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Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou à

automutilação
ARTIGO 122:Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou
a praticar ART automutilação ou prestar--lhe auxílio
material para que o faça:
Pena — reclusão, de 6 meses a 2 anos

1. Conceito – suicídio é a deliberada destruição da


própria vida. A lei brasileira não pune o suicídio
quando mal sucedido, mas o comportamento de
quem induz, instiga ou auxilia outrem a suicidar-se
ou automutilaçao.

A participação em automutilação foi inserida no


art. 122 do Código Penal pela Lei n. 13.968, de 26
de dezembro de 2019.

Induzimento – é dar a ideia, sugerindo que a pessoa tire


a própria vida.

Instigação – é reforçar, estimular ou encorajar uma ideia


suicida já existente.

Auxílio – é a prestação de ajuda material, que tem


caráter meramente secundário (ex.: empréstimo da
arma, da corda, indicação de local apropriado etc.).
Automutilação:

2. ART 122, § 1º — Se da automutilação ou da tentativa de


suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste
Código Penal:
Pena — reclusão, de 1 a 3 anos.

3.Objetividade jurídica
A preservação da vida humana extrauterina (quando
o resultado visado for o suicídio de outrem) e da
integridade física (quando visada a automutilação). Trata-
se de crime simples.

4.Tipo objetivo
Para que haja legalmente um suicídio que possa dar
origem ao crime em análise, não é suficiente que alguém
tire a própria vida.

5.CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

Art. 122, § 3º — A pena é duplicada:


I — se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou
fútil.
II — se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer
causa, a capacidade de resistência.
§ 4º — A pena é aumentada até o dobro se a conduta é
realizada por meio da rede de computadores, de rede
social ou transmitida em tempo real.

§ 5º —Aumenta-se a pena em metade se o agente é


líder ou coordenador de grupo ou de rede social

6.AÇAO PENAL PUBLICA INCONDICIONADA

Roleta-russa em grupo

Quando duas ou mais pessoas fazem roleta-russa em


grupo, estimulando-se mutuamente a apertar o gatilho de
uma arma voltada contra o próprio corpo, os sobreviventes
respondem pelo crime de participação em suicídio.

Pacto de morte

Se duas pessoas fazem um pacto no sentido de


cometerem suicídio no mesmo momento e uma delas se
mata, mas a outra desiste, a sobrevivente responde pelo
crime do art. 122.
Assim, se os dois correm em direção a um precipício,
um pula e o outro não, este responde pelo delito em
análise, ainda que se prove que ele enganou a vítima
porque nunca pretendeu se matar. Com efeito, tendo a
vítima, conscientemente, realizado um ato suicida, não há
como acusar o outro por homicídio.
A mesma solução deverá ser aplicada se ambas
realizarem o ato suicida, mas uma delas sobreviver.
Caso ambas sobrevivam, mas uma sofra lesão grave,
e a outra lesão leve, teremos as seguintes soluções: a)
quem sofreu lesão leve responde pelo crime qualificado
do § 1º por ter estimulado ato
suicida que gerou lesão grave; b) a pessoa que sofreu a
lesão grave responde pelo crime simples por ter
estimulado alguém a realizar ato suicida com resultado
lesão leve.

Pacto de morte em que um dos


envolvidos
fica incumbido de matar a outra pessoa e depois se
matar

Suponha-se que duas pessoas concordem em morrer


na mesma oportunidade e fica decidido que A irá atirar em
B e depois em si mesma. Em tal hipótese, se apenas B
sobrevive, este responde por participação em suicídio. Se
o resultado for o inverso (morte de B), a sobrevivente (A),
autora dos disparos, responde por homicídio. Caso, ainda,
ambas sobrevivam, A responderá por tentativa de
homicídio e B pelo crime do art. 122, em sua forma simples
se A tiver sofrido lesão leve, ou qualificada se tiver sofrido
lesão grave.

– DO INFANTICIDIO
INFANTICIDIO (ART. 123 CP)
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o
parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento.

Conceito – é quando a mãe, durante ou logo após o parto, mata o próprio filho,
sob a influência do estado puerperal.

Estado puerperal - Puerpério tem origem do latim e


condiz na junção dos termos, puer (criança) e parere
(parir). É o período compreendido entre o fim do parto
e a volta do organismo materno pré-gravidez. O
puerpério pode durar até oito semanas após o início
dos trabalhos de parto, segundo alguns
doutrinadores. O abalo para efeito da lei, deve-se
considerar o período do início do parto até o
restabelecimento da mulher às condições que
possuía pré-parto.o abalo da dor física, e a emoção
do fenômeno obstétrico podem levar a mulher a sofrer
um colapso do senso moral e provocar a liberação de
impulsos maldosos, levando matar o próprio filho. E
caso leve à insanidade mental, aplica-se o art. 26 do
CP.

Concurso de agentes – por tratar-se de crime próprio


(deve ser praticado pela mãe, mas permite concurso
de pessoas), sendo entendimento pacífico na doutrina
e jurisprudência de que o coautor ou participe do
crime de infanticio responde pela pena deste, tendo
em vista que a expressão estado puerperal é
elementar do tipo e, por força do art. 30 do CP,
comunicável.

Diferença entre infanticídio e aborto - preceitua o


art. 123 do CP, que o infanticídio pode ser praticado
durante o parto ou logo após. Nesse último caso a
distinção com o aborto é nítida: a criança nasceu com
vida e encerrou- se o trabalho de parto. A dúvida
reside na situação em que o infanticídio é praticado
durante o parto, pois é nessa hipótese que se exige
cuidado na identificação do momento preciso em que
o feto passa a ser tratado como nascente. É preciso
saber quando tem início o parto, pois o fato classifica
como aborto (antes do parto) ou infanticídio (durante
o parto) dependendo do momento da prática
delituosa.

O parto tem início com a dilatação, instante em


que se evidenciam as características das dores e da
dilatação do colo do útero. Em seguida, passa- se à
expulsão, na qual o nascente é impelido para fora do
útero. Finalmente, há a expulsão da placenta, e o
parto está terminado. A morte do ofendido, em
qualquer dessas fases tipifica o crime de infanticídio.
Daí falar, com razão, que “o infanticídio é a
destruição de uma pessoa e o aborto é a destruição
de uma esperança”. Diferença entre infanticídio e
aborto. Retirado do site (www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php/?).

DO ABORTO
ABORTO (ARTS. 124 A 128 CP).
Aborto provocado pela gestante ou com seu
consentimento.
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir
que outrem lho provoque: Pena - detenção, de 1 (um)
a 3 (três) anos.
Conceito – é a interrupção provocada do processo de
gravidez, com consequente destruição do produto da
concepção, ou seja, do ovo, quando o produto da
concepção tem até 3 semanas, do embrião quando o
produto da concepção tem de 3 semanas a 3 meses,
ou do feto, quando o produto da concepção tem mais
de 3 meses. Não há necessidade da expulsão do
produto da concepção para caracterizar o aborto.

Formas de aborto:

a) Autoaborto (art. 124 CP) – é o aborto praticado pela


própria gestante.

b) Aborto consentido (art. 124, CP) – ocorre quando


a gestante consente na prática do aborto
realizada por terceiro.

c) Aborto provocado por terceiro, sem


consentimento da gestante (art. 125 CP) - é
realizada contra a vontade da gestante, o
dissentimento pode ser real mediante violência,
fraude, grave ameaça ou presumido vítima
menor de 14 anos de idade ou débil mental.

d) Aborto provocado por terceiro, com o


consentimento da gestante (art. 126 CP) – nesse
caso é necessário que a gestante tenha
capacidade para consentir; essa capacidade não
é a do direito civil, e deve ser real, não tendo
valor o consentimento obtido mediante fraude,
violência ou grave ameaça, debilidade mental da
gestante ou quando menor de 14 anos.

Aumento de pena (forma qualificada – crimes


preterdolosos Art. 127) - se consequência do aborto
ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante
vier a sofrer lesão corporal de natureza grave, (nas
hipóteses dos arts. 125 e 126, CP) A pena será
aumentada de um terço. Se, qualquer dessas causas,
lhe sobrevém a morte a pena será duplicadas. O
aumento não se aplica ao art. 124

Hipóteses de aborto legal - Encontram-se descritas


no art. 128 CP, que define as hipóteses de aborto
legal, ou seja, aquele que poderá ser praticado por
médico, auxiliado por sua equipe médica. Assim, a
enfermeira também não será punida, visto que a
norma penal é extensiva a ela neste caso. Vejamos as
duas hipóteses
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Considerado como aborto necessário (ou
terapêutico) é aquele realizado pelo médico quando a
gestante correr perigo de vida, não havendo outro
meio de salvá-la; sendo iminente o perigo, é
dispensável a concordância da gestante.
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.
Denominado de aborto sentimental, humanitário
ou ético, é aquele realizado por médico, em caso de
gravidez resultante de estupro ou de tentado violento
ao pudor (quando não ocorre a introdução do pênis na
vagina, mas outros atos capazes de gerarem a
gravidez). , pela aplicação da analogia em bonam
partem não necessitando de ordem judicial, mas o
médico deverá relatar o ocorrido e enviar ao CFM.

Aborto em caso de anencefalia


O Plenário do Supremo Tribunal Federal, em abril de
2012, julgou procedente a Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental n. 54, ajuizada pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde
(CNTS), a fim de declarar a constitucionalidade da
interrupção da gravidez nos casos de gestação de feto
anencéfalo. Tal conduta, portanto, foi considerada atípica
e independe de autorização judicial, bastando a
concordância da gestante. A anencefalia consiste na
malformação do tubo neural, a caracterizar-se pela
ausência parcial do encéfalo e do crânio, resultante de
defeito no fechamento do tubo neural durante o
desenvolvimento embrionário.
Ressalvou o STF no julgamento que o “anencéfalo,
assim como o morto cerebral, não deteria atividade
cortical, de modo que se mostraria deficiente de forma
grave no plano neurológico, dado que lhe faltariam não
somente os fenômenos da vida psíquica, mas também a
sensibilidade, a mobilidade, a integração de quase todas
as funções corpóreas. Portanto, o feto anencefálico não
desfrutaria de nenhuma função superior do sistema
nervoso central ‘responsável pela consciência, cognição,
vida relacional, comunicação, afetividade e emotividade’.
(...) essa malformação seria doença congênita letal, pois
não haveria possibilidade de desenvolvimento de massa
encefálica em momento posterior, pelo que inexistiria,
diante desse diagnóstico, presunção de vida extrauterina,
até porque seria consenso na medicina que o falecimento
diagnosticar-se-ia pela morte cerebral”.

Aborto eugenésico
Aborto eugênico ou eugenésico é aquele realizado
quando os exames pré-natais demonstram que o filho
nascerá com alguma anomalia como Síndrome de Down,
ausência congênita de algum membro etc. A sua
realização, por falta de amparo legal que lhe dê suporte,
constitui crime.
Aborto consentido no primeiro trimestre da
gestação

Em 29 de novembro de 2016, a 1ª Turma do STF, ao


julgar o HC 124.306/RJ, cujo relator para acórdão foi o
Min. Luís Roberto Barroso, concedeu a ordem para
manter a liberdade dos réus, utilizando na fundamentação
da decisão o argumento de que a Constituição de 1988
não recepcionou os crimes de aborto consentido (arts. 124
e 126 do CP), desde que realizado no primeiro trimestre
da gestação. Argumentou o Relator que a criminalização
é incompatível com os seguintes direitos fundamentais: os
direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que não pode
ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação
indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o
direito de fazer suas escolhas existenciais; a integridade
física e psíquica da gestante, que é quem sofre, no seu
corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a
igualdade da mulher, já que homens não engravidam e,
portanto, a equiparação plena de gênero depende de se
respeitar a vontade da mulher nessa matéria. Aduziu,
ainda, que a punição ofenderia o princípio da
proporcionalidade.
Ressalve-se, entretanto, que não é possível afirmar,
no presente momento, que a Corte Suprema permitiu o
aborto no primeiro trimestre da gravidez.

Em primeiro lugar porque a 1ª Turma limitou-se a


utilizar os fundamentos acima mencionados para não
decretar a prisão dos réus, não determinando o
trancamento da ação penal por atipicidade.
Em segundo lugar, porque a decisão não foi proferida
pelo Plenário do STF (mas por maioria de votos dos
integrantes da 1ª Turma), não tendo, assim, caráter
vinculante.

Das Lesões Corporais – art 129, CP.

Conceito É a ofensa humana direcionada à integridade


corporal ou a saúde de outra pessoa. A lesão corporal é
definido como ofensa a integridade corporal ou saúde de
outrem. Isto é como, todo e qualquer dano ocasionado à
normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de
vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental.

Depende da produção de algum dano a vitima, interno ou


externo, englobando qualquer alteração prejudicial a sua
saúde, inclusive, problemas psíquicos.

Caput do art 129, CP:

Núcleo: ofender: ( offendere, latim) –fazer mal à alguém,


lesar, ferir, atacar etc.
Pode ser praticado por ação ou, excepcionalmente, por
omissão, quando presente o dever de agir para evitar o
resultado, nos termos do art 13, parágrafo 2º, CP ( ex: mãe
que deixa o filho de pouca idade sozinho na cama desejando
que ele se machuque em decorrência da queda).

Nesse sentido: “ lesão corporal não é apenas a ofensa a


integridade corpórea, mas também a saúde. Portanto, tanto é
lesão a desordem das funções fisiológicas como as das
funções psíquicas, como é o caso da vitima que desmais em
virtude que desmaia em virtude de forte tensão emocional,
produzida pela agressão do réu.”
Não se confunde, o animus laedendi ou anumus nocendi
( que é a vontade de lesionar, configuradora do crime de lesão
corporal), com o animus necandi ( que é a vontade de matar,
caracterizadora do delito de homicídio).

 Não se exige o emprego de meio violento: o crime


pode ser cometido por meio de grave ameaça ( exemplo:
promessa de morte que provoca perturbações mentais a
vitima)
 Não é necessário que a vitima seja portadora de
saúde mental perfeita, o crime consiste em prejudicar tanto
uma pessoa plenamente saudável, como agravar problemas
de saúde de quem já se encontrava enfermo.
 Exemplos de ofensa a integridade física (
modificação anatômica prejudicial do corpo humano), fraturas,
luxações, queimaduras, equimose ( roxidão resultante do
rompimento de pequenos vasos sanguineos) hematomas (
esquimose com inchaço), constituem lesões corporais, ao
contrario dos eritemas ( vermelhidão decorrente de bofetadas),
que não ingressam no conceito do delito.

 A ofensa a saúde, corresponde a perturbações


fisiológicas ou mentais. Perturbação fisiológica ( é o
desarranjo no funcionamento de algum órgão do corpo
humano, exemplo, vômitos, paralisia momentânea;
perturbação mental, é a alteração prejudicial da atividade
cerebral, exemplo, convulsão, depressão.
1.1. Objetividade jurídica

Tutela-se a incolumidade física em sentido amplo: a


integridade corporal e a saúde da pessoa humana.
1.2. Objeto material
É a pessoa humana que suporta a conduta criminosa.
1.3. Sujeito ativo
Trata-se de crime comum, pode ser praticado por qualquer
pessoa.
Sujeito passivo, qualquer pessoa, em alguns casos o tipo
penal exige uma situação diferenciada em relação a vitima, é
o que ocorre com lesão corporal grave ou gravíssima em que
a vitima deve ser mulher grávida para possibilitar a aceleração
do parto ou o aborto ( art 129, parágrafos, 1º, inciso, IV e
parágrafo 2º, inciso v), e também, na lesão qualificada pela
violência domestica.
1.4. Elemento subjetivo
É o dolo, direto ou eventual( caput, parágrafo 1º, 2º, 9º. Há
também culpa no parágrafo 6º, e preterdoloso ( no parágrafo
3º).
1.5. Consumação Trata-se de crime de dano, somente
se consuma com a efetiva lesão a integridade corporal ou a
saúde da vitima.
A tentativa, é admissível em todas as modalidades da lesão
corporal dolosa, incabível, na lesão corporal culposa e
preterdolosa.

2. Lesão corporal dolosa


Subdivide-se em lesão corporal leve, grave, gravíssima e
seguida de morte.

2.1. Lesão corporal leve ( art 129, caput, CP)


Prevê a modalidade dolosa leve, assim
chamada doutrinariamente para diferenciá-la
da figuras qualificadas e da culposa.
De fato, não há definição especifica do que seja lesão
corporal leve, ingressa-se nesse conceito toda lesão que não
seja grave, gravíssima ou praticada com violência domestica e
familiar contra a mulher.

2.2. Lesão corporal de natureza grave- art 129,


parágrafo 1, CP.
 Crimes preterdolosos- a lesão corporal é punida a
titulo de dolo e o resultado a titulo de culpa.

a) Inciso I- incapacidade para as ocupações


habituais por mais de 30 dias :
 “ ocupação habitual” compreende qualquer atividade
física ou mental, do cotidiano da vitima ( andar, tomar banho,
ler jornal, praticar esportes etc), e não apenas seu trabalho;

 É necessário tratar-se de ocupação concreta, pouco


importando se lucrativa ou não;

 Irrelevante a idade da vitima, ( pode ser uma pessoa


idosa) como uma criança;
 Atividade deve ser licita, pouco importando se moral
ou imoral.
 A incapacitação é objetiva , e não subjetiva ( deixar
de trabalhar por vergonha de estar mancando)

 De acordo com art 168, parágrafo 2º, do CPP, são


exigidos dois exames periciais: um realizado logo após o crime
( exame inicial ) e outro complementar, efetuado logo que
decorra o prazo de 30 dias contado da data do crime ( art 10
CP), que serve para comprovar a duração da incapacidade
ocupacional. O exame complementar pode ser suprido por
prova testemunhal ( art 168, parágrafo 3º do CPP);

 Trata-se de crime de prazo, pois, somente, se verifica


depois do decurso do prazo estabelecido em lei.
b) Inciso II- perigo de vida –
 É a possibilidade grave e imediata de morte, deve ser
perigo efetivo, concreto, comprovado por pericia medica,
devendo o legista especificar exatamente em que constituiu o
perigo sofrido.

 A falta da classificação do perigo pode gerar a


desclassificação para lesão corporal leve, descrita no caput;

 O perigo deve decorrer da gravidade das lesões, e


não daquele que decorre do fato em si.
c) Inciso III- debilidade permanente de membro,
sentido ou função

 Debilidade, sinônimo de redução ou


enfraquecimento na capacidade de utilização do membro,
sentido ou função, que todavia, mantém em parte a sua
capacidade funcional.
 Se houver perda ou inutilização do membro, sentido
ou função, a lesão será considerada gravíssima.

 Membros, são braços e pernas: “ a perda de parte


de um dedo –amputação do segundo dedo da Mao direita,
entre a falange e a falanginha –caracteriza a qualificadora do
inciso III do parágrafo 1º, do art 129. ( TJTS – Rel. Gilberto
Correa); A perda de um dedo da Mao não caracteriza perda ou
inutilização do membro, sentido ou função. A jurisprudência
tem-se inclinado no sentido de mesmo que a perda de um
olho, de uma orelha, de um rim, etc, mantido o outro órgão
integro, não abolido a função, constitui lesão grave e não
gravíssima ( TJSP- Rel. Angelo Galluci )
 Sentidos, são os mecanismo sensorais por meio dos
quais percebemos o mundo exterior. São tato, olfato, paladar,
visão e audição. Configuram lesões graves se a vitima
continua a enxergar, ouvir, com redução de 20% a 30%, na
respectiva capacidade. Observar prevalecimento dos
entendimentos acima.
 Funções, dizem respeito ao funcionamento de um
sistema ou aparelho do corpo humano. Função reprodutora,
mastigatória, respiratória etc;

d) Inciso IV- aceleração do parto

 É a antecipação do parto ou, parto prematuro, que


ocorre com o nascimento do feto antes do prazo normal
estipulado pela medicina, em decorrência de lesão corporal
produzida na gestante.

 Exige-se conhecimento do sujeito ativo da gravidez


da vitima; se o agente ignorava a gravidez responde por lesão
corporal leve, afastando-se a responsabilidade penal objetiva.

 Se em conseqüência da lesão corporal o feto for


expulso morto do ventre materno, o crime será de lesão
corporal gravíssima em razão do aborto ( art 129, parágrafo 2º
, inciso V do CP).

2.3. Lesões corporais gravíssima, art 129, parágrafo


2º do CP.
Prevalece o entendimento de que a lesão corporal
gravíssima constitui-se em crime qualificado pelo resultado,
sendo crimes preterdolosos.

Denominação aceita de forma unanime pela doutrina e


jurisprudência de forma a diferenciar esta qualificadora do
parágrafo 1º, do art 129, CP.

Se o exame de corpo de delito, indicar ter o ofendido


suportado, como decorrência de uma mesma conduta
criminosa, uma lesão corporal grave e uma lesão corporal
gravíssima, o sujeito responderá somente pelo crime mais
grave. ( lesão corporal gravíssima).
a) Inciso I- incapacidade permanente para o
trabalho

 Incapacidade permanente, compreende toda e


qualquer incapacidade longa e duradoura, isto é, que não
permite fixar seu limite temporal.

 A expressão para o trabalho, relaciona-se a


atividade remunerada exercida pela vitima;

 Prevalece o entendimento, de que deve tratar-se de


capacidade genérica para o trabalho, isto é, que a vitima fique
impossibilitada de exercer qualquer atividade laborativa. Deve
ser adotado certa cautela:

Exemplificamente, não há que se falar em qualificadora


quando a vitima cirurgião cardíaco, não pode desempenhar
essa atividade, mas pode desempenhar a de clinico geral. Mas
pode-se falar na qualificadora quando a vitima somente puder
trabalhar como faxineiro.

Luiz Regis Prado “ registre-se que a diretriz predominante


é no sentido de não se limitar a incapacidade permanente
a função especifica desempenhada pela vitima....visto que
sempre que possível, em tese, que o sujeito passivo se
dedique a atividade diversa daquela que exercia. Daí a
conveniência de se ampliar o âmbito de aplicação da
qualificadora, para que compreenda também a incapacidade
parcial ou relativa, concernente ao trabalho especifico a que
se dedicava a vitima.”
Essa é a posição mais adequada, basta para a aplicação da
qualificadora, a incapacidade parcial ou relativa, pois, qualquer
pessoa, salvo em casos excepcionais, pode exercer algum tipo
de trabalho. A regra geral existe e deve ser aplicada quando
presente a circunstancia que justifique a sua utilização.

b) Inciso II- enfermidade incurável


 Enfermidade incurável, é alteração prejudicial da
saúde por processo psicológico, físico ou psíquico, que não
pode ser combatida pela medicina a época do crime. Deve ser
provada por exame pericial.

 Também é considerada incurável, a enfermidade


que somente pode ser enfrentada por procedimento cirúrgico
complexo ou mediante tratamento experimentais ou penosos,
pois, a vitima não pode ser obrigada a enfrentar tais situações.
 Não se aplica a qualificadora para cirurgias simples
para solucionar o problema;

c. Inciso III- perda ou inutilização de membro, sentido ou


função :

Perda , é a privação ou destruição do membro ( exemplo:


arrancar uma perna), Sentido ( destruição dos tímpanos com
a eliminação da audição) ou Função ( exemplo: extirpação do
pênis que extingue a função reprodutora).

 A perda pode concretizar-se da mutilação ( do


membro, sentido ou função é eliminado diretamente pela
conduta criminosa) e na amputação ( resulta da intervenção
cirúrgica realizada pela necessidade de salvar a vida da
vitima). Em qualquer hipótese será lesão corporal gravíssima.

 Ressalte-se que a perda de parte do movimento do


membro caracteriza lesão grave pela debilidade; ao passo que
a perda total pode caracterizar-se lesão corporal gravíssima.

 Na hipótese de órgão duplos ( rins, olhos etc) a


afetação de apenas um dos órgãos tipifica lesão corporal leve
pela debilidade de sentido ou função. Haverá lesão corporal
gravíssimo quando os dois órgão são afetados, caracterizando
perda ou inutilização;

 A correção corporal da vitima por meios de próteses


não afasta a qualificadora ao contrario do reimplante realizado
com êxito.

D. Inciso IV- deformidade permanente

 Deformar, é alterar a forma de algo. Consiste no


dano duradouro de alguma parte do corpo da vitima, que não
pode ser retificado por si próprio ao longo do tempo.

 Doutrina e jurisprudência majoritária, entendem


que essa qualificadora é intimamente ligada a questão
estética. Logo precisa ser visível, mas não necessariamente
na face ( pernas e braços por exemplo) e capaz de causar
impressão vexatórias., exemplos, queimaduras no rosto,
retirada de uma orelha.

 A deformidade permanente deve ser atestada por


exame de corpo e delito,
acompanhado de provas para o julgador analisar a
deformidade.

e) Inciso V- aborto
 Crimes preterdoloso
 Se a morte foi proposital o sujeito deve responder por
dois crimes ( lesão corporal em concurso formal com aborto
sem consentimento da gestante art 125 CP).

 É obrigatório o conhecimento da gravidez, se o


agente ignorava a gravidez da ofendida, a hipótese é de erro
de tipo com exclusão do dolo e consequentemente, da
qualificadora.

3. Lesão corporal seguida de morte art 129,


parágrafo 3º, do CP.
 São crimes eminentemente preterdoloso.

4. Lesão corporal dolosa privilegiada: causa de


diminuição de pena ( art 129, parágrafo 4º, do CP).
§ 4º. Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

 Essa causa de diminuição de pena aplica-se


unicamente no tocante as lesões corporais dolosas qualquer
que seja a modalidade: leve, grave , gravíssima ou seguida de
morte.

 Não aplica-se a modalidade culposa

 - Quando reconhecer preenchidas as condições o


juiz “deve reduzir”, apesar do termo “pode” da norma, pois
resulta em direito subjetivo do réu. Idem quanto ao § 5°, nos
casos de substituição da pena de detenção pela Multa.
 - “A verificação da relevância (importância), do valor
moral (interesse individual) ou social (interesse da
comunidade), é objetiva e segue os princípios éticos
dominantes (moralidade média), não os critérios pessoais do
agente. Sobrevive o privilégio ainda que o motivo tenha sido
erroneamente suposto pelo agente (Fragoso).” – Führer.

 - Para a violenta emoção logo em seguida a injusta


provocação, devem concorrer simultaneamente três fatores: a)
emoção violenta e arrebatadora; b) reação sem intervalo; c)
provocação infundada por parte da vítima.

5. Lesões corporais leves e substituição da pena: art


129, parágrafo 5º, CP.
a) No caso do parágrafo anterior ( parágrafo 5º, inciso I)
– o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3 ( lesão corporal leve)
ou substituí-la por pena de multa;

b) Lesões corporais recíprocas- parágrafo 5º, inciso


II-
Ocorre quando duas pessoas injustamente se agridem. O
agressor ataca a vitima e simultaneamente por ela é agredido.
6– Lesão corporal culposa: § 6º. Se a lesão é culposa:
Pena – detenção, de dois meses a um ano.

 Cabem: a conciliação, transação penal e suspensão


condicional do processo, sendo a ação penal pública
condicionada (TCO) conforme os artigos: 72 a 74, 76, 89 e 88,
respectivamente, da Lei 9099/95. Inexiste qualificação nem
tentativa em delito culposo. Sendo na direção de veículo
automotor (art.303 – Lei 9.503/97 CTB) mais gravoso,
(“detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir
veículo automotor”, ficando paradoxalmente a pena mais
suave para lesões de trânsito leves dolosas que
permaneceram tratadas pelo C.P. (3 meses a 1 ano).
 Ex.:Negligência médica. Na guarda de animal bravo,
uso de produto tóxico,etc Execução de serviço de alta
periculosidade contrariando determinação de autoridade
competente (Lei 8.078/90-CDC - art.65 parágrafo único).

7. Causas de aumento da pena na lesão corporal


culposa - § 7º. Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer
qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º. –
I – inobservância de regra técnica de profissão, arte ou

ofício; II – omissão de socorro;

III – não procurar diminuir as conseqüências do ato;

IV – fuga para evitar prisão em fragrante. Se a lesão é


dolosa ou preterdolosa a pena é aumentada de um terço se a
vítima era menor de 14 anos na data da conduta e mesmo que
o resultado tenha se manifestado posteriormente.

8. Perdão judicial - § 8º. Aplica-se à lesão culposa o


disposto no § 5º do art.
121.
É aplicável nos casos dos §§ 6º e 7º CP (lesão corporal
culposa). Causa de extinção da punibilidade de acordo com o
artigo 107, IX, C.Penal.

9. Violência domestica familiar - art. 129, § 9º,


CP.
Trata-se de qualificadora de lesão corporal dolosa de
natureza leve ( art 129, caput), cuja pena passa a ser de 3
meses a 3 anos de detenção . tutela a harmônia no âmbito
familiar.

§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente,


descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade.

Se além das hipóteses do paragrafo 9º, a vitima ( homem


ou mulher) for portadora de deficiência, incidirá no aumento de
pena de 1/3. ( § 11).

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as


circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-
se a pena em 1/3 (um terço).
Se as circunstancias for as mesmas previstas no §9º, ,
aumenta-se a pena de 1/3 de lesão corporal de natureza grave
( §§1° e 2º) e seguida de morte ( §3º).

10. Lesão corporal contra autoridade ou agente da


segurança publica ( §12)

11. Ação penal –

Em regra será de ação penal publica incondicionada.

Exceção- lesão corporal dolosa de natureza leve art 129


caput e culposa §6º, ação penal publica condicionada a
representação .

Em caso de violência familiar:


a) Vitima homem- APPC §§ 9° e 11 , apesar de não
mais potencial ofensivo permanecem de natureza leve;
será APPI, se estivermos diante do § 10( lesão grave
ou seguida de morte)

b) Tratando-se de vitima mulher de acordo com


decisão do STF, ação penal será publica
incondicionada. Na esteira o STJ editou sumula 542.

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