-
permanecia em período integral, das 7 às 17 portar-se mal.
horas. Paulinho foi diagnosticado como Distúr-
Cresceu sem uma referência de pessoa bio de Conduta, não tendo limites e refe-
adulta para orientá-lo, a não ser as monito- rência. O pai se sente de mãos atadas, sem
ras educacionais e professoras. saber como agir. No conceito de família, esta
A partir dos 4 anos, já no 1º período, é o primeiro ambiente de socialização do ser
começou a apresentar comportamentos ina- humano, sendo descrita como uma estrutu-
dequados para a sala de aula e no convívio ra social, objetiva, onde o processo de socia-
social. Não respeitava mais as professoras e lização é iniciado. A ausência da mãe talvez
funcionárias do Centro de Educação Infantil, tenha sido a principal causa do transtorno
não cumpria os combinados e as regras dos do Paulinho: carência afetiva, sentimento
jogos, sempre procurava tirar vantagens nas de rejeição, além da falta de imposição de
brincadeiras e não aceitava perder nas brin- limites pelo pai.
cadeiras e jogos. Seu desenvolvimento cogni- A escola tem que estar preparada para
tivo era normal, demonstrava ser inteligente trabalhar com esse aluno, embora não seja

129
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A relação entre o vínculo familiar e o transtorno de conduta Isabel Cristina Campos Faria

fácil, principalmente em sala de aula, situ-


ação que requer atenção especial. A escola
sabe que precisa conciliar formas de tra-
balhar com todos os alunos, atendendo, ao
mesmo tempo, às individualidades.
O psicólogo indicou uma consulta ao psi-
quiatra, para indicação de medicação que
pudesse tranquilizar o aluno. Sugeriu tam-
bém terapia familiar.
Como o tratamento apresenta resultados
em longo prazo, a coordenação adotou uma
espécie de rodízio, as professoras se revezam
para que cada dia uma fique com o aluno em
sua sala.

REFERÊNCIA:

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


PAIANO, Marcelle; ANDRADE, B. B.; CAZZO-
NI, J.J. Distúrbios de conduta em crianças
do ensino fundamental e sua relação com
a estrutura familiar. Revista brasileira de
crescimento e desenvolvimento humano.
2007, revistasusp.sibi.usp.br.

130
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 21
AUTORA:
Jaqueline Soares Fonseca

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DO ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN NA REDE


REGULAR DE ENSINO

dispensáveis para a formação de qualquer


Resumo indivíduo.
O presente artigo diz respeito aos meios facilitadores do Vale ressaltar que a Declaração de Sala-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

processo ensino-aprendizagem do aluno com síndrome de manca (UNESCO, 1994) garante o direito que
Down numa rede regular de ensino, em uma Escola Muni- todos os sujeitos com deficiência têm peran-
cipal de Contagem. te o ensino escolar. É destacado que aqueles
com necessidades educacionais especiais

N
atália1 possui Síndrome de Down. devem ter acesso à escola regular, que de-
Segundo Fátima Alves (2007), em seu veria acomodá-los dentro de uma pedagogia
Livro “Para entender a Síndrome de centrada na criança, capaz de satisfazer a
Down”, a Síndrome de Down, também co- tais necessidades, contribuindo assim para
nhecida como Mongolismo ou Trissomia do uma sociedade mais inclusiva e alcançando
21, genericamente doença localizada no cére- uma educação para todos.
bro, encefalopatia, não é progressiva, possui Hoje com 8 anos, Natália frequenta a rede
tendências para melhoras espontâneas, pois regular de ensino, em uma Escola Municipal
seu Sistema Nervoso Central (SNC) continua de Contagem, além de ter atendimento espe-
a amadurecer com o tempo. cializado em uma escola especial em outro
Estimular é fundamental, por isso a turno para facilitar seu desenvolvimento.
família deve contribuir muito desde o nas- Natália está matriculada no 3º ano do1º ci-
cimento da criança. A grande importância clo e possui acompanhamento de estagiário
da estimulação se dá pela necessidade da para ajudar no desenvolvimento das ativi-
criança de vivenciar experiências que per- dades que algumas vezes são diferenciadas
mitam seu desenvolvimento, respeitando sua ou adaptadas, pois a aluna ainda está em
deficiência e explorando suas habilidades. processo de alfabetização, visto que a maio-
Natália, desde que nasceu, tem todo o cari- ria da turma já é alfabetizada. A aluna tem
nho da família, que sabia das dificuldades ótima relação com professores, colegas e de-
que a criança ia enfrentar, por isso sempre mais funcionários. Natália é muito sorriden-
buscaram informações sobre a Síndrome. O te, comunicativa e tem boa memória.
tempo todo que está em casa a criança é es- A aprendizagem da pessoa com Síndro-
timulada com livros, jogos e orientada na re- me de Down ocorre num ritmo mais lento.
alização de atividades por todos da família, A criança demora mais tempo para ler, es-
passo importantíssimo para que a criança crever e fazer contas. No entanto, a maioria
se desenvolvesse. das pessoas com essa síndrome tem condi-
Silva (2002) enfoca os aspectos pedagógi- ções de ser alfabetizada e realizar operações
cos a serem desenvolvidos com o aluno com lógico-matemáticas.
Síndrome de Down, quando diz que frequen- A aprendizagem tem sempre que partir
tar a escola regular permitirá à criança es- do concreto, pois o aluno com Síndrome de
pecial adquirir, progressivamente, conheci- Down tem dificuldade de abstração. Os pro-
mentos cada vez mais complexos que serão fissionais ligados à Natália na escola utili-
exigidos da sociedade e cujas bases são in- zaram materiais concretos, jogos, atividades
lúdicas para facilitar o processo ensino-
aprendizagem da aluna.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

131
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O processo ensino-aprendizagem do aluno com síndrome de Down... Jaqueline Soares Fonseca

Em matemática, a aluna apresenta grande


dificuldade. É necessário proporcionar uma
atividade lúdica que deve ser acompanhada
e dirigida, pois a aluna tem muita dificul-
dade de assimilar quantidade com o nume-
ral. Noções de tamanho (grande e pequeno),
peso e altura (alto e baixo) são assimilados
por ela.
O aprendizado não pode ser isolado, tem
que acompanhar a vida prática, tem que ser
inserido num contexto real em que o aluno
possa perceber o seu significado concreto.
Contudo, não podemos esquecer que todo
o processo é normal, são muito inteligentes
e esforçados e a lentidão para a realização
das atividades é normal, pois cada aluno
possui um ritmo. É dever do educador res-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


peitar as limitações e facilitar o ensino de
maneira que o aluno possa se desenvolver
de forma satisfatória; todos têm capacidade
de aprender.
A inclusão está caminhando e, assim
como na escola da Natália, é necessário que
os profissionais busquem informações sobre
seus alunos com necessidades especiais e
promovam pequenas ações para beneficiá-
los, garantindo assim uma escola para
todos.

REFERÊNCIAS:
ALVES, Fátima. Para entender a Síndro-
me de Down. Rio de Janeiro. Wak Editora.
2007.

SILVA, Roberta Nascimento Antunes. A edu-


cação especial da criança com Síndrome de
Down. In: BELLO, José Luiz de Paiva. Peda-
gogia em foco. Rio de Janeiro, 2002. Dispo-
nível em: < http://www.pedagogiaemfoco.pro.
br/spdslx07.htm>. Acesso em: 09/05/2009.

UNESCO. Declaração de Salamanca e Li-


nha de Ação Sobre Necessidades Educati-
vas Especiais. Trad. Edílson Alkmim Cunha.
Brasília: CORDE, 1994.

132
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 22
AUTORA:
Joseane da Silva Baptista

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

CRIANÇA HIPERATIVA?

xiliar no desenvolvimento desse aluno.


Resumo Feita uma nova consulta com outro mé-
No cotidiano escolar, depara-se o tempo todo com casos dico indicado pela instituição, este, em
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

de crianças que recebem o nome de hiperativas. Este arti- conjunto com a escola e a psicopedagoga,
go tem por finalidade mostrar a importância do conheci- fez um novo diagnóstico que descartou a
mento da doença e do trabalho em conjunto com escola, possibilidade de hiperatividade, afi rmando
família e médicos. tratar-se de problemas de caráter familiar.
O diagnóstico clínico deve ser feito com base

É
comum ouvirmos reclamações cons- no histórico de vida da criança, envolvendo
tantes dos professores e dos pais a necessariamente a coleta de dados com os
respeito de crianças que não conse- pais, com a criança e com a escola. E pelo
guem se concentrar e são agressivas. No en- que se sabe isso não ocorreu com o primeiro
tanto, muitas vezes é mais fácil rotular essas médico que atendeu o aluno.
crianças como hiperativas do que estudar Segundo Andrade (2000), a hiperatividade
a fundo os reais motivos para esse tipo de só fica evidente no período escolar, quando
comportamento e propor subsídios que pos- é preciso aumentar o nível de concentração
sibilitem a resolução dos problemas. para aprender. Para ele “o diagnóstico clí-
Em uma escola particular de Belo Hori- nico deve ser feito com base no histórico da
zonte, temos um caso que se assemelha à criança. Observação dos pais e professores é
situação descrita acima. Há um aluno da fundamental.” (p. 64).
primeira série que possui grande dificuldade Diante disso, afi rma-se a importância de
de concentração, é indisciplinado e apresen- que toda a equipe escolar tenha conhecimen-
ta sinais de agressividade. A lista de rótulos to sobre hiperatividade, os seus sintomas e
dessa criança é enorme, porém a família, as consequências na sala de aula, para po-
mesmo sem ter um diagnóstico médico que der identificar e diferenciar hiperatividade
comprove a hiperatividade, insiste em dizer de falta de limites ou outros problemas.
que esse é o problema da criança. O médico Em conversa com a família, identificou-se
relata não poder dar o diagnóstico de uma que o comportamento do aluno era consequ-
criança hiperativa, por não dispor de infor- ência da ausência da mãe – pois ele era cria-
mações suficientes e consistentes para isso. do com a avó desde o nascimento, influência
Segundo as professoras que acompanham do meio em que vive e resultado da curiosi-
o aluno, a psicopedagoga e a coordenadora dade em saber quem era o seu verdadeiro
pedagógica da escola, a criança não apre- pai, (nem a mãe sabe!).
senta sintomas de hiperatividade e sim de Tendo um novo diagnóstico em mãos e es-
falta de limites. clarecidos alguns problemas anteriormente
O aluno, no entanto, continua tendo di- omitidos pela família, a escola pode traba-
ficuldade de concentração ao realizar as lhar as especificidades do aluno. Ele está
tarefas, tem baixo rendimento escolar e é sendo acompanhado pela psicopedagoga da
agressivo com seus colegas de classe e sua escola, pois seus problemas afetaram o seu
família. desenvolvimento nos aspectos emocional,
A coordenadora aconselhou a família a afetivo e cognitivo.
procurar outros médicos para poderem au-

133
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Criança hiperativa? Joseane da Silva Baptista

Segundo Costa (1983), o papel da famí-


lia no desenvolvimento escolar da criança é
fundamental, para que ela não seja rotulada
somente ao pensamento do professor.
Muitas vezes o aluno é conhecido como
“aluno problema”, porém, antes de criar
qualquer rótulo, é necessário que os profis-
sionais da educação voltem o seu olhar para
as especificidades de cada aluno e assim
possam promover o desenvolvimento pleno
de suas potencialidades.
O professor precisa cada vez mais estar
atualizado e reciclar a sua prática e o seu
saber para agir de maneira positiva no de-
senvolvimento de seu aluno.

REFERÊNCIA:

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


GONZÁLES, Eugenio (Org.). Necessidades
educacionais específicas: intervenção psi-
coeducacional. Porto Alegre: Artmed, 2007.

134
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 23
AUTORA:
Juliana Fernando Evangelista Pereira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM

acabara de falar já havia sido esquecido.


Resumo Ela consegue escrever apenas o primeiro
Distúrbio de aprendizagem é um transtorno neurológico nome, pois já automatizou a sequência de
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

que afeta um ou mais processos psicológicos envolvidos letras. Porém, quando a professora solici-
na compreensão ou no uso da linguagem falada ou escrita, ta que ela faça o registro das letras do seu
que pode se manifestar em uma dificuldade de ouvir, orga- próprio nome, ela não consegue anotar, uma
nizar o pensamento, ler, escrever, soletrar ou calcular. vez que não tem o conhecimento do alfabeto.
Além disso, a aluna não consegue associar

E
ste artigo se propõe relatar o estudo letras e números. Pelo que podemos cons-
de caso de uma adolescente de quinze tatar através dos deveres de casa, a aluna
anos, da 5ª série, que apresenta dis- demonstra não ter nenhuma ajuda em casa.
túrbio de aprendizagem diagnosticado por Apesar da dificuldade de expressão, a aluna
equipe interdisciplinar (terapeutas, educa- brinca normalmente, mas corre e sobe os
dores e médicos). Para isso, foi necessário obstáculos demonstrando não ter boa coor-
o conhecimento de seu histórico familiar e denação devido à dificuldade de locomoção.
a observação da aluna no ambiente escolar Tem bom relacionamento e é bem aceita pe-
onde está inserida. los colegas de sala, porém, na maioria das
De acordo com as observações e o relato vezes, prefere, nos momentos de recreação,
da coordenadora, a aluna é a fi lha mais ve- ficar sozinha e observando.
lha de uma família carente, de sete irmãos, Segundo a psicóloga que acompanha as
cinco deles em idade escolar. Ela permanece crianças da escola, mesmo que apresente
em horário integral, de acordo com um pro- um distúrbio de aprendizagem, qualquer
grama da escola. Apesar de estar no 6º ano educando é capaz de ter sucesso acadêmico,
do Ensino Fundamental, consequência da desde que tenha o apoio necessário dentro e
aprovação automática, por não poder ficar fora do espaço escolar.
retida duas vezes na mesma série, a aluna Para os profissionais da escola, um dos
apresenta distúrbios de aprendizagem: ela maiores desafios da educação é distinguir
não consegue ler nem escrever devido a os alunos que têm dificuldades daqueles que
comprometimento na coordenação motora, têm os chamados distúrbios de aprendiza-
tem dificuldade de expressão oral e de me- gem, como é o caso da aluna observada.
morização, e não consegue progredir em sua A professora levou ao conhecimento da
alfabetização. Não presta atenção nas aulas, pedagoga as informações dos sucessivos
tem problemas de comportamento associado fracassos da aluna. A coordenação, por sua
e não consegue se manter quieta nos mo- vez, solicitou a presença dos pais na esco-
mentos em que o ambiente propicia. la, que se mostraram indiferentes, por não
Numa de suas aulas tradicionais, a pro- admitirem as dificuldades da fi lha. Por sua
fessora individualizou a aluna na sala de crença religiosa, a família da aluna alega
aula e apresentou algumas letras do alfabeto que acredita na cura divina e não aceita a
nomeando cada uma. Em seguida, solicitou ajuda de profissionais da saúde.
que ela repetisse o nome de cada uma, mas a A escola, como faz com todos os alunos
aluna suava frio e não conseguiu se lembrar que apresentam alguma necessidade educa-
de nenhuma letra e tudo o que a professora cional especial, se propôs a encaminhar a

135
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Distúrbio de aprendizagem Juliana Fernando Evangelista Pereira

aluna para uma atenção especial com pro-


fissionais especializados, mas a família não
deu continuidade ao acompanhamento.
A coordenadora relatou que, se os pais
não se apresentarem na escola e não fi zerem
o tratamento da fi lha, a escola terá que no-
tificar o caso ao Conselho Tutelar para que
possam encontrar medidas cabíveis que fa-
voreçam o desenvolvimento da aluna.

REFERÊNCIA:
GARCÍA, Jesus Nicasio. Manual de dificul-
dade de aprendizagem: linguagem, leitura,
escrita e matemática. Porto Alegre: Artmed,
1998.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 24
AUTORA:
Juliane Gomes Niquini

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA COMO MEIO FACILITADOR DO PROCES-


SO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

a ele. O que estava dificultando a sua comu-


Resumo nicação e consequentemente, sua interação
O presente artigo tem por objetivo relatar um estudo de social e seu aprendizado.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

caso de um aluno de uma escola especial de Belo Horizon- Segundo Nunes (2004),
te, que apresentava dificuldade de comunicação. A comu-
nicação alternativa veio como um apoio no seu processo para a criança com problemas de comuni-
de ensino-aprendizagem. cação, principalmente aquela que não tem
condições de falar e, por esse motivo, não

A
comunicação alternativa é um con- consegue se fazer entender, mas compre-
junto de procedimentos técnicos e ende a linguagem falada, é preciso criar
metodológicos direcionados às pesso- condições para que ela possa se comunicar
as com alguma deficiência ou alguma outra com as pessoas a seu redor, expondo seu
situação momentânea que impede a comu- pensamento, sua vontade, sua opinião, sua
nicação com as demais pessoas por meio necessidade de participação nas situações
dos recursos normalmente utilizados, mais que lhe sejam significativas, num processo
especificamente a fala. Essa tem sido de que se denomina comunicação suplementar
grande importância no processo de ensino- alternativa.
aprendizagem dessas pessoas.
A comunicação alternativa tem como Foi proposta então para o aluno uma
objetivo promover interações interpessoais, prancha de comunicação alternativa, onde
reduzir as frustrações, auxiliar o desenvol- seriam usados os símbolos pictográficos
vimento da compreensão, diminuir a dis- (PCS).
crepância entre os níveis de compreensão e Foi feita uma reunião com a família para
produção e dar maior autonomia, melhorar ouvir a opinião sobre a proposta, pois a im-
a qualidade de vida da pessoa com paralisia plementação da prancha de CSA deveria ser
cerebral e levá-la a sentir-se mais autônoma de uso do aluno em toda a sua vida diária,
e apta a dominar os problemas do dia a dia. não se restringindo À escola, para que se
O presente estudo de caso foi realizado pudesse ter um melhor resultado.
com uma criança de 8 anos com paralisia Com o apoio da família, deu-se início à
cerebral do tipo tetraplegia, em uma escola confecção da prancha e fez-se treinamento
especial. O aluno não apresentava aquisição do aluno para o seu uso.
da fala, o que dificultava sua comunicação e Toda a equipe da escola se empenhou em
causava uma dificuldade no seu processo de ajudar e incentivar o aluno a usar a todo o
aprendizagem. momento a prancha e de forma correta.
De início, achava-se que o aluno usava O aluno passou a se comunicar de forma
das expressões faciais para se comunicar, o mais efetiva tanto em casa com na escola,
sorriso era sempre entendido pelos profissio- onde mostrou uma melhora significativa na
nais da escola como um sim. aprendizagem, respondendo melhor às ati-
No decorrer do tempo, verificaram que o vidades propostas, como nos momentos de
sorriso do aluno estava sendo utilizado para jogos.
todas as situações, ou seja, tanto para afi r- Com isso, fica demonstrado que, para a
mar quanto negar algo que era perguntado pessoa com problemas de comunicação, é

137
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A Comunicação Alternativa como meio facilitador... Juliane Gomes Niquini

necessário criar condições para que possa


se comunicar com as pessoas e participar
da vida e da sociedade em que se insere.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. MEC. Educação infantil: saberes e
práticas da inclusão, dificuldades de comuni-
cação e sinalização, deficiência física. Brasí-
lia, 2006.

NUNES, L. R. O. P. (Org.) Favorecendo o de-


senvolvimento da comunicação em crian-
ças e jovens com necessidades educacio-
nais especiais. Rio de Janeiro: Dunya, 2004.
p. 2-13.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 25
AUTORA:
Karine Cristina Souza Mourão

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM DE


UMA CRIANÇA

É sabido que os pais têm influência na


Resumo formação das crianças durante o percurso
Este artigo relata um estudo de caso de um aluno com escolar. O que é ensinado na sala de aula
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

dificuldade de aprendizagem e falta de participação da deve ter uma continuidade em casa, com a
família, realizado numa escola particular que atende a participação dos pais.
alunos da educação infantil. Nota-se que a presença dos pais é de
suma importância para um desenvolvimento

O
presente artigo baseia-se no estudo do aluno na escola, e que é preciso saber
de caso do aluno Luik1, de quatro lidar com os sentimentos infantis de modo a
anos de idade, estudante do primei- conduzi-los de maneira tranquila.
ro período de uma escola particular de Belo Segundo Vygotsky, o social tem grande
Horizonte. valor na aprendizagem, principalmente na
De acordo com relatos da professora re- educação infantil, que necessita de inter-
gente da sala de aula, Luik estuda na escola venções pedagógicas que ajudem a assimi-
há dois anos e, no início deste ano, foi perce- lar as formas sociais de atuação para depois
bido um novo comportamento. O aluno tem transferir a si mesma. Os pais têm que ser
se demonstrado um pouco desanimado, tem participativos na vida escolar do fi lho, para
faltado muito às aulas, demonstra falta de que ele busque melhor seu conhecimento.
interesse pelas atividades, em algumas oca- A família deve participar e interferir quan-
siões com uma grande dificuldade de apren- do necessário, pois tem o papel de apoio e de
dizagem, chora muito ao entrar na escola e responsabilidade pela frequência e partici-
chama pela mãe constantemente. pação das crianças em atividades propostas
A relação entre a escola e a família do pela escola.
aluno é frágil, pois a mãe quase nunca apa- Nem sempre os pais realizam esse seu
rece na escola. papel. Muitas vezes algumas atividades
A coordenadora da escola solicitou a pre- propostas pelo professor não são realizadas
sença dos pais para saber sobre a criança pelos alunos porque necessitavam de algum
em casa. adulto, que não teve tempo de ajudá-lo ou
Durante a conversa, os pais relataram não valoriza as atividades propostas pela
que tinham se separado havia um mês e que instituição.
nenhum deles estava mais acompanhando o Trabalhando em conjunto, fica mais fácil
desenvolvimento escolar do fi lho, o pai pelo a criança entender o seu papel na sociedade
fato de trabalhar e por não morar com o fi lho e solucionar os problemas que geralmente
e a mãe por ter apresentado sintomas de de- ocorrem dentro da escola.
pressão e também trabalhar, deixando tudo A escola faz parte da vida cotidiana da
na mão da babá. cada família com os seus filhos em idade
A coordenação da escola propôs um escolar. Os filhos ficam boa parte do tempo
acompanhamento psicológico para o aluno e dentro da escola e escola e família têm obje-
sugeriu um tratamento para a mãe que esta- tivos semelhantes: formar cidadãos para vi-
va com depressão, para que não ocorram os verem com dignidade em uma sociedade que
mesmos sintomas com a criança. está sempre mudando. A escola acredita no
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância da participação da família na... Karine Cristina Souza Mourão

crescimento do aluno, mas juntamente com


a família.

REFERÊNCIAS:
FRITAS, Maria Tereza de Assunção. Vygotsky
um século depois. Juiz de Fora (MG): EDU-
FJF, 1998. 104p.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 26
AUTORA:
Kelly Cristina da Silva Pereira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

FALTA DE LIMITE OU HIPERATIVIDADE?

O objetivo da coordenadora era entender os


Resumo comportamentos de Marcelo, como era em
O presente artigo apresenta um estudo de caso sobre a casa, com família, e se fazia algum acompa-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

agressividade e a desatenção de um aluno da educação nhamento médico.


infantil da rede particular de ensino, da região de Be- Após a reunião, a professora e a coorde-
tim/MG. Uma vez que não há diagnóstico médico, a co- nadora demonstraram uma preocupação
ordenadora e a professora suspeitam tratar-se de caso com o aluno, pois a mãe declarara que já
hiperatividade. Destaca-se também a importância do havia obtido reclamações da escola anterior.
conhecimento que os profissionais da escola precisam ter Ao mesmo tempo, a mãe nega fazer qualquer
em relação à hiperatividade e do trabalho conjunto a ser tipo de avaliação médica por considerar seu
realizado. fi lho “normal”, e afi rma que a escola é que
não tem “pulso” para trabalhar de forma efi-

É
muito comum ouvirmos professores caz as atividades propostas.
e pais reclamarem de alguns alunos Diante disso, a coordenadora decidiu
referindo-se a eles como “chatos”, procurar uma profissional da área da psi-
“agressivos”, “pimentinhas”, “bagunceiros”, cologia para melhor entender o que estava
“agitados”, “impulsivos”. Dificilmente, no en- acontecendo com o aluno. Ao relatar para a
tanto, essas pessoas percebem que essa é a psicóloga os fatos ocorridos, a coordenadora
forma que a criança encontra para demons- e a professora decidiram marcar outra reu-
trar que existe algo de “incomum” com ela. nião com mãe.
Em uma escola da rede particular de O aluno continuava desatento nas aulas,
ensino, situada na região de Betim/MG, foi agredindo os colegas e com grandes altera-
realizado um estudo de caso com um aluno ções em seu humor. Muitas vezes se irritava
de 5 anos, da educação infantil. Ele se mos- ou até mesmo chorava sem haver qualquer
trava agressivo com os colegas e desatento motivo, não permitindo que a professora
durante atividades propostas pela professo- pudesse dar prosseguimento às atividades
ra. Ele já havia frequentado no ano anterior propostas. Os pais dos outros alunos já es-
uma escola da rede particular de ensino da tavam ameaçando retirar os fi lhos da escola
mesma região, mas não continuou até o fi nal e os próprios alunos estavam se negando a ir
do ano, pois os pais acreditavam que seus para escola por medo do aluno, pois a inci-
comportamentos foram adquiridos na pró- dência de machucados era constante.
pria escola. Segundo Barkley & Pfi ffner (2002),
Ao chegar à escola, Marcelo1 desestrutu-
rava todo o ambiente da sala: começava a O comportamento inquieto e/ou desatento
gritar e a rolar no chão, chamava os colegas das crianças produz desconforto nos mais
de porcaria e a professora de safada, batia variados contextos, mas é nas escolas onde
nos colegas, jogava todas as mochilas no se requerem doses consideráveis de con-
chão, falava muito, encontrava dificuldades centração e atenção, onde os primeiros sin-
para ficar sentado na sala de aula. tomas de alguns transtornos aparecem de
Como a situação estava fora do contro- forma mais intensa.
le, a mãe foi solicitada para uma reunião.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Falta de limite ou hiperatividade? Kelly Cristina da Silva Pereira

A coordenadora aconselhou mais uma ças hiperativas; dar tarefas curtas ou inter-
vez aos pais a procurarem ajuda de outros caladas, para que elas possam concluí-las
profissionais, como médicos e psicólogos, antes de se dispersarem; elogiar sempre
para que a escola pudesse fazer um traba- os resultados; usar jogos e desafios para
lho paralelo com o aluno. Os pais se recusa- motivá-los; valorizar a rotina, pois ela deixa
ram novamente, pois não queriam acreditar a criança mais segura, mantendo sempre o
que seu filho tivesse algum tipo “problema” e estímulo, através de novidades no material
achavam desnecessário o diagnóstico de um pedagógico.
médico.
Smith (2001, p. 64) afi rma que “nem sem- O sucesso em sala de aula, frequentemen-
pre os pais admitem que o fi lho seja hipera- te, exige uma série de intervenções, para que
tivo. Muitos acham que a criança é esperta as atividades deem mais êxito para o aluno.
demais e, por isso, está sempre interessada Marcelo se encontra nessa fase, a profes-
em novidades. Além disso, eles acreditam sora a cada dia percebe a evolução do traba-
que o tratamento com medicamentos pode lho desenvolvido com ele, mesmo sem haver
tirar a espontaneidade do pequeno.” ajuda por parte da família. É importante, no
Não havendo o apoio dos pais, a coordena- entanto, que os professores demonstrem aos

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


dora resolveu tomar suas próprias decisões, pais o papel da estimulação que devem pro-
reunindo-se com a professora para investigar porcionar aos fi lhos, de maneira constante.
o caso. Elas começaram a levantar possíveis
hipóteses. Autismo, hiperatividade ou falta REFERÊNCIAS:
de limite foram as questões que colocaram
em evidência. Ao realizarem pesquisas sobre BARKLEY, R. A. & PFIFFNER, K. J. Rumo à
as hipóteses, caracterizaram o caso como escola com o pé direito: Administrando a edu-
hiperatividade, e resolveram se fundamen- cação de seu filho. In: BARKLEY (Org.), R. A.
tar sobre o tema, pois o aluno apresentava Transtorno de Déficit de Atenção/Hipera-
as características desse distúrbio. tividade (TDAH): Guia completo para pais,
Segundo Ricardo Halpern (2004) 2 , professores e profissionais da saúde (L. S.
Roizman, trad.). Porto Alegre. 2002.
a síndrome caracteriza-se por desatenção,
hiperatividade e impulsividade. Indepen- SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de
dentemente do sistema classificatório utili- Aprendizagem de A a Z. 1. ed. Porto Algre:
zado, as crianças com TDAH são facilmen- Ed. Artes Médicas, 2001.
te reconhecidas em clínicas, escolas e em
casa. Elas apresentam a atividade motora
muito acentuada e atitudes inadequadas,
dispersam frequentemente a concentração
dos colegas, dificultando, assim, uma inser-
ção social.

É importante ressaltar que esses critérios


devem ser bem avaliados. E os professores
que possuem alunos que apresentam proble-
mas de hiperatividade devem ter muita pa-
ciência e disponibilidade, pois eles precisam
de muita atenção.
Segundo Mônica Duchesne e Ênio Rober-
to de Andrade 3 (2002),

o professor poderá utilizar métodos didáti-


cos alternativos para melhoria do compor-
tamento e desenvolvimento pedagógico da
criança hiperativa, tais como: trabalhar
com pequenos grupos, sem isolar as crian-

2. Jornal de Pediatria, v. 80, n. 2 (supl.), 2004.


3. ABDA – Associação Brasileira de Déficit de Atenção.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 27
AUTORA:
Lenita Kátia Silva de Oliveira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

DEPRESSÃO INFANTIL PELA PERDA DE PARENTES PRÓXIMOS

recebeu um laudo no qual Daniel recebia


Resumo um diagnóstico de depressão infantil e que
O presente artigo nos relata o estudo de caso de um aluno a mesma poderia ter ocorrido pela perda do
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

de uma escola pública de Belo Horizonte, de um compor- pai. Diante do diagnóstico, a escola resolveu
tamento exemplar, que teve seu rendimento escolar com- ajudar ainda mais a família, pedindo a eles
prometido. que continuassem com os atendimentos e
começou a promover encontros com outras

D
aniel1, hoje aluno do terceiro ano do famílias que apresentavam problemas pare-
ensino fundamental, sempre foi uma cidos. Foi formado um grupo de autoajuda
criança esperta, interessada, com- que se reunia dentro da escola em horário
prometida com a aprendizagem e, de repente, noturno.
começou a apresentar um comportamento Esse grupo, juntamente com o atendi-
diferente do que sempre apresentara, estava mento psicológico e o empenho da escola, foi
sempre triste, ficava pelos cantos da escola, que ajudou essa família a se estruturar.
não brincava com os coleguinhas e, quando Foi providenciada uma equipe de acom-
brincava, não se envolvia inteiramente nas panhamento psicopedagógico e Daniel era
brincadeiras, muito cabisbaixo, reclamando um dos alunos atendidos. A inserção do alu-
sempre de dores de cabeça. Às vezes pedia no na escola integrada também favoreceu a
até para ir embora antes do horário, mas criança, pois lá os monitores conseguiam
como a mãe não tinha como comparecer, dar a ele uma atenção diferenciada, fazendo
com o passar do tempo ele não mais pedia. com que se sentisse bem e também amada.
Daniel ficou assim por algum tempo, Ficou claro para a escola que era de ca-
mas seu comportamento incomodava sua rinho, respeito, amor e presença de pessoas
professora, pois, além de todas essas ma- que o fi zessem sentir seguro que Daniel ne-
nifestações, ele estava tendo problemas de cessitava naquele momento tão difícil de sua
aprendizagem e o seu rendimento tinha vida. A mãe já estava conseguindo ajudá-lo
caído. De comum acordo, a professora e a graças aos acompanhamentos feitos com o
coordenadora iniciaram um estudo de caso. psicólogo e o grupo de autoajuda.
O primeiro passo foi chamar a família para Hoje em dia muitas crianças dizem que
conversar. Segundo relatos da mãe, Daniel estão tristes, que não têm vontade de ir à
havia perdido o pai num acidente de moto aula, de brincar, muitas deixam até mesmo
havia pouco mais de um ano e até então a de comer, e muitas vezes nós, adultos, não
família não conseguira se adequar à atual damos atenção. Muitas dessas crianças po-
realidade. A mãe relatou à escola, “ainda em dem apresentar depressão infantil.
prantos”, que não conseguia falar do assun- Ao contrário do que se pensava, a de-
to com os fi lhos visto que ela mesma ainda pressão pode afetar crianças e adolescentes.
não conseguira se estruturar. Nos menores, ela é identificada quando há
A coordenadora então percebeu que aque- presença de sintomas simultâneos e persis-
la família precisava de ajuda e fez um en- tentes. “Se a criança anda frequentemente
caminhamento para um tratamento psico- triste, chora fácil, tem baixa autoestima,
lógico. Depois de algumas sessões, a escola perde o interesse por coisas pelas quais se
interessava antes, evita contato social, está
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Depressão infantil pela perda de parentes próximos Lenita Kátia Silva de Oliveira

sempre cansada e sem disposição, é aconse- deira, conseguimos identificar quais são os
lhável aos professores comunicar aos pais e problemas da criança’’. Outro tipo de trata-
aos pais, procurar ajuda”. mento foca mais a conversa entre paciente e
De acordo com alguns psiquiatras, exis- psiquiatra.
tem dois fatores que contribuem para desen- Abrir um espaço de conversa para expor
cadear o processo depressivo nas crianças: à criança que a morte não é um castigo, mas
O primeiro é o fator genético, em segundo sim um acontecimento natural, é muito im-
estão as causas externas, como: a perda de portante. Muitos se culpam pela situação,
um parente querido, a mudança de cidade, meu pai morreu porque eu o desobedeci. Por
a separação dos pais, entre outros. Esses isso é de grande importância mostrar aos
fatores podem desencadear a doença. Nas pequenos que nossa existência não é para
crianças, prevalecem geralmente as causas sempre e que todos nós nascemos e morre-
externas. mos um dia, cada um do seu jeito, uns de
As nossas crianças também sofrem do forma mais tranqüila, outros de forma mais
mal do século, que é a depressão, por isso é trágica. Isso ajudará e muito na compreen-
fundamental que pais e professores estejam são da perda, principalmente para que eles
sempre atentos às mudanças de comporta- não assumam uma culpa que na verdade

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


mento das crianças para que possa ser feito não é sua.
um diagnóstico precoce, e se inicie um tra-
tamento eficaz para esse transtorno. O não REFERÊNCIA:
encaminhamento da criança pode acarretar
menor índice de aprendizagem e dificuldade CHEHAIBAR, Graziela Zlotnik. Como lidar
de socialização, o que às vezes pode reper- com o luto infantil. Revista Pátio, ano XII, nº
cutir na autoestima da criança de maneira 48, nov. 2008/jan. 2009.
defi nitiva.
Infelizmente, ainda hoje temos grande
preconceito com relação aos transtornos
psiquiátricos, por isso muitas vezes perce-
bemos alguma alteração no comportamento
das crianças e ficamos constrangidos de di-
zer aos pais que é necessário procurar um
especialista. E os pais, por sua vez, também
não gostam de administrar uma medicação
psiquiátrica para seus fi lhos.
No caso do Daniel, sua depressão pro-
vavelmente foi devida à morte do pai e isso
acontece muito com as crianças porque a
reação da criança frente à morte está total-
mente relacionada à maneira como as pesso-
as mais próximas abordam o assunto. Com a
morte de um ente querido, a criança se sente
vulnerável, acha, por exemplo, que, se per-
deu o pai, também perderá a mãe, e outros
entes queridos. Por isso é importante que ela
tenha espaço para exprimir seus sentimen-
tos. A criança precisa de alguém que seja
seu “porto seguro”. Mesmo vivenciando o
momento da dor e da perda, a pessoa adulta
deve se estruturar para que possa oferecer
segurança à criança.
Hoje em dia existe tratamento para a
depressão infantil. A ludoterapia, terapia
realizada com o ato de brincar, é um deles.
Nesse tipo de tratamento, usa-se uma famí-
lia de bonecos de pano e outras brincadeiras
como desenhos e jogos. “Por meio da brinca-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 28
AUTORA:
Lílian Aparecida Gonçalves Xavier

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

AQUISIÇÃO DA ESCRITA NA SÍNDROME DE DOWN

indivíduo com a síndrome. Além de conferi-


Resumo rem-lhe outras características relacionadas
Este artigo baseia-se no estudo de caso de uma aluna do 3º a síndromes.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

ano do ensino fundamental de uma escola particular, com De forma geral, são características da
diagnóstico de Síndrome de Down, e ressalta a análise da pessoa com Síndrome Down: é um individuo
sua produção escrita. calmo, afetivo, bem humorado e com pre-
juízos intelectuais, porém pode apresentar

A
síndrome de Down é decorrente de grandes variações no que se refere ao com-
uma alteração genética ocorrida du- portamento. A personalidade varia de indiví-
rante ou imediatamente após a con- duo para indivíduo e eles podem apresentar
cepção. A alteração genética se caracteriza distúrbios do comportamento, desordens de
pela presença a mais do autossomo 21, ou conduta e ainda seu comportamento pode
seja, ao invés do indivíduo apresentar dois variar quanto ao potencial genético e carac-
cromossomos 21, possui três. A esta altera- terísticas culturais, que serão determinan-
ção denominamos trissomia simples. tes no comportamento.
No entanto, podemos encontrar outras al- A criança com Síndrome de Down se
terações genéticas que causam síndrome de desenvolve mais lentamente em relação às
Down. Estas são decorrentes de transloca- outras crianças. A aprendizagem é realizada
ção, pela qual o autossomo 21, a mais, está com sucesso se capacidades de assimilação,
fundido a outro autossomo. O erro genético reorganização e acomodação estiverem ínte-
também pode ocorrer pela proporção variá- gras, assim vão se dando as aquisições ao
vel de células trissômicas presentes ao lado longo do tempo. Esses três processos acon-
de células citogeneticamente normais. Estes tecem para que um indivíduo esteja sem-
dois tipos de alterações genéticas são menos pre adquirindo novas informações, assim,
frequentes, que a trissomia simples. quando se depara com um dado novo, para
Estas alterações genéticas decorrem de sua internalização, o indivíduo deve reorga-
“defeito” em um dos gametas que formarão nizar as aquisições já adquiridas, para aco-
o indivíduo. Os gametas deveriam conter modar os novos conhecimentos, sendo por
um cromossomo apenas e assim a união do este processo que linguagem e a cognição se
gameta materno com o gameta paterno gera- desenvolvem.
ria um gameta fi lho com dois cromossomos, As crianças com Síndrome de Down têm
como toda a espécie humana. Porém, duran- possibilidades de se desenvolver e executar
te a formação do gameta, pode haver alte- atividades diárias e até mesmo adquirir for-
rações e através da não disjunção cromos- mação profissional e, no enfoque evolutivo,
sômica, que é realizada durante o processo a linguagem e as atividades como leitura e
de reprodução, podem ser formados gametas escrita podem ser desenvolvidas a partir das
com cromossomos duplos que, ao se unirem experiências da própria criança.
a outro cromossomo pela fecundação, resul- A aquisição da escrita é mais difícil que a
tam em uma alteração cromossômica. aquisição da fala. Enquanto a fala é apren-
Estas alterações genéticas alteraram todo dida naturalmente pelo homem, a leitura e a
o desenvolvimento e a maturação do orga- escrita são ensinadas por meio de um código
nismo e inclusive alteraram a cognição do de criação humana altamente complexo.

145
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Aquisição da escrita na síndrome de Down Lílian Aparecida Gonçalves Xavier

Luísa1 tem 9 nos de idade, frequenta o to, ela está alcançando os objetivos dentro
3ºano do ensino fundamental, possui o diag- do seu tempo.
nóstico de Síndrome de Down.
A coordenadora relatou que, no início do REFERÊNCIAS:
ano, fez um momento de socialização com
a turma da qual a aluna faz parte, falando GREGOLIN, Reny; COUSSEAU, Salete Ro-
das diferenças e da importância de se res- cio. A Aquisição da Escrita na Síndrome de
peitar o outro. Down. Revista Letras, Curitiba, n. 58, p. 171-
A escola teve acesso a alguns documen- 184. jul. 2002. Editora UFPR.
tos referentes ao acompanhamento da aluna
por profissionais, com isso acredita em um SCHWARTZAN, J. S. Síndrome de Down.
trabalho em conjunto para um melhor de- São Paulo: Mackenzie, 1999.
sempenho acadêmico da aluna.
A mãe da aluna diz que é possível en-
contrar boas escolas e que compreendem a
situação de alunos com Síndrome de Down,
porém não estão preparadas para desenvol-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


ver um sistema de avaliação diferenciado.
As escolas pensam que trabalhar de forma
diferente com quem tem alguma limitação
é um privilégio. Mas não é. Para tratar to-
dos com igualdade, temos que perceber as
diferenças.
Na ficha individual da aluna, o plano te-
rapêutico tem como objetivo geral proporcio-
nar o desenvolvimento da linguagem escrita
e relata seu desenvolvimento na escola:
No primeiro teste realizado pela escola
quando Luísa iniciou, ela só desenhou e
conseguiu escrever as iniciais do seu nome.
Três meses depois, foi-lhe solicitado que
produzisse um texto descrevendo a festa
junina da escola da qual ela e sua família
haviam participado. Luísa produziu o texto,
utilizando-se da escrita de lista relacionada
ao tema solicitado.
Hoje, apesar da dificuldade ainda existir,
a evolução da escrita é muito significativa. A
aluna já consegue escrever o que é solicitado
e assimila as histórias contadas pela profes-
sora relatadas no papel através da escrita e
de desenhos.
A coordenação pedagógica da escola de-
cidiu o livro que seria usado por essa alu-
na. O conteúdo trabalhado com ela difere
dos demais alunos da sala, O livro utilizado
tem folhas grandes e as figuras são bem
coloridas.
A Escola percebe o resultado da aluna em
relação à aprendizagem. Em relação aos co-
legas de sala, eles são bastante solidários.
Luísa é uma criança calma e alegre e muito
querida por todos na escola. As professoras
estão muito felizes com seu desenvolvimen-

1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

146
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 29
AUTORA:
Luciene de Freitas dos Santos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

AUTISMO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

A professora começa a notar que ele se


Resumo esforçava muito para realizar as ativida-
O presente artigo aborda o estudo de caso de um aluno des, mas não conseguia. Na rodinha, ele
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

da rede particular de ensino de Belo Horizonte. Relata as parecia não estar ouvindo o que estava se
observações do comportamento do aluno e como se deu o passando.
diagnóstico, assim como o que foi feito e está sendo feito Sempre levava um carrinho, que era seu
pela escola e pelos familiares para que ocorra o processo brinquedo preferido, e ficava com ele na mão,
de inclusão e interação do aluno na escola para garantir brincava “escondido” e quando a professora
sua permanência com um desenvolvimento satisfatório. reclamava, ele o colocava no bolso. A coorde-
nação motora fi na era comprometida.

H
oje, percebem-se grandes mudanças Nas brincadeiras, ele nunca participava,
na área de educação e com isso pode- ficava com o carrinho na mão, observando
mos notar progressos e transtornos. sem parar, como se naquele momento esti-
Um problema visípanhado de perto pela di- vessem somente os dois.
reção e coordenação da escola. As propostas de atividades colocadas pela
A criança, com dois anos, ainda não fala- professora, ele nunca as realizava; se a pro-
va e não andava. O pai apresentava síndro- fessora fosse um pouco mais enérgica com
me do pânico e vivia dentro de casa com a ele, chorava copiosamente. Falava muito
criança desde seu nascimento, tinha medo pouco e sem nexo. Não dava conta de falar
de tudo e de todos. Não deixava o fi lho sair frases completas, ainda que fossem frases
com a mãe tampouco brincar com outra curtas. Marcava um lugar para pôr a mochi-
criança. la, se tivesse outra, ele tirava para colocar
Apesar de não andar e não falar, os mé- a dele.
dicos diziam que a criança estava normal, Na sala de aula, ele levantava muito, fi-
saudável e que a mãe não precisava se preo- cava “passeando” pela sala, não conseguia
cupar, até porque cada criança tem um tem- permanecer sentado por muito tempo.
po de desenvolvimento diferente de outras. No parquinho, não apresentava inte-
A mãe, não satisfeita com o argumento do resse por brinquedo algum. Ficava isolado
médico, procurou logo um especialista, que brincando sozinho. Ainda na sala de aula,
sugeriu que ela o colocasse na escola o mais gostava muito de ficar se olhando no espe-
rápido possível. Na primeira escola, não se lho, toda vez que se levantava da cadeira ia
adaptou, mas mesmo assim a mãe insistiu direto se olhar no espelho, permanecia se
um pouco, notando que, além de não se olhando no espelho até que a professora lhe
adaptar, ele estava ficando muito triste com pedisse que sentasse. Ele então dava mais
a situação. algumas voltas pela sala para depois se as-
O pai continuava em casa, com a síndro- sentar. Detalhe importante: andava sempre
me do pânico. A mãe decide então colocar em na ponta dos pés.
outra escola, na qual ele se adaptou muito Se um colega estivesse lanchando e fosse
bem. O especialista continua o tratamento o que ele gostava, ele pegava do colega sem
com a criança, ainda sem dar diagnóstico pedir, e quando a professora explicava a ele
de imediato, mas o encaminhou para uma que ele não podia pegar sem pedir, ele cho-
fonoaudióloga e uma psicóloga. rava muito. A criança nunca olhava para o

147
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Autismo na educação infantil: diagnóstico e intervenção Luciene de Freitas dos Santos

rosto de outra pessoa, sempre olhava para


o chão.
Diante desse quadro, a professora propõe
uma reunião com a mãe, e coloca para ela
tudo o que tem observado na criança. A mãe
disse que já está levando o fi lho a um es-
pecialista, fazendo três sessões semanais de
fonoaudiologia e duas vezes por semana com
a psicóloga. A psicóloga passa então a fazer
reuniões com a professora para orientá-la
como proceder diante das manifestações do
aluno.
Aos 3 anos de idade, o especialista apre-
senta o diagnóstico de autismo infantil e,
desde então, ele vem sendo assistido com
medicação e seu desempenho de modo geral
melhorou bastante.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


No segundo período, até o fi nal do 1º se-
mestre, ele ainda apresentava dificuldades
na escrita, começava a escrever na linha e
terminava em outra subindo ou abaixando,
sem seguir a linha corretamente.
Marques (1993) afi rma que o comporta-
mento autista é desencadeador de grande
sofrimento “[...] nenhuma função é compro-
metida biologicamente e todo o déficit (na
comunicação e na socialização) é induzido e
mantido por estados de solidão, vividos des-
de a primeira infância”. (p. 62).
No segundo período, mais precisamente
no 2º semestre, ele apresentou um desenvol-
vimento fantástico, algo que ninguém espe-
rava. A professora achava até que ele iria re-
petir o ano, mas, graças ao desenvolvimento
que ele apresentou, hoje se encontra no 1º
ano/9, acompanhando a turma. Foi algo
inesperado pela família e pela escola. O alu-
no continua o tratamento e a orientação dos
professores pela psicóloga e pela terapeuta
ocupacional continuam.
Percebe-se que a escola está cumprindo
seu real papel, o de incluir com a responsa-
bilidade de manter o aluno na escola e se de-
senvolvendo coletivamente com os colegas.

REFERÊNCIA:
CAMARGOS Jr., Walter. Transtornos invasi-
vos do desenvolvimento: 3º Milênio. Brasí-
lia: Corde. 1992.

MARQUES, M. Autismo e solidão. Pais e fi-


lhos, n. 34, 1993. p. 62.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 30
AUTORA:
Maíra Apgaua Barbosa Lima

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

APOIO PEDAGÓGICO DENTRO E FORA DA ESCOLA: ESSENCIAL PARA ALU-


NOS ESPECIAIS

• toda criança possui características, interes-


Resumo ses, habilidades e necessidades de aprendi-
zagem que são únicas;
O presente artigo se refere a um estudo de caso realizado
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

• aqueles com necessidades educacionais es-


em uma escola particular, envolvendo um aluno com pa-
peciais devem ter acesso à escola regular,
ralisia cerebral, tendo como principal problema a falta de que deveria acomodá-los dentro de uma
apoio da escola para atender às suas necessidades. Pedagogia centrada na criança, capaz de

T
satisfazer a tais necessidades.
hiago tem 4 anos, é aluno de uma
escola particular da zona Sul de Belo Na mesma escola, estuda Gustavo , irmão
Horizonte, e será o foco deste estudo gêmeo de Thiago, que não apresenta quadro
de caso. clínico semelhante ao do irmão.
É uma criança extremamente feliz e tem Tive a oportunidade de acompanhar
muita vontade de aprender. Seu quadro clí- Thiago, logo quando entrou na escola. Ele
nico é de paralisia cerebral, em um grau leve, tinha apenas dois anos, só andava com aju-
havendo comprometimento na parte motora, da, pois, se caísse, corria o risco de bater a
contudo seu cognitivo é preservado. cabeça no chão, já que não tinha o apoio da
Segundo a terapeuta ocupacional Dra. mão direita e força para sustentar a queda.
Katerine Dias Vieira Nobre, A escola possuía algumas irregularidades
para receber esse aluno. Não possuía ram-
Paralisia cerebral não é doença, mas uma pas, havia desnível do pátio, banheiro sem
condição médica especial, que frequente- adaptação; tudo isso dificultava o acesso do
mente ocorre em crianças, antes, durante aluno, que se tornou dependente de todos.
ou logo após o parto, e quase sempre é o Ao completar três anos, Thiago já se lo-
resultado da falta de oxigenação ao cérebro comovia com menos dificuldade e se comu-
(como é o caso de Thiago). As crianças afe- nicava melhor, tinha acompanhamento de
tadas por paralisias cerebrais têm uma per- fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e
turbação do controle de suas posturas e dos fonoaudiólogos.
movimentos do corpo, como consequência Sua nova sala se localizava na parte in-
de uma lesão cerebral. ferior da escola, o único acesso era por meio
de escada.
De acordo com a Declaração Universal Continuei acompanhando o aluno até a
dos Direitos Humanos (UNITED NATIONS, metade do maternal III, ajudando-o nas ati-
1948), toda criança tem direito ao acesso vidades de sala de aula, além das aulas de
escolar, além do mais é imprescindível res- educação física e música. Depois disso, ou-
saltar questões contempladas na Declaração tra profissional da escola passou a dar apoio
de Salamanca (UNESCO, 1994), como: pedagógico a ele, três vezes na semana, pois
• •toda criança tem direito fundamental à
tive que assumir outra turma em turno di-
educação, e deve ser dada a oportunidade ferente, o que me impossibilitou continuar o
de atingir e manter o nível adequado de acompanhamento desse aluno.
aprendizagem; Hoje, Thiago está com quatro anos, no
primeiro período da mesma escola. Houve
algumas mudanças físicas na instituição,

149
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Apoio pedagógico dentro e fora da escola: essencial... Maíra Apgaua Barbosa Lima

como corrimãos nas escadas, antiderrapan- REFERÊNCIAS:


tes, mas ainda nenhuma adaptação referen-
te a rampas e banheiros. KUESTER, V. M. 10 years on: have teacher at-
Há pouco tempo, fui convidada para titudes toward the inclusion if students with
dar apoio pedagógico para o aluno na sua disabilities changed. International Special
casa, afi nal ele estava com dificuldades para Education Congress. Manchester, 2000.
acompanhar os demais colegas da sala. Tive
então a oportunidade de participar de uma UNESCO - United Nations Educational,
reunião com a terapeuta ocupacional que o Scientific and Cultural Organization. Decla-
atende, juntamente com a professora da es- ração de Salamanca e Linha de Ação sobre
cola. Ela nos apresentou o material que usa- Necessidades Educativas Especiais. Trad.
ríamos a partir de então (pranchas inclina- Edílson Alkmim Cunha. Brasília: CORDE,
das para facilitar a escrita do aluno, tesoura 1994.
para canhoto, afi nal seu comprometimento
está na parte direita do corpo). Thiago é uma UNESCO - United Nations Educational,
criança especial e precisa de suportes adap- Scientific and Cultural Organization. World
tados para aprender. Declaration on Education for All. Jomtien,

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


A mãe do aluno comprou todo o material, 1990.
disponibilizando inclusive um para deixar
na escola.
O atendimento individual está sendo um
sucesso. O aluno teve grande progresso na
escrita, na interpretação, na concentração e
na capacidade motora. Contudo, vejo grande
diferença de comportamento em casa e na
escola. Em casa, ele faz todas as atividades
propostas, me dá um ótimo retorno, já na
escola o aluno pouco se comunica com os
demais.
Ele não tem mais o apoio pedagógico
individual na instituição, o que pode estar
dificultando o processo.
No caso de Thiago, entra uma questão
emocional diferenciada, por ter irmão gê-
meo sem limitações, com desenvolvimento
avançado na inteligência linguística, lógico
matemática, motora, e também inter e intra-
pessoal; todos esses fatores podem dificultar
o desenvolvimento do aluno, pois sempre há
uma comparação entre eles de alguma for-
ma, mesmo estando em salas diferentes.
Inclusão, acredito, não é apenas receber
o aluno com necessidade especial na escola,
mas sim orientar e atender da melhor forma
para que esse aluno se sinta bem, consiga
desenvolver suas atividades, respeitando
seu tempo, seu ritmo e seus limites.
“Atitude é uma variável-chave para de-
terminar o sucesso da educação inclusiva”
(KUESTER, 2000). O acompanhamento indi-
vidualizado é necessário, e deve ser cobrado.
Não há resultados na educação se não existe
uma aliança entre a família e a escola.

150
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 31
AUTORA:
Manon Quites Brum

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A DISLEXIA EM SALA DE AULA

ordenadora que Gustavo não fazia as tarefas


Resumo de casa por ter muita dificuldade na leitura.
O presente artigo apresenta um estudo de caso realizado A professora orientou os pais que levas-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

em uma escola particular de Belo Horizonte, com um alu- sem o fi lho a uma fonoaudióloga e a uma
no, hoje, com a idade de 6 anos, cuja deficiência foi tardia- psicóloga para diagnosticar algum tipo de
mente diagnosticada. deficiência.
O caso de Gustavo era dislexia. A disle-

G
ustavo começou a frequentar a esco- xia, muitas vezes confundida com déficit de
la aos 2 anos de idade em uma esco- atenção, problemas psicológicos ou mesmo
la pública, e nesse período sua mãe preguiça; se caracteriza pela dificuldade
achava que, através do convívio com outros do indivíduo em decodificar símbolos, ler,
colegas, a aquisição da fala se desenvolveria escrever, soletrar, compreender um texto,
de uma forma espontânea. reconhecer fonemas, exercer tarefas relacio-
A mãe do aluno era alguém que não estava nadas à coordenação motora e pelo hábito de
muito presente na vida do fi lho e o pai nunca trocar, inverter, omitir ou acrescentar letras/
teve interesse pela família. Eles haviam se palavras ao escrever.
separado havia mais de um ano e meio. Depois do diagnostico, a professora de
A professora era alguém com poucos co- Gustavo pôde intervir e ajudá-lo a se desen-
nhecimentos e dizia à mãe de Gustavo que volver melhor, driblando as dificuldades e
a separação dos pais teria afetado a vida do desenvolvendo novas habilidades.
fi lho. Todos sabiam que havia algo de erra- Se a dislexia for detectada o mais cedo
do com esse aluno, mas ninguém opinou possível, melhor para o aluno.
até que Gustavo passou para uma escola Nenhum professor precisa ser oftalmolo-
particular. gista para notar que o aluno não está en-
Quando o aluno mudou de escola, ele es- xergando bem. O dia a dia da sala de aula
tava repetindo pela segunda vez o 1º ano. mostra isso. O mesmo vale para a audição e
Segundo a sua nova professora, a criança outras deficiências, como a própria dislexia.
não prestava atenção às explicações quan- O professor percebe que tal pessoa é inte-
do a atividade envolvia raciocínio, não se ligente, perspicaz, criativa, tem facilidade
concentrava na execução das tarefas, não para fazer uma porção de coisas, no entanto,
concluía as atividades no tempo previsto, quando tem que ler, escrever ou entender o
não se expressava oralmente de forma clara, que leu, pronto, nem parece a mesma. Esses
apresentava dificuldade em reproduzir fatos indícios são os mais significativos.
ou acontecimentos e não sabia transmitir Os professores e coordenadores pedagógi-
recados. Não lia palavras complexas e a es- cos têm que ter informação e algum tipo de
crita apresentava muitos erros. treinamento, além de alguma sensibilidade,
A professora, muito preocupada, reuniu- para detectar, por exemplo, um caso de dis-
se com a coordenadora e mostrou que o caso lexia, pois quem sai prejudicado com uma
do aluno não era simples e que achava que intervenção tardia é o próprio aluno, sendo
Gustavo sofria de dislexia. tachado, em muitos casos, apenas como pre-
Os pais foram então convocados para guiçoso e que não quer aprender.
uma reunião e disseram à professora e Á co- O disléxico tem um ritmo diferente dos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A dislexia em sala de aula Manon Quites Brum

não disléxicos. Portanto, deve ser evitado


submetê-lo a pressões de tempo ou competi-
ção com os colegas. É importante estimulá-lo
e fazer com que acredite na sua capacidade
de tornar-se um profissional competente.
Cabe à escola oferecer aos pais de alunos
e aos próprios alunos metodologias interes-
santes e eficientes, do ponto de vista peda-
gógico, para atender os alunos especiais, os
que apresentam dificuldades em leitura, es-
crita e ortografia. É incumbência da escola
e, em especial, dos professores, oferecer re-
cuperação de estudos para aqueles que têm
baixo rendimento escolar.
Espero que este breve estudo seja útil
aos leitores que trabalham com crianças,
sensibilizando-os para a importância de se

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


ter ideia clara sobre deficiências, distúrbios
e síndromes em geral, de modo a poder aju-
dar seus alunos.

REFERÊNCIA:
NUNES, T. & cols. Dificuldades na aprendi-
zagem da leitura: Teoria e prática. 3. ed.
São Paulo: Cortez, 2000.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 32
AUTORA:
Maria Eloíza de Jesus

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

ADAPTAÇÃO CURRICULAR PARA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA MENTAL

como: F71 - Retardo mental moderado.


Resumo Pessoas com retardo mental moderado
Este artigo relata o caso de um aluno de uma escola públi- são consideradas, na terminologia antiga e
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

ca que aparenta ser uma criança com deficiência mental, antipedagógica, “treináveis”, pois elas parti-
no entanto, sem diagnóstico, necessitando de intervenções cipam tranquilamente de programas educa-
para atender às suas necessidades. cionais adaptados a elas nas escolas.
Os deficientes mentais assim classifica-

J
oão1 foi recebido pela escola total- dos constituem cerca de 10% de toda da po-
mente sem limite, apresentando vários pulação de indivíduos com Retardo Mental.
desvios de comportamento, bastante Eles adquirem habilidades de comunicação
indisciplinado, aparentemente uma criança durante os primeiros anos da infância.
comum, porém algo o incomodava muito Beneficiam-se de treinamento profissional
dentro da sala de aula. e, com moderada supervisão, podem cuidar
No estudo de caso do aluno, a coordena- de si mesmos, podem beneficiar-se do trei-
dora constatou que ele vivia com a mãe, dois namento em habilidades sociais e ocupacio-
irmãos e o padrasto. O pai, que se encontra nais, mas, provavelmente, não progredirão
preso, era excessivamente violento e agredia além do nível de segunda série em temas
o fi lho toda vez que o encontrava. acadêmicos. Podem viajar, independente-
A professora não se sentia capacitada mente, para locais que lhes sejam familia-
para atender a criança. João parecia ter res. Na adolescência, suas dificuldades no
uma deficiência mental. reconhecimento de convenções sociais po-
A família foi informada da situação e soli- dem interferir no relacionamento com seus
citou-se um encaminhamento do aluno para pares. Na idade adulta, a maioria é capaz de
uma avaliação com especialistas. Afi nal, os executar trabalhos não qualificados ou se-
portadores de deficiência mental necessitam miqualificados sob supervisão, em oficinas
de atendimento multiprofissional (médico, protegidas ou no mercado de trabalho geral,
fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fono- e adaptam-se bem à vida na comunidade,
audiólogo, psicólogo, pedagogo, psicopeda- geralmente em contextos supervisionados.
gogo, entre outros), a fi m de minimizar os Prioste, Raiça e Machado (2008, p. 28)
problemas decorrentes da deficiência. Quan- dizem que
to mais cedo houver um diagnóstico e mais
precoce for a intervenção, melhores serão os a deficiência mental é uma situação e não
resultados. uma doença. Na deficiência mental há um
João foi encaminhado ao centro de saú- rebaixamento quantitativo das funções psí-
de, com um relatório da escola, pedindo em quicas, que é percebido, normalmente, logo
caráter de urgência uma avaliação diagnós- nos primeiros anos de vida. As pessoas com
tica da criança. Apesar da urgência, o diag- deficiência mental não apresentam visão
nóstico fi nal de João ficou pronto em cinco alterada de si mesmas nem da realidade;
meses. geralmente são amistosas, cooperativas,
Os especialistas constataram que João gostam de se comunicar e são capazes de
tinha deficiência mental, classificando-a tomar decisões, atendendo às responsabili-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

153
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Adaptação curricular para criança com deficiência mental Maria Eloíza de Jesus

dades que lhe são dadas de acordo com sua


potencialidade.

Para a realização da intervenção, a escola


sugeriu à professora curso de capacitação
profissional na área de inclusão de pessoas
com deficiência mental, para que pudessem
fazer uma adaptação curricular atendendo
às necessidades do aluno.
Mas, o que é adaptação curricular? São
ajustes gradativos feitos no planejamento
pedagógico da escola e nas ações educacio-
nais, em resposta às necessidades educa-
cionais especiais do deficiente mental, com
interação contínua entre as necessidades do
deficiente mental e as respostas educacio-
nais efetivadas.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


REFERÊNCIAS:
DEFICIÊNCIA mental. wikipedia.org/wiki/
Deficiência_mental.

PRIOSTE, Claudia; RAIÇA, Darci, MACHA-


DO, Maria Luiza Gomes. 10 Questões sobre
a educação inclusiva da pessoa com Defici-
ência Mental, São Paulo: AVERCAMP, 2008.

154
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 33
AUTORA:
Maria Raimunda Saraiva

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

ESTUDO DE CASO DE CRIANÇA AUTISTA: CAMINHOS E ABORDAGENS

tando alterações emocionais demonstradas


Resumo por uma falta de resposta para emoções.
O presente artigo aponta relatos sobre uma criança de 13
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

anos, seu histórico familiar, a proposta estabelecida para AMBIENTE ESCOLAR


seu desenvolvimento escolar e as variáveis encontradas
no decorrer de seu desenvolvimento cognitivo, físico e Sem a intenção de desconsiderar a gama
motor. A abordagem educacional é fator essencial na mu- de aspectos que interferem no processo de
dança de atitudes e na busca de formas mais efetivas para aprendizagem, atualmente, não há dúvida
a inserção social. de que os fatores internos podem promover
ou inibir o desempenho escolar. Os proble-
O CONTEXTO FAMILIAR E O DIAGNÓS- mas emocionais podem conduzir a futuras
TICO formas de inadaptação tanto em nível indi-
vidual, como em nível escolar e social, uma

P
artindo da necessidade de se conhecer vez que tais dificuldades não são tão passa-
melhor o aluno e de compreender sua geiras e leves como antes se acreditava. Daí
real situação, buscando novos cami- a necessidade de, no contexto educacional,
nhos e abordagens, se fez necessário o estudo se olhar o aluno em sua totalidade, conside-
do convívio familiar, a fim de desenvolver um rando suas características de personalida-
trabalho específico de integração e socializa- de, seu estado emocional e cognições frente
ção do aluno no ambiente escolar. Segundo à aprendizagem.
informações coletadas e o laudo médico, a Segundo relatos da coordenação, a crian-
criança é diagnosticada como autista. ça iniciou numa escola comum aos oito anos,
O autismo é um tipo de distúrbio de de- e sua mãe era constantemente chamada
senvolvimento humano que vem sendo es- para resolver os problemas do fi lho, basica-
tudado pela ciência há quase seis décadas, mente, agressividade com todos no ambiente
mas sobre o qual ainda permanecem dentro escolar.
do próprio âmbito da ciência divergências e Teve um trabalho específico com a super-
grandes questões por responder. Foi descri- visora, em pequenos grupos, durante o ano,
to pela primeira vez em 1943 pelo Dr. Leo sem, no entanto. obter avanços. As relações
Kanner. se esgotaram na escola.
Com seus pais ausentes devido ao traba- A criança foi encaminhada a uma escola
lho, a criança mora com a avó materna. No especial, devido ao laudo médico de autismo,
momento, a mesma encontra-se internada e respaldado pela equipe de educação.
em coma, devido a um problema de saúde. A educação pode beneficiar não só o in-
Por esse motivo a rotina da criança foi alte- cluído, mas todos os que com ele estabelece-
rada. Durante a gravidez, a mãe enfrentou ram interações. Além de uma escola inclusi-
dificuldades sociais e familiares. Atribui to- va, precisamos de um mundo inclusivo. Um
dos os seus problemas à existência de seu mundo no qual todos devem ter acesso às
fi lho. oportunidades de ser e estar na sociedade de
A criança apresentou desenvolvimento forma participativa, onde a relação entre o
anormal nos primeiros anos de vida, apresen- acesso às oportunidades e as características
individuais não seja marcada.

155
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Estudo de caso de criança autista: caminhos e abordagens Maria Raimunda Saraiva

Ao chegar à escola, foi avaliado que a da criança e da família. O déficit cultural


criança reconhece seu nome e a função so- gera então uma deficiência linguística a ser
cial da escrita, tem independência para ati- compensada na escola. A segunda rompe
vidades do cotidiano, apresenta linguagem com a ideia de “privação lingüística” como
comprometida com frases soltas e repetição causa do fracasso escolar e afi rma que as
compulsiva de mensagem, teve contato es- dificuldades são geradas na escola e na so-
sencialmente agressivo com os colegas e ciedade, por não considerarem as diferenças
educadores e demonstra desconhecimento dialetais como um conhecimento necessário
de regras. para se compreenderem as diferenças cultu-
Diante desse quadro e do fato de já estar rais. A terceira teoria redireciona o enfoque
excluído da escola comum, surgiu a neces- para as condições sociais de comunicação
sidade de trabalhar sua reinserção em um capazes de revelar a força simbólica da lin-
novo espaço escolar a partir do resgate de guagem, que identifica as relações de poder
sua autoestima e da consciência de suas pos- na sociedade.
sibilidades de pensar sobre suas ações. Era Diante disso é preciso considerar a situ-
importante resgatar a afetividade e recons- ação de cada aluno para defi nição e direcio-
truir regras para melhor convívio social. namento de trabalhos, oportunizando-lhe o

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Aquilo que uma pessoa é capaz de fazer convívio e o pleno desenvolvimento de suas
com o auxílio de outras determina a sua área potencialidades. É preciso que a escola co-
de desenvolvimento potencial. Esse método nheça as características específicas de cada
permite medir não só o processo de desen- aluno, buscando assim novos caminhos e
volvimento até o momento e os processos já novas metodologias.
produzidos, mas também os processos que
ainda estão ocorrendo e que só agora estão REFERÊNCIAS:
amadurecendo e se desenvolvendo.
O que uma criança pode fazer hoje com o SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma
auxílio dos adultos, poderá fazer amanhã por perspectiva social. 17. ed. São Paulo: Ática,
si só. A área de desenvolvimento potencial 2002.
permite-nos determinar os futuros passos da
pessoa e a dinâmica do seu desenvolvimento, VYGOTSKY, L. S. A formação social da men-
e examinar não só o que o desenvolvimento te. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
já produziu, mas também o que produzirá
no seu processo de desenvolvimento.
Com o decorrer do tempo, o aluno apre-
sentou avanços nas hipóteses com relação à
escrita e interesse pela leitura (a pouca aten-
ção ainda era um dificultador), percebeu seu
comportamento e sua agitação e na intera-
ção com os colegas houve demonstrações de
afeto, ajuda e identificação, embora ainda
apresente dificuldades com as regras.
Em relação à família, sua avó continua
internada, porém agora o aluno compreende
que é necessária a permanência dela no hos-
pital, sendo menos agressivo tanto com os
demais familiares quanto com os docentes
e discentes.
Soares (2002) estabelece relações entre
linguagem e escola a partir de três teorias
fundamentadas principalmente na Psicologia
e na Sociologia. A primeira procura explicar
as dificuldades de aprendizagem na ideia de
deficiência. Esta é suprida a partir de um
modelo implícito ideal de comportamento.
Situações patologizadas são justificadas
pela carência cultural, pela ideia de defeito

156
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 34
AUTORA:
Nathália Baroni Passini

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

AUTISMO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DIAGNOSTICO E INTERVENÇÃO

A partir dessa observação da professora,


Resumo a coordenadora e a psicóloga da escola fo-
O presente artigo relata o estudo de caso de um aluno de ram informadas sobre as características des-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

uma escola da rede particular de Belo Horizonte. Relata se aluno. Providenciaram uma reunião com
como surgiu a suspeita de algo diferente no comporta- os seus pais. Na primeira conversa, a mãe
mento do aluno, como se deu o diagnóstico e o que está relatou que já havia percebido certas carac-
sendo feito pela escola e pelos familiares para que ocorra terísticas na criança, como não ouvir ao seu
o processo de inclusão e interação desse aluno dentro da chamado, brincar o tempo todo sozinho, mas
escola. a mãe disse que ele apenas fingia não ouvir
em alguns momentos, mas que em outros

E
m 2006, foi matriculado na Escola In- ele olhava para ela, quando ela direcionava a
fantil Casa dos Sonhos1, da rede par- fala bem próxima a ele. A psicóloga da escola
ticular, em Belo Horizonte, um aluno orientou que a mãe procurasse por um es-
com dois anos de idade e aparentemente pecialista e, inicialmente, ficou decidido que
normal. seria procurado um otorrino para saber se
Ele começou a frequentar a escola dia- era algum problema de audição. Ao desco-
riamente, sendo sempre assíduo. Era aluno brir que ele não tinha problemas de audição,
do maternal dois, tendo em sala com ele 20 foi então encaminhado para outros médicos
alunos. para descobrir o que poderia ser. Foi aten-
No primeiro ano, a professora percebeu dido por neuropediatra, psicopedagoga, te-
que ele não participava das atividades, não rapeuta ocupacional, até que ficou diagnos-
conseguia ficar por muito tempo sentado ticado o autismo infantil. Com três anos, o
em seu lugar e parecia não compreender as aluno já tinha o seu diagnóstico estabeleci-
atividades aplicadas em sala, fossem elas do e isso era do conhecimento da família, da
individuais ou em grupo. Percebeu que em escola e dos demais especialistas envolvidos
alguns momentos ele não respondia ao seu em seu diagnóstico.
chamado nem realizava o que estava sendo O autismo se caracteriza por condu-
pedido por ela. No momento das brincadeiras tas típicas que apresentam uma variedade
no parquinho, junto com as outras crianças, no comportamento, afetando o emocional
o aluno brincava sempre sozinho e o que e o social, manifestando dificuldades de
o atraía era brincar com água ou alguma adaptação ao contexto familiar, escolar e
coisa no chão e quase nunca os brinquedos comunitário.
disponíveis no parquinho. O autismo é uma necessidade educacional
Até então, o aluno não participava das especial, pois requisita diferentes ações edu-
aulas e não realizava as atividades como os cacionais, implementadas na sala de aula e
demais alunos. Ele andava e corria pela sala nos espaços escolares, tendo como objetivo
de aula, não se concentrava nas atividades e o aluno obter uma participação construtiva
fi nalizava somente quando a professora ou a nas atividades escolares.
ajudante da sala sentava ao seu lado e segu- Há cerca de quase dois anos, tempo em
rava sua mão para que juntos registrassem que o aluno já tem o diagnóstico estabele-
algo. cido, ele passou a fazer tratamento com a
neuropediatra, fazendo uso diário de medi-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Autismo na educação infantil: diagnostico e intervenção Nathália Baroni Passini

camentos devido a sua agitação e ansiedade.


No início, a família tinha receios de dar a
ele o remédio e, ao chegar à escola, o aluno
sempre estava agitado, subia em todos os lu-
gares o tempo todo, não permanecia sentan-
do em nenhum momento e, para que fosse
possível a professora realizar o trabalho com
os demais alunos, tinha que colocá-lo para
dormir durante um período da tarde.
Hoje a mãe já faz o uso correto da dose do
remédio e o aluno vem apresentando uma
melhora em seu comportamento, ouve mais
quando a palavra está sendo direcionada a
ele e tem a noção do não. Ele frequenta a
terapeuta ocupacional duas vezes por sema-
na, realizando atividades para criar rotina
em seu comportamento, como não subir nas

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janelas e relacionar-se com as pessoas em
geral, focando sua interação social. É aten-
dido por fonoaudióloga, já que ainda não fala
palavras inteiras, apenas balbucia algumas
palavras como aaa para água.
Para continuar frequentando a escola co-
mum, ficou decidido entre a coordenação da
escola e os pais que, para que o aluno autis-
ta participasse das atividades em sala junto
com os demais alunos, seria necessária uma
estagiária para acompanhamento diário do
aluno em sala de aula e nas outras ativida-
des que fossem desenvolvidas.
A terapeuta ocupacional foi convidada a
ir à escola para que conhecesse a proposta
pedagógica e desse algumas dicas de traba-
lho para a professora realizar com o aluno.
Decidiram o livro que seria usado com esse
aluno. O conteúdo trabalhado com ele difere
dos demais alunos da sala, O livro utilizado
por ele tem folhas grandes e as figuras são
bem coloridas. As atividades são de colar,
pintar e colorir.
Após o diagnóstico do aluno, o objetivo da
escola e dos demais profissionais envolvidos
foi o seu desenvolvimento. Com essa parceria
de todos os profissionais, o aluno frequenta
a escola diariamente, sendo atendida a sua
especificidade na participação e no envolvi-
mento diário.

REFERÊNCIA:
CAMARGOS JR., Walter et al. Transtornos
Invasivos do Desenvolvimento: 3º Milênio.
Brasília: CORDE, 2002.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 35
AUTORA:
Neusa Donata de Souza Nascimento

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

ESCRITA DE SINAIS: UMA NOVA TRAJETÓRIA PARA PESSOAS SURDAS

culdades na língua de sinais. Rafael neces-


Resumo sitava de um acompanhamento específico, o
Este artigo aborda atividade de intervenção com alunos que antes não havia sido notado.
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surdos do ensino fundamental no processo de aquisição Identificar palavras da Língua Portuguesa


da escrita de sinais. sempre foi desafio para nós, pessoas surdas.
Com a chegada da escrita de sinais em 1997,

A
sociedade, em geral, utiliza o canal alguns passos foram dados, mas há muito
oral-auditivo como principal veículo que se fazer. Problemas no desenvolvimento
de comunicação, enquanto as pesso- educativo de crianças surdas são comuns a
as surdas, que representam uma minoria todos.
nessa mesma sociedade, utilizam-se do ca- O processo de ensino-aprendizagem do
nal visual-espacial. Isto porque os ouvintes aluno surdo necessita de maior abrangência
aprenderam a se comunicar oralmente, uti- e da adaptação da Língua Portuguesa para
lizando a língua oral de seus pais, enquanto LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) e vice-
os surdos aprenderam a utilizar a língua de versa. O ensino de palavras em si não facilita
sinais, também natural dos seus pais, sendo sua compreensão, mas o contexto delas em
crianças surdas filhas de pais surdos. No situações do dia a dia facilita seu conheci-
caso de crianças surdas filhas de pais ouvin- mento. Rafael, aos poucos, conhecia o que
tes, a situação se torna mais grave, porque a suas mãos poderiam falar, e falar melhor.
comunicação entre ambos é fraca, devido à Foi assim que ele pôde perceber que, apesar
incompatibilidade linguística. de ser o único a conversar daquela maneira
Quando as crianças chegam à idade de em sua casa, ele era capaz de tudo também,
frequentar as salas de aula, surge o proble- assim como seus pais.
ma: Onde matricular o fi lho? Escolas inclu- A escrita de sinais despertou em crianças
sivas ou de educação especial? Anos mais como o Rafael o poder de transcrever através
tarde, percebe-se que essa pessoa surda das mãos o que se forma em seu intelecto e
pouco sabe da língua portuguesa e sua re- em seu imaginário, transportando-os para
presentação ortográfica apresenta falhas de o papel. Olhares de fascínio ao perceber que
estruturação e erros evidentes. as configurações de mãos são como letras e
Em contato com alunos de uma escola da as expressões faciais, as sílabas!
rede municipal de Belo Horizonte, apresen- Esses são os motivos da importância da
tamos o projeto de Escrita de Sinais para escrita de sinais para o registro da cultura
alunos surdos. Nessa escola, identificamos surda. Os surdos, com certeza, teriam mais
vários alunos que possuíam necessidades motivação e criatividade para registrar sua
específicas, dentre eles o que mais me cha- cultura e história, sem se preocupar com
mou a atenção foi o Rafael1. o registro em outras línguas, pois isso po-
Rafael tem nove anos e é surdo, possui derá ser feito por tradutores, para outras
problemas de coordenação motora fi na e se línguas.
desenvolve com certo atraso em relação aos Segundo Quadros (2003),
demais alunos de sua idade. É um menino
de pouca comunicação e com grandes difi- A escrita da língua de sinais capta as rela-
ções que a criança estabelece com a língua
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Escrita de sinais: uma nova trajetória para pessoas surdas Neusa Donata de Souza Nascimento

de sinais. Se as crianças (surdas) tivessem


acesso a essa forma de escrita para cons-
truir suas hipóteses a respeito da escrita,
a alfabetização seria uma consequência do
processo. A partir disso, poder-se-ia garan-
tir o letramento do aluno ao longo do pro-
cesso educacional.

REFERÊNCIA:
QUADROS, Ronice Müller de. Educação de
Surdos: a aquisição da linguagem. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2003.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 36
AUTORA:
Nielma Regiane Dias Bento

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ficaria prejudicado no seu desenvolvimento


Resumo educacional. Essa atitude está na contra-
O presente artigo relata o estudo de caso de uma criança mão dos pensamentos de Vygotsky (1984),
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com Síndrome de Down inserida em uma escola dita in- pois para ele a criança com deficiência não
clusiva. Pretende-se destacar a relação do professor com se desenvolve menos que seus companhei-
a criança com vistas à promoção de seu desenvolvimento. ros em determinados aspectos, apenas se
desenvolve de outra maneira.

A
s crianças com Síndrome de Down A partir das intervenções da coordena-
possuem uma anomalia cromossômi- dora pedagógica, pais, professores, alunos
ca que implica em perturbações de vá- e funcionários acabaram entendendo que a
rias ordens e que podem causar problemas inclusão faz parte do respeito à diversidade,
cerebrais durante o desenvolvimento do feto. sendo garantido por lei o direito de se estu-
Além disso, essas crianças apresentam atra- dar em escolas regulares.
sos consideráveis em todas as áreas, sendo Para inserir Pedrinho na classe, foi ne-
maiores os verificados no desenvolvimento cessário fazer algumas adaptações quanto
da linguagem para compreender e se expres- à metodologia e à didática utilizada, pois ele
sar. Devido a esses atrasos, a criança com tem dificuldades na fala, necessita de aju-
Síndrome de Down requisita uma ação peda- da nas atividades de vida diária (AVD) e de
gógica que vise atender às suas necessidades apoio constante na hora das atividades. As
psicossociais, criando condições adequadas atividades são iguais para todos os alunos
para seu desenvolvimento global. e, segundo a coordenadora, os trabalhos são
Aprender a brincar, para Canning (1993), realizados em equipe, envolvendo alguns
é uma das mais valiosas habilidades que profissionais para compartilhamento de ex-
a criança pode adquirir na escola infantil, periência e informações.
por ser um veículo natural do crescimento Nota-se, no entanto, que tanto as profes-
e da aprendizagem, principalmente para as soras quanto os profissionais da escola não
crianças com Síndrome de Down, que neces- estão aptos para receber essas crianças, pois
sitam de assistência no brincar. lhes faltam material, informação e apoio psi-
Em uma escola infantil particular de Belo copedagógico, ou seja, falta-lhes o Plano de
Horizonte, com uma criança com Síndrome Desenvolvimento Individual (PDI).
de Down, encontramos uma professora para O relacionamento da professora com Pe-
quem foi muito difícil realizar esse trabalho, drinho é bom, mas é perceptível que a pro-
porque sentia receio e medo de não conse- fessora não tem muito conhecimento sobre
guir bom resultado junto aos alunos ditos as dificuldades e potencialidades do aluno.
“normais”. Pedrinho não consegue acompanhar as ou-
Apesar de uma boa convivência com os tras crianças e fica a maior parte do tempo
colegas, Pedrinho1 pouco interage com os brincando com os lápis, disperso e indife-
colegas e passa a maior tempo brincando rente às atividades propostas.
sozinho. No início, houve rejeição de um pai Segundo Millis (2003), na escola infan-
frente à chegada do aluno, devido ao aspecto til, é muito importante que o profissional
físico da criança. O pai achava que seu fi lho envolvido com crianças com Síndrome de
Down esteja bem preparado, para que possa
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A criança com síndrome de Down na educação infantil... Nielma Regiane Dias Bento

empregar ferramentas e técnicas próprias a


cada faixa etária, observando os diferentes
níveis de desenvolvimento, objetivando a
ampliação da potencialidade de cada aluno.
E é perceptível que, na prática, não é isso
que acontece com a professora de Pedrinho,
pois ainda é necessário que ela aprimore
seus conhecimentos sobre essa patologia e
as metodologias adequadas às necessidades
dessas crianças.
A família de Pedrinho tem participação
ativa no processo escolar do fi lho e atual-
mente, o apoio oferecido à criança é o acom-
panhamento com fonoaudiólogo, psicólogo
e terapeuta ocupacional, duas vezes por
semana.
Segundo a coordenadora, os pais de Pe-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


drinho tiveram muitas dificuldades para
lidar com o fato de terem um fi lho com Sín-
drome de Down. Foi um verdadeiro “susto”
na hora do nascimento, quando receberam
a notícia dos médicos, pois eram leigos e
não sabiam quase nada a respeito da doen-
ça. Ficavam preocupados com os problemas
que iriam enfrentar ao longo do crescimento
da criança e optaram pela escola inclusiva,
por acreditarem que lá Pedrinho teria meios
de construir sua autonomia e superar seus
limites.
A educação infantil é fundamental para
o desenvolvimento das crianças, normais ou
deficientes. Por isso, o currículo e as estraté-
gias pedagógicas devem ser voltados para o
desenvolvimento global das crianças, tendo
como suporte um mediador ou um professor
qualificado para a aprendizagem.

REFERÊNCIAS:
CANNING. D. Claire. Os anos pré-escolares.
In: PUESCHEL, Siegeiried (Org.) Síndrome
de Down. Guia para pais e educadores. São
Paulo: Papirus, 1993, p. 167-175.

MILLIS, Derwood Nancy. A educação da crian-


ça com Síndrome de Down na pré-escola. In:
SCHOWARTZMAN, José Salomão (Org.). Sín-
drome de Down. São Paulo: Memmon: Ma-
ckenzie, 2003, p. 237-243.

VYGOTSKY, L. S. A formação Social da Men-


te. São Paulo. Martins Fontes, 1984.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 37
AUTORA:
Paola Alves Pereira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

INCLUSÃO: DESAFIO PARA A AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

vesse necessidade especial era inapta para


Resumo realizar atividades referentes aos exercícios
O artigo procura identificar as maiores dificuldades na praticados na aula de educação física.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

inclusão de uma criança com necessidades educacionais De acordo com Méier (1981), no que tan-
especiais na aula de educação física no ensino regular, ge à questão do gênero, as aulas mistas de
com alunos com diferentes necessidades em uma mesma educação física podem dar oportunidade
turma. para que meninos e meninas convivam, ob-
servem-se, descubram-se e possam apren-

O
presente artigo tem como finalidade der a ser tolerantes, a não discriminar e a
identificar meios de trabalhar com compreender as diferenças, de forma a não
crianças que apresentem paralisia reproduzir estereotipadamente relações so-
cerebral e comprometimentos cognitivos e ciais autoritárias.
motores na aula de educação física com alu- Com base nos estudos realizados, as
nos com diversas necessidades educacionais maiores dificuldades de inclusão de Beatriz,
especiais, procurando atender às exigências uma criança com quadro semivegetativo,
da legislação em vigor (Lei nº 9.394/96, ou são: Como aplicar exercícios, uma vez que
Lei Darcy Ribeiro). ela possui n fatores que a impossibilitam de
A turma que serviu de estudo para este realizar as atividades propostas? Que mate-
artigo possuía na classe comum quatro riais utilizar, uma vez que a escola não pos-
alunos com necessidades educacionais sui materiais suficientes para ser trabalhar
especiais, a saber: Síndrome de Down, Hi- individualmente?
drocefalia, Paralisia cerebral e uma quarta O estudo desenvolvido é qualitativo, e
criança de quem não se tem o diagnóstico e pretendeu investigar a ação da professora de
que freqüenta o ensino regular juntamente educação física no ensino regular.
com outras crianças ditas “normais”. Através de pesquisa, foi possível desco-
O resultado apresentado teve como foco a brir meios para se trabalhar com a aluna
aluna Beatriz1, 9 anos, residente em Belo Ho- em questão, uma vez que a palavra inclusão,
rizonte. Nascida em 2000, com complicações de acordo com o dicionário, quer dizer “ação
durante o trabalho de parto e num quadro ou efeito de incluir ou estado de uma coisa
de pré-eclâmpsia, a criança adquiriu a hipó- incluída”, o que muitas vezes não acontece
xia 2 e anoxia 3, lesando uma área do cérebro nas escolas, por falta de recurso e de qua-
que resultou em lesões no desenvolvimento lificação dos professores. Isso é o que gera
motor e cognitivo. a maior dificuldade em compreender o real
A inclusão escolar, principalmente na significado de inclusão: tem-se um aluno na
aula de educação física, é algo que está se escola e ninguém tem preparo para atendê-
tornando cada vez mais frequente, compa- lo e fica por isso mesmo. Os professores fi n-
rando-se com os séculos passados, em que gem estar incluindo e os órgãos competentes
se acreditava que qualquer pessoa que ti- fi ngem estar cumprindo a legislação.
A professora de educação física responsá-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. vel pela turma em que Beatriz está matricu-
2. Baixo teor de oxigênio ou redução na quantidade de lada não está devidamente qualificada para
moléculas de oxigênio no ar respirado.
essa função, teve experiências com outros
3. Falta de oxigênio no cérebro.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Inclusão: desafio para a aula de educação física Paola Alves Pereira

alunos com necessidades especiais educa- a estagiária que a acompanha como desen-
cionais nos anos anteriores, procurou fazer volver algumas atividades de acordo com a
cursos de capacitação por conta própria e percepção e as necessidades de Beatriz.
procura, sempre que necessário, ajuda de Realmente não é fácil atender aos alunos
outros profissionais. Contudo, atualmente, com necessidades especiais da forma como
não é realizado nenhum tipo de atividade se espera, principalmente na aula de educa-
com a aluna, embora, já tenha sido feita ção física. Em uma escola onde os materiais
uma avaliação com a terapeuta ocupacional são escassos e insuficientes e esses alunos
e a fisioterapeuta disponibilizadas pela pre- demandam uma atenção especial para a
feitura de Belo Horizonte. realização das atividades propostas, o ideal
De acordo com os diagnósticos médicos, seria ter nas escolas, primeiramente, pesso-
não se tem o que fazer com ela nas aulas de as capacitadas para atendê-los. Além disso,
educação física, uma vez que a aluna não ensinar ao corpo docente caminhos a serem
responde aos estímulos. A única coisa a ser seguidos de acordo com as necessidades de
feita, seria estimular o contato físico com cada aluno, para que se possa criar opor-
objetos diferentes, o que no caso é impos- tunidades e meios de incluir os alunos com
sível em uma turma de 25 alunos quando, comprometimentos mais graves, mesmo que

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


na mesma turma, além de Beatriz, há três de forma pouco participativa em relação aos
alunos com necessidades educacionais es- outros alunos.
peciais. Embora a prefeitura ofereça uma
estagiária do nível médio para ficar exclusi- REFERÊNCIA:
vamente por conta de Beatriz – e nesse caso
seria possível aplicar alguns exercícios sim- CARVALHO, Rosita Edler. A nova LDB e a
ples com ela –, por falta de capacitação ou educação especial. 3. ed. Rio de Janeiro:
formação da professora isso não acontece. WVA, 2002. 142p.
De acordo com a professora Nivânia Maria
de Melo Reis, do Núcleo de Apoio à Inclusão FERREIRA, Brizia A. Felix e PEREIRA, Paola
da PUC Minas, responsável por ministrar Alves. Inclusão de crianças com necessida-
a disciplina de Comunicação Alternativa, a des educacionais na aula de educação físi-
criança precisa ser trabalhada em todos os ca: Monografia. Pontifícia Universidade Cató-
sentidos, porque o que é mais importante lica de Minas Gerais, 2009.
no momento da aplicação dos exercícios é a
felicidade que a criança sentirá por dentro, MEIER, Marcel et al. Atividade física para
a satisfação e o prazer, mesmo que não ob- deficiente. Brasília: MEC, Secretaria de Edu-
tenhamos respostas aos estímulos dados. E cação Física e Desportos, 1981. 190p.
esse estímulo só será possível, se a criança
passar a perceber o meio em que está inseri-
da, o que a rodeia.
O ambiente escolar precisa de pessoas
que sejam ousadas e capazes de apostar
nas possibilidades de cada aluno, fazendo
com que as aulas de educação física tenham
como objetivo desenvolver oportunidades de
lazer, bem estar e aproximação dos colegas.
O que se deseja atingir com as aulas de
educação física com essa aluna é proporcio-
nar a alegria de viver.
As escolas, de um modo geral, não estão
preparadas para atender às crianças com
necessidades educacionais especiais e muito
menos os professores estão qualificados ou
capacitados para isso. A professora deveria
buscar subsídios para qualificar sua ação.
Não é fácil para a professora dar atenção ex-
clusivamente para essa aluna e aplicar exer-
cícios para os demais, mas é possível ensinar

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 38
AUTORA:
Patrícia de Abreu Almeida

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O BRINCAR DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN

po, ela foi ficando mais confiante por ver que


Resumo os alunos e os pais tinham muito carinho
Este artigo relata a importância do brincar para a crian- com ela.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

ça com síndrome de Down em uma escola particular de A coordenadora pedagógica também


Contagem. O brincar da criança com Síndrome de Down conversou com os pais sobre as angústias,
indica significativas possibilidades de interações favo- os medos e as inquietações que poderiam
recedoras do seu desenvolvimento e, portanto, devem ocorrer no processo de desenvolvimento de
constituir-se em instrumento de intervenção na prática Kayla.
educativa dessas crianças. Hoje já se passaram quatro meses que
Kayla está na escola. A professora vem tra-

A
Síndrome de Down é um distúrbio ge- balhando com brincadeiras para desenvol-
nético causado durante a formação do ver a coordenação motora: jogos pedagógicos
feto; é uma das anomalias genéticas de madeira e jogos de montar proporcionam
mais conhecidas. Segundo os professores e um desenvolvimento psicomotor, atividades
doutores Elaine S. de Oliveira Rodini e Agui- faz-de-conta ou jogos de papéis ajudam a
naldo Robinson de Souza, da Universidade criança a melhorar suas habilidades sensó-
Estadual Paulista (campus Bauru), a Sín- rio-motoras e outras, subir escadas auxilia
drome de Down é responsável por 15% dos no desenvolvimento do equilíbrio e fortale-
portadores de retardo mental que frequen- ce os músculos das pernas e pular, saltar
tam instituições para crianças especiais. e dançar são excelentes atividades motoras
De uma forma geral, a Síndrome de Down que auxiliam no equilíbrio e no controle
é um acidente genético, sobre o qual ninguém muscular.
tem controle. Qualquer mulher pode ter fi lho O brincar é uma atividade inerente ao ser
com essa síndrome, não importa raça, cre- humano, faz parte de sua natureza humana,
do religioso, nacionalidade ou classe social. e favorece tanto o desenvolvimento da crian-
Por muito tempo, a SD ficou conhecida como ça dita “normal” como da criança portadora
mongolismo, termo empregado devido ao fato de alguma deficiência.
de os portadores da síndrome terem pregas Para Ribeiro (2007), as atividades lúdicas
no canto dos olhos que lembram as pesso- com brinquedos e jogos envolvem o indiví-
as de raça mongólica (amarela). Nos dias de duo como um todo – “cognição, afetividade,
hoje esse termo não é mais utilizado, é tido corpo e interações sociais” promovendo
como pejorativo e preconceituoso. seu desenvolvimento. Nesse caso, as situa-
Em uma escola particular da região de ções lúdicas para a criança com Síndrome
Contagem, Kayla1, de 2 anos, com Síndrome de Down facilitarão seu desenvolvimento. A
de Down, foi matriculada. atividade lúdica facilita o processo de apren-
No começo, ela se sentiu muito acuada, dizagem da criança, criando condições para
pois não tinha convivido com outras crian- que a mesma explore seus movimentos, ma-
ças e chorava muito, não comia o lanche que nipule materiais, interaja com seus pares e
sua mãe mandava, só permanecia no colo. resolva situações-problemas.
A mãe ficava muito preocupada como os Por meio das brincadeiras, as crianças
pais e os colegas iam recebê-la. Com o tem- podem manifestar certas habilidades que
não seriam esperadas para a sua idade.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O brincar da criança com síndrome de Down Patrícia de Abreu Almeida

Kayla já consegue subir no escorregador


sozinha, interage com os outros colegas, já
consegue falar o nome da professora com
um pouco de dificuldade, consegue encai-
xar algumas peças de montar do brinquedo
pedagógico.
De acordo com Vygotsky (1994), utilizar-
se do brinquedo para estimular o desenvol-
vimento da criança é um instrumento que
a pré-escola poderia ou deve usar em suas
atividades no processo de aprendizado da
criança. Com o uso do brinquedo, a criança
adquire seus maiores avanços no processo
de desenvolvimento, não apenas em sua in-
fância, mas para toda sua vida.
Quanto antes a criança for estimulada
maior será a possibilidade de desenvolver

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a sua motricidade e os jogos e brincadeiras
são instrumentos importantes para ajudar a
estimulação da criança.

REFERÊNCIAS:
RIBEIRO, Maria Luisa S. O jogo na organi-
zação curricular para deficientes mentais. In:
KISHIMOTO, Tizuko M.(Org.). Jogo, brinque-
do, brincadeira e a educação. 10. ed. São
Paulo: Cortez, 2007.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: o para-


digma do século 21. Inclusão – Revista da
educação especial, out./2005.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem.


São Paulo: Martins Fontes, 1995.

166
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 39
AUTORA:
Patrícia Janaína de Souza Moura

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O ALCOOLISMO E SEUS MALEFÍCIOS PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

a família, para compreender o que de fato a


Resumo levara a tal atitude.
Este artigo relata o estudo de caso de uma aluna do ensi- A família foi receptiva e esclareceu que as
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no médio, de uma escola pública estadual, com problemas causas eram desconhecidas e que não sabia
devido ao uso abusivo de álcool. como intervir.
Nesses momentos, a escola tem papel
Maíra1 era aluna do 1º ano do ensino mé- fundamental. Não há educação sem apoio da
dio e apresentava transtornos ocasionados família e da comunidade.
pelo uso abusivo de álcool. Era frequente às Uma pesquisa sobre a temática é impor-
aulas, porém seu rendimento havia caído tantíssima, visto que leva ao conhecimento
nos últimos meses. sobre o assunto, dando subsídios ao corpo
As suspeitas começaram no momento pedagógico para lidar com as situações vin-
em que a aluna se apresentou agressiva e douras, além de contribuir para a interven-
sonolenta durante as aulas, além do baixo ção para a recuperação dos alunos.
rendimento que não lhe era característico. O tema é abrangente e não há uma única
Para a escola, tratar de um tema como causa, o que há são situações e sentimentos
esse é desafiador. Estamos acostumados a que levam as pessoas a consumirem o álcool.
enfrentar dificuldades que envolvem trans- No caso do dependente químico, uma fuga
tornos ou distúrbios como TDAH, dislexia, da realidade costuma ser a justificativa.
transtornos de conduta, entre outros. Mas No Brasil, a venda de bebida alcoólica é
o alcoolismo é um problema relativamente proibida para menores de 18 anos, conforme
“recente” nas escolas. Lei nº 14.450 e Decreto nº 49.662. No entan-
O alcoolismo tem sido motivo de transtor- to, quando encontramos jovens embriaga-
nos familiares e sociais. O álcool influencia dos, percebemos que ou a lei não está sendo
o sistema nervoso central. As consequên- cumprida ou os pais, familiares e/ou amigos
cias são alteração na fala, multiplicação de são os fomentadores do vício.
ideias, aumento da autoconfiança, fuga das O Estatuto da Criança e do Adolescente é
frustrações e euforia, além de outras alte- claro no seu parecer quanto à proibição de
rações no fígado, no sistema digestório e no entorpecentes ou qualquer produto que leve
coração. ao vicio, conforme abaixo:
O álcool é a droga preferida dos brasileiros • Seção II,
(68,7%). Os que mais consomem são pessoas
na sua idade produtiva (dos 25 aos 45 anos). • Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao
Mas alguns jovens sofrem de alcoolismo e, adolescente de:
se analisarmos os dados de estudos recen- • II - bebidas alcoólicas;
tes, veremos que são alarmantes. O artigo
• III - produtos cujos componentes possam
Epidemiologia do uso de álcool no Brasil re- causar dependência física ou psíquica ainda
lata que: “[...] 5,2% dos adolescentes (12 a 17 que por utilização indevida.
anos de idade) são dependentes do álcool.”.
A escola, para colocar-se a par do que es- Outro fator curioso que leva os jovens ao
tava acontecendo com Maíra, conversou com consumo excessivo de álcool é a crença de
que o álcool torna a pessoa mais ativa, me-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

167
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O alcoolismo e seus malefícios para alunos do ensino médio Patrícia Janaína de Souza Moura

nos tímida, que abre o leque de amizades,


aumentando as possibilidades de interação
social.
O álcool, no momento do consumo (uso
excessivo), causa tormentos neurológicos
e psicológicos, mas, no longo prazo, atin-
ge órgãos vitais, além de trazer distúrbios
neurológicos.
É o caso de Maíra. O consumo do álcool é
excessivo, e ela possui dependência da subs-
tância para conseguir ir à escola, sair, etc.
A escola, diante da situação, propôs à
família um tratamento especializado com
médico psiquiatra e psicólogo e comprome-
teu-se com o acompanhamento para evitar a
evasão escolar.
A família sentiu-se acolhida, a aluna

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


percebeu a necessidade de tratamento e
comprometeu-se com a proposta feita pelos
pais e pela escola.
O caso parece ter sido solucionado com
sucesso. A equipe pedagógica procura estar
presente, os professores mostram-se recepti-
vos às novas informações e a aluna tem de-
sempenhado suas atividades com sucesso.

REFERÊNCIAS:
BELO HORIZONTE. Legislação Municipal
Decreto 49.662, de 20.06.08.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Ado-


lescente. Lei 8.069/1990. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/
L8069.htm. Acesso em: 13/05/2009.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1516- Acesso em:
14/05/2009.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 40
AUTORA:
Paula Gomes Tinoco

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA

Desde o início do ano, tem apresentado um


Resumo comportamento preocupante, não deixando
O artigo a seguir refere-se a um estudo de caso realizado os alunos dormirem, imitando o ato sexual
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

em uma escola pública de Educação Infantil, no municí- e se masturbando na frente dos colegas. A
pio de Contagem (MG). Pela observação da professora professora comunicou à coordenadora, que
do 2º período, foi constatado que um aluno de 5 anos de o encaminhou ao acompanhamento psicoló-
idade estava sendo abusado sexualmente por um fami- gico. Durante o atendimento, o psicólogo foi
liar. A escola toma providências, oferecendo ao aluno um conversando com o aluno, que relatou estar
acompanhamento psicológico em um trabalho conjunto sendo molestado pelo irmão mais velho que o
com a família. colocava para excitá-lo de várias maneiras.
Para Gonçalves & Ferreira (2002), Habi-

P
aulo1 tem 5 anos e está cursando o 2º gzang & Caminha (2004) e Osofsky (1995),
período da educação infantil em perío-
do integral. Mora com a mãe e mais 3 o abuso sexual contra crianças e adolescen-
irmãos. Há um ano não vê o pai, que mora tes tem sido considerado um grave proble-
nos Estados Unidos. A separação do casal, ma de saúde pública, devido aos altos índi-
segundo a mãe, foi bastante traumática, re- ces de incidência e às sérias consequências
latando muitas agressões verbais e físicas na para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e
presença de Paulo. Desde então, a mãe tem social da vítima e de sua família.
a guarda dos 4 filhos, trabalha o dia inteiro
para manter a casa e à noite costuma sair O psicólogo diagnosticou o caso como
para namorar, deixando os filhos sob a res- Transtorno Comportamental de Origem
ponsabilidade do irmão mais velho, de nove Emocional, devido ao afastamento do pai e
anos. ao estilo de vida que a família leva, princi-
De acordo com o relatório escolar, o me- palmente a mãe, que passa pouco tempo com
nino apresenta dificuldades de relacionar-se os fi lhos e costuma levar os namorados para
harmoniosamente com os outros colegas e casa, ficando os fi lhos expostos ao “namoro”
cumprir os combinados da turma. Quando do casal.
quer participar das atividades e brincadeiras Paulo relatou que a mãe e o irmão têm
propostas, compartilha com dificuldade os o hábito de assistirem a fi lmes pornográfi-
brinquedos e materiais, expressa seus senti- cos, como diz o garoto: “fi lmes de mulher
mentos com pouca clareza e fica sempre mais pelada”, o que não é adequado aos fi lhos,
isolado. Necessita de um acompanhamento considerando que são crianças em fase de
com fonoaudiólogo, pois tem dificuldade na desenvolvimento.
pronúncia das palavras, o que dificulta a Segundo Hefl in & Deblinger (1996/1999)
transmissão de recados e informações, até e Saywitz, Mannarino, Berliner & Cohen
mesmo com os próprios colegas. (2000),
Familiariza-se com a imagem do próprio
corpo, demonstra cuidados com a higiene e o abuso sexual pode afetar o desenvolvi-
aparência, tem habilidades nas atividades mento de crianças e adolescentes de dife-
de coordenação motora grossa e fi na. rentes formas, uma vez que algumas apre-
sentam efeitos mínimos ou nenhum efeito
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Abuso sexual na infância Paula Gomes Tinoco

aparente, enquanto outras desenvolvem


graves problemas emocionais, sociais e/ou
psiquiátricos.

Um trabalho em conjunto entre a peda-


goga, o psicólogo, a professora e a mãe está
sendo realizado, embora a mãe não tenha
comparecido com freqüência na escola.
Semanalmente, é feito um acompanha-
mento do aluno, mas ainda não apresenta
resultados significativos.

REFERÊNCIAS:
HABIGZANG, L. F. & CAMINHA, R. M. Abu-
so sexual contra crianças e adolescentes:
Conceituação e intervenção clínica. São Pau-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


lo: Casa do Psicólogo, 2004.

HEFLIN, A. H. & DEBLINGER, E. Tratamen-


to de um adolescente sobrevivente de abuso
sexual na infância. In: M. Reinecke, F. Datti-
lio & A. Freeman (Orgs.). Terapia cognitiva
com crianças e adolescentes: manual para a
prática clínica (p. 161-178, M. R. Hofmeister,
Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

170
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 41
AUTORA:
Regiane de Carvalho

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

INCLUSÃO E ESCOLARIZAÇÃO DE ALUNOS AUTISTAS

ções que auxiliam o processo de aprendiza-


Resumo gem e o desenvolvimento da criança autista,
O artigo relata um estudo de caso realizado pela equi- analisou-se como funciona o processo de
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

pe pedagógica e docente de uma Unidade Municipal de inclusão promovido pela escola e pelo educa-
Educação Infantil - UMEI de Belo Horizonte que, ao dor e as possibilidades a serem alcançadas
constatar um aluno autista na escola, buscou meios para por crianças autistas, quando inseridas no
alcançar o aluno e facilitar o seu processo de inclusão e meio escolar.
escolarização de forma conjunta, objetivando identificar Nessa perspectiva, a hipótese desta pes-
procedimentos, práticas e intervenções pedagógicas que quisa norteia que, através do acesso à esco-
pudessem colaborar de maneira eficaz. larização aliado a outras intervenções que
possam promover a interdisciplinaridade,
1 INTRODUÇÃO como: psicopedagogia, fonoaudiologia, psi-
cologia, musicoterapia, psicomotricidade e

A
presente pesquisa foi baseada na ob- outros, poderemos proporcionar-lhes melhor
servação participante de uma escola desenvolvimento do ensino-aprendizagem
de Educação Infantil da Rede Munici- e a inserção no meio. A educação é a base
pal de Ensino – UMEI (Unidade Municipal de de toda construção social, intelectual, de
Educação Infantil), que atende a um aluno interação e crescimento individual, é mais
com Síndrome de Autismo. Levando em con- do que cuidar de crianças, é abrir a elas o
sideração que se trata de crianças que fogem caminho da cidadania, levando em conta
de um “padrão normalizado” e que muitas que quem tem deficiência é capaz de mui-
vezes são prejudicadas em relação ao acesso tas coisas, como ler, escrever, fazer contas,
e ao convívio escolar, tendo em vista que a correr, brincar e até ser independente. O
educação é direito de todos, conforme dispos- importante é que, se a criança for estimu-
to na Constituição Federal de 1988, em seu lada a descobrir seu potencial desde cedo,
art. 205, a área desta pesquisa é delimitada as dificuldades deixam de persistir em tudo
pelo problema de identificar procedimentos o que ela faz, ou seja, ela precisa de novos
que podem ser desenvolvidos de forma a desafios para aprender a viver cada vez mais
promover os processos de inclusão, ensino- com autonomia, e não há lugar melhor do
aprendizagem e socialização de crianças com que a escola para que isso se concretize.
necessidades educacionais especiais por
apresentarem autismo, no espaço escolar. 2 DESENVOLVIMENTO
Devido a privações e práticas não condi-
zentes de alunos com necessidades especiais, O Autismo Infantil (AI) é uma síndrome
buscou-se desmistificar esses conceitos, defi nida por alterações presentes desde ida-
com o propósito de identificar alternativas des muito precoces, tipicamente antes dos
pedagógicas adequadas ao desenvolvimen- três anos de idade, e que se caracteriza sem-
to socioeducativo de crianças com Síndrome pre por desvios qualitativos na comunicação,
do Autismo, respeitando suas limitações e o na interação social e no uso da imaginação.
tempo de que necessitam para aquisição de É um distúrbio do desenvolvimento que sur-
conhecimentos. preende pela diversidade de características
Dessa forma, observaram-se as interven- que pode apresentar. Descrito em 1943, por

171
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Inclusão e escolarização de alunos autistas Regiane de Carvalho

Kanner, o AI tornou-se, em razão de carac- deve descobrir meios adequados de atuação


terísticas singulares e integrantes, um dos pedagógica para levar ao alcance desses
desvios comportamentais infantis mais es- alunos os conhecimentos socialmente dispo-
tudados, debatidos e disputados. Por não ter níveis. O trabalho pedagógico com crianças
ainda uma causa específica, é chamado de com necessidades educacionais especiais
Síndrome por ter um conjunto de sintomas busca supera, as barreiras que aumentam
que caracterizam o distúrbio. ainda mais as diferenças.
Facilitar o processo de inclusão de O autista tem um nível de eficiência que,
crianças com necessidades especiais é um ao ser estimulado de forma adequada, lhe
primeiro passo a ser dado ao se tratar da permitirá o desenvolvimento de suas capa-
escolarização e socialização dessas crian- cidades e da personalidade como um todo.
ças. Devemos levar em conta que a palavra Ferreira (1993) acrescenta:
“inclusão” não é apenas um aspecto a ser
desenvolvido pela escola, mas por todos pro- O conhecimento do mundo real se faz de
fissionais nela envolvidos. A Declaração de forma paralela e dialética ao desenvolvimen-
Salamanca – documento sobre princípios de to dos esquemas sensório-motores, ou seja,
Educação Inclusiva, de 1994 – estabelece que a criança aprende sobre os objetos de sua

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


a escola inclusiva seja aquela que contempla realidade ao mesmo tempo em que descobre
muitas outras necessidades educacionais suas possibilidades de agir sobre eles e de-
especiais: crianças que têm dificuldades senvolve suas habilidades perceptomotoras.
temporárias ou permanentes, que repetem o (p. 107).
ano, sofrem exploração sexual, violação físi-
ca ou emocional e outros. Tudo isso colabora
para que o estudante tenha cerceado o direi- 2.1. METODOLOGIA
to de aprender e crescer. A escola só ensina
a todos quando está atenta às necessidades Os procedimentos metodológicos desen-
de cada aluno, em vez de enfatizar as limita- volvidos nesta pesquisa apoiaram-se na
ções. A educação inclusiva desafia a escola iniciativa de acompanhar uma criança com
a ser mais representativa da diversidade que Síndrome de Autismo, na Rede Regular de
existe na sociedade, tornando-se mais justa. Ensino.
Acreditamos que a inclusão de crianças com Em um primeiro momento, foi realizado
necessidades educacionais especiais por um levantamento do relatório clínico-médico
apresentarem autismo deva ser realizada de da criança, com a tentativa de classificar e
forma criteriosa e bem orientada, variando conhecer o grau de severidade da síndrome.
de acordo com as possibilidades de cada Em um segundo momento, partiu-se para
aluno. uma etapa de observação direta em que fo-
As crianças autistas evoluem em seu de- ram identificadas as atividades desenvolvi-
senvolvimento cognitivo, se forem estimula- das pelo corpo docente, se estavam de acordo
das a interagir com pessoas e objetos, sendo com a necessidade do aluno, a relação social
então capazes de elaborar seus próprios com os colegas e os processos de inclusão
conhecimentos por meio da descoberta e da realizados pela escola.
criação de novas relações entre os fatos do Após essa observação, trabalhou-se com
mundo real. Ferreira (1993) aponta que o de- a aplicação de aspectos discutidos e pes-
senvolvimento intelectual é o processo pelo quisados pela equipe pedagógica e docente,
qual as estruturas da inteligência se cons- levando em conta as adaptações do contexto
troem progressivamente, através da contínua educacional e a flexibilização do currículo
interação entre sujeito e o meio externo. escolar, visando atender as dificuldades do
A criança autista, em relação ao desen- aluno. Buscou-se também informar sobre
volvimento intelectual normal, passa pelos as características da Síndrome de Autismo
mesmos estágios de desenvolvimento, porém, e realizar metodologias de trabalho em con-
em um ritmo lentificado e com períodos de junto com os professores responsáveis pelo
flutuações, caminhando para um estado de aluno, enfatizando o seu desenvolvimento.
estagnação. Para Ferreira (1993), o compor- Dessa forma, tentou-se identificar pontos
tamento deve ser considerado de acordo com negativos e positivos, modificações ocorridas
seu modo de elaboração e interpretado em na criança durante o processo de ensino-
função do seu processo construtivo. A escola aprendizagem, seu comportamento pessoal

172
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Inclusão e escolarização de alunos autistas Regiane de Carvalho

e social, os progressos alcançados ou não, motivado. Os resultados demonstram a falta


as perspectivas e o processo de inclusão da de capacitação e de conhecimento sobre a
criança na Rede de Regular de Ensino. Síndrome e suas características, o que leva
à falta de empenho dos professores.
2.2 PRINCIPAIS RESULTADOS A UMEI (Unidade Municipal de Educação)
onde foi realizada a observação presencial
A instituição escolhida para observação se mostra cada vez mais inclusiva e alguns
da criança autista foi uma UMEI (Unidade professores se atualizam com minicursos
de Educação Infantil) de Belo Horizonte. No oferecidos, o que facilita o atendimento mais
período da observação, a criança, que cha- direcionado às crianças com necessidades
maremos de X, tinha cinco anos de idade, especiais. A equipe pedagógica busca um
estava no 2º Período, diagnosticada com trabalho conjunto sempre visando o desen-
grau leve da Síndrome de Autismo. volvimento do aluno autista. Mas a realidade
Através dessa observação, identificou-se em outras escolas é diferente, principalmen-
que X muitas vezes prefere brincar sozinho te quando se trata de Redes Públicas.
e tende a tomar os brinquedos dos colegas Comprova-se que o acesso de crianças
para si. Ele fala sem dificuldades, mas com autistas em ambientes escolares comuns
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

pouquíssima frequência escuta-se sua voz. pode promover grandes avanços quanto ao
Ele contas com um estagiário na sala para seu desenvolvimento nos processos de ensi-
auxiliá-lo em todos os momentos. As UMEIs no-aprendizagem, socialização e inserção ao
são bastante inclusivas, com espaços prepa- meio social, principalmente quando conta-
rados para recebimento de deficientes físicos. mos com profissionais capacitados na escola
A Prefeitura estava promovendo minicursos e o auxilio de uma equipe multidisciplinar,
sobre Autismo, no período observado. como: médicos, psicólogos, musicoterapeu-
A professora responsável pela sala diz que tas, dentre outros, no atendimento dessas
X costuma fazer as atividades, mas muitas crianças. De acordo com informações pres-
vezes rejeita e não aceita continuar. Não há tadas pela coordenadora, os trabalhos reali-
qualquer atividade direcionada para X, a não zados com o aluno estão sendo analisados e
ser procedimentos da vida diária, como ir ao discutidos, buscando-se o desenvolvimento
banheiro, se vestir, comer sozinho, escovar do aluno e novas práticas que vão surgindo
os dentes, sendo tudo isto já conquistado por no decorrer da trajetória educacional.
ele, segundo informações da professora. Na
sala de aula há um mural contendo fotos da REFERÊNCIAS:
rotina do dia, o que facilita o entendimento
da criança. Ele é bem aceito pelos colegas, CAVALCANTE, Meire. Caminhos da Inclu-
apesar de muitas vezes rejeitá-los e não acei- são. Nova Escola. São Paulo. Edição Espe-
tar brincar em grupo. Ele age com natura- cial, n. 11, p. 9-15, out. 2006.
lidade e algumas vezes nem percebemos as
suas dificuldades. FERREIRA, Izabel Neves. Caminhos do
A equipe pedagógica e docente iniciou aprender: uma alternativa educacional para
toda a trajetória identificada na metodologia a criança portadora de deficiência mental.
desta pesquisa e os resultados estão sendo Brasília: Coordenação Nacional para Integra-
analisados e discutidos entre eles, buscando ção da Pessoa Portadora de Deficiência (COR-
o desenvolvimento integral do aluno e uma DE), 1993. 162p.
inclusão satisfatória.
MELLO, Ana Maria S. Ros de. Autismo: Guia
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Prático. 2. ed. Brasília: CORDE; São Paulo:
AMA, 2001. 85p.
Analisando os dados obtidos através da
observação presencial, pôde-se constatar SCHARTZMAN, José Salomão. Autismo in-
que muitas são as barreiras enfrentadas por fantil. Brasília: Coordenadoria Nacional para
professores despreparados para o atendi- Integração da Pessoa Portadora de Deficiên-
mento de crianças que apresentam necessi- cia (CORDE), 1994. 56p.
dades especiais por apresentarem autismo,
demonstrando que o acesso dessas crianças
na Rede Regular de Ensino torna-se pouco

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 42
AUTORA:
Renata Lana Ferreira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A ESCOLA E O ALUNO HIPERATIVO

Segundo a literatura, a hiperatividade


Resumo é uma desordem do déficit de atenção. Os
Mãe de um aluno na fase de alfabetização é chamada pela sintomas variam de leves a graves e podem
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equipe pedagógica da escola porque seu filho está tendo incluir problemas de linguagem, memória e
comportamentos diferentes dos demais. Ele é diagnosti- habilidades motoras. Embora a criança hi-
cado como uma criança hiperativa e a escola a orienta perativa tenha, muitas vezes, uma inteligên-
dando-lhe o apoio necessário. cia normal ou acima da média, o estado é
caracterizado por problemas de aprendizado

E
m uma escola da rede privada, a mãe e comportamento.
de um aluno de 6 anos, no período de A criança com hiperatividade apresenta
alfabetização, é chamada pela pro- os seguintes comportamentos:
fessora e pela coordenadora, por motivo de • Dificuldade de concentração (vive no mundo
comportamento de seu filho. Disseram-lhe da lua);
que ele era um aluno muito agitado, não
prestava atenção nas aulas, não parava • Não escuta quando lhe dirigem a palavra;
sentado em sua carteira, tinha dificuldade • Não aceita tarefas que envolvam trabalho
de aprendizagem e falava sem parar. Essa mental;
observação vinha sendo realizada há vários • Não se envolve em brincadeiras e não as
meses. mantém por muito tempo;
A mãe após ouvir tudo, contou a elas que
o comportamento de seu fi lho não era dife- • Tem dificuldade em aguardar sua vez;
rente quando ele estava em casa. • Fala em demasia;
Passados alguns dias, a mãe voltou à es-
• Nunca para sentado;
cola procurando uma ajuda da coordenadora
que a aconselhou a procurar primeiramente • Não aceita regras;
uma avaliação médica. • Está ligada dia e noite.
Após observações e exames, foi diagnos-
ticado que o aluno teria uma deficiência Essas crianças são vistas como proble-
chamada TDAH (Transtorno de Déficit de máticas pelas pessoas que convivem com
Atenção e Hiperatividade). elas, o que gera muita angústia para seus
A mãe, preocupada, com o diagnóstico em pais pela falta de disciplina, pela dificuldade
mãos, volta novamente à escola, reúne com de concentração, pela dificuldade de respei-
a professora e coordenadora e mais uma vez tar regras e pela irritabilidade. É importan-
pede uma ajuda, pois não sabia mais como te tomar cuidado para que não confundir
agir com seu fi lho. Ambas as apoiaram muito algumas características como indisciplina,
e disseram que o TDAH não era nenhum “bi- birra, falta de educação, fala em excesso
cho de sete cabeças”. Para obter um melhor com sintomas de hiperatividade. Por isso
resultado, era indicado procurar um acom- o professor e toda a equipe pedagógica da
panhamento psicopedagógico, reforçando escola necessitam conhecer o assunto para
que a participação da família era fundamen- que o aluno não seja diagnosticado de forma
tal para o desenvolvimento do aluno. equivocada.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A escola e o aluno hiperativo Renata Lana Ferreira

A hiperatividade é um transtorno, uma


vez que causa muitos problemas para a
criança, principalmente de relacionamento.
Quando tratada por especialistas pode ser
bem administrada.
Esse tipo de comportamento interfere na
vida social, familiar e escolar da criança. A
criança hiperativa tem dificuldade em pres-
tar atenção e aprender. Como são incapazes
de fi ltrar estímulos, são facilmente distraí-
das. Essas crianças podem falar muito, alto
demais e em momentos inoportunos. As
crianças hiperativas estão sempre em movi-
mento, sempre fazendo algo e são incapazes
de ficar quieta, são impulsivas, não param
para olhar ou ouvir.
A criança hiperativa, principalmente na

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


fase de alfabetização, precisa de métodos
próprios, por isso é importante que o profes-
sor, a coordenadora e o profissional de fora
utilizem técnicas para auxiliar o aluno a ter
um bom desenvolvimento, respeitando as
suas possibilidades.
A mãe, sabendo do apoio da equipe da es-
cola, se sentiu segura e percebeu que o caso
não era tão grave como imaginava, compre-
endendo melhor a necessidade educacional
de seu fi lho.
A coordenadora disse que a mãe pode-
ria ficar tranquila, pois a escola estava de
braços abertos, dando toda a assistência
necessária para o seu fi lho, fazendo inter-
venções para amenizar o quadro, atenta ao
seu processo ensino-aprendizagem. O tempo
todo a coordenadora reforçou que o traba-
lho em conjunto (família, escola e profissio-
nais) é essencial para alcançar resultados
significativos.

REFERÊNCIAS:
BENCZIK, Edyleine Belini Peroni. Transtor-
nos de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

TOPCZEWSKI, A. Hiperatividade: como li-


dar? 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1999.

176
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 43
AUTORA:
Roberta Rafaela Xisto da Silva

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES LÚDICAS PARA AS CRIANÇAS COM DIFI-


CULDADE DE APRENDIZAGEM

liá-lo em todas as atividades em que ele pos-


Resumo sa ter dificuldade.
O presente artigo relata o estudo de caso de uma criança O brincar é um processo histórico e so-
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com dificuldade de aprendizagem e como a introdução de cialmente construído, as pessoas que cui-
atividades lúdicas pode ajudá-la a compreender melhor dam dos bebês ajudam a brincar desde cedo,
as atividades propostas em sala de aula e auxiliá-la nos com isso, algumas brincadeiras ajudam no
conteúdos em que tenha dificuldades. desenvolvimento da criança.
Vygotsky (1998) apud Moreira (2004, p.

B
ernardo1 tem sete anos e frequenta o 48) aponta que o brincar é, portanto, uma
2° ano do ensino fundamental numa das atividades fundamentais para o desen-
escola particular em Belo Horizonte. volvimento das crianças.
No meio do ano de 2008, Bernardo apre-
sentava um estado emocional desequilibra- Por meio das brincadeiras, as crianças po-
do, e nas aulas encontrava se desatento, dem desenvolver algumas capacidades im-
desinteressado e muito agitado. Os pais portantes, tais como a atenção, a imitação,
foram chamados para uma reunião com a a memória, a imaginação. Ao brincar, elas
coordenadora com o propósito de avaliar a exploram e refletem sobre a realidade socio-
situação do aluno. A princípio, eles não acei- cultural na qual vivem, incorporando e, ao
taram muito que Bernardo precisasse de mesmo tempo, questionando papéis sociais
ajuda profissional, mas, com o tempo, aca- próprios dos adultos. Podemos dizer que nas
baram concordando que seu fi lho precisava brincadeiras as crianças podem ultrapassar
realmente de uma ajuda. a realidade, transformando-a via imagina-
Muitos fatores podem causar uma difi- ção. Fica evidente, contudo, que o papel do
culdade de aprendizagem na criança, o que educador nas brincadeiras é o de observar e
torna fundamental questionar se essa difi- compartilhar com seus pares brincadeiras,
culdade é devida ao ensino ou à aprendiza- fornecendo-lhes espaço, tempo e materiais
gem, por isso é preciso criar alternativas de apropriados e convidativos para o brincar,
ensino para que as aulas sejam desejadas, auxiliando-as quando solicitados.
mais atraentes, interessantes e significati-
vas para todos, alunos e professores. A partir das intervenções realizadas com
Assim, pensando sobre o processo a psicóloga e com a professora, é possível di-
de alfabetização, acredito que deve ser um zer que Bernardo melhorou o seu desempe-
processo dinâmico e criativo, que acontece nho não só na escola, mas também em casa.
através de jogos, brinquedos, brincadeiras, Bernardo está mais concentrado nas aulas e
musicalidade, teatro, entre outros. tem melhorado muito na escrita e no relacio-
Neste ano, Bernardo continua tendo um namento com seus colegas de classe.
acompanhamento psicológico, e um trabalho Crianças com dificuldade de aprendiza-
realizado com muito carinho pela sua atu- gem não são seres incapazes, apenas preci-
al professora. Ela utiliza atividades lúdicas sam de um tempo maior e de um ensino mais
para prender a atenção de Bernardo e auxi- elaborado com intervenções lúdicas, valori-
zando, assim, o que cada criança possui.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

177
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
A importância das atividades lúdicas para as crianças com... Roberta Rafaela Xisto da Silva

REFERÊNCIAS:
CORRÊA, Rosa Maria. Dificuldades no
aprender: um outro modo de olhar. Campi-
nas (SP): Mercado de Letras, 2001.

MOREIRA, Sebastião Rogério Góis; ASSIS,


Carmem Lúcia de Cássia Pongelupe; SAN-
TOS, Waldete Aparecida. A brincadeira do
faz-de-conta no desenvolvimento psicossocial
da criança de três a seis anos e estudo de
gênero. Revista: escritos sobre educação.
Ibirité, v. 3, n. 1, p. 41-50, jan./jun. 2004.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma pers-


pectiva histórico-cultural da educação. Petró-
polis (RJ): Vozes, 1995. p. 102-116.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

178
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 44
AUTORA:
Rosângela Malaquias Clemente

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

UMA CRIANÇA DIFERENTE

quando começava a representar alguma for-


Resumo ma proposta pela professora, imediatamen-
O artigo relata o caso de uma criança que apresentava um te voltava a rabiscação, mas mesmo assim
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quadro diferenciado das demais, o que deixava a escola e mostrava-se sempre próximo dos colegas.
as professoras muito inquietas. Era uma criança que não Numa entrevista, a mãe disse que em
se socializava, tendo apenas um colega com quem trocava casa lidavam com a questão mostrando a
sons que a professora não entendia. importância da comunicação nas situações
em que o Luiz se levantava. Não insistiam

L
uiz1 é o filho caçula e tem um irmão no ato de falar, nem o faziam por ele. Infor-
de 10 anos. Sua mãe o descreve como maram também que o nascimento foi den-
sendo uma criança perfeccionista, que tro do previsto. Acreditavam em fatores que
não gosta de errar ou fazer mal feito algu- poderiam ser indicadores de problema, mas
ma coisa. È inquieto, impaciente, desatento ainda não havia diagnóstico.
e inconstante, e escolhe as pessoas com as No fi nal do primeiro período, Luiz havia
quais quer falar. crescido nas relações, na forma de se co-
A partir dos três meses, seu desenvolvi- municar. Participava de tudo, levantando a
mento foi tranquilo e saudável, apesar do mão, acenando a cabeça, fazendo movimen-
atraso de 1 ano na idade óssea. Andou com tos significativos, apresentava boa relação
1 ano e meio, e só conseguiu eliminar a enu- com o grupo de trabalho e demonstrava ter
rese noturna aos 4 anos. A família não tem certa preferência, abraçando e beijando al-
religião e nunca reza com a criança. guns adultos mais próximos, mas continu-
Luiz entrou para escola quando tinha 4 ava sem falar.
anos, no primeiro período. Inicialmente cha- A mãe percebia o crescimento de Luiz na
mou atenção da professora porque não fala- escola durante todo esse tempo e tinha ex-
va com ninguém e escolhera um coleguinha, pectativas em relação à escrita e ao desenho.
Roberto 2 , com quem trocava sons, os quais A mãe dizia que o fi lho era extremamente
a professora não percebia se tinham sentido. perfeccionista e, por isso, muitas vezes fica-
Ele atendia a todas as solicitações e partici- va insatisfeito com sua produção, acabando
pava de todas as atividades, mas não se ex- por rabiscar o trabalho que estava fazendo.
pressava através do corpo, em situações de No ano seguinte, Luiz adaptou-se bem ao
música ou história, como as outras crianças. 2° período. Continuava com manifestações
Permanecia quase que impassível, apesar de de gestos, mais participativo nas atividades
parecer gostar da escola. É responsável com de sala de aula, chegando a fazer contato
as tarefas escolares, embora não demonstre com alguns colegas vez ou outra, manifestou
prazer em fazê-las. monossílabos, mas ainda sem falar. Pedago-
Sua adaptação foi tranqüila. Aos poucos gicamente estava silábico-sonoro, na escri-
começou a responder com gestos quando era ta, e produzia um desenho mais elaborado,
indagado. Segundo relato da professora, era fazia cópias de registro do quadro e estava
impressionante o autocontrole e a censura mais organizado, aparentando estar feliz.
que se impunha. Nas atividades de registro, Em aulas de música e de educação física
não participava de todas as atividades.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
2. Nome fictício.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Uma criança diferente Rosângela Malaquias Clemente

Em fevereiro deste, Luiz chegou ao 1° ano Luiz apresenta bom desempenho motor
e logo o início do ano a mãe foi chamada à global, mas envolve-se muito pouco com o
escola. A interação com os colegas ainda era grupo. Revela bom raciocínio lógico mate-
pequena, mas esse não falar não lhe prejudi- mático e parece gostar de ler.
cava. Os colegas já acostumaram com o seu A família foi orientada pela escola no sen-
jeito. “Ele é aquele que não fala”. “Ele não tido de garantir a continuidade do processo
sabe falar” – era assim que se referiam a ele. psicoterapêutico, que começa a apresentar
Estava muito desorganizado com suas coi- resultados muito positivos.
sas e com sua produção. Em uma reunião de discussão do caso,
Luiz não lia na escola, portanto, não se a escola e a psicopedagoga discutiram um
sabia se ele sabia ler. Foram colocadas para texto de Ajuriaguerra, do livro Manual de
ele diversas propostas, diversas situações, Psiquiatria Infantil. No que se refere às fun-
em diversos momentos para avaliar leitura. ções e aos distúrbios de linguagem, o autor
Mas foi tudo em vão. se refere a mutismo eletivo, quando o mutis-
A escola entrou em contato com a musi- mo só ocorre na presença de certas pessoas
coterapeuta e ela acreditava que, naquele ou em uma determinada situação.
momento, Luis só falava na escola. Dizia ter No recreio, Luiz fica sozinho ou com Ro-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


discutido o caso com um neurologista e um berto. O relacionamento deles é de certa
psiquiatra e ambos disseram que a evolução forma comandado pelo colega. Quando um
do caso seria lenta mesmo, não havendo in- adulto se aproxima, Luiz sai rapidamente,
dicação para nenhum desses profissionais. indiferente.
A escola entrou em discordância com al- Luiz muitas vezes não utiliza a linguagem
gumas colocações da musicoterapeuta, pois oral em classe ou junto aos colegas, porque
ela afi rmava que a criança ia bem na terapia, essa atitude lhe produz ganhos, como, por
vinha fazendo esculturas da família e come- exemplo, não ter que participar de algumas
çava a conversar com ela o tempo todo. A atividades, já que os próprios colegas o ex-
mãe estava muito satisfeita, por sinal, mas, cluem de certas responsabilidades.
na escola, nenhum progresso. Pelo contrá- Para entender essas questões, buscou-se
rio, dificuldades pedagógicas começavam a fundamentação teórica em Cordié (1996).
surgir. Foi então que a escola sugeriu outras Para que uma criança aprenda, a autora
intervenções, como uma psicopedagoga. A afi rma que é necessário que ela tenha o de-
musicoterapeuta não concordava. A escola sejo de aprender. Desde os primeiros anos
chegou a pensar em uma avaliação neuro- de sua vida, lança-se na exploração de seu
lógica ou psiquiátrica, mas essas também corpo, de seu ambiente, parte para a desco-
foram descartadas. berta de si mesma e do mundo que a cerca
Luiz está começando a se relacionar me- para assegurar seu domínio.
lhor, no entanto, os desafios estavam cada Assim a autora esclarece os primeiros
vez maiores. A ausência da fala começava a pontos nas situações de fracasso escolar:
lhe prejudicar muito, pois, se tinha dúvida,
não pedia ajuda, fazia do seu jeito e não O desejo de saber e a necessidade de com-
perguntava quando não entendia. A escola, preender estão dentro da criança e vão se
por sua vez, acreditava se tratar de um caso prolongar através das inumeráveis per-
patológico. guntas que ela vai fazer posteriormente.
Estava lendo silabicamente, com alguma A curiosidade, o prazer da descoberta e a
interpretação oral. Não se percebiam difi- aquisição de conhecimentos fazem parte da
culdades pedagógicas maiores a não ser na própria dinâmica da vida. Da aprendizagem
caligrafia. pelo jogo, ela deve passar, no decorrer da in-
Com maior insistência da escola, a mãe fância, a uma outra forma de saber, aquele
aceitou a intervenção de outro profissional e que a escola oferece. Ora, é frequentemente
a criança foi encaminhada para uma avalia- nesse momento que a mecânica emperra,
ção psicopedagógica. Foi durante essa ava- há uma parada, uma recusa inconsciente
liação que mais uma informação importante de aprender, de entrar em um novo sistema
foi descoberta: os pais nunca deram banho de aquisição de conhecimento...
nos fi lhos. A criança sempre recebeu cuida-
dos da empregada. Nos desenhos de família,
as empregadas aparecem em evidência.

180
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Uma criança diferente Rosângela Malaquias Clemente

Luiz ainda é uma incógnita. É uma crian-


ça diferente que ainda não conhecemos direi-
to para podermos intervir de forma eficaz.

REFERÊNCIA:
CORDIÉ, Anny. Os Atrasados não existem:
Psicanálise de crianças com fracasso escolar.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 45
AUTORA:
Selma Maria Gomes

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O PAPEL DO PROFESSOR NO ATENDIMENTO ÀS CRIANÇAS SURDAS

A criança surda, cuja família é ouvinte,


Resumo não tem a possibilidade de adquirir a língua
A nova realidade de educação no país encontra-se imer- na modalidade oral-auditiva dos pais por
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

sa na perspectiva da inclusão, contudo, faz-se necessário não ter o sentido da audição. Dessa manei-
adequar as práticas pedagógicas de maneira a atender à ra, se ela não tiver contato com usuários de
diversidade no contexto escolar. Para que seja alcança- uma língua “falada” na modalidade visual-
do um atendimento educacional eficaz, a coordenação da espacial, que é a língua materna das pesso-
instituição socioeducativa desenvolve ações voltadas aos as surdas, ela chegará à escola sem ter do-
educadores com o objetivo de qualificar o professor para mínio de nenhuma língua, o que é altamente
que o modelo de escola inclusiva adotado alcance resulta- prejudicial ao desenvolvimento da criança,
dos positivos no processo ensino-aprendizagem. uma vez que a aquisição de linguagem é
um aspecto importante do desenvolvimento

A
instituição na qual foi realizado o estu- cognitivo.
do de caso, localizada na região norte Em face disso, preocupada com o atendi-
de Belo Horizonte, em caráter socio- mento educacional dessa criança, a coorde-
educativo oferece atendimento educacional nação pedagógica, com o objetivo de atender
às crianças carentes da região, bem como adequadamente a esse aluno surdo bem
assistência social às famílias. O objetivo pri- como àqueles que porventura venham a se
meiro da instituição é ajudar as famílias na matricular na escola, criou condições dentro
educação dos seus filhos e melhorar a quali- da instituição de qualificação das educado-
dade de vida daqueles que são atendidos na ras para o atendimento de alunos surdos.
instituição e, por conseqüência, da comuni- Para tanto, foram promovidos palestras
dade onde vivem, uma vez que o âmbito de e minicursos para as educadoras poderem
atendimento é de um maior número possível conhecer as estratégias de atuação na edu-
de moradores da região. cação de crianças surdas, as adequações
A escola oferece atendimento educacional curriculares necessárias e os recursos e
inclusivo não somente no que se refere ao materiais pedagógicos utilizados para a efe-
atendimento de crianças com deficiência, tivação do processo ensino-aprendizagem
mas também às crianças que têm dificulda- que possa garantir ao aluno o acesso ao
des de aprendizagem e que estão em situa- currículo.
ção de vulnerabilidade social. Essas medidas não só melhoraram o de-
No quadro de alunos dessa escola, há sempenho das educadoras no atendimento
uma criança com surdez, cuja família tem à criança surda como estabeleceram um
mais quatro fi lhos, um deles com hidrocefa- vínculo maior entre a escola e família, já
lia. A família já numerosa, com baixo poder que houve um avanço no desenvolvimento
aquisitivo, tendo entre os fi lhos um com uma da linguagem da criança que possibilitou
deficiência que demanda uma atenção e um uma maior interação e comunicação entre a
tempo maior nos cuidados do dia a dia, como criança e os professores e, consequentemen-
a alimentação e a higiene, por se tratar de te, uma melhora na comunicação da criança
uma criança mais dependente, não poderia com seus familiares.
prestar assistência adequada à educação do O modelo de escola inclusiva que atenda
fi lho surdo. à diversidade de alunos já é uma realidade

183
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
O papel do professor no atendimento às crianças surdas Selma Maria Gomes

cuja tendência é de crescimento. É preciso


que os profissionais da educação estejam
atentos não somente às mudanças que di-
zem respeito às práticas e intervenções pe-
dagógicas eficazes no atendimento às crian-
ças, como também é necessária uma nova
postura diante das concepções de atendi-
mento aos alunos com necessidades educa-
cionais especiais.
A Legislação vigente garante a todos o
direito de receberem educação nas escolas
comuns independente de suas condições fí-
sicas ou intelectuais.
Dessa forma, a instituição em que se fez
o estudo de caso está imersa na perspecti-
va da inclusão, atendendo a uma das metas
previstas no plano nacional de educação:

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


Assegurar a inclusão, no projeto pedagógi-
co das unidades escolares, do atendimento
às necessidades educacionais especiais de
seus alunos, definindo os recursos disponí-
veis e oferecendo formação em serviço aos
professores em exercício.

A coordenação pedagógica da instituição,


ao qualificar seus professores no atendi-
mento da criança com surdez, possibilitou
o desenvolvimento do seu aluno tanto no
âmbito educacional, no que diz respeito aos
aspectos cognitivos, como no âmbito social,
uma vez que contribuiu para uma melhora
na comunicação e na interação da criança
com os professores e com seus familiares,
interação tão importante para seu desen-
volvimento como um todo, uma vez que as
relações sociais contribuem ativamente para
a aprendizagem.

REFERÊNCIAS:
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura.
Inclusão: Revista da Educação Especial. v.
1, n. 1, outubro 2005. Brasília: Secretaria de
Educação Especial.

PAPALIA, Diane E.; OLDS, Sally Wendkos;


FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento
Humano, Porto Alegre: Artmed, 2006.

QUADROS, Ronice Müller de. Educação de


Surdos: a aquisição da linguagem. Porto Ale-
gre: Artes Médicas, 1997.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 46
AUTORA:
Silvana Conceição Leite Carvalho

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

DISLEXIA, ESCOLA E FAMÍLIA

resse da turma e dos professores em saber


Resumo mais sobre a dislexia usual.
Este artigo baseia-se no estudo de caso de uma aluna do No texto a mãe relata as dificuldades da
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6º ano de uma escola particular, com diagnóstico de dis- família em encontrar profissionais da edu-
lexia usual, e ressalta a importância de uma equipe mul- cação preparados para lidar com esse tipo
tidisciplinar para seu pleno desenvolvimento acadêmico de aluno. Principalmente nos momentos das
e social. avaliações, pois as escolas não disponibili-
zam métodos de avaliações individualizadas

L
er é mais difícil que falar. Enquanto ou diferenciadas.
a fala é aprendida naturalmente pelo A escola, no entanto, disse não ter tido
homem, a leitura é ensinada por meio acesso a algumas informações referentes ao
de um código de criação humana altamente acompanhamento da aluna por profissionais,
complexo. O bom leitor é aquele que desen- dizendo já ter tentado contato, mas sem êxi-
volve as habilidades de decodificação desses to, e acredita em um trabalho em conjunto
códigos de maneira eficiente. Daí a necessi- para um melhor desempenho acadêmico da
dade de conceituarmos a dislexia como uma aluna.
dificuldade que está relacionada com a per- A mãe da aluna diz que é possível encon-
cepção do texto escrito. A percepção visual trar boas escolas e que compreendem a si-
do texto relaciona-se com os movimentos e tuação de alunos com dislexia, porém não
com as fixações do olho. estão preparadas para desenvolver um sis-
Segundo a Associação Brasileira de Disle- tema de avaliação diferenciado. Para ela, “as
xia – ABD, o transtorno tem a maior incidên- escolas pensam que trabalhar de forma dife-
cia nas salas de aula. Diversos estudos rea- rente com quem tem alguma limitação é um
lizados em outros países apontam que entre privilégio. Mas não é. Para tratar todos com
5% e 17% da população mundial possui o igualdade temos que perceber as diferenças”.
distúrbio e que sua maior incidência está na No entanto, as pessoas que possuem essa
hereditariedade e não no resultado da má al- característica podem, desde que comprova-
fabetização ou da baixa inteligência. Quem do com laudo médico, ter avaliação diferen-
tem dislexia, além de problemas com as pa- ciada em provas, vestibulares, concursos e
lavras, possui dificuldades com a memória até para adquirir a carteira de habilitação.
verbal, operacional e de longo alcance. Ao contrário do que muitos pensam, a
Mariana1. tem 13 anos de idade, freqüen- dislexia não é o resultado de má alfabeti-
ta o 6º ano do ensino fundamental II e pos- zação, desatenção, desmotivação, condição
sui o diagnóstico de dislexia usual. socioeconômica ou baixa inteligência. Ela
A coordenadora da escola relatou que, no é uma condição hereditária com alterações
início do ano, fez um momento de socializa- genéticas, apresentando ainda alterações no
ção com a turma e falou das “diferenças” e da padrão neurológico.
importância de se respeitar o outro. Naquele A mãe relatou que ela e o pai são disléxi-
momento, ela mostrou uma revista em que a cos e conta as dificuldades enfrentadas na
mãe da Mariana havia dado uma entrevista fase escolar, principalmente no processo de
sobre a dislexia, o que despertou maior inte- alfabetização, sendo na leitura a maior difi-
culdade. Os pais expõem para a filha a todo
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dislexia, escola e família Silvana Conceição Leite Carvalho

instante a possibilidade de uma vida pró- Por esses múltiplos fatores é que a dis-
xima do normal, apesar das dificuldades, e lexia deve ser diagnosticada por uma equi-
acham essencial trabalhar a autoestima da pe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação
filha, tendo em vista as suas dificuldades de dá condições de um acompanhamento mais
se socializar. efetivo das dificuldades após o diagnósti-
Na ficha individual da aluna, consta um co, direcionando-o às particularidades de
acompanhamento / tratamento realizado na cada indivíduo, levando a resultados mais
clínica Dr. Ricardo Guimarães, referência no concretos.
país em relação a esse tipo de tratamento.
A aluna usa óculos específicos que possibi- REFERÊNCIA:
litam a leitura e a escrita de forma mais efi-
caz. Os pais percebem avanço escolar da fi- REIS, Marina Botelho. Psicóloga Clínica, Es-
lha com o uso desses óculos. pecialista em Atendimento Sistêmico de Fa-
A aluna tem bastante facilidade em Ma- mílias e Redes Sociais. Departamento de Dis-
temática e Inglês. Mas grandes dificuldades lexia de Leitura do Hospital de Olhos de Minas
em Português, História e Geografia. A coor- Gerais. Belo Horizonte: Revista Nova Lima
denadora sugeriu aos pais que contratassem Perfil. Disponível em:<www.dislexiadeleitura.

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uma professora particular para que a defa- com.br/artigos>. Acessado em 11/05/2009.
sagem em alguns conteúdos fosse minimiza-
da. A família concordou e a escola já tinha
percebido grandes resultados em relação à
aprendizagem da aluna. Em relação aos co-
legas de sala, eles são bastante solidários.
De acordo com o médico e pai da aluna,
quem possui essa característica é mais cria-
tivo, intuitivo e consegue utilizar o lado emo-
cional e racional do cérebro ao mesmo tem-
po. “As pessoas comuns dominam apenas
um lado do cérebro: enquanto a parte mo-
tora está em ação, outras não estão em fun-
cionamento. Já o disléxico consegue utilizar
os dois lados do cérebro simultaneamente.
Por causa de um método de ensino defasado,
muitas pessoas geniais não conseguem ven-
cer a barreira da alfabetização”, diz.
Diversos centros no país oferecem o tra-
tamento para dislexia. Em Nova Lima, existe
o Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães,
que possui uma abordagem interdiscipli-
nar para os disléxicos. O Hospital utiliza o
“Método Irlen”, que é o uso de lentes para
controlar distorções na visão, promovendo
resultados imediatos. “Fazemos ampla ava-
liação oftalmológica para saber se existem
outras patologias”, explica a oftalmologista
Márcia Guimarães.
A oftalmologista ressalta que a dislexia
não é uma doença e, por isso, não se pode
falar em cura. “Os portadores dessa condi-
ção passam por uma série de tratamentos
que os auxiliam a minimizar os sinais do
distúrbio. Para isso, os profissionais que os
assistem traçam estratégias que facilitam
e ajudam no desenvolvimento e aprendiza-
gem”, completa.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 47
AUTORA:
Simone das Graças Ferreira
Endereço eletrônico: simonedojocac@hotmail.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

INCENTIVAR, ESTIMULAR E ACREDITAR

2º período o aluno demonstrou insegurança


Resumo no início do ano letivo, ele sempre necessi-
O presente artigo relata um estudo de caso que vem sen- tava de atenção individualizada. Durante a
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

do realizado em uma escola da rede privada de ensino, realização das atividades, ele precisava da
os desafios encontrados e o que está sendo realizado pela aprovação da professora e demonstrava mui-
comunidade escolar a fim de oferecer um ensino de quali- ta ansiedade através de gestos repetitivos.
dade a um aluno que apresenta alterações de comporta- No decorrer do ano, mostrou estar mais
mento que comprometem seu rendimento escolar. adaptado, demonstrou maior segurança e
passou a participar de projetos realizados

A
sociedade tem como objetivo principal em sala ouvindo seus colegas, levantando o
oferecer oportunidade igual para que dedo para contar acontecimentos do dia a
cada pessoa seja autônoma e autode- dia e colaborando com opiniões. Ele ainda
terminada. Uma sociedade aberta a todos, preferia brincar sozinho, mas com o estímulo
que incentiva e estimula a participação de da professora e o incentivo da coordenadora,
cada um, aprecia as diferenças e reconhece já conseguia participar de brincadeiras cole-
o potencial de todo cidadão é denominada tivas. Robson tinha grande dificuldade nas
inclusiva. atividades de educação física: correr, subir e
Robson1 tem 7 anos e atualmente cursa descer, e insistia em ficar sozinho.
a 1ª série/9 do ensino fundamental. Antes O acompanhamento feito pela terapeuta
de ingressar nesta escola, ele estudava em ocupacional foi de grande valia nessa etapa.
uma outra instituição da rede privada e já A parceria entre a coordenadora, a professora
apresentava algumas alterações, ou seja, já e a terapeuta trouxe significativas evoluções
possuía um histórico. para Robson. Através das orientações dadas
O aluno foi matriculado nesta instituição pela terapeuta ocupacional, a professora
no Maternal III. No início do ano letivo, ele trabalhava áreas que estavam comprometi-
não conversava e não brincava com seus das por falta de estímulo e a coordenadora
colegas de sala, só ficava no seu cantinho incentivava e encorajava o aluno a partici-
e apresentava dificuldade de concentração. par de todas as atividades, principalmente
Robson tinha preferência por atividades fei- nas atividades que envolvessem motricidade
tas individualmente. Sua coordenação mo- ampla.
tora ampla era muito comprometida. Nessa época aconteceu um fato que cha-
Quando estava no 1º período, ele não mou a atenção de todos em volta: família,
conseguia verbalizar e continuava brincan- coordenadora, professora e colegas de sala.
do sozinho, dificilmente entendia as ordens Foi durante a realização da festa junina da
dadas pela professora. Após várias observa- escola. Robson não demonstrou nenhum in-
ções e diversos acompanhamentos, Robson teresse no decorrer dos ensaios, dias antes
foi encaminhado para uma terapeuta ocupa- da apresentação. Percebia-se que o aluno
cional. Havia reuniões semestrais no colégio não gostava do ensaio, pois não sabia co-
com a terapeuta ocupacional, a professora e ordenar seus movimentos de acordo com a
a coordenadora. dança. A professora e a coordenadora aguar-
De acordo com a professora de Robson, no davam ansiosamente o dia da festa para
ver o desempenho do aluno. No entanto, na
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Incentivar, estimular e acreditar Simone das Graças Ferreira

hora da apresentação, ele superou as expec-


tativas de todos ali presentes, pois dançou
tão brilhantemente que até seus colegas de
sala comentaram. No meio da apresentação,
houve um “galope” e todos imaginavam que
Robson não daria conta de fazer, mas ele
surpreendeu a todos, inclusive a ele mesmo.
Nesse dia a alegria tomou conta da sala e
todos vibraram.
Hoje o aluno encontra-se na 1ª série/9.
Segundo a coordenadora, Robson está muito
bem, não encontra nenhuma dificuldade em
relação a sua alfabetização. No entanto, a
maior preocupação são as aulas de educa-
ção física.
O foco do trabalho que está sendo realiza-
do com o Robson está fortemente voltado para

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


a coordenação motora ampla. Neste ano, a
equipe (terapeuta ocupacional, professora e
coordenadora) dará uma atenção especial ao
seu desenvolvimento da motricidade ampla,
sempre incentivando, estimulando e acredi-
tando no crescimento pleno do aluno.
A educação abrange os processos forma-
tivos que se desenvolvem na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movi-
mentos sociais e organizações da sociedade
civil e nas manifestações culturais.
É importante ressaltar o quanto é signi-
ficativo o poder do incentivo na educação.
Através do incentivo, o ser humano acredita
incondicionalmente em seu potencial. Tam-
bém é importante mencionar que o auxílio de
profissionais especializados é essencial para
que o estímulo aconteça de forma correta.
Os desafios existem e sempre vão existir, o
que importa é saber como vencê-los.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional, nº 9.394/96. Brasília: Câ-
mara dos Deputados; 1996.

MANTOAN. Maria Tereza Eglér. Inclusão es-


colar: O que é? Por quê? Como fazer? São
Paulo: Moderna; 2003.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 48
AUTORA:
Simone Nara Parreiras

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

UM OLHAR TOTALIZANTE

observaram a importância dos valores e, ao


Resumo não cultivá-los, propiciaram a formação de
O presente artigo tem como objetivo apresentar a ação adultos sem referenciais de cidadania e de
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

multidisciplinar dos profissionais em prol do bem de toda respeito ao próximo.


a família e, principalmente, de melhores condições de vida São cada vez mais numerosos os casos
de três irmãos matriculados em uma instituição filantró- de pais separados e, nas áreas carentes, há
pica, situada numa área carente da região de Belo Hori- um alarmante número de pais viciados, o
zonte- MG, que tem o futuro sob decisão judicial. que significa, em muitos casos, que outras
pessoas tornam-se responsáveis pela educa-

E
ducar, nos dias de hoje, é uma tare- ção das crianças, ao mesmo tempo em que
fa árdua para quem pretende atuar os limites ficam alargados ou mal defi nidos.
no cotidiano escolar. O papel desses Nas fichas individuais dos alunos das ins-
profissionais extrapola os muros da escola e, tituições escolares, é comum encontrarmos
se a instituição não contar com uma equipe grande número de crianças que são educa-
multidisciplinar, fica mais complicado saber das por padrastos, avós, avôs, tios ou tias,
quais são as realidades e os contextos fami- entre outros.
liares do público alvo. Esta é a realidade de três irmãos cujos
De acordo com o conceito de multidiscipli- pais são viciados em entorpecentes. O pai
naridade (Dicionário Interativo da Educação abandonou a família devido a seu envol-
Brasileira – EducaBrasil, 2006), recorre-se vimento com as drogas e a um atentado a
a informações de várias áreas para estudar tiros. A mãe, depois da separação, começou
um determinado assunto, sem a preocupa- a fazer uso abusivo de álcool, mas afi rma-
ção de interligar as disciplinas entre si. va ter largado as drogas. Ela chegou a ficar
As famílias de baixa renda fi nanceira se com depressão profunda, saindo várias ve-
multiplicaram nos últimos anos e as condi- zes de casa e deixando os fi lhos dormindo
ções de muitos continuam precárias. O que sozinhos. Por várias vezes também deixou
se vê na atualidade são crianças cuidando que os fi lhos fossem sujos para a instituição,
de crianças, o que gera um questionamento: onde ficam das 7 da manhã às 5 da tarde, e
os valores familiares se perderam ou deram às vezes, no fi nal do dia, não aparecia para
lugar a outros? buscá-los.
Para Ahmad (2006), “os valores consti- No carnaval de 2009, a mãe saiu de casa
tuem o conjunto de qualidades que nos dis- e, segundo informações, ela estava frequen-
tinguem como seres humanos independen- tando um prostíbulo, onde permaneceu até
temente de credo, raça, condição social ou o mês de maio.
religião [...]”. A equipe multidisciplinar (assistente so-
Vivencia-se hoje uma época de confl itos cial, psicóloga e pedagoga) da instituição
de proporções mundiais. Nossa sociedade onde as crianças estão matriculadas re-
atravessa um período de turbulência, diante solveu intervir e traçou um percurso para
da corrupção, dos jogos de poder, da violên- se fazer com a família. Até então, o servi-
cia, do desprezo pelo ser humano e pelo meio ço social da instituição já havia registrado
ambiente. E muitos desses problemas são três denúncias de maus tratos contra as
reflexos de comportamentos sociais que não crianças; negligência por parte da mãe. As

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Um olhar totalizante Simone Nara Parreiras

crianças chegavam à instituição aparentan- momento é que as crianças se encontram


do maus tratos e muitas vezes temerosos. protegidas!
Quando questionada pela assistente social,
a mãe solicitou ajuda e alegou não estar REFERÊNCIA:
dando conta de olhar para seus fi lhos. A
mãe parece não acreditar na afetividade da AHMAD, Fernanda Broll Carvalho. Educação
família e reconhece que suas atitudes têm para Valores: Uma Alternativa à Convivência
prejudicado seus fi lhos. Humana. Revista do Ministério Público do Rio
Ficou determinado pela equipe multidis- Grande do Sul, n° 58, maio-agosto 2006. Dis-
ciplinar que seriam feitas várias visitas à ponível em http://www.educabrasil.com.br/
casa da mãe com o intuito de conhecer me- eb/dic/dicionario.asp?id=90, Dicionário Inte-
lhor o contexto familiar e compreender quais rativo da Educação Brasileira – EducaBrasil,
os problemas que favoreceram a depressão 2006. Acesso em 20 de agosto de 2006.
e o uso de drogas. Durante o acompanha-
mento, ficou esclarecido que o problema era
psiquiátrico. Com o consentimento da mãe,
ficou decidido que ela faria um tratamento

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


psicológico.
A consulta foi marcada, mas ela não com-
pareceu! A equipe da instituição propôs à
mãe que juntos procurassem ajuda no Con-
selho Tutelar, mas ela hesitou. Apesar de vá-
rias intervenções da equipe multidisciplinar,
nenhuma movimentação de melhora foi feita
por parte da mãe.
O que a equipe temia, aconteceu: o Con-
selho Tutelar foi acionado anonimamente.
Foi aplicada à mãe uma medida para pro-
curar ajuda psicológica, mas ela descum-
priu. A equipe procurou os responsáveis do
Conselho Tutelar na tentativa de ajudar e de
propor que uma tia assumisse a guarda das
crianças.
A mãe foi chamada novamente ao Con-
selho Tutelar, e desta vez a assistente social
a acompanhou, juntamente, com a tia que
assumiu as crianças. Percebe-se um desejo
das crianças em ficar com a tia.
A tia foi encaminhada para um serviço de
advocacia gratuito para entrar com o pedido
de guarda das crianças.
O futuro das crianças ainda é incerto,
pois, apesar da família (tia e avô) estar aten-
ta às necessidades das crianças, demons-
tra receio e insegurança em assumir essa
responsabilidade.
A equipe da instituição pretende continu-
ar acompanhando a família, não no desejo
de impor que ela tome uma decisão a favor
de assumir a guarda das crianças, mas com
o desejo de ser uma companhia, oferecendo
amizade, independente da decisão acertada,
nunca deixando de colocar as possibilida-
des e impossibilidades de qualquer escolha
que fizerem. A única certeza que se tem no

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 49
AUTORA:
Tânia de Souza Gonçalves

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

INCLUSÃO ESCOLAR: DIFICULDADES DE INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM DE


UM ALUNO COM PSICOSE INFANTIL

dos psicóticos está na relação precoce em es-


Resumo tabelecer contato com os outros.
O presente artigo relata um caso de dificuldades de inte- Diante dos sintomas relacionados, o alu-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

ração e aprendizagem de um aluno com psicose infantil. O no apresenta, com grande relevância, alguns
aluno possuía um relacionamento prejudicado com os de- comportamentos vulneráveis de afetivida-
mais do grupo, resistente a mudanças, e não conseguia se de e ainda uma grande impaciência com a
concentrar nas atividades na sala de aula. São relatadas dificuldade de terminar determinadas ati-
as intervenções desenvolvidas pela coordenação da esco- vidades. Em relação ao contexto escolar de
la, juntamente com a professora. Além disso, discute-se o Pedro, a escola atual foi a primeira a que ele
importante papel do professor em propiciar uma educa- teve acesso. De acordo com os registros, Pe-
ção de qualidade para inclusão. dro é fi lho único, reside somente com a mãe,
pois o pai trabalha fora do Brasil. O contato

P
edro1 é um aluno de sete anos, estu- da criança com o pai é quase nenhum.
dante da 2ª série de uma escola públi- Considerando a psicose infantil como
ca de Belo Horizonte. Segundo relato uma confusão entre o mundo imaginário
da coordenadora, esse aluno apresentava e o mundo perceptivo, foi observado que
grande defasagem na aprendizagem e não Pedro demonstrava grande dificuldade de
conseguia se relacionar com o meio em que compreender o que acontecia ao seu redor.
estuda. No laudo fornecido à escola, a crian- Exemplo disso foi o dia em que ele agrediu
ça foi diagnosticada com psicose infantil. uma colega e, quando questionado sobre o
Segundo Bezerra, citado por Gebara e fato, disse ter batido em uma boneca. Em
Horonato (2002, p. 1), a história da psicose outras atividades como a de “faz de conta”,
infantil é marcada recentemente com a in- ele costumava sempre colocar os objetos na
trodução do autismo de Kanner. Os estudos boca; sua escrita era bastante restrita, seus
sobre a psicose infantil foram ignorados e desenhos eram sempre os mesmos; não gos-
negados em sua existência durante séculos. tava de cumprir as regras introduzidas nas
A psicose infantil é um transtorno de perso- brincadeiras, sendo resistente em continuar
nalidade, dependente do transtorno da orga- as atividades, caso a professora dissesse que
nização do eu e da relação da criança com o “não” poderia continuar daquela maneira.
meio ambiente. Um dos animais preferidos pelo aluno
A criança possui grandes alterações nas era o leão. Percebeu-se que sempre fazia
relações afetivas, com isso prefere se recuar questionamentos sobre a vida desse animal,
ou se isolar das demais pessoas do seu con- indagava o porquê dele não viver em casa
vívio. É resistente a mudar de lugar quando como as pessoas. Nas atividades em que se
solicitada a fazer algo diferente, tendo uma mostrava outro animal, este era confundido
frequente ansiedade de começar ou terminar com leão. Pedro apresentava uma dificuldade
alguma atividade, o que leva, em alguns ca- significativa em se relacionar com o grupo,
sos, a ser agressiva e agitada. Algumas têm em interagir com os demais.
o cognitivo afetado, já que o problema maior A partir desses indicadores, a coordena-
ção elaborou algumas estratégias que con-
templassem a superação das dificuldades de
1. Nome fictício, para preservar a identidade da crian-
realizar as atividades e também estimulas-
ça.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Inclusão escolar: dificuldades de interação e aprendizagem de... Tânia de Souza Gonçalves

sem a interação com o grupo, valorizando o REFERÊNCIA:


seu conhecimento prévio e o interesse pelos
bichos, em especial o leão. O trabalho com- GEBARA, Ângela Cristini e HORONATO,
partilhado com a professora e a coordenação Gláucio Menoni. Alguns aspectos que po-
da escola resultou em várias propostas pe- dem ser identificados no psicodiagnóstico
dagógicas que pudessem levar em conta a de Psicose Infantil. Disponível em: <http://
restrita capacidade simbólica de Pedro, uti- gballone.sites.uol.com.br/colab/glaucio.
lizando muito o lúdico para que esse aluno html > Acesso em: 05/05/2009.
pudesse interagir com o restante do grupo.
Algumas atividades escolhidas pela pro-
fessora foram os teatros – a partir de histó-
rias trabalhadas em sala de aula – e drama-
tizações livres com fantoches e marionetes,
além de brincadeiras de roda, divididas em
grupos aleatórios. Notou-se que nas ativida-
des com o lúdico, Pedro demonstrou grande
interesse e desempenho, imitava os perso-

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


nagens propostos nas brincadeiras com
muita dedicação, se soltava e participava
bastante.
Quanto à aprendizagem de Pedro, o lú-
dico também foi trabalhado. A professora
passou a ter mais atenção com esse aluno,
utilizando muitos jogos de memorização,
conceitos matemáticos com jogos de amare-
linha e quebra-cabeça, várias leituras orais,
com histórias contadas e escritas pelos pró-
prios alunos. Com o apoio dessa professora
e da coordenação, Pedro melhorou muito na
compreensão das letras, das frases, dos fo-
nemas, dos sons e dos desenhos. Com isso,
houve uma melhora nos aspectos da leitura,
da escrita e do raciocínio matemático. Atu-
almente, apesar de algumas dificuldades,
Pedro consegue se comunicar melhor com
os demais do grupo, tendo um avanço sig-
nificativo na participação nas atividades,
percebendo as diferenças dos animais, sem
agrupá-los num só, como fazia com o leão.
É fundamental perceber na criança toda
a sua singularidade, captar toda a sua es-
pecificidade, num programa direcionado
em atender as suas necessidades especiais.
É a percepção dessa singularidade que vai
comandar o processo educacional e o desen-
volvimento da criança. O papel dos professo-
res é fundamental, existem várias formas de
intervenção que servem de apoio pedagógico,
uma delas são as atividades com o lúdico,
principalmente na parte da comunicação,
se for trabalhada em grupo. É importante
que a criança psicótica viva em um ambien-
te acolhedor, educativo e psicoterápico, pois
somente um trabalho multidisciplinar pode-
rá ser atendido em sua globalidade.

192
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 50
AUTORA:
Valéria Edilânia Ferreira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS PARA AUXILIAR ALUNOS DISLÉXICOS

mente, na concentração, pois era muito dis-


Resumo persa, sendo necessário chamar-lhe sempre
Este artigo relata um caso de uma aluna com dislexia e a atenção.
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

as possibilidades de metodologias e estratégias para au- A professora começou a observar mais a


xiliá-la em sala de aula. aluna e descobriu que ela tinha ainda ou-
tras dificuldades: não gostava de ler em voz

É
cada vez mais incompreensível que alta, trocava muito as letras na hora de es-
uma pessoa de inteligência normal crever e não gostava muito de interagir com
não leia nem escreva com certo de- a turma.
sembaraço. A dificuldade de entender o que A escola comunicou aos pais as dificul-
está escrito diante dos seus olhos e de es- dades da aluna e juntos começaram a dar-
crever o que se está pensando claramente é lhe uma atenção mais especial. Depois de
bem o problema do disléxico. algumas reuniões, decidiram levá-la a um
A dislexia pode ser facilmente confundida especialista, para ver se ela tinha algum
com outros quadros que apresentam dificul- problema ou se era falta de interesse pelos
dades de aprendizagem associadas à fala e à estudos.
postura. Ela torna-se mais presente na fase Os especialistas diagnosticaram dislexia.
da alfabetização, embora alguns sintomas já Os pais de Júlia não tinham muito co-
estejam presentes nas fases anteriores. Ape- nhecimento do que era a dislexia e pediram
sar de uma instrução convencional, do ní- apoio à escola para conhecerem sobre o as-
vel esperado de inteligência, sem distúrbios sunto e sobre como ajudar a fi lha.
cognitivos fundamentais, a criança apresen- A escola explicou aos pais que a dislexia
ta falha no processo da aquisição da lingua- é um distúrbio ou transtorno de aprendiza-
gem. Isto é, a dislexia independe de causas gem na área da leitura, escrita e soletração,
intelectuais, emocionais ou culturais. não importando qual a sua causa. É um
Apesar da grande incidência, sendo uma distúrbio que emerge nos momentos iniciais
das mais comuns deficiências de aprendi- da aprendizagem da leitura e da escrita e
zado, o diagnóstico ainda não é facilmente é uma dificuldade específica nos processa-
realizado, fazendo com que os portadores de mentos da linguagem para reconhecer, re-
dislexia sejam erroneamente rotulados por produzir, identificar, associar e ordenar os
pais e professores de preguiçosos, pouco in- sons e as formas das letras, organizando-os
teligentes ou mal-comportados. corretamente.
Júlia1 tem oito anos e está cursando a 2ª Como se pode perceber, a dislexia não é
série do ensino fundamental numa escola culpa de ninguém, a criança nasce assim.
particular, onde estuda desde 2008. O importante é aceitá-la como uma difi-
Na educação infantil, ela estudou em uma culdade de linguagem que deve ser tratada
escolinha, onde ficava em horário integral. por profissionais especializados. As escolas
Quando chegou à escola, a professora podem acolher os alunos com dislexia, sem
percebeu que Júlia tinha muitas dificulda- modificar os seus projetos pedagógicos.
des na leitura e na escrita, dificuldades em Procedimentos didáticos adequados possi-
ordenar as letras do alfabeto e, principal- bilitam ao aluno vir a desenvolver todas as
suas aptidões, que são múltiplas. A dislexia
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Possibilidades metodológicas para auxiliar alunos disléxicos Valéria Edilânia Ferreira

persiste, apesar da boa escolaridade. Não há aproveitamento escolar de Júlia, basta ape-
um método, uma cartilha, uma receita para nas um pouco mais de tempo.
trabalhar com alunos disléxicos, é preciso
mais tempo e mais ocasiões para a troca de REFERÊNCIAS:
informações sobre os alunos, para planeja-
mento de atividades e elaboração de instru- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA.
mentais de avaliação específicos, pois, em Dislexia. Disponível em http://www.dislexia.
geral, o disléxico tende a lidar melhor com org.br. Acesso em: 11 maio 2009.
as partes do que com o todo. Abordagens e
métodos globais e dedutivos são-lhe de difí- CONDEMARÍN, Mabel Blomquist. Dislexia:
cil compreensão. manual de leitura corretiva. Tradução de Ana
Não foi diferente com Júlia. Na escola se Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Mé-
deram as observações e se defi niram méto- dicas, 1989.
dos e estratégias para auxiliar Júlia no seu
processo de ensino-aprendizagem. PAMPLONA, Manuel Antônio Morais. Distúr-
São metodologias e estratégias utilizadas bios da aprendizagem: uma abordagem psi-
pela escola: copedagógica. 9. ed. 1989.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


• Tratar a aluna com naturalidade. Ela é SANTOS, Cacilda Cuba dos. Dislexia Espe-
como qualquer outra; apenas, disléxica. A úl- cífica de Evolução. Rio de Janeiro. Editora
tima coisa para a qual o diagnóstico deveria Sarvier, 1986.
contribuir seria para a sua discriminação.

• Usar linguagem direta, clara e objetiva


quando falar com ela. Muitos disléxicos têm
dificuldade para compreender uma lingua-
gem (muito) simbólica, sofisticada, meta-
fórica. Utilizar frases curtas e concisas ao
passar instruções.

• Falar olhando diretamente para a aluna.


Isso ajuda, e muito, enriquece e favorece a
comunicação.

• Colocar a aluna perto do quadro e da


mesa do professor. Tê-la próximo à mesa de
trabalho pode favorecer o diálogo, facilitar
o acompanhamento, facilitar a orientação,
criar e fortalecer novos vínculos.

• Verificar sempre e discretamente se ela de-


monstra estar entendendo a sua exposição,
se tem dúvidas a respeito do que está sendo
objeto da aula, se consegue entender o fun-
damento, a essência, do conhecimento que
está sendo tratado, se está acompanhando
o raciocínio e a explicação.

Segundo a professora, após as inter-


venções, Júlia demonstra um pouco mais
interessada na aula, mas ainda não houve
uma melhora significativa na aprendiza-
gem, pois o tratamento da dislexia é lento e
demorado.
Tanto a mãe quanto a professora acredi-
tam que pode haver ainda uma melhora no

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
ARTIGO 51
AUTORA:
Vanessa Barcelos Rodrigues

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

cimento da situação e para investigar o com-


Resumo portamento do aluno em casa.
Este artigo apresenta o estudo de caso de um aluno da rede Apenas a mãe do aluno comparecia à es-
REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

pública de ensino de Belo Horizonte com dificuldades de cola, seus pais eram divorciados e Bernardo
aprendizagem. Ele possuía dificuldades em acompanhar o morava com a mãe e mais um irmão de qua-
ritmo das aulas e dos demais alunos, sendo também extre- tro anos. A mãe alegou ser a única respon-
mamente inquieto e agitado. sável pelo sustento da casa, o ex-marido não
mantém, há quatro anos, vínculo com os fi-

A
aprendizagem e a construção do co- lhos e também não oferecia apoio fi nanceiro.
nhecimento são processos naturais Ela relatou que em casa Bernardo realmente
e espontâneos do ser humano que, apresentava muita dificuldade em cumprir
desde muito cedo, aprende a amar, falar, ordens, sendo também muito agitado. Por
andar, pensar, garantindo assim a sua outro lado, a mãe informou que ele é uma
sobrevivência. criança que tem facilidade para fazer ami-
Weiss (2006) afi rma: zades e é muito feliz. Estas últimas informa-
ções destoaram do que a professora relatou,
A aprendizagem normal dá-se de forma inte- quando disse que é uma criança triste e que
grada ao aluno (aprendente), no seu pensar, encontra dificuldades em estabelecer víncu-
sentir, falar e agir. Quando começam a apa- los de amizades, referindo-se até a um com-
recer “dissociações de campo” e sabe-se que portamento de rejeição por parte das outras
o sujeito não tem danos orgânicos, pode-se crianças.
pensar que estão se instalando dificuldades Pelegrini e Golfeto (2000) propõem uma
na aprendizagem: algo vai mal no pensar, classificação das dificuldades de aprendi-
na sua expressão, no agir sobre o mundo. zagem: a) as desordens especificamente es-
colares; b) as decorrentes do potencial inte-
Bernardo1 tem 10 anos e está repetindo lectual da criança; c) as decorrentes de um
a 3ª série do ensino fundamental. É aluno comprometimento da personalidade, ainda
da escola desde o início deste ano, quando em evolução, associado a um confl ito psíqui-
veio de uma outra escola da rede municipal co; d) as por razões sociais (falta de continui-
de ensino de Belo Horizonte. Observando-o, dade de ensino, mudanças de escola, troca
percebeu-se que é desatento, agitado e com de professores e classes numerosas); e e) as
grandes dificuldades em cumprir ordens. associadas a outros distúrbios (desatenção,
Segundo relatos da professora, ele é tam- hiperatividade e dificuldade de conduta).
bém impulsivo, agindo às vezes de maneira Em reunião com a mãe do aluno, a profes-
imprópria, não controlando sua irritação em sora e a coordenadora pedagógica da escola,
situações de confl itos. A professora procura- a mãe relatou que, desde bem pequeno, Ber-
va sempre desenvolver atividades diferentes nardo já apresentava muita agitação e era
para que ele tivesse mais concentração, mas desatento às ordens e regras. Por algumas
não obtinha sucesso. A família foi chamada vezes, já foi chamada pela direção das es-
por várias vezes à escola para tomar conhe- colas em que o fi lho estudou para reuniões
sobre o desenvolvimento e comportamento
1. Nome fictício, para preservar a identidade da crian-
dele. Ela informou ainda nunca ter feito
ça.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
Dificuldades de aprendizagem Vanessa Barcelos Rodrigues

acompanhamento médico ou psicológico do


fi lho. O principal motivo é a falta de recur-
sos fi nanceiros da família e a falta de tempo,
pois precisa trabalhar em horário integral
para manter o sustento da casa.
A coordenadora falou da importância de
conversas da mãe com o aluno, de momentos
a mais para que ela esteja mais próxima do
fi lho, dando a ele segurança e apoio necessá-
rios. Na realização dos deveres de casa, por
exemplo, é importante que ela esteja sempre
ao lado orientando-o nas dificuldades em
realizar as tarefas. Atitudes muitas vezes
simples e pequenas como conversar sobre
como foi o dia na escola ou contar histórias
antes de dormir fazem com que ele sinta
que tem alguém ao seu lado para apoiá-lo.

REVISTA ELETRÔNICA - “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS


O acompanhamento médico foi indicado
também pela coordenadora, é importante
saber se Bernardo tem algum comprometi-
mento cognitivo. Além do acompanhamento
psicológico, pois, de acordo com os relatos
da mãe, um dos motivos das dificuldades de
Bernardo pode ser a falta do pai.
Após as orientações da coordenadora
pedagógica, a mãe acompanhou Bernardo
em uma consulta com o psiquiatra e o psi-
cólogo. Felizmente ele não possui nenhum
comprometimento cognitivo, e suas sessões
com o psicólogo já estão trazendo resulta-
dos positivos para o seu desenvolvimento na
escola. A professora relatou que, apesar de
ainda apresentar algumas dificuldades em
acompanhar as aulas, já apresentou uma
significativa melhora no comportamento e
no relacionamento com os colegas de sala.
Este estudo de caso mostra a importân-
cia que a escola tem no desenvolvimento de
seus alunos, o vínculo que se deve estabe-
lecer com a família e que, muitas vezes, é
necessário buscar apoio externo com vistas
ao sucesso do educando.

REFERÊNCIAS:
PELEGRINI, R. M.; GOLFETO, J. H. Problemas
de Aprendizagem com Enfoque em Psiquia-
tria Infantil. In: Problemas de Aprendiza-
gem – Enfoque Multidisciplinar. Campinas:
Alínea; 2000.

WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia Clí-


nica: Uma visão diagnostica dos problemas
de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: Edi-
tora DP&A. 10. edição, 2004.

196
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 1-197, jan./jul. 2009 - Semestral
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* Foram adicionados ao documento a formatação: hifenização, opções de separação, alinhamento à grade de linha de base e
em algumas colunas foram justificados todas as linhas.

Formatação do Papel:

Tamanho da página: A5
Dimensões do papel: 209,903 mm x 297,039 mm
Orientação: Vertical

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