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Geotécnica

Material Teórico
Identificação e Classificação dos Solos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Francieli Sant’ana Marcatto

Revisão Textual:
Jaquelina Kutsunugi
Identificação e Classificação dos Solos

• Classificação e identificação dos solos;


• Materiais constituintes dos solos.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer as formas de identificação e classificação dos solos;
• Aprender as principais características dos materiais constituintes dos solos e como
eles se comportam.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
Unidade Identificação e Classificação dos Solos

Identificação e Classificação dos Solos


A identificação e classificação dos solos são fundamentais para a implantação
de obras de engenharia diante da diversidade de solos e dos seus distintos com-
portamentos. A identificação é realizada em campo, com a observação qualitativa
de algumas características dos solos, como a sua fração grossa e fina, permitindo
conhecer algumas propriedades gerais facilmente identificáveis.

A classificação parte do enquadramento dos solos em um sistema de classifica-


ção, que leve em consideração os seus parâmetros quantificáveis, que torna possí-
vel conhecer o comportamento dos solos em condições diversas. Busca-se, então,
enquadrar os solos com características semelhantes em agrupamentos para antever
o seu comportamento.

Os solos podem ser classificados de diversas formas, como pudemos verificar


nas unidades anteriores: na Unidade 1, classificação em relação a sua origem; na
Unidade 2, classificamos os solos em relação ao tamanho dos seus constituintes
e, na Unidade 3, conhecemos os limites de consistência dos solos, que são pa-
râmetros essenciais para os Sistemas de Classificação de Solos. Nesta Unidade,
conheceremos algumas técnicas para a identificação dos solos em campo, e serão
apresentadas outras propriedades dos solos, fundamentais para o entendimento da
complexidade do seu comportamento, como a mineralogia da fração grossa e fina,
e a sua estrutura.

Na Unidade 5, serão discutidos os principais Sistemas de Classificação de Solos,


utilizados mundialmente para agrupar solos com características geotécnicas seme-
lhantes.

Identificação dos solos em campo


A identificação do solo em campo parte de um exame tátil visual, que objetiva
reconhecer algumas informações qualitativas do material. O reconhecimento é fei-
to pelo manuseio do material e pela aplicação de algumas técnicas simples de cam-
po, como a observação do tamanho das partículas, a plasticidade e a identificação
da cor do material.

Para conhecer a textura do solo, deve-se manusear uma amostra entre os dedos.
O pedregulho é facilmente identificável devido ao seu diâmetro, mas a areia pode
ser sentida pelo tato, quando úmida, em razão do aspecto áspero de que o material
é atribuído.

Definido se o material é um solo grosso ou fino, é possível estimar se os finos


apresentam características de silte ou argila. Pinto (2006) apresenta alguns proce-
dimentos que podem ser seguidos para a identificação das partículas finas, como
a resistência a seco, em que uma pelota de material úmido é moldada, deixando-a
secar ao ar. Se a pelota ficar muito dura e se quebrar em pedaços distintos, possui

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comportamento de argila, se for menos resistente e se pulverizar quando quebrada,
o comportamento é de silte. A ductilidade também é diferente entre os dois ma-
teriais finos. Assim, ao tentar moldar o solo com as mãos em estado próximo ao
limite de plasticidade, as argilas terão comportamento mais resistente, comparado
aos siltes.

Pode-se observar também a facilidade com que um material se desmancha na


presença de água. Os solos argilosos se desmancham mais lentamente do que os
solos siltosos. Caso o solo seja orgânico, a identificação é facilitada pela cor e pelo
odor, que são característicos desse material.

Assim, na identificação em campo deve-se anotar o maior número possível de


informações sobre o solo, como a sua cor, o material de origem, a classificação
genética (solo residual ou transportado), a presença de matéria orgânica e todas
as informações que forem pertinentes para o entendimento do comportamento
do solo e a posterior determinação de características quantitativas desse material,
como os índices físicos, a classificação granulométrica e a plasticidade.

Você Sabia? Importante!

Na Pedologia, ciência que estuda a origem, formação e a classificação dos solos, existe
manuais de classificação dos solos em campo. Esses manuais caracterizam cada camada
(horizonte) do solo até a profundidade de interesse, nomeando os diferentes horizontes
e determinando a sua cor, textura, estrutura dos agregados, porosidade visível, consis-
tência (quando o material está seco, úmido e molhado) e transição entre as camadas.
São levantadas também informações adicionais sobre o local de coleta, o material de
origem, a presença de processos erosivos ou outros tipos de feições superficiais, que
possam auxiliar no entendimento sobre a gênese e transformação dos solos..

Materiais Constituintes e Outras


Importantes Propriedades dos Solos
Os solos são constituídos por partículas de origem e tamanho diversos. Essas
partículas são formadas por fragmentos de rochas e minerais primários ou se-
cundários, que apresentam características distintas de acordo com o material de
origem, o tipo de intemperismo atuante e o modelo de pedogênese que atuou na
transformação desses solos (LEPSCH, 2011).

Em relação ao tamanho das partículas, os solos podem ser classificados em


solos grossos, quando compostos por pedregulho e areia ou solos finos, quando
predomina o silte e a argila. O pedregulho, a areia, o silte e a argila, são os prin-
cipais materiais constituintes dos solos, e diferem um do outro em relação ao seu
tamanho, arranjo estrutural e comportamento.

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Unidade Identificação e Classificação dos Solos

O pedregulho é formado por partículas minerais ou fragmentos de rochas e


possui tamanho superior a 2,0 mm, conforme a ABNT. Pode ser caracterizado em
relação a sua textura, compacidade e forma dos grãos.
1. A areia é composta por grãos minerais com tamanho entre 0,06 mm e
2 mm. É um material sem coesão e plasticidade, e, assim como o pedre-
gulho, caracteriza-se pela sua textura, compacidade e forma dos grãos.
Possui diferentes classes de textura, classificadas, conforme a NBR 6502
(ABNT, 1995) em:
• areia fina: grãos com diâmetro entre 0,06 e 0,2 mm;
• areia média: grãos com diâmetro entre 0,2 e 0,6 mm;
• areia grossa: grãos com diâmetro entre 0,6 e 2,0 mm

Já o silte é formado por partículas com diâmetros entre 0,002 mm e 0,006 mm


e se caracteriza por apresentar reduzida plasticidade e baixa resistência quando
seco ao ar.

As argilas são as partículas de menor dimensão presente nos solos (<0,002


mm) e se caracterizam por apresentarem plasticidade dentro de um intervalo de
umidade e coesão.

Constituição mineralógica dos solos


Como vimos na Unidade 1, os solos são formados pela atuação de processos
físicos e químicos que desagregam as rochas e dão origem aos solos. Os solos for-
mados terão características que dependerão da composição da rocha que lhe deu
origem e da atuação dos fatores de formação do solo, como o clima.

Serão constituídos por minerais primários ou secundários. Os primários são


aqueles que não foram alterados pelo intemperismo e são resquícios do material
de origem, e os secundários foram modificados e deram origem a novos minerais,
como os argilominerais.

As partículas maiores dos solos, como os pedregulhos e as areias, são formadas


pela agregação de um único mineral, situação mais comum, ou pela agregação de
minerais distintos. Em geral, apresentam em sua composição os minerais do gru-
po dos silicatos, como o quartzo, o feldspato e a mica, mas em menor ocorrência
também verifica-se outros grupos de minerais, como os carbonatos e os óxidos.

Entre os minerais mais resistentes e comuns de serem encontrados devido a sua


dureza e estabilidade química está o quartzo, um mineral do grupo dos silicatos, que
formam os grãos de areia e o silte. A sua composição química é SiO2 e suas par-
tículas são equidimensionais, com baixa atividade superficial em razão do tamanho
de suas partículas (PINTO, 2006).

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Os argilominerais também são comumente encontrados nos solos e tratam-se de
silicatos complexos compostos por tetraedros de sílica (quatro átomos de oxigênio
ligados a um de sílica) e octaedros de alumínio (seis átomos de oxigênio ligados ao
alumínio), formados pelo intemperismo de minerais primários, como o feldspato,
ou pela transformação de minerais secundários. Além das argilas silicatadas, exis-
tem também as argilas oxídicas, que não possuem os octaedros de sílica em sua
composição.

Esses argilominerais podem ser classificados em relação aos elementos que os


compõem e ao arranjo desses elementos. As associações entre os tetraedros e os
octaedros formam diferentes argilominerais, entre os principais estão a caulinita, a
montmorilonita (grupo da esmectita) e a ilita.

A união entre os tetraedros de sílica e os octaedros de alumínio formam lâminas


que, quando colocadas umas sobre as outras, formam camadas. É possível a for-
mação de vários tipos de camadas, mas as mais comuns são constituídas de uma
lâmina de tetraedro ligada a uma de octaedro (1:1) e duas lâminas de tetraedros
ligadas a uma de octaedros (2:1) (LEPSCH, 2011).

A caulinita é um tipo de argila que possui uma lâmina de tetraedro de silício


ligada a uma lâmina de octaedro de alumínio, ou seja, é uma argila do tipo 1:1.
Quando as lâminas de tetraedros e octaedros são empilhadas, as camadas adjacen-
tes são unidas por ligações de hidrogênio (o hidrogênio presente nas hidroxilas),
que impedem a entrada da água e a expansão entre as camadas quando a argila
é umedecida. Como a água e os cátions não conseguem penetrar nas camadas de
argilas, as caulinitas possuem menor plasticidade, coesão, expansão, contração e
retêm menos água do que argilas do tipo 2:1 (BRADY; WEIL, 2013).

A representação esquemática das ligações entre os tetraedros de silício e os


octaedros de alumínio, formando argilas do tipo 1:1, como a caulinita, estão re-
presentadas no Infográfico 1.

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UNIDADE Identificação e Classificação dos Solos

Fonte: Adaptado de Lepsch (2011).

A montmorilonita e a ilita são argilas do tipo 2:1, que se compõem por uma lâ-
mina octaédrica envolta por duas lâminas tetraédricas, formando uma camada. No
caso da ilita, entre as camadas existem íons de potássio, que reforçam as ligações
(Figura 2). A grande diferença entre a ilita e a montmorilonita é o fato de a segunda
não conter os íons de potássio e apresentar propriedades expansivas, sendo consi-
derada uma argila muito ativa. Isso ocorre porque entre as lâminas há a entrada e
saída de água contendo íons ou radicais orgânicos (LEPSCH, 2011).

Figura 2 - Representação da estrutura atômica da ilita.


Fonte: Lepsch (2011).

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A montmorilonita apresenta camadas adjacentes, unidas por fracas ligações de
oxigênio, com espaço variável entre elas, permitindo a entrada da água (Figura
3). Suas partículas se agrupam em flocos que tendem a se empilhar uns sobre os
outros, formando microporos. Quando umedecidas, a água é absorvida nos micro-
poros, ocasionando na expansão da argila (BRADY; WEIL, 2013).

Figura 3 - Representação da montmorilonita: espaço em que ocorre a entrada e saída de água e cátions.
Fonte: Lepsch (2011).
Explor

O modelo rotacional 3D das esmectitas, grupo de argila do tipo 2:1, no qual a montmori-
lonita se enquadra, pode ser visualizado no website do Museu Virtual de Moléculas e Mi-
nerais da Universidade de Wisconsin-Madison, disponível em: <https://virtual-museum.
soils.wisc.edu/display/soil-smectite/>.

A capacidade de absorver água e se expandir torna, os solos que possuem esse


tipo de argilomineral, menos desejáveis para a implantação de obras de engenha-
ria, devido à grande mudança de volume entre o estado seco e úmido, podendo,
por exemplo, ocasionar o movimento da fundação de casas ou edifícios.

Estrutura dos solos


A estrutura refere-se ao padrão de arranjo das partículas que constituem os solos
e apresenta características distintas nos solos coesivos e não-coesivos. As estruturas

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Unidade Identificação e Classificação dos Solos

dos solos são determinadas, principalmente, pelo tamanho das partículas, a forma
e a composição mineralógica.

Segundo Das (2007), nos solos não-coesivos são encontradas duas categorias de
estruturas predominantes: grãos isolados e alveolares.
• Estrutura de grãos isolados ou grãos simples: é o tipo de estrutura característi-
ca dos pedregulhos e areias (Figura 4). Nesse tipo de estrutura, as partículas de
solos estão em contato com as adjacentes. Os grupamentos de partículas pos-
suem densidades distintas, conforme a sua posição e tamanho, apresentando
distintos índices de vazios. Pode variar entre uma estrutura de grãos isolados
fofa ou compacta, conforme a organização das partículas dos solos.

Denomina-se grau de compacidade o maior ou menor grau de concentração de


partículas de um solo e, consequentemente, maior ou menor volume de espaços
vazios. O grau de compacidade é determinado por:

$GC=\frac{e~m\acute{a}x~-~e~nat}{e~m\acute{a}x~-~e~m\acute{i}n}$

em que e máx = índice de vazios correspondente ao estado mais fofo;

e mín = índice de vazios correspondente ao estado mais compacto;

e nat = índice de vazios em estado natural do solo.

A determinação dos índices de vazios máximo e mínimo é realizada em labora-


tório, por meio de ensaios. Para a obtenção do índice de vazios máximo, coloca-se
a amostra seca em um recipiente de volume conhecido, pesando o material. O
cálculo é dado por:

$e~m\acute{a}x~=~\left( V-Ps/ys \right)~/~\left( Ps/ys \right)$

onde V = volume do recipiente;

Ps = peso do material seco;

ys = peso específico dos sólidos.

O índice de vazios mínimo é obtido com a compactação do material, colocando-


-o em um recipiente de volume conhecido para a pesagem, obtendo o e mín por:

$e~m\acute{i}n~=~\left( V-Ps/ys \right)~/~\left( Ps/ys \right)$

O grau de compacidade pode variar de 0% a 100%, e é classificado em muito


fofo, fofo, medianamente compacto, compacto e muito compacto, conforme a
tabela

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Tabela 1 – Classificação dos solos em relação a sua compacidade.
Classificação do solo Compacidade (%)
Muito fofo 0-15
Fofo 15-50

Medianamente compacto 50-70

Compacto 70-85

Muito compacto 85-100

Fonte: Das (2007).

• Estrutura alveolar: são estruturas comuns em solos com areia muito fina e silte
(Figura 4). Nesse tipo de estrutura, a areia e o silte se organizam em pequenos
arcos, com grande volume de índices de vazios, podendo suportar cargas está-
ticas moderadas (DAS, 2007).

Nos solos coesivos, as estruturas podem ser denominadas de dispersas ou flocu-


ladas e o agrupamento entre as estruturas de domínios, aglomerados e agregados.
Para formar as estruturas, deve-se considerar a carga das partículas de argila e as
forças de atração e repulsão que ocorrem entre elas, que dependem do espaça-
mento entre as partículas. Vejamos como são formadas cada uma das estruturas
dos solos coesivos:
• estruturas dispersas: quando a argila é dispersa na água, aumenta-se o espaça-
mento entre as partículas, atuando com maior intensidade as forças de repul-
são. Assim, sedimentam-se lentamente e individualmente ou ficam em suspen-
são. Quando se sedimentam, as partículas individuais possuem uma estrutura
dispersa e são orientadas de forma mais ou menos paralelas (DAS, 2007).
• estruturas floculadas: quando as partículas dispersas em água se aproximam na
suspensão, elas podem se agregar em flocos, mantendo as partículas unidas
pela atração eletrostática entre as bordas carregadas positivamente e as faces
carregadas negativamente (Figura 4). Quando ficam grandes, os flocos decan-
tam por ação da gravidade e formam as estruturas floculadas (DAS, 2007).

Fonte: Molina Junior (2017).

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Unidade Identificação e Classificação dos Solos

Conforme Das (2007), quando as partículas de argila tendem a se agregar ou


flocular em unidade submicroscópicas, são chamadas de domínios. Um grupo de
domínios pode ser chamado de aglomerados e os aglomerados se agrupam for-
mando os agregados, que podem ser visíveis macroscopicamente.

Amolgamento
O amolgamento é o processo de destruição da estrutura original do solo, pelo
qual ele perde toda a sua resistência. A maior ou menor perda de resistência de
solos estruturados é chamada de sensitividade da argila, cujo índice é medido pela
resistência à compressão de uma amostra indeformada e a resistência da mesma
amostra após a sua destruição. Tal relação é descrita por:

$Gs=~\frac{Rci}{Rcf}$

em que Rci = resistência da amostra à compressão simples;

Rcf = resistência da amostra após amolgada.

Quanto maior a sensibilidade da argila, maior será a sua perda de resistência.


Em relação a sua classificação, são distinguidas em insensíveis, de baixa sensibi-
lidade, média sensibilidade, muito sensíveis e extrassensíveis, conforme pode ser
visualizado na tabela 2.

Tabela 2 - Classificação das argilas em relação a sua sensibilidade.


Classificação da argila Grau de sensibilidade (Gs)
Insensíveis 1

Sensibilidade baixa 1–2

Sensibilidade média 2–4

Muito sensíveis 4–8


Extrassensíveis >8
Fonte: Rosenqvist (1953) apud Mitchell e Soga (2005).

Tixotropia
A tixotropia ocorre quando um solo com partículas muito finas é completamente
amassado, e, após repousar por um tempo, essa massa de solo adquire uma resis-
tência coesiva maior. Se a amostra é novamente amassada, mantendo a mesma
umidade, a coesão diminui e, após um tempo em repouso, ela tem novamente sua
resistência aumentada (CAPUTO, 1988).

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Explor
A bentonita é um tipo de argila muito fina, que possui tixotropia. Esse termo foi usado
pela primeira vez para nomear uma rocha com material argiloso descoberta nos Estados
Unidos, e atualmente utiliza-se para designar o argilomineral montmorilonita. Mais infor-
mações sobre a bentonita podem ser consultadas no livro Rochas e minerais industriais,
publicado pelo CETEM, em 2005, e que está disponível em: <http://mineralis.cetem.gov.
br/bitstream/cetem/1046/1/10.Argila-BENTONITA%20ok.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2019.

A tixotropia é uma propriedade do solo, que representa o restabelecimento de


sua resistência após ser amolgado e ocorre mais comumente entre as argilas ex-
pansivas.

Exercícios resolvidos

1) Uma amostra indeformada foi utilizada para o cálculo da sensitividade da ar-


gila. A resistência à compressão simples, no estado natural do solo, foi de 96 kPa e
a resistência, após a amostra ter sido amassada, foi de 34 kPa. Qual a sensitividade
da argila?

Solução:

Gs = Rci/ Rcf

Gs = 96/34

Gs = 2,8

Segundo a classificação proposta na tabela 2, esse solo é classificado como de


sensibilidade média.

2) Um aterro foi executado em um solo arenoso, indicando, no projeto, um grau


de compactação de 0,5. Considerando os dados a seguir, verifique se o aterro está
dentro das especificações.

Umidade = 12%

y = 1,8 g/cm³

yg = 2,63 g/cm³

e max = 0,823

e min = 0,438

ya = 1 g/cm³

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Unidade Identificação e Classificação dos Solos

Solução:

Primeiramente, determina-se o índice de vazios no estado natural, a partir de


índices de correlação:

h= $\frac{S~\times ~e~\times ~ya}{yg}$ e $~~y=~\frac{S~\times ~e~\ti-


mes ~ya~+~yg~}{1~+~e}$

S=$\frac{h~\times ~yg}{e}$ Assim:

$y=~\frac{\left[ \left( yg~\times ~h \right)/~e \right]~\times ~e~\ti-


mes ~yg~}{1~+~e}$

$y~=~\frac{yg~\times ~h+~yg}{1~+e}$

$1,8=~\frac{\left( 2,63~\times ~0,12 \right)~+~2,63}{1~+~e}$

$1,8=\frac{2,94}{1~+~e}$

1,8 + 1,8 e = 2,94

$e=~\frac{1,14}{1,8}$

1,8 + 1,8 e = 2,94


$e=~\frac{1,14}{1,8}$
e = 0,63
Para o grau de compacidade:

O grau de compacidade está dentro das especificações do projeto.

Os solos colapsíveis e os solos expansivos


Cada tipo de solo possui características distintas e se comporta de maneiras
diferentes quando submetidos a determinado uso.

Os solos colapsíveis são aqueles que sofrem uma rápida compressão quando
ocorre um aumento da umidade, sem a variação da tensão a que o solo esteja sub-
metido. Segundo Pinto (2006), o colapso nos solos ocorre devido à destruição dos
meniscos capilares, que são responsáveis pela tensão de sucção ou a um amoleci-
mento do cimento natural do solo, que mantém as partículas unidas.

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A determinação da colapsividade de um solo é feita pelos ensaios de compres-
são endométrica, com a saturação de uma amostra e aplicação de tensões, tendo,
o recalque, como dependente da quantidade de água presente no solo e das ten-
sões a que foi submetido.

Os solos colapsíveis podem ser vistos na paisagem, em áreas onde ocorreu o es-
corregamento de taludes, devido à presença de água, ou em deformações verticais
que ocorrem em terrenos planos ( PINTO, 2006).

Já os solos expansivos mudam o seu volume quando submetidos à saturação. A


expansão ocorre, como vimos ao longo desta unidade, em virtude da entrada da
água entre as camadas dos argilominerais. O seu estudo é feito a partir de ensaios
de compressão endométrica, por meio da medição da quantidade de material que se
expandiu ao ser saturado, tendo as pressões aplicadas sobre a amostra estabilizadas.

Segundo Pinto (2006), a construção em solos expansivos promove a imperme-


abilização do terreno, podendo ocasionar a elevação do teor de umidade, já que a
evaporação é reduzida. Esse aumento da umidade pode acarretar a expansão do
material, resultando em trincas nas construções.

Em Síntese Importante!

Nesta Unidade, conhecemos como os solos são identificados em campo e algumas pro-
priedades importantes para entender o seu comportamento. É importante lembrar:
1) os solos podem ser identificados em campo por meio de testes táctil visuais, que tor-
nam possíveis o conhecimento de algumas propriedades qualitativas do material;
2) os materiais constituintes dos solos possuem tamanhos distintos e podem ser carac-
terizados de acordo com propriedades particulares. Por exemplo, a argila se diferencia
pelo seu tamanho e pela plasticidade que apresenta;
3) os solos possuem constituições mineralógicas distintas, podendo ser compostos por
partículas primárias ou secundárias. Os pedregulhos e areias são formados pela agrega-
ção de um único mineral, predominantemente, mas podem ser formados pela agrega-
ção de minerais distintos;
4) os argilominerais são formados pela combinação de lâminas de tetraedros de silício e
lâminas de octaedros de alumínio, que, quando unidas, formam camadas;
5) as camadas constituídas por uma lâmina de tetraedro de sílica ligada a uma lâmina de
octaedro de alumínio são chamadas de argilas do tipo 1:1, e a mais comum é a caulinita;
6) as camadas constituídas de uma lâmina octaédrica de alumínio envolta por duas lâ-
minas tetraédricas de silício formam as argilas do tipo 2:1, representadas pela montmo-
rilonita e a ilita;
7) a forte ligação existente entre os hidrogênios nas camadas de argila do tipo 1:1 impe-
dem a entrada de água e a expansão dessas argilas. A entrada de água entre as camadas
de argilas, como ocorre nas montmorilonitas, investem-nas de propriedades expansivas;
8) os solos podem ser classificados em relação a sua estrutura em grãos isolados, alveo-
lar, dispersa e floculada;
9) o amolgamento e a tixotropia são propriedades que indicam a perda da resistência do
solo e a sua capacidade de se recuperar. A maior ou menor perda de resistência do solo
estruturado é chamada de sensitividade da argila

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Unidade Identificação e Classificação dos Solos

Conhecendo os atributos físicos dos solos, os seus limites de consistência, a


distribuição do tamanho de suas partículas e como são constituídos mineralogica-
mente, torna-se mais fácil o enquadramento em classes, como ocorre nos Sistemas
de Classificação de Solos, assunto que será abordado na próxima Unidade.

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Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Os Colóides do Solo
O material desenvolvido pelo professor Dr. Erico Sengik, com colaboração de Karina
Perehouskei Albuquerque, traz importantes informações sobre os coloides dos
solos, como a formação dos argilominerais, suas estruturas mineralógicas e o seu
comportamento.
https://bit.ly/1UR1VCQ

Visite
Museu Virtual de Moléculas e Minerais
O museu virtual de Moléculas e Minerais, da Universidade de Wisconsin-Madison,
reproduz em formato 3D a estrutura mineralógica de diversos minerais encontrados
na natureza, como o quartzo, a caolinita e as esmectitas.
https://bit.ly/2GRaKPi

Leitura
Alternativa de Controle da Compacidade Relativa de Solos Não-coesivos
O artigo intitulado “Alternativa de controle da compacidade relativa de solos não-
coesivos” apresenta alternativas metodológicas para a determinação do índice de
vazios mínimo do solo, objetivando facilitar a obtenção dos dados de compacidade.
NETO, F. O. P.; SHINOHARA, D.; FARIAS, J. B. R.; SAMPAIO, A. S. Alternativa
de controle da compacidade relativa de solos não-coesivos. In: Anais do XXVII
Seminário Nacional de Grandes Barragens, Belém-PA, 2007.
https://bit.ly/2H8ct1Z

Estudo Geológico – Geotécnico dos Solos Expansivos da Região do Recôncavo Baiano


O artigo intitulado “Estudo Geológico – Geotécnico dos solos expansivos da região
do recôncavo baiano” apresenta uma caracterização geotécnica dos solos expansivos
da região estudada e as implicações com os problemas estruturais ocasionados pelas
características desse material, como a ocorrência de trincas nas construções e a
instabilidade de taludes. Trata-se de um estudo aplicado, que demonstra a importância
de conhecer a composição mineralógica dos solos para a sua utilização.
SIMÕES DE OLIVEIRA, A. G.; JESUS, A. C.; Miranda, S. B. Estudo Geológico –
Geotécnico dos Solos Expansivos da Região do Recôncavo Baiano. Departamento
de Geotecnia, Universidade de São Paulo, São Carlos-SP, 2006.
https://bit.ly/2H6qVr3

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Unidade Identificação e Classificação dos Solos

Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e
solos. Rio de Janeiro, 1995.

BRADY, N. C.; WEIL, R. R. Elementos da natureza e propriedades dos solos.


Porto Alegre: Bookman, 2013.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6. ed. Rio de Janeiro:


Livros Técnicos e Científicos, 1988.

DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 7. ed. São Paulo: Cenga-


ge Learning, 2007.

LEPSCH, I. F. 19 Lições de Pedologia. São Paulo: Oficina de textos, 2011.

MITCHELL, J. K.; SOGA, K. Fundamentals of Soil Behavior. Nova York: Wiley,


2005.

MOLINA JUNIOR, W. F. Comportamento mecânico do solo em operações


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